Aprendendo a Viver
By Sêneca
4.5/5
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About this ebook
Influenciado pela escola estóica e também pelos ideais epicuristas, Sęneca refletiu sobre as mais profundas contradiçőes da condiçăo humana, questionamentos universais, que acompanham a sociedade desde o início da Era Cristă até a atualidade. Sua filosofia aborda a busca da felicidade, o medo da morte, as desilusőes, a amizade e levanta uma das principais questőes dos nossos dias: como conjugar qualidade de vida e tempo escasso. Leitores do século XXI serăo surpreendidos por liçőes como: "A duraçăo de minha vida năo depende de mim. O que depende é que năo percorra de forma pouco nobre as fases dessa vida; devo governá-la, e năo por ela ser levado."; "O defeito maior da vida é ela năo ter nada de completo e acabado, e o fato de sempre deixarmos algo para depois." Ou ainda: "Năo deixemos nada para mais tarde. Acertemos nossas contas com a vida dia após dia".
As cartas de Sęneca fazem parte de uma longa tradiçăo do gęnero epistolar, e se distinguem das cartas comuns por năo se destinarem ŕ comunicaçăo de natureza pessoal ou familiar, aproximando-se mais da crônica histórica. É comum ao gęnero a presença de um interlocutor para desenvolver a filosofia por meio do diálogo. No caso de Lucílio, năo há confirmaçăo de que ele tenha existido.
Sêneca
The writer and politician Seneca the Younger (c. 4 BCE–65 CE) was one of the most influential figures in the philosophical school of thought known as Stoicism. He was notoriously condemned to death by enforced suicide by the Emperor Nero.
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Reviews for Aprendendo a Viver
31 ratings2 reviews
- Rating: 4 out of 5 stars4/5Um livro repleto de cartas para ler diariamente e refletir sobre as complexidades da vida.
- Rating: 5 out of 5 stars5/5Uma das melhores leituras que fiz. Animada para ler todos os dele.
Book preview
Aprendendo a Viver - Sêneca
Sêneca e a reflexão sobre as contradições da condição humana
Lúcia Sá Rebello
Lúcio Anneo Sêneca nasceu em Córdoba, Espanha. Seu pai foi Anneo Sêneca – Sêneca, o velho –, conhecido como retórico e do qual restou apenas uma obra escrita, intitulada Declamações. Sêneca, o moço, foi educado em Roma, tendo estudado retórica ligada à filosofia. Em pouco tempo, tornou-se conhecido como advogado e ascendeu politicamente, passando a ser membro do senado romano e, mais tarde, questor (magistrado encarregado das finanças).
Em Roma, o triunfo político não acontecia impunemente, e a notoriedade de Sêneca suscitou a inveja do imperador Calígula, que morreu antes de poder destruí-lo. Dessa forma, Sêneca pôde continuar vivendo com relativa tranquilidade, mas essa não durou muito tempo. Em 41 d.C., foi desterrado para a Córsega sob a acusação de adultério, supostamente com Júlia Livila, sobrinha do novo imperador Cláudio César Germânico.
Na Córsega, Sêneca viveu cerca de dez anos com grande privação material. Dedicou-se aos estudos e redigiu vários de seus principais tratados filosóficos, entre os quais os três intitulados Consolationes (Consolos), nos quais expõe os ideais estoicos clássicos de renúncia aos bens materiais e de busca da tranquilidade da alma por meio do conhecimento e da contemplação.
Em 49 d.C., Messalina, primeira esposa do imperador Cláudio, foi condenada à morte. O imperador casa-se, então, com Agripina. Pouco tempo depois, ela manda chamar Sêneca para se encarregar da educação de seu filho Nero, tornando-o, em 50 d.C., pretor.
Sêneca casou-se com Pompeia Paulina e organizou um poderoso grupo de amigos. Logo após a morte de Cláudio, ocorrida em 54 d.C., o escritor vingou-se do imperador com um texto que foi considerado a obra-prima das sátiras romanas, Apocolocyntosis divi Claudii (Transformação em abóbora do divino Cláudio). Nessa obra, Sêneca critica o autoritarismo do imperador e narra como ele é recusado pelos deuses.
Quando Nero foi nomeado imperador, Sêneca tornou-se seu principal conselheiro e tentou orientá-lo para uma política de justiça e de humanidade. Durante algum tempo, exerceu influência benéfica sobre o jovem, mas, aos poucos, foi forçado a adotar uma atitude de complacência. Chegou ao ponto de redigir uma carta ao Senado para justificar a execução de Agripina, em 59 d.C., pelo filho. Nessa ocasião, foi muito criticado por sua postura frente à tirania e à acumulação de riquezas de Nero, incompatíveis com as suas próprias concepções filosóficas.
O escritor e filósofo destacou-se por sua ironia, arma da qual se utilizava com muita sabedoria, principalmente nas tragédias, as únicas do gênero na literatura da antiga Roma. Conhecidas como versões retóricas de peças gregas, elas substituem o elemento dramático por efeitos violentos, como mortes em cena e discursos agressivos, demonstrando uma visão mais trágica e mais individualista da existência. Sêneca deixou a vida pública em 62 d.C. Dentre seus textos, constam a compilação científica Naturales quaestiones (Problemas naturais), os tratados De tranquillitate animi (Da tranquilidade da alma), De vita beata (Da vida beata), as cartas reunidas em Sobre a brevidade da vida[1], (De brevitale vitae) e, talvez sua obra mais profunda, as Epistolae morales dirigidas a Lucílio. As cartas morais, escritas entre os anos 63 d.C. e 65 d.C, misturam elementos epicuristas com ideias estoicas e contêm observações pessoais, reflexões sobre a literatura e crítica satírica aos vícios da época.
Acusado de participar na conjuração de Pisão, em 65 d.C., Sêneca recebeu de Nero a ordem de suicidar-se, que executou com o mesmo ânimo sereno que pregava em sua filosofia. Conta-se que sua morte foi uma lenta agonia. Abriu as veias do braço, mas o sangue correu muito lentamente; assim, cortou as veias das pernas. Porém, como a morte demorava, pediu a seu médico que lhe desse uma dose de veneno. Como este não surtiu efeito, enquanto ditava um texto a um dos discípulos, tomava banho quente para ampliar o sangramento. Por fim, fez com que o transportassem para um banho a vapor e, ali, morreu sufocado.
Da obra
Chama-se epístola a composição datada e escrita por um indivíduo ou em nome de um grupo com o objetivo de ser recebida por um destinatário. O termo tem uso antigo e constitui gênero literário importante a partir do conjunto de textos do Novo Testamento que ficaram conhecidos por epístolas. Assim, distingue-se uma epístola de uma carta comum, pois não se destina apenas à comunicação de fatos de natureza pessoal ou familiar, aproximando-se mais da crônica histórica que procura relatar acontecimentos do passado. A utilização do termo alarga-se, posteriormente, a todo tipo de correspondência privada ou oficial, literária ou filosófica, religiosa ou política, tornando-se difícil estabelecer com rigor a diferença entre uma epístola e uma carta. À arte de escrever epístolas ou formas registradas de correspondência escrita entre indivíduos dá-se o nome de epistolografia.
Na literatura latina, são referências obrigatórias do gênero epistolar as Epístolas, de Horácio, as cartas de Varrão, Plínio, Ovídio e, sobretudo, de Cícero, que fixaram um modelo que foi fartamente imitado. Como referência obrigatória, deve-se incluir os textos epistolares de Sêneca, cujo tom coloquial define que o estilo que melhor convém a uma carta não deve conter um acúmulo de conhecimentos dos diversos ramos do saber ou ser afetado.
Sêneca é o mais importante representante da filosofia estoica em seu último período, e suas preocupações são, em essência, éticas. É um filósofo de espírito mais prático que teórico. Afasta-se, em alguns pontos, do estoicismo, aceitando elementos tomados do epicurismo, o que resulta em um ecletismo de caráter moralista, preocupado com a filosofia enquanto ensinamento e consolo para a vida.
Para Sêneca, a filosofia gira em torno da figura do sábio
. A sabedoria e a virtude são a meta da vida moral, o único bem imortal que possuem os mortais. A sabedoria consistirá, segundo a doutrina estoica, em seguir a natureza, deixando-se guiar por suas leis e seus exemplos. Estando a natureza regida pela razão, obedecer-lhe é obedecer à razão, podendo o homem, assim, ser feliz. A felicidade consiste em se adaptar à natureza para manter um equilíbrio que nos deixe a salvo das vaidades da fortuna e dos impulsos do desejo que obscurecem a liberdade. A liberdade, então, configura-se como a tranquilidade do espírito, a imperturbabilidade do ânimo frente ao destino, ou seja, a ataraxia. Segundo Sêneca, O melhor é dirigir-te para a sabedoria, onde encontrarás, ao mesmo tempo, tranquilidade e grandes possibilidades de crescimento
(LXXIV).
As cartas que Sêneca envia ao amigo Lucílio fazem parte de uma longa tradição do gênero epistolar, que se prolonga em autores modernos. Essas cartas, escritas entre os anos 63 e 65 d.C., misturam elementos epicuristas com ideias estoicas e contêm observações pessoais, reflexões sobre a literatura e crítica satírica dos vícios comuns na época. Não se sabe se Lucílio existiu ou se configura apenas em mero interlocutor imaginário criado pelo filósofo para desenvolver a sua filosofia à maneira de diálogo, o que foi bastante comum durante muitos séculos.
Nas cartas a Lucílio, Sêneca aborda diversas questões. É um otimista. Considera que todas as pessoas trazem consigo a semente de uma vida honesta, embora os bons exemplos exerçam um papel essencial na adoção das virtudes. A educação moral consiste em fazer com que os atos correspondam aos princípios éticos. Por vezes, a vontade é fraca ou deficiente. Assim, faz-se necessário um guia espiritual. O homem possui uma natureza que o predispõe quer para o bem quer para o mal, e nem sempre possui a força de vontade e a sabedoria suficientes para optar pelo bem em detrimento do mal.
Sêneca traça um programa de heroísmo passivo, que exige uma reformulação da mente para que não se impressione com o horror das dores, da miséria e da morte. Os homens devem auxiliar uns aos outros e viver em sociedade, professando o afeto e a estima. A natureza exige o amor dos elementos que a compõem. Causar dano a outro homem é algo irracional que vai contra a própria essência da natureza.
A morte não é um bem nem um mal, podendo tornar-se uma libertação quando as circunstâncias da vida condenam o homem a uma escravidão incompatível com a liberdade. Dessa forma, está aberto o caminho para que o homem deixe a vida. Nada os obriga a viver na miséria ou no cativeiro. Essas são apenas algumas das inúmeras questões tratadas nas 29 cartas de Sêneca dirigidas a Lucílio que estão reunidas neste volume.
Sem dúvida, muitas das observações e conclusões que fazem parte dessas cartas poderiam ser aplicadas às inquietudes do mundo atual. Sêneca escreveu as mais belas máximas de pureza da vida; nele se uniram todas as perfeições do pensamento humano, a elevação do espírito e o entusiasmo pela virtude. As cartas a Lucílio demonstram sua larga experiência e contêm as reflexões mais profundas sobre as contradições da condição humana.
Que o leitor aprecie a leitura desta obra, fruto de um grande pensador da vida e de suas imprevisibilidades.
I
Da economia do tempo
Sêneca saúda o amigo Lucílio
Comporta-te assim, meu Lucílio, reivindica o teu direito sobre ti mesmo e o tempo que até hoje foi levado embora, foi roubado ou fugiu, recolhe e aproveita esse tempo. Convence-te de que é assim como te escrevo: certos momentos nos são tomados, outros nos são furtados e outros ainda se perdem no vento. Mas a coisa mais lamentável é perder tempo por negligência. Se pensares bem, passamos grande parte da vida agindo mal, a maior parte sem fazer nada, ou fazendo algo diferente do que se deveria fazer.