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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(¡n memoríam)
APRESErMTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanza a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa espe ranga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'.■" visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibillzar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
FJLOtOHfl

ANO XV — N* 169 JANEIRO DE 1974


índice

"EIS QUE FACO NOVAS TODAS AS COISAS" 1

Houve tempestade:

OS BISPOS DA HOLANDA E O PAPA 3

Movimentos do jovens:

DESPERTAR DA JUVENTUDE PARA CRISTO 11

No cinema: :

"GODSPELL, A ESPERANCA" EM FOCO 25

Vinte e dois anos após a descobeita:


A PÍLULA ANTICONCEPCIONAL EM FOCO 32

RESENHA DE LIVROS 40

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

* * •

NO PRÓXIMO NÚMERO :

ConfissSo dos pecados e psicanálise. — Eutanasia em foco. —


Aparicóes e «aparicóes» de Nossa Ssnhora. — «Memorias o Cartas
da Irma Lucia».

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Assinaturn anual Cr$ 40.00


Número avulso tic qualqucr mes Ci S 5 0!)
Voluntes encadernados de 1958 e 1959 (pre?o unitario) ... Cr$ 35,00
ímliic Geral do 1¡)57 a 1901 Cr5 10,00

EDITORA LAUDES S . A .

RKDACAO DE PK ADMINISTKACAO
Caixa Postal 2.«66 Klla Sao Rafael, 38, ZC-09
ZC-01) 20000 Rio de Janeiro (GB)
2000 Kio «le Janeiro (GB) Tels.: 268-9981 e 268-2796
TODAS AS COÍSAS"
Em Janeiro iniciamos novo ano... K natural que os ho-
mens procurem entao tomar consciéncia do que esse novo perío
do poderá significar para eles. Os cristáos o íazem, recorrendo
as iontes ao pensamento cristáo.

E que sugerem estas fontes?

Comecemos por observar que a palavra novo é das mais


atraentes para todo ser humano, pois significa o contrario de
«velho, desgastado, acabado, uitrapassauo...»

Ora novo é um dos adjetivos mais freqüentes nos textos


bíblicos do Novo Testamento. De tato, Cristo veio trazer um
ensinamento novo, que Írnpressionava os s«us ouvintes admira
dos (cf. Me 1,27); o mandameuto daí decorrente também é
novo (cf. Jo 13,34j, pois é-o preceito do amor, que deve imitar
o amor de Deus para com os homens (cf. Jo 3,16; 1 Jo 4, 9).
Esse amor novo, surpreendente, vai levar a urna alianga nova
de Deus com os homens (cf. Le 22,20; 1 Cor 11,25.). Essa
alianga nova já nao é escrita em tábuas de pedra, mas em co-
racoes de carne (cf. 2 Cor 3,3; Jer 31,33; Kz 38,26s).

É o Espirito Santo que infunde o seu amor nos homens


chamados á nova Alianga, dando-lhes nao somente um novo
teor de vida moral, mas — muito mais ainda — a filiagáo di
vina, a comunháo de vida com o Pai e o Filho (cf. Jo 15, 9s;
17,26; 1 Jo 4,16). O cristáo vem a ser nova, criatura. Sao
Paulo o diz de maneira enfática, ao afirmar: «Se alguém está
em Cristo, é urna nova criatura; o ve;ho ser desapareceu, e eis
presente um novo ser» (2 Cor 5,17; cf. Gal 6, 15). Um novo
ser, portanto, urna nova realidado interior, e nao apenas um
novo comportamento, caracteriza o cristáo.

Essa realidade nova que o cristáo traz dentro de si, tende


a se afirmar e desenvolver dia por di a, de sorte que um para-
doxo se instaura no discípulo de Cristo: ele envelhece e definha,
sem dúvida, no plano físico, exterior, mas, ao mesmo tempo,
ele se renova e rejuvenesce interiormente, tornando-se cada vez
mais vigoroso e prenhe de vida eterna. É o que diz o Apostólo:
«Nao nos deixamos abater. Pelo contrario, ainda que nosso
homem exterior seja destruido, nosso homem interior se re-
nova de dia para dia» (2 Cor 4,16). Todos os dias toca ao

— 1 —
cristáo despojar-se do velho homem, e revestir-se do novo (cf.
Col 3,10; Ef 4,22s).

Mais. O processo de renovacáo trazida por Cristo, afetan-


do o homem, afeta também o mundo inteiro, pois há solidarie-
dade entre o homem (microcosmos) e o universo (macrocos
mos) . Sim; as criaturas irracionais, violentadas pela insensatez
e o pecado do homem, estáo como que a aguardar a revelagáo
da gloria dos filhos de Deus (cf. Rom 8,18s). É para a piena
restauragáo da ordem violada pelo pecado que a historia dos
homens e do mundo caminha; no fim dos tempos, diz a Escri
tura, «haverá novos céus e nova térra, em que habitará a jus-
tica» (2 Pe 3,13).

Tal vem a ser, em poucas linhas, a importancia da palavra


novo nos escritos do Novo Testamento (ou da Nova Alianza).

Pois bem. É consciente destas idéias que o cristáo entra


no novo ano civil de 1974. Esse período deverá, pois, signi
ficar para ele:

— penetracáo mais a fundo dentro de urna realidade iné


dita, surpreendente, que é a realidade da filiagáo divina e da
vida eterna já iniciada no tempo e tendente a se manifestar
sempre mais. Ser cristáo é desfrutar o convivio de Alguém
que é sempre desconcertantemente novo;

— rejuvenescimento do homem interior, de tal sorte que,


para o cristáo, nao há velhice propriamente dita. Dizia muito
bem John Wu, o diplomata chinés convertido ao Cristianismo:
«Posso envelhecer. Meu coragáo há de permanecer sempre jo-
vem. Renasco cada manhá e canto: Gloria ao homem que em
mim, novo, se ergue! Morra o homem que deixei de ser!»
— fortálecimento da esperanga. Se o cristáo vive de urna
realidade imperecível, ele nunca se deixa abater, mas sabe que
Deus tem constantemente solugóes inéditas e imprevistas para
as questóes dos homens; ele sabe que o poder criador de Deus
nao se esgotou, mas continua sempre «imaginando» novas e
novas projecSes de sua arte.

Por isto também o cristáo é um homem de ideal. Ele so-


nha, sem esmorecimento, com a realizagáo do belo plano de
Deus e tem a coragem de se empenhar com todas as fibras do
seu ser para que esse sonho se torne realidade.

Viver com tais disposicóes de espirito nao é luxo, más é


simplesmente um dever,... dever de que o cristáo se torna
mais urna vez consciente no limiar de novo ano!

E. B.

2
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XV — N« 169 — Janeiro de 1974

Houve tempestade:

os bispos da holanda e o papa


Em síntese: Por ocasiáo do décimo aniversario do pontificado do Santo
Padre Paulo VI (30/VI/1973), os bispos da Holanda publicaran) Importante
Carta Pastoral dirigida a todos os fiéis do país, em que lembram as funcQes
da Cátedra de Pedro e os grandes méritos da pessoa e da obra de
Paulo VI.

Com efeito, á Sé de Roma quis Cristo confiar a mlssao de manter a


unldade entre as diversas porcóes (dioceses, arquidioceses) da Igreja, que
se vio diversificando necessariamente para poder dialogar com os povos
de todas as partes do mundo; as expressSes da fé, as formas de celebra-
cao da Liturgia, a disciplina do clero, dos Religiosos, tomando notas mals
significativas para os diversos povos a que se dirigem, poderiam ameacar
a unldade da Igreja, se nao fosse a Sé Apostólica de Roma, Instituida por
Cristo como criterio da fé e da auténtica moral da S. Igreja. A Cátedra
de Pedro exerce suas funcSes nao somonte em virtude dos predicados
humanos do Romano Pontífice, mas por efeito da infalível assisténcia que
Cristo Ihe quis assegurar.

De modo especial, a pessoa de Paulo VI, sendo Pedro presente a nos-


sos dias, tem-se tornado benemérita pelos frutuosos esforcos que vem
exercendo para aplicar á vida prática da Igreja as normas emanadas do
Concilio do Vaticano II. Particular alusao é feita, nessa Carta dos bispos
da Holanda, ás viagens do S. Padre Paulo VI aos cinco continentes do
mundo, viagens que se inspiram de zelo apostólico e desejo de diálogo
com todos os homens.

Comentario: Sabe-se que os católicos da Holanda, mun-


dialmente conhecidos por seu fervor missionário e sua fideli-
dade á Santa Sé de Roma, tém passado por fase tormentosa:
o famoso «Catecismo Holandés», o Sínodo Pastoral dos Países-
-Baixns, os debates sobre o celibato do clero... ocuparaní notá-
vel lugar nos noticiarios religiosos dos últimos tempos. Cf.
PR 96/1967, pp. 515-527; 102/1968, pp. 250-265; 113/1969,
pp. 205-214; 114/1969, pp. 240-252. Falava-se até da possi-

— 3 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

bilidade do um cisma na Holanda, tal era o espirito de auto-


nomia que parecía inspirar as atitudes de grupos católicos ho
landeses. Eis, porém, que as posigóes extremadas já sao menos
acentuadas. Verifica-se mesmo que o retorno ao equilibrio
ganhou novo impulso quando, por ocasiáo do 10* aniversario
do pontificado de Paulo VI (30/VI/73), os bispos da Holanda
dirigiram aos seus fiéis urna Carta Pastoral coletiva, em que
Ihes expunham o significado da Sé de Pedro e Ihes recomen-
davam a fidelidade e o afeto que devem unir os fiéis católicos
á pessoa do Papa. :

Dada a grande importancia desse documento, que pode


ser útil a todos os cristáos (máxime se se leva em conta que
provém da Holanda, já tida como pioneira da contestagáo),
publicamo-lo abaixo em tradugáo portuguesa, á qual se seguirá
breve comentario:

I.

CARTA PASTORAL DOS BISPOS DOS PAÍSES-BAIXOS


por ocasiáo do X aniversario do pontificado de Paulo VI

"No dia 30 de junho de 1963, dia seguinte ao da festa dos


SS. Apostólos Pedro e Paulo, Paulo VI foi coroado Papa.

Dez anos se passaram após essa data. Hoje em nossa


Provincia Eclesiástica, empenhamo-nos por dar atengáo espe
cial a esse aniversario. É por isto que, como bispos dos Paí-
ses-Baixos, nos nos dirigimos a vos, publicando a presente
Carta, na qual desej3mos exprimir nossos sentimentos de soli-
dariedade para com o Papa Paulo VI, tanto no plano de nossa
fé comum como no plano humano.

No decurso dos últimos dez anos, o mundo em que vive


mos foi sacudido por importantes acontecimentos. Certas mu-
dancas já iniciadas antes da hora presente foram-se delinean
do com mais nitidez. Tratava-se de transformacóes nos níveis
filosófico, científico, económico, social e político, que reper-
cutiam na mentalidade dos homens e na consciéncia que estes
tinham de suss possibilidades.

Se é verdade que no passado muitos se sentiam felizes


por ser dirigidos por urna autoridade superior, nao é menos
certo que, desde alguns anos, esses mesmos homens aspiram
OS BIPOS DA HOLANDA E O PAPA

a que a autoridade Ihes reconhega a maturidade á qual eles


chegaram. De modo geral, nao pensam em questionar a per-
feita legitimidade da autoridade como tal; mas levantam certas
interrogagdes a propósito da maneira como essa autoridade é
exercida.

Ao mesmo tempo, vimos nascer e desenvolver-se outras


oposigoes... Oposicdes no setor da expressáo da fé e na-
quele em que verificamos que os poderes económico e polí
tico se ácham distribuidos de modo desequilibrado em nosso
mundo: importantes porcóes da humanidade sofrem penuria,
e disto tomam consciéncia de maneira dolorosa e aguda.

Essas mudangas e perturbacóes nao pouparam a Igreja.


As mudangas de mentalidade perceptíveis no mundo inteiro
nao se realizaram sem tocar os fiéis, os sacerdotes e os bispós.
As concepgoes novas e as atitudes concretas que dai resul-
taram, nao foram as mesmas ñas diversas partes do mundo e
da Igreja Católica.

Desde as suas origens, as Igtejas locáis1 que, todas jun


tas, constituem a Igreja Católica, foram unidas urnas ás outras
por liames sólidos (Const. 'Lumen Gentium', n? 23). Dada a
mudanca dos tempos e das condigóes de vida, explica-se que
se tenham dado certas tensóes entre categorías de fiéis como
també,n entre igrejas particulares no interior da Igreja Católica.
Hoje em dia pode-se salientar que a participagáo na vida da
Igreja Católica nao se efetua do mesmo modo em toda parte
e que, ao contrario, essa participagáo é nítidamente diferencia
da em suas manifestacóes. Isto nao impede que os católicos
do mundo inteiro déem nítidas pravas de soüdariedade mutua,
mostrando assim que se sentem unidos uns aos outros. Essa
soüdariedade nao se baseia tanto sobre afinidades espontanea-
mente experimentadas... Mas ela se arraiga muito mais no
fato de que cada Igreja local está unida na fé á Igreja da ci-
dade de Roma, que é a primeira entre todas as comunidades
locáis e, a justo título, é chamada 'Cátedra de Pedro' ou 'Sé
Apostólica'.

A comunháo com a Cátedra de Pedro contribuí D?>ra que


as igrejas locáis cultivem em si urna certa sensibilidade, me
diante a qual consideram as características de cada comuni-

1 Entendam-se as dioceses da única e universal Igreja de Cristo. Cf.


Apocalipse 2,18.12.18; 3,1.7.14.

— 5 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

dade como matizes válidos de um vasto conjunto;... sensibi-


lidade mediante a qual elas chegam mesmo a fazer a permuta
de seus tesouros espirituais, de seus operarios apostólicos e
de seus recursos temporais (Const. 'Lumen Gentium1, rfi 13).

A tarefa confiada ao Papa — a qual consiste em que, como


bispo de Roma, sirva á Igreja Católica em seu conjunto — iaen-
tifica-se com o que é chamado o ministerio de Pedro. Este mi
nisterio implica para o Papa a missáo de 'confirmar seus ir-
máos' (Le 22,32) e o dever de ser a consciéncia de fé da Igreja.
Católica; essa .consciéncia se exerce em todos os setores que
dizem respeito á Igreja mesma, sem dúvida, mas também ela
se manifesta, com base na Revelagáo Divina, no tocante a
problemas importantes de índole secular. Além disto, o minis
terio de Pedro comporta, mais do que qualquer outro ministe
rio o comporta, a obrigagáo de encamar e de traduzir publica
mente a tradicáo que é viva na Igreja Católica. Será n&cessá-
rio que o valor das novas mudangas em curso ñas Igrejas lo
cáis possa ser examinado e averiguado pelo ministerio de Pe
dro. Gragas a tal prova é que as mudangas locáis podem ser
estudadas e debatidas ao nivel da Igreja inteira e se tornam
aptas a produzir frutos copiosos. Doutro lado, do exame feito
por Roma póderá resultar que tal ou tal Igreja local acabe por
tomar consciéncia de que o modo como ela evolui comporta
aspectos de exclusivismo, ou verifique que o papel por ela
desempenhado no conjunto da Igreja universal contém certoa
exageros.

'Toca, pois, de modo especial ao ministerio de Pedro pro


mover a unidade da Igreja universal e vigiar para que os bispos
exercam suas funcóes como corpo uno e indiviso' (Const.
'Lumen Gentium', n<? 18).

A Igreja Católica tornou-se urna Igreja Universal, á qual


povos cada vez mais numerosos levaram suas características
e sua historia próprias, integrando-as num só todo. Mais do
que nunca, esses povos estáo conscientes dos valores que
Inés sao particulares. Fazem questáo de ser respeitados, nao
na medida em que sejam capazes de se adaptar ao que lhes
é solicitado, mas pelo que sao esses valores em si mesmos.
As ígrejas locáis desejam que os bons frutos que elas yiram
amadurecer em seu seio, sejam acolhidos nomo contribuicoes
que enriquecém o conjunto e reforcam a unidade católica.
Mas esperamos também da Santa Sé que se faga a defensora
do tesouro da fé e saiba protegé-lo como um bem precioso

_ 6 —
OS BIPOS DA HOLANDA E O PAPA

para toda a comunidade. É preciso que, dia por dia, a Santa


Sé cuide de que seja mantido o equilibrio precario que reina
entre o que se deseja conservar e o que deve ser renovado,
entre urna inspiragáo que se baseia na tradigáo e o anseio de
assegurar um novo porvir.

Assim fomos levados a tragar o esbogo do lugar que a Sé


Apostólica ou o ministerio de Pedro ocupa no conjunto das
mudangas recentes que a Igreja Católica experimentou e sem-
pre experimenta. Fazendo isto, temos consciéncia de nao estar
talando apenas de urna instancia ou de urna instituigáo, mas
também, e de modo especial, daquele homem sobre o qual
pesa a responsabilidade que acabamos de descrever: o Papa,
homem como todos nos. 'É verdade que o sucessor de Pedro
se acha unido aos bispos, que sao os sucessores dos Apos
tólos, assim como, pela instituigáo do Senhor, um só colegio
apostólico é formado por Sao Pedro e pelos outros Apostólos'
(Const. 'Lumen Gentium', n<? 22); mas a responsabilidade su
prema do chefe do colegio dos bispos continua a pesar sobre
o Papa só. Sem dúvida alguma, este recebe, para tanto, a gra-
ga de Deus. O pesó do ministerio é-lhe tornado suportável,
sem todavía Ihe ser retirado.

Durante dez anos, o Papa Paulo VI exerceu esse ministe


rio simultáneamente sublime e difícil. Tal ministerio foi colo
cado em meio á tormenta causada por novas mudancas, até
certo ponto contraditórías, que se verificaram na Igreja Cató
lica. O Papa desempenhou-se de suas fungóes, movilizando
toda a sua energía, devotando toda a sua pessoa em fidelidade
conscienciosa e movido por auténtica inspiragáo pastoral, a
exemplo das grandes figuras de seus predecessores Pió XII e
Joáo XXIII principalmente.

Empreendeu viagens: ao Centro do Conselho Ecuménico


das Igrejas em Genebra; ao Centro das Nagóes Unidas em
Nova lorque; á cidade sarita dos judeus, dos cristáos e dos
mugulmanos, Jerusalém; aos continentes da África, da América
latina e da Asia. Em sucessivas ocasióes langou apelo á cons
ciéncia dos povos: em materia de fé e de moral, de guerra
e de paz, profligando as numerosas formas de discriminagáo,
as injustigas provenientes tanto dos homens como das estru-
turas.

Em tudo isso, o Papa nao se deixa guiar por ambigáo. No


decorrer destes dez anos do pontificado de Paulo VI, a Igreja
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974 ._

Católica viu realizar-se em seu seio mu ¡tas renovacóes, ñas


quais a doutrina e o espirito do Concilio do Vaticano II se con-
cretizaram.

A tarefa de importancia histórica cumprida pelo Papa de


Roma, a que consiste em se consagrar ao servico da unidade
de todos os .cristáos, foi posta em relevo especial, nao só por
palavras eloqüentes, nem apenas por gestos, mas também por
decisóes práticas bem;amadurecidas. Todas estas coisas nos
inspiram profundo respeito e grande afeigáo para com aquele
a quem nos devemos tais sentimentos.

Reunidos em torno da Mesa do Senhor, celebramos a co-


memoracáo de Cristo, Senhor da Igreja, dirigindo a Deus nos-
sas súplicas prementes para recomendar-Lhe seu fiel Servidor
dos servidores, nosso Santo Padre o Papa Paulo. Que o Espi
rito de Jesús, que edifica e unifica a Igreja, o esclareca, o
reconforte, o encorage e o consolé! Possa ele contemplar os
frutos produzidos por sua fideiidade, por seu zelo: esses fru
tos cheios de salvacáo para a Igreja, da qual ele tenciona ser
o Servidor. .

Os Bis pos dos Países-Baixos

Utrecht, aos 20 de junho de 1973"

II.

Em síntese, esta Carta Pastoral desenvolve dois aspectos


de um grande tema: a perene Cátedra de Pedro, a pessoa de
Pedro hoje (Paulo VI).

1. A Cátedra tt» Pedro

O documento comega por lembrar as rápidas e profundas


mudanzas por que tem passado o mundo contemporáneo. Afe-
tando a mentalidade dos homens em geral, essas mudancas
repercutiram também nos setores da Igreja, onde questóes ati
nentes á fé e a disciplina comecaram a ser levantadas tanto
por parte dos fiéis leigos como por clérigos.

Esse questionamento, decorrente do desejo de fé e vivencia


católicas muito presentes ao mundo de hoje, poderia ameagar
i

— 8 —
OS BIPOS DA HOLANDA E O PAPA

ou mesmo dilacerar a unidade da Igreja; cada paróquia, cada


diocese ou cada conjunto de dioceses poderia seguir suas fór
mulas próprias de crenga e de disciplina, perdendo assim mais
e mais a comunháo com as outras porgóes da única Igreja de
Cristo.

Ora, precisamente a fim de evitar a ruptura da comunháo


que deve vincular os diversos bispados da S. Igreja, Cristo es-
tabeleceu a Cátedra de Pedro ou a Sé Apostólica como fator
de unidade entre as mesmas.

Á Cátedra de Pedro situada em Roma tocam importantes


fungóes, como sejam

— fazer que as varias dioceses troquem entre si seus bens


espirituais (oragóes, méritos, exemplos, textos...), seus opera
rios (missionários enviados de urna diocese a outra), seus bens
materiais (auxilios pecuniarios);

— servir de criterio as expressóes da fé de cada comuni-


dade católica. Cristo confiou a Pedro o mister de «confirmar
seus irmáos na fé» (cf. Le 23,32) ou de ser a consciéncia de
fé da Igreja Católica. Em conseqüéncia, nenhuma formulagáo
de fé será auténticamente católica, se nao estiver em consonan
cia com o que ensina a Cátedra de Pedro;

— averiguar a validade ou nao de posigoes assumidas pelas


diversas circunscrigóes da Igreja nos setores da Liturgia, da
catequese, da Pastoral, da disciplina do clero, da vida religiosa
consagrada, da agáo social, política, etc.

A Cátedra de Pedro compete fazer que entre as expressóes


de fé e agáo que as diversas dioceses julguem dever adotar,
haja sempre harmonía e unidade. Assumindo características
que as circunstancias ambientáis Ihe inspiram ou impóem, nao
se distancie nenhuma diocese das outras circunscrigóes da Igre
ja; nao se exclua ou excomungué do grande corpo de Cristo
que é a Igreja Universal. Verdade é que a harmonía necessá-
ria dentro da Igreja jamáis deverá impedir a legitima plurali-
dade que as diferentes situagóes geográficas e humanas possam
sugerir ao clero e aos fiéis de cada regiáo.

Em suma, á Cátedra de Pedro toca empenhar-se para que


se realize sempre o programa dos antigos mestres cristáos, mais
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

urna vez afirmado por Joáo XXIII: «Ñas coisas necessárias,


haja unidade. Ñas coisas incertas, naja liberdade. Em tudo
reine caridade».

Note-se, alias, que a Cátedra de Pedro executa o seu pro


grama nao somente em virtude da sabedoria, habilídade e eru-
digáo do Pontífice Romano, mas principalmente e essencialmen-
te porque Cristo mesmo prometeu a Pedro e seus sucessores
assisténcia infalível, dando á agáo da Cátedra de Pedro urna
eficacia que, em linguagem teológica, é dita «sacramental» em
sentido ampio (cf. Le 23, 31s; Jo 21,15-17; Mt 16.TM.9).

2. A pessoa de Pedro hoje

A seguir, o documento lembra quanto a pessoa de Paulo VI


setem empenhado por estar á altura de sua missáo: vem pro
curando por em prática as diretrizes emanadas do Concilio do
Vaticano II, conseguindo realmente renovar a vida da Igreja
em todos os seus setores mediante numerosos documentos de
importancia. Tem procurado manter contato com todos os
povos católicos e nao católicos — o que se deu de maneira sen-
sível e totalmente inédita ñas corajosas viagens de Paulo VI
aos cinco continentes do mundo, incluindo-se a visita as sedes
de órgáos internacionais (Organizacáo das Naeóes Unidas, Con-
federagáo Internacional do Trabalho, Conselho Mundial das
Igrejas).

Ao empreender táo arduas tarefas, Paulo VI tem sido guia


do pela nobre consciéncia de sua responsabilidade de Pastor
Universal e de porta-voz da Palavra de Cristo a todos os ho-
mens, onde quer que se achem.

É, pois, com um preito de estima filial e grande venera^áo


a Paulo VI que os bispos da Holanda terminam sua Carta
Pastoral, dirigindo ao Senhor as suas preces em favor do be
nemérito Pontífice.

Táo lúcido e firme documento reveste-se de valor e elo-


qüéncia todo particulares desde que se leve em conta que pro-
yém da atormentada Holanda, donde muitos observadores
julgavam ainda recentemente que o cisma e a ruptura have-
riam de emanar.

«Gragas sejam dadas a Deus pelo seu inefável dom!» (2


Cor 9,15).

— 10 —
Movimentos de jovens:

despertar de jovens para cristo?

Em sintese: A "Revolugao por Jesús1 nos EE. UU. da América assume


formas diversas, como a do "Povo de Jesús", a do "Povo Honesto", a dos
"Católicos Pentecostais"... Multas vezes trata-se de jovens que fizeram
a experiencia de drogas e absoluta liberdade sexual, mas, cansados e
decepcionados por tal género de vida, encontraran! na Biblia e na adesáo
a Cristo o esteio para urna vida nova e regenerada. Verdade é que as
expressoes desses jovens sao exóticas e espalhafaiosas; todavía vém im-
pressionando grande número de pessoas que, ao contato com tais movimen
tos, tém mudado seu comportamento desordenado.

A "Revolucáo por Jesús" oferece aos observadores aspectos diversos,


dos quais alguns podem ser tidos como positivos, enquanto outros suscitam
ressalvas.

Dentre o que de mais válido tem o "Jesús People", seja realcada a


co.'agem que os jovens tém de falar sobre Jesús e despertar seus contem
poráneos para os valores do Evangelho, justamente num periodo da histo
ria em que os homens s3o Indiferentes a Cristo ou tém vergonha de pro
ferir o seu nome. Os membros da "Jesús Revolution" dao a ver que a
religiáo nao é fator alienante ou opio do povo, mas, ao contrario, é torca
vital que liberta o homem das intoxicacóes químicas e faz vibrar o senso
mfstico da alma humana. A proclamacáo de temas religiosos e transcen-
dentats, efetuada pelos jovens norte-americanos, é urna réplica ao mate
rialismo sufocador da socledade de nossos dias.

Todavia o fato de que tais entusiastas nao tém aprofundamento doutri-


nário nem se querem integrar na comunháo da Igreja, deixa o observador
apreensivo. Se Ihes faltarem a luz do estudo e a orientaglo de urna Insti-
tuicSo eclesial, os nóo-crlstSos norte-americanos correm o risco de ser
vítlmas da fantasia e da falsa mística.

Como quer que seja, a "Jesús Revolution" tem algo de positivo, ao


menos enquanto é reacSo contra o embotamento do homem contemporáneo
imerso na socledade de producáo e consumo.

Comentario: Hoje em dia fala-se rnuito de movimentos


juvenis que, seguindo estilo próprio, professam Jesús Cristo e
valores evangélicos. O berc.o desses movimentos sao os Estados
Unidos da América; todavia encontram-se outrossim na Europa;
até mesmo os países da Cortina de Ferro váo experimentando
a acáo de corajosos arautos religiosos. Tais movimentos vém

— 11 —
12 tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

chamando a atengáo do público em geral; a bibliografía a res-


peito se avoluma sempre mais. Eis por que, nestas páginas de
PR, proporemos alguns dados concernentes ao reavivamento
religioso entre os jovens, valendo-nos de publicagóes recentes;
na conclusáo desta exposigáo, tentaremos avaliar os dados
apresentados.

De resto, em PR já saiu um artigo sobre a «Jesús Revolut-


tion», cujos tópicos nao seráo aqui repetidos. Cf. PR 142/1971,
pp. 434-445.

O panorama nos Estados Unidos

Sabe-se que grande número daqueles que hoje proclamam


Jesús, o amor cristáo e a conversáo ao Evangelho, sao antigos
clientes das drogas e do libertinismo. Depois de haver feito as
mais variadas experiencias, conceberam o fastio de tal vida e
resolveram apelar para a mística crista como sendo a resposta
as suas aspiracóes. Professando o Cristo, intencionan! continuar
a se opor aos padróes da sociedade de consumo, desta vez, po-
rém, em termos mais construtivos..., embora estes jovens nao
se queiram prender a instituicáo alguma, nem mesmo as insti-
tuicóes da Igreja. A fim de avaliar melhor o significado de tal
movimento, é-nos mister, antes do mais, fazer um levantamento
de suas denominagóes e características.

Sao tres as principáis correntes ou formas da «Revolugao


por Jesús» (Hie Jesús Revolution) nos Estados Unidos:

1) The Jesús People (o Povo ou a' Gente de Jesús) cons


tituí o grupo que mais chama a atengáo, também conheddo
pelos nomes de «Street Christians» (Cristáos da Rúa) e «Jesús
Freaks» (os Frades ou Pazzarelli de Jesús).. Professam simul
táneamente a anticultura (ou a oposigáo á cultura contemporá
nea materialista) e valores religiosos tradicionais. Muitos sao
antigos «filhos das flores» que, drogados e viciados, agitaram
San Francisco em 1967. Varios desses atuais membros do
«Jesús People» conservam atitudes de «hippies», ao passo que
outros rejeitam por completo tal estilo de vida.

Merece atencáo o fato de que, no «Jesús People», existe


grande númoro tío católicos que so ompolRiu-nm pela perspec
tiva do volndona monto inivis explícito eom Cristo. Encontram-

12
A «JESÚS REVOLUTION» 13

-se também ai nao poucos judeus, que afirmam nao ter aban
donado o judaismo, mas julgam que só o podem viver plena
mente em tal movimento.

Entre os casos particulares, pode-se contar o do jovem


Christopher Pike, filho do bispo anglicano James A. Pike. Co-
megou a desviar-se dos pais negando publicamente umá serie
de verdades bíblicas fundamentáis; depois, em 1967, passava
seus dias junto ao televisor, entregue á marijuana; ele mesmo
declarou: «Os meus deuses eram a televisáo e a erva inebrian
te». Sucederam-se o uso de drogas aínda mais fortes, o inte-
resse pelas religióes orientáis e também pela prcpria Biblia.
Refere Christopher: «Um belo dia ouvi Ted Wise, que falava
em Berkeley. Foi o primeiro cristáo inteligente aue tive a
ocasiáo de ver». Pouco tempo depois, fez um voto: «Disse sim-
plesmente: 'Jesús Cristo, eu me abandono ?. Ti'. Nada aconte-
ceu, mas tive a certeza de que Ele me havia ouvido e dora-
vante eu estava salvo».. Hoje Chris estuda livros de teología e
faz gravares de textos ou cancóes religiosas'. — Muitas sao
as conversoes semelhantes as de Chris Pike.

2) The Straight People (o Povo honesto ou a Gente cor-


reta) constitui um grupo mais numeroso. Desenvolvem a sua
atividade principalmente como evangelizadores ñas Universi
dades interconfessionais e nos movimentos de jovens. Durante
certo tempo nao eram senáo um ramo do protestantismo bíbli
co tradicional; tornaram-se, porém, independentes de suas co
munidades eclesiais e tomaram um rumo tendente ao ecume-
nismo. A maioria dos membros do «Straight People» apresenta-
-se como americanos de padráo medio, semelhantes aos que se
encontram ñas Universidades: usam cábelos curtos e vestes
características.

A maior secgáo do «Straight People» é a chamada «Cam-


pus Crusade for Christ», fundada pelo ex-comerciante Bill
(William) Bright; conta com cerca de 3.000 colaboradores, que
a tempo integral trabalham em 450 Universidades em prol da
difusáo do Evangelho. O seu balando anual refere um movi
mento de cerca de 12 milhóes de dólares.

Existem nos EE. UU. outros grandes movimentos de jo


vens e adultos que se destinam a levar Cristo aos universitarios
em seu «Campus» de Universidade. Tais sao:

— a Inter-Varsity-diristian-Fellowship, que em 1971


promoveu um encontró de missionários na Universidade de

— 13 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

Illinois, com a participagáo de 12.000 pessoas: essa foi talvez


a mais concorrida assembléia religiosa dos Colleges em toda a
historia dos EE. UU.;

— a Youth for Christ, que inicióu as suas campanhas


sob a lideranga do jovem 3illy Graham. Em trinta anos apro
ximadamente já atingiu 2.700 escolas.

3) The Catholic Pentecostals (os Católicos Pentecostais)


tiveram origem em 1967 na Universidade de Duquesne, donde
o movimento se irradiou para as de Notre Dame e Ann Arbor.
Teve grande influencia sobre o surto desse movimento o livro
«A cruz e os heróis das massas» do pastor David Wilkerson,
que de maneira original e corajosa se dedicou ¡a evangelizado
de gente viciada pelas drogas. Os pentecostais católicos, no
convivio comum, apresentam-se como qualquer outro cristáo;
mas em suas reunióes de culto deixam-se empolgar pelos valo
res místicos (dom de linguas, cantos, oragáo intima...), que
eles cultivam em paralelo com os neo-pentecostais protestantes.
Em geral sao fiéis á hierarquia da Igreja Católica; nao se por
dem apontar libertinismo e graves desatinos no passado desses
fiéis. O que os caracteriza, é a procura de urna experiencia
mais viva de Deus e de sua agáo nos homens — procura esta
que lhes parece encontrar resposta ñas celebrares de culto
pentecostais. Todavía nao é claro o rumo que tal pentecosta-
lismo tomará no futuro; há opinióes divergentes sobre o as-
sunto.

O número total de membros dessas tres correntes da


«Jesús Revolution» sobe a algumas centenas de milhares e
tende a aumentar (dada a índole pouco definida de certas ma-
nifestagdes religiosas, compreende-se que seja difícil estabele-
cer urna estatística precisa das correntes em foco).

O reavivamento da estima a Cristo e aos valores evangé


licos que a «Jesús Revolution» implica, vai-se alastrando cada
vez mais, atingindo pobres e ricos, oabeludos e náo-cabeludos,
católicos, protestantes de todas as denominaeóes, judeus e até
mesmo gente que nao tinha interesse religioso algum; todos
esses sao atraídos ao Movimento como que por urna forga
magnética. Muitos dos que deixaram o libertinismo há seis ou
sete anos, perseveram até hoje num tipo de vida regenerada.
É freqüente acreditarem que o Senhor Jesús retornará visivel-
mente em breve para por termo á historia deste mundo e jul-
gar os homens; sao, pois, arautos da proximidade do fim do

— 14 —
A «JESÚS REVOLUTION» 15

mundo — tese esta que lhes parece confirmada nao somente


por textos de Isaías, mas também pela anexáo da Cidade Ve-
lha de Jerusalém ao atual Estado de Israel e pela adesáo de
nove nacóes ao Mercado Comum Europeu.

Após esta visáo panorámica e sintética dos grupos que


compóem o Movimento de Jesús nos Estados Unidos, interessa
delinear alguns fatos típicos, que caracterizam o reavivamento
em foco.

3. Fatos típicos

Do ampio noticiario existente sobre o reavivamento reli


gioso dos EE. UU., destacaremos quatro tópicos:

3.1. Fala-se novajnente de Jesús Cristo

Milhares e milhares de jovens falam entusiásticamente de


Jesús — coisa que os jovens, há vinte anos atrás, nao ousariam
fazer. Professam nao somente a estima ao homem Jesús de
Nazaré, mártir (testemunha) do amor ao próximo e da frater-
nidade humana, mas dáo a entender que véem em Jesús algo
mais que em S. Francisco de Assis, em Gandhi ou em Budha;
falam mesmo de Jesús o Cristo de Deas, o Filho do Deus vivo,
Salvador e Juiz dos homens. O uso destes títulos (embora liga
do a concepgóes teológicas aínda rudimentares) é especial
mente significativo quando muitos teólogos, nos EE. UU. e na
Europa, tendem hoje em dia a considerar exclusivamente (ou
quase) a humanidade de Cristo, principalmente dentro do con
texto da chamada «teología da morte de Deus». Os jovens da
«Jesús Revolution» nao debatem académicamente sobre Jesús
ou sobre «o problema de Jesús»; nem recorrem aos recintos
das igrejas para falar, mas ñas rúas dirigem-se aos transeúntes,
comunicando-lhes a sua experiencia de Cristo e convidando-os
a aderir ao amor de Jesús como eles mesmos fizeram. As ve-
zes é eni conversa telefónica que dizem ao seu interlocutor:
«Jesús te ama!».

Parecem sentir que foram apreendidos ou conquistados


por Cristo (cf. Flp 3,12); conseqüentemente, querem passar
adiante esse «ser apreendido pelo Senhor». Muitos, embora em
idade juvenil, atravessaram os altos e baixos da vida, fizeram
experiencias deletérias, provando as variadas possibilidades de
prazer que se lhes ofereciam. Finalmente ouviram falar de
Cristo, que os ajudou a se libertar das drogas e dos vicios, es-

— 15 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

tabilizando os seus afetos e renovando o seu comportamento


moral. Muitos assim chegaram a pedir o batismo, que ainda
nao haviam recebido. Para essa gente — é claro — nao tem
sentido falar da «teologia da morte de Deus», pois experimen-
taram pessoalmente como Deus é vivo. Véem-se mesmo em
inscrigóes de decalcomania coladas aos automóveis de tais jo-
vens os seguintes dizeres: «Se o teu Deus está morto, toma o
meu! Cristo vive!»

Os resultados do testemunho de gestos e palavras de tais


jovens tém sido surpreendentes: milhares de pessoas já se inv
pressionaram com os fatos e passaram para urna vida nova1-.

3.2. Descoberta da Biblia e da ora;áo

Os jovens membros do «Povo de Jesús» («Jesús People»,


cm sentido lato) reunem-se nao raro para ler a Biblia e orar
tanto em comum como em particular; entretém-se com o Se-
nhor mediante frases espontáneas e cheias de confianca. Fre-
qüentemente levam consigo e para toda parte a sua Biblia de
bolso, como outros carregariam consigo o catecismo vermelho
de Mao-Tse-Tuñg; léem-na em silencio ou em voz alta, com ou
sem música de fundo, de cócoras por térra, sentados sobre
pedras ou muros ou ainda estendidos sobre a relva ou a térra...
Procuram levar a serio o que está escrito; quando reunidos
em comunidade, esforgam-se, a partir do texto bíblico, por
ajudar-se mutuamente a tomar conhecimento de suas fainas a
fim de se corrigir délas.

3.3. A imprensa dita «de Jesús»

Importante fenómeno decorrente do movimento juvenil


para Cristo e catalisador do mesmo é, nos EE. UU., o fato de
que varios jornais e revistas de baixo caláo mudaram de rumo,
vindo a ser o que se chama «Livre Imprensa de Jesús».

Exemplo típico é o do periódico mensal psicodélico intitu


lado «Oracle», outrora publicado em Haight-Ashbury e difun
dido internacionalmente numa tiragem de 100.000 exemplares.
Nao é necessário frisar que o teor dessa revista era assaz vul-

1 Nao intencionamos aqui julgar até que ponto essa vida nova é orien
tada por auténtica fé crista. No fim deste artigo voltaremos ao assunto.

— 16 —
A «JESÚS REVOLUTION» 17

gar: trazia quase exclusivamente artigos sobre sexo, drogas,


anarquía, religióes orientáis, além de fotografías pornográficas.
Sobrevieram, porém, dificuldades varias, que provocaram a sus-
pensáo das edigóes de «Oracle». — Eis, porém, que tempos
depois o periódico reapareceu trazendo em seu frontispicio urna
mensagem de Jesús. A explicagáo do fato é a seguinte: o edi
tor de «Oracle», David Abraham, converteu-se a Cristo na
Haight Street de San Francisco. Por essa ocasiáo, cedeu os
direitos da revista ao «Jesús People», qué tinha sede na Har-
vest House em Haight-Ashbury; o responsável pela comunidade
da Harvest House era Oliver Heath, um estudante do Semina
rio «Golden Gate Baptist». O novo editor da revista veio a ser
aquele jovem que havia levado a Cristo o seu predecessor:
chamava-se Chris D'Alessandro, um ex-toxicomaníaco, sob
cujos esforcos recomegou a aparecer o periódico mensal com
urna tiragem inicial de 20.000 exemplares. Entáo David Abra
ham declarou: «O nosso 'Oracle' sempre procurou a verdade.
Agora proclamará a verdade». **

Ao lado de «Oracle», outras revistas nos EE. UU. vém


a ser a expressáo desses grupos de recém-convertidos que cons-
tituem o «Jesús People» (em sentido ampio).

A primeira publicagáo no género comegou as suas edigóes


em Berkeley (1969): intitula-se «Right on», posta sob a res-
ponsabilidade da «Christian World Liberation Front», com urna
tiragem media de aproximadamente 65.000 exemplares — tira
gem que pode subir a 100.000 por ocasiáo de marchas ou ma-
nifestagóes especiáis dos jovens. Os seus artigos sao concebidos
principalmente em vista dos afeitos as drogas e ao ocultismo.

Seja também citado o «Hollywood Free Paper», devido aos


cuidados de um homem de teatro: Duane Pederson. Em 1970
atingía a tiragem de 150.000 exemplares aproximadamente,
devendo chegar a 1.000.000, segundo a intengáo do seu fun
dador. A fim de financiar o periódico, Pederson promoveu va
rios festivais de música rock.

A mais vivaz e ilustrada revista do Movimento é chamada


«Truth» (Verdade). Publica numerosos testemunhos e cartas,
além de noticiarios concernentes á difusáo do Movimento nos
Estados Unidos. Conta com numerosos assinantes em 36 Esta
dos dos U. S. A. e no estrangeiro.

— 17 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 169/1974

A fim de coordenar e facilitar a obra dos diversos perió


dicos que nos Estados Unidos servem ao reavivamento cristáo,
foi recentemente fundada em Berkeley a organizacáo «Jesús
News Service International».

O sustento financeiro da «imprensa de Jesús» deve-se nao


somente á venda respectiva, mas também a doagóes voluntarias.
Tipógrafos e jornaleiros cristáos colaboram por pregos baixos
com os editores.

A quanto foi dito, acrescente-se agora o testemunho de


um jornalista.

3.4. Significativa reportagem

No afá de conhecer melhor as características do «Movi-


mento por Jesús» nos Estados Unidos, o leitor poderá referir-se
a interessante reportagem publicada pela revista alema «Bunte
Illustrierte» de Offenburg; deve-se á pena de Claus Preute,
enviado especialmente pelo periódico alemáo aos focos do Mo-
yimento a fim de lá colher noticias de primeira máo; o jorna
lista escreveu na California mesma, sob a impressáo do impac
to recebido, quanto se segué:

" 'Praise the Lord! Louva o Senhor!', exclamou Maggle, jovem de 16


anos, saudando-nos com sorriso irradiante. E logo acrescentou: 'Benvindos
na casa do Messias!' Encontrávamo-nos no patio interno da 'Mansión
Messiah', pequeña casa comunitaria do 'Jesús People', que partencia aos
jovens cristáos da California. Está situada ao longo da Highway, que leva
de Los Angeles a San Diego.

Maggie, urna menina de cábelos louros, compridos até as espáduas,...


tinha no pescoco urna corrente de madeira com pequeña cruz... Os seus
olhos brilhavam de maneira suspeita. Contieno bem aqueles olhos: olhos
de criaturas que se dao ás drogas. Mas nao era a droga, nao era o LSD,
nao o haxixe nem a heroína, que fazia brllhar aqueles olhos: era a fé.

'Sou crista', dizia-me ela com todo o seu ser. Mais tarde disse-me
que o caminho para Deus é a mais louca aventura, urna sublime e irrepe-
tível euforia: a única droga capaz de tornar os homens realmente felizes.
Antes de tornar-se crista, empreendera muitas outras 'viagens1: aos 13 anos
fumara marijuana pela primeira vez; depois o LSD e a heroína a tinham
transformado em toxicomanlaca. Havia-se recuperado em urna clínica, mas
quinze dias após a cura recaira vítima da droga. Somente a contragosto
seguirá finalmente o conselho que um amigo Ihe dera, de tentar a procura
de Deus.

"Eu era um trapo — contou-nos ela — tanto ffslca como espirilual-


mente. Nada tinha a perder. Finalmente decidi-me a orar. Suplique! Jesús,

— 18 —
A «JESÚS REVOLUTION» 19

abrindo-lhe o meu coracáo. Disse-lhe: Se na verdade existes, ajuda-me,


eu te conjuro. Dá-me um slnall' E Imprevistamente ola se encontrava em
contato C3m Ele. Ele Ihe indicou um novo camlnho: 'Foi como se tlvesse
acontecido um milagro; eu já nio precisava de heroína, porque estava
ebria por urna alegría totalmente diversa!...'

Poucas horas antes, eu aterrlssara no aeroporto de Los Angeles na


California. NSo sabia o que me esperava, mas experimentava estranha sen-
sacio... 'Jovens crlstüos na California que sSo fermento reliploso em meló
á fuventude, ex-toxicomaniacos convertidos', havlam-me dito. E eu me oer-
guntava: poderá haver jovens crlst§os na California, patria natal e paraíso
encantado dos Wppies?

Estava quase certo de encontrar-me diante de urna nova forma de to-


llce californiana: talvez urna nova técnica para curar os doentes rom im-
posIcSo das müos, ou sessdes espiritas promovidas ñor homens de capuz
na cabeca. ou um novo Charles Manson. desejoso de aanhar nara si um
grupo de hipples Intoxicados, gabando-se de-ser o redentor do mundo.

O primeiro 'Praise the Lord!' da jovem Maggie era realmente persua


sivo: mas a desconfianza ainda permanecía...

Deoois confheci Ed Smith, de 32 anos, dlretor da 'Mansión Messlah'.


Esse protestante simpático (da Igreja Metodista), a meu ver, estarla melhor
no bar de um hotel freqüentado pelas estrelas de Hollywood. Antes rie
tornar-se crlstao — o que se dera havla tres anos —, era um dos mais
conhecldos 'playboys' de San Diego. Somonte depois que o vi — a ele,
oue outrora ás 11 ti da manhS estava acostumado a tomar o seu primeiro
Martini no Hotel Beverly-Hüls em companhla de urna lourlnha — pregar,
orar e cantar niños religiosos com devocSo Intima, veio-me a suspelta de
que se tratava de um truque.

'Qeus me renovou por completo; deu-me a paz', dizla o ex-'plavboy'


á sua comunldade de cabeludos. 'A mlnha vida finalmente adauiriu um sen
tido. Creio nele, desde quando o sinto em mim. é um sentimento realmente
exaltante. Se também voces querem formar urna so colsa com Jesús, de-
vem abrir-lhe o seu coragSo. Nao se endurecam, nem tenham medo dele:
Eje é nosso Salvador, o Salvador de todos'.

Os jovens da 'Mansión Messfah' tlnham a fisionomía radiante. Quanto


mais prolongadamente oravam e cantavam, tanto mais brilhantes e lumino
sos se tornavam os seus olhos. Ebrios de Deus...

Aínda mais comovente fol a experiencia que tivemos a ocasláo de fazer


alguns dias depois no 'Bethel Tabernacle', igreja metodista em North Ro-
,dando. Após ter-nos recebido no seu escritorio, o pastor Lyle Stennis nos
contou que tudo comecara havia um ano. 'Velo ter comigo um jovem cha
mado Brek Stephans, trazendo a ídéia de que era preciso acolher na tgreja
e converter ao Cristianismo os adolescentes toxicomanfacos que vaguea-
vam' e se divertiam pela Sunset Strip. Entusiasmei-me com a proposta.
Breck entSo foi logo para a estrada com um caminhao de comerciante, con
vidando os rapazes a segui-lo. Apareceram trinta de urna vez: sujos, Imun-
dos, marcados peta droga. A minha comunldade nem quería vé-los. Certa

— 19 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

vez os fiéis tentaram mesmo expulsá-los da igreja á forca. Levantel-me


entáo e disse que doravante haveriam de me espancar antes que ousassem
impedir alguém de entrar na minha igreja. Só nao voltaram á igreja alguns
dos membros mais ferrenhos da comunidade. Em compensacáo, porém,
agora os jovens cristáos vém em fila a todos os Oficios Divinos. A minha
igreja nunca esteve tao chela como atualmente'.

Enquanto o pastor Stennis continuava sua conversa conosco, ouvlram-


-se ecos de estranhos rumores provenientes da Igreja: eram vozes que se
elevavam numa confusáo de Babel, através da qual se podía percebe r de
vez em quando a ¡nvocacáo 'Jesús!' Quando Stennis viu que estávamos
surpresos, disse sorrindo: 'Estáo a rezarl' O que, poucos minutos depois,
vimos e ouvimos na igreja, chegava ás raias do incrlvel: com os olhos
fechados, os bracos erguidos ao céu, estavam de pé ou de joelhos na
nave cerca de "250 jovens de 13 a 30 anos, a recitar oracSes que nSo
compreendíamos. Cada um pronunciava urna prece diversa, a quanto nos
parecia. Quando Brek Stephans entoou o hiño 'Oíd Time Religión', abrlram
os olhos, olhos reluzentes. Precip¡taram-se sobre nos, abracando-nos: "Deus
te bendiga!', ouviamos continuamente. Um cabeludo m& abracou fortemente,
sussurrando-me: 'Irmáo, encontrei Jesús. Ó que felicidade, que felicidade!'
Depois, com o olhar transfigurado, percorreu a. nave da igreja, continuando
a abracar os irmáos na fé e falar-lhes da sua indizivel felicidade.

Á mania da droga substituirse o anelo de Deus. Sao jovens cristáos


na California. Um movimento jovem religioso que se está difundindo pela
América inteira. Espontáneo, desorganizado, mas ¡rreslstlvel...

O motorista de taxi, cabeludo, que me levou do hotel para o aeroporto,


ao se despedir de mim, desejou-me um feliz vóo. Depois pousou a minha
maleta diante do ingresso do saláo de partida e, com o dedo indicador er
guido, apontou-me o céu. A seguir, com o rosto radiante de alegría, disse-
-me: 'Eis o novo símbolo da paz. Praise the Lord!".

Estes dados todos suscitam no estudioso a necessidade de


procurar formar um juizo sobre a «Jesús Revolution». Embora
a tarefa nao seja fácil, tentaremos refletir sobre o assunto e
seu significado.

4. Reflexao sobre o fenómeno

O Movimento que se esboga nos termos até aqui descritos,


apresenta aspectos diversos, nem sempre convergentes entre si.
Por isto distinguiremos no fenómeno indicado' pontos positivos,
ao lado de outros que inspiram reservas.

4.1. O positivo

1. Por detrás das manifestagóes exóticas, estranhas ou


discutiveis dos arautos da «Jesús Revolution», pode-se dizer
que se depreende ao menos um elemento genuino: o senso mís-

— 20 —
A «JESÚS REVOLUTION» 21

tico do ser humano assim quer afirmar-se em reagáo á socie-


dade imersa no materialismo, sufocada por criterios de produ-
gáo e consumo. Tanto os regimes do Ocidente liberal como os
do Oriente totalitario sao insatisfatórios para o homem, pois,
embora inspirados por filosofías diferentes, esquecem os valo
res transcendentais, sem os quais o homem nao é plenamente
homem.,

O filósofo Max Horkheimer, amigo de Marcuse (cujo pen-


samento merece serias restrigóes), interpretando o desenrolar
da historia contemporánea, chegava a dizer: «O periodo do
materialismo já está superado». — Este otimismo de Hork
heimer parece exagerado, pois o materialismo aínda impera
em grande parte da sociedade contemporánea, mas pode-se
dizer que o materialismo encontra agora resistencia e oposigáo
nao somente da parte da Igreja, mas também da parte de
pessoas que, tendo feito & experiencia concreta da vida mate
rialista, reagem contra ela em nome da própria alma humana
e tentam encontrar em Cristo a resposta que nao encontraram
longe d'Ele.

2. Dirá alguém: mas o uso que os jovens fazem do santo


nome de Jesús e das palavras do Evangelho nao deve ser tido
como abusivo e irreverente? Nao tem o aspecto de «palhagada»
antes que de auténtica demonstragáo de fé?

— Reconhegamos que a fé desses jovens carece de forma-


gáo doutrinária e aprofundamento; é superficial. Todavía pode-
-se dizer que as suas manifestagóes nao sao, na intengáo dos
jovens, sinais de irreverencia ou de blasfemia. O que elas tém
de singular (a interpelagáo do público na rúa, o uso do nome
de Jesús em saudagóes pelo telefone) corresponde ao estilo
espontáneo e informal dos jovens de hoje; esse estilo pode,
apesar do que ele tem de insólito, estar exprimindo sentimen-
tos dignos e nobres (embora necessitádos de ulterior aprimora-
mento).

Tais manifestagóes, por mais singulares que sejam, ates-


tam ao menos a coragem que muitos jovens contemporáneos
tém, de afirmar e proclamar Jesús Cristo e os va.ores cristáos,
quando precisamente tantos homens se embotaram para os va
lores religiosos ou tém vergonha de os proclamar. Nao será
a «Jesús Revolütion» um testemunho de que a religiáo, longe
de ser um valor ultrapassado ou o opio do povo ou ainda algo

— 21 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

de alienante, é realmente capaz de fazer vibrar os jovens, en-


tusiasmando-os e movendo-os a mudar de vida? As mudancas
no comportamento de rapazes e, mogas que outrora se davam
as drogas e ao libertinismo, nao seráo a melhor comprovagáo
de que a religiáo é algo de altamente positivo, forte e cons-
trutivo?

3. Deve-se, a propósito, registrar aqui o 5' Diálogo Hu


manístico, realizado em Salzburgo (Austria) no mes de outubro
de 1970 por iniciativa da Rádio-televisáo austríaca. Reuniram-
-se entáo para debater a pergunta «A Religiáo tem futuro?»
trinta célebres estudiosos (filósofos, psicólogos, sociólogos e
teólogos). Por essa ocasiáo o futurólogo Robert Jungk susten-
tou a idéia de que o homem contemporáneo pergunta com insis
tencia crescente: «Que valores existem além da esfera mate
rial?» Harvey Cox, pastor protestante liberal, refutou as pro-
posicóes de Marx e Freud segundo as quais a religiáo seria um
instrumento de injustica e de controle social (opressáo), como
também causa de imaturidade e neuroses; afirmou textualmen
te: «Urna nova geraqáo de terapeutas nao pensa, nem em sonho,
em atribuir á religiáo a ab.ieta funcáo de empeci'ho da evolu-
cáo harmoniosa da personalidades. Conforme Harvey Cox, as
neuroses típicas da época atual seriam, em maioria, causadas
precisamente pelo abandono das convienes e das práticas reli
giosas. Ernst Bloch, o filósofo neo-marxista da esperanza,
afirmou: «A historia é grávida e está para dar á luz algo. Já
estamos a ouvir as interrogacóes lancadas pela era pos-capita
lista, que pergunta qual o sentido da vida». Arnold Gehlen
asseverou entáo que a religiáo é a única áncora capaz de pou-
par ao. homem o perigo de «ficar suspenso sobre o abismo do
nada».

Como se vé, embora partissem de principios filosóficos e


religiosos assaz diferentes, os pensadores reunidos em Salz
burgo reconheceram o eminente valor da Religiáo, em réplica
ao materialismo e ao ateísmo dos últimos decenios. Ora parece
que, em outro plano e do seu modo, a juventude da «Jesús Re-
volution» faz eco a tais afirmacóes. Levem-sé em conta nao
tanto as expressóes e manifestacóes desse Movimento, mas,
sim, o espirito e o ánimo que provocam tal Movimento da parte
dos jovens no contexto da historia contemporánea; essa inspi-
racáo tem seu significado positivo.

Passemos agora as

— 22 —
A tJESUS REVOLUTION> 23

4.2. Ressolvas

1. É fácil perceber-se que a «Jesús Revolution» carece


de sólido e profundo fundamento doutrinário. Embora se nu
tra freqüentemente com a leitura da Biblia, deixa-se mover
mais pelos sentimentos e afetos do que pelo raciocinio conca
tenado e as linhas da exegese objetiva.

Ora o ser humano nao pode dispensar a sua formacjio


intelectual. Sem esta, as expressóes da fé e da mística correm
o risco de cair no mero subjetivismo e na arbitrariedade. A
fantasía e as aberragóes psicológicas ameagam os jovens que
hoje fazem a «Jesús Revolution» depois de se haver entregue
as drogas e ao libertinismo; para combater tal perigo, é de
grande utilidade, ou mesmo absolutamente necessário, um
aprofundamento doutrinário, do qual resultem convicgóes só
lidas, capazes de estruturar a nova vida dos jovens.

2. Tambérn se deve levar em conta o fato de que o «Je


sús People» nao aceita fazer parte da Igreja de Cristo e das
suas instituigóes. Desejosos de seguir livremente os seus «caris-
mas», rejeitam integrar-se num quadro eclesial regido por leis
ou institucionalizado. — Note-se, porém: os carismas, sem a
orientacáo que as instituigóes lhes podem dar, estáo sujeitos a
desviar-se e perder sua autenticidade. A historia do Cristianis
mo o ensina eloqüentemente: tenham.se em vista, por exemplo,
os monges dos séc. IV/V nos desertes do Egito, da Palestina
e da Siria; a título de carismáticos, cediam a extravagancias
que, objetivamente falando, podiam tornar-se alheias ao espi
rito cristáo; assim o «peregrinar por amor a Cristo, deixado
ao alvitro de cada monge, degenerou em girovagismo, ou seja,
em instabilidade que era fuga da dureza de vida e hipocrisia.
Havia monges que se prendiam com cadeias de ferro, outros
que andavam desnudos, outros que viviam isolados sobre colu
nas. .. Foi justamente para evitar tais expressóes (talvez bem
intencionadas, mas estranhas e ambiguas), que foram escritas
as primeiras Regras monásticas (de S. Pacómio, S. Basilio...),
as quais deram ao monaquisino a institudonalizacáo necessária
parapreservá-lo de caprichos e expressóes fantasistas. A insti-
tuicáo, com o que ela tem de jurídico, em si é válida e indis-
pensável, embora possa ser hipertrofiada e sufocadora, quando
exclusiva ou preponderante.

— 23 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

Por que entáo nao dizer que também os jovens da «Jesús


Revolution» se preservariam de graves males e se fortaleceriam
em sua adesáo a Cristo se, em vez de recusar a Igreja, pro-
curassem a comunháo com a mesma, como membros vivos
desse corpo de Cristo prolongado?

Em suma, o tempo contribuirá para elucidar o que seja


a «Jesús Revolution»; pode acontecer que perca sua índole ex
travagante e deixe de suscitar apreensóes. Como quer que seja,
ela em nossos dias parece significar claramente que o homem
se cansou do materialismo e proclama a necessidade de valores
nao comerciáveis, ou seja, de valores transcendentais e religio
sos, dos quais Jesús Cristo é o Grande Arauto. Possa essa
intuigáo que os jovens professam ainda confusamente, chegar á
sua plena maturidade, tornando-os testemunhas convictas e
coerentes do Cristo na S. Igreja e no conjunto da humanidade
contemporánea!

Seja citado aqui, como fonte informativa, o livro de WiKried Kroll:


"Jesús kommt! Report der Jesus-Revolution unter Hipples und Studenten
in USA und anderswo". Tradusao italiana "Gesú viene" de Edoardo Mar-
tinelli (ed. Paollne), com adaptacSo á Italia por A. A. — É na edicáo
italiana de tal obra que se encontra o texto do repórter alemáo da "Bunte
Illustrierte11 (ci. pp. 45-51).

Leitor assinante,

Queíra renovar quanto antes sua assinatura de PR,

se aínda nao o fez, e difundir a revista entre os seus conhe-

cidos. Contamos com os nossos amigos. Ajude-nos a ajudar!

A diregao de PR

— 24
No cinema:

"godspell, a esperanza" em foco

Em s¡nt3se: O filme "Godspell, a Esperanza" aprésenla cenas seletas


do Evangelho desde o batismo ministrado por Joño até a ressurreicáo de
Cristo; o estilo é "pop", de sorte que os episodios sao apresentados com
cantos e dancas modernas. A figura de Cristo é a de líder ideal da juven-
tude de tal estilo.

Em si o filme nada tem de grotesco ou irreverente, nao há ai dancas


ou roupagens libertinas. Para compreender a película, é preciso considera
ba a partir das categorías do respectivo estilo. Pode entao ser tida como
meio de colocar em contato com o Evangelho a juventude contemporánea.
Todavia deve-se notar que a mensagem de Evangelho que o filme apré
senla, é por vezes assaz empalidecida: o significado de certas passagens
nao consegue o devido realce, em virtude do barulho e do aparato artístico
do filme, que desviam do conteúdo serio e profundo da Boa-Nova de Cristo
a atencao do espectador. — Observando isto, nao tencionamos condenar
o filme "Godspell"; o autor e os produtores tiveram em mente incitar o
público a viver o Evangelho na megápole ou na Grande Cidade (Nova
lorque) de hoje. Muitos dos que asslstem a "Godspell", deveráo sent¡r-se
convidados a procurar conhecer melhor o texto do Evangelho e aprofundar-
-se em sua mensagem — o que certamente será um fruto positivo ocasio
nado pela película.

Comentario: A figura de Jesús Cristo continua em foco


nos ambientes juvenis como no mundo das artes. Ela aparece
agora no Brasil mais urna vez através de urna criagáo já fa
mosa no cinema e no teatro dos E.U.A., do Canadá, da Aus
tralia, da Franca, da Inglaterra... Trata-se, no cinema, do fil
me «Godspell, a Esperanga» (Palavra de Deus, a Esperanqa),
produgáo da «Columba Pictures». Esta pega cinematográfica,
que de certo modo se aproxima de «Jesús Cristo Superstar»,
vem a ser a reproducáo de passagens do Evangelho, passagens
tiradas principalmente dos escritos de S. Mateus e S. Lucas1.

]E nSo apenas de 3. Mateus, como tem sido publicado. As parábolas


do bom samaritano, do filho pródigo, do ricaco e de Lázaro, do fariseu
e do publicano, por exemplo, sao próprias do Evangelho segundo Lucas; cf.
pp. 27s deste fascículo.

25
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

O texto teve origem, como tese escolar, na Universidade de


Carnegie-Mellon. O autor, John Michael Tebelak, escreveu-o
aos 22 anos de idade; depois de estudar o Evangelho, resolveu
adaptá-lo oportunamente aos ritmos musicais e ao estilo da
juventüde. As cancóes sao da autoría de Stephen Schwartz, a
quem também se deve a música de «Liberdade para as Borbo-
letas»; recebeu o premio «Drama Desk», da «Variety Critics
Poli» e o do «National Theatre of Arts».

O filme foi dirigido por David Greene e coreografado por


Sammy Bayes. O papel; de Jesús coube a Victor Garber, que
foi integrante do grupo de rock «Sugar Shoppe» e trabalhou
em «Jesús Christ Superstar» assim como em «Espectros» de
Ibsen. David Haskett, o segundo protagonista do filme, comeca
o seu papel como Joáó Batista e depois assume as vezes de
Judas Iscariotes; para interpretar o musical, tomou aulas de
danga, canto e pantomina.

É dentro dos cenários da grande cidade ou da Megápole de


hoje (e nao ñas paisagens da Galiléia, da Judéia ou ñas rúas
de Jerusalém) que os episodios do Evangelho sao filmados.
Desta forma o. autor de «Godspell» tenciona integrar a vida e
os ensinamentos de Cristo no ámago da realidade contemporá
nea, mostrando a repercussáo que estes podem e devem ter na
vida moderna: Jesús seria a resposta para o mundo da civili-
zagáo tecnológica em crise, como, alias, insinúa do seu modo
a «Jesús Revolution» dos E.U.A.

No decorrer de «Godspell» o espectador é colocado diante


das grandes atraeóes naturais e arquitetónicas de Nova Iorque:
o Central Park, o Times Square, o Lincoln Center, o edificio
do World Trade Center (o mais alto do mundo), a Estatua da
Liberdade, o túmulo do General Grant, a baía de Hudson, a
Coney Island... Gracas á cooperacáo das autoridades muni-
cipais de Nova Iorque, rúas e avenidas da cidade foram fecha
das em certos dias para permitir a filmagem sem a presenga
de pedestres e carros. Por isto também o trabalho dos cine
astas se realizou principalmente em fins de semana e ñas pri-
meiras horas da manhá, quando era mais fácil deter a circula-
gáo do público.

Antes do inicio das diversas filmagens, foram realizados


oficios religiosos em plena rúa de Nova Iorque, com a presenga
da equipe de atores, sob a diregáo dos ministros anglicanos

— 26 —
- «GODSPELL, A ESPERANCA» 27

Rev. Kird e Rev. Moody. Algumas cenas de «Godspell» foram


fotografadas a partir de helicópteros ou do alto de arranha-
-céus e pontes.

Como se compreende, «Godspell» tem chamado a atengáo


do público, deixando interrogagóes na mente dos espectadores.
É por isto que dedicaremos ao filme as páginas seguintes, pro
curando refletir sobre o seu conteúdo e o seu estilo.

1. «Godspell, a Esperanza»

O filme se abre apresentando cenas que lembram a cria-


gáo do mundo. Com isto o autor insinúa, com razáo, que é
sobre a recordagáo desta obra inicial do Senhor Deus que se
deve ler o Evangelho; Cristo é o Consumador da "obra da
criagáo.

A seguir, aparecem cenas das rúas de Nova Iorque, em que


pessoas e carros se tumultuam em vozerio e alvorogo quase
caóticos; véem-se também episodios de bibliotecas, escolas de
artes, etc., onde se percebem a inclemencia, a dureza e os con
trastes da agitada vida moderna. Pois bem; após tais cenas,
ouve-se o clamor: «Preparai os caminhos do Senhor í» (Mt 3,3;
Me 1,3; Le 3,4). Assim o texto do Evangelho e, com ele, o pró-
prio Cristo sao introduzidosTio ámago da vida de hoje. Vé-se
entáo Joáo Batista administrar o batismo em um lago de par
que público moderno; Jesús ai aparece para também ser bati-
zado; acompanham-no rapazes e mogas maquilados e vestidos
de trajes coloridos. A pessoa de Jesús é representada por um
jovem cabeludo saltitante, guia de seus companheiros e com-
panheiras de danca.

As cenas se váo sucedendo ao ritmo de cantos e brinca-


deiras alegres, ñas quais nada de grotesco ou indigno ocorre.
Sao declamadas frases do «Sermáo da montanha»: «Bem-aven-
turados os que choram..., os que sao pobres... Nao vim re-
vogar, mas cumprir a lei e os profetas... Ninguém pode servir
a dois senhores... Amai vossos inimigos e orai pelos que vos
perseguem»; ouve-se aínda a exortagáo á oracáo, á pureza de
vida, á caridade sem alarde. No decorrer do filme, algumas
parábolas do Evangelho desfilam ante os olhos do espectador:
a do fariseu e do publicano (Le 18, 9-14), a do bom samarita-

— 27 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

no (Le 10, 25-37), a do devedor iníquo (Mt 18,23-35), a


do ricaco e de Lázaro (Le 16,19-31), a da sementé que cai em
diversos tipos de terreno (Mt 13,3-9.18-23), a do filho pródigo
(Le 15,11-32), a do pai que tinha dois filhos (Mt 21,28-31).
Assim alguns tragos dos ensinamentos de Jesús vém postos em
realce.

Aos poucos véem-se os prenuncios da Paixáo do Senhor.


Este se vai incompatibilizando com os fariseus, que o interro-
gam a respeito do imposto a pagar a César (Mt 22,15-22). Á
hipocrisia dos fariseus Cristo opóe fortes censuras (cf. Mt 23),
chegando niesmo a chorar sobre Jerusalém obcecada (Le 19,
41-44).

Finalmente, é apresentada a última ceia de Cristo. Este


prediz a traicáo que Jesús há de levar a termo. Após a institui-
cáo da Eucaristía, o Senhor se despede dos seus e vai orar no
horto das Oliveiras, pedindo ao Pai que dele afaste o cálice.
Em tal ocasiáo, o autor dá a ver as tentaeóes de Jesús, tenta-
góes que, alias, os Evangelistas eoloeam no limiar da vida pú
blica do Senhor (cf. Mt 4,1-11; Me 1, 12s; Le 4,1-13); máos
diversas passam rápidamente ante o semblante de Cristo como
que para atrai-Lo ñas mais diferentes diregóes (a obra artís
tica ai é especialmente original e bela). Presencia-se a traicáo
de Jesús por Judas; Cristo é preso, embora os apostólos lhe
queiram acudir. Imediatamente depois, ouve-se o Senhor Jesús
a exclamar angustiado e preso á Cruz: «Deus, estou morren-
do!... Deus, estou morto!»

Ao desenlace de Cristo se sucede a luz de urna aurora nova,


que simboliza a ressurreicáo do Senhor. Este é desatado da
Cruz e transportado. . . Véem-se de novo multidóes compactas
e tumultuadas, em meio as quais ressoa a ordem: «Preparai o
caminho do Senhor!» Ocorrem cenas do dia-a-dia, como que
para dizer que nelas o Cristo continua a viver. No quadro
final da película, as multidóes param, como se se. dispusessem
a refletir sobre a obra e a mensagem de Cristo. Desta forma
o espectador se vé incitado a pensar, também ele e de novo,
ñas grandes interrogagóes do conturbado mundo de hoje e na
resposta que o Senhor Jesús lhe traz mediante o seu Evangelho.

É oportuno realgar ainda urna cangáo que ocorre duas


vezes no filme, dando-lhe urna nota bela e particularmente
eloqüente:

— 28 _
«GODSPELL, A ESPERANQA» _29

«Día a día, ó Deus,


Por tres coisas Te imploro:
Te ver com clareza,
Te amar com certeza,
Te imitar com pureza».

2. Que dizer?

1. O filme nao pretende ser a apresentagao completa das


diversas secgóes do Evangeiho, mas visa a despertar a atencáo
do público — principalmente do mundo jovem — para passa-
gens importantes da Boa-Nova desde o batismo de Joáo até
a ressurreigáo de Jesús. As figuras de Jesús, Joáo Batista e
dos Apostólos sao apresentadas em estilo moderno, sem de
boche ou irreverencia. Por isto «Godspell» nao provocou gran
des polémicas teológicas nem as contestacóes que se verifica-
ram em torno de «Jesús Cristo Superstar».

Para muitos espectadores, principalmente para quem sin


toniza com o estilo pop, «Godspell» ipoderá ser interessante e
construtiyo. Constituí urna forma de aproximar do Evangeiho
o público que nao se deixaria atrair por urna clássica apresen-
tagáo cinematográfica da vida de Jesús. Na perspectiva deste
efeito construtivo e em apreco do valor do filme (entendido
dentro do seu estilo próprio), o «Office Catholique Internatio-
nal du Cinema» de París premiou «Godspell».

Todavía nem todos se sentiráo satisfeitos diante do filme


em foco, principalmente depois de haver visto «O Evangeiho se
gundo Mateus» de Pasolini. «Godspell» poderá parecer pobre
de conteúdo e mensagem; os traeos relevantes do Evangeiho
sao empalidecidos e atenuados pela profusáo de cantos e dan-
gas; estes elementos musicais nao raro mais chamam a aten-
gao do espectador do que o conteúdo da mensagem do Evan
geiho. O sermáo da montanha (Mt 5-7), por exemplo, vem a
ser pouco significativo em tal contexto; o mesmo se diga das
parábolas do filho pródigo e do bom samaritano. A Paixáo do
Senhor é pouco ilustrada e realcáda (o que se compreende
dentro do estilo e da montagem artística da película).

Fazendo tais ponderagSes, nao tendonamos rejeitar «Gods-


pell»; tem valor religioso e significado artístico para boa parte

— 29 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

do grande público; poderá servir a muitos de meio de entrar


era contato com a mensagem evangélica. É merecedora de
todo aplauso a intencáo básica que os autores tiveram, de co
locar o Evangelho dentro da realidade da vida de hoje, máxi
me como ela se desenvolve ñas megápoles (grandes cidades, de-
sumanas pelo gigantismo de seus ritmos absorventes...); es
pecialmente digno de nota é que a prodamacáo das palavras de
Cristo que incitam ao amor e ao perdáo, em «Godspell», é feita
diante da fachada do edificio da ONU em Nova Iorque...

Aqui fica, por fim, :expresso o voto de que o espectador,


despertado para Cristo por «Godspell», procure aprofundar os
conhecimentos do Evangelho assim recebidos, de modo a com-
preender aos poucos, e mais e mais, a riqueza perene dos textos
que também o cinema lhe apresenta com os recursos da arte
jovem de nossos dias.

APÉNDICE

A fim de ajudar o leitor a avaliar o famoso filme em foco,


transcrevemos, a seguir, duas apreciacóes de «Godspell» publi
cadas em nossá imprensa e devidas a críticos de cinema.

1) A primeira é de Yan Michalski, que escrevia no «Jor


nal do Brasil» de 24/X/1973, caderno B, p. 1:

"Quando vi Godspell em Londres, sai do teatro sincera


mente aborrecido: eu tinha ido ver o musical-sensagáo do mo
mento, que fazia enorme sucesso numa capital onde a medio-
cridade nao costuma vingar, e aquilo que vi nao corréspondeu
á minha expectativa...

Continuo achando Godspell ingenuo demais para o meu


gosto: durante tres quartos de sua duracáo, o que vemos sao
quase infantis ilustracoes mímicas de algumas das parábolas,
máximas e frases mais conhecidas do Evangelho segundo Sao
Mateus — ilustracdes feitas sem nenhum empenho de jogar
sobre esses trechos do Novo Testamento qualquer luz que Ihes
dé urna conotagáo moderna, ou de interpretá-los filosóficamen
te de algum modo, mas apenas no espirito de demitificá-los,
transformando-os em inocentes, mas nunca desrespeitosas
brincadeiras. Só na parte final do segundo ato é que o texto
bíblico dá origem a urna interpretagáo que deixa de ser gaiata

— 30 —
«GODSPELL, A ESPERANCA» 31

para tornar-se poética; e, coincidentemente, é também a essa


altura que a partitura musical, até-entáo bastante rotineira,
ganha maior consistencia e comunicabilidade.

Entretanto, o espetáculo é táo colorido, movimentado, des


contraído e cheio de garra que sobrevive á deficiencia do ma
terial literario e musical sobre o qual se apoia.

Se o texto proporcionasse margem para maior número de


momentos dessa densidade,1 Godspell poderia tornar-se uma
real izas ao significativa. Como isto nao acontece, o musical
nao passa de uma brincadeira agradavelmente realizada, mas
inocua e de pequeño alcance".

2) A segunda apreciagáo é de A. R. Marcelino, no jornal


«O Sao Paulo» de 27/X a 2/XI de 1973, p. 4:

"GODSPELL é um musical que, além de ter trazido para


o nosso tempo, com verdade, pureza e simplicidade de inten-
gdes, o que nos conta a Biblia no Evangelho de. Sao Mateus,
nos dá urna admirável licao do Amor de Deus. de Fé e Espe
ranza ñas promessas da Palavra Revelada por Cristo e que,
por isso mesmo, merece ser visto por todos, principalmente
a nossa juventude.

Em última análise, GODSPELL é, sem dúvida nenhuma,


um dos melhores espetáculos do segundo trimestre na atual
temporada paulista".

Estes dois pareceres, nao de todo convergentes entre si,


ilustram bem as atitudes do público diante de «Godspell». Den-
tre os dois, o de Michalski parece-nos mais fundamentado. Ao
leitor toca escolher.

1 Michalski refere-se a cenas da Paixáo de Cristo.

— 31 —
Vinte e dois anos após a descoberta:

a pilula anticoncepcional em foco

Em síntese: O Dr. Alexandre Dorozynskl publicou um artigo na revista


"Science et Vle" de junho 1973, em que expóe o declinio do uso da
pfluia anticoncepcional e os resultados obtidos petos estudiosos na procura
de novos métodos anticoncepcionais. Especialmente digna de nota é a
noticia de que nos EE. UU. dols médicos já descobriram um produto apto
a regular o ciclo da mulher: em conseqüéncla, esta poderá abster-se de
anticoncepcionais (que sao sempre nocivos em certo grau) e observar o seu
cicló menstrual com a certeza de nao ser surpreendida por indesejáda
gravidez. Parece que pouco falta para que tal descoberta possa ser en
tregue ao uso público.

O Dr. Dorozynski acentúa enfáticamente os efeitos negativos dos anti


concepcionais. Estes parecen), em última instancia, violentar a consciéncia
humana, que, espontáneamente, tende a respeltar a vida.

Comentario: Está constantemente em foco na imprensa a


famosa püula anovulatória, produzida, pela primeira vez, pelo
Dr. Gregory Pincus em 1952. Sabe-se que, logo que foi ofere-
cida ao grande público, gozou de grande voga. Vasta biblio
grafía anunciava, nos anos de 60, que a pilula anticoncepcional
parecía ser a solucáo para o problema da limitagáo da natali-
dade. Todavía médicos e moralistas mostraram-se divididos
frente ao novo contraceptivo:' enquanto muitos clínicos aponta-
vam efeitos nocivos decorrentes do uso da pilula, numerosos
pensadores, inclusive S. Santidade o Papa Paulo VI, rejeitavam
á pilula como sendo algo que fere os principios da sadia morali-
dade. Em sua encíclica «Humanae Vitae» (n» 24), sobre o con
trole da natalidade, o S. Padre em 1968 exortava os homens
de ciencia a que procurassem descobrir urna pilula que tornas-
se regular o ciclo da mulher, permitindo assim ao casal recor
rer á continencia periódica sem o perigo de gravidez para a
esposa.

_ 32 —
PÍLULA ANTICONCEPCIONAL OU REGULADORA? 33

Pois bem. Após mais de vinte anos de uso da pílala ano-


vulatória, pergunta-se: que decorre da experiencia assim feita?
Que pensam hoje os estudiosos a respeito do controvertido
assunto?

Estas questóes foram recentemente abordadas pelo Dr.


Alexandre Dorozynski em artigo intitulado «La pilule? II y a
mieux...» (A pílula? Há coisa melhor...), da revista «Scien-
ce et Vie» t. CX5OII, n' 669, junho 1973, pp. 55-57.1 O
autor afirma que tem caído notoriamente na Franga e em ou-
tros países o número de pessoas que usam a pilula. A seguir,
enumera as novas pesquisas que vém sendo realizadas pelos
cientistas para descobrir algo de melhor do que a pílula, mere-
cendo entáo especial realce a noticia de urna pilula reguladora
do ciclo da mulher.

Dado o grande interesse de que se reveste tal artigo, va


mos abaixo resumi-lo, visando assim a servir ao público brasil
leiro.

1. Declínio da pílula

Em 1968 o uso da pílula foi oficialmente autorizado ao


público na Franca. Desde entáo até 1971, o seu consumo cres-
ceu gradativamente naquele país, chegando a atingir 5% das
mulheres da Franca, que podem escolher entre vinte fórmulas
de pílula anticoncepcional Jangadas no mercado francés. Era
1972, porém, a pílula caiu a urna cota de consumo inferior á
de 1968. Semelhante declínio se tem verificado em outros paí
ses: na Suécia, por exemplo, primeiro país europeu que tenha
recorrido em larga escala á pílula, esta vai sendo menos e me
nos utilizada.

E por qué?

— A eficacia da pílula como contraceptivo nao deixa dü-


vidas; é de 99,6 em 100 casos, embora essa eficacia aínda nao
seja de todo explicada. Acontece, porém, que um conjunto de
motivacóes médicas e moráis concorrem para alijar a pílula.

10 artigo ó asslnado á p. 57 pelo Dr. Alexandre Dorozynski. No


índice da revista, porém, vem atribuido ao Dr. Jean Ferrara. — No de-
correr destaá páginas, n§o podendo dirimir a dúvida assim originada, su
peremos a autoría do Dr. Dorozynski.

— 33 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

Com efeito, os médicos verificam que esta acarreta efeitos ulte


riores desagradáveis ou mesmo pengosos, como hipertensáo,
enrartes, nauseas, retenyáo de agua, aumento üe peso, esterüi-
daüe definitiva... Doutro lado, patenteia-se que a consciéncia
tnanifesta aversáo espontánea a quaiquer intervencáo física ou
química nos processos que dáo origem a um ser humano. Essa
aversáo nao parece depender do grau de cultura da mulher,
pois ocorre em pacientes alfabetizadas como em nao alfabeti
zadas, em mulheres «emancipadas» como em «nao emancipa
das»; ela se registra tanto em países altamente desenvolvidos
(Suécia, Franca...) como em países pobres e menos desenvol
vidos (Egito, india...); dir-se-ia que é espontáneo e geral o
repudio de intervengóes artificiáis no processo genital do ser
humano.

Em substituido :á pilula propriamente dita, foi produzida


a dita «mini-pilula», cujos efeitos esterilizantes e nocivos á
saúde seriam reduzidos... Todavía essa nova fórmula só con-
correu para langar aínda maior descrédito sobre a pilula.

Em conseqüéncia, as pesquisas dos dentistas em torno da


contracepgáo prosseguiram por caminhos diversos, chegando
a resultados surpreendentes, dos quais o mais alvissareiro é o
seguinte:

2. A pilula reguladora

Independentemente um do outro, puseram-se a trabalhar


na mesma linha o Dr. Roger Guillemain, francés, membro do
Instituto Salk dos EE. UU. (California), e o Dr. Andrew
Schally, de Nova Orleáes (U.S.A.). Ambos pensaram em re-
grar o ciclo da mulher de tal forma que lhe baste praticar a
abstengáo durante certos dias do mes para poder ter sua vida
sexual sem o risco de gravidez. Essa regulagáo parece que
realmente se pode obter mediante injecáo de dose ínfima do
hormónio da fecundidade, ou seja, do extrato hipofisiário de
signado por LH/RH. Esse extrato provoca a secreqáo do hor
mónio estimulante do foliculo, que estimula os folículos ova-
rianos; acarreta outrossim a secregáo do hormónio luteinizan-
te, LH, que provoca a ovulacáo. — O Dr. Guillemain, em co-
¡aboragáo com o Dr. Sam Yen, da Faculdade de Medicina da
Universidade da California, recebeu autorizacáo para proceder
a ensaios do novo produto em quinhentas mulheres. Os resul
tados até agora sao de todo positivos: verifica-se que a nova

— 3-í —
PÍLULA ANTICONCEPCIONAL OU REGULADORA? 35

fórmula é inocua e eficaz durante varios ciclos ovula torios con


secutivos. Procuram agora os médicos substituir a referida
injegáo por urna piluia reguladora que nao venha a ser destrui
da pelos sucos gástricos.

As pesquisas assim delineadas correspondem ao que o S.


Padre Paulo VI almejava em sua encíclica «Humanae Vitae»:

"Queremos agora exprimir o Nosso encorájamento aos homens de cien


cia, os quais podem dar um contributo grande para o bem do matrimonio
e da familia e para a paz das consciéncias, se se esforgarem por esclare
cer mais profundamente, com estudos convergentes, as diversas condicóes
favoráveis a uma honesta regulacao da procriacao humana. É para desejar
multo particularmente que, segundo os votos já expressos pelo Nosso Pre-
decessor Pío XII, a ciencia médica consiga fornecer uma base suficiente
mente segura para a regulado dos nascimentos, fundada na observancia
dos ritmos naturais. Oeste modo, os homens de ciencia, e de modo espe
cial os cientistas católicos, contribuiráo para demonstrar que, como a Igre-
ja ensina, nao pode haver contradicao verdadeira entre as leis divinas
que regem a transmissSo da vida e as que favorecem o amor conjugal
auténtico" (n? 24).

A pí'ula reguladora será o método ideal para limitar a


natalidade, pois em nada violará as leis da natureza, mas, ao
contrario, secundará e beneficiará o ritmo nativo do organismo
feminino sem o intoxicar.

Ao lado, porém, deste tipo de estudos, devem-se aqui men


cionar varios outros, atualmente em curso no mundo dos cien
tistas.

3. Outros esterilizantes femininos

Enumeraremos sete pistas pelas quais enveredam os estu


diosos e pesquisadores de laboratorio.

1) Os Drs. Guillemain e Schally também tém procurado


realizar a síntese de hormónios análogos ao LH/RH; de acordó
com o momento em que fossem ministrados, tais preparados
poderiam impedir a ovulacáo ou eliminar o óvulo fecundado.
— Este novo método é diretamente esterilizante ou mesmo
abortivo — o que o assemelha, do ponto de vista moral, á
piluia anticoncepcional.

2) A firma norte americana Upjohn vem estudando um


progestativo sintético, do qual uma injecáo trimestral e intra-

_ 35 —'
36 ■ «PERGUNTE É RESPONDEREMOS» 169/1974 .

muscular bastaría para garantir o efeito contraceptivo. O novo


produto, chamado «Dopo-provera», está sendo experimentado
em certos países da Europa, ao passo que as autoridades dos-
EE. UU. proibiram a aplicagáo do mesmo a mulheres norte-
-americanas, visto que já provocou cáncer em cadelas. Mais: o
Dr. Juan Zanartu, Diretor do Centro de Estudos Biológicos
da Reproducáo na Universidade do Chile, julga que o referido
produto poderia provocar esterilidade prolongada.

3) O Prof. Alien Menge, da Universidade de Michigan,-


identificou doze antigenes distintos no esperma do coelho; injer
tados na fémea, esses antigehes provocam no útero da mesma,
a formagáo de anticorpos que tornam o espermatozoide impo
tente. Menge está procurando apresentar ao público esses anti
genes sob forma de vacina.

4) Erwin Goldberg e William Zinkham, da Universidade


John-Hopkins, de Filadélfia, identificaram no esperma e ñas
glándulas sexuais masculinas urna enzima que vem a ser um
contraceptivo e imunizador natural; chama-se lactatodesidro-
genase (LDH-X) e destrói os espermatozoides. Sob forma de
vacina, é 100% eficaz quando aplicado á fémea do macaco.
Falta agora aplicá-Qo ja mulher.

5) Alex,Shivers, da Universidade de Tennesse, descobriu


um antigene para o ovario feminino: esse produto impede o es
permatozoide de atravessar a membrana exterior do óvulo, ou
seja, a zona pellucida. Shivers está atualmente procurando o
meio adequado para introduzir "essa substancia concentrada no
corpo humano; deverá injetá-la diretamente no aparelho geni-
. tal ou introduzi-la no sistema de circulagáo do sangue?

6) David Bishop, da Escola de Medicina de Ohio, propóe


utüizar urna outra enzima — o sorbitol desidrogenase — para
interromper a formacáo de espermatozoides no homem. Essa
enzima seria colocada nos órgáos de producáo dos espermato
zoides e funcionaría como um saboteador numa fábrica/.

7) Os Drs. Oikawa e Yanagimachi, da Escola de. Medi


cina de Hawai, Honolulú, em colaboracáo com o Prof. Nicol-
son, do Instituto Salk, verificaran! que certos anticorpos ex-
traídos principalmente das sementes de aveia se combinam com
proteínas da zona pellucida para torná-la impermeável ao es
permatozoide, como faz o antigene ovariano de Shivers. Esses

_ 36 —
PfLULA ANTICONCEPCIONAL OU REGULADORA? 37

anticorpos sao fito-aglutininas, que reproduzem o efeitp do


espermatozoide; na verdade, ,sabe«se que, logo que este ténha
penetrado no óvulo, a zona pellucida do óvulo se torna imper-,
meável. , . , ; .
. 'i \ ■•_.;.._ ■, .:•-„ - ■ >• ■; .-'"•
>,¿'Séja-nos aqui permitida/urna observagáo: .

Deve-se reconhecer o notável esmero das pesquisas cientír


ficas qúe'acabam de ser assinaladas. Todavia é preciso lembrar
que ciencia sem cbnsciéncia (ética ou moral) nao realiza a
perfeigáo do homem. Todos os novos produtos aqui recenseá-
dos vém a ser recursos para que, em última análise, se contra
rié á nafureza do amor humano: este é por si unitivo e fecundo.-
Querer tirar-lhe a fecundidade pode implicar em degradagáo
do amor; este poderá vir a ser mero instinto cegó e egoísta,
• que manipula o sexo e, de modo especial, reduz a ■mulher a
instrumento do prazer do homem ou a objeto que se vende ou
¿luga a prego conveniente. .,
Além dos novos produtos que agem sobre o organismo fe-
minino (exceto o de tí> 6), a fim de impedir a fecundagáo, ou-
tros váo sendo estudados cuja atuagao se dá no organismo
masculino. . ' '

4. Processos de atuacao sobre o homem

Distinguem-se aqui a chamada «pilula alema» e a vasec-


tomia. .

> 4.1. A'«pilula alema»

Trata-se de um produtp que torna o homem impotente,


agtndo simultáneamente sobre o seu psiquismo (apaga os instin
tos reprodutores) e sobre a sua fisiología (reduz consideravel-
mente o número de espermatozoides e a mobilidade dos
mesmos).

Tal pilula, fabricada na base de acetato de ciproterona,'


foi descoberta pelo Dr. Fredmund Newmann, da firma alema
Schering, e ja foi experimentada pelo Dr. Petry, de Hamburgo,
em cinco pacientes voluntarios. Logrou, sem demora, grande
aceitagáo até mesmo por parte das autoridades govemamentais.

— 37 — '
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 169/1974

Assim, por exempló, acontecia nos cárceres da Alemanha Fe-

dé';rsér ' «humanizada»: o poder legislativo álemáó admite'á '


«castragáo química» na base de acetato de ciproteronaV' Na ,;
Suíga, os delinqüentes sexuais que aceitaram tal tipo de trata-a
mento (castragáo pela pirula), tém sido 'fuñidos menos* severas-
mente do que de costume. Na Inglaterra, o assunto foi deba
tido nd'-rPárlánientó"; todavía uní délinqüente sexual recidivo,
preso¡' ja bbféye a libértagáo medrante trátaménto comva «pti
ftdá alema»'. Ésta emais' eficaz do que o eletrochoque.:. ' ■"'' ' .

Aínda se deve mencionar a

4.2. Vasedomia

Nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Suíga, como na India


e na China, tem sido praticada a vasectómia. É bpérágáo sim
ples, realizável em meia-hora, com anestesia local apenas; con
siste em se praticarem duas incisoes nos cañáis cpñdutores dos
espermatozoides qué saém dos testículos. Máis de um milháo dé
hómehs já se subméteu á éssa cirurgia nos EE. UU.

A vasectómia tem sido substituida por urna intervengáo


ainda mais requintada, que se deve ao engenheiro Dr. Louis
Bucale, da «Byonix Corporátion», de Nova Iorque: os referi
dos cañáis condutores nao sao inutilizados definitivamente por
iricisóés, mas sao dotados dé minúsculáá válvulas de óúró,._..
válvulas que podem ser abertas ou fechadas por um cirurgiáo,
segundo o alvitre do paciente. Já cem pessoas se sújeitaram a
tal intervengáo no «Medical Center» de Nova Iorque. Em últi
ma instancia, sao propostas mesmo válvulas de silicónio, apo
inoxidável e material poroso inalterável; estes elementos dis-
pénsam ulteriores intervengóes do cirurgiáo, pois o próprio
paciente, aplicando um ímá, pode abrir ou fechar as válvulas..

A título de complementagáo, diga-se que também a liga


dura "de trompas na mulher vai sendo substituida pelo recurso
a «clips», pingas, rolhas, que servem para obstruir a passagem
atrayés das trompas. Ao referir tais dados, observa o Prof..
fiíorpzynski: ■

"As técnicas clrúrgicas (de esterilizacáo) parecem — ape


nas párecenTr— ícenos? p.erigpsás (do que os métodos químl-'-:

— 38 —
PÍLULA ANTICONCEPCIONAL OU REGULADORA? 39

eos),; mas elas afetam,.a, personalidade,. pois sao, assemelhadas


á unía castrágáo e repercutem de maneira, negativa sobré ó
conjunto da personalidade" (art. cit., p. 57).

. Pássémos agora a úma"'

1 5. Reflexao final

As noticias até aqui apresentadas sao concebidas ,estrita-


mente como subsidios para a informacáo científica. .O leitpr
benévolo relevará o que elas tém de minucioso; tais dados per-
tencem ao teor da exposieáo científica.

O Prof. Alexandre Dorozynski, que comenta tais noticias


np mencionado artigo de «Science et-Vie», acentúa com énfase
o'que os procéssos artificiáis de limitagáo da naialidade tém de
violento e anti-humano. Fácilmente provocara "traumas e com
plexos nos respectivos pacientes, pois todo ser humano — seja
masculino, seja feminino, seja de alta, seja de modesta cultu
ra —. experimenta em si o respeito espontáneo á vida. Con
trariar esse respeito é tocar urna das fibras mais íntimas e
delicadas da pessoa humana; as conseqüéncias negativas déssa
violentacáo cedo.ou tarde tendem a se revelar ou no físico ou
no psíquico dá pessoa violentada. .

Sao palavras do Prof. Dorozynski:


■ ■ • ■ • - - i ■■ ■ ■ ' ,V.
. , "O fracássó da pílufa é ássaz eloqüerite: o atoi prpcrladp^
em última análise, nao se podé reduzír á urna su'cessáo dé fun-
' Qües biológicas, qualquér que seja o nfvel cultural da mulher"
(aftVclt./p: 57). . '
...; "Médicos e sociólogos tornáram'recéntéméritécbnscien^
de um fato desconcertante: a realldade da contracepeáo ;ó total
mente" diferente da idóia que eles hávia'm concebido á respeito
(art. cit'./p. 55).

Donde a cqnclusáo do autor, muito seria, embora formula


da em tom jíocosd:

"Afinal, diante de tantos' e.sfórcos altamente competentes^


realizado^ mjlhSés de,;vezes [ sobre legióes. de', carniirjdontfoSj
ralos," cóbálás;' coelhos e macacas*. V., diáhte dessá"conspira-
E RESPONDEREMOS» 16é/1974" -:

g internacional que visa a impedir Espérmato de se enconr


trar com óvüla, quem' nao sentó a emogáo do espectador qué i
assiste á páíx§o contrariada "de Rórheu e Julieta? ' ° ":■$ ;i -

Se o método héo-Ogino ó táo eficaz quantó promete, e ;


visto que é o método qué mais respeita. os prb¡cessos naturals,í:
quase se chega a desojar que'urna, conyengao internacional»;?;
ponha termo.á cohspiragáo dos'novos Cápulets e Montaigüs,1.
que procuram proíbir o encontró do espermatozoide e do<J■
óvulo" (árt. cit; p. 57):"'. r-; -:■•■ .' -r•■• -'-
■ ■■•• ; ..■■• . "-.... ■■■' ■ ■ ■ •',■"'..•-■
• : 'Estas palavras, provenientes de um homem de ciencia, qü>
nao pretende ser um moralista,, mas um observador objetivo da
realidáde, tém significado especialmente ponderoso'. Elás yém
oportunamente ao encontró dos votos que a constíéncia crista '
formula diante do arduo problema dos anticoncepcionais.

• • . ' . " ' • • ' '. ■ ■ ■■'..(


ESTÉVAO BETTENCOUBT O.S.B.

Dfclonarlo de Teología Bíblica, por Johannes B. Bauer. TraducSo


i de Helmuth Alfredo Simón, 2 volumes. — Edigóes Lbyola, SSo Paulo
1973,170 x 240 mm, total de 1173 pp. (1-584 e 585-1173 respectivamente).

O antigo Dicionário de Bauer, já conhecido no Brasil em tradugao


espanhola, aparece agora em língua portuguesa depois de revisto e
ampliado pelos seus autores. Reúne as' colaboragóes de numerosos
exegetas alemaes e austríacos, que se esmeram por apresentar o conteú-
do teológico dos principáis vocábulos bíblicos; tais termos foram consi
derados também no contexto da filosofía grega, de modo qué o leitor
possa eventualmente perceber a evolu^ao do significado dos termos
em foco; o perisamento grego e o pensamento bíblico assim se
defrqntam.

V 1 Cápulets (Cappeltetll) e Montalgus (Montecchi) eratn duas familias de


Verona (Italia) no séc. XVI, que rivalizavam entre si. Julieta terá perten-
cido aos Cappelletti e Romeu aos Montecchi. Shakespeare insplrou-so
desses personagens para escrever a sua famosa peca "Romeu e Julieta".

— 40 —
O Dicionário se torna assim valioso instrumento de trabalho, po-
dendo ser utilizado até mesmo para a elaboracáo de programas de
circuios bíblicos populares; as linhas exegéticas e teológicas da obra
sao sólidas e válidas. Tenhamse em vista, por exemplo, as conclus5es
dos verbetes concernentes a anjos (I p. 77), demonios e possessáo
diabólica (I p. 278), nascimento virginal (II pp. 745-750), irmáo de
Jesús (I, pp. 545-547), ressurreicáo (II pp. 971-982)... Estáo de para-
bens os estudiosos da Biblia por ver enriquecer-se a literatura atinente
a táo magno assunto.

Os Fapas e os Judeus, por Hugo Schlesinger e Pe. Humberto


Porto. — Ed. Vozes, Petrópolis 1973, 135 x 210 mm, 280 pp.

Este livro, que nao tem precedente no Brasil, deve-se a dois auto
res que integram a presidencia do Conselho de Fraternidade Cristáo-
-Judaica de Sao Paulo. O Pe. Humberto Porto, alagoano, licenciou-se
em Teología pela Pontificia Universidade Católica rte Sao Paulo, e
tem-se dedicado á aproximacáo de católicos e judeus. O jornalista
Hugo Schlesinger, israelita, nasceu na Polonia, que ele deixou no inicio
da Segunda Guerra Mundial; tomou parte ativa no 8* Exército Britá
nico de Montgomery. No Brasil tem-se dedicado á economía, ao jor-
nalismo e a obras literarias.

Os dois estudiosos embora tenham mentalidades diferentes, irma-


naram-se na elaboracáo de um histórico das relagóes entre o Papado
e os judeus, desde o século I até nossos dias; esse esboco histórico
apoia-sc em íarta documentagáo, que dá especial valor ao livro.

A conduta dos Papas para com os judeus apresenta, através da


historia, as mais diversas características, variando de pessoa a pessoa
e segundo as circunstancias de lempo. Em geral, essa conduta se nor-
teava pelas disposigoes do Código de Justiniano. inspirado por sua vez
na política religiosa do Imperador Constantino (306-337). Tais principios
nao eram favoráveis aos judeus; deve-se notar, porém, que «ao menos
teóricamente os Papas foram unánimes em condenar os batismos
forjados, bem como todos os atos de violencia cometidos contra a
integridade física e moral dos judeus» (p. 12). Hoje em dia a Igreja
repudia categóricamente o antissemitismo e tem procurado contatos
ou diálogo com os judeus. Em tempos idos, porém, as condigoes de
cultura geral e outros fatores momentáneos eoncorriam para que
muitos cristños nao percebessem o que há de hediondo na perseguicáo
aos judeus; podiam mesmo julgar em sá consciéncia que todo o povo
de Israel, em qualquer fase de sua historia, é um povo deicida —
acusacáo esta que o Concilio do Vaticano II rejeitou, pois nao se pode
atribuir a um povo inteiro através dos séculos urna culpa da qual se
tornaram responsáveis os mentores de urna geracáo apenas.

Em suma, o livro merece o interesse do público de certa cultura


no Brasil principalmente nesta época em que o povo de Israel está
muito em foco no cenário internacional; a obra foi redigida de modo
a evitar interpretac5es unilaterais e tendenciosas ou políticas.

As Edicñes Paulinas tem publicado series de livros destinados á


familia e, de modo especial, aos jovens. Sejam mencionadas
1) Colecito «Construirá, que reúne os seguintes volumes: «Na-
moro... Problemas e Experiencias», de Mariele e Pino Quartana; «Um
livro para o papai», de Kurt Axmann; «Os direitos da mulher», de
Camila Harlin; «Orientar sem impor», de Ernst EU; «Os filhos educam
os pais», de Ferdinand Oertel; «País e filhos: íalam os filhos», «Pais
e filhos; falam os pais», ambos de Spartaco Lucadini; «Faca seu filho
feliz», de Willy Starck.

2) Colegao «Problemas da Juventudes, onde se encontram as se


guintes unidades, concebidas sob a diregáo do Pe. José Fernandes de
Oliveira SCJ (Pe. Zezinho): «O problema é... namoro», «... voca-
cáo», «... amizade», «... droga», «... familia», «... sexo», «... reli-
giáo», «... fé», «... noivado», «... casamento», «... comunicacao»,
«... pobreza», «... confissáo».

A orientacáo dos livros de ambas estas colectes é segura: em


linguagem clara, acessivel a jovens e adultos, abordam questóes delica
das de modo a ajudar pais e filhos a se tornarem conscientes de seus
deveres cristáos. Na hora presente, em que as mais contraditórias
teorias sao langadas sobre a familia e o público jovem, as duas cole-
Cóes tém oportuno papel a desempenhar.

E. B.

TRÉS'COISAS DEVEM SER

CULTIVADAS : a verdade, a amizade e a paciencia.

GOVERNADAS : o caráter, a língua e a conduta.

APLICADAS : a cordiolidade, a bondade e o bom humor.

DEFENDIDAS : a honra, a patria e os amigos.

IMITADAS : o trabalhio, a constancia e a lealdade.

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