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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memorísun)
APRESENTTAQÁO
DA EDipÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
;■■" visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
' religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR


Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e
Dassamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica 11Pergunte_ e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publ.cagao.
A d Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
BfBL.IOT SU
CENTRA!

Pft-
4.

cicmcia <

OEUttáó
ÍSOUTCINA

MOOflL

BIBIIOIKA CEHIRAL
índice

Pág.

"QUANDO O HOMEM ACABA, ENTÁO É QUE COMECA" 479

Urna noticia que surpreendeu:

"PAPA MANTÉM EXCOMUNHÁO DE LUTERO"


INTOLERANCIA ? MESQUINHEZ ? 482

Questoes delicadas :

QUE SENTIDO TÉM AS PRECES PELOS DEFUNTOS ?


E AS MISSAS PELOS MORTOS ? E AS ESPÓRTULAS ? 495

NOVA EXPRESSÁO DA MENSAGEM SOCIAL DA IGREJA :


A "OCTOGÉSIMA ADVENIENS" 506

Aínda a "Octogésima Adveniens':

NOVAS FACETAS DO ENSINAMENTO SOCIAL DA IGREJA 517

Um pomo de discordia :

SEU SETE DA LIRA 522

CORRESPONDENCIA MIÚDA 526

RESENHA DE LIVROS 529

ÍNDICE GERAL DE 1971 533

VER COMUNICACÁO IMPORTANTE A P. 16 [494]

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA


"QUAHDO O HOMEM ACABA,
ENTÁO É QUE COMETA"
(Eclo 18,6)

Aproximamo-nos de mais um fim de arco e recomégo de


n6vo ano. Muitas atividades se encerram, os balangos se pre-
param, para dar lugar possivelmente a nova fase de trabalhos
no ano próximo.

Esta realidade pode suscitar duas atitudes:

1) Pessimismo, desánimo. Recomegar sempne nao sugere


monotonía, insipidez? Para muitos dos antigos (órficos, pita
góricos, orientáis...), a sucessáo dos tempos (dias, meses,
anos) era figurada por urna serpente que se encaracola de
tal modo, porém, que a cabega acabe mordendo a cauda- a
serpente gira sobre si mesma e se enrola, mas nao atinge novi-
dade alguma; ésse seu «enroscar-se» nao tem sentido, pois ter
mina onde comegou. Na mente dos que a propunham, esta
imagem quería dizer que a historia se repete sem finalidade;
estamos sujeitos ao continuo renascer dos dias, das estagóes e
dos próprios homens, mas nada podemos esperar dessa monó
tona sucessáo dos seres. A resposta as nossas aspiragóes está
fora da historia; é preciso que o homem se emancipe do ciclo
dos retornos (ou das reencarnagóes) e se liberte da historia
aeste mundo

Também na literatura moderna há quem seja pessimista


em relagáo é vida e á historia dos homens. Estas sao ilustradas
principalmente por Albert Camus, mediante o mito de SLsifo
Com efeito, diz a lenda grega que Sísifo, reí de Corinto, foi
condenado pelos deuses a carregar urna pedra montanha ácima,
ate deposita-la no topo do monte; cada vez que Sísifo se apro-
ximava do alto do penhasco, escorregava e caía por térra- os
deuses, porém, o obrigavam a recomegar indefinidamente' as
suas tentativas. Ora a vida de cada homem seria um continuo
«ter-que-comegar» após sucessivos revezes, todavía sem espe-
ranga de conseguir resposta as suas expectativas.

— 479 —
2) Outra é a atitude do homem bíblico e, especialmente,
a do cristáo. Para éste, a historia vem a ser a texecugáo pro-
gressiva de um plano de Deus; perpassada por dinamismo, ela
tende á plena realizagáo de um designio sabiamente concebido
pelo Criador. A imagem que melhor a ilustra, é a de um cone
deitado que se vai abrindo progressivamente; os cortes que su-
cessivamente se fagam nesse cone, revelam sempre a mesma
estrutura, mas em ponto cada vez maior;... cada vez maior,
sem limitagáo, pois é para Deus, o Bem Infinito, que as coisas
temporais se dirigem. Também a vida psssoal do cristáo,
quando auténticamente vivida, é um continuo crescer para a
plenitude; é um lento desabrochar de valores vitáis que o Ba-
tismo depositou em seu íntimo. Por isto, quando o cristáo diz
«Adeus» (Adeus ap velho ano e a tudo que éste comportou),
éste «Adeus» nao é mera despedida ou separagáo, mas é novo
encaminhamento,... encamirihamento «a Dsus, para Deus»; é
na diregáo do Eterno, do Infinito, que o cristáo ss projeta e
projeta tudo que ele faz. Por isto se diz que os anos da velhice
constituem o período mais juvenil, mais vigoroso na peregri-
nagáo terrestre de um homem; sao os anos mais próximos da
eternidade e, conseqüentemente, os mais penetrados ou invadi
dos pelos valores definitivos.

Estas verdades sao aptas a despertar profunda confianga


no cristáo diante do passar do tempo: «Quando o homem acaba,
é entáo que ele comega» (Eclo 18,6); esta frase paradoxal,
longe de sugerir tedio, desparta no discípulo de Cristo a cons-
ciéncia de que ele está numa jornada sem fim, «a...Deus».
Deus só nao é novo para Si; para a criatura, Deus será sempre,
eternamente novo, suscitando surprésa e alegría constantes na-
queles que O procuram.

A cclebragáo do próximo Natal ou do nascimento de Deus


feito homem para fazer o Homem Novo seja ocasiáo para que
possamos reconsiderar e viver um pouco mais profundamente
tais verdades. Que a vida nova trazida por Cristo ao mundo
se intensifique em nossas mentes e constitua para todos os
nossos leitores o penhor de um 1972 feliz e próspero pela pre
senta cada vez maLs saboreada dos valores eternos!

E. B.

— 480
"Oráculo de Balaam:
... Contemplo-o — mas nio de perto :
Urna estréla, surgindo de Jaco, torna-se Chafe;
Um cetro se levanta, proveniente de Israel"

(Números 24,15.17)
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XII — Nos. 143/144 — Novembro/Dezembro de 1971

Urna noticia que surpreendeu :

"papa mantém exlomunháo de lutero"


intolerancia? mesquinhez?

Em síntese: Em vista de recente noticia da imprensa, observe-se:

A excomunháo é urna censura que excluí o cristáo da comunháo


da Igreja peregrina na térra. A absolvicáo de excomunháo é a restau-
ragáo do cristáo na comunháo eucarística e na vida da Igreja pere
grina. Donde se vé que nao tem sentido absolver da excomunháo um
cristáo defunto; Deus já o julgou. O que importa ao ecumenismo, é
nao se caricaturar a memoria de Martinho Lutero.

As indulgencias jamáis foram perdáo de pecados a troco de di-


nheiro. Elas nao significam senáo o perdáo da pena temporal anexa
aos pecados já perdoados. Em vez de jejuar rigorosamente como na
antiga Igreja, os cristáos podem realizar obras cuja eficacia pode vir
a ser equivalente á do jejum rigoroso, pois a Igreja associa a essas
obras os méritos redentores de Cristo. Todavía, para lucrar indulgen
cia, requerem-se as disposieñes interiores que animavam os antigos
cristáos a praticar seus rigorosos jejuns — disposicoes que nao é
fácil conceber.

O brado reformador de Lutero despertou vivamente as aspiraeñes


políticas, sociais e nacionalistas do povo alemüo. Dai a complexidade
da reforma luterana; os nobres e o Imperador se interessaram por ela.
Carlos V deu a Lutero um salvo-conduto para que pudesse expor sua
causa perante o Parlamento em Worms. Quanto a condenagao á morte
pelo fogo, era tranquilamente aceita pela consciéncia dos cristáos da
Idade Media; há de ser encarada & luz dos criterios daquela época, e
nao segundo o modo de pensar contemporáneo.

— 482 —
EXCOMUNHAO DE LUTERO MANTIDA

Comentario: Aos 10/9/71, o «Jornal do Brasil» do Rio de


Janeiro, 1? cad. p. 11, publicou urna noticia que, tendo provo
cado equívoco e surprésa, merece explicacóes. Eis o teor do
telegrama (AFP-JB) proveniente de Worms (Alemanha Fe
deral) :

PAPA MANTÉM EXCOMUNHAO DE LUTERO

Worms, Alemanha Federal (AFP-JB) — O Papa Paulo VI negou-se


ontem a suspender a excomunhSo do monge reformador alemáo Martinho
Lutero, (ella pela Igreja Católica em 1520. A decisáo do Vaticano (ol comu
nicada em julho aos asslnantes do Memorando de Worms, mas só esta
semana velo a público.

O porta-voz da decisáo da Igreja, Cardeal Jan Willebrands, aflrmou que


a anulaclo da excomunhSo nSo é necessárla para a reaproximac.io de
católicos e protestantes. Segundo o monge Rudolf Knecht, co-autor do
Memorando, a decisáo do Vaticano constituí um freio para o movimenlto
ecuménico.

EXCOMUNHAO

Em 1517, o Papa Leáo X, necessitando de fundos para construir a


basílica de Sao Pedro de Roma, Inlciou a pregacáo da indulgencia, absol-
vendo os católicos de seus pecados em troca de certa importancia em
dlnheiro.

Martinho Latero, o Doutor Bíblico, como era conhecido, em campanha


contra a medida, estabeleceu 95 teses, que foram afixadas na porta da
igreja do castelo de Witemberg. Excomungado pelo Papa, queimou a bula
da excomunháo em pra9a pública a 10 de dezembro de 1520. Um salvo-
-conduto imperial llvrou-o da morte na fogueira, o que permitiu a Lutero
dedicar-se á traducio da Biblia para o alemáo.

O telegrama fácilmente desperta a impressáo de que a


Igreja Católica foi, e continua sendo, infiel á sua missáo. Daí
a oportunidade de se abordarem, ñas páginas seguintes, tres
tópicos sugeridas pela noticia ácima: 1) excomunháo, 2) indul
gencia, 3) pessoa e obra de Lutero.

1. Excomunháo : que é ?

1. Excomunháo é sangáo ou censura que a autoridade da


Igreja pode infligir a um cristáo gravemente delinqüente e
contumaz, privando-o de participar da vida da Igreja, ou seja,
da Eucaristía, dos demais sacramentos, dos sacramentáis, do
culto, das deliberacóes eclesiais... Essa psnalidade atinge a
pessoa no foro externo, isto é, no seu relacionamento com os
homens, nao no foro interno — o que quer dizer: ela nao signi
fica condenacáo ao inferno ou perda da graga santificante.

— 483 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

Caso alguém seja excomungado por um delito externo do qual


ele nao tenha culpa diante de Deus, a lexcomunháo nao o torna
culpado aos olhos do Senhor.

A mais grave modalidade de excomunháo é a dos «excom-


municati vitandi» (Código de Direito Canónico, can. 2258, § 2),
ou seja, «excomungados que devem ser evitadas, ou dos quais
se devem afastar os fiéis».

Como se vé, a excomunháo é urna pena que se aplica aos


cristáos peregrinos na. térra, e sómente a estes. Também a
absolvicáo (ou a suspensáo) da excomunháo só se pode aplicar
aos membros da Igreja existentes insiste mundo. «Absolver
alguém de excomunháo» quer dizer «restitui-lo á S. Eucaristía,
aos sacramentos e atos oficiáis da Igreja», o que nao tem pro
pósito quando o cristáo já faleceu.

Transpondo estas idéias para o caso de Martinho Lutero,


vé-se que nao teria sentido a suspensáo da excomunráo que
sobre Lutero proferiu o Papa Leáo X em 3/1/1521. Essa sus
pensáo ou absolvicáo carecería de efeito, pois Lutero, tendo
deixado a vida presente, nao podcria ser devolvido á comunháo
da Igreja peregrina na térra. Deus já o julgou e lhe atribuiu
a respactiva sancáo (a Igreja se abstém de declarar algo sobre
a sorte eterna de Lutero, pois só Deus vé o fundo das conscién-
cias). O que se pode pleitear no setor do ecumenismo, é o
seguinte: caso os historiadores e teólogos tenham proferido juizo
excessivamente severo ou unilateral sobre Lutero, procurem
reconsiderar a figura de Lutero, a fim de nao a caricaturar
nem exagerar as suas falhas. Doravante, mais do que nunca,
esforcem-se os católicos e protestantes por falar sobre Lutero
com toda isengáo de ánimo e plena serenidade. Eis a auténtica
atitude ecuménica no caso. Longe de pretender entravar o
ecumenismo, a Igreja Católica o tem fomentado com carinho.

2. Eis, porém, que um fato recente parece fazer dificul-


dade a quanto acaba de ser dito:

Em 1967 o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras de


Constantinopla retiraram respectivamente a excomunháo que
Roma havia lancado sobre Constantinopla e a que Constantino
pla lángara sobre Roma em 1054, por ocasiáo do cisma bizan-

— 484 —
EXCOMUNHAO DE LUTERO MANTIDA

tino.' Nao seria éste fato um sinal de que atualmente a Igreja


Católica poderia absolver da excomunháo Martinho Lutero?

— Note-se que a excomunháo sobre Bizáncio e Roma tinha


por objeto duas sedes patriarcais, ssdes estas que ainda hoje
existem e que, por conseguinte, ainda sao sujeito e objeto de
jurisdigáo. O gesto de Paulo VI em relagáo a Constantinopla
foi justificado, pois fez que sobre a cátedra episcopal de Cons
tantinopla já nao pese a censura da excomunháo — o que é
um passo importante para que essa cátedra, por meio de seu
atual Patriarca Atenágoras e de seus sucessores, volte a comun-
gar na mesma fé e nos mesmos sacramentos com a cátedra de
Roma.

Donde se vé que nao há paridade entre a suspansáo de


excomunháo Janeada por Roma sobre Constantinopla e a ab-
solvigáo da excomunháo de Lutero já falecido.

3. Outro trago de historia poderia ser citado como obje-


Sáo ao que foi dito atrás:

Saba-se que o Imperador Henrique IV da Alemanha mor-


reu excomungado aos 7 de agosto de 1106 na cidade de Liége
(Bélgica). Em conseqüéncia da excomunháo, nao pode ser se
pultado na catedral de Espira (Alemanha), que ele mesmo
construirá. Diante do fato, o Papa Pascoal III houve por bem
absolver o Imperador defunto em 1111, a fim de que fósse se
pultado na referida catedral.
Que dizer?

— Vé-se que ésse tipo de absolvicáo equivalía simplesmente


a permitir o sepultamento dos despojos mortais do Imperador
¿?m lugar sagrado; mais nada. «Absolver» neste sentido tinha
propósito ou razao de ser. Com efeito, os despojos mortais de
Henrique eram urna realidade terrestre que estava excluida do
recinto sagrado e que podia ser conduzida (como de fato foi)
á sepultura eclesiástica mediante a absolvigáo pontificia. Nao
se dá o mesmo com Martinho Lutero, pois nao se trata atual
mente de dar aos seus despojos mortais novo sepultamento.

1 Roma tinha faculdades para impor censura ou excomunháo a Constan


tinopla, pois Roma é a sede principal, que exerce, por meio de Pedro, iurls-
dicao sobre as demals sedes. A excomunháo lancada por Consta.itinopla
sobre Roma nao tinha propósito nem validade. Todavia Paulo VI aceitou a
absolvicSo proferida por Atenágoras sdbre Roma a fim de nao reavivar dls-
cussoes e nSo entravar o ecumenismo.

— 485 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

Passemos agora ao estudo das

2. Indulgencias

Dar esmola para reoeber indulgencia significava comprar


o perdáo dos pecados?

Para responder a esta pergunta, é preciso esclarecer o que


se entende por «indulgencia», assunto, alias, já abordado em
PR 90/1967, pp. 252-261.

A teología ensina que todo pecado, além de ser urna con-


tradigáo á lei de Deus, marca sempre o pecador, aumentando
néle a concupiscencia ou deixando-o mais propenso á desordem.

Por conseguinte, para se ver livre do pecado, o cristáo


nosessita nao sómente de pedir perdáo a Deus e obter a absol-
vicáo (o que se faz no sacramento da Penitencia), mas também
precisa de cancelar os resquicios do pecado (a desordem moral)
que néle permanecen!.

Os antigos cristáos, conscientes disto, empreendiam corajo


sas paniténcias, passando quarenta ou mais dias em jejum,
revestidos de cilicio, em atitudes humildes, antes de receber a
absolvigáo sacramental.

Esta praxe, que vigorou até o século VI, nao pode ser
sustentada, em razáo de seu excessivo rigor. A Igreja, portante,
foi comutando a satisfagáo sacramental: em vez de impor urna
quaresma de jejum, propunha Ela ao penitente urna peregrina-
gáo ou oragóes especiáis ou esmolas... e enriquecía de modo par
ticular tais obras (mais brandas e toleráveis) com os méritos
de Cristo. Com efeito; a Igreja é a administradora dos tesouros
da Redengáo adquirida por Cristo; em conseqüéncia, Ela podia
(e pode) dizer: «tal ou tal obra poderá ter efeito equivalente a
quarenta ou cem... dias de jejum ou penitencia pública, porque
associo a essa obra, de modo especial, os méritos que Cristo
adquiriu para o género humano». Em conseqüéncia, a expiagáo
que o penitente nao prestaria pela prática de severas mortifica-
góes, ele a obteria por especial aplicagáo — gratuita e indul
gente — dos méritos de Cristo. Assim se instituiram as indul
gencias na Igreja. Vé-se, pois, que as indulgencias ou as obras,
as preces, as esmolas indulgenciadas eram maneiras de se obter
nao o perdáo dos pecados, mas o perdáo da satisfagáo devida
aos pecados já perdoados.

— 486 —
EXCOMUNHAO DE LUTERO MANTIDA

É preciso também notar o seguinte: para lucrar indulgen


cia, o cristáo nao faria dura penitencia, mas ao menos deveria
ter em seu intimo o horror ao pecado e o amor a Deus que os
antigos cristáos tinham quando empreendiam urna quarentena
ou mais dias de jejum. As disposigóes interiores do cristáo é
que dáo significado e valor as suas obras exteriores (jejum, es-
molas, preces...); se faltam essas disposigóes interiores, o
cristáo pode realizar obras indulgenciadas, mas nao lucra as
respectivas indulgencias. Compreende-se, pois, que nao é fácil
lucrar indulgencia; estas nada tém que se compare ao automa
tismo ou á magia.

O dinheiro de urna esmola indulgenciada nao compra o


perdáo dos pecados nem adquire algum outro bem espiritual,
mas é mero símbolo ou expressáo de arrependimento e amor;
estes sao os dois elementos decisivos para o homem no seu
relacionamento com Deus; ninguém compra, a troco de dinheiro
ou bsns materiais, o perdáo de suas falhas. — Estas afirmacóes
bem mostram quanto a doutrina da Igreja está longe de qual-
quer tipo de mercantilismo.

A praxe das indulgencias tevc grande voga nos séc. XV e


XVI, quando o povo cristáo se deleitava e afervorava nessa
forma de pisdade. Em 1476, o Papa Sixto IV publicou urna
bula em que declarava que as indulgencias poderiam ser apli
cadas em favor das almas do purgatorio, á guisa de sufragio-
Sufragio, isto é, á guisa de oferecimento meritorio, em vista do
qual o Senhor Deus poderia conceder a grac.a de um amor cada
vez mais puro e ardente as almas do purgatorio.

Foi nessas circunstancias históricas que em 1514 o Papa


Leáo X proclamou a possibilidade de se lucrarem indulgencias
por ocasiáo de esmolas dadas para a construgáo da Basílica de
S. Pedro em Roma. Tal determinacáo papal se justificava do
ponto de vista teológico, como se depreiende do que foi exposto
atrás. Mas tornou-se objeto de exploragáo e abuso por parte
dos pregadores que na Alemanha a anunciaram aos fiéis. Fo-
ram ésses abusos que provocaram a reacáo de Martinho Lutero;
éste, em conseqüéncia, afixou urna lista de 95 teses contra as
indulgencias e outras práticas á porta da cápela do castelo de
Wittenberg. Deu assim inicio á rebordosa que terminaría com
o cisma do protestantismo.

Interessa agora considerar algo das circunstancias históricas


em que se desenvolveu a obra de Lutero, a fim^ijxglicarmos
a parte final do telegrama transcrito ¡

— 487
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

3. Circunstancias históricas

A proclamagáo de Martinho Lutero contra deficiencias do


comportamento dos cristáos de sua época encontrou eco ines
perado, surpreendendo o próprio autor.

Por qué?

— Em grande parte, por causa das circunstancias em que


vivia o povo alemáo dos séc. XV/XVI. Com efeito,

1) Do ponto de vista sócio-polítioo, a Alemanha era entáo


um aglomerado de cérea de 400 Estados, grandes e pequeños,
destituidos de coesáo entre si. Havia alemáes ativos e trabalha-
dores, sim, mas nao havia Alemanha.

Nesse agregado, sobressaiam dois elementos rivais: os no-


bres e as cidades. Os nobres haviam-se praticamente emanci
pado de todo Govérno central; cérea de diez familias controla-
vam a vida da nacáo, inclusive o comportamento dos baróes,
condes e duques subalternos.

As cidades opunham-se a rede do dominio dos nobres.


Ciosas de sua autonomía, cultivavam o comercio, a industria,
e tinham suas tropas de guerra assim como seus embaixadores.

Quanto ao Imperador da Alemanha, tornara-se quase só-


mente um nome. Era escolhido por sete eleitores (o rei da
Boémia, o Conde Palatino do Reno, o duque de Saxónia-Witten-
berg, o baráo de Brandenburg e tres arcebispos), que nao
tinham interésse em fortalecer o poder imperial.

Essa falta de unidade governamental prejudicava o povo


alemáo, principalmente quando outras nacóes, como a Franca
e a Inglaterra, se organizavam e centralizavam cada vez mais.
Lutero disse certa vez: «Nao há nacáo mais desprezada do que
a alema! A Italia nos chama de béstas; somos objeto da risada
da Franca e da Inglaterra; os outras países nos escarnecen!
igualmente!» Humilhada pelas divisóes e pelas exploragóes ego
ístas, a Alemanha esperava que urna voz a chamasse a tomar
consciéncia de si mesma.

Outros motivos provocavam fermentagáo e mal-estar social


na Alemanha. Com efeito; excetuada a pequeña classe dos
grandes feudatarios, os habitantos do país em geral sonhavam

— 488 —
EXCOMUNHAO DE LUTERO MANTIDA 11

com mudancas sociais. A pequeña burguesía, desde o artesáo


até o banqueiro, detestava os príncipes ou aqueles que pudessem
entravar sua liberdade. A pequeña nobreza, prejudicada pelo
esfacelamento das térras hereditarias, odiava os seus senhores
(«duques, condes, eleitores...). Quanto ao povo, vivía infeliz:
os operarios eram mal pagos, os camponeses esmagados pelos
impostes e vitimas de incursóes de bandidos; os modestos co
merciantes, marginalizados pelas grandes empresas. Para pagar
impostes e taxas, todos tinham de recorrer aos usurarios judeus,
a troco de pesados juros; muitos recaiam na seryidáo. Em
conseqüéncia, as revoltas nao cessavam desde o inicio do séc.
XV na Alemanha; as de 1461,1470,1476 e 1492 hayiam servido
de grave advertencia aos maiorais e anunciavam piores aconte-
cimentos, que se desencadearam no séc. XVI. O Cardeal Nicolau
de Cues (t 1464) predissera: «Os principes alemáes devoram
o povo, mas um dia o povo os devorará». Por conseguinte, em
torno de 1517 o povo alemáo, quase em sua totalidade, sentía a
necessidade de profundas mudancas na ordem de coisas vigente.

2) Do ponto de vista religioso, os cristáos na Alemanha,


como alias também em outros países, se ressentiam de fainas.
Havia, sem dúvida, piedade e fervor no povo, mas as expressóes
dessa religiosidade eram pouco esclarecidas: a ignorancia reli
giosa era grande, as superstigóes pululavam; exagerava-se o
culto idos santos e das reliquias. Os clérigos nem sempre leva-
vam vida edificante; as familias nobres impeliam seus filhos
para cargos eclesiásticos de relevo ou para os mosteiros; ésses
jovens, sem vocacáo eclesiástica, tornavam-se assim, sem o
saber e querer, responsáveis pelas sortes da Igreja; em Colonha
(a «Roma alema»), numa populacáo da 50.000 habitantes, di-
ziam haver 5.000 clérigos; estes, para viver, tinham que se
.dedicar a tarefas pouco eclesiásticas — o que contribuía para
baixar o nivel moral respectivo.

Note-se também que o catolicismo na Alemanha era muito


diferente do da Italia ; enquanto éste era dado a práticas exte
riores exuberantes, a fé na Alemanha era mais sobria em
suas demonstragóes, mais idealista e sonhadora. Havia também
forte rivalidade entre habitantes ida Germánia e habitantes
da península itálica, rivalidade que datava do período de lutas
entre o Sacerdocio e o Imperio no séc. XI; o nacionalismo
alemáo se insurgía fácilmente contra tudo que tivesse sabor
itálico, até mesmo no plano da Religiáo. Em conseqüéncia, o
brado de Lutero : «Germánia, desperta !» havia de encontrar
ecos e aplausos efusivos na sua época.

— 489 —
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

Foi nesse cenário que Lutero entrou em ac.áo ; era urna


situagáo geral extremamente propicia para um clamor revolu
cionario ; éste poderia ser inspirado por motivos religiosos, mas
nao ficaria no plano da fé apenas; deveria naturalmente des
pertar os ressentimentos sociais, políticos e nacionalistas do
povo alemáo. O estopim aceso por Lutero havia de desencadear
fácil e violento incendio nao só na Alemanha, mas nos territo
rios vizinhos, que se ressentiam de males semelhantes.

Compete-nos agora elucidar a alusáo ao «salvo-conduto


imperial» que terá libertado Lutero da morte na fogueira.

4. Um «salvo-conduto imperial»

Após a proclamacáo das teses de Lutero, registraram-se


ardorosas conversagóes entre o frade agostiniano (apoiado por
grupos diversos da populagáo alema), e as autoridades de
Roma. Urna comissáo presidida pslo Cardeal Caetano de Vio
examinou quarenta e urna proposigóes extraídas dos escritos
de Lutero e as declarou heréticas. Em conseqüéncia, o Papa
Leáo X publicou a bula «Exsurge Domine» aos 15/6/1520,
em que mandava destruir os escritos do heresiarca, lhe proibia
pregar e ensinar teología, e lhe dava um prazo de dois meses
para se retratar ; caso isto nao ocorresse, seria excomungado.

Lutero acolbau tal bula com sentimentos contraditórios;


de um lado, mostrava-se penalizado; de outro lado, exprimiu-se
com injurias, chamando o Papa «Anticristo». No dia 10/12/1520,
reuniu seus amigos diante de urna das portas de Wittenberg e
entregou ás chamas o texto da bula assim como um exemplar
do Direito Canónico ; no dia seguinte, declarou que éste ato era
simbólico, pois quem devia ser queimado era o próprio Pontífice.

A ruptura estava consumada. Aos 3/1/1521, nova bula


(iniciada pelas palavras «Decet Romanum Pontificem») decla
rou Lutero excomungado, ficando sujeitas a interdito as cida-
des que lhe dessam refugio. A evolucáo dos acontecimentos seria
doravanle cada voz mais vecmente e dolorosa, pois os interésses
políticos se associariam á quesláo doutrlnária e disciplinar le
vantada por Lutero ; fatóres religiosos e civis estariam simul
táneamente em causa.

Ñas circunstancias que se haviam criado, tocava ao poder


imperial intervir ; Carlos V fóra recentemente (23/10/1520)
sagrado Imperador da Alemanha e da Espanha. Colocaría ele

— 490 —
EXCOMUNHAO DE LUTERO MANTIDA 13

a espada a servigo da Igreja ? Carlos V era profundamente


católico ; já na Renánia, nos Países Baixos, em Louvain e Liége,
dera execucáo a determinagóes papáis. Via, porém, que na Ale-
manha a situagáo se tornava cada vez mais difícil por causa
da resistencia que lhe oporiam os nobres e príncipes favoráveis
a Lutero. Caso usasse medidas rigorosas, poderia atear o fogo
a um depósito día pólvora. Resolveu, pois, ñáo precipitar os acon-
tecimentos, mas confiar á próxima assembléia parlamentar de
Worms a tarefa de legislar sobre o caso «Martinho Lutero».

Em Worms, os parlamentares puseram-se a estudar o


assunto. Ouviram o legado papal Aleandro pedir a aplicacáo
da bula e o banimento de Lutaro. O Imperador Carlos dispu-
nha-se a agir neste sentido, quando o Eleitor da Saxónia, Fre-
derico o Sabio, se insurgiu. Carlos V mandou entáo chamar
Lutero a Worms, a fim de explicar sua posigáo ; um emissário
imperial foi, portante, levar a Martinho Lutero um salvo-con-
duto para que pudessa viajar.

O frade contestatario aceitou a oportunidade ; sentia-se


impelido por entusiasmo quase febril, que enfrentaría a própria
morte em prol da sua causa ; os populares o apoiavam, de sorte
que, ao chegar perto de Worms, encontrou enorme cortejo des
tinado a recebé-lo e aclamá-lo.

Diante do Imperador e da assembléia parlamentar, Lutero


insistiu em seus pontos de vista : «Retratar o que quer que
seja, nao o posso nem o quero !■ Que Deus me ajude !» Após
tres sessóes, estava encerrado o julgamento : Lutero deveria
ser banido do Imperio! O Imperador deu-lhe ordem de se afas-
tar de Worms quanto antes ; o sau salvo-conduto ainda era
válido por vinte dias.

Quem, porém, haveria de executar o decreto de banimento?


— O príncipe Frederico da Saxónia, o Sabio, ao qual Lutero
estava imodiatamente sujeito por motivos día residencia. Toda
vía Frederico rejeitava essa perspectiva e, por isto, concebeu
um estratagema : aos 4 de maio de 1521, quando Lutero via-
java pela estrada de Worms a Wittenberg com dois amigos,
urna patrulha de cavaleiros assaltou o veículo do frade, retirou
Lutero e o arrastou para a floresta mais próxima. Na noite
seguinte, levaram-no para o castelo de Wartburg, oculto nos
bosques e de difícil acesso. Lá o reformador, trajando-se como
sa fóra o «Cavaleiro Jorge», de espada á cintura, colar de

— 491 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

ouro ao pescoco, cábelo e barba longos, para nao ser reconhe-


cido, devia permanecer dez meses.

Durante ésse período, que foi de duras lutas de consciéncia


para Lutero, o frade recluso traduziu a Biblia para o alemáo.
A versáo de Lutero tornou-se um monumento da literatura
germánica ; todavía nao era sem precedentes. Desde a invencáo
da imprensa por Gutemberg (1450) até 1520, 156 edigóes lati
nas da Biblia haviam sido publicadas ; 17 traducóes alemas
haviam sido impressas; quanto aos manuscritos da Biblia data
dos dessa época, contam-se mais de 100.

Finalmente a 1» de marco de 1522 Lutero deixou o castelo


de Wartburg, após ter escrito a Frederico da Saxónia urna
carta em que Ihe exprimía suas intengóes: nao era sob a tutela
de um príncipe que ele quería estar, mas, sim, sob a de um
Mestre muito mais elevado.

Doravante Lutero seria cada vez mais obrigado a atender


aos apelos de sua gente, de sorte que a reforma religiosa se
tornaría, de certo modo, causa nacional, civil e popular da
Alemanha. Croto Rubiano, por exemplo, assim interpelava Lu
tero : «Martinho, costumo chamar-te Pai da Patria. És digno
de que ergam para ti urna estatua de ouro, tu que, antes dos
outros, busasfce vingar um povo ultrajado por erros crimino
sos !» Lutero, como se diz, terá respondido : «Nasci para os
meus alemáes ; é a éles que eu quero servir !»

Os elementos de historia que acabam de ser apresentados,


lexplicam a noticia do telegrama citada no inicio déste artigo
(p. 5 [483]), noticia que poderia ter sido mais precisa.

5. E a pena de morte ?

A pena de morte era adotada pelo antigo Direito Romano;


foi aplicada pela justica civil da Idade Media. Até o surto da
heresia catara ou albigense (séc. XI), as autoridades eclesiás
ticas nao queriam fósse introduzida nos prooessos em que a fé
ou a religiáo estivesse em causa. Contudo, após as veementes
demonstracóes dos cataros, alguns canonistas comegaram a
julgá-la oportuna, apelando para o exemplo do Imperador Jus-
tiniano, que no séc. VI a infligirá aos maniqueus. Em 1224, o
Imperador Frederico II decretou fósse aplicada aos herejes na
Lombardia. Esta praxe se generalizou ; já que na época era
usual o recurso & morte pelo fogo, era éste que as autoridades

— 492 —
EXCOMUNHAO DE LUTERO MANTIDA 15

impunham aos condenados. As consciéncias dos homens da


Idade Media nao concebiam escrúpulos a tal respeito ; o ssu
zélo pela integridade da fé os levava a aceitar tranquilamente
a morte dos herejes pelo fogo ; talvez nem sequer entendessem
outro modo de debelar os erros; é preciso, pois, entender tal
praxe dentro do respectivo contexto histórico, e nao á luz da
mentalidade moderna.

De resto, as execugóes capitais na Idade Media nao foram


táo numerosas como se poderia crer. Infelizmente faltam-nos
estatisticas completas sobre o assunto: consta, porém, que o
tribunal de Pamiers, de 1308 a 1324, pronunciou 75 sentengas
condenatorias, das quais apenas cinco mandavam entregar o
réu ao poder civil (o que equivalía á morte); o Inquisidor Ber
nardo de Gui em Tolosa, de 1308 a 1323, proferiu 930 sentengas,
das quais 42 apañas eram capitais ; no primeiro caso, a propor-
gáo é de 1/15 ; no segundo caso, é de 1/22.

Estes dados completam os esclarecimentos a dar no tocante


as últimas noticias relativas a Lutero e ao ecumenismo. O mo
mento presente é, por graga do Espirito Santo, um momento
de prospectiva e de construgáo ; o passado interessa principal
mente na medida em que ajuda o homem contemporáneo a
procurar viver mais plenamente o presente e o futuro.

Como se compreende, a bibliografía a respeito é muito vasta. Limita-


mo-nos a citar

Breno Schuman-Jerónimo Jerkovic, "Lutero 450 anos depois". Vozes


de Petrópolis 1967.

Daniel-Rops, "L'Église de la renaissance et de la reforme". París 1955.

K. Bihlmayer-H. Tuechle, "Historia da Igreja", vol. 3. Sao Paulo 1965.

A. Fliche-E. Jarry, "Histoire de l'Église", vol. 16: "La crise religieuse


du XVIe. slécle". París 1950.

Hubert Jedin, "Luther (Martín)", em "Lexikon (ür Theologie und Kirche",


t. VI, cois. 1228-1230.

J. Paquier, "Luther (Martín)", em "Dictionnaire de Theologie Catholique"


vol. XVII, cois. 1146-1335.

M. Bendiscioli, "Lutero (Martirio)", em "Enciclopedia Cattoiica" Vil,


cois. 1713-1727.

Varios, "Chrétiens en dialogue". París 1964.

Sobre a Inqufsicio em especial, veja-se PR 8/1957, pp. 23-33.

— 493 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

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siccío. Dedicados e antigos colaboradores (alguns desde
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Sepa propagandista da sua revista. Procuraremos corres
ponder com exatidáo.
Gratos pela colaborando, ficamos sendo a sua equipe de
PR
Questdes delicadas:

que sentido tém as preces pelos defuntos?


e as missas pelos morios?
e as esportillas?

Em sfntese: Os sufragios pelos modos se justifican) pelo fato de


que a morte ffslca n&o extingue os vínculos que unem entre si os discípulos
de Cristo. Estes estSo no céu, na térra, e no purgatorio unidos entre si por
urna comunhio de bens sagrados, que dá origem á realldade da "comunhao
dos santos". Em conseqüencla, os fiéis peregrinos na térra podem oferecer
a Deus preces e méritos a fim de que o Senhor conceda ás almas do pur
gatorio urna disponibllldade cada vez malor para o amor e um repúd.o cres-
cente a toda Incoeréncla ou amblgüidade.

A S. Mlssa, sendo o sacrificio da RedencSo perpetuado por Cristo unido


á Igreja, é o melhor meló de sufragar os morios. Ela pode obter grasas
copiosas tanto para os vivos como para os defuntos. Por Isto desde os prl-
meiros séculos se celebra a S. Missa em sufragio dos fiéis falecidos.

O costume de se dar urna esmola ou espórtula para se obter a cele-


bracáo da Missa por determinada intenso deve-se ao fato seguinte: desde
os prlmeiros decenios os crlstSos ofereclam no ofertorio da Missa a materia
do rito sagrado (pao, vinho), além de dádivas naturais (lelte, frutas, óleo,
mel...). Esta oblacüo de dávidas naturais fol substituida pela oferta de
dinhelro, já que éste é mals manuseável. A oferta de dinheiro simbolizava
sempre a fé e a generosldade especiáis do oferente. Éste, em conseqüéncia,
podía esperar maiores frutos da celebracáo da Missa; dando sua esmola
a fim de mals participar da S. Mlssa, o oferente indicava ao sacerdote a
intencfio pela qual ele (padre) haverla de celebrar a S. Missa. Esta praxe
é plenamente justificada, desde que nao se entenda a esmola (espórtula)
como prego da S. Missa, mas, sim, como expressáo da partlclpacáo do
doador na celebracSo e, por consegulnte, nos frutos da S. Missa.

A S. Igreja sempre culdou de que se removesse dessa praxe toda es


pecie de simonía. Hoje, porém, pensam as autoridades eclesiásticas em
substituir as espórtulas do culto por outro tipo de partlclpacáo dos fiéis no
culto e no sustento da Igreja, a fim de se evltarem eventuais mal-entendidos
suscitados pelas espórtulas.

Resposta: Hoje em dia, quando se renova a piedade da


Igreja e se revisionam costumes antigos, póe-se em dúvida, por
vézes, a razáo de ser dos sufragios e, em particular, da Missa

— 495 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

pelos defuntos. O fato de que urna esportilla (ou tun hono


rario) 1 é geralmente anexa á celebragáo da S. Missa, concorre
para suscitar em muitas pessoas certas questóes sobre a razáo
de ser e a legitimidade das esportillas e, de modo especial, da
S. Missa pelos mortos. — Eis por que, ñas páginas que se
seguem, voltaremos nossa atensáo para o assunto, conside
rando a condicáo dos defuntos no purgatorio e nosso relaciona-
mento com éles.

A propósito do purgatorio já foram publicados artigos em PR 126/1970,


pp. 245-257; 8/1957, pp. 9-12 e 14/1959, pp. 66-72. As pessoas que nao
possam ou nao queiram ler todo o artigo que se segué, sugere-se que o
percorram ao menos a partir do subtitulo 3, p. 23[501].

1. Vida postuma e purgatorio

1. A Escritura dá a entender que mesmo os homens que


morram com o coraeáo voltado para Deus, podem nao entrar
imediatamsnte na posse do Senhor, mas talvez airada necessitem
de urna preparagáo ou purificacáo postuma.

Um dos testemunhos mais explícitos a ésse respeito é o


de 2 Mac 12, 40-46. Judas Macabeu encontrou ñas vestes de
seus companheiros israelitas, mortos cm guerra, ídolos que
ésses soldados num gesto de fraqueza haviam aceito de povos
pagaos. Judas entáo e os seus puseram-se a orar para que os
defuntos obtivessem o pleno perdáo de seu pecado. Mais.: fize-
ram urna coleta de 2.000 dracmas, que enviaram a Jerusalém,
a fim de que lá se oferecesse um sacrificio expiatorio por tal
pecado. O autor sagrado acrescenta a esta noticia o seguinte
comentario: «Essa obra (a coleta) foi digna e santa, inspirada
pela crenca na ressurreicáo. Pois, se Judas nao esperasse que
os mortos ressuscitariam, teria sido váo e supérfluo orar por
éles. Acreditava que urna bela recompensa aguarda os que
morrem piedosamente. Era éste um pensamento santo e pie-
doso. Por isso mandou oferecer um sacrificio expiatorio para
que os mortos fóssem livres das suas faltas».

Éste texto já foi comentado em PR 126/1970, pp. 246s,


assim como os do Novo Testamento, que costumam ser aduzi-

1 Honorario é o nome que comegou a ser dado outrora á rsmuneracSo


correspondente a um servigo nobre. Certos trabalhos n3o bramáis nao eram
pagos por salarlo, mas honrados mediante especial retribuicáo a quem os
prestava.

— 496 —
PRECES E MISSAS PELOS DEFUNTOS 19

dos para fundamentar a doutrina do purgatorio: 1 Cor


3,10-16 ; Mt 5, 25s.

2. Fazendo eco á constante doutrina da Tradicjio e do


magisterio da Igreja, o Concilio do Vaticano n afirmou explíci
tamente tres estados em que se possam encontrar os discípulos
de Cristo ; 1) o de peregrinagáo na térra ; 2) o de purificagáo
postuma; 3) o de glorificagáo no céu, conseqüente da visáo
de Deus face-a-face:

"Até que o Senhor venha na sua Majestade..., alguns dos seus dfeci-
pulos peregrlnam sobre a Ierra; outros, Já paseados desta vida, estfio-se
purificando, e outros vivem já glorificados, contemplando claramente o pro-
prlo Deus, uno e trino, tal qual é" (ConsL "Lumen Gentlum" n? 9).

Embora se achem em situacóes diversas (em via de con-


sumagáo ou consumados), os fiéis constituem urna só grande
familia, ou seja, «a comunháo de todo o Corpo Místico de
Jesús Cristo» (ib. n» 50), pois «todos os que sao de Cristo,
tendo o seu Espirito, formam urna só Igreja e n'Éle estáo
unidos entre si» (n* 49). A morte nao acarreta interrupcáo
da comunháo eclesial; ela nao extingue a comunháo vital exis
tente entre os fiéis peregrinos na térra, os irmáos que já se
encontram na gloria celeste, e aqueles que estáo ainda a puri-
ficar-se após a morte (cf. ib. n' 51). Ao afirmar esta propo-
sigáo, o Concilio do Vaticano II apela explícitamente para
os Concilios de Nicéia II (787), Florenga (1239-1444) e Trento
(1545-1563).

3. Quais seriam as condigóes das almas dos defuntos que


estáo no purgatorio? Como se pode explicar ou, de algum
modo, ilustrar o purgatorio?

A resposta procederá por partes :

a) Dissipe-se toda concepgáo de que o purgatorio está


sujeito as dimensóes de espago e tempo. O purgatorio é, sem
dúvida, urna realidade, todavía nao ligada a topografía e cro
nología. O Papa Alexandre VH (1655-1667) rejeitou a opiniáo
segundo a qual ninguém fica mais de vinte anos no purgatorio;
intencionava assim remover a idéia de duragáo cronológica do
purgatorio. Neste, o que conta é o grau de intensidade, respon-
sabilidade e profundidade dos atos da criatura.

b) Em termos mais positivos, diga-se:

— 497 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 143-144/1971

As almas do purgatorio estáo na paz e no amor de Deus ;


a sua sorte está definitivamente decidida, pois optaram pela
comunháo com Deus e com os homens retos. Todavía elas ainda
nao estáo plenamente aptas para o coloquio direto com Deus
contemplado face-a-face. Isto se entende pelo fato de que
mesmo as pessoas mais retas aquí na térra sao constantemente
ameacadas pela concupiscencia e o pecado: indolencia, negli
gencia, incoeréncia, distracóes, infidelidade, dureza de coragáo,
hesitagáo, mesquinhez, egoísmo acompanham constantemente
os atos do homem neste mundo, tendendo a contaminá-los. A
psicología idas profundidades dá a saber que essas tendencias
nem sempre sao conscientes, mas muitas vézes atuam no nosso
subconsciente ou no inconsciente. Nao raro, é a partir do
desejo mesmo de fazer o bem que o homem declina para o mal,
pois ele nem sempre é capaz de sustentar a justa medida e o
equilibrio: por exemplo, querendo beneficiar a quem precise,
pode alguém (talvez inconscientemente) exercer (dominio inde-
vido sobre ésse seu irmáo.

c) Leve-se em conta também que, mesmo após haver re-


cebido o perdáo de seus pecados, o homem fica sendo respon-
sável pela desondem que o pecado geralmente acarreta para o
próximo e o mundo. As palavras e as acoes de um homem tém
freqüentemente dimensóes muito mais ampias do que as do
momento presente ; seus efeitos escapam as previsóes e ao
controle de quem as produz. Nao é raro que no decorrer de
sua peregrinagáo terrestre o homem deixe marcas de sua ati-
vidade que continuaráo atuantes mesmo depois da morte do
respectivo sujeito.

d) Estas reflexóes dáo a ver quanto é difícil alguém, nos


anos que passa na térra, chegar a ser totalmente penetrado
pelo amor de Deus, de modo a estar em condicóes de, logo
após a morte, desfrutar face-a-face a presenga de Deus; pode-se
admitir que muitos homens (mesmo entre os que sao gene
rosos) encerram seus dias na térra com tendencias ainda des
agradas e contraditórias; o amor de Deus e a Deus tiáo se
implantou néles até as últimas conseqüéncias, nao penetrou
até o fundo ou o mais íntimo de sua personalidade.

Ora, passando pela morte, o homem toma profunda cons-


ciéncia do que Deus para ele deve significar. Em conseqüencia,
nao pode deixar de experimentar profunda dor por verificar
que ainda nao está plenamente em condicóes de sustentar face-
-a-face a presenca de Deus. O amor existente nessa criatura

— 498 —
PRECES E MISSAS PELOS DEFUNTOS 21

faz com que sinta quáo amargo e doloroso é ceder á negligencia


e ¡a incoeréncia frente a Deus. Ésse amor entáo, após o fim
da peregrinagáo terrestre, deverá penetrar até os mais pro
fundos recantos do respectivo sujeito; deverá queimar todo res
quicio de egoísmo, mesquinhez, covardia, egocentrismo, a fim
de abrir por completo a criatura ao Criador, habilitando-a a
amar no sentido puro e pleno da palavra. Essa tarefa toma o
nome de purificacáo ou purgatorio; ela se faz ora com mais,
ora com menos intensidade, de acordó com o grau de arraiga-
mento do amor próprio e do egoísmo com que o respectivo
sujeito termina a vida presente. Tal processo é simultáneamente
doloroso e feliz: doloroso, porque, a medida que o amor se
purifica, mais senté ainda nao poder fruir face-a-face da visáo
de Deus; feliz, porém, porque a crescente proximidade de Deus
nao pode ideixar de ser extremamente jubilosa.

Exprimindo tal realidade em termos precisos de teología


e direito, o Concilio de Trento em 1547 fez importantes decla-
ragóes. Rejeitou, por exemplo, a sentenca segundo a qual «a
todo pecador penitente que tenha recebido a graca da justifi-
cacáo, é de tal modo pendoada a ofensa e desfeita e abolida a
obrigacáo de pena eterna que nao lhe fica pena temporal a
padecer, ou neste mundo ou no outro, no purgatorio, antes
que lhe possam ser abertas as portas para o reino dos céus»
(Denzinger-Schónmetzer, Enquiridio 1580 [840]). O Concilio
de Trento prescreveu aos bispos, «fizessem que os fiéis mante-
nham e creiam a sá doutrina sobre o purgatorio» e «sejam
excluidas das pregagóes populares á gente simples as questóes
difíceis e sutis e as que nao edificam nem aumentam a piedade.
Igualmente nao seja permitido divulgar nem discorrer sobre
assuntos duvidosos ou que trazem a aparéncia de falso. Sejam
ainda proibidas como escandalosas e prejudiciais aquelas coisas
que tém em vista provocar a curiosidade ou que tém o sabor
de superstigáo ou torpe lucro» (Denz.-Sch6nm. 1820 [983]).

Destas palavras depreende-se que o Concilio de Tiento foi


sobrio e reservado nos seus pronunciamentos acerca rio pur
gatorio; procurou, sim, evitar que se confunda a doutrina da
fé com expressóes da fantasia popular.

É preciso agora investigar as relagóes dos fiéis peregrinos


na térra com os do purgatorio.

2. Comunhoo dos Santos

O texto de 2 Mac 12 incutia a importancia da oracáo dos

499
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 143-144/1971

vivos pelos defuntos. Os textos da mais antiga Tradicáo da


Igreja e da Liturgia traduzem a convicgáo de que os vivos
devem orar por seus irmáos defuntos. Em última análise, esta
proposigáo se deriva da consciéncia ás que existe a «comunháo
dos santos»: esta implica estrita solidariedade e comunicagáo
entre os fiéis no plano da graga, de tal modo que as obras e as
omissóes, a palavra e o silencio, o amor e o desamor de um
podem afetar os outros ; Sao Paulo compara tal solidariedade
com a que existe entre os membros de um Corpo, cuja Cabega
no caso seria Cristo (cf. 1 Cor 12). Na verdade, Deus quer le
var salvagáo a uns mediante outros. Éste relacionamento nao
é extinto pela morte física ; os vinculos existentes entre os
fiéis peregrinos na terra e os defuntos transcendem o plano
meramente biológico. Desta verdade se segué que, assim como
os homens podem ser úteis uns aos outros enquanto peregrinam
sobre a térra, também os vivos podem servir a seus irmáos
falecidos.

Como o fazem ?

Fazem-no, oferecendo a Deus suas preces e seus méritos,


a fim de que as almas do purgatorio sejam mais e mais pene
tradas pelo amor de Deus, ou a fim de que o Senhor intensi
fique ñas almas dos defuntos a disponibilidade para o amor e
o repudio cada vez mais vivo a toda incoeréncia e ambigüi-
dade, incoeréncia e ambigüidade que infelizmente os homens
váo carregando em si aqui na terra, porque sao atitudes por
vézes cómodas e facéis. Nao se diga, porém: «os fiéis na terra
oram a fim de que Deus abrevie o estágio das almas no pur
gatorio», pois neste nao há duragáo, nem sucessáo de días e
noites. As preces e os méritos dos vivos pelos defuntos sao
aceites por Deus e aplicados as almas do purgatorio segundo
criterios que sómente a Sabadoria Divina conhece ; a Igreja
militante na térra nao tem jurisdigáo sobre as almas dos de
funtos; por isto Ela nao pode proferir sentenga (absolver ou
nao absolver) sobre tais almas; conseqüentemente as preces
e os méritos que Ela oferece em favor dos fiéis falecidos, tomam
o nome de sufragios.1

A maneira mais eficaz de sufragar as almas do purgatorio


é o oferecimento do S. Sacrificio da Missa pelas mesmas. A

i A palavra "sufragio", na llnguagem civil, significa "voto, expressáo da


vontade de alguém, opinlfio, parecer". Dal tomar, na linguagem eclesiástica,
o sentido de "oracfio, prece".

— 500 —
PRECES E MISSAS PELOS DEFUNTOS 23

S. Missa é o sacrificio do Calvario perpetuado sobre os altares


e oferecido por Cristo e pela Igreja todos os dias, para que os
frutos da Redencáo sejam aplicados aos fiéis através dos sé-
culos. — Pergunta-se, porém: a maneira de aplicar os frutos
da S. Missa aos fiéis defuntos nao será de índole comercial e
amoníaca? Daí o novo subtítulo que agora se propóe :

3. Aplicado da S. Missa pelos defuntos

Na exposicáo do tema, procedamos por etapas :

3.1. Aplkasóo da $. Missa

Cada S. Missa, sendo o sacrificio da Cruz oferecido por


Cristo com a Igreja ao Pai, produz ricos frutos aplicáveis aos
homens. Por conseguirte, a Igreja e, de modo especial, o re
presentante imediato da Igreja — o sacerdote celebrante da
Missa — podem fazer a aplicacáo désses frutos a intengóes
determinadas, como, por exemplo,

— honrar e glorificar a Deus por todos os beneficios con


cedidos aos homens ou... por haver concedido a tal ou tal
santo as gracas da santificacáo,

— pedir a Deus Pai queira conceder semelhantes gragas


aos fiéis peregrinos na térra,

— conceder a tal ou tal alma que se suponha estar no


purgatorio, o dom de um amor cada vez mais conseqüente e
intenso...

Os cristáos herdaram do antigo povo de Israel o costume


de orar pelos fiéis defuntos. Éste costume foi iluminado pela
Revelagáo de Cristo. Os cristáos nao oravam pelos mártires, mas,
sim, pelos outros irmáos falecidos, pois os mártires, tendo dado
prova de amor milito intenso, eram considerados como parti
cipantes da visáo de Deus face-a-face logo após a morte. As
preces éram oferecidas a Deus em favor dos irmáos que pudes-
sem ter falecido com amor aínda mesclado de egoísmo ou ten
dencias desregradas ; tais irmáos estavam no estado de purifi-
cagáo postuma ou no purgatorio.

A aplicagáo dos frutos da S. Missa há de ser profundamente


agradável a Deus, ja que o sacrificio de Cristo perpetuado sobre
os altares na Eucaristía é o ato central do Cristianismo. Note-se

— 501 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 143-144/1971

também que tal aplicagáo pode ser feita independentemente de


qualquer esportilla ou oferta monetaria ; ela nao está por si
ligada a dmheiro, pois nao é comerciável nem vendável.

Leve-se agora em conta outro elemento importante.

3.2. Esportillas ou honorarios

1. Nos primeiros decenios do Cristianismo, por motivos


diversos, era costume só se celebrar urna S. Missa em cada
igreja por domingo ou por dia. Entáo todos os fiéis manifes-
tavam sua participacáo na Missa oferecendo o pao e o vinho
do rito sagrado ou outras dádivas naturais (trigo, uvas, óleo,
leite, mel, frutas...) destinadas ao sustento do clero e dos ir-
máos necessitados. Os cristáos se empenhavam generosamente
por fazer sua oblagáo na S. Missa.

Aos poucos o número de presbíteros e de fiéis foi-se au


mentando, de sorte que urna só Missa nao bastava em cada
igreja para satisfazer as necessidades e á devogáo do povo de
Deus. Em conseqüéncia, tornou-se impossivel que todos os fiéis
oferecessem sua oblagáo em cada S. Missa. Mais aínda: o
número de celebracóes eucaristicas se foi aumentando para
atender a intencóes próprias de um cristüo ou de urna comuni
dade em particular: sepultamento ou aniversario de um de-
funto, agáo de gragas por beneficios recebidos, súplicas espe
ciáis ... As Missas assim celebradas eram chamadas votivas.
Por ocasiáo destas, os fiéis interessados é que ofereciam a ma
teria do sacrificio eucarístico, ao mesmo tempo que indicavam
a intengáo pela qual seria oferecida a S. Missa.

2. Quanto á oferta de dinheiro na igreja, pode-se notar


o seguinte:

Ñas igrejas antigás havia geralmente um tronco ou um


cofre destinado a receber as esmolas dos fiéis que beneficiarían!
os ministros do altar e os pobres da comunidade edesial. Aínda
no século IV, S. Agostinho, fazendo eco a testemunho de bis-
pos e escritores anteriores, atesta o costume de se darem es-
molas em dinheiro no cofre de cada igreja.

Aos poucos as oblagces de dons naturais feitas por ocasiáo


da S. Missa foram sendo, em parte, substituidas pela oferta de
dinheiro. Os motivos para tanto foram varios: era mais fácil
manipular o dinheiro do que pao, vinho, óleo, leite, frutas (sim-

— 502 —
PRECES E MISSAS PELOS DEFUNTOS

plificavase e facilitava-se assim a procissáo de ofertorio)- o


número de comunhóes foi diminuindo a partir do sáculo IV 'de
modo que se tornaram desnecessárias grandes ofertas de pao
e vmho (aos pobres da paróquia se poderia atender mediante
dmheiro, e nao necessariamente idons naturais). S. Agostinho
refere que, em certos lugares, se Ievavam quantias de dinheiro
ao altar por ocasiáo do ofertorio das Missas por defuntos.

A principio, essas oblacóes monetarias destinavam-se a


toda a comunidade paroquial, e nao ao sacerdote pessoalmente
A partir do sáculo VIH, há testemunhos explícitos de que a
esmola era dada ao sacerdote celebrante, para que éste apli-
casse a S. Missa pelas intengóes do doador. Assim, por exemplo,
o artigo 42 da Regra dos Cónegos de S. Crodegango, bispo de
Metz (743-766), autorizava o sacerdote a receber urna esmola
(e)eemosyna) por sua Missa (pro missa sua). Há indicios,
porém, de que esta praxe é mais antiga, indicios recolhidos por
De Berlendis, «De oblationibus ad altare», part. n § 2, Veneza
1743, pp. 289-299. Vejam-«e os seguintes :
S. Beda Veneravel (t 735) télete que, em 679 aproximadamente, aos
fiéis fora da MÍ3sa davam aos sacerdotes urna esmola a fím de que cele-
brassem a Eucaristía para Impetrar determinada graca (espiritual ou tem
poral).

S. Jofio; o Esmoler, blspo de Alexandrla (610-616), a pedido de um pal


de familia, celebrou urna S. Mltea para obter a volta de seu filho afastado
de casa (graca esta que, realmente, fol obtida).

Ultrogota, espOsa do reí Qulldeberto (511-518), deu «¡molas junto ao


túmulo de S. Martlnho de Tours, pedlndo a celebracáo de Missas.

S. Bento (t 547) por suas próprlas maos deu a um sacerdote urna es-
mola destinada á celebracao de urna Missa por duas monjas ("Diálogos"
11 23)*

Segundo S. Eplfanio (t 403), um Judeu convertido em 347 entregou


dinheiro ao blspo que o batlzava, dizendo-lhe: "Oferece por mim".

No sáculo XI o costume de dar ao sacerdote celebrante urna esmola


era multo comum, pols até mesmo as crianzas o conheclam. As crónicas
narram, por exemplo, o segulnte episodio: S. Pedro Damiao, aínda menino,
tendo encontrado urna moeda, apressou-se por levá-la a um sacerdote, a
fim de que este celebrasse urna Missa pelo repouso da alma de seu pal íale-
cldo ("Vita Sanctl Petrl Damián! per Joannem monachum elus dlscloulum".
c. II PL CXLIV, col. 117).

Sabe-se também que no sáculo IX eram táo freqüentes


os donativos em dinheiro para obter a ceiebracáo de S. Missa
em favor de intengóes particulares (sufragio de defuntos ou
por outras intencóes) que dois Concilios regionais em Roma,

— 503 —
26 tPERGUNTE E RESPONDEREMOS> 143-144/1971

respectivamente nos anos de 826 e 853, recomendaran! aos


sacerdotes nao recebessem na igreja ou em recinto sagrado os
numerosos fiéis que se interessavam por ofereoer seu óbulo
(esportilla) e pedir a celebragáo da S. Missa, por determinada
intengáo. As autoridades da Igreja também pediam aos sacer
dotes que nao aceitassem mais de urna espórtula por Missa
nem assumissem compromissos de celebragáo de Missa que nao
pudessem cumprir.

3. No decorrer dos séculos, principalmente nos sáculos XV,


XVI e XVHI, levantaram-se vozes que acusavam de simonía
ou mercantilismo a praxe das espórtulas. S. Tomás de Aquino
(S. Teol. n/II, qu. 100, art. 2) e os teólogos em geral explicam
que tal suspeita é infundada. Na verdade, a espórtula nao é
o prego da Missa; ela nao significa «troca de bens materiais
por realidades espirituais». Positivamente, ela exprime a fé e
a generosidade cristas de quem a oferece ; ela significa mais
íntima participagáo do doador na celebragáo da S. Missa. Em
conseqüéncia dessa mais intima participagáo, compreende-ss
que o doador terina parte também mais íntima e ampia na
aplicagáo dos frutos da S. Missa ; a intengáo ou as intengóes
por ele indicadas sao especialmente beneficiadas pela celebra
gáo da S. Eucaristía (o Senhor atende aos seus fiéis na pro-
porgáo das disposicóes com que estes O invocam). É, pois,
como símbolo de fe e generosidade que se deve considerar a
espórtula da S. Missa. É para desejar que quem oferece a es
pórtula, o faga em profundo espirito religioso, lembrando-se
de que assim participa de maneira especial da oblagáo e, por
conseguinte, também dos frutos da S. Missa (seria altamente
oportuno que os doadores de espórtula nao se limitassem a
dá-la, mas estivessem presentes <a celebragáo mesma da S. Missa).
Deve-se lamentar que a consciéncia disto nem sempre se en
contré viva ñas pessoas que psdem a celebragáo da Missa;
muitos sao aqueles que apenas dáo sua espórtula, sem com
parecer posteriormente ao ato litúrgico (quando bem o pode-
riam fazer).

O Direito da Igreja, no canon 827, reza: «É preciso afastar


da prática das espórtulas da Missa tudo que tenha sabor de
comercio ou mercantilismo». A S. Igreja, mediante minuciosas
prescrigóes, tem-se mostrado assaz severa no cumprimento déste
canon.

4. A prática das espórtulas se justifica por ser um dos


meios de manutengáo das paróquias e do clero. Já que a Igreja

— 504 —
PRECES E MISSAS PELOS DEFUNTOS

nao pode dispensar subsidios fínanceiros para realizar sua obra


evangelizadora, as esportillas atendem (assaz exiguamente,
alias) a tal necessidade. Hoje em día, porém, conscientes de
que tal praxe nem sempre é entendida por cristáos ou nao
cristáos, muitos sacerdotes e bispos váo dispensando espórtulas
etaxas do culto, e procurara prover por outras vias aos inte-
résses pecuniarios da S. Igreja. Essas outras vias estáo sendo
estudadas. No Brasil é de crer que se estabeleca a prática do
dízhno (ou de urna contribuigáo fixa e módica) ñas regióes em
que isto seja possivel.

Vé-se, pois, que o costume de mandar celebrar a S. Missa


pelos defuntos (oferecendo-se mesmo urna espóstula por oca-
siáo do ato litúrgico) nada tem de interesseiro ou indigno. Nao
se deye a visáo deturpada da mensagem evangélica, mas, ao
contrario, ¡deriva-se das lishas centráis da Revelacáo bóblica e,
em particular, do Novo Testamento.

Bibliografía:

B. Kloppenburg, "A comunhSo eclesial depois da morte", em REB, XXXI,


junho 1971, pp. 333-346.

Multo se recomenda a obra de Mlchael Schmaus: "Der Glaube der Klrche.


Handbuch katholischer Dogmatlk", em 2 volumes (791 pp. e 933 pp. respecti
vamente). München 1969.

T. Ortolan, "Honoralres de Messes", em "Dictlonnaire de Théologle Ca-


tholique" Vil, 1. París 1927, cois. 69-91.

A. Bride, "Honoralres de Messes", em "Catholicisme" V. París 1962,


cois. 912-917.

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— 505 —
nova expressáo da mensagem social da

Em síntese: Ñas páginas que se seguem, tentamos resumir os prin


cipáis traeos da Carta Apostólica "Octogésima Adveniens" de 14/5/1971.
Em artigo subseqüente deter-nos-emos em reflexdes sucintas sobre o
documento.

Comentará): Comemorando o octogésimo aniversario da


encíclica papal sobre a questáo social (a «Rerum Novarum»
de Leáo Xm, publicada em 1891), o S. Padre Paulo VI langou
aos 14 de maio de 1971 urna Carta Apostólica iniciada pelas pa-
lavras «Octogésima Adveniens» (Aproximando-se o octogési
mo...) Nesse documento, Sua Santidade aborda mais urna vez
os problemas sociais, dando-lhes um enfoque próprio a nossos
dias e despertando de varios modos a atengáo de leitores e co
mentadores . — É o que nos leva a procurar ñas páginas seguin-
tes resumir o teor dessa Carta, pondo em realce os seus tragos
principáis.

1. Observa(5es gemís

A Carta de Paulo VI traz o título de «Apostólica» como


acontece aos documentos pontificios que se destinam mais dire-
tamente a um ou a alguns membros do Povo de Deus. O desti
natario imediato da Carta é o Cardeal Maurice Roy, arcebispo
de Québec (Canadá) e Presidente do Conselho de Leigos e da
Comissáo «Justiga e Paz» da Santa Sé. Compreende-ss a esco-
Iha do destinatario, já que os assuntos do documento sao da

— 506 —
CARTA «OCTOGÉSIMA ADVENIENS» 29

aleada própria das duas referidas entidades. Escrevendo dire-


tamente a dois organismos da Igreja compostos de leigos, S.
Santidade teve em mira realgar a importancia do papel que a
Santa Sé atribuí aos leigos na elaboragáo e na aplicacáo da
justiga social. — De resto, o teor geral da Carta dá a ver que
S. Santidade intenciona dirigir-se a todos os membros da Igreja
(clérigos e leigos) ou mesmo, em nao poucas passagens, a todos
os homens de boa vontade.

Notem-se as palavras iniciáis da Carta: "O 80? aniversario da publicacSo


da encíclica 'Rerum Novanim'... anima-nos a retomar e prosaegulr o ensl-
namento de Nossos Predecessores, em resposta as rtecesaidades novas de
um mundo em transformacao" (OA n? 1). i

O estilo da carta é marcadamente fílosófíco-cientifico (com


referencias á Escritura Sagrada): parte da análfee dus fatos
e situagóes contemporáneas para técer algumas reflexóes de
sá razáo, de experiencia e de fé, as quais naturalmente se con-
cluem com um férvido convite á agáo (n* 48-52). Ésse convite
mesmo nao pretende sugerir aos cristáos urna determinada e
única atitude socio-política no mundo de hoje, mas raconhece a
legitímidade de opcóes diversas contanto que se coadunem todas
com os principios do Evangelho (ficam excluidos assim os tota
litarismos e o liberalismo capitalista); veja-ee n» 52. Alias, já
no inicio de sua carta o S. Padre Paulo VI declara que nao
intenciona propor solucáo para todos os problemas do homem
contemporáneo, nem mesmo «formular urna solucáo única com
valor universal» (n* 4). A procura de solugóes concretas cabera
a «cada comunidade crista, com a ajuda do Espirito Santo, em
comunháo com os bispos responsáveis, em diálogo com os de-
mais irmáos cristáos e todos os homens de boa vontade (n« 4).

Assim concebida, a Carta Apostólica intenciona «dar um


apoio aos homens em seus esforgos para tomar em máos e
orientar o seu futuro» (n* 5); a Igreja lhes fala firmada no
Evangelho e também «na experiencia viva da Tradigáo crista
através dos sáculos» (cf. n' 4 e 32).

Procuraremos agora resumir o conteúdo da «Octogésima


Adveniens».

1 OA = "Octogésima Adveniens".

— 507 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 143-144/1971

2. O teor da Carta

O novo documento pontificio consta de urna introducáo


(n* 1-7), tres secgSes centráis (s* 8-47) e um convite final á
acáo (n« 48-52).

2.1. Introdufáo

A Introdugáo apresenta a ocasiáo e a temática da Carta:


os problemas atinentes ao homem e á sociedads váo-ee avolu-
mando e diversificando, de modo a exigir nova consideragáo da
parte da Igreja, que tem por missáo transmitir os ditames do
Evangelho aos homens de todos os tempos e lugares.

2.2. Novos problemas sociais

A Primeira Secgáo faz um bataneo dos «novos problemas


sociais» (cf. título). Ao passo que a «Rerum novarum» de Leáo
Xm tinha que se ocupar quase sómente com as relagóes «patráo-
-operário», a nova Carta Pontificia descortina vasto panorama
de questóes hoje abertas, tais como:

— a urbaniza$áo, ou seja, a aglomeragáo de multidóes hu


manas (provenientes, em grande parte, de zonas rurais) em
ambientes urbanos, onde as condigóes de vida moral e material
sao péssimas. Além das favelas e dos contrastes sociais que
assim se originam, o S. Padre Paulo VI lembra que «a promis-
cuidade nos alojamentos populares torna impossível um mínimo
de intimidade»; compromete-se a uniáo dos cónjuges; os filhos
«fogem do lar demasiadamente exiguo e piocuram na rúa
compensagóes e companhias que escapam a qualquer vigilancia.
É dever grave dos responsáveis procurarem dominar e orientar
éste processo das coisas» (n« 11);

— a juventude (fí> 13), necessitada de diálogo (que por


motivos diversos nem sempre é fácil);

— o lugar da mnlher (n» 13), que se afirma na sociedade,


mas nem p"or isto deve perder suas inconfundiveis características;

— os trabalhadores (n* 14), com mengáo dos sindicatos e


da «tentagáo» de impor mediante a greve (que em determina
das circunstancias é legitima) condigóes penosas demais para
a economía, a vida social ou a política de um país;

— 508 —
CARTA «OCTOGÉSIMA ADVENIENS» 31

— as vítimas das mudancas (n* 15), as quais devem ser


contempladas pelos principios da justiga social. De modo espe
cial, merecem consideragáo os «novos pobres», ou seja as
pessoas inadequadas ao trabalho profissional moderno, os ve-
lhos e margináis de ordem diversa. E por que nao dizer tam-
bem: ... os delinqüentes, criminosos, pederastas, psicodélicos,
drogados e desadaptados de outros tipos, que, cada um do seu
modo, sao o que sao em virtude do «gigantismo» ou do fascinio
sedutor da vida moderna? Sao ésses, em grande parte, os «novos
pobres», que se substituem sociológicamente ao proletariado
industrial;

— as discriminasóest, devidas a «raga, origem, cor, cultura,


saxo ou religiáo» (n' 16);

— o direito á emigragá© (n* 17). Há populagóes que por


motivo de trabalho, catástrofe, clima, se deslocam, necessitan-
do entao de compreensáo e auxilio por parte de quem as recebe;

— a necessidade de se criaran empregos para quem pro


cura trabalho, a fim de se evitarem a miseria e o parasitismo
Aos governos chis nao é lícito resolver tais problemas empr¿
endendo campanhas maltusianas compulsorias (em favor dos
anticoncepcionais e do aborto); cf. n« 18;

— os melos de comunicas*» social (imprensa escrita, fa-


lada e televisionada), que constítusm potencia crescente mas
nem sempre estáo a servigo da verdade e da idónea formacáo
do publico; cf. n» 20;

— os ambientes em que vive o homem, nao raro poluídos


c pouco higiénicos (n* 21).

2.3. Aspka;óes fundamentáis e torrentes de ¡délas

A segunda Seccao da Carta parte do fato de que os fenó


menos sociais antes apontados sao penetrados e movidos por
aspiracóes e correntes de idéias. Conseqüentemente, é necessá-
rio voltemos a nossa atengáo para tais elementos inspiradores
da atual situagáo de nossa sociedade.

1. Antes do mais, nota-se que dois anseios sao cada vez


mais vivos no homem contemporáneo: o de igoaMade e o de
participaba», ambos decorrentes da dignidade e da liberdade do
homem (n* 22).

— 509 —
32 tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

2. Ésses anelos, que também sao diratos, tém sido mais


e mais reconhecidos pelos legisladores dos diversos povos con
temporáneos. Acontece, porém, que nao basta agir apenas
segundo direitos ou na ordem jurídica; para atender realmente
ao homem, é preciso que se cultivem o querer-bem is o senso
de fraternidade. Estes elementos (essencialmente evangélicos)
podem levar os homens mais aquinhoados a renunciar até aos
próprios direitos para servir realmente aos seus semelhantes.
Cf. n' 23.

3. A seguir, a Carta Apostólica (n' 24 e 25) se volta


para a sociedade política, onde os homens procuram viver em
igualdade e participagáo, ou seja, sob regime democrático.
Acontece, porém, que nenhum dos modelos de democracia até
hoje postos em prática trouxe plena satisfagáo. Daí a necessi-
dade de ulteriores buscas de auténtica democracia, buscas as
quais os cristáos nao podem permanecer alheios.

4. Em se tratando de agáo política, vém ao caso as ideo-


logias. A palavra é cada vez mais importante no vocabulario
contemporáneo. Por si ela pode simplesmente significar «filo
sofía, modo de pensar»; muitas vézes, porém, ela designa um
modo de pensar concebido para justificar determinada estrate
gia no plano social; é entáo um modo de pensar unilateral,
partidario, deformado e deformante, que pode redundar em
ditaduras dos espíritos e alienagáo do homem. Cf. n' 24-29.

Das ideologías duas vém principalmente ao caso: o mar


xismo e o liberalismo.

5. É notável o modo como vem considerado « marxismo


na Carta «Octogésima Adveniens» (n* 31-34). Antes do mais,
observa S. Santidade que as correntes socialistas exercem fas-
cínio sobre os cristáos por sua mensagem humanitaria ou sua
preocupagáo de atender ao homem de hoje com seus problemas
(económico, trabalhista, sanitario, educacional...). Tal preo
cupagáo, sem dúvida, é apta a mover profundamente o cristáo.
A sedugáo exercida pelo socialismo sobre os cristáos é tanto
mais forte quanto mais matizado ou variegado ele se tem apre-
sentado últimamente: na China, extremamente radical, o socia
lismo vai tomando formas mais mitigadas na Rússia, na Iugos-
lávia, na Polonia e assume sua feigáo própria na América
Latina (tenham-se em vista Cuba e o caso, aínda em evolugáo,
do Chile).

— 510 —
CARTA «OCTOGÉSIMA ADVENIENS» 33

Diante déste leque de facetas do socialismo-marxismo,


lembra o documento pontificio que as diversas formas de so
cialismo estáo mais ou menos intimamente vinculadas a urna
filosofía materialista, atéia, incompatível com o Cristianismo-
tendem á luta de classes e á instauragáo de regime totalitario
e violento. Consciente disto, o cristáo procurará exercer o seu
discernimento e a sua perspicacia (n' 31); nao se deixará
absorver por correntes que, embora proponham libertar o
homem, acabam por escravizá-Io (n9 28).

6. Quanto á ideología liberal ou liberalismo, observa-se


que pretende ressalvar e desenvolver a autonomía dos individuos
em nome de maiores rendimentos económicos como também
em oposigáo ás organizagóes massificantes e ás pressóes dos go-
yernos totalitarios. Deve-se, porém, reconhecer que «o libera
lismo filosófico é urna afirmagáo errónea da autonomía do
individuo» (cf. n» 35), pois permite aos cidadáos prepotentes
agir nao raro em detrimento de seus semelhantes menos afor
tunados.

Frente, pois, ás diversas ideologías político-sociais, é pre


ciso que o cristáo procure ñas fontes de sua fé e na doutrina
da Igrcja os criterios oportunos para nao se dcixar seduzir nem
aprisionar por sistemas cujo poder ahsorvente ou totalitario
as vézes só se patenteia tarde demais. É para desejar que, em
qualquer de suas opgóes políticas ao servigo dos irmáos, o
cnstáo afirme os valoras do Evangelho e sua contribuigáo ca
racterística e inconfundível para a transformacáo positiva da
sociedade. Cf. n» 36.

7. Como que em apéndice a estas reflexóes sobre agáo


política, a «Octogésima Adveniens» encara as utopias contem
poráneas (n? 37). O egoísmo, as violencias e o materialismo
desencadeados pelo socialismo burocrático, pelo capitalismo
tecnocrático e pela democracia autoritaria geram em muitos
homens de hoje o espirito de contestagáo e «o renascer daquilo
que se convencionou chamar as utopias».

Utopia, segundo a etimología grega, é o ideal sem lagar


(onk topos), irrealizáyel; é um sonho com felicidade e bem-
-estar que o homem difícilmente pode atingir. Em nossos dias,
com efeito, nao falta quem acredite nos progressos das ciencias
e da técnica como fautores da morigeragáo dos individuos e
estímulo da paz e da fraternidade entre todos os povos.

— 511 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

Entre os que contestam, deve-se mencionar em lugar de


destaque o filósofo Herbert Marcuse. Éste, apregoando o amor
(sem, porém, lhe dar as bases devidas), é fonte inspira/Jora
da juventude que protesta ora de maneira violenta (revolta de
mato de 1968 em Paris), ora de maneira pacata, mas excén
trica (os movimentos «hippies>).

O cristáo nao pode deixar de reconhecer motivos de con-


testagáo ao observar o egoísmo e o materialismo da sociedade
contemporánea; mas ele sabe que «sómente a fé crista é capaz
de triunfar dos cálculos mesquinhos do egoísmo»; sómente o
Espirito Santo podará ajudar os homens a construir uma ddade
mais pacífica, justa e fraterna.

8. Segue-se, no documento analisado, uma referénda as


ciencias humanas ou antropológicas (cf. n» 38-40). O homem
hoje em dia nao é apenas sujeito de ciencia, mas é também
mais e mais objeto de déncia. Ele procura conhecer-se cada
vez mais através da psicología, da sociología, da biología, da
genética. Estas disciplinas, ao lado de valiosa contribuigáo po
sitiva, apresentam dois aspectos merecedores de reservas:

— as vézes, encaram o homem através de um prisma de


masiado particular ou a partir de facetas, fenómenos, dados
quantitativos... Nao obstante, pretendem fomecer explicacóes
globais e totalizantes. Assim acontece, por exemplo, em certos
setores da psicología, que consideram o homem exdusivamente
como animal sexuado e sujeito a instintos eróticos, sem levar
em conta outros valores do ser humano;

— as ciencias humanas por vézes sao tomadas como fontes


inspiradoras do comportamento e da ética do individuo e da
sociedade. As estatisticas da ciencia seriam criterios para se
distinguir o bem e o mal. Em conseqüéncia, nao limitar a
prole por métodos anticoncepdonais, guardar a continencia
pré-rnatrimonial seriam práticas tidas como anticientíficas e
por isto moralmente condenáveis.

Ora quem cede a tal cientificismo, arrisca-se a degradar o


homem, pois nao leva em conta valores típicos do mesmo, va
lores que a sá filosofía e a consciénda crista apontam com
dareza.

A Igreja reconhece, sem hesitagáo, o precioso e importante


papel das ciencias antropológicas. Ela preconiza, porém, um

— 512 —
CARTA «OCTOGÉSIMA ADVENIENS> 35

humanismo integral ou urna visáo global do homem; éste so se


realiza plenamente quando se abre para os bens eternos ou
para o seu Criador e Consumador.

9. Por último, nesta seccáo, ocorre urna reflexáo sobre a


ambigüidade do progresa» (cf. n» 41). Até os últimos tempos,
o progresso científico e técnico polarizava as aspiracóes de nu
merosos pensadores; o progresso tornou-se objeto de um «mito»
ou urna resposta ideal, quase mágica, as aspiracóes dos homens.

Hoje em dia, porém, muitos verifícam que é necessário


atender nao sómente aos interésses individuáis, comerciáis e
quantitativos do homem, mas também, e principalmente, aos
valores mais representativos do ser humano, como sao a difusSo
da cultura, o servico recíproco, a boa harmonía e colaborado,
enfim a abertura do homem para os outros homens e para
Deus.

Para o cristáo, o ideal do progresso está inseparavelmente


associado á morte e á ressurreicáo de Cristo. Sómente supe
rando a dor e a morte com o Senhor é que o homem consegue
chegar á sua consumacáo.

2.4. Os crlstóos perante os novos problemas

Urna vez feito o levantamento dos problemas e das ambi-


güidades da hora presente, a «Octogésima Adveniens» passa a
diretrizes concretas que interpelam principalmente os cristáos
e se estenderáo á parte final do documento («Apelo á acáo>).

Antes do mais, nesta seccáo é afirmado que a Igreja, no


sflu campo, próprt», se esforga por ajudar a resolver os respecti
vos problemas. A doutrina social da Igreja nao pretende propor
modelos pré-fabricados, mas também nao se limita a recordar
alguns principios gerais. Ela sugere linhas de agáo que se ins-
piram no Evangelho, na rica experiencia da Igreja, assim como
no desejo que esta tem de servir desinteressadamente. Cf. n* 42.

Em seguida, quatro tópicos sao assinalados:

1) Neceasidade de procurar maiotr Justina. Ñas comuni


dades nacionais como no plano internacional, é necessário que
os pactos e acordos visem ao bem comum, e nao a interésses
meramente particulares. Permita-se a cada país promover o

— 513 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

seu próprio desenvolvimento dentro de um clima de colabora-


c.áo internacional isenta do espirito de dominio económico ou
político. Cf. n» 43 e 44.

2) Libertado exterior e interior. Hoje em dia os homens


aspiram a libertar-se da necessidade e da dependencia. Todavía
a auténtica libertacáo comega dentro do próprio individuo; su
perando o egoísmo para se colocar a servico dos semelhantes, é
que o homem conquista o penhor de sua verdadeira liberdade.
Sem essa libertado interior, as ideologías e nevolugóes, por
mais extremadas que sejam, nao traráo ao homem o que ele
almeja, mas apenas o transferiráo do jugo de um senhorio ou
patráo para o de outro dominador; «instalados por sua vez no
poder, os novos patróes rodeiam-se de privilegios, limitam as
liberdades e instauram novas formas de injustiga» (n' 45).

3) Da economía á política. Os interésses económicos e fí-


nanceiros podem realmente prestar servigos aos homens. Mas
nao raro comportam o risco de absorver excessivamente fórgas
e liberdade. Daí a necessidade de se valorizar outrossim urna
sadia agáo política.

O poder político constituí o vínculo necessário de coesáo


do corpo social e tem por finalidade o bem comum do povo,
sem detrimento das legítimas liberdades dos individuos, das
familias e dos grupos subsidiarios. Compete-lhe criar condigóes
para que o homem atinja o seu bem auténtico e completo,
inclusive o seu fim espiritual.

Os cristáos solicitados pela agáo política, esforgar-se-áo por


desempenhá-la em coeréncia com o Evangelho; éste admite le
gítimo pluralismo de opgóes; exige, porém, serio testemunho de
fé mediante um servico eficaz e desinteressado aos homens.
a. n' 46.

4) Partidpacáo dos cristáos ñas responsabilidades públi


cas. O setor destas tem-se ampliado. A medida que se eleva o
nivel cultural dos cidadáos, e que se pensa em planejar o futuro,
compete aos cristáos assumir as suas partes peasoais a fim do
que as decisóes e opgóes que afetam as empresas, a vida pública
e política, sejam orientadas ao bem comum e á constituigáo de
sociedades solidarias e fraternais.

Em ultima análise, para o crístáo, o ideal da liberdade


implica um «perder-se em Deus» ou um «morrer e ressuscitar
com o Senhor». Cf. n« 47.

— 514 —
CARTA «OCTOGÉSIMA ADVENIENS> 37

2.5. Apelo a a;6o

Éste apelo, que constituí a terceira e última parte da


Carta Apostólica, é a conclusáo lógica de quanto precede. Pro
curaremos resumi-la esquemáticamente.

1) O interésse da Igreja pelos assuntos sociais tem-se


manifestado nao sámente por seus documentos escritos, mas
também pela missáo dos padres-operarios. Todavía é aos cris-
táos leigos que, por excelencia, cabe intervir ñas estruturas
déste mundo a fim de imprimir-lhes caráter mais humano e
cristáo.

2) Cada qual se examine sobre o que tem feito e o que


poderia fazer. Nao basta recordar principios e proferir denun
cias, atraindo sobre os outros a responsabüidade de injustigas
ocorrentes. Cada cristáo procure avaliar o seu quinháo de res
ponsabilidade nos males que afligem a sociedade contemporánea,
e trate de realizar a sua conversáo interior ou renovagáo pas-
soal, que redundará em mais eficaz contribuigáo para o bem
comum. Essa humildade fundamental de cada um preservará
de intolerancia ou sectarismo os cristáos e lhes alentará a espe-
ranca. Cf. n" 48.

3) Em meio as diversas situagóes, correntes e orientagóes


com que se defronta na vida sócio-política de hoje, o cristáo é
incitado a guardar sua independencia. Fuja das ambigüidades,
e «evite comprometer-se com colaboragóes incondicionais e con
trarias aos principios de auténtico humanismo» (n* 49).

4) Ñas diferentes situagóes sócio-politicas de nossos tem-


pos, reconheca-se aos cristáos o direito de fazer opgóes dife
rentes, contanto que todas se coadunem com a mesmafé e a
mesma moral do Evangelho e da Igreja. «Urna mesma fé crista
pode levar a assumir compromissos diferentes> (n« 50).

Aos cristáos que entre si divergem nos setenes em que é


legítimo pensar diversamente, recomenda a Igreja um esfórgo
de compreensáo recíproca, a fim de que, por motivos políticos,
profissionais ou económicos, nao rompam a unidade que os deve
caracterizar perante o mundo. «Cada um deve ter muito a
peito examinar-se a si mesmo e fazer brotar em si aquela liber-
dade verdadeira segundo Cristo, que abra para urna visáo uni
versal no meio mesmo dos condicionamentos mais particulares»
(n« 50).

— 515 —
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 143-144/1971

5) As responsabilidades do momento presente cabsm nao


só aos individuos, mas também as organizacoes cristas. Estas
devem atuar de maneira específica, «fazendo refletir... as exi
gencias concretas da fé crista» (n« 51). De resto, a «Octogésima
Adveniens» muito insiste em que os cristáos colaborem genero
samente com seus semelhantes na construgáo de um mundo
novo; fagam-no, porém, de modo a dar urna contribuigáo ca
racterizada e inconfundível, atestando nítidamente a agáo de
Cristo e do Espirito Santo no servigo aos irmáos.

Eis as grandes linhas do último documento de Paulo VI


sobre justiga e paz no mundo de hoje. O artigo que se segué,
tentará realgar esquemáticamente o progresso doutrinal que
tal Carta Apostólica implica no setor dos ensinamentos sociais
da Igreja.

CANCAO DO ENCONTRÓ

A tua porta fechada


passam os hornería,
passam as coisas:
o sol de cada man ha,
um pássaro, urna sombra, urna flor,
um coracfio dolorido.

A tua porta fechada,


todos os días
é Deus que paasa,
escondido nos homens,
escondido ñas coisas.

NSo ouves que batem á porta


de teu egoísmo estreito ?

Abre ésse cofre do teu coracáo,


fechado por dentro.

Abre para a festa do encontró,


para as alegrías do amor.

— 516 —
Aínda a "Octogésima Adveniens" :

novas facetas do ensinamento social da


igreja

Em síntese: A Carta Apostólica "Octogésima Adveniens" se distingue


por abordar explícitamente certas questCes recentes até agora nao consi
deradas nos documentos pontificios:

— as novas facetas da problemática do homem contemporáneo: urba-


nizacáo masslficante, confuto das geracoes, melos de comunicaefio social, etc.

— legítima pluralldade de opcSes soclo-polftlcaa por parte dos eristaos,


dentro da unidade da mesma fé, da mesma esperanca e do mesmo amor;

— novas aliludes do socialismo, que exerce forte atrac&o sdbre certos


ambientes cristSos, e necessidade de discernimento ou senso critico por
parte dos discípulos de Cristo ;

— procura de novas formas de democracia, de modo a superar ideo


logías extremistas e atender tanto aos interésses da pessoa humana como
aos das coletlvidades;

— desmitlzacáo do progresso científico-técnico. Sem conversáo interior


e pessoal nao haveré felicidade para o homem.

Comentario: Após haver compendiado o teor da Carta


Apostólica «Octogésima Adveniens», importa realgar a contri-
buigáo própria que tal documento traz para ¿laborar e ampliar
os ensinamentos sociais da Igreja. A Carta «Octogésima Adve
niens» é uro documento novo, pelo fato de focalizar e expíicitar
teses que ainda nao haviam sido diretamente abordadas por
documentos pontificios.
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 143-144/1971

1. Ampliando do campo

Nota-S3 que as documentos pontificios se váo abrindo cada


vez mais para os problemas que surgem fora do mundo ociden-
tal, ou seja, nos países socialistas e no Terceiro Mundo. Situa-
Cóes totalmente novas se apresentam aos cristáos nessas cartes
do globo. No Ocidente que comegava a se industrializar, eram
outrora os problemas de capital e trabalho que preocupavam
os cristáos; hoje, tanto no Ocidente como no resto do mundo,
é o homem que sofre as repercussóes da civilizagáo tecnológica
e que demanda cada vez maior solicitude dos pensadores cris
táos. O tema se impóe com urgencia; Paulo VI se mostra
solícito para com o futuro da humanidade:

"A nossa finalídade — sem esquecer, por oulro lado, os problemas


permanentes, já tratados pelos Nossos predecessores — é chamar a atendió
para algumas quest&es que, pela sua urgencia, pela sua amplidáo, pela sua
complexldade, devem estar no centro das preocupares dos cristaos para
os anos próximos, a flm de que, Juntamente com os outros homens, files se
apllquem a resolver as novas diflculdades que p6em em causa o próprlo
futuro do homem" (OA n? 7).

Importantes também sao os dizeres seguintes:

"Jamáis em época alguma o apelo á imaginadlo social fol táo explícito.


Impde-se consagrar a esta causa (do homem) esforcos de invencáo e ca-
pltais táo importantes como os que s3o consagrados ao armamento ou as
conquistas tecnológicas. Se o homem se deixar ultrapassar e nao previr,
a tempo e hora, a emergencia dos novos problemas sociais, estes tornar-se-ao
demasiado graves para poder esperar-se para éles urna solucáo pacífica"
(OA n? 19).

A complexidade da problemática social leva a admitir da


parte dos cristáos

2. Plurálrdode de opjóes

Paulo VI (OA n^ 3) verifica as diversas situagóes em que


vivem os cristáos no mundo de hoje:

— redupao ao silencio, privagáo de liberdade de expressáo


e agáo, sob os regimes totalitarios;

— fracas minorías, cuja voz difícilmente se faz ouvir


(certas nsgióes da Asia e da África);

— 518 —
DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA HOJE 41

— maioria reconhecida ou até oficializada, todavía agitada


pelas repercussóes da crise geral e tentada, em parte, a esperar
do recurso a meios radicáis e violentos um mundo mais feliz.

Diante de tal panorama, diz Paulo VT ser difícil pronunciar


urna palavra de orientac.áo única ou propor urna solucáo que
tenha valor universal. O que S. Santidade intenciona é lembrar
os principios do Evangelho e os ensinamentos constantes da
Igreja, ficando a aplicagáo concreta de tais dados entregue á
reflexáo e ao senso de fé de cada comunidade crista.

"é ás comunidades cristas que cabe anallsar com objetivldade a sltuacao


própria do seu país e procurar lluminá-la com a luz das palavras ina.teráveis
do Evangelho. A elas cumpre haurir principios de reflexáo, normas para
julgar e diretrizes para agir, na doutrina social da Igreja...

Os crtstaos deverSo, antes de mais nada, renovar a sua confianza na


fdrca e na origlnalidade ds exigéncis evangélicas. O Evangelho, em verdade,
nSo está ultrapassado pela circunstancia de ter sido anunciado, escrito e
vivido num contexto sóclo-cultural diferente. A sua Insplracáo, enriquecida
pela experiencia vívente da tradlcSo crista ao longo dos sáculos, permanece
sempre nova em vista á conversáo dos homens e ao progresso da vida em
sociedade" (OA n? 4).

3. Frente ao socialismo

Paulo VI reconhece a diversidade de posicóes doutrinárias


e políticas que o termo «socialismo» pode significar: «Conforme
os continentes e as culturas, essa corrente histórica (o socialis
mo) assume formas diversas sob um mesmo vocábulo» (OA
n» 31).

Reconhece também a atracáo que as correntes socialistas


exercem sobre os crístáos por cultivarem aspiragóes que os
discípulos de Cristo, inspirados pela sua fé, também acalentam
em si mesmos. A coriseqüéncia déste fato é que cristáos e
socialistas podem ter interésses comuns em sua agáo social
(combate ao subdesenvolvimento, á fome, ao analfabetismo...).

Feítas estas verificagóes, a Carta «Octogésima Adveniens»


pede aos cristáos que nos setores em que tém metas comuns
com o socialismo, nao se comprometam a ponto de prejudicar
os valores da liberdade, da responsabilidade, da abertura para
o espiritual e outros valores que sao inerentes a um auténtico
humanismo:

— 519 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 143-144/1971

"A ligacáo concreta que, conforme as circunstancias, existe entre éles


(os diversos tipos de socialismo), tem de ser lúcidamente notada. Urna tal
perspicacia permitirá aos cristáos estabelecer o grau de compromisso pos*
sível nessa causa, salvaguardados os valores, principalmente de liberdade,
de responsabilidade e de abertura ao espiritual, que garantam o desabrocha-
menlo integral do horneen" (OA n? 31).

Paulo VI, neste inciso, tem em vista provávelmente os


países da Cortina de Ferro, como também certas nacóes da
América Latina (Chile, Cuba, México...) onde o socialismo
é vigente ou ao menos predominante, solicitando tomada de
posigáo da parte dos cristáos.

Embora as exprassóes de Paulo VI com referencia ao so


cialismo possam parecer algo de novo nos documentos da
Igreja, elas nao significam aprovagáo do socialismo. O próprio
Paulo VI desfaz qualquer suspeita nesse sentido. Tenham-se
em vista as suas palavras a trabalhadores alemáes no día
30/4/71: «Os trabalhadores católicos nao precisam de procurar
ensinamentos sociais de outra orientagáo ideológica» (cf. «L'Os-
servatore Romano», 1/5/71).

Ou aínda na Carta «Octogésima Adveniens» n9 27:

"A fé críala situa-sc num plano superior e, algumas vézes, oposto ao


das ideologías, na medida em que ela reconhece Deus, transcendente e
criador, o qual interpela o liomem em lodos os nívels da crlacáo como ser
responsavelmente livre".

Note-se também o insistente apelo que Paulo VI faz ao


discernimento ou ao senso crítico dos cristáos frente aos di
versos sistemas políticos e ideológicos do mundo contemporáneo.

4. Procura de novas formas de democracia

O n"> 47 da OA incita á procura de «novas formas de demo


cracia moderna», visto nao se ter encontrado ainda o tipo ideal
de regime socio-político. Essas novas formas seriam um con
trapeso «á invasáo da tecnocracia». Procurariam, de um lado,
salvaguardar a liberdade e os direitos do homem, mas, de outro
lado, tornariam o individuo envolvido em responsabilidades
comuns, ou seja, comprometido com a sociedade e o bem da
coletividade. Desta forma se fundiriam, sob a égide da fé
crista, sadios elementos de liberdade e valiosos traeos do socia
lismo. Estaría ultrapassado o dilema: «ou liberalismo capita
lista (capitalismo liberal) ou socialismo». Paulo VI lembra

— 520 —
DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA HOJE 43

oportunamente: «Habita no homem (renovado em Cristo) urna


fórea que o solicita a superar todos os sistemas e todas as
ideologías» (n» 37). Nao raro no decorrer da sua Carta o
Pontífice evoca o dinamismo da fé crista como elemento apto
a superar as antíteses e os extremismos, concillando os inte-
résses da personalidade com os da sociedade e do bem comum;
tenha^se em vista principalmente o n' 37:

"No coracao do mundo permanece o misterio do próprio homem, o qual


se descobre filho de Deus no decurso de um processo histórico e psicológico
no qual lulam e se alternam violencia e llberdade, peso do pecado e sdpro
do Espirito.

O dinamismo da fé crista triunfa entSo dos cálculos mesqulnhos do


egoismo. Animado pela virtude do Espirito de Jesús Cristo, Salvador dos
homens, apoiado pela esperanca, o crtstao compromele-se na construcSo
de urna cidade humana, pacífica, Justa e fraterna, que possa ser urna ofe-
renda agradável a Deus".

Em conseqüéncia, entende-as que Paulo VI fale de


«evolucáo das astruturas», em contraposicáo á táo propalada
reforma das mesmas.

Tais sao os pontos principáis em que a Carta Apostólica


OA parece ter ampliado e enriquecido os ensinamentos sociais
da Igreja. Outros tópicos particulares foram realgados no ar
tigo anterior a éste: desmitizagáo do progresso científico e
técnico, encarecimento da pessoa humana com suas aspiracóes
á liberdade, á igualdade e á participacáo, juizo crítico sobre a
polivalencia das ciencias antropológicas, etc.

AMIGO LEITOR,

SE A LEITURA DE PR LHE AGRADOU, DIFUNDA


A REVISTA, PRESENTEANDO SEUS AMIGOS NO
NATAL COM UMA ASSINATURA DE PR. CASO
NAO LHE TENHA AGRADADO, ENVIE-NOS SUAS
CRÍTICAS E SUGESTÓES: C. p. 2666, Rio (GB).
— 521 —
Um pomo de discordia:

seu sete da lira

Multiplicam-se os comentarios em torno da Sra. Cacilda


de Assis, que diz receber urna entidade áo Além, simbolizada
pelo n' 7 (número de perfeigáo ou plenitude, segundo antiga
«mística dos números»); daí chamar-se essa senhora «Seu Sete»
(«sete déle», isto é, do espirito desencarnado); tal espirito
teria afinidade com a lira, instrumento de cordas.

Os fenómenos apresentados por Da. CaciLda, vestida como


homem em espetáculo de TV, causaram reagóes antitéticas no
público espectador. Daí a oportunidade de transcrevermos o
artigo «O Seu Sete da Lira» da autoría do parapsicólogo Pe.
Edvino Friderich S. J., artigo publicado no jornal «O Sao Paulo»
de 18/9/71, p. 10:

"Nosso povo gosla de samba, ritmos de carnaval, adora dancar e pular,


receber urna 'béngáo' ou um passe, gosla de vibracáo intensa, um culto
religiososo bem emocional. É urna aberracáo psíquica, urna catarse, urna
fuga para o mundo da ilusáo em face das durezas, das lutas e labutas da
vida. Ora tudo isso Ihe proporcionam os terreiros de umbanda, tudo isso o
terreiro do 'Seu Sele' oferece em grande escala. Até oferece muito mais...
Ele tem o sexto sentido de acertar com a psicología das massas.

Convidado por um amigo meu, psiquiatra do Rio de Janeiro, também


fui visitar o 'Seu Sete' no Santlssimo, um bairro afastado do Rio. Além do
meu amigo, acompanharam-me mais dois psiquiatras, Interessados em conhe-
cer e analtear dsse espetáculo de fé e do sugesláo das mulliddes. Com difl-
culdade e após longa espera de horas inteiras, e pagando cinco cruzeiros
cada um, conseguimos entrar e receber a 'béncáo da cura'.

Como decorre o espetáculo ?

Enloam-se melodías alegres, carnavalescas, que fazem vibrar a alma


dos freqüentadores. Anunclam-se curas espetaculares alcancadas, depoi-
mentos dos agraciados pelo 'Seu Sete', falor dsse do molde a promover a
sugestao dos presentes. O ambiente favorece grandemente a fé na cura.
E um contagio mental extraordinario, motivo por que o número de visitantes

— 522 —
SEU SETE DA LIRA 45

tende constantemente a crescer. 'O processo de tddas as curas 6 urna aU-


tude mental positiva e definida, urna atitude Interior, urna manelra de pensar
que, em suma, se chama té. A cura se deve a urna esperanca confiante qua
atua como urna poderosa sugestao sobre o subconsciente, libertando o seu
poder de curar' ('O poder do subconsciente* por Dr. Joseph Murphy, p. 65,
3? edlcao portuguesa).

Em face do sobredlto, uma pesaoa de alguma cultura religiosa e cleiv


tilica logo percebe que mllagre ató agora nao houve nem haverá. O que
existe é o poder da sugestao capaz de efetuar curas de doencas funcionáis
ou de fazer estacionar alguma doenca orgánica, como, por exemplo, cáncer,
devido a enorme Influencia da mente sobre o corpo. É que tftda doenca,
mesmo orgánica, aprésenla seu alto coeficiente psíquico, de sorte que o
doente, quando animado, alegre, otimlsta, sempre tende a melhorar ou até
curar-se. E, por outra, em toda e qualquer enfermldade, a pessoa atetada
há de plorar, desde que se encontré abatida, pesslmista e sem esperanza.
Ésse condicionamento psíquico negativo constituí um tremendo óbice para
a cura.

'Ben$5o' com pinga

Urna novldade ne3se terrelro do 'Seu Sote' é dar a béncfio para a cura
com abundante aspersáo de cachaca. Isso é algo que Impressiona. E ha]a
pinga I Que o Seu Sete nao poupa esse líquido poderoso I

Porto de mlm osléve sentado um senhor com a doenca de Baaedow, com


o globo ocular esquerdo multo saliente. Quando o 'Seu Sete' chegou perto,
parou o coirecou a bombardear a vista do pobre sofredor, a cabeca, o
corpo todo com aguárdenle, a ponto de salr de lá todo encharcado com Ssss
banho, assim como as pessoas que se encontravam na Imediata vlzinhanca
désse paciente. Nunca Imagine! apanhar uma ducha désse jaez. Meu casaco
e minha camisa ficaram totalmente molhados e cheiravam á pinga. Felizmente
nao causou mancha.

Meu diálogo com o 'Seu Sete'

M«u> amigos psiquiatras estranharam que o 'Seu Sete' parou na minha


frente para falar comigo.

— Qual ó a sua profiseBo ?, perguntou-me.

— Professor e conferencista.

— Que é que o Sr. acha do 'Seu Se,te" ?


— Estando eu pela primeira vez aquí, sou apenas viajante; ainda n3o
tenho a opiniüo formada, mas vejo ao redor de mim e no terrelro todo multa
vlbracSo, entusiasmo e 16 na cura por parte da mullidáo presente.

Nesta altura deu-me como lembranca urnas pétalas de rosa vermelha


Aceite) e agradecí.

Em seguida, a minha frente deitou-se de costas por s6bre a mesa, deu


urnas fortes puxadas no seu alentado charuto, levantou-se e declarou no
alto-falante: 'Assim como seu agora me levanto, assim todos os doentes que
hoje vleram para cá se Ievantar9o e estaráo completamente curados dos

— 523 -
46 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

seus males'. Alias, essa sugestao, diga-se de passagem, atua benéficamente


sobre o subconsciente, precisamente em virtude da freqüente repeticSo.
Isso é hipnótico e atinge por essa vía diretamente o subconsciente.

Minha opiniáo sobre o 'Seu Seré'

Devemos procurar sempre a verdade e a pura verdade, com o fim de


livrar-nos das funestas consequenclas do erro. Por Isso, a pedido do 'Seu
Sete' direi a verdade como sacerdote católico e estudioso de parapsicología,
sem querer melindrar a quem quer que seja, e isto tanto mals que será para
o bem de todos os que procuram com slncerldade a Deus. Combater o erro,
amando os que erram, é meu lema, de acordó com o grande mandamento
de Cristo.

Científicamente, o 'Seu Sete' é da aleada do Departamento de Saúde


Pública. Sob o aspecto da medicina, é puro curanderismo o que se pralica
no terreiro do 'Seu Sete', e pratlca-se em grande escala; isso é prolbido
por le).
As sugestóes do ambiente, da aspersáo com cachaca, dos ritmos de
samba, de oraefies mágicas, da hora grande á mela-nolte, a proclamacSo
solene de curas, tudo Isso sugestiona fortemente o subconsciente e pode
acarretar a cura ou, ao menos, aliviar considerávelmente a doenca, quando
o mal fór funcional e psíquico. Sendo orgánico, pode curar temporariamente
os síntomas da dor, mas nSo remove a causa da doenca. Esta tica o con
tinuará sua marcha corrosiva e fatal, até o dia em que a dor, que é a policía
do corpo humano, se apresentar de novo. EntSo será tarde. Dlsso tudo o
leltor poderá deduzlr o perlgo de tais curas por simples sugestao. Enfren
tando a impopularidad^, devo declarar que para o bem da saúde mental do
nosso povo tais espetáculos deverlam ser prolbldo9. Devemos elevar o nivel
científico e religioso do nosso povo.

Religiosamente, o 'Seu Sete' deve ser catalogado na umbanda. É um


sincretismo. Haja vista que o padroeiro désse terreiro é Santo Antonio, um
santo católico, cuja estatua aparece no lugar de honra.

O que Dona Cacilda faz. Incorporando um exu músico que toca lira, é
magia. Ora a magia é rigorosamente proiblda por Deus tanto no Antlgo
como no Ndvo Testamento. Seo numerosos os textos que poderíamos citar
para provar a assercSo. Fazer baixar um orlxá para estar a nosso servteo,
dispensar favores, restituir a saúde, etc., é legitima magia.

N2o obstante afirmarem que o 'Seu Sete' nao é da linha do espiritismo,


é contudo legitimo espiritismo de umbanda. t preciso que se saiba que a
umbanda endossa o corpo doutrinárlo do cardeclsmo; portento nega qua*
renta verdades fundamentáis do catolicismo, nao (Icando pedra sdbre pedra
do edificio do Cristianismo. É verdadeiro paganismo.

Cada católico ou crtetSo de cultura media Já sabe que nao é possfvel


ser católico e freqüenlar ou prestigiar tais cultos. Digo cultos, pois, se nao
passassem de sugestao, a questáo serla de aleada da medicina ou, conforme
o caso, da parapsicología.
Tratando-se, porém, de um culto, ela Invade o terreno religioso, causando
confusao de Idéias. E em materia de religiáo tdda pessoa retamente pen
sante deve preocupar-se antes do mals em conhecer a verdadelra rellgiao
revelada por Deus. O maior valor da vida é a verdadelra fé e esta nao a

— 524 —
SEU SETE DA LIRA 47

«levemos Jamáis sacrificar pelo que quer que seja deste mundo. 'Que adianta
eo homem ganhar o mundo Intelro, se vler a perder a sua alma?', dtese
Cristo.
A melhor heranca que os país podem legar a eeus filhos, é urna boa e
sólida formacSo religiosa. Só asslm se ternario esclarecidos e fellzes".

Em súrtese, qualquer atítude de magia supóe que o homem


possua segredos (receitas de despachos, trabalhos, ritos...)
capazes de desencadear fórgas divinas sobre a tsrra de acordó
com a encomenda do mago. Na magia, pois, o homem se julga
senhor dos poderes da Divindade; de modo especial, o mago (ou
curandeiro ou benzador), que conhece tais segredos, vem a ser
o «Grande Homem», o homem ao qual muitos recorrem, pa-
gando-lhe déste ou daquéle modo os «beneficios» recebidos.
A magia é de alto interésse para o mago (que nao raro pode
estar procedendo de boa fé); ela constituí alienagáo ou opio
do povo. . :
Tal nao pode ser a auténtica atítude religiosa. Esta con
siste, antes do mais, em entrega total e incondicional a Deus,
que é Amor, é o Pai que nos criou e nos acompanha com sua
Providencia. As relagóes do homem verdaderamente religioso
com Deus sao de confianga humilde; o religioso sabe que nao
pode desencadear mecánicamente intervengóes divinas. Mas
nem por isto deixa de ser ousado no seu diálogo com Deus e na
sua luta cotidiana. Tenha-se em vista, por exemplo, Abraáo,
dito «o Pai da nossa fé»: Abraáo ouviu a Palavra de Deus,
executou-a generosamente, mas nem por isto deixou de argu
mentar ousadamente com Deus em favor de Sodoma e Gomorra:
«Pois que me atreví a falar ao Senhor, eu que sou apenas
cinza e pó, continuarei a falar» (Gen 18, 27). O profeta Jere-
mias foí outro grande amigo de Deus, que teve a coragem de
falar intimamente ao Senhor precisamente porque amava a
Deus com humilde confianga: «És sumamente justo, Senhor,
para que eu possa disputar contigo. Entretanto, désejo apenas
debater contigo um ponto de justiga: Por que alcangam sucesso
os maus...? Por que razáo vivem os pérfidos?» (Jer 12, 1).
Estas palavras bíblicas exprimem a auténtica atitude reli
giosa, a qual é capaz de levar o homem aos feitos mais atilados
e corajosos em espirito de humildade e entrega filial a Deus.
É para desejar que, com o progresso da instrugáo no
Brasil, o nosso povo, táo espontáneamente voltado para os
valores transcendentais, assimile mais e mais a genuina Reli-
giáo ensinada pelas Escrituras Sagradas!
Esteva» Betfcncoart O. S. B.

— 525 —
correspondencia miúda

H. A. C. (Conselheiro Lafaiete, 5IG):

cLi com interésse no n' 140 a explicacáo sobre a aorte das


crianzas que morrem sem batisnro. Achei ótima. Entretanto, no espirito
dos leitores aínda fica urna dúvida: o casuista nao fez referencia ao
texto de Jo 8,5. Seria desejável urna explicagao do referido texto».

— Em Jo 3,5 diz o Senhor: «Quem nao nascer da agua e do


Espirito, nao pode entrar no Reino de Deus>. Éste texto nos dá a ver
que o caminho normal para entrarmos no Reino é a regeneracáo ba-
tismal. É a éste meio que os genitores e os cristáos em geral tém de
recorrer; tém culpa aqueles que o protelam sem motivo ou o negli-
genciam. Mas sempre se disse, ñas escolas teológicas, que Deus,
Autor dos sacramentos, nao está necessáriamente preso aos sacra
mentos; Ele pode conferir a sua graca por vias ocultas e invisiveis
aqueles que nao tém possibilidade de recorrer aos meios visivcis. Nao
seria justo, da parte do Senhor, negar-se a quem esteja em condigoes
de receber o dom de Deus,... negar-se pelo simples fato de tal pessoa
nao poder fazer uso de determinado meio sensivel. Lembramo-nos de
que a teología admite como válido para a salvacáo o batismo de
desejo (explícito ou mesmo implícito apenas). Valorizemos devidamen-
te os sacramentos, mas recpnhecamos a soberanía de Deus, mesmo
em relacao a estes.

Leitora assfdua (T-uz, MG):

«O fogo do inferno, de que nos fala a Biblia, 6 fog» real ou se


trata de metáfora?

A alma no Inferno nao sofre apenas a ausencia do amor de Deus?».

— Certamen te, o fogo do inferno, mencionado em Mt 5,22; 25,41...


nSo é o logo que conhecemos, pois éste devora e destról a sua presa.
Ademáis notemos que a S. Escritura, juntamente com o fogo, refere
vermes, trevas e ranger do dentes no inferno — expressOes estas que
nao podem ser tomadas ao pe da letra. É preciso, pois, procurar outro
entendimento do fogo do inferno.

Os melhores teólogos propóem a seguinte explicacáo: o fogo do


inferno significa o estado de fcchamento em si mesmo em que se
encontra a criatura. O homem no inferno se alheiou a tudo e a todos;

— 526 —
CORRESPONDENCIA MIODA 49

ele é incapaz de se abrir para Deus ou para outro homem, porque


repudiou o amor. A vida auténtica implica desabrochamento do ser
humano, comunhao com os outros, diálogo com um Tu; ora, odiando
a Deus, o reprobo nao ama ninguém; fica fechado na sua solidáo ou
no seu isolamento. Ele se torna assim o autor da sua própria desgraca.

Mesmo em relacao as criaturas irracionais e ao grande universo,


o reprobo é urna criatura isolada. Com efeito, o mundo irracional foi
feito para servir ao homem e, mediante o homem, servir a Deus.
Com outras palavras, o homem foi colocado neste mundo para utilizar
as criaturas inferiores segundo as leis do Criador e assim encaminhá-
-las para a glorificagáo de Deus. O reprobo, porém, tendo frustrado
esta missíio, 6 incapaz do se integrar no mundo que o cerca e de
integrar éste mundo em sua existencia, file está cercado de seres com
os quais nao se comunica nem tem diálogo; permanece estranho a
tudo e a todos. Esta situacáo pode ser comparada á de um prisioneiro
que se acha num cárcere obscuro sem portas nem janelas, devendo
ai existir sem ter a esperanca de jamáis deixar tal situacáo.

Evitemos dar colorido demasiado forte a estas imagens. O inferno


nao é fogo visivel nem cárcere dimensional, nem trevas iguais as da
térra..., mas é, antes do mais, rejeicáo do amor de Deus. Ora essa
rejeicáo implica no reprobo incompatibilidade com todas as criaturas
(cada urna destas é um reflexo do amor de Deus). Nao amar é con-
tradizer a urna das exigencias mais vitáis e fundamentáis do ser
humano; é isolar-se, é destruirse sem se aniquilar. Tal é a sorte que
o pecado (desamor) acarreta para o homem, sorte que a S. Escritura
descreve através de suas variadas imagens.

K. G. F. (Ribelrüo Prfito, SP):

1) Gostaria de ter tuna explicncSo do seguinte trecho: «Ao que


tem, darse-lheá, e terá em abundancia; mas ao que nao tem, ser-
-llie-á tirado até o que tem» (Mt 25,29).

— Nao há dúvida, a frase ácima, á primeira vista, é paradoxal.


Mas ela pode ser satisfátonamente entendida.

Na verdade, todos os homens receberam da parte de Deus um


conjunto de dons naturais (ou talentos, como diz a parábola em que se
inserom as palavras de Cristo): inteligencia, vontade, afetividade, ha-
bilidadc artística, capacidadc de comunicacáo, lidcranca... Os cristáos
receberam, além disso. as gracas valiosas da fé, das virtudes infusas
e da vida sacramental (que culmina na S. Eucaristía).

Muitos dos que receberam tais dons, vivem como quem os tem
realmente, isto é, desenvolvem-nos, aplicam-nos á realidade de cada
dia. Em conseqüéncia, vio crescendo ñas suas dimens5es humanas
e cristas. O Senhor nao se deixa vencer em generosidade; distribuí
novas gracas a ésses fiéis servidores.

Outros há que, embora tenham dons de Deus, vivem como se nao


os tivessem; sao tibios ou indiferentes a tais dons. A conseqüéncia é
que se sujeitam a perder o que tém; cedo ou tarde arriscanvse a cair
no pecado grave e ser despojados da graca divina. A mornura de
vida é extremamente perigosa para o cristáo. Pensemos no caso de
quem tem um braco, mas nao o usa por um motivo qualquer (fra-

— 527 —
50 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

tura, paralisia, médo...); essa pessoa corre o risco de vir a ter e


nao ter o seu braco; sem que scja amputado, o braco se lhe tornará
totalmente inútil, porque estará atrofiado pela falta de uso. Algo de
semelhante acontece a quem possui a capacidade de amar muito, mas
vive fria ou rotineiramente.

As palavras de Cristo, portanto, inspiram a norma cara aos mes-


tres da vida espiritual: no caminho do Senhor, quem nao progride
recua; é impossível ficar parado.

2).Que ó mais perfeito: a profissfio religiosa ou o sacramento do


matrimonio?

— Em si ou objetivamente falando, a profissao religiosa é mais


perfeita, pois significa a vida una ou indivisa, que Sao Paulo preferc
ao matrimonio (cf. 1 Cor-7, 32-34). Subjetivamente talando, porém,
isto é, considerando cada pessoa de per si, a melhor vocacáo é a que
Deus lhe dá; quem é chamado ao matrimonio, encontrará a Deus e a
santificacáo no casamento; quem é chamado á virgindade ou ao celi
bato, se realizará plenamente e servirá dignamente a Deus neste
estado.

3) É menos grave a desercáo da vida religiosa depois dos votos


perpetuos ou a separacáo do casal depois do sacramento?

— Logo de inicio digamos: a separaeño do casal com novas nupcias


é algo que nao se coaduna com o conceito cristao de matrimonio; o
divorcio é sempre ilícito.

Quanto á separatao setn divorcio, ou soja, o desquite, é algo que


se deve procurar evitar, mas que As vézes impede piores males (como
atritos constantes, maus exemplos, escándalos...). Pode ser solucáo
em certos casos.

Quando um religioso de votos perpetuos abandona a vida religiosa,


pode-se admitir que o faga ou com dispensa ou sem dispensa de seus
votos. Desercáo sem dispensa é em si (supondo-se que a pessoa seja
responsável) muito grave; vem a ser quebra da palavra peremptória-
mente dita a Deus. — O abandono da vida religiosa com dispensa de
votos nao é ilegal. Caso naja motivos justificados para que o Reli
gioso peca dispensa, esteja tranquilo, embora se deva sempre lamentar
a necessidade de pedir dispensa de votos.

Quanto a comparar a gravidade dessas diversas atitudes, é difícil


e temerario. So Deus pode proferir um juizo adequado sobre o com-
portamento de suas criaturas. Verdadc é que o matrimonio é um
sitcramonto, u a profissao religiosa um sacramental; isto, porém, nao
permite julgar a gravidade de cada caso de per si nem comparar os
casos uns com os outros.

E. B.

— 528 —
resenha de livros

A orac&o no mundo secular: desafio e chance, por Leonardo Boff,


Ademar Spindeldreier, Hermógenes Harada. Publicares CID, Espiri-
tualidade/1. — Editora Vozes, Petrópolis 1971, 135x210mm; 111 pp.

O mundo secular é o mundo laicizado em que os valores explícita


mente religiosos parecem íadados a ser sufocados e extintos. Como
entáo pode o cristáo pretender levar vida de oracáo nos ambientes
em que hoje vive?

A esta pergunta tenta responder a obra dos tres autores ácima,


eruditos franciscanos, dos quais o primeiro é teólogo, o segundo psi
cólogo, e o terceiro filósofo (discípulo de Heidegger). Frei Leonardo
Boíf mostra que a oracáo nao é simplesmente um ato ou um exercício,
mas é também um hábito ou urna atitude permanente; esta pode ser
vivida pelo cristáo através de todas as ocupaedes do seu dia, desde
que esteja unido a Deus e se reabastega regularmente em exercícios
de oracáo (veja-se a propósito o artigo sobre oragáo continua em PR
133/1971, pp. 21-29). Apenas cumpre observar aquí a ambigüidade de
certas formulac5es do autor: «Oracáo — .atitude no mundo secular...
é ser honesto, leal e companheiro... O ser bom é já urna forma
secular de ser cristáo» (p. 34). Na verdade, quem é homem reto e
bom, aínda nao é própriamente cristáo; para tanto, é preciso ter a
graca significante ou a elevacáo á filiacáo divina, que Cristo trouxe
por acréscimo á natureza do homem. Ademáis, para rezar continua
mente, é necessário ter no minimo a intencáo gcral de tudo fazer por
amor a Deus.

Frei Ademar Spindeldreier mostra como a psicología moderna


valoriza a interiorizacáo ou a descoberta do mundo interior do próprio
sujeito, onde há arquetipos religiosos e onde se pode fazer a experien
cia de Deus. Muito valiosas sao tais observacóes. Nao se deveriam,
porém, identificar simplesmente vida de oracáo e essa introspeceáo
(nem Frei Ademar pretende negar a vida e a acáo da graca no
orante). Segundo Sao Paulo, Rom 8, 26s, o Espirito Santo geme ou
ora inefávelmente no intimo do cristáo — o que supoe na prece algo
mais do que introspeceáo ou mera interiorizacáo do homem em si
mesmo.

Frei Hermógenes exalta a transcendencia e a inefabilidade de


Deus: vivemos a oracáo, mas nao podemos abarcar toda a sua pro-
fundidade. O estilo do autor esquadrinha, leva a pensar; tende, porém,
a mostrar aquilo que a vida de oracáo nao é mais do que aquilo que
ela é, ficando ao leitor a tarefa de tentar completar a tragetória iniciada.

Em suma, a coletánea ácima é rica em dados importantes para a


vida de oracáo; apresenta enfoques novos que bem atendem as con-
digóes em que o cristáo orante vive hoje em dia. As tres exposicóes
sao seguidas de antología de textos relativos á oracáo tirados de
autores notorios (S. Francisco de Assis, Dag Hammarskjold, Tomás
Morus...); nessa antología chama a atencáo especialmente o «Credo
para um tempo secular» publicado ás pp. HOs, da autoría da teóloga
protestante Dorothee Solle; silencia as proposigSes própriamente re-

koq
52 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

veladas por Deus para professar a fé na acáo renovadora do homem.


— O livro em foco pode ser tido como subsidio para o estudo, mais
do que um tratado completo; há de ser lido com certo discernimento.

E. B.

Lihertacao sexual da mulher, por Rose-Marie Muraro. — Ed.


Vozes, Petrópolis 1970, 135 x 210 mm, 166 pp.

Rose-Marie Muraro temse dedicado a estudos de futurologia,


levando em conta o comportamento do homcm na era da automacüo
crpsccnte. O livro ácima voltasc diretamento para a conduta sexual
do homem e da mulher através dos séculos.

1. Eis, em grandes linhas, a tese da autora:

Nos primordios da humanidade, havia certo coletivismo ou triba-


lismo: a propriedade era comum a todos os homens; nao existiam
barreiras ou limitacóes no setor sexual. Nesse ambiente, os homens
comecaram a se impor, dominando a propriedade (que se tornou par
ticular» assim como a mulher; esta passou a ser cerceada em suas
expressóes sexuais. O progresso da eivilizacáo foi impondo limitacóes
ao uso do sexo também por parte do homem; o trabalho passou a
exigir polarizagáo das energías do trabalhador em vista da producáo
e do consumo — o que rodundou em repressüo sexual. Daí as normas
que regem o comportamento tradicional do homem- e da mulher no
tocante ao uso do sexo; a sociedade veda certos comportamentos se
xuais e subordina a mulher ao homem.

Esboca-se, porém, urna reacáo a éste estado de coisas ou urna


contracultura. Esta se insurge contra a dominacáo exercida pelo
homem e contra os padrñes da sociedade de consumo. Prevalecerao os
criterios do afeto e os aspectos nao intelectivos da personalidade.
Essa contracultura tende a apagar as barreiras ou diferencas; o
«unissex* é urna de suas expressóes. Já nao haverá padrao único
para o uso do sexo. Éste nao está ligado á procriacáo; poderá haver
comportamento sexual independente da familia; a presenca de pai e
máe na educacao 'dos filhos nao será necessária, podendo ser o seu
papel desempenhado por creches e organizacóes estatais: «A criacáo
e a institucionalizaeño do equipamento coletivo nao mais tornam a
familia necessária (na prática) para a criacáo dos filhos, ao menos
no que se refere á protecáo material» (p. 1G0).

Haverá comunidade universal ou urna certa «.volta» ao coletivismo


primitivo. Neste conjunto a familia nao será por completo dissolvida,
mas será diluida e flutuante dentro do relacionamento dos homens e
das mulheres da nova sociedade. Em suma, nao haverá mais normas
para o comportamento sexual; apenas os mentores da sociedade tra-
taráo de dar formacáo o informacao ás jovens mulheres «para que
possam conscientemente decidir o que fazer com sua vida» (p. 155).
No mundo tradicional, «casamento e familia eram a única forma de
associacao e fora déles nao havia sálvagáo social para o individuo...
Quanto a mim (diz a autora), acredito que as novas formas de asso-
ciacáo tribal dos hippies ou os casamentos em grupo que comecam a
ser praticados nos paises desenvolvidos, sejam perfeitamente válidos.
Mas válidos para aqueles que necessitam déles... Em suma o que o
mundo tecnológico está trazendo de inestimavelmente humano, é a

— 530 —
RESENHA DE LJVROS _53

nocáo de plasticldade. Já existem sociedades cuja estrutura incluí


seres humanos que nao estejam unidos pelos lacos lamiliares e insti-
tucionalmente os aceitam...» (p. 157).
2. Eis, em suma, a tese do livro em foco. A autora recorre a
estatísticas e resultados das ciencias históricas, sociais, psicológicas,
para fundamentar o seu pensamento, maniéndose, porém, acessivel
a grande numero de leitores. Nao se pode negar: o livro apresenta
dados válidos e importantes.

Todavía, apesar de recorrer a elementos da ciencia, o livro de


R.-M. Muraro é um estudo filosófico mais do que urna obra científica.
Com eícilo, ole se baseia em concepgóes filosóficas c — mais aínda
— ... concepgóes filosóficas discutiveis, so nao falhas. Assim
1) A autora segué, em escala notável, a tese de Marcuse segundo
a qual há oposigáo entre trabalho e civülzaeSo, de um lado, e amor,
de outro lado; o trabalho, suscitando a ansia do consumo, terá defor
mado o amor (eros).

Na verdade, podemos reconhecer que o trabalho despertou e avi-


vou nos homens a ganancia da conquista e da prospeiidade. Mas esta
conscqüéncia nao é necessáriamente decorrente do trabalho. Éste é
um valor; a disciplina e a educagáo que o trabalho impSe aos homens,
sao bens incontestáveis. Se o trabalho tira ao homem o ocio para
ceder aos instintos eróticos, merece especial estima. Ele só contribuí
para beneficiar o auténtico amor, que 6 o amor iluminado pela inteli
gencia (e pela fé), dominador dos instintos cegos. Ceder aos impulsos,
independentemente de normas objetivas (decorrentes da própria na-
tureza do homem), equivale a entregar o homem aos caprichos da
irracionalidade ou da bestialidade. Até os animáis inferiores seguem
harmonía e coeréncia no seu comportamento sexual.

2) No livro de R.-M. Muraro nao se levam em conta suficiente os


valdres da moral e da consciéncia ética. Os criterios para explicar e
julgar o comportamento do homem sao os da producáo e da técnica;
a conduta do homem parece estrltamente condicionada por estes dados.
Nao há mengáo de um fim supremo a atingir, de um encaminhamento
para a plenitude da vida através das etapas desta caminhada terrestre;
Deus deixa de ser regra de costumes; o Cristianismo e a Religiáo
(pálidamente considerados) aparecem principalmente como fatóres
culturáis (cf. p. 126); as informagSes de índole científica ou profissio-
nal vém a ser os criterios decisivos para legitimar ou nao o compor
tamento de alguém. Nao se fala de renuncia, ascese, mortificagáo
como valores necessários para purificar o amor, fomentar a genero-
sidade altruista e manter o ser humano aberto para as realidades
espirit.uais e transcendentais. O livro de R.-M. Muraro nada tem de
explícitamente cristüo; em certas passagens, apresenta-se nítidamente
materialista, naturalista.

3) A tese de que nos primordios da historia havia propriedade


coletiva e promiscuidade entre homens e mulheres (p. 134) é discutí-
vel. A escola etnológica «Anthropos» de Viena, por obra de seus
grandes mestres (W. Schmidt, M. Gusinde, W. Koppers...), defende
posicáo diferente: no regime de cultura mais antiga, praticavam-se a
propriedade particular e o matrimonio monogámico. O coletivismo e
o tribalismo (ou a tendencia á indiferenciagao) sao posteriores, e
representan! aberracao na historia da humanidade.

— 531 —
54 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 143-144/1971

4) R.-M. Muraro apela para o fato de que nos viventes mais


primitivos o sexo nao é necessário para que haja procriacao; dá-se
em alguns casos a cissiparidade e a partenogénese (p. 143s: em lugar
de partogénese, deverse-ia ler partenogénese). Em conseqüéncia, o
uso do sexo nos viventes superiores nao se faria em fungáo da pro-
críagáo. Respondemos: justamente o íato de que nos animáis su
periores a reproducao está ligada ao sexo, mostra que a ascensao da
vida associa sexo e reproducSo. É verdade que o sexo nao existe
sómente ñas fungóes prccriativas; ele marca tñda a personalidade e
até cada célula do individuo; mas ele implica diferenciacáo inconíun-
dível entre os individuos, diferenciacáo que pede complementacao no
convivio de marido e mulher e que atinge a sua expressáo derradeira
e mais concreta na procriacao.

5) Certos conceitos da obra «Liberdade sexual da mulher» silo


falhos:
— «Mística» seria emogáo, euforia ou as sensacóes obtidas pelos
•tbeatles» ou «hippies» (pp. 120s). — Na verdade, a mística é o conhe-
cimento experimental de Deus que se obtém mediante amor puro e
ardente ao Senhor; tal conhecimento é o resultado da afinidade da
criatura com o Criador. As atitudes dos «hippies», muitas vézes ali
mentadas por drogas, sao geralmente atitudes de transe ou alienacáo,
que nao se devem confundir com a genuína mística.
«O homem é, evidentemente, urna simples ramificacao mais
bem sucedida do ramo dos primatas e, como tal, seu comportamento
segué a linha do comportamento animal» (p. 141). Embora a autora
tempere estas afirmagoes dizendo logo que «o homem é o único
animal dotado de autonomía», os seus dizeres nao deixam suficiente
mente clara a presenga, no liomem, de valores espirituais e transcen-
dentáis: alma, espirito, abertura para Deus e o infinito... nao podem
faltar numa descrigáo do que seja o homem.
— «O comportamento cria o órgao necessário» (p. 148). Esta
afirmacáo merecería reservas da parte dos estudiosos. Cf. o livro de
V. Marcozzi, «Evolucáo hojea., Sao Paulo 1969, p. 234.

6) Sobre a nudez, de que tratam favorávelmente as pp. 61-67, já


apareceu um artigo em PR 138/1971, pp. 259-269. As idéias de Jean-
•Jacques Rousseau inspiram o abono da nudez; infelizmente, porém,
a natureza humana veio a ser, e é, sede de apetites desordenados.

Em suma, o livro «Libertagáo sexual...» foi escrito segundo urna


vlsao meramente natural (psicológica, sociológica, económica...) do
ser humano; tecnología, automocáo, eletrónica sao criterios predomi
nantes dessa visfio antropológica. O livro parece ignorar o relaciona-
mentó do homem com Deus e com os valores espirituais, característicos
de urna antropología cristú. A conclusáo a que chega a obra, é a
legltimacüo do relativismo c do libertinismo subjetivos em materia de
comportamento sexual; tudo poderia ser permitido, con tanto que fósse
espontáneo.

Nao quem há nao perceba obsessáo e deformagáo nessas páginas.


Por certo, Rose-Marie Muraro repensará seriamente no que escreveu.
A grandeza e a felicidade do homem se encontram na subordinagao
dos instintos cegos á visáo da razáo e da fé.

E. B.

— 532 —
ÍNDICE 1971

ERGUNTE

Responderemos
ÍNDICE 197 1

(Os números á direita indicam respectivamente fascículo, ano de


edicáo e página).

ABSOLVICAO COLETIVA 1ÍL^2S' p' «?'


«ACASO E NECESSIDADE» de Jacques Monod 141/1971, p. 386.
ACASO E ORIGEM DO UNIVERSO 141/1971, p. 386.
ALMA IMORTAL: novas concepcóes 138/1971, p. 254.
AMOR Á IGREJA . 140/1971, p. 341.
AMOR ANTECIPADO DE DEUS AO HOMEM.. 134/1971, p. 66;
E ORACAO CONTINUA 133/1971, p. 27.
AMOR LIVRE e expansáo da personalidade ... 137/1971, p. 229;
e «Love Story» 142/1971, p. 469.
APLICACAO DA S. MISSA PELOS DEFUNTOS 143-144/1971, p. 501.
APÓCRIFOS DA BIBLIA 137/1££' p* ??|-
APOLÓNIO DE TIANA e milagres 135/1971, p. 113.
ARIGÓ 136/1971, p. 186.
ASCLÉPIO (Esculapio), O DEUS MÉDICO 135/1971, p. 111.
ASTROLOGIA E HORÓSCOPO 139/1971, p. 309.

BATISMO DE AGUA, DE SANGUE E DE


DESEJO 140/1971, p. 351;
BATISMO DE CRIANCAS 140/1971, p. 347.
BEELZEBUB e mitología 133/1971, p. 9-
BERGMAN, INGMAR e «papisa» Joana 141/1971, p. 412.
BIBLIA CATÓLICA E B. PROTESTANTE .... 137/1971, p. 204.
BIBLIA e estudos críticos 136/1971, p. 173.
BROTINHOS E COROAS 135/1971, p. 122.
BUÑUEL, LUIS: «O estranho caminlio de S.
Tiago» 140/1971, p. 357.

«CAMINHO DE S. TIAGO (O ESTRANHO)» —


filme de Luis Buñuel 140/1971, p. 357.
CANDOMBLÉ 139/1971, p. 319.
CANON BÍBLICO na historia judeocrista 137/1971, p. 204.
CARTA APOSTÓLICA «OCTOGÉSIMA ADVE-
NIENS» 140/1971, p. 369.

— 534 —
ÍNDICE DE 1971 57

CATALOGO BÍBLICO entre judeus e crlstáos.. 137/1971, p. 206.


CATECISMO HOLANDÉS e ressurreicao 138/1971, p. 255.
«CÁVALO DE TRÓIA NA CIDADE DE DEUS» 138/1971, p. 270.
CENSURA DE DOUTRINAS NA IGREJA .... 138/1971, p. 278.
CEREBRO e morte real 137/1971, p. 195.
CIENCIA E BOM HUMOR 134/1971, p. 60;
CULTURA 134/1971, P- 58;
MORAL 134/1971, P- 56;
POLÍTICA 134/1971, P- 57;
PÚBLICA INFORMACAO 134/1971, P- 58.
CIENCIAS HUMANAS 134/1971, _
P- 59.
CINEMA, TEATRO e opiniáo pública 142/1971, p. 467.
CÓDIGO DE DEONTOLOGIA MÉDICA 141/1971, p. 425.
COMA E MORTE 137/1971, p. 200.
COMUNHÁO DOS SANTOS e sufragio pelos
mortos 143-144/1971, p. 500;
«COMUNHÁO E PROGRESSO» 142/1971, p. 458.
CONFISSAO DOS PECADOS ABOLIDA? 136/1971, p. 152;
141/1971, p. 419;
COMUNITARIA 141/1971, p. 424;
DOS RELIGIOSOS 141/1971, p. 420.
CONFLITO DAS GERACÓES 135/1971, p. 122.
CONSCIÉNCIA CRISTA e transplantes 137/1971, p. 202.
CONTEMPLAQAO ININTERRUPTA DE DEUS 133/1971, p. 23.
CORPO-ALMA OU CORPO E ALMA? 138/1971, p. 247.
CRIANCAS QUE MORREM SEM BATISMO .. 140/1971, p. 347.
CRISTIANISMO: novidade na historia 134/1971, p. 63.
«CRISTO, O HIPNOTIZADOR» 134/1971, p. 75.
CRISTO SEPULTADO VIVO? 139/1871 p. 299.
CRITICA LITERARIA E BIBLIA 136/1971, p. 173.
CULTOS AFROBRASILEIROS: significado ... 139/1971, p. 319.

«DANCA DOS ORIXAS» 139/1971, p. 319.


DEMITIZACAO E RESSURREICAO 139/1971, p. 291.
DEMOCRACIA: procura de forma ideal 143-144/1971, p. 520.
DEONTOLOGIA MÉDICA 141/1971, p. 425.
DEUTEROCANONICOS E APÓCRIFOS 137/1971, p. 204.
DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA 143-144/1971, p. 511.

ELETROENCEFALOGRAMA e veriíicacáo da
morte 136/1971, p. 198.
EROTISMO MODERNO 138/1971, p. 261.
ESLOVAQUIA: situacao religiosa 133/1971, p. 30.
ESPIRITO CORPORIFICADO 138/1971, p. 247
ESPÓRTULAS OU HONORARIOS: histórico... 143-144/1971, p. 502.
ESTADO DE GRACA e oracáo continua 133/1971, p. 22.
ÉTICA DA SITUACAO E MUDANCAS NA
MORAL 141/1971, p. 400.

— 535 —
58 ÍNDICE DE 1971

EUCARISTÍA E CONFISSAO NA IGREJA


ANTIGA 136/1971, p. 169.
EXAME DE DOUTRINAS SUSPEITAS 138/1971, p. 278.
EXCOMUNHAO DE HENRIQUE IV 133/1971, p. 44;
143-144/1971, p. 485;
DE LUTERO 143-144/1971, p. 484.
EXISTENCIALISMO ÉTICO 141/1971, p. 401.
EXPANSAO RÁPIDA DO CRISTIANISMO ... 134/1971, p. 71.

FÉ E MILAGRES 134/1971, p. 79.


FELICIDADE: que é?....: 133/1971, p. 12.
FILOSOFÍA GREGA E PENSAMENTO
MODERNO 138/1971, p. 247.

GREGORIO VII. PAPA POLÍTICO? 133/1971, p. 35.


GROLLENBERG, LUC. H.: «.Nova Imagem da
Biblia» 136/1971, p. 173.

HERESIA: que é? 138/1971, p. 279.


«HIPPIES» e «Revolucáo de Jesús» 142/1971, p. 434.
«HISTORIA DE AMOR», de Erich Segal .... 142/1971, p. 469.
HISTORICIDADE DA RESSURREICAO DE
JESÚS 139/1971, p. 290.
HOMEM «CORPO-ALMA» OU «CORPO E ALMA* 138/1971, p. 247.
HORÓSCOPO 139/1971, p. 308.

«IGREJA DE CRISTO: sua Pessoa e seu pessoal»


de Jacques Maritain 142/1971, p. 446
IGREJA DO SILENCIO 133/1971, p. 30;
E JUSTICA SOCIAL NO SÉCULO XIX 140/1971, p. 369;
PENITENTE 142/1971, p. 448.
IMPRENSA ESCRITA: responsabilidade 142/1971, p. 467.
INDIVIDUO E COMUNIDADE frente ao pecado 137/1971, p. 225.
INDULGENCIAS: histórico e significado 143-144/1971, p. 486.
INQUISICAO e Joana d'Arc 134/1971, p. 86.
INSPIRACAO BÍBLICA E REVELAQÁO 135/1971, p. 96.

— 536 —
ÍNDICE DE 1971 59

INSTRUCAO PASTORAL «COMMUNIO ET


PROGRESSIO» 142/1971, p. 458.
INTENCOES DO AGIR HUMANO e oracáo.... 133/1971, p. 28.
INVESTIDURA LEIGA DE BISPOS 133/1971, p. 38.

JACULATORIAS e oragáo continua 133/1971, p. 24.


«JESÚS CRISTO», de Roberto Carlos 135/1971, p. 116.
JESÚS e os taumaturgos pagaos 135/1971, p. 108.
JOANA D'ARC: santa ou nao? 134/1971, p. 82.
JOANA «PAPISA» 141/1971, p. 411.
JOHREI, nova religiáo 139/1971, p. 328.
«JOSÉ», de Moustaki 133/1971, p. 11.
JUSTICA SOCIAL E IGREJA, no sáculo XIX.. 140/1971, p. 369.
JUVENTUDE: diversas acepcóes de 135/1971, p. 122.

KÜNG. HANS: «Por que fico na Igreja?» .... 140/1971, p. 338.


KASTLER, ALFREDO: ciencia responde a tudo? 134/1971, p. 51.

LAICATO CATÓLICO E JUSTICA SOCIAL .. 140/1971, p. 377.


LEÍ E AMOR frente ao pecado 137/1971, p. 218.
LIBERALISMO CAPITALISTA e o cristao ... 143-144/1971, p. 511.
LIBERDADE E CONDICIONAMENTOS (atenu
antes do pecado) 137/1971, p. 220;
RELIGIOSA e transfusáo de sangue 141/1971, p. 426.
LIMBO: sim ou nao? 140/1971, p. 347.
«LOVE STORY», de Erich Segal 142/1971, p. 469.
LUTERO E EXCOMUNHAO 143-144/1971, p. 482.

MAC ARTHUR e juventude 135/1971, p. 126.


MARITAIN, JACQUES, e a Igreja 142/1971, p. 446.
MARXISMO: variantes contemporáneas 143-144/1971, p. 510.
MEIOS DE COMUNICACÁO SOCIAL: respon-
sabilidade 142/1971, p. 458;
OBTER A SALVACAO (batismo e
outros) 140/1971, p. 351.
MILAGRES DE CRISTO e sugestáo 134/1971, p. 78;
NO EVANGELHO 136/1971, p. 181;

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60 ÍNDICE DE 1971

PAGAOS ANTIGOS 135/1971, p. 111;


SINAL DE SALVACAO 136/1971. p. 182.
MISSAS PELOS MORTOS 143-144/1971, p. 495.
MITOS NA BÍBLIA 133/1971, p. 3.
MONOD, JACQUES: «O acaso e a necessidade» 141/1971, p. 386.
MONOTEÍSMO EM GERAL: fenómeno singular 134/1971, p. 64.
MONSTRO MARINHO 133/1971, p. 7.
MORAL DA SITUACAO 141/1971, p. 401.
MORTE CLÍNICA E MORTE REAL 137/1971, p. 194.
MUDANCAS NA MORAL 141/1971, p. 400.
MUNDO SECULARIZADO 138/1971, p. 239

NATURALISMO E NUDISMO 138/1971 p. 260.


NEGRO BRASILEIRO E N. AFRICANO 139/1971, p. 321.
NIXON CONTRA OBSCENIDADE 138/1971, p. 267.
NOBEL, ALFREDO, vida e 'obra de 136/1971, p. 145.
NOVICAS INDIANAS: o caso 135/1971, p. 128;
o resultado dos inquéritos 142/1971, p. 475.
NU ARTÍSTICO 138/1971, p. 266.
NUDEZ NA ERA TECNOLÓGICA 138/1971, p. 259.

«OCTOGÉSIMA ADVENIENS» e doutrina social


da Igreja 143144/1971, p. 506.
ORACAO" CONTINUA 133/1971, p. 21;
E NOVA VISAO DO MUNDO 138/1971, p. 243;
TRABALHO 138/1971, p. 245.
ORIGEM DO UNIVERSO 141/1971, p. 386.
ORIXÁS: significado 139/1971, p. 318.

PAPA GREGORIO VII: político? 133/1971, p. 36.


PAULO VI E EXCOMUNHAO DE LUTERO 143-144/1971, p. 482.
«PAPISA JOANA» 141/1971, p. 411.
PARAÍSO TERRESTRE: que era? 138/1971, p. 246.
«PATER PATRUM» 141/1971, p. 418.
PECADO MUDOU? 137/1971, p. 217;
NA IGREJA SANTA 133/1971, p. 39.
PECADOS GRAVES E P. LEVES 136/1971, p. 161;
137/1971, p. 227.
PENA DE MORTE e Inquisicáo 143-144/1971, p. 493.
PENITENCIA ANTIGA 136/1971, p. 159.
PENTECOSTAIS CATÓLICOS 142/1971, p. 441.
PESSOAL DA IGREJA 142/1971, p. 449.

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ÍNDICE DE 1971 61

PIETER VAN MEER DE WALCHEREN, monge


escritor 137/1971, p. 203.
PRECES PELOS DEFUNTOS 143-144/1971, p. 495.
PREMIO NOBEL: origem 136/1971, p. 144.
PSICANALISE E PECADO 137/1971, p. 220.
PSICOLOGÍA RELIGIOSA DO HOMEM NEGRO 139/1971, p. 321.

RADIO E TELE VIS AO: responsabüidade 142/1971, p. 467.


REGULAMENTO NOVO PARA EXAME DE
DOUTRINAS NA IGREJA 138/1971, p. 278.
RESSURREICAO DE CRISTO: historicidade .. 134/1971, p. 69;
139/1971, p. 300;
novas interpre
tares 139/1971, p. 290;
DOS CORPOS 138/1971, p. 247.
REVELACAO E INSPIRACAO 135/1971, p. 101.
«REVOLUCAO DE JESÚS» nos Estados Unidos 142/1971, p. 434.
REVOLUQAO MORAL DO CRISTIANISMO .. 134/1971, p. 73.
REZAR NUM MUNDO SECULARIZADO 138/1971, p. 239.
ROBERTO CARLOS: «JESÚS CRISTO» 135/1971, p. 116.

SALVACAO DAS CRIANCAS MORTAS SEM


BATISMO 140/1971, p. 355.
SALVAR VIDA OU RESPEITAR CONSCIÉN-
CIA ALHEIA? 141/1971, p. 425.
«SALVO-CONDUTO IMPERIAL» P/ LUTERO 143-144/1971, p. 490.
SANTOS CATÓLICOS E ORIXAS 139/1971, p. 324.
SÁTIROS na mitología 133/1971, p. 6.
SÉCULO «OBSCURO» OU «DE FERRO» (séc. X) 133/1971, p. 36.
SEPULCRO VAZIO 139/1971, p. 296.
SEU SETE DA LIRA 143144/1971, p. 522.
SIMONÍA na Idadc Media 133/1971, p. 38.
SOCIALISMO: novas formas e Igreja 143144/1971, p. 519.
SOLIDARIEDADE COM CRISTO e salvado das
criancas 140/1971, p. 353.

TECNOLOGÍA E NUDISMO 138/1971, p. 259.


TOLERANCIA DA IGREJA FRENTE AO ERRO 138/1971, p. 278.
TRANSFUSAO DE SANGUE CONTRA A VON-
TADE DO PACIENTE 141/1971, p. 425.
TRANSPLANTE DE ÓRGAOS 137/1971, p. 193.

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62 ÍNDICE DE 1971

UNIAO LIVRE ENTRE CONJUGES 137/1071, p. 232.


UNIDADE DO SER HUMANO 138/1971, p. 252.
UTOPIAS SOCIAIS CONTEMPORÁNEAS .... 143-144/1971, p. 511.

VAIDADE E ORGULHO 138/1971, p. 243.


«VÍA LÁCTEA» de Luis Buñuel 140/1971, p. 358.
VIDA E MORTE NA BIBLIA 138/1971, p. 247.
ININTERRUPTA DE ORACAO 133/1971, p. 27.
NAO É FENÓMENO MERAMENTE FÍ
SICO-QUÍMICO 133/1971, p. 55.
POSTUMA E PURGATORIO 143-144/1971, p. 496.
VOZ DA CONSCIÉNCIA 138/1971, p. 263.

ZÉ ARIGÓ 136/1971, p. 186.


ZODÍACO 139/1971, p. 311.

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ÍNDICE DE 1971 63

EDITORI AIS

A ORACÁO DO POSTE 137/1971, p. 189.


«MEU DEUS, AFASTA DE MIM A TENTACAO
DA SANTIDADE!» 138/1971, p. 237.
NOVO ANO 133/1971, p. 1.
0 FILHO DO RISO 140/1971, p. 140.
O SANTO É UM PECADOR 134/1971, p. 49.
OS ZEROS E A UNIDADE 142/1971, p. 432.
«ONDE ESTA O TEU DEUS?» 136/1971, p. 141.
PROVA MAIOR NAO HA 141/1971, p. 383.
«QUANDO O HOMEM ACABA, ENTAO É QUE
COMECA» 143-144/1971, p. 479.
SACIADOS, MAS AÍNDA SEQUIOSOS! 135/1971, p. 93.
«SOU UM HOMEM DE ESPERANCAj. 139/1971, p. 287.

LIVROS APRECIADOS

A. Dondeyne e outros — ATEÍSMO E SECU-


LARIZACAO 140/1971, p. 382.
Alberto Chamberí, O. P. — EVANGELHO PARA
REZAR 141/1971, 3* capa.
Alfred Lapple — A MENSAGEM DOS EVAN-
GELHOS HOJE 140/1971, p. 381.
Alfredo Lage — A RECUSA DE SER. A FA
LENCIA DO PENSAMENTO LIBERAL 141/1971, p. 429.
Carlos Mesters — DEUS, ONDE ESTAS? CURSO
DE BIBLIA 141/1971, p. 429.
PARAÍSO TERRESTRE: SAUDADE OU
ESPERANCA? 138/1971, p. 246.
Dietrich von Hildebrand — CÁVALO DE TRÓIA
NA CIDADE DE DEUS 138/1971, p. 270.
Edward de Bono — O PENSAMENTO CRIATI-
VO, COMO ADQUIRI-LO E DESEN-
VOLVÉ-LO 133/1971, 3* capa.

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64 ÍNDICE DE 1971

Francisco Sparta, S. J. - A DANCA DOS


ORDCÁS 139/1971, p. 319.
Fransen. SchUlebeeckx e outros — PADRES „„..„, A7
AMANHA? IDOC2 133/1971, p. 47.
Hans Küng — POR QUE FICO NA IGREJA? 140/1971, p. 338.
Hans Reinhard Rapp — CIBERNÉTICA E
TEOLOGÍA. O HOMEM, DEUS E O
NÚMERO 133/1971, p. 48.
Hubert Lepargneur - A SECULARIZACAO .. J4?/^, p. 381.
Irene Tavares de Sá — AOS 15 ANOS 141/1971, p. 430.
J. AUard — A ESPERANCA INSPIRADORA
DA VIDA RELIGIOSA 134/1971, p. 92.
J. G. Ranquet — CONSELHOS EVANGÉLICOS „_,,,„_ __
E MATURIDADE HUMANA 134/1971, p. 92.
J L Segundo e J. P. Sanches — AS ETAPAS
PRÉCRISTAS DA DESCOBERTA DE
DEUS 133/1971, p. 47.
Jacques Doyon — CRISTOLOGIA PARA O _„„-_, ,,
NOSSO TEMPO 135/1971, 3» capa.
Jacques Durandeaux — QUEM É TEU DEUS?
QUESTAO VIVA DE UM DEUS MORTO 135/1971, 3* capa.
Jacques Maritain — A IGREJA DE CRISTO: ,,„.,„, ...
SUA PESSOA E SEU PESSOAL 142/1971, p. 446.
Jacques Monod — O ACASO E A NECESSIDADE 141/1971, p. 386.
José Maria González — POBREZA EVANGÉ
LICA E PROMOCAO HUMANA 135/1971, p. 140.
L. De Revés — MISSAO CARISMÁTICA DOS
RELIGIOSOS NA IGREJA 134/1971, p. 92.
Lauro de Oliveira Lima — MUTACÓES EM
EDUCACAO SEGUNDO MC LUHAN... 142-1971, p. 478.
— O IMPASSE NA EDUCACAO. DIAG
NÓSTICO, CRITICA, PROSPECTIVA 142/1971, p. 478.
— TREINAMENTO EM DINÁMICA DE
GRUPO NO LAR, NA EMPRESA,
NA ESCOLA 137/1971, 3» capa.
Leonardo Boff, Ademar Spindeldreier, Hermóge-
nes Harada — A ORACAO NO MUNDO
SECULAR 133-134/1971, p. 530.
Luc. H. Grollenberg — A NOVA IMAGEM DA
BIBLIA 136/1971, p. 173.
Luise Rinser — UM DIALOGO, UM HORI
ZONTE 136/1871, 3' capa.
Madeleine Delbret — A ALEGRÍA DE CRER 136/1971, 3«capa.
Marcos Hochheim — CRISTO, O HIPNOTI
ZADOR 134/1971, p. 75.
Mati Robert — PAÍS E FILHOS FELIZES .... 134/1971, 3* Capa.
Nazareno Fabbretti —CATOLICISMO E LJBER-
DADE. A CONSCIÉNCIA INDIVIDUAL,
CRITERIO INVIOLAVEL 140/1971, 3» capa.
O. Melancon — VIDA RELIGIOSA E DIVERSI-
DADE DAS ALMAS ... ^ 134/1971, p. 92.
Raimundo Cintra e outros — CREDO PARA
AMANHA 135/1971, p. 139.
Rose-Marie Muraro — LIBERTACAO SEXUAL
Valfredo Tepe — DIALOGO E AUTO-REALIZA-
CAO 136/1971, p. 188.

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