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1 TS X> X CÍE
I. FILOSOFÍA E RELIGIAO
Páginas
1) "Deus para mim é a naiureza. Ndo vejo como nao ser
panteísia" 3
2) "Quisera saber como se explica científicamente a origcm das
ragas humanas" 6
II. DOGMÁTICA
3) "Como entender a geragáo do Filho enquanto Deus? As pes-
soas da Santíssima Trindade nao sao incriadas?" 8
4) "Sou a favor do divorcio e quería saber se é possível ser
divorcista e católico" 10
5) "Há casos em que a Igreja permite o divorcio?" 13
6) "Porque a Igreja Católica proibe o divorcio? O próprio Jesús
o permitiu em caso de adulterio (c/. Mt. 5,32; 19,9) " 14
7) "Se Deus disse: "Crescei e multiplicai-vos", os padres e frei
rás nao obedecerá a esta ordem, além de atrofiarem a na-
tureza" 16
8) "Se era necessário que Cristo fósse traído para se cumpri-
rem as Escrituras, como se explica que Judas tenha sido
condenado, pois Jesús disse: "Melhor Ihe fóra que nao hou-
vesse nascido" (Mí. 26,24) ?" 19
9) "Se Deus vé todas as coisas, vé que vou fazer o mal. Deixa-
me, entretanto, a liberdade. Nao consente no mal?" 19
III. SAGRADA ESCRITURA
10) "Existem testemunhos ndo-cristáos da existencia de Jesús?" 20
11) "Qual a interpretagáo da frase: "Fazei-vos amigos com o
dinheiro desonesto, a fim de que, quando desfalecerdes, vos
recebam nos mansóes eternas" (Le. 16,9) ? Todas as riquezas
sño injustas ou entáo as riquezas injustas sao licitas?" 25
12) "Que é espirito de pobreza? Como pode um rico ter espirito
de pobreza continuando rico?" 25
13) "No fascículo 3, pág. 14, de "Pergunte e Responderemos",
leio que os carnívoros já eram carnívoros no Édem. Já se
matavam por lá? A paz na natureza perfeita nao reinava
entdo?" 26
IV. MORAL
14) "Poderia dar explicacóes sobre o uso da bomba atómica? É
um mal? Um bem?" 27
15) "Nao compreendo que a Igreja apreve a pena de morte se só
Deus tem o direito de tirar a vida" 30
16) "Será permitido a um católico pertencer ao Rotary Club?" 32
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
17) "Quisera saber quem sao os Batistas? Seráo discípulos de
Sao Jodo Batista?" 35
JkEVE ADVERTENCIA AO LEITOR 37
'TERGUNTE E RESPONDEREMOS"
TEDACAO ADMINISTRADO
xa Postal 2666 R. Real Grandeza, 108 — Botafogo
<íe Janeiro Tel. 26-1822 — Rio de Janeiro
COM APROVACAO ECLESIÁSTICA
RESPONDEREMOS
II
I. FILOSOFÍA E RELIGIAO
-- 3 -—
tese de urtl Deus OU de ulna Subsistencia divina* eiil cvolucáo teniit
explicar o mundo nao por um Ser absoluto, mas por um "Tornar
se" absoluto; ora o "tornar-se" absoluto é contraditório em si,
pois "tornar-se" significa lacuna cm demanda de plenitude, ao
passo que o Absoluto diz perfeicáo plena.
c) Ademáis, poe-se a questáo: a substancia única do uni
verso que evolui para sua maior perfeicáo, como se eleva ela
ácima de si mesma? Se é a única realidade, onde encontra o
apoio necessário para subir?... Onde encontra a fonte das per-
feicóes que ela por definicáo nao possui? O "mais" saíria do
"menos"? A lógica ensina o contrario... Diga-se, pois, que
a evolucáo do imperfeito para o perfeito supoc na base de tudo
urna realidade de perfeicáo infinita; é a atividade déste Ente pri
mordial que produz novos seres, os quais sao necessáriamente
menos perfeitos e, por conseguinte, finitos, pois nao pode ha ver
dois infinitos ou dois absolutos sob o mesmo ponto de vista.
O Ente primordial nada ganha quando produz os seus efei-
tos, pois ao Infinito nada se pode acrescentar; ele é, portanto,
essencialmente distinto dos seus efeitos e do mundo. E' o Deus
transcendente que nao toma consciéncia de si, mas desde todo <»
sempre é Personalidade plenamente consciente.
8. Mas será que nao se pode salvar o panteísmo mediante
a fórmula: Deus está presente, imánente a todas as coisas como
a alma se acha no corpo?
O enunciado é ambiguo. Se significa que Deus é imánente a
tudo como elemento integrante (e tal é o sentido que Ihe dá o
filósofo panteista), a fórmula nao se exime ás dificuldades ante
riormente propostas: Deus nao pode ser constitutivo de seres cm
evolucáo.
A mesma fórmula, porém, pode significar que Deus está
presente a tudo, simplesmente como o agente está presente a
qualquer dos objetos de sua acáo. Tal é a concepeáo da sá ra-
zao, reafirmada pelo Cristianismo: Deus é o Criador que do nada
tirou todos os seres e os conserva na existencia; por conseguinte,
onde quer que naja urna parcela de ser, Ele ai está presente —
presente, porém, porque age, conservando, nao porque se iden
tifique com a substancia do ser contingente. A Filosofía crista,
conseqüentemente, ensina que Deus é, ao mesmo tempo, transa
tendente, porquanto ultrapasSa infinitamente os demais seres
em perfeicáo, e imánente, porquanto a sua a?áo criadora e con
servadora atinge o intimo de tudo que existe. Se o panteísmo
objeta que nada pode existir fora de Deus, a sá Filosofía responde
que nada pode existir fora ou independentemente da acáo cau
sal de Deus, mas que todos os seres limitados sáp substancia»
distintas da substancia de Deus.
—. 4 —-
Em última análise, verifica-sc que o panteísmo só se pode
sustentar caso quem o professe, incoercntemente atribua á Subs
tancia única traeos de uin Deus pessoal, distinto do mundo.
4. Pcrgunta-se, porém: se táo pouco lógico é o panteísmo,
porque possui hoje tantos adeptos?
Dois parecem ser os principáis motivos da sua voga:
a) identificar Deus com a Natureza parece engrandecé-Lo,
ao passo que atribuir-Lhe personalidade seria diminui-Lo. Todo
homem tem consciéncia de quanto é limitada a sua personalidade,
e grandiosa a Natureza com seus profundos misterios... Em
conseqüéncia, preferem alguns dizer que nao é personalidade, mas
"super-personalidade". Isto, porém, equivale a colocar o Altissi-
mo abaixo do homem; é mística ilusoria. Justamente a mais.
elevada perfeicáo do ente consiste em ser dotado de conhecimen-
to intelectivo e de livre vontade (atributos que constituem a per
sonalidade). Esta perfeicáo nao incluí em scu conceito alguma
imperfeicao (como, por exemplo, o arrependimento envolve a no-
cáo de falta previa); por isto nao há razáo para a denegar a
Deus. O Altíssimo só nao é personalidade a maneira exigua do
homem.
_, g
da uniáo de holandeses coni hotentotes; os habitantes da Gri-
qualándia (África do Sul), que descendein de europeus e bosqui-
inás. Além do mais, obsérva-se que as diferenc.as raciais sao pro
fusamente matizadas; há múltiplos tipos humanos que fazeni
transido entre urna rac.a e outra; tenha-se cm vista, por exemplo,
a tez da pele: na raga branca, encontra-se larga escala de ma-
tizes, desde o branco róseo dos noruegueses até o moreno escuro
dos abissinios; os chineses do norte sao de tez amarela quasc
branca, ao passo que os do sul sao de uní amarelo quase 'choco
late"; existem faces ou cránios negroides, mongoloides entre os
europens e >ice-versa. Apoiada nestas observa^óss, "a grande"
maioria dos autores recentes professa teorías monofHéticas",
observam Bergounioux e Glory, que, sem visar enumeracáo com
pleta, nomeiam quatorze antropólogos monofiletistas modernos
(Les premiers homiiies. París 1952, 89). — De passagem, note-se
aínda que os estudiosos contemporáneos sao muito inclinados a
localizar o berc.o do género humano na África, e nao na Asia (o
texto bíblico, de resto, nao nos indica a situac.üo geográfica do
paraiso terrestre).
Quais seriam, entao, os fatores que ncarretaram as diversi
dades raciais?
1) Em primeiro lugar^ enumera-se a influencia do ambien
te: clima, género de alimentac.áo, de trabalho, de vida. Estes
elementos marcam o tipo do hornero, e déle exigein adaptado
somática. E' de notar, porém, que esta nao se faz meramente
ao acaso; ao contrario, parece guiada por tendencia intrínseca,
que sabe adaptar-se sem perder de vista determinado tipo a
atingir.
2) Levem-se em conta também as "mutac.5es". Estas sao
variantes introduzidas no vívente em virtude de niodificacáo im-
previsível do genotipo; em outros termos: sao mudancas re
pentinas do número e da posicáo dos corpúsculos (genes e cro
mosomas) que no embriáo correspondem ;i certos caracteres
do futuro corpo do vívente: colorac.áo da pele ou do pelo, for
mato e cor dos olhos, tamanho do nariz, estatura, fecundidade,
ele. Esssa mudancas
a) produzem-se de modo brusco, de unía..gerac.áo para ou
tra;
b) dáo-se em uní ou poucos individuos postos em meio a
milharcs de irináos ñas mesinas condÍQÓes de vida; por isto nao
podein ser atribuidos exclusivamente a influencia do ambiente,
sobre o genotipo;
c) sao hereditarias e duradouras (observáoslo muito im-'«-
portante).
As causas que acarretam mutacóes nao fora ni até hoje plena
mente elucidadas. Famosas se tornaram as experiencias de Mor-
gan, Muller e Timofeeff-Ressowsky, que, aplicando raios X á mos
ca do vinagre, a Drosophila melanogaster, obtiveram cerca de
400 racas déste inseto, diferenciadas imprevislvehnente pela for
ma das asas, a cor do corpo, o Upo do pelo, etc. {Drosophila vi-
rilis, D. simulans, D. obscura. ..).
Já que se conhecem numerosas mutacóes entre os mamífe
ros, os cientistas atribuem importancia crescente a éste fator na
formacáo das ra?as humanas.
3) Mcrccem atencáo também os fenómenos de degeneres
cencia; a evolucáo de determinado tipo nao se processa indefi
nidamente, mas apenas dentro dos limites de certo cabedal; es-
gotado éste, o tipo vai definhando, e tende a se extinguir. Ora
sabe-se que viveram outrora racas humanas hoje extintas (ha-
ja vista o honiem de Neanderthal).
Ao monofiletismo se objeta que foram encontrados fósseis
humanos pertencentes ao mesmo periodo geológico (portanto,
geológicamente contemporáneos entre si), postos, porém, em di
verso grau de evolucáo. Nao seria isto indicio de que provém de
troncos diversos?
Em resposta, observa-se que a contemporaneidade désses
fósseis é muito relativa: cada uní dos periodos geológicos em que
se situam, compreende dezenas de milhares de anos; ora bastam
apenas alguns milenios para que urna especie se propague pelo
globo, sofrendo conseqüenteniente fenómenos de adaptacáo, mu-
lacionismo e degenerescencia. Éste prazo, porém, de alguns mi
lenios escapa á verifica?áo experimental dos geólogos, que, por
conseguinte, dáo por estratigráficamente contemporános fósseis
que, em cronología rigorosa, nao o sao.
A estas considerares da ciencia faz eco a doutrina da fe
crista, que ensina estrito monofiletismo, até mesmo monogenis-
mo, ou seja, origem do género humano a partir de uní só casal.
II. DOGMÁTICA
.- 8 —
Ein Deus todos os atributos se acham na escala do infinito (o
que quer dizer própriamente: ácima de qualquer escala), ao
passo que ein nos tudo é finito. Eni termos técnicos: há ana-
logia, e nao univocidade, entre Deus e nos.
Feita esta observacáo, dir-se-á:
1) Ein Deus há geracáo, isto é, comunicado da natureza
divina (como entre os homens, por geracao, há comunicacáo da
natureza humana), e comunicacáo tal que déla resulta urna Pes-
soa em tudo igual á Pessoa que comunica. Note-sc que geracáo
nao é o mesnio que criacao; essa significa origem a partir do
nada, por conseguintc, diversidade de natureza entre o Criador e
a criatura. O pai, porém, nao tira do nada, mas produz da sua
natureza.
— 9 —
Espirito, constiluem urna só, ;i saber: o ato eni que a priinetrii
Pessoa divina conhece total e perfeitanientc a sua infinita per-
feigao c profere éste scu conhecimento nuuia Palavra ou Iina-
gem que subsiste como Pessoa igual á Pessoa que proferiu, ou
como uin Filho perante seu Pai.
A titulo de complemento, diremos que o ato de contemplar
o Filho nao pode deixar de suscitar no Pai o Deleite, o Amor,
Amor que é reciproco do Filho ao Pai. Éste Amor constituí
outra manifestacáo perfeita da vida de Deus; nao é senáo a natu-
rezn divina inesma que se afirma como Amor subsistente, pes-
soal. A terceira Pessoa a Sagrada Escritura dá o noins de "Es
pirito Santo", que c o ósculo sagrado a unir o Pai e o Filho numa
felicidade sem principio e sem finí.
Jamáis se poderia conceber a vida divina sem estas duas
afirmacóes características do ser espiritual: a do conhecimento,
donde procede a Palavra mental ou o Filho do Pai Eterno, e a
do Amor, donde procede o Espirito Santo, a Complacencia, o
Deleite, do Pai no Filho e do Filho no Pai.
— 10 —
2) o homeni pode ser visto nao apenas como vívente, mas
qual vívente racional, típicamente humano. Neste caso, o ma
trimonio se destina a proporcionar auxilio mutuo, corporal e
espiritual, aos cónjuges; ,
8) o homeni ainda pode ser considerado como filho de Dcns,
crístgo. Neste caso, o matrimonio visa o bem do "sacramento";
o que qucr dizer: torna-se misterio pequeño dentro de uní Miste
rio Grande, que Ihe comunica nova dignidade (cf. Ef 5,31s).
Ora os dois bens visados pelo matrimonio no plano natural
e o terceiro, característico do casamento cristño, exigem, com
rigor ascendente, indissolubilidade do vínculo. E' o que se de-
preende de ligeira reflexáo:
1) nao basta que os genitores gercm a prole para que
preencham suas respectivas funeñes; toca-lhes outrossim o dever
de educar. Sem este complemento (que só os país podem exer-
cer adequadamente), a funcao biológica de gerar poderia tor-
nar-sc nociva. — Eis, porém, que o cumprimento de tal missáo
pede a estabilidade da familia, a colaboracáo da autoriade e da
energía paternas com a delicadeza e a dedicacáo maternas.
2) A felicidade dos cónjuges, por paradoxal que isto parecí»,
exige igualmente a indissolubilidade.
O homeni por sua própria natureza é impelido a amar e a
doar-sc totalmente ao objeto amado. Ora, após o Criador, Alfa
e Omega de todas as criaturas, qual o objeto ao qual mais se
deva dedicar a criatura humana do que a sua consorte, lugar-
tenente de Deus, com a qual o individuo se completa física e
psíquicamente numa intimidade só ultrapassada pela intimidade
com o Senhor? Isto nao quer dizer que o homem, amando,
deva necessáriamente encontrar deleite natural; geralmente o
amor nobre conhece as suas horas de sacrificio; as vézes tem de
verificar que ele dá mais do que recebe. Em qualquer caso,
porém, sabe que "há mais felicidade em dar do que em receber"
(At 20,35); só o sacrificio dilata o ánimo, arrancando-o ao egoís-.
mo. ;
— 11 —
Replica-se: a concessáo ein tais casos ainda acarreta maior
mal do que bem. — Quem saberia trac.ar a linha de demarcarlo
entre os casos "excepcionalmente dolorosos" c os "nao excepcio-
nalinenle dolorosos"? Desde que o divorcio seja de algum modo
legalizado, exerce a sua influencia destruidora: "A idéia do divor
cio cria a materia divorciável... No seio dos lares introduz nao
sei que de precario, provisorio e hipotético, que impede a familia
de realizar suas finalidades fisiológicas, psíquicas e moráis"
(L. Franca, O divorcio, Rio de Janeiro 1952, 62). E' pois, eni
nome do bem comum que se denega o divorcio mesmo aos casos
excepcionais (casos que se multiplicariam de tal modo que dei-
xariam de ser excec,áo). Toda lei, visando proteger os inlerésses
da coletividade, impóe necessáriamente privac.5es particulares.
_ 12 —
a que graves abusos daría lugar tal concessáo; equivalerin n
unía armadilha continuamente preparada para a consciéncin de
crisíáos e nao-cristáos, estimulando a ¡imbifíuidade e a hipo-
crisia na sociedade.
— 17
Quisera ver-vos. i sen tos de solicilude. O hoinent que iJa"o
está casado, se preocupa coni as coisas do Senhor, coiu Os ineios
de agradar ao Senhor..-. Aquéle que está casado , se preocupa-, coin
as coisas do mundo, coni os meios de agradar á esposa, e está
dividido. Da mesilla forma,.a niulher nao casada e a virgem se
preocupam coni as coisas do Senhor, a finí de ser santas de corpo
e espirito; aquela, porém, que tein marido, se preocupa coin as
coisas, (b mundo, coni os ineios de agradar ao esposo. Digo isto,
atendendo aos vossos interésses.. ., tendo ein vista o que é digno
e vos leve a aderir indivisamente ao Senhor (1 Cor 7,29-35).
Eis os motivos que inspiraranra virgindade na Igreja desde
ns teinpos de Sao Paulo. Compreende-se entáo que os sacerdoles
e as Religiosas, ein priineiro lugar, a abracsm, já que éles se
propóem viver mais plenamente para Deus e o Reino de Deus.
Um sacerdote casado menos fácilmente se dedicaría ao servico
das almas; e como sustentada a sua familia ein paróquia pobre,
como sao muitas das que hoje em dia exislem no orbe, principal
mente ein nosso Brasil?
— 18 —
NENA (Recife): •
— 19 —
Sem dúvida, podía Deus ier evitado que Judas pécasse; inns,
para isto, deveria ter retocado ou mutilado o livre arbitrio do ho-
meni. Tal retoque, o Senhor nao o quiz fazer, pois Ele costunia
respeitar os seus dons, nao derrogando ao que deu. Dcixou. por-
lanto, que os acontecimentos da Paixáo se dcscnrolassein segundo
o curso que lhcs podiam dar ns escrituras livres postas em jógo
(Judas contribuiu principalmente com a sua avareza; os Fari-
seus, com a sua soberba e bípocrisia; o povo judaico, com j» 'sua
obteícacáo; Pilatos, com a sua fraqueza de caraler). A Provi
dencia Divina apenas quis assegurar a Vitoria final ao Bem, en-
caminhando surpreendentementc ate os erros e desmandos dos
diversos atores para a salvacáo do género humano.
'Algo de semelhante se dá em todo pecado. O Senhor de-
seja a salvacáo de lodos os homens (cf. 1 Titn 2,4) e concede
a todos sem excecáo a graca suficiente para praticarcm o bem;
a morte do Redentor na cruz visava, sim, o genero humano in-
teiro. O próprio Judas foi intimado por Jesús a tomar conscicn-
cia da hediondez da traicáo, quando o Mestre iriterpelou na
última ceta (cf. Mt 26,25). Contudo Dcus permite que o homem
exerija a sua liberdade, resistindo á graca; caso escolha o Bem,
pfoduz ato mais nobre do que se fóra foreado; dado, porém, que
opte pelo mal, a culpa há de Ihe ser atribuida exclusivamente,
pois da parte de Deus nada terá faltado para que praticasse o
bem.
Vé-se, pois, que o misterio da iniqüidade depende, em i'ií-
Liina análisc, da liberdac de arbitrio do homem, arma de dots
guiñas que o Criador outorgou a criatura para que esta se eleve
ácima de uní autómato, mas que o homcm, apesar de todas as
solicitaeñes da graca, nao raro utiliza para sua ruina (veja-se
"Pergunte e Responderemos" 5 pág. 5-9).
Quanto á sorte eterna de Judas, a tradic.f»o exegéliea costuma
interpretar as palavras de Jesús em Mt 26,24 como anuncio de
sua condena.cao definitiva. Contudo tal sentcnca nao é unánime
nem obrigaforia.
— 20 —
inens nao-cristáos das geracóes contemporáneas e imédiatalnente
subseqüenlcs a Cristo nslo percebiam todo o alcanes da persona-
lidade c da obra de Jesús, humilde filho de carpinteiro, nascido
nuni recanlo de insignificante provincia romana, pertencente ao,
desprezado povo judeu. Contudo os testemunhos nao-cristáos,
por tnuito sobrios que sejam, obrigam a reconhecer a existencia
histórica de uin personagem chamado Jesús ou Cristo, crucificado
na Palestina sob o govérno de Tiberio (14-37). Examincino-Ios,
pois, sumariamente:
1. Testemunhos judaicos
— 21 —
como obras diabólicas; chaina u nossa alencao a semclhancn
entre esta interpretacáo e a que os fariseus proferirán!, impu
tando a Jesús colaboracáo com Beelzebul, o principe dos demo
nios (cf. Me 3,22). — Outro pormenor interessante: as narrati
vas evangélicas dao a entender que o processo de Jesús vé reali-
zoü ás pressas, já estando sua condenacao preconcebida. Ora 6
Talmud admite o supreendente e'inverossímil intervalo de qua-
renta dias entré a condenacao e a execucáo, intervalo oférecido
ás testemunhas para se manifestaran; o que venia ser um'a ten
tativa de reabilitar os juízes de Jesús.
2) ein Aboda Zara 40d Jesús c dito Ben-Pandara ou Uen-
Pnnthera, filho de Pantera. Esta expressao arninaica nao parece
ser senño a transposicáo do grego huios tes parthénou, filho da
virgem, título com que os cristáos designavam Jesús; segundo a
intencáo polémica dos talmudistas, o substantivo comum par-
Ihénos foi transformado em norae próprio e passou a designar o
pai ilegítimo que os rabinos atribuiam a Jesús (Marín estava
oficialmente casada com um varáo cujo nome no Talmud é Pap-
pos ou Stada); teríamos nesta passagem rabinica urna confir-
maeño da antiguidade da fé no nascimento virginal do Senhor;
3) Jesús, na mcsina col ceño, é geralmente chamado "um
tal" ou "BalaS'"(antigo mago de Núm 22-24), "louco", "bastar
do" ou ainda por outro titulo muís injurioso, o que de certo modo
evidencia a atitude geral dos talmudistas em rclacáo a Cristo.
Em suma, ao considerar os dados da tradic.5o rabinica con-
cernentes a Jesús (os quais ainda forain ampliados no livrinho
Totedoth Jeshua, dos séc. 8.°/$.°), os críticos modernos tém-nos
conio argumentos indiscutiveis da existencia de Cristo; ésses
escritos supóem, c em certo sentido confir.mum, o que dizcm os
Evangelhos; as interpretacoes, porém, que sugerem, apresentam-
se demasiado tendenciosas para gozar de autoridade. Sendo as-
sim, os críticos judeus mesmo nao utilizan) o Talmud para escre-
ver a vida de Jesús; baja'vista, por exemplo, a obra The Jewish
Encyclopedia, de autores israelitas, (12 volumes, Nova Iorque, a
partir de 1904): o seu artigo Jesús of Nazareth (vol. 7, col. 100-
178) se divide em tres partes: "Jesús na historia" e "Jesús na
teología", estudos baseados sobre documentos cristáos, c- "Jesús
na Icnda judaica", apresentacáo dos dados talmúdicos (!)
Fora da tradicáo rahínica, existe o importante historiador
judeu Flávio José, do séc. 1.° d. C. Menciona duas figuras da
historia do Novo Testamento: Joáo Batista, sua pregacáo e sua
morte (Antiguidades judaicas XVIII 116-119) e Tiago, "irmáo de
Jesús, chamado o Cristo" (Ant. XX 200). Alcm disto, encontra
se em Antiguidades XVIII 63-64, o seguinte trecho:
— 22 —
. "Por cssa ¿poca • aparoceu Jesús, hoinein sabio,- se é que
há lugar para o chaniarmos homem. Porque ele realizou coisas
maravilhosas, foi o mestre daqueles :que receb.em com júbilo a .,
verdade, e.arrastou muitos judeus, e igualmente, ímiitos gregos.'
Ésse era o. Cristo. Por denuncia dos principes da nossa nacáa;
PMatos condenou-oao suplicio da cruz; mas os scus fiéis nSo;rec
nunciaram ap seu amor por ele, porque ao terceiro dia éle::lhet|
apareceu ressuscitado, como o anunciarain os divinos profetas
juntamente com mil outros prodigios a seu respeito. .Ainda hrfje
subsiste o grupo que por sua causa recebeu o nome de cristpos".
liste testemunho, 15o explícito e forte, está sujeito a dúvi-t
das dos críticos. Autores católicos como o Pe. Lagrange, Mons.
Batiffol, tem-no como interpolado por niños cristas na obra de
Flávio José; ao contrario, críticos protestantes ou liberáis, como
Harnack e Burkitt, defendem sua autenticidade. Muito prová-
vel é a sen tenca de Reuss, Renán, Reinach e outros, que •afir-
mam tratar-se de urna passagem retocada, ou seja, originaria
mente escrita por Flávio José, mas no séc. 2.° explicitada e me*
1 horada no sentido cristáo por mti copista entusiasta.
2. Testemunhos romanos
— 23 —
"Un» boato acabrunharior atribuía a Ñero a ofdem Ue pó/r
fogo a eidade. EntSo, para cortar o mal pela raíz, Ñero imáginou
culpados e entregou as torturas mais horriveis ésses homens dc-
tcftados pelas suas ("acanitas, que o povo apelidava cristáo. ftstc
nome vem-lhes de Cristo, que, sob o reinado de Tiberio, f¿i con
denado ao suplicio pelo Procurador Póncio Pilatos. Esta seita
perniciosa, reprimida a principio, cxpandiu-se de novo, nao só-
inente na Judéia, onde tinha tido a suu origem, mas na própria
cidadc de Roma..." (Anais XV 44).
Estas linhas atcstam com clareza a existencia e o quadro
histórico da obra de Jesús: executado na Judéia, sob Tiberio
(14-37) por ordem de Póncio Pilatos (26-36; cf. Le 3,1), foi cha
mado Cristo ou Messias pelos seus discípulos, que alé o inicio do
séc. 2.° persistiam fervorosos. Julgain os críticos que Tácito co-
Iheu as noticias ácima nao em fonte crista (dado o tom hostil
da narrativa) ncm em fonte judaica( os judeus, entre outras coi
sas, nunca teriam designado o chefe da seita como Cristb, vocá-
bulo grego equivalente ao hebraico Messias), mas em fonte paga
(o que é particularmente importante).
O tereciro depoimento, datado de cerca de 120, ó o Suetónio,
o qual confirma que sob Ñero foram "sujeitos a suplicio os cris-
táos, estirpe de homens de urna supersticáo nova e maléfica"
(Ñero 16). Referindo-sc ao reinado de Claudio (41-54), diz ou-
Irossim que este "expulsou de Roma os judeus, os quais, sob o
impulso de Crcsto, se haviam tornado causa freqüenle de tumul
tos (ludacos impulsare Chreslo assiduc tumultuantes expulit)"
(Claudio 25). A expulsáo é confirmada pelos Atos dos Apostó
los 18,2, devendo-se ter dado por volta de 49/50. Nao resta díivida
de que Chrestós é forma equivalente a Christós (e e i se permuta-
vam fácilmente na linguagem grega vulgar), de mais a inais qué
os cristáos aínda no séc. 3.° eram chamados chrestianoi (cf. Ter
tuliano, Apol. 3; Ad Nationcs 13; Latáncio, Div. Inst. 4,7). Sue
tónio, escrevendo setenta anos após os acontecimentos, estava in
suficientemente informado; julgava que Cristo se «chava pre
sente em Roma, instigando as desordens.
Descendo pela historia da literatura paga, o estudioso encon-
tra outros testemunhos a respeito de Cristo e dos cristáos; sendo
mais tardíos, interessam-nos menos.
Em conclusáo, verifica-sc nao serení inuitas as noticias que a
literatura romana fornece a propósito de Jesús. A sobriedade
compreende-se, dado que o Cristianismo, aos olhos dos pagaos,
nao era mais do que desprezivel supersticáo oriental; só mcrecia
atcncáo na medida em que se torntiva ocasiáo de pertúrbameles
políticas ou sociais.
24
//. T. R. (Rio Pardo):
— 25 —
vina, merecer era favor do seu cúmplice); trata-se, antes, dos in
digentes a quem fazemos a caridade; conforme Mt 25,34-40, 6 Je
sús, em'tiltima análise, quém está presente na pessoa désses so-
fredores; por conseguinfé, será Ele o grande Amigo (=os amigos)
que nos receberá no reino do Pai, em troca do sabio uso que ti-
vermos feito dos bens temporais. Por "amigos" podem-se tam-
bém entender (o que dá no mesmo) as boas obras que alguém
pratique enquanto goza de saúde e dos dias desta vida; estas
obras certamente nos valeráo um día o acesso á visáo do Pai Ce
leste.
Quanto á intrigante expressáo "riquezas desonestas" ou "da
¡niqüidade", nao significa que havemos de negociar com dinheiro
mal adquirido; lambcm nao quer dizer que o dinheiro seja em si
mau; Jesús a emprega únicamente porque a riqueza é com fre-
qüéncia (mas contingentemente) utilizada para a iniqüidade (tal
foi o caso do ecónomo infiel); sao os seus proprietários que nao
raro lhe imprimem o caráter de instrumento do mal (cf. Mt 6,24;
13,22). Para evitar isto, o cristáo, seja pobre, scja rico de béns
materiais, há de nutrir sempre em si o espirito de pobreza, que
nada tem que ver com ignorancia, exiguidade intelectual, nem
com amencia, mas c o desapego interior.
As posses temporais legítimamente adquiridas dcvem ser
consideradas como dom de Deus, outorgando nao para que o
homem se dé por saciado nesta vida (tal foi a atitude do ricaco
imprevidente, em Le 12,16-21), mas para que mais ainda se ex
cite no amor de Deus d do próximo, crescendo destartc na uniáo
com o Supremo Amigo; a natureza humana constitui-se de tal
modo que lhe é normal elevar-se no amor dos hens invisiveis
mediante os visíveis. Contudo, a finí de que o homem nao frustre
os designios do Criador, é-lhe absolutamente necessário manter
continuo controle sobre si mesmo para que o dinheiro a ele sirva
e a Deus, e nao ele sirva ao dinheiro. Tal controlo é caracte
rístico do espirito de pobreza.
H. T. R. (Rio Pardo):
IV. MORAL
- • 27 -
¡J) N'áo se pode dizer que a guerra, como tem sido praticada
cm nossos lempos, seja o que se chaina "guerra total", islo é,
conflito que envolve populacócs inteiras, de modo que qualquer
cidadáo de um povo beligerante deva ser considerado coinbaten-
le. Ainda é perfeilamente justificada a distincao entre combaten-
tes e nao-eombatentes de unía nacáo ein guerra, embora quase
lodos os individuos, de modo próximo ou remoto, sejaiu utiliza
dos pelos estrategistas modernos segundo as suas possibilidades
(a u'a menina de dez anos poderá talvez tocar a tarefa de recolher
pedamos de metal usado para a fabricacáo de municoes); o falo
de participar no esfórco bélico comum ainda nao torna tal pessoa
combalente. — O Santo Padre ainda recen temen te, respondendo
a interrogacao que lhe fóra feita, declarou nao ser lícito proceder
hoje etn día como se as guerras fóssem sempre guerras totais
(cf. o trecho da alocu^áo proferida aos membros da Associacao
Médica Mundial aos .10 de sotemhro de 1954, na revista A Qrdem
55 [19561 13s).
4) Se, pois, bá ohrigacáo bem fundada de distinguir entro
combatentes e náo-combatentes duma nacáo ein guerra, a cons-
ciéncia crista nao pode deixar de opor serias restriñes ao cinpré-
go de armas, como as bombas A, H, C, cujo potencial destruidor
ó incontrolável, capaz de atingir inocentes, destruindo sem justifi
cativa alguma centenas ou mil bares de vidas humanas e arra
sando objetivos nao-militares. Haja vista o setor de Nova Iorque
"Newark", urna das regióos do globo mais ricas de industrias, na
qual a estrategia militar encontra objetivos de elevado interésse:
se, dentre os dez milhoes de habitantes da regiáo, se contain os
que de algum modo concorrem para a vida industrial e pública
(ñas fábricas, nos transportes, ñas reparticóes governamentais),
chega-sc a um total de dois milhóes c meio (25% da populacho);
tres quartas partes dos moradores sao seres humanos militarmen
te inocentes! Ainda que em caso de guerra se aumentasse o nú
mero de moradores militarizados no territorio, juiga-se que as
proporcóes de combatentes e náo-combatentcs ainda nao justifica
rían! o 1 anca mentó de urna bomba atómica sobre Ncw-ark, pois
tal arma inevitávelmente causaría elevado e injustificado núme
ro de vitimas inocentes.
— 2fi —■
potencias do mundo atual cstcjam de posse dos scgredos atómi
cos), o que, segundo pensam bons autores, poderia acarretar o
suicidio ou quase-suicidio do género humano como tal (sabe-sc
que as emissoes rádio-ativas da bomba de cobalto, empregada
dentro de certa escala, poderiam dentro de poucos anos impreg
nar toda a atmosfera, tornando iinpossivel a vida humana sobre
a térra). Ora tal efeito a título nenhuin se poderia justificar aos
olhos da consciéncia crista.
5) Contudo, ñas restricóes fcitas as armas atómicas, é pre
ciso se leve em conta aínda o seguinte: pelo fato de estarem as
principáis nacocs do globo habilitadas para a guerra atómica,
qualquer das grandes potencias que se quisesse despojar de suas
armas nucleares, correría o risco de ser agredida sem se poder
defender, o que acarretaria graves danos para a respectiva po
pulacho ou seria um suicidio coletivo (a fim de se avaliar o pro-
gresso das pesquisas atómicas e a necessidade de o acompanhar,
observe-se que, para atingir os municipios da Franca quase to
dos, seriam necessárias 6000 bombas atómicas como as de Hiro
shima e Nagasaki, mas bastariam quinze das bombas de hidro-
%énio mais recentemente descobertas). Por isto, os autores cató
licos, ao mesmo tempo que rejeitam em tese o uso de armas nu
cleares, milito desejam que o desarmamento se fa$a segundo um
acordó internacional a fim de que nao haja surpresas nem detri
mento para as populacóes civis. Deve-se ponderar que ,na falta
de entendimento pacifico, o simultáneo armamento de todas as
nacóes ainda pode ser um freio á paixáo de desencadear a guerra.
Merece especial atenc.áo a última declaracáo pontificia sobre
o assunto. Aos 14 de abril de 1957, o Santo Padre recebeu em au-^
diéncia o Professor Masatoki Matsushida, da Universidade de
Tokio, que voltava da Inglaterra, onds fóra pedir a suspensáo
das experiencias nucleares; Pió XII entregou-lhe entáo urna nota,
de que constava a seguinte passagem:
— 29 —
tos, os últimos efeitos biológicos — principalmente os efeilos he
reditarios — sobre as especies viventes; em vez dessa cxaustiva
e dispendiosa corrida para a inortc, os sabios de todas as nac.oes
devein ter consciéncia da sua grave obrigagáo moral de tentar
dominar essas energías para colocá-las a servido do hoinein. As
organizacóes científicas, económicas, industriáis e mesmo políti
cas deveriam sustentar com todos os seus recursos os esforcos
que tendem a utilizar essas energías mima escala de grandeza
adaptável ás indigencias humanas" (Osservaiorc Romano, 25 de
abril de 1957).
— 30 —
lir, torna-se naturalniente réu de niorle. Ademáis pode aconte
cer que, em povos de mentalidade rude, o recurso á pena máxima
ein certos casos seja o único eficaz para reprimir o criine e im
pedir o surto de novos delinqüentes.
Por isto o próprio Deus, já na legislacáo do Antigo Testa
mento, reconhecia a pena de morte que os israelitas praticavam,
continuando as tradicóes dos povos ancestrais. Por conseguinte,
ein nome do Senhor, Moisés estipulou casos cm que se devia infli
gir a sentenca capital a um réu: idolatría (Lev 20,2-5); maldicáo
proferida contra pai ou máe (Lev 20,9); adulterio (Lsv 20,10);
outros delitos incestuosos (Lev 20,11-16), etc. (note-se que os
réus de morte, num povo primitivo nao háo de ser os uiesmos que
num povo de elevada cultura).
Entre os cristáos, sempre se julgou, na base dos motivos
ácima expostos, que á autoridade civil toca o direito de impor a
pena de morte. Do séc. 1,3 até o séc. 18 aproximadamente, em
algumas nacóes condenavam-se á morte nao sómente os que se
opunham ao bsm temporal da sociedade, mas também os que
contradiziam aos seus interésses religiosos, corrompendo a verda-
deira fé pela heresia; tinha-se consciéncia de que a vida sobrena
tural, baseada sobre a sa doutrina, aínda vale mais do que a vida
natural, que os tribunais antigos costumavam defender infligindo
a morte aos assassinos.
Em tese, pois, nao resta dúvida de que será lícito ainda hoje
a aplicado crileriosa da pena capital. E' preciso, porém, consi
derar que, na prática, a oportunidade s eficacia desta sancáo de
pende da mentalidade do povo em que ela vigora. Pode muito
bem dar-se que determinada populac.no já se nao deixe impres-
sionar pela condenacao á inorte; os "aventureiros" seriam tais
que pouco se importariam (ao contrario, muito apreciariam o
sensacionalismo) de correr o risco de morte por causa de seus de
litos. Nessas circunstancias, a pena capital já nao preenche o
seu papel tutelar do bem comum; torna-ss castigo de taliao, me-,
ramente vingativo, nao medicinal, e ein si odioso ("dente por \
dente, ólho por ólho, vida por vida"). j
Pois bem; é isto que se alega em nao poucas nacóes moder
nas, onde a pena de inorte estéve em vigor ate nossos días. Em
conseqüéncia, a Inglaterra em 1956 aboliu a sentenca capital (na-
quéle pais se ponderou também o perigo de proferir .injustas
condenacóes á morte); urna cstatfstica inglesa deu a saber que,
dentro 250 réus executados, 170 haviam previamente-desistido a-
urna ou mais execucóes capitais, sem ter colhido algum fruto •
para o seu próprio procedimento. Na Europa ocidental sómente
a Franca e a Espanha conservam a pena de morte, enquanto obras
científicas, romances e filmes cinematográficos dssenvolvem ín-
— 31 —
tensa canipanha contra ela. As autoridades dos países que a abo-
liram, afirmam que neni por isto se aumentou em suas térras a
porcentagem dos morticinios delituosos.
Todavía, contra a onda abolicionista, alguns autores obser
van! que no mundo moderno os homens ainda cometem oficial
mente, sob a tutela mesma da lei, inuitos atos de selvageria e bar
barie, de tal sortc que urna judiciosa aplicacáo de morte (desti
nada a ser defesa do bem coinum) nao se poderia tachar de ana
crónica ou retrógrada.
Em última análise, a questáo de sab^r se lioje em dia é opor
tuna ou nao a pena capital nao depende da cstipulacáo de prin
cipios teóricos (estes sao suficientemente claros). Depende de
um fator contingente, a saber: da metalidade das geracóes moder
nas, que talvez se tenham tornado indiferentes á ameaca ca
pital!
— 32 —
os pareceres dos Reverendísimos Senhores Consultores, decretaram
na sessáo plenária de quarta-feira 20 de Abril de 1950 o segulnte:
Lembrando aos fiéis éste canon 684, o Santo Oficio nao en-
tende classificar o Rotary entre as sociedades secretas nem entre
as condenadas, mas, sim, entre "as suspeitas e as que tentam
subtrarir-se á legitima vigilancia da Igreja".
33 - •
Se o Rotary procurasse apenas aperfeicoar o honieni ein de
terminado setor de suas atividades — na ciencia, ñas artes, na
técnica — ninguém exigiría que professasse explícitamente o no-
me de Deus, pois ciencias e artes dizem respeito a uní aspecto
apenas do homeni (há, de fato, institutos técnicos que preechem
a sua finalidade sem colocar no seu programa alguma profissáo
religiosa). Desde, porém, que se queira apreender o honiem to
do, o honiem como hoinem, e promover seus interésses capitais
(éticos), nao pode deixar de entrar em jógo a questáo do Finí
último a que se destina a humanidade. Ora o Finí último é um
só, é o Deus da Revelacáo crista; quem nao se encaminha ex
plícitamente para Ele, mantendo no fAro público unía indife-
renca consciente e voluntaria (note-se bem: nao se trata da in-
diferenca do ignorante), nao pode deixar de dar passos errados.
E' por isto que a Igreja julga ter o dever e vigiar sAbre a con-
duta de seus filhos frente ao Rotary Club.
„. 34 -
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
■— 35 -
máos Hntterinnos (de Tiago Hulter), a Igreja dos Irmáos nos
Estados Unidos da América do Norte, a ¡orejo dos Irmáos Evan
gélicos Unidos e a Igreja Batista, de todas a mais numerosa.
Os Batistas tém por fundador o inglés (John Smyth (tl617).
Foi primeiramente pastor anglicano. Movido por espirito rea-
cionário, que agitava nao poucos cristáos de sua patria, quería
urna reforma aínda mais radical que a anglicana; em particular,
nao se conforniava com a organizacáo hierárquica (episcopal)
e a liturgia da Igreja Anglicana, que ele julgava supérfluas.
Por
isto forinou em Gainsborough urna pequeña comunidade dissi-
dente do Anglicanismo, no ano 1604; foi, porém, obrigado a se
exilar com seus companheiros, indo ter a Amsterdam (Holanda),
onde o calvinismo predominara. No degredo vivsu em casa
de uní padeiro menonita, que o persuadiu de que era inválido
o batismo conferido ás criancas (tese anabista!), Smyth en-
tao administrou a si mesmo um segundo batismo, de cujo valor,
porém, comecou em breve a duvidar. Em conseqüéncia, seus
companheiros por ele convencidos da tese anabatista, o expul-
saram da comunidade; Smyth nao conseguiu ser admitido ncm
mesmo entre os menonitas, aos quais pedirá acolhimenlo. Em
1612, um grupo de seus discípulos voltou a Inglaterra, e la fun-
dou a primeira Igreja dita Batista (nao mais Anabatista), tam-
bém chamada "dos Batistas gerais", porque,, contrariamente á
doutrina calvinista, ensinava que Cristo pela cruz salvou todos
os fiéis. Outro grupo se formou, pouco depois, dito "dos Ba
tistas regulares ou particulares"; com efeito, cm 1641, outra pe
queña comunidade de dissidenles do Anglicanismo em Londres se
convenceu da tese anabatista; mandou enlao um de seus mem-
bros, Ricardo Blount, a Rijnsburg, na Holanda, a finí de pedir
o batismo de adulto á seita de Dompelaers (cisüo menonita) e
levar á Inglaterra o "verdadsiro batismo"; Ulounl desincumbiu-
se da sua missao; voltando em 1641, rebalizou por imersáo (única
forma de batismo reconhecida pela scita) 55 meinbros da co
munidade de Londres; aceitou do calvinismo holandés a doutrina
de que Cristo salva sómente os predestinados; donde o nomo
de "Batistas particulares" que lhes coube.
- 3fi
baü2antes a si mesmos, os b. nbertos, os b. fechados, os b. do
sétimo dia, etc.
Cada comunidadc batista é independente de qualquer auto-
ridade visivel, seja eclesiástica, scja civil; rege-se diretamcnte
por Jesús Cristo e pelo Espirito Santo, que age na assembléia;
nao ha, pois hierarquia nem jurisdicao eclesiástica. Todo o po
der de govérno reside na assembléia dos fiéis, que elege os que
por cía respondem (pastores e diáconos).
Em sua doutrina, os batistas segucm teses calvinistas: Deus
predestina diretamente nao só para a gloria, mas também para
a condenacáo eterna; a justificacao ou a graca é obtida mediante
a fé; nao apaga, mas apenas recobre o pecado; os sacramentos
(Batismo e Ceia) nao sao meios comunicadores da graca, servein
apenas para a corroborar era quein os recebe com fé. Como em
gcral no Protestantismo, a Biblia é tida como única fonte de
doutrina.
Entre os meinbros das comunidades batistas, nota-se fervor,
infelizmente, porém, demais apoiado no subjetivismo, que orien
ta a rcligiosidade protestante e leva, consciente ou inconscien
temente, os seus adeptos a rejeitar o propio Cristo em nnrac
do Cristo!
D. ESTEVAO BETTENCOURT O- S. B.
— 3? —
EDICÓES
do
COLEQÁO PIÓ X
TEL.: 26-1822
o que
nao conhece.
a Deus
e mais
0 amará.
REVISTA
GREGORIANA
ORGAO
do
INSTITUTO PIÓ X
do
RIO DE JANEIRO
LITURGIA
CULTURA RELIGIOSA,
cantarei também
com a inteligencia."
(1 Cor 14,15)