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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTTAQÁO
DA EDipÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. EstevSo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico ■ filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
'ANO XXXV

JULHO

1994

(O SUMARIO
Z
Política e Cristianismo
(O
ni "Sede solidarios com os Santos
ñas suas necessidades" (Rm 12,13)

"Há outro Cristo?" por J.T.C.

Ainda a Ordénapap de muiheres


O
Urna vítima escreve

1
UJ
Católico e Magom?

Dom Alvaro Del Portillo


CD
O Ainda os preservativos

O Novo Catecismo em Inglés


PERGUNTE E RESPONDEREMOS JULHO DE 1994
Publicado mensal N9 386

Diretor-Responsável SUMARIO
Estévao Bettencourt QSB
Autor e Redator de toda a materia
Política e Cristianismo 289
publicada neste periódico
Um olhar de fé:

Diretor-Adm in ist rador: "Sede solidarios com os Santos nas


D. Hildebrando P. Martins OSB suas necessidades" (Rm 12,13) 290
Mais um panfleto:
Administracao e distribuicao: "Há outro Cristo?" por J.T.C 299
Edicoes "Lumen Christi"
Na Inglaterra:
Rúa Qom Gerardo, 40 - 5? andar - sala 501
Aínda a Ordenacao de mulheres 308
Tel.:(021) 291-7122
Fax (021 > 263-5679 Na Bosnia:
Urna vítima escreve 318
Endereco para correspondencia: Recoloca-se a questao:
Ed. "Lumen Christi" Católico e Macom? 323
Caixa Postal 2666
In Memoriam:
Cep 20001:970 - Rio de Janeiro - RJ
Dom Alvaro Del Portillo 328
Impressoo e EnCüdernDi;ao
Candente Díscussao:
Ainda os preservativos 332

O Novo Catecismo em Inglés 335

"MARQUES SARAIVA "


GRÁFICOS £ EDITORES S.A.
Tels.: (021) 273-9498/273-9447

NO PRÓXIMO NUMERO: '


A "Inteligencia" dos Animáis. - O Fundamentalismo. - Mais urna vez os
Preservativos. - Casamento de homossexuais? - Violencia na Televisao -
O Dr. Jérdme Lejeune (In Memoriam).

»' .- * COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


ASSINATURA ANUAL PARA 1994
(12 números 13.00 URV'sy.- nP avulso ou atrasado 1.30 URV'$.

.O pagamento poderá será sua escolha:.


1. Enviar EM CARTA cheque nominal ao Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro cruza
do, anotando no verso: "VÁLIDO SOMENTE PARA DEPÓSITO na coma do favoreci
do e, onde consta "Cód. da Ag. e o N? daX/C", anotar: 0229 - 02011469-5.
2. Depósito no BANCO DO B RASI L, Ag. 0435-9 Rio C/C 0031-304-1 do Mosteiro de S Ben
to do Rio de Janeiro, enviando a seguir xerox da guia de depósito para nosso controle.
3. VALE POSTAL pagável na Ag. Central 52004 - Cep 20001-970 - Rio.
Sendo novo Assinante, é favor enviar carta com nome e endereco legi'veis.
Sendo renovacao, anotar no VP nome e enderego em que está recebendo a Revista.
POLÍTICA E CRISTIANISMO

Os políticos do Brasil estao muito em foco. A razao distó é que nem


sempre vém honrando as suas funcoes. Isto parece desmerecer a política.
Donde a conveniencia de urna reflexSo sobre o assunto. Afinal que é pro-
priamente a política?
Política vem do gnego polis, cidade. Política é o adjetivo que designa
abarte de governar a cidade, promovendo o bem comum; político é o cida-
dao empenhado na construcao material e moral da polis, cidade.
Os gregos estimavam grandemente esta arte, pois tem importancia
capital para populapBes e nacoes inteiras. Daí julgarem que os governantes
da cidade deveriam ser os filósofos ou os sabios; estes, sabendo dominar
seus impulsos e governar dignamente a sua vida, deveriam saber governar
outrossim as cidades. Para o judeu Filao de Alexandria (t44 d.C), o reí é
aquele que rege a si mesmo ou se harmoniza de tal modo que está habilita
do a reger urna nació: "Somonte o sabio é rei. Sendo realmente sabio, é o
guia... sabendo o que é preciso fazer e deixar de fazer" (Migracáo de
-Abraáo 197).

O Cristianismo pode endossar tais afirmacSes, acrescentando-lhes os


trapos decorrentes da perspectiva dé fé. Assumir um cargo político é assu-
mir um servicó, ... servico de amor aos irmaos e renuncia a interesses mes-
quinhos. O Papa Pió XI chegou a dizer a universitarios católicos reunidos
em 18/12/1927:
"O setor da política... é oxampo da mais ampia caridade, da caridade
política; podemos afirmar que nenhuma atividade Ihe é superior a nao ser
a da religiao".

Com efeito; o bom político há de ter amor ao próximo e, em conse-


qüéncia, interessar-se por todos os setores da sociedade carentes e angus
tiados; é para tanto que o elegem seus amigos, depositando nele confianpa.
A sua funcao nao tem outro sentido senao o de servir ao próximo. Por isto
pode o Concilio do Vaticano II dizer:
"Os cristáos idóneos ou os que se possam tornar tais, para exercer a
difícil e, ao mesmo tempo, nobilíssima arte política, preparem-se para ela
e procurem exercé-la esquecidos do proveito próprio e de vantagens mate-
riais ' (Gaudium et Spes n? 75).
• Merecem atencao os adjetivos díficil e nobilíssima; este superlativo
bem exprime o valor das atividades políticas, por mais penosas que sejam.
Estas nao devem ser poluidas por conchavos, aliancas e acordos que visem
a interesses particulares e espurios, com detrimento dos interesses nació-
nais. Os católicos que tenham recebido o carisma correspondente, sao esti
mulados pela Igreja a participar da gestao política, evitando, porém, cora
josamente qualquer desvio de finalidade; trabalhar com máos limpas em
meio a convites espurios é um testemunho que edifica o povo de Deus e a
cidade. O fiel católico há de encontrar na sua fé a motivacSo mais elo-
qüente para servir com dignidade e nobreza!
E.B.

289
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
ANO XXXV - N? 386 - Julho de 1994

Um olhar de fé.

"SEDE SOLIDARIOS COM OS SANTOS


ÑAS SUAS NECESSIDADES"

(Rm 12,13)

Em símese: O drama da ex-lugoslávia fala profundamente ao coracao


de todo homem de bom senso, especia/mente ao do cristao. Do ponto de
vista meramente humano ou racional, pouco há a fazer, se alguém nao tem
poder decisorio sobre a situacio. Todavía aosolhos da fé a tragedia suscita
a necessidade de compartilhar, solidarizarse mediante a oracao e a expia-
cao. Nao ser indiferente á dor alheia, mas pedir ao Pai que a alivie e que
perdoe os pecados cometidos, é o que faz o cristao neste momento. As pá
ginas que se següem, apresentam textos bíblicos e consideracoes de auto
res crístaos reía tivas ao sofrimento é a expiacao.
* * *

"Cristo estará em agonía até o fim dos tempos".

O S. Padre JoSo Paulo II tem citado as palavras ácima, da pena de


Blaise Pascal (+ 1662), ao referir-se ao drama dá ex-lugoslávia; as vftimas
inocentes da guerra sao tantas e tSo maltratadas que o coracao do cristao
se senté dilacerado e só pode encontrar consolo nos valores da fé; é o sen
tido do sofrimento apregoado por Jesús Cristo que esclarece os horizontes
do cristao e Ihe sugere a adequada resposta a tao clamoroso sinal dos nos-
sos tetnpos. É estatemática que vamos abordar no presente artigo, sendo
que, as pp. 318-322 deste fascículo se lera o testemunho de urna Reli
giosa bosnia, vítima da situacao.

1. OS TRACOS DA TRAGEDIA

Entre os muitos documentos que retratam a situacao na ex-lugoslá


via, está urna mensagem de Mons. Vinko Puljic, arcebispo de Serajevo, da
tada de 2/12/93, da qual transcrevemos um dos trechos mais expressivos:
"SEDE SOLIDARIOS COM OS SANTOS..."

"Em Sera/evo cada día vé surgir novos dramas: as pessoas mor-


rem ou sio feridas. Os servios bombardeiam a cidade com mais de
seiscentas pecas de artilharia. Dentre os 300.000 habitantes que fi-
ca'ram em Sera/evo, cerca de 10% sao catóiicos croatas, 15% sao ser
vios e os demais sao mucuImanos. Para todos a situacao é muito pre
caria: alimentacSo, eletricidade, aquecimento e remedios estao em
míngua. Já há dezenove meses que sofremos o bloqueio e talvez os
católicos mais do que os outros, pois a propaganda dos midia exerce
sobre nos pressoes crescentes. A brigada croata que tinhaajudado a
defender a cidade desde o inicio da guerra, foi desarmada pelo exér-
cito bosnio. Os catóiicos vivem em pánico crescente e na incerteza do
futuro. Alguns perdem o emprego; outros sSo expulsos de casa; os
suicidios sao freqüentes e o sofrimento é cada vez menos suportável.
Mesmo em cidades como Vitez, Busovaca, Kiseljac, Novi-Travnik e
Zepce, grande parte dos católicos estao cercados em seus própríos
quarteiroes. O exército bosnio nSo cessa de realizar ataques, além do
que a alimentacSo só chega em exiguas porvoes...

As estradas estao bloqueadas por faccoes armadas de tendencias


diversas. Numerosos comboios sao saqueados. Centenas de refugiados
estao sem abrigo. Em Sera/evo e em muitas outras cidades, as/anelas
foram tapadas com folhas de plástico; também os tetos sao assim
consertados, mas esse material nao resisteao peso da nevé. Neste ano o
invernó veio mais cedo e assistimos a número crescente de falecimen-
tos, pois as pessoas perderam suas defesas naturais por efeito da má
alimentacSo, das privacdes, dos sofrimentos físicos e psíquicos; sSo
mais vulnerareis ás doencas. Os hospitais estSo super/otados, os medi
camentos sao raros e os feriaos sSo prematuramente mandados para
casa...

Para aqueles que nSo puderam impedir esta tragedia, o sofrimen


to de milhares de pessoas do meu país parece pouca coisa. Para mui-
tos católicos, mucuImanos e ortodoxos que sSo inocentes e foram ar-
rastados nesta guerra, a situacao é insustentável. Nos, católicos croa
tas da Bosnia, vemo-nos á margem do aniquilamiento, estando des
truidos mais de dois tercos da nossa diocese...

Pedimos particularmente aos nossos irmaos católicos que nos a/'u-


dem a viver em térras que sao também nossas há treze séculos...

Possam todos os países que vivem em paz ¡amáis conhecer o


horror da guerra1. E que os países, como o meu, em que ela campeia
de modo espantoso, ve/am num próximo futuro chegar urna paz jus
ta."

291
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

Estas palavras dramáticas do arcebispo de Serajevo nao podem deixar


de calar fundo no ánimo dos leitores. Procuremos refletir sobre elas á luz
da Escritura e da Tradicao, que nos sugerem solidariedade e expiacao na
Comunhao dos Santos.

2. SOLIDARIEDADE E EXPIACÁO NA ESCRITURA

*2.1. No Antigo Testamento

1. Partiremos de um episodio fundamental do Antigo Testamento.

Em Ex 32,1-14 lemos que o povo de Israel no deserto fabricou um


bezerro de ouro - falso símbolo da presenca de Javé. O pecado foi grave.
Ao percebé-lo, Moisés pós-se a interceder pela "sua gente, solidario com
Israel:

"Por que, ó Senhor, se acende a tua ira contra o teupovo, que fizeste
sair do Egito com grande poder e mao forte?... A branda o furor da
tua ira e renuncia ao castigo que tencionavas impor ao teu povo.
Lembra-te dos teus servos Abraao, Isaque e Jaco, aos quais juraste
por ti mesmo, dizendo: 'Multiplicarei a vossa descendencia como as
estrelas do céu...' " (Ex 32, 11-13).

Mais adiante lé-se que Moisés tornou a rezar ainda com mais empenho:

"Este povo cometeu um grave pecado ao fabricar um deus de ouro.


Agora, pois, Senhor, se perdoasses o seu pecado... Se nao, risca-me,
peco-te, do livro que escreveste" (Ex 32,31s).

Esta passagem é muito significativa, porque mostra que Moisés, em-


bora estivesse isento de culpa, nao quis dessolidarizar-se do seu povo; nao
poderia salvar-se sem a sua gente, pois identificou o seu destino com o do
povo prevaricador (na verdade sabemos que nem Moisés nem o povo en-
traram ne térra de Canaa).

No Antigo Testamento encontramos outro episodio que incute a soli


dariedade do justo com os pecadores, podendo a justica de uns obter o
perdao para os prevaricadores. Com efeito; tal é o caso de Abraao, que in
tercede por Sodoma, merecedora da punicao divina: o Patriarca aponta os
justos (cinqüenta, quarenta e cinco, quarenta... dez) que eve/itualmente
existam na cidade, e obtém de Deus o perdao para Sodoma, caso realmen
te existam dez justos na cidade; cf. Gn 18,22-32. - Mais urna vez vemos

292
"SEDE SOLIDARIOS COM OS SANTOS..."

que o Senhor quer salvar a uns mediante outros, que pela oracao e a expia-
cáo se tornam tutores de seus irmaos.

Esta conceppao chega ao seu auge na figura do Servo de Javé em


Is 52, 13-53, 12: Ele, inocente, assume sobre si os pecados alheios e aceita
a sentenca da Justipa Divina a fim de merecer a saivacao para os pecadores:

"Todos nos, como ove/has, andávamos errantes... mas o Senhor fez


cair sobre ele a iniqüidade de todos nos... Se ele oferece a sua vida co
mo sacrificio pelo pecado, certamente verá urna descendencia; pro
longará os seus días... O Justo, meu Servo, justificará a muitos e leva
rá sobre si as suas transgressoes" (Is 53,6. JO. 11).

0 Servo de Javé, assim apresentado, esbopa os trapos do Cristo Jesús,


do qual mais explícitamente trataremos sob o subtítulo 2.2.

2. A intercessao dos justos em favor dos pecadores aparece em todo


o Antigo Testamento:

Assim Moisés de novo ora pelo povo que murmurava no deserto inós-
pito, desejando voltar á escravidSo do Egito:

"Se fazes perecer este povo como um só homem, as nacoes que ouvi-
ram falar de tí, Senhor, dirao: 'Javé nao pode fazer este povo entrar
na térra que Ihe havia prometido com juramento e, por isto, o des-
truiu no deserto'. NSo\ Que agora a tua forca, Senhor, se engrandecal
Segundo a tua palavra, Javé é lento para a cólera e cheio de amor; to
lera a falta e a transgressao... Perdoa, pois, a falta destepovo segundo
a grandeza da tua bondade, conforme o tens tratado desde o Egito
até aquí'" (Nm 14,15-19).

Verainda Nm 11,2; 16,22; 21,7; Dt 9,25-27; SI 106,23.

Até mesmo em favor do Faraó Moisés é chamado a interceder:


Ex 8,4; 9,28; 10,17.

Moisés e Samuel sao todos tidos como os grandes intercessores em


favor de Israel: Jr 15,1; SI 99,6; Eclo 45,3.

Em'2 Me 15,12-15 percebe-se algo de novo: mesmo depois de faleci-


do. Jeremías profeta ora em favor do seu povo — o que mostra que já no
Antigo Testamento havia a consciéncia de que a morte nao extingue a co-
munhSo dos santos; os justos continuam solidarios com seus irmaos pere
grinos e oram em favor destes:
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

"Apareceu a Judas Macabeu um homem notável pelos cábelos bran-


eos e pela dignidade, sendo maravilhosa e majestosíssima a superíorída-
de que o circundava. Tomando entao a palavra, disse Onias: 'Este é
o amigo dos seus irmaos, aquele que muito ora pelo povo e pela ci-
dade santa. Jeremías, o profeta de Deus'" (2Mc 15,13s).

2.2. O Cristo Jesús

Moisés, Abraao, Jeremías, o Servidor de Javé sSo figuras do Cristo


Jesús, Sumo Sacerdote e Mediador.

S. Paulo apresenta Cristo sobre o fundo de cena do Antigo Testa


mento:

"Aquele que nao conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa
de nos, a fim de que, por Ele, nos tornássemos Justica de Deus"
(2Cor5,21).

"Deus o fez pecado (hatta't)". Esta palavra tem aqui o sentido de


sacrifício/vítima pelo pecado. 0 Pai tornou Cristo solidario com o géne
ro humano pecador para que nos tornássemos solidarios com o Filho de
Deus, feitos filhos no Fl LHO.

A mesma concepcao volta em Hb 2,14:

"Urna vez que os filhos tém em comum sangue e carne, por isto Ele
participou da mesma condicao. a fim de destruir pela morte o domi
nador da morte, isto é, o diabo, e libertar os que passaram toda a vi-
. da em estado de servidao, pelo temor da morte."

Com outras palavras: Cristo nao ficou distante dos pecadores, mas
inclinou-se sobre a miseria dos homens, feito em tudo semelhante a estes,
exceto no pecado. Por isto Ele pode interceder eficazmente em favor do
povo. É esta urna das grandes teses da epístola aos Hebreus.

A presenca de Cristo entre os pecadores chegava a escandalizar os


justos da época:

Le 15£: "Os fariseus e os escribas murmuravam: 'Este homem rece


be os pecadores e come com e/es'".
Le 7,39: "Dizia entao Simio, o fariseu: 'Se esse homem fosse profe
ta, bem saberia quem é a mulher que o toca, porque é urna peca
dora' ".

294
"SEDE SOLIDARIOS COM OS SANTOS...'

Cristo quis mesmo ser tentado, porque nos o somos e necesitarnos


da vitória de Cristo para vencer nossas tentacBes; cf. Mt 4,1-10; Le 4^1-13.

3. SOLIDARIEDADE E EXPIACÁO NA VIDA CRISTA

O exemplo de Cristo é fundamental para o cristao. Na verdade, nin-


guém vive sozinho a sua própria vida. Abstraindo de razoes sociológicas e
psicológicas, sabemos que, pela comunhao dos santos, somos solidarios
entre nos. Á guisa de vasos comunicantes, comungamos com o destino do
mundo e da Igreja.

Principalmente os enigmas db mal, da violencia e da morte afetam o


cristao e o fazem sofrer. Impelem-no a olhar para Cristo. Jesús também
compartilhou o sofrimento dos homens e sofreu com eles; cf. Me 6,34;
8,12; 9,21-27; Le 22,39-46... Nao quis viver no mundo como um estranho
¡mpassível.

Por isto o cristao aceita as dores desta vida em uniao com Cristo;
procura mesmo espontáneamente configurarse a Cristo Sacerdote e Vf-
tima. Sabe que, desta maneira, "completa em sua carne o que falta á
Paixao de Cristo em favor do Seu Corpo, que é a Igreja" (Cl 1,24). A Pai-
xao de Cristo assume um suporte e urna moldura novos todas as vezes
que um cristao padece unido a Cristo; já nSo é o sofrimento de um mero
ser biológico, mas é um tanto da obra corredentora de Cristo que assím
se exerce. Notemos que, após professar a Comunhao dos Santos, o Credo
afirma a ressurreicSo da carne e a vida eterna.

Estas verdades podem ser ilustradas por urna página do missionário


dominicano, o Pe. de Beaurecueil, no seu livro Hemos Compartido el Pan
y la Sal. Neste relato cronístico, ele se apresenta como o único padre ca
tólico no AfeganistSo, impedido de pregar o Evangelho e reduzido á quase
inercia. Ele se interroga sobre a sua aparente ineficacia e finalmente en-
contra sentido para sua vida na oracao que ele faz pelo povo miserável
que o cerca, povo com o qual ele compartí ¡ha o pao e o sal:

"Assim durante a noite, enquanto o meupovo dorme, descalco


e encolhido no fundo da minha capelinha, eu me fago seu intercessor.
Como AbraSo, como Jaco, como Moisés, como Jesús... Um pequeño
ramo de sándalo exala o seu perfume, símbolo de todos aqueles que
hoje se consumiram na luta rude, no sofrimento e no amor... E fico
na cápela, esmagado por todas as faltas do meu povo, aflito por todos
os seus pesares, carregado de todas as suas esperances... A todos
quantos hoje adormeceram pensando encontrar um juiz, apresento-os

295
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

ao Salvador e os ¡ntroduzo ñas nupcias eternas. A todas as mangas


quehojenasceram, fago-as filhos de Deus. Todas as oragdes que fo-
ram ditas hoje ñas mesquitas e ñas casas, eu as transformo em Pai-
Nosso. Meu coragao nao é senao o crisol no qual, ao fogo do amor de
Cristo, todas as nossas ligas de metal se transformam em ouro.

E através dos meus labios, que eu Ihes empresto, todooAfega-


nistio eleva ao Pai esse Abbá que o Espirito Ihe sopra.

0 caso do pe. de Beaurecueil é ti'pico. Brota do ámago da fé. E é li-


cao para cada cristao posto diante do sofrimento e dos problemas deste
mundo.

Estas reflexoes sugerem ainda algumas ponderacSes sobre o signifi


cado da dor na vida dos homens.

4. O SENTIDO DO SOFRIMENTO

De 12 a 17 de outubro de 1989 reun¡u-se em Roma o 7° Simposio


dos Bispos da Europa. Tinha por tema: "As Novas Atitudes diante do Nas-
cimento e da Morte como Desafios a Evangelizarlo";foram abordadas en-
tao questoes relacionadas com a terapéutica moderna, que proporciona
o parto sem dor, a eliminacao do feto deficiente, a obstinacao terapéuti
ca, a eutanasia... Registrou-se na sociedade contemporánea forte tenden
cia a evitar a dor, independentemente de princfpios de Ética natural ede fé.
A propósito interveio, com grande repercussao na imprensa, Mons. Karl
Lehmann, bispo de Mogúncia e Presidente da Conferencia dos Bispos da
Alemanha; propós urna visáo de fé sobre o sofrimento, que de certo mo
do contrastava com as concepcSes mais freqüentes na sociedade moderna:

"A nossa sociedade'espera que o crescente dominio dosproces-


sos vitáis acarrete a supressSo da dor e do sofrimento... A dor é geraf-
mente considerada na perspectiva da supressSo. Isto vale tanto para
a mulher que dá á luz e quer evitar a dor, como para o moribundo
que se extingue na noite da inconsciencia, tendo afastado todo so-
fnmento...

Ora, a capacidade de sofrer é própria do homem. O sofrimento


proporciona a possibilidade de um derradeiro amadurecimento. E
certo, porém, que ele n§o age automáticamente. Há sofrimentos fí
sicos msuportáveis que podem sufocar qualquer capacidade, de sofrer.
Em certas circunstancias, combatera dor é a condigao necessária para
que o homem a possa assumir...

296
"SEDE SOLIDARIOS COM OS SANTOS..

O ideal de urna vida sem dor nao é mau em si. Ele está presente
em todos os sonhos de urna vida melhor e mais feliz. Mas nao pode
mos amordacar completamente a dor sem tirará vida a necessária an-
siedade interior que a estimula. A cultura dos analgésicos nao redun
da em servico para o homem... A anestesia da vida é um inimigo fun
damental da sociedade humana. Nao só efa nos torna incapazes de
suportar nossos so trimen tos próprios, mas também e/a nos torna
ineptos para perceber e compartilhar os sofrímentos alheios...

0 símbolo dos sofrímentos de cada um e do mundo é a cruz.


Somente quando a carregamos é que nos comportamos como discí
pulos de Jesús Cristo. Nao podemos, sem mais, lancar um véu sobre
estas partes integrantes da vida que sao os reveses, o sofrimento, a
doenca e a morte. Sao o lado avesso da vida. Mas tais sombras nSo
dizem a última palavra. Visto que Jesús Cristo nao permaneceu na
morte, existe urna nova esperanca para todos aqueles que assumem
a sua dor e pedem perdió" (La Documentaron Catholique
19/11/1989, n? 1994, p. 1007).

É valiosa a coragem de Mons. Lehmann de afirmar o valor do sofri


mento nao só no plano da fé, mas também no da formacao humana. Isto
n§o implica rejeitar os progressos da medicina, mas significa preservar a
tempera do hornern, que só se engrandece pela luta e a mobilizacao de
suas energías espirituais. "A cultura dos analgésicos nao redunda em ser-
vico do homem."

Podemos, alias, acrescentar a seguinte observacao: quanto mais per-


feito é um ser, tanto mais sujeito está ao sofrimento. Com efeito: os mi-
nerais nao sofrem em absoluto; já as plantas reagem ás agressoes, restau-
rando-se em muitos casos; os animáis irracionais gemem e choram. 0 ho
mem sofre mais aínda, porque n3o só senté, mas tem ideáis e metas a atin
gir. Dentre os homens, os mais retos e nobres sofrem mais do que os tara
dos. O sofrimento está, pois, ligado á perfeicao e á nobreza de um ser.

Muito importante, no mesmo Simposio, foi também a conferencia


do Cardeal Cario María Martini, de Millo, da qual vai extraído o seguinte
trecho:

"Lembremos que, na maioria das sociedades tradicionais, o ñas-


cimento e a morte sSo acontecimentos sociais, altamente ritualizados,
perfeitamente integrados na vida cotidiana das familias e das comuni
dades humanas. O mesmo se diga do casamento.

Ora, o progresso da medicina, sem que alguém tenha desejado


tal efeito, implicou o exilio do nascimento e principalmente da mor-
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

te para fora do quadro da familia e da vizinhanca por causa das exi


gencias da técnica.

Assim, ¡á que nao é mais costume nascer em casa, como há trin-


ta anos, as pessoas correm o risco de tornarse estranhas aos aconte-
cimentos importantes da sua própria vida: em particular, perdem a
experiencia da morte — o que aumenta a sua angustia nesta perspec
tiva.

Disto se segué a banalizagao da vida cotidiana, que perde algo da


sua seriedade e profundidade. A morte torna-se conhecida principal
mente como um espetáculo ñas telas: ninguém mais aprende como se
comportar diante de um moribundo e como viver o luto.

Muito grande proporcao de pessoas, talvez 70% nos países de


senvolvidos, morrem nos hospitais, se nao na completa solidao, longe
ao menos da familia. Tal morte na solidao é desumana. pois a solida-
riedade faz falta nesse momento crucial da existencia.

Como vemos por este último exemplo, a medicina e seus pro-


gressos técnicos sao apenas um fator do fenómeno observado. A me
dicina como tal nSo explica que se extenué e perca a solidariedade
entre as geracoes: o fator principal está ñas modalidades de vida dos
cidadaos (dispersao dos membros da familia, horarios impeditivos,
etc.) e ñas atitudes dos que tém poder decisorio na política e na eco
nomía: dimensoes das moradias, medidas sanitarias relativas aos ido-
sos, etc.
i

Vemos que se trata de dominar um con/unto de fatores determi


nantes da vida cotidiana. Quando a populacao nao sabe reagir, de ma-
neira criativa, aos riscos da desumanizacao, seguem-se sentimentos de
frustracao, amargura, solidao e angustia" (ib., p. 1015).

A seu modo o Cardeal Martini considera a desumanizacSo (á primeira


vista, atraente) que os progressos da técnica acarretam para a existencia do
homem: o caráter sacral ou o valor de misterio da vida vSo-se apagando em
favor da funcionalidade dos recursos mecánicos que invadem sempre mais
a familia e a sociedade. Verdade é que a rotina de cada dia se torna assim
mais fácil e cómoda, mas é ameapada a tempera viril e magnánima que de-
ve caracterizar toda e qualquer existencia humana.

Ora os ítens 1, 2 e 3 deste artigo focalizavam o outro aspecto do pro


blema: que o cristao saiba considerar de frente o sofrimento e a morte,
sem fugir da perspectiva que Ihes é peculiar, e transforme isso em motivo
de engrandecimento na fé, na solidariedade, na expiacao, em suma... na
configuracao a Cristo!

?98
Mais um panfleto:

'HÁ OUTRO CRISTO?'

por J.T.C.

Em símese: 0 panfleto "Há outro Cristo?" de J.T.C. ataca o Papado


e o ministerio sacerdotal em tom sarcástico e caricatural, sem levar em conta
os textos em que Jesús confere a Pedro as facu/dades de ligar e desligar
(cf. Mt 16,19), de confirmar seus irmaos na fé (cf. Le 22,31s) e deapas-
centar as suas ovelhas (cf. Jo 21,15-17). Também nao leva em conta osdi-
zeres de Jesús relativos á instítuicao da Eucaristía (Mt 26, 26-29; Me 14,
22-25; Le 22,19s; ICor 11,23-29); sao textos que afirmam sera Eucaristía
a oblacao do sacrificio da Cruz (corpó e sangue entregues para a remissSo
dos pecados); nao há, porém, multip/icacao do sacrificio do Calvario (que
foi cabal e oferecido urna vez por todas; cf. Hb 7,23; 9,11-14. 25-28;
10,10-14); há, sim, perpetuacao ou re-apresentacio do sacrificio do Calva
rio, para que os fiéis participem dele na qualidade de oferentes e ofreci
dos, configurados a Cristo-Sacerdote e Cristo-Hostia.
* * *

Está sendo difundido no Brasil um planfleto de urna serie protestante


norte-americana, da qual PR já tratou em PR 364/1994, pp. 210-215 ("O
Biscoito da Morte"). O impresso em pauta tem o título "Há outro Cris
to?"; combate o ministerio sacerdotal católico de maneira injuriosa e sar-
cástica, descendo abaixo do nivel de um auténtico debate religioso.

Embora o opúsculo ná*o contenha serios arrazoados, pode deixar dú-


vidas na mente dos leitores. Eis por que passamos a comentá-lo.

1. O CONTEÜDO DO PANFLETO

O autor, designado como J.T.C, comeca dissertando sobre mentira e


distorpao da verdade, ensinando que tais s3o os procedimentos da Igreja
Católica. Somente a Palavra de Deus consignada na BU)lia merece crédito.1

1 Esta afirmacio, típicamente protestante, sugere a questSo: quem tem au~


toridade para definir o sentido da Palavra de Deus escrita entre 1300 a.C.

299
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

Após estas considerares sobre mentira e embuste, que ocupam qua-


se a metade do panfleto, o autor considera o sacerdocio católico como é
exercido pelo Papa e os presbíteros, especialmente na celebracao da S.
Eucaristía: estariam atribuindo a si títulos e funcoes do próprio Déus ou
de onipoténcia. O autor pretende citar declaracoes dos Papas Inocencio III
(1189-1216), Bonifacio VIII (1294-1303) e Leao XIII (1878-1903), sem
indicar as respectivas fontes e datas (Bula? Encíclica? Escrito Teológi
co?...) - o que torna pouco científico e muito desvaloriza o trabalho de
J.T.C.

Eis alguns espécimens das alegacoes:

"Bonifacio VIII oficialmente dec/arou que, como papa, ele era Deus"
{sem referencia a fonte alguma; ademáis o opúsculo de J. T.C. nao é pagi
nado}.

Inocencio III teña dito que "o papa julga a todos e nSo é /u/gado por
ninguém" {onde o disse? quando o disse?).

Leao XIII: "Ocupamos sobre a térra aposicao de Deus todo-podero


so" (onde está escrito ñas obras de Leao XIII?).

Quanto aos presbíteros, sao censurados porque, mediante a consagra-


cao eucarística, "as ordens do padre, o Rei dos Reís e Senhor dos Exérci-
tos se sujeita a ser engolido por qualquer pessoa a quem o sacerdote o
der". Ou aínda: "Ele que criou os céus e a térra, tem de obedecer aos dese-
jos do sacerdote... e se humilhar, permitindo se tornar um pedaco de pá"o,
a ser manuseado por esse homem-Deus todo-poderoso, o santo padre de
Roma".

0 panfleto termina com um convite ao leitor para que se faca protes


tante, injuriando a S. Igreja como "Mae das Abominacoes".

Vejamos o que pensar a respe i to.

e 100 d.C. em linguagem oriental, com suasparticularidades de expressao?


Os protestantes se dividem, subdividem em centenas e centenas de deno-
minacdes, embora tenham todos a mesma Biblia ou a mesma Palavra de
Deus. Por qué? - Porque cada chefe protestante dá sua interpretado á
Palavra de Deus. Donde se vé que os protestantes nao seguemxsimp1esmen-
te a Palavra de Deus, mas seguem a interpretacSo que o respectivo funda
dor de comunidade quis dar á única Biblia.

300
"HÁOUTRO CRISTO?" 13

2. QUE DIZER?

2.1. O Papa

1. Os protestantes, que dizem conhecer perfeitamente a Biblia e a ter


como única fonte de fé, mostram, na prática, que nao conhecem a Biblia
ou só conhecem os textos que Ihes interessam,... os textos que correspon-
dem ás suas premissas. S3o assim muito habéis na manipulacSo do texto
sagrado.

Com efeito. A propósito do Papa, J.T.C. na*o cita um só dos tres prin
cipáis textos que fundamentam o seu primado: Mt 16,16-19- Le 22 31s-
Jo 21,15-17. ' '

Em Mt 16,16-19 Jesús estabelece Pedro como fundamento visível da


sua Igreja; promete-lhe as chaves do Reino dos céus, e assegura-lhe que tu-
do quanto Pedro ligar (impuser, condenar...) na térra será ligado nos céus,
e quanto desligar (permitir, absolver...) na térra será desligado nos céus!
Isto quer dizer que Pedro recebe faculdades que ultrapassam as de um sim
ples homem; a palavra de Pedro é assistida especialmente pelo Espirito de
Deus, de tal modo que as normas emanadas de Pedro sao confirmadas pelo
próprio Deus. — A palavra e a acao pastoral de Pedro tém valor decisivo,
pois traz as chaves do Reino dos céus. Está claro que tao ampios poderes
só se entendem se Pedro recebe um carisma próprio, para que nSo falhe
nem induza os fiéis em erro sempre que se trate de tomar atitudes decisi
vas para a fé e a Moral do povo de Deus.1

Estas conclusSes permítem dizer, com a Tradicao católica, que Pedro


é o Vigário de Cristo ou faz as vezes de Cristo, porque o Senhor quer agir
através de Pedro. E note-se que as funcoes atribuidas a Pedro nao cessam
com a morte de Pedro, mas passam para os seus sucessores, pois, se Pedro
é a Rocha, o fundamento visivel da Igreja, que deve durar até o fim dos
tempos, o fundamento deverá ser tao duradouro quanto o edificio respec
tivo; haverá sempre um Pedro no pastoreio supremo da Igreja.

1 Estas afirmacoes nao excluem eventuais falhas e pecados pessoais do Pa


pa, que é criatura humana, mas que, como Pastor Supremo da Igreja, goza
de particular assisténcia do próprio Deus para conservar incólume o patri
monio da fé e da Moral cristSs. Nao se entende que Deus tenha deixado a
mensagem do Evangelho ao leu, permitindo que fosse dilacerada e detur-
pada pelo capricho dos homens, sem algum referencia/ apto a distinguir
verdade e erro.
J4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

Le 22,31s: Jesús confia a Pedro a missao de confirmar seus irmaos na


fé, ná*o por causa dos talentos pessoais de Pedro (que, como homem, é su-
jeito á fragílídade humana e chegou a trair o Divino Mestre; cf. Mt 26,
69-75), mas porque Jesús rezou por ele. O cristao nao segué homens "ge-
níais" (pois estes podem ser muito ilusorios), jnas segué Jesús Cristo, que
se serve dos instrumentos que Ele queíra escolher.

Jo 21,15-17: Jesús ressuscitado provoca a tríplice confissao de amor


e fidelidade de Pedro, em troca da qual tres vezes Ihe dá a ordem de apas-
centar o rebanho do Senhor. Jesús cumpre entao a promessa feita a Pedro
emMt 16,16-19.

É muito significativo que J.T.C. n§o faca a mínima alusao a estes tex
tos, embora em seu panfleto cite numerosas passagens bíblicas. Dir-se-ia
que há um preconceito, urna cegueira voluntaria predefinida da parte do
autor, como também do protestantismo em geral. O fato de Pedro exercer
suas func3es pastorais nao é usurpacSo de poderes, mas é o exercício do
mandato que Jesús Ihe confiou. O Senhor Deus quer santificar os homens
mediante os homens, assumindo a realidade mesma dos homens, como na
plenitude dos tempos quis salvar a humanidade assumindo a humanidade
no seio de María Virgem.

2. De modo especial com relacSo a Bonifacio VIII, pode-se dizer que


na Bula Unam Sanctam o Pontífice assim se exprimiu:

"Declaramos e dizemos a toda criatura que ela deve estar sujeita ao


Pontífice Romano; definimos que isto é absolutamente necessárío para a
salvacao" (Denzinger-Sch'ónmetzer, Enquirídio n? 875 (469).

Este texto nao significa que os homens devam estar sujeitos ao Papa
no plano temporal ou profissional, mas quer dizer que a sujeicüo se dá t3o so-
mente no plano dos valores éticos ou ratione peccati, quando entra em jogo o
pecado. Assim a atividade dos homens, enquanto é técnica ou profissional,
nao pode nem deve ser controlada pelo Pontífice Romano; acontece, po-
rém, que toda ativídade humana, além das suas notas específicas, tem ca
racterísticas éticas (é virtuosa ou pecaminosa, é conforme á Lei de Deus
ou nao o é); sob este aspecto ela está sujeita á Moral crista, cujo porta-voz,
sustentado por Cristo, é o Papa. — Esta afirmacSo decorre dos próprios di-
zeres de Jesús a S. Pedro: "Tudo o que ligares (reprovares, censurares...) na
térra será ligado nos céus. Tudo o que desligares (permitires, absolveres...)
na térra, será desligado nos céus" (Mt 16,19). - O Sr. J.T.O. nSo indica,
nem podía indicar, a passagem em que Bonifacio VIII teria declarado ser
Deus.
"HÁ OUTRO CRISTO?" 15

3. Quanto ao principio "A sede primacial porsninguéméjulgada", nao


é originariamente de Inocencio III (t1216), como alega J.T.C. - Foi pela
primeira vez formulado pelo Papa Gelásio I (492-496) no ano de 493. O
fundo de cena desta declaracSo é o seguinte: nos primeiros séculos do Cris-
tiaismo os teólogos tentaram formular de maneira clara e precisa os artigos
de fé relativos á SS. Trindade e á EncamacSo de Deus FilRo em Jesús Cris
to; os Imperadores e magistrados do Imperio bizantino tomaram parte nos
inevitáveis litigios ocorridos entao entre os diversos modos de ver, dos
quais alguns eram francamente heréticos (ou avessos aos dados básicos da
Escritura e da TradicSo); a ingerencia dos Imperadores nem sempre era
movida por conhecimentos teológicos e interesses religiosos, mas devia-se,
em grande parte, a conveniencias políticas. Ora, a fim de por termo aos
males assim oriundos, já um Concilio regional reunido em Sárdica (Sofia,
na Bulgaria de hoje) reconhecera o Bispo de Roma (= o Papa) como supre
ma instancia de apelo ñas mais importantes questoes disciplinares. Mais
tarde, em 378 o Imperador Graciano, por proposta de um Sínodo reunido
em Roma, declarou o Papa Sao Dámaso supremo arbitro de todos os me
tropolitas do Ocidente,... sempre em vista da íntegra conservapao da fé
ameacada por correntes de pensamento heterogéneas.

Fazendo eco a estes antecedentes, o Papa Gelásio I em 493 declarou


que a Sé de Roma tinha direito de julgamento sobre todas as outras sedes
episcopais, ao passo que ela mesma ná*o está sujeita a nenhum juiz huma
no. Em 501 o Sínodo Palmaris, em Roma, definiu que nao se podia arvo-
rar em juiz da Sé de Roma, pois "prima sedes a nemine iudicatur. A pri
meira sé ou cátedra por ninguém é julgada". Este principio entrou no Có
digo de Direito Canónico de 1917 e no atual Código (cf. canon 1404). -
Tal principio decorre do fato de que a Igreja nao é urna república nem
urna monarquía, mas um sacramento; ela é assistida por Cristo e pelo Espi
rito Santo para guardar e transmitir incólume a mensagem da fé eda Mo
ral cristas; a autoridade na Igreja nao é exercida por delegacao do povo de
Deus (como acontece nos regimes republicanos), mas é exercida em nome
de Deus; por isto o Papa nSo está sujeito a algum tribunal humano.

2.2. O Sacerdote e a Eucaristía

O mesmo conceito de sacramento leva a Teología católica a dizer que


o padre exerce seu ministerio litúrgico in persona Christi, ou seja, como
instrumento de Cristo, que é o único Sacerdote da nova Alianca. O Padre é
a m3o estendida de Cristo, de cujo sacerdocio ele participa. Por isto pode
dizer com eficacia: "Eu te absolvo dos teus pecados... Isto é o meu cor-
po... Isto é o meu sangue...". É Cristo quem fala e age pelo seu ministro.
É o que justifica a expressao "Sacerdos alter Christus... O sacerdote é um
outro Cristo", que J.T.C. nao entende.

303
16 "PSRGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

Quanto á faculdade de consagrar a Eucaristía, é-lhe conferida pelo


próprio Cristo. Este na última ceia, após consagrar o pao e o vinho, man-
dou que os Apostólos fizessem a mesma coisa"em memoria (anamnesis) de
Cristo" (cf. Le 22, 19; 1 Cor 11, 23-25). A palavra anamnesis nao significa
urna recordarlo teórica ou meramente psicológica, mas há de ser entendi
da á luz do seu fundo semita; corresponde ao zikarón hebraico, que é um
memorial eficiente; implica recordar e fazer aquilo que corresponde a esse
recordar. Portanto Jesús, na última ceia conferiu aos seus sacerdotes a fa
culdade de consagrar o pao em corpo de Cristo e o vinho em sangue de
Cristo. Este gesto ritual nao significa prepotencia do padre nem obediencia
ou humilhacao do próprio Deus; é, sim, a continuacao do misterio da En-
camacao, pelo qual Deus quer entrar dentro dos elementos e sinais usuais
dos homens para realizar sua obra redentora e santificadora. Tal é a con-
ceppao de sacramento, que procede da Encarnacáo do Verbo e perpassa
toda a mensagem crista. 0 protestantismo perdeu a nocao de sacramento:
reduz a Igreja a urna república (expressao usada pelos reformadores do sé-
culo XVI) ou urna sociedade que vale tao somente pelo valor de seus mem-
bros humanos; e reduz os sacramentos a testemunhos da fé dos homens ou
a gestos meramente simbólicos. Por isto J.T.C. pode dizer com ironía e
ignorancia: "0 sacerdote católico romano é mais do que um deus... Isto é
doutrina católica romana. Negá-la traz a maldipao e condenacao por here-
sia". Como isto é falso:

Se algum místico ou autor de espiritualidade disse que o padre é cria


dor do seu Criador, disse-o em linguagem poética e impropria, que n§o po
de ser tomada ao pé da letra. De mais a mais, a expressao é ilógica ou con-
traditória; nao se sustenta aos olhos da razao.

2.3. A Missa

0 protestantismo tem dificuldade para entender a Missa como perpe-


tuacao do sacrificio do Calvario. Alega que Cristo morreu urna vez por to
das, expiando cabalmente os pecados da humanidade. Por conseguinte,
nao precisa de renovar o seu sacrificio de maneira sacramental, como afir-
mam os católicos.

Ora a doutrina católica reconhece, sem hesitagao, que Cristo se ofere-


ceu urna vez por todas para a remissao dos pecados e já nao morre mais.
Afirma, porém, que o único sacrificio da Cruz é perpetuado ou feito pre
sente (nao multiplicado) sobre os altares para que possam tomar parte
dele os fiéis na qualidade de cooferentes e cooferecidos com Cristo.
Sim; cada cristao batizado participa do sacerdocio de Cristo para oferecer
com Cristo o sacrificio da Cruz e, nessa oferta, incluir o sacrificio ou a

304
"HÁOUTRO CRISTO?" 17

oblacao de si mesmo. Cada qual oferece com Cristo e se oferece com


Cristo.

A fim de comprovar esta doutrina, examinemos o Novo Testamento.

Os textos que vém ao caso, sao principalmente os que referem a ins-


títuicao da Eucaristía: Mt 26,26-29, Me 14,22-25; Le 22,19s; 1Cor 11,23-
29. Comentemo-los.

1. Notemos que, ao dar aos Apostólos o p3o e o vinho consagrados,


Jesús Ihes apresentava o seu corpo entregue (cf. Le 22,19) e o seu sangué der
ramado pela remissao dos pecados (cf. Le 22,20; Me 14,24). Ora, no esti
lo bíblico, as duas expressoes "entregar, dar o corpo (ou a alma)" e "der
ramar o sangue (pelos pecados)" indicam a ¡molacao de um sacrificio pro-
priamente dito. Com efeito, o sentido de "dar o corpo, a alma" deprénde
se de Is 53,12, Mt 20,20; Rm 8,32; Gl 1.4; Ef 5,25; 1Tm 2,6; Tt 2,14,
Hb 10,10. O sentido sacrifical e expiatorio de "derramar o sangue (pelos pe
cados)" depreende-se de Rm 3,25; 5,9; Ef 1,7; Hb 9,7; IPd 1,19; Uo 1,7.

Merece atencao o fato de que na última ceia o Senhor nao ofereceu


apenas o seu Corpo e o seu Sangue aos discípulos como alimento, mas ofe-
receu-os pelos discípulos em favor destes (hyper hymoon) — o que incute
o caráter sacrifical do rito (cf. Le 22,19s).

Mais aínda: ao falar do sangue da nova Alianca na ceia, Jesús aludia


a Ex 24,8, texto em que Moisés apresenta o sangue da antiga Alianca ("Es
te é o sangue da Alianca que Javé pactuou convosco"); Cristo assim ofere-
cia-se como vítima para selar a definitiva Alianca, em lugar da vítima irra
cional cujo sangue selava a primeira Alianca no Sinai; Jesús assim opunha
sangue a sangue, sacrificio a sacrificio, ¡molacao realizada na última ceia
á ¡molacao realizada outrora em Israel. A última ceia aparece como a no
va Páscoa, que, mediante o sangue do verdadeiro Cordeiro imolado pelos
pecados do mundo (cf. Jo 1,29), faz cessar os numerosos e imperfeitos sa
crificios do Antigo Testamento; cf. 1 Cor 5,7; Jr 31,31-33.

Nao seria plausível replicar que na quinta-feira santa Jesús oferecia


"seu corpo e seu sangue ¡molados" como símbolos vazios de conteúdo e
meramente figurativos daquilo que devia acontecer na sexta-feira santa.
Nao, as palavras do Senhor sao simples e claras; Jesús ná*o teria empregado
termos ambiguos e metafóricos em circunstancias tao solenes, provocando
confusSo na mente dos discípulos. Por conseguinte, podemos repeti-lo, so
bre a mesa (que se transformava em altar) Jesús se colocava em estado de
Vítima realizando urna acao sacrifical. Quem aínda concebesse dúvidas so
bre o sentido do texto evangélico, poderia resolvé-las considerando a praxe
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

e o ensinamento das geracoes cristas que, desde os ¡ni'cios da Igreja, toma


ra m as palavras de Cristo no seu significado próprio e natural.

2. Levemos agora em conta que Jesús mandou aos Apostólos que re-
petissem o rito da última ceia,... dessa última ceia á qual Jesús atribuiu o
significado de sacrificio; ver Le 22,19; 1Cor 11,24. Desta ordem concluí-
ram os Apostólos e as geracoes subseqüentes que, todas as vezes que reno-
vavam a Ceia do Senhor (também chamada Eucaristía), realizavam a"obla-
cao de urna Vi'tima (Cristo) ou de um sacrificio. Este, porém, nao podia
nem pode ser a repeticao do sacrificio da Cruz, pois Jesús se imolou urna
vez por todas conforme a epístola aos Hebreus. A epístola aos Hebreus in
culca solenemente a unicidade do sacrificio de Cristo oferecido outrora no
Calvario. Sim, Cristo ai aparece como o Sacerdote Onico (cf. Hb 4,14;
6,20; 7,21.23s), que se oferece como Vítima Única e Perfeita (cf 7 28)
numa oblacáo definitiva (cf. 9, 11-14.25-28; 10,10-14). O Senhor jésus
nao precisa de se oferecer muitas vezes, mas sua oblacao foi feita urna vez
por todas, porque, á diferénca do que se dava com os sacrificios de ani
máis irraciortais do Antigo Testamento, a oferta de Cristo possui valor in
finito, capaz de expiar todos os pecados; passados, presentes e futuros do
género humano; cf. Hb 4,14; 7,27; 9,12.25s.28; 10,12.14. A ceia, por con-
seguinte, nao pode ser senao o ato de "tornar presente" (sem multiplicar)
através dos tempos, e de maneira incruenta (ou sacramental), o único sa
crificio de Cristo oferecido cruentamente no Calvario há vinte séculos.
Concluimos, portanto:

a) na quinta-feira santa Jesús perante os discípulos tornou presente


de modo real, mas incruento, o sacrificio que Ele no dia seguinte devia
realizar cruentamente na Cruz; tornou-o antecipadamente presente;

b) atualmente em cada S. Missa Jesús torna presente de modo real,


mas incruento, esse mesmo e único sacrificio que Ele já realizou cruenta
mente na Cruz.

Justamente este "tornar presente" a todos os tempos, sem implicar


repeticao nem multiplicacao, constituí o "misterio da fé", título dado por
excelencia á S. Eucaristía.

Brevemente o Concilio de Trento (1545-1563) define as relacSes do


rito eucarístico com o sacrificio da Cruz nos seguintes termos:

"Há (em ambos) urna só e mesma Hostia, um mesmo Sacerdqte, que se


óferece agora pelo ministerio dos presbíteros depois de se ter oferecido Ele
mesmo outrora sobre a Cruz; apenas a maneira de oferecer é diferente"

306
"HÁOUTRO CRISTO?" 19

(Denzinger - Schonmetzer, Enquiridio dos Símbolos e Definicoes


n? 1743}. '

Em conseqüéncia, vé-se que é impropria a expressSo: "A Missa renova


o sacrificio da Cruz". Prefira-se a seguinte linguagem:

A Missa torna presente sobre os altares (sem o multiplicar) o único


sacrificio da Cruz. - A Missa, porém, renova e repete a última ceia de
Cristo.

3. Quanto ao ministerio dos presbi'teros de que o Senhor agora se


serve para oferecer o seu sacrificio, na*o implica multiplicacao do sacer
docio. Cristo fica sendo o Único Sacerdote, que santifica os fiéis por meio
dos presbiteros, seus instrumentos; nenhum destes se coloca ao lado de
Cristo; ao contrario, é mediante especial incorporacSo a Cristo que cada
presbítero se torna participante das atribuicdes do Único Sacerdote.

Eis algumas reflexoes que o infeliz panfleto "Há outro Cristo?" nos
sugere. É claro que há um só Cristo e precisamente aquele Cristo que as
Escrituras Sagradas, (idas em todo o seu leque de pronunciamentos nos
apresentam como o Único Mediador, que perpetua sua única oblacao me
diante os seus ministros, a fim de que todo o povo de Deus se possa ofere
cer com Cristo ao Pai.

* * *

EX-MINISTRO COMUNISTA SE TORNA CRISTÁO

Eduardo Shevardnaze, depois de ter sido Ministro do Exterior da Uniáo Soviéti


ca, no tempo de Gorbatchov; depois de, estourada a URSS, tersido aclamado pelo po
vo Presidente da Georgia, sua térra natal, acabou-se convertendo ao Cristianismo e pe-
dindo o Batismo. Sao estas suas palavras textuais: "A historia do Cristianismo narra
conversóos bem mais inesperadas e sensacional do que a minha. É verdade. Fui Chefe
de Organizacoes Atéias. Mesmo naqueles tempos eu tinha muito claro na mente quan
to eram falsas algumas de nossas 'verdades' comunistas. Sempre acreditei na existencia
de um Principio Superior, Divino, e peco-Lhe que acredite em mim, quando digo que,
mesmo naquele tempo, jamáis escondí essas minhas conviccoes. Evidentemente, já es-
tava-me convertendo, pouco a pouco, numa tormentosa luta comigo mesmo, resistin-
do o mais possível ao mal e desojando eliminá-lo em mim e na sociedade em torno de
mim. Renegando o mal producido pelo sistema totalitario, encontrei a razSo espiritual
que me permitiu.primeiro, continuar avivar; depois, trabalharspelo meu país" (OL7/94).
Na Inglaterra;

AÍNDA A ORDENAQÁO DE MULHERES

Em síntese. A resolucao, do Sínodo da Comunhao Anglicana, de or


denar muiheres, ratificada pela rainha da Inglaterra em data recente, vem
causando inquietacao e divisSo entre os própriqs crístaos anglicanos. A
Comunhao Anglicana foi instituida em 1534 por ato do Parlamento
Inglés, que declarou o rei da Inglaterra Chefe da Igreja do Estado fEsta-
blished Church¿- desde entao sempre houve na Gra-Bretanha a High
Church (Alta Igre/a), anglocatólica, voltada para Roma, e a Low Church,
de caráter marcadamente protestante. Esta distincao se faz sentir mai's
aguda em nossos dias por causa da decisao ¡novadora mencionada. Os
anglicanos dissidentes contestam a hierarquia ou a autorídade da Comu
nhao Anglicana e preferem seguir a voz do Papa, que tem a garantía da
assisténcia infalível do Senhor Jesús (cf. Mt 16,16-19; 28,18-20), carisma
que falta ao Parlamento e é rainha da Inglaterra. Entre as conversdes ocor-
ridas nos últimos tempos está a da Duquesa de Kent, casada com um pri
mo da rainha Elisabete II, portanto membro da familia real; a cerímónia
se rea/izou em caráter privado e discreto, mas provocou ca/orfisos comen
tarios na imprensa anglicana. Tais acontecimentos nao ¡mpedem que con
tinué o diálogo entre católicos e anglicanos em nivel teológico.

* * *

Os jomáis tém publicado noticias a respeito da ordenacSo sacerdotal


de muiheres na Comunh§o Anglicana. É notorio o gesto de Bispos.e minis
tros da hierarquia anglicana que pediram a admíssao no Catolicismo, fa-
zendo profissao de fé na Igreja entregue por Jesús a Pedro.

Ñas páginas seguintes procuraremos elucidar os fatos, dos quais já


tratamos ¡nicialmente em PR 371/1993, pp. 171-181.

. 1. COMO SURGIU A COMUNHAO ANGLICANA?

O Cristianismo británico sempre teve suas características próprias,


em parte por causa da sua posicao geográfica (a Inglaterra é urna ilha!-);

308
aínda a ordenacao de mulheres 21

as tendencias a formar urna Igreja nacional foram-se acentuando através


dos sáculos; John Wiclef no século XIV e os humanistas nos séculos XV e
XVI prepararam a via para a aberta revolucao religiosa. Esta se deu real
mente no século XVI: a principio tinha apenas o aspecto de um cisma
sem heresia (cisma devido á ambicao pessoal de um rei, sem que o povo
participasse da revolta); so aos poucos é que as idéias protestantes foram
entrando na comunidade británica.

Consideremos agora a figura de Henrique VIII, rei da Inglaterra de


1909 a 1547.

Henrique VIH, nos primeiros tempos do seu governo, mostrou-se ze-


loso pela fé tradicional. Em 1521, contra a obra de Lutero sobre "O Cati-
veiro babilónico" escreveu urna "Afírmacao dos Sete Sacramentos", que
Ihe valeu do Papa Leáo X o título de "Defensor da Fé". Nao obstante,
havia de ser arrestado por seus afetos.

Em 1509 Henrique esposou Catarina de Aragao, viúva de seu ¡rmao


Artur. Deste casamento teve varios filhos, dos quais um so — Maria Tudor
— ficou em vida. Com o tempo, Henrique apaixonou-se por urna cortesa:
Ana de Boleyn. Por isto procurou dissolver o seu casamento com Cata
rina, alegando que fora nulo, porque os nubentes eram cunhados em pri-
meiro grau. Tal pretexto era falso, porque o Papa Julio 11 dera a Henrique
explícita dispensa para se casar com Catarina; somente após dezoito anos
de vida conjugal, Henrique trazia á tona esse "impedimento": A corte real
favorecía os anseios do rei. A rainha Catarina apelava para a Santa Sé,
pedindo justica. O Papa Clemente Vil resolveu entregar o exame do pro-
cesso a um tribunal de Roma (julho 1529).
«

Em Janeiro de 1531 o Papa proibiu a Henrique novas nupcias enquan-


to a causa estivesse sob julgamento. O rei, vendo que pouca esperanea Ihe
restava, quis obter a dissolucáo do seu casamento da parte da hierarquia
da Inglaterra; Thomas Cromwell, obscuro advogado, que adquirirá influen
cia sobre o rei, aconselhava a Henrique que, a exemplo dos príncipes
alemSes, se separasse de Roma. Em fevereiro de 1531 urna assembléia do
clero, instigada pelo rei, proclamou Henrique "Chefe Supremo da Igreja
da Inglaterra", com a cláusula "na medida em que a Lei de Cristo o per
mite". Em 1532 o rei elevou á sé arquiepiscopal de Cantuária Thomas
Cranmer, que numa viagem á Alemanha tinha entrado em contato com o
luteranismo; Cranmer resolveu declarar nulo o casamento de Henrique
VIII, de modo que este se casou em 1533 com Ana Boleyn. O Papa res-
pondeu excomungando o monarca e finalmente declarando válido o casa
mento com Catarina. O cisma estava ás portas: em novembro de 1534, o
Parlamento inglés votou o "Ato de Supremacía", que proclamava ser o
rei o Único e Supremo Chefe da Igreja na Inglaterra; os súditos que n§o
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

reconhecessem este Ato, seriam punidos com a morte. A grande maioria


do clero submeteu-se, talvez porque acostumada ao conceito de Igreja
Nacional e bastante mundanizada. Resistíram, porém, até a morte varios
leigos e clérigos, dos quais se destacam o leigo Tomás Moro e o bispo
John Fisher. Muitos mosteiros foram fechados, reliquias e ¡magens foram
destru fdas.

Henrique VIII teve por sucessor um filho de dez anos, que Ihe nas-
cera do seu terceiro matrimonio. Este menino, Eduardo VI, teve como
tutores o Duque de Somerset e o de Northumberland, que, juntamente
com o arcebispo Cranmer, muito trabalharam pela introducao da teolo
gía protestante na Inglaterra.

Em 1553 foi promulgada urna Confissao de Fé em 42 artigos, que se


guía principalmente Calvino no tocante á predestinacao e á Eucaristía,
mostrando-se em outros pontos luterana, zvingliana e até católica; com
aigumas modificacSes, aínda é a regra de fé da Comunhao Anglicana
(também dita episcopaliana, porque nao aboliu a hierarquia da Igreja
com seus bispos).

Seguiu-se a raínha María Tudor (1553-1558), que revolveu a situa-


cao. Era católica convicta, e pós-se a trabalhar, apoiada por seu primo, o
Cardeal Reginaldo Pole, Legado Papal, em prol da restauracSo católica.
Em 1554 o Parlamento votou a nova uniao da Inglaterra com a Santa
Sé. Os prelados depostos por Eduardo VI foram restitui'dos ás suas sedes,
enquanto os hereges, vindos do estrangeiro, foram expulsos.

María Tudor morreu prematuramente (1538); pouco depois do seu


desaparecimento extíngue-se a reacao católica na Inglaterra. A sua suces-
sora, a rainha Elisabete I (1558-1603) empenhou-se durante quase cin-
qüenta anos pela ¡mplantacao de teses protestantes do continente na In
glaterra.

É sobre esté paño de fundo que ocorrem os acontecímentos contem


poráneos.

2. A DISSIDÉNCIA DE ANGLICANOS

Sabemos que a 21/11/1992 o Sínodo Geral da Provincia da Inglater


ra resolveu aprovar a ordenacao de muiheres para o presbiterado. Esta re-
solucao foi ratificada pelo Parlamento Inglés em 1993 e assinada pela rai
nha Elisabete II. Aos 22/02/1994 o Smodo Geral da Comunhao Anglica
na inseriu no seu Código de Direito Canónico o texto relativo á ordena-
pao de muiheres.

310
aínda a ordenaqáo de mulheres 23

Isto provocou contestacáo no seio da Comunhao Anglicana, de modo


que centenas de ministros (pastores)1 e alguns bispos angiicanos pediram
admissao na Igreja Católica ou, ao menos, manifestaram o desejo de passar
para o Catolicismo. Somente no dia 24/02/1994 sete bispos e setecentos
e doze ministros subscreveram um documento em que anunciavam a sua
conversao ao Catolicismo. Afirmavam nao estar abandonando a Comu
nhao Anglicana, mas ter sido abandonados por esta.

Os Bispos católicos da Inglaterra reuniram-se para definir o seu modo


de proceder no caso e estipularam normas que foram aprovadas pela
Santa Sé. Eis o que consta:

Os Bispos e ministros angiicanos poderao ser recebidos na Igreja Ca


tólica desde que percorram um período de catequese e discernimento. Ao
fim desse pen'odo emitirlo a profissao de fé católica. Os que quiserem ser
recebidos como clérigos, deverao receber nova ordenacao sacerdotal, visto
que as ordenacoes anglicanas foram por Leao XIII, após delicado estudo
dos fatos e documentos, declaradas inválidas. Poderao, porém, continuar
sua vida conjugal, caso estejam casados. A acolhida desses clérigos angiica
nos será individual, após o exame de caso por caso, e tendo em vista a sua
vontade livre e claramente disposta a se integrar na Igreja Católica como
ela é; nao será criada urna prelazia ou urna diocese própria, com seus
ritos, para esses ex-ministros angiicanos.

Julga-se que a metade dos ministros angiicanos que desejam entrar


na Igreja, estao casados. Em conseqüéncia, haverá um número considerá-
vel de padres casados na Igreja Católica; no Canadá e nos Estados Unidos
já foram anteriormente recebidos na Igreja ministros angiicanos e pastores
protestantes casados, com a permissao de viverem seu casamento. A Santa
Sé nSo pretende encaminhar esses clérigos para dioceses de rito oriental
(onde nSo há a obrigacáo do celibato sacerdotal), mas deseja integrá-los
por completo dentro do clero diocesano ocidental da Igreja Católica. —
Ao mesmo tempo que faz tal concessao aos ministros casados que se con-
vertem, a Igreja declara que isto nao significa questionamento ou revisao
da lei do celibato para os clérigos de rito latino.

Eis por que a Santa Sé pede á hierarquia católica e aos ministros an


giicanos que nao se precipitem, a fim de que o passo da integracao na Igre
ja seja plenamente consciente e deliberado.

Pergunta-se agora:

1 Os pastores anglicanos sao chamados "ministros".


24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

3. POR QUE TIDAS COMO INVALIDAS AS


ORDENAQOES ANGLICANAS?

1. Eis os acontecimentos do século XVI subjacentes á questao:

A rainha Elisabete (1558-1603) quis implantar definitivamente prin


cipios protestantes na Inglaterra. Aos 29/04/1559 o "Ato de Supremacía"
conferia á rainha o título de "Moderadora Suprema da Igreja da Inglater
ra", exigindo de todos os cidadaos juramento de fidelidade á autoridade
religiosa de Elisabete. Os Bispos recusaram-se a prestar tal homenagem,
exceto um so, Kitchen, bispo de Llandaff, o qual, tendo dado resposta
evasiva, conseguiu conservar a sua sé, mas de entao por diante se absteve
de qualquer funcao episcopal; os demais pastores diocesanos foram de-
postos e encarcerados. Assim é que em 1559 ná"o restava na Igreja de Eli
sabete mais nenhum bispo em atividade; era absolutamente necessário
proceder á criacao de nova hierarquia.

Em vista disto, foi escolhido como arcebispo de Cantuária um


antigo capelao da rainha, Mateus Parker, que recebeu a ordenacao epis
copal aos 17 de dezembro de 1559, ás 5 horas da manha na cápela de
Lambeth, segundo um ritual novo, chamado "Ordinal", confeccionado
sob o rei Eduardo VI (1547-1553). O sagrante foi um Bispo deposto, que
se quis prestar a tal oficio: William Barlon, ex-titular da diocese de Bath,
ordenado ainda sob Henrique VIII segundo o Ritual da Igreja Católica.

A ordenacao episcopal de Mateus Parker ficou muito tempo envolvi


da em silencio, nao se sabe por que motivo. Isto deu ocasiao a que alguns
autores negassem a realidade histórica da mesma; outros forjaram a lenda
do "Nag's Head" (cabeca de cávalo). Scory teria "ordenado" Parker, im-
pondo-lhe urna Biblia sobre a cabeca e dizendo-lhe: "Recebe o poder de
pregar a palavra de Deus em sua pureza"; está claro que tal proceder ja
máis poderia ser tido como ordenacao episcopal. Hoje em dia, porém, nao
há historiador que negué a realidade da cerimónia de Lambeth.

De 21 de dezembro de 1559 a 1? de setembro de 1560, o novo arce


bispo de Cantuária, seguindo o rito de Eduardo VI, ordenou treza bispos,
os quais passaram a integrar a hierarquia da Inglaterra. Esta, como se vé,
foi reconstituida, dependente toda de Mateus Parker. O problema, portan-
to, consiste agora em saber se Parker era realmente bispo, capaz de transmi
tir a ordem episcopal á hierarquia anglicana.
i

Nos séc. XVII e XVIII os teólogos católicos (aos quais se associavam


no caso os orientáis ortodoxos cismáticos) se mostraram contrarios a tal

312
AÍNDA A ORDENAgÁO DE MULHERES 25

hipótese; era, por conseguinte, praxe reordenar os ministros anglicanos


que se convertessem ao Catolicismo.

2. No século XIX o chamado "Movimento de Oxford", favorecendo


entre os anglicanos o estudo da Tradicao crista, provocou numerosas con-
versSes á Igreja Católica. Percebia-se que a volta dos irmaos anglicanos a
Roma seria muito facilitada se a Santa Sé um dia julgasse possível reconhe-
cer a validade das ordenacoes anglicanas.

Após a publicacao de livros e artigos de varios teólogos sobre o assun-


to, o Papa Leao XIII resolveu mandar estudar exaustivamente aquestao;
no inicio de 1896, portanto, nomeou para isto urna comissao internacio
nal de teólogos, recrutada entre partidarios e adversarios das ordenacoes
anglicanas. Os arquivos do Vaticano foram postos á disposicao desses es
tudiosos.

A comissao se reuniu em doze sessSes de 24 de margo a 7 de maio de


1896. Após analisar todas as pecas do arquivo "pro" e "contra", e após
comparar entre si as fórmulas de ordenacao dos varios grupos cristaos cis
máticos, a comissao, aos 8 de junho de 1896, apresentou suas conclusSes
a urna junta de Cardeais; estes, após um mes de ponderacao, confirmaram
o resultado do minucioso inquérito, declarando que as ordenacoes anglica
nas deviam ser tidas realmente como nulas.

Diz-se que Leao XIII esperava ardentemente poder dar aos anglicanos
urna resposta agradável... Esperava, se isto nao fosse possfvel, ao menos
abster-se de algum pronunciamento sobre o assunto, a fim de nao melin-
drar os: ánimos. Verificou-se porém, que os estudos previos haviam cha
mado a atencao do público a tal ponto que a observancia do silencio por
parte do Papa seria ambi'gua, capaz mesmo de induzir em erro. Diante
disto, Leao XIII ainda dedicou tres meses á reflexao, após os quais publi-
cou, aos 13 de setembro de 1896, a Bula "Apóstol icae Cu rae".

4. QUAL O CONTEÚDO DESSE DOCUMENTO?

No preámbulo, o Pontífice lembrava a simpatía quesempre devotara


aos movimentos de uniao entre os cristaos; recordava os esforcos que de-,
sempenhara nesse sentido, mediante a carta "aos ingleses que procuram o
Reino de Deus na unidade da fe" (15 de abril de 1895) assim como medi
ante a epístola dirigida ao mundo inteiro sobre as condicSes de unidade
da Igreja. Declarava, a seguir, haver sido movido pelas mais benévolas dis-
posicSes no estudo do assunto que Sua Santidade passava a abordar.

313
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

O S. Padre expunha entao as tres razoes pelas quais se via obrigado


a declarar nulas as ordenacoes anglicanas:

1) A praxe da Igreja: desde o séc. XVI a Santa Sé sempre se recusa


ra a reconhecer a validade do sacerdocio anglicano; ora "consuetudo
óptima legum interpres" (o costume é o melhor intérprete das leis).

2) insuficiencia do rito. Nos sacramentos os elementos essenciais


sao os sinais senst'veis chamados em linguagem teológica "materia" e "for
ma". A materia é algo assaz indeterminado, cujo sentido em cada sacra
mento é explicitado pela forma ou pelas palavras que acompanham o uso
da respectiva materia. Ora na Ordem a materia é a imposicao das maos,
sinal que de maneira geral significa a común ¡cacao de um dom ou de
urna grapa; o "Ordinal" de Eduardo VI (segundo o qual Mateus Parker
foi sagrado) prescrevia, como forma concomitante, as palavras: "Accipe
Spiritum Sanctum" (Recebe o Espirito Santo). Tal fórmula é assaz inde
terminada, ficando longe de indicar qualquer atividade específicamente
sacerdotal; e isto, porque os autores do "Ordinal" trataram propositada-
mente de remover do antigo Ritual todas as palavras que indicavam po
deres sacerdotais e, em particular, o de consagrar a Eucaristía e oferecer
o S. Sacrificio da Missa (poder sacerdotal por excelencia). Tal cancela-
mentó de vocábulos n§o era senao a expressao da tese protestante segun
do a qual a Eucaristía nao é genuína oferta sacrifical, nem é o sacrificio
de Cristo presente sobre o altar.

Verdade é que os anglicanos em 1662 acrescentaram aos vocábulos


"Accipe Spiritum Sanctum" o complemento "ad officium et o'pus presby-
teri" ou "episcopi" (isto é, para o encargo e a atividade de presbítero ou
de bispo). Este acréscimo, porém, se fez tarde demais, quando haviam sido
insuficientes ou inválidas as ordenacoes realizadas durante um sáculo;
além do que, as palavras complementares aínda n§o especificavam os pode
res transmitidos pela imposicao das maos. Donde se depreende, concluía
o Papa Leá"o XIII, a deficiencia do rito ao qual Mateus Parker e em geral a
hierarquia inglesa deviam as suas ordenacoes; estas só podiam ser nulas.

3) Falta de intencao devida. Sabe-se que, para a validade de qualquer


sacramento, se requer, da parte do ministro, a intencao de fazer aquilo que
faz Cristo por meio da sua Igreja, pois é Cristo quem age através dos sacra
mentos. Ora o "Ordinal" de Eduardo VI se deve a retoques infligidos ao
antigo Ritual, justamente para exprimir um designio diferente do da Igre
ja, ou seja, para exprimir a intenc§o de ordenar ministros que nSo consa-
grem a Eucaristía nem oferecam o S. Sacrificio da Missa. Disto se segué
que os anglicanos conceberam a ¡ntencao de fazer coisa diversa da que
faz a Igreja; por conseguinte, ná*o administraran! o sacramento da Ordem.

314
aínda a ordenacáo de mulheres 27

Seguindo a Declaracao de Leao XIII, até hoje a Igreja nao reconhece


as ordenacoes anglicanas. Após Leao XIII, e especialmente nos últimos
decenios, foi publicada copiosa bibliografía sobre a questao; os teólogos
tém posto em foco novos aspectos da mesma, que poderiam fundamentar
urna revisao da temática.

Outro aspecto da problemática existente na Inglaterra contemporá


nea vai abordado sob o título seguinte.

5. A AUTORIDADE NA IGREJA

Numa Carta Pastoral lida em todas as igrejas católicas da Inglaterra


em 02/05/1993, os Bispos Católicos tentaram mostrar que o problema
oriundo na Comunhao Anglicana, em última análise, tem seu cerne mais
profundo na questao da autoridade na Igreja, como, alias, confessaram
varios ministros e fiéis anglicanos; julgam que a decisSo de ordenar mulhe
res nao é da competencia de algum Sínodo da Comunhao Anglicana nem
deveria ser tomada pelos anglicanos independentemente do que pensam
os cristaos católicos e ortodoxos. Nao poucos dos anglicanos desconten
tes reconhecem o valor e a importancia da autoridade do Papa, que goza
da promessa da assisténcia de Cristo e que é fator de unidade doutrinária
entre os fiéis cristaos.

Mais ainda: o fato de que a palavra final ñas resolucoes do Anglica-


nismo toque ao reí ou á rainha da Inglaterra por decreto do Parlamento
Inglés, datado de 1534, torna-se cada vez mais estranho e de aceitacSo
muito difícil; com efeito, tal atribuicSo de poderes ao monarca nao vem
de Cristo nem tem fundamento na TradicSo, mas, ao contrario, contrasta
com quanto se lé no Evangelho (cf. Mt 16,16-19; Le 22,31s; Jo 21,15-17);
é urna inovacSo do século XVI, que quebra a Tradicao do Cristianismo!
Quem reflete hoje sobre tal situacá"o criada no século XVI em virtude da
exaltacSo de ánimos suscitada na Inglaterra do passado, verifica que, em
nossos días, nSo há razSo para sustentar a proclamacao da chefia do reí da
Inglaterra sobre a Igreja; parece nSo ter sentido o fato da Established
Church, Igreja do Estado, submetida á rainha, "Suprema Moderadora
da Igreja".

Na Inglaterra anglicana sempre conviveram duas tendencias: a da


High Church, Alta Igreja, dita "anglocatólica", voltada para Roma e para o
ministerio papal; e a da Low Church, Baixa Igreja,deorientacaomarcada
mente protestante. Esta última, á qual pertence o atual arcebispo de Can-
tuária, Dr. Georges Carey, prevaleceu no último Sínodo da Inglaterra, que
permitiu a ordenacao de mulheres.
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

Alguns fatos complementares tém contribuido para tornar pesado o


ambiente na Inglaterra, como passamos a ver.

6. A CONVERSÁO DA DUQUESA DE KENT

Aos 14/01/1994 foi recebida na Igreja Católica, proveniente do


Anglicanismo, a Duquesa de Kent, esposa do Duque Edward de Kent, pri
mo da rainha Elisabete II e décimo oitavo candidato á sucessao no trono
da Inglaterra. O fato se revestiu de especial importancia, pois se trata de
urna pessoa da familia real, da qual procede a rainha, Chefe da Igreja de
Estado. A cerimónia teve caráter privado e discreto e resultou de urna lon-
ga evolucao interior da Duquesa.

Esta personal¡dade, batizada no Anglicanismo com o nome de Kathe-


rine Arthington Worsléy, esposou em 1961 o Duque de Kent, e com 61
anos de idade se filiou ao Catolicismo. A cerimónia ocorreu na cápela par
ticular do arcebispo de Westminster, Cardeal Georges Basil Hume, em pre-
senca de duas testemunhas, do esposo e dos tres filhos da Duquesa; no
decorrer da Missa entao celebrada, a mesma recebeu o sacramento da Cris
ma e a S. Comunhao. A pesar do caráter reservado do rito, o fato teve am
pia repercussao, pois a Duquesa é figura muito conhecida na sociedade in
glesa e patrona de numerosas obras de beneficencia. As tensoes se agrava-
ram na Inglaterra, visto que circularam e circulam rumores segundo os
quais a princesa Diana, esposa (separada) do herdeiro do trono, e mae de
um eventual futuro rei, está interessada em ingressar na Igreja Católica.

O caso dessa eminente figura convertida nao é singular na Inglaterra.


Desde o século passado, vém-se registrando conversSes de vulto para o
Catolicismo: ■

- assim o futuro Cardeal John Newman (1801-1890) se converteu


em 1845, em.conseqüéncia de estudos feitos na literatura cristS dos pri-
meiros sáculos, que Ihe mostraram a continuidade da Igreja Católica a
partir de Cristo e do Apostólo Pedro;

- em 1903 converteu-se Robert Hugh Benson (1871-1914), filho do


arcebispo de Cantuária, Primaz da Comunhao Anglicana; ordenado presbí
tero, tomou-se o autor do famoso romance: "O Senhor do Mundo", que
trata da vinda do Anticristo;

- em 1917 converteu-se o ministro anglicano Ronald Knox (1888-


1957), que se tornou presbítero católico, e escreveu livros de espíritua-
lidade;

316
AÍNDA A ORDENAgÁO DE MULHERES 29

- em 1922 foi a vez de Gilbert Keith Chesterton (1874-1936), que


se tornou famoso escritor católico;

- em 1930 Evelyn Waugh {1903-1966), escritor;

- em 1927 Graham Greene (1904-1991), escritor.

Essas figuras, conhecidas por seus escritos, vém a ser a ponta de um


iceberg (montanha de gelo) que conta milhares de outras pessoas (homens
e mulheres). Julga-se, alias, que nos últimos anos cerca de vinte mil anglica
nos por ano se tornaram católicos.

7. A REACÁO DA IMPRENSA

A passagem de numerosos anglicanos para o Catolicismo suscitou,


da parte da imprensa, urna celeuma violenta, que já chegou ao fim. Parece
ter revivido a mentalidade dos séculos XVI e XVII, que considerava o Ca
tolicismo subversivo, e acusava os católicos de traicao, crime sujeito á
pena de morte. Leram-se nos jomáis testemunhos que lamentavam a revo-
gacao, em 1829, das leis que proibiam qualquer modalidade de culto cató
lico e condenavam os padres clandestinos ao patíbulo da morte por terem
celebrado urna Missa. Escrevia Ferdinand Mount, diretor do prestigioso
Times Literary Supplement, na revista hebdomadaria Speculator: "Será
possível que um dia teremos de reconhecer que a emancipacao dos católi
cos foi erro da nossa parte?". Varios autores anglicanos se manifestaran!;
pela imprensa, suspeitando haver um compló papista contra a Igreja do
Estado.

A essas invectivas os católicos responderam com prudencia e cornpre-


ensao, procurando acolher os ¡rmaos convertidos, sem ferir a sensibilidade
dos compatriotas anglicanos. Os Bispos católicos tém procurado evitar
qualquer atitude que implique triunfalismo e hostilidade. O semanario
Tablet, o melhor da imprensa católica, respondeu aos ataques num edito
rial digno e respeitoso, que punha fim a urna atitude de silencio e expecta
tiva: dirigiu-se a católicos e anglicanos, lembrando-lhes que, nesta época de
secularismo e hedonismo, aos cristaos tocam tarefas que os p5em ácima de
qualquer polémica, a saber: a recristianizacao da Gra-Bretanha, a recondu-
cSo do país aos principios do Evangelho, ao amor de Deus e do próximo.

A celeuma já passou, cedendo a urna tomada de consciéncia da neces-


sidade de se continuar o diálogo entre católicos e anglicanos; apesar da frar
gorosa decisao unilateral do Si'nodo Anglicano, é preciso que os i rmaos
prossigam o seu trabalho de reaproximacSo e procura de solucSes para os
¡problemas religiosos que Ihes interessam.
Na Bosnia:

UMA VI'TIMA ESCREVE

Em sfntese: Publicamos a carta da Irma Lucy Veturse, que na Bosnia


foi violentada por soldados servios. Manifesta o horror que a maldade dos
agressores e a humilhacao sofrida /he susc¡tam,mas, em meto ás suas do
res f/sicas e moráis, revela a capacidade de perdoar aos adversarios, assim
como a nobreza de assumir o seu futuro quebrantado e incerto com ga-
Ihardia, senso de responsabilidade e amor materno.

* * *

Vai, a seguir, transcrita urna carta da Irma" Lucy Veturse, violentada


pelos milicianos servios na Bosnia. Dirige-se á sua Superiora no dia seguin-
te ao do atentado para expor-lhe os seus sentimentos de tristeza, mas tam-
bém de coragem e de magnanimidade. O texto dá a ver, em termos concre
tos, o drama de muitas mulheres, consagradas pelos votos religiosos ou
nao, na ex-lugoslávia. Ninguém pode assistir insensível á tragedia da guer
ra, mas há de pedir a Deus que ponha termo a tantas desgracas; a solidarie-
dade dos cristaos com seus semelhantes há de se externar, no mfnimo, em
oracSo assídua pela paz e a concordia entre os homens.

Agradecemos ao Pe. Florencio Lecchi S.J., de Teresina (Pl),aremessa


desta carta, traduzida do texto italiano que o jornal La Voce del Popólo
publicou.

I. A CARTA

Revda. Madre Geral,

Eu sou Lucy Veturse, urna das Junioristas que foram violentadas pe-
milicianos servios. Escrevo no dia seguinte ao acontecimento que atin-
Jiu a mim e ás duas Irmas Religiosas: Tatiana e Sendria.

Seja-me permitido ná"o descer a certos particulares do fato. Há expe-


jencias tao tristes na vida que nao podem ser comunicadas para ninguém

318
UMA VITIMA ESCREVE... 31

a nao ser áquele Bom Pastor a quem me consagrei no ano passado com os
tres votos religiosos.

O meu drama nao é a humilhacao padecida, como mulher, nem a


ofensa insanável feita á minha escolha existencial e vocacional, nías é so-
bretudo a dificuldade de inscrever na minha fé um acontecimen'to que cer-
tamente faz parte do insondável e misterioso plano dAquele que eu conti-
nuarei a considerar sempre o meu Divino Esposo.

Tinha lído, poucos dias antes, o "Diálogo das Carmelitas" de Ber-


nanos e me tinha sido espontáneo pedir ao Senhor poder eu mesma morrer
mártir. Ele me tomou na palavra, ... mas de que jeito! Encontro-me atual-
mente numa angustiante noite escura do espirito. Ele destruiu o projeto
de vida que eu considerava definitivo para mim. De improviso me inseriu
num novo designio que neste momento é, paramim,aindaaserdescoberta

No meu caderno de notas tinha escrito, nos anos de minha adolescen


cia, que nada é meu, eu nao pertenco a ninguém, ninguém me pertence.
Alguém, pelo contrario, me apanhou, numa noite que ná"o quería mais lem-
brar, me arrancou de mim mesma, pensando tornar-me algo dele.

Era dia quando acordei; o primeiro pensamento foi mesnio áquele


da agonia de Jesús no horto. Desencadeou-se em mim urna luta terrível:
perguntava-me, de um lado, por que Deus teria permitido que eu fosse
dilacerada e destruida, naquilo mesmo que eu considerava a razSo do meú
viver, e, de outro lado, para qual novo chamado quería Ele que eu mé
candidatasse.

A custo, levantei-me e, enquanto auxiliada por Irma Josefina, procu-


rava-me arrumar, escuteí do Mosteíro das Agostinianas, que se -ituava per-
to do nosso, ó toque do sino de Sexta. Fiz o sinal da Cruz e mentalmente
rezei o hiño da liturgia: "Nesta hora foi-nos dada gloriosa salvacSoi pela
morte do Cordeiro, que na cruz trouxe o perdió... !

O que é. Madre, o meu sofrimento e a ofensa padecida em compara-


c§o a tudo aquilo que sofreu Áquele pelo qual eu tinha mil vézesprometi-
do dar a vida? Disse entáo bem devagar: "Seja feíta a tua vontade, sobretu-
do agora que ná*o tenho outro apoío senao a certeza de que Tu, Senhor,
estás perto de mim".

Escrevo, Madre, nao para receber da senhora conforto, mas para que
me auxilie a agradecer a Deus por me ter associado a milhares de minhas
compatrícias ofendidas na honra e forcadas á maternidade indesejada. Mi
nha humilhacao junta-se á délas e, pois que nSo tenho outra coisa para dfe-
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

recer para a expiacao dos pecados cometidos pelos anónimos violentado


res e para urna pacificapao entre as duas opostas etnias, aceito a desonra
padecida e a entrego á misericordia de Deus.

Nao se surpreenda se eu Ihe peco compartilhar comigo o "obrigado"


que poderia parecer-lhe absurdo. Chorei, nestes meses, todas as minhas lá
grimas pelos meus dois irmaos assassinados pelos mesmos agressores que
estao espalhando terror em nossas cidades e pensava que mais do que isso
nao teria podido sofrer. Nem ¡maginava que a dor pudesse ter bem outras
dimensoes...

Á porta do nosso convento batiam cada dia centenas de criaturas fa-


mintas, tiritando de frió, com o desespero nos olhos. Lembro que na sema
na anterior urna mopa de dezoito anos me tinha assim talado: "Felizes
voces, que escolheram um lugar onde a maldade nao pode entrar". Tinha
em maos o livro "As alegrías do Profeta" e continuou em voz baíxa:
"Voces nao vao mais experimentar o que é desonra".

Refleti demoradamente naquelas palavras e me convencí de que havia


urna parte secreta da dor e do sofrimentó de minha gente que ficava des-
percebida também a mím, e quase sentía um sentimento de pudor por ser
exclui'da de sua participacao.

Agora eu sou urna entre elas, urna das tantas anónimas mulheres do
meu povo com o corpo destruido e a alma devastada. Nosso Senhor me
admitíu a participar de seu misterio de vergonha; mais ainda a^mirn, Reli
giosa e freirá, concedeu o privilegio de compreender até o fundo a forca
diabólica do mal.

_ Se¡ que, de agora em diante, as palavras de encorajamento e de conso-


lacao que conseguir extrair do meu pobre coracao, serSo com certeza acei
tas, porque a minha historia é a historia délas e a minha resignacáo, sus
tentada pela fé, poderá servir, se n3o de exemplo, pelo menos de referen-
cial para suas reacdes moráis e afetivas.

É bastante um sinal, urna pequeña voz, um chamariz fraternal para


colocar em movimentacao a esperanca de um exércíto de criaturas desco-
nhecidas. Deus escolheu a mim (Deus me perdoe esta presuncao) para
guiar as pessoas mais humilhadas da minha gente para um alvorecer de re-
dencao e de liberdade. Nao terao mais dúvidas sobre a sinceridade de mi
nhas propostas, porque estou chegando da fronteira da abjecao.
i

Lembro que, quando freqüentava em Roma a Universidade "Auxi-


lium" para a formatura em Letras, urna idosa docente de Literatura Eslava

320
UMA VITIMA ESCREVE... 33

cítava os seguintes versos do poeta Alexei M¡slov¡ch:"Tu n§o deves morrer


porque tu escolheste ficar do lado do día". Na noite em que fui dilacera
da pelos servios, por horas seguidas continuava a repetir para mim mesma
aquetas palavras que me pareciam como um bálsamo para a alma, mesmo
no momento em que o desespero parecía aflorar para me apanhar. Agora
tudo passou e, se me volto para tras, tenho a impressSo de ter tido um ter-
n'vel sonho feio.

Tudo passou, mas, Madre, tudo está para comecar. No seu telefone
ma, depoís de suas palavras de conforto, de que ficarei agradecida por-toda
a minha vida, a senhora me colocou urna clara pergunta: "Que farás da
vida que te foi jogada no seio?". Percebi que sua voz tremía ao me colocar
esta interrogapSo, á qual achei pouco oportuno responder logo, nao por
que nao tivesse já refletido sobre a escolha, a decisao a ser tomada, mas
para nao atrapalhar as eventuais propostas e projetos seus a meu respeito.

Eu já decidí. Se for m§e, o menino será meu e de ninguém mais. Sei


que poderia confíá-lo a outras pessoas, mas ele tem direito, mesmo nao
sendo esperado por mim, nem pedido, ao meu amor de mae.

Nao se pode arrancar urna planta de suas rai'zes. O grao caído no


chao precisa de crescer !á onde o misterioso semeador, mesmo sendo iní-
quo, o jogou. Realizarei minha vocacSo religiosa, mas de outra maneira.
Nao peco nada á minha Congregacao, que já me deu tudo. Fico agradecida
pela solidariedade fraternal das coirmas, que nestes dias me encheram de
atencSes e amabilidades, em particular por nao me ter incomodado com
perguntas indiscretas. Irei embora com meu filho, se Deusquiser. Nao sei
aínda aonde, mas Deus, que interrompeu improvisamente minha maior ale
gría, me orientará e indicará o caminho a percorrer para cumprir sua von-
tade.

Voltarei a ser urna moca pobre, retomarei meu velho avental, meus
tamancos, que as mulheres usam nos dias de semana, e ¡reí com minha mae
a recolher a resina da casca dos pinheiros dos nossos vastos bosques.

Deve mesmo haver alguém que comece a quebrar a corrente de odio


que deturpa, há tanto tempo, os nossos países. Ao filho que vier (se Deus
quer que venha) ensinarei mesmo somente o AMOR. Ele, nascido pela
violencia, testemunhará, perto de mim, que a única grandeza que honra a
pessoa humana, é aquela do PERDÁO.

Ir. Lucy VETURSE

321
3£ "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

II. COMENTANDO...

Quem lé a carta da Irma Lucy, tem a ¡mpressao de que está diante de


alguém cujo ideal de vida desmoronou, aínda na flor dos anos. A Irma ha-
via feito seus primeiros votos religiosos no ano anterior ao atentado e, com
grande entusiasmóle dispunha a viver toda a sua vida na entrega de si ao
Senhor.

Isto desperta, na Religiosa, urna atitude de perplexidade: o seu futuro


se torna urna interrogacao por maldade dos homens. Todavía a lrm§ nao
manifesta odio; ela se lembra de que, em seu amor, havia pedido ao Se
nhor a graca do martirio; o Senhor levou a serio o seu desejo e Ihe deu a
ocasiao de sofrer profundamente para se configurar a Cristo despojado e
humilhado pelos homens, mas Salvador do mundo pela própria Paixao e
ñessurreicao; a Irma oferece a sua ¡mensa dor pela expiacao dos pecados
de seus adversarios e do mundo. Assim reage ela contra a prostracao que o
golpe violento Ihe poderia infligir;, o mal que ela padece, é assumido com
generosidade e com santa compaixao em prol dos seus malfeitores.

0 filho que ela pode estar trazendo em seu seio, ela nao o quer ma
tar, nem tenciona entregá-lo a maé adotiva. Julga que a enanca tem o di-
reito de ser educada pela sua genitora e, por isto, está disposta a enfrentar
o futuro desconhecido e talvez ingrato, para nao sacrificar seu filho. Desta
maneira exprime coragem e nobreza de caráter. Já que a Providencia Divi
na Ihe abre um horizonte que ela nao imaginava, mobiliza suas energías
para servir a Deus plenamente pela via da maternidade.

Digno exemplo de fé, amor e responsabílidade, que fala com elo-


qüéncia e aviva a consciéncia de que, mesmo em meio aos mais atrozes so-
frimentos, pode haver a honra e a nobreza que a fé crista suscita. Mesmo
dentro de um currículo de vida violado e quebrantado pelos malfeitores,
existe urna personalidade forte e bela em idade juvenil. O que faz a grande
za de alguém, sao os seus predicados éticos.

*'* *

Maria, Espelho para a Igreja, por Raniero Cantalamessa. — Ed. Santua


rio, Rúa Pe. Claro Monteiro 342, 12570-000 Aparecida (SP), 140x210mm,
207 pp.

O autor é famoso teólogo italiano, que disserta sobre a Virgem Maria,


comentando as passagens do Evangelho que Ihe possam dizer respeito. O
leitor encontrará nessas páginas maisdo que refíexdes piedosas sobre Maria
SS., pois ai' se encontram elementos de Eclesiologia e espiritua/idade que
valonzam grandemente o estudo. Obra de importancia para estruturar urna
auténtica devocao mañana.

322
Recoloca-se a questáo: |p- ti.fl (?$#<}; --

CATÓLICO E MAQOM?

Em sfntese: A Maconaria atrai mu¡tos homens nao tanto por sua


mensagem doutrínária quanto pela perspectiva de ajuda e promocao que
e/a oferece aos^seus membros. Todavía a fi/iacao á Maconaria é considera
da pela Igreja Católica pecado grave, pois as concepcoes de Deus e religiao,
assim como o processo de iniciacao secreta imposto aos novos membros
contrariam as nocoes do Cristianismo relativas a Deus e aos sacramentos.
- Últimamente a Grande Loja Unida da Inglaterra declarou nao se opor á
Religiao nem ter sacramentos e dogmas. É de notar, porém, que a Grande
Loja Unida da Inglaterra nao representa a Maconaria toda; até hoje as Lo-
jas Macónicas sao, todas, sociedades secretas, que tém seu rito de iniciacao
e suas "surpresas" para quem a elas se filia, "surpresas" que podem con
futar com os principios fundamentáis do candidato. Ademáis quem procu
ra a Maconaria somente por causa das vantagens profíssionais que daf po
dem provir, nao será nem auténtico macom, nem auténtico cató/ico — o
que nao pode deixar de doersa quem tenha honra e brío.

* * *

A questáo das relacdes entre Catolicismo e Maconaria se poe freqüen-


temente, visto que mu ¡tos católicos sao convidados a entrar na Maconaria,
onde julgam que desfrutarlo de beneficios no plano económico e profis-
sional, sem prejuCzo para a sua fé.

A questao parece assumir, em nossos dias, novos aspectos. Eis por


que a consideramos mais urna vez em PR, já a tendo abordado em PR
171/1974, pp. 104-125; 179/1974, pp. 415-426; 254/1981, pp. 78-96;
258/1981, pp. 305-313; 259/1981, pp. 399-406; 291/1986, pp. 347-356;
369/1993, pp. 59-80; 373/1993, pp. 275-282.

1. A POSIQÁO OFICIAL DA IGREJA

O último pronunciamento da Santa Sé a respeito da Maconaria data


de 26/11/1983, por ocasiao da promulgacSo do atual Código de Direito
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

Canónico. A Congregacao para a Doutrina da Fé emitiu entao a seguinte


Declaracao:

"Tem-se perguntado se mudou o parecer da Igreja a respeito da Ma-


conaria pelo fato de que, no novo Código de Direito Canónico, ela nao
vem expressamente mencionada como no Código anterior.

Esta Sagrada Congregacao quer responder que tal circunstancia é


devida a um criterio redacional, seguido também quanto ás outras associa
coes igualmente nao mencionadas, urna vez que estao compreendidas
em categorías mais ampias.

, Permanece, portanto, imutável o parecer negativo da Igreja a respei


to das associacoes macónicas, pois os seus principios foram sempre consi
derados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e, por isto, permanece
proibida a inscricáo nelas.Os fiéis que pertencem ás associacoes macónicas,
estaó em estado de pecado grave, e nao podem aproximar-se da Sagrada
Comunhao.

Nao compete ás autoridades eclesiásticas locáis pronunciar-se sobre a


natureza das associacoes magónicas com um jufzo que implique derroga-
cao de quanto foi ácima estabelecido, e isto segundo a mente da Declara-
gao desta Sagrada Congregacao, de 17 de fevereiro de 1981 (cf. AAS 73
1981,pp.240s).

O Sumo Pontífice Joao Paulo II, durante a audiencia concedida ao


subscrito Cardeal Prefeito, aprovou a presente Declaracáo, definida em
reuniáo ordinaria desta Sagrada Congregacáo, e ordenou a sua publicacao.

Roma, da Sede da Sagrada Congregacáo para a Doutrina da Fé, 26


de novembro de 1983.

Joseph Card. RATZINGER


Prefeito

t Fr. Jéróme HAMER O.P.


Secretario"

As razoes da incompatibilidade entre Maconaria e Catolicismo pro-


fessada na Declaracáo ácima sao, entre outras:

A Maconaria bifurca-se em Maconaria Regulare Maconaria Irregular.


Esta última rejeita o apelativo e o concertó de Grande Arquiteto do Uni-

324
CATÓLICO EMAQOM? 37

verso e se tem mostrado abertamente contraria á Igreja Católica, promo-


vendo campanhas contrarias á escola particular, á assisténcia religiosa nos
hospitais públicos, nos quarteis, nos educandários... Além disto, é a res-
ponsável pela "Questao Religiosa" no Brasil (1871-1875), litigio entre o
Governo e a Igreja, que redundou* na prisao de dois Bispos contrarios á
Magonaria: Dom Frei Vital Maria Goncalves de Oliveira, de Olinda-Recife,
e D. Antonio de Macedo Costa, de Belém do Para. Na Amérjca Latina a'
Maconaria Irregular exerceu forte acao anticlerical; tenha-se em vista o
México (ver PR 336/1990, pp. 238s>. É dita "Irregular" precisamente por
que se afasta dos princi'pios tradicionais da Maconaria como os concebeu
o seu primeiro legislador, o pastor presbiteriano James Anderson em 1723.

A Maconaria Regular professa a concepcao de Deus dita "deísta", ou


seja, a que a razio natural pode atingir; admite "a religiao na qual todos os
homens estao de acordó, deixando a cada qual as suas opinioes particu
lares". Esta nocSo de Deus e de Religiáo é vaga e nao condiz com o pensa-
rnento cristao, que reconhece Jesús Cristo e as grandes verdades por Ele
reveladas.

Além disto, tanto a Maconaria Regular como a Irregular tém seu pro-
cesso de iniciagao secreta. Propoem o aperfeipoamento ético do homem
através da revelacao de doutrinas reservadas a poucos e recebidas dos
"grandes iniciados" do passado — entre os quais alguns macons colocam o
próprio Jesús Cristo. Celebram também ritos de índole secreta ou esoté
rica, que vao sendo manifestados e aplicados aos membros novatos á me
dida que progridem nos graus de iniciacao. — Ora um tal processo de for-
macao contrasta com o que o Cristianismo professa: este nao conhece
verdades nem ritos reservados a poucos; nada tem de oculto ou esotérico.

Há, porém, algo de relativamente novo no horizonte, algo que parece


mudar a situacao.

2. A GRANDE LOJA UNIDA DA INGLATERRA

Em 1985 a Grande Loja Unida da Inglaterra, que é considerada a


Máe ou Matriz de todas as Lojas Macón ¡cas, declarou que "a Magonaria
nao é urna relig¡3o,.nem um substitutivo de religiao", que "é aberta aos
homens de todos os Credos", que "n3o existe um deus macónico", mas "o
macom pode observar os compromissos assumidos em relacá*o a Deus co
mo entendido na religiao que ele professa", que "a Maconaria nao tem
dogmas nem teologías", "nSo oferece sacramentos", "ná*o procura a salva-
cao através de obras, verdades secretas ou outros meios" e, por fim, que
"a Magonaria nao é indiferente á Religiao, e os seus ensinamentos moráis
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

sao aceitáveis a todas as Religioes" (ver G. Di Bernardo, Filosofía della


Massoneria, artigo Massoneria e Religione, pp. 77-79).

Estas afirma?oes sao importantes e ¡novadoras em relacao ao passado


da Maconaria. Todavía merecem algumas observacoes:

1) A primeira refere-se á origem dessa declaracao encontrada na obra


de G. Di Bernardo; é opiniao do autor ou corresponde á orientacao oficial
e recente da Maconaria da Inglaterra? Se é orientacao oficial, convém que
a Maconaria no mundo inteiro o diga publicamente e demonstre de manei-
ra concreta que ela nao tem sacramentos nem constrangea liberdade reli
giosa de seus membros.

. 2) A Maconaria inglesa, da qual faz parte a Grande Loja Unida da


Inglaterra, é geralmente regular; conserva principios tradicionais que
respeitam a Religiao. Podeterassumido urna orientacao liberal. Todavía
pode-se crer que também a Maconaria a Irregular, que se distanciou da Re
gular em meados do sáculo XIX, tenha também assumido principios mais
condizentes com a Religiao e seus requisitos?

3) Até hoje o processo de iniciacao, com a revelacao de sentencas e


ritos á élite macónica, é vigente no Brasil. A Maconaria, em qualquer de
seus ramos e Lojas, continua sendo urna sociedade secreta; ela sempre o
foi, de modo que se descaracterizaria se deixasse de ser secreta ou de pra-
ticar graus de iniciacao reservados a urna élite. Essas etapas d,e ¡niciacao
fazem da Maconaria urna especie de religiao, que se assemelha ao gnosti
cismo (estima da gnose ou do conhecimento superior) e ao esoterismo.

Eis por que continua a haver incompatibilidade entre Maconaria e


Catolicismo. Pode ocorrer que a Magonaria, no futuro, se torne menos
radical e severa. Por ora permanece em vigor a Declaracao da Congrega-
cao para a Doutrina da Fé segundo a qual é ilícito a um católico filiar
se á Magonaria; isto Ihe acarreta a privacao dos sacramentos, pois redun
da em pecado grave.

Eis, porém, que alguém dirá que se filia á Maconaria únicamente em


vista de ajuda profissional e económica, sem a ¡ntencao de absorver os con-
ceitos típicos das Lojas Macónicas. A esse católico seria preciso lembrar
que nao seria nem auténtico macom nem auténtico católico: nao autén
tico macom, porque oportunista e desf rutador nSosplenamente integrado
na Magonaria; ná"o auténtico católico, porque viveria em situagap irregu
lar perante a Igreja e o Senhor Deus, violando urna norma eclesiástica fun
damentada em serias pesquisas e experiencias. Ora a falta de autenticidade

326
CATÓLICO E MACOM? 39

e coeréncia é algo que nao sonriente empalidece o nome de alguém, mas faz
sofrer a quem tenha honra e brío.

Ademáis, quem se filia a uma sociedade secreta, ná*o pode prever o


que Ihe acontecerá, o que se Ihe pedirá ou imporá; nao sabe se Ihe será fá
cil guardar sua liberdade de opcoes pessoais. Embora tencione manter fi-
delidade a seus principios íntimos, pode-se ver em encruzilhadas constran-
gedoras. A fim de ilustrar esta afirmacao, seja mencionado o seguinte tó
pico:

No Ritual de Iniciac'áo do 13? grau do Rito Escocés Antigo e aceito,


o Grao-Mestre lembra aos candidatos:

"Quando fostes iniciados na nossa Ordem, manifestastes a idéia de


Deus segundo o vosso criterio e em harmonía com as vossas crencas religio
sas. Ainda que aprovemos vossa maneira de pensar sobre este importante
assunto, dese/'amos que ampliéis aquetas prime/ras opinioes sobre a exis
tencia de Deus e queremos perguntar-vos se houve alguma mudanca com
relacao ao que entao dissestes, como conseqüéncia dos estudos macónicos
ou dos difames de vossa consciéncia. Os macons nao podem fomentar a
existencia de Deus segundo o conceito comum das religioes positivas, já
que neste caso feriamos que mostrar-nos partidarios de uma ou outra cren-
ca religiosa, e bem sabéis que isto sería contrario ao principio da máxima
liberdade consignado em nossos estatutos".

Na verdade, o Grande Arquiteto do Universo, para aqueles que o pro-


fessam, é uní
i^aaaiu, c um ubu9
Deus "deísta",
uci9ia , vago,
vayir indefinido, impessoal, uma "forca cons-
trutora,
ora. ordenadora e evolutiva".

É para desejar que a decíaracao atribuida á Grande Loja Unida da In


glaterra signifique abertura crescente da Maconaria ao Cristianismo, que
está no be reo da primeira Loja Macón ¡ca fundada na Inglaterra em 1723.

* * *

Matrimonio, Amor e Vida, por Gino Rocca. Ed. Cidade Nova, Rúa
Ce/. Paulino Carlos 29, 04006-040 Sao Paulo (SP), 130x21Omm, 160 pp.
Eis um valioso compendio de Moral conjugal, redigido segundo a
doutrína da Igreja e estruturado sob forma de perguntas e respostas. Abor
da a indissolubilidade do matrimonio, a procriacao responsável, estérili-
zacao e aborto, fecundacao artificial e concepcao em proveta. Muito se
recomenda tal obra.
In Memoriam:

DOM ALVARO DEL PORTILLO

Apresentamos o artigo da Prof? Maria Helena Nery Garcez, Livre Do


cente de Literatura Portuguesa na Universidade de Sao Paulo (USP), sobre
D. Alvaro del Portillo, recém-falecido Prelado (ou Superior Geral) do
Opus Dei.

O Opus Dei é urna sociedade católica que reúne fiéis de ambos os se


xos, entregando-lhes um programa de vida espiritual e recordando-lhes que
sao todos chamados á santidade; desta maneira forma cristaos de todos os
meios sociais na prática da oracao e no cumprimento de seus deveres de
familia e de profissao, ao mesmo tempo que Inés confia o interesse apostó
lico em prol da santificacao do mundo. Ver a propósito urna longaexpla-
nacao do que seja o Opus Dei em PR 264/1982, pp. 345-361 e PR 267/
1983, pp. 167-171. Sobre Mons. Escrivá de Balaguer, fundador do Opus
Dei, ver PR 359/1992, pp. 156-165.

Agradecemos á Prof? Maria Helena Nery Garcez a sua,va I i osa colabo-


racao e fazemos votos para que o Opus Dei continué a desenvolver a nobre
missao que o Senhor Deus Ihe outorgou na sua S. Igreja para a santificacao
do mundo.

* * *

Aos 23 de marco de 1994, ocorreu o falecimento de D. Alvaro del


Portillo, Prelado do Opus Dei. Faleceu repentinamente, no dia seguinte ao
de sua chegada de urna peregrinacao e viagem apostólica á Térra Santa. Era
sua primeira visita a Jerusalém e aos lugares onde decorreu a vida de Jesús
e posso imaginar o quanto tal experiencia deve ter comovido "o Padre"
(era assim que o chamávamos, nos os fiéis da Prelazia). Os fiéis da Prelazia
e todos quantos dele se aproximavam, sentiam o influxo de seu grande co-
racao. O Padre deixou-nos; sua última Missa foi celebrada no Cenáculo de
Jerusalém, precisamente no local em que Jesús instituiu a Eucaristía e,
com seus discípulos, comeu a última Páscoa. No local onde diz o Evange-
Iho de Sao Joao que, "antes da festa da Páscoa, Jesús, sabendo que chegara
a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus, que esta-

328
D. ALVARO DEL PORTIl LO 41

vam no mundo, até o fim os amou" (Jo 13,1). Algo de muito parecido
aconteceu ao Padre, é o que me ponho a pensar. Também ele amava a seus
filhos do Opus Dei que estío no mundo, amava os Cooperadores da Obra,
amava os que, de algum modo, nos amavam e, como seu coracao era muito
grande, amava também os que nao nos amavam. Pensó que ali, no Cenácu
lo, sua identificacao com Cristo chegou a um ponto culminante; também
ele teve presentes e amou até o fim a todos que estavam no mundo, pois é
a todos que a Obra está dirigida, e lá, também, foi até o fim nesse amor.
Ponho-me a pensar, sem triunfalismo, mas apoiada na extrema benignida-
de que irradiava de toda sua figura, que, dos lugares santos onde Jesús
Cristo viveu, passou ao "lugar santo" onde Jesús agora está e já nao olha
apenas para os lugares onde Ele esteve, mas olha-0 diretamente, face a
face.

O Padre foi-se, e bem poderíamos atribuir-lhe outra palavra de Jesús:


"Consummatum est", "Tudo está consumado" (Jo 19,30). Sim, porque o
Padre poderia dizer isso de toda sua vida. Desde o dia 7 de julho de 1935,
quando aos vinte e um anos, recebeu a vocacao ao Opus Dei, até o dia 23
de marco de 1994, sua vida resumiu-se em fazera Obra, cumprira missao
que Deus Ihe tinha encomendado. E sempre com serenidade, sempre com
um sorriso.

Pensó no encontró do jovem Alvaro del Portillo com o Fundador do


Opus Dei, o Bem-aventurado Josemaria Escrivá, no sétimo ano da funda-
pao da Obra. O Bem-aventurado recebera urna iiuminacao especial de Deus
no dia 2 de outubro de 1928, festa dos Santos Anjos da Guarda, e vira o
que o Senhor esperava dele: levasse a mensagem da chamada universal á
santif¡cacao a este mundo, e movesse as almas dos fiéis á descoberta de
que deviam ser "santos de altar". Tratava-se de revolver o mundo, de cha
mar a todos, homens e mulheres, jovens e menos jovens, casados e soltei-
ros, cultos e menos cultos, ricos e pobres, a que descobrissem que Deus
os esperava bem no meio de suas vidas, ñas suas circunstancias existenciais,
no seu trabalho profissional, na sua vida de todo dia, para que O amassem
e servissem naquilo mesmo que faziam, e ai se santificassem. Tratava-se
de mover o homem comum a que safsse de sua vida aburguesada e empre-
endesse urna aventura espiritual, a aventura do heroi'smo da santidade.
Nao era tarefa fácil num sáculo XX, que já conhecera a primeira Guerra
Mundial e que estava prestes a comecar urna segunda na Espanha as véspe-
ras da explosao de odio fratricida que foi sua guerra civil. Nao era tarefa
fácil num sáculo herdeiro das filosofías da "morte de Deus", em que as
ideologías totalitarias provocavam revolucoes nacionais atéias, tanto á es-
querda quanto á direita. Nao era tarefa fácil; por isto o fundador do Opus
Dei, sozinho, animado por esse querer divino, pós-se a rezar, a fazer peni
tencia e a procurar outros que o entendessem bem, pois sua fé Ihe dizia

329
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

que, se Deus Ihe tinha confiado tal missao, teria também disposto almas
capazes para tanto.

No ¡ni'cio as almas fugiam-lhe por entre os dedos das maos, como en-
guias, contou-nos muitas vezes o Bem-aventurado Josemaria Escrivá, que,
contudo, comecava e recomecava com teimosia sobrenatural. Depois, pou-
co a pouco, foram-se reunindo ao seu redor alguns rapazes universitarios,
a quem ensinava os caminhos da vida interior no mundo, estimulando-os a
que fossem bons estudantes e bons cristaos. Entre esses, havia alguns a
quem o Senhor chamara com vocacao de entrega total ao trabalho de fazer
o Opus Dei, arrimando o ombro junto ao fundador. Simultáneamente á
chegada dessas vocacSes, chegavam também dificuldades de toda ordem e
¡ncompreensoes, que o Fundador encarava com garbo e espi'rito sobrena
tural, mas numa certa solidao, ja que os primeiros membros eram muito
novos na Obra para que pudesse com eles dividir o seu peso. Mons. Escrivá,
certamente, dedicava-se com intensidade a formá-los e devia ter suas ex
pectativas a respeito de algum deles que tivesse a maturidade espiritual ne-
cessária para secundá-lo mais de perto. Teve, contudo, de esperar sete anos
por isso, já que o encontró providencial com Alvaro del Portillo, formado
em Engenharia de Estradas e de Obras Públicas, só ocorreu em 1935.

Foi no dia seguinte ao seu encontró com o fundador que o jovem de


vinte e um anos decidiu a sua vida, pedindo admissao no Opus Dei. A par
tir daí desvendou-se para ele um panorama novo de atuacao, cujas dimen-
soes abarcavam todo o mundo. Nao era apenas para projetar e fazer rodo-
vias, estradas de ferro ou outras que o Senhor o criara. Era, para santifi-
car-se projetando e fazendo rodovias e estradas de ferro e para chamar
outros a que santificassem o seu trabalho, qualquer que ele fosse, e nao
apenas na Espanha, mas em qualquer lugar do mundo. A partir daí o jo
vem dedicou-se de corpo e alma a essa missao e foi o fiel companheiro de
todos os dias, de todas as alegrías e de todas as dores da vida do Funda
dor. Em 1995, Dom Alvaro del Portillo completaría 60 anos de vocacao,
entrega e servico ao Opus Dei. Neste ano de 1994, no dia 25 de junho, ce
lebraría o Jubileu de Ouro de sua ordenacao sacerdotal. Efetivamente, foi
em 14 de fevereiro de 1943 que o Bem-aventurado Josemaria Escrivá
viu a solucao jurídica para haver sacerdotes no Opus Dei, provindos das
vocacoes dos leigos, e que se devotassem, em full time, ao servico de seus
irmaos. Alvaro del Portillo foi um dos tres primeiros membros da Obra a
receber a ordenacao sacerdotal em 1944, nove anos após sua admissao no
Opus Dei. Já entao obtivera um doutoramento em Historia na Faculdade
de Filosofía e Letras de Madrid e, mais tarde, obteria também um doutora-
do em Direito Canónico depois de haver realizado com brilhantismo os
estudos de Teología. Espanta ver quao dotado intelectual e humanamente
era, e o quanto passou despercebido! Partilhou com o Fundador o grande

330
D. ALVARO DEL PORTILLO

trabalho que constituiu a definicio da figura jurídica da Obra no Direito


da Igreja e, após o falecimento de Mons. Escrivá, em 1975, passou a enca-
becar essa tarefa, que, a 28 de novembro de 1982, chegou a seu termo.
Tinha razao o Fundador quando, muitas vezes, chamava a este seu filho
saxum, rochedo. Foi ele a rocha sobre a qual se pode apoiar e isso fícou
patente nSo apenas quando o Opus Dei conseguiu sua figura jurídica ade-
quada como Prelazia pessoal, mas também no grande impulso apostólico
que Ihe imprimiu.

Em setembro de 1975, D. Alvaro del Portillo foi eleito para substi


tuir o Fundador no governo da Obra. Com grande vibracao, foi impulsio-
nando o trabalho apostólico que, nestes dezenove anos de seu governo,
conheceu a expansao para múltiplos países da Europa, África e Asia. As-
sim, comecou-se nos países do norte da Europa, em varios países do Leste
europeu e nos países Bálticos; na Costa do Marfim, no Zaire, nos Cama-
roes; em Cingapura, Macau, Hong-Kong, Formosa, Israel e India. Nao é
pouco. E, ñas reunioes que freqüentemente tinha, em suas inumeráveis
viagens apostólicas pelas diversas regioes onde o trabalho do Opus Dei
se desenvolvía, nestas reuni8es com seus filhos, os amigos de seus filhos,
os Cooperadores, e todos os que o quisessem ouvir, común ¡cava a vibra-
pao de seu jovem coracao pedindo-nos mais. Esta palavra, que o Funda
dor costumava dizer ao pedir mais entrega, mais apostolado e mais san-
tidade, últimamente nao saía dos labios de D. Alvaro del Portillo. Mas o
melhor é que ia ele, á frente de seus filhos, dando sempre mais, apesar de
que, muitas vezes, confesso que me parecía impossível que aínda desse
mais.

O Padre fo¡-se, deixando a Obra muito crescida e vibrante. O Padre


foi-se depois de ver o Fundador beatificado e a figura jurídica da Obra
definida e reconhecida como o Bem-aventurado Josemaria Escrivá a deli
neara. 0 Padre foi-se depois de ter levado a mensagem da Obra a milhares
de pessoas em todo o mundo. Sua vida foi impressionantemente fecunda.
Realmente, ao terminar sua Missa no Cenáculo, no dia 22 de marco, o Pa
dre podia dizer: "Consummatum est" e partir tSo discretamente quanto
vivera. A nósó nos resta vivero que tanto nos repetiu: mais! , meus fi
lhos, mais!

* * '*

PROCURA CONSERVAR O CORACAO EM PAZ.


NENHUM ACONTECIMENTO O PERTURBE.
E CONSIDERA QUE TUDO HÁ DE ACABAR.
(Sao Joao da Cruz)

331
Candente discussáo:

AÍNDA OS PRESERVATIVOS

Em sfrítese: Há quem queira justificar o uso de preservativos contra a


AIDS, apelando para o principio de que, em certas circunstancias, quando
nao se pode fazer o melhor, é lícito escolher o mal menor. Os preservati
vos seriam esse mal menor, preferivel á contaminacao da AIDS ou ápró-
pria gravidez indesejada.

A resposta ao sofisma é múltipla: 1) os preservativos sao tidos como


algo que possibilita "sexo seguro", o que é comprovadamente falso; 2) o
principio de que se pode escolher um mal menor só se aplica aos casos em
que alguém este/a na obrigacao de agir e se veja diante de duas opcoes que
¡he parecem más; em tal situacao, a pessoa tem o dever de esclarecer a sua
consciéncia para ver se pode escapar á realizacao de um ato mau; caso nao
chegue á clareza, é-/he licito escolher o mal menor. Obsérvese, porém, que
se supoe estar a pessoa diante do dever de agir, nao podendo fugir á agao;
supoese também nao haver terceira opcao. Ora, tal nao é o caso do sexo
livre ou das relacoes extra-matrimoniais; nao constituem um dever, ao qual
o interessado nao possa escapar. A onda de erotismo, hoje vigente, nao im-
poe necessariamente a prática do sexo extra-conjugal.

* * *

A revista SEM FRONTEIRAS,abril 1994, pág. 4 (Espado Livre), res


ponde a urna leitora a respeito de preservativos contra a Al DS nos seguintes
termos:

"Claro que nSo estamos autorizados a interpretar o pensamento dos


bispos (que combatem os preservativos). Mas achamos que o que eles que-
rem de verdade é chamar a atencao para o fato de que o sexo nao deve ser
banalizado. Dito isso, a gente pode supor que eles nao vio querer renegar
o ensinamento tradicional da Igreja, segundo o qual, em determinadas cir
cunstancias, nao se podendo fazer o melhor, escolhe-se o mal menor.

Pode-se pegar o exemp/o da prostituicao. É evidente que o Evangelho


nao a aprova. Mas nem por isso a Igreja proibe que sejam tomadas precau-

332
AÍNDA OS PRESERVATIVOS 45

coes para evitar males ainda maiores, como, por exemplo, a transmissao
de doencas."

Esse texto merece considerares, que passamos a tecer.

LATOS INTRÍNSECAMENTE MAUS

0 articulista da revista supoe que as relagoes extra-conjugais possam


ser toleradas como um mal menor e, por isso, se devem recomendar pre
servativos para quem as pratique.

Ora, a recente encíclica Veritatis Splendor precisamente, entre ou-


tras, aborda a questao dos atos maus. Lembra que existem atos intrínseca
mente maus, que nunca podem ser tolerados. Tais seriam: matar um ino
cente, roubar a legítima propriedade alheia e também a prostituicao. Eis
o texto de Joao Paulo 11:

"A Igreja ensina que existem atos que, por si e em si mesmos, inde-
pendentemente das circunstancias, sao sempre gravemente ilícitos, por
motivo do seu objeto. O Concilio do Vaticano II, no quadro do devido
respeito á pessoa humana, oferece urna ampia exemp/ificacao de taisatos:
'Tudo quanto se opoe á vida, como se/a toda especie de homicidio, genoci
dio, aborto, eutanasia e suicidio voluntario; tudo o que viola a integridade
da pessoa humana, como as mutilacoes, os tormentos corporais e mentáis
e as tentativas de violentar as próprias consciéncias; tudo quanto ofende a
dignidade da pessoa humana, como as condicoes de vida infra-humanas,
as prisoes arbitrarias, as deportacoes, a escravidao, a prostituicao, o co
mercio de mulheres e jovens. . . Todas estas coisas e outras semelhantes
sao infamantes; ao mesmo tempo que corrompem a civilizacao humana,
desonram mais aqueles que assim proceden) do que os que aspadecem injus
tamente; e ofendem gravemente a honra devida ao Criador" (n? 80).

Também as relacóes extra-conjugais sao atos intrínsecamente maus,


pois derrogam á ordem da natureza e implicam desmando da parte dos
parceiros. Com efeito: a doacáfo sexual é a mais íntima que se possa con-
ceber; ela supoe amor total, comprometido pelo matrimonio, dentro de
um lar, onde o fruto do ato sexual (a prole) possa contar com a atividade
educadora de pai e mae.

Nao se deve argumentar a partir da onda de erotismo hoje existente


para legitimar o sexo livre. Essa onda seria incoercível e, de certo modo,
obrigaria jovens e adultos á prática sexual extra-conjugal. — Na verdade,
nao é a freqüéncia ou a pujanca de um determinado comportamento que

333
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994 .

o torna lícito. Como os assaltos dos malfeitores e a corrupcáb dos ho-


mens públicos sao freqüentes, mas nem por isso sá"o legitimados, assim
também o sexo livre, por mais freqüente que seja, fica sendo repr'ovável.
É muito mais sadio e educativo incitar os jovens e a sociedade ao uso re
grado do sexo {por que nao dizer. .. á castidade?) do que se deixar domi
nar pelos modismos; alias, a disciplina e o autodominio, ño caso, safo a
única solucao crista.

Notemos ainda que é falso dizer-se que os preservativos garantem "se


xo seguro", pois sao comprovadamente fainos. Ver PR 377/1993 o 466
e 381/1994, pp. 87s.

2. "DE DOIS MALES, O MENOR"

Argumenta o articulista de SEM FRONTEIRAS, apelando para "o


ensinamento tradicional da Igreja segundo o qual, em determinadas cir
cunstancias, nao se podendo fazer o melhor, escolhe-se o mal menor".

Essa fórmula é confusa e errónea. Sim, a Moral Católica considera os


casos em que urna pessoa, de consciéncia hesitante ou duvidosa, se vé
obrigada a agir e se acha táo somente diante de duas opcóes que ¡he pa-
recem ambas más. Em tal situacao, a pessoa tem a obrigacáo de se esclare
cer, dissipando suas dúvidas, para saber se de fato está diante de duas
opcoes más. Caso nao consiga clareza, escolha o que Ihe parecer o mal
menor. Note-se bem: supoe-se que a pessoa esteja obrigada 3, agir. . . Eis
o que a propósito se lé na obra "Moral de Atitudes", vol. I, p. 322, de
Marciano Vidal:

"Em caso confutante entre dois deveres, deve-se escolher o mal me


nor. Em tais casos, tem que existir auténtica alternativa; nao basta urna al
ternativa aparente."

Observe-se: o texto fala de dois deveres, isto é, supoe a obrigacáfo de


agir. E frisa que nao deve haver outra safda para o problema. Entá"o sim, é
lícito escolher o mal menor. Acontece, porém, que, ao se tratar de sexo li
vre, nao há dever. Por consegüinte, ná"b se aplica a norma "escolher o mal
menor". A solucáo é abster-se do mal simplesmente. é esta urna solucao
radical, a única, porém, coerente com a honestidade e a dignidade da cons
ciéncia humana.

334
O NOVO CATECISMO EM INGLES

Há poucas semanas apenas fo¡ publicado o Catecismo da Igreja Católica


em traducSo inglesa. A razSo deste atraso é o impasse causado por movimen-
tos feministas, que queriam eliminar do texto do Catecismo, da Liturgia,
como também da Biblia Sagrada; toda expressSo que atribua a Deus a mas-
culinidade. Assim, por exemplo, pleiteiam que os textos sagrados nao mais
se refiram a Deus como "Pai" e "Senhor"; o ser humano nao deveria ser
indicado pela palavra "homem" (Man), que parece dar énfase ao masculi
no. Em suma, os Iivros litúrgicos, os Catecismos e a própria Escritura Sagra
da deveriam passar por urna revisao radical.

^ As feministas propoem o uso de uma "linguagem inclusiva", em vez


de "linguagem exclusiva" (exclusiva, ou seja, omissa ou avessa em relacao
ás mulheres). Em conseqüéncia, nao se deveria dizer "Paz aos homensde
boa vontade...", mas "Paz ao povo de Deus". Nao mais se deveria dizer
"Deus Pai (Father)," mas simplesmente "Deus (God)". No Credo, em lu
gar de "Senhor (Lord)", dever-se-ia ler "Deus". Evitar-se-á dizer "a Igreja
nossa Mae", para usar apenas o título "a Igreja". Referindo-se á Encarna-
cao do Verbo, querem banir a locucao "o Filho se fez homem", substi-
tuindo-a por "o Filho se tornou realmente humano (became truly hu
man)". Ao falar de Deus na terceira pessoa do singular, nao se empregará
o pronome "Ele", mas dir-se-á explícitamente "Deus", para evitar o pro-
nome masculino.

Tais proposicaes tém encontrado resistencia e críticas nos próprios


países de língua inglesa. Daí a dificuldade de se chegar a uma traducao in
glesa satisfatória do Novo Catecismo. O Wall Street Journal, em seu edito
rial de 7/5/1993, p6e em relevo o desarrazoado da situacao:

"O Novo Catecismo Católico deve ser submetido a tortura de uma


burocracia contaminada por ideología... que provocou a confeccao de um
índex das palavras proibidas nos Estados Unidos. Julgamos que tais mu-
dancas sao chocantes para quem possuidois vinténs de bom senso".

A imprensa inglesa informa que a primeira traducao do Cate


cismo foi rejeitada pela Santa Sé: em particular, a recusa de reconhe-

335
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 386/1994

cer Jesús Cristo como individuo do sexo masculino foi considerada como
urna atonta á fé.

Segundo Mons. J. Michael Wrenn, Prelado pontificio em Nova lor-


que "a Congregacao para a Doutrina de Fé, desaprovando o texto da tra-
que,
ducao do Catecismo, prestou inestimável servico á Igreja".

Por sua vez, muitos sacerdotes de língua inglesa declaram que nao
utilizarao as novas traducoes da S. Escritura e dos livros oficiáis da Igreja,
caso se apresentem na linguagem dita "inclusiva".

Na verdade, a proposta feminista se, de um lado, pretende frisar o va


lor da mulher e a igual dignidade do masculino e do feminino (o que é cor
reto e compreensível), recorre a um expediente que tem graves conseqüén-
cias para a fé. Com efeito; atinge textos sagrados que exprimem as verda
des do Credo desde que comecaram a ser reveladas. O termo "Pai" é utili
zado pelo Senhor Jesús (cf. Jo 8,16.54; 10,30.38; 16.15; 20,21; Mt 18,35;
24,36 ...); o vocábulo "Senhor (Kyrios)" é muito familiara Sao Paulo (cf.
ICor 7,10.12; 8,6, Fl 2,9s...); o vocábulo "homem" para designar o ser hu
mano tem seu uso consagrado pelos séculos; todos entendem que pode ter
sentido genérico, o qual incluí e nao excluí a mulher1. Foi sobre a termi
nología bíblica que os doutores da Igreja e os Concilios estudaram e ela-
boraram as fórmulas de fé, como a de um so Deus em tres Pessoas (Pai, Fi-
Iho e Espirito Santo), a de Jesús Cristo (Deus Filho, que se fez verdadeiro
homem), a da Igreja, Míe que nos gera ñas aguas do Batismo, etc. Alterar
esse vocabulario pode implicar alteracSo dos artigos da fé 6u suscitar no
povo de Deus confusoes e mal-entendidos. Afinal os artigos de fé tém que
ser formulados em linguagem humana, na língua corrente entre os no-
mens; daí chamar-se Deus Pai e a Igreja Mae. Sabemos, de resto, que na
psicología humana, vocábulos e conceitos estao intimamente ligados
entre si, de tal modo que a mudanca de vocábulo pode acarretar (talvez
inconscientemente) a mudanca de conceito.

Nao se pode deixar de notar, por último, que a mulher na Biblia


é tida como si'mbolo muito vivo e expressivo do Amor de Deus; as pá
ginas sagradas a dignificam, pois mostram a ternura da mulher como
imagem da ternura do próprio Deus para com as criaturas:

Is 49,4s: "Siao dizia: "Javé me abandonou, o Senhor se esqueceu


de mim'. Por acaso urna mulher se esquecerá de sua críancinha de pei-

1 Em latim, a palavra homo tem sentido genérico fe masculino), ao lado


de vir (masculino).

■MR
to? Nao se compadecerá ela do filho do seu ventre? Aínda que as mu-
fheres se esquecessem, eu nao me esqueceria de tí".

Is 66,12: "Seréis amamentados, seréis carregados sobre as ancas,


e acariciados sobre os joethos. Como a urna pessoa que a sua mae con-
sola, assim eu vos consolare!; sim, em Jerusalém seréis consolados".

Is 46,3s: "Ouvi-me, vos, da casa de Jaco... vos, a quem carreguei


desde o seio materno, a quem levei desde o berco... Eu vos criei e vos
conduzirei, eu vos carregarei e vos salvare!".

Eclo 4,10: "Serás como um filho do Altíssimo; ele, maisdo que tua
mae, amar-te-á".

Estéváo Bettencourt O.S.B.

' EM COMEMORACÁO DO V
IV CENTENARIO DE SUA FUNDACÁO
O MOSTEIRO DE SAO BENTO DO RIO DE JANEIRO PUBLICA:

O Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro


408 páginas (30 x 23) de urna obra ricamente policromada.
Texto histórico por O. Matcus Rocha, OSB.
É a crónica corrida c compacta da construcao -do Mostciro, da sua igreja c das obras de
arte nele coñudas. Resume as mais diversas contribuicócs que, durante sáculos, for
maran o patrimonio da Ordem Bencditina na provincia do Rio de Janeiro.

A Igreia de Sao Bento


110 páginas (30 x 23), resumo da obra anterior tratando da igreja abacial. Disponível
ñas línguas portuguesa, espanhola, francesa, inglesa c alema.

RENOVÉ QUANTO ANTES SUA ASSINATURA DE PR PARA 1994:


13,00 URV's Convertidas á taxa do dia.
(PARA PAGAMENTO. VEJA 2? CAPA).
-v Revista bimestral (5 números marco a dezembro) *
Editada pelo Mosteiro de S Bento do Rio de Janeiro,
1976 (já publicados 102 números), destina se a Oblatos
. beneditinose pessuas inieressadas em assuntosae ,; .
espiritualidade bíblica e monástica. ~ Álém de artigos, contém
traducoes e comentarios bíblicos e monásticos, e, aínda a
■' crónica do Moáteiro.

1994, assinatura ou renovacao, 5,00 URV's.


Diríjase as Edicoes "LUMEN CHRISTI".

SUMARIO DO NÚMERO 103 JANEIRO-ABRÍ L/94 que


ACABA DE SER LANCADO

D. Abade José PalmeiroMendes, OSB


AOSLEITORES
HOMILÍA NA PROFISSÁO
'MONÁSTICA E CONSAGRACÁO DE IR. AGNES
D. Estévao Bettencourt, OSB
JESÚS EM AGONÍA ATÉ O FIM DOS TEMPOS
D. Odilao Bello Borba Moura, OSB
O ABSOLUTISMO EVANGÉLICO DE SAO JOÁO DA CRUZ
D. Pius Engelbert, OSB
' O MONAQUISMO BENEDITINO E A SOCIEDADE
MEDIEVAL (III)
Ir. Vera Lucia Parréiras Horta, OSB
'■ "CELEBREM ALI MESMO, COMO PODEM"
Philippe fíobert
O CANTO LITÚRGICO NASCE DA PALAVRA
NOTICIAS MONÁSTICAS
Beneditina Missionária em Angola
Beneditinas no Acre ; ■-:; . :
Preparativos para o Vil EM LA i . ;í' :^
Novó mosteiro rió Espirito Santo
CRÓNICA '

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