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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEfsTTAQÁO
DA EDKJÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabal no, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
7

ERGUNTE

Cl <-*'':

Responderentp^


1 TS X> X CÍE
I. FILOSOFÍA E RELIGIAO
Páginas
1) "Deus para mim é a naiureza. Ndo vejo como nao ser
panteísia" 3
2) "Quisera saber como se explica científicamente a origcm das
ragas humanas" 6
II. DOGMÁTICA
3) "Como entender a geragáo do Filho enquanto Deus? As pes-
soas da Santíssima Trindade nao sao incriadas?" 8
4) "Sou a favor do divorcio e quería saber se é possível ser
divorcista e católico" 10
5) "Há casos em que a Igreja permite o divorcio?" 13
6) "Porque a Igreja Católica proibe o divorcio? O próprio Jesús
o permitiu em caso de adulterio (c/. Mt. 5,32; 19,9) " 14
7) "Se Deus disse: "Crescei e multiplicai-vos", os padres e frei
rás nao obedecerá a esta ordem, além de atrofiarem a na-
tureza" 16
8) "Se era necessário que Cristo fósse traído para se cumpri-
rem as Escrituras, como se explica que Judas tenha sido
condenado, pois Jesús disse: "Melhor Ihe fóra que nao hou-
vesse nascido" (Mí. 26,24) ?" 19
9) "Se Deus vé todas as coisas, vé que vou fazer o mal. Deixa-
me, entretanto, a liberdade. Nao consente no mal?" 19
III. SAGRADA ESCRITURA
10) "Existem testemunhos ndo-cristáos da existencia de Jesús?" 20
11) "Qual a interpretagáo da frase: "Fazei-vos amigos com o
dinheiro desonesto, a fim de que, quando desfalecerdes, vos
recebam nos mansóes eternas" (Le. 16,9) ? Todas as riquezas
sño injustas ou entáo as riquezas injustas sao licitas?" 25
12) "Que é espirito de pobreza? Como pode um rico ter espirito
de pobreza continuando rico?" 25
13) "No fascículo 3, pág. 14, de "Pergunte e Responderemos",
leio que os carnívoros já eram carnívoros no Édem. Já se
matavam por lá? A paz na natureza perfeita nao reinava
entdo?" 26
IV. MORAL
14) "Poderia dar explicacóes sobre o uso da bomba atómica? É
um mal? Um bem?" 27
15) "Nao compreendo que a Igreja apreve a pena de morte se só
Deus tem o direito de tirar a vida" 30
16) "Será permitido a um católico pertencer ao Rotary Club?" 32
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
17) "Quisera saber quem sao os Batistas? Seráo discípulos de
Sao Jodo Batista?" 35
JkEVE ADVERTENCIA AO LEITOR 37

'TERGUNTE E RESPONDEREMOS"
TEDACAO ADMINISTRADO
xa Postal 2666 R. Real Grandeza, 108 — Botafogo
<íe Janeiro Tel. 26-1822 — Rio de Janeiro
COM APROVACAO ECLESIÁSTICA
RESPONDEREMOS
II

N.° 7 — Novembro Je 19S7

JECY (Rio de Janeiro):

I. FILOSOFÍA E RELIGIAO

1) "Deus para mim é a natureza. ^NSo vejo como nao ser


panteísta".
Urna reflexao serena sobre o panteísmo permitirá formu
lar juízo seguro sobre esta ideología.

1. "Panteísmo (nome forjado pelo filósofo inglés J. Toland


em 1705) é a doutrina que ensina ser Deus o Hénkal Pan dos
gregos, o "Um e Tudo", a única substancia existente, a qual,
por via de emanacáo, se manifesta nos diversos entes visíveis.
Deus, pois, vem a ser o substrato neutro, impessoal, pressuposto
por cada fenómeno da natureza. Acha-se em continua evolucáo;
em cada individuo humano que se aperfcicoa, é a Divindade que
vai tomando consciéncia de si.
Os filósofos, no decorrer dos séculos, tém apresentado a
ideología panteista sob diversas modalidades: cnquanto alguns
cnsinam simplcsmente que "tudo é Deus e Deus é tudo", outros
prsferem afirmar que Deus é a alma do mundo ou o principio
("espiritual", como dizem) imánente que dá subsistencia ao mun
do. Todavía qualquer destas fórmulas implica que Deus se identi
fique, total ou parcialmente, com a Natureza posta em evolucao.
2. Ora é esta identificac.áo que nos interessa submeter ao
exáme da razao. Tres sao as observacóes que ela sugere: , •
a) Deus nao se pode (nem parcialmente) identificar com
o mundo, pois, por definicáo, c o Absoluto, Necessário, Ilimitado
(o que o panteísmo reconhece perfeitamente), ao passo que o
mundo c relativo, contingente e limitado em suas perfeicóes
(coisa que a experiencia ensina sobsjamente). Ora o mesmo
sujeito jamáis será simultáneamente, e sob o mesmo ponto de
vista, Absoluto e relativo, pois estes predicados se excluem mu
tuamente.
b) Nao pode haver evolucáo ou progresso em Deus, pois-
toda evolucáo diz ou aquisicáo ou perda de perfeic.áo; em qual
quer caso, implica impcrfeic.ao, o que é absurdo em Deus. A hipó¿

-- 3 -—
tese de urtl Deus OU de ulna Subsistencia divina* eiil cvolucáo teniit
explicar o mundo nao por um Ser absoluto, mas por um "Tornar
se" absoluto; ora o "tornar-se" absoluto é contraditório em si,
pois "tornar-se" significa lacuna cm demanda de plenitude, ao
passo que o Absoluto diz perfeicáo plena.
c) Ademáis, poe-se a questáo: a substancia única do uni
verso que evolui para sua maior perfeicáo, como se eleva ela
ácima de si mesma? Se é a única realidade, onde encontra o
apoio necessário para subir?... Onde encontra a fonte das per-
feicóes que ela por definicáo nao possui? O "mais" saíria do
"menos"? A lógica ensina o contrario... Diga-se, pois, que
a evolucáo do imperfeito para o perfeito supoc na base de tudo
urna realidade de perfeicáo infinita; é a atividade déste Ente pri
mordial que produz novos seres, os quais sao necessáriamente
menos perfeitos e, por conseguinte, finitos, pois nao pode ha ver
dois infinitos ou dois absolutos sob o mesmo ponto de vista.
O Ente primordial nada ganha quando produz os seus efei-
tos, pois ao Infinito nada se pode acrescentar; ele é, portanto,
essencialmente distinto dos seus efeitos e do mundo. E' o Deus
transcendente que nao toma consciéncia de si, mas desde todo <»
sempre é Personalidade plenamente consciente.
8. Mas será que nao se pode salvar o panteísmo mediante
a fórmula: Deus está presente, imánente a todas as coisas como
a alma se acha no corpo?
O enunciado é ambiguo. Se significa que Deus é imánente a
tudo como elemento integrante (e tal é o sentido que Ihe dá o
filósofo panteista), a fórmula nao se exime ás dificuldades ante
riormente propostas: Deus nao pode ser constitutivo de seres cm
evolucáo.
A mesma fórmula, porém, pode significar que Deus está
presente a tudo, simplesmente como o agente está presente a
qualquer dos objetos de sua acáo. Tal é a concepeáo da sá ra-
zao, reafirmada pelo Cristianismo: Deus é o Criador que do nada
tirou todos os seres e os conserva na existencia; por conseguinte,
onde quer que naja urna parcela de ser, Ele ai está presente —
presente, porém, porque age, conservando, nao porque se iden
tifique com a substancia do ser contingente. A Filosofía crista,
conseqüentemente, ensina que Deus é, ao mesmo tempo, transa
tendente, porquanto ultrapasSa infinitamente os demais seres
em perfeicáo, e imánente, porquanto a sua a?áo criadora e con
servadora atinge o intimo de tudo que existe. Se o panteísmo
objeta que nada pode existir fora de Deus, a sá Filosofía responde
que nada pode existir fora ou independentemente da acáo cau
sal de Deus, mas que todos os seres limitados sáp substancia»
distintas da substancia de Deus.

—. 4 —-
Em última análise, verifica-sc que o panteísmo só se pode
sustentar caso quem o professe, incoercntemente atribua á Subs
tancia única traeos de uin Deus pessoal, distinto do mundo.
4. Pcrgunta-se, porém: se táo pouco lógico é o panteísmo,
porque possui hoje tantos adeptos?
Dois parecem ser os principáis motivos da sua voga:
a) identificar Deus com a Natureza parece engrandecé-Lo,
ao passo que atribuir-Lhe personalidade seria diminui-Lo. Todo
homem tem consciéncia de quanto é limitada a sua personalidade,
e grandiosa a Natureza com seus profundos misterios... Em
conseqüéncia, preferem alguns dizer que nao é personalidade, mas
"super-personalidade". Isto, porém, equivale a colocar o Altissi-
mo abaixo do homem; é mística ilusoria. Justamente a mais.
elevada perfeicáo do ente consiste em ser dotado de conhecimen-
to intelectivo e de livre vontade (atributos que constituem a per
sonalidade). Esta perfeicáo nao incluí em scu conceito alguma
imperfeicao (como, por exemplo, o arrependimento envolve a no-
cáo de falta previa); por isto nao há razáo para a denegar a
Deus. O Altíssimo só nao é personalidade a maneira exigua do
homem.

b) Ainda unía razáo de ordem psicológica se impóe á nossa


consideracáo: o panteísmo ou monismo fazendo coincidir Deus
com a Natureza, emancipa o homem, possibilitando-lhe conce-
ber a sua religiáo segundo o scu bom senso subjetivo ou... os
seus caprichos. Em última análise, o Deus do panteísmo vem a
ser mera fórmula a recobrir auto-afirmacáo e soberba do homem.
Nao será exagero dizer que o panteísmo práticamente equivale
ao ateísmo. E' o que, do seu modo, dava a entender urna das
grandes mentoras da Sociedade Teosofista, Annie Besant, a qual
verificava o seguintc:

"A primeira coisa que afirma'm os teosofislas é que toda •


idéia de sobrenatural deve ser rejeitada... A segunda... ¡é a
negacáo de um Deus pessoal; dai decorre que os agnósticos e os .
ateus assimilem mais fácilmente os ensinamentos da Teosofía do
que os fiéis dos credos ortodoxos" (Whv I became :i theosophist
17).

A Sra. Besant assim averiguava a afinidade prática do pan


teísmo com o ateísmo. Alias, os historiadores observain que,
entre as correntes do pensamento moderno, nao sao muitos os sisr.
temas filosóficos ateus; o ateísmo costuma ser prático, incons--
cíente, nao baseado em principios doutrinários; a Filosofía nao-v
crista tende, antes, ao panteísmo c ao monismo. O motivo déste'
fenómeno percebe-se seni grande dificuldade: o a leísmo parece
violentar demais a razáo, que espontáneamente é levada a reco-
nhecer a existencia de urna Causa Primeira; o panteísmo entáo
vem a ser a fórmula que torna o choque menos veemente e, nao
obstante, permite ao individuo fazer-se autónomo; bájala o or-
gulho sem o desmascarar e sem fazer perdsr ao soberbo a apa-
réncia de homem religioso. E' o "Manual Informativo do Mem-
bro da Sociedade Teosofista no Brasil" que ensina ser o homem
"o seu próprio legislador absoluto, o ssu próprio pensador de
gloria e obscuridade, o que por si mesmo decreta a sua vida,
recompensa ou castigo" (ed. Sao Paulo 1951, 22) (!).
Em conclusáo, parece que quem tem consciéncia do que sig
nifica o panteísmo, nao pode deixar de rejeitar esta ideología em
nome da própria inteligencia humana.
Veja-se ainda a resposta á pergunta n.° 3 déste fascículo.

AQUAVIVA (Rio de Janeiro)

2) "Quisera saber como se explica científicamente a ori-


gem das ragas humanas".

Há quem julgue nao poder explicar as nicas humanas sena"


adinitindo varios troncos que lhes tenham dado origcm (hipótese
chamada "polifiletismo").
Será que tal posicáo rondiz realmente com os resultados d«
ciencia moderna?
Esta, entre outras coisas, nos diz que toda especie vegetal
ou animal costuma ter seu berco próprio na face da térra, isto é,
determinado lugar de origem (e nao muitos); é a partir de uní
só tronco ou urna só populacáo que cada especie se espalha pelo
globo, assumindo aqui e ali, segundo as exigencias da novos cli
mas e géneros de vida, modalidades varias. Bascados em tais
observa^óes, os zoólogos, por exemplo, afirmam que o cao, o lobo
e a raposa, embora nao se possam cruzar entre si, procedem de
um único tipo animal nao diversificado, o qual tinha potencial-
mente em si as modalidades do cao, do lobo e da raposa hodiernos.
Se assim é, torna-se lógico admitir que as racas humanas
provenham todas de um só tronco e um só bsrc.o ("monofile-
tismo", e nao "polifiletismo"). Esta conclusáo se recomsndci
ainda pelo fato de que os individuos humanos de racas diferen
tes constituem um só "syngámeon", isto é, sao fecundos ¡.ntre si
como seres da mesma especie; existem populares inteiras devi
das á cópula de individuos pertencentes a rachas muito remotas
urna da outra; tais sao os lioers, homens vigorosos que provcni

_, g
da uniáo de holandeses coni hotentotes; os habitantes da Gri-
qualándia (África do Sul), que descendein de europeus e bosqui-
inás. Além do mais, obsérva-se que as diferenc.as raciais sao pro
fusamente matizadas; há múltiplos tipos humanos que fazeni
transido entre urna rac.a e outra; tenha-se cm vista, por exemplo,
a tez da pele: na raga branca, encontra-se larga escala de ma-
tizes, desde o branco róseo dos noruegueses até o moreno escuro
dos abissinios; os chineses do norte sao de tez amarela quasc
branca, ao passo que os do sul sao de uní amarelo quase 'choco
late"; existem faces ou cránios negroides, mongoloides entre os
europens e >ice-versa. Apoiada nestas observa^óss, "a grande"
maioria dos autores recentes professa teorías monofHéticas",
observam Bergounioux e Glory, que, sem visar enumeracáo com
pleta, nomeiam quatorze antropólogos monofiletistas modernos
(Les premiers homiiies. París 1952, 89). — De passagem, note-se
aínda que os estudiosos contemporáneos sao muito inclinados a
localizar o berc.o do género humano na África, e nao na Asia (o
texto bíblico, de resto, nao nos indica a situac.üo geográfica do
paraiso terrestre).
Quais seriam, entao, os fatores que ncarretaram as diversi
dades raciais?
1) Em primeiro lugar^ enumera-se a influencia do ambien
te: clima, género de alimentac.áo, de trabalho, de vida. Estes
elementos marcam o tipo do hornero, e déle exigein adaptado
somática. E' de notar, porém, que esta nao se faz meramente
ao acaso; ao contrario, parece guiada por tendencia intrínseca,
que sabe adaptar-se sem perder de vista determinado tipo a
atingir.
2) Levem-se em conta também as "mutac.5es". Estas sao
variantes introduzidas no vívente em virtude de niodificacáo im-
previsível do genotipo; em outros termos: sao mudancas re
pentinas do número e da posicáo dos corpúsculos (genes e cro
mosomas) que no embriáo correspondem ;i certos caracteres
do futuro corpo do vívente: colorac.áo da pele ou do pelo, for
mato e cor dos olhos, tamanho do nariz, estatura, fecundidade,
ele. Esssa mudancas
a) produzem-se de modo brusco, de unía..gerac.áo para ou
tra;
b) dáo-se em uní ou poucos individuos postos em meio a
milharcs de irináos ñas mesinas condÍQÓes de vida; por isto nao
podein ser atribuidos exclusivamente a influencia do ambiente,
sobre o genotipo;
c) sao hereditarias e duradouras (observáoslo muito im-'«-
portante).
As causas que acarretam mutacóes nao fora ni até hoje plena
mente elucidadas. Famosas se tornaram as experiencias de Mor-
gan, Muller e Timofeeff-Ressowsky, que, aplicando raios X á mos
ca do vinagre, a Drosophila melanogaster, obtiveram cerca de
400 racas déste inseto, diferenciadas imprevislvehnente pela for
ma das asas, a cor do corpo, o Upo do pelo, etc. {Drosophila vi-
rilis, D. simulans, D. obscura. ..).
Já que se conhecem numerosas mutacóes entre os mamífe
ros, os cientistas atribuem importancia crescente a éste fator na
formacáo das ra?as humanas.
3) Mcrccem atencáo também os fenómenos de degeneres
cencia; a evolucáo de determinado tipo nao se processa indefi
nidamente, mas apenas dentro dos limites de certo cabedal; es-
gotado éste, o tipo vai definhando, e tende a se extinguir. Ora
sabe-se que viveram outrora racas humanas hoje extintas (ha-
ja vista o honiem de Neanderthal).
Ao monofiletismo se objeta que foram encontrados fósseis
humanos pertencentes ao mesmo periodo geológico (portanto,
geológicamente contemporáneos entre si), postos, porém, em di
verso grau de evolucáo. Nao seria isto indicio de que provém de
troncos diversos?
Em resposta, observa-se que a contemporaneidade désses
fósseis é muito relativa: cada uní dos periodos geológicos em que
se situam, compreende dezenas de milhares de anos; ora bastam
apenas alguns milenios para que urna especie se propague pelo
globo, sofrendo conseqüenteniente fenómenos de adaptacáo, mu-
lacionismo e degenerescencia. Éste prazo, porém, de alguns mi
lenios escapa á verifica?áo experimental dos geólogos, que, por
conseguinte, dáo por estratigráficamente contemporános fósseis
que, em cronología rigorosa, nao o sao.
A estas considerares da ciencia faz eco a doutrina da fe
crista, que ensina estrito monofiletismo, até mesmo monogenis-
mo, ou seja, origem do género humano a partir de uní só casal.

II. DOGMÁTICA

MARÍA CLAUDIA (Rio (le Janeiro):

3) "Como entender a geracao do Filho enquanto Deus?


As Pessoas da Santíssima Trindade nao sao incriadas?"

A Sagrada Escritura, ao falar de Deus, aplica-Lhe os con-


ceitos de paternidade, filiacáo, gerac.áo. Estas noejóes, porém,
nao convém ao Altissiino do mesmo modo que a nos, homens.

.- 8 —
Ein Deus todos os atributos se acham na escala do infinito (o
que quer dizer própriamente: ácima de qualquer escala), ao
passo que ein nos tudo é finito. Eni termos técnicos: há ana-
logia, e nao univocidade, entre Deus e nos.
Feita esta observacáo, dir-se-á:
1) Ein Deus há geracáo, isto é, comunicado da natureza
divina (como entre os homens, por geracao, há comunicacáo da
natureza humana), e comunicacáo tal que déla resulta urna Pes-
soa em tudo igual á Pessoa que comunica. Note-sc que geracáo
nao é o mesnio que criacao; essa significa origem a partir do
nada, por conseguintc, diversidade de natureza entre o Criador e
a criatura. O pai, porém, nao tira do nada, mas produz da sua
natureza.

Logo depois de afirmar isto, é-nos necessário negar em Deus


algumas notas que caracterizam o processo generativo entre os
homens.
2)A comunicacáo da natureza em Deus nao implica tem-
poralidade, coméco, progresso, finí; é ato único, sempre presente
e perfeito, ato inseparável do ser ou da vida de Deus; desde que
Deus c Deus, ou seja, sem coméco e sem finí, o Pai gera o Filho,
ou a esséncia divina se comunica do Pai ao Filho.
3) Tal comunicacáo nao acarrela imperfeicáo na pessoa
gerada nein subordinacáo peranle o Pai (era com referencia á sua
ssma. humanidade que Jesús dizia em Jo 14,28: "O Pai é maior
do que cu").
4) Também nao significa divisáo da substancia divina. Esta
é espiritual; por isto nao tem partes, é indivisível. Pela geracáo
a mesma natureza divina, com sua infinita perfeicáo, subsiste-
no Filho como ela subsiste infinita no Pai. Entre Pai e Filho há
a distincáo proveniente apenas do que se chama "oposicáo rela
tiva": o Pai é a natureza divina enquanto gera, o Filho é a na
tureza divina enquanto gerada.
A geracáo do Filho é tño alheta ao plano da corporeidade que
se pode comparar ao nosso ato de conceber urna idéia ou unía
palavra mental. Com efeito, o Filho na Sagrada Escritura tam
bém é chamado Logos (em grego, Palavra menta] ou vocal» nao
própriamente Verbo) e Imagem (expressáo) do. Pai (cf. Jo 1,1-3;
Col 1,15). Entende-se bem a sinonimia: no plano do espirito, a
funcáo de conceber unía idéia corresponde á de conceber e gerar
um filho no plano da corporeidade; tanto o filho como" a idéia
sao manifestacóes, imagens, da natureza de quein concebe. Nao
é em váo que repetindo o mesnio vocábulo, falamos de "conceber"
urna idéia" e "conceber um filho"; estas funcóes, que em nos sao
distintas por constarmos de espirito e materia, em Deus, Puro

— 9 —
Espirito, constiluem urna só, ;i saber: o ato eni que a priinetrii
Pessoa divina conhece total e perfeitanientc a sua infinita per-
feigao c profere éste scu conhecimento nuuia Palavra ou Iina-
gem que subsiste como Pessoa igual á Pessoa que proferiu, ou
como uin Filho perante seu Pai.
A titulo de complemento, diremos que o ato de contemplar
o Filho nao pode deixar de suscitar no Pai o Deleite, o Amor,
Amor que é reciproco do Filho ao Pai. Éste Amor constituí
outra manifestacáo perfeita da vida de Deus; nao é senáo a natu-
rezn divina inesma que se afirma como Amor subsistente, pes-
soal. A terceira Pessoa a Sagrada Escritura dá o noins de "Es
pirito Santo", que c o ósculo sagrado a unir o Pai e o Filho numa
felicidade sem principio e sem finí.
Jamáis se poderia conceber a vida divina sem estas duas
afirmacóes características do ser espiritual: a do conhecimento,
donde procede a Palavra mental ou o Filho do Pai Eterno, e a
do Amor, donde procede o Espirito Santo, a Complacencia, o
Deleite, do Pai no Filho e do Filho no Pai.

EVA (Rio de Janeiro):

4) "Sou a favor do divorcio e quería saber se é possível


ser divorcista e católica".

Em absoluto nao é possível ser algucm católico e divorcista.


Nao se creia que esta afirniacáo seja ditada por mancira de pen
sar antiquada, estando, portanto, sujeita a reforma. Nao; o di
vorcio contradiz diretamente ao conceito de matrimonio que
tanto a sá razáo como a fé crista inculem.
Consideremos isto sucintamente.
O casamento é funcáo, da natureza destinada á conservado
e propagacáo da especie, funcáo paralela á de alimentar-se, que
visa a conservacáo do individuo. Disto se segué que as leis do
matrimonio nao sao ditadas apenas pelo bem-estar pessoal dos
cónjuges, mas pelas exigencias do bem coiuuin (como a fun$áo
de comer nao é simplesmcnte regida pelo deleite que o honieni ex
perimenta ao exercé-la).
Consoante éste modo de ver, indicam-se clássicamenle tres
finalidades ou tres bens que dáo estrutura característica ao ma
trimonio:
1) o hoinem pode ser considerado ein seu aspecto ínfimo,
enquanto é simplesmente um vívente, como os irracionais e as
plantas sao viventes; neste caso, o matrimonio é orientado á
prole ou á geracáo e educacáo de filhos. E' éste o bem funda
mental, finí primario de qualquer casamento;

— 10 —
2) o homeni pode ser visto nao apenas como vívente, mas
qual vívente racional, típicamente humano. Neste caso, o ma
trimonio se destina a proporcionar auxilio mutuo, corporal e
espiritual, aos cónjuges; ,
8) o homeni ainda pode ser considerado como filho de Dcns,
crístgo. Neste caso, o matrimonio visa o bem do "sacramento";
o que qucr dizer: torna-se misterio pequeño dentro de uní Miste
rio Grande, que Ihe comunica nova dignidade (cf. Ef 5,31s).
Ora os dois bens visados pelo matrimonio no plano natural
e o terceiro, característico do casamento cristño, exigem, com
rigor ascendente, indissolubilidade do vínculo. E' o que se de-
preende de ligeira reflexáo:
1) nao basta que os genitores gercm a prole para que
preencham suas respectivas funeñes; toca-lhes outrossim o dever
de educar. Sem este complemento (que só os país podem exer-
cer adequadamente), a funcao biológica de gerar poderia tor-
nar-sc nociva. — Eis, porém, que o cumprimento de tal missáo
pede a estabilidade da familia, a colaboracáo da autoriade e da
energía paternas com a delicadeza e a dedicacáo maternas.
2) A felicidade dos cónjuges, por paradoxal que isto parecí»,
exige igualmente a indissolubilidade.
O homeni por sua própria natureza é impelido a amar e a
doar-sc totalmente ao objeto amado. Ora, após o Criador, Alfa
e Omega de todas as criaturas, qual o objeto ao qual mais se
deva dedicar a criatura humana do que a sua consorte, lugar-
tenente de Deus, com a qual o individuo se completa física e
psíquicamente numa intimidade só ultrapassada pela intimidade
com o Senhor? Isto nao quer dizer que o homem, amando,
deva necessáriamente encontrar deleite natural; geralmente o
amor nobre conhece as suas horas de sacrificio; as vézes tem de
verificar que ele dá mais do que recebe. Em qualquer caso,
porém, sabe que "há mais felicidade em dar do que em receber"
(At 20,35); só o sacrificio dilata o ánimo, arrancando-o ao egoís-.
mo. ;

Ora a possibilidade de divorcio legal equivale a uin golpe des-


ferido sobre a heroicidade dos cónjuges: ein primeiro lugar, fa
vorece a leviandade na escolha do consorte; a seguir, no.decor-
rer da vida conjugal, faz que qualquer dissabpr possa assumir
proporcóes desarrazoadas, pois se entrevé a perspectiva de largar
a luta. O estado de ánimos, talvez inconscientemente debilitados,
que o divorcio assini produz, cortamente nao contribuí- para di
minuir as infelicidades conjugáis.
Mas dir-se-á: embora se reconhecam os males fomentadoV
pelo divorcio, concedamo-lo em casos raros, excepcionalmente
dolorosos.

— 11 —
Replica-se: a concessáo ein tais casos ainda acarreta maior
mal do que bem. — Quem saberia trac.ar a linha de demarcarlo
entre os casos "excepcionalmente dolorosos" c os "nao excepcio-
nalinenle dolorosos"? Desde que o divorcio seja de algum modo
legalizado, exerce a sua influencia destruidora: "A idéia do divor
cio cria a materia divorciável... No seio dos lares introduz nao
sei que de precario, provisorio e hipotético, que impede a familia
de realizar suas finalidades fisiológicas, psíquicas e moráis"
(L. Franca, O divorcio, Rio de Janeiro 1952, 62). E' pois, eni
nome do bem comum que se denega o divorcio mesmo aos casos
excepcionais (casos que se multiplicariam de tal modo que dei-
xariam de ser excec,áo). Toda lei, visando proteger os inlerésses
da coletividade, impóe necessáriamente privac.5es particulares.

3) As razóes anli-divorcistas ácima sao corroboradas pelas


exigencias do matrimonio "sacramento cristáo".
O matrimonio modelo, para o cristáo, é a uniáo de Cristo coin
Igreja, uniáo que visa gerar filhos de Deus adotivos. Pois bem;
o esposo cristáo participa do papel e da dignidade de Cristo; a.
esposa crista toma parte na nobreza c ñas funcóes da Igreja;
assim entre éles se realiza como que u'a miniatura do Grande
Misterio ou do Sacramento primordial (cf. Ef 5,31s). Isto faz
que o matrimonio cristáo aprésente as propriedades da uniáo dé
Cristo com a Igreja; entre estas, aponta-se a totalidade irrevogá-
vel da doacáo: Cristo se deu até a mortc á sua Igreja e jamáis a
abandonará; por sua vez, a Igreja será sempre a guarda invio-
lável da doutrina e da vida do Senhor a ser transmitida aos ho-
mens. Por conseguinte, o matrimonio sacramental será também
indissolúvel. E' esta, á luz da fé, a mais intransigente das ra
zóes anti-divorcistas.

O discípulo de Cristo, mais do que qualqucr outro homem,


sabe que casar-se está longe de ser concessáo feita á natureza
em vista de gozo; é, ao contrario, missáo, a qual, aléin de ale
grías, implica sacrificio, exercicio de urna í'un^áo sacerdotal;
os esposos cristáos tém consciéncia de que foram chamados a se
santificar um ao outro, e ambos á prole e á sociedade. Por isto
também nao os surpreende nem atemoriza a perspectiva da in-
dissolubilidadc do matrimonio; sabem que possuem a graca de
estado, auxilio especial do Senhor para cumprir a sua tarefa.

Quanto á fórmula que visa conceder o divorcio aos cónjuges


nao-católicos, vedando-o aos católicos, a Igreja nao a pode acei
tar, pois o divorcio contradiz ás exigencias da natureza humana
como tal; e o Cristianismo é guarda das leis naturais, pois tam
bém exprimem o plano sabio do Criador. Ademáis percebe-se

_ 12 —
a que graves abusos daría lugar tal concessáo; equivalerin n
unía armadilha continuamente preparada para a consciéncin de
crisíáos e nao-cristáos, estimulando a ¡imbifíuidade e a hipo-
crisia na sociedade.

.1/. (I, {¡Un de Janeiro):

5) "Há casos em que a Igreja permite o divorcio?"

Após o c|iic ácima foi dito, compreende-se que nao os naja


em absoluto. Nao está em poder da Igreja anular unt casa
mento válidamente contraído e devidamente consumado pelo
consorcio marital. Em casos dolorosos, a Moral crista reconhece
apenas o desquite, o qual nao da direito a novas nupcias.

Acontece, porém, que um matrimonio cristño válidamente


contraído jamáis tenha sido consumado no lar pela uniáo con
jugal (admita-se, por exemplo, que o esposo tenha tido que par
tir para a guerra pouco depois de se casar). Em tais casos, se os
esposos desejam separar-se e contrair novas nupcias, isto lhes
pode ser facultado pela autoridade da Igreja; c preciso, porém,
que apresentem á Santa Sé, por mcio do bispo diocesano, as res
pectivas provas de náo-consumacao do matrimonio e se subme-
lam ao julgamento do Santo Padre.

Pode acontecer também que o matrimonio nao tenha sido


válidamente contraído, seja porque nao se ohservaram as-exigen
cias do Ritual (presenca de testemunhas, de sacerdote devida;-
mente habilitado, quando possivel...), seja porque um impedi
mento dirimente ou um defeito essencial no consentimento tor-
nou nulo o contrato matrimonial, embora a todos parecesse vá
lido. Entre os impedimentos dirimentes citam-se, por exemplo,
o médo ou a violencia sob os quais um dos nubentes dé consen-;
timento ao matrimonio, a «finidade em terceiro grau colaterql,;.
a profissáo religiosa solene; defeitos essenciais no conseritimen-
to seriam a ex el u sao da indissolubilidade matrimonial ou cltr
prole. Em casos semclhantes, os cónjuges nao cstao, na rcali-
dade, casados. Podem entáo declarar á autoridade eclesiástica
qual o impedimento ou o defeito que julgueni haja tornado nulo
o contrato; o tribunal eclesiástico competente (que 6 o da diocesc
em que foi realizado o matrimonio ou, caso esteja muílo-'nfastado,.
o da diocesc em que reside o tnarido) julgará as provas apresen-
Indas e terminará sen exame minucioso com a simples son ten-
ca: "Consta" ou "Nao consta da nulidade (Jo casamento". O juix
eclesiástico, porlanto, de modo ncnhmn anula um matrimonio
válido, mas apenas verifica e declara a existencia ou a náo-
existéncia de matrimonio, habilitando, em caso de nulidade, as
partes interessadas a contrair nupcias válidas.

ALOiSIO MOURÁ (Sao Joño del Rei):

6) "Porque a Igreja Católica proibe o divorcio? O próprio


Jesús o permitiu em caso de adulterio (cf. Mt. 5,32; 19,9)".

. As razóes pelas quais a Igreja proibe o divorcio, já anterior


mente expostas, nao sao de modo nenhum desvirtuadas pelas
palavras de Jesús ácima referidas.
Para maior clareza de exposicáo, eis os textos mencionados,
na traducáo mais corrente que se lhes dá:
Mt 5,32: "Todo aquéle que repudia sua esposa, fora do caso
de adulterio (parektos lógou pornéins), expóe-na a adulterio; e
todo aquéle que esposa u'a mulher repudiada, comete adulterio";
Mt 19,9: "Todo aquéle que repudia sua esposa, a nao ser
em caso de adulterio (me npi pornéiai), e se casa com outra. co
mete adulterio. ^
Estas duas passagens sao interpretadas pelos cristáos cis
máticos do Oriente e pelos protestantes como se autorizassem
o divorcio em caso de adulterio. Verifica-se, porém, que tal in-
terpretacáo nao condiz com os textos paralelos de Me 10,1 ls e
Le 16,18, em que Jesús ensina irrestritamente a indissolubilidade
do matrimonio (omitida a cláusula- de adulterio); supóe, aléni
disto, haja Sao Paulo ordenado em'nnme do Ssrihor ó contrario do
que o Senhor mesmo preceituou:
' "Aos cónjuges ordeno, nao eu, mas o Senhor: a esposa nao
se separe do marido e, se porventura se separar, nao se case de
novo" (1 Cor 7,10s).
' ' Ja estas consideracoes tornam a interpretacáo divorcista dos
textos de Mt assaz suspeita, se nao impossivel; o Evangelho teni
que ser explicado primariamente pelo Evangelho e pela Escri
tura Sagrada em geral. Ora, no tocante aos textos de Mt 5 e 19,
nao resta dúvida de que S. Marcos, S. Lucas e S. Paulo nos trans-
miteni a genuina mente do Senhor.
A vista disto, os exegetas conhecem duas principáis expli-
cácóes das referidas palavras do Mestre:
i) a sentenca clássica desde os tempos de Sao Jerónimo
(*42(1), traduzindo a palavra grega pornéin por "adulterio", en
sina qué Jesús realmente admifiu o repudio da esposa em caso
de adulterio, ou seja, a separacáo do casal, o desquite, inas coni
is'to nao autorizou novas nupcias, pois Ele ecrescenta que todo
váráo qué se case com unía mulher repudiada ou desquitada co-
mete pecado (Mt 5,32), assini como peca todo honiem desquitado
que se case de novo antes da niorte de sua esposa (Mt 19,9Ju
Podcr-se-ia perguntar porque Jesús fez mencáo especial, do
caso de adulterio, ao formular as normas ácima. ■ - :
Os motivos se dcpreendem sem grande • dificuldade: em
Mt 5,32, se Jesús nao tivesse feito a excecáo, haveria dito que.o
marido que repudia a esposa adúltera, a expóe a adulterio —
nfirmacáo muito estranha! Além disto, a propositó tanto, de
Mt 5 como de Mt 19, note-se que o adulterio era objeto desar
ticular atencáo na Lei inosaica; o marido que surpreendesse a.,
mulhcr em adulterio, tinha o direito, se nao o dever, de a denun
ciar e de provocar o castigo da mesma, que era habituahñente
a pena de niorte (cf. Lev 18,20;20,10; Dt 22,20); ora, urna vez
morta a esposa adúltera, está claro que o marido, casando-se de
novo, nao cometería adulterio. Dado, porém, que a esposa
adúltera nao fósse apcdrejada ou nao morre logo, ficaria claro,
conforme Jesús, que novas nupcias nao seriatn permitidas a
nenhum dos cónjuges desquitados. '
2) Urna interpretacáo mais recente tem merecido a apro-
vagáo de abalizados exegetas. O Pe. J. Bonsirven, especialista
sm estudos rabinicos, analisou os textos de Mt á luz da termino-
logia dos judeus contemporáneos de Cristo. Concluíu, baseado
sobre erudito aparato de filología bíblica e extra-bíblica assim
como de jurisprudencia rabinica, que o termo grego pornéia cor
responde ao hebraico zenut; ora éste designava nao o adulterio
(como supóe a interpretacáo clássica), mas o concubinato, ou
seja, a uniáo ilícita, o matrimonio falso ou nulo (cf. Lev 18,7-18;
Jo 4,17s; 1 Cor 5,1). Suposto isto, Jesús haveria condenado o
divorcio em casos de matrimonio válido; té-lo-ia, porém, permi
tido (se se pode assim dizer) desde que S2 trate de casamento
nulo ou de uniáo incestuosa (nao há dúvida, esta também pode
ser saneada pela legalizacáo do matrimonio ou pela celebrado le
gitima do contrato nupcial). :
Veja-s.e J. Bonsirven, Le divorce dnns le Nouveau Testament.
Tournai 1949; Revista Eclesiástica Brasilcira 12 (1952) 609s;
Revista de Cultura Bíblica 1 (1956) 1-16. ,.
Além dcsias duas sentencas, urna terceira goza de certa
voga (cf. a nota explicativa a Mi 19,9 na "Biblia de Jerusalém"):
A lei de Moisés (DI 24,1) concedía ao marido repudiar, a ¡es
posa, caso nela notasse "algo de torpe" 'erwat dabar. Esta ex-
pressáo, vaga como é, recebia duas interpretares por parte das - -
escolas rabinicas contemporáneas a Cristo: a d.s Hillcl alargava
ao máximo o sentido das palavras, compreendendo sob elas até. '»•■
tim¡i f¡ilt¡» de respeilo ou levo ofensa; :i de Shnmnuti, íio contrario
entendía o 'ertvat dabar no estrito sentido ds adulterio. Pois
bem; perante as duas sentcncas discutidas, Jesús se teria re
cusado a tomar posicffo; haveria dito, por conseguinte, cin MI
10.":

'Todo aqucle que repudia, sita esposa nao falo do 'crwat


dabar, das possibilidades dé repudio admitidas pelos casuístns
judens — e se casa com outra, comete adulterio".
Deixnndo, porérn, de tomar partido entre Hillel e Shiiinmni,
Icsus nao entendía permitir o divorcio (separacao com novas
uupcias), como se depreende das suas próprias palavras, assim
como de todo o contexto do Evangelho e do Novo Testamento.
Parece merecer preferencia a primeira ou a segunda inter-
pretacáo ácima proposta.

LEA'! (ttin de. Janeiro):

7) "Se Deus disse: "Crescei e multiplicai-vos, os padres e


freirás nao obedecem a esta ordem, além de atrofiaron a na-
tureza".

A ordem "Crescei c multiplicai-vos" foi dada no inicio da


historia sagrada (cf. Gen 1,28), como norma sujeita a ser com
pletada por ulteriores disposicóes.divinas.
Nao ha dúvida, o preceito óbriga o género humano como
tal; toca ix eoletividade o dever de se propagar através dos sé-
culos; foi para facilitar o cumprimento desta tarefa que o Cria
dor a quis tornar deleitosa a nntureza.
No decorrer dos secutas, porém, o mesmo Senhor Dcus fez
saber aos homens que nem todo individuo está obrigado a se
casar e gerar filhos. Com efeito, quando na plenitude dos tempos
Cristo veio ao mundo para consumar a Revelacáo do Antigo Tes
tamento, disse:

"Há eunucos (homens que nao geram) que nasceram tais


desde o seio de suxi máe, há eunucos que foram feitos tais pelos
homens, e há eunucos que. se tornaram tais por causa do Reino
dos oéns. Quem pode compreender, compreenda!" (Mt 10,12).
Com estas palavras, o Divino Mestre dava e entender que
o amor ao Reino de Deus e á vida sobrenatural pode, provocar
nos fiéis a virgindade espontánea, virgindade que o Senhor louvn
discretamente, exortando os seus ouvintes a procurar comprcen-
der-lhe o alcance ("quem pode entender, entenda"). Como exem-
plos dessa virgindade voluntaria, Jesús podia apontar o seu pró-
prio caso, o de Joño Batista, o de Joao Evangelista; por isto,
usava Ele da forma presente: "há eunucos". O vocábuio eti-
nuco indica, sein diivida,,um estado que nao pode ser mudado,
ou soja, uní propositVdc continencia absoluta e perpetua.
Fazendo eco a éste cnsinamento do Mestre, Sao Garfio, ein
1 Cor 7, compara entre si matrimonio e virgindads, coneluindo
tjue snnlo e salutar é o eslaclo conjugal, mas ainda inais nobre ¿
o estado virginal:
"Quisera que todos fóssom como cu (celibatário); cada um,
poiém^ recebe de Detis o seu dom próprio. . . Contado digo aos
que nao estño casados c ¡ios viúvos: é botn que permanecí! m
como en. Se, porém, nao se pudcrein conter, casem-se; é nielhor
casar-se do que arder (em concupiscencia)" (1 Cor 7,7-9).
"O pai que casa a sua filha, procede bem; aquéle, poréni,
que nao a casa, ainda procede nielhor" (7,:i8).
Estas idéias erani de todo novas ein 57 da nossa era, quando
Sao Paulo as proferia no mundo greco-romano. O pagao, por
sua formacáo cultural, nao estava habilitado a compreendé-las,
pois julgava que todo cidadáo devia colaborar |)ara o bem da ci-
dade ou do Imperio, conslituindo familia; quein nao o fizsssc, era
tido como covarde. O judeu, por sua vez, aspirara a ser pai ou
máe de familia a finí de entrar na linhagcni do Messias prome-
lido; permanecer sem prole Ihc parecía ser maldigo divina.
Ora Sño Paulo, logo no Iimiar da era crista, ousava proclamar a
pagaos e judeus qu2 a pouco estimada virgindade se tornara o
mais digno dos estados. Isto só se explica pelo fato de ser a vir
gindade fruto auténtico e essencial da concepeáo crista da vida.
Sim; o eristño sabe que a Redencáo já veio ao mundo por
Cristo e que, por conssguinte, nao há mais nenhuina instituicáo
salvirica, nenhum meio de santificado novo, a aguardar, no de-
correr dos séculos; os bens messianicos já foram dados ao género
humano. Pelo balismo, o individuo se torna filho de Deus, rece-
bendo a graca santificante, que é a seminte da gloria eterna.
Quem, sob a acáo do Espirito Santo, compreende isto, é lógica
mente impelido a procurar vi ver o mais intensamente possivel a
sua vida interior, que é a vida eterna conreada no tempo; em;
vista disto, o Espirito de Deus Ihe pode inspirar abrace o género
de vida indivisa ou una, que é a vida virginal. A vida conjugal,
embora santificada por um sacramento, exige que ainda se preo
cupa muito coin interésses transitorios; a vida virginal delxa-o,
¡io contrario, como que isento dessas solicitudes c mais livre para
se dedicar a uniáo com Deus e á santificacáo do inundo, como
explica o Apostólo:
"Eu vos digo, irmáos: o tempo se fez breve. Resta, portanto,
que aqueles que tém esposa, vivam como se nao a tivessem.. .-
aqueles que usam déste mundo, vivam como se nao usassem; coto
efeitos, passa a figura déste mundo.

— 17
Quisera ver-vos. i sen tos de solicilude. O hoinent que iJa"o
está casado, se preocupa coni as coisas do Senhor, coiu Os ineios
de agradar ao Senhor..-. Aquéle que está casado , se preocupa-, coin
as coisas do mundo, coni os meios de agradar á esposa, e está
dividido. Da mesilla forma,.a niulher nao casada e a virgem se
preocupam coni as coisas do Senhor, a finí de ser santas de corpo
e espirito; aquela, porém, que tein marido, se preocupa coin as
coisas, (b mundo, coni os ineios de agradar ao esposo. Digo isto,
atendendo aos vossos interésses.. ., tendo ein vista o que é digno
e vos leve a aderir indivisamente ao Senhor (1 Cor 7,29-35).
Eis os motivos que inspiraranra virgindade na Igreja desde
ns teinpos de Sao Paulo. Compreende-se entáo que os sacerdoles
e as Religiosas, ein priineiro lugar, a abracsm, já que éles se
propóem viver mais plenamente para Deus e o Reino de Deus.
Um sacerdote casado menos fácilmente se dedicaría ao servico
das almas; e como sustentada a sua familia ein paróquia pobre,
como sao muitas das que hoje em dia exislem no orbe, principal
mente ein nosso Brasil?

De resto, a virgindade consagrada a Deus é, das caracterís


ticas da vida religiosa e sacerdotal, a única que certos círculos
(mesmo católicos), imbuidos de mentalídade exageradamente
utilitarista, aínda reconhecem sein conleslacáo. Eis alguns tes-
temunhos proferidos por ocasiao de um inquérito realizado re-
centemente na Franca sob a rubrica "Vers quel type de saintetc
allons-nous?":

"Qual o meu ideal de sanlidade? E' o de eclibatária que,


consagrando sua vida e seu amor ao Cristo, permanece no mun
do e do mundo, cheia de amor a Deus ao próximo, capaz de se
consagrar a urna obra de caridade e de ser, ao mesmo tcnipo,
pioneira da cultura e do movimento social contemporáneo" (Pa-
lavras de urna Assistente social).

"Dos tres votos do estado religioso, somenle o de castidade


guarda o seu prestigio, principalmente porque torna o homein
disponivel para o servico do próximo" (Verifica^áo feita por um
sacerdote).
Vcja-se a revista "La Vie Spirituelle" .'J04 (lev. lí>4(>) 23í»s.
Deve-se, porém .observar, á guisa de conclusáo, que a vir
gindade nao pode ser imposta a nenhum cristáo, como também
o matrimonio nao o é indistintamente obrigatório para todos.
Nao é o individuo quem arroga a si a dignidade do estado virginal
ou do estado conjugal; mas um e nutro dcstes dois géneros de
vida sao dons de Deus, condicionados a gratuito chamado di
vino.

— 18 —
NENA (Recife): •

8) "Se era necessário que Cristo fósse traído para se


cumprirem as Escrituras, como se explica que Judas tenha sido
condenado, pois Jesús disse: "Melhor lhe fóra que nao houves-
se nascido" (Mt. 26,24)?"

.1/. 6*. (Rio de Janeiro):

9) "Se Deus vé todas as coisas, vé que vou fazer o mal.


Déixa-me, entretanto, a liberdade. Nao consente no mal?" .

É' preciso observar, eni primeiro lugar,' que as profecías


nao tirum a liberdade de arbitrio do homem; nao se pode, por
conseguinte, dizer que Judas agiu de tal modo porque de tal Modo
Cora profetizado o seu procedimento; mas, ao contrario, afirmar-
sc-á que tal era a profecía porque tal havia de ser a conduta de'
Judas. Dcus tudo sabe de antemao; mas a preciénciá divina
de modo nenhum extingue a liberdade do homem; sabia, póis,
desde toda a eternidade que Judas havia de atraicoar livrementé
o Divino Mestrc.
Aprofundcinos ainda a explicacáo: o Pai Eterno decretQÜ
t|ue seu Filho padecesse como Redentor do inundo, na carne hü-;
diana. Pan» obter éste efeito, nao foi necessário que a Onipotén-
cia Divina endurecesse o coracáo de Judas ou decretasse positiva
mente o pecado do traidor. Lembremo-nos de que a Santa Igrejá
condenou como herética a doutrina de Godescalco (t868), o qual
afirmava haver urna predestinacáo direta e positiva para p nial
(tese repetida por Calvino no século 16). Nao; o mal nunca
acontece porque Deus o queira em si; o Criador apenas permite ^
que o homem, por sua livre vontade, torne lacunosos ou care- "
centes os dons positivos e bons que ele recebe de Deus (sabe--
mos que o mal nao é urna entidade positiva, mas mera carénela;"\
cf. "Pergunte e Responderemos" 5 pág. 3). ! *'"'■
Porlanto, o pecado de Judas, que nao foi positivamente de-'
crctado pelo Senhor Deus, se deVe á habitual desordém da con
cupiscencia ou, mais remotamente, á falibilidade do livré arbitrio
da criatura; foram a avareza (cf. Jo 12,4-fi; 13,29) e o odio que le-
varam Judas a atraicoar o Salvador. Aconteceu, porém, algo de
estupendo: o Todo-Poderoso fez que a obra má de Judas ainda.
servisse a um plano bom, k Redencáo do género humano! —E'
neste sentido apenas que se diz que o pecado de Judas estavá
englobado no plano do Criador expresso pelas Escrituras.
Mas Deus nao podia ter impedido a queda de Judas, fazentlo
que a Paixáo de Jesús decorresse sem a traicao?

— 19 —
Sem dúvida, podía Deus ier evitado que Judas pécasse; inns,
para isto, deveria ter retocado ou mutilado o livre arbitrio do ho-
meni. Tal retoque, o Senhor nao o quiz fazer, pois Ele costunia
respeitar os seus dons, nao derrogando ao que deu. Dcixou. por-
lanto, que os acontecimentos da Paixáo se dcscnrolassein segundo
o curso que lhcs podiam dar ns escrituras livres postas em jógo
(Judas contribuiu principalmente com a sua avareza; os Fari-
seus, com a sua soberba e bípocrisia; o povo judaico, com j» 'sua
obteícacáo; Pilatos, com a sua fraqueza de caraler). A Provi
dencia Divina apenas quis assegurar a Vitoria final ao Bem, en-
caminhando surpreendentementc ate os erros e desmandos dos
diversos atores para a salvacáo do género humano.
'Algo de semelhante se dá em todo pecado. O Senhor de-
seja a salvacáo de lodos os homens (cf. 1 Titn 2,4) e concede
a todos sem excecáo a graca suficiente para praticarcm o bem;
a morte do Redentor na cruz visava, sim, o genero humano in-
teiro. O próprio Judas foi intimado por Jesús a tomar conscicn-
cia da hediondez da traicáo, quando o Mestre iriterpelou na
última ceta (cf. Mt 26,25). Contudo Dcus permite que o homem
exerija a sua liberdade, resistindo á graca; caso escolha o Bem,
pfoduz ato mais nobre do que se fóra foreado; dado, porém, que
opte pelo mal, a culpa há de Ihe ser atribuida exclusivamente,
pois da parte de Deus nada terá faltado para que praticasse o
bem.
Vé-se, pois, que o misterio da iniqüidade depende, em i'ií-
Liina análisc, da liberdac de arbitrio do homem, arma de dots
guiñas que o Criador outorgou a criatura para que esta se eleve
ácima de uní autómato, mas que o homcm, apesar de todas as
solicitaeñes da graca, nao raro utiliza para sua ruina (veja-se
"Pergunte e Responderemos" 5 pág. 5-9).
Quanto á sorte eterna de Judas, a tradic.f»o exegéliea costuma
interpretar as palavras de Jesús em Mt 26,24 como anuncio de
sua condena.cao definitiva. Contudo tal sentcnca nao é unánime
nem obrigaforia.

III. SAGRADA ESCRITURA

CELIA (Rio <le Janeiro):

10) "Existem testemunhos náo-cristáos da existencia de


Jesús?"

Sim; há ñus literaturas judaica e romana certas alusóes á


vida de Jesús. Nao sao táo numerosas quanto nos hoje, conhe-
cendo a importancia do Cristianismo, poderiamos esperar; os ho-

— 20 —
inens nao-cristáos das geracóes contemporáneas e imédiatalnente
subseqüenlcs a Cristo nslo percebiam todo o alcanes da persona-
lidade c da obra de Jesús, humilde filho de carpinteiro, nascido
nuni recanlo de insignificante provincia romana, pertencente ao,
desprezado povo judeu. Contudo os testemunhos nao-cristáos,
por tnuito sobrios que sejam, obrigam a reconhecer a existencia
histórica de uin personagem chamado Jesús ou Cristo, crucificado
na Palestina sob o govérno de Tiberio (14-37). Examincino-Ios,
pois, sumariamente:

1. Testemunhos judaicos

A literatura religiosa dos judeus posteriores a Cristo é repre


sentada principalmente pelo Talmud, que vem a ser uina colecáo
de Icis e comentarios hostoric»-.jurídicos devidos aos rabinos e aos
fariseus, Transmitidos oralmente desde o inicio da era crista,
esses cnsinamentos foram finalmente codificados nos séc. 5.°
e 6.° d. C. na Palestina e na Babilonia. Apresentam alguinas
passagens referentes a Jesús. O valor de tais testemunhos esta
cm que, embora se oponhain á tradicAo crista, nao negam a exis
tencia de Cristo, mas prncuram interpretá-la de maneira a ridi-
cularizar os fundamentos da fé crista (quem se daría ao trabalho
de, desfigurar urna figura lendária?). Eis um ou outro dos es-
pécimes mais significativos dessa tradicao:

1) o tratado Sanhedrim 43.a do Talmud da Babilonia re


fere :

"Na véspera de Páscoa, suspenderam a urna haste Jesús de


Nazaré. Durante quarenta dias um arauto, á frente déle, clamava:
'Merece ser lapidado porque exerceu a magia .seduziu Israel e o
levou á rebeliüo. Quem tiver algo a dizer para o justificar, ve-
nha proferi-lo!' Nada, porém, se encontrou que o justificasse;
enlao suspenderam-no á baste na véspera de Páscoa." , •

Éste texto parece envolver contradicho: Jesús fóra conde


nado á lapidacáo, mas a pena aplicada foi a de pender do lenhó.
Talvez s-2 possa explicar a incoeréncia pelo fato de que a lapi-
iacáo era o castigo judaico infligido aos magos, sedutores do
povo e idólatras; dizendo-sc, pois, que Jesús fóra condenado ao
npedrejamento, procurava-se justificar a sua condenacáo; con-
tudo a crucificacAo de Jesús era fato demasiado arraigado na
tradicao para que sl> pudesse dizer que morreru lapidado. —
Note-se outrossim a acusacáo de magia feita a Jesús: supóe ~
que o Senhor haja realizado inilagres (os mi [agres de que fala
o S. Evangelho); interpreta-os, porém, em sentido pejorativo* .

— 21 —
como obras diabólicas; chaina u nossa alencao a semclhancn
entre esta interpretacáo e a que os fariseus proferirán!, impu
tando a Jesús colaboracáo com Beelzebul, o principe dos demo
nios (cf. Me 3,22). — Outro pormenor interessante: as narrati
vas evangélicas dao a entender que o processo de Jesús vé reali-
zoü ás pressas, já estando sua condenacao preconcebida. Ora 6
Talmud admite o supreendente e'inverossímil intervalo de qua-
renta dias entré a condenacao e a execucáo, intervalo oférecido
ás testemunhas para se manifestaran; o que venia ser um'a ten
tativa de reabilitar os juízes de Jesús.
2) ein Aboda Zara 40d Jesús c dito Ben-Pandara ou Uen-
Pnnthera, filho de Pantera. Esta expressao arninaica nao parece
ser senño a transposicáo do grego huios tes parthénou, filho da
virgem, título com que os cristáos designavam Jesús; segundo a
intencáo polémica dos talmudistas, o substantivo comum par-
Ihénos foi transformado em norae próprio e passou a designar o
pai ilegítimo que os rabinos atribuiam a Jesús (Marín estava
oficialmente casada com um varáo cujo nome no Talmud é Pap-
pos ou Stada); teríamos nesta passagem rabinica urna confir-
maeño da antiguidade da fé no nascimento virginal do Senhor;
3) Jesús, na mcsina col ceño, é geralmente chamado "um
tal" ou "BalaS'"(antigo mago de Núm 22-24), "louco", "bastar
do" ou ainda por outro titulo muís injurioso, o que de certo modo
evidencia a atitude geral dos talmudistas em rclacáo a Cristo.
Em suma, ao considerar os dados da tradic.5o rabinica con-
cernentes a Jesús (os quais ainda forain ampliados no livrinho
Totedoth Jeshua, dos séc. 8.°/$.°), os críticos modernos tém-nos
conio argumentos indiscutiveis da existencia de Cristo; ésses
escritos supóem, c em certo sentido confir.mum, o que dizcm os
Evangelhos; as interpretacoes, porém, que sugerem, apresentam-
se demasiado tendenciosas para gozar de autoridade. Sendo as-
sim, os críticos judeus mesmo nao utilizan) o Talmud para escre-
ver a vida de Jesús; baja'vista, por exemplo, a obra The Jewish
Encyclopedia, de autores israelitas, (12 volumes, Nova Iorque, a
partir de 1904): o seu artigo Jesús of Nazareth (vol. 7, col. 100-
178) se divide em tres partes: "Jesús na historia" e "Jesús na
teología", estudos baseados sobre documentos cristáos, c- "Jesús
na Icnda judaica", apresentacáo dos dados talmúdicos (!)
Fora da tradicáo rahínica, existe o importante historiador
judeu Flávio José, do séc. 1.° d. C. Menciona duas figuras da
historia do Novo Testamento: Joáo Batista, sua pregacáo e sua
morte (Antiguidades judaicas XVIII 116-119) e Tiago, "irmáo de
Jesús, chamado o Cristo" (Ant. XX 200). Alcm disto, encontra
se em Antiguidades XVIII 63-64, o seguinte trecho:

— 22 —
. "Por cssa ¿poca • aparoceu Jesús, hoinein sabio,- se é que
há lugar para o chaniarmos homem. Porque ele realizou coisas
maravilhosas, foi o mestre daqueles :que receb.em com júbilo a .,
verdade, e.arrastou muitos judeus, e igualmente, ímiitos gregos.'
Ésse era o. Cristo. Por denuncia dos principes da nossa nacáa;
PMatos condenou-oao suplicio da cruz; mas os scus fiéis nSo;rec
nunciaram ap seu amor por ele, porque ao terceiro dia éle::lhet|
apareceu ressuscitado, como o anunciarain os divinos profetas
juntamente com mil outros prodigios a seu respeito. .Ainda hrfje
subsiste o grupo que por sua causa recebeu o nome de cristpos".
liste testemunho, 15o explícito e forte, está sujeito a dúvi-t
das dos críticos. Autores católicos como o Pe. Lagrange, Mons.
Batiffol, tem-no como interpolado por niños cristas na obra de
Flávio José; ao contrario, críticos protestantes ou liberáis, como
Harnack e Burkitt, defendem sua autenticidade. Muito prová-
vel é a sen tenca de Reuss, Renán, Reinach e outros, que •afir-
mam tratar-se de urna passagem retocada, ou seja, originaria
mente escrita por Flávio José, mas no séc. 2.° explicitada e me*
1 horada no sentido cristáo por mti copista entusiasta.

A razáo por que Flávio José, geralmente rico em noticias,


se mostra táo sobrio ñas suas referencias a Jesús é, como se jul-
ga, o fato de que, por ssus escritos, quería bajular os romanos tí
conciliar-se as suas boas gragas; por isto lera omitido os teirías
que poderiam melindrar os senhores do Imperio, temas entre os1
quais estava o messianismo judaico (a esperanca niessiánica'de
Israel implicava a ruina dos imperios terrestres, que deveriani
ser substituidos pelo Reino do Messias). ■ •

2. Testemunhos romanos

No segundo decenio do séc. 2.° tres escritores romanos dei- '


xaram-nos o seu depoimento sobre Cristo c os cristáo. . t

No ano de 112, Plinio o Jovein, governador da Bitínia (Asia


Menor), enviava urna carta ao Imperador Trajano, na qual pedia
instrucóes sobre o modo como proceder em rclíicáo aos cristáos:
estes, que se iam difundindo cada vez inais, "estavain'acostuma
llos a se reunir em dia determinado, antes do nascer do sol, c
cantar uní cántico a Cristo, que cíes tinhatn como Üeus (guod
cssent soliti staío die ante lucem convenire carmenque ChristoJ
(¡uasi Deo dicere)" (epístolas, livi-o X 96). '5
O mais importante é o testemunho de Tácito, que, ¿scre;- ^
vendo os seus Anais por volta de llfi, noticiava, a propósito do -
incendio de Roma ocorrido em 64: • . ; •'

— 23 —
"Un» boato acabrunharior atribuía a Ñero a ofdem Ue pó/r
fogo a eidade. EntSo, para cortar o mal pela raíz, Ñero imáginou
culpados e entregou as torturas mais horriveis ésses homens dc-
tcftados pelas suas ("acanitas, que o povo apelidava cristáo. ftstc
nome vem-lhes de Cristo, que, sob o reinado de Tiberio, f¿i con
denado ao suplicio pelo Procurador Póncio Pilatos. Esta seita
perniciosa, reprimida a principio, cxpandiu-se de novo, nao só-
inente na Judéia, onde tinha tido a suu origem, mas na própria
cidadc de Roma..." (Anais XV 44).
Estas linhas atcstam com clareza a existencia e o quadro
histórico da obra de Jesús: executado na Judéia, sob Tiberio
(14-37) por ordem de Póncio Pilatos (26-36; cf. Le 3,1), foi cha
mado Cristo ou Messias pelos seus discípulos, que alé o inicio do
séc. 2.° persistiam fervorosos. Julgain os críticos que Tácito co-
Iheu as noticias ácima nao em fonte crista (dado o tom hostil
da narrativa) ncm em fonte judaica( os judeus, entre outras coi
sas, nunca teriam designado o chefe da seita como Cristb, vocá-
bulo grego equivalente ao hebraico Messias), mas em fonte paga
(o que é particularmente importante).
O tereciro depoimento, datado de cerca de 120, ó o Suetónio,
o qual confirma que sob Ñero foram "sujeitos a suplicio os cris-
táos, estirpe de homens de urna supersticáo nova e maléfica"
(Ñero 16). Referindo-sc ao reinado de Claudio (41-54), diz ou-
Irossim que este "expulsou de Roma os judeus, os quais, sob o
impulso de Crcsto, se haviam tornado causa freqüenle de tumul
tos (ludacos impulsare Chreslo assiduc tumultuantes expulit)"
(Claudio 25). A expulsáo é confirmada pelos Atos dos Apostó
los 18,2, devendo-se ter dado por volta de 49/50. Nao resta díivida
de que Chrestós é forma equivalente a Christós (e e i se permuta-
vam fácilmente na linguagem grega vulgar), de mais a inais qué
os cristáos aínda no séc. 3.° eram chamados chrestianoi (cf. Ter
tuliano, Apol. 3; Ad Nationcs 13; Latáncio, Div. Inst. 4,7). Sue
tónio, escrevendo setenta anos após os acontecimentos, estava in
suficientemente informado; julgava que Cristo se «chava pre
sente em Roma, instigando as desordens.
Descendo pela historia da literatura paga, o estudioso encon-
tra outros testemunhos a respeito de Cristo e dos cristáos; sendo
mais tardíos, interessam-nos menos.
Em conclusáo, verifica-sc nao serení inuitas as noticias que a
literatura romana fornece a propósito de Jesús. A sobriedade
compreende-se, dado que o Cristianismo, aos olhos dos pagaos,
nao era mais do que desprezivel supersticáo oriental; só mcrecia
atcncáo na medida em que se torntiva ocasiáo de pertúrbameles
políticas ou sociais.

24
//. T. R. (Rio Pardo):

11) "Qual a interpretacáo da frase: 'Fazei-vos amigos com


o dinheiro dcsonesto, a fim de que, quando desfalecerdes,-vos
recebam ñas mansóes eternas' (Le. 16.9)? Todas as riquezas sSb
injustas ou entSo as riquezas injustas sao lícitas?"

PKDRO ROSA (Cachnmby):

12) "Que é espirito de pobreza? Como pode um rico ter


espirito de pobreza continuando rico?"

Antes do mais, unía advertencia sobre a forma do texto: ern


vez de "quando desfalecerdes", leia-se "quando desfalecer", isto é,
"([liando o dinheiro vier a faltar", variante sustentada pelofc mc-
Ihores códices.
As palavras ácima sao proferidas por Nosso Senhor logo
npós a parábola do administrador iniquo (Le 16,1-8). Já'esta
parábola no seu v. 8 costuma suscitar urna dificuldade, pois ai se
lé: "O mestre louvou o administrador desonesto, porque proce
derá de mancira prudente". Quer isto dizer que Jesús tenha
elogiado a deslealdade?
Nao. O Mestre, no caso, nao c Cristo, mas o patráo tesado
da parábola. Embora seriamente danificado, éste nao pode dei-
xar de reconhecer que o administrador fraudulento fóra devoras
industrioso; a servido de urna causa má ou do furto colocara
grande perspicacia e fino senso prático. listes dotes, o patráo
sincero os encomiou, sem, com isto, entender legitimar a fraude
que o administrador cometerá.
Depois de narrar o procedimento sagaz do homem injusto,
Jesús acrescenta que nao é caso isolado na historia dos homens:
a industria e o afinco sao muito mais freqüentes entre os maus
ou entre os que propugnam interésses meramente temporais (fi-
Ihos déste século) do que entre os bons ífilhos da luz), que visam
fins superiores.
Feita esta verificacáo, estavam os ánimos preparados para
solenc licáo. Tal estado de coisas nao deveria ser tolerado pelos
cristaos, advertiu Jesús. Dcspertcm-se as consciéncias: enquanlo
ao homem é dado usar dos bens déste mundo, procure coni éles
praticar zelosamente a virtude, a fim de que, quando as posse.slhe
vierem a faltar (na hora da morte), tenha amigos que lhe mere»,
cam admissáo na mansáo eterna ou na gloria celeste. Os ami
gos de que Jesús fala, amigos que se podem grangear com o di-"
nheirn, certainente nao sao os homens com quem alguém entra-
cm negociata ilicita (fistos nada poderáo, perante a Justica Di-'

— 25 —
vina, merecer era favor do seu cúmplice); trata-se, antes, dos in
digentes a quem fazemos a caridade; conforme Mt 25,34-40, 6 Je
sús, em'tiltima análise, quém está presente na pessoa désses so-
fredores; por conseguinfé, será Ele o grande Amigo (=os amigos)
que nos receberá no reino do Pai, em troca do sabio uso que ti-
vermos feito dos bens temporais. Por "amigos" podem-se tam-
bém entender (o que dá no mesmo) as boas obras que alguém
pratique enquanto goza de saúde e dos dias desta vida; estas
obras certamente nos valeráo um día o acesso á visáo do Pai Ce
leste.
Quanto á intrigante expressáo "riquezas desonestas" ou "da
¡niqüidade", nao significa que havemos de negociar com dinheiro
mal adquirido; lambcm nao quer dizer que o dinheiro seja em si
mau; Jesús a emprega únicamente porque a riqueza é com fre-
qüéncia (mas contingentemente) utilizada para a iniqüidade (tal
foi o caso do ecónomo infiel); sao os seus proprietários que nao
raro lhe imprimem o caráter de instrumento do mal (cf. Mt 6,24;
13,22). Para evitar isto, o cristáo, seja pobre, scja rico de béns
materiais, há de nutrir sempre em si o espirito de pobreza, que
nada tem que ver com ignorancia, exiguidade intelectual, nem
com amencia, mas c o desapego interior.
As posses temporais legítimamente adquiridas dcvem ser
consideradas como dom de Deus, outorgando nao para que o
homem se dé por saciado nesta vida (tal foi a atitude do ricaco
imprevidente, em Le 12,16-21), mas para que mais ainda se ex
cite no amor de Deus d do próximo, crescendo destartc na uniáo
com o Supremo Amigo; a natureza humana constitui-se de tal
modo que lhe é normal elevar-se no amor dos hens invisiveis
mediante os visíveis. Contudo, a finí de que o homem nao frustre
os designios do Criador, é-lhe absolutamente necessário manter
continuo controle sobre si mesmo para que o dinheiro a ele sirva
e a Deus, e nao ele sirva ao dinheiro. Tal controlo é caracte
rístico do espirito de pobreza.

H. T. R. (Rio Pardo):

13) "No versículo 3, pág. 14, de "Pergunte e Responde


remos", leio que os carnívoros já eram carnívoros no Éden. Já
se matava por lá? A paz na natureza perfeita nao reinava
entáo?"

E' S. Tomaz, Suma Teológica I 96, 1 ad 2, que ensina que o


pecado nao alterou a fisiología ou a natureza dos animáis. Por
consegüintc, os que hoje sao carnívoros já eram tais no paraíso;
dónde se segué que matar para satisfazer as exigencias de re-
gime carnívoro ditado pela natureza nao podia ser desordem nem
mesmo no estado paradisiaco; nao era ruptura da hierarquia de
valores sabiamente instaurada pelo Criador.
Contudo o S. Doutor admite que o homem (nao, porém, os
animáis irracionais) se abstinha de carne antes do pecado, visto'
que a frugalidade mais condiz com o dominio sobre as paíxóes
que Adao exercia em grau perfeito. Nao há razao para rejeitar
a sentenca de S. Tomaz, embora nlguns Padres c escritores cris-
táos antigos tenham ensinado que, até o diluvio, nem os homens
ncm os irracionais comiatn carne (cf. Gen l,2í)s e fl;3); nao se
poderia dizer, em nome da fó crista, que o leáo tenha sido alguma
voz erbivoro!
Veja-se a propósito E. ttetteneoiut. "Ciencia o Fé na historia
dos primordios", c. II j; 2 íi'im).

IV. MORAL

MARÍA C. (Rio de Janeiro);

14) "Poderia dar explicares sobre o uso da bomba ató


mica? E' um mal? Um bem?"

As pesquisas nucleares com as conclusóes a que tém chegado,


constituem em si um bem inegável. O homem é essencialmente
dotado de inteligencia, de tal sorte que o uso desta d;ve natural
mente concorrer para que viva cada vez mais como homem, exer-
cendo o primado que o Criador Ihe confiou ein retacan ás criatu
ras materiais: "Enchei a torra, o subinetei-a; dominai. .." (Gen
1,28).
Acontece, porém, que o uso das descobertas da ciencia, em
vez de concorrer para o engrandecimento do homem, pode con
tribuir para o aviltar. E' o que se teme com referencia á bomba
atómica (A) c suas congéneres, a de hidrogénio (H) e a de cobalto
(C, bomba de hidrogénio com cobertura altamente radioativá
de cobalto), todas fabricadas em vista de operacóes bélicas. O
Santo Padre Pió XII e os teólogos católicos tém considerado ó
caso com atencáo crescenle. Ei.s brevemente o que hoje em dia
fazem observar sobre o assunto:
1) Em guerra é lícito reivindicar justos direitos ou reprimir
injusta agressáo. .:
2) 12' preciso, porém, que se observe rigorosa proporcao enr
tre a agressáo (direta ou indireta) a reprimir e os meios utiliza
dos para a repressao. A consciéncia crista, se de um lado permi
te a violencia adequada e necessária a cada caso, de otttro lado"--
condena formalmente qualquer abuso de fóresi.

- • 27 -
¡J) N'áo se pode dizer que a guerra, como tem sido praticada
cm nossos lempos, seja o que se chaina "guerra total", islo é,
conflito que envolve populacócs inteiras, de modo que qualquer
cidadáo de um povo beligerante deva ser considerado coinbaten-
le. Ainda é perfeilamente justificada a distincao entre combaten-
tes e nao-eombatentes de unía nacáo ein guerra, embora quase
lodos os individuos, de modo próximo ou remoto, sejaiu utiliza
dos pelos estrategistas modernos segundo as suas possibilidades
(a u'a menina de dez anos poderá talvez tocar a tarefa de recolher
pedamos de metal usado para a fabricacáo de municoes); o falo
de participar no esfórco bélico comum ainda nao torna tal pessoa
combalente. — O Santo Padre ainda recen temen te, respondendo
a interrogacao que lhe fóra feita, declarou nao ser lícito proceder
hoje etn día como se as guerras fóssem sempre guerras totais
(cf. o trecho da alocu^áo proferida aos membros da Associacao
Médica Mundial aos .10 de sotemhro de 1954, na revista A Qrdem
55 [19561 13s).
4) Se, pois, bá ohrigacáo bem fundada de distinguir entro
combatentes e náo-combatentes duma nacáo ein guerra, a cons-
ciéncia crista nao pode deixar de opor serias restriñes ao cinpré-
go de armas, como as bombas A, H, C, cujo potencial destruidor
ó incontrolável, capaz de atingir inocentes, destruindo sem justifi
cativa alguma centenas ou mil bares de vidas humanas e arra
sando objetivos nao-militares. Haja vista o setor de Nova Iorque
"Newark", urna das regióos do globo mais ricas de industrias, na
qual a estrategia militar encontra objetivos de elevado interésse:
se, dentre os dez milhoes de habitantes da regiáo, se contain os
que de algum modo concorrem para a vida industrial e pública
(ñas fábricas, nos transportes, ñas reparticóes governamentais),
chega-sc a um total de dois milhóes c meio (25% da populacho);
tres quartas partes dos moradores sao seres humanos militarmen
te inocentes! Ainda que em caso de guerra se aumentasse o nú
mero de moradores militarizados no territorio, juiga-se que as
proporcóes de combatentes e náo-combatentcs ainda nao justifica
rían! o 1 anca mentó de urna bomba atómica sobre Ncw-ark, pois
tal arma inevitávelmente causaría elevado e injustificado núme
ro de vitimas inocentes.

Há quem pense, entre os católicos, que, se fósse absolutamen


te necessário o uso de armas nucleares para o éxito de urna cam-
panha bélica conscienciosa, a Moral nao se Ihes oporia; essa nc-
cessidade, porém. é muito hipotética, parecendo mesmo mera
mente teórica, conforme ensinam os técnicos.
Ademáis a nacao que recorresse a armas nucleares provoca
ría igual recurso por parte do inimigo (supóe-se que as grandes

— 2fi —■
potencias do mundo atual cstcjam de posse dos scgredos atómi
cos), o que, segundo pensam bons autores, poderia acarretar o
suicidio ou quase-suicidio do género humano como tal (sabe-sc
que as emissoes rádio-ativas da bomba de cobalto, empregada
dentro de certa escala, poderiam dentro de poucos anos impreg
nar toda a atmosfera, tornando iinpossivel a vida humana sobre
a térra). Ora tal efeito a título nenhuin se poderia justificar aos
olhos da consciéncia crista.
5) Contudo, ñas restricóes fcitas as armas atómicas, é pre
ciso se leve em conta aínda o seguinte: pelo fato de estarem as
principáis nacocs do globo habilitadas para a guerra atómica,
qualquer das grandes potencias que se quisesse despojar de suas
armas nucleares, correría o risco de ser agredida sem se poder
defender, o que acarretaria graves danos para a respectiva po
pulacho ou seria um suicidio coletivo (a fim de se avaliar o pro-
gresso das pesquisas atómicas e a necessidade de o acompanhar,
observe-se que, para atingir os municipios da Franca quase to
dos, seriam necessárias 6000 bombas atómicas como as de Hiro
shima e Nagasaki, mas bastariam quinze das bombas de hidro-
%énio mais recentemente descobertas). Por isto, os autores cató
licos, ao mesmo tempo que rejeitam em tese o uso de armas nu
cleares, milito desejam que o desarmamento se fa$a segundo um
acordó internacional a fim de que nao haja surpresas nem detri
mento para as populacóes civis. Deve-se ponderar que ,na falta
de entendimento pacifico, o simultáneo armamento de todas as
nacóes ainda pode ser um freio á paixáo de desencadear a guerra.
Merece especial atenc.áo a última declaracáo pontificia sobre
o assunto. Aos 14 de abril de 1957, o Santo Padre recebeu em au-^
diéncia o Professor Masatoki Matsushida, da Universidade de
Tokio, que voltava da Inglaterra, onds fóra pedir a suspensáo
das experiencias nucleares; Pió XII entregou-lhe entáo urna nota,
de que constava a seguinte passagem:

"O poder destruidor das armas nucleares tornou-se ilimi-'


tado, nao sendo mais frciado nem mesmo pela crítica das multi-
dóes, que opunha um limite natural á pujanca já terrivel das pri-
meiras armas atómicas. Ora ésse poder ilimitado é utilizado
como aineaca que. . . se torna cada vez mais catastrófica. . .
. . .Caso urna catástrofe se produza pela vontade perversa de
dominar.. ., como poderia tal ato nao ser reprovado e condenado
por toda alma reta?
Por conseguinte, em vez do inútil dispendio de labor cien
tífico, de fadiga e de meios materiais que implica a preparado
de tal catástrofe, catástrofe de que ninguém saberia dizer com
seguranza quais seriam, além dos seus intensos estragos imedia-

— 29 —
tos, os últimos efeitos biológicos — principalmente os efeilos he
reditarios — sobre as especies viventes; em vez dessa cxaustiva
e dispendiosa corrida para a inortc, os sabios de todas as nac.oes
devein ter consciéncia da sua grave obrigagáo moral de tentar
dominar essas energías para colocá-las a servido do hoinein. As
organizacóes científicas, económicas, industriáis e mesmo políti
cas deveriam sustentar com todos os seus recursos os esforcos
que tendem a utilizar essas energías mima escala de grandeza
adaptável ás indigencias humanas" (Osservaiorc Romano, 25 de
abril de 1957).

Junto com a mencionada nota, se encontrava o elenco das


succssivas deelara?óes do Sto. Padre, de semelhante teor. Sao
datadas de 30-XI-1941; 21-11-1943; 8-IM948; 12-IX-1948;
24-XII-1951; 10-IV-1955; 24-XII-1955; 1-IV-195G. Documentado
encontrada 'cm Discnrsi e Radiomcssagi di Sua Snntitá Pió XII,
vol. III 276; IV 388-390; IX 439-442; X 208; XIII 396-399; XVII
35s. 55-57; 445-447.

EDYR (Rio de Janeiro):

15) "Nao compreendo que a Igreja aprove a pena de


morte, se só Deus tem o direito de tirar a vida".

E* verdade que só o Criador possui dominio absoluto sobre ¡i


vida e a morte. ftsse dominio, porém, fcle o pode exercer ou di-
rctamsnte ou por agentes criados. No que diz respcito á conde-
nagáo á morte, eni particular, o Criador quis confiar direitos á
autoridade civil legítimamente constituida. E' o que se depreende
das seguintes considerares:
1) A autoridade legítima é lugar-tsnente de Deus, como cn-
sina Sao Paulo em Rom 13,ls: "Nao há autoridade que nao venha
de Deus, e as que existem sao constituidas por Deus, de tal modo
que queni resiste á autoridade se rebela contra a ordem estabele-
cida por Deus".
2) Á autoridade civil o Criador atribuiu a larefa e os pode
res de promover o bem coiiuim. Ora éste é as vézes d¿ tal modo
ameacado por individuos turbulentos que a existencia dos mes-
mos se torna inconciliável com a ordem pública.
3) Em tais casos, dado que nao haja esperanza de éxito por
outra vía, a autoridade civil deve possuir o direito (e eventual-
mente a obrigacao) de eliminar os maus elementos; entre o bem
comum e o bem particular nao há que hesitar, desde que se tor-
n:m incompatíveis entre si. O agressor injusto, ameacando a
ordem pública, pela sua atitudc mesma perde o direito de exis-

— 30 —
lir, torna-se naturalniente réu de niorle. Ademáis pode aconte
cer que, em povos de mentalidade rude, o recurso á pena máxima
ein certos casos seja o único eficaz para reprimir o criine e im
pedir o surto de novos delinqüentes.
Por isto o próprio Deus, já na legislacáo do Antigo Testa
mento, reconhecia a pena de morte que os israelitas praticavam,
continuando as tradicóes dos povos ancestrais. Por conseguinte,
ein nome do Senhor, Moisés estipulou casos cm que se devia infli
gir a sentenca capital a um réu: idolatría (Lev 20,2-5); maldicáo
proferida contra pai ou máe (Lev 20,9); adulterio (Lsv 20,10);
outros delitos incestuosos (Lev 20,11-16), etc. (note-se que os
réus de morte, num povo primitivo nao háo de ser os uiesmos que
num povo de elevada cultura).
Entre os cristáos, sempre se julgou, na base dos motivos
ácima expostos, que á autoridade civil toca o direito de impor a
pena de morte. Do séc. 1,3 até o séc. 18 aproximadamente, em
algumas nacóes condenavam-se á morte nao sómente os que se
opunham ao bsm temporal da sociedade, mas também os que
contradiziam aos seus interésses religiosos, corrompendo a verda-
deira fé pela heresia; tinha-se consciéncia de que a vida sobrena
tural, baseada sobre a sa doutrina, aínda vale mais do que a vida
natural, que os tribunais antigos costumavam defender infligindo
a morte aos assassinos.
Em tese, pois, nao resta dúvida de que será lícito ainda hoje
a aplicado crileriosa da pena capital. E' preciso, porém, consi
derar que, na prática, a oportunidade s eficacia desta sancáo de
pende da mentalidade do povo em que ela vigora. Pode muito
bem dar-se que determinada populac.no já se nao deixe impres-
sionar pela condenacao á inorte; os "aventureiros" seriam tais
que pouco se importariam (ao contrario, muito apreciariam o
sensacionalismo) de correr o risco de morte por causa de seus de
litos. Nessas circunstancias, a pena capital já nao preenche o
seu papel tutelar do bem comum; torna-ss castigo de taliao, me-,
ramente vingativo, nao medicinal, e ein si odioso ("dente por \
dente, ólho por ólho, vida por vida"). j
Pois bem; é isto que se alega em nao poucas nacóes moder
nas, onde a pena de inorte estéve em vigor ate nossos días. Em
conseqüéncia, a Inglaterra em 1956 aboliu a sentenca capital (na-
quéle pais se ponderou também o perigo de proferir .injustas
condenacóes á morte); urna cstatfstica inglesa deu a saber que,
dentro 250 réus executados, 170 haviam previamente-desistido a-
urna ou mais execucóes capitais, sem ter colhido algum fruto •
para o seu próprio procedimento. Na Europa ocidental sómente
a Franca e a Espanha conservam a pena de morte, enquanto obras
científicas, romances e filmes cinematográficos dssenvolvem ín-

— 31 —
tensa canipanha contra ela. As autoridades dos países que a abo-
liram, afirmam que neni por isto se aumentou em suas térras a
porcentagem dos morticinios delituosos.
Todavía, contra a onda abolicionista, alguns autores obser
van! que no mundo moderno os homens ainda cometem oficial
mente, sob a tutela mesma da lei, inuitos atos de selvageria e bar
barie, de tal sortc que urna judiciosa aplicacáo de morte (desti
nada a ser defesa do bem coinum) nao se poderia tachar de ana
crónica ou retrógrada.
Em última análise, a questáo de sab^r se lioje em dia é opor
tuna ou nao a pena capital nao depende da cstipulacáo de prin
cipios teóricos (estes sao suficientemente claros). Depende de
um fator contingente, a saber: da metalidade das geracóes moder
nas, que talvez se tenham tornado indiferentes á ameaca ca
pital!

A MICO iQiintá, S. /■».):

16) "Será permitido a um católico pertencer ao Rotary


Chibe?"

O Rotary Club atrai a muitos homens de ideal pelos pontos


cupitais do seu programa: "Camaradagem sincera, filantropía
seria e paz mundial". Tres pontos aos quais uní quarto foi recen-
teniente acrescentado, dada a poderosa ameaca do comunismo
contemporáneo: "Defesa da cultura e da democracia", ou seja,
"liberdade do individuo, do pensamento, da palavra o das asso-
ciacóes; liberdade de culto". Na vida prática, o Rotary exerce a
filantropía, dispensando protecáo principalmente aos socios ne-
cessitados, garanÜndo-lhes a carreira ou o exercício da profissSo
ñas circunstancias dificeis da luta cotidiana; também muito tem
auxiliado aos homens de negocios e industria que so Ihe filiam.
A Sociedade lem-se difundido cada vez msiis, inormente en
tre as élites, que se reunem cm banquetes de grande estilo. Os
scus dirigentes fazem severa selecto entre os candidatos a finí
de manter o seu cara te r de élite.
Contudo ns autoridades da Igreja repetidamente tcm mani
festado reservas frente ao Rotary. A última e mais importante
deelaracito emnnou diretaments da Suprema Congregacao do San
to Oficio aos 11 de Janeiro de 1951 nos termos seguintes:

"Esta Suprema e Sagrada congregacáo foi interpelada sobre a


questáo: será licito que católicos se filiem á Associacáo que se chama
Rotary Club? Os Eminentíssimos e Reverendísimos Senhores Car-
deais encarregados da protecáo da fé e da moral, após ter ouvido

— 32 —
os pareceres dos Reverendísimos Senhores Consultores, decretaram
na sessáo plenária de quarta-feira 20 de Abril de 1950 o segulnte:

Aos clérigos nao é permitido associar-se ao Rotary Club nem


assistir as reunlóes.

Os leigos sejam advertidos de que devem observar as prescrlcóes


do canon 684 do Código de Direito Canónico.

B no dia 26 de Dezembro, Sua Santidade Nosso Senhor Pío XII,


pela Providencia Divina Papa, em audiencia concedida ao Bxmo.
Sr. Assessor do Santo Oficio, aprovou e mandou publicar a resohicáo
dos Eminentísimos Padres.

Dado em Roma, na sede do Santo Oficio, aos 11 de Janeiro de


1951. — (Ass) Maxinus Marani, Notario da Suprema e Sagrada Con-
gregacáo do Santo Oficio."

Eis o citado canon 684, que o decreto corrobora:

"Os fiéis sao dignos de louvores quando se agregam a associacóes


fundadas ou, pelo menos, recomendadas pela Igreja. Evitem, porém,
associacóes secretas, condenadas, sediciosas, suspeitas ou que tentam
subtrair-se a legitima vigilancia da Igreja."

Lembrando aos fiéis éste canon 684, o Santo Oficio nao en-
tende classificar o Rotary entre as sociedades secretas nem entre
as condenadas, mas, sim, entre "as suspeitas e as que tentam
subtrarir-se á legitima vigilancia da Igreja".

E em que se baseiam tais admoestacóas?

O Rotary Club se prnpñe exerccr a filantropía; nao faz, po


rém, mencáo de Deus, professando neutralidadc íque nao é hos-
tilidade) diante das diversas confissócs religiosas e do ateísmo.-
Ora é éste agnosticismo que fere a consciéncia católica. Com
efeito, nao se pode querer promover o bem da humanidade sem
que, explícitamente e desde o inicio do empreendimento, se leve
em conta a Deus; quando se trata de definir o homeni e scu
bem-estar, Deus nao é entidade adventicia e dispensávcl; o Al-
tissimo é seniprc o Primeiro Valor, que na realidade está inti
mamente presente á sociedade e aos individuos, e déstes pede o
devido reconhecimento.

Entre a profissáo explicita de Deus e a negac.5o de Deus


nao há meio termo: "Quem nao é por Mim, c contra Mim, se
quem nao congrega coinigo, dispersa", disse Jesús (Mt 12,30).-

33 - •
Se o Rotary procurasse apenas aperfeicoar o honieni ein de
terminado setor de suas atividades — na ciencia, ñas artes, na
técnica — ninguém exigiría que professasse explícitamente o no-
me de Deus, pois ciencias e artes dizem respeito a uní aspecto
apenas do homeni (há, de fato, institutos técnicos que preechem
a sua finalidade sem colocar no seu programa alguma profissáo
religiosa). Desde, porém, que se queira apreender o honiem to
do, o honiem como hoinem, e promover seus interésses capitais
(éticos), nao pode deixar de entrar em jógo a questáo do Finí
último a que se destina a humanidade. Ora o Finí último é um
só, é o Deus da Revelacáo crista; quem nao se encaminha ex
plícitamente para Ele, mantendo no fAro público unía indife-
renca consciente e voluntaria (note-se bem: nao se trata da in-
diferenca do ignorante), nao pode deixar de dar passos errados.
E' por isto que a Igreja julga ter o dever e vigiar sAbre a con-
duta de seus filhos frente ao Rotary Club.

O fato de que éste deixe toda a liberdade de culto aos seus


membros, permite haja agremiacóes de rotarianos em que os ca
tólicos predominan! e, por conseguinte, unía auténtica filantro
pía é praticada (aínda assim nao é de desejar que os católicos,
ao exercerem o amor ao próximo, entrem em moldes de nsu-
tralidadc religiosa oficial; tal atitude tende a embotar a cons-
ciéncia crista; é articial para o auténtico católico). Dado, po
rém, que prepondere no núcleo rotariano o grupo náo-católico
ou aleu, a filantropía há de pedir, cedo ou (arde, orientacáo ao
erro religioso ou ao ateísmo; pois vira á baila entre os socios a
questáo da finalidade suprema a que se destina o género hu
mano.

O indiferentismo religioso professado pelo Rotary se expli


ca, em última análise, pela origem macemica desta entidade. Ain-
da hoje em inuitos clubes do Rotary predomino a influencia dos
macons, que, após ohservacáo atenta, convidan» setis companhei-
ros mais ativos a entrar no Grande Oriente.

Por fim, diga-se que nao c necessário filiar-se ao Rotary


para propugnar os ideáis que éste apregoa: o católico encontra
no gremio da Igreja sociedades análogas (tenha-se em vista a
mais semelhante ao Rotary, que é a dos "Cavaleiros de Colom-
bo"), onde pode praticar o ideal da filantropía, sem abstrair do
Deus Vivo, do Primeiro de todos os valores!

„. 34 -
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO

SILVIO (Rio de Janeiro):

17) "Quisera saber quem sao os Batistas? Seráo discípu


los de Sao Joáo Batista?"

Os Batistas constitueni unía das seitas protestantes hoje ein


dia mais ativas (haja vista a diferenca entra ¡grejci e Seita in
dicada em "Pergunte e Responderemos" 6 pág. 25).
Os Batistas em geral nao tém idéias inuito claras sobre as
origsns do seu credo religioso. O fato, porém, é que nao se pren-
dem nem a Sao Joáó Batista nein a discípulos do Precursor; nao
há em absoluto documentos nem indicios de continuidade.
Ao contrario, claros testemunhos da historia apontam os ini
cios do moviniento batista no scc. 16 d. C.
Conteporáneamente a Lutero, um grupo de cristáos, chefiado
por Tilomas Münzer, Balthasar Hübmaier, George Blaurock,
Ludwig Hoetzer, julgava que o "Reformador" nao ia suficiente
mente longe nos seus propósitos. Na Alemanha e na Suíca co-
mecarani entáo a preconizar unía Igreja, eni grau máximo, espi
ritual, destituida de hierarquiti visivel e constituida exclusiva
mente pela adesáo consciente dos homens á Palavra de Deus.
O sinal característico dessa nova Igreja seria o batismo a ser
administrado aos adultos, nao as criancas, de sorte que os meni-
bros do grupo batizavam de novo os fiéis que lhes aderiani
(donde o nome de Anrtbaiistas, Rebatizadores, que lhes foi dado).
O moviniento anabatista sofreu forte represalia por parte de
Lutero, Zwingli e dos príncipes alemáes. Desencadeou revoltas
fanáticas, das quais a mais famosa é a dos camponeses, cujo
chefe, Thomas Münzer, foi decapitado em 1525. Nao poucos
anabatistas, fugindo á perseguicáo, comecaram a propagar suas
idéias na Italia, na Boémia, na Morávia, na Alsácia, nos Países-
Baixos, na Escandinávia, na Inglaterra, subsistindo até hoje em
pequeños grupos. ' •
Mais importantes sao as rnmificacoes que proc:deram do
tronco anabatista. Eis, alias, urna das características pu quase-
leis do movimento protestante: Lutero se ¡Uribuiu o direito de
derrogar á tradicáo, para fazer prevalecer suas intuicoes reli-
giosas individuáis; cm conscqüéncia, c limitado periódicamente
por homens que se julgam iluminados á semelhanca de Lutero,
e entáo se separam do bloco luterano ou da seita protestante a
que pertencem para dar origem a novo, tipo de Cristianismo ba-
seado no senso subjetivo do fundador.
Conhecem-se hoje, como derivacóes do grupo anaba
tista, as seitas dos Menonitas (de Meno Siinons, t]55<)) .dos //•-.

■— 35 -
máos Hntterinnos (de Tiago Hulter), a Igreja dos Irmáos nos
Estados Unidos da América do Norte, a ¡orejo dos Irmáos Evan
gélicos Unidos e a Igreja Batista, de todas a mais numerosa.
Os Batistas tém por fundador o inglés (John Smyth (tl617).
Foi primeiramente pastor anglicano. Movido por espirito rea-
cionário, que agitava nao poucos cristáos de sua patria, quería
urna reforma aínda mais radical que a anglicana; em particular,
nao se conforniava com a organizacáo hierárquica (episcopal)
e a liturgia da Igreja Anglicana, que ele julgava supérfluas.
Por
isto forinou em Gainsborough urna pequeña comunidade dissi-
dente do Anglicanismo, no ano 1604; foi, porém, obrigado a se
exilar com seus companheiros, indo ter a Amsterdam (Holanda),
onde o calvinismo predominara. No degredo vivsu em casa
de uní padeiro menonita, que o persuadiu de que era inválido
o batismo conferido ás criancas (tese anabista!), Smyth en-
tao administrou a si mesmo um segundo batismo, de cujo valor,
porém, comecou em breve a duvidar. Em conseqüéncia, seus
companheiros por ele convencidos da tese anabatista, o expul-
saram da comunidade; Smyth nao conseguiu ser admitido ncm
mesmo entre os menonitas, aos quais pedirá acolhimenlo. Em
1612, um grupo de seus discípulos voltou a Inglaterra, e la fun-
dou a primeira Igreja dita Batista (nao mais Anabatista), tam-
bém chamada "dos Batistas gerais", porque,, contrariamente á
doutrina calvinista, ensinava que Cristo pela cruz salvou todos
os fiéis. Outro grupo se formou, pouco depois, dito "dos Ba
tistas regulares ou particulares"; com efeito, cm 1641, outra pe
queña comunidade de dissidenles do Anglicanismo em Londres se
convenceu da tese anabatista; mandou enlao um de seus mem-
bros, Ricardo Blount, a Rijnsburg, na Holanda, a finí de pedir
o batismo de adulto á seita de Dompelaers (cisüo menonita) e
levar á Inglaterra o "verdadsiro batismo"; Ulounl desincumbiu-
se da sua missao; voltando em 1641, rebalizou por imersáo (única
forma de batismo reconhecida pela scita) 55 meinbros da co
munidade de Londres; aceitou do calvinismo holandés a doutrina
de que Cristo salva sómente os predestinados; donde o nomo
de "Batistas particulares" que lhes coube.

Hoje em dia contam-se cérea de vinte seitas balistas, que em


1905 se uniram de maneira um tanto vaga na "Liga Mundial
Batista"; sao, entre outros, os batistas calvinistas, os b. congre-
gacionalistas, os b. primitivos, os b. do livre pensamento, os b.
dos seis principios (porque aceitam como único fundamento da
fé e da vida crista os seis pontos mencionados em Hebr fi.ls:
arrependimento, fé, batismo, imposicáo das mSos, ressurreicao
dos mortos, juizo eterno), os b. tunkers, os b. cainpbellitas, os

- 3fi
baü2antes a si mesmos, os b. nbertos, os b. fechados, os b. do
sétimo dia, etc.
Cada comunidadc batista é independente de qualquer auto-
ridade visivel, seja eclesiástica, scja civil; rege-se diretamcnte
por Jesús Cristo e pelo Espirito Santo, que age na assembléia;
nao ha, pois hierarquia nem jurisdicao eclesiástica. Todo o po
der de govérno reside na assembléia dos fiéis, que elege os que
por cía respondem (pastores e diáconos).
Em sua doutrina, os batistas segucm teses calvinistas: Deus
predestina diretamente nao só para a gloria, mas também para
a condenacáo eterna; a justificacao ou a graca é obtida mediante
a fé; nao apaga, mas apenas recobre o pecado; os sacramentos
(Batismo e Ceia) nao sao meios comunicadores da graca, servein
apenas para a corroborar era quein os recebe com fé. Como em
gcral no Protestantismo, a Biblia é tida como única fonte de
doutrina.
Entre os meinbros das comunidades batistas, nota-se fervor,
infelizmente, porém, demais apoiado no subjetivismo, que orien
ta a rcligiosidade protestante e leva, consciente ou inconscien
temente, os seus adeptos a rejeitar o propio Cristo em nnrac
do Cristo!

BREVE ADVERTENCIA AO LEITOR

Aos nossos estimados correspondentes comunicamos que nao Joi


vossivel, neste fasciculo de "?. e R.", responder a todas as questóes
propostas (estas tém-se avolumado). Procuramos dar certo desen-
volvimento as respostas a Jim de que possam interessar o maior nú
mero possivel de pessoas; em vista disto, foram adiadas para o futuro
respostas que neste fascículo só poderiam caber em termos assaz redu- •
sidos e pouco satisfatóriós.
Gratos, porém, ficariames se os consulentes nos enviassem o seu
znderéco, a fim de que, sem demora, se Ihes possa mandar por carta,
urna sintese do esclaredmento desejado.
JERÓNIMO J. S. e JOSÉ P. C. (Rio de Janeiro): "Pergunte e Res
ponderemos" está para Ihes enviar de presente, um livro que trata
dos temas abordados por suas questóes. Para onde deve ser feita a
remessa?
ROSA (D. Federal): No caso, existe o dever grave e impreterivel
de chamar a atencáo da pessoa que está pecando, mostrando-lhe a
hediondez do procedimento. Nao há obrigacáo, porém, de Ihe impar
sangáo nem de Ihe negar o objeto com que pecará.
LILA {Rio de Janeiro): Permitimos citar-lhe o livro "Para en
tender o Antigo Testamento" de D. Estéváo Bettencourt (Editora
AGIR), livro no qual encontrará resposta ás dificuldades que-ora cen-
cebe. Temos um exemplar á sua disposlcáo; para onde deveria ser
enviado?

D. ESTEVAO BETTENCOURT O- S. B.

— 3? —
EDICÓES
do

"INSTITUTO PIÓ X DO RIO DE JANEIRO"


sob o titulo

COLEQÁO PIÓ X

I — Missa IX, explicacóes técnicas — por Ir. M. Rose


Porto, o. p. — 12 págs. 10,00
II — Principios rítmicos da Escola de Solesmes-— por
Dom Mocquercau, m.b. — (trad. de Ir. M. Rose,
o. p.) — 25 págs. 15,00
III — Aulas de Música gregoriana — por A. Le Guen-
nant, Diretor do Instituto Gregoriano de París
(trad. e adaptacáo por Ir. M. Rose, o. p.) — 58
págs. 20,00
IV — "Canf.arei com o espirito, cantarei com a inteligen
cia" — por Dom Estevao Bettencourt, O. S. B. —
205 págs. 60,00
V — Canto Gregoriano — 1.° livro, teórico e prático —
por Irma M. Rose Porto, o. p. (2.a edicáo) —
240 págs. *150,00
VI — Revista Gregoriana — Órgáo do "Instituto Pió X
do R. de Janeiro" — Assinatura: 100,00 (6 n.°s de
60 págs. cada) — avulso, 20,00.
VII — "Pergunte e Responderemos", por D. Estevao Bet
tencourt, O.S.B. — Assinatura: (12 n.°s) 70,00 —
avulso, 10,00.
Em preparacao:
VIII — Origens, Historia e RestauracSo do Canto Grego
riano — por D. Froger, m.b. — (trad. de Ir. M.
Rose, o.p.).
IX — Canto Gregoriano — 2.° livro, teórico e prático —
por I. M. Rose, o.p.

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E ÑAS BOAS LIVRARIAS (cf. pag. precedente)


N ínguem ama

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nao conhece.

Procure conhecer melhor

a Deus

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0 amará.
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GREGORIANA

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INSTITUTO PIÓ X

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IMPOSTACAO DA VOZ — MÉTODO WARD — DiegÁO — LATIM

e de assuntos relacionados com a

CULTURA RELIGIOSA,

indispensável ao cantor de Igreja para realizar a palavra de S. Paulo:

"Cantarei com o espirito,

cantarei também

com a inteligencia."

(1 Cor 14,15)

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