A Arte de Pagar as Suas Dívidas e de Satisfazer os Seus Credores Sem Gastar Um Cêntimo
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Este é um manual com a caraterização dos vários tipos de dívida e com exemplos práticos de como, por exemplo, contornar as visitas desagradáveis dos seus credores. Um espelho da sociedade de outros tempos que bem poderia ser o nosso.
«O credor número três (o proprietário da casa, por exemplo) vem fazer-lhe uma visita, e aproveita esta ocasião para apresentar-lhe a fatura do aluguer. Olhe-o com um ar indeciso, acompanhado por um: É impossível! Ele afirma-lhe o contrário. Um homem sem aprumo discutiria com ele em relação ao valor do aluguer ou por uns dias de compreensão. Um homem que tem aprumo responde decidido: Oh, não!
Resumindo, graças ao aprumo, você domina a confiança, dá a imagem de um homem decidido e prudente.»
Honoré de Balzac
Honoré de Balzac (Tours, 1799-París, 1850), el novelista francés más relevante de la primera mitad del siglo XIX y uno de los grandes escritores de todos los tiempos, fue autor de una portentosa y vasta obra literaria, cuyo núcleo central, la Comedia humana, a la que pertenece Eugenia Grandet, no tiene parangón en ninguna otra época anterior o posterior.
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A Arte de Pagar as Suas Dívidas e de Satisfazer os Seus Credores Sem Gastar Um Cêntimo - Honoré de Balzac
Honoré de Balzac
a arte de pagar
as suas dívidas
e de satisfazer os seus credores
sem gastar um cêntimo
Explicada em Dez Lições
ou
Manual de Direito Comercial Para Uso
de Gente Arruinada, Devedores,
Desempregados e Demais Consumidores
Sem Dinheiro Pelo Meu Saudoso Tio,
Professor Emérito.
Tradução e Nota de Abertura de
José Viale Moutinho
nota de abertura
Com que havia de preocupar-se o Sr. Honoré de Balzac! Ah, meus caros, nada menos que com o pagamento das dívidas dos seus e, já agora, devido à existência desta tradução, e por extensão, dos nossos contemporâneos. Porém, a seu favor, funciona a parceria do seu ilustre amigo o Sr. E. M. de Saint-Hilaire, a quem também devemos este precioso manual onde ganhamos instrução suficiente para nos salvarmos da crise. Graças ao excelente clássico francês, e ao parceiro que arrastou nesta aventura de sociologia económica, poderemos hoje preservar os bens adquiridos e resguardarmos as quantias que, pelo menos em princípio, pensávamos reunir para eventualmente liquidarmos as nossas dívidas, dívidas estas correspondentes a contas. A menos que, desde o princípio, não fosse nossa intenção liquidar o débito e, nesse caso, não nos poderemos considerar realmente devedores, nem a parte lesada óbvia credora. A questão será outra e a dialética processa-se no fio das páginas deste manual, que vos encantará a inteligência, pervertendo, numa lógica de saguão e trapeira, a mimosa educação que tanto custou ministrar-vos aos vossos queridos papás, ao mal gastarem os seus ricos dinheiros em finos colégios. A menos que tenham ficado a dever…
Meus amigos, aqui fica o aviso: se algum intelectual teve o bom gosto de vos recomendar romances franceses para os vossos lazeres, e destacou o nome de Balzac, certamente não foi para que opteis prontamente pelas ideias desta obra. Não que ela não se enquadre n’A Comédia Humana, não que ela não sirva de complemento doutrinal aos brilhantes cronistas hodiernos dos suplementos de economia ou dos jornais e revistas da especialidade. A questão é outra, a questão é de identificação. E mais não deveria dizer, permitindo que a vossa curiosidade penetre nos meandros de um livrinho como este.
Ora este livrinho teve a sua edição princeps em 1827, praticamente anónimo. E por aí se ficou. O seu manuscrito, gerado a duas mãos, encontra-se arquivado na Maison de Balzac, em Paris. Por qualquer razão, nunca um organizador o integrou nas obras completas do autor de O Tio Goriot. Por ter sido em parceria, arrisco? Pois é capaz de ser sido. E também não é literatura, convenhamos, que altere o gosto que temos da leitura da produção do mestre. É que ficou pelo caminho não só este texto como ainda outros, que alguém, um destes dias, irá buscar à gaveta dos expurgos das inconveniências.
Mas… os meus amigos devem dinheiro a alguém? Reconhecem esse tipo de gente a que chamamos credores? Como se reconhecem enquanto devedores? E como reconhecem que alguém se outorgue o direito de considerar-se credor, precisamente vosso credor? Ah, nunca tinham pensado nisso, não é? Pois, ciente das minhas responsabilidades cívicas, percorri os esconsos das noites dos séculos parisienses até dar com esta papelada que vos trago, para vosso proveito num tempo como este. Porém, agradecendo que a presente obra seja comprada a firme, pois o editor não pode correr o risco de atolar-se no lamaçal da escusa filosofia a que aqui dá guarida com a sua digna chancela. O poeta Ovídio, nas Metamorfoses, tratava desta questão com rara ginástica lírica e mental. Seguimos-lhe os passos.
Bem, de quando em vez, ao jeito de ameaça, aparece a cadeia de Sainte-Pélagie. Porém, amigos leitores, nada menos inofensivo nos dias de hoje. A que foi chamada, no tempo de Balzac, a cadeia das dívidas foi demolida no recuado de 1899 por absoluto estado de insalubridade. Numa ida a Paris poderão ir ver onde ficava, mas nem o rasto lhe encontrarão. Era entre a Rue de la Clef e a Rue du Puits-de-l’Ermite, no 5e. Arrondissement. Entre os seus presos mais célebres contavam-se Cavaignac (cujo bizarro recorte de barba fez moda), La Rochefoucauld, Proudhon, Nerval, Sade, Vallés e Vidocq, assim como grande parte da intelligentzia francesa passou pelas suas celas. Não só por calotes, também por questões políticas. Hoje creio que ninguém é preso por dívidas, a não ser que haja alguma coisa apensa, pelo que nunca poderia referir-vos uma cadeia especializada neste tipo de prevaricadores em território português…
Fiquem na paz possível com os vossos credores.
José Viale Moutinho
prefácio do editor
da Edição Francesa de 1827
O autor de l ’Art de mettre sa cravate entrega ao mundo uma obra que, embora não seja sua, lhe irá granjear uma grande quantidade de inimigos e, sem dúvida, perseguições. Como é possível? vai exclamar uma multidão de espíritos mesquinhos, este barão de l’Empésé tem a pretensão de conferir o estatuto de ciência à abominável arte de oferecer a um honrado credor belas palavras em vez de dinheiro vivo. Mas isto não passa de uma infâmia, de uma abominação! Um homem assim deveria ser preso!…
De imediato surgem clamores atrás dos balcões de todos os negociantes, fabricantes, comerciantes; já que uns não veem para além do seu letreiro e outros têm uma filosofia que não é maior do que o chão do seu estabelecimento.
O mero anúncio deste livro bastará para que o medo se apodere do proprietário, do dono do restaurante, do vendedor de limonada, do alfaiate, da lavadeira, do sapateiro, do chapeleiro, do comerciante de boinas e de vinho, do padeiro, do carniceiro, do merceeiro, etc., e até do próprio livreiro. Todas as pequenas faturas que até agora dormiam profundamente vão fazer com que o humilde funcionário ou o inútil vendedor de elegância, o artesão laborioso e o arrendatário egoísta despertem em sobressalto.
É realmente uma desgraça. Mas os grandes escritores do século XIX já o diziam: «O reino da luz cresce dia a dia»[1] «A espécie humana segue pelos caminhos da evolução»[2] «A nação francesa não pode regredir»[3] «Uns têm demasiado, outros não têm o suficiente»[4], etc., etc. Convençam-se disto: enquanto se continuarem a tecer reflexões sobre este tipo de especialidades, continuaremos a proferir imbecilidades. Há que captar as grandes esferas dos interesses sociais e raciocinar acerca de generalidades, tudo o mais irá seguir o seu curso sozinho e só para o merceeiro será um absurdo. Mas o que é um só indivíduo comparado com a massa?
É bem sabido que em França, e especialmente em Paris, existe uma quantidade incalculável de indivíduos a quem a sociedade nada deve, uma vez que eles nada fazem por ela, mas que ainda assim julgam ter o direito de emitir requerimentos de todas as naturezas aos seus concidadãos, baseando-se numa única razão: «que uns têm demasiado, e outros nem sequer têm o suficiente»[5].
Ora bem, quem são estas pessoas de que quero falar? As pessoas que voluntária e bondosamente se deixam situar na categoria de «uns», não tendo outra profissão a não ser a de explorar, por assim dizer, com violência, aqueles que pertencem à categoria de «outros»? Mas antes devo preparar