Avaliação de impacto legislativo: cenários e perspectivas para sua aplicação
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Esta obra nasceu do entendimento do Senado Federal de que o estudo e a implementação da avaliação de impacto legislativo devem ser incorporados à rotina dos trabalhos da Casa, com o propósito de aprimorar o exercício democrático da representação e torná-lo cada vez mais relevante e perceptível aos cidadãos. Diferentemente do que ocorre em países com democracias há décadas já consolidadas, na experiência parlamentar brasileira ainda é bastante desafiadora a missão de debater exaustivamente cada proposição legislativa, seja em relação à efetiva necessidade de sua criação, seja relativamente a possíveis alternativas e aos resultados pretendidos. Com o fim de iluminar o debate sobre essa questão, neste volume os autores procedem a uma reflexão sobre o desafio de incorporar ao processo legislativo brasileiro mecanismos de avaliação que possibilitem a intervenção do Estado fundamentada em critérios sólidos e dotada de efetividade na solução das inúmeras demandas dos cidadãos – e que ao mesmo tempo leve em consideração a vasta complexidade e pluralidade do País.
Senado Federal
The Senate of the Empire of Brazil was established by the Constitution of 1824, first enacted after the Declaration of Independence. Following the adoption of the 1824 Constitution the first session of the Senate took place in May 1826. The original Senate had 50 members, representing all of the Provinces of the Empire, each with a number of senators proportional to its population. The Princes of the Brazilian Imperial House were senators by right and would assume their seats in the Senate upon reaching age 25. All senators hold this position for life.The Conde do Arcos Palace was the first seat of the Senate of Brazil. It worked there until 1925, when it was transferred to the Monroe Palace. In 1960 the capital was moved from Rio de Janeiro to Brasilia and the Senate took place in its actual seat, the Nereu Ramos Palace, also known as the National Congress Palace.Currently, the Federal Senate comprises 81 seats. Three senators from each of the 26 states and three senators from the Federal District are elected on a majority basis to serve eight-year terms. It is the upper house of the National Congress of Brazil and its president also presides the National Congress. The Federal Senate has the power to judge the President of Brazil in the case of liability offences and to rule on limits and conditions of external debts, among other functions.One of the missions of the Federal Senate is to strengthen other legislative houses of the Federation. To do so, the Senate publishes books of public interest to spread culture and knowledge, mainly about History, Law and legislative process.
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Avaliação de impacto legislativo - Senado Federal
Apresentação
A atividade de legislar requer zelo, atenção e profundo respeito aos cidadãos. Analisar a necessidade da criação de novas regras ou de qualquer mudança no ordenamento normativo e jurídico impõe aos parlamentares profundo espírito republicano e grande senso de responsabilidade.
O Poder Legislativo é, por natureza, inclusivo e plural, refletindo a diversidade de nosso País. Seus processos de tomada de decisão, além de serem mais transparentes e menos insulados do que nos demais poderes da República, permitem a mediação entre as instituições estatais e a sociedade, assegurando que nossa democracia seja dinamicamente renovadora. O amadurecimento das instituições exige permanente avaliação sobre os termos em que nós, representantes da nação, realizamos nossas funções.
O principal instrumento que consubstancia essa prática é o processo legislativo. Já são passados quase trinta anos da Constituição Federal e, mesmo com inúmeras experiências acumuladas, o Congresso Nacional continua desafiado por uma agenda legislativa cada vez mais complexa e que precisa ser analisada com espírito público e respeito a todos os setores sociais interessados. São os desafios que dão a tônica do exercício da representação.
O Poder Legislativo detém sensibilidade política, capacidade técnica e autonomia jurídica para produzir diagnósticos adequados sobre a situação brasileira, bem como para propor mudanças no rumo de políticas que garantam o incremento de bem-estar para a população. Daí a importância de um exercício deliberativo que seja rico e bem orientado para produzir legislação de qualidade, certificando a sociedade de que foi a melhor decisão para operar positivamente sobre a realidade.
A presente publicação, coordenada pela Consultoria Legislativa do Senado Federal, tem por objetivo lançar as bases para a consolidação da cultura da avaliação de impacto legislativo, consubstanciando o debate e a deliberação como práticas que representam a essência do parlamento.
Eunício Oliveira
Presidente do Senado Federal
Prefácio
A experiência parlamentar de países de democracias mais maduras distingue-se pelo exercício do debate exaustivo de cada proposição legislativa, tanto em relação à efetiva necessidade de criação normativa, quanto em relação às alternativas e aos possíveis resultados desejados.
No caso brasileiro, essa missão se torna bastante desafiadora, uma vez que nossa agenda legislativa é, comparativamente a outras nações, muito mais vasta quantitativa e qualitativamente, inclusive para dar conta da complexidade de nossa sociedade e respeitar sua pluralidade. Além da participação dos parlamentares, nosso sistema político confere ao Presidente da República ampla iniciativa legislativa, o que resulta numa sempre assoberbada pauta de atividades no Parlamento.
Preocupados com esse cenário e com a perspectiva de aproximar nosso Legislativo das experiências parlamentares bem-sucedidas, a Mesa Diretora desta Casa estabeleceu como uma das diretrizes estratégicas para o atual biênio o estudo e a implementação da avaliação de impacto legislativo. O Senado Federal entende que a incorporação dessa prática à rotina dos trabalhos legislativos trará elementos enriquecedores para o aprimoramento do exercício democrático da representação, tornando-o cada vez mais relevante e perceptível aos cidadãos.
Coube à Consultoria Legislativa a condução deste projeto estratégico, e esta obra consubstancia uma de suas etapas. É importante destacar que, além do trabalho dos organizadores e autores, a contribuição de outros setores da Casa foi fundamental: o estímulo da Coordenação de Educação Superior do Instituto Legislativo Brasileiro, o acompanhamento do projeto pelo Escritório Corporativo de Governança e Gestão Estratégica, e a criação de um moderno projeto gráfico, idealizado e concretizado pela Secretaria de Editoração e Publicações.
Esta obra representa os primeiros passos. Trabalhemos para que o Senado Federal continue sendo referência de aprimoramento das nossas instituições representativas.
Danilo Augusto Barboza de Aguiar
Consultor-Geral Legislativo
Ilana Trombka
Diretora-Geral
Introdução
por Fernando B. Meneguin e Rafael Silveira e Silva
A materialização da intervenção estatal ocorre por meio das políticas e ações que buscam regular situações que necessitam ser resolvidas no interior das coletividades. Seus limites, formas, conteúdos decorrem de processos decisórios que expressam relações e arranjos de poder que devem necessariamente obedecer a critérios essencialmente republicanos e democráticos. Na observância desses critérios, o grande desafio é tornar o exercício de elaboração e de implementação das ações estatais um processo efetivo de atendimento de demandas e solução de problemas sociais.
Tais demandas, aliadas a um processo de amadurecimento da sociedade, exigem do Estado melhoria permanente no desempenho de suas funções, assim como uma maior efetividade de suas ações com o intuito de transformar a realidade brasileira. O que resulta da sua atuação, positivamente ou negativamente, produz impactos relevantes no cotidiano da sociedade, a qual, em um ambiente democrático, deve ter a seu dispor mecanismos institucionais que lhe permitam conhecer as alternativas disponíveis de políticas, bem como as escolhas de seus representantes e governantes. Dessa forma, os mecanismos democráticos possibilitam um exercício mais ativo da representação que deve, por sua vez, ser cada vez mais responsiva e responsável.
Sabemos, no entanto, que as democracias representativas são imperfeitas e demandam permanentemente atenção para seu aprimoramento, uma vez que seus mecanismos constitutivos ainda permitem que a vontade dos cidadãos seja passível de distorções. Para uma parceria mais estreita entre a atividade parlamentar e o exercício da cidadania nos interstícios eleitorais, é fundamental que o funcionamento do processo legislativo não se restrinja ao cumprimento formal das regras, mas que elas tenham serventia para dotar as decisões de maior qualidade e efetividade.
Recorrendo a Przeworski (1996), responsivos seriam os governos que promovem os interesses dos cidadãos, levando em consideração a manifestação de suas necessidades. De forma complementar, o mecanismo de responsabilização ocorre quando os cidadãos têm possibilidade de discernir os representantes que agem em seu benefício e podem aplicar-lhes sanções apropriadas quando agem no sentido contrário, ou seja, recusando-lhes a reeleição. Assim, pode-se afirmar que os institutos democráticos têm por objetivo a construção de um vínculo de representação responsivo ao interesse público e responsável perante o público; passível, portanto, de controle público.
Desse modo, verifica-se que o exercício da representação política requer grande habilidade na definição, no planejamento e na implementação de ações que dão concretude à ação estatal, já que não apenas a percepção do benefício, mas também sua qualidade e efetividade estarão sendo aferidas, direta ou indiretamente. É por essa razão que a ação de avaliar torna-se uma das mais importantes na esfera da relação democrática entre governantes e cidadãos.
Somente pela avaliação é possível saber se os atores políticos pautaram suas ações pelo melhor interesse dos cidadãos, ou se agiram orientados por seus próprios interesses. Com a avaliação abre-se a possibilidade de averiguar se as escolhas dos meios, dos métodos, das alternativas foram pautadas por critérios técnicos, se levaram em conta um conjunto de possibilidades concretas, se fizeram o melhor que podiam ou apenas se limitaram a cumprir meros compromissos eleitorais.
Ressalta-se também que a avaliação de políticas deve ser balizada pelo conhecimento das condições em que operam os governantes. Assim, para que seja possível verificar se, dadas as condições vigentes, os representantes agiram no melhor interesse dos cidadãos, um elemento torna-se essencial: informação. E, claro, todos os fatores que propiciam o acesso à informação, sua transparência e credibilidade.
Porém, como avaliar? Essa pergunta torna-se bastante pertinente porque se deseja enfatizar que a avaliação apresenta muitas dimensões.
A política pública, desde a sua concepção até a análise de seus resultados, é composta por um conjunto articulado de diversas etapas chamado de ciclo das políticas públicas. Há uma grande variedade de abordagens para descrever esse ciclo. Uma delas é o modelo construído sob a lógica de resolução de problemas, já que o objeto das políticas públicas são problemas ou demandas públicas
. O referido modelo, constituído por cinco estágios, é ilustrado por Howlett, Ramesh e Perl (2013), conforme apresentado na tabela a seguir:
Quadro 1: Cinco estágios do ciclo de políticas públicas
Fonte: Howlett, Ramesh e Perl (2013, p. 16)
Em ambas as abordagens, o ciclo das políticas públicas termina com a avaliação. Ala-Haria e Helgason (2000 apud TREVISAN; BELLEN, 2008, p. 536) explicam a importância da avaliação no ciclo das políticas públicas:
O Comitê de Assistência ao Desenvolvimento da OCDE assinala que o propósito da avaliação é determinar a pertinência e alcance dos objetivos, a eficiência, efetividade, impacto e sustentabilidade do desenvolvimento. A avaliação deve proporcionar informação que seja crível e útil para permitir a incorporação da experiência adquirida no processo de tomada de decisão. A avaliação deve ser vista como um mecanismo de melhoria no processo de tomada de decisão, a fim de garantir melhores informações, sobre as quais eles possam fundamentar suas decisões e melhor prestar contas sobre as políticas públicas.
Podemos chamar essa abordagem de clássica
, pois vincula-se à aferição da responsabilização da administração pública e é exercida tanto pelo próprio Poder Executivo, no que concerne aos seus mecanismos de controle interno (de desempenho e controle formal), quanto pelo Legislativo, na sua atividade constitucionalmente estabelecida no inciso X, do art. 49 da Carta Magna:
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: […] X – fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta (BRASIL, 1988).
Trata-se do conhecido controle parlamentar, o qual se define como accountability horizontal (O’Donnell, 1998), ou seja, o controle exercido entre instituições estatais entre as quais não há uma relação de subordinação. Tal conceito é aplicado