Sunteți pe pagina 1din 54

Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIN.E

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoristm)
APRESENTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico • filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
SUMARIO

O Misterio da Palavra

0 Culto das Imagens

"Religioes, Seitas e Heresias"

Somente a Escritura?
uu

É Nociva a Castidade?
a

A Fecundacao Artificial "Gift"

< Livros em estante

CD

O
ce
a.

ANO XXIX JUNHO 1988 313


PERGUNTE E RESPONDEREMOS
JUNHO - 1988
Pubjicacáo mensal NP 313

Diretor-Responsável: SUMARIO
Estéváo Bettencourt OSB O Misterio da Palavra 241
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico Carta de Joao Paulo II sobre
O Culto das Imagens 242
Diretor-Administrador:
D. Hildebrando P. Martins OSB Diálogo Ecuménico
"Religióes, Seitas e Heresias" 251
Administrado e distribuí?3o:
Edicóes Lumen Christi "Sola Scriptura"
Dom Gerardo, 40 - 5" andar, S/501 Somente a Escritura? 258
Tel.: (021) 291-7122
Caixa Postal 2666 Atual mente esquecida
20001 - Rio de Janeiro - R J É Nociva a Castidade? 2*71
Moralmente lícita?
A Fecundacáo Artificial "Gift" 279
■M.'JtQUES-SAXAJVA"
GRÁFICOS £ coirones s.a. Livros em estante 287

ASSINATURA:Cz$ 1.000,00 NO PRÓXIMO NÚMERO:

Número avulso: Cz$ 100,00 314- Julho- 1988

Pagamento (á escolha): A Solicitude Social da Igreja (Joao Paulo II).


— Para Entender o Protestantismo. — "Teolo-
1. VALE POSTAL á Agencia Central dos gia da Libertaclo" (Pe. Paschoal Rangel).
— "Igreja para a Libertacao" (David Regan).
Correios do Rio de Janeiro.
— "Carta a urna Máe que renuncia á Materni-
2. CHEQUE BANCÁRIO.
dade.
3. No Banco do Brasil, para crédito na Con-
ta Corrente n?0031, 304-1 em nome do
Mostei ro de S. Bento do R io de Janei ro, pa-
gável na Agencia da Praga Mauá (n?0435). COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

RENOVÉ OUANTO ANTES COMUNIQUE-NOS QUALQUER


A SUA ASSINATURA MUDANCA DE ENDEREQO
O Misterio da Palavra
Um dos instrumentos mais poderosos de que dispóe a pessoa, é a pa
lavra. Já S. Tiago o observava, apresentando a It'ngua como um leme ou
como um pequeño fogo incendiario (cf. Tg 3,1-12).
Os pensadores tém refletido a respeito, deixando-nos textos notáveis,
como o abaixo transcrito:
"A biografía do bomem é, no fundo, urna biografía da palavra. Com
seu respirar o bomem é ser vivo, com seu caminhar ó ser móvel, com seu
bater é ser forte. Apenas com sua palavra, sobretodo aquela dirigida ao
outro, o homem se torna ser pessoal, inteiramente bomem.
A palavra auténtica é misterio, porque tem no Ser sua fonte original.
Os profetas e poetas — e todo homem tem um pouco de profeta e poeta —...
conhecem bem as fronteiras do Ser, de onde jorra a vida misteriosa da pala
vra...: 'Eu nao invento, mas descubro' (Charles Péguy)...
O homem é um ser essencialmente visitado, e a palavra é o hospede
que ele mais hospeda. Quem sabe guardar palavras auténticas, tornase mora
da... para as coisas, os eventos, as pessoas que o visitam, preparándose assim
para hospedar o Poeta absoluto, Deus. A biografía do homem ou da sua pa
lavra é um crescimento, até que o homem se identifique com a Palavra que
Deus pronunciou a seu respeito. Aquela Palavra 'esté á nossa porta e bate; se
abrirmos, ela entraré e ceará conosco' (cf. Ap 320)" (Valerio Mannucci).

Muita coisa está dita nestas densas frases:

1) O homem se caracteriza pela palavra, expressao de sua inteligencia e


de seu afeto. A palavra transmite o tesouro da vida ou a morbidez contagiosa
de quem a profere.

2) Toda palavra auténtica tem sua fonte e seu modelo em Deus, Suma
Inteligencia e Primeiro Amor, que se nos manifestam através do Logos en
carnado, Jesús Cristo (cf. Jo 1,14).
3) A visita que todos nos mais recebemos, é a da palavra (conversas,
leí tu ras, radio, televi sao...). Quem sabe acolher as palavras portadoras dé
Verdade e de Bem, dispoe-se cada vez mais a acolher o próprio Deus e a se
configurar á Palavra eterna, exemplar, que o Criador proferiu sobre cada um
de nos.

4) Aqui está a responsabilidade de quem fala: seja vefculo daquela Pa-


lavra-fonte, da Palavra sabia e santa de Deus, que cada cristao deve cultivar
em si para poder transmiti-la aos seus semelhantes! É um pouco da sabedo-
ria e da santidade de Deus (oxalá faltamente abrigadas em nosso íntimo!)
que assim nos é dado comunicar.

E.B.

241
"PEROUNTE E RESPONDEREMOS"

AnoXXIX-N9313-Junhode 1988

Carta de Joáo Paulo 11 sobre

O Culto das Imagens

Em si'ntese: Aos 04/12/87 o S. Padre Joao Paulo II assinou urna Cana


Apostólica dirigida aos Bispos do mundo inteiro em comemoracao do dé
cimo segundo aniversario do Concilio de Nicéia II, que confirmou o culto de
veneracao das sagradas imagens. O S. Padre aproveita a oportunidade para
observar o papel importante que o Niceno II atribuí á Tradicao nao escrita,
como, alias, recomendam a própria S. Escritura e a teología patrística. A se
guir, expoe o sentido teológico das imagens como foi desenvolvido pelo
Concilio de Nicéia II, em oposicao aos iconoclastas. Por último, enfatiza o
valor das imagens em nossos días para estimular a piedade, valor que os cris-
tafos orientáis fervorosamente reconhecem aos seus icones. Possa o ¿e/o dos
Srs. Bispos interessar-se pelo genuino culto das imagens em nossos templos,
evitando os possiveis desvíos.

Já em PR 308/1988, pp. 2-12 foi comemorado o 1.2009 aniversario


do Concilio de Nicéia II (787), que confirmou a legitimidade do culto das
imagens (culto de veneracao, e nao de adoracáo) durante a controversia ico
noclasta dos séculos VIII e IX. O valor teológico das imagens sagradas foi ex
planado nesse artigo. Eis, porém, que em fevereiro de 1988 foi divulgada a
Carta Apostólica do S. Padre Joáo Paulo II Duodecimum Saaculum, dirigida
aos Bispos do Mundo inteiro e destinada a recordar o Concilio de Nicéia II
e a sua doutrina. Visto que se trata de um documento pontificio, rico de ob-
servacoes teológicas e práticas sobre o assunto, publicamos, a seguir, ao me
nos, a segunda, a terceira e a quarta Partes desse texto.

242
O CULTO DAS IMAGENS

A primeira Parte vale-se da oportunidade da comemoracáo de um Con


cilio para lembrar o papel indispensável sempre desempenhado pelos Papas
por ocasiao dos Concilios Ecuménicos; sem, ao menos, a aprovacao pontifi
cia, as resolucoes de um Concilio universal nunca tiveram vigencia na Igreja.

A segunda Parte trata da Tradicao nao escrita como auténtico vei'culo


da Palavra de Deus, desde que sancionado pelo magisterio da Igreja.

A terceira Parte aborda o significado teológico das santas imagens.

A quarta Parte acentúa o apreco que a Igreja Universal teve ás ¡magens


até hoje. Especialmente os orientáis es ti mam os seus icones, prática esta que
se transmite atualmente aos ocidentais. Isto tudo impóe aos Bispos da Igre
ja o dever de se interessarem pelo culto das imagens e seu valor teológico, to
davía sem permitir desvíos provenientes da piedade mal esclarecida.

Eis o texto da Carta em traducao portuguesa tirada de L'Osservatore


Romano, edicao semanal portuguesa, 14/02/1988, pp. 14s.

O TEXTO

11. A Tradicao nao escrita»

1. Concilio de Nicéia II e Tradicao

"5. O Concilio Niceno II afirmou solenemente a existencia da tradicao


eclesiástica escrita e nao-escrita 17, como referencia normativa para a fé e
para a disciplina da Igreja. Os Padres manifestaram o seu desejo de conservar
intatas todas as tradicoes da Igreja, que Ihes foram confiadas, fossem elas
escritas ou nao-escritas. Urna délas consiste precisamente na pintura dos
icones, em conformidade com a carta da pregacáo apostólica 1S. Contra a
corrente iconoclasta, que também tinha apelado para a Escritura e para a
Tradicao dos Padres, especialmente para o pseudo-sinodo de Hiéria de 754,
o II Concilio de Nicéia sanciona a legitimidade da veneracao das imagens,
confirmando u ensino divinamente inspirado dos santos Padres e da Tradi
cao da Igreja Católica. "

*Os títulos e subtítulos sao da redapio da PR. Como dito é p. 242, a Parte I
é aqui omitida.

11 Cf. Quartum anathema, em: MANSIXIII, 400.


18 Horos, in:MANSI XIII, 377BC.
19 Ibid. 377C.

243
4 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

Os Padres do II Concilio Niceno entendiam a 'tradipáo eclesiástica'


como tradicao dos seis concilios ecuménicos precedentes e dos Padres orto
doxos, cujo ensino era acolhido comumente na Igreja. O Concilio, deste
modo, definiu como sendo de fé aquela verdade essencial, segundo a qual a
mensagem crista é 'tradicáo', paradosis. Na medida em que a Igreja se foi de-
senvolvendo, no tempo e no espapo, a sua inteligencia da Tradicáo, da
qual é portadora, conheceu também ela as fases de um desenvolvimento,
cuja investigacáo constitui, para o diálogo ecuménico e para toda a reflexao
teológica auténtica, um percurso obrigatório.

2. Biblia e Tradipao nao Escrita

6. Já Sao Paulo nos ensina que, para a primeira gerapáo crista, a pará-
dosis consiste na proclamapáo do Acontecimento de Cristo e do seu signifi
cado atual, que realiza a Salvapáo mediante a apáo do Espirito Santo (cf.
1Cor 15, 3-8; 11, 2). A tradipáo das palavras e dos atos do Senhor foi
recolhida nos quatro Evangelhos, mas sem se exaurir neles (cf. Le 1, 1; Jo
20, 30; 21, 25). Esta tradipáo primigenia é tradipáo 'apostólica' (cf. 2Ts 2,
14-15; Jd 17; 2Pd 3, 2). Ela diz respeito nao apenas ao 'depósito' da 'sá
doutrina'(cf. 2Tm 1,6-12;Tt 1,9), mas também ás normas de comporta-
mentó e ás regras da vida comunitaria (cf. 1Ts 4, 1-7; ICor 4, 17; 7, 17; 11,
16; 14, 33). A Igreja lé a Escritura á luz da 'regra da fé' 30, quer dizer, da
sua fé viva mantida coerente com o ensino dos Apostólos. Aquí lo que a Igre
ja sempre acreditou e praticou, ela considera-o justamente como 'Tradipáo
apostólica'. Santo Agostinho dizia: 'Urna observancia mantida pela Igreja in-
teira e conservada sempre. que nao tenha sido instituida pelos Concilios,
acaba por nao ser outra coisa, com pleno direito, senao urna tradipáo que
emana da autoridade dos Apostólos'31.

Oe fato, as tomadas de posipao dos Padres no decorrer dos grandes de


bates teológicos dos sáculos IV e V, a importancia crescente da instituipáo
sinodal a nivel regional e universal, fizeram com que, pouco a pouco, a tradi
páo se tornasse a 'tradipáo dos Padres' ou 'tradipáo eclesiástica', entendida
como desenvolvimento homogéneo da Tradipáo apostólica. Foi por isto que
. Sao Basilio Magno fez apelo ás 'tradipdes nao-escritas', que sao as 'tradipoes

70 Cf. Santo Ireneu, Advenus Haereses I, 10. 1; I, 22, 1; em: Sources Chré-
tiennes (= SCH) 264, pp. 154-158; 308-310; Tertuliano, De praescríptione
13,16; em: Corpus Christianorum. Series Latina ( = CChL), I, pp. 197-198;
Orígenes, Peri Archón, Pref. 4, 10, em: SCh 252, pp. 80-89.

De Baptismo IV, 24, 31; em: Corpus Scriptorum Ecc/esiasticorum Latí-


norum ( = CSBL) 51, p, 259.

244
OCULTODASIMAGENS

dos Padres,33 para fundamentar a sua teología trinitaria, e sublinha a prove


niencia dupla da doutrina da Igreja 'do ensíno escrito, bem como da tradicáo
apostólica'.33

O próprio Concilio Ni ceno II, que cita oportunamente Sao Basilio a


propósito da teología das imagens M, invocou também a autoridade dos
grandes doutores ortodoxos, como Sao Gregorio de Nissa, Sao Cirilo de Ale-
xandria e Sao Gregorio de Nazíanzo. Sao Joáo Damasceno pos também ele
em relevo a importancia, para a fé, das "tradicóes nao escritas", isto é, nao
contidas na Escritura, ao declarar: 'Se alguém se apresentar com um Evange-
Iho diferente daquele que a Igreja católica recebeu dos Santos Apostólos,
dos Padres e dos Concilios e que ela conservou até aos nossos días, nao o
escuteis'.35

3. Concilio Vaticano II e Tradicao

7. Mais próximo de nos, o Concilio Vaticano II apresentou novamente


em plena luz a importancia da 'tradicáo que provém dos Apostólos'. De
fato, a Sagrada Escritura é a Palavra de Deus, enquanto consignada por escri
to sob a inspiracao do Espirito divino; a Sagrada Tradicao, por seu lado, é
portadora da Palavra de Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo Espirito
Santo aos Apostólos, e transmitida integralmente aos seus sucessores.36

'Ora, aquilo que foi transmitido pelos Apostólos, compreende tudo


quanto contribuí para que o Povo de Deus viva santamente e para o aumen
to da sua fé' ". Juntamente com a Sagrada Escritura, a Sagrada Tradicao
constituí 'um único depósito sagrado da Palavra de Deus, confiado á Igreja'.
A ¡nterpretacáo auténtica da Palavra de Deus escrita ou contida na Tradi
cao foi confiada únicamente ao Magisterio vivo da Igreja, cuja autoridade é

33 Sobre o Espirito Santo, Vil 16, 21,32; IX 22,3; XXIX 71.6; XXX 79,15;
em SCh 17 bis, pp. 298.300.322.500.528.

23 Ibid. XXVII 66; 1-3. p. 478-480.


34 Cf. Horos. in: MANSIXIII. 378E.
35 Discurso sobre as imagens III. 3, em: PG 94, 1320-1321; e B. KOTTER,
Die Schriften des Johannes von Damaskos, vol. III (Contra imaginum ca-
lumniatores orationes tres), em: "Patristische Texte und Studien" 17, Ber-
lim-Nova lorque, 1975, III, 3,pp. 72.75.

36 Dei Verbum, 9.
27 Ibid.. 8.

245
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

exercida em nome de Jesús Cristo28. É mediante urna fidelidade igual ao te-


souro comum da Tradipáo que remonta aos Apostólos, que as Igrejas se es-
forcam hoje por aprofundar os motivos das suas divergencias e as razoes que
há para as superar.

III. A controversia iconoclasta

1. O Problema

8. A terrfvel 'controversia sobre as imagens', que dilacerou o Imperio


bizantino sob os imperadores ¡satíricos Leao III e Constantino V, entre os
anos de 730 e 780, e de novo sob Leao V, de 814 a 843, explicase principal
mente pelo debate teológico que, desde o inicio, foi o seu fulcro.

Sem ignorar o perlgo de um ressurgimento sempre possi'vel das práti-


cas idolátricas do paganismo, a Igreja admitía que o Senhor, a Bem-aventu-
rada Virgem María, os Mártires e os Santos fossem representados em formas
pictóricas ou plásticas para favorecer a orapao e a devopao dos fiéis. Era claro
para todos, segundo a fórmula de Sao Basilio, recordada pelo Concilio Ni ce
no II, que 'a honra prestada ao i'cone é dirigida ao prototipo'29. No Ociden-
te, o papa Sao Gregorio Magno tinha insistido no caráter didático das pintu
ras ñas igrejas, úteis para que os analfabetos, 'ao contémplalas, possam ler
pelo menos ñas paredes, aquilo que nao sao capazes de ler nos llvros', e acen-
tuava que esta contemplapio devia levar á adorapao da 'única e omnipotente
Trindade Santíssima'.30 Foi neste contexto que se desenvolveu, de maneira
particular em Roma durante o sáculo VIII, o culto das imagens dos Santos,
dando lugar a urna produpao arti'stica admirável.

O movimento iconoclasta, rompendo com a tradipao auténtica da Igre


ja, considerava a venerapao das imagens como um retorno á idolatría. Nao
sem contradipao e ambigüidade, ele proibia a representado de Cristo e as
imagens religiosas em geral, enquanto continuava a admitir as imagens pro
fanas, em particular as imagens do imperador com os sinaís de reverencia
que a elas andavam ligados. A base da argumentapao dos iconoclastas era de

28 Ibid., 10.
29 Sobre o Espirito Santo, XVIII 45,19, em: SCh 17 bis, p. 496; Nicéia II
Horos. em: MANSIXIII, 377ü.

30 Cartas de Sao Gregorio Magno ao Bispo Sereno de Marselha, em: MGH,


Gregorii I Papae ñegistrum Epistularum II, 1, ¡ib. IX, 208, p. 195 e II, 2, lib.
XI, 10, pp. 270-271; ou em: CChL 140A, lib. IX, 209, p. 768 e lib XI 10
pp. 874-875. ' '
246
OCULTODASIMAGENS

natureza cristológica. Como pintar Cristo, que unia na sua Pessoa, sem as
confundir nem as separar, a natureza divina e a natureza humana? Por um
lado, seria ¡mpossível representar a sua divindade ¡napreensível; por outro,
representá-lo na sua humanidade somente seria dividí-lo separando n'Ele a
divindade da humanidade. Escolher urna ou outra destas duas vias levaría ás
duas heresías cristológicas opostas do monofisismo e do nestorianismo. Com
efeito, quem pretendesse representar Cristo na sua divindade condenar-se-ia
a absorver nessa representadlo a sua humanidade; e quem mostrasse apenas
um retrato de homem, acabaría por ocultar que ele é também Deus.

2. A Solucao

9. O dilema posto pelos iconoclastas envolvía algo que ¡a muito além


da questlo da possíbilidade de urna arte crista; punha em causa toda a visáo
crista da realtdade da encarnapao e, portanto, das relapoes de Deus com o
mundo, e da grapa com a natureza, numa palavra, a especif icidade da 'Nova
Alianpa', que Deus concluiu com os homens em Jesús Cristo. Os defensores
das imagens advertiram muito bem isso: segundo urna expressao do Patriarca
de Constantinopla Sao Germano, ¡lustre vítima da heresia iconoclasta, era
toda 'a economía divina segundo a carne'31 que era posta de novo em ques-
táo.

Com efeito, ver representado o rosto humano do Filho de Deus, 'ima-


gem de Deus invisível' (Cl 1,15), é ver o Verbo feito carne (cf. Jo 1,14), o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29). Portanto, a arte
pode representar a forma, a efigie do rosto humano de Deus e levar aquele
que o contempla ao misterio inefável do mesmo Deus feito homem para a
nossa salvapáo. Assim, o Papa Adriano pode escrever: 'Grapas a um rosto
visi'vel, o nosso espirito será transportado, por um atrativo espiritual, até a
majestade invisível da divindade, através da contemplapao da ¡magem em
que está representada a carne, que o Filho de Deus se dignou assumir para a
nossa Salvapáo. E, sendo assim, nos adoramos e conjuntamente louvamos,
glorificando-o em espirito, este mesmo Redentor, porque, como está escrito,
'Deus é Espirito' e é por isso que nos adoramos espiritualmente a sua divin
dade'.3'

0 Concilio Niceno II, portanto, reafirmou solenemente a distinpao


tradicional entre 'a verdadeira adorapao (latreia)' que, 'segundo a nossa fé,

31 Cf. Teófano, Chronographia ad annum, 6221, ed. C. de BOOR I, Leipzig,


1883, p. 404; ou PG 108, 821C

3i Carta de Adriano I aos Imperadores, em: MANSIXII, JQ£?A$.~:{?'ln}'Í7*i-"■

247
8 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

é devida somente á natureza divina' e 'a prosternado de honra (timetiké


proskynesis), que é prestada aos icones, porque aquele que se prostra diante
do ícone, prostra-se diante da pessoa (a hipóstase) daquele que na figuracao
é representado.'33

A iconografía de Cristo implica, portanto, toda a fé na realidade da


Encarnacáo e no seu significado inexaurível para a Igreja e para o mundo. Se
a Igreja costuma pó-la em prática, falo porque esta convencida de que o
Deus revelado em Jesús Cristo resgatou realmente e santificou a carne e o in-
teiro mundo sensível, ou seja, o homem com os seus cinco sentidos, a fim de
Ihe permitir renovar-se constantemente 'a imagem d'Aquele que o criou'.
<CI3,10)

IV. Apóso Niceno II

1. Na'Historia Subseqüente

10. O Concilio Niceno II, por conseguinte, sancionou a tradigao se


gundo a qual 'devem expor-se as venerandas imagens sacras, manufacturadas
com tintas, com mosaico e com outras materias idóneas, ñas igrejas consa
gradas a Deus, nos vasos e paramentos sagrados, ñas paredes e nos retábulos,
ñas casas e ñas rúas: e isto aplicase tanto á imagem de Nosso Senhor Deus e
Salvador Jesús Cristo e á de Nossa Senhora Imaculada, a santa Theotokos,
bem como as imagens dos veneráveis anjos e de todos os homens santos e
piedosos'.34 A doutrina deste Concilio sustentou a arte da Igreja, tanto no
Oriente como no Ocidente, inspirando-lhe obras de urna beleza e de urna
profundidade sublimes.

Em particular, a Igreja grega e as Igrejas eslavas, apoiando-se ñas obras


dos grandes teólogos Sao Nicéforo de Constantinopla e Sao Teodoro Studi-
ta, apologistas do culto das imagens, consideraram a veneracao do i'cone
como parte integrante da Liturgia, á semelhanca da celebracao da Palavra.
Como a leitura dos livros materiais permite a audicao da Palavra viva do Se
nhor, assim a exposicao de um i'cone figurativo permite aqueles que o con-
templam ter acesso aos misterios da Salvacao mediante a vista. 'Aquilo que
por um lado é manifestado pela tinta e pelo papel, por outro no ícone, é
manifestado pelas varias cores e pelos outros materiais'.35

33 Horos, em: MANSI XIII, 377E.


34 Ibid., 377D.
35 Teodoro Studita, Antirrheticus, 1,10, ¡n.PG 99, 339D.

248
OCULTODASIMAGENS

NoOcidente, a Igreja de Roma distingue-se, numa continuidade sem


interrupcao. pela sua acao a favor das imagens,36 sobretudo no momento
cnt.co em que, entre os anos de 825 e 843, os Imperios bizantino e franco
se demonstraram ambos hostis ao Concilio Niceno II. No Concilio de Tren-
to, a Igreja católica reafirmou a doutrina tradicional, contra urna nova forma
de iconoclastia que entao se manifestava. Mais recentemente, o Concilio Va
ticano II recordou com sobriedade a posicao constante da Igreja a respeito
das imagens" e da arte sacra em geral.38

2. Cristaos Ocidentais e Icones

11. Desde há alguns decenios para cá nota-se um surto de interesse


pela teología e pela espiritualidade dos icones orientáis; isso é sinal de urna
necessidade crescente da linguagem espiritual da arte auténticamente crista.
A este propósito, nao posso deixar de exortar os meus Irmáos no Episcopa
do a 'manterem o uso de expor imagens ñas igrejas á veneracao dos fiéis,39
e a empenharem-se para que surjam cada vez mais obras de qualidade verda-
deiramente eclesial. O crente de hoje, como o de ontem, há-de ser ajudado
na oracao e na vida espiritual mediante a visao de obras que procurem expri
mir o misterio sem nunca o ocultar. É esta a razao pela qual, hoje como no
passado, a fé é a indispensável inspiradora da arte da Igreja.

A arte peja arte, que nao leve a pensar senao no seu autor, sem estabe-
lecer urna relacao com o mundo divino, nao encontra espapo na concepcao
crista do ícone. Seja qual for o estilo que adote, todo tipo de arte sacra deve
exprimir a fé e a esperanca da Igreja. A tradicáo das imagens mostra que o
artista deve ter consciéncia de cumprir urna missao ao servico da Igreja.

A arte crista auténtica é aquela que, através da percepcáo sensivel, leva


á intuicao de que o Senhor está presente na sua Igreja, os acontecimeritos da
historia da Salvacáo dao sentido e orientapáo á nossa vida e a gloria que nos
está prometida comeca já a transformar a nossa existencia. A arte sacra deve
tender a proporcionar-nos urna sintese visual de todas as dimensoes da nossa

36 Cf. Carta de Adriano a Carlos Magno, em: MGH, Epistulae V (Epistulae


Karolini Aevi, t. III), pp. 557;ouPL98. 1248-1292.
31 Cf. Sacrosanctum Concilium, 111, 1; 125; 128; Lumen Gentium, 51; 67-
Gaudlum et Spes, 62, 4-5; e também Código de Direito Canónico, can. 1255
e 127S.

38 Sacrosanctum Concilium, 122-124.


39 Ibid., 125.

249
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

fé. A arte da Igreja deve ter a preocupacao de talar a linguagem da Encarna-


gao e exprimir, com os elementos da materia, Aquele que 'se dignou habitar
na materia e realizar a nossa salvacao através da materia', segundo a fórmula
feliz de Sao Joao Damasceno.40

A redescoberta do ícone cristao ajudará também a tomar consciéncia


da urgencia de reagir contra os efeitos despersonalizadores, e as vezes degra
dantes, das múltiplas imagens que condicionam a nossa vida, na publicidade
e nos "mass-media"; trata-se, de fato, de urna imagem que faz chegar até nos
o olhar de um Outro invisi'vel e que nos dá acesso á realidade do mundo
espiritual e escatológico.

3. O Zelo dos Bispos

12. Amadíssimos Irmaos:

Ao recordar a atualidade da doutrinado Vil Concilio Ecuménico, pa-


rece-me que estamos perante um chamamento á nossa tarefa primordial de
evangelizacao. A secularizacao crescente da sociedade mostra que ela está a
tornar se, em larga escala, alheia aos valores espirituais, ao misterio da nossa
Salvacao em Jesús Cristo e a realidade do mundo futuro. A nossa tradicao
mais auténtica, que compartilhamos plenamente com os nossos irmaos orto
doxos, ensina-nos que a linguagem da beleza, posta ao servico da fé, é capaz
de atingir o coracao dos homens e de os levar a conhecer, a partir de dentro,
Aquele que ousamos representar ñas imagens, Jesús Cristo, o Filhode Deus
feito homem, 'o mesmo, ontem e hoje e por todos os séculos' (Hb 13,8).

A todos dou, de coracao, a Béncao Apostólica.

Dado em Roma, junto de Sao Pedro, a 4 de Dezembro, memoria


litúrgica de Sao Joáo Damasceno, Presbítero e Doutor da Igreja, do ano de
1987, décimo do meu Pontificado.

(a) Joao Paulo II"

40 Discurso sobre as imagens. I, 16, em: PG. 94, 1246A; e ed. KOTTER I
16.p.89.

250
Diálogo Ecuménico:

"Religióes, Seitas e Heresias"


por J. Cabral

Em síntese: O livro de J. Cabral ana/isa, a seu modo, as crencas religio


sas nao protestantes, atríbuindo-as á inspiracao do demonio. É especialmen
te agressivo ao Catolicismo, fundándose, porém, sobre urna serie de afirma-
coes falsas, imprecisas, dependentes de leituras de segunda mao e de precon-
ceitos. A grande! dificuldade encontrada no diálogo católico-protestante con
siste em que os protestantes léem a Biblia desarraigada do seu berco e da sua
Tradicao, de modo que déla deduzem conclusoes subjetivas, que varíam da
denominacao para denominacao protestante. - A explanacao do principio
"Somente a Escritura" se encontra no artigo seguinte ao presente.

A literatura espalhada pelo protestantismo chama, nao raro, a atencáo,


pela sua índole tendenciosa e preconcebida, que a desvaloriza aos olhos de
quem estudou o Cristianismo (doutrina e historia). Infelizmente, porém, ela
é capaz de impressionar e aliciar leitores desprevenidos, que nao tenham cri
terios para distinguir o falso do verídico. Eis por que mencionamos aqui o li
vro de J. Cabral "Religióes, Seitas e Heresias", editado pela Universal Produ-
poes — Industria e Comercio, Rio de Janeiro, em dezenas de milhares de
exemplares.

0 autor é protestante batista, que se opoe nao somente a denomina-


coes protestantes como sao as pentecostais, o Adventismo, a Ciencia Crista,
mas também ao Catolicismo, á Maconaria, á Rosa-Cruz, ds religióes orien
táis... Muitas dessas denominacoes religiosas ou filosóficas sao apresentadas
de maneira caricatural ou falsa — o que fundamenta urna crítica mais sarcás-
tica da parte do autor. Satanás seria o autor de todas as correntes religiosas e
filosóficas que nao estivessem de acordó com a Biblia entendida como J. Ca
bral a entende.

Todavía que é que a Biblia ensina? É esta a pergunta da qual depende


todo o valor da argumentacao de J. Cabral. A resposta a esta questao defini
rá o apreco a ser dado á obra de J. Cabral. Por isto é que apresentamos neste

251
J2 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

fascículo um artigo sobre "a Biblia: única fonte de Fé?" Ver pp. 258-270.

Examinemos outros trapos do livro em foco.

1. Hermenéutica Bíblica

A maneira como J. Cabral interpreta a Biblia, é pré-cienti'fica ou cega,


só podendo levar a conclusoes erróneas. Eis alguns exemplos:

1) P. 11: "As Escrituras Sagradas ensinam que a nossa gerapao parte de


urna só familia tronco - a de Noé (Gn 9, 17-19). Dos seus filhos Sem, Cao e
Jafé descendem todas as pessoas, o que nos leva a entender que o conheci-
mentó de Deus transmitido a Noé e seus filhos deveria ser o mesmo hoje em
todas as rapas, tribos e napóes".

— Na verdade, a Biblia nao quer dizer que toda a humanidade deseen-


de de Noé e seus filhos. - O episodio do diluvio (Gn 6-9) insere-se na cha
mada "pré-história bíblica", isto é, narra um evento que nao tem coordena
das geográficas e cronológicas definidas. Trata-se de um episodio avulso
ocorrido em tempos remotos, apresentado pelo autor sagrado antes da voca-
pao de Abraao (Gn 12,1-3)' precisamente para mostrar como o pecado se ia
alastrando após a queda de Adao. O diluvio bíblico nao foi urna catástrofe
universal, isto é, nao atingiu a térra inteira (para que recobrisse toda a térra,
deveria constar de urna carnada de agua de 4.600.000.000m3, a fim de ul-
trapassar a altitude do monte Everest — o que é impossível), nem atingiu to
dos os homens (pois o autor sagrado, após a fuga de Caím homicida, só tem
emvistaalinhagem dos filhos deSete.quese ia corrompendo moralmente).2

Por conseguinte, é falso dizer que a humanidade inteira descende de


Noé e seus filhos, como sao falsas as conseqüéncias derivadas desta premissa.
Só fala assim quem ignora a mentalidade, a intenpao e os processos redacio-
nais dos autores sagrados.

2) O Evolucionismo é apresentado de maneira distorcida; após o que se


lé: "É preciso mais fé para crer ñas hipóteses da evolupáo do que para crer
nos ensinos da Biblia, isto é, que foi Deus que criou todas as coisas. Génesis
1,1; 1,21.24.25" (p. 23s).
— Note-se que o autor sagrado nao tinha em vista descrever a forma-
pao do universo do ponto de vista científico; o seu intuito era religioso; quis

1 Esta, sim, tem suas coordenadas geográficas e cronológicas. Com e/a (1850
a.C. aproximadamente) comeca a historia bíblica.

2 Ver a propósito Curso Bíblico por Correspondencia, 4a Etapa, Módulo 5.

252
"RELIGlOES, SEITAS E HERESIAS" 13

dizer-nos o sentido que o mundo e o homem tém á luz de Deus. Por isto nao
tratou da questao do evolucionismo, que é um tema científico moderno, to
talmente ignorado pelos antigos. Ao dizer que Deus criou todas as coisas,
quis incutir a nogao de que tudo o que vemos é proveniente de um único
Deus Criador; portanto nao há astros sagrados (como imaginavam os meso-
potámios), nem há bosques sagrados (como diriam os cananeus) nem há
animáis sagrados (como admitiam os egipcios). O autor bíblico, porém, nao
quis dirimir a questao: cada urna dessas criaturas provém diretamente de um
ato criador de Deus ou indiretamente? A evolucao é admissivel aos olhos da
fé, desde que se reconheca que Deus fez a materia primordial e Ihe deu as
leis do seu desenvolvimento, acompanhando essa evolucao, etapa por etapa,
com a sua sabia Providencia. Neste sentido o cristao pode aceitar a evolucao
das especies (está claro que nao tem a obrigacao de a professar, pois se trata
de hipótese). Contudo a alma humana, que nao é materia, só pode ter uri-
gem por um ato criador de Deus.

2. O Canon bíblico

No tocante ao canon (catálogo) bíblico (p. 78), o autor julga que fo¡
acrescido de sete livros apócrifos em 1547. Nao leva em conta o seguinte:

Até o século I d. C. nao havia um catálogo de livros sagrados claramen


te definido entre os judeus. Estes tinham sua biblioteca sagrada, que eles uti-
lizavam no culto público e na leitura particular, sem se preocupar com cata-
logacao. Todavía, quando no século I apareceram os livros cristáos (cartas de
S. Paulo, Evangelhos...), os judeus, nao tendo aceito o Cristo, tratavam de
impedir que se fízesse a aglutinacao de livros judeus e livros cristáos. Por isso
reuniram-se no sínodo de Jámnia ou Jabnes ao Sul da Palestina, por volta do
ano 100 d.C, a fim de estabelecer as exigencias que deveriam caracterizar os
livros sagrados ou inspirados por Deus. Foram estipulados os seguintes cri
terios:

1) o livro sagrado nao pode ter sido escrito fora da térra de Israel;

2)... nao em língua aramaica ou grega, mas somente em hebraico;

3)... nao depois de Esdras (458-428 a.C);

4)... nao em contradiplo com a Tora ou Lei de Moisés.

Em conseqüéncia, os judeus da Palestina fecharam o seu canon sagra


do sem reconhecer livros e escritos que nao obedeciam a tais criterios. Acon
tece, porém, que em Alexandria (Egito) havia próspera colonia judaica, que,

253
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

vivendo em térra estrangeira e falando língua estrangeira (o grego), nao ado-


tou os criterios nacionalistas estipulados pelos judeus de Jámnia. Os judeus
de Alexandria chegaram a traduzir os li'vros sagrados hebraicos para o grego
entre 250 e 100 a.C, dando assim origem á versao grega dita "Alexandrina"
ou "dos Setenta Intérpretes". Essa edicao grega bíblica encerra livros que
os judeus de JÉmnia nao aceitaram, mas os de Atexandria liam como palavra
de Deus; assim os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruque, Eclesiástico
ouSiracides, 1 e 2 Macabeus, além de Est 10,4-16,24; Dn 3, 24-90; Dn 13-14.

Podemos, pois, dizer que havia dois cánones entre os judeus no inicio
da era crista: o restrito da Palestina, e o ampio de Alexandria.

Ora, acontece que os Apostólos e Evangelistas, ao escreverem o Novo


Testamento em grego, citavam o Antigo Testamento, usando a traduclo gre
ga de Alexandria, mesmo quando esta diferia do texto hebraico; tenham-se
em vista Mt 1, 23 {-•> Is 7,14); Hb 10,5 (-»SI 39,7). Esta tornou-se a forma
comum entre os cristaos; em conseqüéncia o canon ampio, incluindo os sete
livros atrás citados, passou para o uso dos cristaos.

Verificamos também que nos escritos do Novo Testamento há citacóes


implícitas dos livros deuterocandnicos. Assim, por exemplo, Rm 1,19-32
-»Sb 12-15; Rm 13,1; 2,11--Sb 6,4-8; Mt 27,43->Sb 2,13.18; Tg 1,19-* Eclo
4,34; Mt 11,29s-> Eclo 51,23-30; Hb 11,34s->- 2Mc 6,18-7,42.

Deve-se, por outro lado, notar que nao sao (nem implícitamente) cita
dos no Novo Testamento livros que, de resto, todos os cristaos tém como
canónicos; assim Eclesiastes, Ester, Cántico dos Cánticos, Esdras, Neemias,
Abdias, Naum.

Nos mais antigos escritos patrióticos sao citados os deuterocandnicos


como Escritura Sagrada: Clemente Romano (em cerca de 95), na epístola
ios Corintios, recorre a Jt, Sb, fragmentos de Dn, Tb e Eclo; o Pastor de
Hermas, em 140, faz ampio uso do Eclo e do 2Mc (cf. Semel. 5,3.8; Mand.
1,1...); Hipólito (t 235) comenta o livro de Daniel com os fragmentos deu
terocandnicos; cita como Escritura Sagrada Sb, Br e utiliza Tb, 1 e 2 Me.

Nos sáculos II/IV houve dúvidas entre os escritores cristaos com refe
rencia aos sete livros, pois alguns se valiam da autoridade dos judeus de Jeru-
salém para hesitar. Finalmente, porém, prevaleceu na Igreja a consciéncia de
que o canon do Antigo Testamento deveria ser o de Alexandria, adotado
pelos apostólos. Em conseqüéncia, os Concilios regionais de Hipona (393),
Cartago MI (397), Cartago IV (419), TrulOs (692) definiram sucessivamente
o Canon ampio como sendo o da Igreja. Esta definicao foi repetida pelos
Concilios ecuménicos de Florenca (1442), Trento (1546), Vaticano (1870).

254
"RELIGlOES.SEITAS E HERESIAS"

S. Jerónimo (t 421) foi, sem dúvida, urna voz destoante nesse conjun
to. Tendo ido do Ocidente para Belém da Palestina a fim de aprender o he
braico, assimilou também o modo de pensar dos rabinos da Palestina neste
particular.

Durante a Idade Media pode-se dizer que houve unanimidade entre os


cristaos a respeito do canon.

No sáculo XVI, porém, Martinhe Lutero (1483-1546), querendo con


testar a Igreja, resolveu adotar o canon dos judeus da Palestina, deixando de
lado os sete livros deuterocanónicos que a Igreja recebera dos judeus de Ale-
xandria. É esta a razao pela qual a Biblia dos protestantes nao tem sete li
vros e os fragmentos que a Biblia dos católicos incluí. Para dirimir asdúvi-
das, observamos que

— os criterios adotados pelos judeus de Jámnia para nao reconhecer


certos livros sagrados eram criterios nacionalistas;

— é o Espirito Santo quem guia a Igreja de Cristo e fez que, após o


pen'odo de hesitagao (séc. I-IV), os cristaos reconhecessem como válido o
canon ampio.

Alias, o próprio Lutero traduziu para o alemao os livros deuterocanó


nicos — o que bem mostra que eles eram usuais entre os cristaos. Nao foi o
Concilio de Trento que os introduziu no canon.

Para os católicos, os livros deuterocanónicos do Antigo Testamento


sao tao valiosos como os protocanónicos; sao a Palavra de Deus inerrante,
que, alias, os próprios judeus da Palestina estimavam e liam como textos
edificantes. Por exemplo, os próprios rabinos serviam-se do Eclesiástico até
o sáculo X como Escritura Sagrada; o IMc era lido na festa de Encénia, ou
da Dedicagao do Templo (Hanukkah), Baruque era lido em alta voz ñas sina
gogas do séc. IV d.C, como atestam as Constituicóes Apostólicas. De Tobías
e Judite temos midrachim ou comentarios em aramaico, que atestam como
tais livros eram Ildos na sinagoga.

Em conclusao: a própria Biblia nao define o seu catálogo. Portante


este só pode ser depreendido mediante a Tradicao ( = transmissáo) oral,
que de gerapao em geracáo foi entregando os livros sagrados ao povo de
Deus, indicando-os, ao mesmo tempo, como livros inspirados e, por conse-
guinte, canónicos. Essa tradicao oral viva fala até hoje pelo magisterio da
Igreja, que nao é senao o eco auténtico da Tradicao oral.

O S. Padre Joao Paulo II, em su a recente Carta sobre as Imagens, rea-


firmou e desenvolveu o tema da Tradicao; ver pp. 243-246 deste fascículo.

255
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

3. A imagem do Catolicismo

0 autor julga que o inicio do "Catolicismo Romano" está na época de


Constantino Imperador (306-337); nesse periodo muitos pagaos se converte-
ram á fé crista, de tal modo que, segundo J. Cabral, foram adotadas práticas
pagas pela Igreja; assim o culto aos Santos, a veneracao de reliquias, o ritual
da Liturgia...

Na verdade, só urna visao preconcebida dos fatos pode inspirar tais


afirmacoes. Vejamos a verdade objetiva:

É certo que Constantino deu liberdade á Igreja — o que facilitou a


conversao de numerosos pagaos. Estes nem sempre estavam plenamente
conscientes da novidade do Cristianismo, de sorte que em varios casos prati-
caram um certo ecleticismo; tais práticas, porém, eram denunciadas e rejei-
tadas pelos Bispos, como atestam os escritos de S. Agostinho ( t 430), Sao
Leao Magno ( '(461), S. Cesário de Arles (t543) e outros.

Oentre os exemplos citados por J. Cabral, nenhum tem raizes no paga


nismo. Assim o culto de veneracao (nao de adoracao) aos Santos é atestado
desde o secuto I como fruto da mais genuína concepcao crista"; com efeito,
junto aos túmulos dos mártires (a comecar por S. Pedro e S. Paulo) encon-
tram-se vestigios ou inscricoes de fiéis que iam pedir as oracoes dos mesmos;
o aniversario do martirio era comemorado mediante a celebracao da Eucaris
tía, como se vé ñas Catacumbas. As reliquias eram cuidadosamente guarda
das, pois eram tidas como destrocos de corpos que o Espirito Santo havia
utilizado para toda especie de obras boas (como diz S. Agostinho).

Á p. 81 o autor apresenta um elenco de práticas do Catolicismo que


terao sido introduzidas no decorrer dos sáculos, deturpando a esséncia do
Cristianismo: entre outros dados, afirma que "o sacrificio da Missa" teve orí-
gem em 1100; os sete sacramentos e a transubstanciacáo em 1215; a confte-
sao auricular em 1216..." Muitos dos elementos desta lista já foram conside
rados e esclarecidos em PR 295/1986, PP. 552-563.

A titulo de complemento, examinemos algumas das acusacoes aínda


nao estudadas em PR:

a) "A Tradicao em 1546" (p. 81). — Tradipáo significa, no caso, a


transmissao oral da Palavra de Deus. O Catolicismo afirma que Deus falou
aos homens, primeiramente, por via oral e que, em segunda instancia, a Pala
vra de Deus oral foi consignada por escrito; a transmissao ou a tradicao oral,
que é anterior a escrita, é indispensável para se entender a Palavra escrita ou
a Biblia; ela continua viva, e é recomendada pelo Apostólo em textos cita-

256
ncLI UIUEO, o

dos ás pp. 264-267 deste fascículo. Por conseguinte, para o Catolicismo, a


Tradipao oral cotneca com Jesús Cristo e os Apostólos e nao no século XVI.
0 que comepou no século XVI, é a Tradicáo dos protestantes; sim, estes,
além da Biblia, tém necessariamente urna tradicao oral, que ensina como in
terpretar a S. Escritura (tomada em si, a Biblia é letra suscetível de ser repu-
xada em diversas direcóes). Assim Lutero (f1546) deu inicio á tradicao lute
rana; Calvino (ti564), á tradipao calvinista ou presbiteriana; John Wesley
(ti791), a tradicao metodista; Ellen Gould White (1"I915>, á tradipao adven
tista...

Se os protestantes adotassem apenas a Biblia como fonte de fé, profes-


sariam todos o mesmo Credo e formariam todos urna só comunidade eclesial.
0 fato, porém, é que, embora tenham todos a mesma Biblia, constituem
centenas de denominapoes separadas urnas das outras, que nao se reduzem a
urna só. E por qué? — Precisamente, porque, além da Biblia, cada denomina-
pao tem sua tradicao oral, que a caracteriza definitivamente.

b) "A Imaculada Conceipao de Maria: 1950" (p. 81). Na verdade, des


de os primeiros sáculos os cristaos veneram a Virgem SSma. como santa e
sem mancha (a primeira orapao que se conheca, data do século III: "Sob a
vossa protepio recorremos, Santa Mae de Deus..."). A definí cao dogmática
da Imaculada Conceipao ocorreu em 1854, e nao em 1950, consagrando a fé
multissecular dos cristaos nesta prerrogativa de Maria SS. - Em 1950 houve
a definipao da Assuncao corporal de Maria, outra prerrogativa já cultuada
desde a Idade antiga. — Donde se vé como as acusapoes levantadas contra os
católicos pelos protestantes estao baseadas em ¡nformacóes erróneas ou mes
mo em ignorancia.
c) "Credo do Papa Pió IV, que introduziu novas doutrinas — 1560"
(p. 81). — Seria para desejar que J. Cabral apresentasse aos seus leitores esse
"Credo portador de novas doutrinas", país nenhum historiador o conhece...
Será que J. Cabral estava consciente do que dizia?

4. Conclusao
O livro em foco é espécimen significativo de como o Protestantismo se
pode tornar sectario em nosso Brasil. Atribuindo ao demonio a inspirapáo de
crenpas religiosas nao protestantes, suscita um clima de medo e fanatismo
entre os seus adeptos. — Um exame sereno do livro mostra que está cheio de
afirmacoes falsas, imprecisas, unilaterais, dependentes de preconceitos e de
leituras de segunda ou terceira mío, muito mais do que de estudo serio da
materia em foco.

Urna tal obra carece de valor doutrinário e histórico. Dado, porém,


que se pode tornar prejudicial a quem a leia, pareceu-nos necessário apontar
algumas das falhas que a perpassam. — O Espirito Santo seja o Mestre inte
rior daqueles que, sinceramente e sem preconceitos, desejam seguir a Cristo!

257
"Sola Scriptura"?

Somente a Escritura?

Em síntese: Oí Reformadores do sáculo XVI estabeleceram o princi


pio de que Sola Scriptura, somente a Escritura, pode ser considerada fonte
de fé, com exclusio da Tradicao oral. Desta maneira Lutero quería "purifi
car" o Cristianismo de tradicoes espurias ou crencas e costumes menos ade-
quados que se haviam introduzido no Catolicismo. — Verificase, porém,
que a recusa dos Reformadores foi drástica demais. Teña sido necessário dis
tinguir entre a Tradiqao divino-apostólica (oriunda de Cristo e dos Apostó
los) e as tradicoes que, posteriormente a estas, comeparam a existir dentro
da Igreja; estas nao gozam de garantía de autenticidade, ao passo que aqueta
a possui. Com efeito; sábese que Cristo nada deixou escrito nem mandou es-
crever, dado que a escrita era urna arte difícil e rara na antigüidade. Os
Apostólos pregaram de viva voz, e só ocasionalmente escreveram algo de
quanto assim anunciaram; cf.Jo 20¿2; 21 ¿5; 2Ts 2,15. Em conseqüéncia,
os escritos do Novo Testamento (como também os do Antigo Testamento)
nio podem ser lidos independentemente da Tradicao {= transmissao) oral
que os precedeu e os bercou; é essa Tradicao que, antes do mais, define o
catálogo dos escritos sagrados ou o canon bíblico; é essa Tradicao que con
tribuí auténticamente para o entendimento do texto bíblico, o qual está su-
jeito a ser distorcido segundo as categorías subjetivas dos seus intérpretes.
A Tradicao oral oriunda de Cristo e dos Apostólos continua viva na Igreja
através dos sáculos e é fielmente expressa pelo magisterio da Igreja, a quem
Cristo confiou a missSo de guardar e transmitir a sua Palavra.

Quem nao leva em conta este ampio quadro da Revelacao Divina, mas
se ppe a ler e interpretar a sos as Escrituras, arriscase a deturpá-las, desvian
do cada vez mais o Cristianismo das suas orígens, como atestam as nume
rosas denominacoes protestantes originadas pelo principio do "Livre exa-
me".

No diálogo entre católicos e protestantes volta freqüentemente a per-


gunta dos interlocutores evangélicos: "Como se pode provar tal ou tal pro
posita o pela S. Escritura?" Esta ¡ndagacao é decisiva para que os protestan
tes aceitem, por exemplo, a Virgindade de María SS., a existencia do purga
torio, o primado de Pedro, etc.. A posicao evangélica se deve ao fato de que

258
SOMENTE A ESCRITURA? 19

Lutero e os reformadores do sáculo XVI estipularam como única fonte de fé


a S. Escritura (Sola Scriptura), julgando que a Tradicao oral, como era, e é,
professada pela Igreja Católica, deturpa, aumenta ou desvia o depósito da fé
revelada por Jesús Cristo.

A questáo é básica no diálogo ecuménico: será a Escritura a única fon-


te de fé? Ou poder-se-á admitir a seu lado a Tradicao oral? Urna análise se
rena e objetiva dos fatos evidenciará que o problema supoe um equivoco e
se pode resolver sem grande dificuldade.

1. Tradicao oral e Tradicao escrita

A fé crista procede do fato fundamental de que Oeus quis revelar aos


homens os misterios de sua vida assim como seu desi'gnio de salvacao; este
incluí a participacao do homem, elevado á dignidade de filho, na vida do
próprio Deus: "Recebestes o Espirito pelo qual clamáis: Abbá, Pai!" (Gl 4,6;
Rm8,15).

A Revelacao iniciada com o Patriarca Abraáo (sáculo XIX a.C), conti


nuada através dos sáculos do Antigo Testamento, foi consumada por Jesús
Cristo, o Logos ( = Palavra) de Deus feito homem (cf. Jo 1,1.14).

Ora sabe-se que a revelacao de Deus aos Patriarcas, aos Profetas e aos
Apostólos se realizou sem o concurso da escrita: os antigos só rara e difícil
mente escreviam, pois tal arte era ardua e dispendiosa; as mensagens eram
transmitidas por vía meramente oral.

Detendo-nos, de modo especial, na revelacao do Novo Testamento,


verificamos que Jesús Cristo nada deixou escrito nem se preocupou com a
redacao de seus ensinamentos. Apenas mandou aos Apostólos fossem pregar
pelo mundo e se tornassem testemunhas da verdade; cf. Mt 10,7; 28,18-20;
Me 16,15.

Acontece, porém, que os Apostólos e seus discípulos, ao anunciarem a


Boa-Nova, experimentaran! a necessidade ocasional de escrever algo. Ora tra-
tava-se de responder a dúvidas de cristaos recém-evangelízados ou de com
pletar a catequese inacabada (tais foram as ocasioes que levaram Sao Paulo e
os outros Apostólos a escrever su as cartas). Ora tratava-se de deixar aos fiéis
urna parcela ou urna smtese de quanto havia sido pregado pelos Apostólos
(tal foi a ocasiao dos Evangelhos). É de notar, porém que os autores de tais
escritos (evangelistas, Sao Paulo, Safo Joao, Sao Pedro, Sao Tiago...) nao ti-
veram em vista expor todo o depósito dos ensinamentos de Jesús, como eles
mesmos declararam:

259
20 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

"Muitos outros prodigios fez aínda Jesús, na presenta dos discípulos,


os quais nao estao escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que
acreditéis que Jesús é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais
a vida em seu nome" (Jo 20,30s).

"Há aínda multas outras coisas que Jesús fez. Se elas se escrevessem,
urna por urna, pensó que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que
se teriam de escrever" (Jo 21.25; cf. 2Ts 2.15).

Os Apostólos consignaram por escrito aspectos da vida e da doutrina


de Jesús, atendendo a necessidades esporádicas das comunidades cristas e da
catequese. Disto se seguem conclusoes importantes:

1) Tradicao divino-apostólica

Existe no Cristianismo urna Tradicao oral que remonta ao próprio


Cristo e aos Apostólos e, por isto, é chamada divino-apostólica. Esta Tradi-
páo divino-apostólica é anterior á S. Escritura e se espelha ou exprime nesta.
Tem-se indagado últimamente, entre os teólogos, se existem verdades de fé
que tenham ficado apenas na Tradipao oral, nao havendo sido consignadas
pelos autores sagrados nos livros do Novo Testamento. Em nossos dias ad-
mitem os teólogos que a S. Escritura contém, ao menos de modo implícito,
todas as proposicoes da fé; estas encontram seu fundamento próximo ou re
moto nos textos da Biblia; admite-se, portanto, a suficiencia da S. Escritura,
desde que lida no contexto da Tradicao viva que a berpou.

2 ) Identificacáo e interpretacao da Biblia

A Biblia só poderá ser explicada auténticamente á luz do depósito oral


que a precedeu e que é a grande fonte donde os escritores sagrados tiraram o
material histórico-dogmático que eles redigiram. Esse depósito meramente
oral continou a ser transmitido incontaminado (em virtude da prometida
assisténcia de Cristo e do Espirito) até hoje, identificando-se com a voz ofi
cial dos sucessores dos Apostólos ou com o magisterio da Igreja. O ponto em
que mais aparece a necessidade de recurso a algo anterior á S. Escritura mes-
ma, é o que se refere ao canon ou catálogo dos livros bíblicos: como saber se
um livro é ou nao inspirado ou fonté de fé? — Procuraram os Reformadores
do sáculo XVI estipular criterios como o da sublimidade do conteúdo, o da
beleza do estilo, os frutos de piedade e edificacao suscitados pela leitura de
tais livros, mas nenhum criterio é eficaz, pois na verdade existem livros, na
Biblia, de conteúdo chao ou mesmo violento, "escabroso" (cf. Jz), de esti
lo rude (cf. Ap, Me), aparentemente esteréis ou áridos ao leitor (cf. Lv, Nm).
— Somente a palavra da Tradipáo oral que entrega ao povo de Deus tais e
tais livros e nao outros, palavra confirmada pelo magisterio da Igreja, é capaz

260
SOMENTE A ESCRITURA? 21

de servir de criterio para definir o catálogo sagrado. A Igreja, guiada pelo


Espirito Santo, á medida que a literatura crista ¡a surgindo, tomava cons-
ciéncia (ora mais cedo, ora mais tarde) de que tal ou tal escrito era inspira
do e, por isto, merecedor de ser agregado á colecao dos livros sagrados, ao
passo que a mesma consciéncia crista rejeitava outros escritos como espurios
ou apócrifos. Nunca esse testemunho foi consignado por escrito antes do sé-
culo IV. Quando em 393 um Concilio regional reunido em Hipona definiu
pela primeira vez a lista dos livros sagrados, foi a Tradicao oral, anterior aos
escritos bíblicos, quem falou por esse Si'nodo; o Concilio nao era um novo
órgao de ensinamento dentro do Cristianismo (órgao criado simplesmente
pelos homens da Igreja}, mas era, ao lado das Escrituras, outra expressao do
depósito de verdades que Cristo e os Apostólos transmitiram verbalmente ás
geracoes cristas.

3 ) Duas fontes ou urna?

O Concilio refere-se, logo a seguir, ao magisterio da Igreja como órgao


da: existem duas fontes de Revelapáo Divina — a Tradicao oral e a S. Escri
tura (como diziam alguns católicos)? Ou existe apenas urna fonte — a S. Es
critura (como dizem os protestantes)? Após longos estudos, a assembléia
conciliar se exprimiu, afirmando haver urna só fonte de Revelapáo — a Pala-
vra de Deus — e os dois cañáis de transmissao da mesma — a S. Escritura e a
Tradicao oral. Estes dois cañáis se harmonizam mutuamente:

"A Sagrada Tradicao e a Sagrada Escritura relacionam-se e comuni-


cam estreitamente entre si. Com efeito, derivándose ambas da mesma fonte
divina fazem como que urna coisa só e tendem ao mesmo objetivo" fConsti-
tuicao Dei Verbum nP 9).

O Concilio refere-se, logo a seguir, ao magisterio da Igreja como órgao


assistido pelo próprio Cristo para interpretar auténticamente a Palavra de
Oeus transmitida por seus dois cañáis:

"O oficio de interpretar auténticamente a Palavra de Deus escrita ou


transmitida oralmente foi confiado únicamente ao Magisterio vivo da Igre/a,
cuja autoridade se exerce em nome de Jesús Cristo. Tai Magisterio evidente
mente nao está ácima da palavra de Deus, mas a seu servico, nao ensinando
senao o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino e com a
assisténcia do Espirito Santo, píamente ausculta aqueta Palavra, santamente a
guarda e fielmente a expoe. E deste depósito'único da fé tira o Magisterio
o que propSe para ser acreditado como divinamente revelado" fDei Verbum
n9 10).

É importante notar que o Magisterio da Igreja nao é urna terceira ins-

261
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

táncia ao lado da Palavra escrita e da Tradiclo oral, que transmita as verda


des da fé, mas, em última análise, nao é senao a Tradicao oral que continua a
falar auténticamente através dos sáculos; o Magisterio so se pronuncia depois
de auscultar a_Palavra de Deus oral e escrita existente no depósito da Igreja,
procurando, com a assisténcia do Espirito Santo (cf. Mt 16,16-19; Le 22,32;
Jo 21,15-17), deduzir desse depósito as conclusóes nele comidas para ser
desdobradas no decorrer da historia do Cristianismo. Dizia Jesús:

"O Consolador, o Espirito Santo, que o Pai enviará em meu nome, en-
sinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito" (Jo

"Quando vier o Espirito da verdade. Ele vos guiará para a verdade to


tal, porque nao falará de si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e anunciar-
vos-á o que há de vir" (Jo 16,13).

4 ) Tradiclo e Protestantismo

O próprio Protestantismo, que afirma só reconhecer a fonte bíblica,


recorre necessariamente á Tradicao oral em duas ocasioes:

a) ao definir o catálogo dos livros sagrados do Antigo Testamento, Lu-


tero optou pela tradicao dos judeus firmada pelo Sínodo de Jámnia em 100
d.C, ao passo que a Igreja Católica, seguindo o uso dos Apostólos, optara
pela tradigao dos judeus de Alexandria, como está dito ás pp. 253-255 deste
fascículo. Sem recurso á Tradicao oral, nao se pode definir o catálogo sagra
do, visto que em parte nenhuma da S. Escritura está dito qual o ámbito da
mesma ou quais os livros que, inspirados por Deus, a devem integrar; é preci
so procurar a delimitagao do canon bíblico fora da Escritura ou na Tradigao
oral, isto é, no testemunho que passou de geragao a geragao desde Abraáo
até hoje (os pais entregam a Palavra de Deus aos filhos, estes aos netos, estes,
por sua vez, aos bisnetos...).

b) Na sua maneira de interpretar a S. Escritura, os protestantes tam-


bém recorrem a urna tradigao. Com.efeito; embora o texto da Biblia seja o
mesmo para as diversas denominagoes evangélicas, estas nao concordam
entre si, por exemplo, no tocante aó batismo de criangas, á constituí gao da
Igreja, á observancia do dia do Senhor, etc. As divergencias nao provém do
texto da Biblia como tal, mas da interpretagao dada a esse texto por cada
fundador de denominagao protestante. Com outras palavras: dependem da
tradigao, oral ou escrita, que cada fundador quis iniciar na sua respectiva
congregagao. Donde se vé que, embora o cristlo queira rejeitar a Tradigao
oral, ele a professa sempre: professa a Tradigao divino-apostólica, oriunda
de Cristo e dos Apostólos, ou a tradigao oriunda de Lutero, Calvino, John

262
SOMENTE A ESCRITURA? 23

Knox, Wesley, John Smith, Ellen Gould' White, etc.. Isto se explica pelo
fato de que a Palavra escrita jamáis pode ser separada da oral; é esta que dá
vida, atualidade e pleno significado á letra ou ao texto escrito. Sem a pala
vra oral que a traduz de maneira atualizadae viva, a letra pode tornarse pe
pa de museu.

5 ) A Reforma considerada hoje

Os reformadores do sáculo XVI encontraram na Igreja de seu tempo


tradipóes secundarias, infelizes ou tnadequadas, ao lado da TradipSo divino-
apostólica. No intuito de cancelar tais tradipóes, Lutero e Calvino rejeitaram
a própria Tradicao — o que se tornou nocivo para o Cristianismo, em vez de
o beneficiar. Com efeito, originou-se assim um cisma que até hoje perdura
e tem gerado outros cismas; o Protestantismo, em conseqüéncia da sua pró
pria índole, desligada da Tradicao e entregue ao subjetivismo de "mestres"
e leitores da Biblia, vai-se esfacetando cada vez mais.

Muito a propósito vém as ponderapóes de Peter Langsfeld em Myste-


rium Salutis 1/2, p. 16:

"A Reforma, iniciada como movímentó de retorno á fidelidade ao


Evangelho, desagüou em divisao da própria Igreja que pretendía reformarse.
A repulsa as práticas indevidas e aos costumes tradicionais na Igreja nao afas-
tou apenas a tradicao eclesiástica que contrariava o Evangelho, mas também
a própria tradicao que afeta a fé, enquanto continuacao e prolongamento da
Escritura. Nao nos compete expor aqui a historia e as conseqüéncias desta
controversia. Tem contudo a teología católica a impressao de que, do lado
da Reforma, a crianca, que se amava e se procurava salvar, /he foi roubada,
ao dar-se-lhe o banho que, sem dúvida, deveria reformá-la; com a tradicao,
os costumes e ensinamentos opostos e estranhos á Biblia, a Tradicao firmada
/ia Biblia e a autoridade eclesiástica, que guarda a Tradicao e a Escritura, fo-
ram repelidas..."

Já em 1907, Adolf v. Harnack descrevia, com exatidáo, a situapao


atual da referida controversia:

"... Escritura e tradicao: quanto se debateu a autoridade destas duas


realidades, no sáculo XVI e depois dele\ Através de quantos profundos escri
tos se doutrinou sobre este assuntol Presentemente, contudo, e jé desde
muito tempo, perceberam os teólogos protestantes que a Escritura nao se
pode separar da Tradicao. Por seu turno, viram também os teólogos católi
cos que nenhuma tradicao deve ser admitida sem a devida critica e que o
Novo Testamento, no tocante aos problemas mais importantes do Cristianis
mo primitivo, é a única fonte ¡ndispensável. A grande controversia perdeu,

263
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

pártanlo, nao somente seu caráter agudo, mas até sua razio de ser, desde
que se emenda a própria Escritura cómo tradicao, e que nSo se admita trad'h
cao nenhuma sem a devida prova..." fProtestantismus und Katholizismus ¡n
Deutschland, Berlín 1907, pp. 18-19).

Vé-se, pois, assim que a questao da Sola Scriptura (somente a Escritu


ra como fonte de fé) se resolve sem dificuldade desde que haja síncerídade
de parte a parte entre católicos e protestantes. Em verdade,

- de um lado, a S. Escritura só nao pode ser, nem é no Protestantis


mo, a única fonte de fé, pois a própria índole da Escritura rejeita tal tese; a
S. Escritura pede ao leitor ausculte a Palavra viva e auténtica que a bercou e
que a acompanha; vejam-se, além dos textos bíblicos citados ás pp. 264-
266, a palavra da 2Pd 1,20:

"Antes de triáis nada sabei isto: que nenhuma profecía da Escritura re


sulta de urna interpretacao particular, pois que a profecía ¡amáis veio por
vontade humana, mas os homens impelidos pelo Espirito Santo falaram da
parte de Deus";

- de outro lado, a Tradigao oral e o magisterio da Igreja só tém senti


do se fazem eco á S. Escritura, pois esta se tornou a Palavra normativa: "So-
mente a Escritura, em seu caráter objetivo e permanente, pode conservar as
origens em toda a sua pureza, de modo que, desde o inicio até o fim dos
tempos, serve ela de regra de fé, da pregacao e da vida na Igreja. Por outro
lado, nao lograría a Escritura realizar sua mensagem se Ihe fosse vedado um
incessante encontró com a tradigao eclesiástica..." (Peter Langsfeld, Myste-
rium Salutis I/2, p. 240).

2. O testemunho da própria Escritura

Um atento exame das páginas bt'blicas manifesta que a própria S.


Escritura atesta a existencia de auténtica Tradigao oral, da qual a Biblia se
originou e da qual recebe sua ¡nterpretacáo. Tenham-se em vista as seguintes
passagens:

a) Em 2Ts 2,15, Sao Paulo exorta:

"Assim, pois, irmios, permanece/ firmes e guardai as tradicoes (parado-


seis, em grego) que recebestes, se/a de viva voz, seja por carta nossa".

No caso, o Apostólo nao apenas exorta a guardar as tradigoes, mas ex


plica que, quer escritas, quer oráis, elas tém igual autoridade, desde que pro-
venham do Apostólo.

264
SOMENTE A ESCRITURA? 25

b) Em 1Cor 11,2 lé-se em termos semelhantes outra alusao as tradi-


coes:

"Eu vos louvo por guardardes as tradicoes tais como eu vd-las entre
gue/".

c) Particularmente enfáticos sao os textos de Sao Paulo a Timoteo:

"Sei em quem acreditei. Toma por norma as sis palavras que ouviste
de mim, na fé e no amor de Cristo Jesús. Guarda o bom depósito fparatlié-
ken; com o auxilio do Espirito Santo que habita em nos" f2Tm 1,12-14).

Nesta passagem o Apostólo emprega um termo técnico da linguagem


jurídica de seu tempo, o qual é altamente significativo: parathéke. Este vocá-
bulo designava um tesouro confiado pelo respectivo proprietário aos cuida
dos de um amigo, o qual se obrigava em consciéncia a guardá-lo e restituí-lo;
nao era lícito ao depositario utilizar tal tesouro em seu proveito pessoal ou
segundo seu bel-prazer. 0 ato de depositar pressupunha confianpa da parte
de quem entregava seus bens e exigia fidelidade absoluta da parte de quem
os recebia; severas penas eram infligidas a quem violasse tais normas. Era
esta a concepcao de "depósito" vigente tanto entre gregos e romanos como
entre judeus; atribuiam mesmo índole e autoridade religiosas á legislacao
concernente ao depósito. Alguns autores antigos chegavam a equiparar a re-
ligiáo {com suas crenpas e práticas) a um depósito (parathéke) entregue pela
Divindade aos homens, depósito que os fiéis deviam conservar ciosamente,
sem o ousar retocar em ponto algum (cf. Ranft, Der Ursprung des katho-
lischen Traditionsprinzips. Wuerzburg 1931).

Pois bem. No texto de Sao Paulo ácima citado vé-se que o depósito
cristáo sao as palavras de doutrina que o Apostólo fez ouvir a Timoteo, e
que Paulo, por sua vez, recebeu de Cristo; esboca-se entao a linha pela qual
passa o depósito:

CRISTO —^ PAULO —►■ TIMOTEO


(o qual recebeu
suas palavras do
Pai, como Ele
mesmo afirma
em Jo 8,28.40)

d) A linha continua..., conforme 2Tm 2,2:

"E, o que ouviste de mim em presenca de muitas testemunhas, confia-


o (ou deposita-o, parathou, forma verbal derivada da mesma raíz que para
théke; a homens fiéis, que sejam capazes de o ensinar aínda a ouiros".

265
26 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

Tem-se conseqüentemente a seguinte sucessao de depositarios:

O PAI —+■ CRISTO —*■ PAULO (OS APOSTÓLOS)


—^ TIMOTEO (OS DISCÍPULOS IMEDIATOS DOS
APOSTÓLOS) —*■ OS FIÉIS —^ OUTROS (FIÉIS).

Desta forma a Escritura mesma atesta a existencia de auténticas pro-


posicóes doutrinárias de Cristo a ser transmitidas por via meramente oral de
geracáo a geracao, sem que os cristaos tenham jamáis o direito de as menos-
prezar ou, como quer que seja, retocar. Este depósito oral chegou até a gera
cao presente e é expresso pela voz oficial da Igreja.

e) Na epístola aos Hebreus, a mesma concepcáo é professada com nao


menos clareza; o escritor, que pertence á geracao seguinte á dos Apostólos
(nao é Sao Paulo mesmo), traga por sua vez o roteiro da Tradigao oral:

"... a mensagem saturar, anunciada primevamente pelo Senhor, nos foi


seguramente transmitida por aqueles que a ouviram" (2, 3).

A serie de transmisores seria:

O SENHOR ► AS TESTEMUNHAS AURICULA


RES *■ NOS.QUEOUVIMOSDÉSTES.

f) Voltando ás epístolas pastorais, encontramos mais urna vez a idéia


do depósito de doutrina oral a ser fielmente preservado e transmitido:

"O' Timoteo, guarda o depósito fparathéken^; evita os discursos vaos e


profanos e as objecoes de urna falsa ciencia; por ter professado a esta, alguns
erraram na fé" (1Tm 6,20s).

Neste texto Sao Paulo opóe seus ensinamentos (dados oralmente a


Timoteo, como é obvio) a discursos ¡novadores, fazendo da guarda do ensi-
namento oral a condicáo para que o discípulo nao naufrague no erro.

g) Em 2Ts 2,5s Sao Paulo apela para o ensinamento oral que deu pre
viamente aos seus leitores e, em conseqüéncia, dispensa-se de escrever muita
coisa sobre a segunda vinda de Cristo.

Em conclusao, os textos citados mostram a Escritura mesma a reco


mendar ás subseqüentes geracoes o respeito máximo a tradicao oral que a
antecedeu e ininterruptamente a acompanha.

Sao estas ponderacoes inspiradas por documentos bíblicos e respeitá-

266
SOMENTE A ESCRITURA? 27

veis textos do Cristianismo nascente e contemporáneo que levam a Igreja


Católica a nao separar S. Escritura e Tradicao oral.

3. O Cristamismo antigo

Passando agora aos testemunhos dos antigos escritores cristaos, verifi


camos que, embora tivessem em maos todos os livros do Novo Testamento,
nao desprezavam, mas, ao contrario, continuavam a estimar, como fonte pri
mordial da fé, a Tradicao oral. Seja mencionado em primeiro lugar Papias
( t cerca de 130), bispo de Hierápolis na Asia Menor:

"Caso viesse alguém que tivesse convivido com os presbíteros, eu pro-


curava saber os ditos dos presbíteros, isto é, o que haviam ensinado André,
Pedro, Filipe, Tomé, Tiago, Joao, Mateus ou outros dos discípulos do Se-
nhor... Estava convencido de que da leitura dos livros nao retiraría tanto
proveíto quanto da voz viva e permanente" (fragmento citado por Eusébio,
Historia da Igreja 3,39).

E Papias conhecia bem os Evangelhos escritos, como o demonstram as


referencias que a eles faz em seus escritos.

S. Ireneu ( t 220) é muito explícito no seu testemunho:

"Se os Apostólos nada tivessem deixado escrito, dever-se-ia igualmen


te seguir a ordem da Tradicao por eles confiada aos dirigentes da Igreja. Éste
método é seguido por muitos povos bárbaros que créem em Cristo. Sem pa
pel e sem tinta, estes trazem inscrita em seus coracoes a salvacao por obra do
Espirito Santo; conservam fielmente a amiga Tradicao" ^Adv. haer. 3,4,2,
ed. Migne gr. 7.855).

Naturalmente, pode haver tradicóes meramente humanas, que de tur-


pem o depósito sagrado. Existem, porém, criterios para distinguí-las das au
ténticas tradicóes; estas

1) referem-se únicamente a fé e aos costumes (pois nao há outro obje


to da Revelacao divina); por conseguinte, proposicóes de cosmología, biolo
gía e ciencias naturais em geral, afirmadas repetidamente pelas geracóes cris
tas, carecem da autoridade do depósito da fé, embora os antigos, mediante
urna exegese deficiente, julgassem queeram abonadas pela Escritura Sagrada.

Tal é o caso da exegese de Génesis 1-3. Entendia-se esta peca bíblica


como cartilha de cosmología (Deus teria criado o mundo em seis dias de 24h
ou em seis eras geológicas...). Tal foi também o caso de Josué 10,8-15, don
de se deduzia que Josué fizera estacionar o sol e que, por conseguinte, o sol

267
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

girava em torno da Térra, centro do universo. Os antigos, conscientes de que


a Biblia é a Palavra de Oeus, a consideravam como urna enciclopedia na qual
encontrariam respostas para todas as suas perguntas sem levar em conta que
a finalidade da inspiracao bíblica é estritamente religiosa. — Hoje em dia,
quando se reconhece melhor o ámbito específico da mensagem bíblica, os
teólogos nao hesitam em deixar de lado certas tradicdes exegéticas de índole
meramente cosmológica ou biológica...

2) Além de se referirem únicamente á fé e aos eos tu mes, as auténticas


tradicSes também sao universais. O que quer dizer: sempre e em toda parte
estiveram em vigor, segundo a fórmula de Vicente de Lerins (T450): "Na
Igreja Católica é preciso dar grande cuidado a que guardemos aquilo que em
toda parte, sempre e por todos tem sido acreditado" (Commonitor 2, ed.
Migne lat. 50, 640).

Era principalmente por recurso a este segundo criterio que os antigos


Padres da Igreja julgavam as novas teorias ou as interpretacoes da Revelacao
propaladas em tal ou tal regiao (Gnosticismo, Montañismo, Arianismo...);
pediam dos ¡novadores que demonstrassem estar em contato com os Apostó
los através dos tempos e provassem que transmitiam urna doutrina sempre
ensinada e reconhecida pelos cristaos em geral. Caso se comprovasse, ao con
trario, que as teses discutidas jamáis tinham sido propaladas antes de deter
minada época e eram apanágio de um grupo de cristaos apenas, tais teses
eram tidas como aberrantes ou heréticas.

4. Considerapoes fináis

Urna das principáis razoes por que o homem moderno concebe dif icul-
dades para aceitar a tradicáo meramente oral como regra válida, é o fato de
que as instituicóes modernas, desde a época de sua fundacao, costumam ter
seus estatutos escritos, os quais definem com precisao a orientacao doutri-
nária e disciplinar da respectiva instituicao; quem formula os estatutos se
empenha por incluir neles tudo que deva ser observado como norma, de sor-
te que fora do código escrito nada pode haver de importante para a configu-
racao de tal sociedade. Tal praxe é possível (e só se tornou possível) após a
descoberta da imprensa por Gutenberg (t 1468). Antes disto, quanto mais
se retrocede na serie dos séculos, tanto mais se verifica que tal praxe era
inexeqüível, pois a escrita constituía urna arte difícil, mormente nos tempos
anteriores e ¡mediatamente subseqüentes a Cristo; o instrumento apto para
ensinar e legislar devia forzosamente ser a palavra oral.

Os historiadores ensinam que principalmente no setor da religiao o en-


sinamento oral foi sempre grandemente estimado. Comefeito, sendo a religiao
268
SOMENTE A ESCRITURA? 29

um fenómeno muito antigo, verifica-se que cada um dos grandes sistemas re


ligiosos da humanidade depende de um patrimonio doutrinário transmitido
de geraclo a geracao por vía meramente oral, depósito oral que, em época
tardia e em virtude de necessidades mais ou menos acidentais, foi parcial
mente (nao por inteiro) consignado em livros sagrados; em certas religioes
os fiéis se negaram sempre a escrever algumas de suas proposicóes mais caras.
A tradicao oral é, pois, elemento essencial de todas as crencas religiosas, ele
mento que, mesmo após a redacüo dos códigos sagrados, continuava a ser
auscultado com carinho. Em suma, cada urna das grandes religioes é mais
antiga do que seus respectivos livros sagrados.

Chama a atengao, por exemplo, nos escritos oficiáis da primitiva reli-


giao chirtesa (de que se derivaram o Taoísmo e o Confucionismo), a fórmula
assaz freqüente: "Eu ouvi...".

Para assegurar a fidelidade na transmisslo oral de suas eren gas, os anti-


gos costumavam, de um lado, disciplinar a memoria e, de outro lado, redigir
as suas sentencas sob forma de frases breves, ritmadas ou cantantes, o que
muito facilitava a aprendizagem de cor.

Pois bem; foi no mundo habituado a proceder desta forma que o Filho
de Deus anunciou o Evangelho. A Revelacao ou o depósito de fé do Cristia
nismo foi, por conseguinte, transmitido aos homens pelas vias comuns do
magisterio de outrora: palavra oral parcialmente cristalizada na palavra escri
ta em ocasioes esporádicas.

A título de ¡lustracao, vai aqui transcrito um trecho das chamadas


"Recognitiones Clementinae", romance cristao oriundo provavelmente no
séc. III. O episodio, embora seja ficti'cio, é contudo ótima expressSo de
quanto as primeiras geracoes cristas estimavam a palavra oral:

"Ao despontar do día que fóra escolhido para a disputa com Simao
(Mago), Pedro (Apostólo), levantándose aos primeiros cantos do galo, des-
pertou também a nos; todos juntos éramos treze a dormir no mesmo aposen
to... Á luz da candeia... sentamo-nos todos; Pedro, vendo-nos alertas e bem
atentos, saudou-nos e comecou sua alocucao:

'£ surpreendente, irmSos, a elasticidade de nossa natureza, a qual me


parece ser adaptável e maleável a tudo. Digo-o apelando para o que eu mes
mo tenho experimentado. Logo depois da meia-noite, costumo acordar-me
espontáneamente e nao consigo mais conciliar o sonó. Isto me acontece por
que me habitud a evocar em minha memoria as palavras que ouvi de meu
Senhor (Jesús Cristo); dese/oso de as revolver no espirito, indtei o meu áni
mo e a minha mente a se despertaren!, a fim de que, em estado de vigilia,

269
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

recordé cada palavra de Jesús em particular e as guarde todas ordenadamen


te na memoria. Já que desejo com profundo deleite meditar no meu coracáo
as palavras do Senhor, adquirí o hábito de ficarem vigilia, mesmo que nada,
fora deste intento, me preocupe o espirito' " (Ps.-Clemente II 1, ed. Migne
gr. 1, 1247-9}.

Este texto nao nos interessa pela sua narrativa como tal, mas antes por
pressupor que de fato os antigos cristaos estimavam extraordinariamente a
decoracao e a repeticáo industriosas (auxiliadas por métodos mnemotécni-
eos) das palavras do Divino Mestre. Tal mentalidade privilegiava o ensina-
mentó transmitido de boca em boca.

BIBLIOGRAFÍA

CONCILIO DO VATICANO II, Constituigao Dei Verbum 1965.


FEINER-LOEHRER, Mysterium Salutis 1/2. Ed. Vozes, Petrópolis 1971.
SCHMAUS, M., A Féda Igreja, vol. I. Ed. Vozes. Petrópolis 1976.

(Continuacao da pág. 288)

tas passagens do Evangelho já nao sao a imagem ou o eco do que Jesús fez e
disse, mas seriam pecas elaboradas pela fé dos Apostólos e discípulos. O
autor nao nega explícitamente o valor de tais passagens do ponto de vista
teológico, mas nao o afírmale modo que o leitor pode conceber aos poucos
a idéia de que os Evangethos sao de credibilidade duvidosa. Exemplos da ati-
tude gratuitamente liberal de Brown sao os seguimos: á p. 58 sugere que a
resposta de Jesús a Pedro em Mt 16,18s ("Tu és Pedro e sobre esta pedra...")
é posterior á ressurreicao de Jesús ou nao saiu dos labios de Jesús; este "tai-
vez nao tenha pensado na estrutura da Igreja". — Ora os estudiosos, mesmo
protestantes (como Joachim Jeremías), reconhecem que as sentencas prefe
ridas por Jesús sobre o primado de Pedro em Mt 16,16-19 estao cheias de
aramaismos, que parecem revelar a linguagem mesma de Jesús fipsissima ver
ba Christi¿-

— as pp. 42 e 62 Brown se refere á ciencia e consciéncia de Jesús em


termos inadequados. Ver o estudo da Pontificia ComissSo Teológica Inter
nacional publicado em PR 294/1986. pp. 482-497: os teólogos afirmam,
com base em textos bíblicos, que Jesús tínha o conhecimentó claro de tudo
o que diz respeito á sua identidade pessoal e 4 sua missao. Hoje parece revi-
ver o Nestorianismo, que no sáculo V afirmava a existencia de dois Eu ou
duas pessoas em Jesús — a divina e a humana; em conseqüéncia, muitos es-

(Continua na pág. 278)

270
Atualmente esquecida:

É Nociva a Castidade?1
Em síntese: A castidade é o reto uso da sexualidade tanto antes como
depois do casamento; antes do matrimonio, significa, entre outras coisas,
abstencao de relacoes sexuais; após o casamento, implica vida sexual consen-
tSnea com as leis da natureza e do Evangelho. O Dr. Begliomini, na qualida-
de de médico, considera os mal-entendidos existentes a respeito, causadores
de comportamento desorientado e nocivo tanto entre jovens quanto entre
adultos: as razoes aduzídas em favor do "sexo livre" derivam-se geralmente
da ignorancia das mais básicas nocoes de anatomía e fisiología do organismo
e da genitalídade. "é sempre oportuno frisar que, do ponto de vista médico,
a abstencao sexual nao leva a atrofia ou depreciacao do organismo".

Muitas sao as modificacóes hodiernas oriundas da evolucao tecnicista


da sociedade contemporánea, contribuindo para que o "modus vivendi" do
individuo, bem como o da comunidade na sua globalidade, seja profunda
mente alterado.

Tais mudancas tém minimizado ou mesmo desprezado valores cultu


ráis e religiosos, fulcros da educacao de ¡numeras geracóes ao longo de dece
nios e sáculos.

0 fenómeno nao é regional, mas sim de caráter universal abrangendo


países de milenares tradicoes.

A bel-prazer e ao sabor de um pretenso modernismo, por vezes irracio


nal e instintivo, temos presenciado a urna metamorfose contundente do
comportamento humano, que merece ponderagoes ético-cristas apropriadas.

1 Este artigo se deve ao Dr. Helio Begliomini, pós-graduado pela Escola Pau-
lista de Medicina, Médico do Hospital do Servidor Público do Estado de Sao
Paulo. Colaborador de PR; ver nQ 284/1986, pp. 40-46 (aborto) e n°. 308/
1988, pp. 33-38 (crise vocacional na ótica de um leigoí.
Ao Dr. Hélío Begliomini vai aquí expressa a sincera gratidao da Direcio de
PR por mais esta valiosa contribuicao.

271
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

Entre as alteracóes dos costumes, salientaremos algumas consideracoes


relativas á castidade, que constituí rao a substancia deste artigo.

1. Castidade como Virtude

O conceito tradicional a respeito de castidade que nos vem á tona, dei-


xa a desejar, urna vez que a vincula á virgindade (ver diferencas á frente)
com a presenca de sinais corpóreos, nem sempre passíveis de serem natu
ralmente detectados ou nao característicos. A castidade é, por assim dizer,
urna virtude almejada por diversas crencas, tendo realce sobremodo no cris
tianismo. A castidade, como as demais virtudes, é um estado a ser atingido, a
ser mantido e aperfeicoado. Daí resulta urna constante luta interior do eu
contra as tendencias desregradas da carne, alimentadas pelo mundo externo,
repleto de instigacoes a favor da libertinagem, sensualidade, desrespeito e
sexualidade doentia.

Embora nos bons Dicionários do vernáculo encontremos a castidade


como sinónimo de virgindade, pensamos que há, ao mesmo tempo, urna sutil
e significativa diferenca. '

A virgindade, como tal, é a qualidade pela qual urna pessoa nunca pas-
sou por experiencias sexuais, quer asósquer comoutrem. Infelizmente, a vir
gindade, quando normalmente citada, é referida somente á mulher; o
homem fica numa situagao diversa. Além disso, o conceito tende a dar real
ce á preservacáo ilesa do hi'men, em detrimento, as vezes, de urna conduta
moralmente salutar.

Assim sendo, castidade e virgindade apresentam matizes dignos de se


rem considerados, embora, á primeira vista, possam ser confundidos. Em ou-
tras palavras, a virgindade é urna qualidade que reflete mais um predicado fí
sico, sem menosprezo dos valores moráis, e a castidade exibe mais urna atitu-
de moral, sem ignorar a preservacáo física. Oessa forma a virgindade pressu-
poe a castidade e esta nao pressupoe aquela. A título de melhor compreen-
sao, poder-seia dizer que todo virgem é casto, mas nem todo casto é virgem.
É fácil compreender esta diferenca quando nos deparamos com o exemplo
do matrimonio.

O(a) jovem que se vai casar e que nunca teve atividade sexual, é consi-
derado(a) virgem no pleno exercício da castidade. O casamento, como insti-
tulcao divina, jamáis poderia vilipendiar ou sequer menosprezar tal qualida
de. Ao contrario, enaltece-a, convidando ambos os cónjuges a manterem-se
fiéis a Deus e á Igreja, sendo fiéis a si mesmos. Portante, com o casamento
cristao perde-se a virgindade (condicao física), porém nao a castidade (con-
dicao moral). Daí a expressao "viver a castidade no matrimonio". A castida-

272
É NOCIVA A CASTIDADE? 33

de no matrimonio é perdida quando ocorre a infidelidade conjugal ou a prá-


tica do sexo individual ou do sexo aberrante (contrario á natureza). Outro
exemplo seria o de um(a) jovem que se queira consagrar a Deus e que tenha
perdido a virgindade previamente. O voto de castidade que ele(a) fará, terá
as rnesmas implicacoes que aquele realizado por um(a) jovem virgem.

Dessa forma, o conceito de castidade está vinculado a alguns predica


dos, como respeito a si mesmo e a outrem, fidelidade, obediencia, autotrei-
namento da vontade, sinceridade no cumprimento moral dos deveres e gesto
de misericordia. Este, embora possa ser estranho neste contexto, nao o é, na
medida em que a castidade é urna constante luta pela conquista e/ou manu-
tencáo de um estado de sexualidade compatível com a mensagem crista.
Além do mais, a perda da virgindade é irrecuperável, assim como urna perna
amputada ou o rejuvenescimento de um corpo desgastado pela senilidade.
Ao contrario, a castidade perdida pode ser reconquistada, pode ser reassu-
mida, desde que naja um verdadeiro retorno e a intencao de se readquirir e
revi ver a sobriedade e o autodominio perdido.

Em linhas anteriores, foi utilizado propositadamente o termo castida


de como qualidade de alguém, e nao como virtude de alguém. Ao nosso ver,
a palavra virtude tem um alto prego para os cristaos, urna vez que alude aos
mais simples e, ao mesmo tempo, mais elevados requisitos, expressos por
Jesús Cristo, de tornar viável o resumo da Lei: Amar a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo. A virtude, como vocábulo cristao,
sofreu a cháncela de inumeráveis homens e mulheres de fé, que, amando a
Deus através do amor á Igreja e ao próximo, dignificaram as acoes dos verda-
deiros discípulos do Senhor.

Dessa forma, a palavra "virtude" foi emancipada do vocabulario vul


gar, ao longo da historia, constituindo-se o denominador comum, tanto de
homens como de mulheres, de pobres como de ricos, de iletrados como de
doutos, de saudáveis como de doentes, de pretos como de amárelos, verme-
Ihos ou brancos, de criancas como de velhos..., de reis como de súditos...,
de escravos como de livres... etc., bastando para isso que permitissem que o
amor a Deus fosse neles manifestado.

A castidade, assim como outros bons predicados da conduta humana,


só deixa de ser qualidade, para ser virtude, quando é praticada por amor a
Deus, Principio e Fim de todas as coisas.

Simplificando, nos nos atreveríamos a dizer que, se um individuo


exerce a castidade de modo inconsciente ou irracional (quer porque nao te-
ve oportunidade de atividade sexual, quer porque julga que tanto faz ser casto
como nao, ou porque tem baixo quociente de inteligencia devido a doenca

273
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

mental), ele nao possui a virtude de ser casto como assim quer significar a
verdadeira acepcáo crista da palavra, urna vez que visto nao implica numa
consciente acao a favor e para a gloria de Deus. tais pessoas possuem a qua-
lidade de ser castas, mas nao a correspondente virtude.

2. Castidade e mitos

Embora vivamos numa época em que se fala muito de educacao sexual,


é evidente o número de noivos que vio para o casamento, parcial ou total
mente desinformados sobre questoes concernientes nao somente ao que vao
enfrentar na vida a dois, á dinámica familiar, mas, sobretudo, a conceitos
fundamentáis de anatomia e fisiología do organismo de cada um e do respec
tivo cónjuge. Tal ignorancia é fácilmente constatada através dos cursos de
noivos, bem como através da prátíca da medicina. Nao há lugar em que o
problema nao exista, sendo detectado tanto em cidades interioranas como em
grandes centros. Outrossim, nao é apanágio apenas de analfabetos ou subal-
fabetizados; mas abrange também outros adultos, pais de familia, universita
rios e profissionais liberáis.

A má educacáo em geral, e na área sexual em particular, se deve, en


tre outras causas, a grande número de analfabetos existentes no país; miseria
desproporcionalmente elevada, gerando um baixo m'vel desaúde populado-
nal com um conseqüente aumento da promiscuidade; saúde e educacáo
como nao prioridades ñas esferas governamentais em anos sucessivos; deses-
truturacao da familia, outrora vista como fonte de amor, educacáo, respeito,
hierarquia; sociedade excessivamente consumista, explorando ávidamente os
prazeres do corpo e sobremodo a sexualidade; confusao entre liberdade e li-
bertinagem; sociedade iconoclasta, dizimando personalidades do presente e
do passado e tratando com desdém a Igreja, a religiáo e as ¡nstituicóes civis
legalmente constituidas, que foram e sao o esteio da nossa cultura e educa
cáo; indiferenca aos conceitos de certo e errado, ocasionando a impressao de
que tudo é permitido; censura, como órgao decorativo e arcaico; educacáo
sexual enfocando o ser humano apenas no seu aspecto físico/genital, empali-
decendo a esfera psicológica e olvidando a magnitude transcendental do ho-
mem, etc., etc.

Em decorréncia disto, grassam em nosso meio preconceitos sexuais,


adquiridos desde tenra idade e trazidos a vida adulta, que, aos olhos de al-
guém equilibrado, nao deixam de ser verdadeiras piadas. Entre eles, citamos:
a associacao entre virilidade e tamanho peniano, a prática da masturbagao
para nao somente aumentar o tamanho peniano como para impedir que o
semen possa entrar no sangue e causar disturbios psíquicos..., reí acao entre o
tamanho do fálus e o prazer feminino; lavar a cabeca em época menstrual
atrairia o sangue menstrual para o cerebro...; necessidade de relapáo sexual an-

274
É NOCIVA A CASTIDADE? 35

tes do matrimonio para que se possa ter experiencia adquirida e nao fracas-
sar no casamento ou para que se possa estudar se o casamento dará certo ou
nao; predilecao por ser socialmente separado(a), desquitado(a), divorcia-
do(a) em lugar de ser solteiro(a); a falta do sexo como causa de atrofia dos
órgaos genitais; para se ter prazer, é necessário utilizar circunstancias e obje
tos anómalos que provocam dor, etc., etc.

Depreende-se fácilmente que, á luz dos conhecimentos atuais, o sexo


está malversado, nivelando em muitas situacoes o homem com animáis ir ra
cionáis.

É sempre oportuno frisar que, do ponto de vista médico, a abstencáo


sexual nao leva a atrofia ou depreciacáo do organismo. A prática do sexo,
quer de forma individual, quer com outrem, tem, em varias pessoas, motivos
preconcebidos, muitas vezes arraizados no subconsciente; acreditam errónea
mente que o nao-uso do sexo levaría a efeitos deletérios sobre o organismo,
entre eles: inadequacao ou inaptidáo sexual, impotencia, alteracdes psicoló
gicas pelo acumulo do semen no corpo, sensacao de que a mulher seria inte
riorizada sentimental, social e psíquicamente, etc., etc.

A maior parte de tais argumentos nada mais sao do que pura ignoran
cia sobre as mais básicas nocoes de anatomía e fisiología do organismo e dos
órgaos genitais, aliada a urna visao miope do homem como um todo e de sua
dignidade, ou aínda do primado da razao/vontade sobre o corpo/instíntos.
Para os cristaos, nao haveria melhores justificativas para o respeito ao cor
po do que aquetas bíblicas, ao afirmarem que "o homem é imagem e seme-
Ihanca de Deus" e "o templo do Espirito Santo". Infelizmente, varios indi
viduos com um certo grau de díscernimento, e até mesmo profissionaís uni
versitarios das áreas médicas e paramédicas, colaboram para que o estado de
obnubilacao mental causado pelo desconhecimentodaverdade seja perpetua
do, alimentando mitos descabi'veis á luz dos conhecimentos atuais.

3. Sexo e doencas sexualmente transmissíveis

Como o nome já quer exprimir o sentido exato do termo, as doencas


sexualmente transmissíveis, outrora conhecidas como doencas venéreas, sao
aquetas afeccoes mórbidas adquiridas através do relacionamento sexual, ex
clusivo ou nao. Tém-se, como rápidos exemplos, a blenorragia ou gonorréia,
que é adquirida exclusivamente pelo ato sexual. A sífilis, além do contagio
sexual, poderá também ser adquirida através de transfusoes sanguíneas ou
durante a gestacao. Nesta eventualidade, a máfe contaminada pode passar a
infeccáo ao feto. Hoje em dia, com excegao da Síndrome da Imunodef¡cien
cia Adquirida (SIDA ou AIDS), todas as doencas sexualmente transmissíveis
sao curadas, desde que se procure o tratamento adequado precocemente.

275
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

Neste sentido, é bom sempre fritar que, há aproximadamente duas décadas


e meia, era comum transmitir conceitos de educacao sexual ou exortapao a
castidade ás expensas de um temor exagerado de se adquirir alguma doenca
venérea. Atualmente, tornase praxe totalmente anacrónica e ineficaz. O cul
to e a procura da castidade nao se deve assentar no medo de se contaminar,
mas, sim, numa atitude sincera de procurar a virtude, cujo único interesse
seja o de agradar a Oeus. Somente dessa forma o individuo fica livrede ca-
suismos e genuinamente aberto para urna auto-oferenda segundo as normas
do Criador, advindo daí as reais benesses desta oppáo.

4. Sexo e censura

Desafortunadamente a palavra censura está, de fato, fadada a ser bani-


da do nosso Dicionário. Seu emprego tem sido alterado, sendo-lhe impresso
um caráter sempre pejorativo ou, pelo menos, de desprezo. Assim sendo, em
nome de urna "liberdade e/ou democracia" nao muito bem conceituadas e
definidas, estao-se permitindo verdadeiras barbaridades políticas, socíais,
educacionais e sexuais. As vezes, a bandeira levantada é a do modernismo ou
a do feminismo, ou mesmo a teoría do igual direito entre ambos os sexos.
Nestas eventualidades, o homem, no sentido ampio, tem sua dignidade nive
lada por baixo, aproximándose da condipao dos animáis inferiores. 0 direi
to que o homem deve ter em relacao á mulher, á luz de um modernismo sa-
dio, supoe o cultivo e a preservacáo da integridade moral interior, fruto do
dom gratuito de Deus.

É oportuno observar as mais variadas formas institucionalizadas de li-


bertinagem e aberraclo sexual de que a sociedade contemporánea dispoe
hábilmente. Além dos já tradicional drive ¡n, motéis, casas de massagem,
saunas mistas, tem-se observado um significativo incremento de revistas por
nográficas, vídeo-cassetes, anuncios, em jomáis, de sexo a domicilio, acom-
panhantes, sex shops e a divulgapao, em horarios nobres, de programas que
induzem nao somente a urna desestruturacao da familia, mas também a urna
idéia impropria, libertina e irresponsável do sexo. Como se isso nao bastasse,
mais amiúde se véem filmes pornográficos ñas telas da televisao, Invadindo
inescrupulosamente os lares. É muito cómoda e leviana a resposta dos pro-
dutores no sentido de que se mude de canal ou se desligue o aparelho, quan-
do se sabe que no Brasil existe grande número de analfabetos ou subalfabe-
tizados, ficando reduzidos a pequeña minoría aqueles que tém reais condi-
coes de discernimento e opcao. Mais urna vez, em prol de urna pseudode-
mocracia se induz a populacao a urna vida fácil, irresponsável e irreal. Seria
o mesmo que dizer que pode haver ¡numeras oportunidades para ser rouba-
do, devendo apenas os cidadaos cuidar de evitá-las. Ou, que o ladrao está

276
É NOCIVA A CASTIDADE? 37

no seu direito de roubar, pois está exercendo a sua liberdade. Tais alegacoes
sao evidentemente falsas; daí se depreende que o mal deve ser combatido
porque carrega em si algo dañoso e contrario á própria finalidade para a
qual o homem foi criado. Todos devemos combater o mal físico ou moral
■na medida direta de sua atuaclo e perniciosidade. É fácil entender que aque
les individuos que estao lidando com dimensoes populacionais e que reú-
nem poder sobre a conduta da sociedade, possuem urna exponencial e histó
rica carga de responsabilidade, que nao deve ser simplesmente minimizada
mediante o chaváo "cada um deve fazer o que pensa" ou "cada qual é
dono de seu próprio nariz". Daí a importancia de se selecionarem homens
certos e moralmente íntegros para funcoes de realce, pois o enf raquecimen-
to de um povo se inicia, também e sobretudo, com seu desmazelo moral.

5. Sexo e Igreja

A Igreja no Brasil, de modo geral, tem mudado sua atuacao no que se


refere ao sexto e ao nono mandamentos. Nao é que deixaram de ser pecados
as violacoes destes preceitos. Contudo nao se tém observado pronunciamen-
tos adequados aos acontecí mentos que acabamos de recordar.

Nao nos queremos constituir em jui'zes; mas o fato é que, há vinte ou


trinta anos atrás, a Igreja exageradamente "so" apontava o pecado da carne,
o do sexo. Hoj'e em dia, parece que "so" há o pecado da injustica social.
Urna atuacao e catequese mais equilibrada torna-se nao somente necessária e
oportuna, mas também poderia oferecer subsi'dios de educacao e persuasao
mais eficazes.

6. Conclusao

A castidade é urna qualidade almejada por varias religioes, tendo sido


énobrecida através do Cristianismo como urna das mais nobres virtudes.
Trata-se de um conceito dinámico, urna vez que supoe integridade física,
mental e moral extensiva nao somente á vida celibatária (consagrada ou nao),
mas também á conjugal.

Através déla, urna pléiade incontável de seres humanos nortearam e


norteiam sua vida, chegando por vezes a assumirem conseqüéncias extremas.
Tem-se como exemplo, entre tantos anónimos, o martirio de Santa Maria Go-
retti, que preferiu a morte a perder o seu estado virginal. A castidade se re
veste de especial valor quando é adornada com as cores do Cristianismo, pois
entao ela se torna proficua nao somente para o individuo que a exerce, mas
também para toda a Igreja. No contexto hodierno, quando urna miríade de
fatores tentam sufocar ou vilipendiar as riquezas da mensagem crista, a cas
tidade, entre tantas outras virtudes, deve ser divulgada, estimulada, enalteci
da nao somente pelo corpo hierárquico da Igreja, mas também pelos leigos.

277
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

O exercício da castidade nao é prejudicial ao funcionamento físico ou


psíquico do individuo; ao contrario, torna-o apto a uma auto-educacáo e
abertura para a compreensao de valores imprescindíveis de uma verdadeira
felicidade, pois propicia mais íntimo contato da criatura com o Criador.

Nesta retomada de consciéncia deve-se deixar claro que a castidade


nao é característica de pessoas assexuadas, anormais, angelicais, sem libido,
ou de tendencias homossexuais. Ao contrario, é apanágio de homens e mu-
Iheres feitos do mesmo barro que o restante da humanidade, porém imbuí-
dos de profundo espirito de fidelidade ao Criador. Nao há maior justificati
va em prol da castidade do que a sincera intencao de amor, gratidao e louvor
a Deus, através do devido uso da sexualidade, que é uma das maravilhosas
expressoes do nosso corpo criado por Ele.

(Continuado da pág. 270)

tudiosos detém-se de preferencia sobre a humanidade de Jesús, cujo saber


tere sido limitado; nao levam em conta a Divindade do Senhor, que, pelo
lato da Encarnacao. nada oerdeu do saber do próprio Deus; em verdade,
Jesús tinha um só Eu ou uma só Pessoa — a Divina —, de modo que sabia
tudo o que Deus sabe, mas também podía funcionar como homem, pois ti
nha o intelecto característico da natureza humana.

Nao se pode ignorar que o livro de Brown pode ser útil como fonte de
informacoes; mas quem o lé, tem a impressao de estar diante de um debate
de sen tencas hipotéticas que deixam solapada a credibilidade dos Evangelhos
e, conseqüentemente, a figura de Jesús. Ora nao é a tais conclusoes que a
teología contemporánea leva o estudioso destituido de preconceitos gratuitos.

E.B.

AMIGO, VOCE TEM A SUA DISPOSICAO CINCO CUR


SOS POR CORRESPONDENCIA: 1) S. ESCRITURA; 2) INI-
CIACÁO TEOLÓGICA; 3) TEOLOGÍA MORAL; 4) HISTORIA
DAIGREJA;5) LITURGIA.
PARA INFORMAQOES E PEDIDOS, RECORRA A ESCO
LA "MATER ECCLESIAE", CAIXA POSTAL 1362, 20001
RIO-RJ.

278
Moralmente lícita?

A Fecundado Artificial "Gift"

Em síntesa: O presente artigo descreve o método de fecundado artifi


cial homologa dito Gift ( Gametes Intra Falloppian Transfer/, praticado na
Policlínica Gemelli, de Roma. O seu mentor, Dr. Nicola Garcea, julga ser
compatível com a Instrucao Donum Vitae, da Santa Sé, que apregoa o res-
peito ás leis naturais. A Moral católica só tolera intervencoes da técnica para
facilitar o desenvolvímentó natural das funcoes do organismo. Por enquan-
to, nao há pronunciamento oficial da Igre/a sobre o assunto. O método pare
ce realmente nao ferir a Moral católica, pois nao recorre á masturbacao nem
pratica a fecundacao em proveta, mas sim no organismo feminino, onde ela
ocorre naturalmente.

É conhecida a Instrucáo da Santa Sé dita Donum Vitae (O dom da Vi


da), assinada aos 22 de fevereiro de 1987 a respeito das novas técnicas de
manipulacao de sementes vitáis humanas e de embrides.' A Igreja tomou po-
siglo francamente contraria a qualquer ¡ntervencao artificial no processo de
fecundapao e gestaclo. Até mesmo a fecundacao artificial homologa (entre
esposo e esposa) foi rejeitada, pois esta separa da cópula conjugal a fecun
dacao; além do mais, é geralmente praticada mediante masturbacao masculi
na destinada a obter os espermatozoides. Eis o respectivo texto da Instrucao
Donum Vitae:

"A inseminacao artificial substitutiva do ato conjugal ó proibida em


razio da dissociacao exercida voluntariamente entre os dois significados do
ato conjugal. A masturbacao por meio da qual se obtém normalmente o es-
perma, é outro sinal de tal dissociacao; também quando é efetuado em vista
da procriacao, o gesto permanece privado do seu significado unitivo; falta-
Ihe... o sentido integral da doacao mutua e da procriacao humana no contex
to do verdadeiro amor" (nQ 6).

A única possibilidade de intervengao artificial homologa consistiría


em reforcar a obra da natureza, concorrendo para que ela atinja o seu devi-
do fim. Eis as palavras da Instrucao:

1 Ver PR 302/1987, pp. 299-311.

279
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

"A inseminacSo artificial homologa, dentro do matrimonio, nao pode


ser admitida, exceto no caso em que o meio técnico nao substitua o ato con-
jugal, mas se torne apenas facilitado e auxilio para que aquele atinja a sua
finalidade natural" (nQ 6).

Como se vé, a Igreja nao excluí a possibilidade de que os casáis recor-


ram a técnicas científicas para superar a esterilidade. O que importa á Moral
crista, é respeitar valores fundamentáis da natureza tal como foi criada por
Deus, a saber: o vínculo entre uniao conjugal e procriacao, e a índole pessoal
destes dois atos; a prole há de ser a expressáo do dom recíproco de esposo e
esposa; a intervencao da técnica só é aceita ve I se "facilita o ato conjugal e o
ajuda para que atinja a sua finalidade natural".

Ora no Hospital Gemelli, de Roma, urna equipe de médicos, chefiada


pelo Dr. Nicola Garcea, tem-se dedicado com éxito á aplicacao do método
Gift (em inglés, Dom), sigla de Gametes Intra Falloppian Transfer (Transfe
rencia de Gametas para as Trompas de Falópio). Consiste na transferencia
dos gametas masculinos (espermatozoides) e femininos (óvulos) para dentro
das trompas, ambiente natural onde a fecundadlo se dá espontáneamente.

O Dr. Nicola Garcea é professor titular de Endrocrinologia Obstétrica


e Ginecológica na Universidade Católica do Sacro Cuore (Milao); é ajudado
pelo Prof. Sebastiano Campo, a Ora. Marina Esposito e cerca de doze pes-
soas especializadas no setor. Tais profissionais afirmam que o seu procedi-
mento científico nao ofende as normas da Santa Sé, podendo vir a ser reco-
nhecido como moralmente licito. Vejamos, pois, como se desenvolve.

1.0 Método "Gift"

A equipe do Dr. Garcea faz questao de nao provocar a fecundado em


proveta nem manipular embrides.

A coleta de sementé vital masculina é feita mediante a relacao sexual


normal de esposo e esposa, empregando-se um dispositivo próprio que per
mite recolher parte dos espermatozoides ejaculados. Terminada a cópula,
os dois conjugas vao para urna Clínica; ai sao selecionados os espermato
zoides mais dinámicos e fortes, enquanto a esposa é levada a urna sala cirúr-
gica para coleta dos óvulos: após a anestesia geral, apagam-se as luzes todas
do recinto, pois poderiam prejudicar os óvulos. Perfura-se o abdomen da
mulher a fim de introduzir dentro do mesmo um laparoscópio ou urna mi
núscula cámara que transmite imagens do interior do ventre; no vídeo desse
televisor pode aparecer um folículo semélhante a urna ameixa madura; com
urna agulha especial perfura-se o folículo e aspira-se o líquido folicular, de
modo que a aparente ameixa se torna seca. O líquido aspirado é colocado

280
"FECUNDACAO ARTIFICIAL "GIFT" 41

numa proveta e levado sem demora a um microscopio para se averiguar


quantos óvulos naja ai; pode haver um só, que aparece ao microscopio sob
a forma de pequeña nuvem com um ponto branco (o ideal é ter um óvulo
maduro no quarto grau).

Entrementes o laparoscópio (cámara interna) procura outros folículos;


geralmente a natureza fornece um só em cada ovulacao, mas o método Gift
recorre a estimulantes do ovario, que provocam a producao de muitos. Os
operadores desejam ter varios óvulos á disposicáo, a fim de escolher os que
nao sejam nem ¡maturos nem demasiado maduros; pode acontecer que se
consigam, por aspiracao, quatro óvulos aproveitáveis.

Feito isto, num pequeño tubo se colocam, por aspiracao, um pouco


do líquido folicular, dois óvulos, urna bolha de ar e os espermatozoides sele-
cionados. A bolha de ar é ¡ndispensável, pois impede que os óvulos e os
espermatozoides entrem logo em contato — o que poderia provocar a fecun-
dapáo fora do seu lugar natural. 0 pequeño tubo, assim carregado, derrama
seu conteúdo dentro das trompas da mulher, trompas que aparecem na cá
mara do laparoscópio como manchas vermelhas.

Está entao tudo efetuado, do ponto de vista técnico, para que haja fe-
cundacao. Se esta realmente ocorrer, será perceptível dez dias após a trans
ferencia dos gametas.

Tal operacao se recomenda especialmente nos casos de esterilidade


sine causa (sem causa averiguada); obtémse entao 30 ou 40% deengravida-
mentos.

O Método Gift é frustrado quando há oclusao (fechamento) ou danos


irreversíveis ñas duas trompas. Para superar este obstáculo, os dentistas
estío procurando injetar os óvulos e os espermatozoides no útero em vez de
recorrer as trompas; esperam consegui-lo dentro de breve prazo, devendo,
porém, resolver previamente alguns problemas técnicos.

Após um ano de experiencia do Método Gift no Hospital Gemelli, ve-


rificaram-se onze casos de gravidez em curso e quatro partos, dos quais ñas-
ceram seis enancas, pois um desses partos foi de trigémeos. O nascimento de
gémeos pode ocorrer com certa freqüéncia, visto que os médicos injetam ñas
trompas mais de um óvulo, pois nao estao certos do grau de madureza ou
aproveitabilidade de cada um. Os casáis esteréis agraciados com dois filhos
de urna vez deram-se geralmente por felizes, pois assim evitaram o problema
do filho único.

A primeira enanca "doada" pelo Método Gift (Dom) em 1987 chama


se Nicoletta (em homenagem ao Dr. Nicola Garcea), tendo nasctdo aos 02/
281
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

01. é filha de um casal do Lacio, muito discreto, que nao deseja aparecer
nos jomáis; a rnáe declarou: "Direi a minha filha como foi concebida quan-
do ela tiver condicóes de compreendé-lo. Nao quero que seja informada por
outros". Estavam casados havia seis anos quando nasceu a menina; o marido,
que é médico, explicou: "Minha esposa sofría de obstrupao das trompas;
submeteu-se a urna cirurgia plástica, mas nem por isto engravidava. Continua
mos as tentativas; só depois da segunda intervenpao Gift é que minha mulher
concebeu. Somos católicos praticantes... Para poder compreender o que é o
desejo de um filho, é preciso fazer a experiencia do mesmo".

O casal Domenico e Teresa Amuroso, que teve os tres gémeos Francés-


ca, Giuseppe e Saverio, é de Ñapóles; nao tem dificuldade para contar como
procederam. Observa Teresa, com seus trinta e dois anos de idade e nove de
luta para superar a esterilidade:

"Cada médico me dizia algo de diferente: 'Sofres disto,... daquilo'. Da i


tratamentos, remedios, despesas. Sugaram-nos o sangue. Finalmente vi na te-
levisao o programa Check up, no qual falou o Prof. Mancuso, da Policlínica
Gemelli. Nao tratou do Método Gift, que naquele tempo era um tanto secre
to, mas tratou de como vencer a esterilidade. Inspirou-me confianca: fui
logo'a Roma á procura do médico. Este propós o Método Gift; nao hesi-
tei. Dez dias depois da intervencao, soube que esteva grávida; quarenta dias
depois, soube que teña dois filhos; noventa dias depois, soube que seriam
tres; o terceiro se esconderá tao bem atrás dos outros dois que se tornara
invisível mesmo aos raios".

As tres enancas nasceram pequeñas, mas sadias, no dia 06/01/1987.


Observou Domenico: "Quando me dizem: 'Que belas crianpas!', explico:
Sao tais porque foram feitos á máo e nao á máquina!".

Diante de tais experiencias, já noticiadas pela televisao brasileira em


caráter sensacionalista, é obvia a pergunta:

2. Que dizer?

O Dr. Nicola Garcea é cauteloso ao avaliar os aspectos éticos do seu


trabalho. Vale-se do principio: "Existem técnicas que parecem poder ser
aplicadas enquanto nao se torna claro que elas sejam contrarias ao ensina-
mento da Igreja".

Interrogado, porém, sobre a atitude que tomaría, caso a Santa Sé


condenasse o seu procedimento, respondeu:

"Deixaria ¡mediatamente de o praticar. Se a Santa Sé chegar á conde-

282
"FECUNDACÁO ARTIFIC1 AL "Gl FT" 43

ñafio, isto significará que o Método Gift foi submetido a urna serie de refie-
xoes e deducoes, que, como médico católico, nio poderia nao compartilhar".

Em verdade, quais seriam as razoes pro e contra as experiencias do Dr.


Nicola Garcea?

Tentaremos enumerá-las nos seguintes termos:

1) Razóos favoráveis:

a) O Método Gift nao recorre á masturbacao para extrair a sementé vi


tal masculina (masturbacao condenada pela Santa Sé), mas coleta os esper
matozoides ejaculados em cópula normal realizada entre esposo e esposa;

b) a fecundacao dos óvulos (quando ocorre) é obtida em funcao dessa


cópula conjugal normal; é o desdobramento e a consumacao de um ato na
tural, levado a bom termo com o auxilio da técnica;

c) a fecundacao ocorre dentro do organismo feminino, precisamente


no lugar em que ocorre segundo as leis da natureza;

d) nao há exterminio de embrióes fecundados, tidos como defeituo-


sos ou inúteis, supérf luos. Os espermatozoides e os óvulos que se perdem ou
nao chegam á fecundacao, sao aqueles que se per den am naturalmente; com
efeito, em toda cópula realizada segundo as leis da natureza, há desperdicio
de sementes vitáis que nao podem atingir a fecundacao.

Ponderados estes elementos, parece razoável dizer-se que o Método Gift


satisfaz as exigencias da Moral católica, que só tolera intervencoes da técnica
"para facilitar e ajudar o processo do organismo em demanda do seu objeti
vo natural".

2) Em contrario, porém, poder-seia perguntar: será que a extracao das


sementes vitáis para fora dos respectivos organismos do homem e da mulher
é compati'vel com o respeito á natureza? — Talvez aquí esteja o nó da ques-
tao. O tempo, a reflexáo e o estudo dos mestres e da autoridade da Igreja é
que poderao dar resposta a tal ínterrogacao. Por ora o Dr. Nicola Garcea
e sua equipe vao trabalhando na própria cidade de Roma, sem ter recebido
alguma censura da parte da Santa Sé. Mais do que isto nao se pode dizer por
enquanto.

Na confeccao deste artigo, valemo-nos do trabalho de Franca Zambo-


nini: "Sei Bambini 'donati'", publicado em Famiglia Cristiana, nQ 9,02/03/
1988, pp. 34-37.

283
Aínda a disciplina da Liturgia:

Oracoes Eucarísticas
e Experiencias Litúrgicas

A Congregado para o Culto Divino publicou aos 20/03/88 urna Decía-


racao referente á Liturgia Eucarística, que nos dois últimos decenios tem so-
frido alteracoes nem sempre lícitas e adequadas: causam confusao e perple-
xidade nos fiéis, principalmente quando afetam a parte central da Missa ou a
chamada "Oracao Eucarística, Anáfora ou Canon", que tem caráter fixo e
vem a ser a moldura da consagrado do pao e do vinho.

Vista a importancia desse documento, publicamo-lo em traducao por


tuguesa.1

DECLARAQAO

"A Congregacao para o Culto Divino, considerando certas iniciativas


na celebracao da Liturgia, julga necessário lembrar algumas regras referentes
as Oracoes Eucarísticas e as experiencias litúrgicas, regras que já foram pro
mulgadas e que continuam em vigor. A propósito, verifica-se que é necessá
rio vigiar para que o Corpo inteiro da Igreja possa progredir unánime na uní-
dade da caridade..., tanto mais que a Liturgia e a fé estao estritamente rela
cionadas entre si a ponto que o que se faz em favor de urna repercute sobre
a outra.

I. No tocante ao uso das Oracoes Eucarísticas, a Congregacao para o


Culto Divino considera oportuno lembrar o que se segué, extraído principal
mente da Carta Circular Eucharistiae Participationem:

1) Além das quatro Oracoes Eucarísticas que se encontram no Missa I


Romano, a Congregacao para o Culto Divino aprovou, no decorrer dos anos,
outras Oracoes Eucarísticas, seja para o uso da Igreja inteira, como as Ora
coes sobre a Reconáliacao, seja para o uso de certos países ou regióes, como
aquelas para as Missas de Cr ¡ancas, e também Oracoes que foram aprovadas

1 O original é latino. A tradujo foi feita a partir do texto francés publicado


em La Documentation Catholique, n° 1961, 1°/5/88, pp. 446s.

284
QRAgOES EUCARÍSTICAS 45

em funcáb da circunstancias particulares a pedido de algumas Conferencias


Episcopal*.

A Congregado para o Culto Divino aprovou outrossim alguns Prefa


cios que nao se encontram no Missal Romano.

2) O uso dessas Oracoes Eucarísticas e desses Prefacios é reservado


únicamente aqueles a quem foram concedidos dentro dos limites de tempo e
de espado definidos pelo documento que os aprova. Nao é licito utilizar ou-
tra Oracao Eucarística redigida sem a autorizacao da Sé Apostólica ou nao
aprovada por esta.

3) A Sé Apostólica, movida pelo amor pastoral á unidade, reserva a si


o direito de regulamentar assunto tafo importante quanto a disciplina das
Oracóes Eucarísticas. Preservada a unidade do rito romano, a.Santa Si ná"o
recusa tomar em consideracáo legítimos pedidos, e examinará com benevo
lencia as solicitacdes apresentadas pelas Conferencias Episcopais em vista de
eventualmente compor e introduzir na Liturgia alguma nova Oracao Eucarís
tica destinada a atender a circunstancias especiáis. Em cada caso, a Congre
gacao para o Culto Divino formulará as normas a ser observadas.

II. No que concerne as experiencias, a Congregacao para o Culto Di


vino já se pronunciou na Instrucao Liturgicae Instaurationes, que permane
ce válida até noje.

1) As experiencias litúrgicas, quando sao necessárias ou parecem opor


tunas, só podem ser autorizadas pela Congregacao em documento escrito,
segundo normas precisas e definidas e sob a responsabilidade da autoridade
competente.

2) No tocante á Missa, todas as licencas de experimentar concedidas


em vista da reforma da Liturgia estáo revogadas... As normas e a maneira de
se celebrar a Eucaristía sao aquelas que se encontram na Aoresentacáo Geral
do Missal Romano e no Ordo Missae.

3) Toca as Conferencias Episcopais examinar, em primeira instancia,


as adaptacoes já previstas pelos livros litúrgicos, em particular pelos diversos
Rituais; a seguir, as Conferencias as proporao á Sé Apostólica para serem
confirmadas.

4) Conforme a Constituicao Sacrosanctum Concilium n° 40, quando


se trata de modificar a estrutura dos ritos ou a disposicao das partes que se
acham nos livros litúrgicos, ou quando se desoja introduzir algum elemento
estranho á tradicao ou certos textos novos, antes de qualquer experiencia, a

285
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

Conferencia dos Bispos deve apresentar á Sé Apostólica o respectivo roteiro


com suas minucias. Antes da resposta da Sá Apostólica, nao é lícito a nin-
guém, nem mesmo a um sacerdote, por em prática as adaptacoes solicitadas,
nem acrescentar, retirar ou mudar o que quer que seja, por própria iniciati
va, na Liturgia.

5) Tal é a prática apregoada pela Constituicao Sacrosactum Concilium


e exigida pela importancia do assunto. No que diz respeito as adaptacdes
concebidas em vista da cultura e das tradicoes dos diferentes povos, confor
me a Constituicao Sacrosanctum Concilium n<> 37-40, a Congregacao para o
Culto Divino publicará algumas orientapoes.

Pede-se instantemente as Conferencias Episcopais e a cada Bispo que


induzam sabiamente os presbíteros a observar a única disciplina da Igreja
romana, fazendo valer os motivos apropriados. Isto favorecerá o bem da
Igreja assim como o bom desenrolar das celebrares litúrgicas. Com efeito;
compete aos Bispos orientar a vida litúrgica, promové-la e ser seus custo
dios, corrigindo os abusos, além de propor ao povo que Ihes é confiado o
fundamento teológico da disciplina dos sacramentos e de toda a Liturgia.

Na Sede da Congregacao para o Culto Divino, 21 de marco de 1988.

Paulo Agostinho, Cardeal Mayer


Prefeito

Virgilio Noé
Secretario"

Como se v§, o documento em foco distingue entre a Liturgia da S.


Missa e a dos demais sacramentos ou sacramentáis.

1) No tocante á Eucaristía, o documento de 21/03/88 confirma a De-


claracáo Eucharistiae Participationem da mesma Congregado para o Culto
Divino,que aos 27/04/1973 dava por encerrado o pen'odo de experiencias e
¡novacoes na celebracáo da S. Eucaristía. Estas haviam sido autorizadas após
0 Concilio em vista de reforma e atualízapáo dos ritos litúrgicos. Todavía
desde 1973 já nao sao permitidas. Tornou-se estritamente obrigatório seguir
as normas do Missal Romano promulgado por Paulo VI,1 Missal, alias, que

1 Excetuam-se os casos em que a Santa Sé últimamente permitiu a celebra-


cSo eucarfstíca segundo o Missal promulgado por S. Pió V, tendo em vista
pequeños grupos existentes dentro da Igreja.

286
ORACOES EUCARl'STICAS 47.

deixa certa liberdade ao celebrante para propor fórmulas de saudacáo e


exortagao em momentos devidamente indicados da Liturgia Eucarística.

2) Quanto aos demais Rituais da Igreja, prevéem, em algumas de suas


passagens, alguma adaptacáo do rito ás circunstancias locáis. Tais adaptacóes,
porém so tém valor definitivo depois de aprovadas pela Santa Sé. Nem mes-
mo as experiencias podem ser efetuadas em caráter provisorio sem ter sido
previamente autorizadas pela Congregacao para o Culto Divino.

Ao formular tais normas, a Santa Sé nao faz senáo repetir quanto já


foi definido em documentos anteriores: Constituipao Sacrosanctum Conci-
lium do Concilio do Vaticano II, InstrucSo Liturgicae Instaurationes de 05/
09/1970 e Instrucáo Eucharistiae Participationem de 27/04/1973. A razao
da insistencia da Santa Sé na regulamentapao minuciosa da S. Liturgia decor-
re do fato de que o culto divino e a fé estao intimamente associados entre si:
Lex orandi lex credendi (rezamos de acordó com aquilo que eremos), já di-
ziam os antigos. Com efeito, a Liturgia é naturalmente urna expressao da fé
do povo de Deus e, ao mesmo tempo, urna escola catequética para os fiéis.
A Liturgia sempre esteve na mira dos doutrinadores heréticos, que déla se
quiseram servir para transmitir doutrinas peculiares desta ou daquela facclo.
Em nossos dias, mesmo quando nao haja heresias declaradas, há tendencias
doutrinárias e pastorais erróneas, que se comunicam através de hinos, cánti
cos e preces nao aprovados pela autoridade eclesiástica competente. Toca
aos pastores da Igreja vigiar para que se guarde fielmente o patrimonio da fé
apregoado por Jesús Cristo; tal tarefa é servigo ao povo de Deus, servico de
importancia capital, pois o Apostólo Sao Paulo considera as heresias como
gangrena a ser radicalmente extirpada <cf. 2Tm 2,17); a Palavra de Deus é
transmisora de Vida, que é necessário preservar de qualquer deteriorado.

Livros em Estante
A Memoria Popular do Éxodo, por M. Schwantes, H.A. Trein. A. F.
Anderson, G. Gorgulho... Colegio "Estudos Bíblicos" n9 16. - Ed. Vozes,
Petrópolis 1988. 160 x 230 mm, 84 pp.

Este volunte pertence a urna serie de comentarios bíblicos que tendo-


nam refer a Biblia "a partir da ótica dos oprimidos" fp. 52). Partem da pre-
missa de que os pobres sao os autores da- Biblia; por isto sao também os
intérpretes qualificados da mesma. Esta premissa confunde o pobre do Anti-

287
48 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 313/1988

go Testamento, que é o cliente de Deus, cheio de fé e amor, com o pobre e


oprimido da luta de classes marxista. Além do qué, deve-se realcarque o Es-
píríto Santo é o Autor principal das Escrituras e, por isto, a Biblia há de ser
lida em consonancia com o Espirito de Deus, que vive na Igreja, e nao
apenas em funcao de categorías sociais (ver Dei Verbum n9 12).

0 livro em foco procura descubrir nos textos do Éxodo a presenca dos


pobres, camponeses, guerreiros como responsáveis pela redacao das páginas
sagradas. Esta preocupacio domina a obra inteira, tornando-a unilateral ou
mesmo deficiente. Chámanos a atencao especialmente o artigo do Pe. José
Comblin ás pp. 76-80 sobre o éxodo na Teología paulina: acaba numa criti
ca á instituicao da Igreja. tidacomo "mediacao"; julga que "mediacao entre
Deus e os homens" é algo próprio do Antigo Testamento; tere sido abolida
por Jesús, mas restaurada pelos cristaos no sáculo III, "usando de novo o
vocabulario do Antigo Testamento, que servia a designá-lo: lei, sacerdotes,
templos, sacrificios, mandamentos, consagracoes, proibicoes. etc. Valoriza-
ram novamente o sistema legalista montado por Moisés... Desapareceu a
compreensao do significado do Espirito" (p. 79). - Ora estes dizeres de
Comblin sao assaz ambiguos, apresentados sem documentacao, ou de manei-
ra superficial; deles se poderia deduzir que o Cristianismo subsistiría muito
bem sem a sua arteria vital que é o sacramento da Igreja, centrada na Euca
ristía. - Quem assim pensasse, estaría construindo outro Cristianismo ou o
seu Cristianismo. - De resto, acao do Espirito e instituicao eclesial nao se
opoem entre si; antes, complementam-se mutuamente, é semelhanca da Di-
vindade e da humanidade em Jesús Cristo. A Igreja visivel é a continuacao
do misterio da Encarnacao...

Crises na Igreja? Reflexoes Bíblicas, por Raymond E. Brown. - Ed.


Loyola, Sao Paulo 1987, 137x208mm, 117 pp.

O autor é sacerdote, professor de Estudos Biblicos no Unión Theolo-


gical Seminary em Nova lorque. Tem-se dedicado ao Ecumenismo, de modo
que faz parte tanto da Comissao "Fé e Ordem" do Conselho Mundial das
Igrejas (protestante) como do Secretariado para a Uniao dos Cristaos (católi
co).

No livro presente. Brown estúda temas discutidos, baseando-se princi


palmente em textos biblicos. Revela erudicao. O que se /he pode objetar, é
o uso excessivo e aerifico do Método da Historia das Formas. Com efeíto;
admite, como á certo, que o Evangelho escrito tem seus antecedentes na pre-
gacao oral dos Apostólos e dos discípulos; julga que, em conseqüéncia, muí-
(Continua na pág. 270)

288
EDIQOES LUMEN CHRISTI

1. RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA (2? ed.l, por Dom


Cirilo Folch Gomes OS.B. (falecido a 2/12/83). Teólogo
conceituado. autor de um tratado completo de Teologia Dog
mática, comentando o Credo do Povo de Deus, promulgado
pelo Papa Paulo VI. Um alentado volume de 700 p.. best seller
de nossas EdicSes, cuja traducáo espanhola está sendo prepara
da pela Universidad» de Valencia Cz$ 1.800,00

2. O MISTERIO OO DEUS VIVO. P. Patfoort O.P. O Autor foi


examinador de D. Cirilo para a conquista da láurea de Doutor
om Teologia no Instituto Pontificio Santo Tomás de Aquino
em Roma. Para Professores e Alunos de Teologia, é um Tratado
de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de índole
didática. 230 p Ci$ 900,00

2a Edicao de:
DIÁLOGO ECUMÉNINO, Temas controvertidos.
Seu Autor, D. Estévao Bettencourt, considera os principáis
pontos da clássica controversia entre Católicos e Protestantes,
procurando mostrar que a discussao no plano teológico perdeu
muito de sua razáo, de ser. pois, nao raro, versa mais sobre
patavras do que sobre conree tos ou proposicoes — 380 páginas.
SUMARIO: 1. O catálogo bíblico: livros canónicos e livros
apócrifos — 2. Somente a Escritura? - 3. Somente a fe? Nao as
obras? — 4. A SS. Trindade. Fórmula paga? — 5. O primado de
Pedro — 6. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento - 7. A Confis-
sao dos pecados. - 8. O Purgatorio - 9. As indulgencias - 10.
Maria, Virgem e MSe -11. Jesús teve irmaos? 12. 0 Culto aos
Santos - 13. E as imagens sagradas? - 14. Alterado o Decálo
go? - 15. Sábado ou Domingo? - 16. 666 IAp.13.18) - 17.
Vocé sabe quando? - 18. Seita e Espirito sectario - 19.
Apéndice geral. — 304 págs Cz$ 1.000,00

LITURGIA E VIDA
Continuadora da REVISTA GREGORIANA, direcao e redacao
de D. Joáto Evangelista Enout OSB. Há 35 anos sai regularmen
te.
O n9 de marco-abril (205) apresenta os seguintes títulos:
Páscoa, celebracSo da Vida - A uncSo do Espirito - O pá"o do
céu e a bebida de salvacáo — O sentido do Sagrado e á linga-
gem simbólica na Luurgia — Gnosticismo rnoderno — Berñanos
e a inútil liberdade — Democracia sob ditadura económica —
Centenario de Berñanos — Esperanca de Civilizacáo — Crónica
de filmes.
Assinatura em 1988: Cz$ 400,00
Direcao: Mosteiro de S. Bento, CP 2666 - Rio - RJ

EMCOMUNHÁO
Revista bimestral, editada pelo Mosteiro de Safo Bento destina
se aos Oblatos e ás pessoas interessadas em assuntos de espiri-
tualidade monástica. Além da conferencia mensal de O. Esté
vao Bettencourt para os Oblatos, contém traducSes de comen
tarios sobre a_regra beneditina e outros assuntos monásticos. —
Assinatura anual em 1988: Cz$ 800.00

Para assinatura diríjase a Armando Rezende Filho


(Caixa Postal 3608 - 20001 Rio de Janeiro - RJ) ou ás
EdicSes "Lumen Christi" (Caixa Postal 2666 - 20001 Rio de
Janeiro — RJ).
Pedidos de números avulsos podem ser feitos ás Edicoes
"Lumen Christi". peloServico de Reembolso Postal.
EDIQOES LUMEN CHRISTI
Rúa Dom Gerardo, 40 - 59 andar - Sala 501
Caixa Postal 2666 - Tel.: (021) 291-7122
20001 - Rio de Janeiro - RJ

LITURGIA PARA O PÓVO DE DEUS

BREVE MANUAL DE LITURGIA

_ Por D. Cario Fiore SDB


4? edlfao e o. Hildebrando P. Mortins OSB

Vocé, leitor, já fez algum estudo sobre a Liturgia? Este livro servirá de
roteiro, para sua iniciacao.

É também útil ás Paróquias, Grupos de reflexao, Seminarios, Novi


ciados, Comunidades e Colegios.
Contém urna parte de doutrina baseada na Constituicao Litúrgica, em
exposicao simples e objetiva, com perguntas para debate, círculos e reflexao
pessoal ou em grupos.
A doutrina se desenvolve em torno do tema central do livro: Ó MIS
TERIO PASCAL, aplicado á vida crista em todas as sua manifestacoes atra-
vés da Eucaristia como Sacrificio e dos demais Sacramentos, em seus respec
tivos ritos. Focaliza especialmente a participacáo dos fiéis na Missa domi
nical.
Dá igualmente urna rápida visáo do Ano Litúrgico e do Of icio Divino;
esclarece e orienta sobre o sentido do altar, da igreja, dos vasos e objetos sa
cros, e do canto na Liturgia. 214 pág. Cz$ 800,00

GRANDE ENCONTRÓ
Como complemento para aplicacáo prática poder-se-á organizar urna
"SEMANA DA MISSA" e outra "SEMANA DOS SACRAMENTOS", já
elaboradas e realizadas em paróquias, colegios, seminarios, noviciados, em
varias oportunidades, com proveito dos participantes.
É o conteúdo do livro "GRANDE ENCONTRÓ", por D. Hildebrando
P. Martins, da Comissao Arquidiocesana de Pastoral Litúrgica do Rio de Ja
neiro.
Cada catequese consta de urna breve leitura bíblica, referente ao tema
a ser desenvolvido, urna si'ntese da doutrina teológica, uma apresentacao au
diovisual representada ao vivo, e finalmente indicapoes práticas para a reno-
vacio litúrgica do grupo. 108 pégs Cz$ 300,00

QUADROS MURAÍS (em cores)


1. ESTRUTURAGERAL DA MISSA

2. O ANO LITÚRGICO

Dois grandes quadros muráis com textos explicativos para aulas, sema
nas de estudo, círculos, seminarios, salas de aula, portas de igreja e saldes pa-
roquiais. Organizados por D. Hildebrando P. Martins. . . Cz$ 300,00 (cada)

S-ar putea să vă placă și