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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaca
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
ANO XXXVI FEVEREIRO 1995

"Sao urna Legiao"

"Urna nova luz na.viagem do Homem"

Homem é macaco aperfeicoado?

"Documentos confidenciaiá de Joao Paulo III", por Francisco


de Juanes ' -
')■,'■

"O Sim e o Sangue", por Olivo Cesca

As revelácoes a María Valtorta

Os País de Santa Teresinha de Lisieux . . ■ . •


rtKUUN I b t KbSKONDEREMOS FEVEREIRO 1995
Publicacao mensal N? 393

Diretor-Responsável
SUMAR 10
Estévao Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia
"Sá*o urna Legiao" 49
publicada neste periódico

Diretor-Administrador: Um artigo de VEJA:


D. Hildebrando P. Martins OSB "Urna nova luz na viagem do Homem" . 50

Administracao e distribuicao: Ciencia e Filosofía:


Edicoes'ILumen Christi" Homem é macaco aperfeicoado? 61
. Rúa Dcm Gerardo, 40 - 5? andar - sala 501
Tel.: (021) 291-7122 ' Crítica exacerbada:
"Documentos confidenciais de Joao Pau
Fax (021) 263-5679 ;'
lo III", por Francisco de Juanes .... 70
Endereco para correspondencia:
; "Sé fiel até a morte..." <Ap 2,10):.
Ed, "Lumen Cnristr: '.
':• Caixá Postal. 2666 "O Sim e o Sangue", por Olivo Cesca .. 84
.. • Cep 2000Í-97Ó -r Rio de Janeiro -r RJ
Pode-se crer?
■ '. Impressüó e EncadernafSo As revelacoes a María Valtorta 90

■'<y¿ I Declarados Venera veis:


Os Pais de Santa Teresinha de Lisieux . . 94
.•':; "MARQUES SARAIVA"
GRÁFICOS-E EDITORES Ltda. Nova capa da autoría de Claudio Pastro,
-. Tels.: (021) 2734498 /273-9447 a quem PR agradece.

NO PRÓXIMO WOMERO:
Estado do Vaticano: por qué? - A Comunhao Eucanstica de Fiéis Divorciados e
novamente Casados. — Resposta ao Dr. Elsimar Coutinho. — "Cura entre Gera-
poes" (Robert DeGrandís). - "Seja o Amor o Único Vencedor" (Paulo VI).

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA :

Para renovacáo de'PR: ANO 1995: R$ 13,00


Coléelo PR (12 números 1994 sem encadernacao): R$ 13,00

.O pagamento poderá^er.á sua escolha:.


1. Enviar EM CARTA cheque nominal ao Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro, cruza
do, anotando no verso: "VÁLIDO SOMENTE PARA. DEPÓSITO na contado favoreci
do" e. onde consta "Cód. da Ag.e o N9 da C/C"; anotar; 0229-02011469-5.
2. Depósito no BANCO DO BRASIL, Ag.0435-9 Rio C/C 0031 -304-1 do Mosteiro de S. Ben
to do Rio de Janeiro, enviando, a seguir, xerox da guía de depósito para nosso controle.
3. VALE POSTAL pagável na Ag. Central 52004 - Cep 20001-970 - Rio.
Sendo novo Assinante, é favor enviar carta com nome e endereco legfveis.
Sendo renovacáo, anotar no VP nome e endereco em que está recebendo a Revista.
SAO UMA LEGIÁO.. Z'1

provenientes da Europa nos dizem que mais e mais se vai


contiecimentó do grande número de fiéis católicos — cléri-
leigos — que morreram por causa da sua fé durante os anos de regi-
me comunista; suportaram cárceres (por vezes, cela solitaria) ou trabalhos
forcados..., que terminaram pelo desaparecí mentó ou pela deteríoracao fí-
sica ou mental desses irmSos. Precisamente nos pai'ses em que o Catolicis
mo é minoritario, como Ruménia e Bulgaria, vém á tona os nomes de gran
des heróis; os Bispos da Ruménia pediram á Santa Sé "que sejam acelera
dos os processos de canonizacSo das testemunhas da fé que deram a vida
por Cristo e pela Igreja durante os quarenta anos de perseguicao". Na Bul
garia, na noite de 11 para 12 de novembro de 1952 foram fusilados o Bis-
po de Nikopol, Mons. Eugenio Bossilkoff e tres sacerdotes, cujos cadáveres
foram I aneados na fossa comum; tudo fora feito para conseguir a sua apos-
tasia; respondía Mons. Bossilkoff: "Estou pronto a dar a vida pela minha
fé". Citam-se ainda como heróis de fidelidade o Cardeal Jozsef Mindszen-
ty, Primaz da Hungría, o Cardeal croata Alojzije Stepinac, o Cardeal ucra
niano Josyf Slipyj e o Cardeal rumeno Juli Hussu. "Mortos, ainda vivem e
falam eloqüentemente" (cf. Hb 11,4); sSo o tesouro humano e a express§o
da vitalidade da Santa Mae Igreja; a sua morte destemida é causa de alegría
para as geracoes futuras, pois é sinal de que o sangue de Cristo frutifica
nos Santos até hoje. De resto, o sangue dos mártires é sementé de novos
crist§os (sanguis martyrum semen christianorum, dizia Tertuliano, t 220).
Esses mártires vém a ser um convite muito enfático aos cristaos de hoje pa
ra que trilhem o mesmo caminho. Alias, toda vocacSo crista é um chama
do para o heroísmo, pois é o apelo a seguirmos o Cristo portador da Cruz
para ressuscitar como nova criatura. O convite á santidade decorre do Ba-
tismo mesmo e acompanha todo o currículo de vida de um crístSo.

Bem diferente do caso dos mártires do Leste Europeu é o. dos "márti


res da América Latina". Entre estes, contam-se sacerdotes e leigos (até
protestantes), que morreram em litigios por causa de questSes sociais. Me-
recem respeito, mas pode-se perguntar: qual o motivo preciso por que
morreram? ... pela causa da partilha de térras e da reforma agraria?... pela
ecología?... por dissensoes políticas? — O termo "mártir", na linguagem do
Novo Testamento, significa "ser testemunha da fé até o extremo"iv;Nao
basta a morte corajosa ou trágica para fazer um mártir; S.Agostínho
(t 430) sabiamente dizia: "Martyres non facit poena, sed causa. Nao é a
pena que faz os mártires, mas a causa pela qual é sacrificada a sua vida".
Ver pp. 84-89 deste fascículo. • ^ -

Possa a "legia*o de mártires" (conhecidos e desconhecídos) de nossos


tempos servir de estímulo a que os fiéis católicos déem lúcido testemünho
da fé,seguindo generosamente o Cristo no seu caminhar cotidiano!
; ' E.B.
1 L'Eglise en Détresse dans le Monde n? 84, p.3.

49
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
ANO XXXVI - N? 393 - Fevereiro de 1995

Um artigo de VEJA:

"UMA NOVA LUZ NA VIAGEM DO HOMEM"

. Em síntese: A revista VEJA, edicao de 28/9/94, pp. 86-92, publicou


um artigo sobre fósseis, inclusive sobre o rnais recentemente descoberto
na Etiopia, o Australopitheramidus. O articulista nSo pende a ocasiao de
escarnecer sutilmente a mensagem bíblica, como se estivesse superada. —
A propósito é de notar que a Biblia nao pretende descrever a fenomenolo
gía da origem do mundo e do homem, mas tem por finalidáde indicar ao
homem o sentido da vida, do trabalho, do matrimonio, da morte,eo seu
papel frente as demais criaturas. Em conseqüéncia, nao há confuto entre o
texto sagrado e as proposicoes dos dentistas. Estes, alias, freqüentemente
confessam crer em Deus precisamente por causa dos resultados de suas
pesquisas. Quanto á idade do género humano, nao pode ser calculada a
partir da "longevidade" dos Patriarcas bíblicos, pois esta é simbólica, indi
cando venerabilidade e respeitabilidade.
* * *

A revista VEJA, edicSo de 28/9/94, pp. 86-92, apresénta um artigo


intitulado "Urna nova luz na viagem do homem", em que aborda a ques-
t3o da origem do homem e da afinidade do homo sapiens ¿brn o macaco..
0 propósito do artigo é a descoberta, ocorrida em meados de 1994, de um
dente e poucos outros resquicios atribuidos aomais.antigojncestral.co-
nhecido da especie humana, ou seja, ao Australopitecus ramidus; encon
trado na floresta de Aramis (Etiopia), tomou o nome de ramidus. 0 arti
culista dá noticias dos fósseis já estudados(pelaxiénciaidesde(Charles
Darwin (1809-1882) e tende a ridicularizar a mensagerrubíblica tanto no
comeco como no fim da sua exposipio. Com efeip,. assim se ábre.o ar
tigo: ■ ■ ■'.,'., '';■';'/ .;'-■... ." ;

"A partir de urna complicada interpretacSo da Biblia, o bispo angli-


cano James Ussher concluiu no século XVII que Deus criou o mundo no

50
"UMA NOVA LUZ NA VIAGEM DO HOMEM"

ano 4004 antes de Cristo. Hoje, já se sabe que o universo surgiu há mais de
15 bilhdes dé anos e os primeiros ancestrais do homem andavam peía Áfri
ca há mais de quatro miihdes de anos, pelo menos. Os homens piedosos do
século passado trabalhavam com os textos sagrados, pouca base científica
e urna imaginacao que nSo conhecia limites. Os dentistas de agora dis-
pdem de coisas mais seguras para tirar suas conclusoes. Na semana passa
da, a partir de urna co/ecao de ossos desencavados na Etiopia, a revista ci
entífica Nature, da Inglaterra, anunciou a maior descoberta paleontológica
dos últimos vinte anos. Os fragmentos fósseis, encontrados pela equipe do
americano Tim White, pesquisador da Universidade da California, em
Berkeley, pertenceriam ao mais antigo ancestral do ser humano, um homi-
nfdeo parecido com o chimpanzé, com cerca de um metro de altura, pelu
do e totalmente primitivo. Tafvezjá ficasse em pé.

Esse avó distante do homem moderno, batizado de Australopitecus


ramidus ou homem de Aramis, viveu há 4,4 milhdes de anos, 1,1 milhao
a mais do que o ancestral mais antigo que se conhecia até hoje" (pp. 86s).

0 artigo se encerra com a observado:

"Se há ou nSo um papel para Deus nesse croché biológico, isso de


pende da fé de cada um. Fé e ciencia atuam em esferas diferentes" (p.92).

Ás páginas de VEJA podem ¡mpressionar o leitor, deixando-o perple-


xo. Daí a conveniencia de alguns esclarecimentos.

1. CRIAQÁO EEVOLUQAO

A prímeira questSo que parece colocar-se ao leitor, é a de saberse se


pode conciliar a doutrina da evolucSo, mais e mais documentada por des-
cobertas arqueológicas, com a mensagem bíblica da criacSo. - A esta per-
gunta respondemos por etapas. r

1.1. O Significado da Mensagem Bíblica

Em Génesis 1-2 o texto sagrado fala da cr¡aca"o do homem como ima-


genre semelhanca de Deus, sendo o varSo proveniente do barro e a muiher
oriunda da costela de AdSo. Durante séculos; esta passagem foi tomada ao
pé da letra, pois nao havia razoes para nao adotar o sentido literal do tex
to. Todavia, a partir do século passado, a descoberta de inscric5es, tabuf-
nhas e até bibliotecas do mundo oriental antigo deu a ver que muitasdas
expressSes bíblicas faziam eco ao linguajar dos antigos orientáis, que Ihes
davam sentido convencional ou figurado; assim a seqüéncia de sete días de

51
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

Gn 1,1 -2,4a, a imagem do Deus Oleiro, a da costela, etc. Em conseqüéncia,


verificou-se que a Biblia nao pretende usar linguagem científica rigorosa,
mas quer, antes, exprimir urna visao sapiencial ou urna visao filosófico-reli-
giosa relativa ao mundo e ao homem. O que ¡nteressava aos autores sagra
dos, era indicar o por qué e o para qué da existencia do homem, o seu va
lor frente a Deus e ao mundo, o significado do trabalho, do matrimo
nio...; em suma, os estudiosos tomaram consciéncia de que a Biblia quer
atender a indagacbes ás quais a Física, a Química, a Biología... nSo respon-
dem, ou seja, ás indagagSes fundamentáis, de ordem metafísica, que aflo-
ram á consciéncia de todo homem.

Por isto nao se devem compararas páginas bíblicas com as descobertas


arqueológicas modernas e, conseqüentemente, escarnecer a mensagem sa
grada. Esta conserva todo o seu valor até hoje, pois responde, como ne-
nhuma outra escola filosófico-religiosa jamáis fez, ás preocupacoes básicas
do ser humano, indicando-lhe o sentido da vida.

Estabelecida esta premissa de ordem geral, séjam considerados os


particulares do problema das origens.

1.2. A Origem do Homem e da Mulher na Biblia

Em Gn 2,4a-25 é narrado o surto do homem e da mulher em lingua


gem rica de antropomorfismos (Deus é oleiro, jardineiro, cirurgiSo, alfaia-
te...). é um documento que data do século X a.C; nao menciona nem o
mar, nem os peixes nem os astros (o que revela horizontes limitados e ca-
ráter arcaico).

Data do século X a.C. (fonte javista, J). Essa descríelo comepa por
notar que nSo havia arbusto, nem chuva nem homem, mas apenas urna
fonte de agua, que ocasionava a existencia de barro. Para compreender a
intencao do autor sagrado, examinemos, antes do mais, a dinámica do tex
to em pauta:

Muito estranhamente, Deus cria em primeiro lugar o homem (2,7).


Depois planta um jardim ameno, onde o coloca (2,8.15); verifica que o ho
mem está so (2,18). Cria os animáis terrestres (2,19); mas o homem conti-
nua.só (2,20). EntSo Deus cria a mulher e a apresenta ao horre m, que ex
clama: "Esta .sim! É osso dos meus ossos e carne da minha carne!" (2,23).
Este curso de idéias poderia ser assim reproduzido:

HOMEM rZZ.-"1-_-_". '■ MULHER

plantas fc animáis
(o homem está só) (o homem está só)

52
"UMA NOVA LUZ NA VIAGEM DO HOMEM"

Vé-se, pois, que o relato n3o tem em mira descrever a fenomenología


ou o aspecto científico da origem das criaturas, mas, sim, visa a responder
a urna pergunta: qual o relacionamento existente entre o homem e a mu-
Iher? Qual o papel da mulher frente ao homem? - Estas questSes de or-
dem filosófico-religiosa perpassam todo o relato. Para responder-Ihes, o au
tor aprésenla o homem (vario) sozinho'; verifica duas vezes que ele está
s6, porque nenhuma planta e nenhum animal se Ihe equiparam; finalmente
Deus tira materia do próprio homem para convela formar a rru I her; assim
se justifica a exclamado: "Esta sim! é da minha dignidade!" Desta forma,
o texto sagrado nos diz que a mulher na~o é inferior ao homem, mas com
partí Iha a natureza do homem; é o vis-á-vis do homem. Esta afirmacao é de
enorme valor: já no século X a.C. a S. Escritura propunha urna verdade
que muitos povos hoje nao conseguem reconhecer e viver.

1.3. Como entender o texto sagrado?

O autor bíblico apresenta origem distinta para o hómem e para a


mulher. Analisemos um e outro caso.

1.3.1. ODeusOleiro

Origem do homem. Será que o texto de Gn 2,7 quer dizer algo sobre
o modo como apareceu o homem na face da térra?

Respondemos negativamente. O autor sagrado utilizou a imagem do


Deus-Oleiro, que era assaz freqüente ñas tradicSes dos povos antigos. Com
efeito; no poema babilónico de Gilgamesh conta-se que, para criar Enkidu,
a deusa Aruru "plasmou argila". Na lenda assiro-babilónica de Ea e Atar-
hasis, a deusa Miami, intencionando criar sete homens e sete mulheres, fez
quatorze blocos de argila; com estes, suas auxiliares plasmaram quatorze
corpos; a deusa rematou-os, imprimindo-lhes trapos de individuos huma
nos e configurándoos á sua própria imagem.

No Egito um baixo-relevo em Deir-el-Bahari e outro em Luxor apre-


sentam o deus Cnum modelando sobre a roda de oleiro os corpos respecti
vamente da rainha Hatshepsout e do Faraó Amenofis III; as deusas coloca-
vam sob o nariz de tais bonecos o sinal hieroglffico da vidaank, para que
a respirassem e se tornassem seres vivos.
■•- • #

Entre os Maoris da Nova Zelandia, conta-se o seguinte episodio: um


certo deus, conhecido pelos nomes de Tu, Tiki e Tañé, tomou argila ver-

1 É certo que o homem nao pode viver sem vegetacao e animáis. Todavía
sabemos que o autor nSo escreve urna página de ciencias naturais.

53
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

melha á margem de um rio, plasmou-a, misturando-lhe o seu próprio san-


gue, e déla fez urna copia exata da Divindade;depois, an¡mou-a soprando-
Ihe na boca e ñas narinas; ela enta*o nasceu para a vida e espirrou. 0 ho
mem plasmado pelo criador Maori parecia-se tanto com este que mereceu
por ele ser chamado Tiki-Ahua, isto é, imagem de Tiki.

Compreende-se, pois, que o tema do Deus-Oleiro, ocorrente também


na Biblia, nSo passa de metáfora. Quer dizer que, como o oleiro está para
o barro, assim Deus está para o homem. E como é que está o oleiro para o
barro? - Numa atitude de sabedoria, carinho, maestría, providencia... As
sim também Deus está para o homem, qualquer que tenha sido a modali-
dade de origem do ser humano. NSo se queira extrair desta passagem algu-
ma lipSo de teor científico.

1.3.2. O Deus Cirurgiáo

Origem da mulher. Que significa a costela extraída de Adao para dar


origem á mulher? — Na*o implica que esta tenha tido principio diferente
do homem. O tema da costela há de ser entendido a partir das palavras fi
náis de Adá"o; "Esta é osso dos meus ossos e carne da minha carne" (Gn
2,23); tal afirmacSo é metafórica e significa: a mulher é da natureza ou da
dignidade do próprio homem, em oposicSo aos demais seres (embora cer
cado destes, o autor enfatiza que o homem estava só). Ora, para preparar e
justificar esta assercSo a respeito da dignidade da mulher, o autor descreve
o próprio Deus a tirar carne e osso (urna costela) do homem a fim de for
mar o corpo da mulher; a "extracSo" da costela e a formacao da mulher,
no caso, na"o tém sentido literal, mas vém a ser a maneira "plástica" de
afirmar a igualdade de natureza do homem e da mulher.

E á luz desta verdade que se deve entender também o desfile de ani


máis perante o homem e a imposicSo de nome a cada um deles (2,19s).
"Impor o nome", para os antigos, significa "reconhecer a esséncia, a iden-
tidade do ser nomeado". O autor sagrado imagina AdSo a impor nomes
aos animáis para poder enfatizar de modo muito concreto que nenhum
animal era adequado ao homem; notemos que; antes e depois do "desfile",
o texto verifica que o homem estava só (2,18.20). Devemos, pois, concluir
que tal cena nSo tem sentido literal, mas visa apenas a fazer o contraste en
tre o homem e os animáis inferiores e assim preparar o surto da mulher
"feita da costela" ou participante da dignidade do homem.

Na*o se deve, pois, na base dó texto bíblico, atribuir á mulher origem


diversa da que tocou ao homem.

54
"UMA NOVA LUZ NA VIAGEM DO HOMEM'

1.4. A Síntese de Criacao e Evolucáo

A Biblia nSo foi escrita para dirimir o dilema "criacao ou evolucéío?"


Todavía, a partir de premissas filosóficas e teológicas, é preciso dizer que
o dilema na~o existe. Vejamo-lo por partes.

Quanto ao homem, a pergunta é colocada popularmente nestes ter


mos; "Vem do macaco ou na"o?" — Responderemos distinguindo entre
corpo e alma do homem. 0 corpo, sendo materia, pode provir de materia
viva preexistente1; nSo proviria dos macacos hoje existentes, pois estes já
sao muito especializados e nSo evoluem mais; proviria, porém, do primata
ou do ancestral dos macacos e do corpo humano. A alma, contudo, nao
teria origem por evo I u gao, mas por criacüo direta de Deus; sendo espiri
tual, ela na"o provém da materia em evolucüo (o espirito nao é energía
quantitátiva nem fluido nem éter; por ¡sto nao pode originar-se da mate
ria). Assim se concíliam criacao e evolucáo no aparecimeríto do homem:
pode-se admitir que, quando o corpo do primata estava suficientemente
evoluído ou organizado, Deus Ihe ¡nfundiu a alma espiritual, diretamente
criada para dar-I he a vida de ser humano. I sto terá ocorrido tanto no surto
do homem como no da mulher.

Considerando agora o universo, podemos dizer que a materia inicial,


caótica (nebulosa), donde terá procedido a evolucSo, foi criada diretamen
te por Deus (n3o é materia eterna). Deus Ihe haverá dado as leis de sua
evolucáo; de modo que déla tiveram origem os minerais, os vegetáis e os
animáis irracionais até o limiar do homem. Quando o Senhor Deus quis
que este aparecesse na face da térra, realizou outro ato criador, infundindo
a alma espiritual no organismo do primata evoluído. é o que se pode re-
produzir no seguinte esquema:

Ato criador Evolucao ' Ato criador

i ( alma espiritual
Materia inicial > minerais —> vegetáis ;► animáis => organismo aperfeicoado
(nebulosa) irracionais \
HM

No tocante á origem da vida, é preciso distinguir vida vegetativa, vida


sensitiva e vida intelectiva. As duas primeiras modalidades dependem de
um principio vital material, que bem pode ter sido eduzido da materia em
evoluca*o. Ao contrario, a vida intelectiva depende de um principio vital
(alma) espiritual, que só pode provir de um ato criador de Deus.

Dizemos pode, sem afirmara tese.

55
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

2. A IDADE DO GENERO HUMANO

Como diz o repórter de VEJA, o bispo anglicano James Ussher, no


sáculo XVII, concluiu que o género humano foi criado no ano 4004 antes
de Cristo. Hoje, porém, se julga que pode ter 4,4 milhSes de anos.

A contagem do bispo anglicano e de quantos seguiam a mesma esco


la, somava os anos de vida de AdSo, Sete, Enós, CainS... (Gn 5,1-32) e as
idades dos patriarcas seguintes, julgando poder tomar em sentido matemá
tico os números assim indicados.

Ora tal níto é o significado dessa elevada "longevidade". Esta ná"o


quer dizer que outrora os homens viviam séculos. Para os antigos, a longe
vidade era sinal de venerabilidade e respeitabilidade; por conseguínte,
quando atribuiam a alguém longa duracSo de vida, queriam apenas dizer
que tal pessoa era merecedora de toda estima e consideracao. Este modo
de falar está documentado, por exemplo, na tabela dos reis pré-diluvianos
que o sacerdote Berosso, da Babilonia, nos deixou:

Aloro reinou 36.000 anos; Alaparo 10.800 anos; Almelon 46.800


anos; Amenon 43.200 anos; Amegalaro 64.800 anos; Amenfsino 36.000
anos; Otiartes 28.800 anos; Daono 36.000 anos; Edoranco 64.800 anos;
Xisutro 64.800 anos.

Temos nesta lista dez nomes de reis de elevada longevidade. Também


no Egito se encontrou a lista de dez reis que governaram o povo nosseus
primordios; os persas conheciam seus dez Patriarcas; os hindusenumeravam
nove descendentes de Brama, com os quais Brama completava urna serie
de dez geracSes pré-diluvianas.

É a luz destes documentos que se deve entender a longa vida dos Pa


triarcas bíblicos. Visto que a vida é o bem fundamental, urna longa vida,
para os antigos hebreus, era símbolo de béncao divina e honorabilidade; a
indicacSo de que cada Patriarca viveu elevado número de anos após gerar
o seu sucessor na lista, significa que esses pais do género humano tiveram
a possibilidade de manter pura na sua familia a revelacao primitiva; donde
se concluía que a religiSo que por tal vía chegara a Israel, era a religilo ver-
dadeira, conservada através de urna serie de geracoes providencialmente fa
vorecidas por Deus.

Em sfntese, nSo se deverá crer que os Patriarcas bíblicos viveram sé-


culos. Ao contrario, sabe-se hoje com certeza que a duracSo da vida huma-

56
"UMA NOVA LUZ NA VIAGEM DO HOMEM" 9

na na pré-história era muito breve; os homens nSo gozavam dos beneficios


da medicina e da cirurgia para debelar seus males.

3. OS CIENTISTAS E DEUS

O articulista de VEJA encerra suas ponderales perguntando se ainda


resta lugar para Deus no panorama das descobertas paleontológicas moder
nas. A pergunta é leviana e revela pouco conhecimento do assunto. SSo
muitos os dentistas que, precisamente por causa de seus estudos, profes-
sam a fé em Deus. Diz-se, com razao, que "a pouca ciencia afásta de Deus,
mas a muita ciencia leva a Deus". — Eis alguns testemunhos dos mais signi
ficativos:

1} C.M. Hathaway, nascido em 1902, físico e engenheiro norte-ameri


cano, inventor do cerebro eletrónico:

"A Física moderna ensina-me que a natureza é incapaz de se organi


zar por si mesma. O universo apresenta urna grande organizagSo. Por isto
se torna necessário admitir urna Grande Causa Prímeira".

2) Pascual Jordán (1902-1980), físico alemao, um dos fundadores da


Mecánica dos quanta:

"O progresso moderno removeu os empecilhos que se opunham á


harmonía entre ciencias naturais e cosmovisSo religiosa. Os atuais conheci-
mentos de ciencias naturais já nSo fazem objegSo á noció de um Deus
Criador".

3) Werner von Braun (1912-1977), alemio domiciliado nos Estados


Unidos, físico e pesquisador da energia atómica:

"NSo se pode de maneira nenhuma justificar a opiniao, de vez em


quando formulada, de que na época das viagens espaciáis temos conheci-
mentos da natureza tais queja nSo precisamos de crer em Deus. — Somen-
te urna renovada- fé em Deus pode provocar a mudanga que salve da catás
trofe o nosso mundo. Ciencia e ReligiSo sSo, pois, irmas e nao polos anti
téticos".

4) Fr. von Huene (1875-1969), geólogo e paleontólogo alemao:

"Essa longa historia da vida que aospoucos se vai erguendo em escala


ascensional, é, precisamente, a historia da criacao do mundo dos viventes.
£ a agSo de Deus que tudo planeja e concebe, dirige e sustenta".

57
10 ^'PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

5) NI. Hartmann (1976-1962), Diretor do Instituto de Biologia Max


Plank:

"Os resultados da mais desenvolvida ciencia da natureza ou da Física


nSo levantam a mínima ob/ecio á fé num Poder que está por tras das for
eas naturáis e que as rege. Tudo isto pode aparecer mesmo ao mais crítico
pesquisador como urna grandiosa revelacao da natureza, levando-o a crer
numa todo-poderosa Sabedor/a que se acha por tras desse mundo sabio".

6) Fr. Dessauer (1881-1963), alemSo, biofísico e filósofo da Nature


za, fundador da terapia das profundidades por meio de raios Roentgen
e da Biologia dos quanta:'

"O fato de que nos últimos setenta anos o curso das descobertas e in-
vencoes nos interpela poderosamente, significa que Deus o Criador nos ta
la mais alto e mais claro do que nunca mediante pesquisadores e invento
res".

7) Cari Gustav Jung (1975-1961), sufco, um dos fundadores da


Psicanálise:

"Entre todos os meus pacientes na segunda metade da vida, isto é,


tendo mais de trinta e cinco anos, nao houve um só cujo problema mais
profundo nao fosse constituido pela questao de sua atitude religiosa. To
dos, em última instancia, estavam doentespor ter perdido aquilo que urna
religiSo viva sempre deu a seus adeptos, e nenhum se cumu sem recobrar
a atitude religiosa que Ihe fosse própria".

8) Gustav Mió (1868-1957), físico alemSo:

"Devemos dizer que um pesquisador da natureza que reflete... deve


necessaríamente ser um homem piedoso. Pois ele tem que se dobrar reve
rente diante do Espirito de Deus, que se manifesta tSo claramente na natu
reza".

9) Albert Einstein (1879-1955), físico judeu alemSo, criador da teo


ría da relatividade. Premio Nobel 1921:

"Todo profundo pesquisador da natureza deve conceber urna especie


de sentimento religioso, pois ele nao pode admitir que ele seja o primeiro
a perceber os extraordinariamente belos con/untos de seres que ele con
templa. No universo, incompreensfvél como é, manifestase urna inteligen
cia superior e ilimitada. — A opiniSo corrente de que eu sou ateu, baseia-se

58
"UMA NOVA LUZ NA VIAGEM DO HOMEM"

sobre grande equívoco. Quem a quisesse depreender de minhas teorías ci


entíficas, nao teña compreendido o meu pensamento".

10) Edwin Couklin (1863-1952), biólogo norte-americano:

"Querer explicar pelo acaso a origem da vida sobre a térra é o mesmo


que esperar o surto de urna tipografía em conseqüéncia de urna explosao".

11) Max Plank (1858-1947), ffsico alemSo, criador da teoría dos


quanta. Premio Nobel 1928:

"Para onde quer que se dilate o nosso olhar, em parte alguma vemos
contradicSo entre Ciencias Naturáis e Religiao; antes, encontramos plena
convergencia nos pontos decisivos. Ciencias Naturais e Religiao nSo se
excluem mutuamente, como hoje em dia mu¡tos pensam e receiam, mas
completam-se e apelam urna para a outra. Para o crente, Deus está no co-
meco; para o físico, Deus está no ponto de chegada de toda a sua reflexSo
ÍGott steht für den GTáubigen am Anfang, für den Physlker am Ende alies
Denkens)".

12) H. Spemann (1869-1941), zoólogo alemSo, Premio Nobel 1935:

"Quero confessar que, durante as minhas pesquisas, muitas vezes te-


nho a impressSo de estar num diálogo em que meu interlocutor me apare
ce como Aquele que é muito mais sabio. Diante desta extraordinaria rea-
lidade... o pesquisador é sempre mais tomado por urna profunda e reveren
te admiracSo".

13) J. Ambrose Fleming (1849-1945), físico británico:

"A grande quantidade de descobertas modernas destruiu por comple


to o antigo materialismo. O universo apresen tase hoje ao nosso olhar co
mo um pensamento. Ora o pensamento supde a existencia de um pen
sador".

14) Guglielmo Marconi (1874-1937), físico italiano, inventor da tele


grafía sem fio, Premio Nobel 1909:

"Declaro com ufanía que sou homem de fé. Creio no poder da ora-
cao. Creio nisto nSo só como fiel cristSo, mas também como dentista".

15) Thomas Alva Edison (1847-1931), inventor no campo da Físi


ca, com mais de 2.000 patentes:

59
.12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

"Tenho... enorme respeito e a mais elevada admiracao por todos os


engenheiros, especialmente pelo maior deles: Deusl"

16) Particularmente a origem da vida exige do dentista o reconheci-


mento da existencia de Deus, como atestam muitos pesquisadores. Com
efeito; a vida está associada ao ácido ribonucleico (ARN) e aos ácidos de-
soxirribonucléicos (ADN), que armazenam e transmitem os fatores da he-
reditariedade sob a forma de ¡nformacoes químicas. Ora cada molécula
desses ácidos é urna cadeia de milhSes ou bilhSes de corpúsculos de
quatro diversos tipos; estes, mediante a sua seqüéncia (semelhante á lista
de letras do alfabeto óu á serie de verbetes de um Dicionário), determinam
a configuraccSo das céluas do organismo vivo.

Pois bem, declara o biólogo B. Vollmert, "o surto de urna cadeia de


partículas do ADN ou ARN por acaso tem a probabilidade insignificante
de apenas 1/101000". Urna tal cota está totalmente fora de cogitacao dos
dentistas; para estes, a probabilidade de 1/10SO já corresponde á impossi
bilidade. Requer-se, pois, a existencia de urna inteligencia extremamente
sabia e poderosa que tenha feito surgir os átomos e as partículas elemen
tares da vida, concatenando-as entre si. Por isto dizia Charles Darwin, um
dos mais famosos autores da teoría da evoluca*o:

"Nunca neguei a existencia de Deus. Creio que a teoría da evolucao é


plenamente concUiável com a fé em Deus. A impossibilidade de provar e
compreender que o grandioso e ¡menso universo, assim como o homem,
tiveram origem por acaso parece-me ser o argumento principal para a exis
tencia de Deus".

Por isto também dizia Fred Hoy le, astrónomo británico, outrora ateu:

"A existencia de Deus pode ser provada com probabilidade matemá


tica de 1010000".

4. CONCLUSÁO

Mais urna vez se verifica que a revista VEJA é tendenciosa ao abordar


temas religiosos; tende a caricaturá-los, tentando assim solapar os funda
mentos da fé. 0 leitor avisado saberá fazer o necessário descontó diante
das afirmacdes "novidadeiras" da revista em materia de Religiao. A fé na
da tem a recear da parte das pesquisas e descobertas da auténtica ciencia,
pois a verdade tem urna única fonte, que é Deus.

60
Ciencia e Filosofía:

HOMEM É MACACO APERFEIQOADO?

Em sfntese: Há quem diga que o homem nao é mais do que um maca


co aperfeicoado; nada de específico e próprio haveria no homem. Eis, po-
rém, que a observacao atenta das manifestacoes do ser humano e do maca
co dá a ver que no homem existe a faculdade de conceber o universo abs-
trato, formando definicdes, construindo linguagem sonora lógica, permi-
tindo cálculos e progressos de civilizado, cultivando o senso ético e a
Religiao — resultados estes que o macaco nao consegue a/cancar. A razio
destas manifestacoes é a existencia, no homem, de um principio vital ou
alma espiritual que transcende a materia e por isto se exprime de maneiras
que u/trapassam as capacidades da materia.

* * *

No artigo anterior deste fascfculo, fez-se referencia as páginas da revis


ta VEJA (28/9/1994), que insinuavam ser o homem tSo simplesmente o
descendente do macaco. Alias, em nossos dias registra-se forte tendencia
a despojar o ser humano de todos os predicados que sempre foram tidos
como características exclusivamente suas. Charles Darwin (f1882) insi-
nuava que o ser humano nao vem a ser senao um macaco aperfeicoado;
Sigmund Freud (f 1939) gloriava-se de haver. reduzido o homem a jogue-
te de instintos cegos, ao passo que a filosofía estruturalista decompde o
homem em elementos estruturais sem conteúdo específico; proclama
assim a morte do homem, como passo conseqüente á "morte de Deus".

Já foi dito á p.55 deste fascículo que, ao se tratar de tal assunto, urge
distinguir entre corpo e alma do homem (este nao é um bloco monolíti
co); o corpo, sendo materia, pode ter vindo de materia viva preexistente;
ao contrario, a alma, sendo espiritual, é criada por Oeus para cada ser hu
mano no momento da fecundacSo do óvulo pelo espermatozoide ou, se
nos referimos aos primeiros pais,... no momento em que o organismo do
prímata evoluído devia tornar-se sede da vida humana.

Ñas páginas subseqüentes, continuaremos a estudar valores-específi


cos do homem, que o distinguem dos animáis infra-humanos por serem

61
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

expressSes da alma espiritual (que os animáis nSo possuem). Assinalare-


mos cinco traeos, que complementarao quanto foi dito no artigo pre
cedente.

-1. INTELIGENCIA DO HOMEM E INSTINTO DO ANIMAL

1.1. Domesticacáo do animal e educacao da crianca

Há certos animáis domesticados que parecem tao espertos ou "inte


ligentes" quanto um ser humano. Tal é o caso, por exemplo, dos maca-
quinhos de circo, que executam exerci'cios em trapézio, montam a cávalo,
andam de bicicleta, tocam acordeSo, fumam cigarro, comem á mesa com
fidalguia, etc. Dir-se-ia que entre esses animáis e um homem educado há
mais afinidade do que entre um indio das selvas e um cidadao do séc. XX.

Observando de mais perto, porém, o estudioso verifica que, aquilo


que o macaco executa de estupendo, ele o faz únicamente para imitar o
comportamento do homem, sem perceber o significado intrínseco de seus
atos (nSo foi em vao que os antigos deram ao macaco o nome de "simus",
isto'é, simulador ou imitador). Em outros termos: a conduta do macaco
se deve a mera associacao de ¡magens e ¡mpressoes; ele aprende cegamente
(isto é, sem saber por qué) a realizar tal gesto ou a efetuar tais e tais acoes
desde que seja impressionado por tal estímulo.1 Com efeito, o animal que
aprendeu alguma "arte", nunca évoluiu nem se aperfeicoa na execucao da
mesma; jamáis chega ao limite máximo de suas possibilidades; ele' apenas
tolera-a arte que Ihe ensinaram, sem perceber a finalidade da mesma. Des
de que se veja emancipado do seu domesticador, liberta-se dos costumes
que aprendeu, ou emprega despropositadamente os instrumentos que ele
antes parecía manejar com sabedoria.

Assim um macaco pode aprender a comer com a colher; desde, po


rém, que o homem o deixe entregue a si mesmo, tal animal usará da colher
para brincar ou para qualquer outra atividade, nao, porém, para comer. O
macaco que toca acordeSo, assim que o pode, serve-se deste instrumento
como se fora um trampolim, um projétil ou um bastSo para atingir deter
minada fruta. O simio que veste trajes humanos, nao consegue deixar de
comer seus próprios excrementos, apesar dos muitos castigos que Ihe sSo
infligidos.

. Estes dados mais urna vez mostram que o irracional nato possui a ca-
pacidade de apreender proporcSes ou de perceber as reí acoes vigentes en-
■ tre meio e fim ou entre causa e efeito.

1 Ver a propósito o artigo de PR 387/1994, pp. 338-352 (a "inteligencia"


dos animáis).

P2
HOMEM É MACACO APERFEIQOADO? 15

A crianca, ao contrario, após aprender a manejar determinado instru


mento, tende a perscrutar as leis do seu función amento, chegando a des
montar tal objeto, a fim de se tornar consciente das causas dos respectivos
efeitos. Se possível, a criatura humana, tendo percebido as relac&es que
existem entre as diversas partes do instrumento, ainda procura aperfeicoar
a este, tornando-o mais adaptado á sua finalidade.

Em outros termos dir-se-á: o irracional vive exclusivamente no pre


sente; utiliza, sim, conhecimentos adquiridos no passado, mas apenas na
medida em que benef iciam a situacSo presente; nao possui a capacidade de
se emancipar das circunstancias atuais para conceber de algum modo tam-
bém o futuro; é isto que comunica á conduta do animal a índole prática
e realista que por vezes suscita a nossa admiracSo. — O homem, ao invés,
tende a abarcar os acontecimentos passados e presentes numa só visSo de
conjunto, na qual o futuro já é previsto e contemplado; ao desenrolar su-
cessivo dos acontecimentos o homem costuma dar urna interpretado, pro
curando os fios condutores ou as linhas-mestras da historia; e é por essa ¡n-
terpretacao ou por essa "filosofía" que a pessoa humana costuma, antes
do mais, guiar a sua conduta; a situacüo concreta de determinado momen
to nSo toma entao sena"o valor secundario.

1.2. A Percepcao do Universal

Ainda duas experiencias vém ao caso para mostrar a diferenca entre


inteligencia e instinto. Aquela apreende o invisível; este, ná*o.

O prof. G. Révesz apresentou a macacos, enancas e homens oito cai-


xas fechadas, das quais urna continha chocolate. Na primeira experiencia
colocou o chocolate na primeira caixa; na segunda experiencia, deslocou-o
para a segunda caixa; na terceira experiencia... para a terceira caixa; assim,
de cada vez, na caixa sucessiva. Ora homens e enancas dos seis, sete anos
em diante descobriram sem demora a lei que regia essas experiencias: im-
portava saber que o alimento se encontrava na caixa n. + 1, sendo n o nú
mero da experiencia anterior. Ao contrario, os macacos, submetidos ao
mesmo teste, nSo descobriram a lei abstrata geral (n + 1), mas de cada vez
se precipitaran! sobre a caixa que na experiencia anterior fora "premiada".
Isto quer dizer que o animal ¡nfra-humano é incapaz de superar o concre
to, material, para perceber o abstrato, universal. Donde se concluí que Ihe
falta a capacidade de conhecer espiritual, imaterial, ou a inteligencia.

A análoga conclusSo chegou o Prof. Hamílton:fez urna mesma expe


riencia com dez individuos humanos (um adulto normal, um adulto defi
ciente, seis criancas normáis de dez a cinco anos, urna crianca de 26 me-

63
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

ses, urna crianca anormal de onze anos) e 27 animáis (cinco macacos, de-
zesseis caes, cinco gatos e um cávalo). A experiencia consistía em introdu-
zir os individuos num recinto fechado com quatro portas. Urna destas po
día abrir-se com um empurrSo, ao passo que as outras estavam hermética
mente fechadas por fora. A porta que podía ser aberta com um empurráto
variava de experiencia para experiencia, mas nao de modo que pudesse ser
identificado pela memoria, pois as mudancas eram efetuadas segundo urna
lei simples que seria preciso descobrir. — Ora também neste caso somente
os individuos humanos sadios de mais di dois anos chegaram a perceber a
lei secreta das mudancas. Ajos animáis o problema ficou sendo ¡nsolúvel.
Isto quer dizer, mais urna vez, qué os animáis infra-humanos sá*o jncapazes
de perceber principios abstratos; nSo tém inteligencia.

1.3. Desenvolvimento do macaco e da crianca

O fato de que a conduta da criancinha nao se diferencia da do maca


co nos seus primeiros meses, ná*o quer dizer que o bebé nao seja verdadei-
ro ser humano desde os seus primeiros dias, mesrno desde a concepcSo no
seio materno. Apenas as suas faculdades intelectivas permanecem latentes
em grau maior ou menor, enquanto nSo estSo plenamente desenvolvidos
o cerebro e, ém geral, os sentidos, que fornecem á inteligencia os elemen
tos sobre os quais ela raciocina. A medida que o desenvolvimento se dá,
a enanca manifesta a presenca e as qualidades do seu intelecto.

Os estudiosos tém realizado experiencias muito significativas neste se-


tor. Assim, por exemplo, o casal Kellog permitiu que seu filhinho> Do-
nald, dos dez aos dezenove meses de idade, fosse educado ao lado de urna
criazinha de macaco chamada "Gua", a.qual, no inicio da experiencia,
contava sete meses de idade. Os observadores submeteram o filhote de ma
caco e a crianca exatamente as mesmas provas (necessidade.de fazer um
desvio ou um circuito para alcancar o seu alimento, subir sobre um tambo-
rete, manejar um objeto, obedecer a urna ordem,etc). Após minucioso
confronto, verificaram que durante alguns meses Donald e Gua apresenta-
vam semelhantes reaedes aos estímulos extrínsecos; respondiam aos mes-
mos testes com sucesso variável, mas geralmente obtendo empate final;
apenas o macaco se mostrava máis hábil e ligeiro nos seus movimentos físi
cos, enquanto a crianca manifestava mais capacidade de prestar atencSo.
Após determinado prazo, porém, observaram que. a crianca, por seus pro-
gressos, se distanciava do concorrente, de sorte a tornar vS qualquer ulte
rior comparacSo. A crianca comecou a falar propiamente; transpós o li-
míar da linguagem, que a caracterizaría como ser humano.

Experiencia semelhante á do casal Kellog foi empreendida pela den


tista russa Sra. Kohts, que confrontou o comportamento de seu filho com

64
HOMEM g MACACO APERFEIgOADO? 17

o de seu chimpanzé a partir de um ano e meio até os quatro anos de idade.


Observou que o chimpanzé aprendía, sim, certas facanhas, mas de modo
mecánico e rotineiro, sem manifestar tendencias a se aperfeicoar; ao con
trario, o menino demonstrava a propensSo a realizar trabalho cada vez
mais produtivo, ou seja, a superar continuamente os dados que aprendía.
Isto é, mais urna vez, indicio de que a enanca estava consciente do signifi
cado ou das proporcSes das artes que assimilava, ao passo que o macaco
nSo percebia tais proporcSes.

Assim a faculdade de falar constituí o sinal de demarcacao colocado


entre o reino dos irracionais e o do homem; essa demarcacao é intrans
pon ível, mesmo ao mais perfeito dos viventes meramente sensitivos.

2. A LINGUAGEM HUMANA

O chimpanzé e o gorila n§o podem falar nem aprender a falar lingua-


gem sonora desenvolvida, como demonstram todas as tentativas até agora
realizadas. Em conseqüéncia, os experimentadores tém procurado ensinar
aos chimpanzés e aos gorilas alguns sinais, que se assemelham aos da lin-
guagem dos surdo-mudos. A aprendizagem surtiu efeitos, como se depre-
ende do relatório publicado por Francine Patterson com o título Conver-
sations with a Gorilla em National Geographic, vol. 154, october 1978,
pp. 438-465. Experiencias anteriores á de Francine Patterson foram leva
das a termo por cientistas como R. Fouts, Gardner, Rumberger, Gilí,
Glaserfeld...; os resultados foram positivos... Todavía D. Ploog em 1972
verificava que, mesmo diante de tal éxito, se devem registrar.prgfundas di-
ferencas: a comunicacSo entre animáis e a linguagem usada pelos homens
ná*o diferem entre si apenas por diversidade de graus de perfeicSo dentro
da mesma pretensa linha homogénea, mas supSem estruturas físicas e psi
cológicas essencialmente diversas: o homem é, por sua natureza mesma,
um ser dado á cultura ou pré-programado para a cultura; o mesmo ná*o se
pode dizer a respeito dos animáis inferiores ao homem, que sSo dados a re
petir e imitar o que véem, sem poder criar algo que dependa de lógica e
raciocinio. '

Notemos também que os chimpanzés podem transmitir uns aos ou-


tros certos artificios: assim na ilha japonesa Koshima, que ná*o é habitada
por seres humanos, urna fémea de macaco descobriu certa vez que, para
limpar batatas, nSo é necessário esfregá-las entre as mSos, más basta mer-
gulhá-las na agua e lavá-las. Quatro anos mais tarde, a metade dos indivi
duos do grupo a que pertencia tal gémea, praticava o rito de lavar as bata
tas; no decorrer de dez anos, 71% dos membros do grupo haviam adotado
tal costume por via de imitacSo. Deve-se, porém, observar que esta propa-

65
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

gacao de artificio ná"o se deve ao desejo de educar, ensinar ou de comuni


car aos semelhantes alguma novidade; ela se assemelha muito mais á difu-
sSo por contagio ou por imitacSo.

3. O SENSO ÉTICO

Já Charles Darwin em 1871 procurava enumerar os caracteres que


distinguem o ser humano de maneira típica, permitindo assim estabelecer
a linha divisoria entre o homem e o animal inferior. Dizia ent§o:

"Sem restricao, subscrevo a tese dos especialistas que afirmam que,


dentre todas as diferencas existentes entre o homem e o anima/ inferior,
o senso moral ou a consciéncia é a mais importante" (Die Abstammung
des Menschen, p. 144).

Observacoes efetuadas em pessoas surdas e cegas de nascenca revela-


ram que ao homem a consciéncia é inata, ou seja, anterior a qualquer
experiencia.

Somente o homem tem a nocSo do bem e do mal. Somente o homem


pode tornar-se réu ou culpado. Em conseqüéncia, só o homem tem respon-
sabilidade.

A responsabilidade, por sua vez, supSe liberdade de opcao, faculdade


esta que falta aos animáis inferiores.

NSo há dúvida, o animal tem urna bondade espontánea, a qual se ma-


nifesta principalmente no instinto materno; todavia nao se pode dizerque
essa bondade resulte de urna opcao consciente. É inconsciente e indelibe
rada; o animal reage espontáneamente a certos estímulos como é o caso da
prole ou dos filhotes. O ser humano também reage espontáneamente a tais
estímulos; haja vista como as enancas gostam de brincar com bonecas, ca-
chorrinhos, coelhinhos, etc. Todavia, á diferenca dos animáis, o homem é
capaz de proceder contra os seus instintos; assim fazendo, ele se perverte
ou... segué um ideal e cultiva valores que ele julga superiores á satisfacSo
proporcionada pelos instintos. Só o homem pode assumir certas atitudes
aparentemente paradoxais ou antitéticas aos instintos: a paciencia, a mise
ricordia, o amor aos inimigos, a compaixSo e a benevolencia com os crimi
nosos e perversos; tais virtudes estSo fora do alcance dos animáis, mas elas
nao sao sobre-humanas; sSo, ao contrarío, profunda e típicamente huma
nas.

Mais: o animal nSo é capaz de assumir deveres ou compromissos; n§o


se Ihe podem impor normas, mesmo que se Ihe imponha determinada

66
HOMEM É MACACO APERFEigOADO? 19

aprendizagem. Por isto também a educacao é fenómeno específicamente


humano; sem educacao ná*o só o psiquismo do homem é prejudicado, mas
também o próprio desenvolvimento biológico e corporal do homem sofre
detrimento.

Tais ponderales evidenciam como o senso moral caracteriza o ser


humano, distinguindo-o específicamente dos animáis, e colocando o ho
mem em posicSo singular no reino dos viventes.

4. A CAPACIDADE DE REFLETIR

Ainda ao estudar as diferencas entre o ser humano e os animáis infe


riores, Darwin apontava a consciéncia que o homem tem de si mesmo:
esta é a chamada consciéncia psicológica, á diferenca da consciéncia
moral1.

Quais as conseqüéncias deste fato?

1) Por sua consciéncia psicológica, o homem é capaz de ref letir sobre


si mesmo, sobre o seu presente, o seu passado e o futuro. Essa capacidade
de refletir é característica do ser humano, pois só este é sujeito de recorda-
cao propriamente dita; com efeito, um animal pode reconhecer o seu pa-
trao ou determinados objetos quando estes Ihe sSo apresentados de novo;
mas somente o homem pode recordar-se de pessoas ausentes e de aconteci-
mentos já ocorridos. Visto que os animáis nao conseguem isto, vivem qua-
se exclusivamente no presente como vivem os bebés.

2) É precisamente a capacidade de recordar realidades ausentes que


permite a formacao de conceitos universais e de urna linguagem tal como o
homem possui: linguagem que exprime nocOes universais, como homem,
enanca, belo, justo, injusto..., recorrendo aos mais diversos sons (francés,
russo, chinés, bantu, tupi, etc.).

3) Notemos outrossim: um ser para o qual só existe o presente ¡me


diato, nao pode cultivar a historia, como o homem a cultiva...

4) ... Nem pode ter responsabilidades, porque na*o pode prever as


conseqüéncias de determinado comportamento seu...

1 A consciéncia moral é a faculdade que temos, de ¡ulgar o que convém ou


nSo convém fazer em vista da consecucSo do nosso fim supremo; a consci
éncia manda, a consciéncia aprova, a consciéncia censura nossos atos
moráis.

67
20 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

5)... Nem pode ter Religiáo como o homem tem, visto que a ReligiSo
p5e o homem em contato com a transcendencia ou com os valores históri
cos e trans-hístóricos. A ReligiSo vem a ser, pojs, um sinal típico e incon-
fundível do ser humano. Detenhamo-nos um pouco mais sobre esta
afirmácSo.

5. O SENSO RELIGIOSO

O senso religioso, pondo o homem em contato com valores transcen


dental, exprime-se, entre outras maneiras, através da crenca na vida postu
ma, é por isto que, desde os remotos tempos da pré-história, o ser humano
sepulta os seus mortos. Os animáis irracionais, diante dos seus semelhantes
exánimes, experimentam sentimentos mistos de medo, inseguranca, curio-
sidade, intranqüilidade... Mesmo a fémea do macaco, apesar do seu instin
to materno, nSo se preocupa com o sepultamento do filhote falecido:
após a morte deste, ela aínda procura insistentemente alimentá-lo, carre-
ga-o para diversos lugares,... mas, logo que o cadáver entra em decomposi-
cSo e as características físicas* do filhote se vSo extinguindo, ela abandona
o cadáver em qualquer lugar e ná"o mais se interessa por ele.

Ora entre os homens a atencao aos mortos é uma característica das


mais antigás.

Os fósseis do homo erectus (devidamente identificado) encontrados


na Europa e na Asia atestam esta verdade. O homem de Neandertal, por
exemplo, sepultava seus mortos na posicéío de quem está dormindo, com a
cabeca pousada sobre uma pedra; sobre o cadáver I ancava pó de ocre, que
tem a cor da vida (pardo, amarelo, vermelho, castanho...); junto ao defun-
to colocava alimentos, armas, instrumentos diversos e figuras ornamentáis,
que Ihe serviriam na viagem para o além... O homem de Cromagnon tam-
bém adotava tais costumes. Estes atestam a fé numa vida postuma ou
numa realidade transcendente,

Chamam outrossim a atencSo dos estudiosos as pinturas encontradas


ñas cavernas da pré-história: representam motivos da caca ou da magia.
Ora todo cultivo da arte está originariamente associado á ReligiSo: esta
sempre inspirou os pintores, os poetas, os músicos...

Ora a ReligiSo, voltada para os valores transcendentais, é cortamente


- uma característica do espirito; ela é tSo antiga quanto o homem, pois se
manifesta desde a pré-história até hoje, e nunca foi cultivada pelo animal
irracional. A existencia, no homem, de sentimento religioso e de expres-
sOes correspondentes abre um hiato entre o ser humano e o macaco, hiato

68
HOMEM g MACACO APERFEICOAOO? 21

este que nao foi superado ou transposto até hoje. Nem há possibilidade de
superacao, visto que a ReligiSo supSe, no ser humano, a realidade do
espirito ou da alma espiritual, ao passo que o principio vital dos irracio-
nais é meramente material. É a alma espiritual ou nSo material que faculta
ao homem ter expressSes de si que transcendem os dados concretos, mate-
riáis, a que está confinado o ser irracional. Pela religiSo, o homem se eleva
aos valores invisíveis e ao Infinito, procurando assim a resposta ás suas as-
piracoes mais espontáneas que sao aspiracSes á Verdade, ao Amor, á Justi-
ca, á Vida, á Felicidade sem limites, é tSo sonriente através do caminho da
ReligiSo e da Mística que o homem encontra os verdadeiros bens para os
quais foi feito e dos quais o animal irracional na~o tem a mais pálida nocSo.

. A ReligiSo é inspirada pela necessidade que o homem experimenta,


de dar sentido á sua vida ou de justificar, perante a sua consciéncia, a sua
I uta, o seu trabalho, o seu sofrimento e a súa morte. Na verdade, se nao
existem valores transcendental que respondem ás aspiracQes congénitas
de todo homem, a presente realidade é vazia e frustrativa; o homem se
torna um absurdo, perdido em meio ás coisas passageiras que o cercam. E
o homem-absurdo seria urna excecSo no conjunto do universo» visto que
este reflete ordem e harmonía — expressoes de urna Inteligencia Suprema.

Em nossos dias, a ReligiSo continua sendo um fator típico da inteli


gencia humana. Mesmo os que se dizem ateus, cultivam o Absoluto sob
formas leigas ou secularizadas; é o caso do comunismo, ao qual o judeu
Karl Marx deu a estrutura de um messianismo sem Deus; o proletariado
sacrificado na luta de classes seria o Messias, que, morrendo, prepararía o
surto de um homem novo, morigerado e pacífico. As categorías religiosas
do judaismo foram transpostas por Karl Marx para o plano da sociología
e da política; sobrevivem, porém, no esquema de pensamento marxista.
— O marxismo cu Itua religiosamente certos valores meramente humanos
ou profanos; este esquema caricatural já ná*o satisfaz a mu ¡tos cidadá*os,
que hoje em dia se afastam do marxismo e das suas pantominas para pro
curar a verdadeira fé e auténticas expressfies religiosas. O senso religioso,
inato em todo homem, vem de novo á tona apesar das tentativas de erra-
dicacSo a que o marxismo o submeteu. Este fenómeno bem evidencia
quanto o senso religioso é característico do ser humano. SSo sempre váli
das as palavras de S. Agostinho (t430): "Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e
inquieto é o nosso coracSo enquanto n§o repousa em Ti" (Confissóes 11).

Atraído irresistivelmente pelo Senhor Deus; o homem "ateu" de nos-


sos dias cria suas místicas, seus "absolutos", seus deuses, suas supersticQes,
que inadequadamente Ihe fazem as vezes do único Deus.

69
Crítica exacerbada:

'DOCUMENTOS CONFIDENCIAIS
DE JOAO PAULO III"

por Francisco de Juanes

Em síntese: O livro de Francisco de Juanes vem a ser urna crítica


acerba á Igreja, com sua historia, sua fé, sua estrutura hierárquica... Diver
sos pontos da imagem da Igreja sio censurados em termos passionais, im
precisos e sarcásticos; aigumas acusacoes se baseiam em falsos pressupostos
e sSo mal formuladas. O livro está longe de ter a seriedade de urna obra ci
entífica; embora o autor se retira freqüentemente á Biblia, nunca faz urna
citacao bíblica expressa (livro, capítulo e versículo). — £ ceno que na Igre
ja existem as fainas dos homens que déla fazem parte, mas a Igreja nio é
apenas a soma de pessoas frágeis; é o Corpo de Cristo prolongado, no qual
Cristo vive e indefectivefmente santifica aqueles que O procuram sincera
mente. — Multo estranha, entre outras, é a nocaode pecado proposta pelo
autor: seria nSo empregar os meios para ser feliz (em termos materiais e
até sensuais); "quem nSo é feliz, está, de alguma maneira, desobedecendo
a Deus" (p. 196). Daí a rejeicSo de toda prática de mortif¡cacao e a liber-
dade para procurar o prazer do sexo ñas relacdes pré-matrimoniais e no
homossexualismo.

O livro se ressente da eclesiologia protestante, que rejeita urna auto-


ridade central na Igreja e é fator de esfacelamento e deteriorado dó
Cristianismo.'

* * *

A obra de Francisco de Juanes (pseudónimo?) vem a ser urna crítica


exacerbada á Igreja de hoje e do passado. Dentro do enredo de um "furo
jornalístico", o autor terá entrevistado o Papa JoSo Paulo III após a sua
renuncia ao pontificado apresentada ao Concilio do México I; como ne
me de "IrmSo Pedro", esse Papa ficticio terá revelado ao jornal¡sta os pro
blemas que o afligiam. Sob essa forma "elegante" e imaginosa, o autor do
livro ataca a jgreja e seus procedimentos de maneira gloral; isto redunda
em destruir a Igreja fundada por Cristo e entregue a Pedro para constituir
pequeñas comunidades eclesiais regidas pelo seu respectivo "Parlamento
democrático", á semelhanca do que se dá no protestantismo.

70
"DOCUMENTOS CONFIDENCIAL DE JOÁO PAULO III" 23

O livro aborda ampia temática, de modo tal que n3o é possível res
ponder a todos os seus ataques dentro dos limites de um artigo de revista.
Por isto, destacaremos, a seguir, dois pontos fundamentáis da crítica levan
tada: autoridade na Igreja e Teología Moral; após o qué, taremos referen
cia mais sumaria a alguns tópicos particulares.

1. A AUTORIDADE NA IGREJA

1.1. AObjecao

0 autor quer que a Igreja tome a constituicSo de urna democracia,


cujos homens e mulheres, casados e solteiros, responsáveis, seriam eleitos
pelo povo de Deus, "primeiro e principal depositario do Espirito Santo"
(p.27). A atual hierarquia da Igreja terá sido copiada de instituicoes so-
ciais do Imperio Romano pagá*o, de modo a gerar "dezessete séculos de
paganismo romano" (4a. capa):

"Pretender que o sistema de eleicao és ordens eclesiásticas, do diaco-


nato ao papado e, em geral, a selecao das pessoas para os diversos minis
terios dentro da igre/'a nSo possa ser, 'por instituicao divina' (I), um siste
ma democrático na base de eleicao entre os membros das comunidades
que deverao ser servidas por esses cargos e ministerios, constituí', na me-
Ihor das hipóteses, urna supina ignorancia de todos os textos que conserva
mos sobre as primeiras comunidades cristas, além de urna consagracao mí
tica, no alvorecer do século XXI, mais ridicula que perversa, de um hábito
emprestado aos imperios e instituicdes sociais, administrativas e políticas
do mundo pagao nos primeiros séculos do cristianismo" (p. 39).

Esta afirmacSo já é um espécimen do que seja o livro de Fr. de Juan-


nes: refere-se ás primeiras comunidades cristas e a instituicSes do mundo
pagSo sem especificacSo alguma e sem referencia bibliográfica que apoie
ou ilustre os dizeres do autor. Como quer que seja, para confirmá-los, o
autor diz que na*o há, no Novo Testamento, mencSo da "figura sacralizada
— sacramentalizada — do sacerdote" (p.39). Os Apostólos e os primeiros
cristaos esperavam o fim do mundo para breve, de modo que nunca terSo
pensado em sucessores e em pastoreio estável e duradouro do rebanho de
Cristo; cf. pp. 39.118.

Mais ainda: para fundamentar sua posicSo, o autor defende a tese de.
que n3o conhecemos as próprias palavras e os feitos de Jesús; cf. p.24. Em
conseqüéncia, nSo se pode apelar para o Evangelho a fim de.definir a
estruturada Igreja; cf. p.27. Disto se segué que na Igreja só existe o sacer
docio comum ou batismal de todos os fiéis; sSo estes que, por via de elei-

71
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

c5es, escolhem seus dirigentes, ... dirigentes que nao gozam do carisma da
infalibilidade para guardar incólume o depósito da fé e da Moral católicas;
cf. pp. 126-150.

O tom do autor é fortemente agressivo e injurioso, recorrendo mais


de urna vez ao adjetivo "pagao" para qualificar o ministerio hierárquico da
Igreja.

1.2. Quedizer?

1.2.1. Observacáb Geral

A simples leitura do livro de Francisco de Juanes revela a superfi-


cialidade do autor; fala mais por paixao do que por raciocinio. Ao referir
se á Biblia, nSo faz urna citacüo explícita em toda a sua obra, como nota
mos atrás. Langa afirmacoes genéricas, infundadas, que nenhum pesquisa-
dor criterioso abonaría. Basta lembrat* a sentenca da p. 24, segundo a
qual "nenhum escriturísta duvida que ná*o conhecemos ipsissima facta et
verba Christi". Para contradizer-lhe, seja citado o protestante Joachim
Jeremías, que em varias obras suas defende a tese de que nos Evangelhos
varias passagens fazem ressoar ipsissima verba Christi (as palavras mesmas
de Cristo).1

Notemos ainda que os Evangelhos nao pretendem ser a Súmula de


Teología pregada por Jesús Cristo, mas sao apenas o eco escrito da prega-
cSo oral dos Apostólos; ficou na TradicSo oral, n3o escrita, muito do que
Jesús disse e fez, como adverte o próprio S. JoSo no final do seu Evange-
Iho; cf. Jo 20,30s; 21, 24s. Por conseguinte, na*o é lícito ao estudioso dizer
"NSo está escrito nos Evangelhos; por isto é falso, é de origem posterior,
paga..."; quem assim procede, ignora o valor da Palavra oral, que bercou
a escrita e a acompanha como criterio para interpretá-la.

1 Ver, por exemplo, J. Jeremías, Paroles de Jósus, ¿es Editíons du Cerf,


París 1965. A p.80 desta obra lé-se o seguirte:
"Eis aproximadamente o som que o Pai-Nosso tinha nos labios de
Jesús:
'Abbá
Jitqaddásh shemák / tetémalkták
lahmán delimhar / hab lán joma den
usheboq lán hobaín / kedishebáqnan lehajjabaín
welan ta' elínnan lenisjón".

72
"DOCUMENTOS CONFIDENCIAL DE JOÁO PAULO III" 25

1.2.2. Autoridade na Igreja

A instituicSo de um ministerio pastoral e da autoridade hierárquica


da Igreja está muito nítida nos escritos do Novo Testamento; ver

Mt 16,16-19; Le 22,31$; Jo 21,15-17 (no tocante a Pedro);


Mt 18,18 (no tocante aos Doze).

0 interesse dos Apostólos em instituir sucessores que dessem conti


nuidade á sua missSo, está documentado em outras passagens do Novo
Testamento, como se depreende das observares do Pe. Yves Congar O.P.:

"Chega um momento em que os Apostólos (Paulo) consideram mais


ou menos próximo seu desaparecimento. Veem chegar e crescer, ao mes-
mo tempo, os perígos de falsas doutrinas, de dissensdes, de provas i temí-
veis. Portanto, outros deverao assumir depois de sua morte a tarefa que
e/es haviam desempenhado na direcSo das comunidades e na conservacSo
da norma e pureza de seu ensinamento (Rm 6,17; 1Tm 1,13). Sao os bis-
pos ou presbíteros de Éfeso que Paulo convoca em Mileto, convicto de
que nSo os tornará a ver (At 20,17-35), e, sobretudo, Tito e Timoteo, a
quem o próprio Paulo havia imposto as maos com todo o colegio dos pres
bíteros (2Tm 1,6; 1Tm 4,14). Estes nSosó terSo que permanecer pessoal-
mente firmes na sS doutrina e conservar o depósito, mas a/ém disso deve-
rSo assegurar a continuidade da obra apostólica: instituir presbíteros locáis
(Tt 1,5) apoiando-se numa autoridade superior á sua própria ÍITm 5,17-
22), transmitir-lhes a dou trina (2Tm 2,2), escolhendo pessoas capazes de
transmiti-la também retamente (Tt 1,9; 2,1.15): 'o que aprendeste de
mim com o testemunho de numerosas testemunhas, confia-o a homens se
guros, capazes, por sua vez, de instruir outros'. Esta instítuicSo se realizará
pela imposicao das mSos, como se havia feito com o próprio Timoteo
(1Tm 5,22 e 4,14). Podemos concluir com Ph. Menoud: 'Sendo o aposto
lado também o ministerio da edif¡cacao da Igreja, deve ter continuidade,
como prova o exemp/o de um Timoteo ou um Tito e o dever prescrito a
Timoteo de assegurar-se sucessores'" fMysterium Salutis IV/3, p. 172).

De resto, é evidente a necessidade de autoridade na Igreja, como alias


em toda e qualquer sociedade que deseje desempenhar a sua missSo. A au
toridade coordena as diversas funcoes e as faz convergir para a unidade.
Exemplo do que vem a ser o Cristianismo sem autoridade central, "demo
cráticamente governado" pelos fiéis é o protestantismo contemporáneo. ■
Neste o subjetivismo dos individuos e dos grupos é tal que o povo crente
se esfacela cada vez mais e se afasta progressivamente do Evangelho;
certas recentes denominares tendem a retornar ao Antigo Testamento,
em detrimento do Novo; outras admitem um livro de revelacSes além dos

73
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

Evangelhos... Principalmente quando se trata dos valores da fé, há necessi-


dade de garantir a incolumidade dos mesmos, dada a sua importancia ca
pital; por isto nao se pode crer que o Senhor Deus tenha entregue ao arbf-
trio dos homens a organizado da sua Igreja e a interpretado da Boa-No
va; Ele mesmo terá providenciado (como bem atesta o Evangelho) a insti-
tuipao de um colegiado de pastores, sob a direcSo de Pedro e seus sucesso-
res, colegiado que conta com a assisténcia do Espirito Santo para que, em
materia de fé e de Moral, se faca a transmissao fiel a todos os povos (cf.
Mt 28,18-20; Jo 14,16.26; 16,13-15). Sem esta dádiva de Deus á sua Igre
ja, teria sido v3o o ministerio de Cristo e v3 a sua obra salvi'fica, porque os
homens se encarregariam de deteriorar, segundo os seus caprichos, o tesou-
ro da Palavra e os cañáis da graca.

1.2.3. Paganismo na Igreja?

Os exegetas contemporáneos sao menos propensos do que os de ou-


trora a admitir influencia helenística nos escritos do Novo Testamento,
pois se vé atualmente muito melhor como o Novo Testamento depende o
Antigo. Os paralelos entre Cristianismo do século IV e paganismo do Im
perio Romano (na época de Constantino Magno e depois) sao artificiáis e
resultam de preconceitos muito mais do que de urna análise objetiva dos
fatos. A propósito apraz citar as palavras de um exegeta alemao — P.G.
Müller —, que vé na Igreja, tal como Ela se manifesta através dos séculos,
nao a deformacao dos Evangelhos, mas o único canal que temos para co-
nhecer Jesús Cristo; lembra ele muito sabiamente que o único Jesús que
conhecemos, só o conhecemos através da Igreja, a tal ponto que Igreja e
Jesús Cristo sSo inseparáveis um do outro:

■> "A tradicao do que é propriamente Jesús, nSo pode ser pensada sem
o fato 'Igreja', porque esse Jesús, como conteúdodatradigSo-de-Jesus,só
foi conservado de maneira permanente pela Igreja, devido ao interesse
eclesial por Jesús. Um Jesús sem ou fora da Igreja nunca existiu e, em úl
tima instancia, nunca poderá existir, porque com a perda da Igreja tam-
bém se perde a única instancia que é capaz de testemunhar quem é Jesús
e o que ele significa. Isto porque toda a linguagem do Novo Testamento é
urna linguagem testemunhal, inclusive os logia de Jesús. Quemportanto nao
ouve essa linguagem do testemunho eclesial, também nao ouve Jesús"
(Jesús ja — Kirche nein, em Theologische praktische Quartalschrift 126
(1978) pp. 129-137). Citado por A. Barreiro, Povo Santo e Pecador,
p. 31.

É oportuno observar que P.G. Müller, no artigo citado, estuda e refu


ta a objecSo "Jesús, sim - Igreja, nao", é citado por Alvaro Barreiro no
seu livro "Povo Santo e Pecador", que apresentamos em PR 391/1994,

74
"DOCUMENTOS CONFIDENCIAL DE JOÁO PAULO III" 27

pp. 530-545; é de notar a diferenca de estilo e mentalidade existente entre


o livro de A. Barreiro e o de Fr. de Juanes: aquele é documentado, preciso,
meticuloso, sabe por os pingos nos iis e ler os matizes dos textos e aconte-
cimentos, ao passo que de Juanes é emotivo, dado a preconceitos e genera
lizares, que tiram a obra o caráter científico e fidedigno que seria de es
perar em se tratando de temática tao deliciada.

2. A MORAL CATÓLICA

2.1. Principio básico

Francisco de Juanes critica fortemente a Moral Católica, especialmen


te no que diz respeito á sexualidade: aceita o divorcio, o homossexualis-
mo, as relacSes pré-matrimoniais (ver pp. 187-195). A raza*o pela qual o
autor legitima tais práticas, é a seguinte: Deus quer que o homem seja fe
liz; por isto nSo se devem proibir os procedimentos nos quais as pessoas
julgam encontrar a sua felicidade. Eis textualmente o que se lé á p.196:

"7.5 Que, na realidade, o pecado fundamental do homem é nao ser


feliz, nSo por os meios para ser realmente feliz. A vontade fundamental do
Criador 6 que sejamos felizes: quem nao é feliz, está, de alguma maneira,
desobedecendo a Deus.

7.6. Que, sendo a primeira obrígacSo do homem, segundo o Evange-


Iho de Jesús, preocuparse com amor fraternal pela felicidade do outro, a
primeirfssima obrígacao desse homem é a de ser feliz ele próprío,pois quem
nSo é feliz n§o pode dar felicidade — ninguém dá o que nao tem —, o que
é amargo amarga, o insatisfeito nSo satisfaz e o neurótico obsessivo neuro-
tiza seu ambiente — o que nossos avós diziam com mais simplicidade: 'Um
louco faz cem', sobretudo se for clérigo, acrescentamos nos.

7.7. Que é urgente, para a felicidade de todos, que a igre/'a perca aos
olhos dos fiéis o poder de legislar sobre o que é bom e o que é mau, em
materia de moralidade sexual e em qualquer outra; nosso poder deve li
mitarse a pqr diante dos olhos dos crentes, com nossa palavra e nossa vi
da, o que o Senhor Jesús, que 'só falava o que havia escutado do Pal', j'ul-
gou por bem estabelecer como leí para nossa felicidade, para nos, que, sa
bia, tfnhamos sexo, além de siso".

As mesmas idéias ocorrem também á p. 120, servindo para rid¡culan


zar as práticas de mortificacSo (jejum, abstinencia e outras) das carmelitas
e dos fiéis católicos em geral:

75
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

"É vontade de Deus que todos se/amos felizes e que soframos o


menos possfvel. Portanto quem, voluntariamente, sem beneficio algum
para ninguém á sua volta, se impde algum sofrimento físico, psíquico ou
moral, está desobedecendo a Deus, contrariando sua vontade, pois 'tu abri
gas, Senhor, pensamentos de bondade e nSo de aflicSo a respeito de todas
as criaturas', como diz a Escritura".

Como se vé, felicidade é aquí entendida no sentido racional ou filosó


fico da palavra, sem se levar em conta o concertó de felicidade decorrente
das bem-aventuraneas evangélicas; cf. Mt 5,3-12; Le 6,20-26. Existe, sim,
enorme alegria para o cristSo que se configura á Páscoa de Cristo, morren
do ao velho homem para permitir que se forme nele a nova criatura. O au
tor professa urna nocSo subjetiva de felicidade, inspirada pelo hedonismo
sensual de nossos dias. Deus quer que sejamos felizes, sim, mas seguindo
Jesús Cristo, que morreu na Cruz a fim de ressurgir como o novo Adao. A
felicidade dos sentidos e dos bens materiais passageiros torna-se ilusoria, se
nSo é acompanhada de radical renuncia a toda cobica desregrada ou de
mortificacSo dos residuos de pecado que habitam em nos. N3ó há vida
plena sem previa morte ao velho homem.

Em conseqüéncia de suas premissas, o autor dá a entender que peca


do é tá*o somente aquilo que prejudica o próximo; nao haveria pecado do
¡ndivi'duo contra Deus e contra si mesmo:

"Como podemos nos... dizer a um pobre homem ou a urna pobre mu-


Iher que pecam mortalmente ao fazerem isso ou aquilo se, em primeiro
lugar, nSo se vé de modo algum que prejudicam alguém e, em segundo lu
gar, se carecemos de fundamentacSo revelada para sequer falar do tema?"
(p. 178; ver p. 120).

"NSo está em jogo nada moral, se nSo está em fogo o amor a alguém
ou o daño a um terceiro" (p. 179).

2.2. Lei natural

O autor menospreza o conceito de lei natural, chegando a ridiculari-


zá-lo quando diz:

"Deve-se pregar sem. equívocos a generosa atitude vital de comparti-


Ihar e de multiplicar a vida — em qualidade e nao só em quantidade — e
seus beneficiarios, insistindo mais na honestidade dos fins do que na 'mo-
ralidade intrínseca dos meios, por natureza'. Que sabemos nos e o Papa da
natureza? Deixemo-la aos dentistas deste mundo; temos outras luzes, nao
caíamos no orgulho de querer saber tudo; já nos basta a ignorancia dos
misterios da Cruz e da RessurreicSo" (pp. 177s).

76
"DOCUMENTOS CONFIDENCIAL DE JOÁO PAULO III" 29

Nesta seccSo o autor parece defender o falso principio de que o fim


justifica os meios; promover a qualidade da vida serie um objetivo em vista
do qual todos os meios — naturais e antinaturais — seriam lícitos. A alega-
c3o de que nSo conhecemos suficientmente a natureza para poder falar de
lei natural, é um sofisma, pois, no caso da Moral nSo se trata de conhecer
o makrokosmos ou o mikrokosmos, mas simplesmente de conhecer as leis
segundo as quais o organismo humano funciona. As ciencias da anatomía
e da fisiología conhecem o bastante para fundamentar o correto compor-
tamento humano: nSo abusar do fumo, da comida, da bebida, da genita-
lidade...

A lei natural é a lei do Criador, impressa na natureza humana. As


leis positivas nSo hSo de ser mais do que a explicitacSo da lei natural, que
diz: NSo matar, na~o roubar, na*o adulterar, n§o levantar falso testemunho,
honrar pai e mSe, respeitar o próprio corpo e as normas de seu funciona-
mento... Ora a Moral Católica está baseada na lei natural; a Igreja nao vem
a ser senáfo a porta-voz das leis do Criador, principalmente quando se trata
da Ética da sexualidade. Deus na*o fala so mente pela Escritura, mas tam-
bém pela natureza que Ele criou; em conseqüéncia, nSo é necessário apon-
tar um texto bíblico para justificar os preceitos e as proibicSes decorrentes
da lei natural.

As pp. 174-176 o autor propSe urna interrogacSo procedente de gra


ve equívoco:

"Se é imoral todo ato sexual no qual se separa mentalmente o pró


prio ato da possibilidade da fecundacSo com vistas a um novo filho, como
se explica que a doutrina oficial do Vaticano nSo declare ¡moráis as rela-
coes sexuais de casáis em idade avancada, ou depois da menopausa da es
posa, ou depois de urna intervencSo cirúrgica de extirpagSo do ovario por
causa de tumor maligno?" (P. 175).

Salta aos olhos o sofisma: o que a S. Igreja (na"o se diga "o Vaticano",
pois este nome designa o Estado ou a Cidade respectiva) rejeita, é a mutila-
gao da natureza, que ocorre quando se empregam recursos artificiáis; a
Igreja, porém, nSo rejeita as relacdes conjugáis, quando a própria natureza
é estéril. O que interessa, nSo é procriar, mas é respeitar a natureza, que
Deus fez. Alias, a medicina mesma reconhece que qualquer contravencSo
as leis da natureza é daninha para o organismo humano.

Passemos agora a alguns tópicos particulares.

77
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

3. TÓPICOS PARTICULARES

Quase cada página do livro de Francisco de Juanes converge para


urna crítica á Igreja. Destaquemos aínda os seguintes pontos:

3.1. A Eucaristía

O autor revela ignorancia (inocente?... ou preconceituosa?) quando


se refere á Eucaristía.

a) Nega a real presenca de Cristo sob as especies do pao e do vinho


consagrados como se tal presenca excluisse a presenca de Cristo nos ir-
mSos e no mundo em geral. — Ora a Teología afirma apenas que Cristo es
tá presente na Eucaristía ná~o apenas por sua ¡magem e semelhanca ou por
sua acá"o redentora, mas de maneira singular ou substancial, pois a consa
grado eucan'stica faz que a substancia do pao e do vinho se converta na
do corpo e sangue de Cristo. A propósito é muito eloqüente o testemunho
do ex-pastor batista Francisco Almeida Araújo, que se converteu ao Cato
licismo precisamente quando estudava a S. Eucaristia. Eís as suas palavras
no lívro "Em Defesa da Fé" pp. 74-76:

"Por que deixei de ser protestante e agora sou católico pela graca
de Deus?

É o que pretendo narrar aquí, mesmo que de forma muito resumida.

Tudo aconteceu por causa de um estudo que fiz sobre a Ceia doSe-
nhor, em 1 Con'ntios 11,23-32, passagem sobre que já havia pregado tan
tas vezes e que tinha estudado com seriedade. Ao ler os versículos 23 e 24:
'Eu recebi do Senhor o que vos transmití: que o Senhor Jesús, na noite em
que foi traído, tomou o Pao, e, depois de ter dado gracas, partíu-o e disse:
ISTO É O MEU CORPO, QUE É ENTREGUE POR VOS...' Volto a afir
mar: quantas vezes havia lido, estudado e pregado esse texto! Mas nesse
día foi diferente. As palavras do Senhor falaram fundo ao meu coracSo:
'ISTO É O MEU CQRPO'.

. Eu havia aprendido com meus professores de teología, estudando nos


compendios clássicos da teologia protestante, que o texto devia ser enten
dido como: 'representa' o meu corpo, 'simboliza' o meu corpo. Eu havia
aprendido aínda que tudo aquilo era um mero memorial, nem mesmo era
sacramento, mas urna simples ordenanca...

Mas ali estava a Palavra de Deus dizendo claramente: 'ISTO É O MEU


CORPO'.

78
"DOCUMENTOS CONFIDENCIAL DE JOÁO PAULO III" 3±

Sem deixar transparecer tudo que se passava em meu coracao, sem


nada revelar a ninguém, iniciei um estudo mais serio, mais cuidadoso, so
bre o assunto. Li e reli varias vezes os Evangelhos e todo o restante do
Novo Testamento em busca de urna resposta que acabasse com aquela
dúvida em meu coracSo.

Após algum tempo de estudos, regados de lágrimas e oracSes, estando


um dia de joelhos em meu quarto, a sos, com a Biblia aberta sobre a cama,
estudando no Evangelho de Safo JoSo 6,25-71, descobri a maravilhosa ver
tí ade sobre a Eucaristía. Caí em prantos de alegría incontida. Havia poucas
horas, me ajoelhava como um Pastor protestante, embora com o coracao
aflito, cheio de dúvidas, e eis que agora me levanto como Católico Apostó
lico Romano!

Deus seja Bendito para sempre!

Eu sabia que somente a Igreja Católica ensinava a verdade sobre a Eu


caristía: a presenca real do Cristo na hostia e no vinho consagrados".

A Física moderna, embora tenha revolucionado o conceitode mate


ria, nao invalidou as nocoes filosóficas de substancia, esséncia e acidentes.
Com efeito; as ciencias naturais se desenvolvem no plano empfrico e ¡me
diato, ao passo que a Filosofía vai até as causas e nocBes últimas. Por ver-
sarem em planos diferentes, a Filosofía e a Física nao entram em choque
entre si.

b) Fr. de Juanes ridiculariza o conceito de Eucaristía como perpetu a-


cSo sacramental do sacrificio da Cruz:

, "Insistiu-se durante sáculos no aspecto sacrifica! da celebracao euca-


ristica... Insistiu-se obsessivamente no caráter... cruel (Deus perdoa somen
te se vé que alguém paga/sofre/sangra em satisfacao pelos pecados cometi
dos... o Deus 'desumano dos pagSos) dos sacrificios das religioes antigás...
Passados já vinte séculos, quando se livrará nossa Igreja desses vestigios sa
crificáis desuníanos de um paganismo aparentemente superado?" (p. 117).

Dir-se-ia que o autor acusa sem avaliar bem o que está dizendo. Na
verdade, Deus nSo precisa de pagamento nem de sangue dos homens. To
davía Ele quer resgatar do pecado o homem, usando de mais sabedoria do
que se o fizesse com urna só palavra judiciária fría. Sim; Ele quis entrar
dentro dos trámites da vida humana, fazendo-se Ele mesmo homem; nas-
ceu, trabalhou, sofreu e rnorreu cruelmente para santificar e transfigurar o
comezínho .ou'o cotidiano da vida dos homens e fazer da própria morte a
passagem para urna vida nova ou a ressurreicSo. Assim o homem redimido

79
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

sofre e morre (como Ihe é natural), mas sofre e morre certo de que esses
termos negativos possuem um significado positivo, porque Deus os assu-
miu. E, antes de partir para o Pai, Jesús Cristo, na última ceia, quis dei-
xar-nos a perpetuado do seu sacrificio; a Eucaristía torna presente o sacri
ficio da Cruz para que dele participemos como cooferentes e cooferecidos
com Cristo; nos nos oferecemos com Cristo ao Pai em cada S. Missa, a fim
de consagrar-Lhe nossa vida e luta de cada dia e receber o alimento neces-
sário para continuarmos a caminhar até a plenitude da vida. É este o belo
significado da Eucaristía, que nada tem de pagSo; ademáis a prática de
imolar animáis irracionais, representativos do homem, nao é paga*, pois se
encontra muito enfatizada na Lei de Moisés.

c) Fr. de Juanes preconiza a celebracSo da Eucaristía nao com pSo de


trigo e vinho de uva, mas com p3o de arroz e cha na China ou com suco
de frutas em outros países. — Respondemos: a Igreja nSo tem autoridade
sobre a materia dos sacramentos; estes s3o de instituigá'o divina, e nao
eclesiástica; por conseguinte, deve-se guardar o sinal escolhido por Jesús.
E falso dizer que na África o vinho eucarístico é "artigo de alto luxo, aces-
sível apenas a urna minoría deeuropeusgeralmente hospedados em hotéis
cinco estrelas" (p. 116). Na verdade, o vinho eucarístico é o menos sofis
ticado; é precisamente aquele que ná*o se encontra na mesa dos hotéis de
luxo.

3.2. Julgamento sem Testemunhas

O autor fala de "anulacSo do casamento sacramental" em vez de falar


de "declaracao de nulidade"; cf. pp. 26.191. A Igreja nSo dissolve (nao
anula) o casamento sacramental validamente contraído e consumado car-
nalmente, mas Ela pode declarar, caso haja evidencia, que um casamento
aparentemente válido foi sempre nulo por causa de um impedimento la
tente ou desconhecido. Chama a atencSo a tese de Fr. de Juanes segundo
a qual a Igreja deveria declarar nulo determinado casamento baseando-se
apenas na alegacSo, dele ou déla, de que se casara sem amor e, sim, por
motivos interesseiros; nao seriam necessárias testemunhas para confirmar
tal alegaclo (cf. p.191). — Ora, vía de regra, nenhum tribunal dispensa tes
temunhas; nSo bastam as alegacoes das pessoas contendentes para que o
juiz possa formar a sua consciéncia.

3.3. Processos de Beatif¡cacao e Canonizacao

0 autor é infenso á Prelazia do Opus Dei e n§o deixa de o manifestar


mais de urna vez; contesta, por exemplo, a BeatificacSo de Mons. Escrivá
de Balaguer, fundador de tal instituicao. Parece assim ignorar o afluxo de
multidSo que esta solenidade provocou na cidade de Roma; eram milha-

80
"DOCUMENTOS CONFIDENCIAL DE JOÁO PAULO III" M

res e milhares de fiéis beneficiados pelo Caminho apontado por Mons.


Escrivá para seguir Jesús Cristo.

Quanto aos milagres necessários para a BeatificacSo e CanonizacSo


de um(a) Servo (a) de Deus, Fr. de Juanes usa de sátira. Esquece a precisSo
com que a Igreja examina os fatos portentosos a Ela apresentados, haven-
do mesmo um Advogado do Diabo para levantar todas as possfveis obje-
cSes ao reconhecimentó do milagre. Cf. p.241.

3.4. A Inquisicao

0 autor n§o podia deixar de mencionar a Inquisicüo na sua catilinária


contra a Igreja. — A propósito foi publicado o livro do Prof. Joao Bernar-
dino Gonzaga: A Inquisicáo em seu Mundo, Ed. Saraiva, Sa*o Paulo, livro
analisado em PR 383/1994, pp. 158-167. A obra reconstituí o ambiente
da Idade Media e ajuda o leitor a compreender a InquisicSOiComo os me-
dievais a entendiam, e nSo como o homem do sáculo XX, dotado de ou-
tros referenciais, a considera.

3.5. As quinze acusacoes fináis

No fim do livro s3o catalogadas quinze acusacSes levantadas contra a


Igreja a partir do seu passado; cf. pp. 219s.

Quem as lé, pode ficar impressionado, mas, refletindo um pouco,


verificará que

1) o autor escreve em estilo de panfleto, generalizando problemas,


longe da exatidSo que caracteriza urna obra científica, merecedora de con-
sideracSo. Quem quer ser justo ao analisar a historia, deve procurar remon
tar á época passada e investigar os parámetros de que dispunham os ante-
passados para pensar e agir. Varios fatos que teóricamente sao inconcebí-
veis ao homem moderno, nSo horrorizavam os antigos, mesmo os mais
virtuosos;

2) o autor p5e no mesmo plano o essencial e o secundario. Nenhum


fiel católico devidamente ilustrado nega erros dos homens dá Igreja; sabe,
porém, que tais erras nao afetaram a autenticidade da fé e a missáo santi-
ficadora da Igreja-sacramento. Muito oportuna a este respeito é a obra de
Alvaro Barreiro:"Povo Santo e Pecador, Ed. Loyola, SSo Paulo 1994;

3) há na lista em pauta acusacSes falsas ou improcedentes, que ates-


tam a superf¡ci al idade e o preconceito do autor. Assim

81
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

a) nunca "fo¡ declarada ¡nfalível e portanto ¡ntocável a ciencia filo


lógica do benemérito tradutor da Vulgata, versao latina da Biblia" (p.220).
— Na verdade, o autor alude a urna afirmacSo do Concilio de Trento
(1545-1563): este apenas declarou que a traducüo latina dita Vulgata po-
dia ser, no turbilhSo das diversas traducSes vernáculas efetuadas no sécu-
lo XVI, considerada isenta de erras teológicos...; isto estava longe de im
plicar infalibilidade filológica. O Papa Pió XII o comenta em Carta dirigida
ao Episcopado da Italia (1941):

"O Concilio de Trento declarou auténtica a Vulgata em sentido jurí


dico, isto é, dotada de autoridade para fundamentar a fé e a Moral, mas
nao excluiu possfveis divergencias da Vulgata em reiacSo ao texto origina/
e a outras traducoes, como todo bom manual de Introducao Bíblica expoe
claramente, de acordó com as Atas mesmas do Concilio de Trento" (En-
quirídio Bíblico, n? 527).

b) Paulo VI "terá declarado verdade revelada nSo somente certos


dogmas, mas até as palavras de sua formulacSo, como no caso do misterio
eucaristico" (pp. 220s). — Na verdade, deu-se o seguinte: durante o Conci
lio do Vaticano II (1962-1965), os teólogos holandeses tentaram reformu-
lar o dogma eucaristico, propondo as palavras "transfinalizacSo" e "tran-
significacKo" em lugar de "transubstanciacSo", pois alegavam que este vo-
cábulo clássico nao é inteligível ao homem de hoje. A proposta, porém,
causou, de ¡mediato, varios mal-entendidos e desvíos da fé no povo de
Deus; daí a encíclica de Paulo VI Mysterium Fidei (1965), que reafirmava
a necessidade de se manter o vocabulario habitual para evitar os equívo
cos daninhos, que a experiencia apontava. Este gesto do Papa está longe de <
equivaler a "declarar como verdade revelada... as palavras de formulacSo
de um dogma".

Estes dois últimos espécimens de crítica bem mostram a índole pas-


sional e preconcebida do livro de Fr. de Juanes.

Mu ¡tos outros tópicos poderiam aínda ser abordados. O que foi dito,
porém, já permite formular urna conclusSo.

4. CONCLUSAO

As páginas do livro analisado tendem a reduzír o Cristianismo a um


movimento "místico", de índole "democrática", inspirado pelo lema de
que "o pecado fundamental do homem é nSo ser feliz, na*o por os meíos
para ser realmente feliz. Quem nao é feliz, está, de algumá maneira, deso-
bedecendo a Deus" (p. 196). Estao subjacentes a esta concepcSo a eclesio-

82
"DOCUMENTOS CONFIDENCIAL DE JOÁO PAULO III" 35

logia do protestantismo e o subjetivismo hedonístico da sociedade con


temporánea. — Ora é preciso observar que, quando alguém se chega a
Deus, deve admitir que Deus é o centro e o referencia!, e nao o homem.
Principalmente quem professa o Cristianismo, há de tomar consciéncia
de que o Deus-referencial é o Deus "que tanto amou o mundo que entre-
gou o seu Filho único, para que todo o que nele eré ná*o pereca, mas tenha
a vida eterna" (Jo 3,16}. Ninguém vai a Deus Pai senSo por Cristo Crucifi
cado, que vive no sacramento da sua Igreja (cf. 1Cor 12,12-27; Cl 1,24}.
Daí a necessidade de fé nSo somente em Deus e em Jesús Cristo, mas tam-
bém na Igreja. Esta é inseparável de Jesús Cristo. "NSo pode ter Deus por
Pai no céu quem nao tem a Igreja por MSe na térra" (S. Cipriano de Carta-
go. Sobre a Unidade da Igreja, cap. 4). Pode-se indicar, como contra-parte
do livro de Fr. de Juanes, o de Alvaro Barreiro: Povo Santo e Pecador. A
Igreja questionada e acreditada, Ed. Loyola, Sao Paulo 1994. É obra que
considera sinceramente os aspectos humanos e limitados da Igreja, mas
apresenta outrossim urna visSo global do misterio da Igreja, Esposa de
Cristo (cf. Ef 5,25-27} e Mae de todos os cristios (cf. Gl 4,26), como mui-
to bem apregoa o Cardeal Henri de Lubac:

"Pois bem, esta Igrefa santa ás vezes é abandonada por alguns que re-
ceberam tudo déla e que se tornaram cegos aos seus dons. Por vezes, em
certos momentos como agora, se mofam déla alguns que continuam a rece-
ber déla seu alimento. Um vento de crítica amarga, universal e sem inteli
gencia, chega por vezes a transtornar as cabecas e a apodrecer os coracoes.
Um vento assolador, esterilizante, um vento destruidor, hostil ao sopro
do Espirito. Éentao, quando contemplo o rosto humilhado de minha mae,
quando a amo mais. Sem me fangar a contra-críticas, saberei demonstrar que
a amo na sua forma de escrava. E, justamente na hora em que alguns ficam
hipnotizados diante dos tragos de um rosto apresentado como envelheci-
do, o amor me fará descobrir nela, com muito mais verdade,. suas torgas
ocultas, suas atividades silenciosas, que constituem sua perene juventude,
todas as grandes coisas que nascem no seu coragSo e que converterao a
térra por contagio".1

* * *

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1 H. DE LUBAC, Paradoja y misterio de la Iglesia, 25.

83
"Sé fiel até a morte..." (Ap 2,10):

'O SIM E O SANGUE"

por Olivo Cesca

Em sfntese: O Pe. Franz Reinisch (1903-1942), palotino, é o "már


tir da consciéncia". Intimado a prestar juramento de fidelidade a Adolf
Hitler, recusou-se peremptoriamente a fazé-lo, embora o quisessem per
suadir a tanto os seus confrades. Na verdade, tai juramento se confundía
com o da fidelidade á patria, que, em guerra, apelava para a colaborado
dos seus filhos. O Pe. Reinisch, após muito hesitar e rezar, julgou que nao
podía servir é causa de Hitler e, por isto, fot' decapitado heroicamente.
Levara urna juventude empofgada pelo namoro, a música e a danca, mas
a devogSo á Virgem Santíssima, invocada sob o título de "Mae tres vezes
admirável" em Schoenstatt (Alemanha) o fortaleceu inquebrantavelmen-
te. Atualmente está em curso o seu processo de BeatificacSo.

* * *

Num momento da historia em que tanto se lamenta a falta de Ética


ou a capitulado de tantas pessoas frente aos desafios do dever e da coe-
réncia, é oportuno citar vultos que se distinguirán! precisamente pela
fidelidade incondicional aos ditames da consciéncia bem formada. Entre
eles está Franz Reinisch, sacerdote palotino decapitado em Brandenburg,
perto de Berlim, aos 21/8/1942, por haver recusado juramento de fideli
dade a Adolf Hitler. Ver o Editorial deste fasci'culo (p. 49).
A seguir, v3o esbocados os principáis traeos da personalidade e da vi
da desse herói de Cristo, a partir do livro de Olivo Cesca: "O Sim e o San-
gue". Ed. Pallotti, Santa Maria (RS).

1. TRACOS BIOGRÁFICOS

Franz nasceu a 19/2/1903 emFeldkirch (Austria), como o segundo


filho de auténtica familia católica.

Em idade juvenil enamorou-se por urna jovem, com a qual pensava


em casar-se. Comecou a estudar Direito na Úniversidade de Innsbruck,
84
OSIMEOSANGUE 37

onde se distinguiu por sua inteligencia, sua boa aparéncia, suas vestes
impecáveis, sua veia de músico e poeta. Gostava milito de dancar, mas
n3o tolerava brincadeiras de baixo teor.

Em 1923 recebeu um convite para fazer um retiro de oito dias em


Wylen (Singa). Os primeiros dias de silencio foram enfadonhos para
quem vinha do tumulto da vida universitaria; mas no final Franz comepou
a descobrir a presenca de Deus, que Ihe dirigia seus apelos. Teve entSo
inicio a segunda fase de sua vida, que terminaría com o martirio.

Foi continuar seus estudos de Oireito em Kiei (Alemanha). As aulas


de Medicina Legal colocaram-lhe entao ante os olhos a perversidade e as
mazelas dos homens. Recordava mais tarde esta experiencia, ao escrever:

"Eu vía a miseria moral e religiosa dessa grande cidade portuaria


(Kief) com os olhos do retiro inaciano. Irrompeu entao em mim o forte
desejo de conquistar almas para Cristo, Em julho de 1923 voltei para
casa com a firme decisao de me tornar sacerdote".

Despediu-se de sua namorada e comepou os estudos eclesiásticos de


Filosofía eTeologia,sendo finalmente ordenado presbítero aos 29/6/1928.
Era padre diocesano, quando se sentiu atraído pela Sociedade do Aposto
lado Católico, fundada por SSo Vicente Pallotti. Assim descreve ele a sua
chegada á casa de Noviciado em Untermezbach (Baviera):

"Depois de recebido cordialmente pelo Padre Mestre, fui por ele con-
duzido ao meu quarto no terceiro andar. Cama, mesa, cadeira, crucifixo,
um fogareiro de ferro e uma pequeña maiaconstituiam meu inventario e
minha mobília. 0 padre me fez sentar, e logo o atalhei á minha maneira
tirolesa: 'Reverendo, convido-o a fumar um cigarro, para brindar a minha
chegada'. Mas qual nSo foi a minha surpresa ao ouvi-lo dizer: 'O sr. quer
ter a bondade de me entregar os seus cigarros? Em nosso Noviciado éproi-
bido fumarV — Olhei-o petrificado, como se tivesse sido atingido porum
raio. Num esforco heroico fui desembolsando os cigarros. Uns 150. De
pois deitei-me, morto de cansaco e de susto".

Franz tentou fugir da casa do Noviciado, julgando que na"o se adapta


ría a regime tSo austero, mas, por si mesmo, com a graca de Deus, voltou
atrás. Finalmente aos 8/12/1930 proferiu seus primeiros votos religiosos.
De entSo por diante, a vida de Franz foi inteiramente dedicada ao minis
terio sacerdotal. Concebeu especial devocSo a María Santíssima, tres vezes
admirável, como era invocada no santuario de Schoenstatt, e consagrou-se
á Virgem-MSe.

A situacSo política da Alemanha foi-se modificando com a ascensSo


de Adolf Hitler e do Partido Nacional-Socialista, impregnado de concep-

85
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

coes racistas e imperialistas. Hitler elaborou um programa de trinta pontos


para a "Igreja Nacional do Reich", dentre os quais se destacam:

"5 — A Igreja Nacional dispBe-se a exterminar irrevogavelmente as


erengas cristas estranhas e estrangeiras, trazidas para a Alemanha no malfa-
dado ano de 800.l

7 — A Igreja Nacional nSo tem escribas, pastores, capelaes ou padres,


mas oradores do Reich para falar em seu nome.

13 — A Igreja Nacional exige a ¡mediata cessao da pubficacao e difu-


sao da Biblia na Alemanha.

19 - Sobre os altares nSo deve haver nada além de Mein Kampf


(Minha Luta), para a nacao germánica e, portanto, para Deus o livro mais
sagrado, e, á esquerda do altar, urna espada.

30 — A Cruz crista deve ser removida de todas as igrejas, catearais e


cápelas e há de ser substituida pelo único símbolo inconquistável — a
suástica" (L Wil/iam Schirer, Ascensao e Queda do III Reich, vol. I, 4a.
ed, p.358).

Ao 19/3/1941, Franz Reinisch recebeu a comunicado de que se de-


via preparar para servir em breve no Exército alemSo. Esta noticia susci-
tou-lhe um drama de consciéncia, que muito o fez sofreno recrutamento
implicava juramento de fidelidade á bandeira do 111 Reich e a Adolf Hitler.
A Igreja ná*o proibia aos sacerdotes e fiéis prestar tal juramento, porque
de certo modo equivalía a jurar fidelidade á patria em guerra e necessitada
da colaboracSo de seus cidadá*os. Eis por que o clero mesmo se submetia á
exigencia. Todavía Franz, depois de muito rezar e refletir, resolveu na*o
ceder; furtar-se-ia ao juramento, mesmo que isto Ihe acarretasse as mais
dolorosas conseqüéncias. Seus confrades, vendo o perigo de morte que ele
assim atrai'a sobre si, tudo fizeram para demové-lo da resistencia. Franz
sabia que era homem fraco e que poderia na*o agüentar os horn'veis vexa-
mes que o aguardavam. Rezava, porém, e mantinha firme o seu propó
sito, que ele assim justificava:

"A minha consciéncia nao me permite obedecer a urna autoridade


que só trouxe ao mundo perseguicSo e chacina. Em hipótese alguma é au
toridade querida por Deus. Por isto nunca prestare! juramento a esse Go-
verno niilista, que se apossou do poder pela violencia, pela fraude e pela

1 O ano de 800 foi o da coroacao de Carlos Magno como Imperador do


Imperio Romano da Nacao Franca (N. do autor).

86
OSIMEOSANGUE 39

mentira... Em assuntos disciplinares vigora sempre a obediencia, mas ñas


coisas do espirito entra também a consciéncia".

Franz falava em público contra as teses de nacional-socialismo. Isto


I he va leu a ordem de noto mais pregar e a vigilancia da Gestapo.

Na terca-feira de Páscoa de 1942 recebeu a convocacao militar. Ren-


deu-se ao chamado intencionalmente com um dia de atraso, ou seja, aos
14/4/1942. Na Seccao de Recrutamento em Bad Kissingen, interpelado
pelo sargento, respondeu: "Quero deixar bem claro que nao pensó absolu
tamente em me tornar soldado, prestando juramento ao nazismo". Estas
palavras deram inicio á etapa final do seu Calvario. Foi levado de instancia
a instancia, interrogado ora com agressividade, ora com brandura e poli-
dez por oficiáis da Justica e das Forcas Armadas, no sentido de renunciar
á resistencia. Também os confrades e os capelaes militares que o aborda-
vam, Ihe diziam que se rendesse, pois ainda poderia trabalhar muito por
Cristo e pela Igreja se ficasse em vida junto aos seus. Nada, porém, o abala-
va. Foi, portanto, encarcerado. O capelSo da prisao de Beriim-Tegel, Pe.
Kreutzberg, aos 21/6/42 levou-lhe o Santíssimo Sacramento para a cela so
litaria, de modo que Reinisch pode ai' instalar um minúsculo oratorio e
comungar freqüentemente. O mesmo capelSo Ihe sugeriu que pusesse por
escrito seus pensamentos naqueles dias sinistros, a fim de reconfortar os
futuros leitores — coisa que Franz Reinisch, depois de hesitar, resolveu
fazer.

Dos episodios fináis de sua vida, sejam destacados os dois seguintes;

Voltando á prisao, certa vez, após um interrogatorio judiciário em


Berlim, Franz Reinisch tinha a seu lado, no carro, um soldado que fora
condenado a quatro meses de pris3o. Tomado por uma crise nervosa, cho-
rava convulsivamente: "Em casa tfnhamos uma vida familiar maravilhosa!
Sou católico... Tinha que acontecer isto!" <

Observando a calma do Pe. Reinisch, perguntou: "Que pena recebeu


o Sr? — Pena de morte! — Misericordia! exclamou o bom soldado, juntan
do as mSos. Pena de morte? Mas isto é terrível! Como pode estar tSo cal
mo? Qual a sua profissSo? — Padre católico!". Houve uma pausa e ele con-
tinuou comf um suspiro: "Meu Deus, como é bom termos padres católi
cos!"

Doutra feita, perguntou-lhe um sargento: "Quem é o sr.? — Católico.


Quero dizer: que profissSo? — Padre católico!— Padre católico? Ah, voces
deviam ser largados ñus numa resteva de trigo ou, melhor ainda, 'balancea
dos' nos postes ou explodidos com dinamite". Tais ofensas n§o afetavam
Reinisch. A morte estava á espreita... em breve ele passaria pelo seu limiar,
e tudo o que era do mundo se apagaría. Também aprenderá que existe um

87
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

acordó misterioso entre amor e sofrimento e que urna hum¡lhac3o unida á


humilhapSo de Jesús obtém grapas de humildade para os orgulhosos.

Tudo indicava que ele morreria no dia 15 de agosto, festa da Assun-


c3o da SS. Virgem, de quem era fervoroso devoto. Todavía somente aos
20/8/1942, á tarde, chegou a noticia de que soara o momento final:sete
condenados seriam executados na madrugada seguinte; o ex-soldade Rei-
nisch, precisamente ás 4h 56 min, por crime de desercao. Foi-lhes dado al
go para comer e fumar. Reinisch teve como vigía pessoal um sargento que,
días antes, Ihe dissera: "Rezar nao adianta!". Durante a noite, perguntou
ao guarda o que desejava dizer com aquelas palavras: "Desejo dizer, res-
pondeu o sargento, que está na hora de por fim a essa fita. Vocé precisa de
compreender que ainda tem todos os trunfos na má"o e poderá salvara pele
a qualquer momento. Mas, para ¡sto, tem que deixar suas birras e aceitar o
juramento, como todos os seus colegas aceitaram. Rezar, rezar, ná*o adi
anta!".

O capelSo passou com Reinisch boa parte da noite, tomando o lugar


do guarda. Juntos leram trechos da Biblia e rezaram. Finalmente Franz re-
digíu sua carta de despedida:

"Apenas seis horas me separam da morte. Como anseio por experi


mentar a verdade da palavra do Senhor: 'Felizes os olhos que véem o que
vos vedes' (Le 10, 23). Eu te amo. Tu sabes tudo. Sabes também que te
amo. Bom Pastorl Leva-me a bons prados. María, Rainha do céu, Virgem
e Mae, vem e leva-me. Corro para ti.de bracos abertos. Tu minha mié, eu
teu filho...

Queridos país, separo-me de voces apenas corporalmente. Mais urna


vez quero agradecer, porque na térra foram meus maiores benfeitores. Eu
me sinto e quero permanecer perto de voces, pois o céu e a térra nao estao
longe um do outro. Temos o céu na térra quando vivemos em Deus, em
estado de graca. Por ¡sto a/egrem-se quando receberem esta carta. Ficarao
sabendo entSo que eu sou eternamente feliz".

Franz fez sua última ConfissSo sacramental pouco antes da meia-noi-


te. Recebeu a Eucaristía. E rezou intensamente, aproveitando as últimas
horas deste tempo de preparacSo para o encontró definitivo com o Se
nhor. Os condenados receberam, em dado momento, a ordem de entregar
todos os seus pertences; Franz passou as mSos do capelao o paninho em
que guardara a S. Eucaristía, um pequeño Crucifixo, o terco, os livros em
prestados e a carta. Pelas tres e meia da madrugada, os condenados descaí-
caram sapatos e meias, recebendo em troca sandalias. Um paleto foi-lhes
jogado sobre os ombros, de modo que ficavam livres os bracos. As mSos
foram algemadas por tras das costas. Sairam das respectivas celas e foram

88
O SIME O SANGUE 41

ter em fila diante da ante-cámara da morte. Nesta havia uma mesa, á qual
se sentavam o juiz e o promotor; á esquerda, ficava o oficial encarregado
da documentado; sobre a mesa, achavam-se duas velas e uma cruz. Ainda
se encontravam ali os sargentos, o médico legista e os ministros religiosos
(católico e protestante).

Chegara o derradeiro momento de Reinisch. Beijou pela última vez o


Crucifixo e murmurou uma prece. Abriu-se a porta da ante-cámara; os dois
sargentos o levaram até a presenca do juiz. Ele ainda podia salvar a vida,
caso dissesse: "Sim, presto juramento!". Mas isto na*o ihe passava pela ca
beca. Respondeu firmemente a todas as perguntas, aparentando calma e
seguranea em sua atitude inquebrantável. Seu olhar pousou mais uma vez
no Crucificado: "Ele me amou e se entregou por mim" (Gl 2,20)... "Nin-
guém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos"
(Jo 15,13).

Cavernosa, ressoou no silencio da sala esta ordem: "Carrasco, cümpra


sua tarefa/". Abriu-se a cortina do fundo da sala, deixando á vista'a cáma
ra mortuána com o seu único móvel: o cadafalso. No mesmo instante, os
dois algozes agarraram o réu pelos bracos e o levaram para dentro. Arran
cara m-l he o paleto dos ombros e o deitaram sobre o patíbulo. Acionaram
a alavanca, a navalha desceu e... separou a cabeca do tronco.

A cortina, que se fechara no momento da execucao, voltou a abrir


se. O carrasco avancou, tirou a cartela (que ele trazia na cabeca, enquanto
trajava uma casaca) e, com profunda cerimoniosidade e um modesto sorri-
so de satisfacSo pelo dever cumprido, anunciou: "Aordemfoicumprida".
O médico entrou e verificou a morte: cabeca e tronco foram depositados
num caixSo. Limpou-se ás pressas o sangue e... era a vez da vi'tima seguin-
te! Jorrara o sangue vigoroso de um mártir, que morria por absoluta fideli-
dade a Cristo e ao seu Reino.

2. REFLETINDO.. .

O relato é impressionante. Mostra que é possi'vel ser fiel a Cristo e á


voz da consciéncia, mesmo após uma juventude empolgada pelos atrativos
deste mundo. O Pe. Franz Reinisch realizou o ideal que sintetiza a grande
za de uma personalidade forte: "Frangor, non flector. Quebro-me, mas nao
me dobro". O seu testemunho de "mártir da consciéncia", que até os ami
gos mais próximos quiseram dissuadir, torna-se especialmente significativo:
"Mesmo depois de morto, ele ainda fala" (Hb 11,4), a tal ponto que está
em curso o seu processo de BeatificacSo.

89
Pode-se crer?

AS REVELAQOES A MARÍA VALTORTA

Em síntese: O livro "Sabiduría Divina", portador de reve/acoes que


Jesús teña feito a María Valtorta, nSo parece corresponder aos ensinamen-
tos e ao linguajar de Jesús conhecidos através dos Evangelhos. O texto em
pauta évasadoem estilo passionale pretende revelar minucias paraasquais
nSo há fundamento sólido. Um dos pontos triáis vulneráveis do livro é a
afirmacao de que Judas está certamente no inferno; ora a Teología é pro
pensa a crer que Deus nao nos quis revelar a sorte postuma de nenhuma
criatura humana. O inferno existe, sim, mas nem o texto de Mt 26¿4;
Me 14¿1 implica na reveiacao de que Judas foi condenado ao inferno.
Nenhuma criatura pode perceber o que se dá no íntimo da consciéncia
do mais empedernido suicida antes de exalar o último suspiro.
* * * '

Entre as diversas pessoas que afirmam ter recebido mensagens divinas


em nosso sáculo, acha-se a Sra. María Valtorta Fioravanzi. Deixou cerca de
quinze mil páginas de caderno sobre a vida de Jesús Cristo, como também
comentarios bíblicos e outras obras menores, todas redigidas — como dizia
a vidente — por revelacSo do próprio Cristo.

Dado que hoje em dia nSo s3o poucos os casos similares, a Igreja é es
pecialmente cautelosa ao avaliar tais revelacSes; fácilmente podem corres
ponder a certa efervescencia "mística", que procura sua expressao própria,
de origem meramente humana.

María Valtorta é famosa. Muitos de seus textos, redigidos originaria


mente em italiano, foram traduzidos para o espanhol. Procuraremos, a se
guir, analisar o conteúdo de algumas "revelacSes" tais como se encontram
no livro "Sabiduría Divina dictada a Maria Valtorta" (exemplar dito "de
apostolado"), edicSo autorizada pelo Centro Editoriale Valtortiano de
Isola de Liri(FR), Italia.

.. 1.QUEM FOI MARÍA VALTORTA?

María nasceu aos 14/03/1897 em Casería (Italia Meridional). Estudou


em colegio de Religiosas, revelando-se inteligente e enérgica, como tam-

90
AS REVELARES A MARÍA VALTORTA 43

bém dotada de grande capacidade intuitiva. Foi vítima de mae muito seve
ra e de pai demasiadamente condescendente — o que muito a fez sofrer. A
genitora, por duas vezes, impediu que realizasse o seu desejo de casar-se;
além do qué, deu ocasiao a que sofresse um golpe na coluna vertebral em
17/03/1920. A partir de 19/04/1934 nSo mais se levantou da cama.

Maria tinha um diretor espiritual, que a incitou a escrever a sua auto


biografía. De 1943 a 1947 a atividade literaria da enferma foi muito inten
sa, prolongando-se até 1953; além de obras de espiritualidade, escreveu
cartas, que a punham em contato com muitas pessoas e atestam o seu ele
vado senso humanitario.

Fez votos de virgindade, pobreza e obediencia ñas Ordens Terceiras


de SSo Francisco e dos Servos de María; ofereceu-se a Jesús Sacramentado
como vítima do Amor Misericordioso. Dizia ser o instrumento ou a pena
ñas mSos de Deus para transmitir aos homens algumas luzes sobre as ver
dades da fé.

Em 1956 Maria comecou a se recolher em retiro silencioso, que podía


ser a sua misteriosa resposta aos apelos de Deus. Veio a falecer em 12/10/
1961, com 65 anos de idade e 28 de enfermidade. Os seus restos mortais
repousam nuam cápela do claustro da Basílica da Anunciacao em Florenca.

Pergunta-se:

2. QUE DIZER DA ESPIRITUALIDADE DE MARÍA VALTORTA?

O livro "Sabiduría Divina" aborda temas de espiritualidade como


amor, oracao, graca de Deus, Eucaristía, perdSo das ofensas, sangue de
Cristo, Santo Rosario... Jesús é apresentado como autor dos oráculos em
frases vivazes, solenes e densas. Os dizeres tendem para a severidade. Cha-
mam especialmente a atencSo os capítulos concernentes ao purgatorio, ao
inferno e a Lucifer (pp. 74-89); sugerem algumas reflexSes.

2.1. Que se pode dizer sobre Judas?

O texto é peremptório'em relacSo a Judas, que é tido como o maior


de todos os pecadores, condenado ao inferno:

"Se e/e foi o sacrilego por excelencia, eu nao o sou. Se ele foi o injus-.
to por excelencia, eu nSo o sou. Se ele foi quem derramou, com desprezo,
seu sangue, eu nao o fago. Perdoar a Judas seria sacrilegio contra a minha
Divindade por ele atraicoada; seria injustica para com todos os demais ho
mens, sempre menos culpados do que ele, e que também sao castigados

91
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 393/1995

por seus pecados: seria desprezar meu sangue; em suma, sería violar minhas
leis" (p. 80).

Ora é difícil crer que Jesús tenha dito tais palavras. Sem dúvida, o pe
cado de Judas foi muito grave; mas os bons teólogos julgam que nSo temos
revelacao alguma sobre a sorte postuma de quem quer que seja. A existen
cia do inferno foi revelada por Cristo nos Evangelhos (cf. Mt 25,31-46;
Me 9,42-48...), mas a revelacao de que determinada pessoa está no inferno
parece fugir aos desi'gnios de Cristo. Nem mesmo a frase de Mt 26,24;
Me 14,21 pode ser tida como anuncio da condenacSo de Judas ao inferno.»

2.3. Penas e local do inferno

0 texto refere que as penas do inferno se rao mais dolorosas após o


juTzo final, porque os reprobos perderlo a possibilidade de ver novos con
denados associar-se ao seu destino; entrementes, enquanto corre a historia
deste mundo, os reprobos se consolariam, de algum modo, por saberem
que outras vi'timas do pecado vém a compartilhar a sua triste sorte:

"Depois do tremendo jufzo, mais impiedosa será aqueta morada de


pranto e tormento, porque o poder condenar os viventes e ver novos con
denados precipitarse no abismo (coisas que redundam em infernal conso-
facSo) já nao serao possfveis e a porta do reino maldito de Satanás será fe
chada á chave e trancada por meus anjos, para sempre, para sempre, para
sempre, um sempre cu/o número de anos nao tem números" fpp. 80s).

Ora o modo de falar passional e o estilo imaginoso deste trecho nao


condizem com o pensa mentó de Cristo. Certa mente Jesús nao foi "bona-
chSo", mas também nSo se pode crer que tenha usado linguagem tao carre-
gada de fantasía e repeticoes... 0 texto atrás transcrito sugere que o infer
no seja um lugar, urna prisa°o, cujas portas podem ser definitivamente afer-
rolhadas pelos anjos bons. Alias, a topografía do inferno nao é estranha no
caso, visto que á p. 81 está dito que o "purgatorio é um lugar". — Ademáis
a Teologia ensina que nSo há alteracSo das penas do inferno, pois elas de-
pendem únicamente da gravidade dos pecados de cada reprobo.

2.4. A topografía do limbo

Quando o texto de 1Pd 3,19 afirma que Jesús foi ter á prisSo anun
ciar aos justos do Antigo Testamento a realizacao da obra da Redencao, es
tá usando urna imagem corrente entre os judeus. Estes ¡maginavam que de-
baixo da Térra (plana) havia um compartimento reservado aos rnortos

1 Cf. Mt 2624: "O Filho do Homem vai, conforme está escrito a seu res-
peito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem for entregue1.
Melhor sería para aquele homem nSo ter nascido".

92
AS REVELARES A MARÍA VALTORTA

(cheol); a margem ou orla superior desse compartimento, chamada limbo,


era destinada aos justos do Antigo Testamento; para lá terá descido Jesús
após morrer na Cruz e antes de ressuscitar. Ora tal compartimento subter
ráneo n3o existe; o limbo dos justos do Antigo Testamento é um estado
e n3o um lugar, como também o inferno é um estado e nao um lugar. Ape-
sar disto, lé-seá p. 84:

"Eu vos digo: Eu, que também criei aquele lugar, quando desci ali
para trazer do limbo aqueles que aguardavam a minha vinda, sentí horror,
eu, Deus, daquele horror; e, se nSo fosse coisa feita por Deus e, por conse-
guinte, ¡mutável (porque perfeita), eu o faria menos atroz, porque sou o
Amor e me sentí dolorido por causa daquele horror".

0 texto parece identificar o chamado "limbo dos País" (estado dos


justos que aguardavam a Redencao, sem sofrer castigo) >com > o inferno,
atribuindo áquele estado os tormentos caracten'sticos do inferno. Na
verdade, o inferno, sim, é estado doloroso para os reprobos; ao passo que
o limbo dos Pais era um estado de paz e expectativa sem dor (ao con
trario, com a alegria decorrente da certeza da salvacao). O limbo dos Pais
deixou de existir após a RedencSo realizada por Cristo, enquanto o infer
no dura para sempre; Deus nSo o criou, mas deve-se dizer que é cada re
probo quem cria o inferno para si, na medida em que diz Nao a Deus, o
Sumo Bem.

2.5. Outras impropriedades

Outras varias imprecisSes de linguagem se podem apontar no livro


"Sabiduría Divina"; assim

á p. 85: "Satanás tem mais éxito do que Deus. Suas conquistas sao
mais numerosas do que as minhas (de Jesús)";

á p. 86: até os sete anos de idade Satanás é menos astucioso para


com as enancas: "Quando urna criatura comeca a saber querer, a saber
pensar, ou seja, depois dos sete anos, ele intensifica sua atencSo e inicia
sua doutrinacSo".

Em suma, o livro em pauta, embora nSo contenha heresia alguma


(as falhas apontadas podem ser tidas como linguagem meramente popu
lar, poética, dantesca...), ná*o parece ser genuino, pois atribuí ao Senhor
Jesús um linguajar improprio, vei'culo de conceitos que de certo modo des-
figuram a mensagem crista. NSo há dúvida, a maioria das páginas do livro
é muito aproveitável como estímulo a urna vida piedosa; todavia pode-se
crer que os seus dizeres nSo ultrapassam o talento de urna pessoa fervo
rosa, mas carente de precisao teológica.

93
Declarados Veneraveis:

OS PAÍS DE SANTA TERESINHA DE LISIEUX

•.-, uoEm símese: v4os 26 de marco de 1994.a CongregagaOipara as Causas


dos Santos (Roma) reconheceuyapós minucioso examee o parecer positi
vo de teólogos, a heroicidade das virtudes dos pais de Santa Teresinha de
Lisieux r-o Sr.Luís Martinea Sra. Zélia Guérin+Em conseqüéncia, po-
dem?ser tidos.como"Veneráveis"naJinguagem dat/grefácrro, quevema
ser O)primeiro.passo:para:a Beatificacao e a posterior Canorilzacaó. desse
casal admirávelpmodelo para os casáis de nossos dias.fc \ hvTñrl; ci'

vr.nSaberseuque a-fami'l|a.de Santa Teresinha de,Lisieux.J[J973t-J^^).


fpi ,um§ escola,,de virtudes, qué deu belos fmtosMVsegugda.JTOÍs^
dasjfiíhas dóicasal Lui's-Zélia, Teresa do MeninoJesús, pqrnjd
de idade entrou no Carmelo de Lisieux, eem 1925 foi canonizadajDu^hs^
crita no catálogo dos Santos. Acontece que o pai e a mae dessa jovem he
roína também gozam de fama de sahtidade.O respectivo prpcesso, que
examina o teor de vida, os escritos e as declaracoesdessaVdúás beneméri
tas pessoas, ■: jáfoi iniciado. 0 ■Vice-Postulador^ - da rCaúsá^or Pe. Ándré

htTodo. processo de Canont'zacao — também idito> Postulágao iJeCaúsade


Canonizacao — de urna pessoa falecida em odor de santidades organizado
e'movido por um sacerdote ou um'Bispo chamado
mehtey<este>?contavcom vmyo

:por tnSs etapas:JXoseconhecimento da heroicidadetdas virtüdesicfeipéssoar


. em foco, em conseqüéncia do qué esta é tída como "Venerável"; 2) a Bea-
tif¡ca(fao&que:permtteit»cuito idezveneracaoidessanpessoa\^\ditaxí~Bem-

ppsive.ipeJoi''Advogado do Diabo"$e\tg g
n¡zaca'oi:requensesoutroimilagrertQuandosB¿trata>deüm(a)'jvártírjtówfie¡
alguémíquenmorreu?porrxausa daisuarfé.católica, saoidispensadosostfnilav
greshVer nosso Editorial, á p.49 deste fascículo^ j«in : ¡ r?n;-¡vj^ sí~i .seoi

94
os país de santateresinha de lisieux 47.

Deroo, dá ao público a alvissareira noticia do éxito obtido na primeira


etapa desse procedimento. —Transcrevemos; aseguir, emitraducao portu
guesa, o artigo respectivo publicado no JournalParoissial de Carmin.- .. -
m~ , 3':;j5í'r"- ". ■■■•■.•"■ ■ -.:r!o; v ■.: j i ívíO OMor- o ':i;t: .-. be o1' ''_'
■'•• -■■■'^O'-; •":-■ ■■■•'-■ - ."■. : Vü'•■"-" - ■:Vf.\rr\U'.-.:- '":i¡: ^TI-T r.¡-^;: .1...
■■• :■:'•;■;■ , -■■■■-■ |. A NOTICIA. j<>. ■.! ■- c y:-\ ': -.; ..:. ■■

"Tenho a ¡mensa satisfacao de anunciar que,^ no dia 26 de marco de


1994, foi promulgado pela Santa Sé o decreto que reconhece a heroicida-
de das.virtudes de um.pai e de uma.mae defamilia, ouseja,dos genitores
deiSantaTeresa do Menino;
taf¡Iha: 'Sab mais dignos de
V
■is: iLui'siMartin.nasceuiem 1823 efaleceu;emt1894. Zélia Guérincnasceu
em 1831 e morreu em 1877. Tiveram ncivéafiihositiQuatroimorreram ¡pre?,
maturamente. Cinco mocas sobrevivéram: qúatro délas (das quais Teresa
foi a.mais joyem) se fizeram^carmelJitas^apasso que a qu'jnta se.tornou
visitañdiha.." i ¿.,".,_,u ...'_.

ni.. Quándo,^reresa .faleceu^com vintete quatrp anos de idade em,Lisieux


no.anp^e;i897ide¡xou.trés manuscritos,.que, reunidos,;deram o^gemao
farjios^íwfip ronhécídó"; cbm
obra''jBeu'^Sbñheoerljps'!¡¡ncompáráyeis'-genitorasrda Santa.; E.foiítalyez
ufna,das"r«5e5 por.quelem 1925, ¿luando Lisieux festejou a.canopízacio
de^teresaIdp^Menínb Jesús,, o Cándealtyigoj'féz a segÜihte'cbnclarracfo:

gestao; todavía¿elas jiao.ppd[amJiignojaj¿queí«e¡,tratayaJder


méritosdosTéspectivosgenitoresv-sí-í-
méritosdosTéspectivosgenitores •"-oiV.u;» >-•
lb^^Q ^

fft ñ7que; póm suá esposa, a

losíTespectivo^e.^l:e^ére^e;Sainte;:Thérese'¿eTLaHmére;deSa¡nteV®iéré-
■se'?Estes3escritosprovocaram'pedidos'de-'Beatif¡cacao;provenientes5de dir
versásfpartesTda¿mündb.r'Em>conseqüénciá,r'.osNBispos%de:Sées^e:Bayeux
.constituiram instancias próprias pararrecolherjostestemunhos referentes a
Zéliae Luís Martín.

i ■ .-.
48 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS"393/1995

Os trabalhos comecaram em Bayeux e em Sées no ano de 1957. O


Postulador das duas Causas era o Padre Prior Geral dos Carmelitas em Ro
ma. Era assessorado por dois Vice-Postuladores, dos quais um morreu em
1961, ao passo que o outro teve que renunciar por motivos de saúde. Em
1962, pediram-me que assumisse o cargo de Vice-Postulador; foram-me
entao confiadas as duas Causas. Compete-me realizar pesquisas, coletar as
¡nformacoes necessárias para se constituir a documentacao destinada á
Seccao de Historia da Congregado para as Causas dos Santos.

Meu trabalho terminou em 1982. Foi examinado pelos Oficiáis res-


ponsáveis da Congregacao e aterido por consultores idóneos, após o qué,
aos 26/3/94, foi promulgado o decreto que reconhece a heroicidade das
virtudes de Luís e Zélia Martín. Podem ser honrados como "Veneráveis".
Rezemos para que, na base do testemunho de um milagre, possam ser
proclamados 'Bem-aventurados'".

II. COMENTARIO

Caso ocorra a Beatif¡cacao, será o primeiro caso de dois esposos, pai


e mae de familia... e de urna santa familia! O testemunho desse casal é elo-
qüente também para os casáis de nossos dias. A santidade é a vocacao bási
ca e impreten'vel de todo fiel cristao, qualquer que seja o caminho que
Deus Ihe assinale na térra (casamento, Vida Religiosa ou celibato...). Na
igreja doméstica que é o lar cristao, o Senhor Jesús está presente e conti
nua sua obra redentora e santificadora; esta comeca, para cada cristao, na
celebracao dos sacramentos e se estende a todas as expressoes (mesmo as '
mais "profanas") da vida crista. "As palavras voam, os exemplos arras-
tam", dir-se-á ao contemplar a licao dos pais de S. Teresinha.

Tem-se divulgado urna oracao para pedir a Deus a exaltacaodo casal


Martín e para obter gracas mediante a sua intercessao:

"Deus nosso Pai, eu vos dou grapas a propósito de Luís e Zélia Martín,
casal que permaneceu fiel e unido, dando o testemunho de urna vida cris
ta exemplar pelo cumprimento dos deveres de estado e pela prática das
virtudes evangélicas. Educando urna prole numerosa através de provacoes,
lutas e sofrimentos, manifestaran} generosamente a sua confianca em Vos
e a sua submissao á vossa santíssima vontade.

Dignai-Vos, Senhor, manifestar vossos designios a respeito desses jus


tos, e concedei-me as gracas que solicito, na expectativa de que o pai e a
mae de Santa Teresa do Menino Jesús possam um día ser apresentados
como modelo as familias dos nossos dias".

Estéváo Bettencourt O.S.B.

96
PARA O NOVO ANO LETIVO:

Que livros adotar para os Cursos de Teología e Liturgia?

A "Lumen Christi" olerece as seguinles obras:

1. RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA (2a etf.), porDom Cirilo Folch


Gomes O.S.B. (falecido a 2/12/83). Teólogo conceituado, autor de
um tratado completo de Teología Dogmática, comentando o Credo
' do Povo de Deus, promulgado pelo Papa Paulo VI. Um alentado
volume de 700 p., best seller de nossas Edigóes. R$ 16,20.

2. O MISTERIO DO DEUS VIVO. P. Patfoort O.P. O Autor foi examina


dor de D. Cirilo para a conquista da láurea de Doutor em Teología
no Instituto Pontificio Santo Tomás de Aquino em Roma. Para Pro-
fessores e Alunos de Teología, é um Tratado de "Deus Uno e Trino",
de orientagáo tomista e de índole didática. 230 p. R$ 9,00.

3. LITURGIA PARA O POVO DE DEUS (4a ed.. 1984), pelo Salesiano


Don Cario Fiore, traducáo de D. Hildebrando P. Martins OSB. Edí-
gáo ampliada e atualizada, aprésenla em linguagem simples toda a
doutrináda Constituigáo Litúrgica do Vat. II. É um breve manual para
uso de Seminarios, Noviciados, Colegios. Grupos de reflexáo, Reti
ros etc., 216 p. R$3,80.

3a Edicáo de:

DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos.

Em 18 capítulos. lendo sido acrescenlados nesta edicáo:


"Capitulo IV: A Santíssima Trindade: Fórmula Paga?"

"Capitulo XVIII: Seita e espirito sectario.

(Cap. 1. O catálogo bíblico. 2. Somente a Escritura? 3. Somente a fé, Nao


as obras? 4. O.primado de Pedro. 5. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento.
6. A confissáo dos pecados. 7. O purgatorio. 8. As indulgencias. 9. María.
Virgem e Máe. 10. Jesús teve irmáos? 11. O culto dos Santos. 12. As ima-
gens sagradas. 13. Alterado o Decálogo? 14. Sábado ou Domingo? 15.666
(Ap 13.18).
Seu Autor, D. Estéváo Bettencourt, considera os principáis pontos da clás-
sica controversia entre católicos e Protestantes, procurando mostrar que
a discussáo no plano teológico perdeu muito de sua razáo, de ser, pois
nao raro, versa mais sobre palavras do que sobre conceitos ou proposi
tes.-380 p. R$ 9,10

Edifoes "Lumen Christi"


Pedidos pelo Reembolso postal ou conforme índicacáo na 2a capa
: »'i:-f.^.vi ■ ■• i

1-I

ANO XIX - 1994 ^SETPOOT* 106

Revista bimestral (5 números:margo a-déiémbro)


Editada pelo Mosteiro de S. Berftb doRJo'def'Janeiro,
destina-se a Oblatos beneditinos e pesspas ¡nteressadas
em assüntos de espíritualidadé bniji^é rtídh'ást¡cá~.
• — AléhV.dé artigos, cóntémUi^üg«ívé;cómén^V|ds ' "
bíblicos e monásticos é, a¡ntía;a crónica da Mosteiro. ■

' 1995-rassiha|uraou rénovacpó;>R$ ]2»00.' r-'.


; Dirilá-seásEdlcaes^LUMEÑCHRlStl";: •

•. _ .. ... .. ^

Já anunciado em números anteriores, acaba de sair do prelo o índice


de "Pergunte e Responderemos",de 1978 a 1993,.Apresenta, por ordem
alfabética, os verbetes relativos aos diversos temas abordados pela, revista
com a indicacSo do número do fascículo e das páginas ^respectivas. Ao
mesmo tempo, é proposto aos ihteréssádos um'servico dé'copias: poderao
ser solicitadas copias de artigos de números atrasados desde 1957. Enco-
mendas e pedidos sejam enderecados a Ediles ^LurnenChristi" —Caixa
Postal 2666; 20001-970 - Rio de Janeiro (RJ).R$5,0q: '';^!

RENOVÉ CUANTO ANTES SUAASSINATURA PARA 1995:

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"dé 1994:'


Encadernado em percal ¡na, 590 págs. com Índice.
(Número limitado de exemplares) R$ 30,00.
Colec3o (sem encadernár) (12 n05 de 1994):
R$ 13.00. ■•>■••..

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