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PARTE ESPECIAL
TOMO LII
Direito das Obrigações: Negócios jurídicos bancários e de Bolsa. Corretagem de seguros. Transferencia de
propriedade mobiliária, em segurança. distribuição e colocação de Subscrição, títulos e valores mobiliários.
TÍTULO LIII
PARTE II
CAPÍTULO 1
§ 5.412.Conceito e natureza dos negócios juridicos bancários. 1. Banco, banqueiros e negócios jurídicos. 2.
Espécies de negócios jurídicos bancários. 3. Espécies de negócios jurídicos bancários.4.Forma dos negócios
jurídicos bancários. 5. Natureza da conta corrente bancária
§ 5.413.Operações bancárias em conta corrente. 1. Processo de curso. 2. Compensação durante o curso da
conta. 3. Operações com tempo indeterminado. 4. Serviço de caixa. 5. Encargo de recebimento. 6. Encargos de
pagamento. 7. Outorga de poderes a banco. 8. Abertura de crédito bancário e outras figuras jurídicas
§ 5.414.Bancos e Moeda. 1. Operações bancárias pecuniárias 2. Cotações
§ 5.415.“Confere aposto por banco. 1. Uso extrajurídico. 2. Comparação com outros ates. 3. Natureza do ate
do “confere”. 4.Entrada no mundo jurídico
§ 5.416Operações bancárias de cobrança e de pagamento. 1. Cobrança e pagamento. 2. Cobrança pelo banco.
3. Pagamento pelo banco
§ 5.417.Eficácia das operações de cobrança. 1. Atos do banco. 2.Atos do cliente
§ 5.418.Eficácia das operações de pagamento. 1. Ates do banco. 2.Atos do cliente
§ 5.419.Extinção da outorga de poderes . 1. Causa da extinção. 2.Morte, concurso de credores e incapacidade
do cliente.
CAPÍTULO II
§ 5.421. § 5.422.
(cláusula ou pacto adjecto) de conta corrente. 2. Espécies de conta corrente bancária. 3. Natureza. 4. Conta
corrente bancária e outros negócios jurídicos bancarias
Objeto da conta cor”re’ate bancária. 1. Encargos do banco. 2.Duplo objeto
Eficácia e extinção da conta corrente bancária. 1. Entradas e compensaçãO. 2. Retiradas e saldos. 3. Conta
bloqueada. 4. Extrato da conta corrente. 5. Condição “salvo Pagamento do cheque e devolução da cártula.
7.Cláusulas de pagamento de cheque. 8. Cheques de viagem. 9. Cheques a cobertura limitada. 10. Ordem de
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pagamento. . Remessa, para cobrança, de crédito contra terceiro. 12. Extinção de conta corrente bancária
CAPÍTULO III
DEPÓSITO BANCÁRIO
CAPÍTULO IV
CARTA DE CRÉDITO
§ 5.426.Conceito e natureza da carta de crédito. 1. Conceito. 2.Carta de crédito e acreditivo. 3. Natureza da
carta de crédito.4. Espécies
§ 5.427.Eficácia e extinção da carta de crédito. 1. Prestação, e não crédito. 2. Extinção da carta de crédito
CAPÍTULO V
CAIXAS FORTES
CAPÍTULO VI
DESCONTO BANCÁRIO
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
COMPENSAÇÃO INTERBANCÁRIA
.
CAPÍTULO X
BANCOS DE INVESTIMENTO
TÍTULO LIV
5.453.Conceito e natureza dos negócios jurídicos de bolsa . 1. Precisões. 2. Influência da técnica bolsistica3.
Aleatoriedade ou não-aleatoriedade dos contratos de bolsa 4. Natureza dos contratos de bolsa
5.454.Bolsa e operações discriminadas. 1Espécies bolsisticas.2.Contratos de bolsa
CAPÍTULO II
OPERAÇÕES BOLSISTICAS
5.455. Operações bolsisticas de valores. 1. Conteúdo. 2. Objeto. 3.Títulos- gêneros e títulos bens determinados.
4. Operações de câmbio. 5. Câmara de Liquidação
5.456. Funções declarativas da Câmara Sindical. 1. Boletim. 2.Responsabilidade pelos atos declaratórios. 3.
Retificação aditiva e inalterabilidade do boletim. 4. Câmbio oficial. 5.Entrega de letras de câmbio e papéis
endossáveis. 6. Subscrições públicas. ‘7. Resgate de debêntures. 8. Títulos ao portador
CAPÍTULO III
OPERAÇÕESDE BOLSA PARA LIQUIDAÇÃO PRONTA, SEM PRAZO À VISTA (SENSO ESTRITO)
5.457.Operações à vista e sua liquidação. 1. Conceito de operação à vista e a prazo fixo. 2. Liquidação pronta.
3. Liquidação àvista. 4. Títulos e valores que ainda vão ser emitidos.
5.458.Contratos a termo fixo e os outros contratos. 1. Precisões. 2.Comparações
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CAPÍTULO IV
CAPÍTULO I
§ 5.462. § 5.463.
geral. ~,3. Operações diferenciais e liquidações por diferença 4.Operações diferenciais simples. 5. Operações
diferenciais complexas. 6. Liquidação
Arbitragem bolsística. 1. Conceito. 2. Espécies. 3 Arbitragem bolsistica e operações diferenciais
Eficácia das operações de desconto. 1. Direito de antecipação (Dito “Direito de Desconto”). 2.Liquidação por
diferença sem ter havido operação diferencial. 3. Contratos de câmbio
CAPÍTULO VI
§ 5.464.Conceito e natureza dos contratos de bólsa a prêmio. 1. Conceito de contratos de bolsa a prêmio ou
contratos bolsísticos em opção. 2. Natureza da compra-e-venda com opção.
§ 5.465.Conclusão e espécies de contrato com opção . 1. Conclusão 2.Pressupostos. 3. Contrato de compra-e-
venda. 4. Contrato de compra e venda a prêmio duplo
§ 5.466.Eficácia do contrato de bolsa com opção. 1. Prêmio ou entrega dos títulos. 2. Pagamento do prêmio. 3.
Contrato de compra-e-venda com maj oração do objeto
CAPITULO VII
CONTRATO DE REPORTE
§ 5.467.Conceito e natureza do contrato de reporte (senso lato). 1.Conceito. 2. Conceito de reporte (senso
estrito)e de deporte
§ 5.468. Natureza do contrato de reporte. 1. Contrate real, com eficácia resilitiva. 2. Distinções. 3. Reporte q
deporte de contratos reais. 4. Contrato de reporte e outros contratos.
§ 5.469.Pressupostos necessários e eficácia das operações de reporte e de deporte. 1. Pressupostos comuns às
compras-e-vendas. 2.Pressupostos especiais. 3. Figurantes do contrato de reporte. 4. Prorrogação das operações
de reporte e de deporte. 5. Objeto de reporte. 6. Responsabilidade do portador de títulos. 7. Direitos acessórios
§ 5.470.Extinção de contrato de reporte. 1. Relação jurídica entre reportado e reportador. 2. Infração dos
deveres. 3. Falência, liquidação coativa e concurso civil de credores.
§ 5.471.Liquidação das operações de reporte e de deporte. 1. Liquidação e regras gerais. 2. Títulos nominativos
ou títulos que exijam formalidade de transferência
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CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
TÍTULO LV
PARTE 1
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO II
§ 5.484. Negócios jurídicos essenciais. 1. Três negócios jurídicos. 2.Propriedade, posse e alienação
5.485. Constituição dos negócios juridicos • pressupostos essenciais. 1.Precisões. 2. Unícídade e pluralidade de
outorgantes. 3.Unicidade e pluralidade de outorgados. 4. Instrumentação e prova. 5. Transferência fiduciária da
propriedade mobiliária e posse
§ 5.486. Validade e invalidade. 1. Pressupostos de validade. 2. 1icitude e fraude contra credores. 3. “Lex
commissoria” e transmissão fiduciária da propriedade
§ 5.487.Eficácia vinculativa e eficácia transmissiva. 1. Dupla eficácia. 2. Eficácia contra terceiros e
transferência da propriedade mobiliária. 3. Poder de vender, que tem o fiduciário para se pagar. 4.
Reivindicação, vindicação da posse e ações possessórias. Regras jurídicas sobre vencimento e pagamento
CAPÍTULO III
PARTE III
CAPÍTULO 1
PARTE II
CAPITULO 1
CAPITULO II
1.BANCO, BANQUEIROS E NEGÓCIOS JURÍDICOS. Nem todos os negócios jurídicos em que é figurante
banco ou banqueiro (casa bancária, trate-se de pessoa jurídica ou pessoa física que seja o dono da empresa) são
negócios jurídicos bancários, no estrito senso, isto é, de negócios jurídicos ditos bancários. Qualquer pessoa
pode subscrever, endossar ou avalizar letra de câmbio ou nota promissória. Se é o banco ou o banqueiro que a
faz, nem por isso se torna bancário o negócio jurídico. Mas o negócio jurídico subjacente, justajacente ou
sobrejacente pode ser bancário; e. g., a antecipação bancária ou o desconto.
Na intermediação para a circulação do dinheiro, a função dos bancos é da maior importância. Porém seria
errôneo afirmar-se que o dinheiro não circula tanto em negócios jurídicos em que nenhum figurante é banco. Lá
fora, a circulação é maior, com as vendas de balcão, as encomendas e aquisições à vista, ou a prazo, de bens
móveis e imóveis, em que nenhum papel exerceu qualquer banco.
O que caracteriza a atividade bancária é a função de intermediariedade na circulação do dinheiro. Isso não quer
dizer que somente de bancos e de banqueiros seja tal atividade. Tratar-se, à parte, dos negócios jurídicos
bancários só se entende commoditatis causa.
O ser bancário o negócio jurídico não resulta de elemento essencial ou de caráter intrínseco. Não atende
somente ao objeto da operação, nem há objeto essencial à bancariedade do negócio jurídico. A legislação mais
se influenciou pela qualidade subjetiva, de modo que se apresenta o problema de ser só concluível por banco,
ou entre bancos, o negócio jurídico bancário. Não há resposta a. priori, porque alguns negócios juridicos, em
que banco é figurante, podem ser feitos por pessoas, jurídicas ou físicas, que não são bancos. Em tais casos,
porque não há a qualificação subjetiva, o negócio jurídico não é bancário. Por aí se vê quão afastada da verdade
seria qualquer teoria que ligasse às espécies dos negócios jurídicos o serem bancários os negócios jurídicos.
Leis especiais é que prendem à profissionalidade empresarial a exclusividade de operações ditas bancárias.
Algumas operações bancárias são sobre dinheiro. Outras, sobre guarda. Ésses não se prendem à intermediação
na circulação do dinheiro, pôsto que a posse, mesmo duradoura, do dinheiro, como ocorre quando se guarda
dinheiro, seja fato na vida circulatória dêle. Alguns contratos de guarda, em que figuram bancos, não são de
dinheiro, mas de bens de valia, tais como jóias, ações e debêntures.
Os contratos concernentes à intermediariedade na circulação do dinheiro têm como eficácia o dever de prestar,
desde logo ou futuramente, às vêzes eventualmente, soma dc dinheiro, com dever de restituição; porém não é
estranha à função qualquer contrato em que alguém deposita dinheiro, ou empresta dinheiro ao banco ou ao
banqueiro. Há operações ativas de crédito e operações passivas de crédito.
Os contratos de guarda, esses, são secundários, na vida dos bancos, e podem ser concluídos por empresas não
bancárias, como as empresas de 1ocação de cofres fortes. Os bancos, com esses contratos, têm por fito servir,
em assuntos de valor patrimonial, os fregueses e captar maior simpatia e atração da clientela.
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(O fato de muito se falar de contratos bancários de modo nenhum implica serem negócios jurídicos bilaterais
todos os de que se cogita. A matéria é demasiado complexa e a exposição dela há de compreender os contratos
bancários e o que ocorre, nas operaç6es bancárias, sem a bilateralidade dos negócios jurídicos.)
É êrro identificar-se com o contrato de banco (Ra.nkvertrag) o contrata de giro (Girovertrag), pois contrato de
giro é espécie de contrato de banco. O contrato de conta corrente não é contrato de banco. Ajuda, auxilia, o
contrato de banco. A conta corrente consigna o que ocorreu, a entrada e a saída do que se pôs em conta
corrente; portanto, os resultados, são as vinculações a que as operações levaram. Muito diferente é o traspasso
bancário (unilateral) ou o contrato de giro, que n&o fica no plano operacional.
Pelo contrato de banco, o banco vincula-se a operar para o cliente, quer a respeito de dinheiro, quer de título de
crédito ou títulos representativos, tais como depósitos, custódia e administração de ações e debêntures, compra
e venda de títulos, ou desconto cambiário. A relação jurídica entre o cliente e o banco é relação de confiança.
Não tem conteúdo típico. A relação jurídica contratual é duradoura.
A atividade do banco a propósito de assuntos que interessam ao cliente e podem ou devem ser incluídos na sua
gestão, sem serem conteúdo de negócio jurídico típico, regem-se pelos princípios concernentes às locações de
obras ou de serviços, que se ligam às profissões liberais (cf. A. F. FEnHEER VON MINNIGERODE, § 675 in
BGB und der Begríff der Geschiiftsbesorgung, 84 s.).
2.EsPÉCIES DE NECÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. Os negócios jurídicos bancários podem ser sObre
crédito ou de crédito. Outra espécie é a dos negócios juridicos de custódia.
Os negócios jurídicos sObre crédito são , por exemplo, os em que há promessa de crédito e os negócios
jurídicos de caução de títulos de crédito e outros semelhantes. Não se deve, porém, atribuir grande relêvo à
distinção, e mais convém que se chame negócios jurídicos de crédito às duas espécies.
O elemento custodia], esse, sim, diferencia, ressaltantemente. Não se lhe pode exagerar a função, porque, na
verdade, é secundária, em relação aos outros negócios bancários. Por outro lado, em vez de o banco exercer, ai,
a função de intermediariedade na circulação, apenas custodia, quer se trate de dinheiro, quer de títulos ou outros
bens custodiáveis em banco.
Alguns negócios jurídicos bancários são derivados de leis especiais e a sistemática mais acertadamente põe-nos
na pauta do direito em que êles exsurgem, como acontece às letras hipotecárias (Tomo XX, §§ 2.497-2.499), às
cédulas rurais hipotecárias (Tomo XXI, §§ 2.591-2.600, 2.634-2.658), às cédulas rurais pignoratícias (Tomo
XXI, §§ 2.594-2.598, 2.600, 2.639-2.658), ou às mistas (Tomo XXI, ~§ 2.591, 2; 2.634-
-2.642, 2.655-2.657). São contratos de crédito com objeto especial e regidos por leis especiais.
Os negócios jurídicos de crédito, que são os negócios jurídicos mais frequentes dos bancos e das sociedades de
crédito, que são como empresas colaterais, de limitada atividade (a negócios jurídicos de crédito, ou a negócios
jurídicos de crédito e de financiamento), são de duas espécies: a> os negócios jurídicos de crédito em que o
banco é que é feito credor (negócios jurídicos de crédito bancâriamente ativos, porque o banco é que dá, que
presta) ; b) os negócios jurídicos em que é o banco que se faz devedor (negócios jurídicos de crédito
bancâriamente passivos, porque o cliente é que dá, que presta). Respectivamente, como exemplos, a abertura
de crédito ou o desconto e o depósito bancário de dinheiro.
Os negócios jurídicos bancários são, de ordinário, negócios jurídicos de duração. O elemento tempo revela-se
em todos êles: são todos êles com prazo determinado, ou a tempo indeterminado.
Quanto à prestação, há negócios jurídicos bancários que são em prestação única e instantânea e negócios
jurídicos que são a duas ou mais prestações. Na última espécie, a pluralidade de atos prestacionais pode ser da
parte do banco, ou do cliente, ou de ambos. Pense-se no depósito em conta corrente e no negócio jurídico em
que o banco se encarregou de recebimentos de terceiro ou de terceiros, com o dever de lançar na conta corrente
do cliente.
O crédito pode ser concebido como a) suscetível de exigência a cada momento (exigibilidade a líbito do credor)
ou como b) suscetível de satisfação a cada momento, ou e) com as duas suscetibilidades, ou d) sem elas.
Exemplo de a), tem-se em todos os créditos que derivam de comodato, ou de mútuo sem data para pagamento.
Exemplo de lO tem-se na abertura de crédito, pois ao acreditado fica o poder de prestar, no todo ou em parte, o
que era devido.
Os negócios jurídicos bancários podem ser a prestações repetidas, como se há abertura de crédito e o cliente
pode, em conseqúência da relação jurídica existente, sacar ou exigir o que foi prometido ou deixado à vontade
do cliente; ou a exibilidade repetida, como se o banco se reservou dizer as datas dos pagamentos parcelares, ou
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4.FORMA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. A propósito da forma dos negócios jurídicos
bancários, não há resposta a priori às questões. A forma é a que tem de ter a espécie de negócio jurídico.
Quase todas as operações bancárias são por escrito. Isso não afasta que se empreguem o telegrama e o
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telefonema, além dos teletipos de atividade interna. Os contratos entre ausentes podem ser por telegramas, com
as secundárias medidas confirmatórias, para que se afastem as possibilidades de falsidade e de êrro. Há
discussão sobre ser entre ausentes ou entre presentes o contrato por telefone (cf. F. MEILI, Das Telephonredil,
201). Devido à diversidade de lugares, na opinião de alguns juristas, as regras jurídicas sobre contratos inter
absentes seriam invocáveis, mas há a regra jurídica do art. 1.081, ~, 2.~ alínea, do Código Civil, que foi
explícito (para a controvérsia doutrinária que existia no século passado, CAETANO MAJORANA, Deite
Gonvenzioni fra persone lontane, 31 s.; F. MEWI, Das Tetephonrecht, 1 s., e a recensão de H. GUGOENHEIM,
Zeitschrift fúr das gesamte Handetsrecht, 1386, 867). A grande maioria tomava caminho errado, e. g., II.
DERNBURG, Pan>dekten, ~ 3Y ed., § 11). Certos, JOSEF KOHLER (Ober den Vertrag unter Abwesenden,
Archiv fUr Biirgerliches Recht, 1, 301). Cf. Tomos II, § 228, 1, 6; 225, 11; III, § 278, 6; XXXVIII, § 4.194, 6;
XLVI, § 5.031, 1. Cumpre advertir-se que já o diziam, em 1873, H. SCHOTT (Der obligatorisch.e Vertrag
unter Abwesenden, 68); e, em 1879, R.ICHARD MARSSON (Die Natur der Vetragsoffekrt, 9). Sobre a
relatividade da presença, assunto de que já tratamos, cf. GEORG MAAS (Ver
tragsschluss aaif elektrischem Wege, § 31), OSCAR PHILIPPI (ti ber Vertragsschluss durch Telephon, 15 s.).
Quanto ao contrato ou outro negócio jurídico por telegrama, tem-se de partir do exame das circunstâncias,
porém não se pode dizer a respeito das ofertas, das aceitações e das promessas, unilaterais, por telegrama o que
mesmo que se asserta quanto às ofertas, às aceitações e às promessas por telefone.
5.NATUREZA DA CONTA CORRENTE BANCARIA. O contrato de conta corrente bancária é contrato não
disciplinado pelas leis brasileiras. Porém precisaram-lhe os elementos. Não se deve atender à diversidade das
prestações, por parte do banco, porque tal diversidade concerne aos atos que incumbem ao banco, e não à conta
corrente bancária, que fica por cima dêles e apenas permite as inserções na conta.
1. PROCESSO DE CURSO. Conforme já temos frisado, não se hão de confundir com o contrato de conta
corrente os contratos, quase sempre bancários, em que se adota o processo do curso, isto é, a movimentação em
conta corrente. Os contratos bancários de execução repetida, mesmo que não sejam contratos de conta corrente,
podem ter execução em conta corrente. O que há de comum é que os levantamentos e as inversões de modo
nenhum atingem o contrato, nem lhe quebram a unicidade e unitariedade. A função de conta corrente é inerente
ao contrato de conta corrente, ao passo que o ser em conta corrente, nos outros contratos, somente concerne ao
processo da atividade contratual.
A conta corrente atendeu à necessidade de se evitar o dar e receber, freqUentemente, com perda de tempo e de
trabalho, e de haver escrita contábil, sempre que as operações são muitas.
Uma vez que o depósito bancário, ou a abertura de crédito, ou outra operação bancária se há de movimentar em
conta corrente, pode o correntista levantar, quando entenda, as quantias, dentro do seu crédito; salvo se foi
preestabelecido o pressuposto do pré-aviso (dito, também, aviso prévio). Quem avisa pode só avisar no
momento, razão por que, aludindo-se ao trato de tempo que há de existir, se emprega um dos termos: pré-
-aviso, ou aviso prévio. A previedade do aviso atende à distância no tempo.
4. SERVIÇO DE CAIXA. Por vêzes, o banco fica encarregado de pagar contas do cliente, ou de exigir de
terceiro alguma quantia, ou de transferir para outra conta o que o cliente pede. Tais serviços de caixa são
estranhos à própria conta corrente, salvo se a conta corrente é criada para isso, espécie mista, em que os
figurantes preestabeleceram a maneira de atuação (PAOLo GRECO, Le Operazioni di Banca, 147). Se o
contrato não o prevê, tem-se de pensar em negócio jurídico à parta (e. g., mandato, comissão). Em qualquer dos
casos, o banco assume o dever de levar a cabo a incumbência, conforme os-princípios que sejam os do negócio
jurídico de que se trata. Não é de se afastar a hipótese de ter sido deliberação do banco, em gestão de negócios
alheios.
Quando a função está prevista no contrato, a figura é a do contrato de que se trata com a inserção de outorga de
poder de representação, ou de simples poder de ato-fato jurídico por outrem (pagamentos).
Se o contrato bancário o previu e deu ao banco o dever da atuação, cada manifestação de vontade do correntista
não é negócio jurídico, não é mandato. Há os pedidos-exigências , a que o banco tem de atender, sem ser
preciso que se dê a aceita ç’do. A outorga de poder é negócio jurídico unilateral (Tomos II, § 159, in fine,
tabela: III, §§ 308-323; XXXI, §§ 3.566, 1, e 3.567, 1, 8>. Os pedidos-exigências são comunicações de vontade
(Tomo II, §§ 235, 1 e 13, e 236, 2). O destinatário da oferta de mandato não é vinculado a praticar os atos a que
a oferta se refere: só se vincula com a aceitação. O oferente, no mandato, pode revogar, se não houve prazo para
a aceitação, até o momento, exclusive, em que lhe chega a resposta (Código Civil, art. 1.081, II). ‘O autor do
pedido-exigência vincula-se, esse, desde o momento em que se dá a recepção pelo destinatário.
Sempre que o banco, ao receber comunicação de vontade do cliente, tem de atender ao que se pede, trata-se de
pedido-exigência, quer isso resulte de cláusula contratual ou de outorga unilateral de poder, quer da lei, ou dos
usos (cf. GERARDO SANTINI, Ii Banco giro, 22 s.). Se o banco desatende, responde por perdas e danos. Na
linguagem vulgar, diz-se “ordem”, termo demasiado largo. Mas “ordem”, no sentido de exercício de direito a
que o banco preste, não é de refugar-se.
Se o ato que se pede não é ato à cuja prática esteja adstrito o banco, somente se vincula esse se aceita a oferta
contratual. O pedido-exigência supõe a vinculação anterior, qualquer que seja a sua origem.
Alguns atos da incumbência dos bancos são atos de núncio, para os quais não se precisa de poderes de
representação (e. g., pagar contas de impostos, luz e gás, telefones e outros serviços ao público). SObre núncio,
Tomos III, §§ 314, 4; 323; IV, §§ 386, 6; 441; 446; e XXII, § 2.721, 11.
Nem todos os créditos à disposição permitem que se enviem pedidos-exigências.
Os serviços de caixa dependem de ter o banco assumido o dever de os prestar, se esses serviços não são
interiores ao banco (e. g., traspasso bancário, Toni.o XXXI, §§ 3.592 e 3.593).
A assunção pode ser em virtude de lei, da natureza do contrato bancário, ou de especialização estatutária do
banco.
Os serviços de caixa podem ser de pagamento e de recebimento. Os pedidos-exigências, ditos, sem a devida
caracterização, “ordens”, podem ser por meio de carta, telegrama, telefonema, de viva voz, ou por outro meio,
ou por meio de cheque (cláusula de cheque). A remessa de cheque não altera a figura do pedido-exigência:
trata-se de titulo de crédito, para maior prova do levantamento conseqUente, e titulo abstrato.
O pedido-exigência supõe, portanto, assunção do dever de encargo de pagamento, ou de recebimento. Ora, esse
dever de pagar não poderia derivar de assinação: na espécie, de dele gatio solvendi (delegação de pagamento),
porque a delegatio pronittendi seria fora dos usos.
O aviso-exigência supõe que o dever exista; e na assinação não há o dever do assinado. Se o há, decorre de
outra fonte de obrigações.
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recolha os alugueres de algum prédio, ou o próprio Estado, se confia o recebimento de impostos, taxas e
contribuições, ou alguém entrega títulos cambiários, para que o banco receba, na data do vencimento, as
respectivas quantias ou os apresente para protesto cambíario.
Surgem aqui alguns problemas de sutileza ou de relevância doutrinária.
(a) Se algum banco recebe procuração, para negócio jurídico que não é da atividade especifica do banco, de
modo que não se tenha de entender que há promessa. de cumprimento, ou o banco tem a procuração como
adesão do cliente, ou aceitação da sua oferta (negócio jurídico subjacente à outorga de poder), ou não tem dever
de exercer o que se contém na outorga de poderes. Salvo caso em que seja necessária resposta ou comunicação
de recebimento, não há dever de resposta, ou de comunicação. Se houve aviso telegráfico ou telefônico, as
circunstâncias quase sempre criam o dever.
~ preciso que se não confunda com a procuração, ou outra outorga de poder, o mandato, que é negócio jurídico
bilateral.
A outorga de poder pode não se inserir em mandato. A procuração é negócio jurídico unilateral, e não contrato
(PAUL ]ISA.BAND, Die Stellvertretung bei dem Abschlusse von Rechtsgeschãften, Zeitschrijt fllr das gesamte
Handelsrecht, 10, 203 s.; R. VON CAN5TEIN, Auftrag u. Vollmacht, Griinkuts Zeitschrift, III, 670 s.;
FRIEDRICH CURTIUS, Die Stellvertretung bei Eingehung von Vertrãgen, Archiv flir die civilist4 sch,e
Praxi,s, 58, 78; FR. HELLMANN, Die Stellvertretung in Recktsgeschdften, 110; L. MaTEIs, fie Lehre von der
Stellvertretung, 186; OTTO LENEL, Stellvertretung und Vollmacht, Jherings Jahrb-llcher, 36, 15; EGBERT
WETSCHKY, tiber die Widerruflichiceit der Volimacht, 13 s.).
(b)Nas relações entre os diretores e os bancos, a caracterização da figura que as determina (depósito bancário,
conta corrente, mandato, depósito, caução ou penhor, fiança) é da maior relevância, principalmente para se
saber quais são os casos para indenização e qual a fonte (contratual e extracontratual). Pense-se no que ocorre
se se trata de mandato, tanto mais quanto se discute o próprio conceito de caso fortuito (e. g., KOPPEL, Haftet
der Áuftraggeber deu Beauftra-gten .fiir deu zufãlligen Schaden, deu dieser bei Àusfúhrung des Áuftrags
erlitten hat?, 12, e HERMANN }{ANAU, fie Voraus.setzung eu, unter welchen nack gerneinein Recht der
Mawlant filr Schaden kaftet, welcher dem Mandatar bei Ausfithrung seines Auftra.ges eruÂdckst, 15, que
exigem ser o fato estra’nho à vontade do mandante e do mandatário; contra, STEPHAN KEKULE, fie
Schadensersatzpflicht des Mandanteu nach gemeinem Rechte, 20, que abstrai dessa referência à vontade dos
contraentes). Pense-se em que muitos atribuem culpa, presuntivamente, ao furtado ou custodiante se furto
houve (FREU. HEPP, fie Zurechnuug auf dein Gebiete des Civiirechts, 66) e outros a afirmam, em quaisquer
casos (e. g., A. FABER, Coniecturarum iuris civilis, III, cap. 5; EGIO voN Lorni, Reitrãge zur Theorie der
Culpa, n. 4), com a repulsa de JOH. Cmi. HASSE (fie Culpa des rõmischen Rechts, 319 s.), P. F. VON WY55
(fie Haftung filr .fremde Culpa, 84), STEPIIAN KEKULE (13) e de KARL WEíss (Haftet der Auftraggeber
dem Beauftragteri. filr deu zuf&ilhigen Schaden, welcheu dieser bei Áusfilhrung des Auftrags ertitten kat?, 9 s.
e 39 s.).
(c) Os problemas derivados de ser incapaz a pessoa que representa o cliente do banco, ou que é mandatário, ou
gestor de negócios alheios sem poderes, têm de ser resolvidos no sentido de que o pagamento é ato-jato
jurídico, e não negócio jurídico, e de que o terceiro, depositante na conta bancária, não pode, com o seu ato, por
falta de poderes ou incapacidade, prejudicar o banco. Se o cliente levantou o que foi depositado bancâriamente,
ou se considerou solvida a divida perante o banco, tem de responder pelo enriquecimento injustificado. Não se
há de invocar o princípio de que quem trata com terceiro tem de exigir a mostra dos poderes, ou de que há de o
outorgante ser capaz (cf. EUGE$ JEHLE, Die Voltmackt und die Witlensmãn,gel des Vollmachtgebers, 55 s.),
porque não se precisa de poderes para se pagar ou depositar em conta. Mesmo se quem paga, com o seu ato,
comete ato ilícito (e. g., B, para injuriar a A, deposita na conta da mulher de A quantia de que ela ignora
qualquer procedência).
(d)Quem pode alegar compensação, e não a alega, ou não procede como se a alegasse (e. g., prestou a
diferença), renunciou ao seu direito. Contra o endossatário não pode o banco compensar, se não é o devedor,
mas apenas, e. g., cobrador do titulo; nem, como fiador, pode compensar contra o credor, se tal direito não tem
o devedor ou a êle renunciou (cf. FRANZ FIEGEN, fie Verzicht auf die Kompensationsbefugnis, 28 s.).
(e) Da pena convencional fica isento o devedor, o cliente, se o banco foi causador de impossibilitação da
prestação (cf. W. v. SEELLER, Zur Lehre vou der Konventional.strafe nach rõmischem J?echt, 75). Com a
cláusula penal prevê-se a conseqUência do inadimplemento (cf. WffHELM SJÕGREN, tiber die rõmiseke
Conventionoistrafe und die Strafklauseln der frãnkischen Urkundem, 19).
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Os negócios jurídicos de assinação (Tomos XLII, ~§ 4.683-4.640; II, §§ 120, 2; 285, 11; 237, 2; XXII, § 2.764,
2; XXII, § 2.855, 4; XXIV, § 2.971, 5; XXV, §§ 8.004, 5; 3.076, 6; XXVI, § 8.157, 4; XXXII, § 8.705, 4;
XXXVII, § 3.097, 3) são freqUentes nos bancos. Negócio jurídico, a assinação de pagamento exerce função
relevante nas operações de banco, especialmente quanto à relações de valuta, Valutaverhtiltnis
À (cf. GEORG KAHL, fie búrgerliche Anweisung, 81 s.). O banca que aceitou a assinação nada mais pode
alegar a quem se apresenta para receber.
8.ABERTURA DE CREDITO BANCARIO E OUTRAS FIGURAS JUIMDICAS. Tratamos da abertura de
crédito, no Tomo XLII, §§ 4.589, 4; 4.623-4.632; também da abertura de crédito a favor de outrem e do
mandato de crédito, no Tomo XLIV, §4.800, 5. A abertura de crédito bancário é espécie, razão por que não se
justificaria que lhe dedicássemos trato especial, entre os negócios bancários típicos.
Apenas temos de fazer algumas considerações que se prendem à prática bancária. A abertura de crédito a favor
de terceiro pode ser por pagamento (crédito negocial), ou por aceite (crédito de aceite), se o terceiro emite
título em que é sacado o cliente. No Akzeptierungakreditiv, crédit par acceptatiou, acceptance credit, o banco
aceita, assume a dívida cambiária ou cambiariforme, em vez de prestar dinheiro. Chama-se a isso empréstimo
de firma. Mediante esse especial meio de abertura de crédito, o cliente obtém antecipação. O titulo é levado a
outro banco, ou a alguma outra pessoa, física ou jurídica, para o desconto.
Compreende-se que mais se prestem a esse negócio jurídico antecipativo os bancos e empresas financeiras
adequadas a tais operações: Daí as expressões: banlcers’aceeptance, ban kers’bills, accepting houses.
Em vez de se abrir o crédito, para que o cliente levante o que deseje levantar, segundo as cláusulas, com base na
abertura de crédito paga-se, ou aceita-se. Se com a abertura do crédito, já se creditava ao cliente o que se
combinou, qualquer pagamento, que o banco faça, é como se o cliente o fizesse, porque houve outorga de
poder. Todavia, pode não ser secundária tal missão do banco, mesmo se, em vez de abrir o crédito para
pagamento, sem o lançamento, como ativo, na conta do cliente, se lança o crédito com destinação exclusiva ao
pagamento determinado ou aos determinados pagamentos.
Tudo isso é muito diferente se, na conta corrente, o cliente tem depósito que permite a outorga de poder ao
banco para que pague, ou que foi feito, especialmente, para que pudesse o banco pagar o que foi indicado. Nem
se confunda, tão-pouco, com a conta corrente, em que se faz traspasso bancário (Tomos XXXI, §§ 3.592 e
3.593; e XXI, § 3.567, 13), dito clearance, compte de vireinent, bancogiro.
A ordem de traspasso bancário, de giro, é entre o cliente e o banco. O terceiro, que vai receber, é estranho à
relação jurídica. Após a operação, o ativo do estranho cresceu. Feito lançamento do que se traspassa, não pode
ser revogada a ordem, mesmo se o estranho o ignorava. Com a operação, o banco libera-se; mas assume a
responsabilidade pelo que lançou.
1.OPERAÇOES BANCARIAS PECUNIÁRIAS. A grande maioria das operações bancárias são operações
pecuniárias. As operações que não têm por objeto aquisição, troca, ou depósito, ou empréstimo, de dinheiro,
podem ser bancárias, porém já exigem organização especializada.
A primeira questão, a respeito de dinheiro, é de se saber se existe dualidade de conceitos: dinheiro, em sentido
econômico, e dinheiro, em sentido jurídico. Começar-se por procurar o que a economia vê de mais saliente,
mais ressaltante no dinheiro e o que, do seu lado, o direito faz mais nítido, talvez precípuo, no dinheiro, tem
sido êrro de método. Já se postula. de algum modo, a diversidade de conceitos. Autores há, porém, que afirmam
existir o conceito econômico, inconfundível com o conceito jurídico, de modo que há o dinheiro no sentido
econômico e o dinheiro no sentido jurídico, que não coincidem nos seus limites, e não são, pois, a mesma coisa.
A Sociologia sói mostrar-nos casos em que em dois ou mais processos sociais de adaptação, e. g., Economia e
Direito, Moral e Direito, Economia, Moral e Direito, os conceitos e o que se conceitua num dêles se
diferenciam dos conceitos e do que se conceitua no outro, ou nos outros. Não se pode dizer, portanto, ah initio,
que a distinção não existe. Tão-pouco, que deve existir.
Para a definição do dinheiro, o critério geralmente seguido tem sido o de caracterização das suas funções e, a
par disso, da sua função principal.
Apontam-se, por exemplo, como funções típicas: a) ser instrumento geral de troca ou câmbio e, se é certo que
Gustavo HARTMANN (tiber deu rech,tiich,en Regriff des Geldes, 10) pensava negar-lha, mostrando que tal
função também tinham os títulos cambiários, V. HASENÓHBL (Das õsterreichisch,e Obiigationenrecht, 2~a
ed., 224), pôs os pontos nos ii, quando respondeu que não é verdade ter o título cambiário a função de meio
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geral de câmbio ou troca; b) ser medida comum dos valores, denominador geral dos bens, indicador comum dos
preços; c) ser meio geral de pagamento; d) ser meio de transporte do valor, no tempo e no espaço, ou
instrumento de conservação e transmissão de valores.
Invertamos a ordem delas para comodidade da análise, que tem de ser eliminatória. A função d) é,
evidentemente, secundária, e não poderia ser considerada como principal, menos ainda como exaustiva, ou
suficiente, para definir o dinheiro. A função e) constitui parte da função a), pois que, em vez de se aludir a
instrumento geral de câmbio, de tráfico, se alude a instrumento geral de pagamento, com o que se lhe
reconhece, não o papel de única prestação em paga (o que valeria dizer-se que todo pagamento consiste,
necessàriamente, em entrega de soma de dinheiro), mas papel resultante de que qualquer obrigação se pode
reduzir à obrigação de se pagar soma de dinheiro.
Tal é a atitude que, ao definirem dinheiro, preferiram:
F. KLEINWXCHTER (Lehrbuch der NationaWkonomie, 2•a ed., 820); EUGEN PHILIPPOVICH vON
PHILIPPSEERG (Grundrise der politischen Okono’,nie, J, 8Y ed., 320) ; PAUL LABAND (Das Staatsreckt
das deutschen Reichs, 5•a ed., 170) ; e O. F. RNArP (Staatliche Theorie das Geldes, 31). A função a) pareceu
principal e típica a CARIS MENCER (Geld, Handwórterbuch der Staatswissenschaft, ~v, 8~ ed., 567) ; a L. v.
Misrs (Theorie das Geldes und Uinlaufsinittel, 3 s.); a MARTIN WOLFP (Das Oeld, Handbuch des gesamten
Handelsrechts, IV, 570).
Alguns escritores há que põem em relêvo duas ou mais funções.
Todos os sistemas monetários se basearam em unidade fundamental, que é o divisor comum; de modo que cada
sistema é independente das expressões, ainda que se adotem particularidades espaciais ou geográficas, e da
própria substância dos signos monetários (ouro, prata, níquel, papel). O sistema varia, sem se tornar
incompatível ou estranho, quando se admite nova unidade, ou se passa a nova unidade, mediante norma de
redução, como pretendeu, no Brasil, a abortada política das moedas-cruzeiro, e agora se fala de tirarem-se
zeros. Se o legislador introduz outros elementos para a redução, como a data do contrato, ou a origem da dívida,
esses elementos concernem à divida, e não ao dinheiro. Aliás, em vez de regra de redução~ o legislador pode
aceitar regra de câmbio, estabelecendo, no tempo, o que sói ser no espaço, ou no espaço anunciado a tempo,
mas tempo da prestação, e não da moeda mesma.
Quem vendeu moeda estrangeira tem de pagar moeda estrangeira. Não se desonera pagando o que deve em
moeda nacional ao câmbio do vencimento, ou ao câmbio do dia do pagamento mais a diferença e os juros. É
devedor de coisa monetária, e não de dinheiro. Tem de pagar em moeda estrangeira; se não paga, responde por
perdas e danos, até a efetiva satisfação, sem se poder falar, então, de juros legais, pois que não se trata de dívida
de dinheiro, mas de divida de coisa monetária. “Quando o vendedor”, diz o Código Comercial, art. 202, “deixa
de entregar a coisa vendida no tempo aprazado, o comprador tem opção, ou de rescindir (7!) o contrato, ou de
demandar o seu cumprimento com os danos da mora; salvo os casos fortuitos ou de fôrça maior . Antes está no
Código Comercial, art. 197: “Logo que a venda é perfeita (art. 191), o vendedor fica obrigado a entregar ao
comprador a coisa vendida no prazo e pelo modo estipulado no contrato; pena de responder pelas perdas e
danos que da sua falta resultarem”. Não atendeu J. X. CARVALHO DE MENDONÇA (Tratado de Direito Co-
mercial brasileiro, VI, 23 parte, 213) à diferença entre dívidas de dinheiro e dívidas de coisa monetária,
distinção de que descurou, quando, ao tratar da indenização devida pelo vendedor inadimplente, disse: “É justo
que pague o vendedor os juros da mora, e assim tem sido julgado por mais de uma vez”. E repeliu exatamente o
que é certo: “Não raras vêzes se tem condenado o vendedor a outras indenizações pelas perdas e danos,
liquidáveis na execução. Certo é que as questões de indenização são de fato. O comprador não pode pretender
mais do que a indenização do prejuízo, pois seria, em caso contrário, locupletar-se à custa do vendedor”. Ora, o
juiz tem de condenar no que se liquidar na execução, porque se trata de compra-e--venda e de obrigação do
vendedor. Juros, aí, seriam absurdos. É um dos pontos em que maior cuidado se precisa ter, para
que se não apliquem aos contratos de compra-e-venda de moeda, ainda a prazo, os princípios peculiares às
dívidas de dinheiro. O comprador, pelo contrato, deve dinheiro (se assim não fôra, o contrato seria de troca),
mas o vendedor deve coisa monetária. Se bem que a lei fale em resolução (rescisão!> ou indenização, quem
pede resolução, segundo o ad. 202, pede a restituição do preço e o pagamento das despesas, com os juros legais
(art. 213) : “Em todos os casos em que o comprador tem direito de resilir o contrato, o vendedor é obrigado não
só a restituir o preço, mas também a pagar as despesas que tiver ocasionado, com os juros da lei”. Ora, onde
cabem juros legais não cabem outros pagamentos de danos da mora. Certa, a decisão da 1~a Câmara da Côrte de
Apelação do Distrito Federal, a 28 de junho de 1907, confirmada pelas Câmaras ReUnidas, a 28 de abril de
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1909 (R. de D., V, 372; 12, 541) ; erradas, as da 1.a Câmara Cível, a 10 de junho de 1915, das Câmaras
ReUnidas, a 27 de junho de 1916, e da 1.a Câmara Cível, 38, 145; 46, 355-360; 49, 360-365; 1?. .1., 11, 350-
353). Foi vitima do mesmo engano J. X. CARVALHO DE MENDONÇA, Tratado, VI, ~ 23 parte, 211 s.).
Tôda moeda é suscetível de dois valores: o valor intraestatal, a que os escritores alemães chamam Rinne’nwert,
e o valor interestatal, que é, de certo modo, valor extraestatal, se considerarmos o Estado a que pertence o
sistema monetário (Ausserwert). Ambos são taxáveis oficialmente$mas só em épocas de perturbação, ou de
desequilíbrio econômico-financeiro, é que a taxa interior ou os números índices obtêm aplicação compulsória.
O valor interestatal alude ao importe das trocas e outros fatôres das relações dos povos ao par of exchange, à
Munzparitiit, ou paridade monetária, que resulta da comparação do conteúdo metálico de duas moedas, mas
também à oferta e à procura delas, o que faz a uma sobrepujar a outra. Se se trata de papel-moeda, aquêle fator
diminui ou desaparece.
Para pedir a resolução do contrato com fundamento nos arts. 202 e 213 do Código Comercial, o comprador de
moeda não precisa ter cumprido a sua prestação, salvo se o preço tinha de ser pago antes, ou se o contrato
dispôs diversamente.
Qualquer definição do dinheiro que entre na apreciação do valor contido, do elemento metal ou outro de
natureza semelhante, já ultrapassa o que se quer definir. Exatamente, no dinheiro há valor que não é aquêle
(êrro dos valoristas, metalistas ou não) e do qual pode aquêle não estar separado, pelo menos não há de estar,
necessàriamente, separado (êrro dos nominalistas). A nominalidade quase pura ou pura é o extremo de evolução
técnica, ligada à função do Estado, sensível onde mais se caracteriza a abstração do dinheiro, quer dizer
quando o Direito preponderou na regulação dêle. Nos nossos dias, o dinheiro é mais fato do mundo jurídico do
que do domínio econômico. A Economia não perdeu o seu poder sobre êle, não deixou de regê-lo, de governá-
lo, mas, por um lado, é o dinheiro, tal como o conceito do Direito o faz, que exerce a função econômica e, além
disso, cresce o papel do Direito onde quer que se dirija a Economia. Ora, nos nossos dias, a economia de todos
os povos é mais ou menos dirigida; mesmo onde o liberalismo econômico ainda resiste às tentativas de minorar-
lhe as conseqüências e os males, há notáveis incursões do Direito na dimensão da Economia.
2. COTAÇÕES. Hoje as cotações oficiais, que podem ser duas ou mais, já não indicam preços, nem, sequer,
médias de preços sobre o conjunto das operações levadas a cabo; não têm aquela fidelidade de expressão, que
caracterizava as cotações dos tempos de liberalismo financeiro; são indicações de preços, dentro de certo
quadro de pressupostos e. circunstâncias.
Teoricamente, a cotação oficial significaria a mais próxima expressão do valor real. Pràticamente, em virtude de
política intervencionista dos Estados, tal proximidade é, de regra, discutível. Raramente, hoje, merece grande
crédito. Em todo o caso, é o que se tem de tomar por base, se dos termos do ato jurídico não resulta outro
critério, ou se a lei mesma não estabelece outro.
O primeiro principio, em tal assunto, é o de que a cotação depende daqueles que, por lei, são incumbidos de
determiná-la, não podendo a Justiça entrar na apreciação da sua verdade, pôsto que possa verificar se os que a
fixaram tinham competênda legal para isso e se foram observadas regras jurídicas que dizem respeito à
segurança do público. Tão-pouco podem os bancos fixar taxa diferente da taxa oficial, ou das taxas oficiais, se
há mais de uma (cf. Tribunal de Justiça da Bahia, 16 de março de 1897).
O segundo principio é o de que, se há dúvida sobre qual seja a cotação e. g., se a de uma praça, se a de outra se
tem de entender a do lugar em que se tem de cumprir a obrigação pecuniária. Aliás, os sistemas têm o princípio
da autonomia de vontade na escolha da Bolsa, desde que a tenham na inclusão da cláusula.
Ocurso oficial (interestatal) pode referir-se a valutas, isto é, moeda estrangeira que se adquiria no país, como as
que se compram nos cambistas (valutas), ou a divisas, que são as letras de câmbio sobre o estrangeiro, os
cheques e as ordens de pagamento. O curso das divisas influi no curso das valutas, mas circunstâncias especiais
fazem diferençarem-se os dois cursos. O curso básico é o das divisas, de modo que, no uso do comércio,
quando se fala de curso do câmbio, ou de taxa oficial, ou de curso do dia, é do curso das divisas que se cogita,
ainda que se trate de pagamentos no interior, ou que se prometa pagamento em moeda nacional a câmbio de
determinada moeda estrangeira. A redução da moeda estrangeira em moeda nacional faz-se de acôrdo com o
curso das divisas, isto é, segundo a cotação das letras de câmbio e ordens de pagamento a curto prazo, o rate oh
exchange. Não de acôrdo com o curso das valutas, salvo cláusula expressa.
A regra é que, não sendo possível realizar-se a prestação segundo o estipulado, a divida de moeda estrangeira se
transforma em divida de moeda nacional. Mas, para isso, é preciso que a estipulação valha. O problema da
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restituição do recebido (Código Civil, art. 158) é independente da validade da cláusula e supõe, exatamente, que
a cláusula não valha. Porém esse problema da restituição não é sem dificuldades, porque é de evitar-se a
conferência de efeitos a cláusula que a lei fulmi11011 com a nulidade. Tal restituição, às vêzes, favorece ao
devedor (e. g., se devia moeda estrangeira e o câmbio estrangeiro subiu), às vêzes ao credor (e. g., se subiu o
câmbio nacional). O pagamento à taxa do vencimento supõe a validade da cláusula. A restituição exige que se
reponham as coisas no estado em que, antes do pronunciamento da justiça, se achavam. Não há confundi-los.
Em relação ao curso forçado, nem sempre lhe causam danos as cláusulas-ouro ou valor-ouro, porém o
legislador pode ligá-las à boa execução do curso forçado e então lhe é dado proIbi-las no futuro e no passado.
As cláusulas de moeda-ouro atentam evidentemente contra o curso forçado, desde que obriga o devedor a
prover-se de moedas de ouro e é bem possível ocorrer impossibilidade da prestação se se proibe, por exemplo, a
aquisição de moedas ainda acima do valor nominal ou da taxa do câmbio. Tal invocação de impossibilidade só
tem importância se a cláusula vale, caso em que se responde pelo valor do ouro. A proibição da usura exerce,
aí, função importantíssima.
enunciado. de fato ou manifestação de vontade ou outra manifestação> cujo teor ou conteúdo se reproduz. Aos
certificados e às certidões as leis atribuem o fazerem fé, porém não a todos os certificados nem a todas as
certidões.
Certidões, certificados e atestados são declarações de conhecimento, e não de vontade. As certidões e os
certificados. podem ser de autoridades públicas ou não no ser. A certidão de batismo e a de casamento religioso
são certidões. O certificado de exame em escola particular, reconhecida pelo Estado,. ou não reconhecida, é
certificado. A autoridade pública poda ter de atestar, como se o médico da saúde pública atesta estar doente o
empregado público, ou outra pessoa. Os clínicos, nos seus gabinetes particulares, atestam.
A certidão transcreve todo o ato que foi lavrado, ou parte dêle. No fundo, certifica-se que o traslado é exato,
verdadeiro, no tocante ao ato preexistente, que se transcreve. A autenticidade consiste na reprodução integral ou
parcial. Se há emissão de enunciado de fato sobre o conteúdo, em vez de reprodução, há certificado, e não
certidão.
A eficácia da certidão e do certificado é a eficácia do ato a que a certidão ou o certificado se refere. De certo
modo, exterioriza-se a certeza que com a forma do ato se obteve.
O Código Civil, no art. 188, cogitou da prova plena que resulta das certidões e dos traslados, extraídos por
oficial público, de instrumento e documentos lançados em suas notas. Diz o art. 188: “Terão também a mesma
fôrça probante os traslados e as certidões, extraidas por oficial público, de instrumentos ou documentos
lançados em suas notas”.
Se o interessado acha que a certidão ou o traslado não é fiel, ou tem dúvida a respeito, o tabelião ou escrivão
tem o dever de exibir o original para que se verifique (SILVESTRE COMES DE MORAIS, Tractatus de
Executionibus instrumento-rum d sententiarum, IV, 60 s.).
A certidão não somente confere, contém declaração de conhecimento, que importa declaração reprodutiva de
conhecimento e afirmação de certeza. O certificado declara conhecimento, porém é reprodutivo. Nem no é o
atestado, que também declara conhecimento.
A autenticidade pode só ser formal, como se a escritura pública contém todos os pressupostos, exceto a
identidade de um dos figurantes, de alguns ou de todos. Pode só ser substancial (e. g., refere-se aos figurantes e
ao objeto que se aliena, e não foi apresentado o recibo do impôsto de transmissão).
O reconhecimento de firma, esse, declara conhecimento (o ato de assinatura é da pessoa que tem tal nome),
porém não é certidão: não há certidão, nem certificado no reconhecimento de firma; apenas afirma que há
conferência, que a firma confere com a que foi lançada no cartório.
O traslado de peças dos autos somente faz prova plena se foi extraído por ordem ou mandado do juiz, com
citação da outra parte, que é a interessada, ou se foi extraído pelo escrivão e concertado por outro oficial. Tem-
se chamado traslado a certidão que se tira após a lavratura do negócio jurídico, sem ser a primeira, ou o que se
faz de certidão, concertado por outro tabelião ou escrivão. Diz-se no Código Civil, art. 137: “Farão a mesma
prova que os originais as certidões textuais de qualquer peça judicial, do protocolo das audiências ou de outro
qualquer livro a cargo do escrivão, sendo extraídas por êle, ou sob a sua vigilância, e por êle subscritas, assim
como os traslados de autos, quando por outro escrivão concertados”. Não se aludiu à feitura de traslado, por
mandado do juiz e citação da outra parte. O principio foi revelado pelos juristas do século XVI (NIÇoL.
BOERIUS, Decisiones awrearum in sacro Rurdegalense Senatu, d. 28, n. 9; MÂSCAnnO, Tractabus de
Probationibus, c. 1894) e melhor explicitado por MANUEL MENDES DE CASTRO (Practica Lusitana, 1,
Livro 3, cap. 22, n. 4; Conimbricae, 1680, 1, 122: .1... cum iudicis auctoritate, et partis citatione, quod plenam
fidem facere obserunt ... Et ratio est, quia iudicis auctoritas suspitionem fraudis excludit...”). Está no Alvará de
27 de abril de 1647.
A distinção entre certidão e atestado não pode consistir em ter esse de se referir a ato ou fato, que ocorreu
perante o próprio atestante, e aquela, não, por ser quanto a ato que não se deu perante quem certifica. Estar-se-ia
a abstrair da ligação da certidão à atividade do oficio público, para se pôr em primeira plana a~ pessoa de quem
certifica. O tabelião dá certidão do que êle assinou com os figurantes e as testemunhas e de que o seu antecessor
ou substituto assinou com os figurantes e as testemunhas.
Declaração oral não poderia ser certidão, nem certificado, nem atestado. A forma não-escrita implica que o ato
mesmo se exprima na manifestação, o que de modo nenhum se dá com a certidão, que se reporta a outro ato.
Quem, com a voz, ou com gestos, dá ordem de prisão, não certifica. Nem certifica quem vê o bilhete de
ingresso do teatro ou do cinema, e diz que entre quem o mostra ou o entrega.
A instrumentação de atos jurídicos, que compete a tabelião, a escrivão e outras pessoas, é exercício de função
operacional, informadora, que publiciza, sem ainda se dar qualquer certidão. Há elemento certificativo, mas
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Somente pode reconhecer firmas quem recebe, em. virtude áe Lei, tal incumbência. Se A pergunta a B se a
firma que está na carta, que recebeu de O, é a firma de O, a resposta de 13 tem de ser “sim”, ou “não”, ou
“tenho dúvida”. Se diz “sim”, diz que a firma da carta confere com a das cartas que tem de C, ou com a
assinatura que O deixou no livro de visitas, ou no fichário, ou no registro da empresa.
Para que alguém possa dar certidão, certificado ou atestado, ou reconheça firma, com eficácia exterior, é preciso
que haja direito à atividade profissional de declaração de conhecimento. Quem dá noticia não tira certidão, ou
certificado, nem redige atestado, nem reconhece firma. A carta ou a declaração de quem assistiu, como
testemunha, à lavratura do instrumento público, e o assinou, não é certidão, nem certificado. Se a testemunha
diz que viu o figurante do negócio jurídico assinar e aquela é a firma dêle, não certifica, nem reconhece firma,
no sentido próprio.
Na Inglaterra, a Carta Real de 11 de maio de 1880 edictou regras jurídicas de deontologia profissional para os
auditors. membros do Instituto of Chartered Accountants, entre as quais estão a de ser profissional, publie
accountant, o membro do Instituto, e a de só poder exercer atividade compatível com & profissão. Tem de
abster-se de qualquer ato que possa pôr em descrédito a profissão.
O auditor é contratado, mas o juiz LINDLEY frisou que o~ auditor não é um segurador, não garante que os
Livros indiquem a posição real dos negócios da sociedade e não poderia ser responsabilizado se êle mesmo foi
enganado, e. g., por ter havido dissimulação fraudulenta de livros. Responde se nenhum cuidado teve em lançar
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afirmações. O que se lhe exige é diligência e habilidade normais, reasonable slcit and care. A decisão do
Príncipe, no caso Kingston Cotton Mili Co., em 1896, frisou que o auditor não é um detetive, é um cão de
guarda, não um cão policial (he is a watch dog, not a bloodhound).
Na Inglaterra, discutiu-se se o relatório do auditor tem eficácia certificativa, isto é, se, com êle, se garante a
autenticidade das peças contábeis, que se comunicam aos acionistas Dai haver os que reputam a missão de
auditor simplesmente controlativa (contrôle material da contabilidade), e. 0~> comendencia entre os pontos do
balanço e os documentos. Outros apontam no trabalho técnico dos auditors perícia, que afirma a
correspondência entre o balanço e a situação da sociedade. Finalmente, há quem sustente tratar-se de
certificado, no sentido etimológico do termo.
Na Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, o art. 50, § 29, referiu-se à auditoria e ao auditor independente,
registado no Banco Central, e a Resolução n. 7, de 13 de setembro de 1965, do Banco Central, com invocação
do art. 99 da Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, entrou em pormenores. As pessoas jurídicas de direito
privado, que tenham por objeto social a prestação de serviços de auditoria, podem requerer registro como
auditores independentes: se estão devidamente legalizadas para funcionar, e tenham sido cadastradas em
Conselho Regional de Contabilidade há mais de cinco anos, ou tenham realizado auditorias (exame, pareceres,
ou assessoramento técnico-contábil) em pelo menos dez sociedades por ações; se consta expressamente de seu
estatuto ou contrato social a exigência de, no mínimo, um diretor ou técnico responsável perante a própria
pessoa jurídica e terceiros, que seja bacharel em ciências contábeis ou contador, com diploma devidamente
legalizado, e comprove o efetivo exercício da profissão há mais de cinco anos; apresenta, em nome da pessoa
jurídica e dos diretores bem como do técnico responsável, certidões negativas dos distribuidores de registros
públicos, interdições e tutelas, protesto de títulos, execuções fiscais e civis, pedidos de dissolução, liquidação,
concordata ou falência, e varas criminais, abarcando os prazos de prescrição cabíveis em cada caso, do mínimo
de cinco anos ao máximo de vinte anos, e abrangendo o fôro em que a pessoa jurídica fôr ou tiver sido sediada,
além dos domicílios pessoais de diretores e técnico responsável, nos referidos prazos.
Podem ser ainda registadas, como auditores independentes, as pessoas jurídicas de direito privado, devidamente
legalizadas para funcionar mas que não preencham os demais requisitos que são exigidos, desde que
organizadas com a finalidade exclusiva de realizar trabalho de auditoria, sob a responsabilidade de bacharel em
ciências contábeis ou contador de notória competência profissional, que tenha exercido, por prazo não inferior a
três anos consecutivos ou cinco intermitentes, algumas das seguintes funções: a) cargo técnico de alto nível em
firma especializada em auditoria; b) responsável geral pela contabilidade, dirigente de auditoria interna,
controlador ou gerente financeiro em empresa pública ou privada de grande porte, inclusive em cargo de
direção; e e) cargo diretivo, de chefia ou de assessoria em serviço técnico em repartição fazendária da União,
Estados ou Municípios e suas autarquias econômicas. O exame do pedido de registro será feito no prazo de
sessenta dias a contar da data da sua entrega, subordinando-se a sua concessão, após o exame da documentação,
à verificação, a critério do Banco Central, de auditorias efetuadas pelo requerente nas quais não se note: a) a
omissão propositada de serviço prestado; b) a existência de circunstância ou fatos, direta ou indiretamente
relacionados àquela auditoria, que deponham contra o requerente, ou c) que o trabalho realizado tenha sido
inepto ou inidôneo. A expedição do certificado de registro será precedida do pagamento da taxa de cem mil
cruzeiros e da assinatura de declaração de aceitação, por adesão, das disposições baixadas pelo Conselho
Monetário Nacional para regular o funcionamento dos auditores independentes. Concedido o registro, estará o
auditor independente sujeito, desde logo e a qualquer tempo, à fiscalização do banco. O registro é cancelável a
qualquer tempo automàticamente, a pedido escrito do auditor independente registado, sem maiores
formalidades. O registro do auditor independente será renovável, de dois em dois anos, mediante requerimento
instruído com a atualização das certidões negativas relacionadas como exigíveis e o pagamento de taxa de
renovação a ser fixada periodicamente .
A posição dos bancos, através dos seus empregados, ou órgão , de modo nenhum é idêntica. O auditor, como o
perito contador de que fala o art. 127, parágrafo único, do Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940,
tem, inclusa nas suas funções técnicas, profissionais, a de proceder àqueles atos de exame e de verificação. Os
bancos, de modo nenhum. Qualquer informe sobre assinatura, solvibilidade e ficha comercial é amicitiae
gratia.
No caso dos bancos que, amistosamente, dizem que as firmas conferem com as que têm nos seus fichários, ou
registros, e banco não certifica, nem reconhece, apenas informa. Nem é cão de guarda, nem cão policial (he is
not a watch dog, nor a bloodhound).
Todos os atos de particulares que digam “a firma F. confere com a do nosso registro (ou do nosso fichário)” são
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atos cujos suportes fâcticos não entram no mundo jurídico como atos jurídicos stricto sensu. Podem entrar
como atos ilícitos absolutos, se fôr alegado e provado que houve dolo ou culpa, ou ser objeto de prestação
negocial, como se a empresa E prometeu, em contrato, ou em declaração unilateral de vontade, que examinaria
os documentos e as firmas que fôssem encontradas, responsabilizando-se pela veracidade. Aí, haveria o ato
ilícito relativo. £ o que acontece com as empresas individuais de perícia grafológica. E com os corretores de
fundos públicos e outros valores (Decreto n. 2.475, de 13 de março de 1897, art. 39: “Os corretores são
responsáveis pela autenticidade da assinatura do último signatário das letras e dos títulos endossáveis que
negociarem”).
Os bancos somente são responsáveis negocialmente em conseqúência de seus negócios jurídicos específicos, ou
se, negocialmente, em operação à parte, assumiram responsabilidade. Se o ato do banco não é da sua função,
nem entra no mundo jurídico como ato jurídico stricto sensu ou como negócio jurídico. não se pode pensar em
qualquer responsabilidade civil negocial. Foi ato amistoso, que não entrou no mundo jurídico. Se houve os
pressupostos para o ato ilícito, cometeu ato ilícito o banco. mas os princípios sobre indenização por atos ilícitos
é que podem reger a espécie.
Tratando-se de nota promissória, há de haver o nome do tomador, para que se endosse, ou desconte. O tomador
estêve em contacto com a empresa. Se a nota promissória foi em branco, tem de ser cheia no momento de
qualquer endosso ou desconto, e quem endossa é que assume a responsabilidade cambiária.
Qualquer desconto, que se faca, sem se encher a nota promissória, contém a vinculação de quem apresentou,
para a operação , a nota promissória, quanto a qualquer pressuposto formal ou material do título (veracidade da
firma, qualidade de quem assinadata). A fortiori, se enchida a nota promissória que era em branco.
4.ENTEADA NO MUNDO JURÍDICO. Quando algum banco apõe, em qualquer documento e. g., nota
promissória, letra úe câmbio, duplicata mercantil, cheque que a firma, que dêle consta, confere ou que as
firmas que dêle constam, conferem com o que há no fichário, ou registro de banco, de modo nenhum se trata de
ato jurídico, porque o uso, a respeito, é extrajuridico, com base em amizade ou colaboração amistosa. O sistema
jurídico brasileiro não tem o reconhecimento de firma por particulares. Só o tabelião ou quem se equipara ao
tabelião, como o cônsul brasileiro no estrangeiro, pode reconhecer firma.
Se alguém assina contrato de pericia, para exame de firmas, pode haver culpa contratual, se a afirmação é no
sentido de ser verdadeira a firma. Os bancos, esses, não fazem contrato de perícia.
Não há contrato de conferência de firmas, porque na prestação de conferência não se inclui a afirmação de ser a
mesma que está no fichário ou registro; portanto, não importa reconhecimento. Quem diz que confere não diz
que é a mesma.
O próprio tabelião, que reconheceu firma falsa, mas de perfeição extrema de falsidade (portanto, que só se
revelaria a profundos exames periciais), não teve culpa. Éle exerce função publicística, em virtude de lei,
dependente do pedido de reconhecimento de firma, que é oferta, e do seu lançamento de enunciado de fato, que
é em declaração (“reconheço a firma”) ; em conseqUência há aceitação com simultânea prestação de serviço
ao público.
Para que o ato amistoso, que não entrou no mundo jurídico. como ato jurídico, dê ensejo a responsabilidade
civil, é preciso que entre no mundo jurídico como ato ilícito absoluto, ou ato-fato ilícito ou fato stricto sensu
ilicito. Isso somente pode ocorrer se o ato amistoso foi o causador de ,flano e se houve culpa ou dolo.
Tratando-se de a posicão de “confere”, ou de opinião sobre ser bom o negócio, sobre que se consulta alguém,
fato ilícito só se compõe se há a relação de causalidade entre tal aposicão, ou opinião, e a manifestação de
vontade do consulente. Portanto, se fica alegado e provado que esse não concluiria o negócio jurídico se não
tivesse havido a aposição ou o conselho.
A ação teria de ser ação condenatória, para se alegarem a causação e o dolo ou a culpa, sem que se possa pensar
em fato ilícito do aponente ou do opinante se a operação razoavelmente teria sido feita se não tivesse havido a
aposição ou a opinião.
O“confere” que os bancos costumam apor em documentos e, às vêzes, o dizem por telefone ou telégrafo,
porque o documento está no banco e o cliente em outra cidade, ou país, apenas contém informação, sem
qualquer certificação, nem reconhecimento. O valor do dado informativo depende dos serviços do banco;
portanto, da confiança inspirada ao cliente, porém não necessâriamente aos clientes.
A responsabilidade criminal supõe o dolo, isto é, pleno conhecimento da falsidade. Os próprios tabeliáes
somente respondem criminalmente, conforme o art. 300 do Código Penal, se, ao reconhecerem firmas, como
ato oficial (de tabelião ; portanto, no exercício da função pública), o fizeram com dolo. Lê-se no art. 300 do
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Código Penal que é crime de falsidade documental: “Reconhecer, como verdadeira, no exercício de função
pública, firma ou letra que o não seja”.
Quem não tem função pública de reconhecimento somente responde criminalmente, por ato de conferimento de
firma, se comete crime contra a fé pública, o que somente pode ocorrer se a pessoa que após o “confere” sabia
que era falsa a firma.
Quanto à responsabilidade civil, por ato ilícito absoluto (delito), para que haja, é preciso que a aposição do
“confere” tenha sido causadora da vontade de quem ia fazer o negócio (o que é raro acontecer) e o conferente
haja conhecido a falsidade, ou que tenha procedido com tal irregularidade de cuidado que se tenha de
considerar culpado.
Sempre que alguém por lei tem de reconhecer a firma, ou identificá-la, como é o caso de corretor oficial de
valores, não pode haver ato ilícito do banco.
Se a firma, que o banco conferiu, “confere” com a que está no registro, por ser falsidade de difícil verificação,
nenhuma responsabilidade tem o banco, porque o ato de confiança se baseou no que o cliente sabe quanto ao
que se passa nos serviços de conferimento. Se o banco, que conferiu a firma do cheque, pôs o visto, fêz visado o
cheque e assumiu responsabilidade, que é muito além da que poderia resultar da simples aposição do “confere”.
Se o banco conferiu sem pôr o confere e paga, ou se pagou sem conferir, apenas lhe fica a ação contra a pessoa
que falsificou a assinatura do cheque, ou contra ela e quem sabia que era falsa a assinatura e o apresentou. O
avalista e o endossante, esses, respondem pelo aval e pelo endosso, mesmo se falsa a assinatura de quem seria
emitente.
A “devida atenção” somente pode ser a atenção que usualmente se tem na conferência das assinaturas. Se não
houve, a única pretensão do cliente, ou de quem concluiu negócio jurídico após o “confere”, é a de indenização
por ato ilícito absoluto, se prova que somente concluiu o negócio jurídico por ter o banco afirmado a veracidade
da firma. Tal prova é difícil, porque o banco não “reconheceu”, nem disse que era verdadeira a assinatura:
apenas disse que “conferia” com a do seu registro ou fichário, e pode dar-se que também a firma que consta do
registro ou fichário seja falsa (por exemplo, a sucursal remeteu a ficha e foi falsificada ou substituida no
Correio ou ao ser entregue).
A conferência de modo nenhum contém outros enunciados de fato. Se do documento consta que a assinatura é
de diretor de empresa, o “confere” não afirmou que a pessoa, de cuja firma se trata, é, no momento, ou era, à
data do documento, diretor da empresa, porque isso é assunto estranho ao fichário ou registro de firmas. Se há
registro ou fichário sobre as empresas, a. conferência das firmas não contém enunciado sêbre diretoria ou datas.
Tudo isso é assunto para quem desconta ou endossa títulos. Ou para quem avaliza.
Se algum banco, em vez de conferir firmas, em função amistosa, ou de colaboração acidental, entendesse
“reconhecer” firmas, estaria a usurpar função publicística de tabeliáes, ou de outros servidores públicos, ou se
vincularia a operações de perícia, em contratos de serviços. Não é o que está nos usos, extrajurídicos, de
conferência, nem se justificaria sem negócio jurídico explícito, pelo qual o banco se vinculasse a exame técnico
de grafologia.
§ 5.416. Operações bancárias de cobrança e de pagamento
1.COBRANÇA E PAGAMENTO. Uma das atividades mais freqUentes e mais simples dos bancos é a de
cobrança, pela. qual o banco recebe de terceiro o que esse deve (ou quer prestar) a alguém, cliente do banco. O
banco fica investido do poder de receber. O negócio jurídico de que resulta o crédito do cliente pode ser
cambiário (o cliente é sacador, tomador, endossatário ou portador de letra de câmbio, ou tomador ou
endossatário de nota promissória), ou cambiariforme (e. g., tomador, ou endossatário, ou portador de cheque, ou
duplicata mercantil), ou não-cambiário (fatura comercial, fatura acompanhada de título representativo ou de
títulos representativos, recibos ou contas que possam ter recibo lançado pelo banco).
Outra atividade freqUente e simples dos bancos é a de pagamento de dívida do cliente. Aqui, o banco pratica
ato-fato juridico paga e recebe o título da dívida ou o recibo, ou exige a quitação se até ai vai a incumbência.
2. COBRANÇA PELO BANCO. A operação de cobrança supõe outorga de poder por parte do credor. Tal
outorga pode ser por endosso-procuração, ou por endosso que tenha restrição de conteúdo só existente entre o
cliente e o banco, ou pela entrega de títulos ou documentos que bastem para a legitimação do banco a receber.
O endosso supõe poder e dever do banco a levar a protesto se, sem esse, se cortada eficácia do título cambiário
ou cambiariforme. Para afastar a inclusão do poder e dever de protesto, tem de haver a cláusula “sem protesto”
ou “sem qualquer despesa”.
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Se o endosso é o ordinário, e não o de restrição contenutística, há, entre o banco e o cliente, o negócio jurídico
subjacente, justajacente, ou (dificilmente) sobrejacente da outorga de poder, de modo que o endosso é
fiduciário, sem que a fidúcia o altere em sua aparência e em sua eficácia, salvo nas relações jurídicas entre o
banco e o cliente (isto é, ficam ao cliente as exceções oponíveis ao banco, mesmo se esse reendossa). O endosso
não se tornou fiduciário; fiduciário fêz-se o negócio jurídico, entre o cliente e o banco, para cobrança. Sobre o
endOsso-procura ou o endOsso-procuração, vejam--se Tomos XXXIII, § 8.798; XXXIV, § 3.800, 2, 8; XXXV,
§ 3.979, 1, 7; XXXVI, § 4.058, 9, e 4.061, 4. Sobre endOsso--mandato e endosso comisso, Tomos X, § 1.090;
XX, § 2.595; XXXIV, § 3.890, 5; XXXVI, §§ 4.041, 1, 4.053, 9, e 4.061, 4. Sobre o endOsso-fidúcia, Tomos
XXXIV, § 3.890, 5; e XXXVI, § 4.039, 2.
Seja qual fôr o endosso, o banco está exposto às exceções ex cash indossantis. O papel do banco é de quem
exerce poder outorgado, dito procura exigendi, uma vez que não adquiriu, perante o cliente, o direito cambiário
(ou cambiariforme).
3.PAGAMENTO PELO BANCO. Os bancos prestam serviços aos clientes no tocante ao adimplemento por
terceiro. Aí, em vez da função ativa, é passiva a função do banco. Há outorga de poderes, que pode resultar,
porém não necessAriamente, de depósito, de abertura de crédito ou de adiantamento bancário. O depósito
bancário pode ser sem tal outorga; a abertura de crédito pode ser com os simples levantamentos pelo cliente. Ao
adiantamento bancário não é necessário que haja creditamentos, inclusive ao próprio cliente. Por onde se vê que
perturba a compreensão da figura jurídica do pagamento pelo banco, como a da cobrança pelo banco, não se
abstrair de qualquer negócio jurídico subjacente, justajacente ou sobrejacente.
Em princípio, o banco é estranho e permanece estranho à relação jurídica entre cliente, devedor, ou cliente, que
tem outorga de poderes do devedor, e o credor, a quem o banco vai pagar. O pagamento é ato-fato jurídico, e
mais uma vez havemos de frisá-lo.
O banco paga em nome próprio e por conta do cliente. A respeito, falou-se de ato abstrato, mas o pagamento é
ato-fato jurídico, e não ato jurídico stricto seneu, nem, a fortiori, negócio jurídico, que pudesse ter ou não ter
causa. fl absurdo aludir-se a abstração.
Entre o cliente e o banco, o pagamento foi execução do dever do banco, que se vinculara a isso. O banco
prometeu o ato-fato jurídico, que para a eficácia solutória pode ir até o depósito em consignação para o
pagamento. Temos de fazer algumas precisões.
Quando o banco acorda em que o cliente subscreva e emita cheques, a apresentação do cheque pelo tomador ou
portador leva ao pagamento pelo banco, ou, melhor, à prestação chéquica, à entrega da quantia sacada. Mas tal
operação não é a de outorga de poder para alguém pagar dívida, porque pode não existir dívida e o tomador ou
portador do cheque ser o próprio passador (subscritor). Por onde se vê que há tipicidade na outorga de poder
para pagar (dita ordem de pagamento), que falta à apresentação do cheque. As operações de cheque supõem a
provisão, que pode não existir na outorga de poderes para pagar determinada conta ou determinadas contas ou
títulos de crédito.
Para a subscrição e emissão de cheque há de haver acôrdo, que pré-exista àqueles atos, trate-se de depósito em
conta corrente, ou de conta corrente bancária, ou de abertura de crédito em conta-corrente. O cliente solve a
dívida, se o caso éde solução de dívida (e não de dádiva, ou de levantamento para e próprio cliente), e o ato do
banco é posterior, porque concerne ao cheque, e não à dívida. Quando o banco “paga” o cheque, quem pagou a
divida foi o próprio devedor, que pode ser o subscritor, ou o endossante. A dívida, de qualquer modo, é solvida
pelo devedor, e não pelo banco. O devedor pagou com cheque, como pagamento próprio. Por aí fàcilmente se
vê a diferença entre as operações de cheque e as operações de pagamento pelo banco, ditas ordens de
pagamento. Os juristas que misturam as duas matérias concorrem para graves confusões conceptuais e de
prática bancária.
O pagamento do cheque pelo banco pode ser por lançamento de crédito na conta do apontante, qualquer que
seja; mas isso já depende de manifestação de vontade de quem o apresenta e pode receber. Trata-se de negócio
jurídico entre o cliente recebedor e o banco. O passador do cheque também pode pagar a divida com terceiro
com o pedido de lançamento do cheque na conta do credor: o banco nada tem com o pagamento da divida.
Há o pagamento bancário por giro em conta (clearance, eompte de virement), mas, aí, já há outra operação.
1. ATOS DO BANCO. O banco tem de comunicar ao terceiro, que há de pagar, estar com outorga de poder
para receber, salvo se foi explicitado que a cobrança seria feita. por parte do banco. As consequências de
qualquer falta, por parte do banco, são as mesmas que teria a falta por parte do credor. Qualquer ato do banco,
perante o devedor, tem os efeitos que teria o ato, se praticado pelo credor. Idem, quanto às omissões.
Se há alguma formalidade, como o protesto, que é necessária à eficácia da dívida, entende-se que o banco pode
e deve providenciar para que se observe.
2. ATos DO CLIENTE. O cliente tem de entregar ao banco todos os títulos e documentos necessários à
cobrança. Se algum falta, porém não era exigível no momento da inclusão do negócio jurídico para a cobrança,
cabe ao banco exigi-lo do cliente.
Exeqúido o que o banco explícita ou implicitamente prometera, e. g., recebido o quanto, ou feito o protesto pelo
não-pagamento, tem o banco de guardar a quantia, ou de entregar ao cliente os documentos, se aí havia de parar
a função do banco, ou de propor, se há cláusula a respeito, as ações contra os obrigados principais e de regresso.
O banco incorre em responsabilidade pelos danos se não cumprir o que lhe incumbia (e. g., levar a protesto o
título cambiário ou cambiariforine). Nenhuma cláusula pode excluir a responsabilidade do banco pelos erros
inescansáveis, mesmo quando praticados pelos empregados, ou por alguma agência, ou empresa, bancária ou
não, a que atribuira algum ato, ou o recebimento.
Às vêzes, os bancos adiantam ao cliente tôda ou parte da soma que tem de receber, deduzida a comissão e
deduzidos ou ainda a serem deduzidos os interesses da operação. Aí, há outorga e pré-creditamento, sem que se
possa confundir tal figura com a do adiantamento bancário. Trata-se de operação de cobrança com antecipação
do creditamento <cobrança com adiantamento), e não do típico adiantamento bancário.
1. ATOS DO BANCO. O banco tem de pagar, de conformidade com as instruções e os documentos. Cabe-lhe
verificar os títulos ou documentos que lhe são apresentados. Além do recibo, pode exigir a quitação, se é o caso.
As faltas por parte do banco tem as conseqUências que teria a falta por parte do cliente.
2. ATOS DO CLIENTE. O cliente tem de dar ao banco todos os informes de individuação, de enderêço e de
tempo para que o banco pague no lugar próprio, no tempo devido e à pessoa que tem legitimação para receber.
As faltas do banco têm, perante o credor, as conseqUências que teriam as faltas do cliente devedor.
1.CAUSAS DE EXTINÇÃO. O estar em liquidação o banco de modo nenhum é causa de extinção da outorga
de poderes, pôsto que a respeito da soma recebida se tenha de atender aos princípios do direito falencial e das
liquidações coativas. Salvo cláusula negocial, o cliente pode revogar a outorga de poderes, conforme as regras
jurídicas sobre a procura. Recebido o pagamento ou feito o pagamento, restam entre cliente e banco relações
jurídicas concernentes a adimplemento de deveres e a despesas. Tem-se de atender a que contra o banco e o
cliente pode haver negócio jurídico subjacente, justajacente ou, até mesmo, sobrej acente.
O pagamento, ato-fato jurídico, pode ter de ser elemento de algum ato, mesmo negocial, o que altera a figura
jurídica, em sua complexidade, sem que se haja de tornar diferente o ato-fato jurídico, em si.
CAPITULO II
Em sentido largo, conta corrente é sistema de contabilidade, com que se simplifica a escrituração das entradas e
das saídas. Contrato de conta corrente é negócio jurídico e dele já cogitamos no Tomo XLII, §§ 4.615-4.622.
Aqui, só nos incumbe tratar da conta corrente bancária, que é espécie de conta corrente.
Se apenas se convencionou pôr em confronto contábil as relações de deve e haver, para que, a determinado dia,
se colha o saldo, tendo-se automAticamente compensado as somas, a cada entrada, ou periodicamente , não há
próprimente conta corrente, mas conta de gestão (cf. GIACOMO MOLLE, “Conto di gestione” e contratto di
conto corrente, Banca, Bona e TitoU di credito, 21, li, 569 s.).
A conta corrente enraizou-se nos usos comerciais, sem lei. À jurisprudência e à ciência é que se devem os
enunciados sobre a sua composição e os seus efeitos. Supõe que haja negócios jurídicos entre as pessoas. As
dificuldades de conceituação provieram das espécies, tais como a conta viva, que se reduz a fôlha de
escrituração (II. GÕPPERT, Zur Vereinfachung der Lehre vom Kontokorrent, Zeitschrift fiir das gesamte
Handelsrecht, 102, 163), o acórdo (cláusula ou pacto) de conta corrente, que se insinua em contratos entre
pessoas que têm negócios, e o contrato de conta corrente. O acôrdo de conta corrente funciona como contrato-
caixilho (Rahinenvertrag, cf. WOLFGANG HEFERMEHL, Schlegelberger Handelsgesetzbuch, III, 33 ed.,
1395), ou, o que escapou a WOLFGANG HEFERMEEL, como cláusula-caixilho. Estranhável é que
REINHARD FREIRERE VON GODIN (Kommenta~r zum Handelsgesetzbuch, ~fl, 2a ed., 257 s.) não haja
distinguido o acOrdo de conta corrente (Kontokorrentabrede) e o contrato de conta corrente
(Kontokorrentvertrag). O acôrdo de conta corrente supõe a existência de contrato, de que êle é cláusula, ou de
que é pacto adjecto. Sem o contrato, o acôrdo de conta corrente seria sem objeto.
A opinião de VrrrORIO SALANDRA (Conti correnti bancari e Contratto di conto corrente, Rivista dei Di’ritto
Commerciale, 1933, 1, 22 s.), sobre haver elemento homogêneo no contrato de conta corrente e na conta
corrente bancária, que é o pacto de conta corrente, tem sido zurzida por juristas italianos; mas sem razão. O
mesmo elemento existe; apenas, no contrato de conta corrente, êle enche o próprio contrato, com elementos
diferenciais inconfundíveis, ao passo que, na conta corrente bancária, ou há a cláusula ou o pacto adjecto. De
qualquer modo, a normatividade é comum e comum a técnica contabilística. Não há identificação possível,
conforme mostramos no Tomo XLII.
O contrato de conta corrente preestabelece o trato jurídico que se há de dar aos créditos. Os figurantes
vinculam-se, com a particularidade de inezigibilidade e indisponibilidade, até que § 6.420. CONTA
CORRENTE BANCARIA se feche a conta. Há as remessas (ou entradas), as duas filas de lances, até que elas
se encontrem e se tire o saldo. No fundo, o que se quer é a indisponibilidade a par da inexigibilidade. Só o saldo
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é exigível e disponível. Contrato consensual, bilateral. Caracteristicamente, contrato normativo, além de ser
dura,douro e continuativo.
A conta corrente bancária é oriunda de cláusula ou pacto, que às vêzes apenas resulta de uso, que regula
determinadas operações, como o depósito (em conta corrente), a abertura de crédito (em conta corrente), ou a
antecipação (em conta corrente). A indisponibilidade é afastada, admitindo-se as retiradas contra cheques,
recibos, aceite de letras de câmbio, subscrição de titulo cambiário ou promessas de prestação a terceiro.
Discute-se se o contrato de conta corrente bancária é contrato único, ou se há, nêle, ligados, dois ou mais
contratos. Não importa havei pluralidade de documentos, ou de prestações distintas, ou pluralidade de motivos.
A causa. é única. O cliente pode ter tido a intenção de ser o contrato de conta corrente bancária para facilitar
pagamentos na cidade em que se concluiu o contrato, como pode ter tido a de não retirar nada, até que se eleve
o seu crédito e dê para pagamento do edifício que vai comprar ou já comprou. O que incumbe ao banco é
elemento variável, porque depende do contrato. Porque êle existe, não se confunde com o depósito bancário de
dinheiro o contrato de conta corrente bancária.
2.ESPÉCIES DE CONTA CORRENTE BANCÁRIA. A conta corrente bancária pode ser conta corrente
disponivel, ou de disponibilidade periodica, ou a partir de determinadas datas, ou de determinados
acontecimentos. Em qualquer caso, o cliente pode remeter (dar entrada) o que retirou. Se a disponibilidade é só
ao terminar a relação jurídica, há contrato de conta corrente, e não apenas o acôrdo de conta corrente (conta
corrente bancária).
A conta corrente dc correspondência ou conta corrente liassiva é aquela que vincula a creditamentos e a
debitamentos concernentes a operações da empresa-cliente, como as vendas de produtos e as compras de
matérias-primas, a compra de divisas e os pagamentos a terceiros.
Na conta corrente de correspondência, assim chamada porque, outrora, se operava através de cartas (troca de
correspondência), há atividades do banco a favor do cliente. Se há saldo credor, esse vence juros, como
acontece com o saldo devedor. A compensação é conseqúência de haver os pressupostos da compensação, a par
da disponibilidade (e não da indisponibilidade), pois sómente cessa com a saldação ao fechar-se a conta. O
banco, além da atividade contabilística, tem a de praticar os atos que sejam necessários à eficiência das
remessas e das retiradas.
Conta corrente de correspondência é o contrato pelo qual o banco se vincula a todos os encargos e operações
que se prevêem no contrato ou resultam dos usos bancários, se os requisita o cliente (e. g. pagamentos a
terceiros traspassos bancários, recebimentos de créditos).
As quantias recebidas ou pagas pelo banco são creditadas ou debitadas na conta do cliente, remetendo-se-lhe a
papeleta ou aviso, que é o elemento de correspondência (carta missiva). A liquidação dos interesses é periódica,
devendo o banco remeter ao cliente o extrato de conta, para que êle reconheça. Ésse reconhecimento é ato
jurídico stricto sensu, em vez de negócio jurídico, como seria o reconhecimento do saldo, em caso de contrato
de conta corrente.
O banco credita-se os direitos de comissão, se os há por cláusula contratual ou pelos usos, e as despesas que
teve de fazer para boa execução dos encargos.
Os fundos necessários provêm de inversões feitas pelo cliente, porém pode dar-se que o contrato preveja algum
ou alguns pagamentos a descoberto.
3. NATUREZA. Está assente, hoje, que, para haver conta corrente, não é preciso que haja outorga bilateral de
crédito, nem que seja vinculativa a colocação do crédito a favor de um dos figurantes (JULIUS vON GIERKE,
Jnlandelsrecht und Schiffahrtsrecht, q,a ed., 494). O que importa não é existir a dação de crédito, mas a
facilitação do tráfico negocial. O acôrdo de conta corrente pode cobrir mútuo, porém isso não é essencial. O
que se há de ter como pressuposto necessário é a existência de vinculações negociais entre os figurantes,
de jeito que cada um contra o outro tenham pretensões; portanto, a existência de direitos e dívidas de cada lado.
4.CONTA CORRENTE BANCÁRIA E OUTROS NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. A conta corrente
bancária de modo nenhum se confunde com o contrato de conta corrente, de que é pressuposto essencial a
reciprocidade. Na conta corrente bancária, só o cliente tem função ativa: o banco apenas regista, isto é, credita e
debita, sem poder fazer remessas ao outro figurante. Salvo cláusula de possível operação a descoberto, só o
cliente é credor, pois os débitos têm de ser dentro do seu crédito. Por outro lado, no contrato de conta corrente,
os créditos são inexigíveis e indisponíveis, até que se feche a conta corrente, ao passo que, na conta corrente
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1.ENCARGOS DO BANCO. O objeto da conta corrente bancária são os atos que o banco tem de praticar,
conforme a cláusula contratual, ou os usos bancários. As regras jurídicas a que há de obedecer cada ato nada
têm com a conta corrente bancária: o giro é que é o objeto; como se há de operar depende da regulação de cada
encargo. O cliente pode dispor do crédito e, dentro dêle, pode exigir que o banco cumpra os encargos que lhe
ficaram.
Os acreditamentos feitos pelos bancos e pelas empresas, por transferência de formas de uma conta corrente para
outra, não são promessas unilaterais. Foi isso o que se estabeleceu com o negócio jurídico entre o banco ou a
empresa e o cliente, de modo que os acreditamentos são atos devidos.
2. DUPLO OBJETO. Os objetos são o versamento e os encargos. Não se desce ao interior dos atos de solução,
razão por que, a despeito da multiplicidade dos encargos, o contrato é um só. Às vêzes um só documento
contém dois ou mais contratos e se tem de verificar o que é que há de incumbir ao banco e o que escapa à conta
corrente bancária. Nenhum dos encargos do banco permite que se considere principal, porque aquêle que o
parece ser pode não ter sido nunca requisitado pelo correntista. A diversidade interna não tira a unicidade do
contrato.
Lê-se no art. 254 do Código Comercial: “Não serão admissíveis em juízo contas de capital com juros, em que
êstes se não acharem reciprocamente lançados sobre as parcelas do débito e crédito das mesmas contas”. Cf.
Tomos XXIV, § 2.897, 3 e XLII, §§ 4.611, 2 e 4.619, 3.
É conseqúência da disponibilidade dos saldos (Tribunal de Justiça de Minas Gerais, 24 de novembro de 1920,
1?. de D., 61, 161). Computados os juros, integram-se no haver, o que importa abstrair-se do passado, da
origem da quantia. Na ausência de convenção expressa, o uso firmou a taxa de doze por cento ao ano (6.a
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 15 de agôsto de 1947, R. dos T., 169, 707). Não há pensar-se
em prescrição da pretensão aos juros das contas correntes.
O saldo ou conta de liquidação é, de regra, negócio jurídico de reconhecimento, a que se exige forma escrita,
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2.RETIRADAS E SALDOS. A conta corrente em banco, que permite ao cliente retirar ou dar a outrem poder
de retirar o que nela se acha, não é contrato de conta corrente, mas pode ser acôrdo de conta corrente.
O acôrdo de conta corrente apenas vincula ao lançamento, de jeito que qualquer dos figurantes possa exigir que
se tire o saldo. Qualquer outro efeito é estranho ao acôrdo. Há de provir do negócio jurídico existente entre os
figurantes da conta corrente. Sem essas precisões, a confusão entre os conceitos de conta corrente, acôrdo de
conta corrente, contrato de conta corrente e, até, o de negócio jurídico encaixilhado pode ser de graves
conseqúências. Não há acôrdo de conta corrente sem contrato que ela regule, que ela encaixilhe (cf. EUGEN
ULMER, Kontokorrent, Rechtsvergleichendes Ilandwõrterbuch flir Zivil- und Handelsrecht, V, 198). É efeito
necessário do acôrdo de conta corrente a compensação. Não há conta corrente, oriunda de acôrdo, sem. haver a
saida, formação de saldo (Saldierung) : seria sem utilidade que justificasse o acôrdo. Qualquer dos figurantes
poderia lançar em conta corrente, só contabilisticamente, os créditos e os débitos.
A compertsaçõ..o periádica não precisa ter sido preestabelecida em cláusula expressa. Basta que túcitamente se
haja feito.
Mesmo se cláusula contratual atribui ao banco dever de exeqilir alguma incumbência, tem êle, salvo cláusula
expressa em contrário, direito a cobrar o reembOlso das despesas e comissão. De ordinário portanto, se o
contrário não se estabeleceu a comissão e as despesas são lançadas no débito do cliente, e não pagas
imediatamente.
3.CONTA BLOQUEADA. Reter é retenere, ter para trás, contra. Quem retém a prestação não a faz, não a
entrega, seja prestação que tenha de ser no momento da conclusão do negócio jurídico, ou depois, seja
contraprestação, inclusive como pagamento. Quem retém pode praticar, com isso, ato-fato jurídico, ou ato
ilícito absoluto (e. g., se alguém, que se apossara de bem alheio, se recusa a restituir a posse), ou relativo (e. g.,
se alguém, que tinha de pagar, diz que somente pagará após algum fato). Se a pessoa tem ius retentionis, retém
licitamente e por direito.
Se A leva ao banco, ou ao armazém, ou a outro estabelecimento, a nota promissória, ou a letra de câmbio, em
que é subscritor ou sacador, ou endossante, para que o banco, ou o armazém, ou outro estabelecimento, somente
lhe credite, ou a outrem, o que receber, exigiu-se do tomador ou do endossatário que retenha o quanto que teria
de creditar pelo desconto até que haja a liquidação.
Muito diferente é o que ocorre quando se acorda em que o banco, o armazém, ou outro estabelecimento, credite,
desde logo, a quota prometida, e se bloqueia a conta. Conta bloqueada é conta de fundos total ou parcialmente
não sacáveis. A expressão lembra o bloqueio, militar ou civil, de cidade, de praça, ou de pôrto, bélico ou
pacifico. O bloqueio de contas pode ser por vontade unilateral do creditante (lícita ou ilicitamente) ou por
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acôrdo. Para que haja o acôrdo, é preciso que o credor e o devedor manifestem a mesma vontade.
Se o cliente quer o creditamento e o bloqueio, tem a empresa creditante de creditar e bloquear, o que, quase
sempre, se faz por anotações no livro de créditos, ou nas fichas. Se o cliente quer que a empresa creditante
apenas tenha a guarda dos títulos e retenha qualquer prestação até que algum fato se dê, como, por exemplo, até
que o subscritor da nota promissória, ou o aceitante da letra de câmbio, ou qualquer outro coobrigado cambiário
ou cambiariforme pague, o creditamento imediato da quantia prometida, ainda não paga, é ato da empresa em
cuja escrita há conta, ou em que se havia de abrir. Ato contrário às instruções; portanto contra a vontade de
quem entregou os títulos.
4.EXTRATO DA CONTA CORRENTE. O extrato da conta, remetido ao cliente, tem-se por aprovado se não é
contestado no prazo dos usos locais, ou, se não houve convenção, nem há. uso, no prazo que se há de ter como
razoável. A chamada remessa é comunicação de conhecimento, enunciado receptício de fato. O reconhecimento
contém afirmação de certeza e de liquidez. Não constitui (portanto, não cria direito, nem nova o negócio
jurídico). Tem eficácia declarativa, de modo que não-se há de pensar em revogação ou em revisão da conta
(Rationes~ semel redditae non sunt iterandae). Isso de jeito nenhum pré-exclui o ataque dos lançamentos com
fundamento, por exempío, em falsidade, dolo, êrro (inclusive de cálculo), omissão ou repetição, ou troca de
nomes. Tais princípios regem, mesmo se houve cláusula ou pacto adjecto para o reconhecimento pelo silêncio
após determinado prazo, ou se houve reconhecimento escrito.
5. “SALVO ENCAIXE”. A inclusão em conta corrente de crédito contra terceiro presume-se se não há
manifestação contrária de vontade dos figurantes do acôrdo de conta corrente sob condição resolutiva, isto é,
com a cláusula. (tácita) “salvo encaixe”, “salvo pagamento”. Se o terceiro não paga, ou o banco retifica a
anotação feita, mediante o estórno , ou contra-anotação, ou contralançamento, ou exerce contra o devedor a
pretensão ao adimplemento. No segundo caso, retarda-se a atitude corretiva do banco, porque pode ser que o
terceiro pague. Tal regra jurídica apanha os próprios cheques. Se o banco apresentou o titulo para aceite, ou
endossou, somente pode estornar depois de ter exercido a pretensão contra o aceitante, ou o subscritor, ficando-
lhe o ônus (não o dever) de tomar todas as medidas necessárias, inclusive o protesto. Só após pode estornar.
Afasta-se, assim, o principio LXccta una via, non datur recursus ad alteram.
Diz-se que, mesmo a respeito de títulos cambiários e cambiariformes, o endosso transmite a titularidade sob
condição. Mas não é bem isso o que se passa. Há a relação jurídica subjacente, ou justajacente, raramente
sobrejacente, que resulta do contrato com a cláusula ou o pacto adjecto de conta corrente, e a relação jurídica
oriunda do endosso. Naquela, há a condicionalidade ao creditamento; nessa, de modo nenhum. Naquela, mesmo
em caso de concurso de credores do remetente do crédito. pode o banco apresentar o título à falência, ou outro
concurso de credores, ou estornar o que lançara como creditamento, ou, depois da apresentação à falência, ou
outro concurso de credores (o que se há de entender, então, por conta do creditado) estornar.
Tudo isso não tem invocabilidade se foi afastada a regra jurídica dispositiva (não escrita) da condição
resolutiva.
cheque, que é negócio jurídico unilateral. O portador somente conta com a provisão. O subscritor e emissor
dispõe do crédito que tem,do dinheiro depositado. O banco não tem de aceitar o saque,ou recusar aceite, como
se passa com a letra de câmbio. Daí o que dissemos sobre o cheque visado (Tomo XXXVII, §§ 4.148 e 4.149).
A lei estabelece prazo para a apresentação do cheque, que assim se caracteriza como titulo de certa duração. O
ratio legis está em que se há de afastar a função crediticia. Não a tem e não a deve ter. Quando leis proibem a
pós-data, têm a mesma inspiração. Idem, quanto à data falsa.
A circulabilidade não faz o cheque independente da relação jurídica de provisão, que é entre o subscritor e o
banco, nem a relação jurídica de valuta, que é entre o subscritor e o portador.
O portador do cheque é titular de direito à valuta, direito cartular, e há de haver, provavelmente, negócio
jurídico subjacente ou sobrejacente, entre figurantes, ou outra relação jurídica (e. g., o portador achou o cheque,
ou o furtou). Perante o banco, êle é o titular do direito.
O banco permitiu a subscrição e emissão de cheques em virtude de acôrdo, quase sempre cláusula inserta no
contrato de conta corrente, ou de depósito bancário.
O portador não pode exigir do banco o pagamento: o banco não se vinculou perante êle. Daí não poder existir
vinculação sem que o banco, por exemplo, vise o cheque. Se o banco deu informação falsa ou inexata sobre a
provisão, pode ser responsabilizado por ato ilícito. Também é ato ilícito do banco pagar o cheque a favor de E
apresentado depois da apresentação do cheque a favor de O, pois que aí há culpa. Não há dolo nem culpa se a
demora somente resultou de haver dúvida sobre a legitimação do portador a receber, ou se a assinatura do
sacador teve de ser examinada.
O cheque pós-datado não é nulo; apenas é irregular. Qualquer medida penal não pode atingir o portador,
tomador ou endossatário, que ignorava a pós-data.
No direito brasileiro, o cheque pode ser em branco, como pode ser em branco o endosso. Lê-se na Lei n. 2.591,
de 7 de agôsto de 1912, art. 8.0, 2~a alínea: “Se o cheque não indicar o nome da pessoa a quem deve ser pago,
considerar-se-á ao portador”.
Diz a Lei n. 4.728, art. 52: “O endosso no cheque nominativo, pago pelo banco contra o qual foi sacado, prova
o recebimento da respectiva importância pela pessoa a favor da qual foi emitido, e pelos endossantes
subseqUentes”. E o parágrafo único: “Se o cheque indica a nota, fatura, conta, cambial, impôsto lançado ou
declarado a cujo pagamento se destina, ou outra causa da sua emissão, o endosso do cheque pela pessoa a favor
da qual foi emitido e a sua liquidação pelo banco sacado provam o pagamento da obrigação indicada no
cheque.”
O art. 52 da Lei n. 4.728, diante da Lei n. 2.591, de 7 de agôsto de 1912, alude a negócio jurídico subjacente,
justajacente ou sobrejacente, a propósito do qual se subscreve e emite o cheque. Quanto aos endossantes, a cada
endosso corresponde outro negócio jurídico subjacente, justajacente ou sobrejacente. Pode dar-se que sómente
haja um negócio jurídico subjacente, justajacente ou sobrejacente, como se A subscreveu o cheque a favor de B
e, antes da emissão, E o apanha e paga, com êle, o que comprou a O. Ali, há ato ilícito; aqui, contraprestação de
negócio jurídico de compra-e-venda. Se E o retirasse da mesa de A e fôsse ao banco recebê-lo, haveria apenas
ato ilícito (furto ou roubo, ou ato de confiança, por E saber que A não lho negaria) e ato-fato jurídico
(pagamento relo banco).
Sempre que o banco paga ao tomador, cujo nome figura no cheque ou no endosso, a devolução do cheque, pelo
banco, ao subscritor, dá ao subscritor a prova de que o tomador ou o endossatário recebeu a quantia. Prova mais
eficiente do que a de ter o subscritor tomado nota do nome do beneficiado.
Se o endossatário não estava em relação jurídica subjacente, justajacente ou sobrejacente, com o subscritor, o
pagamento a êle não libera o subscritor de qualquer dívida que não seja a dívida que ainda tinha com o tomador.
O art. 52 da Lei n. 4.728 refere-se ao tomador, porque o cheque, na espécie, é nominativo, e ao endossario que o
apresenta para receber a quantia sacada. Pode dar-se que o endosso não diga a favor de quem se endossa. Essa
pessoa pode completar o endosso (Lei n. 2.591, art. 8.~, alínea 2.~, 2•a parte) e o banco, que paga, pode exigir o
enchimento para que fique a prova de ao apresentante ter sido prestada a quantia.
Lê-se na Lei n. 4.728, art. 51: “Os bancos e casas bancarias que devolvem aos seus depositantes OS cheques
por êstes sacados, depois de liquidados poderão fazer prova da movimentação das respectivas contas de
depósito mediante cópia foto-gráfica ou microfotográfico dos cheques devolvidos, desde que mantenham esse
serviço de acôrdo com as normas de segurança aprovadas pelo Banco Central”. As regras juridícas do art. 51 já
estavam implícitas no sistema jurídico brasileiro. A devolução dos cheques é uso dos grandes bancos, uma vez
gue fiquem com as cópias fotográficas, microfotográficas ou fotostáticas. Cheques devolvíveis são os cheques
que foram pagos pelo banco depositário. A prática é assaz útil ao subscritor do cheque, porque lhe fica prova
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original da emissão. Se houve endosso, do titulo consta o nome do endossante, ou dos endossantes. No
parágrafo único do art. 52 fala-se de cheque que “indica” a nota, a fatura, ou a conta, ou o título cambiário ou o
imposto (impôsto, taxa, ou contribuição; entenda-se, portanto, tributo, e não só impôsto), ou outra “causa~~ da
sua emissão. O cheque não indica a nota, nem a fatura, nem a conta, nem o titulo cambiário, nem o tributo: seria
transformar-Se em titulo concreto, cem causa, o título chéquico, titulo combiarifor me, que é abstrato. O
cheque indica, isto é, tem a indicação do nome da pessoa beneficiada, ou é ao portador. Se o portador ou
beneficiado nominativamente endossa o cheque, dá a prova de que assumiu a obrigação de endossante e deu
como recibo o que se expressou como quantia a ser paga. Se o banco devo1ve o cheque ao subscritor, provado
está que foi pago. Não se deve pôr no cheque a “causa”: se a pessoa que figura como beneficiado é entidade
estatal, com a menção da sua repartição, tom-se ai a prova de que a quantia foi paga pelo banco. O
parágrafo único é de má redação e revela poucos conhecimentos de técnica bancária.
Se o subscritor do cheque ou algum endossante lança no cheque “para pagamento do impôsto tal”, é de supor-se
que foi inserto o nome da repartição arrecadadora, como tomadora ou como endossatária. Se o nome é de
outrem, tumultua-se a operação chéquica: ou o banco pode receber o pagamento do impôsto e o portador tem de
dizer em nome de quem se há de creditar, ou o banco não pode receber o impôsto e cria-se situação embaraçosa,
porque o banco tem de pagar ao tatuador ou ao endossatário, e a cláusula é ineficaz contra o banco. Por onde se
vê a falta de técnica científica que se revela na Lei n. 4.728.
Diante do texto legal, para que não se ofenda o alto nivel do sistema jurídico brasileiro, a que não se pode
atingir com leituras de livros estrangeiros de países que a êle não chegaram, e para que não se dê interpretação
discordante da ciência do direito e da técnica bancária, temos de ler o art. 52, parágrafo único, como
simplesmente permissivo de lançar-se na cártula do cheque, no papei, em que este o cheque e vai ser pago. A
causa não entra no cheque, como não entra nem poderia entrar em letra de câmbio e em nota promissória. em
que o Brasil teve o direito cambiário e cambiariforme com a concepção da abstração dos títulos em 1908 e
1912, na esteira da ciência do direito. Só vinte e tantos anos depois foi que a França, a Itália e outros países
europeus seguiram a Alemanha e o Brasil. Cf. Tomos XXXV-XXXVII. Há mais de meta século o Brasil
regulou, sabiamente , as relações jurídicas dos titulas abstratos.
Qualquer pessoa a que falta papel pode escrever um recado, uma carta missiva, uma promessa de venda, ou
reconhecimento de dívida, na cártula em que esta a prova escrita de exame do filho, ou na carta de alguém, ou
em letra de câmbio. ou nota promissória, ou cheque.
Se o banco pode receber o impôsto ou outra prestação publicística ou privatistica, há o pagamento do cheque e
o giro bancano bilateral.
Quanto a ser regressiva, ou direta, a ação contra o subscritor do cheque, cumpre advertir-se que o art. 50 da Lei
número 2.044, de 81 de dezembro de 1908, invocável a respeito do cheque (Lei n. 2.591, de 7 de agôsto de
1912, art. 15), estatui: “A ação cambial pode ser proposta contra um, alguns ou todos os coobrigados, sem estar
o credor adstrito à observância da ordem dos endossos”. Cf. Lei uniforme de Genebra, art. 47 (Tomo XXXIV, §
3.858). Não tem cabimento, no direito brasileiro, a discussão que se trava no direito italiano. O art. 5?, alíneas
1•a e 2•a, da Lei n. 2.591 é expressivo.
O banco tem de prestar o que se saca nos cheques segundo a ordem em que são apresentados, ainda que o banco
haja recebido algum aviso ou avisos de terem sido emitidos, antes, outros cheques.
Se, no mesmo momento, são apresentados dois ou mais cheques, com datas diferentes, tem o banco de pagar ao
portador do cheque de data mais remota, para que, se se esgota a provisão, os cheques subscritos com data mais
recente não sejam atendidos. Se têm a mesma data e foram apresentadas no mesmo momento, há de passar à
frente o portador do cheque ou dos cheques de número inferior. Os cheques são numerados.
Se, no mesmo momento, são apresentados cheques de diferentes datas, mas de número mais alto é o cheque que
tem data anterior à do outro ou às dos outros, o que importa é a data.
‘7. CLÁUSULAS DE PAGAMENTO DE CHEQUE. (a) O direito brasileiro admite, expressamente, a cláusula
ordem, ou outra que equivalha (e. g., não-endossável).
O endosso ao banco, como a subscrição a favor do banco, permite a esse que debite a quantia na conta do
cliente. Com o cheque, o banco paga-se de alguma dívida do cliente, ou procede a giro bancário.
As vinculações constantes do cheque podem ser avalizadas (a do subscritor, a do banco, a do endossante e a do
avalista). O portador do cheque não se vincula. Não há, portanto, aval da pessoa que tem o nome no cheque,
como favorecido.
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O cheque sem cláusula à ordem era intransferível (= não era endossável). Ficava incirculável em poder do
tomador, ou de quem o guardasse, ou dêle houvesse a tença. O banco somente
poderia pagá-lo à pessoa cujo nome constasse da cártula. Se pagava a outrem, em verdade não o pagava, e
respondia pelos danos e não só pela quantia ao titular do direito instransferível, sem qualquer limite. Isso não
significava que não pudesse haver outorga de poderes para recebimento, mas, aí, tal negócio jurídico, sobrei
acente, justajacente ou subjacente (e. g., para recebimento de quaisquer cheques em que tomador seja a empresa
cliente) nada tinha com as circulações chéquicas.
Quando o banco apenas recebia com endosso o cheque nominativo sem cláusula à ordem, ou lançava na conta
corrente do cliente tomador a quantia (e o endosso, aí, só é endosso aparentemente), ou havia de ter dados
suficientes para interpretar como outorga de poder de recebimento da quantia que havia de ser prestada.
Assumia a responsabilidade. Diferente a Lei uniforme de Genebra, arts. 141 e 5? (cf. Tomo XXXVII, § 4.121,
1, 2). Após a ratificação da Lei uniforme, não pode ser afastada a alegação do banco de ser, não só usual a
endossabilidade do cheque sem cláusula, mas sim de ser invocável a regra jurídica da Lei uniforme.
Se o cheque é com cláusula “sem endossabilidade”, ou “não à ordem”, ou “intransferível”, ou outra que diga o
mesmo, o banco somente pode pagar se há outorga de poderes, negócio jurídico, conforme acima dissemos,
estranho ao cheque. Tal outorga de poderes se sob a forma de endosso-procuração é cambiariforme, se insere
no cheque e tem eficácia de endosso especial.
Se o cheque levado ao banco contém a cláusula “não transferivel”, o que se há de entender é que se vedou a
circulação à ordem. A vedação da transferibilidade do cheque é vedação da circulação chéquica. Para que o
cheque nominativo ou com a cláusula “não-transferivel” tivesse de ser considerado cheque cujo direito ao
pagamento não fôsse cessivel, seria preciso que se conceituasse tal cláusula como estranha ao cheque, pois seria
vedativa de negócio jurídico de cessão do direito irradiado do cheque. Por isso temos de repelir o que
escreveram VITTORIO SALANImA (Manuale di Diritto Commerciale, II, 394), UMBERTO NAvARRINI (La
Cambiale e l’Assegno bancario, 23 ed., 157) e Vín’oLuO ANGELONI (La Cambiale e il Vaglia cambiario, 3~8
ed., 148).
(b) Quanto à cláusula “para creditar”, ou “para lançar”, o banco, a que se apresenta o cheque, paga-o em
conta, isto é, não há de prestar o dinheiro, mas sim fazer o lançamento na conta corrente da pessoa cujo nome
figura no cheque nominativo, ou em compensação. Supõe-se, de ordinário, que o possuidor ou o terceiro tenha
conta no banco, e tal restrição atende a interesse de quem lançou a cláusula. Pode ela ser posta em cheque que
vai ser visado, ou que o foi. Se a pessoa a que há de ser feito o pagamento não tem conta no banco, não há óbice
ao respeito à cláusula “para creditar”: o banco abre a conta e lança o importe do cheque (cf. CARLO
GIANNATTASIO, Orientamenti delia Giurisprudenza sui Contratti bancari, 25 s.), ou atende as instruções da
pessoa com direito ao crédito.
Na cártula do cheque pode ser inserta a cláusula para “lançar em conta” (41. BItEIT, Der Verrechnungsschek,
Zeitsehrift filr das gesamie Handelsreeh,t, 10, 97 s.; ERN5T JACOBI, Das Wesen des Verrechnungsscheck, 87,
1 s.), dita cláusula à porter en compte, cláusula da accreditari. ft o Verreicknungsseflecle. Credita-se a quantia
na conta corrente, ou em giro, ou em compensação, e debita-se o subscritor, passador do cheque, para
lançamento em conta. Se A deve ao banco e entrega cheques para lançar em conta e há os pressupostos para
compensação, fica paga a dívida ou parte da dívida, pois a cláusula para lançar em conta faz supor-se a
destinação do quanto a compensar o que se deve. Aqui, convém que se refira a situação do banco que a) recebe
o cheque para lançar e não faz o lançamento, ou b) o recebe e lança a quantia noutra conta que a do tomador ou
endossatário (o endosso pode ser para lançar), ou e) lança e estorna o lançamento. No tocante a a), o recibo do
banco pela tradição do cheque põe-no na posição de responsável pelos danos que sofrer o subscritor (ou
emissor> ou endossqnte: não cumpriu o que estabelecera a pessoa a que o banco entregou livro de cheque. No
que tange a (lá-se o mesmo. Se se trata do caso e), o banco não pode, mesmo a despeito de faltar provisão,
estornar o lançamento feito:
quem lança o que consta de cheque para lançar paga com o ato-fato do lançamento.
8.CHEQUES DE VIAGEM (“TRAVELLER’5 CIIECKS”). No Tomo XXXVII, §* 4.112, 4, e 4.146, 1, já
falamos doe cheques de viagem, trave ller’s checks.
Aqui, temos de frisar a função especial, que na técnica bancária exerce a firma de identificação, a dupla firma,
que o tomador lança no cheque, uma no momento da emissão, à vista do subscritor, e outra, depois, no
momento de receber a quantia. Trata-se de formalidade, de modo que se há de reforçar qualquer afirmação de se
estar diante de negócio jurídico de formação sucessiva. Os viajantes não são pessoas conhecidas em todos os
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lugares por que passam. Dai a necessidade de se prestar maior atenção à sua identidade e à identificação das
suas firmas. O cheque de viagem, o traveller’s check, é de subscrição e emissão do mesmo banco, ou de
subscrição de um banco e emissão por outro banco, casa bancária ou de câmbio. A aposição da firma do
tomador é no momento da emissão. Os cheques de viagem são, quase sempre, subscritos por determinado
banco, para que outros emitam tais cheques aos viajantes ou outros interessados.
De passagem digamos que a entrega dos cheques de viagem sem ser aos viajantes emissão é, mas há
intermediários que “compram” ou “se encarregam de vender” as cártulas, os cheques ainda sem nomes de
tomadores. Qual a relação jurídica entre o banco-subscritor e o banco ou outra empresa lançadora dos cheques
de viagem não importa. Depende do negócio jurídico que ocorreu ou que ocorre entre êles. De regra, o emitente
não figura no cheque: há negócio jurídico subjacente, justajacente ou até mesmo sobrejacente entre o toma-dor
do cheque e o emitente. Na circulação do cheque, a posse pelo emitente e os seus atos transíativos são
extrachéquicos:
não há relação jurídica cambiariforme entre o emitente, que não é subscritor, e o adquirente, que é o tomador.
Durante o tempo em que o cheque estêve com o emitente não-subscritor, houve apenas propriedade e posse ou
outra relação jurídica e posse da cártula, não, porém, titularidade do direito irradiado do cheque.
Com a prática da dupla firma, que só existe para os cheques de viagem, internacionais ou internos, supõe-se
existência de fundos do banco subscritor em diferentes lugares. Com isso, evita-se o transporte de dinheiro em
cédulas ou moedas.
O cheque de viagem pode ser com a cláusula de intransferibilidade (cc não-endossabilidade), para que só se
possa apresentar a determinados bancos ou empresas, cujos nomes constam da cártula.
O cheque de viagem tomou, em grande parte, a função da letra de câmbio e da carta de crédito.
9.CHEQUES A COBERTURA LIMITADA. O cheque de viagem entra de regra na classe dos cheques
limitados, cheques de cujo livro de cheques (talão de cheques) consta a quantia da provisão, ou de parte da
provisão. Diz-se, também, cheque vade-mecum, cheque de provisão prevista, ou cheque de cobertura limitada.
O banco adverte que não paga cheque que passe do limite, levados em contra os que foram apresentados (cf.
JOSEPE TIAMEL, Banques et Opératioris de banque, 1, 976; R. CAPOBIANCO, Note sull’assegno a
copertura garantita, Banca, Borsa e Titoli di credito, 1950, 1, 367 s.). O banco pode entregar os livros de
cheques com a limitação do quanto dispo’ nível ou com essa limitação e as quantias de cada cheque (citeques
de valor prefixado). Ali, o total não pode exercer o que se diz ser o limite; aqui, os cheques já têm as
respectivas quantias e o total delas é o limite.
Quando o cliente pede o livro de cheques e o banco lhe dá o livro de cheques com valores prefixados, há
acOrdo do banco e do cliente; porém, no direito brasileiro, não há óbice a que o banco aponha no livro de
cheque ou em cada cheque o valor total da provisão. A entrega de tais livros de cheques impede que o cliente
retire da conta o que corresponde à provisão que o limite supõe existir.
A fixação do valor de cada cheque é cláusula que depende de acOrdo. Com ela, o banco assegura existir a
provisão e o cliente restringe a sua autonomia da vontade, porque não pode lançar valor maior ou menor do que
aquêle que está no cheque. Má a indisponibilidade da provisão; e há mais: o parcelamento fixado do que há de
ser sacado. Não só o fundo se faz intangível, cada cheque já tem o seu conteúdo em dinheiro.
Convém que lembremos aqui a diferença entre o que se passa com o cheque a cobertura garantida, ou a
cobertura garantida e de valor prefixado, e o cheque visado. Ésse está sujeito ao tempo para apresentação, que
o banco conhece, e aquêle ainda não foi apresentado ao banco. O título a cobertura garantida é sem exame
posterior para vinculação do banco; o cheque visado, não (Tomo XXXVII, §§ 4.145, 2, in fine, 4.148. e 4.149):
o cheque visado tem o valor que o cliente pôs e o banco verifica haver fundo.
10. ORDEM DE PAGAMENTO. O encargo de pagamento, às vêzes dito “ordem de pagamento”, pode resultar
de cláusula contratual, ou de acOrdo (contrato) entre o cliente e o banco. Pode ser por escrito (carta ou
impresso, com a assinatura do cliente e os mais requisitos; telegrama, ou telefonema, ou feito pessoalmente, ou
por intermediário, empregado ou núncio). Por vêzes, faz-se mediante cheque o que já supõe utilização do
depósito bancário e submete o meio ao regramento específico do título chéquico. O cheque, por si só, atinge a
finalidada da prestação, sem que se tenha de atender à causa, porque, além de poder ser ao portador, é título .
Nas relações jurídicas com terceiros, o encargo de pagamento consiste em simples delegação para o ato-fato
jurídico do pagamento: o banco presta ao terceiro, como se fôsse ao cliente e por conta desse. Se a incumbência
é de comunicar ao terceiro que em determinado momento, ou quando queira, pode receber, há detegatio
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promítendi.
A expressão “pagamento” é empregada, aí, em sentida largo, porque o cliente pode não ser devedor, como se a
prestação é de doação, ou de mesada a filho, ou outra semelhante.
Para que o banco tenha de prometer pagamentos é preciso haver cláusula contratual. O aviso do banco de que
está à. disposição de terceiro a prestação não é delegatio proqnittendi:
em vez de negócio jurídico entre o banco e o terceiro, há apenas a comunicação de estar com a caixa do banco a
importância destinada. Trata-se, apenas, de enunciado de fato, inserto no papel impresso, ou no telegrama, ou
no telefonema,. ou feito oralmente, em presença.
O banco apenas diz por conta de quem paga. Nada tem com a causa da prestação, salvo se tem de exigir
documentos, ou explicitação do elemento causal, espécie em que o banco
§ 5.422. EFICÁCIA E EXTINÇÃO pode fazer objeções e opor exceções que teria o cliente. Note-se que a
causa, que pode vir à tona, é causa credendi ou accipie vii, e não causa do ato-fato jurídico do pagamento, ou
de promessa do banco, estranha à relação jurídica entre o terceiro e o banco, que é abstrata.
O pagamento há de ser em dinheiro, se não houve explicitude em ser em diferente valor. Tem de ser feito no
banco, e não iw ctcrnticilio do devedor (Código Civil, art. 950; Código Comercial, art. 430). Todavia, pode ser
estabelecido que se faça mediante lançamento na conta do terceiro, que tem depósito bancário em conta
corrente no banco encarregado, mesmo se o cliente remete ou entrega cheque ao banco. Em tais espécies, o
banco tem o dever de creditar.
Quanto à eficácia em relação ao terceiro, o simples lançamento na sua conta não é solução da divida, salvo se
foi esse meio o que estipularam o cliente e o terceiro, ou se, enviado o aviso pelo banco, há razão para se supor
que o terceiro admitiu a eficácia solutória (o banco passa a ser devedor, em vez do cliente). Se foi o terceiro que
exigiu ou pediu a remessa pelo banco, sofre êle as consequências da insolvência do banco. Aliás, se não houve
indicação pelo terceiro, mesmo se o terceiro nada opôs à remessa pelo banco e esse lançou na conta do terceiro,
ou o terceiro acusou recebimento do aviso, pode o terceiro alegar que ignorava o que se passava com o banco
insolvente ou em via de se tornar insolvente. Não se pode ter opinião a priori; a confiança no banco, por parte
‘do terceiro, afasta, em princípio, a responsabilidade do cliente do banco. Se tal confiança existia e o cliente,
conhecedor da situação do banco, remeteu a prestação, responde pelo ato de má fé.
No momento em que o banco credita ao terceiro, ou comunica estar à disposição a quantia e ocorre
recepticiedade com base para se não supor rejeitado, pelo terceiro, o pagamento, o banco pagou ao cliente e
esse não mais pode revogar a chamada ordem de pagamento (3. BREIT, em DÚRINGER.-HACHENBURO,
Das Handeisgesetzbuch, 2•a ed., 921).
O banco, que recebeu o encargo de pagamento, pode creditar a quantia na conta corrente do terceiro que
faleceu, ou se tomou incapaz, bem como pagar, em dinheiro, ao incanaz, e ignora a superveniente incapacidade,
ou a incapacidade ii. ao tempo da remessa.
banco assume, de cobrar e de lançar, ou de lançar e cobrar. No tocante ao cliente, o que o terceiro presta e o
banco credita, sem ter sido cobrador, somente libera o terceiro se o cliente correntista admitiu a prestação ao
banco.
DEPÓSITO BANCÁRIO
1.DEPÓSITO BANCÁRIO DE DINHEIRO. O depósito de dinheiro, feito no banco, faz o banco adquirir a
propriedade do que se depositou. Daí nasce o dever de restituição na mesma espécie quando o exija o
depositante, ou quando chegue ao termo que fixou. Pode ser, ou não, estabelecido o dever de pré-aviso. Salvo
cláusula do contrato, a restituição há de ser feita pelo banco, agência ou sucursal em que se fêz o depósito.
-w
O depósito bancário atende a necessidades de capital para os negócios bancários. Distingue-se do depósito
ordinário, embora se possa admitir que o banco conclua algum depósito ordinário e até aceite depositar, como
se infungível fôsse,. dinheiro do cliente.
O depósito supõe a custódia como prestação principal (Depositum est quod custo diendum alicuí datum est).
Nem todos os depósitos bancários são de dinheiro e temos de distinguir as espécies. Há o depósito irregular em
banco e há o depósito bancário regular.
NM importa saber-se se o cliente, que, por exemplo, ia viajar e por menos tempo do que aquêle que daria
direito a dividendos, bonificações e outras vantagens, fêz o depósito de títulos para administração, só tendo
interesse, no momento, em custódia. Daí se vê que o elemento subjetivo não tem relevância, tanto mais quanto
a necessidade da administração pode ser eventual. Se o cliente tardou em voltar, está explícito no contrato o
dever do banco. Se o contrato fôsse apenas de guarda em caixa forte, teria o cliente, a distância, de contratar a
administração, ou de dilatar o conteúdo do contrato existente.
•Os depósitos para poupança estabelecem entradas automáticas, ou recebidas em casa do depositante, com o
fim de ter A pessoa economias em banco.
Se o cliente entrega ao banco títulos ao portador, ou outros títulos, com os poderes outorgados, sem lhes
transferir a propriedade, mas com o poder de usá-los, há depósito regular, com cláusula de usabilidade.
Civil: “O depósito de coisas fungíveis em que o depositário se obrigue a restituir objetos do mesmo gênero,
qualidade e quantidade, regular-se-ápelo disposto acêrca do mútuo (arts. 1.256 a 1.264)”. A opinião
certa já foi exposta, ao tratarmos do depósito. Há depósito, e não mútuo.
No depósito irregular, no tocante às diferenças em relação ao mútuo, são de notar-se: o depositante tem direito à
restituição, a qualquer momento, o que é comum ao depósito regular e ao irregular; a restituíçâo é no domicilio
do depositário e à custa do depositante, o que também é comum às duas espécies de depósitos; sendo dois ou
mais os depositantes, quer regular quer irregular o depósito, e indivisível o bem, só todos os depositantes
podem exigir a entrega, ou só conforme a parte de cada um, se divisível, salvo cláusula de solidariedade, o que
ocorre no mútuo; o depositante, quer no depósito regular, quer no irregular, pode exigir a restituição da res
deposita, a qualquer tempo, o que não ocorre no mútuo, salvo cláusula expressa, ou conforme o art. 1.264 do
Código Civil.
A segunda questão consiste em se saber se o depósito bancário é depósito irregular, ou se é mútuo. Já
respondemos no mesmo lugar, porque o assunto é mais geral do que se pretende. Todavia, convém repelir os
argumentos de alguns especialistas em negócios jurídicos bancários.
O depósito irregular tem conseqüência de extinguir a posse do depositante. Nem há posse, nem há recarium;
falta qualquer poder táctico sobre o bem depositado. Por isso mesmo, não há a chamada posse precária, nem a
tença (cp. CARL BULLING, lias Precarium, 47; WILHELM DÚCKEII, Reitrãge zur Lebre vom Precarium,
15 s. e 26 s.).
li.Tn&~ (Handelsrecht, 5, 5Y ed., 406) ainda fazia o deposito bancário corresponder ao depositum irregulare.
Na dúvida sobre se tratar de depósito, ou de empréstimo, entendia que a última figura tinha de ser considerada.
Seria o banco que tomava o empréstimo (HÚRNELi, Die Ranken, 1, 58). Tem-se de afastar a presunção,
mesmo se o banco não paga juros (para o antigo direito ático e o romano, O. E. Scx-tOMANN-M. li. E. MEIFz,
Der ostijeche Prozess, 518; M. VOIGT, Ober die Bankier der Rõmer, 13; TREODOR NIEMEVER, Depositum
irregulare, 147 s.).
O que distingue o depósito bancário como espécie de depósito irregular é que há a empresa depositária,
profissionalmente dedicada a receber depósitos, e há a pluralidade de entradas,
de depósitos-parcelas. A série de creditamentos e de debitamentos faz do depósito irregular depósito bancário.
O banco, para as suas operações, conta com esses negócios juridicos de massa, sem os quais só disporia do que
constitui o seu capital, o seu fundo de reserva e o que houvesse de empréstimos.
O fato de se haver exigido aviso prévio para os levantamentos, ou de se ter fixado prazo para êles, ou de se
terem restringido os levantamentos periódicos, não desnatura o depósito bancário. Nenhuma das espécies se
torna mútuo, pôsto que o banco possa cogitar de tomar empréstimo a clientes; mesmo porque o mútuo pode ser
à vista. As causas dos dois contratos são distintas. Se o cliente emprestou ao banco fêz mais do que depositar.
A finalidade não foi de investimento, mas de segurança. Melhor é que o dinheiro esteja no banco do que na
gaveta do escritório, ou no próprio cofre. O incêndio que destrói o prédio em que está o escritório destrói o
dinheiro que o cliente guardou, O incêndio do edifício do banco não destrói o direito do cliente que depositou.
Todos os depósitos bancários têm como elemento comum a entrega de soma de dinheiro, da qual o banco
adquire a posse própria e a propriedade, com o dever de restituição na mesma espécie de moeda, quando
exigida de acôrdo com a convenção e a lei. A convenção pode resultar de uso bancário. O banco pode dispor
como entenda do que foi depositado, porque é seu. Não tem dever de conservar, porque restitui o tantundem
elusdem generis ae qualitatis, e nào a cadem res. Não se pode dizer, portanto, como fazem alguns juristas
italianos (e. g., ENRICO COLAcRosso-GIÂcOMO MOILE, Diritto baneario, 291 s.; SEEGIO SOTGIA, Dei
contratti bancari, Cornmentario ai Codice Civile de MARIANO D’AMEnO e F. FINZI, II, 1, 108), que se trate
de depósito ad uso. O depositante transferiu mais do que o uso. Depósito com direito de usar é o depósito de
que cogita o art. 1.275 do Código Civil.
Os depósitos bancários são espécies de depósito irregular. Portanto, o que dissemos ser o contrato de depósito
irregular (Tornos XXVII, § 8.286, 4; XXIX, § 3.389, 13; XXX, §3.588; XXXVIII, §§ 4.107 e 4.108; XLII, §§
4.663, 6; 4.664 e 4.665) é de leitura útil.
Sobre o dever de custódia e o depósito irregular, Tomo XLII, § 4.656, 3.
O contrato de depósito bancário é real e oneroso. Em alguns sistemas jurídicos, há o contrato de depósito
bancário gratuito, o que se prende, às vêzes, ao emprêgo do sigilo bancário para se ocultar dinheiro oriundo de
fontes ilegais ou criminosas, ou a restrição às operações bancárias para vantagens de grupos.
Por outro lado, a proibição legal (somente pode ser legal) de pagar juros a depositantes diminui os depósitos
bancários e ao mesmo tempo sugere os empréstimos clandestinos, ou os incrementa.
-w
Na classificação dos contratos em contratos de crédito e contratos de custódia, não se pode dizer que o depósito
irregular é contrato de crédito, e só de crédito, nem que é contrato de custódia, em sua feição típica. O persistir
depósito, a despeito da transferência da propriedade, foi o elemento historicamente insinuado e conservado
através dos tempos. Algo de custódia permaneceu, diferenciando-o do mútuo e dos outros contratos de crédito.
Há especificidade da causa.
Contrato aformal, no sentido de não haver nas leis regras jurídicas sobre forma especial. Mesmo se o cliente
perde o recibo do depósito, pode fazer prova da entrega, conforme os princípios gerais.
Há custódia, porque o banco assume dever que excede o de ordinária responsabilidade.
O cliente precisa poder dispor do que deposita.
5. DEPÓSITO BANCÁRIO. Os depósitos bancários podem ser a termo único (o que se depositou somente se
pode retirar quando se chegar ao termo fixado), ou em conta corrente, ou a termos sucessivos. Os depósitos
podem ser com exigência de pré-aviso, para as retiradas, ou sem ela.
O pré-aviso pode ser de dias, de meses, ou mais. Freqúentes os depósitos são com retiradas sem pré-aviso, ditos
à vista. O pré-aviso pode ser exigido apenas a partir de certa quantia.
‘Os depósitos podem ser de economia ou poupança, somente em se depositando e em se retirando dinheiro com
o lançamento na caderneta.
Nos depósitos em conta corrente, esses, as retiradas podem ser por cheque, ou autorizações de remessa, ou
outro serviço de caixa.
6. CADERNETA DII DEPÓSITO. A regra jurídica, que devia apanhar todos os casos em que se entrega
caderneta, é de, necessariamente , nela se lançar quanto se remeteu, ou se retirou. O uso do livro de cheque,
com o canhoto ou a fôlha para as notas do cliente, foi tornando menos usual a caderneta. As cadernetas, que
hoje se entregam, quase nunca se dão para se encher. Verdade é, porém, que as notas não fazem prova contra o
banco, e os recibos se perdem facilmente . Se há caderneta, não pode o banco estabelecer que não faça prova. A
caderneta contém, pelo menos, a primeira entrada.
7. DEPÓSIITOS FECHADOS. O depósito em banco pode ser depósito fechado, isto é, depósito que se faz com
a entrega de objetos às vêzes títulos em caixa, maleta ou baú, ficando as chaves com o depositário, ou selado e
lacrado, ou por outro modo tornado incólume a fácil abertura. O que era fungível infungibilizou-se com a
cobertura. Não é exigido que o cliente entregue ao banco a lista do que consta do depósito. Para a restituição
pode ser restabelecido o ônus de pré-aviso.
8. CESSÃO E TRANSFERÊNCIA DO CRÉDITO. O crédito contra o banco pode ser cedido, ou ser
transferido, consequentemente à entrega de cheque nominativo, ou ao portador. Se não foi estabelecido,
-w
expressa ou tàcitamente (e. g., pelo uso), que seria movimentável mediante cheque a conta corrente de depósito
bancário, o meio que se tem para ceder o crédito é a cessão de crédito (Código Civil, arts. 1.065-1.078). Se foi
estabelecido que se sacaria cm cheque, não se há de entender, na dúvida, que se pré-eliminou a cessão do
crédito.
Se o crédito foi cedido ou transferido a titulo oneroso ou gratuito, isso não interessa ao banco. Entre os
figurantes da cessão ou da transferência, o negócio jurídico gratuito é doação: precisaria haver título abstrato,
para que não se tivessem de exigir a formalidade e outros pressupostos das doações. Não cabe distinguir-se o
título abstrato ao portador e o titulo abstrato nominativo ou à ordem. Qualquer discussão sobre o negócio
jurídico causal, que houvesse, seria estranha àvalidade e eficácia do título abstrato e as objeções e exceções só
seriam oponíveis entre figurantes em contacto (e. g., endossante e endossatário do cheque).
Cumpre, ainda, advertir-se que o que se cede ou transfere não é a soma, mas o crédito de depósito.
9. PENHOR DE CRÉDITO. O crédito do depositante pode ser empenhado, como qualquer outro crédito. O
titular do direito de penhor não pode retirar a quantia sem que o empenhante consinta. Cf. Tomo XX, §§ 2.585-
2.590.
1. PRECISÕES. O contrato de depósito, se contrato de massa, tem sempre fórmulas regulamentares do banco,
porque o banco, na divulgação dos seus intuitos, tem interesse de mostrar como se hão de concluir os depósitos
bancários e quais os seus efeitos, conforme as cláusulas.
O locatário do cofre, da caixa ou da gaveta somente contratou porque precisou de cuidados na guarda e o banco
os prometeu. O banco tem o direito à~ comissão e ao reembôlso de despesas. A comissão pode ser ordinária ou
especial a alguma operação. Não se passa isso com o contrato de depósito bancário.
2. DEVER DE RESTITUIÇÃO. O banco tem o dever de restituir. As cláusulas ou pactos adjectos de pré-aviso,
ou de prazo, apenas regulam esse dever. O termo pode ser certus au ou incertus quando. Se apenas se exigiu
pré-aviso, sem se referir à periodicidade dos levantamentos, permitiu-se a exigibilidade posterior (durante o
contrato) a termo certo, subordinada ao pré-aviso. Com o pré-aviso, o cliente fixa a data para o levantamento. O
banco prepara-se para a prestação. O ônus do pré-aviso (não se fale em dever de pré-aviso) é no interesse do
banco. O termo, que o pré-aviso fixa, ou resulta de cláusula ou de pacto adjecto (e. g., “os levantamentos são
dez dias após o pré-aviso”), é no interesse do cliente e do banco. O banco não pode exigir que o cliente receba
antes. Cliente e banco podem acordar em que não se aguarde a expiração do prazo.
3. PRÉ-Aviso. Se não foi preestabelecida forma necessária ao pré-aviso, pode ser oral, por telefone ou por
telegrama. Se os levantamentos são por inserção em caderneta, a forma especial foi exigida ao lançamento, não
ao pre-avíso.
O pré-aviso é revogável, mesmo se decorreu o prazo. Aliás, é de uso bancário que se tenha como revogado o
pré-aviso se passou, após o termo fixado, tempo igual ao que seria exigido à apresentação de cheque. No direito
italiano, o uso é ser vencível de cinco a dez dias (cf. ADRIANO FlORENTINO, Contratti bancari,
Commentario dei Codice Civile a cura di ANTONTO SCIALOJA e GIUSEPPE BRANCA, 425).
Durante os dias de que se esperou a expiração do prazo e o levantamento, ou até que se revogue o pré-aviso,
não fluem juros. Não importa se a revogação foi expressa ou tácita.
O pré-aviso só inicia o curso do prazo no dia seguinte àquele em que’é recebido pelo banco.
O pré-aviso é manifestação de vontade receptícia, em exercicio de direito formativo extintivo. Se o cliente quer
a extincão do contrato, tem de pré-avisar; portanto, há ônus, da sua parte. Com isso, fica tempo ao banco para
se munir de fundos.
4.LUGAR DE PAGAMENTO. O dever de restituir é exercido na sede em que se fêz o depósito (sede da
empresa- mãe ou sede da filial, ou sede da sucursal, ou sede da agência). Os bancos podem permitir a
exigência noutras sedes, desde que se dê tempo para as comunicações escritas, telegráficas ou telefônicas. O
cheque visado é expediente que facilita os levantamentos em outras sedes, mas, para que não haja comissão e
despesas cobráveis, é preciso que o banco tenha acordado na apresentação vinculante. Pode haver conveniência
-w
em que se convencione que as operações de entrada e de saída sejam indistintamente em duas ou mais sedes, o
que importa duplicata, ou triplicata, ou outra pluralidade de escrituração do mesmo depósito em conta corrente
(e. g., “depósito em conta corrente de A na sede da matriz”; “depósito em conta corrente de A na sede da
agência de Santos”). A sede em que se fêz o contrato de depósito tem de avisar quanto aos saldos, ou os
levantamentos e entradas, para que as outras sedes estejam a par da conta corrente. ~ diferente apenas permitir o
desconto noutra sede, ou mesmo a exigência noutra sede, dependentemente de comunicação entre as sedes.
6.JUROS. Os juros são os convencionados, ou os legais. Correm êles do primeiro dia útil posterior à entrada e
cessam de correr no último dia útil anterior ao pagamento ou ao dia do pré-aviso. A liquidação dos juros e o
creditamento fazem-se no dia expressamente convencionado ou de uso. Uma vez creditados, os juros
capitalizam-se, tornando-se produtivos de juros.
A taxa é para todo o tempo que dure o contrato de depósito bancário, salvo se advém pacto adjecto, ou regra
legal limitativa. Pode o banco reservar-se a alteração da taxa, mediante pré-aviso. A lei pode exigir pressupostos
para a fluência de juros, ou afastá-la.
Para a cortagios dos nra7os, exclui-se o dia do ato e inclui-se o último dia (Decreto n. 40.395, art. 14; Decreto-
lei n. 3.602, de 9 de setembro de 1941, art. 1.0). Se o dia do vencimento cair em dia feriado, o prazo considera-
se prorrogado até o dia seguinte (Decreto-lei n. 3.602, art. 1.0 parágrafo único).
Sobre como têm de proceder os bancos depositários e as repartições federais, cf. Decreto n. 40.395, arts.
4.o~17.
1. CONCEITO. O depósito de títulos em banco tem, quase sempre, a dupla finalidade da custódia e de
administração. O banco assume, com o depósito, o dever de custódia e o dever de administrar. O dever de
administrar compreende o de exigir os interesses ou os dividendos, receber os títulos dados em bonificação,
verificar os sorteios para prêmios ou reembôlso do capital, subscrever ações de aumento de capital conforme as
instruções do depositante, e diligenciar para o exercício de quaisquer direitos e pretensões relativos aos títulos.
Não se incluem as ações, nem as medidas cautelares; porém, em caso de não pagamento, há os protestos e as
medidas que sejam necessárias à conservação dos direitos.
Antes de se falar do conceito e da natureza do contrato de depósito de títulos de crédito ou de ações para
administração, tem-se de chamar atenção para a duplicidade de atividade, que há em tal contrato: o banco
assume o dever de custódia e da prática de atos que são do interesse exclusivo do cliente e desses poderiam ser
encarregadas pessoas físicas ou pessoas jurídicas que não sejam bancos. Daí a relevância da classificação do
contrato.
Se ao banco foram entregues títulos de crédito ou ações em administração, o banco assume, além do dever de
custódia dos títulos, o dever de administrar. Quem administra títulos de» crédito ou ações tem o dever de exigir
juros, dividendos, bonificações, reembôlso, valor de resgate, prêmios e quaisquer outros produtos ou vantagens
e de prover à tutela de todos. os direitos e pretensões inerentes aos títulos. Quanto à pro positura das ações, é
preciso que o banco haja incluído nos seus deveres esse, que supõe procura em juízo. Os atos que são
indispensáveis ao evitamento de preclusões e prescrições deve-os o banco.
Discute-se sé o contrato é único, ou se há pluralidade de contratos. Se se responde que o contrato é único, ainda
se há de levantar a questão: ~‘,trata-se de contrato de depósito, ou de contrato de mandato, ou de contrato
misto?
Primeiramente, advirta-se que o exercício dos atos de administração pode ser atribuído a quem nao seja
depositário, porém sim mero mandatário ou empregado de empresa, inclusive empregado de banco que não
pratique os atos em nome do banco. Depois, havemos de frisar que o depositário pode não ter recebido poderes
de administração e praticá-los em gestão de negócios alheios, ou podem ter de administrar os bens em virtude
de dever que resulte de lei. Ainda mais:
pode não ter havido contrato de depósito com poderes de administração e tê-lo havido depois, ou apenas
outorga de procuração em separado, o que afasta ter havido contratualidade.
O depósito de títulos de crédito ou de ações para administração, quer em banco quer não, é contrato único, sem
a duplicidade que lhe vê GEORGES RIPERT (TraiU éléntentaire de Droit Commercial, 2a ed., 835). Pode bem
ser que o interesse do cliente mais seja o de obter serviço do banco do que .a custódia, como pode ocorrer que a
prestação que mais lhe importa seja a custódia, ou que sejam as duas. Isso de jeito nenhum permite que se faça
depender da preponderância do intento do cliente a classificação do contrato. O contrato, em
>qualquer das espécies, é contrato de depósito para administração, sem que se possa perquirir se se depositaram
os títulos para que o banco os administrasse, ou se foram depositados e
-por isso há conveniência em que não se retirem para exercicio de direitos e pretensões. Deve-se evitar
assimilação ao mandato, tanto mais quanto, por ocasião das atividades fora do banco (recebimentos, exercício
de direitos de opção e outros atos administrativos), a intermitência não corta, de modo nenhum, a continuidade
-w
O depósito global de títulos em administração é espécie que merece considerações especiais. O banco pode
misturá-los com outros do mesmo conteúdo e valor, sem que tenha sobre êles direito de propriedade. Não se
assimila ao depósito bancário de dinheiro, nem ao depósito de outro bem fungível, porque fica entre êles e o
depósito de títulos em administração, a que chamaríamos depósito ordinário de titulas em administração. A
irregularidade é parcial.
A finalidade da cláusula de quase-fungibilidade está, freqUentemente, em permitir-se ao banco que compareça
com os títulos à assembléia de sociedades por ações.
A figura é a de comunhão dos títulos depositados pelos clientes, cabendo a cada um a sua quota. ~ como o
depósito de grãos, depósito en grenier. A comunhão pro indiviso permíte ao banco tratar dos títulos como se
fôssem fungíveis, mas sem poder dispor das quotas alheias (HERMANN HEROLD, Bank und Bõrsenrecht,
68). Pode ser feito com a posse imediata pelo banco, ou com a posse imediata por outro banco feito o endosso.
São, respectivamente, o depósito global em casa (I-laussammeldepot) e o depósito global por endOsso
(Girosammeldepot).
A comparência do banco à assembléia de sociedade por ações suscita alguns problemas, de que já tratamos,
como o da necessidade de serem de Brasileiros os títulos, por exigência constitucional ou legal, ou estatutária, e
o da proibição do tráfico de voto.
4. EFICÁCIA DO CONTRATO. O banco tem de informar-se, com tôda a diligência e técnica, de todos os
efeitos dos títulos e da titularidade, a fim de comunicar ao depositante quanto aos direitos, pretensões e ações
-w
do depositante e quanto aos deveres, obrigações e ações que haja contra o depositante. No tocante ao exercício
de direitos formativos geradores, modificativos e extintivos, tem de comunicar a tempo, para que o de
positante os exerça ou não os exerça. O direito de subscrição quanto a novas ações é um dêles. Ao comunicar ao
depositante, há de o banco dizer como tem de proceder o depositante, inclusive quanto à necessidade de outorga
de poderes; bem assim, quaisquer fundos necessários. Se o depositante não responde, nem remete os fundos, é
dever do banco vender, por meio de corretagem, de acôrdo com as leis, o direito de subscrição (assim,
ADRIANO FlORENTINO, Contratti cambiari, CommenIano dei Codice Civile, 444). Fora disso, no contrato de
depósito de títulos em administração, podem ser diminuídos ou aumentados os poderes do banco. No tocante à
subscrição de títulos novos, é freqUente a outorga de poderes para se dispensar o pedido de instruções, com o
depósito de fundos suficientes, ou a convenção de saque.
Todas as somas que o banco recebe devem ser imediatamente creditadas ao cliente em conta corrente especial,
ou na conta corrente do depósito de dinheiro que o cliente tinha no banco.
O depósito de títulos em administração permite que o banco exerça os poderes de recebimento sem precisar de
procuração.
A outorga de poder resulta do próprio depósito de títulos em administração. O banco age em nome e por conta
do depositante. Se os títulos são ao portador, o banco não precisa exibir o contrato de depósito em
administração.
Se há alguma parcela a ser paga do preço do título, o banco pode pagá-la em nome e por conta do cliente,
cabendo-lhe o dever de comunicação quanto a qualquer fato que não conste do teor do título.
Não é válida a cláusula, nem é válido o pacto adjecto pelo qual o banco se exima da responsabilidade por
inadimplemento de dever ou que a restrinja em caso de culpa.
Os títulos têm de ser restituidos, todos ou alguns, quando o cliente os exija. Pode esse exigir a restituição de um
so.
O banco tem direito de retenção sobre os títulos depositados, por despesas e desembolsos ocasionados pelo
depósito ou pelo exercício do dever de administrar.
CAPITULO IV
CARTA DE CRÉDITO
1.CONCEITO. A carta de crédito é o negócio jurídico (ou o documento do negócio jurídico) pelo qual alguém
(endereçante) de regra, banco autoriza outrem (enderessado), quase sempre viajante, ou pessoa que vai viajar
a receber dinheiro, até certo importe, de terceiro, ou de dois ou mais terceiros, por conta do autorizante, mas em
nome do acreditante. Ressalta a diferença em relação à assinação simples ou corrente: há máximo de importe, e
não quantia fixa, ficando ao acreditado receber de uma vez, ou por partes, o que se lhe autoriza a receber.
A carta de crédito circular ou de viajante, traveller’s letter ol credit, já era de uso na Idade Média (cl. ALFRED
LÉGAL, Le Crédit confirmé en pays étranger, 40). Não se confunde com a carta de crédito comercial,
co’mnmercial lelter of credit, que se prende ao financiamento do comércio de importação (cf. SPALDING,
Rankers’ Credita, 42). Mas os traços comuns são tantos que juridicamente se têm como subespécies (H. HART,
The Law of Banking, 3~a ed., 618; SPALDING, Rankers’ Credita, 4).
Na jurisprudência americana, a propósito da carta de crédito, alude-se à causa, à consideration, à relação
jurídica entre o comprador e o banco, mas sem que isso afaste ser abstrato o negócio jurídico da carta de crédito
(cl. WILLIAME.Mc Cumw, Commercial Letters of Credit, JIarvard Law Review, 37, 574)
-w
2.CARTA DE CRÉDITO E ACREDITIVO. Do acreditivo propriamente dito difere a carta de crédito: aquêle
não é em carta, mas sim acreditação contra duplicada do conhecimento de mercadorias ou do recibo de
transporLe (Duplikatfrachtbrief), ou expediente semelhante. Por êle, quase sempre o comprador se vincula a
que algum banco ponha ã disposição do vendedor quantia que corresponda ~o preço, de jeito que, satisfeitos
alguns pressupostos, possa o acreditado aí, vendedor exigir que o banco lhe pague. A classificação da relação
jurídica entre o acreditante e o banco tem sido assaz discutida (e. g., JACOBSOHN, Der Kauf gegen
Bankakkreditiv, Gruchots Beitrtlge, 66, 24 5.: o banco seria o fiduciário; H. LEI{MANN, em L.
ENNECCERUS-H. LEHMANN, Leltrbuch, II, 113 recop., 347:
o comprador e o banco concluiriam contrato de obra). A relação jurídica entre o acreditado e o dador de crédito
só se estabelece quando esse assume a dívida perante aquêle, dizendo que está à sua disposição, ou já lançado
em seu crédito. Num e noutro caso, há declaração unilateral de vontade negocial, e não só ato jurídico st ri cio
sensu. A promessa unilateral é abstrata. Pode o dador do crédito, o banco, comunicar que o acreditivo foi feito
com a cláusula de revogabilidade, o que não se presume. Se o dador do crédito não fêz qualquer ressalva,
nenhuma objeção ou exceção tem contra o acreditado, que se funde em relação jurídica com o acreditante. Tem-
se de repelir a explicação da relação jurídica entre o acreditante e o banco, que há de dar o crédito ou o
dinheiro, como contrato a favor de terceiro, porque, primeiro, não há contrato e, segundo, o acreditado estaria
exposto às objeções e exceções do banco dador do acrédito contra o acreditante. Há assinação para pagamento,
razão por que são de invocar-se as regras sobre a assinação.
Já falamos de carta de crédito ou letra de crédito, no Tomo XLII, § 4.635, 5.
A carta de crédito tem de designar a pessoa a que se há de prestar a quantia: se não se determinou, há apenas
carta de recomendação, e não a carta de crédito aberta, que o sistema jurídico brasileiro não tem, offener
Kreditbrief.
3.NATUREZA DA CARTA DE CRÉDITO. Nada adiantaria dizer-se que a carta de crédito é espécie de
assinação. Tem a assinação apenas como um dos seus elementos. Nem dizer-se que é espécie de acreditivo: o
destinatário, o endereçado, presta, não promete, de modo que o seu ato é ato-fato jurídico (paga. mente), e não
negócio jurídico. A praxe bancária criou a carta de crédito, com os elementos próprios que a fizeram negócio
jurídico distinto da assinação e do acreditivo.
O prestador acreditivo não tem de pagar: ou confirma, ou não confirma (negócio jurídico unilateral). O assinado
ou apôe o aceite, ou não o apôe. O endereçado da carta de crédito ou paga, ou não paga.
Compare-se a figura da carta de crédito com as duas outras, a da assinação e a do acreditivo, que inserimos no
Tomo XLII, § 4.642, 3.
A figura da carta de crédito supôe triangularidade:
Beneficiário
X(portador)
Endereçante
(subscritor)
-Endereçado (destinatário)
O pagamento é feito pelo endereçado (pagador) do crédito, em nome do endereçante. Esse responde como
devedor, e não como pagador. O pagador do crédito nada tem de investigar quanto à situação patrimonial ou
aptidão creditícia do beneficiado. A relação jurídica entre o endereçante e o endereçado é fora do negócio
jurídico da carta de crédito. Talvez fique aquêle a dever; talvez tenha havido compensação, ou retirada do
quanto na conta corrente do endereçante.
O sêlo é pago de uma vez, por todo o importe do crédito, e nao pelas parcelas recebidas (cp. Decreto de 13 de
agôsto de 1863, art. 8.0; DÍDIMO AGAnTO DA VEIGA, O Amigo e Conselheiro dos Comerciantes, 236).
Alguns autores consideram a carta de crédito título de crédito aparente. Assim, ter-se-ia, ao lado dos títulos de
crédito e dos títulos de legitimação, os títulos de crédito aparentes, isto é, que só o seriam na aparência. Com
isso, transformar-se em título de crédito o que apenas é documento de determinado negócio jurídico. Assim
contra FRANCESGO MESSINm (Titoti di credito, ~ 2a ed., 244) GIUSEPPE FERa! (1 Titoli di credito, 2.~
ed., 55) e ISIDOCO LA LUMIA (Corso di liliritto Commerciale, 277).
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Da carta de crédito há de constar o nome do endereçado (destinatário, pagador do crédito), o nome do portador
seu beneficiário e o nome do endereçante (destinante). Além disso há de estar determinado o quanto a ser pago.
4. ESPÉCIES. A carta de crédito pode ser circular (Zirkularkreditbrief), como se alguém vai viajar e precisa de
dinheiro em diferentes cidades ou outros lugares.
A carta de crédito pode ser para retirada de uma vez, ou por partes. Ou somente para que se inicie conta
corrente, ou para que o banco lhe dê outra cada de crédito, ou outras cartas de crédito.
“crédito”, a carta de crédito é documento para se ir receber, e não para se obter crédito. A relação jurídica entre
o endereçante e o beneficiário nada tem com a relação jurídica entre o endereçante e o endereçado. Há
assinação escrita para pagamento, na carta de crédito, e algo, a mais, parecido com o acreditivo. Quando se diz
que ela é espécie de acreditivo, reduz-se-lhe a figura (e. g., WOLFGANG HEFERMEI-IL, Schlegel berger
Tlandelsgesetzbuch, Jfl, 33 ed., 1368).
O pagamento ao beneficiado pela carta de crédito é, de regra, em dinheiro. Se o pagador de crédito, destinatário
da carta de crédito, abre crédito, ou assume dívida, o ato é seu. Se, na carta de crédito, se disse que o
destinatário creditaria, ou assumiria dívida, o simples creditamento, em tal caso, não tem eficácia solutória,
salvo se resulta dos termos do documento do terceiro, ou do documento que o acreditado deu ao pres tador do
crédito. Se foi o beneficiado que admitiu o depósito, ou o título de crédito, em vez da entrega do dinheiro, o
risco da falência ou de outra liquidação coativa é dêle.
Nas relações entre o subscritor e remetente da carta do crédito e o banco, destinatário, a própria assunção de
dívida por esse é pagamento. O endereçante da carta de crédito é debitado.
O banco pode pagar em dinheiro, ou assumir divida, a favor do terceiro, mesmo após a morte ou a
superveniente incapacidade do subscritor e remetente da carta de crédito, de modo que incidem as regras
jurídicas dos arts. 1.321-1.323 do Código Civil, ou do art. 157, inciso 3, do Código Comercial (mandato).
O subscritor e remetente da carta de crédito, que tem o fim de fazer recebedor o acreditado, conta com o crédito
que tem contra o dador do crédito ou com a abertura de crédito para que se lhe debite o que o banco destinatário
pagar ao acreditado.
O beneficiado não é credor se o endereçado não assume a dívida, com o consentimento do beneficiado, ou não
lha credita. Se lha paga, toilitur quaestio. O ato de pagamento foi simples ato-fato jurídico.
2.EXTINÇÃO DA CARTA DE CRÉDITO. Se havia prazo para apresentação, com a expiração dêle extingue-
se a eficácia da carta de crédito: o negócio jurídico resolveu-se. Idem, se havia condição resolutiva e se impliu.
Não há denunciabilidade da carta de crédito.
CAIXAS FORTES
1. CONCEITO. Quando os bancos têm caixas fortes (coffres-forts, safes, cassette de sicurezza), recebem do
cliente o que lhe pague o uso do lugar e os serviços. Ao cliente dá o banco o cartão dc legitimação, ou a
carteira de legitimação, em que se inscrevem as visitas, ou a carta de legitimação. Com esse documento, o
cliente pode mudar ou retirar parte ou todo o conteúdo da caixa ou gaveta, que lhe toca, observadas, porém, as
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exigências convencionadas. Às vêzes, além de carta de legitimação, o banco exige a senha oral ou gesticular.
O contrato de caixa forte não se confunde com a carta de legitimação, ou o cartão, ou a carteira.
Pensou-se que o contrato seria de depósito bancário, como os outros. Mas falta a atribuIção da posse de
depositário ao banco. O banco tem a posse própria da caixa, ou cofre, e não do que foi pôsto dentro da caixa, ou
do cofre. Há locação de coisa, e não depósito (Tomo XLII, § 4.658, 5). Nem se precisa dizer que o contrato é
misto, por haver locação de serviços (e. g., GINO DE GENNARO, Le Cassette di sicurezza, 99 s.). O banco
tem a posse imediata do cofre, caixa ou gaveta, de modo que lhe incumbe cuidar da integridade exterior e do
estado normal de ambiente, para que o que foi colocado no interior não seja danificado. Essa prestação é
integrada na prestação do uso, sem se distinguir, no fundo, da prestação que tem de fazer o locador de quartos e
outras peças internas ao espaço de que tem posse imediata o locador. A atividade do banco não é a do
depositário, que tem de custodiar. £ atividade que se insere na de locação de cofres, caixas, ou gavetas.
2.NATUREZA DO CONTRATO. ‘O contrato é consensual e de adesão, porque o banco fêz oferta ao público,
de prestação duradoura e a prazo determinado. O banco tem a sua tabela, o regulamento do edifício e da parte
do edifício em que estão os cofres, as caixas ou gavetas. A cláusula de máximo de indenização, ou de quanto de
indenização, no caso de o banco deixar de explorar o serviço de caixas fortes, ou de venda de edifício, há de
constar do contrato; não basta que conste dos prospectos ou do regulamento do banco.
A forma escrita é a usual. Pode concluir-se, todavia, por telefone, como se pessoa que está fora do país tem
urgência em colocar em cofre do banco jóias ou títulos e encarrega alguém de os entregar ou de os pôr no lugar
que, de longe, tomou em locação. Não se diga que, em tal caso, a pessoa intermediária é mandatário e há de ter
poderes de procura. Pode isso acontecer, mas é possível que se trate apenas de empregado doméstico, ou de
núncio, ou mesmo de incapaz, como o filho do figurante, à distância, do contrato. Então, o banco há de fazer a
sua manifestação de vontade, por escrito, para que se saiba que aceitou a oferta do cliente, e re metê-la ou dar-
lhe outro destino que o cliente estabeleceu.
Não seria possível pensar-se em depósito, porque o banco não recebe os objetos para os guardar. Quem os
guarda é o cliente. Exige-se mesmo que o cliente os guarde pessoalmente, sem que possa haver representação.
A prestação é locaticia, e não depositária
Quanto a ser locação de imóvel ou locação de móvel a locação de cofres fortes, ou de caixas fortes, ou de
gavetas, a despeito de ser ligado ou embutido à parede o cofre, a caixa ou a gaveta, o que se loca é bem móvel,
porque, conforme a concepção que sustentamos, o que se loca é o espaço intenor, e não o exterior. Embora sem
esse fundamento, essa éa doutrina mais generalizada. Em conseqUência de se tratar de bem móvel, o banco não
pode invocar o ad. 776, II, do Código Civil (penhor legal).
As concepções que fogem à inclusão do contrato no contrato de locação foram postas de lado (cf. VAN
LEYNSEELEr Du Contrat de location de cúfi.re-tort, Revue Bancaire belge, 1925, 34 s.; GflJSEPPE
BONELLI, Suíla Natura giuridica dei Contratto di abbonamento alle cassette-forti di sicurezza, Legge,.
1908, 2225, pensou em que o correspectivo só seria devido pelos atos de custódia).
Argumentos quanto a locação ser de bem imóvel são, principalmente, o de estar incorporado ao imóvel o cofre
e o de ser imóvel o espaço interior. Mas ambos não merecem acolhida. O que se tomou em locação não foi
cofre embutido na parede, mas o espaço para nêle se porem bens móveis; e a gaveta e a caixa são pertenças. Se
o que alugou foi todo o espaço interior do cofre não foi o cofre que se alugou, foi o que ficou deixado pelo
cofre para ser enchido ou não enchido.
O prazo preclusivo para a ação do cliente por vício redibitório é o do art. 178, § 2.0, do ‘Código Civil, e não o
do art. 178. § 59, IV.
Após as considerações que fizemos, fácil é distinguir-se do contrato de caixa forte o contrato de locação de
cofre, em que alguém toma em locação o cofre de outrem, levando-o para a casa, ou para outro lugar, ou
ficando na própria casa do locador, que lhe permitiu entrar na casa ou na parte da casa e usá-lo.
O fato de ter o banco outra chave de modo nenhum influi para se dizer que êle tem posse imediata do espaço
interior (cp. MAnTo SARFATTI, Dei Contralto di abbonamento alie cassete di sicureza neile banche, 47 s.). A
chave, que fica com o banco, apenas é um dos meios de diligência do banco, para que outrem não possa abrir o
recipiente, e o próprio cliente seja registado ao entrar na parte do edifício onde está o cofre, a caixa ou a gaveta.
Quem dá em locação sala ou quarto ou es critério ou garagem e tem porteiro com a chave única não deixa, por
isso, de ter atribuido ao locatário a posse imediata, única, do espaço lixado. Composse somente há se dois ou
mais .são os locatários da garagem, ou se dois ou mais clientes são locatários do mesmo espaço interior do
cofre.
Quanto ao conteúdo, não se pode dizer de quem é a posse. Os objetos colocados no interior do cofre, da caixa
ou da gaveta podem ser cio propriedade e posse própria do cliente, e podem não no ser. Talvez o cliente
somente seja tenedor, como se achou a jóia e a pôs no cofre. Pode ser possuidor impróprio imediato, como se o
objeto é de alguma pessoa de quem é mandatário, ou se houve comodato. Mas tudo isso é estranho ao contrato
entre o banco e o cliente.
O banco tem posse mediata do espaço interior, quase sempre, por lhe pertencer o edifício, posse própria.
Nenhuma posse tem sobre o conteúdo, salvo se o cliente pôs lá dentro algum objeto do banco, de propósito ou
inadvertidamente (e. g., como se os objetos foram a caneta, ou o lápis, ou a chave, ou o papel que está sobre a
mesa).
4. CLÁUSULAS CONTRATUAIS. Contrato de caixa forte, ou de cofre forte, às vêzes apenas de gaveta, é o
contrato pelo qual o banco (ou outra empresa), mediante pagamento de soma convencionada, põe na posse
imediata, exclusiva, do cliente o interior da caixa blindada, com chave secreta ou outro modo de fechar secreto.
Na prática e no direito brasileiro, não se usa a caixa ou gaveta retirável pelo cliente e reenviável por êle. Por
outro lado, só em hotéis e navios aparecem os cofres de noite, night safe.
Os bancos quase sempre estabelecem prazos mínimos de contrato (trimestre, semestre, ano). Com o contrato e o
primeiro recibo de locação, o cliente recebe a chave e a carta de Legitimação, dita também carta de acesso, que
hão de ser restituidas ao termo do contrato.
O banco pode reservar-se o direito de verificar os objetos que vão ser colocados.
Não há cessão do direito do cliente, mas transmite-se aos seus herdeiros ou aos sucessores da empresa cliente.
1.EFICÁCIA. ~ O banco tem o dever de vigilância, para que não haja danos, provenientes do exterior da caixa
ou gaveta. Responde pela indenização desses, salvo se oriundos de caso fortuito. Se, devido ao conteúdo, o
dever do banco cresceu, em relação aos negócios jurídicos dos outros clientes, l)ode exigir maior retribuição
(retribuição suplementar).
O cliente tem o dever de pagar o que pelo contrato se reputou correspectivo.
Não se pode dizer, como fazem ENRICO COLAGROSSO e GLACOMO MOLLE (Diritto bancaria, 2? ed.,
383), que o cliente recebe a posse plena e exclusiva do cofre, ou da caixa, ou da gaveta. A posse que o cliente
recebe é a do interior do cofre, da caixa ou da gaveta, posse imediata, pois o banco se fêz possuidor mediato. O
buraco da fechadura está na posse imediata do cliente, a despeito de existirem duas chaves, se a porta só se abre
com a colaboração do banco e do cliente. Os consertos por fora são sempre permitidos ao banco. Não os da
fechadura e os das dobradiças. O cliente há de ser ouvido.
‘O cliente somente tem acesso no horário do banco. Não pode o regulamento restringir demasiado o tempo em
que aos clientes é dado abrir e preparar os cofres, caixas ou gavetas.
O banco tem de dar ao cliente o uso pacífico do interior do cofre, caixa ou gaveta.
O banco tem o dever de dar em locação espaço idóneo, isto é, promete à aptidão do local para os fins a que se
destina (= para o uso convencionado).
O dever de cuidar do local é dever oriundo da promessa implícita da prestabilidade do cofre, caixa ou gaveta.
Se o cliente pôs no interior locado objetos deterioráveis, ou que possam perecer com o decurso do tempo, não
há responsabilidade do banco. Aliter, se a deterioração ou a perda teve causa exterior ao objeto, como a de ser
insuficiente, ou de demasiado calor, ou frio. Se há danos resultantes do que o diante pôs no cofre, caixa ou
gaveta, responde êle pela indenização. Se são dois ou mais os clientes, a responsabilidade é do culpado, mas
enquanto não se prova de quem foi a culpa todos os locatários do cofre, da caixa, ou da gaveta respondem. Os
danos podem ser ao banco ou a terceiros.
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Se a caixa, a gaveta ou o cofre foi tomado por duas ou mais pessoas, cada uma delas pode abrir, com o banco,
salvo se exigida, pelos termos do contrato, a presença de duas ou mais.
O banco é responsável por qualquer abertura, perfuração ou arrebentamento do cofre, caixa, ou gaveta. Se
apareceu aberta, ou furada, deve o cliente imediatamente avisar o banco, para que se verifique o conteúdo,
sendo conveniente, por isso, que o cliente, antes, entregue ao banco a lista do que estava colocado no interior do
espaço alugado.
À morte do cliente tem o banco de comunicar a existência do contrato. Somente com mandado do juiz se pode
proceder à abertura do cofre, da caixa ou da gaveta, para que se proceda à arrecadação. Dá-se o mesmo em caso
de concurso de credores, qualquer que seja.
Se há perigo .de danos ao banco, ou, a fortiori, ao público, pode o banco pedir judicialmente a medida cautelar
de abertura do cofre, caixa ou gaveta e de busca e apreensão, ou de visto-na do conteúdo (Código de Processo
Civil, arts. 675, II, e 676, III e VI, 1.a parte). O art. 683 do Código de Processo Civil é invocável. A abertura
pode ser determinada pelo juiz, ouvida a parte, nos casos em que deva ser transportado para outro lugar o
conteúdo, ou pela expiração do prazo determinado para a retirada.
A penhora por terceiros pode ser feita conforme as regras jurídicas ordinárias, não se permitindo abrir o cofre, a
caixa ou gaveta, sem mandado do juiz (Código de Processo Civil, arts. 983 e parágrafo único e 234, ~or
analogia). Tem de haver antes o processo incidental de verificação (exibição do conteúdo, Código de Processo
Civil, arts. 216-222; exames periciais, arts. 254-258).
Não há direito de retenção pelo banco quanto ao conteúdo do cofre, da caixa, ou da gaveta.
Quaisquer deteriorações ou vícios do cofre por culpa do cliente, bem como a abertura por especialista, à escolha
do banco, como se o cliente perdeu a chave, ou se esqueceu do segrêdo, são por conta do cliente.
O banco tem o dever de ter livro de registro dos clientes, por ordem alfabética, com as indicações de identidade,
bem como dos cônjuges ou herdeiros, ou dos prováveis sucessores, e o livro de assinaturas, para os clientes que
penetrem na parte do edifício em que estão os cofres, ou em que está a caixa forte. As assinaturas são após a
indicação do domicílio, do dia, hora e minuto em que cada um entrou e do número do cofre, caixa ou gaveta.
No caso de roubo ou incêndio, é responsável o banco. A cláusula de irresponsabilidade do banco é nula. Tem
êle o ônus de provar que não faltou a tôda a diligência.
2.ABERTURA DO COFRE, CAIXA OU GAVETA. Se foi uma só pessoa quem alugou o espaço interior, só
essa pessoa tem acesso. Se duas ou mais, entende-se que qualquer delas, com a chave (a chave pode ser uma só,
ou cada pessoa ter uma chave), pode abrir o recipiente. De regra, pré-exclui-se a representação. Se foi implícita
ou explicitamente admitida, o terceiro tem de provar os seus poderes e a sua identidade.
Se o banco permite que alguém abra o recipiente sem poderes, ou sem a identidade, responde por todos os
danos.
A abertura forçada só se pode dar por mandado judicial, por ter expirado o prazo, ou por ter o cliente deixado
de pagar, ou por medida cautelar ou executiva. A penhora é conforme o art. 928 do Código de Processo Civil, e
não conforme o art. 937; isto é, é penhora de bens em posse do devedor, e não de terceiro. A posse imediata está
com o devedor, e não com o banco. Se o que lá está pertence ao cliente, é outra questão.
Se alguma penhora se faz no edifício tendo-se de considerar integrante do imóvel o cofre ou a caixa embutida, a
pessoa a quem fôr adjudicado o bem pode exercer denúncia cheia contra o contrato, prestando a indenização
que o banco teria de prestar, se o contrato foi registadó ou tem eficácia contra o terceiro, o que pode resultar
da invocação dos arta. 22 e 23 do Código Comercial. Cf. arts. 15, 16, 24 e 25.
Se o cofre ou a caixa não se embutiu no prédio, a penhora somente pode ser feita à parte do resto do patrimônio
a.
o banco se o edifício não pertence ao banco. Aliás, na liquidação coativa a continuidade dos serviços bancários
opõe-se a que se faça penhora em separado. No caso de despejo do banco, tem o locador do edifício de requerer
a intimação do cliente do cofre, ou da caixa, ou da gaveta, com o pré-aviso que teria de fazer o banco, salvo se
não são invocáveis ot arts. 22 ou 23 do Código Comercial, ou se não houve registro.
No caso de sucessão do banco, ou de fusão, o contrato há de ser respeitado.
Acima nos referimos à abertura forçada, feita judicialmente. Temos, porém, de considerar o caso difícil de
ocorrer, mas possível, de ter o cliente pôsto no cofre, ou na caixa, ou na gaveta, objeto de grande perigo
iminente, como bomba ou gás de grave danosidade, sem haver tempo para o banco pedir a medida judicial. O
caso é para se chamar, urgente-mente, a polícia, ou se o banco assume a responsabilidade e a polícia tarda ou
não pode chegar a tempo para a ação imediata do banco. Em tudo isso, o banco assume responsabilidade por
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CAPÍTULO VI
DESCONTO BANCÁRIO
1.CONCEITO. Descontar, de computare, é tirar algo da conta. Quem desconta, contraprestando, paga soma de
que se deduziu o que se exige para o emprêgo do capital. Diz-se também que o credor vai descontar o título, o
que daria duplo sentido a “descontar”; mas aí há elipse: o titular do direito de crédito vai obter do descontador
que lhe desconte o título. O desconto, isto é, o que se deduz, é o correspectivo da disposição antecipada da
soma. Os juros são compensativos, à semelhança do que ocorreria a quem, devedor, pagasse a dívida antes do
vencimento. O descontatário, como se há de chamar quem consegue o desconto, pelo recebimento da quantia,
de certo modo paga os interesses do tempo intercalar.
Pelo desconto esoomple, discount, lYskontogeschiiift, sconto o banco faz prévia dedução dos juros, ou dos
juros e outros interesses, que a lei permita, antecipa ao cliente a importância do crédito, ainda não vencido,
contra terceiro, ou terceiros, mediante a cessão do crédito, ou o endosso do titulo, ou a transferência da
propriedade e posse do título ao portador. Os juros ou mais interesses são concernentes ao tempo entre a data da
operação e o vencimento do crédito.
O crédito, que se desconta, pode ser qualquer crédito suscetível de transferência, inclusive os créditos
incorporados em títulos de crédito, como os warrants e as cédulas rurais hipotecárias, as cédulas rurais
pignoraticias e as cédulas norata mistas, os títulos cambiários e os cambiariformes.
O titulo de favor nada tem com o desconto. O favor é de quem assume a dívida; favorecido, quem figura como
titular. O titulo de favor (papier de cornplaiÉalu3e, accommodation bili, Gunstwechsel) presta-se ao desconto
como qualquer outro. Apenas o descontador se arrisca a ser oposta, contra êle, se má fé, a exceção do favor.
No caso de título cujo vinculado não existe, é o cedente ou vinculado pelo endosso que lança mão de tal
expediente para descontar o título e obter dinheiro, ou outro bem. Mas aí há falsidade por parte de quem criou a
aparência, praticando, com isso, ato criminal.
2.REDESCONTO. Quando o descontador obtém que outrem desconte o título descontado, diz-se que há
redesconto, porém juridicamente não há diferença entre o desconto e o redesconto. Muito se usa o redesconto
temporário, feito em empresa estrangeira, para que o titulo seja restituído contra a restituição do que se recebeu
(UGO CArRARA, La Ranca, 2a ed., 106). Bancos usam redescontar.
1.PRECISÕES. O desconto bancário pode ser de créditos oriundos de negócios jurídicos causais ou de
negócios jurídicos abstratos. Podem os créditos estar incorporados em títulos (títulos incorporantes), ou os
títulos ser títulos representativos. Nem todos os títulos de crédito incorporam, ou representam. Por vêzes, o
título é apenas pertença (documento) do crédito.
O chamado desconto bancário ordinário é desconto de título de crédito, que não é título cambiário, ou
cambiariforme, ou representativo, ou incorporante .
se opera se foram observadas as exigências para ela. Se o título é cambiário ou cambiariforme, a boa fé exerce
relevante papel. Por outro lado, o endosso vincula o endossante, que é obrigado a pagar se o subscritor ou o
aceitante não paga e os outros vinculados antenores não pagam.
Os bancos quase nunca se restringem ao negócio jurídico abstrato do endosso do titulo cambiário ou
cambiariforme. A escrituração ficaria dificultada, pela exigência de serem causais as operações. Daí os dois
negócios jurídicos, o do desconto e o do endosso. Aquêle, bilateral; esse, unilateral. Nas legislações em que se
concebeu regra jurídica segundo a qual o descontario , no caso de desconto de título cambiário ou
cambiariforme, além dos deveres oriundos do titulo, tem de restituir ao descontador a importância adiantada,
transforma-se em ius cogens ou em jus dispositivum o que seria apenas ins interpretativum. Quase sempre,
quem desconta título cambiário ou cambiariforme explícita ou implicitamente insere no contrato de desconto a
cláusula a bom êxito ou pro solvendo. Por isso, se falta regra jurídica cogente, ou dispositiva, correto é, em
caso de dúvida, que se tenha a cláusula a bom êxito como inserta.
O pendor dos juristas de alguns países para tratar o desconto bancário de título cambiário ou cambiariforme
como dotado de características especiais, resulta de terem sido as legislações desses países assaz tardas na
concepção do título cambiário ou cambiariforme como título abstrato. Nem se deve dizer que o desconto
bancário de título cambiário ou cambiariforme se distingue dos outros descontos bancários em ser diferente a
regulação da oponibilidade das exceções. Esse assunto só se prende à prestação do descontatário. O
descontatário prestou e o que se passa a propósito do crédito que êle transferiu só se há de entender como a
propósito do adimplemento por parte do descontatário. Nada tem com o desconto bancário em si. A diferença só
é oriunda da própria natureza da prestação do descontatário.
Quando o descontatário tem de pagar pelo que o terceiro não pagou, é em virtude do título cambiário ou
cambiariforme que êle está obnegado, e não porque o título foi descontado. Se o descontador tem ação contra o
descontatánio, por ter havido a cláusula salvo bom êxito, há duas ações: a ação que resulta da lei cambiária ou
cambiariforme e a ação oriunda do contrato de desconto. É o que mais acontece; porém, no sistema jurídico
brasileiro, a cláusula salvo bom êxito pode não estar no contrato de desconto, mesmo se o título é cambiário ou
cambiariforme. É raro, dir-se-á, mas pode acontecer. Daí a regra jurídica interpretativa.
Ocheque, especialmente se pagável no estrangeiro, pode ser descontado. ~ o desconto cite cheque. O que acima
dissemos a respeito dos títulos cambiários em geral é invocável quanto ao cheque. É preciso que haja a
apresentação para que à dívida. nasça a obrigação e pois se possa falar de inadimplemento. Por isso mesmo, ao
descontar-se o cheque, há a antecipação de encaixe e a detração dos interesses. Õ descontador tem açás contra
o subscritor, mesmo se o contrato de desconto não foi pro solvendo, mas pro soluto, o que, na dúvida, se há de
entender. Não há nenhuma conveniência, de inre condendo, em que se ponha, na legislação sobre desconto
bancário, referência às regras jurídicas especiais, como, a respeito dos títulos cambiários e do cheque, faz o
Código Civil italiano, art. 1.859. O desconto é outro negócio jurídico.
O desconto de títulos cambiários e cambiariformes nada. tem com o que se passa entre os vinculados cambiária
ou cambiariformemente, porque os negócios jurídicos unilaterais que se inscrevem nos títulos nada têm, por sua
abstração, com o que se passou entre descontador e descontatário. Os atos. que o descontador pode praticar, por
ser endossatário, são atos para os quais está legitimado como outorgado do título. Como pode êle, por sua vez,
endossar o título e haver, ou náe, sucessivos endossos, assume êle vinculações cambiárias ou cambiariformes,
que nada têm com o contrato de desconto. Os endossatários posteriores podem incorrer em atrasos de protestos
que determinem preclusão de ações cambiárias ou cambiariformes, o que pode aproveitar ao descontatário e ao
próprio descontador, porém que nada tem com o contrato de desconto.
Se se extinguiu a ação cambiária ou cambiariforme de descontador (como endossatário) contra o descontatário
(come endossante), porque o terceiro não p~ou e faltou o proteste para que não se extinguisse a ação contra o
endossante, resta ao descontador a ação causal contra o descontatário. O terceiro não pagou; tem de pagar o
descontatário, em virtude do desconto, negócio jurídico subjacente, ou justajacente, raramente sobrejacente. O
descontatário, mesmo se o crédito é oriunda de título cambiário ou cambiariforme, restitui em virtude de>
contrato de desconto. A subsidiaxiedade da dívida do descontatário deriva de que êle prometeu transferência
pro solvendo e existe mesmo se não há a subsidiariedade de origem cartular (sem razão, ANDREA ARENA, Lo
Sconto delia carta commerciate, 23). Considere-se, porém, à parte, o caso do cheque.
Na circulação dos títulos cambiários e cambiariformes, a legitimação do endossatário, que é portador, resulta da
concatenação dos endossos. Nos casos de obtenção do direito por boa fé, quer a respeito de títulos ao portador,
quer de outros bens, a doutrina mostrou perplexidade: se alguns juristas f alavam da espécie de aquisição
derivatiVa (ICONRAD HELLWIO, Wesen und sub jektive Begrenzung der Rechtskraft, 98 5.; idem,
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II.DERNBURG, On’o VON GIERKE, CAiRL CROME), outros sustentavam ser originária a aquisição (e. g.,
ROMEICK, Vortrãge, 132) e outros, ainda, de originária aquisição em vestimenta derivativa (?i), como L.
KUHLENBECK (Von den Pandekten z.B.G. B., 1, 311; II, 523), ou de quase-originária aquisição, (cf. A.
MENDELSSOHN-BARTHOLDY, Crenzeu der Rechtskraft, 331; OTTO WENDT, Erwerb von einem
Nichtberechtigten, Archiv flir die civilistische Praxis, 89, 18 sj. Razão tinha CLAUDIUS FREIRERE VON
SCHWERIN (tiber deu Begriff der Rechtsnachfolge, 30) em exprobrar a contradição que há em se falar de
aquisição originária e ao mesmo tempo derivativa (tertium nou datur. Não se transfere o que não se tem:
Nemo plus iuris transf erre potest qiujim. ipse habet (L. 54, D., de diversis regulis inris antiqui, 50, 17).
A duplicata mercantil é título cambiariforme; e abstratiza-se, como dissemos (Tomo XXXVI, *§ 4.017-4.019).
lima vez que não foi descontada com a entrega de documentos, o banco apenas tem de aguardar o aceite, ou o
pagamento. O que incumbe ao banco, no tocante aos documentos, é dever oriundo do elemento negocial,
extracambiariforme, que result.ou de ser qualificado, na espécie, o desconto bancário. Se houve aceite, ou se o
sacado quer aceitar, ou se quer pagar, e o banco não entrega os documentos, põe o vendedor na situação de
inadimplente do contrato de compra-e-venda e o comprador pode ir contra o vendedor com ação de indenização
ou de resilição do contrato e de indenização. O banco deixou de cumprir dever (sem razão, VrTToiuo
ANGELONI, Lo Seonto,. 214 s., entendia que, aí, o banco apenas deixou de fazer o que era do seu interesse).
No direito brasileiro, com a duplicata mercantil, título abstratizável (Tomo Xxxvi, §§ 4.017-4.019), os
descontos cambiários e os documentários entram numa só classe, que é a dos descontos dos títulos que
correspondem a negócios jurídicos abstratos ou abstratizados (cambiários e cambiariformes) Portanto, se há
duplicata mercantil, nenhuma diferença há entre desconto bancário de título cambiário e o chamado desconto
-w
documentário.
O descontatário não transfere a propriedade do bem, porque não mais a tem, ou não transfere a propriedade nem
a posse, se essa já foi transferida ao comprador. Se se trata de duplicata mercantil, ou de outro título
cambiariforme, nenhuma diferença há entre esse desconto e o desconto bancário de título cambiário, dito
desconto cambiário.
O elemento a mais do desconto documentário, em relação ao desconto de títulos cambiários, está em que há
outorga de poder ao descontador para que pratique todos os atos concernentes à posse dos documentos e aos
direitos que dela resultem e para que os entregue ao comprador. Ésse poder não é o de mandatário, como do
ordinário se afirma (e. g., ANDREA ARENA, Lo Sconto documentale, Banca, Borsa e Titoli di credito, 1950,
1, 807).
O desconto documentário com a cláusula dei credere põe o descontador na situação de responder pela
insolvência do devedor-comprador, razão por que cobra o prêmio que a esse risco corresponde. No comércio
internacional, a cláusula é freqUente e utilíssima, porque nem sempre o vendedor conhece ou está a par da
situação do comprador. Às vêzes, em vez da cláusula, saca-se contra o comprador e contra o banco que
desconta (VITO PERNA, L’Intervento bancario suíle operazioni in merci, 214; II. TERREL e II. LEJEUNE,
Traité des Opérations commerciales de banque, 455).
do descontador, é garantia (e. g., PASQUALE D’ANGELO, Trattato di Tecuica bancaria, g•a ed., 139). Ora, o
desconto, negócio jurídico à parte, supõe a transferência, a contraprestação do descontador é correspectiva à
prestação do descontatário. Portanto, se os credores do descontatário não mais podem ir contra o descontador,
para medidas de constrição do crédito, é porque o crédito não mais é do descontatârio, e não por haver garantia
ao descontador. Se o endosso tivesse sido em garantia (Tomos XX, §§ 2.498, 2.584; XXI, § 2.607, 1; XXXIV, §
8.890; XXXV, § 3.970, 1; XXXVI, § 4.053, 8),
e. g., endosso-penhor, o negócio jurídico unilateral do endosso do título não alteraria o conteúdo do negócio
jurídico bilateral do desconto bancário, que teria as conseqUências de haver ficado o descontatário a dever a
transferência do crédito, razão por que responde pelo inadimplemento. Os figurantes podem ter interesse em
que se retarde a transmissão da titularidade do crédito e haja a simples transmissão da posse imprópria de
endossatário pignoratício.
2.TEORIAS. Tem-se discutido a natureza do desconto bancário. As teorias principais são: a) a teoria do
desconta bancário compra-e-venda, segundo a qual o descontador seria comprador, o descontatário seria
vendedor pela soma, descontado o preço da compra (GUSTAVO MINERVINI, Lo .Sconto bancano, 95 s.) ; b) a
teoria do desconto bancário mútuo (cf. CruSEPPE DONADIO, Lo Sconto, 16; ENRICO COLLAGROSSo-
CIACOMO MOLLE, Dinitto bancario, 346) ; c) a teoria da cessão de crédito.
O Código Comercial, no art. 255, refere-se aos descontos de títulos cambiários e aos descontos de quaisquer
títulos negociáveis: “Os descontos de letras de câmbio ou da terra, e de quaisquer títulos de crédito negociáveis
regulam-se pelas convenções das partes”. DÍDIMO AGAPITO DA VEIGA <O Amigo e Conselheiro dos
Comerciantes, 228) advertia, em 1878, que não se trata de mútuo, mas de “outra espécie de convenção”, e
frisou haver risco. Parecia-lhe haver compra-e-venda, razão por que reputava invocáveis as regras jurídicas de
tal contrato. Como, ainda hoje, a JOAQUIN GARRIGUES (Curso de lijerech.o mercantil, II, 1, 553).
Não se pode dizer que o desconto seja apenas cessão de crédito, como pretendeu JosEnI HAMEL (Banques et
Opérations de crédit, II, n. 1.087 s.). A transferência do crédito, digamos mais amplamente, é objeto do
adimplemento pelo descontatário. Contra tal redução do contrato de desconto à cessão de crédito, J. GI-IYSEN
(Le Chê que, 318).
Uma das vantagens práticas de se classificar, rigorosa-mente, o contrato de desconto, diz-se, é a de se saber se
há usura na taxa alta de desconto; mas, salvo cláusula pro soluto, pode haver usura. Com a cláusula pro soluto,
há álea, que atinge o descontador.
No Corpus luris secundum (IX, 797), fala-se de discount como de qualquer negócio jurídico bilateral em que se
faz crédito a título por preço inferior a seu valor nominal.
FreqUentemente se diz que os dois elementos essenciais do contrato de desconto são a antecipação, com
detração de interesses, que se faz ao descontatário, do que tem a receber do terceiro, e a transferência do
crédito, que é a prestação ao descontador. Na antecipação aponta-se gôzo do capital e, pois, empréstimo, como
há em qualquer adiantamento.
O desconto bancário não é compra-e-venda, porque, na compra-e-venda, não se deduzem interesses. Boa
compra não é compra por preço menos juros e despesas. Não é mútuo, porque o mutuário deve, e é obrigado a
restituir; o descontatário, somente se há a cláusula salvo bom êxito, é devedor subsidiário. O mutuário restitui
bem da mesma espécie e qualidade daquela que êle recebeu; o descontatário, que prestou o crédito contra o
terceiro, adimple, subsidiàriamente, com bem diferente, que é o dinheiro ou outro bem com que o terceiro
interessado tinha de adimplir a sua dívida.
Tão-pouco se pode considerar o desconto bancário pagamento de divida de outrem. O pagamento pelo terceiro
interessado ou pelo terceiro não interessado é pagamento em lugar do devedor principal. O descontador
contrapresta em nome próprio e por conta própria: não paga a dívida de outrem; contrapresta, porque prometeu,
quase sempre à vista; não solve a dívida de quem devia e, com o desconto, continuou de dever ao descontatário.
De modo nenhum se pode dizer que a soma que o descontador antecipa ao descontatário seja o correspectivo do
crédito transferido, porque para o descontador a cessão ou outra transferência de crédito é pelo valor nominal
menos interesses e despesas, com particularidades que assaz tipificam o negócio jurídico.
1-lá contrato de oferta de alienar no desconto, mas contrato com características próprias. Uma delas é ser,
sempre, inferior ao valor nominal a contraprestação do descontador.
Não se confunde, sequer, com a compra-e-venda de títulos. Por outro lado, o descontatário presta e o
descontador contra-presta, o que não ocorre no mútuo: no mútuo, o mutuário não presta; toma de empréstimo e
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promete pagar.
Não se deve considerar a transferência como cessão em garantia, porque se estaria a transformar o desconto em
penhor de crédito. Ora, a despeito da obrigação subsidiária do descontatário, o crédito é transferido
definitivamente ao descontador.
Não ocorre isso se apenas houve cessão em garantia, ou se houve penhor. Com o penhor, só se transfere a posse
imediata das pertenças (documentos) ou do titulo. Não há, no desconto, transferência fiduciária da titularidade
do crédito, nem penhor do crédito. O descontador pode transferir a outrem (redescontar) o crédito que foi objeto
do contrato de desconto, o que não poderia fazer o fiduciário, nem o titular do direito de penhor. Transferência
pro solvendo é transferência, não é transferência em fidúcia, nem constituIção de penhor. A eventual dívida do
descontarário, a obrigação subsidiária, pode não existir por se haver inserto a cláusula pro soluto, e não deixa de
ser de desconto o contrato que se conclui.
O descontador inverte o capital e deduz do valor do crédito o que corresponde à antecipação; porém não é
mutuante. O que há de comum entre o mútuo e o desconto é o elemento de investimento com interesses, mas o
elemento de investimento aparece em muitos outros contratos, inclusive o de compra-e-venda. O que se deduz é
correspondente ao tempo em que se espera o reembôlso, mas o reembôlso no desconto é feito pelo devedor do
crédito descontado ou precipuamente por êle, o que não ocorre no mútuo.
Se, enquanto não se vence o crédito, esse se extingue, há a resolução do contrato de desconto e o descontatário
tem de restituir imediatamente o que recebeu do descontador. No mútuo não se daria isso.
Tem-se deixado de aprofundar o exame do conteúdo do negócio jurídico bilateral de desconto bancário, de
modo que não se tem prentenção a que, embora seja mais freqUente a simultaneidade da prestação e da
contraprestação, tal simultaneidade pede não existir e não é essencial, sequer, a entrega do título de crédito no
momento da entrega do dinheiro. Não se trata, portanto, de contrato real. O descontador promete a quantia, com
a dedução acordada, e o descontatário promete a transferência do crédito. Se o banco já assinou o contrato de
desconto e se o cliente já o assinou, concluído está. Se o banco deixa de entregar a quantia, ou se o
descontatário não faz a transferência, há inadimplemento.
A redução do desconto bancário ao mútuo é forçada. Salvo cláusula especial, a cláusula a bom êxito, de que
falamos, o descontatário, à diferença do mutuário, não tem de restituir o que recebeu mais os interesses (o
quanto devido pelo terceiro). Mesmo se houve a cláusula, a sua obrigação é subsidiária, o que não se
compreenderia no mútuo. O desconto bancário é, portanto, negócio jurídico típico de financiamento. Dai a
necessidade de ser regulado em lei como figura à parte.
4.VALUTA AO VENCIMENTO. Também se tem considerado desconto a operação pela qual o descontador,
em vez de fazer a tradição do valor devido menos os interesses, credita ao descontatario a importância nominal
em conta não disponível, para que, ao vencer-se a divida, se lance na conta disponível. A deformação é grande;
e mais convém chamar-se a tal operação o que se lhe chama na técnica bancária: vai uta ao vencimento. Não há,
porém, sem escrituração, pois, se não se deu garantia, ou se não houve endosso, ou cessão com a cláusula de
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5.“DESCONTO FINANCEIRO”. O desconto bancário pode ser posterior ao título de crédito (às vêzes,
cambiário ou cambiariforme), de modo que se sabe que se há de concluir a cessão de crédito, ou o endosso, ou
outro negócio jurídico de transferência. Pode ser anterior, de jeito que se promete o título de crédito ou o ato de
transmissão. Então, o descontatário cria o título de crédito, para obter a contraprestação. Tem-se chamado a essa
última espécie desconto financeiro, mas a distinção é sem grande relevância, pôsto que, ali, o descontatário seja
titular de crédito contra terceiro, e, aqui, não, ou ainda não. No desconto financeiro, o descontatário recebe o
quanto nominal menos o desconto, e faz o titulo no qual não há referência ao negócio jurídico subjacente. Em
qualquer das espécies, o desconto é outro negócio jurídico, causal, que não atinge o negócio jurídico
possivelmente abstrato que se concluiu. O descontatário, de qualquer maneira, com o título de crédito adimple
c que lhe cumpria em virtude do negócio jurídico do desconto.
7. BILATERALIDADE. Para o descontador, o desconto é meio de inverter capital a curto prazo; para o
descontatário, meio de obter antecipação de recebimento. O custo dessa antecipação é proporcional ao tempo
que falta para o vencimento do titulo. Por isso, o descontador contrapresta menos do que o crédito nominal. No
Código Civil italiano, art. 1.858, diz-se que o banco antecipa o importe do crédito contra terceiros ainda não
vencido, mediante a cessão (“Lo sconto é ii contratto col quale la banca, previa deduzione dell’interesse,
anticipa aí cliente l’importo di un credito verzo terzi non ancora scaduto, mediante la cessione, salvo buon fine,
dei credito stesso”). Lá, em vez de “mediante”, devia estar “contra”, e tem razão a crítica de FRANCESCO
MESSINEO (La Natura giuridica dei Contratto di sconto, Banca, Bona e Titoli di credito, 1943, 1, 23) e de
GIUSEPPE DONADIO (Lo Sconto, 8).
9. DESCONTO, ATO . O descontador pode ter descontado o crédito por obrigação; isto é, pode a pessoa, quase
sempre banco, ter vínculação a descontar. O desconto é feito, em tal caso, como ato devido. 1 o que se passa,
por exemplo, se entre os dois interessados existe relação jurídica decorrente de contrato de abertura de crédito.
Se assim Ocorre, o descontador não pode recusar-se a descontar se não há justa causa. Justa causa é qualquer
deficiência de que resulte nulidade ou anulação, ou ineficácia (e. g.’ está prescrita a dívida). A fortiori, se não
existe o crédito. Se o descontador não tinha justa causa para se recusar a descontar, é inadimplente, em relação
ao contrato que existia.
Não se confunda o contrato consensual de desconto com o pré-contrato de desconto. No pré-contrato de
desconto, o promitente-descontador vincula-se a fazer contrato de desconto, ou contratos de desconto, a
respeito de créditos que se mencionem, como se o banco promete descontar os títulos de crédito do construtor
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contra os compradores de apartamentos. Não se trata, aí, de contrato de abertura de crédito, pôsto que dêle
possa derivar dever de descontos.
Quando o contrato de desconto está concluído, a despeito de não se haver feito a antecipação, nem de se ter
cedido
o crédito, ou endossado o título, ou entregue o título ao portador, não mais se precisa de fazer o desconto: o
desconto já está feito; o que falta é o adimplemento pelo descontador e pelo descontatário. Ora, no pré-contrato
de desconto, faltaria o contrato de desconto. Se, por exemplo, o titular do crédito caiu em insolvência, o
promitente descontador pode recusar-se a concluir o contrato de desconto, ao passo que, se tivesse havido o
contrato de desconto, não ficaria ao descontador mais do que a excecão do art. 1.092, 2.~ alínea, do Código
Civil, exceção que também teria o descontatário se insolvente fôsse o descontador.
O título do desconto é chamado nota de desconto. Pode ocorrer, todavia, que o desconto seja por manifestações
orais de vontade
(desconto oral, dito desconto verbal). A oferta, ordináriamente feita pelo descontatário, é revogável enquanto o
descontador não aceita. Se, excepcionalmente, foi feita pelo descontador, dá-se o mesmo. Se o título ou
documento foi entregue ao banco antes de ser concluído o contrato de desconto bancário, o que se justifica pela
necessidade de prévio exame, o descontador pode recusar-se à restituIção, se aceita: a sua recusa de restituir é
aceitação da oferta. A oferta pode ser feita com a dúvida de irrevogabilidade dentro do prazo, e tal cláusula
pode resultar de uso bancário da praça.
Se o descontatârio se recusa a fazer a cessão do crédito, ou o endosso, ou outro modo de transferência, há
inadimplemento. Se o descontador lança o crédito do descontatário, adimple a sua dívida.
As punctações e conversações para o desconto não têm entrada no mundo jurídico, mas é possível que ocorra
responsabilidade pela culpa in contrahendo (Tomo XXX VIII, §§ 4.219, 3, 4.242 e 4.248).
2. TÉCNICA DA CONCLUSÃO. De ordinário, quem faz a oferta é o descontatário. Vai ao banco, e mostra o
titulo, ou o contrato, para que o banco responda se vai fazer, ou se faz o contrato de desconto (aceita a oferta),
ou se não o faz. A resposta pode não ser decisiva, como se o banco pede informações, ou responde que ainda se
vai informar sobre o terceiro. A resposta decisiva pode ser telegráfica ou telefônica, conforme as exigências do
uso; mas, quase sempre, é com a nota de desconto, com as indicações da soma que se vai entregar, ou que se
entrega, ou acompanhada do recibo de depósito.
Salvo vinculação, como a derivada de contrato de abertura de crédito, o descontador não estava adstrito a
descontar.
A aceitação é manifestação receptícia de vontade. Pode haver a invocabilidade do art. 1.086 do Código CiviL
como pode haver, se os pressupostos são satisfeitos, a própria aceitação pelo silêncio.
Se o oferente já entregou o título com a cessão, ou com o endosso, a posse imprópria pelo que há de descontá-
lo torna-se posse própria no momento mesmo em que assina a nota de desconto, ou o recibo de depósito, ou por
outro qualquer modo, expresso ou tácito, aceita a oferta. Com a aquisição da posse própria do documento
(pertença) ou do título circulável, o descontador faz-se
Se ainda não: houve aceitação e não corre prazo de irrevogabilidade, o pedido de restituição dos documentos ou
do titulo é revogação da oferta.
O ato afirmativo do banco relativo à idoneidade do cliente não importa aceitação, porque essa supõe o exame
dos dados objetivos, e não só dos dados subjetivos. Pode ocorrer que os dados objetivos sejam favoráveis, e não
os subjetivos, ou algum dêles. Uma das verificações de requisitos objetivos é da descontabilidade do crédito, o
que é menos do que a bancariedade. Donde dizer-se, na linguagem bancária internacional, que o crédito ou o
papel é bancável (papier bancable), se satisfaz todos os requisitos subjetivos e objetivos, ou descontável, se
satisfaz os requisitos objetivos.
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O desconto supõe a soma (= valor nominal do crédito), a data do vencimento (que é a data do vencimento do
crédito transferendo) e a taxa, que é o que se deduz, se desconta, da soma. O cálculo é como o dos mútuos,
porém a antecipação é uma e não convém que se repute “acessório” o que se deduz. O que o descontatário
presta é o crédito, tal como se acha no momento do desconto; o que o descontador contrapresta é o que éle
antecipa (soma menos interesse). Na nota de desconto convém que se mencionem a soma, o lugar do
pagamento, o vencimento, o tempo, a taxa, o cálculo dos interesses (= do que se deduz), os documentos
entregues ao descontador ou que têm de ser-lhe entregues.
Quando o banco desconta títul comercial, a que não corresponde a mercadoria que se menciona, diz-se que se
trata de carta de cômodo. Entende-se que se renovou a exigibilidade, a qualquer momento, da antecipação
contraprestada, ou a regularização do título.
1. PRECISÕES. Antes da conclusão do contrato de desconto bancário, o que se passa não é pré-contrato, nem
abertura de crédito. Concluído, do contrato de desconto bancário, contrato bilateral, irradiam-se o dever de
transferência do crédito e o de antecipação. Além do dever de contraprestar o montante convencionado, tem o
descontador o ônus <não dever) de cuidar, no vencimento, de que o devedor solva a dívida. Se o
não fêz, sofre as conseqUências. Se o caso é de protesto, para que não precluam as ações de regresso, tem o
descontador o ônus de protestar.
O descontatário pode ficar sujeito, conforme cláusula do contrato, a pagar juros maiores se o devedor não solve
no vencimento (juros moratórios convencionais, ditos supostos).
Se há substituição dos títulos cambiários ou cambiariformes, o que se há de entender é que se prorrogou o
contrato de desconto até a nova data. (Evite-se o êrro de se falar, a propósito do título cambiário ou
cambiariforme, em prorrogação, ou renovação, ou novação. O nôvo título é outro título, a promessa é outra,
outra a eficácia. A substituIção de modo nenhum prende o nôvo título ao antigo, pôsto que se possa tirar da
•subscrição e emissão do nôvo titulo conseqUências como a de ratificação do título anterior e a de interpretação
de algum dizer ou de alguns dizeres.)
O ônus do descontador, quanto à exigência do pagamento pelo devedor, ou pelos devedores, conforme o débito,
é só o de interpelar, apresentar e protestar, ou outros atos, conforme a espécie do crédito ou do título; não é de
executar. Se o terceiro não pagou, a despeito da diligência do descontador, pode o descontador exigir do
descontatário aquilo que o terceiro não prestou. Em todo o caso, o descontador pode preferir executar, desde
logo, o terceiro, e as despesas, que faça, correm por conta do descontatário ciente. Se havia necessidade de
protesto, por existirem, por exemplo, endossantes e avalistas entre o terceiro e o descontatário, não pode deixar
de pô-los em mora o descontador. Se o descontatário paga, substitui-se ao descontador na ação que esse propôs.
(Mais uma vez se põe assaz evidente que o descontatário não garante: é devedor subsidiário, e nao garante.)
O descontador tem de proceder de modo que não perca o descontatário qualquer direito, pretensão, ou ação, ou
exceção, contra o terceiro, que se irradie do crédito. Se o descontatário adimple, em vez do terceiro, tem o
descontador de restituir o crédito tal como o recebeu.
O descontatário recebe do descontador x tu, isto é, o importe do crédito menos a taxa dos interesses
multiplicada pelo tempo (t). O que êle tem de restituir, à data do vencimento, se o terceiro não ;paga, é todo o
crédito, porque o t.q foi o custo da utilidade do que o descontador desembolsou. A soma antecipada foi gozada
pelo descontatârio durante t, e y foi o que se convencionou por unidade de tempo. Desde o momento em que o
descontatârio tem de prestar, porque o terceiro não pagou, há juros legais da mora, se não foram fixados
diferentemente.
Para o descontador, quando o terceiro paga, paga a dívida do descontatârio, muito embora, se o título foi
endossado ou se o crédito foi cedido com tôda a eficácia para o terceiro, o pagamento, para o terceiro, seja
pagamento ao endossatário, seja pagamento ao cessionário.
não foram transferidas ao terceiro, o descontatário recebe as duas e transfere-as ao terceiro, se esse atender ao
que se lhe há de exigir. Nos casos em que a posse própria e a propriedade já foram remetidas ao terceiro, os
documentos são de transferência do crédito e da posse imprópria, com direito de retenção, por parte do
descontador. Não basta o endosso-procuração porque o descontador não receberia a titularidade do crédito.
Nem o poderia ceder ou retransferir, nem empenhar. O endósso em branco basta.
Se a transferência da posse e da propriedade não resulta da tradição ou do endosso do título, tem-se de verificar
como se há de transferir o crédito, sem se deixar de atender aos termos do contrato de desconto.
Com a transferência dos títulos ao terceiro, o descontador transfere-lhe a posse e a propriedade, ou a posse que
até então êle tinha.
No direito brasileiro, o ato do terceiro que opõe ao descontador objeções e exceções só oponíveis ao
d4escontatário há ser considerado, quanto ao descontador, como inadimplemento, salvo se esse estava de má fé.
Quase sempre acompanha os documentos da operação entre o descontatârio e o terceiro o documento de seguro,
a apólice de seguro, porquanto há quase sempre a cláusula cif. Outro documento frequente é o certificado de
qualidade, ou de procedência, ou de análise, ou de vacina ou imunização (animais ou plantas). Há também os
documentos consulares, os alfandegários e os de permissão de exportação ou de importação. Os documentos
são de interesse do descontador, no que e enquanto êles são necessários à eficácia da operação entre o
descontatário e o terceiro e como objeto do seu dever de cuidar da entrega ao terceiro. O que importa é que a
esse não se dê razão para recusar o pagamento ou a aceitação dos documentos. Daí a pretensão do descontador
a exigir do descontatário todos os documentos que sejam necessários, com a observância de todas as exigências
legais e negociais.
No desconto documentário, o descontador, em vez de apenas ter o ônus de determinada atividade (e. g.,
apresentar o título para aceite, ou protestar), tem o dever de determinadas atividades. Nos outros descontos, se o
descontador deixa de praticar os atos de que tinha o ônus ,, como o de apresentar o título cambiário ou a
duplicata mercantil ao sacado, não pode ir contra o descontatário se o terceiro não paga. No desconto
documentário, se o descontador deixa de praticar os atos a que está adstrito, infringe dever: o descontatârio
ficou exposto a que o terceiro venha contra êle com a ação de resolução do contrato de desconto, O descontador
tinha de entregar os documentos ao terceiro, e não no fêz. Responde êle ao descontatário por perdas e danos; e
perde a ação contra o descontatário.
Se a mercadoria não chegou ao destino quando era de esperar-se, ou ao tempo do vencimento do crédito, deve o
descontador informar imediatamente o descontatário e o terceiro. Se a mercadoria chegou antes da data em que
se poderia entregar ao terceiro, as despesas de depósito são por conta do descontatário, salvo se o terceiro
prefere antecipar o pagamento para receber a mercadoria.
Com a entrega satisfatória dos documentos, extingue-se o dever do descontador e qualquer ação do terceiro é
contra o descontatário, e não contra o descontador. Mesmo se o crédito era cambiário e sobrevém resolução cu
outra desconstituíção do negócio jurídico entre o descontatário e o terceiro, qualquer ação de enriquecimento
injustificado é contra o descontatário, e não contra o descontador.
Se o terceiro recusa o pagamento, as mercadorias têm de ser vendidas se o descontatário, intimado, não prefere
pagar e recebê-las. O pedido de venda em hasta pública é feito ao juiz. Feita a venda, o descontatário tem de
prestar o que falta para o pagamento e as despesas e juros. Vale a cláusula que dispense a venda judicial
(ADRIANO FlORENTINO, Deposito, Conto corrente, Contratti bancari, Commentario dei Codice Civíte, Libro
IV, 570; sem razão, Lurni LORDI, Istituzioni di Diritto Commerciale, II, 458).
O chamado desconto do recibo de penhor ou da nota de penhor é desconto do crédito que o penhor garante.
Transferem-se a titularidade do crédito e á do direito real limitado. O recibo de penhor não é título cambiário
nem cambiariforme. Há cessão do direito, e não endosso do recibo ou da nota.
Se foi aberto crédito pura desconto, o descontador vai descontando os créditos contra terceiros e lançando os
créditos de antecipação na conta corrente do descontatário, ou fazendo pagamentos de que está incumbido.
8. AÇÕES. Quem desconta título que ainda não tem aceite, acarreta com o ônus de apresentação para aceite.
A recusa do aceite permite que o descontador vá contra o descontatário, ou com a ação cambiária ou
cambiariforme, ou com a ação causal do desconto. Aquela é de regresso; essa, não , recusa do aceite em parte
dá as duas ações. Se ao descontador precluiu a ação de regresso contra algum vinculado, de modo que o
descontatário não a possa exercer, preclui também a ação causal contra o descontatário. Essa subsiste se a acao
preclusa não poderia ser exercida pelo descontatário.
O descontador tem, salvo cláusula em contrário, nas espécies do art. 37 da Lei n. 2.044, de 31 de dezembro de
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mercadorias (cf. Anticipazione bancaria, Novissi mo Digesto Italiano, 1, 1, 652 s.; no mesmo sentido,
GIUSEPPR VALEItI, Manuale di finIto Commerciale, II, 129; GIUSEPPE BRANCA, Istituzioni di finIto
pnivato, 529). Ora, no adiantamente bancário, a relação quantitativa, proporcional, entre o valor do que se
presta em garantia e o que se presta como antecipação, há de permanecer igual durante todo o tempo do
contrato (KÂRL GAREIS, Das deutsch,c Handelsrecht, 2~a ed., 453 5.; HERMANN HEROLD, Rank- und
Bàrsenrech,t, 33). Se a soma é prestada desde logo, ou creditada pelo banco, não importa: o ato de creditamento
é outro ato, que pode ser incluso em alguma das figuras jurídicas freqúentes das operações bancárias.
Quando se atribui ao adiantamento bancário a natureza de mútuo, se a soma é prestada imediatamente ou
concomitantemente, ou de abertura de crédito, ou em conta corrente, se apenas se põe à disposição do cliente,
atribui-se à diferença temporal da tradição simples relevância, que ela não tem.
Reduzir o adiantamento bancário a mútuo com penhor seria desfigurá-lo. Idem, quanto à abertura de crédito,
porque o adiantamento não abre crédito: a respeito dêle, a prestação do banco é como a do mútuo, mas
comercializados a dação da soma antecipada e o gravame. Surge o problema de se saber se com o adiantamento
é incompatível a cláusula de conta corrente, o que MICHELE SPINELLI (Contributo alio studio
dell’anticipazione bancaria, Banca, Rorsa e Titoli di credito, 1, 212) afirmaria. Primeiramente, admitamos que
se antecipa sempre que se não presta totalmente o que seria o valor da operação e, se a antecipação é do
percentual b, nada obsta a que partes. de b sejam entregues em momentos sucessivos. A cláusula de conta
corrente não passaria de cláusula, inserta no contrato de adiantamento bancario.
À prestação do cliente corresponde a do banco, qualquer que seja o momento da entrega; quanto à do banco, se
é postenor, tal posterioridade é só aparente, porque a soma já estava à disposição do cliente. Como fica à
disposição, é questão que só se resolve conforme outro acôrdo entre os figurantes do contrato de adiantamento
bancário. Aquêles que falam de adiantamento simples e de adiantamento em conta corrente (e. g., SARACENO,
Le Operazioni bancarie, 140 5.; A. RENZI, Tecnica bancaria, 6Y ed., 154 s.), adjetivam o adiantamento
bancário como se êle mudasse de espécie se imediata (ou concomitante) ou posterior a prestação. A soma passa
a ser do cliente desde que se conclui o contrato de adiantamento bancário, qualquer que seja.
Aquêles que dizem que a operação bancária do adiantamento pede ser mútuo, ou abertura de crédito simples ou
abertura de crédito em conta corrente, transmutam em elemento principal o elemento acessório e eventual. O
que surge, necessàriamente, da vinculação bancária é o direito à soma: quando se há de fazer a entrega da posse
imediata é outro assunto, que depende da conveniência do cliente. No adiantamento bancário, quem recebe a
soma (quem adquiriu o direito à soma com posse imediata) pode restituir parte da soma, ou tôda ela, porém a
restituição não extingue a relação jurídica, e dá direito ao cliente a exigir que, correspondentemente, se lhe
desgrave o bem ou se lhe desgravem os bens.
O contrato de adiantamento bancário tem de dizer qual a diminuição de valor dos bens entregues para que nasça
ao cliente o dever de integração. N~ há, no direito brasileiro, regra jurídica que fixe o máximo para a
diminuição que se permite, sem dever do cliente quanto a integrar o valor. Tem-se, pois, de entender que a
diminuIção máxima há de ser a que se reputa razoável para a relação jurídica, se não se previu do complemento
objetivo.
Os bens com que se concluem contratos de adiantamento bancário são bens de mercado amplo (cf. PASQUALE
D’ANGELO-MAZZANTINI, Tratíato di Tecnico, Bancaria, 7a ed, 586). Porém, no sistema jurídico brasileiro,
basta a mercantilidade do objeto (mercadorias, títulos e qualquer valor destinado ao mercado).
Se comparamos com o depósito em conta corrente, a vinculação bancária logo se distingue com ser cada
entrada, no depósito em conta corrente, imediatamente transferida, a título de propriedade, ao banco, que assim
lhe adquire a livre disponibilidade. Se a comparamos com o reporte, a diferença ressalta evidente quando se
atende a que o reportador adquire, desde logo, a propriedade. Diante do desconto, na vinculação bancária a
antecipação é, conceptual e temporalmente, primária,e não posterior ao crédito que se vai receber, ou ao bem
que o cliente adquire. Do mútuo, contrato real, distingue-se a vinculação bancária em que o mutuário, que se
vincula a restituir, pode restituir quando queira. Não se confunde com a abertura de crédito garantida, pois que
é essencial, na vinculação bancária, existir a proporcionalidade entre a soma e o valor da garantia.
A vinculação bancária não é mútuo sob penhor (mútuo mais penhor), porque, no mútuo sob penhor, há o mútuo,
mas o penhor é negócio jurídico acessório, de modo que a nulidade desse não atinge necessáriamente aquêle.
Trata-se de figura autônoma, a despeito da atitude de alguns doutrinadores que a reduzem a abertura de crédito
(certos, VITTORIo SALANDRA, Manuale di Dirilto Commerciale, II, 98 s.; PAOLO CErco, Le Operaz½ni di
Ranca, 81; sem razão, e. g., FRANCESGO MESSINEO, Operazione di Borsa e di Ranca, 433, e ERNESTO
-w
Nos negócios jurídicos ordinários de penhor, já há a divida que se há de garantir, dívida que pode ser de
qualquer fonte de obrigações (negocial ou não), e faz-se o acordo de constituição de penhor, de que nasce o
direito real de penhor. Na vinculação bancária, só há um negócio jurídico em que o vinculante presta (ou se
vincula a prestar) e no mesmo o beneficiado constitui o penhor pelo que venha a dever. Embora sejam muitas
as situações usuais, tudo se passa como se A dissesse a B: “Compre os títulos de C (ou os títulos tais) e pague o
preço, ficando êles em penhor”. Ou “Compre os títulos, e êles fiquem em penhor até que eu pague o que me
preste”.
Desde que se possa pensar em direito real de penhor, o bem pode ser gravado em vinculação bancária. O crédito
que pode ser objeto de penhor ou de caução pode ser gravado em vinculação bancária.
Tem-se de repelir a asserção de MICHELE SPINELLI (Contributo alIo studio dell’anticipazione bancaria,
Ranca, Rorsa e TitoU di credito, 1949, 1, 227 s.) quanto a ser incompatível com a cláusula de conta corrente a
vinculação bancária.
O adiantamento bancário contém prestação pelo banco e garantia real; mas, insita no contrato, e não acessória.
A garantia inserta-se no negócio jurídico, não o acompanha. Daí o afastamento de regras jurídicas próprias do
penhor. Não se trata de ligação de acessório a principal; porque o negócio jurídico é um só. A figura é unitária,
de modo que a prestação do adiantamento e a garantia são elementos do suporte fáctico. Não há cindibilidade.
Há financiamento e segurança real, sem que se possa separar essa daquele, ou aquêle dessa.
2. CONCEITO. A vinculação cambiária supõe que o negócio jurídico, que é um só, tenha como eficácia prestar
o banco o que é necessário para a operação e o beneficiado haja de restituir, para que o bem, ou o valor do bem,
lhe seja entregue, ou creditado.
No adiantamento bancário, credita-se ao cliente, primàriamente (digamos assim), parte do valor do bem que se
dá em garantia. Fixa-se percentual que há de permanecer o mesmo durante todo o tempo do contrato. Em vez
de o penhor ser elemento acessório, como ocorre a qualquer dívida para o qual devedor preste garantia real com
bem móvel, o gravame pignoratício é elemento essencial do negócio jurídico de adiantamento bancário. Não se
constitui o penhor porque se deve; deve-se porque se prestou para gravame algum bem de valor superior à
dívida. Não se pode dizer: empenho o bem a, porque devo b; diz-se: para que fique a dever b, presto em
garantia a. O valor de a é acima do valor de b e, com a diminuição do valor de a, tem o cliente de completá-lo,
para que continue a mesma percentualidade.
A vinculação bancária não é mútuo sob penhor (aliás, com penhor), dito mútuo pignoraticio, nem abertura de
crédito em conta corrente.
O vinculante para dar a soma x exige que o valor dos bens que garantem o crédito seja de x ~ ?J~ O
beneficiado, o vinculado, tem de fazer os suplementos sempre que o valor diminua de z + 2’-
Trata-se de negócio juridico de crédito com a garantia inclusa; e não de dois negócios jurídicos, a fortiori de
três negócios jurídicos. Sempre que um banco é incumbido, por exemplo, de comprar ações ou títulos de
crédito, ou mercadorias, ou de apenas pagá-las, ficando com os títulos ou os documentos que bastem como
pressuposto da tradição da posse de titular de penhor, a antecipação é garantida, não só com o direito de
retenção, mas sim com o gravame real mobiliário. Foi isso o que a prática bancária, através de séculos, criou.
Não há mútuo, porque não se emprestou antes da constituição do penhor, de modo que pudesse não haver
penhor; e porque se preestabeleceu relação de proporcionalidade entre a soma prestada ou a soma a ser prestada
e o valor dos títulos ou das mercadorias.
No direito italiano, permite-se a garantia em depósito de dinheiro, mas isso já deturpa o instituto da vinculação
bancária, que o Código ‘Civil italiano, art. 1.851, sob o nome de antecipação bancária, extrapolou.
No caso de penhor irregular (Tomo XXI, § 2.616), o banco, por ter adquirido a propriedade, apenas não precisa
pedir a venda do objeto dado em garantia, como se daria em caso de penhor regular. Em todo o caso, é preciso
que se saiba qual o valor da mercadoria ou dos títulos. A vinculação bancária imprópria é aconselhável quando
se trata de mercadoria, porque evita que o banco fique sujeito a guardar mercadorias durante todo o tempo da
duração do contrato, não só pela qualidade delas como pelas variações de preço que a técnica do banco pode
prever.
Quando se fala de penhor irregular, tem-se em vista pignus, no mais vasto sentido. Aliás, já a respeito do
adiantada-mente bancário dito próprio (= sem transmissão da propriedade), a expressão “penhor” está em
sentido largo. Emprega-se “penhor irregular”, como se emprega, também aproximadamente, “depósito
caucional”, ou “caução de contrato”. Em verdade, o adiantamento bancário, dito próprio, é como penhor
-w
o do vencimento da dívida. Se o preço subiu e o banco alienara, perde êle com a operação; se baixou e o banco
alienara, ganha êle com a operação. Note-se que, além do elemento creditício, há o de liquidação por diferença.
2. FORMA. Quanto à forma, o adiantamento bancário há de ser para atender a conveniências dos figurantes
em duas ou mais vias. O documento, de qualquer modo, é apenas probatório: a posse não atribui direito a quem
o possui, ou ao cessionário, porque é pertença do crédito. £sse é um dos pontos que têm de ser frisados.
A
3. DIREITOS DO BANCO. O banco tem direito a recobrar o que prestou e direito aos juros; às vêzes, o direito
a comissão .
Tratando-se de títulos ou mercadorias não disponíveis, tem o direito ao reembôlso das despesas.
Cabe-lhe o dever de exame dos documentos.
4. BENS GRAVADOS. Os bens dados em garantia são bens que têm valor de mercado ou valor de bolsa ou
valor corrente, bens de fácil alienação por seu valor. Por isso, não se pode considerar, de regra, vinculação
bancária, mas sim mútuo com penhor, o empréstimo que o banco fêz com a garantia de objetos antigos.
A soma adiantada pode ser prelevada a) à conclusão do contrato, ou 14 no momento em que o figurante, diante
do banco, presta os bens em garantia, ou e) levada em momentos sucessivos, fixados ou não (em conta
corrente), após a conclusão do contrato com a prestação dos bens em garantia. A figura e) tem o plus da
creditação em conta corrente para levantamentos sucessivos, mas esse elemento é acessório, porque, mesmo nas
espécies a) e c), pode haver crédito em conta correntes. Tem-se de evitar qualquer interpretação que faça &ses
dados acidentais perturbarem a concepção do contrato típico de adiantamento bancário, o negócio jurídico
lombardo.
Se o contrato, que se concluiu, é de adiantamento bancário em que o banco se vincula a prestações, quando o
cliente precisar ou quiser, sem fixação de datas, à medida que o cliente presta os bens, há, aí, apenas pré-
contrato de adiantamento bancário.
Os adiantamentos bancários sobre títulos cambiários ou cambiariformes não se confundem com os descontos
de titulas cambiários ou cambiariformes, mesmo porque o cliente pode, naqueles, ter de integrar a garantia,
como pode solver em parte e retirar o que corresponda, em títulos, ao valor prestado, ou a parte do valor
prestado.
O adiantamento bancário pode ter como elemento de garantia títulos, mercadorias ou mesmo moeda, que não
sejam individuados, de modo que se transfira a propriedade ao banco que pode dispor do objeto. Tal
transmissão alguns consideraram como a) dação em pagamento (GENe CORLA, Pegno, Ipoteche,
Commentario dei Codice Civile, de A. SCIALOJA e G. BRANCA, 2.~ ed., 293 s.), outros, como 14 negócio
jurídico fiduciário (DOMENICO RUBINO, II Pegno, Tratiato de Diritto Civile italiano, 14, Tomo Primo, 2?
ed., 214 s.), outros, ainda, e) como alienação com função de garantia (MASSIMO O. BIANCA, II Divieto del
patto cammissorio, 172 s.). Quanto a a), não se dá em pagamento, porque a transmissão é sente.Ibante à do
depósito irregular e em garantia, o que sublinha a especificidade do adiantamento bancário. Quanto a 14,
abstrai-se da função de garantia, que aí pré-exclui a de fidúcia. Sobre a fiducia cum creditore contracta
(alienação assecutatória), Tomo XX, § 2.418, 2, 8; adiante, §§ 5.482-5.489.
O cliente pode preferir a figura jurídica do adiantamento bancário se, no adiantamento bancário regular (dito
próprio),ou no adiantamento bancário irregular (dito impróprio), tem interesse em poder exigir a restituição de
parte, ou do todo, mediante a prestação percentual ou total, como o banco pode ter interesse em que se integre o
valor dos bens dados em garantia. Sempre que se precisa de dinheiro e se quer contar com a propriedade de
-w
O cliente, nos adiantamentos bancários, continua com a disponibilidade da propriedade dos bens, gravada pelo
contrato, porque só se transferiu ao banco a posse imediata. Para a disposição precisa transferir ao terceiro a
faculdade de prestar percentual para poder retirar os bens de valor correspondente.
bonificações ou poder subscrever e ter a tradição da cártula, assume a responsabilidade dos seus atos, e a
empresa há de considerá-lo com poderes implícitos.
Se o cliente precisa integrar o valor dos. bens, ou presta bens para isso, ou presta dinheiro para que tudo se
passe como se houvesse retirado bens.
10.VINCULAÇÃO BANCARIA COM PENHOR IRREGULAR. De ordinário, o penhor que integra o negócio
jurídico de vinculação bancária é penhor regular. Todavia, pode ser preestabelecida a disponibilidade. Se o que
se entregou ou se adquiriu foi bem fungível, inindividualizável, o que se há de entender é que o penhor é
irregular, pois que se precisaria de cláusula para que se pusesse em custódia fechada o que não é o usual
o bem que foi entregue ou adquirido. Mesmo se o bem é individualizável, pode ser inserta a cláusula de
disponibilidade. A falta de individualização na cédula de vinculação faz supor-se irregular o penhor dos títulos
ou outros bens individualizáveis. Se os títulos ou outros bens foram adquiridos pelo banco, tem êle o dever de
individualizá-los, se o contrário não se dispôs no contrato ou na cédula de vinculação.
-w
Se o banco não pode restituir o que era objeto do penhor, o valor dêle é o do dia do vencimento, ou o do dia do
pagamento, ou outro, maior, que seja o dado pelo interessado, se houve mora.
CAPÍTULO VIII
1.PRECISOES. No Tomo XXXI, §§ 3.592 e 3.593, tratamos do negócio jurídico de giro, como operação
bancária por ordem de correntista. Frisamos que se supõe relação jurídica subjacente (ou, excepcionalmente,
sobrejacente), entre o ordenante e o banco. Aqui, o que nos interessa é o giro bancário
bilateral, isto é, o negócio jurídico bilateral entre o oferente, interessado no giro, e o banco. Em verdade, no
contrato de giro, o chamado “ordenante” não ordena, apenas é oferente do negócio jurídico de giro bancário. O
contrato de giro, Ci.. rovertrag, é negócio jurídico em que a pessoa que quer o giro, o traspasso, oferta, e o
banco aceita a oferta de girar, de traspassar. Não recebe ordem para isso, porque, ex hvpothesi,.não está
vinculado ao giro, ao traspasso. Se a pessoa, mesmo se é correntista, quer que se credite a outrem, e, segundo as
relações jurídicas entre o oferente e o banco, não há vinculação a essa operação, tem de haver a bílateralidade
do negócio jurídico de giro. Pode ser que o banco não possa remeter o dinheiro em moeda corrente, ou em
moeda estrangeira, ao lugar em que se acha o beneficiário, ou legalmente não possa. Então. tem de recusar a
oferta.
-w
O ordenante, ou oferente assina ao banco nôvo credor. Fala-se de delegação pronútendi enquanto o
creditamento não importa pagamento, mas, em verdade, está-se a ver a ei icácia entre o ordenante ou oferente e
o beneficiário, o que deturpa a figura. O creditamento importa, automàticamente, enriquecimento do
beneficiário, porque a soma ou o título passou a ser desse, quer se trate de creditamento em conta do
beneficiário no banco girante, quer se trate de creditamento por outro banco ou outra empresa (negócio jurídico
-w
estranho ao negócio jurídico de giro, que está em exame, pôsto que seja, e é provável que seja, outro negócio
jurídico de giro).
O banco girante executa a ordem, com a necessária transferência da propriedade e da posse mediata. (A josse
~mediata, essa, tem tradição no momento em que o beneficiário recebe a prestação.)
Não se deve falar de delegação solvendi, porque solução pode não haver e, se há, está na intenção do ordenante,
e não no negócio jurídico do giro.
4.GIRo BANCÁRIO. Uma das formas características do pagamento bancário é o giro em conta, ou, melhor, o
banco-giro, ou giro bancário, pois há giro sem ser em conta. O banco-giro, ou giro bancário, opera-se pela
prestação de soma pelo ordenante (= ordenador) ou oferente, a favor de terceiro, que é o destinatário. É uma das
espécies do negócio jurídico de giro (dito Girogeschitft), mesmo porque há giro sem ser por banco. A conta
corrente tem por objeto regular e liquidar, periodicamente , as relações jurídicas, de ordem econômica, que se
estabelecem entre o correntista e o banco, O negócio jurídico de giro quase sempre regula as relações jurídicas
entre os clientes de um mesmo banco, por via de compensação, ou de lançamento em conta, ou de remessa.
Mas pode não haver conta de outrem no mesmo banco e a remessa. ser por meio de cheque ou crédito perante
outro banco ou outra empresa.
A adscrição do banco às contas tem como efeito liberar ordenante ou oferente e atribuir à pessoa a quem se
creditou a soma ação contra o banco. A relação jurídica que se cria entre o banco e o destinatário da soma é
independente das relações jurídicas anteriores que o banco tenha tido ou tenha
com a pessoa que ordenou a prestação. Portanto, é de natureza abstrata (KARL HEINSHEIMER-KARL
GEILER, Handelsrecht. § 66, b).
O ordenante ou oferente consegue, com o negócio jurídico unilateral ou com o contrato de giro, que o banco
assuma a dívida, ou pela credítação na outra conta, ou pela remessa, ou simples pôr-à-disposição.
5. GIRO DE CÂMBIO. Giro de câmbio é operação dupla, em que o banco ou outro figurante do negócio
jurídico de giro recebe a moeda, que tem em conta, ou que lhe leva o oferente, e credita ao destinatário em outra
moeda. A expressão é velha na língua portuguêsa. Pode não existir conta corrente entre o interessado e o banco
(WOLFGANG HEFERMEHL, Sehtegelberger Handeisgesetzbuch, ~ SA ed., 1536; sem razão, ULRICH
MEYER-CORDING, Da8 Recht der Banloiiberweisung, 39). Apenas o que mais acontece é haver as duas
relações jurídicas.
Em princípio, diante da fungibilidade da moeda (Una pra alia pecunia solvi poted), pode o devedor solver com
a moeda a que se refere o instrumento do negócio jurídico, ou que oral-mente foi indicada, ou na moeda que
tem curso legal no lugar do pagamento (Código Civil, art. 947, §§ 1.0 e 2.0). A regra jurídica não incide se foi
estabelecida a infungibilidade ou a inconversibilidade.
Se a lei do lugar de que há de sair o pagamento faz exigências relativas à aquisição de moeda estrangeira pelo
interessado em prestar, o modo e os meios de cobertura são determinados pelas leis do lugar. O contrato ou
estabelece que o pagamento seja na moeda do Estado em que tem domicílio ou sede o comprador, ou exige que
seja em moeda estrangeira, ou deixa à escolha ou conforme alguma cláusula contratual que fixe o critério.
Conforme a legislação de cada Estado e o tipo de intervenção estatal no tráfico de moeda, o banco girante pode
creditar em outro banco, ou fazer ou obter do banco autorizado pelo Estado cheque ou ordem de pagamento
para que o beneficiário receba a quantia, liberando-se o banco. Quem se libera é o banco, pois o ordenante do
giro ou oferente do contrato de conta bancária já se liberara ao ser concluído o negócio jurídico de giro.
O contrato de câmbio de moeda estrangeira pode ser a favor de um dos figurantes no contrato, ou a favor de
terceiro, a quem se transfere a propriedade da moeda estrangeira, eu a propriedade da moeda nacional. Os
dólares que E foi pedir ao banco para que se lhe creditassem na sua conta de Nova lorque, foram adquiridos no
momento do contrato de câmbio. Quanto ao crédito em Nova Torque, o banco apenas “transporta” para Nova
Torque o que já é de E, desde o momento em que os dólares foram adquiridos. Os dólares que B pede ao banco
que sejam creditados a em Nova lorque, ditos remetidos, já são de C no momento em que se concluiu o contrato
de câmbio à vista, contrato em que já se transfere a C a posse mediata e ao banco apenas permanece atribuida a
posse imediata, como depositário.
1.RELAÇÃO JURÍDICA OFERENTE-BANCO. O que se passa no giro bancário bilateral, entre o oferente do
-w
contrato de giro bancário e o banco, reduz-se à oferta e à aceitação pelo banco, que, na ocasião mesma da
aceitação e, pois, no instante da conclusão do contrato, assume a clivicUz. de giro e simultàneamente destina a
prestação. O oferente nada mais tem com a tradição da prestação pelo banco, porque o banco fêz o creditamento
da quantia, com o documento que deu.
Se entre o banco e o cliente há outras relações jurídicas, de modo que, a despeito, por exemplo, de ter sido
entregue o recibo ou o documento, o que se deu como prestado pelo cliente não no fôra, porque faltavam
fundos, o banco não pode, com isso, resilir o contrato, que foi conc1uido com plena eficácia. Qualquer direito,
pretensão ou ação do banco é com base no outro negócio jurídico. Se o cliente pagou o que tinha de pagar para
ser creditado em moeda nacional ou estrangeira à empresa de navegação aqui apenas damos exemplo e o
dinheiro que o cliente entregou era moeda falsa, com isso não fica privado o beneficiário do que lhe tocava
como negócio jurídico de giro bancário.
2.RELAÇÃO JURÍDICA BANCO-flENEFTCL4RIO. A re1ação jurídica banco-beneficiário surge no
momento mesmo em que o banco conclui o negócio jurídico de giro, porque o lançamento com a remessa é
apenas elemento contabilístico. O banco vinculou-se a lançar ou a remeter, e a nota é execução. Dai não ser
preciso, sequer, que haja comunicação do banco. O crédito do beneficiário é abstrato.
Por isso, não se há de considerar o contrato de giro bancário como gerador de direito futuro do beneficiário, ou
direito condicional. Com a conclusão, nasce o direito do beneficiário. Tal é o que se assenta, por exemplo, na
jurisprudência alemã (Ent.scheidungen des Reichsgeriehts in Ziviisaohen, 54, 332; 102, 68; 105, 898; 108,
212). Desde que o banco deu a nota ou documento da conclusão do contrato, o banco vfficulou-se perante o
beneficiário. Não é preciso que o receba o beneficiário, nem, sequer, que dêle tome conhecimento. Daí dizer-se
que o aviso do documento tem eficácia declaratórjai (ULItICII MEYER-CORDING, Das Reeht der
Bankitberweisung, 40 s.; SCHOELE, Das Reclit der tlberweisung, 28).
O banco assume o dever de cuidar do ato jurídico, às vézes ato-fato jurídico (pagamento). O devedor ou
interessado tem de avisar o destinatário (WOLFGANG HEFERMEHL, Sehiegelberger Handelsgesetzbuch, ~
SY ed., 1544), se não há situação que importe aviso prévio, ou dispense o aviso. Se o banco avisa que outro
banco tem de adimplir, há a ação do destinatário cointra esse banco e, sucessivamente, contra o banco girante.
O aviso do credor, pelo ordenante ou oferente, ou pelo banco, de que foi ultimado o contrato de giro é
comunicação da solução da dívida do ordenante ou oferente, se suficiente a quantia ou satisfatória a qualidade
da moeda.
Enquanto não há aviso do banco de que o destinatário pode receber a soma em outro banco, há a ação real
contra o banco figurante do contrato de giro, açâo que se irradia de crédito abstrato e não depende de aviso do
banco.
A função mais frequente, que se há de ver no negócio jurídico de giro, é a incumbência de extinguir divida
(REINHÂRD FREIHERR VON GODIN, Kornmentar zum FlandeLsgesetzfruch, III, 23 ed., 521). Porém não é.
de modo nenhum, a única. E. g., remessa de moeda estrangeira à família em viagem.
O traspasse da soma de uma cont’a para outra supõe que cada pessoa a que se refere o contrato de giro tenha
conta no banco, ou outra empresa. Geralmente, porém não necessariamente , o banco gírante comunica ao
beneficiário o crédito que se abriu, ou que está à sua disposição, ou, se houve remessa a outro banco, esse o faz.
Se há êrro na indicação do nome do beneficiário, a dívida do banco nasceu, e apenas o ordenante ou oferente
pode ir com a ação de enriquecimento injustificado contra o terceiro favorecido pelo êrro. Avisado pelo
ordenante ou oferente o beneficiário, tem esse ação contra o banco girante, quer esse haja comunicado, quer não
tenha comunicado. Aliás, a simples ciência, pelo beneficiário, de que lhe foi feita a atribuição, qualquer que seja
a fonte de tal conhecimento, basta para que possa êle propor a ação contra o banco girante, ou contra aquêle a
que se fêz a remessa. O documento do giro bancário bilateral, ou prova, segundo os princípios, basta para a
apreciação judicial.
As contraprestações a prazo, principalmente as parcelares ou periódicas, podem ser de conformidade com o
instrumento negocial e sem qualquer subscrição de título sobrejacente, abstrato, que permita a circulação
(duplicatas mercantis, letras de câmbio, notas promissórias). Se não se emite título abstrato, não há qualquer
dúvida sobre como se há de adimplir o que se prometeu. Se o pagamento é em moeda nacional, a nominalidade
do valor simplifica todas as soluções, desde que não haja lei de revalorização Se o pagamento, em moeda
nacional, há de ser a empresa credora que não tem sede no mesmo lugar, os problemas de risco são pequenos,
mas surgem, ou podem surgir.
Se os figurantes do contrato não são domiciliados no mesmo lugar, ou no mesmo lugar não se hão de fazer a
prestação e a contraprestação tem-se de atender aos riscos, mesmo do objeto do pagamento.
-w
Sempre que se estabelece pressuposto de ato administrativo favorável, ou se há de interpretar, diante das leis do
Estado de que há de sair o crédito em moeda estrangeira, que há tal pressuposto, o devedor da moeda
estrangeira libera-se com a autorização estatal e a conclusão do contrato de giro, O banco girante assumiu a
dívida, dívida abstrata, perante o beneficiário.
Dizem, com tôda a precisão, ENRICO COLÂGROSsO e GIACOMO MOIJUE (Diritto baneario, 481): “la
banca obbligata verso l’ordinante, esequita t’operazione, resta liberata; ma assume una nuova obbligazione nei
confronti del beneficiario”. Acrescentam êles, no sentido da doutrina (482) : “Perciô il beneficiario, che abbia
accettato l’operazione, deve rivolgersi, per il pagamento, innanzi tutto, alIa banca.., e solo successivamente
all’ordinante”.
Convém lembrar-se o que escreveu GIUSEPPE FERRI (Bancogiro, Encictopedia dei Diritto, V, 34) : “. ..
evidentemente non si possono far ricadere sull’ordinante le consequenze della determinazione del beneficiario
in ordine all’utilizzazione deile disponibilitá esistenti nel conto”.
Cumpre, porém, frisar-se:
a) O ordenante ou oferente não responde pelos riscos posteriores ao seu ato, ao negócio jurídico de giro
bancário bilateral, se não havia razão para se evitar a conclusão do contrato com o banco que êle escolheu,
salvo se o beneficiário exigiu que o giro fôsse por determinado banco, ou se tal seleção resultava dos usos do
ordenante ou oferente e do beneficiário, em seus negócios jurídicos.
b)O banco girante nenhuma responsabilidade assumiu se a operação era legalmente concluível (xxx não era
vedada), mas ilícito era o objeto da relação jurídica estabelecida entre o ordenante ou oferente e o beneficiário,
ou a estabelecer-se entre êles.
3.RELAÇÃO JURIDICO ENTRE O OFERENTE E O BENEFICIÁRIO. No tocante à relação jurídica entre o
oferente do contrato de giro e o destinatário, o que importa é eficácia da creditação, conforme o que quis o
oferente, sem que isso tenha de ser explícito na relação juridica entre o banco e o oferente. Tanto se obtém
creditação a favor do beneficiário, no próprio banco, ou alhures, para se solver dívida do oferente, ou de
outrem, como para se doar ou emprestar ao beneficiário. Pode dar-se que o oferente tenha errado e tenha pago
dívida que não existia, dando ensejo a ação de enriquecimento injustificado. Se o propósito foi pagar, conforme
cláusula contratual, ou conforme sentença, extingue-se a divida, no todo, ou em parte, segundo os princípios.
Entre o oferente e o destinatário, dito beneficiário, pode estar estabelecido cque o pagamento ou os pagamentos
tem de ser por operações de giro, ou pode ser que isso resulte de circunstâncias, inclusive tratar-se de dívida de
moeda estrangeira e haver exigências legais de corretagem e de giro de câmbio.
Assim, quanto à exigência do recebimento pelo credor, ou por beneficiário que não seja credor, ou da
comunicação de que admite a creditação, imprôpriamente chamada “aceitação”, pode já estar satisfeita por
alguma cláusula negocial, ou por sentença. Alguns juristas erram em falar de aceitação (e. g., GIUSEPPE
FERRI, flancogiro, Endclrypedia dei Diritto, V, 33). O beneficiário, se não está vinculado a receber, pode
recusar-se a receber, ou dizer que não quer receber. Se estava vinculado ao modo de prestação, com a recusa
incorre em mora creditons. A abstenção de receber é a risco do beneficiário. Observe-se que, se há vinculação
entre o ordenante ou oferente e o beneficiário, isso é estranho ao que se passou entre aquêle e o banco gírante,
mesmo se o banco se obrigara, em virtude de outro negócio jurídico, ao giro bancário bilateral.
Ao importe do giro bancário bilateral não correspondem juros, porque o beneficiário não transfere a
propriedade (Gzoito OBST, Geld-, Rank~ und Ràrsenwesen 17.a ed., 123). Se o beneficiário tem conta corrente
no banco em que há de receber o Importe girado e há cláusula, ou uso de lançamento, correm os juros, se a
conta corrente os permite.
4.EFICÁCIA lIA CREDITAÇÃO. As operações de alienação e aquisição, ou de aquisição e alienação, que
compõem os negócios jurídicos onerosos, sem os quais as empresas não produziriam, caracteriza a vida
industrial e comercial. Há o preço pelo qual se vende, o preço com o qual se compra. Há sistema de
harmonização de interesses e de atendimento a conveniências reconhecidas pelas empresas que participam do
mercado. Com a função operativa das empresas, na conclusão dos contratos entre empresas ou entre empresa e
clientela, há simultâneas vantagens para os figurantes do negócio jurídico.
Com o negócio jurídico transíativo, pode não haver a. mudança de lugar, porque há a tradição brevi múnu, ou a
tradição longa inanu, ou o constituto possessório. Daí poder a mercadoria comprada permanecer no armazém
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do vendedor, ou no Armazém geral, ou em armazém de depósito público. O que importa é a disposição por um
dos figurantes, com a aquisição pelo outro: aquisição da propriedade e da posse, ou, embora mais raramente, só
de uma. Nos tempos modernos, a contra-prestação do adquirente é, de regra, em moeda, sem que se pré-exclua
a troca industrial ou comercial.
Se a prestação e a contraprestação supõem distância, porque alienante e adquirente não têm a mesma
localização, surgem, entre outros, os problemas de atribuição das despesas de transporte e de aquisição da
moeda estrangeira, bem como o de risco da prestação (até o pôrto de embarque ou até o pôrto de destino) e o
de risco da contraprestavio.
A aquisição de moeda estrangeira é aquisição de res, porque a moeda estrangeira não é moeda corrente no lugar
em que, ex hupothesi, ela está. No momento em que o banco, com a autorização do Estado para o giro de
moeda estrangeira, concluiu o negócio jurídico de giro, houve a tradição da posse mediata da moeda estrangeira
ao beneficiário. Em conseqUência, o beneficiário passou a ser o dono da moeda estrangeira, considerada, no
território do Estado, em que se concluiu o contrato de giro, como atribuida ao beneficiário conforme a
destinação estipulada.
A autorização administrativa para a aquisição de moeda estrangeira, que é elemento comum a muitos sistemas
jurídicos, é fonte de direito à conversão, incessível, pois que houve condicio inris que foi satisfeita pelos dados
pessoais e de objeto. Quer esteja em causa compensação internacional, estatal ou privada, quer só se trate de
negócios de reciprocidade, se os bens, a que a autorização se refere, são cessíveis, a autorização é cessível, com
cessão de direito acessório.
Se a empresa estrangeira não cumpre o que prometeu, tem de indenizar, e a ação, que caiba, não é para
execução específica, mas sim para ressarcimento dos danos calculados em moeda nacional.
O negócio jurídico de giro bancário bilateral, esse, tem eficácia transíativa ao beneficiário. Não se trata de
promessa de prestar. O banco girante, no momento da conclusão do negócio jurídico de giro bancário bilateral,
não só vendeu, transferiu: o traspasso põe o beneficiário na posição jurídica de dono da moeda, que foi girada.
Cumpre que se não deixe de atender a que o giro bancário bilateral é abstrato.
A ordem de pagar, ou, em geral, de prestar ao terceiro, que o cliente deixa no banco, para depois da sua morte, o
terceiro tem direito a recebê-la, ainda em caso de dúvida. Mesmo se o terceiro ainda não nascera. O que pode
ocorrer é que o cliente não tivera, no momento da morte, a disposição do bem ou dos bens (e. g., não cabe na
metade disponível testamentâriamente ) e poder ser feita objeção, inclusive em juízo, para expedição de
mandado ou de comunicação.
CAPÍTULO IX
COMPENSAÇÃO INTERBANCÁRIA
O agente da compensação coletiva pode ser sociedade, associação, ou empresa especializada, ou repartição
pública, ou autarquia. De qualquer modo, tem o Estado de exercer vigilância, pela função e pela relevância da
função compensativa, diante da massa de créditos e de débitos.
O excesso de crédito é creditado ao banco credor, que não devia o mesmo; o excesso de débito é debitado ao
banco, que não era credor de igual quantia. Pode ser lançado todo o crédito, ou todo o débito, por ser sem
débito o banco, ou faltar ao banco algum crédito. Supõe-se que o banco devedor tenha ativo na Câmara de
Compensação.
A finalidade operacional é a de extinguir os créditos e os débitos, até onde haja concorrência, com a
objetividade, que éde exigir-se, entre todos os que remeteram os seus títulos.
A Câmara de Compensação, Clearing Hoiise, A brechnungss~eUe, Chambre de Compensation, Stanza di
Compensazione, pode ser instituição pública ou privada, inclusive ser apenas associação de bancos, ou algum
banco, a que a lei ou contrato atribuiu as funções compensativas interbancárias.
2. ENDOSSOS. Se o título não é ao portador, mas endossável, pode o banco, que o apresenta à Câmara de
Compensação, endossá-lo a essa, ou ao seu diretor, com a cláusula “para compensação”, ou apenas apor a
indicação “Para compensação”. Não se trata de negócio jurídico fiduciária, como pareceu a ENRICO
COLAGROSSO e GIACOMO MOLLE (Diritto Banoario, 2•a ed., 484, nota 3), mas sim de outorga de poder
de compensar (=praticar os atos que levem à compensação interbancária).
2. CÂMARA DE COMPENsAÇÃO. A Câmara de Compensação foi e é uma das criações mais eficientes da
economia. Supõe conhecimento, organização e propósito de simplificar, na base de atos contabilísticos e atos-
fatos jurídicos, pois que os pagamentos o são, as permanentes emissões e negociações de títulos. Em vez de
intervir em relações de A e B, faz contactos entre multiplicidade de credores e de devedores, em vez de os pôr
em contacto. De certo modo, fácticamente se substitui aos credores e aos devedores, para simplificar, o mais
possível, a solucão das dividas entre muitos bancos.
Sabe-se que Florença e o Japão a conheceram, antes dos outros Estados; mas o início da organização típica,
metodizada e produtiva, foi por volta de 1463, em Lyon. Edimburgo teve-a em 1760; Londres, em 1773; Nova
lorque, em 1853; Boston, em 1855; Paris, em 1872.
O Estado pode permitir que alguma instituição de direito público, ou alguma empresa de direito privado,
proceda a compensações. Trata-se de problema de técnica legislativa, ligado à necessidade do contrôle e da
fiscalização de tais operações compensatórias .
CAPITULO IX
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BANCOS DE INVESTIMENTO
disposições que lhe são atribuidas pela legislação em vigor e as normas expedidas pelo Conselho Monetário
Nacional”. É evidente que o Banco Central da República tem de cumprir e fazer cumprir o que a lei lhe
imponha, e isso não precisava ser pôsto em lei. Quanto às normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional
é que também tem de respeitá-las, porque resulta de lei. As atribuições que tem o Banco Central da República
somente podem ser oriundas de lei e a própria lei não lhe pode delegar poderes (Constituição de 1946, art. 36, §
2.0).
Sociedades e empresas que não são societárias há que somente se podem criar ou somente podem funcionar se
o Estado autoriza a criação ou o funcionamento.
Quando a atribuição, não somente pode ser relativa-mente aos bancos de investimento para o funcionamento,
salvo se constituídos antes da Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965. Os bancos de investimento não podem ser
criados sem autorização e só após podem requerer a autorização para funcionamento, sem a qual qualquer ato
de investimento ou outro ato bancário que pratiquem, são ilegais, com todas as conseqüências jurídicas~,
inclusive penais. Aqui, cumpre ter-se em consideração à diferença entre o texto da Lei n. 4.595 e o da Lei n.
4.728.
O pedido de autorização pode ser cumulativo: para criação e para funcionamento.
Na sua generalidade, a regra jurídica do art. 10, IX, a>, da Lei n. 4.595 apanha quaisquer instituições
financeiras, que queiram funcionar no Brasil, seja brasileira, seja estrangeira. A superveniência da Lei n. 4.728,
de 14 de julho de 1965, artigo 29, em verdade não derroga o ad. 10, IX, a), da Lei número 4.595, porque só se
referiu à criação (dita “constituição) de bancos de investimento. Há plus; e esse plus não. altera a regra da
exigência de autorização para funcionamento, o que é de relêvo no plano do direito intertemporal: os bancos
com funções de investimento existentes antes da publicação e entrada em vigor da Lei n. 4.728, art. 29, não
precisam de autorização para serem constituídos: criação já. houve. Quanto ao que se estabelece nos incisos r-
vij do artigo 29, temos de examiná-los oportunamente. Os bancos de investimento que à data da incidência da
Lei n. 4.728 não estavam constituídos, esses sim, têm de requerer autorização para criação, e funcionamento
Requere-o quem os quer criar. Criados, sem que tenha havido autorização para funcionamento, tem de ser
requerida.
Lê-se na Lei n. 4.595, art. 10: “Compete privativamente ao Banco Central da República do Brasil: IX Conceder
autorização às instituições financeiras, a fim de que possam:
a) funcionar no País”. Só o Banco Central da República de. Brasil pode dar a autorização para as instituições
financeiras funcionarem no Brasil e também havemos de entender que so êle pode autorizar o funcionamento de
sociedade de investimento, bancária, brasileira, no estrangeiro, com filial, sucursal ou agencia.
A exclusividade da competência não afasta que se exerça algum recurso contra o ato denegatório ou permissivo
dê Banco Central da República do Brasil, que caiba para o Ministro da Fazenda, ou para o Presidente da
República, diretamente, conforme as leis administrativas que escapam aos temas dêste Tratado.
Se o ato que deu ou negou a autorização é contra a Constituição, alguma lei ou outra regra jurídica, não se pode
deixar de atender à pretensão à tutela jurídica, por parte de quem tenha interesse na desconstituição do ato. O
art. 141, ~ 4~O, da Constituição de 1946 é invocável, como o é o art. 86, § 2.0.
O art. 10 da Lei n. ~ é de conteúdo geral. A respeito dos bancos de investimento, estatui a Lei n. 4.728, de 14 de
julho de 1965, art. 29: “Compete ao Banco Central autorizar a constituição de bancos de investimentos de
natureza privada cujas operações e condições de funcionamento serão reguladas pelo Conselho Monetário
Nacional, prevendo: 1 o capital mínimo; II a proibição de receber depósitos à vista ou movimentáveis por
cheque; III a permissão para receber depósitos a prazo não inferior a um ano, não movimentáveis e com
cláusula de correção monetária do seu valor; IV a permissão para conceder empréstimos a prazo não inferior a
um ano, com cláusula de correção monetária; V a permissão para administração dos fundos em condomínio de
que trata o art. 50; VI os juros e taxas máximas admitidos nas operações indicadas nos incisos III e VI; VII as
condições operacionais, de modo geral, inclusive garantias exigíveis, montantes e prazos máximos”. Acrescenta
o § 1.0: “O Conselho Monetário Nacional fixará ainda as normas a serem observadas pelos bancos de
investimento e relativas a: a) espécies de operações ativas e passivas, inclusive as condições para concessão de
aval em moeda nacional e estrangeira; 14 análise econômico-financeira e técnica do mutuário e do projeto a ser
financiado; coeficientes ou índices mínimos de rentabilidade, solvabilidade e Liquidez a que deverá satisfazer o
mutuário; e) condições de diversificação de riscos”.
Se o banco que se ocupa de investimento, senso estrito, já está criado e já funciona regularmente, a lei mesma
somente podia exigir o que não infringiria o art. 141, § 33’, da Constituição de 1946.
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O primeiro requisito para a criação e o funcionamento dos bancos de investimento é o do capital mínimo. Se o
banco era banco de investimento, senso estrito, há de haver prazo razoável para o aumento do capital, como
teria de haver para a correção monetária do capital, a fim de se satisfazer pressuposto de minoridade. A
razoabilidade da exigência de capital mínimo e apreciável pelo Poder Judiciário com invocação do art. 141, §
49, da Constituição de 1946 e do artigo 141, § 1.0 ou § 3~
O segundo requisito, aliás aí exigência, é o de não receber depósitos à vista ou depósitos movimentáveis por
cheques. A proibição é dupla: não só se veda a operação bancária de depósito à vista: veda-se, também, a de
depósito movimentável por cheque. A fortiori, a de depósito à vista movimentável por cheque.
O terceiro requisito ou exigência é o de só poder operar com depósitos a prazo de um ano, ou mais, não
movimentáveis e com a cláusula de correção monetária do quanto em depósito. Se foi feito o depósito com
observância do art. 29, III, da Lei n. 4.728, a cláusula de correção monetária é implícita, porque não se poderia,
na dúvida, interpretar o ato constitutivo senso estrito ou a cláusula dos estatutos como infringente da lei. Para a
correção monetária, o que importa é o saldo, de modo que, sempre que se comunica o saldo, se tem de
comunicar a correção monetária. Se o banco de investimento recebeu depósito com infração do art. 29, III, da
Lei n. 4.728, sem má fé por parte do cliente, a restituição do quanto ilegalmente depositado é com a correção
monetária.
No inciso IV, permitem-se em texto legal, frise-se as operações de empréstimo, senso lato, a prazo de um ano
ou mais, nunca de menos de um ano. Também aí há de haver a correção monetária, no momento do pagamento.
Não é preciso que haja cláusula explícita.
No inciso V, permite-se ao banco de investimento administrar fundo em condomínio, aludindo-se ao art. 50. No
artigo 50, fala-se de conversão de fundos em condomínio de títulos ou valores mobiliários em sociedades por
ações de capital autorizado, assunto já versado no Tomo LI; porém a administração, de que se cogita no art. 29,
V, de modo nenhum se refere a fundos convertidos, isto é. societarizados. nem, tão-pouco, a fundos que tenham
a própria administração . A remissão do art. 29, V, deveria ter sido ao art. 50. ~ 1.0. 2.0 e 8.~, porque ai é que a
lei trata da administração da carteira de investimento de fundos que tenham de contratar administração por
outrem. O art. 50, § 13’, atribui tal administração de fundos alheios a “companhia de investimentos”. Portanto,
a administração há de ser por alguma sociedade de investimento, não-bancária, ou por banco. Se o fundo de
investimento tem a sua administração, pode auxiliá-la empresa de investimento, ou empresa de técnicos que lhe
preste serviços. Os §§ 2.0 e 3.~ têm de ser observados, se o fundo em condomínio há de ser administrado por
outrem. A propósito, convém sublinhar-se que o fundo em comum pode ser exterior à sociedade ou banco
administrador, ou pode ser fundo em comum resultante da clientela da sociedade ou do banco, caso em que a
comunidade é devida a comunhão de riscos, que com a formação interna do fundo de investimento resulta das
entradas dos clientes, O fundo de investimento, que há de ser administrado pela sociedade de investimento ou
pelo banco de investimento, pode não ser societário.
No inciso VI, ao Conselho Monetário Nacional atribui-se regular o quanto dos juros e taxas máximas
concernentes às operações de depósitos que se permitem, no inciso III, aos bancos de investimento.
Finalmente, no inciso VII ainda se diz que a constituição dos bancos de investimento tem de atender ao que o
Conselho Monetário Nacional estabeleceu como pressupostos das operações de investimento, de que se
incumbam os bancos de investimento, inclusive quanto às garantias exigíveis, aos montantes e aos prazos
máximos. Escusado é frisar-se que tais exigências não podem ser feitas sem respeito ao principio de igualdade
perante a lei: o que se considera inafastável para um banco de investimento tem de o ser para os outros bancos
de investimento.
No art. 29, § 1.0, também se cogita de normas quanto às espécies de operações dos bancos de investimento,
quer ativas quer passivas, e alude-se a pressupostos para a dação de aval em moeda brasileira ou estrangeira, o
que é assunto de extrema delicadeza. Se o banco de investimento tem atividade de financiamento, as normas
podem ser concernentes à satisfação de pressupostos e à análise objetiva e subjetiva da oferta dita “projeto” de
financiamento, O cliente, que quer o financiamento, é que expõe, como oferente, o que deseja que lhe pre~te o
banco de investimento, que financia, em função secundária de financiamento, porque se tal função não é
secundária, o banco passa a ser misto (de crédito, financiamento e investimento). O banco de investimento tem
de examinar o que está na oferta de contrato, que lhe faz o cliente, porque seria excepcional, na espécie, ser
oferente o banco de investimento.
Pode ocorrer que já existam instituições financeiras que operem com créditos a médio e longo prazo, por conta
própria ou de terceiro e com a subscrição de títulos ou valores mobiliários, para revenda e distribuição no
mercado. A lei reporta-se à transformabilidade de tais instituições financeiras em bancos de investimento. Daí
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estar, na Lei n. 4.728, art. 29, § 4.0: “Atendidas as exigências que forem estabelecidas em caráter geral pelo
Conselho Monetário Nacional, o Banco Central autorizará a transformação em bancos de investimentos, de
instituições financeiras que pratiquem operações relacionadas com a concessão de crédito a médio e longo
prazos, por conta própria ou de terceiros, a subscrição para revenda e a distribuição no mercado de títulos ou
valores mobiliários”. Na transformação, o banco não pode ter atividades que não sejam com observância do art.
29, §§ 19, 2.0 e 3~0, mesmo se antes as tinha, conforme o seu ato constitutivo e a autorização para funcionar, se
autorizada era. O tratamento desigual feriria o ad. 141, § 19, da Constituição de 1946.
Ainda se lê, em dizeres gerais, na Lei n. 4.728, ad. 29, § 2.0: “Os bancos de investimentos adotarão em suas
operações ativas e passivas sujeitas à correção monetária as mesmas regras ditadas no ad. 28”. O art. 28 apenas
enuncia que as instituições financeiras têm de atender às exigências
normativas, entenda-se que faça o Banco Central quanto às operações de subscrição e emissão de notas
promissórias e de saque ou aceite de letras de câmbio, com a correção monetária para o quanto exigível,
conforme o art. 27, de má redação, e que estabeleça o Conselho Monetário Nacional no tocante a empréstimos
com correção monetária (ad. 28). No ad. 28, aparece a palavra “poderão” no que se refere a depósitos, mas no
ad. 29 se estatui que pressupostos necessários para os depósitos são o prazo mínimo de um ano, a
imovimentabilidade e a correção monetária. Daí perguntar-se: <A regra jurídica sobre a corrigibilidade
monetária, no tocante aos depósitos, é ias cogens ou ias dispositivum? A interpretaqão que se há de dar é no
sentido da cogência, de modo que se tem de considerar o “poderão” como lapso na redação da lei.
Lê-se na Lei n. 4.728, ad. 29, § 8.0: “Os bancos de que trata êste artigo ficarão sujeitos à disciplina ditada pela
Lei a. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, para as instituições financeiras privadas”. A remissão é um tanto
vaga, mas os arts. 17, 18 e 25-41 da Lei n. 4.595 são as regras jurídicas mais relevantes.
atribui ao Conselho Monetário Nacional, nem ao Banco Central, legislar sobre figuras novas do sistema
juridico; e onde se desse a um ou ao outro tal incumbência, a regra legal seria nuta.
A expressão “banco de desenvolvimento” supõe finalidade de elevar o nível econômico do pais, ou da zona,
como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, que é empresa para o Brasil, e o Banco Europeu para
os Investimentos, que facilita projetos de financiamento para a valorização das regiões européias
subdesenvolvidas (isto é, abaixo do nível dos Estados Unidos da América, do Canadá, da Austrália e de alguns
Estados da Europa ocidental), de conversão e modernização de empresas, de criação de novas atividades
econômicas, necessárias ao mercado comum europeu, e de interesses comuns dos Estados-membros (Tratado de
Roma, 1957, artigo 130).
1.CAPITAL E CAPITAL MÍNIMO. As regras jurídicas sobre o capital das sociedades por ações têm de ser
observadas, em tudo em que não se choquem com a Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e a Lei n. 4.728,
de 14 de julho de 1965. No art. 29, 1, da Lei n. 4.728 há delegação de poderes para fixação do capital mínimo.
Cria-se, com isso, delicado problema. A lei devia ter edictado regra jurídica que dissesse qual o mínimo de
capital em determinada data, com a exigência da correção monetária, no momento em que se tivesse de criar
algum banco de investimento, e periodicamente .
No inciso IV da Resolução n. 18, de 18 de fevereiro de 1966, fixa-se o capital mínimo: cinco bilhões de
cruzeiros, mas adverte-se que o Conselho Monetário Nacional atualizará, periódicamente, o limite. A
atualização a líbito do Conselho Monetário Nacional, ou de quem quer que seja, inclusive o Presidente da
República, é contra os princípios, porque é matéria para lei, e não para ato administrativo. Acertado seria o
limite legal dizemos: cinco bilhões com a correção monetária, que para todos os negócios jurídicos se faça. O
Decreto-lei n. 6.419, de 13 de abril de 1944, art. 59, §§ 1.04.0, está obsoleto (redação conforme o Decreto-lei n.
6.457, de 29 de maio de 1944).
legíslação sobre os bancos, essa, sim, seria a questão; porém não no tocante ao quanto obrigatóriamente
depositado. O inciso IV, b), resultou da Lei n. 4.595, art. 27: “Na subscrição da capital inicial e na de seus
aumentos em moeda corrente, será. exigida no ato a realização de, pelo menos, cinquenta por cento do
montante subscrito”. Acrescenta o § 1.0. “As quan tias recebidas dos subscritores de ações serão recolhidas no
prazo de cinco dias, contados do recebimento, ao Banco Central da República do Brasil, permanecendo
indisponíveis até a solução do respectivo processo”. E o § 29: “O remanescente do capital subscrito, inicial ou
aumentado, em moeda corrente, deverá ser integralizado dentro de um ano da data da solução do respectivo
processo”.
Acrescenta, com o mesmo pendor ditatorial, a Resolução n. is, inciso IV: “e) Deverá efetivar-se em dinheiro, e
no prazo máximo de um ano da data da respectiva subscrição, a integralização da parcela restante do capital
inicial, e de seus aumentos. d) As quantias recebidas dos subscritores de ações nos termos da alínea b serão
recolhidas ao Banco Central dentro de cinco dias do seu recebimento, permanecendo em depósito até a
autorização para funcionamento do banco, ou a aprovação do aumento do seu capital. e) Nos casos de aumento
do capital subscrito, se o Banco Central não se manifestar no prazo de trinta dias do requerimento de aprovação
o aumento será tido como aprovado”.
A Resolução n. 18, inciso XI, refere-se à transformação, fusão ou incorporação dos bancos de investimento,
“para dizer que a aprovação é pelo Banco Central”.
Também a fusão ou a incorporação pode ocorrer, uma vez que se respeitem os princípios.
Tinha-se de pensar nas sociedades bancárias já existentes e a solução para os problemas que aparecessem
haviam de atender a dois princípios: a) as exigências futuras, com prazo razoável, para transformações sociais e
liquidações de determinadas operações, ou para a continuidade da atividade bancária, não ofendem o principio
do art. 141, § 89, da Constituição de 1946; b) as exigências que atingem a todas as empresas da mesma espécie
não ferem o principio de igual tratamento ou princípio de isonomia (ad. 141, § 19).
1.PRECISÕES. A propósito das operações dos bancos de investimento, cumpre que se atenda à necessidade
metodológica de se discriminar o que é específico e o que se acrescenta de iure condendo, acertada ou
desacertadamente a isso, sem ser, de modo nenhum, operação de investimento.
2.OPERAÇÕES COM AÇOES E OUTROS TÍTULOS. A finalidade precípua das sociedades de investimento,
inclusive os bancos de investimento, é a de operações de aquisição e alienação de ações, títulos ou valores
mobiliários, inclusive debêntures, no mercado de capitais. Assim é que êles investem o que os poupadores lhes
entregaram, ou o que os poupadores confiaram à sua administração. Razão não havia para que a Resolução n.
18, Xlv, pusesse em primeira plana tratando
-se de bancos de investimento empréstimos de capital fixo ou de movimento (financiamento), e não a aquisição
de ações, debéntures e quaisquer outros títulos ou valores mobiliários para investimento ou revenda, tal como se
mesclou no texto. A Resolução n. 18 revela que, apesar do ruído demagógico, em tôrno do papel das empresas
de investimento, houve intuitos mais de financiamento do que de investimento e não se cogitou de precisão das
figuras de atividade investitiva.
3.FINANCIAMENTOS. Há operações típicas a que se fixam limites temporais, para que possam ser feitas
pelos bancos de investimento. Aí está um dos elementos diversificados dos bancos de investimento e dos outros
bancos, de atividade ordinária. Uma das operações, que se puseram em primeiro lugar, é a de empréstimos; e a
elas se há de exigir serem a prazo. mínimo, quer se trate de financiamento para capital fixo, quer se trate de
financiamento de produção e embarque de bens 4estinados a exportação, ou de outro capital de movimento.
Dêles cogitou a Resolução n. 18, inciso XIV, a) e b), deter.~ minando que o prazo mínimo seja de um ano.
Nos negócios jurídicos bancários, o empréstimo é de grande relevância, porque o aceipiens se torna proprietário
do dinheiro, mas a função da transferência, para o gôzo, é causa jurídica e econômica, dos contratos. Se há
financiamento, o que é elemento necessário para as operações que se permitem aos bancos de investimento,
sem que os transformem em bancos de crédito e financiamento, ou em bancos ordinários, tem de haver o
motivo relevante (por bem dizer-se, outra dose causal), que é o emprêgo que se há de dar ao bem emprestado.
Se falta alguns dos pressupostos para a operação do banco de investimento, há infração da disciplina jurídica
que se deu aos bancos de investimento. Há o pressuposto de se tratar de financiamento e o de um ano de prazo
mínimo. Mais ainda:
o financiamento pode ser de capital fixo, ou de capital de movimento, sem que se possa justificar prazo maior
ou direito de opção à prorrogação.
Os bancos de investimento, como as outras sociedades da investimento, podem financiar, dentro de limites,
mas, se o financiamento passa à frente das outras operações típicas, há mistidade, pela deturpação da figura
jurídica da sociedade de investimento.
Embora haja intuito de lucro nas operações de investimento, não se permite aos bancos de investimento as
ordinárias operações de empréstimos. Permite-se-lhes financiamento. Cumpre, porém, que não se preestabeleça
a principalidade de tais operações, porque o banco deixaria de ser banco de investimento, para ser de
financiamento, ou misto.
capitais estrangeiros em indústria e agricultura, é o das empresas que simulam emprestar, para assim obterem a
moeda que emprestaram, mas em verdade só adquiriram bens do pais do banco mutuário.
9.ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAIS ALHEIOS. O banco de investimento pode ter serviço <te administração
de ações e outros títulos ou valores mobiliários, de custódia e de recebimento de dividendos, interesse e outros
proveitos. Não se falou de caixas fortes e de outros recipientes em que se guardem títulos. Mas tais negócios
jurídicos entram na figura da custódia, a que se alude na Resolução n. 18, XVI, d) “administração de carteira,
custódia e recebimento de rendimentos de títulos ou valores mobiliários”. A função de custódia é mais larga do
que a de depósito: custodia-se sem se ser depositário. 0 assunto já foi tratado. Aqui, apenas interessa frisar-se
que, ou seja a caixa forte ou cofre para inclusões de valores de que a posse imediata passe ao banco de
investimento, quer não, pode êle concluir tais negócios jurídicos.
A causa de custódia é que permite que seja depósito, e não mútuo, o depósito irregular. O conteúdo diferencia-
os, qualificando-os, pôsto que nêle haja elementos comuns. A tipicidade exsurge, porque histôricamente se
impôs. Poder-se-ia repelir, em algum sistema jurídico, a figura do depósito irregular, mas isso não aconteceu,
tanto mais quanto a tipicidade se fêz legal, em vez de apenas sugeriapelas circunstâncias (a que CESARE
GRASSETTI, L’Interpretazione dei Negozio givridico cem particulare riguardo ai contratti, 167, chamou, sem
felicidade, “tipicidade social”).
As regras jurídicas concernentes ao depósito regular não são invocáveis a respeito de outros contratos de
custódia, salvo, em determinados casos, a respeito do depósito irregular. Algumas regras jurídicas não são
somente regras jurídicas do depósito regular; daí a razão para que não se tenham tais regras jurídicas como
peculiares. A responsabilidade do banco que dá em locação caixas fortes ou gavetas não é a de depositário; é,
-w
até certo ponto, como a de depositário. Não o viu, como devera, Ismono LA LUMIA (1 Depositi bancari, 209
s.).
1. PRECISÕES. As limitações, a respeito dos bancos de investimento, como das outras sociedades de
investimentos, provêm de ser restrita, conceptualmente, a atividade dos bancos de investimento e da
necessidade de não se lhes misturarem atividades. A função, econômico-social, de diminuição e de divisão dos
riscos dos capitais dos poupadores portanto, do público exige que se possam conhecer as suas operações e os
seus propósitos, a fim de se proteger a clientela. Não foi até onde devia ir a ação da lei e dos atos
administrativos, infringentes, por vêzes, palmarmente, de conceitos e de principios juridicos.
3. PROIBIÇÕES . Os bancos de investimento estão sujeitos à estrita observância da Lei n. 4.595, art. 34: “É
vedado às instituições financeiras conceder empréstimos ou adiantamentos: 1 A seus diretores e membros dos
conselhos consultivo ou administrativo, fiscais e semelhantes, bem como aos respectivos cônjuges; II Aos
parentes, até o grau, das pessoas a que se refere o inciso anterior; III Às pessoas físicas ou jurídicas que
participam de seu capital, com mais de dez por cento, salvo autorização específica do Banco Central da
República do Brasil, em cada caso, quando se tratar de operações lastreadas por efeitos comerciais resultantes
de transações de compra e venda ou penhor de mercadorias, em limites que forem fixados pelo Conselho
Monetário Nacional, em caráter geral; IV às pessoas jurídicas de cujo capital participem, com mais dez por
cento; V às pessoas jurídicas de cujo capital participem, com mais de dez por cento, quaisquer dos diretores ou
administradores da própria instituicão financeira, bem como seus cônjuges e respectivos parentes, até o 2.0
-w
grau”. Acrescenta o § 1.0: “A infração ao disposto no inciso 1, dêste artigo, constitui crime e sujeitará es
responsáveis pela transgressão à pena de reclusão de um a quatro anos, aplicando-se, no que couber, o Código
Penal e o Código de Processo Penal”. E o § 2.0: ‘~O disposto. no inciso IV dêste artigo não se aplica às
instituições financeiras públicas”. A expressão “até o 22 grau” . A instituição financeira não pode fazer
empréstimos ou adiantamento a qualquer pessoa que esteja na linha vertical de parentesco, seja pai, avô, seja
bisavô, ou acima desse parente, seja a filho, neto, bisneto, ou abaixo desse, de diretores, membros de conselho
consultivo ou administrativo, fiscais ou semelhantes, bem como aos respectivos cônjuges. Nem a irmão e primo
ou tio. A redação do projeto de lei continuou o êrro que se vem cometendo a propósito de grau de parentesco.
Cf. Código Civil, art. 333.
A regra jurídica do art. 34, III, da Lei n. 4.595, depois de vedar, acertadamente, que a pessoas físicas ou
jurídicas, que participam do capital, com mais de dez por cento, a instituição financeira empreste ou faça
adiantamento, abre a exceção para as que tenham “autorização específica” do Banco Central, e isso dá margem
ao arbítrio nas operações, o que desde 1930 é a causa maior das grandes fortunas do País. um vez de se ter a
clareza da proibição, tem-se a porta aberta para as negociatas, disfarçadas pela satisfação de requisitos
dificilmente apreciáveis (“operações lastreadas por efeitos comerciais resultantes de transações de compra-e-
venda ou penhor de mercadorias, em limites que forem fixados pelo Conselho Monetário Nacional, em caráter
geral”). Sente-se a pressão d.e grupos sobre a atividade legislativa. O que se proibe não se pode deixar a arbítrio
de alguém, porque assim se infringe o art. 141, § 1.0, da Constituição de 1946.
Quanto ao inciso IV, a vedação é inexcetuavel. Quanto ao inciso V, há proibição, e apenas se tem de atender a
que o legislador não contou, “subindo”, “de um dos parentes até o ascendente comum”, o grau ou os graus
existentes de parentesco. Tem-se de dar inteligência sistemática ao que lá está dito, pois por exemplo o filho
ou neto do tio avô não há de ser tratado como o irmão ou o primo, filho de tio. Cf. Tomo IX, § 948.
Ainda está na Lei n. 4.595, art. 36: “As instituicões financeiras não poderão manter aplicações em imóveis de
uso próprio, que, somadas ao seu ativo em instalações, excedam o valor de seu capital realizado e reservas
livres”. Compreende-se que a propriedade de imóveis para uso próprio, que, somados os seus valores não só os
de aquisição! aos das instalações, excedam o valor do capital realizado e das reservas livres. Na Resolução n.
18, inciso XX, 2Y parte, a redação é diferente, o que pode dar ensejo a dúvidas e a controvérsias (“As
aplicações dos bancos de investimento ou de desenvolvimento em bens do seu ativo fixo não poderão ser
superiores a dez por cento do montante do capital realizado e reservas livres”).
No § 1.~ do ad. 34 a regra jurídica é de direito penal:
diz-se qual o suporte fáctico e qual a pena, com remissão, um tanto obscura (o que sempre se há de evitar em
direito penal), ao Código Penal e ao Código de Processo Penal.
No § 2.0 retira-se a incidência do art. 34, IV, a propósito de instituições financeiras públicas.
Lê-se na Lei n. 4.595, art. 35: “É vedado ainda às instituições financeiras: 1 Emitir debêntures e partes
beneficiárias; II adquirir bens imóveis não destinados ao próprio uso, salvo os recebidos em liquidação de
empréstimos de difícil ou duvidosa solução, caso em que deverão vendê-los dentro do prazo de um ano, a
contar do recebimento, prorrogável até duas vêzes, a critério do Banco Central da República do Brasil”.
Acrescenta o parágrafo único: “As instituições financeiras que não recebem depósitos, poderão emitir
debêntures, desde que previamente autorizadas pelo Banco Central da República do Brasil, em cada caso”. A
proibicão de emissão (subscrição e emissão, e não sé de emissão) de debêntures e partes beneficiárias é
compreensível. Igualmente, a de adquirir bens imóveis não destinados ao próprio uso, ou recebidos em
liquidação de empréstimos de difícil ou duvidoso solução. Na segunda espécie, há o prazo de um ano, “a con~
tar do recebimento” (entenda-se: a contar da transmissão da propriedade) para a alienação. Permite-se a
prorrogação, ate duas vêzes, pelo flanco Central, mas havemos de assentar ciie a prorrogação é a prazo
determinado, nunca por mais de um ano.
A respeito da subscrição e emissão de debêntures, ou de emissão de debêntures, o art. 85, parágrafo único,
permite-as a instituições financeiras “que não recebam depósitos”, se o Banco Central prêviamente o autorizou.
Ésse ato do Banco Central não é incontrolável pela Justiça.
O art. 35, II, da Lei n. 4.595 foi reproduzido na ilesolução n. 18, inciso XX, 1•a parte.
“As instituições financeiras de direito privado, exceto as de investimento, só poderão participar de capital de
qualquer sociedade com prévia autorização do Banco Central da República do Brasil, solicitada
justificadamente e concedida expressamente, ressalvados os casos de garantia de subscrição, nas condições que
forem estabelecidas, em caráter geral, pelo Conselho Monetário Nacional”. Daí se tira que as sociedades de
investimento, inclusive os bancos de investimento, podem participar do capital de outras empresas, sem que
para isso precisem de autorização do Banco Central.
c) ; todavia, precisou-se no inciso XX, b), que os bancos de investimento podem financiar reorganização,
racionalização de produção ou aumento de produtividade, inclusive aquisição de bens do ativo fixo com ou sem
pagamento de serviços técnicos, e, no inciso XXII, c), que também podem financiar implantação, melhoria ou
modernização de técnicas de produção ou administração e de formação ou aperfeiçoamento do pessoal. No
inciso XXIII, d), estabelece-se exceção, porque não há, aí, de ordinário, pensar-se em ativo fixo.
~ óbvio que os bancos de investimento, como qualquer sociedade de investimento ou administração de fundo de
investimento, tem o dever de examinar, atentamente, as suas operações, e cabe aqui, a respeito dos bancos de
investimento,
quanto dissemos, no Tomo LI, a respeito das sociedades de investimento, seus diretores e administradores.
Se a operação é de financiamento, operação a latere, porque, se não o fôsse, se teria dado nome impróprio ao
banco, incumbe-lhe analisar o projeto de empreendimento a ser financiado. A Resolução n. 18, XXIII, chegou a
indicar alguns pontos que aos seus autores pareceram principais. De modo nenhum podemos considerar
exaustiva essa enumeração: “As operações de financiamento de capital fixo deverão ser decididas pelos bancos
de investimento ou de desenvolvimento após análise do projeto de empreendimento a ser financiado, que
demonstre: a) existência de mercado para os bens ou serviços a serem produzidos; b) exeqúibilidade técnica do
processo de produção e disponibilidade dos fatôres necessários; c) rentabilidade da exploração do
empreendimento; d) viabilidade do esquema de financiamento proposto e segurança da disponibilidade dos
demais recursos previstos; e) capacidade do mutuário para pagar os encargos do financiamento”.
Afasta-se o financiamento total, isto é, o financiamento que consista em prestar o banco todo o quanto
necessário à aquisição ou obra financiada. Na Resolução n. 18, XXIV, fala-se de “adequada proporção entre o
seu capital e o valor emprestado”, além de ser parcial o financiamento (= a empresa concorre com parte do que
é necessário para a adquirição ou a obra).
Compreende-se que não se financie por tempo escasso. Acertado é que se estabeleça prazo mínimo para a
solução da dívida: um ano (inciso XXV). Os pagamentos tem de ser dentro das possibilidades da empresa
financiada, o que se há de rever nas operações (XXV). No inciso XXVI, acrescenta-se: “Os empréstimos para
capital fixo deverão ser garantidos por direitos reais de garantia, reserva de domínio ou alienação fiduciária em
garantia, admitida ainda, para os casos previstos nas alíneas b e e do item XXII, outras garantias, a juízo do
Banco Central”. Não dependem de qualquer ato do Banco Central a garantia real do financiamento (penhor,
caução, hipoteca, anticrese>, nem a reserva de domínio, se a operação é de prestação de bens móveis ou
imóveis, nem a aqui fiduciária em garantia. Só outras garantias exigem prévia permissão do Banco Central.
que não se saiba qual o total, a cada momento, ou em determinados momentos e, por vêzes, o quanto é
inesperadamente maior ou menor. Uma vez que se permitem tais operações e as de capital fixo, é ampla a
eventual atividade dos bancos de investimento. O que se exige é que se trate de financiamento de empresa, que
pode ser societária, ou não; e o prazo seja médio ou longo (Resolução n. 18, inciso XXVII). Conforme antes
dissemos, a propósito dos financiamentos de capital fixo, há o dever de análise da situação, porque o elemento
de investimento, que caracteriza o banco, exige maior atenção pela função de proteção que lhe incumbe. Quem
só financia arrisca-se. Quem financia, e faz investimentos para outrem, arrisca-Se, e arrisca os terceiros
poupadores. A situação examinada há de mostrar a aptidão da empresa, para os pagamentos, econômica e
financeiramente, dentro das cláusulas, inclusive de prazo, que se insiram no contrato. Exige-se também que os
créditos sejam garantido e por direitos reais de garantia, reserva de domínio, ou transferência fiduciária em
segurança. Quanto a outras garantias, como a de aceite de letras de câmbio por terceiro, ou avales ou outras
assunções de obrigações, o Banco Central há de ser ouvido (inciso XXXI) ou de haver estabelecido
pressupostos.
2.LIMITES. Diz-se no inciso XXXV, c) : “1. O principal das debêntures em circulação, acrescido da nova
emissão, não poderá exceder o montante do patrimônio liquido da empresa emitente; 2. o total do passivo
exigível da empresa, nêle incluídas as debêntures e todas as demais obrigações, não poderá exceder a cento e
cinqüenta por cento do patrimônio líquido da empresa emitente; 3. o total de obrigações com cláusula de
correção monetária e em moeda estrangeira não poderá exceder cento e vinte por cento do patrimônio líquido
da empresa emitente; 4. as disponibilidades da empresa emitente, previstas em suas projeções financeiras,
depois de atendidas todas as demais obrigações, deverão ser equivalentes, no mínimo, a uma vez e meia o
montante anual dos encargos de juros e amortização das debêntures com cláusula de correção monetária. d) A
operação deverá prever recursos para a sustentação da cotação das debêntures no mercado de capitais durante o
prazo previsto para a sua distribuição, observadas as normas em vigor sobre sustentação de títulos no mercado.
e) As debêntures com vencimento superior a dois anos que não tiverem a coobrigação de banco de investimento
ou de desenvolvimento deverão ser garantidas com ônus reais sobre bens do patrimônio da emprêsa emitente.
Essa garantia real poderá ser dispensada, desde que a empresa emitente não tenha ônus reais de garantia
constituídos sobre os bens de seu ativo e, enquanto não liquidar as debêntures, se obrigue a: 1, não constituir
direito reais de garantia a favor de terceiros, a não ser que antes, e preferencialmente, esses direitos reais
garantam as debêntures em circulação; 2. não assumir novas obrigações perante terceiros que elevem o total das
suas exigibilidades além dos limites previstos na alínea e, dêste item; 3. não assumir novas obrigações cujos
encargos de amortização e juros reduzam, além do limite previsto na alínea c), n. 4, a relação entre as
disponibilidades financeiras da empresa e os encargos de juros e amortização das debêntures com cláusula de
correção monetária.
ser pelo aceite da letra de câmbio ou da duplicata mercantil, ou pelo endosso ou aval de qualquer título
cambiário ou cambiariforme. Quanto às debêntures, podem ser ao portador ou nominativas endossáveis (zs com
cláusula à ordem), conforme expusemos no Tomo L, § 5.346. A referência que se faz na Resolução n. 18, inciso
XXXV, a títulos cambiários e a debêntures não atinge somente os títulos cambiários (letras de câmbio e notas
promissórias>, mas também alguns títulos cambiariformes, como as duplicatas mercantis, a que não se alude no
texto, e as debêntures, que mereceram ser mencionadas.
Tudo que acima se disse revela bem poucos conhecimentos jurídicos por parte do autor ou dos autores das
regras do inciso XXXV, e). Não há debéntures sem privilégio geral. A debênture é o título de crédito, título-
valor, que as sociedades por ações subscrevem, em que o ativo e bens de cada empresa são sujeitos a privilégio
geral, a favor dos debenturistas (cf. Lei n. 177-A, de 15 de setembro de 1893, art. 1.0).Cf. Tomo XXXIII, §§
3.811-3.824. Há comunhão de interêsses dos debenturistas. O direito ao privilégio incorpora-seno título. Ao
tempo da Lei n. 3.150, de 4 de novembro de 1882,as debêntures não tinham privilégio geral; tiveram-no desde o
Decreto n. 164, de 17 de janeiro de 1890, art. 32, §~§ 29 e 39.De qualquer modo, não há debêntures sem
privilégio geral que nelas se incorpore. Quando a Resolução n. 18, no inciso XXXV, e), supõe debênture~ sem
coobrigação de banco de investimento, que devem ter “ônus reais sobre bens do patrimônio da empresa
emitente”, supõe que existam debêntures sem direito real de garantia que nelas se incorpore. Todavia, emprega
a expressão “ônus reais”, absolutamente imprópria. Não se pode tratar de assuntos de direito econômico sem se
saber direito. A falta de boa terminologia jurídica perturba os negócios jurídicos, suscita controvérsias e faz a
confusão que se estabeleceu no Brasil, como nunca, entre 1964 e 1966.
2.ACEITES E OUTRAS APOSIÇÕES; GARANTIAS. Quanto aos aceites, em geral, estabelece-se que hão de
ser títulos com vencimento, pelo menos, de doze meses, e nunca superior a vinte e quatro meses, contados da
data do aceite, e não da data do titulo. Com isso, afastam-se possíveis simulações e fraudes. Tais prazos nada
têm com as obrigações oriundas de avales ou de endossos. As coobrigações hão de ter contragarantias, que são,
conforme o inciso XXXVI, a), 1) a caução de duplicatas mercantis e 2) a caução de títulos ou valores
mobiliários negociados habitualmente na Bolsa de Vaiares e líquidos (lá se diz, fora de qualquer terminologia
científica, “ou elevada liquidez”, o que permite entender-se que se trate de liquidez, qualidade que não admite
graus, portanto sem poder ser mais elevada ou menos elevada, ou de liquidabilidade, que essa, sim, os admite,
porque depende da solvibilidade) ; 3) caução de direitos de crédito resultantes de venda de mercadorias ou de
prestação de serviços; 4) caução de documentos representativos de mercadorias de fácil venda no mercado; 5)
alienação fiduciária em garantia de mercadorias de fácil venda no mercado.
entre o banco de investimento e o cliente, independente da relação jurídica que se estabelece ou que se vai
estabelecer entre a empresa sociedade por ações, ou empresa que lança debêndures, ou a entidade de direito
público e o cliente. A venda a prestações pode ser com a entrega imediata, ou a determinado momento, ou
quando se ultimar o pagamento. A esse respeito pode o Banco Central estabelecer normas, que respeitem o ad.
141, §~ 19, 29 e 49, da Constituição de 1946, sem que, com isso, possa edictar regras jurídicas que só em lei
devam estar.
§ 5>449. Transferência de posição subjetiva em contratos de empréstimos e outros negócios juridicos feitos no
exterior e simples repasse
3. CONTAS. Os bancos de investimento podem manter contas, sem juros e não movimentáveis por cheque,
-w
relativas a recursos de terceiros: a) recebidos de clientes para aplicação em títulos ou valores mobiliários, ou
referentes à movimentação dessas aplicações; b) vinculados à execução de suas operações ativas ou
relacionados com a prestação de serviços.
Os recursos acima aludidos, quando retidos sem aplicação por mais de quinze dias, ficam sujeitos a
recolhimento integral no Banco Centra], até que venham a ser aplicados.
Quanto ao que aí se estabelece, está no inciso XL, c), da Resolução n. 18, e ressalta a coerção descabida que se
contêm em tão exíguo prazo para aplicação de capitais.
A concepção do banco de investimento como empresa bancária especial foi restritiva, menos, aliás, do que
deveria ser. As contas de terceiros podem ser os depósitos de que se falou no inciso XXXIX, a), com cláusula
de correção monetária, a prazo fixo não inferior a dezoito meses, com juros, e imovimentáveis, ou as contas
sem juros, movimentáveis porém não por cheques (o banco de investimento não pode ser sacado em título
chéquico, não pode dar talão de cheque)
A figura, em a), não é a do depósito bancário, a que apenas se retirasse a movimentabilidade por meio de
cheques. Os clientes do banco de investimento podem entregar dinheiro ao banco, para operações de
investimento em títulos ou valores mobiliários ou para essas operações e outras que sobre-venham. A figura
jurídica apresenta particularidades da maior importância. Não se trata de depósito bancário. O depósito não é
regular, porque não se individua o dinheiro entregue, porém o depósito irregular, que em verdade ocorre, não se
faz depósito bancário. Há a fungibilidade do bem, mas o negócio jurídico considera de modo especial o bem
fungível, o dinheiro. Quanto aos títulos e valores mobiliários entregues em administração, o depósito é regular,
dada a individuação que ressalta. Quanto ao dinheiro, a destinação afasta a compensabilidade por parte do
depositário (Cf. ALBERTO TRABUCCEI, .tstituzio’ni di Diritto civile, 8~a ed., 519). O que mais importa é que
se atenda a que há depósito, e esse depósito irregular não se faz depósito bancário. O que se entregou não se
integrou em fundo de investimento, que seja ativo do banco de investimento, e mesmo que se compusesse
fundo comum de investimento, a propriedade permaneceria com os clientes, porque essa é a figura do inciso
XL, a). O elemento histórico, anglo-saxônico, ressalta, sem que o sistema jurídico brasileiro tenha de se
considerar insuficiente com os seus conceitos. A res, o dinheiro, foi entregue, mas é unidade distinta do
patrimônio do trustee. A destinação é que mantém a inconfundibilidade com o patrimônio do banco de
investimento. Diante de terceiros, o banco de investimento é conto dmo do dinheiro. (Aqui, o conceito de
propriedade do direito brasileiro e continental europeu, bem como dos outros países que o receberam, é
diferente do conceito da Comomn Law.) No plano do sistema jurídico brasileiro, o banco de investimento
apenas tem o exercicio de alguns direitos do proprietário, exercício necessário ao atingimento da destinação do
que foi entregue. O banco de investimento, para se empregar expressão inglêsa, é apenas “legal owner” perante
terceiros. Não temos o problema que surgiu no direito inglês quando faltava a tutela ,jurídica em caso de
inadimplemento de deveres por parte do trustee. Não precisamos recorrer à Equity, diante da insuficiência da
Comomn Law, para que os clientes tenham ações pessoais para observância, pelo banco de investimento, do
que lhe incumbe, nem a ação real, para a separação dos bens se materialmente (fàcticamente) estão inclusos no
patrimônio do banco de investimento (aliás, ainda há controvérsias no direito inglês, H.-G. HANBURY,
Modern Equity, 57’ ed., 505 s.).
No direito brasileiro, o inciso XL, a), suscita o problema de se saber se há depósito irregular, ou se há
transmissão fiduciária da propriedade mobiliária. A afirmação de que não há, na espécie, depósito bancário,
não resolve a questão da classificação: apenas se elimina uma das possíveis figuras. A invocação de conceitos e
textos anglo-saxões seria perturbante, porque a concepção da propriedade, no direito brasileiro, é a do direito
romano. As “contas”, sem juros e imovimentáveis, de que cogita o inciso XL, a), são de poupanças dos clientes
do banco de investimento, que salvo cláusula de inclusão em fundo do banco para diminuição e divisão de
riscos não deixam de ser de propriedade dos clientes, a despeito da fungibilidade da res. Se a conta alude a
fundo comum de investimento, nem por isso se há de deixar de pensar em depósito irregular, porque a
comunização não se fêz com bem do banco de investimento, mas sim, e somente, entre bens depositados pelos
clientes. Para que se pense em transmissão fiduciária da propriedade, estrito senso, é preciso que haja cláusula
ou elementos que levem a pender-se para a figura da propriedade fiduciária. Na espécie do inciso XL, a), o caso
é de depósito irregular.
Se há comunhão, os clientes são donos do que entregaram para a conta, irradia-se a Gemeinschaftseigentnm,
cada um com a sua quota na propriedade comum.
Não há prazo prescripcional para a exigência contra o banco de investimento.
Adiante temos de cogitar da diferença entre os certificados de depósito e os certificados de depósito bancário.
-w
proprietário do certificado, portanto o proprietário do depósito feito, ou da quota. Sem o certificado não se
podem receber interesses.
Há tôda a conveniência em que se lance o recibo, com a data, após o endosso, para que posterior endosso fique,
espacialmente, após o endosso anterior ao recebimento dos interesses.
Surge pergunta de relevância: j,o endosso do certificado de depósito bancário pode ser em branco? No direito
brasileiro, a nota promissária pode ser endossada em branco (Tomo XXXV, §§ 3.978, 1, e 3.988, 4). De modo
nenhum.
Os depósitos não podem ser prorrogados, mas podem, por ocasião do vencimento, ser renovados, por prazo não
inferior a dois anos. (O que se contém na Lei n. 4.728, art. 30, § 7.~, e no inciso XLI, h), da Resolução n. 18, é
pleonástico, e. g., “renovar” mediante “contratação nova”, “havendo comum ajuste”. Todo ajuste é comum!)
Permite-se a renovação, não a prorrogação, com todas as conseqúências jurídicas de tal limitação. A renovação
por menos de dois anos é ineficaz.
Se o banco de investimento se tornou proprietário das poupanças, só assumindo o dever de dividir os riscos da
carteira, pode êle proceder à societarização dessa carteira, se, com isso, não elimina nem diminui direito dos
poupadores.
Se as poupanças persistem propriedade dos poupadores, ou §sses estabeleceram propriedade fiduciária do
banco, ou se há depósito irregular, o banco de investimento de modo nenhum pode societarizar o fundo de
investimento.
A respeito do fundo de investimento, que seja do banco, tem o banco de investimento a escolha entre a)
dissolver o fundo (desfundializaçio, isto é, integração sem colorido no ativo do banco), b) mante -lo
diversificado, em carteira específica, dita carteira diversificada de investimento, c) societarizá-lo.
3.REQuisiTes PARA QUE HAJA A CARTEIRA DIVERSIFICADA. Conforme o inciso XLII, a), a carteira de
investimento deve subordinar-se a requisitos de diversificação: 1) o montante das aplicações em títulos de uma
única empresa não deve exceder a dez por cento do total das aplicações da carteira, nem representar mais de
vinte por cento de capital votante da empresa cujas ações integrem a carteira de fundo; 2) a média das
aplicações, por empresa, não pode exceder cinco por cento do valor total das aplicações em carteira; 8) as
aplicações em um mesmo tipo de atividade não devem exceder a vinte por cento do total das aplicações do
fundo.
Acrescenta-se em b) que não se estendem essas regras de limite às ações recebidas em bonificação ou
resultantes do exercício de direito de opção (lá só se diz “de preferência”) ou de preferência ou de contratos de
subscrição para revenda, desde que o excesso das percentagens seja eliminado no prazo máximo de seis meses,
prorrogável por igual período quando devidamente justificada a medida, perante o Banco Central.
1.NATUREZA DA FIGURA JURÍDICA. O depósito, a que se alude, não é depósito irregular, nem, a fortiori,
é depósito bancário. Trata-se de depósito regular. Os direitos e pretensões dos depositantes são os de quem é
dono dos bens entregues. O certificado é endossável, porém não se podem invocar a respeito dêle o que se
estabelece para os certificados de depósito bancário.
assegurados ao acionista pelos estatutos e pela lei. d) O certificado de depósito de valores mobiliários
em garantia pode ser desdobrado a pedido de seu titular, se não contiver cláusula de
indivisibilidade, e) A emissão de certificados de depósito de valores mobiliários em garantia e as
respectivas inscrições ou averbações não estão sujeitas ao ImpOsto do Sêlo (§ 4•O do artigo 81 da Lei
n. 4.728).
O que acima se disse está, em parte, na Lei n. 4.728, art. 31 e §§ ~ e na Resolução n. 18, inciso
XLIII, com alterações que se impunham, como, em b), 4) a eliminação da expressão “garantia”,
que não tem senso.
Por outro lado, se, pela lei, não pode votar o banco de investimento, pela ligação do voto à nacionalidade
brasileira do acionista, ou outra ligação, é nula a extensão da outorga de poderes que a Resolução n. 18
concebeu, fora da lei, como se pudesse alterar lei e até Constituição.
Título LIV
CAPÍTULO 1
1.PRECISõEs . Quando se fala de negócios jurídicos de bOlsa, necessariamente se alude a negócios jurídicos
que os corretores “fazem” na bOlsa. “Fazer” aí está em sentido que não é o de concluir, porque os corretores
não concluem os negócios em que êles correm. Já o frisamos no Tomo XLIII. Aliás, há negócios jurídicos em
que os corretores operam fora da bOlsa, mas, a despeito. disso, são ditos de bOlsa.
Os contratos de bOlsa são contratos de compra-e-venda (e acordos de transmissão), de reporte e de deporte. No
Decreto n. 2.475, de 13 de março de 1897, o art. 76 definiu a BOlsa de ValOres e o conceito serve para, mutatis
mutandis, se definirem as outras BOlsas: “A BOlsa é o lugar, no salão da praça do comércio, destinado às
operações de compra-e-venda de títulos públicos, de ações de banco e companhias, de valOres comerciais e de
metais preciosos”. No parágrafo único, disse que “é facultado aos corretores, fora da hora regimental da BOlsa,
efetuar negociações sObre metais, cambiais, descontos e empréstimos comerciais, contanto que no mesmo dia e
na hora oficia] da BOlsa apresentem boletins assinados, mencionando a quantidade, a natureza, o dia do
vencimento e o preço dos títulos para a cotação”. Não houve o pregão, dentro da balaustrada da BOlsa, que é o
lugar em que pode haver pregão; mas longa tradição reputa esses negócios jurídicos como negócios jurídicos de
bOlsa.
Estabelece o ad. 1.0 da Lei n. 2.146, de 29 de dezembro de 1953: “As Bolsas oficiais de valores são órgãos
auxiliares dos poderes públicos, na fiscalização dos lançamentos de emissões de títulos, por subscrição
pública”. Não é bem isso. As Bolsas oficiais de valores são bolsas, como quaisquer outras, para as operações de
lançamento ou de compra-e-venda de títulos das entidades de direito público. Uma das suas funções é a de
lançar titulos estatais, de subscrição pública, e outra, a de fiscalização desses lançamentos, de modo que lhes
incumbe verificar a legalidade das subscrições dos títulos e das emissões, bem como a da subscrição pública
(tomada pelo público).
direito público consideram essencial à existência, à validade e à eficácia. Tinha-se de levar em conta a rapidez
dos serviços, das operações, as sugestões quanto à figura do corretor, que, conforme mostramos no Tomo XLIII,
de modo nenhum é simples mediador, nem é, tão-pouco, representante dos figurantes. Uma das exigências é ser
à vista ou a prazo fixo, isto é, rigorosamente determinado. Outra é a genericidade do objeto.
De ordinário, só há Bolsa de bens móveis genêricamente determinados. Na compra-e-venda a liquidação
pronta, à conclusão do contrato e ao adimplemento, que supõe acôrdo de transferência, exige-se o tempo
mínimo, que é o de serem no mesmo dia (Decreto-lei n. 1.844, de 13 de junho de 1939, artigo 2.0, a), e § 1.0,
28. parte; Regimento da Bolsa de Valores e dos Corretores de Fundos Públicos do Rio de Janeiro, aprovado em
31 de maio de 1943 e publicado a 15 de junho, art. 191). Note-se que se dilatou o momento da compra-e-venda
de contado. A atividade bolsística fêz do instantâneo ou da imediatidade duração de um dia, considerado dia o
tempo de trabaIho. O contrato de compra-e-venda e o acôrdo de transmissão, com a tradição, em vez de serem,
nos casos de liquidação pronta, necessariamente simultâneos ou imediatos, passaram a ser separáveis dentro
do mesmo dia.
Os contratos de bolsa são contratos com termo, pois os de liquidação pronta são contratos de termo instantâneo,
dilatável, no máximo por um dia.
periódica dos corretores e demais pessoas interessadas no mercado de produtos da indústria agrícola ou
manufatora, suscetíveis de negociação , em lugar e horas prêviamente determinados para a realização de
compra-e-venda de tais produtos”.
As repartições ou entes administrativos que provêem e fiscalizam as atividades de outros entes sio ligações com
o Estado (cf. GrnSEPPTNO TREVES, Le Imp’rese pubbliche, 106 s.), sem que, com isso, se façam,
necessariamente , entes publicísticos os corpos operacionais, ou os seus membros. A intervenção estatal não
basta para a publicização.
Lê-se, hoje, na Lei ii. 4.728, de 14 de julho de 1965, artigo 59: “O sistema de distribuição de títulos ou valores
mobiliários no mercado de capitais será constituído: 1, das Bolsas de Valores e das sociedades corretoras que
sejam seus membros; II, das instituições financeiras autorizadas a operar no mercado de capitais; III, das
sociedades ou empresas que tenham por objeto a subscrição de títulos para revenda, ou sua distribuição no
mercado e que sejam autorizadas a funcionar nos termos do art. 11; IV, das sociedades ou empresas que tenham
por objeto atividade de intermediação na distribuição de títulos ou valores mobiliários, e que estejam registadas
nos termos do art. 12.”
No ad. 59, 1, falou-se das Bolsas de Valores e das sociedades corretoras, que sejam seus membros. Há, portanto,
a alusão ans corretores, pessoas físicas, e aos corretores, pessoas jurídicas. O elemento comum, essencial, é
serem membros da Bêlsa. Há empresas financeiras, que têm autorização para operações do mercado de capitais,
porém não dentro da Bolsa, nem para operaç5es para as quais a lei só admite a atividade do corretor ou da
sociedade corretora. Há sociedades ou empresas não-societârias , que se incumbem de subscrição de títulos, de
distribuição ou colocação, empresas , essas, que tenham autorização especifica do Banco Central (Lei ri 4.728,
arts. 5•Ó, II, e 11). Porém essas empresas, pessoas físicas ou jurídicas, nem operam na Bolsa, nem podem
operar no que a lei só atribua a corretores ou sociedades correto.ras. Também há as empresas autorizadas que
têm por objeto atividade de intermediação na distribuição ou colocação no mercado de títulos ou valOres
mobiliários. Mas escapa-lhes a função bolsistica e estão afastadas sempre que alguma regra jurídica exige que
somente seja confiada a corretores ou a sociedades corretoras. Em tudo isso, ressalta a exclusividade das
funções dentro da BOlsa e das que legalmente têm de ser ou somente podem ser exercidas pelos corretores ou
sociedades corretoras.
As operações de bolsa ou são feitas pelos corretores, membros da ]3ôlsa, ou por sociedades corretoras.
Deixou-se ao Conselho Monetário Nacional fixar o capital que há de ter cada uma. Cumpre, porém, observar-se
que se há de respeitar o principio da isonomia. Podem ser criadas antes ou ser autorizadas a funcionar, porque
não se subordinou a autorização do Banco Central a criação delas. Quanto aos seus dirigentes, a investidura é
sujeita às exigências concernentes à dos dirigentes das empresas financeiras.
Permitiu-se que a empresa corretora seja membro de mais de uma Bolsa de Valores.
Lê-se na Lei n. 4.728, art. 8.0: “A intermediação dos negócios nas Bolsas de Valores será exercida por
sociedades corretoras membros da Bolsa, cujo capital mínimo será fixado pelo Conselho Monetário Nacional.”
Acrescenta o § 12: “A participação societária conjunta dos administradores das sociedades corretoras não
poderá ser inferior à metade do capital votante.” E o § 2.0: “As sociedades referidas neste ar~ tigo somente
poderão funcionar depois de autorizadas pelo Banco Central, e a investidura dos seus dirigentes estará sujeita às
condições legais vigentes para os administradores de instituições financeiras.” Diz-se no § 3.0: “Nas condições
fixadas pelo Conselho Monetário Nacional, a sociedade corretora poderá ser membro de mais de uma Bolsa de
Valores.” E no § 42: “Os administradores das sociedades corretoras não poderão exercer qualquer cargo
administrativo, consultivo, fiscal ou deliberativo em outras empresas cujos títulos ou valores mobiliários sejam
negociados em Bolsa.” Ainda o § 5.0:
“As sociedades referidas neste artigo, ainda que não revistam a forma anônima, são obrigadas a observar as
normas de que trata o ad. 20, § 12, alienas a e b.” E o § 69: “O Conselho Monetário Nacional assegurará aos
atuais Corretores de Fundos Públicos a faculdade de se registarem no Banco Central para intermediar a
negociação nas Bolsas de Valores, sob a forma da firma individual, observados os mesmos requisites
estabelecidos para as sociedades corretoras previstas neste artigo, e sob a condição de extinção da firma por
morte do respectivo titular, ou pela participação dêste em sociedade corretora”.
A
No art. 8.0, § 6.0, há regra jurídica que só se refere aos corretores que eram, na data da incidência da lei,
Corretores de Fundos Públicos. Não se ofende, com ela, o princípio de isonomia, porque apenas se evita que a
le~ nota fira direitos dos que hoje exercem a função. Ou êles operam individualmente, ou como firma
-w
individual, ou se integram em sociedade corretora; de jeito que a firma individual é tida como provisória (se
extingue com a morte do corretor, ou se êle passa a ser membro de sociedade corretora).
A expressão “instituições financeiras” foi infeliz, porque não se podem considerar “instituições” empresas
particulares.
Ainda se diz, na Lei n. 4.728, art. 6.0: “As Bolsas de Valores terão autonomia administrativa, financeira e
patrimonial, e operarão sob a supervisão do Banco Central, de acôrdo com a regulamentação expedida pelo
Conselho Monetário Nacional.” Supervisão, e não subordinação.
O Banco Central passou a ter a supervisão entendamos: a fiscalização, a vigilância, a inspecção (não a direção
ou presidência) das Bolsas de Valores, em qualquer parte do território nacional. As normas, que o Banco
Central estabeleça, têm de respeitar o principio da isonomia ou igualdade perante a lei (Constituição de 1946,
art. 141, § 1.0). A fiscalização, a vigilância ou a inspecção não pode transformar-se em ingerência na
administração, nem no patrimônio das Bolsas, ou da Bolsa, porque está em lei o principio da autonomia
administrativa, financeira e patrimonial. As normas que forem ditadas pelo Conselho Monetário Nacional não
podem infringi-lo, nem violar os princípios constitucionais (e. g., Constituição de 1946, art. 141, §§ 1.~, 8? e
49).
Lê-se na Lei n. 4.728, art. 7?: “Compete ao Conselho Monetário Nacional fixar as normas gerais a serem
observadas na constituição, organização e funcionamento das Bolsas de Valores, e relativas a: 1, condições de
constituição e extinção; forma jurídica; órgãos de administração e seu preenchimento; exercício de poder
disciplinar sobre os membros da Bolsa, imposição de penas e condições de exclusão; II, número de sociedades
corretoras membros da Bolsa, requisites ou condições de admissão quanto à idoneidade, capacidade financeira,
habilitação técnica dos seus administradores e forma de representação nas Bolsas; III, espécies de operações
admitidas nas Bolsas; normas, métodos e prâticas a serem observados nessas operações; responsabilidade das
sociedades corretoras nas operações; IV, administração financeira das Bolsas; emolumentos, comissões e
quaisquer outros custos cobrados pelas Bolsas ou seus membros; V, normas destinadas a evitar ou reprimir
manipulações de preços e operações fraudulentas; condições a serem observadas nas operações autorizadas de
sustentação de preços: VI, registro das operações a ser mantido pelas Bolsas e seus membros; dados estatísticos
a serem apurados pelas Bolsas e fornecidos ao Banco Central; VII, fiscalização do cumprimento de obrigações
legais pelas sociedades cujos títulos sejam negociados na Bolsa; VIII, percentagem mínima do preço dos títulos
negociados a termo, que deverá ser obrigatôriamente liquidada à vista; IX, crédito para aquisição de títulos e
valores mobiliários no mercado de capitais”. E o §1.0: “Exceto na matéria prevista no inciso VIII, as normas a
que se refere êste artigo somente poderão ser aprovados pelo Conselho Monetário Nacional depois de
publicadas para receber sugestões durante trinta dias.” E o § 2.0: “As sugestões referidas no parágrafo anterior
serão feitas por escrito, por intermédio do Banco Central.”
A interpretação do art. 7•0 da Lei n. 4.728 tem de ser no sentido de se tratar de normas, e não de regras
juridicas que haviam de estar em lei. O que a lei exige às Bolsas de Valores a ser dispensado pelo Conselho
Monetário Nacional; - de êle criar penalidades, porque isso importa~ia atribuir-se a órgão do Poder Executivo
edictar regras de direito penal, com infração da ConstituIção de 1946 e dos próprios princípios essenciais à
civilização ocidental. £ lastima‘~‘el que o Congresso Nacional, só existente na aparência, desde 1964, haja
admitido o ad. 7? da Lei n. 4.728, com excesso de delegação legislativa, que seria surpreendente no próprio
regime parlamentarista. O que se tem por fito, evidentemente, é a ditadura financeira .
As Bolsas Oficiais de Valores, diz a Lei n. 2.146, de 29 de dezembro de 1958, são “órgãos auxiliares dos
poderes públicos, na fiscalização dos lançamentos de emissões de títulos, por subscrição pública. A expressão
“órgãos” poderia sugerir
4..
que as Bolsas de Valores são partes integrantes do Estado.
A Bolsa de Valores é organização de direito público, que depende de constituição pelo Estado; não é, porém,
árgão do
Estado. Daí estar o adjetivo “auxiliares” que se acrescentou
a “órgaos”.
Ainda a Lei n. 4.728, art. 92: “O Conselho Monetário Nacional fixará as normas gerais a serem observadas em
matéria de organização, disciplina e fiscalização das atribuições e atividades das sociedades corretoras
membros das Bolsas e dos corretores de câmbio”. Diz o § 1.0: “A partir de um ano, a contar da vigência desta
Lei, prorrogável no máximo, por mais três meses, a critério do Conselho Monetário Nacional, será facultativa a
intervenção de corretores nas operaçôe~ de câmbio e negociações das respectivas letras, quando realizadas fora
-w
das Bolsas”. O § 22: “Para efeito da fixaçM do curso de câmbio, todas as operações serão obrigatôriamenti
comunicadas ao Banco Central”. E o § 8.0: “Aos atuais corretores inscritos nas Bolsas de Valores será
permitido o exercício simultâneo da profissão de corretor de câmbio com a de membro da sociedade corretora
ou e titular de firma individual organizada de acôrdo com o § 6.0 do art. 82 desta Lei”. E o § 4.0: “O Conselho
Monetário Nacional fixará o prazo de até um ano prorrogável, a seu critério por mais um ano, para que as
Bolsas de Valores existentes e os atuais corretores de fundos públicos se adaptem aos dispositivos desta lei”.
Ainda o § 52: “A facultatividade a que se refere o § 12 dêste artigo entrará em vigor na data da vigência desta
Lei, para as transações de compra ou venda de câmbio por parte da União, dos Estados, dos Municípios, das
sociedades de economia mista, das autarquias e das entidades paraestatais excetuadas as operações de câmbio
dos bancos oficiais com pessoas físicas ou jurídicas não estatais”. E o § 62: “O Banco Central é autorizado,
durante o prazo de dois anos, a contar da vigência desta Lei, a prestar assistência financeira às Bolsas de
Valores, quando, a seu critério, se fizer necessário para que se adaptem aos dispositivos desta lei”. E o art. 10:
“Compete ao Conselho Monetário Nacional fixar as normas gerais a serem observadas no exercício das
atividades de subscrição para revenda, distribuição, ou intermediação na colocação, no mercado, de títulos ou
valores mobiliários, e relativos a: 1, capital mínimo das sociedades que tenham por objeto a subscrição para
revenda e a distribuição de títulos no mercado; II, condições de registro das sociedades ou firmas individuais
que tenham por objeto atividades de intermediação na distribuição de títulos no mercado; III, condições de
idoneidade, capacidade financeira e habilitação técnica a que deverão satisfazer os administradores ou
responsaveis pelas sociedades ou firmas individuais referidas nos incisos anteriores; IV, procedimento
administrativo de autorização para funcionar nas sociedades referidas no inciso 1 e do registro das sociedades e
firmas individuais referidas no inciso II; V, espécies de operações das sociedades referidas nos incisos
anteriores; normas, métodos e práticas a serem observados nessas operações; VI, comissões, ágios, descontos
ou quaisquer outros custos cobrados pelas sociedades ou empresas referidas nos incisos anteriores; VII, normas
destinadas a evitar manipulações de preço e operações fraudulentas; VIII, registro das operações a serem
mantídas pelas sociedades e empresas referidas nos incisos anteriores, e dados estatistícos a serem apurados e
fornecidos no Banco Central; IX, condições de pagamento a prazo dos títulos negociados”.
Na Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, art. 52, III, alude-se a “sociedades ou empresas que tenham por objeto
a subscrição de títulos para revenda, ou sua distribuição no mercado”. Tais empresas, societárias ou não,
precisam da autorização para funcionar, conforme os arts. 52 e 12. Na Lei n. 2.146, de 29 de dezembro de
1953, art. 1.0, § 1.0, estava explícito: “Nas emissões por subscrição pública interferirá sempre o corretor oficial
de valores, sob pena de nulidade de pleno direito”. No § 32, acrescenta-se que podem ser credenciados “agentes
de corretores oficiais e de entidades para a colocação de emissões de títulos”. As operações que se permitem às
empresas a que se refere o art. 52, III, da Lei n. 4.728, são operações fora da Bolsa . Podem elas subscrever
ações, debêntures ou outros títulos, para lançá-los, por sua conta, no mercado. Podem, também, ser
encarregadas do lançamento originário, ou da distribuição de bonificações, ou da tomada por opção pelos
acionistas, em caso de aumento de capital social, ou emissão de novos títulos de crédito.
No art. 92, § 2.0, da Lei n. 4.728 diz-se que todas as operações que possam influir na fixação do câmbio têm de
ser comunicadas ao Banco Central. A obrigatoriedade está explícita no texto.
Quanto à participação dos corretores em sociedade corretora, o art. 9•0, § 32, estatui que aos atuais corretores
inscritos nas Bolsas de Valores se permite o exercício simultâneo da profissão de corretor e o exercício que lhe
incumba como membro de sociedade corretora e de empresa intermediária de negociações na Bolsa de Valores,
“sob a forma de firma individual”, ou com uma delas (art. 82, § 6.0).
As~ empresas, pessoas jurídicas ou pessoas físicas, a que se refere o ad. 10, II. da Lei n. 4.728, não operam
como corretores. A atividade é de intermediação, o que não exclui o trato com os corretores, ou sociedades
corretoras, que, nos casos, mantêm a sua função específica.
O Estado tem de organizar as feiras, os mercados público a e as bolsas . Tem de fiscalizá-los. Bolsa é mercado
público, porém mais fechado, mais restrito. A própria Bolsa de Mercadorias é inconfundível com o mercado
público, porque a esse falta a figura do corretor, além da localização mais estreita (H. GÕPPERT, Das Recht
der Rórse, 32 s. e 54 s.).
Tem-se distinguido da bolsa pública a bolsa particular; mas, se precisamos o sentido de bolsa de valores e de
bolsa de mercadorias, a bolsa particular é proibida. Houve interesse público na limitação à liberdade de operar.
2. CONTRATOS DE BOLSA. Os negócios jurídicos de bolsa são bilaterais, são contratos. A tecnicização fê-
los mais eficientes e mais fâcilmente fiscalizáveis. Por outro lado, há a seleção dos objetos com que se opera;
donde a relevância da admissão dos títulos e das mercadorias à cotação na bolsa. Acontece, porém, que há
contratos de bolsa que podem ser feitos fora da bolsa, como a venda de título cotado na bolsa com vencimento
em dia que não seja o da liquidação de bOlsa, ou o contrato de reporte sem que o dia do vencimento seja dia de
liquidação em bolsa (cf. GARRONE, Le Borse ualori, 188). Por outro lado, contratos que têm por objeto títulos
de crédito podem ser contratos de bOlsa ou contratos de banco (ACQUAFREDDÁ, 1 Riporto nei mercati
monetario e finanzia.rio, 78 s.; GwmsÃÃ, Teenica di Borga, 79 s.). Nas espécies, evidentemente os contratos
têm o mesmo conteúdo e, sem se descer aos motivos, o elemento subjetivo intercalar é que há em alguns, e não
há nos outros (DE NAmto, 1 Contratti di borsa e di bane/te, 84 s.; NICOLõ CAMPAGNA, 1 Riporto in borsa
e fuori borga, 16 s.). Tem-se de atender a que a especificação foi mais quanto ao instrumento, para se dar
melhor organização aos serviços, sem os fazer de direito público. Quando o tabelião lavra escritura, esse
“funcionário jurídico” não publiciza os negócios jurídicos. O mesmo ocorre com os corretores, que não são
funcionários públicos.
Os negócios jurídicos da bOlsa, feitos na bolsa, têm regramento mais pormenorizado, porque a organização
bolsística reflete a tipicidade publicística dos órgãos do Estado descendo até ela. Um dos elementos
característicos é corporativo, porém, através dos tempos, é de relêvo o elemento dos usos de bolsa .
Os usos de bolsa são o que se costuma ou se usa fazer. Não são usos no sentido de direito consuctudínário
(Código de Processo Civil, ad. 212). São aquêles a que se referem os arts. 259-262 do Código de Processo
Civil. A prova dêles faz--se por certidão das repartições ou institutos incumbidos do registro (art. 260). Assim
também é nas bolsas dos Estados Unidos da América (cf. WILLISToN, On Contracts, s., 649 5.; j. E. DOS
PASSOS, A Treatise ou the Law ol Stockbrokers and Stock Ezchanges, ~, 2.~ ed., 410; MEYER, The Law o•f
Stockbrokers and Stock Exchanges, 152 s.1p. Se algum acórdão, principalmente do Supremo Tribunal Federal,
alude ao uso da Bolsa como assente, reforça-se o uso, mas isso não basta para o tornar regra juridica.
Se o cliente quer a operação, o que se há de entender é que quis o que é de uso nos atos dos corretores. O
afastamento do uso por manifestação de vontade do cliente não viola lei. As discussões que aparecem no
sistema jurídico dos Estados Unidos da América não podem ser importados pelo direito brasileiro. E. g., para o
sistema jurídico brasileiro, regra jurídica somente pode ser derrogada por uso, se esse uso é direito
consuetudinário, e não o uso no sentido dos arts. 259-262 do Código de Processo Civil.
Há presunção de que o cliente conhecia o uso bolsistico:
devia, por ser de ordinária diligência, conhecer o que se usou quanto à operação que deseja (Harris versus
Turnbridge, 83 N. Y. 92, 1880). A prova de que o ignorava, sem que devesse conhecê-lo, afasta a invocabilidade
do uso (Irwin versus Williar, 110 U. 5. 499, 1884).
Os usos da bOlsa têm extensão federal, ou estadual, ou de cidade. Atende-se à matéria, se há diversidade entre
os usos do mesmo lugar e não houve qualquer cláusula contratual em sentido contrário.
Os regulamentos da bOlsa costumam inserir a cláusula de variabilidade das partidas da mercadoria contratada,
com a correspondente variação do preço (deliverable grades), para que se evite a monopolização.
Lê-se no art. 51 do Decreto-lei n. 1.344: “As Câmaras Sindicais, para admitirem títulos a negociação e cotação
das respectivas Bolsas, além dos documentos já apresentados pelos interessados, poderão pedir maiores
esclarecimentos técnicos e jurídicos”. Os esclarecimentos, que forem exigidos, hão de
-w
ser pertinentes, para que possa haver o fundamento do despacho de admissão ou de não-admissão. Se
desrazoáveis e injustificáveis, permitem-se os recursos e ações que caibam e a invocação do art. 141, § 49, da
Constituição de 1946.
CAPÍTULO II
OPERAÇÕES BOLSISTICAS
1. CONTEÚDO. As operações bolsísticas de valores são todas as operações em que se compra ou se vende, ou
outro negócio jurídico, permitido em bolsa, se conclui, se o objeto a que se referem é dinheiro, ou são títulos ou
valores equiparáveis a títulos. Diz-se portanto Bolsa. de Valores a bolsa em que as operações não são sobre
produtos, mercadorias senso estrito, razão por que havemos de entender que “valores” está, aí, em senso estrito.
Bolsa, em sentido material, é a bOlsa que opera com negócios jurídicos bolsísticos. Daí haver as bOlsas que o
Estado cria (ou autoriza) e as bolsas privadas, que são proibidas.
Bolsa, em sentido formal, é a que tem status de bólsa, com ou sem a função de concluir negócios jurídicos
bolsísticos.
De qualquer modo, as bolsas não são sujeitos de direito, não têm personalidade jurídica.
Lê-se na Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, art. 19:“Os mercados financeiro e de capitais serão discip»nados
pelo Conselho Monetário Nacional e fiscalizados pelo Banco Central da República do Brasil.” No art. 2.0: “O
Conselho Monetário Nacional e o Banco Central exercerão as suas atribuições legais relativas aos mercados
financeiro e de capitais com a finalidade de: 1, facilitar o acesso do público a informações sObre os títulos ou
valOres mobiliários distribuídos no mercado e sobre as sociedades que os emitirem: II, proteger os investidores
contra emissões ilegais ou fraudulentas de títulos ou valores mobiliários; 1H, evitar modalidades de fraude e
manipulação destinadas a criar condições artificiais da demanda, oferta ou preço de títulos ou valores
mobiliários distribuídos no mercado; IV, assegurar a observância de práticas comerciais equitativas por todos
aquêles que exerçam, profissionalmente, funções de intermediação na distribuição ou negociação de títulos ou
valores mobiliários; VI, regular o exercício da atividade corretora de títulos mobiliários e de câmbio”.
Ainda a Lei n. 4.728, ari. 32: “Compete ao Banco Central: 1, autorizar a constituição e fiscalizar o
funcionamento das Bolsas de Valores; II, autorizar o funcionamento e fiscalizar as operações das sociedades
corretoras membros das Bôl823 de Valores (arts. 8.0 e 99) e das sociedades de investimento; III, autorizar o
funcionamento e fiscalizar as operações das instituições financeiras, sociedades ou firmas individuais que
tenham por objeto a subscrição para revenda e a distribuição de títulos ou valores mobiliários; IV, manter
registro e fiscalizar as operaç5es das sociedades e firmas individuais que exerçam as atividades de
intermediação na distribuição de títulos ou valores mobiliários, ou que efetuem, com qualquer propósito, a
captação de poupança popular no mercado de capitais; V, registar títulos e valores mobiliários para efeito de sua
negociação na Bolsa de Valores; VII, registar as emissões de títulos ou valores mobiliários a serem distribuídos
no mercado de capitais; VII, fiscalizar a observância, pelas sociedades emissoras de títulos ou valores
mobiliários negociados na bolsa, das disposições legais e regulamentares relativas a: a) publicidade da situação
econômica e financeira da sociedade, sua administração e aplicação dos seus resultados; b) proteção dos
interesses dos portadores de títulos e valores mobiliários distribuídos nos mercados financeiro e de capitais;
VIII, fiscalizar a observância das normas legais e regulamentares relativas à emissão, ao lançamento, à
subscrição e à distribuição de títulos ou valores mobiliários colocados no mercado de capitais; lIS, manter e
divulgar as estatísticas relativas ao mercado de capitais, em coordenação com o sistema estatístico nacional; X,
fiscalizar a utilização de informações não divulgadas ao público em beneficio próprio ou de terceiros, por
acionistas ou pessoas que, por fôrça de cargos que exerçam, a elas tenham acesso.” No art. 49: “No exercício de
suas atribui-
ções, o Banco Central poderá examinar os livros e documentos das instituições financeiras, sociedades,
empresas e pessoas referidas no artigo anterior, as quais serão obrigadas a prestar as informações e os
-w
esclarecimentos solicitados pelo Banco Central.” No § 1.0: “Nenhuma sanção será imposta pelo Banco Central,
sem antes ter assinado prazo, não inferior a trinta dias, ao interessado, para se manifestar, ressalvado o disposto
no § 39 do art. 16 desta Lei.” No § 29: “Quando, no exercício das suas atribuições, o Banco Central tomar
conhecimento de crime definido em lei como de ação pública, oficiará ao Ministério Público para a instalação
(!) de inquérito policial.” E no § 3.0: “Os pedidos de registro submetidos ao Banco Central, nos térmos dos arts.
19 e 20 desta Lei, consideram-Se deferidos dentro de trinta dias da sua apresentação, se nesse prazo não forem
indeferidos.” No § 49: “A fluência do prazo referido no parágrafo anterior poderá ser interrompida uma única
vez, se o Banco Central pedir informações ou documentos suplementares, em cumprimento das normas legais
ou regulamentares em vigor.” E o § 50: “Ressalvado o disposto nro. 89, o Conselho Monetário Nacional fixará
os prazos em que o Banco Central deverá processar os pedidos de autorização, registro ou aprovação previstos
nesta Lei.” E o § 69: “O Banco Central fará aplicar aos infratores do disposto na presente lei as penalidades
previstas no capitulo V da Lei n. 4.595, de 81 de dezembro de 1964.”
Tem de ser elaborado quadro dos títulos cotáveis na bolsa. Não seria praticável o exame imediato. A
cotabilidade depende do que se sabe sobre a empresa e a satisfação dos pressupostos. Se falta algum dêles, não
se há de admitir operação sobre o que se não considera apto à cotação. Cf. Decreto n. 2.475, de 13 de março de
1897, art. 89, onde se põe o principio da responsabilidade do permitente, que era, então, a Câmara Sindical, e
não importa, para a invocabilidade do artigo 89, 2.~ alínea, qual o corpo a que presentemente incumba:
..... responderá, civilmente, pelos prejuízos resultantes da admissão à cotação de títulos, debêntures
irregularmente emitidas e ações de associações ilegalmente constituídas, ou que não tenham realizado o capital
exigido na lei reguladora do anonimato, para que as suas ações sejam negociáveis, e de sociedade sem
existência real e atividade efetiva, e organizadas no intuito exclusiVo de tentar a negociação de títulos e a
exploração de operações sobre os mesmos”. Hoje, a Lei n. 4.728, art. 3~O, ¾ diz que compete ao Banco Central
“registar títulos e valores mobiliários para efeito de sua negociação lia Bolsa de Valores”.
Se o registro, a autorização ou aprovação, cujo pedido foi feito ao Banco Central, sem que esse o despachasse
dentro do prazo, resultou de expiração, não fica isento de responsabilidade civil o seu Presidente e os demais
dirigentes pelos danos que advierem da inidoneidade. Também em caso de deficiência ou falta de fiscalização
há a responsabilidade civil.
Diz a Lei n. 4.728, art. 19: “Somente poderão ser negociados nas Bolsas de Valores os títulos ou valores
mobiliários de emissão: 1 de pessoas jurídicas de direito público; II de pessoas jurídicas de direito privado
registadas no Banco Central”. E o § 19: “O disposto neste artigo não se aplica aos títulos cambiais colocados no
mercado de acôrdo com o artigo 17”. E o § 29: “Para as sociedades que já tenham requerido a cotação de suas
ações nas Bolsas de Valores, o disposto neste artigo entrará em vigor a partir de 19 de janeiro de 1966, quando
ficará revogado o Decreto-lei n. 9.788, de 6 de setembro de 1946”.
O art. 17 da Lei n. 4.728 exige a coobrigação de empresas financeiras nos títulos cambiários lançados no
mercado, salvo se há permissão do Conselho Monetário Nacional, “em caráter geral e de modo a assegurar
garantia adequada aos que adquirirem”.
O Decreto-lei n. 9.788, de 6 de setembro de 1946, art. 1.0, dizia que as sociedades por ações, com sede no
Brasil, ficariam obrigadas, antes de entrar em funcionamento, a requerer à Bolsa de Valores mais próxima de
sua sede a cotação de suas ações e obrigações ao portador (debêntures). No parágrafo único, acrescentava-se
que as sociedades já organizadas tinham o prazo de noventa dias, contados da publicação do decreto-lei, para
isso.
A respeito dos valores mobiliários das empresas de direito privado é indispensável o registro. Diz a Lei n.
4.728, artigo 20: “Compete ao Conselho Monetário Nacional expedir normas gerais sobre o registro referido no
inciso II do artigo anterior, e relativas a: 1 informações e documentos a serein apresentados para obtenção do
registro inicial; II informações e documentos a serem apresentados periodicamente para a manutenção do
registro; III casos em que o Banco Central poderá recusar, suspender ou cancelar o registro”. Acrescenta o §
1.0: “Caberá ainda ao Conselho Monetário Nacional expedir normas a serem observadas pelas pessoas jurídicas
referidas neste artigo, e relativas a: a) natureza, detalhe, periodicidade da publicação de informações sobre a
situação econômica e financeira da pessoa jurídica, suas operaç5es, administração e acionistas que controlam a
maioria do seu capital votante; b) organização do balanço e das demonstrações de resultado, padrões de
organização contábil, relatorios e pareceres de auditores independentes registados no Banco Central; e)
manutenção de mandatários para a prática dos atos relativos ao registro de ações e obrigações nominativas, ou
nominativas endossáveis”. E o § 29: “As normas referidas neste artigo não poderão ser aprovadas antes de
decorridos trinta dias de sua publicação para receber sugestões”. Lê-se na Lei n. 4.728, art. 21: “Nenhuma
-w
emissão de títulos ou valores mobiliários poderá ser lançada, oferecida pública-mente, ou ter iniciada a sua
distribuição no mercado, sem estar registada no Banco Central”. Acrescenta o § 1.0: “Caberi ao Conselho
Monetário Nacional estabelecer normas gerais relativas às informações que deverão ser prestadas no pedido de
registro previsto neste artigo em matéria de: a) pessoa jurídica emitente ou coobrigada, sua situação econômica
e financeira, administração e acionistas que controlam a maioria de seu capital votante; b) características e
condições dos títulos ou valores mobiliários a serem distribuídos; e) pessoas que participarão da distribuição”.
E o § 29: “O pedido de registro será acompanhado dos prospectos e quaisquer outros documentos a serem
publicados, ou distribuídos, para oferta, anúncio ou promoção de lançamento da emissão”. E o ‘~
“o Banco Central poderá suspender ou proibir a distribuição de títulos ou valores: a) cuja oferta, lançamento,
promoção ou anúncio esteja sendo feito em condições diversas das constantes do registro da emissão, ou com a
divulgação de informações falsas ou manifestamente tendenciosas ou imprecisas; b) cuja emissão tenha sido
julgada ilegal ou fraudulenta, ainda que em data posterior ao respectivo registro”. E o § 49: “O disposto neste
artigo não se aplica aos títulos cambiais colocados no mercado com a coobrigação de instituições financeiras”.
As empresas vincularam-se.
2.OBJETO. Os contratos de bolsa têm por objeto valores, moeda estrangeira e mercadorias. Muitos contratos
de bolsa são sobre valores a que correspondem moeda estrangeira ou mercadorias. O pressuposto da
fungibilidade é necessário. Fala-se de bens móveis. Mas, de jure condendo, não se justificaria que se
excluissem os títulos incorporativos de direitos sobre imóveis, de modo que se dêem a exame os direitos
incorporados. Ainda assim, se a operação é de reporte ou de deporte, pode ser feita a individuação do título para
efeitos de prêmios, bonificações por sorteio e outros direitos acessórios.
Quanto aos titulos acessórios, como os cupões de juros ou de dividendos, sendo separáveis, nio criam
problemas. A operação bolsística ou os compreende, ou não os compreende.
Para que o contrato de bolsa seja feito dentro da balaustrada, no flúor da bolsa, seja fora deixe de ser
considerado contrato de bolsa, é preciso que expressamente se haja preestabelecido não ser contrato de bolsa.
Na Constitution of the New York Stock Exchange, art. XII, seção 1, está explícito: “AlI contracts of a member
of the Exchange or of a member firm or a member corporation with any member firm or any member
corporation for the purchase, sale, borrowing, loaning or hypothecation of securities, or for the borrowing
Ioaning or payment of money, whether occurring on the Floor of the Exchange or elsewhere, shall be Exebange
Contracts, unless made subject to the rales of another Exchange, or unless the parties thereto have expressly
agreed that the same shall not be Exchange Contracte”.
O contrato de bOlsa tem de observar as regras jurídicas legais ou regulamentares e o que se haja tornado uso da
bOlsa.
A oferta e a aceitação, el fere, são elementos indispensáveis, porque se trata de negócios jurídicos bilaterais,
quer sejam em sessão da bolsa, quer fora (Decreto-lei n. 1.344, de 18 de junho de 1939, arts. 35-89; Decreto n.
2.475, de 13 de março de 1897, arts. 76 e 77; Decreto n. 20.881, de 30 de dezembro de 1931, arte. 31 e 82).
A vinculação é conforme os princípios gerais de direito aceita a oferta, concluído está o contrato. Se não se
disse, precisamente, quantos os valores ou as mercadorias compradas, entende-se que foi do menor número que
podia ser. A cláusula tudo ou nada (alI or none) implica que a aceitação foi do todo.
Se o corretor tem o que vender e também tem de comprar, trate-se de valor ou de mercadoria, primeiro há de
oferecer titulo a preço superior àquele da oferta de compra. Só assim pode concluir o contrato alheio consigo
mesmo.
A aprovação de operação que se ultimou, acima ou abaixo do que se desejava, implica modificação do que
originàriamente se disse e, pois, aceitação.
O cliente que desaprova, no todo ou em parte, deve fazê-lo no dia seguinte àquele em que recebeu a
comunicação. Não basta que remeta de volta a comunicação válida, porque tem de pormenorizar os pontos
falhos ou divergentes do encargo.
Nas operações a prazo, tem o corretor direito de exigir do figurante futuro a garantia de reforço , para eventuais
alterações da taxa do câmbio, para se pôr a salvo de possível impontualidade ou insolvibilidade do futuro
figurante (Decreto n. 2.475, arts. 99 e 100).
As liquidações de cambiais ou de moedas metálicas têm de ser pela entrega efetiva das letras de câmbio ou das
moedas. São proibidas as liquidações por diferença e a entrega por antecipação de prazo (Decreto n. 2.475, arts.
94, 108 e 111). O corretor é responsável pela celebração perfeita do contrato (Regimento Interno da Bolsa de
Valores, art. 242). Visados ou confirmados os contratos, o corretor somente se responsabiliza pela identidade
dos figurantes, autenticidade das firmas, formalidades legais e registro da cotação (art. 243). A falta de
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liquidação da operação, na data do vencimento, ou no termo da prorrogação, permite o protesto como medida
para a prestação de perdas e danos (Decreto n. 2.475, ad. 98). Se a operação cambial não foi liquidada no prazo
do contrato, os figurantes têm de notificar, por escrito, o corretor, com a menção do número do contrato, do
saldo e do prazo da prorrogação (Regimento Interno da BOlsa de Valores, art. 245).
As operações de cambiais podem ser feitas em documento, devidamente selado, que contenha promessa de
entrega das letras, dentro de determinado prazo (Decreto n. 2.475, artigo 118). As operações a prazo sobre letras
de câmbio somente podem ser objeto de cotação, ou. ter eficácia em juízo, se podem ser provadas por certidão
extraida de livro do corretor com as exigências do art. 49 do Código Comercial e do art. 54 do Decreto n. 2.475
(Regimento Interno da Bolsa de Valores, art. 232).
As negociações de espécies metálicas provam-se por certidão extraída do livro do corretor, com a indicação da
quantidade, da natureza e do prazo (Decreto n. 2.475, art. 121).
As ações das empresas de capital aberto têm de ser cotadas na Bolsa de Valores. Diz a Lei n. 4.728, art. 59:
“Caberá ao Conselho Monetário Nacional fixar periodicamente as condições em que, para efeitos legais, a
sociedade anônima é considerada de capital aberto”. Acrescenta o § 1.0: “A deliberação do Conselho Monetário
Nacional aumentando as exigências para a conceituação das sociedades de capital aberto somente entrará em
vigor no exercício financeiro que se inicie, no mínimo, seis meses depois da data em que fôr publicada a
deliberação”. E o § 29: “Para efeito do cálculo da percentagem mínima do capital com direito a voto,
representado por ações efetivamente cotadas nas Bolsas de Valores, o Conselho Monetário Nacional levará em
conta a participação acionária da União, dos Estados, dos Municípios, das autarquias, bem como das
instituições de educação e de assistência social, das fundações e das ordens religiosas de qualquer culto”.
As letras imobiliárias , de que cogita a Lei n. 4.728, são títulos mobiliários. Lê-se na Lei n. 4.728, art. 65: “Por
proposta do Banco Nacional de Habitação, o Conselho Monetário Nacional poderá autorizar a emissão de
Letras Imobiliárias com prazo superior a um ano”. Acrescenta o parágrafo único: “O Banco Nacional de
Habitação deverá regulamentar, adaptando-as ao disposto nesta Lei, as condições e características das Letras
Imobiliárias previstas no art. 44 da Lei número 4.880, de 21 de agOsto de 1964”.
O art. 44 da Lei n. 4.380 estabelece: “O Banco Nacional da Habitação e as sociedades de crédito imobiliário
poderão colocar no mercado de capitais “letras imobiliárias” de sua emissão”. O § 1.0: “A letra imobiliária é
promessa de pagamento e quando emitida, pelo Banco Nacional da Habitação serão garantida pela União
Federal”. No § 2.0 acrescenta-se: “As letras imobiliárias emitidas por sociedades de crédito imobiliário terão
preferência sobre os bens do ativo da sociadade emitente em relação a quaisquer outros créditos contra a
sociedade, inclusive de natureza fiscal ou parafiscal”. No § 3.0:
“Às Sociedades de Crédito Imobiliário é vedado emitir debéntures ou obrigações ao portador, salvo letras
imobiliárias”. No § 4.0: “As letras imobiliárias emitidas por sociedades de crédito imobiliário poderão ser
garantidas com a coobrigação de outras empresas privadas”.
Preliminarmente, é de frisar-se que não se trata de letra, de carta, que se remeta a alguém, que aceite e assim se
vincule. Nenhum ato de saque se lhe pode apontar. O termo é de impropriedade gritante. Em segundo lugar, não
há, no suporte fáctico, qualquer elemento de bem imóvel, porque só a atividade da empresa é que consiste em
negócios jurídicos em que a res é bem imóvel.
Tais letras imobiliárias são, conforme o art. 51 da Lei n. 4.380, cotáveis na Bolsa de Valores. Isso não significa
que não precisem da admissão à cotação. Tem de ser examinada a observância das leis.
As letras imobiliárias são títulos de crédito, a despeito da denominação que se lhes deu. Há elipse, porque se
chamou letras imobiliária às cédulas, às notas promissórias, que o Banco Nacional da Habitação ou a sociedade
de crédito imobiliário emite (não saca!), sem qualquer incorporação ou representação de bem imóvel, ou parte
dêle. A impropriedade da linguagem é lamentável, porque se faz pensar em letras de câmbio (saque) e em bem
ou garantia de bem imóvel. ~No entanto, há, apenas, promessa unilateral de pagamento (Lei número 4.380, art.
44, § 1.~), e privilégio (dito, na lei, “preferência”, cf. Tomo XXVII, §§ 3.235, 1, e 2.236, 1, 2). Trata-se de
prelação, que há de ocorrer entre créditos, e nada tem com os direitos reais, inclusive de garantia. Nos
concursos de credores, as letras imobiliárias são créditos, que passam à frente dos outros créditos, porém não à
frente dos direitos reais de garantia. Os direitos reais, a favor de terceiros, não são computáveis no ativo da
sociedade emitente ou do Banco Nacional da Habitação, que os outorgou.
O depósito para uso começou na Inglaterra no fim do século XVII. A sua estrutura precisou-se na organização
bancária e nos propósitos da circulação do dinheiro (cf. ADOLPH WACNER, fie Geláind Kreditheorie der
Peelseken Bankaktc, 215). ~ inconfundível com qualquer título de crédito que a empresa emita. A chamada letra
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imobiliária, por exemplo, não é cártula de depósito, pôsto que o dinheiro prestado possa ter aplicações que o
depósito bancário teria ou poderia ter. O depósito supõe a retirada pelo depositante, conforme es princípios, e o
uso do dinheiro a líbito do banco (cf. NEUMANN-HOFER, Depositengeschãf te ind Depositertbanken, 12)
No art. 44, § 39, a Lei n. 4.880 proibiu às sociedades de crédito imobiliário emissão de debêntures (sejam ao
portador, ou, hoje, sejam endossáveis). Assim, afasta-se compreensivamente que se tivesse de pôr à frente das
letras imobiliárias as debêntures. A redação do art. 44, má, porque não se justifica a inserção de “salvo”, uma
vez que letras imobiliárias não são debéntures.
As letras imobiliárias podem ter avales de outras empresas privadas, sejam imobiliárias ou não no sejam. A
coobrigação é por aval, que pode constar do título impresso, ou ser posterior à emissão.
As letras imobiliárias são títulos cambiariformes.
No art. 45 da Lei n. 4.880 fala-se dos pressupostos ao certificado ou titulo (digamos “título”) : “O certificado ou
titulo de letra imobiliária deve conter as seguintes declarações lançadas no seu contexto: a) a denominação
“letra imobiliária” e a referência à presente lei; b) a denominação do emitente, sua sede, capital e reserva, total
dos recursos de terceiros e de aplicações; c) o valor nominal por referência à Unidade Padrão de Capital do
Banco Nacional da Habitação (art. 52) ; á) a data do vencimento, a taxa de juros e a época do seu pagamento; e)
o número de ordem bem como o livro, fôlha e número da inscrição no Livro de Registro do emitente; f) a
assinatura do próprio punho do representante ou representantes legais do emitente; g) o nome da pessoa a quem
-deverá ser paga no caso de letra nominativa”.
As letras imobiliárias podem ser nominativas ou ao portador. Aquelas podem ser endossadas. No caso de perda
ou destruição (“perda ou extravio”, diz a Lei n. 4.880, art. 50> da cédula nominativa, quer endossada, quer não,
ao tomador ou endossatário cabe requerer expedição de outra via, que lhe há de ser entregue mediante termo de
recibo, subscrito por duas testemunhas idôneas. Compreende-se que assim seja se e’ nome do endossatário
constava do título e se o requerente da outra via alega e prova a sucessão de endossos. O endosso somente pode
ser em prêto (art. 47, b) : “no próprio título”, o que é pleonasmo, porque não há endosso fora do título:
“datado e assinado pelo endossante”.
Diz a Lei n. 4.880, art. 46: “O Banco Nacional da habitação e as sociedades de crédito imobiliário manterão
obrigatôriamente um “Livro de Registro de Letras Imobiliárias Nominativas” no qual serão inscritas as Letras
nominativas e averbadas as transferências e constituições de direitos sobre as mesmas”. Acrescenta o seu
parágrafo único: “O Livro de Registro de Letras Imobiliárias nominativas das sociedades de crédito imobiliário
será autenticado no Banco Nacional da Habitação e o seu modêlo e escrituração obedecerão às normas fixadas
pelo mesmo Banco”. As providências registárias são as que a técnica legislativa tem fixado; e o registro dos
endossos, que são em prêto, e das transmissões em virtude de sucessão a causa de morte, ou de execução
forçada, ou outra causa não endossativa, tinha de ser exigido. Ainda se fala, no art. 46, dos direitos sObre as
letras imobiliárias, como é o caso do usufruto, do negócio jurídico lombardo, do penhor, ou da transferência da
propriedade fiduciária, em segurança (aí, transferência da propriedade mobiliária, fiduciária, em segurança, a
despeito da infeliz expressão “letras imobiliárias”).
Diz a Lei n. 4.380, art. 47: “As Letras Imobiliárias poderão ser ao portador ou nominativas, transferindo-se as
primeiras por simples tradição, e as nominativas: a) pela averbação do nome do adquirente no Livro de Registro
e no próprio certificado efetuada pelo emitente ou pela emissão de novo certificado em nome do adquirente,
inscrito no Livro de Registro; b) mediante endosso em prêto no próprio título, datado e assinado pelo
endossante”. Está no § 19: “Aquêle que pedfr a averbação da letra em favor de terceiro ou a emissão de nôvo
certificado em nome desse deverá provar perante o emitente sua identidade e o poder de dispor da letra”. Diz o
§ 29:
“O adquirente que pedir a averbação da transferência ou a emissão de nôvo certificado deve apresentar ao
emitente da letra o instrumento da aquisição, que será por êste arquivado”. E o § 8.0: “A transferência mediante
endosso não terá eficácia perante o emitente enquanto não fôr feita a averbação no Livro de Registro e no
próprio título mas o endossatário que demonstrar ser possuidor do titulo com base em série-contínua de
endossos, tem direito a obter a averbação da transferência, ou a emissão de nôvo título, em nome ou no nome
que indicar”. Bastaria dizer que as cédulas seriam ao portador, ou nominativas endossáveis em prêto. As
nominativas constam do Livro de Registro e contêm, como resulta do conceito, o nome dc tomador. Os
endossos hão de ser em prêto. Na Lei n. 4.880, art. 47, os erros de terminologia são lamentáveis: os títulos
nominativos, que se emitem, são inscritos; os endossos, averbados. Trocou os termos. As atribuições de direito
são inscritas (ou transcritas, como ocorre com a aquisição da propriedade imobiliária) ; as averbações são
incidentais e sup6em que algo esteja transcrito ou inscrito, para que se aponha ao lado do verbum, do escrito, o
-w
que sobrevenha e tenha de ser registado. Averbação, averbamento, é “nota ou declaração que se põe àmargem
de um título ou de um registro” (F. 3. CALDAS AULETE, Diciondrio contemporáneo da Ungua Portuguêsa,
J, 13 ed., 184). Aliás, nos §§ 1.0, 2.0 e 89 fala-se de “averbação”. O endosso não pode ser em branco, nem sem
data; de modo que, feito em branco, não há perfeição do ato e outra pessoa, em vez do endossante, não o pode
encher. Dá-se o mesmo com a data. Em consequência disso, a empresa tem de verificar se a letra é do
endossante e de identificá-lo, porque o nome dêle e a identidade já constam dos livros. O tomador e o
endossatário, cujos atos aquisitivos constam do registro, presumem-Se com poder de dispor, se não há elemento
registário (e. g., menoridade, incapacidade por loucura, ou por prodigalidade, ou ausência) que a pré-exclua.
No § 39 diz-se que a transferência mediante endosso é ineficaz, “perante o emitente”, enquanto não fôr feita a
averbação e no próprio título, mas logo após se reconhece a eficácia: “mas o endossatário que demonstrar ser
possuidor do título com base em série contínua de endossos, tem direito a obter a averbação da transferência”. A
contradição ressalta. O endossatário, com a apresentação do titulo que satisfaça os pressupostos legais, entende-
se ser titular do direito sobre o título, e o registro dá ao ato de endosso eficácia erga omnes. O que o endossante
ou alguém que se considere titular do direito, contra o endossatário, tem são as ações que tocam a qualquer
titular de direito cambiário ou cambiariforme, contra quem se diz titular, inclusive as ações de medida cautelar.
Se, por exemplo, o endossatário não adquiriu a posse (e. g., roubara ou furtara a cártula que o tomador ou o
endossatário titular endossara a alguém sem ter feito a tradição), falta o elemento integrativo da transmissão.
O que acima se disse quanto a endosso é invocável a propósito de emissão de nova cártula.
Sobre o assunto, Tomo XXXV, §§ 8.988-3.941, 4.007--4.009.
No § 29 do art. 47, a Lei n. 4.880 diz que a autenticidade do endosso não pode ser posta em dúvida se
“atestada” por algum corretor de fundos públicos (ou, acrescentemos, por órgão de sociedade corretora>, ou por
algum Cartório de Ofício de Notas (o Tabelião “reconhece firma”, não atesta, cf. § 5.415, 2, 8), ou “abonado”
por Banco. Quanto ao “abono” pelo Banco, a Lei n. 4.880, já de 21 de agôsto de 1964, não teve o fito, que seria
injusto, de pretender vincular bancos que conferiam, fâcticamente, firmas, e com isso chegar à finalidade de
dissolver empresas brasileiras ou estrangeiras, que eram de grande importância para o Brasil. tA que foi, no
artigo 47, § 2.0, que o legislador chamou “abono”?
Abono, abonação, senso próprio e estrito, é a fiança a fiador, inconfundível com a abonação que está nas
Ordenações Filipinas, Livro 11, Titulo 188, § 2. O abono pode ser, por exemplo, do fiador ou do fiador do
fiador (Tomo XLIV, §4.788, 7), ou da solvência do cônjuge (Tomo VIII, ~ 855). O abono de que se fala no art.
47, § 2.0, é abono da solvência do emitente, e não reconhecimento de firma, ou certificado, ou atestado. Há a
vinculação do banco.
Lê-se na Lei n. 4.380, art. 48: “Os direitos constituídos sobre as letras imobiliárias nominativas só produzem
efeitos perante o emitente depois de anotadas no Livro de Registro”. Acrescenta o seu parágrafo único: “As
letras poderão, entretanto, ser dadas em penhor ou mandato mediante endosso, com a expressa indicação da
finalidade e, a requerimento do credor pignoratício ou do titular da letra, o seu emitente averbará o penhor no
Livro de Registro”. Sobre o endosso-penhor, Tomos XXXV, § 8.970, 1; XXXVI, §§ 4.041, 1; 4.053, 8;
XXXVII, 4.165, 3, 6. Sobre endosso-procura, Tomos XXXIV, § 3.800, 2, 3; XXXV, § 3.979; XXXVI, § 4.053,
9; XXXVII, § 4.165, 3.
A averbação não há de ser apenas do endosso-penhor. Uma vez que a Lei n. 4.380, art. 48, se refere aos dois
endossos, o que há de se entender é que houve omissão na redação da regra jurídica. Aliás, qualquer endosso,
seja endosso traslativo da titularidade, ou não no seja, está subordinado à exigência registária. O pressuposto
eficacial é geral, e não especial.
Estatui a Lei n. 4.380, art. 52: “A fim de manter a uniformidade do valor unitário em moeda corrente e das
condições de reajustamento das letras em circulação, tOdas as outras imobiliárias emitidas pelo Banco Nacional
da Habitação e pelas sociedades de crédito imobiliário terão valor nominal correspondente à Unidade Padrão de
Capital do referido Banco, permitida a emissão de títulos múltiplos dessa Unidade”. Diz o § 19: “A Unidade-
Padrão de Capital do Banco Nacional da Habitação corresponderá a dez mil cruzeiros, com o poder aquisitivo
do cruzeiro em fevereiro de 1964”. E o § 29: “O valor em cruzeiros corrente da Unidade-Padrão de Capital será
reajustado tôda vez que o salário-mínimo legal fOr alterado, com base no índice geral de preços referidos no ad.
5•O, § 1.0, desta lei”. E o § 89: “Os reajustamentos serão feitos sessenta dias depois da entrada em vigor de
cada alteração do salário--mínimo após a vigência desta lei, na proporção da variação de índice referido no
parágrafo anterior: a) desde fevereiro de 1964 até o mês de entrada em vigor da primeira alteração do salário-
mínimo após a data desta lei; b) entre os meses de duas alterações sucessivas do nível de salário-mínimo, nos
reajustamentos subseqúentes ao primeiro, após a vigência desta lei”. Está no § 4.0: “O valor nominal da letra
-w
imobiliária, para efeitos de liquidação do seu principal e cálculo dos juros devidos, será o do valor reajustado da
Unidade-Padrão de Capital no momento do vencimento ou pagamento do principal ou juros, no caso do título
simples, ou esse valor multiplicado pelo número de Unidades-Padrão de Capital a que correspondem as letras
no caso de título múltiplo”. E o § 5.0: “Das letras imobiliárias devem constar, obrigatóriamente, as condições de
resgate quando seu vencimento ocorrer entre duas alterações sucessivas do valor de Unidade-Padrão de Capital
as quais poderão incluir correção monetária do saldo devedor, a partir da última alteração da Unidade-Padrão
até a data do resgate”.
Diz a Lei n. 4.880, ad. 58: “As letras imobiliárias vencerão o juro de, no máximo, oito por cento ao ano, e não
poderão ter prazo inferior a dois anos
8.TÍTULOS-GÊNEROS E TÍTULOS BENS DETERMINADOS. Diz o Decreto n. 2.475, art. 48: “As
negociações de Bolsa, que não tiverem por objeto letras de câmbio, não assentam senão sObre quantidades, sem
especificação dos números e mais característicos dos títulos”. Portanto, embora os títulos contenham elementos
infungibilizáveis, a operação bolsística trata-os como género. Nenhuma característica, inclusive o núma. ro,
consta dos escritos. Daí a relevância da tradição pelo corretor, conforme os princípios sObre posse.
Os títulos devem ter os cupões. Cinco dias antes da data inicial de pagamento têm de ser cortados ou
despregados, para que sejam cotados com a declaração ex (sem o dividendo, nem os juros).
Se os títulos não têm cupões, porque os interesses hão de ser recebidos mediante declaração de recebimento na
cártala (e. g., no certificado), ao corretor incumbe recebê-los na data que se fixou, ou cotá-los com a inclusão
dos interesses.
Acrescenta o Decreto n. 2.475, art. 54: “Nos assentos das negociações de letras de câmbio deverá o corretor
mencionar o vendedor, o comprador e a Praça sobre a qual fOr feito o saque, o prazo e as estipulações a êste
referentes, sem prejuízo das demais declarações exigidas no art. 49 do Código Comercial. Nas negociações de
títulos ao portador e à vista deverá declarar não somente a natureza do titulo, mas ainda a série e os números, se
os comitentes o exigirem”.
SObre as operações de câmbio, diz o Decreto n. 2.475, art. 118: “As operações de câmbio só poderão realizar-
se por meio de letras ou de documentos, com sêlo proporcional, contendo promessa de letras a entregar dentro
do prazo determinado”.
Segundo o Decreto n. 2.475, art. 120, as negociações sObre letras de câmbio não produzem efeito para o fim de
serem apuradas em Juízo, e serem objeto de cotação, se não puderem ser provadas por certidão extraida dos
livros dos corretores e com menção das declarações a que se refere o art. 54. O ad. 54 exige, nos negócios
jurídicos de letras de câmbio, mencionar o corretor o nome do vendedor, o do comprador e a praça sobre a qual
fôr feito o saque, o prazo e as estipulações que ao prazo se refiram, sem prejuízo do que se estabelece no art. 49,
alínea 1a, do Código Comercial: “Nos assentos de negociações de letras de câmbio deverá o corretor notar as
datas, termos e vencimentos, as praças onde e sobre que foram sacadas, os nomes do sacador, endossadores e
pagador, e as estipulações relativas ao câmbio se algumas se fizerem (art. 885)”.
Ainda se lê no Decreto n. 2.475, art. 121: “As negociações de espécies metálicas provar-se-ão por meio de
certidões extraídas dos livros dos corretores que dêem indicação da quantidade, natureza e preço das espécies”.
Ainda no Decreto n. 2.465, art. 122: “Os estabelecimentos bancários, filiais ou agências, nacionais ou
estrangeiros, que negociarem em câmbio e moeda metálica são obrigados a remeter diAriamente ao síndico, em
notas autenticadas pelos gerentes ou diretores respectivos, a declaração das taxas a que tiverem operado e
quinzenalmente a totalidade das operaçóe?’. No ad. 128, diz-se: “As operações realizadas pelos bancos e pelos
corretores servirão de elemento para a fixação do curso oficial do câmbio pela Câmara Sindical”.
O curso do câmbio tem de ser declarado. Mas essa declaração supõe algo de técnico, que colha o que se há de
considerar a taxa do câmbio.
A lista oficial dos preços de bOlsa, que se não refiram ao câmbio, também se firma em exame, cujo resultado se
declara.
A intervenção do Estado pode perturbar e disturbar a determinação das taxas, o que concorre, profundamente,
para a insecuridade econômica e financeira.
Diz o Decreto n. 2.475, art. 124: “A cotação à vista será fixada para as operações a 90 dias, com dedução de 1/4
de penny, calculada sobre a taxa ao par”. A referência a “penny”, em português “pêni”, liga-se à data em que foi
lançado o decreto. Antes, já o Decreto n. 858, de 16 de dezembro de 1895, art. 14.
Se alguma lei estabelece o preço de venda e o preço de compra, oficialmente, sem que os vendedores de moeda
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estrangeira possam operar com preço diferente, trata-se de intervenção do Estado na economia e nas finanças, o
que só se pode justificar se há texto de lei que o imponha.
4. OPERAÇÕES DE CÂMBIO. As operações de câmbio podem ser feitas pelos corretores, ou pelas
sociedades corretoras, fora da bolsa. Bem assim, com a autorização da repartição federal ou da instituição, que
no momento tenha tal função, as operações de compra-e-venda de metais preciosos, amoedados ou em barra
(Decreto n. 2.475, art. 76, parágrafo único). Fica sujeito a pena o corretor que, até a hora marcada para o
encerramento da Bolsa, deixa de exibir, para cotação, as notas das operações que tenha realizado, fora da BOlsa
(art. 144). Tem de remeter os contratos aos figurantes, antes da abertura da BOlsa, no dia seguinte ao da
operação (Regimento Interno da BOlsa de ValOres, art. 289).
A obrigação de remeter os contratos aos figurantes é ligada ao dever de prestar contas. Recebendo a
comunicação, o figurante, que há de examinar o que foi feito, ou aprova ou eventualmente tem de apontar os
pontos em que o corretor se afastou do que se queria que se fizesse. Apesar de ser’ o escrito, a nota, o que mais
freqUentemente se envia, pode ter sido estabelecido que a comunicação seria telegráfica ou telefônica.
como acontece sempre que o encargo foi com a cláusula “resposta imediata”, ou a cláusula “com tOda a
urgência”.
A falta do sêlo ou a insuficiência do sêlo é causa de nulidade da operação, quer de cambiais quer de moeda
metálica (Decreto n. 2.475, art. 119), salvo lei especial isentiva.
Diz o Decreto n. 2.475, art. 119: “São declarados, nulos para todos os efeitos os contratos de cambiais ou
moeda metálica a prazo que não tenham o sêlo legal”.
1. BOLETIM. Lê-se no Decreto n. 2.475, art. 125: “A Câmara Sindical, além dos boletins diários do curso
oficial do câmbio, dos fundos públicos e das espécies metálicas, remeterá mensalmente ao Ministro da Fazenda
um quadro do movimento da BOlsa, com fixação da média dos cursos cotados”.
Diz o Decreto n. 2.475, art. 129: “À Câmara Sindical da Capital Federal serão enviados pelos presidentes das
juntas dos corretores de tOdas as praças comerciais da República
comunicações telegráficas das taxas cambiais do dia. A Câmara Sindical organizará com esses dados um
boletim central da cotação cambial da República no referido dia e com limites máximo e mínimo de cada
Praça”.
O que nos interessa é a função declarativa, que subsiste ~às alterações de atribuições. O elemento contabilístico
prevalece, de modo que não se pode negar a declaratividade.
2.RESPONSABILIDADE PELOS ATOS DECLARATÓRIOS. Dada a eficácia jurídica das declarações feitas e
a sua finalidade, compreende-se a responsabilidade pela verdade do que se declara. Assim, está no Decreto n.
2.475, ad. 126: “A Câmara Sindical é responsável pela exatidão dos preços cotados no mercado de câmbio, no
das espécies metálicas e no de fundos públicos. A falta de exação na cotação acarreta para os membros da
referida Câmara a incursão no crime de falsidade”.
Diz o Decreto n. 2.475, art. 127: “Depois da fixação do boletim, da cotação, nenhuma alteração pode ser nêles
feita ainda que no intuito de retificar a cotação. É lícito, porém, retificar o boletim para o efeito único de
completá-lo, incluindo fundos cuja cotação não tiver sido mencionada, por omissão involuntária”. Tal
responsabilidade não advém de ato de reconhecimento, nem de conferência; mas da função específica do
corretor, que, sem ser figurante, tem de responder como se figurante fôsse.
4.CÂMBIO OFICIAL. Está no Decreto n. 2.475, artigo 128: “A cotação oficial do câmbio determinará o curso
autêntico do mesmo, e será fixada de acôrdo com as instruções do regimento interno da Bolsa; dela será
expedido boletim
pela Câmara Sindical, o qual será registado no livro competente assinado pelo síndico e pelo secretário da
mesma Cámara e publicado no Diário Oficial”.
A intervenção arbitrária na fixação do preço da moeda estrangeira tornou-se um dos expediente do
totalitarismo de 1930 para cá, com pequenas interrupções, mas seriamente agravada de 1964 em diante.
6. SUBSCRIÇÃO PÚBlICAS. Diz o art. 12, § 1.0, da Lei n. 2.146, de 29 de dezembro de 1953: “Nas emissões
por subscrição pública interferirá sempre o corretor oficial de valores, sob pena de nulidade de pleno direito”.
Estatui o art. 1.0, § 2.0, da Lei n. 2.146, de 29 de dezembro de 1958: “As compras e vendas de títulos
particulares a prestação serão reguladas, no que couber, pelas disposições do Decreto-lei de n. 3.545, de 22 de
agOsto de 1941’t O Decreto-lei n. 3.545 refere-se a compra-e-venda de títulos da dívida pública da União, dos
Estados-membros e dos Municípios. Essa regra jurídica, como quaisquer outras que exsurjam, se prende a
operações em que a tomada ou aquisição dos títulos é a prestações.
Estatui-se no art. 1.0, § 89, da Lei n. 2.146: “Para a fiel observância do disposto neste artigo, as Câmaras
Sindicais das BOlsas de ValOres poderão credenciar agentes de corretores oficiais e de entidades para
colocação de emissões de títulos”.
Estatui o Decreto n. 2.475, art. 59: “A Câmara Sindical, sempre que instituir exame sObre qualquer ou todos os
livros do corretor, é obrigada, debaixo do segrêdo profissional, a guardar sigilo sObre os nomes dos comitentes
de tOdas as operações nêles escrituradas”. Se algum incumbente incorreu em crime, a Câmara Sindical não tem
a liberdade de divulgação: o que lhe cabe fazer é “representar” (criminalmente) contra a pessoa, salvo se o ato
ilícito é apreciável pela própria Câmara Sindical.
Com a legislação posterior, recente, os arts. 5.~, 11, 12, 16 e §§ 1.o~8.O, 19 e 21 da Lei n. 4.728 passam a ser
básicos. A distribuição e a colocação de títulos e valOres mobiliários têm de ser feitas, no mercado, pelas
BOlsas de ValOres ou pelas sociedades corretoras, que sejam seus membros (art. 5.~, J), pelas empresas
financeiras que tiverem autorização para operar no mercado de capitais (art. 5.~, II), pelas sociedades ou
empresas não-societárias que tenham por objeto a subscrição de títulos para colocação ou distribuição no
mercado, devida-mente autorizadas (art. 5.~, III), e pelas sociedades ou empresas não-societárias que possam
fazer essas operações conforme o art. 12 (art. 5.~, IV).
Tem-se, pois, de distinguir do que há de ser dependente da operação bolsística o que dela não depende. Se não
depende, a operação no mercado não-bolsístico tem de ser entregue a alguma empresa que se compreenda no
art. 5~O, 11-1V, da Lei n. 4.728, conforme a especificidade e o conteúdo mesmo da autorização.
7. RESGATE DE DEBÊNTURES. Diz o Decreto-lei n. 1.844, de 13 de junho de 1939, modificativo de
-w
legislação especial, art. 47: “Quando não forem apresentadas a resgate tOdas as debêntures em circulação, a
sociedade depositará em juízo a importância correspondente ao valor nominal dos títulos ainda não resgatados,
a fim de que os seus portadores façam oportunamente o levantamento do depósito”. Acrescenta o parágrafo
único: “Apresentadas em juízo as debêntures que faltavam, ou parte delas, a sociedade requererá ao juiz sejam
entregues os respectivos títulos à Câmara que iniciou a incineração, do que se juntará certidão aos autos do
cancelamento”.
Ainda no Decreto-lei n. 1.344, do art. 48: “A BOlsa enviará a cada uma das outras BOlsas de Valores uma
notificação do resgate e da incineração”. Explicita o parágrafo único:
“As emissões integralmente incineradas deixarão de fazer parte dos quadros de negociação e cotação de
Bolsas”.
8. TÍTULOS AO PORTADOR. Diz o Decreto n. 2.475, artigo 90: “A venda de títulos ao portador reputa-se
perfeita com a tradição dos mesmos pelo corretor-vendedor ao corretor-comprador, ou pelo seu lançamento nos
livros daquele em nome dêste”. Corretor-vendedor e corretor-comprador, diz a lei. Há elipse. Corretor-vendedor
é o corretor que se incumbiu de intermediar para que o incumbente venda. Ésse é que é o figurante. Corretor-
comprador é o corretor que se incumbe de intermediar para que o incumbente compre.
No texto da lei supõe -se que o corretor incumbido da venda tenha consigo os títulos ao portador: a posse
imediata está com êle; a posse mediata, com quem é proprietário e possuidor dos títulos; mas há a outorga de
poderes ao corretor, para que transfira a posse mediata, que está com o figurante alienante, e a posse imediata,
que o corretor tem em conseqUência da entrega. No momento em que o corretor incumbido da alienação lança
no livro, como do figurante outorgado da compra-e-venda, os títulos, transferidos estão a posse mediata própria
e a propriedade dos títulos. A tradição, quando entregar as cártulas, é apenas da posse imediata, que com o
corretor ficara. A regra jurídica apenas salienta que o lançamento tem eficácia da tradição da posse mediata
própria, e, pois, da propriedade.
CAPÍTULO III
OPERAÇÕES DE BÓLSA PARA PRONTA, SEM PRAZO E (SENSO ESTRITO) LIQUIDAÇÃO À VISTA
No Regimento Interno da BOlsa de ValOres, o art. 199 procurou manter a distinção entre operações para
liquidação pronta e as operações para liquidação em cinco dias, intercaladas as operações para liquidação
dentro de quarenta e oito horas úteis, que são as que têm tal prazo e aquelas a que não se determinou prazo. De
jeito que, para o Regimento Interno, há as operações: a) para liquidação pronta; b) para a liquidação dentro de
quarenta e oito horas, quando, ao ser feito o pregão, não for determinado o prazo; c) para liquidação em cinco
-w
dias ou à vista; d) a prazo fixo, suscetível ‘de liquidação por diferença; e) de reporte e de deporte; 1) com
opção.
2. LIQUIDÂÇÃO PRONTA. Liquidação pronta é a liquidação que se inicia e ultima no mesmo dia em que se
conclui o negócio jurídico. As operações para liquidação pronta, devido à sua presteza, talvez surpreendente, só
se permitem na BOlsa se o Síndico a controla. No Decreto-lei n. 1.844, de 18 de junho de 1939, o art. 2.0, § 2.0,
nada diz a respeito, mas é o que está no ad. 191 do Regimento Interno da BOlsa:
‘<Considera-se operação para liquidação pronta a que é realizada e ultimada no mesmo dia. Essa operação fica
sob o contrOle do Síndico e sOmente será permitida se a sua efetivação não provocar oscilação brusca do valor
do título na cotação do mercado”. Se se efetuou, toilitur qunestio: concluiu-se o contrato, existe e vale o
contrato, com tOda a eficácia. O que se exigiu foi o contrOle pelo Síndico e nada mais.
Os contratos de bOlsa, com mais forte tipicidade, são os contratos de compra-e-venda, com alguns traços
característicos, e o reporte. As compras-e-vendas, essas, ou são de pronto. ou com prazo, ou à vista.
Quanto aos contratos de bOlsa de pronto, cumpre frisar-
-se que as leis lhe atribuem traços técnicos e jurídicos próprios. Os contratos de bOlsa de pronto ou prontos ou
são senso estrito ou em senso impróprio ou extensivo, que é o de contrato de bOlsa, em que, em vez de se
prestar no mesmo dia, se deixa para outro momento, que a lei fixar.
Chama-se, na França, ao contrato a pronta liquidação, ou de pronto, marché au comptant, na Alemanha,
Kassageschtift, em se tratando de títulos, e Lokogeschdft, se de mercadoria.
Os contratos de pronto são, de ordinário, contratos de venda de títulos de crédito ou de ações, de emissão
recente, que tenham de ser colocados, e em que figurantes são a empresa subscritora e emitente, ou só emitente,
e os poupadores. Isso não afasta que sejam, e muito ocorre, com propósitos da especulação, pOsto que mais se
dê nos contratos a prazo. Às vêzes, diante de proibição de contratos a termo, a respeito de determinados objetos,
o contrato de pronto serve a fraudes àlei ou a disfarces, como se há o contrato de bolsa de pronto e reporte-
prorrogação. Um dos expedientes recomendáveis para se evitarem tais infrações é o do versamento em
cobertura para as operações a termo.
8.LIQUIDAÇÃO Á VISTA. No sentido estrito que lhe deu o Regimento Interno da Bolsa de ValOres,
“operações à vista são as realizadas para liquidação dentro de cinco dias úteis e efetuadas mediante troca de
boletins na BOlsa” (Regimento Interno, art. 192). Cp. o Decreto-lei n. 1.344, art. 2.0 e § 1.0, sobre esse critério.
Seja quem fôr, o figurante com a atividade essencial dos corretores escolhe: ou a liquidação, pronta, que é no
mesmo dia, ou a liquidação em quarenta e oito horas, que também será a das operações em que se estipulou a
liquidação sem qualquer prazo, nem se disse que seria à vista (cf. Decreto-lei n. 1.844, art. 2.0, § 1.0;
Regimento Interno, art. 192, parágrafo único). No pregão, ou se estipula o prazo, ou não se estipula, ou se diz
ser à vista a operação. Se nada se disse, a liquidação há de ser em quarenta e oito horas úteis. (De passagem,
digamos que seria conveniente, em legislação futura, que se empregassem expressões da melhor terminologia e
sem suscitamento de confusões, pe-. los que não são técnicos em negócios jurídicos bolsísticos.)
Lia-se no Decreto n. 2.475, art. 191: “As operações àvista realizadas na Bolsa deverão ser liquidadas dentro de
dois dias úteis; não o sendo neste prazo, a Câmara Sindical fá-los-a. executar na primeira reUnião da BOlsa,
segundo o processo estabelecido no regimento interno. As de letras de câmbio e espécies metálicas sê-lo-ão no
prazo de cinco dias úteis, de.vendo tornar-se efetiva a responsabilidade do corretor dois dias úteis depois do
vencimento da operação no caso de faltar o comitente ao cumprimento do contrato”. A responsabilidade
do corretor advém de ser munido ou dever munir-se do que e necessário para o adimplemento do dever
irradiado do negócio jurídico, seja de prestar seja de contraprestar. Não é êle o adimplente. Adimplente é o
incumbente. Êle, apenas, por sua função de corretagem, na qual se inclui a de declarar a conclusão, tem o dever
de verificar se o que se aliena ou que se adquire está em seu poder, ou em depósito, ou em situação que êle
repute suficiente. O fato de reputar suficiente importa a responsabilidade do corretor.
4.TÍTULOS E VALORES QUE AINDA VÃO SER EMITIDOS.
Os corretores podem operar quanto a venda de títulos a serem emitidos, o que implica ter a condição “se forem
emitidos” (para quando, como e se emitidos forem, when, as, and if issued contract). Os contratos podem ser
sobre títulos já emitidos, porém ainda não distribuídos (when distributed). Cf. LEFPLER (The Stock Market,
374). Trata-se, na primeira espécie, de oompra-e-venda de coisa futura. Não se pode dizer que o adquirente seja
-w
possuidor dos títulos ainda não emitidos. i~ apenas titular de direito expectativo. Tal direito é transferivel por
cessão (cf. Código Civil, art. 1.078; DILLAVoU and fioWARD, Principies of Business Law, 892). Se não se faz
a emissão, há a resolução ex tune do contrato. Se a mudança do plano de subscrição ou de emissão foi profunda,
a ponto de o cliente considerar-se, justamente, desinteressado, ocorre a resolução, que aí depende de denúncia
do cliente.
O cliente tem de depositar na data prefixada o quanto, ou e percentual exigido.
Se alguma regra jurídica subordina a negociabilidade em bOlsa a não mais haver retirabilidade do projeto de
subscrição, ou de emissão, ~ contrato deixa de ser contrato condicional, para se fazer contrato a termo.
De jure condendo, argúi-se que as operações para quando, como e se houver emissão são nocivas ao interesse
público; mas advirta-se que há razão de ser, em muitos casos, para a empresa saber, de antemão, se convém, ou
não, emitir.
a termo fixo é figura típica. Fica adiada a prestação do bem genérico que se vendeu, de jeito que no momento
da constituição do negócio jurídico ainda não há transferência da propriedade. Com isso, abrem-se portas às
vendas “a descoberto”. isto é, vendas de bens cuja propriedade ainda não está com o vendedor, a despeito de se
determinarem, desde logo, o gênero e o preço.
CAPÍTULO IV
1.CONTRATOS Á TERMO. Contratos de bOlsa a termo são, no direito brasileiro, os contratos cujas
prestações hão de ser feitas em data marcada, a térmo fixo, ou com opção, nos dias 15 e último de cada mês.
(Discute-se se pode ser, por exemplo, “quando emitidos os títulos”, o que é de grandes inconvenientes.)
Na comparação entre contratos a termo fixo e contratos sem termo, não há grande diferença porque o contrato
de bOlsa sem termo é liquidável nas quarenta e oito horas; nem entre êle e o contrato dito à vista, ou de
liquidação em cinco dias. Há tem pus em todos êles; apenas a essencialidade não fica precisada nos contratos
sem termo.
Diz o art. 3•0, § 1.0, do Decreto-lei n. 1.844: “As opera
0ções a termo e os atos a elas referentes sOmente são válidos quando lavrados em formulários fornecidos pelas
Bolsas de ValOres e de acOrdo com os respectivos regimentos internos,e registados na caixa de liquidação
prevista na lei”. Diz o art. 32, § 2.0, do Decreto-lei n. 1.244: “O valor mínimo dessas operações, calculado
pelo valor nominal dos títulos, é de dez mil cruzeiros”, quantia, essa, hoje em dia,evidentemente obsoleta.
2.PRESSUPOSTOS FORMAIS. Diz o art. 4•O do Decreto-lei n. 1.844: “Não serão aceitas, para registro em
caixas de liquidação, propostas de operações a termo: a) firmadas por prepostos que não tenham poderes
expressos de corretor para vencimento. Se os títulos negociados forem ao portador, ou negociar em operações
da espécie; b) assinadas por mais de com endOsso ao portador, a liquidação definitiva há de ser um corretor; c)
não assinadas pelas partes contratantes ou uma hora antes da g•a BOlsa, contada a do vencimento (Regi-seus
procuradores especiais”.monto Interno da Bolsa de ValOres, art. 208, a) e b), e 204).
1. RESPONSABILIDADE. Estatui o art. 5•0 do Decreto-lei n. 1.844: “As BOlsas de ValOres e as respectivas
Câmaras Sindicais e Caixas de Garantia e Previdência não respondem, direta ou indiretamente, pela liquidação
das operações”. Acrescenta o parágrafo único: “Quando o serviço de registro e liquidação fOr executado pelas
BOlsas, estas garantirão, apenas, os depósitos feitos”.
3. INADIMPLEMENTO. Se, nas operações a prazo fixo, não se houver entregue o que o tinha de ser uma hora
antes da terceira bOlsa, e o corretor vendedor não houver entregue os títulos, ou o corretor comprador não haja
prestado o preço dos títulos, o outro corretor há de levar o fato ao conhecimento do síndico. Ésse ouvirá o
faltoso e, se não lhe parece razoável e que alega, tem de mandar publicar o ocorrido nas pedras da BOlsa
(Decreto n. 2.475, art. 40).
dos negócios de bolsa, o vendedor conclui o primeiro contrato e aguarda o momento, que lhe parece propício,
para concluir o segundo contrato. Assim, obtém êle a diferença entre os dois preços. Pode ocorrer que os preços
do mercado subam, on baixem, ao contrário do que fôra de prever-se, e o contrato de cobertura é o expediente
para se livrar o vendedor da perda de valor ou de parte do valor.
Tais operações se fazem na bolsa ou fora da bolsa. Há a operação e a contra-operação (cf. HANS TRUMPLER,
Die Differenzgeschâft nach dem BGB. und BtSrsengesetz, Zeit sch,rift fiir das gesamte Han,delsrecht, 50, 388
s.). Cumpre que se distingam as operações diferenciais complexas de ida. e volta, ditas impróprias (A, B; E, A),
e as operações diferenciais complexas angulares ou próprias (A, E; C, A, ou
D, A). Nessas, Ayende a Recompra, depois, a C ou a C e D. Se todos os figurantes são diferentes, isto é, se não
há as composições acima referidas, não se pode pensar em operação diferencial complexa, seja própria, seja
imprópria. Talvez ocorra dissimulação, por um dos figurantes ser testa-de-ferro, mas isso é outro problema.
Quanto às operações diferenciais complexas, nada há na sucessividade dos dois contratos que os torne ilícitos,
ou, sequer, moralmente reprováveis. Cada um tem direito de defender os seus interesses, diante das vacilações
eventuais do mercado. Não há unidade nem autonomia de figura jurídica. Na terminologia alemã, fala-se de
haver operação de abertura.
ErõffnungsgescMft, negócio de abertura, e operação de fechamento, AufWsungsgesehiift, negócio de clausura;
porém nada têm tais expressões com a terminologia jurídica, aludem apenas ao que se passa no mundo fáctico,
que é onde se dá a ligação entre uma e outra operação. Não há contrato inominado a que se chame operação
diferencial complexa, à diferença do que acontece com o reporte, que, embora seja composto de dois momentos
negociais, compõe a figura de contrato unitário.
A dualidade de contratos é evidente; o fato de haver figurante que, num dêles, é vendedor e, no outro,
comprador, ou vice-versa, não entra no mundo jurídico. O que pode ocorrer é a compensação, mas a
compensação supõe, necessariamente, duas dividas distintas (crédito de um, dívida de outrem) ; portanto, se a
fonte é contrato, dois contratos. Alguns juristas trazem à balha o reporte, como se a semelhança bastasse para se
4irmar a unitariedade jurídica. Mas invocam reporte anormal, falso reporte, o reporte indireto ou reporte por
liquidação, que se compõe de dois contratos.
6.LIQUIDAÇÃO. A liquidação das operações a prazo lixo, suscetíveis de liquidação por diferença, ou é no
último dia da quinzena, ou no último dia do mês, conforme fôr estabelecido. Pode ser pela entrega dos títulos,
com a transferência da posse e da propriedade. Se o adimplemento é por diferença, tem-se de considerar a
cotação do título, no dia mesmo do vencimento.
A liquidação por pagamento da diferença há de ser uma hora antes da g•a Bolsa, contada a do vencimento da
operação (Regimento Interno da Bolsa de Valores, art. 201, § 2.0). Se o pagamento não é feito, como deveria
ser, há a publicação do ocorrido nas pedras da Bolsa (art. 195) e o levantamento da quantia do fundo da caução
que o corretor prestou (artigo 199). Tudo isso resulta do Decreto n. 2.475, arts. 40 e 132).
2. ESPÉCIES. Diz-se arbitragem bolsistica direta a que concerne a diferentes cotações do mesmo título,
câmbio ou mercadoria em duas ou mais bolsas, ou a diferentes cotações de títulos, câmbios ou mercadorias do
mesmo valor econômico, na mesma bolsa. Ou se compra (ou se vende) aí, e se vende (ou se compra) ali; ou se
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compra (ou se vende) ali, e se venda (ou se compra) acolá. Arbitragens bolsisticas indiretas são as que levam
em consideração a diferença de cotação dos títulos, câmbios ou mercadorias, em relação a outro titulo (e não à
moeda nacional), o que torna mais complexas, indiretas, as operações.
Umas das arbitragens indiretas mais usadas é a arbitragem bancária indireta de câmbio. Por exemplo: deve A
em Paris tantos novos francos, e ocorre que o dinheiro brasileiro compra a melhor preço o dólar que o nôvo
franco; adquire A dólares e com os dólares compra novos francos. Os bancos e os arbitragistas, com os serviços
telefônicos, incumbem-se da arbitragem bancária indireta, cobrando o custo da operação (comissão, despe&as
de telefones e de aquisições no exterior, se é o caso). Cf. F. LEITNER (Rankbetrieb und Rank.. geschiífte, 73’
ed., 638 s.). Não se há de confundir a operação de arbitragem bolsística, com intuito de especulação, com
operações de investimento sem prévia ligação; nem é arbitragem bolsística de mercadorias a que o comerciante
quer, no tocante a mercadorias de que precisa para o seu comércio, ou o industrial, para a sua indústria, e
compra a mais, para poder vender, em caso de alta, ou utilizar o resto, se mais lhe convem.
As arbitragens bolsísticas mais freqUentes são as de câmbio e as de mercadorias. As operações podem ser no
mesmo dia e em bOlsas diferentes.
corretor, com quem operou (Regimento Interno da Bolsa de Valores, art. 205). O aviso é em memorando, que
há de ser enviado e recebido uma hora antes da abertura da Bolsa, mas têm de ser respeitados os prazos
ordinários para a entrega dos títulos nominativos ou ao portador (arts. 206, 203 e 204).
No direito brasileiro, a antecipação ou desconto pode ser exigido na operação a firme, ou na operação a premio.
Não pelo reportado (Lei n. 354, ad. 11, 23’ parte; Decreto n. 2.475, art. 11; Regimento Interno, art. 212), nem
pelo comprador de letras de câmbio, ou de moeda metálica (Lei n. 354, art. ~ 23’ parte; Decreto n. 2.475, art.
111; cp. Regimento Interno, art. 212). No direito italiano, permite-se a antecipação desconto pelo reportado,
seja em caso de reporte seja de deporte, mas, nesse caso, tem de ser restituido o chamado “compensativo de
deporte”.
2.LIQUIDAÇÃO POR DIFERENÇA SEM TER HAVIDO OPERAÇÃO DIFERENCIAL. No ad. 99 da Lei n.
354, de 16 de dezembro de 1895, estatui-se, em geral: “As liquidações das operações de Bolsa poderão ser
realizadas pela efetiva entrega dos títulos e pagamento do preço ou pela prestação da diferença entre a cotação
da data do contrato e a da época d~ liquidação”. Não se supôs a cláusula ou o pacto de liquidação por
diferença. Em regra jurídica, permitiu-se, na liquidação de operações de bolsa, que se preste a diferença entre a
cotação da data do contrato e a da época de liquidação. Não há, ai. o direito a exigir a liquidação por diferença,
mas o direito a liquidar por diferença. Também a respeito da regra jurídica do art. 9•0 há a limitação quanto às
letras de câmbio e às operações de moeda metálica (art. 9•O, § 1.0) : “São excetuadas desta disposição as
operações sobre letras de câmbio e moeda metálica, que somente serão liquidáveis pela entrega efetiva dos
títulos”. No Decreto n. 2.475, de 13 de março de 1897, o art. 94, alínea 1•a, insistiu: “As liquidações das
operações de bolsa feitas a prazo poderão ser realizadas pela efetiva entrega dos títulos e pagamento dos preços,
ou pela prestação da diferença entre a cotação da data do contrato e a da época da liquidação”, e a alínea 2.a:
“São excetuadas desta disposição as operações sobre letras de câmbio e moeda metálica, que somente serão
liquidáveis pela entrega efetiva dos títulos e das espécies”.
Quanto a existirem contratos reais, não há dúvida no direito brasileiro. Ê o que se passa com o depósito, o
mútuo, o reporte e o contrato .
Surge, porém, o problema de se saber qual há de ser a atitude do intérprete ou do juiz diante de texto em que se
deu como concluído o contrato sem ter havido a tradição. E há o problema de se poder interpretar ou como
contrato consensual o contrato de depósito ou de compra-e-venda, que não foi concluído com a entrega, ou
como pré-contrato. A despeito de uma ou outra solução poder ocorrer a propósito de contratos reais, a prática
bancária exige a creditação, por mínima que seja a quantia, conforme exigia o banco, para os depósitos
bancários. Acontece que pode ter o banco de receber a quantia que vai ser lançada a crédito do cliente. AI, ~há
pré-contrato ou contrato consensual? Temos de entender que há contrato consensual, com a inserção do crédito
no momento determinado, ou quando ocorrer algum recebimento. Tal solução tem de ser afastada pelos que
consideram pressuposto formal a entrega.
Nos contratos com liquidação por diferença, tem-se a liquidação pela entrega dos títulos, ou valores, ou pela
prestação da diferença. Numa e noutra espécie, não há contrata real, se houve prazo. Se não houve, a operação à
vista, mesmo se por prestação da diferença, foi contrato real
O contrato em que há a cláusula de liquidação por diferença é válido e eficaz se o objeto não é letra de câmbio,
moeda metálica ou câmbio. Se só é liquidável por diferença, é nulo. Com isso se afasta a especulação sobre
valuta, seja nacional, seja estrangeira.
3.CONTRATO DE CÂMBIO. Os contratos de câmbio a prazo, liquidáveis por diferença, não são nulos. São
relativamente ineficazes. Por isso diz o art. 95 do Decreto n. 2.475:
“Não são acionáveis perante os tribunais os contratos de câmbio a prazo liquidáveis por diferença”. Não é o
mesmo o que se estatui a respeito dos contratos a prazo, liquidáveis por diferença, se o objeto foi letra de
câmbio ou moeda metálica. Quaisquer operações sobre letra de câmbio ou sobre moeda metálica só são
liquidáveis pela entrega efetiva. Quaisquer contratos de câmbio liquidáveis a prazo por diferença são ineficazes
fracionáveis, Decreto n. 2.475, ad. 95).
-w
CAPITULO VI
EM OPÇÃO
§ 5.464. Conceito e natureza dos contratos de bolsa a prêmio
Não se trata de pré-contrato, mas sim de contrato de compra-e-venda a termo, com a escolha entre querer-se o
que seria a contraprestação do vendedor, ou resolver ex nuno o contrato (cláusula resilitiva) mediante a
prestação do prêmio, o que atenua a eficácia normal da resolução.
O Decreto-lei n. 1.344, de 13 de junho de 1939. art. 70 e §§ 1.O~3.O, somente cogita do contrato de compra-e-
venda resilível, mediante prêmio, pelo comprador; não, pelo vendedor. Dá-se o mesmo no Regimento Interno
da Bolsa de Valores, art. 217: “Ao comprador, mediante o pagamento do prêmio, assiste o direito de rescindir
(!) o contrato de compra-e-venda efetuado com opção”. Noutros sistemas jurídicos, a opção pode ser outorgada
ao vendedor, porém não se cogitou disso no sistema jurídico brasileiro, no tocante a negócios jurídicos de bolsa.
Pergunta-se: daz-se, aí, distinção, de modo que o negócio jurídico de opção, no direito sobre bolsas, 80 seja o
contrato de compra-e-venda a termo, com outorga ao comprador? No art. 8.~, § 2.0, do Decreto-lei n. 1.844,
diz-se que “o corretor de comprador declarará à secretaria da Bolsa até 15 horas da véspera do vencimento da
opção, se recebe os títulos comprados, caso em que a liquidação se opera como para os negócios à vista. Caso
contrário, o corretor oe vendedor, no dia seguinte ao do vencimento, levantará o prémio depositado”
(Regimento Interno, art. 217, § 2.0>.
Temos de interpretar que a legislação foi apenas exemplificativa e atinente ao mais usual. O vendedor pode ser
o outorgado do direito de opção. Também êle pode ter interesse em resguardar-se contra as oscilações de
cotação.
O comprador decide da sorte da eficácia do contrato, não da sorte do contrato. Daí o êrro em se Caiar em
“rescisão”, ou em decidir da sorte do contrato, como se a resolução fôsse ex tuno. Também o vendedor, se é êle
o outorgado, decide da sorte da eficácia do contrato, não da sorte do contrato.
A natureza do contrato de compra-e-venda com opção revela-se em ser bilateral o contrato e haver cláusula de
resolução ex nune, que só atinge a eficácia. O contrato de compra-e-venda foi concluído. A resolução somente
concerne ao adimplemento, que ficou a líbito de um dos figurantes. De modo nenhum atinge a conclusão do
contrato. Não se trata de contrato de opção a título oneroso, como entendeu VITERBO (11 Mercato libero di
borsa: contratti a premio, Studio di Diritto commerciale iii onore di CEsAIZ VIVANTI, II, ‘745 s.; contra,
RENATO CORRADO, Ii Contratto di borsa “a premio semplice”, Banca, Bona e Titoli di credito, 1942, 1, 5 s.
do extrato). Compra-e-venda houve, a cláusula subordinou a eficácia e em conseqúência o modo de prestar e de
contraprestar à resilição a líbito do comprador, ou do vendedor. Foi assim que os usos dos diferentes Estados
construíram a figura jurídica. Poderiam tê-la construído diferentemente, inclusive como pré--contrato, ou como
contrato de opção: porém não o fizeram.
A compra-e-venda é negócio jurídico bilateral consensual. A cláusula é relativa à dívida do vendedor, ou do
comprador, e à sua execução: o vendedor permite ao comprador que resolva ex nuno o contrato, de jeito que,
em vez do objeto vendido, nada se preste, mas, em vez de se contraprestar o preço, se contrapreste, pelo que
prometera o vendedor, o prêmio. Houve o contrato, e o prêmio é pelo fato de se ter conseguido promessa de
venda e o comprador ter pref~rido a resolução ex nuno. Dá-se o mesmo se a outorga foi ao vendedor, inutatis
mnutandis.
importa a consolidação da operação, procedendo-se à liquidação nos termos do art. 201 dêste Regimento”; art.
201: “A liquidação poderá realizar-se pela entrega efetiva dos títulos ou pelo pagamento da diferença entre o
preço da transação e a cotação do dia do vencimento”). Na terminologia do Regimento Interno, “consolidada” é
a operação sem opção.
Outro pressuposto é o do preço dos títulos ou outros bens.
A duplicidade do prêmio não implica pluralidade de obrigações que tenham por objeto o prêmio. Ser duplo, ai,
consiste em haver valor econômico de uma única vinculação ao premio por parte de quem adquire a faculdade.
Há dois caminhos para se chegar ao ponto final da eficácia. O duplo contrato a prêmio simples e o contrato a
prêmio duplo são inconfundíveis Unicidade, aqui; pluralidade, ali. O resultado econômico, sim, pode ser o
mesmo.
O contrato a prêmio duplo é íntegro em sua constituição. As regras jurídicas sobre existência, validade e
eficácia incidem no todo. Duplo contrato a prêmio simples pode ser inválido quanto a um dêles. E o mesmo se
passa quanto à eficácia.
1.PRÉMIO OU ENTREGA DOS TÍTULOS. O que se tem de comunicar, na véspera do vencimento da opção,
é a vontade de vender os títulos. Se não se fêz a comunicação, o que só o corretor do comprador pode fazer, o
corretor do vendedor levanta o prêmio. Se foi comunicada a vontade de receber os títulos, a liquidação há de ser
como se o negócio jurídico tivesse sido à vista. O prazo para a liquidação é o de quarenta e oito horas.
(Observe-se que no Regimento Interno, art. 220, se diz “consolidação da operação” a falta de pressupostos para
a cláusula de opção, o que faz considerar-se o contrato com opção operação não consolidada.)
A manifestação unilateral de vontade, que o comprador há de fazer para que não se dê a resolução ex nunc da
compra, é receptícia e, pois, irrevogável. A. legislação bolsística precisou o lugar e o tempo em que há de ser
feita.
Pode ocorrer que os dois corretores acordem em que se dê a consolidação antes do vencimento da opção. Aí, há
negócio jurídico bilateral, em que os figurantes, através da atividade dos corretores, que apenas correm e não
representam. nem tão-pouco medeiam, são o comprador e o vendedor. Se tal ocorreu, o negócio jurídico
bilateral fica exposto às exigências ordinárias de validade. Cumpre, porém, observar-se que tem de ser
comunicado à secretaria da Bolsa, na véspera do vencimento da opção, ao mais tardar.
As principais teorias em tôrno do contrato de compra-e--venda com majoração do objeto são três: a) a teoria do
con.trato mais oferta irrevogável, segundo a qual há a compra-e-venda da quantidade determinada, a preço
fixo, e a oferta irrevogável quanto ao majorável (o outro figurante do contrato de compra-e-venda tem a
faculdade de aceitar, ou não, a oferta); b) a teoria da alternação entre quantidades, segundo a qual, à
semelhança do que se passa com o contrato de compra-e-venda a prêmio duplo, a escolha é entre a quantidade x
ou a quantidade x + 2!; e) a teoria da potestatividade do plus (~ da majoração do objeto), que atende a que o
-w
plus é que pende, e nao o que já se deu por firme, O contrato é de duas estruturas, no tempo e nos efeitos: firme
e aberto.
O que surpreende aos que não estão acostumados à técnica dos contratos de bolsa é parecerem invadentes da
esfera jurídica de outrem os contratos de compra-e-venda a prêmio simples, a prêmio duplo e em majoração do
objeto. Ora, à base está o princípio da autonomia da vontade ou do auto-regramento e tem de ser atendido o
interesse de quem comprou, ou vendeu, atento às circunstâncias instáveis do mercado.
1~
CAPÍTULO VII
CONTRATO DE REPORTE
1.CONCEITO Já no século XVII havia o contrato de reporte (cf. PAPA D’AMIGO, li Riporto nel nuovo
Codice di Commercio, 30 s.). No contrato de reporte, um dos figurantes (o reportado) aliena de pronto para
readquirir a termo o que o outro adquirira (o reportador). Econômicamente, o reportado é dono de títulos ou
outros bens, e não quer desfazer-se para sempre do que é seu, pôsto que tenha necessidade da quantia que
adquire com a alienação. O reportador tem interesse em, dentro de determinado tempo, ser dono daquilo que
terá de perder, futuramente.
O negócio jurídico de reporte ao mesmo tempo dá títulos e capitais para a especulação, tem eficácia no tocante
à mantença do valor dos títulos e serve a operações com divisas estrangeiras. Com a multiplicidade das suas
funções econômicas e financeiras, não deixa de apresentar a estrutura jurídica que lhe é própria. Trata-se de
contrato duplamente transiativo, o que afasta qualquer concepção que o faça definível como duplo contrato de
compra-e-venda (duas vendas recíprocas). Não há duas operações, dois negócios jurídicos, mas sim uma 6
operação, um só negócio jurídico. A diferença entre o reportador e o reportado é concernente a temporalidade.
A venda a termo já implica o restabelecimento da situação anterior. Não há retrovenda: o que há é venda a
termo (final, resilitive) e consequente volta da propriedade, suspensivamente. O reportado, que vende, sabe que
vai recuperar, no dieR ad quem, e o reportador, que compra, conta com a volta ao reportado. do que lhe advêm
as vantagens como se simples venda fôra.
precisa de pecúnia e manifesta a vontade de alienar para obtê-la, mas nisso consente com a cláusula mexa de
readquirir, pois não deseja perder o que tem. Talvez, para isso, prometa plus valor, talvez receba o preço com
dedução de juros ou outro interesse. Quem paga o prêmio é reportado.
Se o interesse maior é do reportada!r (deportatior), êle équem acarreta com o pagamento do prêmio, e diz-se
então que há negócio jurídico de deporte.
As flutuações do mercado muito concorrem nara essas operações. Porém não somente elas. A necessidade
momentânea ou temporária de dinheiro ou a necessidade de ter os títulos ou outros valores como próprios,
durante algum tempo, pode ser a causa principal, ou a única. Por vêzes, o intuito é meramente especulativo.
1.CONTRATO REAL, COM EFICÁCIA RESILITIVA. O contrato de reporte é real, e não consensual, a termo
resilitivo (termo final), e o seu elemento real aponta-o, no direito brasileiro, como inconfundível com a compra-
e-venda, e a resilitividade de modo nenhum o reduz à figura jurídica da propriedade fiduciária. Não há duas
compras-e-vendas; só há uma alienação, com a volta, estipulada, ao alienante, em virtude do termo final.
Frise-se que a contraprestação, que faz o reportador~, é distinta da prestação que o reportado restitui, porque
fica à vontade dos figurantes, que podem estabelecer que seja ~ preço corrente ou do mercado, para o momento
da conclusão do contrato de reporte, ou para os dois momentos, o da conclusão do contrato de reporte e o da
reaquisição, ou ser em títulos cambiários agora (aceite in solutum, ou emissão tu aolutum) e em dinheiro ao
advento do termo, ou por crédito em conta corrente conforme o mesmo critério, ou com dois critérios
diferentes. Pode ocorrer que o reportado (alienante) já seja devedor ao reportador e, assim, em vez de receber,
ato-fàcticamente, o valor, pague, com o que lhe teria de ser entregue, o que devia. Pagamento houve, sem o
conteúdo da tradição brevi manu. O preço dos títulos pode ser aumentado ou diminuido conforme critério
acordado, tal como se se estabelece que se pague mais, ou se pague menos, se a cotação subiu ou desceu, até o
terceiro mês. O ágio pode ser no interesse do reportador; ou do reportado, por se tratar de deporte.
Chama-se também reparte a convenção bolsistica pela qual se reporta, de uma liquidação para outra, o mercado
firme, e assim se prolonga a operação, haja baixa, haja alta. Assim, A comprou dólares, ou outra moeda, para
lhe serem entregues no mês de dezembro, mas à data do termo, ou antes, quer reportar a sua operação para o
mês de abril: aliena os dólares, que comprou, e os compra para o mês de abril (J.-G. COVIlCELLE-SENEUIL,
Opérations de Renque, 181). A diferença de preço é recebida ou paga por A.
Há, ainda, outra operação que se chama reporte: pois que há diferença para mais entre o curso nas operações à
vista e o curso nas operações a termo, reporte é o negócio jurídico com que alguém, que adquiriu de contado x,
o aliena, a prazo, ganhando y (reporte); ou se a aqnisição a prazo é mais baixa, se alguém alienou à vista e exige
a contraprestação, o adquirente deporta (compra a termo).
As operações de reporte supõem que haja no mercado mais títulos que se destinam à venda do que títulos que
são procurados; o deporte, que haja mais especuladores de baixa do que, de alta.
O contrato é único, transiativo dos propriedade (contrato real) e oneroso. Se há promessa de transmissão da
propriedade dos títulos, não se trata de contrato de reporte, e haveria pré-contrato de contrato de reporte.
Prometeu-se contratar reporte, não se reportou. Se os títulos são nominativos, tem-se de proceder às
formalidades necessárias ao registro. Antes, não se concluiu o contrato, que é contrato real.
O contrato é a tempo determinado (a termo), e não condicional.
2. DISTINÇÕES. Quando se distinguem dos contratos de crédito os contratos de especulação , um dos casos
mais discutidos é o da classificação do contrato de reporte (pela inclusão nos contratos de crédito, GIUSEPPE
VALER!, Manuati di Diritto Commerciale, II, 143; pela mistidade contrato de crédito e de especulação e não
só de crédito ou de especulação, UNRICO CoLAGROSSO-GIACOMO MOLLE, Diritto Bancario, 518>. Não
é contrato de crédito, como a compra-e-venda não no é; é contrato especulativo, por sua origem e por sua
função.
3.REPORTE E DEPORTE DE CONTRATOS REAIS. A alusão que a legislação faz à “entrega real” foi
anterior ao Código Civil, quando o sistema jurídico brasileiro não tinha a teoria da posse, que lhe deu primeiro
lugar na técnica legislativa do mundo. Sem dúvida, para impor que o contrato de reporte ou de deporte seja
contrato real, atendeu a razões de interesse público. Puseram-se de lado os contratos consensuais de reporte e de
deporte. A doutrina que considerava contrato consensual o reporte, ou o deporte, em que a transmissão da posse
fôsse pela tradição brevi manu, ou pelo constituto possessório, foi superada em 1916, mesmo se admitíssemos
que, antes do Código Civil, não se tivesse de refugar tal afirmação. Digamos o mesmo quanto à tradição longa
-w
menu.
Diz-se que, na praxe bolsística de alguns países, a despeito da concepção legal do reporte e do deporte contratos
reais, muitas vêzes não se opera a tradição dos títulos ou outros objetos vendidos. O reporte e o deporte fundem
o contrato de compra-e-venda e o acôrdo de transmissão, com a conseqUência, que à política jurídica pareceu
exigível, de ser real o contrato. Procurou-se chamar reporte consensual e deporte consensuas aos contratos de
reporte e de deporte em que, no ato da operação, não se entrega por tradição simples a posse do objeto vendido.
Responsável por isso é a deficiente teoria da posse de alguns Estados europeus. A lei repele o reporte
consensual e o deporte consensual, mas, se houve qualquer modo de transferência da posse (Código Civil, art.
498), basta. O que se exige é que se transfira, ou já tenha sido transferida, verdadeiramente, a posse própria.
A respeito do contrato de reporte discute-se qual a sorte do contrato se não houve a tradição. Não se pode dar a
mesma solução que se admite a propósito de outros contratos que seriam reais (com razão, FAOLO
FORCHIELLI, 1 Contratti reali, 111; sem razão, LUIGI LORDI, Istituzioni di Dtritto commerciale, II, 151 s.).
Isso não significa que não possa haver o pró-contrato de reporte, porque se tem de separar, detidamente, do
problema da permissibilidade do contrato consensual o problema do pré-contrato (cf. Tomos V, § 569, 2; XIII,
§§ 1.432--1.527; XXVI, § 3.170, 8; XXXVIII, §§ 3.196, 8; 4.261 e 4.262; XLVI, § 5.001, ‘7, a propósito de
comodato; §§ 5.012. 1, e 5.020, 5, a propósito de doação; XLII, § 4.657, 2, 8, a propósito de depósito).
Quanto ao problema da consensualidade, Tomo XXVI. § 8.170, 3.
Se o título é ao portador, a posse, que o vendedor transferiu, pode não ser posse própria. A posse própria é que
êle tinha de transferir. Se de boa fé o terceiro adquirente pode dar-se a aquisição. Surge aí o problema de se
saber se a posse imprópria do vendedor, que a transmite ao comprador de boa fé, gera a posse própria,
instantaneamente , e, pois, a propriedade. A resposta há de ser afirmativa, uma vez que estamos a falar de
contratos bolsisticos.
Se o título é endossável, a posse, mesmo própria, sem o endosso, não bastaria a ser considerada como suficiente
para gerar a propriedade.
Se nominativo o titulo, há de haver a satisfação de todas as exigências legais para que se dê a transferência. Daí
a diferença de tempo que a legislação bolsística permitiu.
8.FIGURANTES DO CONTRATO DE REPORTE. O papel, que tem, nas operações de bolsa, o contrato de
reporte, e a função econômica, que exerce, põe-no no rol dos negócios jurídicos de bolsa, e a doutrina muito
procurou revelar da sua natureza, considerando, em primeiro plano, a conclusão em bolsa. Porém não só em
bolsa há contratos de reporte, inclusive de deporte.
Os bancos podem concluir negócios jurídicos de reporte e de deporte, quer como reportado quer como
reportador. Não há diferença jurídica entre o contrato de reporte, ou de desorte, em que os figurantes são
bancos, ou banco e pessoa tísica ou jurídica, que não tenha função bancária ou bolsística, e o contrato de
reporte, ou de deporte, que se faça em bolsa. A causa é a mesma; o que pode variar aliás, tanto nos contratos de
reporte, ou de deporte, em que figura banco, como nos feitos em bolsa é a diversidade de motivos (cp. NICoLÔ
CAMPAGNA, 1 Riporto in borsa e fuori borga, 16, que tentou mostrar diferenças). Na prática bancária, há o
reporte com fim alienativo a termo, em que o banco adquiriu os títulos, com a contraprestação imediata, e os
aliena a termo, por preço superior, e adquire, quanto tiver de restituir, outros títulos; e o reporte com fim
alienativo à vista, em que o banco adquire os títulos, com a contraprestação imediata, e os aliena com preço à
vista e adquire, depois, outro. A adjetivação não é perfeita, como não no é a adjetivação usada (reporte ativo,
reporte passivo), porque a alienabilidade pelo reportador é que é elemento essencial do contrato de reporte, não
o fato mesmo da alienação.
Raramente os bancos figuram em contrato de deporte. Às vêzes, os bancos recebem títulos e os possuem,
mediante pagamento de interesses. Aí, não há reporte, nem deporte; há empréstimo de titulo, para que o banco
possa usá-los. A fraude à lei caracteriza-se se o intuito é o de exercer o direito de voto.
k
4.PRORROGAÇÃO DAS OPERAÇÕES DE REPORTE E DE REPORTE. A lei fixa prazo máximo para as
operações de reporte e de deporte, mas admite a prorrogação (Decreto número 2.475, de 18 de março de 1897,
arts. 97 e 109; Regimento Interno da Bolsa de Valores, art. 211: “Estas negociações não poderão exceder de
trinta dias de prazo, sendo permitida a prorrogação, obedecida, porém, a cotação do dia”).
Pergunta-se se o reporte a prazo, ou o deporte a prazo, não faz consensual o contrato de reporte ou de deporte.
O prazo é para a operação a retro, e não do contrato. O contrato de reporte ou de deporte é sempre contrato real.
Nas proximidades do vencimento, os figurantes, reportados ou reportadores, vendedores ou compradores, têm
de munir-se do suficiente para a operação a retro; isto é, hão de ter à disposição o dinheiro ou o objeto com que
possam adimplir a dívida assumida. Se não o têm, ou se têm interesse em não vender a retro ou comprar a retro
no momento de se vencer o reporte ou o deporte, ou obtêm a prorrogação ou se expõem à liquidação coativa.
Na técnica bolsistica, distinguem-se a prorrogação do reporte e a do deporte em prorrogação direta e em
prorrogação indireta, conforme são os mesmos figurantes, ou não, os figurantes da operação repórtica de
depórtica. Tal diferença de modo nenhum se reflete na figura jurídica da prorrogação. Alguns juristas empregam
os termos noutro sentido, porém acertada é a terminologia dos franceses (e. g., A. COURTOIS, Traité des
Operations de Rourse et de Change, 83 ed., 90). Temos, porém, de distinguir, o que adiante faremos, a
prorrogação e a renovação .
A prorrogação não precisa ser feita necessàriamente pelo corretor que fêz a operação originária, e pode ser que
um dos figurantes ou os figurantes tenham mudado.
Se a prorrogação do reporte ou do deporte é direta, não há qualquer dificuldade quanto à posse. O que era,
-w
continua. Tanto faz que o adquirente não tenha a posse como se a tivesse, porque o momento para adimplir
mudou.
Algumas teorias surgiram com o propósito de construção da figura jurídica da prorrogação do reporte ou do
deporte:
a) a teoria da prorrogação-novação, em que ressalta a contradição, pois que não nova quem prorroga (e. g.,
FRANCESCO MESSINEO, Operazioni di Borsa e di Banca, 2•a ed., 199; CmSEPPE VALER; Manuole di
Diritto Commerciale, II, 144); b) a teoria da prorrogação de contrato sObre o ão-compensado, segundo a qual
há outro contrato de conteúdo igual, quantitativamente posterior (cf. FRANCESCO MEsSINEO, Riporto con
tradizione e riporto-proroga, Foro Lombardia, 1981, 427 5.>; e) a teoria da prorrogação-dação em soluto, que
é absurda, lançada pela Cassação de Roma, a 18 de janeiro de 1984; d) a teoria do contrato único, para a qual
são supérfluas e sem base tOdas as discussões que fujam ao conceito de prorrogação, conceito que afasta,
radicalmente, pensar-se em novação ou em renovação (cf. Tomos XX, § 2.486, 5; XXV, § 3.019, 5, 6; XXXVI,
§ 8.068, 3; XL, §§ 4.462, 4.468).
O reporte, ou o deporte, se advém prorrogação, deixa integro o contrato, porque apenas o estende no tempo. Se
a prorrogação foi com outrem ou houve substituição do titular, ou dos titulares, o que resulta de outro negócio
jurídico, pois a dívida era do originário figurante e, ex hypotkesi, houve a sucessão; ou tal sucessão não houve, e
o outro figurante é terceiro, interessado ou não, que paga a dívida e conclui outro negócio jurídico de reporte ou
de deporte. Aqui, não há própriamente prorrogação do reporte, ou do deporte, mas renovação por outrem. Sem
fazer a distinção entre outro contrato autônomo e renovação, FRANCESa> MESsINEO (Operazioni dii Rorsa
e di Ranca, 2~a ed., 272; DOMENICO BARBERO, Sistema istitu.zionale del Diritto prinato italiano, 2.~ ed., II,
291). Observe-se que o próprio FRANCESCO MESSINEO (197> alude a nexo de interdependência entre os
dois negócios jurídicos.
Importa apurar-se se o terceiro é mandatário, cessionário, associado ou delegado, agente, ou o que quer que
seja, em relação ao outro figurante. Quem devia vender a retro, ou comprar a retro, não o fêz, se o terceiro não
tinha poderes; ou não o fêz no nome do figurante omisso: o terceiro solveu como foi acordado e concluiu outro
negócio jurídico de reporte ou deporte. Assim, se o nôvo prazo foi em negócio jurídico em que não é figurante
quem o era no momento do vencimento, há renovação, e não prorrogação. O significado de prorrogação tem de
ser lixado estritamente.
5.OBJETo DO REPORTE. Objeto de reporte são os títulos negociáveis, inclusive os títulos representativos de
mercadorias, e quaisquer títulos que tenham sido admitidos a cotação em bolsa. Não importa se são de
particulares ou de entidades estatais, ou paraestatais, ou se os regem regras jurídicas privatísticas ou
publicísticas. As formalidades para a transmissão da propriedade têm de ser cumpridas, tal como ocorre com os
títulos nominativos não-endossáveis e os títulos nominativos endossáveis. Os títulos estrangeiros podem ser
reportados, salvo proIbição por lei. As letras de câmbio sacadas para o exterior são reportáveis. Quotas de
sociedades, uma vez que não são negociáveis, ou só o podem ser com permissão especial, não podem ser objeto
de reporte.
O objeto os títulos tem de ser determinado quanto à espécie, inclusive o ano da emissão, se há diferença, e
quanto à quantidade.
O objeto do reporte é bem ~fungivel: o reportador restitui o que recebeu, ou outros títulos da mesma espécie e
na mesma quantidade. A cláusula de serem restituidos os títulos que foram reportados deturpa o contrato, que
passa a ser empréstimo com penhor regular. Se há cláusula de pagar o reportador os impostos de transmissão se
alienou a propriedade dos títulos e tem de restituir outros, supõe-se que não houve transmissão da propriedade
dos títulos reportados, portanto
há empréstimo e penhor, ou fraus legis contra o Estado. Idem, se a cláusula é quanto aos impostos da
transmissão em retôrno (RENATO COBRADO, II Riporto, 93; 1 Contratti di bona, 242 s.; sem razão,
GUSTAVO MINERnNI, Su un preteso caso di riporto a scopo - di garanzia, Banca, Borsa e Titoli di credito>
1952, II, 380 sã.
A prestação do preço (contraprestação) é pressuposto necessário da operação de reporte ou de deporte. Se não
foi feita, ao vendedor não compete a exceção inadimpleti contractus, mas a de inexistência, do contrato.
Todavia, há a posição do corretor, de modo quê dificilmente se dá ensejo ao problema.
o interesse, e não há a pretensão à indenização (cf. HEREERT JAGOBI, Die Schadenersatz wegen
Nichte’rfidlung, 10 s.). A despeito de não se tratar de compra-e-venda, mas de outro contrato, a rescisão por
vício redibitório, ou a pretensão quanti minoris, pode surgir (cf. RAIMUND ALBERT, Pie rechtliche Natur der
Wandelung, 24 s.), tanto mais quando o direito brasileiro foi mais explícito, a respeito dos contratos
comutativos (Código Civil, artigos 1.101-1.106>, do que os outros sistemas jurídicos. Como a prestação com
vicio pode ser em adimplemento de anterior contrato a que o posterior contrato se refere, mesmo que seja em
execução de divida prescrita (cf. MAXIMILIAN RAULBACH, Pie Konsiruktion der Wa.ndelung und der
Mindenung im Ejirgerlicheu Gesetzbuck, 18), a redibição ou a minoração da prestação pode ocorrer.
2.INFRAÇÃO DOS DEVERES. Há, no contrato de reporte, prestações correspectivas, porém a estrutura
típica do contrato de reporte afasta a pretensão à resibilidade, porque a propriedade dos títulos volta
automàticamente e o pagamento do preço é dever simultâneo: a pretensão à execução forçada é a única soluçao,
porque se deve bem fungível, cuja propriedade teria de estar com o reportado. A Bolsa de Valores ou outra
entidade que dirija ou contrôle as operações de reporte tem de adquirir os títulos para a execução forçada
administrativa, com a entrega ao reportador do certificado de crédito, que tem eficácia executiva (título
executivo extrajudicial ).
Salvo regra jurídica especial, os contratos de reporte fel-. tos por agentes de câmbio (aliter, pelos corretores),
são válidos (cf. ARTURO CAPUTO, La Liquidazione coaltiva dei cmvtratti di borza vallori, 54 s.;
-w
FRÂNCESCO FERRARA JUNIOR, Li-. quidazione coaltiva deila Compravend.ita commerciale, 169).
1.LIQUIDAÇÃO E REGRAS LEGAIS. A liquidação é na data que se fixou, não sendo permitida a liquidação
por antecipação (Decreto n. 2.475, de 13 de março de 1897, art. 111; Regimento Interno da Bolsa de Valores,
art. 212: “A liquidação será efetuada na data fixada, não sendo permitidos descontes do prazo, isto é, a
liquidação por antecipação”). A préexclusão da liquidação antecipada só se refere às operações. na Bolsa de
Valores.
2.TÍTULOS NOMINATIVOS OU TITULOS QUE EXIJAM FORMALIDADE DE TRANSFERÊNCIA. Lê-
se no art. 213 do Regimento Interno da Bolsa de Valores: “Quando se tratar de titulos nominativos ou por
transferência, a liquidação será subordinada às disposição da letra a do art. 203; para a liquidação dos títulos ao
portador, vigorará o disposto na letra 6 do citado artigo”. A lei que rege a transferência da titularidade dos
valores há de ser respeitada. O art. 213 do Regimento Interno é apenas remissivo. Se o título é titulo ao
portador, a liquidação há de ser uma hora antes da Bolsa, contada a do vencimento. Dá-se o mesmo se a
transferência há de ser por endosso (títulos endossáveis). Se o título é nominativo, uma hora antes da bolsa
subseqúente à do vencimento, os corretores permutam memorandos, com os nomes dos compradores
vendedores e fazem a transferência, de modo que, uma hora antes da quarta bolsa, contada a do vencimento, se
opere, definitivamente, a liquidação.
CAPITULO VIII
§ 5.472. Generalidades
Chegando ao conhecimento do sindico da Junta de Corretores, que dois corretores se mancomunaram com o
mesmo comitente para simular operações, serão êles multados, a arbítrio do síndico, e a operação é nula, sem
qualquer efeito. Ao comitente será vedado realizar novas operações, enquanto não indenizar dos prejuízos que
possa ter causado com essa irregularidade, ficando, além disso, impedido de negociar cm Bolsa durante três
meses (art. 82, parágrafo único).
3. RELAÇÃO JURÍDICA COM O CORRETOR. A relação jurídica do cliente com o corretor é típica. O
corretor não põe em contacto material os dois figurantes do contrato, que podem ignorar quem seja a outra
-w
pessoa, ou quais sejam as outras pessoas, sem caber exame, em conseqUência do sigilo de cada corretor.
A incumbência dada ao corretor para qualquer negociação entende-se finda no mesmo dia, salvo convenção em
contrário (Decreto n. 20.882, art. 35). A regra jurídica não é lus Luterpretativum, a despeito do “entende-se”
que nela aparece. Ç regra jurídica jus dispositivum. Sem ter havido manifestação de vontade em contrário,
escrita ou oral, o art. 35 do Decreto n. 20.882 incide.
Diz o Decreto n. 20.882, art. 86: “O corretor não perderá o direito à sua corretagem pela falta de cumprimento,
por alguma das partes contratantes, do contrato de compra e venda registado em Bolsa”. Acrescenta o § 1.0: “O
comitente que entregar ao corretor conhecimentos ou notas de gêneros para vender ou o incumbir de quaisquer
outros negócios em tempo determinado, não poderá realizar os mesmos negócios por intervenção de outro
corretor sem ter decisão do primeiro com quem tratou, sob pena de pagar a êste a corretagem correspondente,
como se a operação fôsse por intervenção dêle efetuada e ultimada”. Ainda o § 2.0: “O mesmo sucederá quando
qualquer comitente, tendo recebido de corretor a nota do desempenho de qualquer comissão de que o houver
encarregado, deixar de ultimar o negócio realizado por sua intervenção e vier a realizá-lo pessoalmente ou por
intermédio de outro corretor, cm igualdade de condições, dentro dos três primeiros dias seguintes; e, provando-
se que houve dolo, com o fim de lesar o corretor, será o comitente obrigado ao pagamento do décuplo da
corretagem que seria devida”.
O contrato com o corretor ou tem de ser para a conclusão do negócio jurídico no mesmo dia, ou para conclusão
no’ dia marcado ou dentro do prazo que se fixou. Se o corretor não cumpre, e. g., por faltar comprador (ou
vendedor), ou por ser o preço acima do que o cliente esperava, nada. feito. Se cumpre, conforme o que se
preestabelecera, há o seu direito à corretagem. Com a alegação e a prova de que houve culpa do outro corretor,
inclusive quanto à inidoneidade do outro figurante, há a ação da responsabilidade.
O art. 36 e os §§ 19 e 2.0 só se referem ao direito a corretagem (comissão do corretor). Enquanto está em
duração o tempo para a operação pelo corretor, é óbvio que a vinculação do cliente a esse corretor impede que
se vincule a outro, para a mesma ou para as mesmas operações. O que pode ocorrer é que corretor e cliente
distratem o contrato de corretagem. Expirado o prazo para o corretor, nada impede que o cliente procure outro,
ou que outro corretor, com quem teve punctações, opere imediatamente.
A espécie do art. 36, § 2.0, merece tôda a atenção. O corretor concluiu o negócio jurídico da bOlsa e o cliente
não o cumpre: o inadimplemento tem tôda as conseqUências, porque foi o cliente quem se vinculou. O art. 36,
§ 2.0, só diz respeito ao direito à corretagem.
2. OPERAÇÕES A VISTA. No Decreto n. 20.882, art. 39, repete-se, para a espécie de negócios jurídicos
bolsísticos, o que é princípio geral de direito concernente nos negócios jurídicos: “São consideradas operações à
vista aquelas cuja ordem para a entrêga da mercadoria fôr passada no mesmo dia da venda, ainda mesmo que os
pagamentos sejam efetuados em prazos convencionados entre os comitentes”.
A expressão “à vista” só se refere, aí, à prestação da mercadoria, e não à contraprestação. Mesmo que a
prestação do preço seja a prazo, ou para momentos sucessivos, tem-se como à vista a operação em que a
mercadoria há de ser entregue no mesmo <tia,. O que importa é o dia da operação.
À
Adiante, § 5.476, 2.
A propósito do café, açúcar e algodão, diz o ad. 51 do Decreto n. 20.882: “Para a entrega do café, açúcar ou
algodão, em liquidação de negócios realizados ou registados em Bolsa, faz-se preciso que o entregador requeira
a sua classificação oficial, pagando prêviamente os emolumentos constantes da Tabela n. 2, anexa ao
regulamento a que se refere o Decreto n. 20.881, de 30 de dezembro de 1931, e fornecendo as amostras e as
latas para o respectivo acondicionamento”.
Acrescenta o parágrafo único: “A classificação oficial do café e do açúcar será feita por comissões nomeadas
pelo síndico da
Junta dos Corretores entre pessoas de competência especializada no assunto e de sua inteira confiança; a
classificação oficial do algodão se fará na Superintendência do Serviço do Algodão, de acôrdo com as suas
disposições regulamentares”.
Quanto à classificação oficial das mercadorias negociaveis em bolsa, estabelece-se no Decreto n. 20.882, art.
52: “Para que se possa proceder à classificação oficial das mercadorias negociáveis em Bolsa para entrega às
caixas, faz-se preciso:
a) que o café esteja depositado em armazém geral, e o açúcar e o algodão nesses armazéns ou trapiches,
regularmente organizados; b) que estejam as mercadorias devidamente lotadas e marcadas, conforme
declaração dos fiéis dos ditos armazéns ou trapiches, feita no requerimento em que a classificação fôr pedida; o)
em relação ao café, que se encontre o mesmo acondicionado em sacaria, nova, do tipo oficial; d) em relação ao
açúcar, que a mercadorias seja do tipo uniforme e se ache acondicionada em saco nôvo de algodão, de primeira
viagem; e) relativamente ao algodão, que o mesmo estej a bem enfardado e haja sido prensado, por prensa,
registada no Serviço de Algodão, em fardos com o pêso mínimo de 140 quilos cada um”.
O ad. 53 do Decreto n. 20.882 é de todo interesse, porque estatui inegociabilidade em bOlsa, regras jurídicas de
cuja infração resultaria nulidade do contrato de compra-e-venda. A despeito das minúcias, de ordem técnica,
convém que se reproduzam o art. 53 e os §§ 18, 29 e 3•O Diz o art. 53: “Não são negociáveis em Bolsa: a) o
café de qualidade inferior ao tipo 8 da Bolsa do Rio de Janeiro; b) o algodão que não fôr de fibra
resistente, de côr branca ou creme natural e o que contiver corpos estranhos ou salvados de incêndio, varreduras
de armazéns, umidade, sementes, fragmentos de cascas ou fôlhas, resíduos, terra e linters; c) o açúcar sem
uniformidade de côr e demais descrições que o tipo oficial comporta”.
Lê-se no § 1$: “Na série de 10.000 quilos de algodão para entrega às caixas em liquidação de negócios a termo,
não se admitirá mercadoria inferior ao tipo 8, nem na sua composição poderão entrar mais de três tipos
diferentes, desprezados os meios tipos e a diferença de fibra superior a 0,444 m”.
No § 2.0: “Nos meses de julho a janeiro, só poderão ser entregues lotes de açúcar do tipo cristal, bom, sêco,
com um mínimo de polarização equivalente a 990, e, nos meses de fevereiro, março, abril, maio e junho, de
açúcar bom e fino, com a polarização respectivamente de 980½, 98v, 97~~/2 e 970 e 9fi0”
Finalmente, no § 39: “Nos meses de fevereiro a junho é facultada a entrega de açúcares com um mínimo de
polarização equivalente a 96v, pagando, porém, os recebedores, 2% por grau acima do valor, nos térmos do
disposto no parágrafo anterior”.
Acrescenta o art. 54 do Decreto n. 20.882: “As contestações sobre classificação de açúcar serão resolvidas pela
polarização da mercadoria em estabelecimento oficial, observada a tolerância da umidade a que se refere o § 39
do artigo antenor e admitindo-se para a entrega, nos meses de fevereiro a junho, gênero que alcance a
polarização de 98o½~~.
E o art. 55: “A classificação das mercadorias negociáveis em Bolsa se fará por série de 100 atestados cada uma,
discriminados, por ordem numérica e alfabética”. Diz-se no parágrafo único: “O atestado de classificação de
café será válido pelo tempo de 90 dias; o de açúcar, pelo de 15 dias; o de algodão, pelo de 90 dias, contados
esses prazos da data em que os mesmos forem assinados”.
No art. 56: “Em liquidação dos negócios de Bolsa ou nela registados, poderão ser entregues mercadorias de
qualidade superior à dos tipos oficiais adotados, devendo o entregador, nesse caso, ser indenizado pelo
-w
recebedor da diferença de preço entre a mercadoria entregue e o tipo oficial de Bolsa”. Acrescenta o § 1.~:
“Essa indenização se fará de acôr
do com a tabela de diferenças entre os tipos, organizada e semestralmente revista pela Junta dos Corretores, em
colaboração com a Diretoria do Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro, a Superintendência do Serviço
do Algodão e os administradores das Caixas de Liquidação legalmente constituídas, no que tocar à competência
técnica dos mesmos, e fixadas no regimento interno da Bolsa”. Ainda o § 2.0: “Para o efeito da indenização aos
entregadores, é fixada em 30 pontos a diferença entre os tipos de café 2 a 7, inclusive, e de 50 pontos entre os
tipos 7 e 8, sendo de vinte réis o valor de cada ponto”.
Lê-se no ad. 57: “Na hipótese prevista no art. 56, nenhum lote de 1.000 sacas de café ou açúcar admitirá mais
de quatro qualidades ou marcas diferentes, nem amostras inferiores a 250 sacas”.
1.VENDAS POR MANDADO JUDICIAL. Os juizes determinam que as vendas sejam em hasta pública,
inclusive em bolsa de valores ou de mercadorias, se a lei o exige, ou se a lei lho permite. As vendas de
mercadorias somente podem ser em bolsa se foi afixado aviso no local em que a Bolsa de Mercadorias
funciona, publicado no Diário Oficial e na imprensa periódica. O corretor há de ser designado pelo juiz
competente e as operações têm preferência nos trabalhos do dia (Decreto n. 20.882, art. 58).
Algumas vendas de mercadorias somente podem ser em bolsa. Uma das espécies é a do Decreto n. 1.102, de 21
de novembro de 1903, arts. 10, § 1.0, e 23, § 1.0. Lê-se no Decreto n. 1.102, art. 10, § 1.0, a propósito das
mercadorias em depósito nos armazéns gerais: “Vencido o prazo do depósito, a mercadoria reputar-se-á
abandonada, e o armazém geral dará aviso ao depositante, marcando-lhe o prazo de oito dias improrrogáveis
para a retirada da mercadorias contra a entrega do recibo (art. 6.0), ou dos títulos emitidos (ad. 15). Findo êste
prazo, que correrá do dia em que o aviso fôr registado no Correio, o armazém geral mandará vender a
mercadoria, por corretor ou leiloeiro, em leilão público, anunciado com antecedência de três dias pelo menos,
observando-se as disposições do art. 28, §§ 39, 49, 6.0 e 7•0”• No art. 23, § 1?, diz-se que se, no dia do
vencimento, não fôr pago o warrant, “o portador do warrant fará vender em leilão, por intermédio do corretor
ou leiloeiro que escolher, as mercadorias especificadas no titido, independentemente de formalidades judiciais”.
2.Vícios REDIBITÓRIOS E Evícção . Quanto aos vícios redibitórios, diz o Decreto n. 20.882, art. 60: “Nas
vendas judiciais ou naquelas a que se refere o artigo antecedente, não serão admitidas reclamações sobre
qualidade; os compradores deverão examinar a mercadoria no local onde se achar depositada, incluindo os
corretores em seus contratos a cláusula de ter sido a mesma examinada e aceita por seus comitentes”.
A evicção, essa, tem as consequências segundo os principios gerais.
CAPÍTULO IX
1.CONCEITO. A corretagem de seguros, como todas as outras corretagens, não implica representação, nem,
sequer, mediação. A despeito de não se haver cogitado de bolsa de seguros, atribui-se a função a pessoas que
operam como os outros corretores operam, quando os negócios jurídicos se íncluem fora da bolsa; isto é, sem
que existam os dois elementos objetivos, um, especial, e outro, de linguagem: a balaustrada e o pregão. Melhor
teria sido que, em vez de corretor de seguros, se tivesse falado de agentes; mas a conveniência não é base
suficiente para se exprobrar à Lei n. 4.594, de 29 de dezembro de 1964, a terminologia que preferiu. A função é
a de corretor, pôsto que bolsa de seguros não exista e pudesse existir.
seguros a organização bolsística (que não é de afastar-se, de jure condendo), entra na classe dos negócios
jurídicos de corretagem e está subordinado às mesmas regras jurídicas gerais.
Sobre a corretagem, Tomo XLIII, §§ 4.732-4.744; sobre o. contrato de seguros, Tomo XLVI, §§ 4.911-4.965.
O corretor de seguros depende do título que se lhe confira. Antes da aquisição do título, corretor de seguros não
é. Daí os pressupostos para o requerimento e para que se lho defira. Lê-se na Lei n. 4.594, art. 3.0: “O
interessado na obtenção do titulo a que se refere o artigo anterior, o requererá ao Departamento Nacional de
-w
Seguros Privados e Capitalização, indicando o ramo de seguro a que se pretenda dedicar, provando
documentalmente: a) ser brasileiro ou estrangeiro com residência permanente; b) estar quite com o serviço
militar, quando se tratar de brasileiro naturalizado; e) não haver sido condenado por crimes a que se referem as
Seções II, III e IV do Capítulo VI do Título 1; os Capítulos 1, II, III, IV, V, VI e VII do Título II; o Capítulo V
do Título VI; Capítulos 1, II e III do Titulo VIII; os Capítulos 1, II, III e IV do Titulo iX e o Capítulo 1 do Título
XI, parte especial do Código Penal; d) não ser falido; e) ter habilitação técnico-profissional referente aos ramos
requeridos”. No ~ 1.0: “Se se tratar de pessoa jurídica deverá a requerente provar que está organizada segundo
as leis brasileiras, ter sede no pais, e que seus diretores, gerentes ou administradores preencham as condições
dêste artigo”. E no § 2.0: “Satisfeitos pelo requerente os requisitos dêste artigo, terá êle direito a imediata
obtenção do titulo”. O requerimento não só se há de referir à especialidade da atividade corretora, que é a de
seguros. Tem de precisar qual o ramo de seguros em que há de operar e esse ramo de seguros há de ser um dos
que o direito brasileiro admite, e pode acontecer que tem specialis vede as operações de corretores, no tocante a
algum dêles. No art. 8?, a), permitiu-se a função de corretagem de seguros a estrangeiros que apenas tenham
residência permanente no Brasil, o que se há de entender como domicilio, porque seria estranho que, em caso
de duas ou mais residências permanentes, uma no Brasil e outra no estrangeiro, pudesse o estrangeiro, que o seu
país de origem ou outro país considerou domiciliado, exercer, no Brasil, a atividade corretora. De jure
condendo, a corretagem, como pró-fissão, pode ser exercida por Brasileiro, ou por estrangeiro que seja
domiciliado no Brasil, para que as regras jurídicas sobre capacidade e outras regras jurídicas que dependem da
Lez domiojiji sejam as do direito brasileiro.
Se o requerente é Brasileiro naturalizado, tem de estar livre do serviço militar, ou por tê-lo prestado, ou por ter
passado da idade, ou por outra causa, que a lei estabeleça.
O art. 8.0, e), reporta-se aos crimes que não há de ter cometido o requerente: 1) crimes contra a inviolabilidade
do domicílio (Código Penal, Parte Especial, Título 1, Capítulo VI, Seção II), contra a inviolabilidade da
correspondência <Capítulo VI, Seção III), ou contra a inviolabilidade dos segredos (Capítulo VI, Seção IV); 2)
crime de furto (Código Penal, Parte Especial, Título II, Capítulo 1), de roubo ou extorsão (Capitulo II), de
usurpação (Capítulo III); de dano (Capítulo IV); de apropriação indébita (Capítulo V); de estelionato e outras
fraudes (Capítulo VI), ou de receptação <Capitulo VII) ; 8) crime de lenocínio e tráfico de mulheres (Código
Penal, Parte Especial, Título V, Capitulo 1); 4) crime contra a incolumidade pública, tais como de perigo
comum (Código Penal, Parte Especial, Título VIII, Capítulo 1), contra a segurança dos meios de transporte e
outros serviços públicos (Capítulo II), ou contra a saúde pública (Capítulo III) ; 5) crime de moeda falsa
(Código Penal, Parte Especial, Título X, Capítulo 1), de falsidade de título ou outro papel público (Capítulo II),
de falsidade documental (Capitulo III), ou de outra falsidade (Capitulo IV); 6) crime de funcionário público
contra a administração (Código Penal, Parte Especial, Título XI, Capítulo 1).
O que primeiro se há de frisar é que os crimes aí referidos (Código Penal, arts. 150-154, 155-181, 227-282,
250-285, 289-811, 812-827), podem ser cometidos no estrangeiro e regidos por lei estrangeira, com sentença
proferida no estrangeiro. Se o crime conforme a lez fori contém os elementos do suporte fáctico de qualquer dos
crimes que foram mencionados nos textos da lei penal brasileira, de modo que, praticado no Brasil ou fora do
Brasil, mas regido pela lei brasileira, o requerente seria condenado, está composto o pressuposto negativo: não
pode êle ser corretor de seguros no Brasil, mesmo que o pudesse ser ou a seja no estrangeiro.
~1
Em segundo lugar havemos de entender que qualquer estrangeiro, quer seja naturalizado no Brasil, quer não,
tem de
juntar a prova negativa. Não se poderia admitir que o estrangeiro fôsse tratado melhor do que o Brasileiro
(Constituição de 1946, art. 141, § 1.0), como seria contrário aos princípios constitucionais qualquer ato de
legislação que desse a naturais de Estado-membro tratamento diferente do que se atribuísse a naturais de outro
ou de outros Estados-membros.
De iure condendo, é de estranhar-se que possa ser corretor de seguros, por exemplo, quem matou para haver
paga ou outro motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 29, 1), ou poder praticar outro crime, ou para ocultá-lo,
ou para ficar impune ou obter vantagem (art. 121, § 29, V), induzir ou instigar alguém a suicidar-se, ou prestar-
lhe auxílio para que o faça (ad. 122). Ou praticou crimes, corno o de testemunho falso, ou de falsidade em
perícia, tradução ou interpretação em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral (art.
342) e o de dação ou promessa de dinheiro ou qualquer vantagem para tais atos por parte de outrem (artigo
-w
348).
Quem faliu, ou quem foi considerado culpado em liquidação coativa, não pode ser corretor de
seguros. Não importa se a decretação da abertura da falência foi no Brasil ou fora do Brasil. A lei
somente se referiu à falência. Não se há de estender a regra jurídica ao concurso civil de credores, O
que pode acontecer é que, nesse concurso, fique provada a prática de algum dos crimes referidos no
art. 3•O, e), da Lei n. 4.594 e advenha a coisa julgada de sentença criminal.
Se, por ocasião do requerimento de autorização, há inquérito policial ou ação penal já intentada, por
algum dos
crimes que o ad. 39, e), menciona, não basta isso para se denegar a autorização; mas a posterior
condenação tem conseqUência imediata á coisa julgada. Se, ao tempo do requerimento, o corretor ja
teve contra si sentença que ainda não passou em julgado, a solução mais acertada é a de se negar
sem definitividade a autorização. (No ad. 39, e), fala-se de o requerente “não haver sido condenado”,
sem alusão à res iudieata, e a interpretação não pode ser a de constituir impedimento a sentença de
condenação de que pende recurso.
Dai termos de considerar apenas pendencial a denegação ou o retardamento. Isso não afasta
que se reconheça o direito à imediata obtenção do título, de que cogita o art. 3~0, § 29, suscetivel de
exame judicial, com invocação do art. 141, § 49, da Constituição de 1946.)
O último requisito aliás, em verdade o primeiro, porque é o pressuposto positivo é da habilitação
técnico-profissional, que há de ser a propósito do ramo de seguros em que quer operar.
A respeito das sociedades corretoras de seguros, permitiu-se que se componha de Brasileiros
natos, ou de Brasileiros naturalizados, que hajam preenchido a exigência do art. 39.
que se refere ao serviço militar, ou de estrangeiros domiciliados no Brasil (“com residência permanente”), ou
não (o que também é de estranhar-se). Apenas quanto aos diretores, gerentes ou administradores, tenham ou não
poder de presentação ou de representação, foi exigido o domicilio no Brasil (z= “residência permanente”)
No § 2.0 do art. 8.0 diz-se que, satisfeitos os requisitos exigidos pelo art. 39, tem o requerente “direito à
imediata obtenção do titulo”. Se, no plano do direito administrativo, não há recurso do despacho do
Departament0 Nacional de Seguros Privados e Capitalização, há a invocabilidade do artigo 141, § 49, da
Constituição de 1946, a proponibilidade da ação ordinária, ou da ação de mandado de segurança, desde que os
pressupostos estejam satisfeitos.
Quanto à habilitação técnico-profissional, estatui a Lei ~ 4.594, art. 49: “O cumprimento à exigência da alínea
e) do artigo anterior poderá consistir na observância comprovada de qualquer das seguintes condições: a) servir
há mais de dois anos como preposto de corretor de seguros para os ramos requeridos; b) haver concluído curso
técnico-profissional de seguros, oficial; e) apresentar atestado de exercício profissional anterior a esta lei,
fornecido pelo sindicato de classe ou pelo Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização”. A
eficácia de qualquer desses documentos é suscetível de exame judicial, caso a denegação seja por insatisfação
do pressuposto do ad. 8.0, e).
Diz a Lei n. 4.594, art. 6.0: “Não se poderá habilitar novamente como corretor aquêle cujo título de habilitação
profissional houver sido cassado, nos termos do art. 24”. Falaremos do assunto, ao cogitarmos do art. 24. A
cassação é definitiva, porém não incólume à interposição de recurso, que o direito administrativo admitir, ou à
propositura de ação, inclusive de mandado de segurança, contra o ato cassatório.
Diz a Lei n. 4.594, art. 89: “O atestado, a que se refere a alínea o> do art. 4•0, será concedido na conformidade
das informações e documentos colhidos pela Diretoria do Sindicato, e dêle deverão constar os dados de
identidade do pretendente, bem como as indicações relativas ao tempo de exercício nos diversos ramos de
seguro e as empresas a que tiver servido”. No § 1.0: “Da recusa do Sindicato em fornecer o atestado acima
referido cabe recurso, no prazo de 60 dias, para
-w
O Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização”. No § 2.0: “Os motivos da recusa do atestado,
quando se fundarem em razões que atentem à honra do interessado, terão caráter sigiloso e somente poderão ser
certificados a pedido de terceiros por ordem judicial ou mediante requisição do Departamento Nacional de
Seguros Privados e Capitalização”.
O art. 5~0 concerne a quaisquer pessoas, Brasileiros natos, ou Brasileiros naturalizados, que desejem o título de
corretor de seguros. Do art. 8.0 indubitâvelmente se tira que os estrangeiros, domiciliados no Brasil, que o
queiram, têm de apresentar o atestado, como qualquer Brasileiro nato, ou naturalizado. Se a pessoa apenas vai
ser diretor, ou gerente, ou administrador tem de satisfazer a exigência do atestado.
Acrescenta a Lei n. 4.594, art. 99: “Nos municípios onde não houver sindicatos da respectiva categoria,
delegacias ou seções desse sindicato, poderá o atestado ser fornecido pelo sindicato da localidade mais próxima
4.EXPEDIÇÀO DO TITULO. Estabelece a Lei n. 4.594.
art. 7.0: “O titulo de habilitação de corretor de seguros será expedido pelo Departamento Nacional de Seguros
Privados e Capitalização e publicado no Diário Oficial da República”. Qualquer recurso ou ação que se refira à
expedição, ou àdenegação de expedição, tem prazo contado da data da publicação no Diário Oficial.
5.PRESSUPOSTOS PARA O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO. Expedido o título de corretor de seguros, tem o
corretor de satisfazer exigências para começar a exercer, conforme a lei, a profissão para que obteve a
autorização. Diz a Lei n. 4.594, art. 59 “O corretor, seja pessoa física ou jurídica, antes de entrar no exercício da
profissão, deverá: a) prestar fiança em moeda corrente ou em títulos da dívida pública, no valor de um salário-
mínimo mensal, vigente na localidade em que exercer suas atividades profissionais; b) estar quite com o
impôsto sindical; o) inscrever-se para o pagamento do imposto de indústrias e profissões”. Se o corretor de
seguros é pessoa física, tão surgem problemas. Cada um dos corretores de se guros tem de prestar fiança, de
provar que nada deve de im-•pôsto sindical e de estar inscrito para o pagamento do impôstode indústrias e
profissões. Se se trata de sociedade corretora, ela e cada um dos seus membros que seja diretor, gerente ou
administrador têm de atender ao que se estabelece no artigo 50 da Lei n. 4.594.
6.EXCLUSIVIDADE DA ATIvIDADE DE CERRETOR DE SEGUROS.
Só os corretores de seguros e as sociedades corretoras podem exercer tal atividade específica, sem que se
afastem as operações diretas entre clientes e empresas de seguros. Diz a Lei n. 4.594, art. 18: “As sociedades de
seguros, por suas matrizes, filiais, sucursais, agências ou representantes, só poderão receber proposta de
contrato de seguros: a) por intermédio de corretor de seguros devidamente habilitado; b) diretamente dos
proponentes ou seus legítimos representantes”. O que se exprimiu foi a limitação da atividade corretora aos que,
pessoas físicas, ou pessoas jurídicas, tenham o título. De modo nenhum se cerceou a oferta ao público, por parte
da emprêsa, ou a oferta do cliente diretamente à empresa, seja pessoalmente, seja através dos seus órgãos
presentantes, ou dos seu8 representantes. Terceiro é que não pode intermediar se corretor não é, ou se não
presenta, ou representa, de conformidade com os princípios, sociedade corretora.
Está na Lei n. 4.594, art. 19: “Nos casos de aceitação de propostas pela forma a que se refere a alínea b) do
artigo anterior, a importância habitualmente cobrada a título de comissão, calculada de acordo com a tarifa
respectiva, reverterá de ser a autenticação), para nêle serem lançadas as que os clientes fizerem e as ofertas que
as sociedades do façam aos clientes, que concluiram contrato de corretagem.
Diz a Lei n. 4.594, ad. 14: “O corretor deverá ter o registro devidamente autenticado pelo Departamento
Nacional de Seguros Privados e Capitalização das propostas que encaminhar às sociedades de seguros, com
todos os assentamentos necessários à elucidação completa dos negócios em que intervier . O que, faltando,
alteraria o conteúdo do negócio juridico, tem de ser inserto.
As invitações a ofertar, por parte das empresas de seguros, não precisam ser registadas. Em caso de
concorrência, todas as ofertas têm de ser registadas.
Quanto aos elementos que hão de constar dos assentamentos, o que se há de entender é que o registro tem de
referir todos os dados que constam da manifestação de vontade ofertiva. A Lei n. 4.594, ad. 14, somente aludiu
à oferta, porque o quod plerumque fit é a aceitação do que se ofereceu, sem qualquer modificação. Se
modificação houve, trata-se a aceitação parcial ou aumentativa como nova oferta, de modo que depende de
aceitação por parte de quem fôra oferente. Tal aceitação-oferta tem de ser registada.
O corretor de seguros pode ter recebido ou não ter recebido do segurado a importância do prêmio do seguro.
Nada obsta a que, a despeito de ter havido e haver o contrato de corretagem, o segurado preste à empresa de
seguros, pessoal-mente, ou através de outrem, a quantia devida. Se foi o corretor de seguro quem recebeu do
segurado o que havia de ser p~’.go, entenda-se que exercem poderes que resultaram do contrato de corretagem,
poderes de receber e poderes de pagar. Se houve o recebimento por êle, estatui a Lei n. 4.594, art. 15:
-w
“O corretor deverá recolher incontinenti à Caixa da Seguradora o prêmio que por ventura tiver recebido do
segurado para pagamento de seguro realizado por seu intermédio”.
3. PENALIDADES. Diz a Lei n. 4.594, art. 20: “O corretor responderá profissional e civilmente pelas
declarações inexatas contidas em propostas por êle assinadas, independentemente das sanções que forem
cabíveis a outros responsáveis pela infração”. A responsabilidade civil supõe ter havido dano, inclusive o dano
moral, conforme os princípios. A responsabilidade, dita, aí, profissional, é a responsabilidade perante a entidade
que deu a autorização e perante o sindicato. A inexatidão pode ser por aumento, diminuição ou mudança do
conteúdo das ofertas e das aceitações, ou das formalidades e conteúdos dos registros.
Ainda o ad. 21: “Os corretores de seguros, independentemente de responsabilidade penal e civil em que possam
incorrer no exercício de suas funções, são passíveis das penas disciplinares de multa, suspensão e destituição”.
Diz o ad. 25: “Ficam sujeitos à multa correspondente t 15% do prêmio anual da respectiva apolice, e ao dôbro
no caso de reincidência, as empresas de seguro e corretores que, transgredindo o ad. 14 desta lei e as
disposições do Decreto-lei n. 2.063, de 7 de março de 1940, concederem, sob qualquer forma, vantagens que
importem no tratamento desigual dos segurados”.
E o ad. 22: “Incorrerá na pena de multa de Cr$ 5.000 a Cr$ 10.000 e, na reincidência, em suspensão pelo tempo
que durar a infração, o corretor que deixar de cumprir o disposto nos arts. 16 e 17”. É simplesmente ridículo
que para faltas tão graves se estabeleçam tão pequenas penalidades.
Conforme o ad. 24, “incorrerá em pena de destituição corretor que sofrer condenação penal por motivo de ato
praticado no exercido da profissão”.
Diz-se no ad. 23: “Incorrerá em pena de suspensão das funções, de 30 a 180 dias, o corretor que infringir as
disposições desta lei, quando não foi cominada pena de multa ou destituição”.
Quanto à~ penas, diz o art. 26: “O processo para cominação (?) das penalidades previstas nesta lei reger-se-á,
no que fôr aplicável, pelos arts. 167, 168, 169, 170 e 171 do Decreto-lei n. 1.063, de 7 de março de 1940”.
Condenação; não cominação.
Acrescenta o art. 27 da Lei n. 4.594: “Compete ao Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização
aplicar as penalidades previstas nesta lei e fazer cumprir as suas disposições”.
1.PRIvATIVIDADE DA CORRETAGEM. Uma vez que o sistema jurídico somente permite que os corretores
de seguros intermedeiem nos contratos de seguros e ainda exige a especialidade profissional conforme o ramo
de seguros, ou os ramos de seguros, há o principio da exclusividade das operações de corretagem de seguros.
Quem não é corretor não pode concluir contrato de corretagem com cliente interessado em outorga de seguro,
nem com empresa de seguro. Se há contrato de corretagem de seguro em que um dos figurantes não é corretor,
há nulidade do contrato de corretagem. Se foi concluído o contrato de seguro, a nulidade do contrato de
corretagem fio atinge o contrato de seguro, porque figurantes foram, diretamente, em consequência da nulidade
do contrato de corretagem, o cliente e a empresa de seguros. Tal empresa está adstrita ao cumprimento do que
se estabelece no art. 19 da Lei n. 4.594.
Estatui o art. 29 da Lei n. 4.594: “Não se enquadram nos efeitos desta lei as operações de co-seguro e resseguro
entre Empresas seguradoras”.
“Nos casos de alterações de prêmios por êrro de cálculo na proposta ou por ajustamentos negativos, deverá o
corretor restituir a diferença da corretagem”. E o § 2.0: “Nos seguros efetuados diretamente entre o segurador e
o segurado, sem interveniência de corretor, não haverá corretagem a pagar”.
O corretor de seguro não pode exigir ou receber mais do que o fixado nas tarifas, inclusive em caso de
ajustamento de prêmios. Se, por êrro de cálculo na oferta, ou na aceitação, ou em ajustamentos posteriores, o
corretor recebeu mais do que lhe era devido, tem de restituir a diferença da comissão de corretagem. Se, em vez
-w
de ter recebido mais, recebeu menos do que lhe havia de ser pago, cabe-lhe exigir o restante.
No § 2.0, há regra jurídica supérflua, que só se pode explicar para se afastar qualquer pretensão do corretor a
que se lhe pague comissão de corretagem se não houve a atividade especifica. Todavia, há eventuais
quaestiones facti: a) Se o corretor não tinha contrato de corretagem, nem com o cliente nem com a empresa, e
levou ou remeteu à empresa de seguros oferta e essa a aceitou, j,tem o corretor de seguros direito à comissão?
Tudo depende de saber-se se a empresa não teve oferta direta, ou se preferiu a oferta como lhe veio do corretor
de seguros. Nas duas espécies, a entrega da oferta e a aceitação pela empresa supõem a superveniência da
conclusão do contrato de corretagem. Quanto ao interessado na outorga de seguro, somente se vincula em
contrato de corretagem se posteriormente à oferta que o corretor levou à empresa de seguros foi por êle
retificada (o corretor procedeu como gestor de negócios alheios sem poderes).
Se a conclusão do contrato de seguro foi direta (= sem a atividade do corretor de seguros), a empresa tem de
prestar o equivalente para fins sociais, conforme o art. 19.
§ 5.481. Sindicatos de corretores de seguros de prestar aos interessados corretores de seguros, prepostos e
sindicato os “dados necessários”.
Lê-se na Lei n. 4.594, art. 10:..vS organizarão e manterão registro dos corretores e respectivos prepostos,
habilitados na forma desta lei, com os assentamentos essenciais sobre a habilitação legal e o “curriculum vitae”
profissional de cada um”. Diz o parágrafo único: “Para os efeitos dêste artigo, o Departamento Nacional de
Seguros Privados e Capitalizações fornecerá aos interessados os dados necessários”.
De tudo isso se tira que os corretores de seguros e os prepostos têm de sindicalizar-se, de acôrdo com os
princípios concernentes à organização sindical.
2.PUBLICIDMIE. A lista dos corretores de seguros e dos prepostos há de ser publicada, para que se saiba, com
exatidão , quem é corretor de seguros ou preposto. Nas expressões “corretores e respectivos prepostos” estão
inclusas as sociedades corretoras, mas, a respeito dessas, tem-se de atender a que há diretores, gerentes e
administradores, de modo que todos ésses dados há de constar, obrigatoriamente.
Diz a Lei n. 4.594, art. 11: “Os sindicatos farão publicar, no Diário Oficial da União e dos Estados, a relação
devidamente atualizada dos corretores e respectivos prepostos habilitados”. Não se cogitou de data fixa. Sempre
que a lista e alterada, irradiam-se para o sindicato o dever e a obrigação de publicidade.
1.PROFISSIONALIDADE E ORGANLZAÇÂO SOCIETÁRIA. A Lei n. 4.594 referiu-se aos sindicatos, no
art. 59, b), ao exigir aos corretores de seguros o pagamento do impôsto sindical, para que possam exercer a
profissão. Nos arte. 10 e 11, fala do registro dos corretores e dos prepostos, do curriculum vitae dos corretores
-w
de seguros e dos prepostos, do dever que tem e Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização
CAPITULO 1
FIDUCIÁRIA, EM SEGURANÇA
1. PRECISÕES. Antes da Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, o assunto da cessão fiduciária de créditos e de
transmissão fiduciária da propriedade fôra largamente versado nos Tomos XXI, §§ 2.668-2.678, e XXIII, §
2.826, que convém sejam todos antes do trato especializado que aqui dedicamos aos dois institutos congêneres.
A expressão “transmissão fiduciária da propriedade” põe a palavra “propriedade” em sentido larguíssimo,
porque há transferência fiduciária de direitos, que não são, sequer, direitos reais. Tal o que ocorre com a
transmissão fiduciária de créditos.
Por vêzes, alude-se a negócio jurídico encoberto, verdecktes Gesehàft, porém a fiduciariedade não implica
encobrimento, menos ainda simulação (cf. A. WULFF, Das Voilindossament zu Inkassozwecken, 67).
A transmissão fiduciária pode ser de moeda (cf. FitITz 11AM, Die Sietierstellung durch tibcreignung ejuer
Gelclsunrme nach deutsekem biirgerlichern Reckt, 65 s.).
Uma vez que se concluiu o negócio jurídico de transmissão fiduciária da propriedade ou do crédito, com os
requisitos exigidos, inclusive o registário, não há apurar-se se a. dívida era simulada, ou não, salvo para se
atacar a própria dívida (cf. MAx voN ASSEBURO-NEINDORFE, Cessio in securita tem, 45; FRn’z CASPARI,
Sich,erungslibereignung und Sicherungsces.£ .sion, 12). Com a decretação de invalidade do negócio jurídico
aliudido, ou com a declaração da inexistência da dívida que se quis garantir, apenas se dá ensejo ao
cancelamento do registro.
o sistema jurídico, na espécie ou no caso, não atribuiu, também, a essa relação jurídica a eficácia erga omnes,
como se dá, por exemplo, nos fideicomissos.
Nos negócios jurídicos fiduciários, há momento em que a eficácia do negócio jurídico cessa, quer porque nasce
o dever de restituição, quer porque se após cláusula com formalidade registária com cuja eficácia posterior se
resila o negócio jurídico, no tocante à fidúcia.
A fidúcia com a só eficácia restitutiva intima, digamos assim, entre o fiduciante e o fiduciário, era, em parte, no
plano ético, porque não havia a ação do fiduciante. Daí a importância, que teve, para o direito inglês, o writ ob
subpoena, quando grande parte das terras inglêsas eram dadas em 4caffters to wses (cf. LEWIN’S, Practiccil
Treatise on Me Law of Trusts, 18•a ed., is.; cp. F. W. MAITLAND, Origin of Uses, Collected Papers, II, 408-
416, que combateu a origem romana do trust, que se queria assimilar ao usus, ao wsufructus e ao
fideicommissum; e O. W. HOLMES, Early English Equity, Sei ect Essaus, II, 705, que o ligou à Treuhand ou ao
,S’almann). Com-. preende-se que tenha havido, na evolução dos negócios juri-dicos fiduciários, maior ou
menor atuação da ordem jurídica no tocante à eficácia, quer para a diferenciação quer para o surgimento ou a
precisão das pretensões, das ações e das exceções. Mesmo se, aqui e ali, o elemento histórico da Treuhand ou
do Salmann, ou do writ o)’ sub poena é de relevância, não se pode eliminar a contribuição histórica da fiducio.
romana. O que mais sobressai, se comparamos, a respeito dos negócios jurídico fiduciários, os diferentes
sistemas jurídicos, é a maior hostilidade ou a menor ou maior acolhida. Uns põem de lado o fiduciante, pelo
menos quanto às relações jurídicas com terceiros. Outros acentuam a posição do fiduciante, de jeito que
a violação do negócio jurídico pelo fiduciário, breaeh ol trust, tem contra si as ações pessoais e reais do
fiduciante. (Contra a opinião de HOLMES está JAMES BAuR AMES, Origin of Uses, Lectures, 233, que
sustentou ser indígena a criação, e não importada do direito germânico; no mesmo sentido, W. S.
HOLnsWORTH, History of Engtish Law, IV, 418). Cf. sobre isso. HAROLD POI-rER (Au. Historical
Jntroduction to English. Law and its In.stitutions, 529 s.).
Cumpre que não se confundam os negócios jurídicos fiduciários com os negócios jurídicos simulados, nos quais
há discordância, que não há nos negócios jurídicos fiduciários, entre a vontade e a manifestação de vontade.
Naqueles, assim no que se atribui como no que se exige, a manifestação de vontade é do que se quer, e não do
que se simula. Aqui, há vício de vontade; ali, não.
O assunto de que aqui nos ocupamos é pertinente a negócio jurídico fiduciário, mas, venha de onde vier, ou de
onde tenha vindo a fidúcia, inclusive como Treuhand (cf. J. HEIN, Grundriss des Treuhandreckts, 17 s.), o
elemento fidúcia aparece em diferentíssimas figuras jurídicas.
Preliminarmente, afastemos que o principio do numerus clausus seja óbice à transmissão da propriedade
fiduciária ou da posse fiduciária. No sistema jurídico brasileiro, a introdução dos arts. 647 e 648 do Código
Civil mostra que a absolutidade e abstratividade do direito real ressaltam das regras jurídicas especiais,
particularmente quanto ao registro e à tradição da posse. Há o elemento comum à propriedade re;solúvel e à
propriedade fiduciária, mas é a fidúcia que distingue essa daquela.
Os que obtêm fiança podem renunciar aos seus direitos e entende-se que a êles renunciaram em caso de
negligência no exercício dos seus direitos contra o devedor, ou contra terceiros (cf. GPJORG MODE, Befreiung
des Ritrzen durch Nachliissigheit des Guíubigers in Wahrnehnung seiner Recht gegen dritte Personen, 15 s., 36
a., 103 s.) ; mas a renúncia à fiança não implica a renúncia à transmissão fiduciária da propriedade, em
segurança.
A transferência da propriedade imobiliária e mobiliária, em segurança, foi assunto dos Tomos III, §§ 274-275;
X, § 1.070, 5; XVI, § 1.949; XVII, § 2.021, 6; XXIII, § 2.826, 7.
A transferência da propriedade para efeitos de segundade pode ser com transferência da posse, ou sem
transferência da posse. A espécie do art. 66 e dks §§ 1.~-10 da Lei número 4.728 é com transferência da posse
própria mediata, sem que se afaste a possibilidade de transmissão fiduciária sem qualquer transmissão da
posse. Frisemos a diferença para que circunscrevamos a exposição ao que está na Lei n. 4.728, artigo 66 e §§
1.~-1O. Pode dar-se que o transmitente não seja,no momento, possuidor, e o art. 66, § 49, fêz pressuposto da.
transferência fiduciária do domínio ser possuidor próprio ~a transmitente. De iure condendo, a solução
contrária não seria desaconselhável, porque, no sistema jurídico, não é óbice à alienação do domínio o não ser
possuidor o alienante, e a própria Lei n. 4.728 não deu tôda a posse ao credor. O que se há de entender é que a
transferência eficácia do negócio jurídico de alienação somente se opera quando o alienante adquire a posse
própria, para poder transferi-la ao credor. Mas só nos casos da Lei n. 4.728.
A propriedade fiduciária pode ser de bem móvel ou de bem imóvel. A alienação pode ser em segurança. Se o
devedor entrega em penhor algum bem móvel, fungível, a propriedade e a posse transmitem-se ao credor, que
apenas tem de restituir o que recebeu em qualidade e quantidade (cf. Código Civil, ad. 770, alínea ~ Se o bem
móvel não era fungível, ou há a transmissão da propriedade e da posse, em segurança, ou a) o devedor
permanece na posse, porque tem de prestar se não solver a divida, ou b) não permanece, porque somente há, a
favor dêle, a resilibilidade no momento do adimplemento da dívida, O art. 66 da Lei n. 4.728 apenas cogitou da
espécie a). O devedor aliena a propriedade, mas fiduciàriamente, para que o credor seja o dono enquanto não se
paga o quanto devido. O devedor deixou de ser dono, e só tem posse imprópria. Se aliena o bem objeto da
fidúcia, a alienação é a non domino, como se qualquer pessoa alienasse o que é de outrem. Ideni, se empenha,
ou dá em caução, ou faz objeto de direito real o que fiduciàriamente é de outrem.
A existência de fundo coletivo que não tem personalidade jurídica, nem se pode explicar pela transmissão
fiduciária da propriedade das poupanças, ou é pro indiviso, a porta aberta ou não, ou pro diviso, porque já era
comum e não se fêz comum somente porque se constituiu o fundo. No direito brasileiro, há a comunhão seja de
direitos reais seja de direitos pessoais, uma vez que patrimoniais sejam (Código Civil, artigos 629, parágrafo
único, e 630, que fixa em cinco anos o máximo para a indivisibilidade).
Para que se afaste a incidência dos arts. 629, parágrafo único, e 630 do Código Civil, um dos meios foi a figura
da sociedade de indivisão, a que recorreu parte da doutrina francesa (e. g., A. IONASCO, La Copropriété dun
bien, 133 s.; J. LEBRET, La Notion dindivision, 166 s.), que seria sem personalidade jurídica. Não se precisa
disso. O direito brasileiro tem a sociedade em. conta de participação, que consta dos artigos 325-328 do
Código Comercial. Com a figura de tal sociedade, conforme já frisamos no Tomo LI, § 5.400, 2, que é
sociedade sem personalidade jurídica, segundo resulta dos próprios textos legais, a indivisibilidade
necessàriamente limitada ao máximo de cinco anos está afastada, bem como a comunidade de entradas.
Cumpre, ainda, advertir-se que se tem a conta de participação não-societária.
4. DADOS HISTóRICOS. O negócio jurídico de alienação fiduciária, em segurança, vem de instituto romano
da época republicana. Fazia-se por inancipatio ou in inre cessio. A despeito do que escreveu II. SIBELi
(Rõmisches Rech,t, II, 121, nota 7), o nome era o de pactum fidneiae. A ação do devedor, se foi cancelada a
dívida, era ação pessoal, a actio fiducine, e a condenação continha a nota de infâmia. Usava-se a Lex
commissoria, a cláusula de comisso. Também se recorria ao pactum de vendendo.
A fiducia aparece, nos textos romanos, a propósito do depositum, do commodatum, do oontractu.s
pigneraticius, o que, em realce, está em PAUL OERTMANN (úber die fiducia, 184), espécies em que se há de
restituir a posse. A restituição era tida, pelos juristas, como objeto de pretensão pessoal (cf. MÀX JACOBY,
Kritische Untersuchungen, 13), mas hoje seria impertinente reputarem-se pessoais as ações possessórias e as
ações de restituição nos casos de fidúcia. Por outro lado, há fidúcia no fideicomisso e há a restituição da
propriedade e da posse, bem como dos frutos colhidos, ou que deviam ter sido cedidos pelo fiduciário, antes da
abertura da sucessão (cf. RARL SALKOWSKI, De legatis et fideicommissis, Ausfúhrtiche Erlãuterung de voN
GLÚCE, 49, 426; FE. BLtÚGGER, tjber den Anspruch. des Singuliarvermãchtnissnehmers aul Friich,te, 3 a.).
-w
A transmissão da posse era relevante nos contratos de compra-e-venda, para que o vendedor a perdesse:
enquanto não a transmitia, o comprador, que tivesse algum poder, era detentor. O dever de entregar pode ser
quanto ao que foi adquirido pelo comprador, segundo os princípios: frutos, ou partes, ou pertenças (cf. BAv.
VOORDA, nota ad JANI A COSTA, Praelectiones ad iflustrationes, 838).
Tem-se frisado que a transmissão da propriedade em segurança é exemplo de instituto que se expõe com
argumentos secundum leg em, praeter legem e contra legem. A prática mais pesou do que a legislação, sem que
com isso se ferissem os sistemas jurídicos. Alguns juristas chamaram atenção para os §§ 1.205 e 1.206 do
Código Civil alemão, em que se proibiu a hipoteca de bens móveis. No direito brasileiro, também não há
hipoteca mobiliária, e é excepcional o penhor sem a tradição (com a cláusula constituti), conforme o Código
Civil, artigo 769. A Lei n. 4.728, art. 66 e §§ 19-10, veio regrar, em direito escrito, nos pontos capitais, o
instituto, no tocante aos bens móveis.
A despeito do numerus clausus dos direitos reais, a transmissão fiduciária em segurança, inclusive da
propriedade em segurança (Sicherungseigentum) passou a ser figura típica (cf. GUSTAV BOEHMER,
Grundlagen des Riirgerlichen Recktsordnung, li, 148).
ineficaz enquanto não é feito dono o vendedor (cf. Código Civil, arts. 1.126 e 1.117, II). Sobre a discussão na
doutrina e na jurisprudência alemãs, RAUTMANN (Kreditsicherung durch tbertragung von
Anwartschaftsrechten aus bedingter Obereignung, Nezue Juristisch.e Wochenscrift, 1951, 298 s.) e HARRY
WESTERMANN (Lehrbuch des ~S’achenrcchts, 204).
A transmissão da propriedade é completa, e não parcial.
O limite é apenas temporal, pela possibilidade de volta ao fiduciante ou de venda pelo fiduciário para que com
o apurado se pague. Cf. ALBERT HERTZ (fie fiduziarisch,en ReehtsgescMfte, 12 s.). “Venda”, ou outra
qualquer alienação, porque, em se tratando de cessão fiduciária de crédito ou de outro direito pessoal em
segurança, não seria próprio o nome “venda” para o ato alienativo do fiduciário, para se pagar em caso de
inadimplemento pelo fiduciante.
4. “TRusT”. O conceito de trust, truste, como figura de coalizão industrial, nada tem com o de trust, no sentido
de empresa fiduciária, de financial trust, ou investinent trust (co’mpany, ou trual corporation). Com as
empresas de investimento, o que se tem por fito são as operações para investimentos em títulos de crédito, ou
ações, ou colocação, ou outras operações semelhantes. Originàriamente, eram feitas por bancos; depois, com a
mais precisa distribuição da atividade humana, que, em sua evolução, exige divisão do trabalho e
especialização, surgiram empresas financeiras distintas dos bancos.
Não se pode dizer que as empresas de investimento sejam sempre sociedades por ações para aquisição de ações
e outros títulos. Estaríamos a reduzir a forma societária, ou mesmo a reduzi-las a sociedades. Por outro lado,
não bastaria o elemento da fidúcia, para as classificar, porque há empresas fiduciárias que não são investitivas.
Mais ainda: qualquer delimitação conforme a legislação e a prática de um Estado pode chocar-
-se com a da legislação e a prática de outro Estado (e. g., Grã-Bretanha e Alemanha ou Suíça ou Itália).
Seja como fôr, trust é fidúcia: alguém, pessoa física ou pessoa jurídica, adquire e exercita poder, direito ou
patrimônio, no interesse de outrem (cestuy que trust), por manifestação de vontade do beneficiário, ou de
terceiro, mesmo por ato de última vontade. O cestuy que truvst fica em posição regrada pela eqúidade
(equitable estaI e), ao passo que o trusteze, o fiduciário, tem a titularidade sobre a coisa ou sobre o direito
(legal estale). Por ai se vê que a diferença entre o fiduciário do direito brasileiro e o do direito inglês se prende
às próprias fontes dos direitos do fiduciante ou beneficiário e do fiduciário, que são, no direito inglês, a
comnwn law e a .equity, e atos posteriores tentaram fundir (Jueticature Acte de 1873 e 1875; cf. Property Act de
1925). A relação jurídica de fidúcia ressalta no trust, porque se trata de confidence relaticmship, ou fiduciary
relationship.
O beneficiário do trust tem direito de following the trust property, que apenas não pode ferir o terceiro
adquirente a título oneroso e de boa fé. Daí, o próprio F. W. M.AInÀND (Lectures on Equity, 7a reimpressão, 23
s.), que ai via direito pessoal do fiduciante, dizer que, a muitos propósitos, se há de tratar como se fôsse jus in
rem. O trust ownersh,ip pode ser alienado como o pode ser o beneficial ownership.
A propriedade do fiduciário é no interesse do fiduciante, ou do terceiro beneficiário, O fiduciante, o setílor,
-w
retira do seu patrimônio algo, que passa ao patrimônio do trusice, do fiduciário, O que, então, ocorre no direito
britânico e no direito brasileiro, é o mesmo, salvas as diferenças, de algum modo sutis, entre os dois sistemas
jurídicos.
Na Inglaterra, o impôsto de renda recai sobre os acionistas, mas a sociedade é que o paga, por conta desses. Nos
Estados Unidos da América, há a dupla imposição, mas em 1936, abriu-se exceção a favor das investment
companies, que distribuiram cem por cento das rendas aos acionistas; mas o Revenue Ad de 1940 diminuiu o
percentual para noventa por cento. Na Holanda, as Releggingsmantscnappije~ foram mais favorecidas: se
sessenta por cento da renda bruta forem distribuídos, está isenta do impôsto de renda a sociedade de
investimento. No Canadá há diferença entre sociedades de residentes e sociedades de não-residentes (noventa e
cinco por cento do capital é de não-residentes, ou a divida a não-residentes é de cem por cento).
A origem do businesa trust data, nos Estados Unidos da América, do Massachussets Trust. De lá passou à
Inglaterra e ao mundo. Nada tem com a figura do trust de que aqui cogitamos.
CAPITULO II
Entre as duas espécies transmissão fiduciária, em segurança, de direitos reais e transmissão fiduciária, em
segurança, de crédito ou de outro direito pessoal (cessão fiduciária de crédito, em segurança; cessão fiduciária
de outros direitos pessoais, em segurança), há a transferência fiduciária, em segurança, dos títulos incorporantes
e a transferência fiduciária dos títulos representativos.
2.PROPRIEDADE, POSSE E ALIENAÇÃO. A alienação pode ser só da propriedade, como pode ser só da
posse. O que adquiriu a propriedade pode ser credor e tê-lo feito para que se lhe garantisse, fiduciàriamente, o
crédito, O possuidor, que não tem (ou ainda não tem) a propriedade, pode prestar garantia, com a transferência
da posse ao seu credor. Não há princípios no sistema jurídico brasileiro que se oponham a isso.
Sem dúvida, a transferência da propriedade mais a transferência da posse, inclusive com o constituto
possessório, perfazem a mais simples das transmissões da propriedade fiduciária. Porém isso de modo nenhum
afasta que se dê a propriedade em fidúcia, se propriedade se tem e não se tem a posse imediata, ou mesmo
qualquer posse, por ter havido, por exemplo, esbulho.
A transferência fiduciária, em segurança, pode ser da titularidade de créditos, ou seja em títulos circuláveis, ou
seja em simples documentos. Aqui, há cessão fiduciária, em segurança, de créditos contabilizados, o que de
modo nenhum se confunde com o penhor ou a caução de títulos de crédito (Código Civil, arts. 789-795). Há, ali
e aqui, cessão em segurança, dita, aqui,. desconto de créditos contabilizados, negócio jurídico que não exige,
para a sua eficácia transíativa, notificação do devedor (cp. Código Civil, art. 1.069), porém que só se eficaciza
com o registro. Não há confundir-se com o penhor, ou com a caução de créditos, a cessão, em segurança, de
créditos contabilizados (HEINRICH HOENIGER, fie Diskontierung raiz Buchforderun>gen, 8 s.) ou de títulos
de crédito. A eficácia quanto ao devedor, para que êle saiba a quem há de pagar, essa, sim, depende da
notificação.
Se o fiduciante notifica o devedor de ter cedido o crédito, a eficácia contra o devedor se estabelece, mas a
transferência está feita desde o registro.
As regras jurídicas que, de modo geral, afastam o constituto possessório, em se tratando de penhor, não são
invocáveis no que se refere a transmissão da propriedade em segurança (além dos tratadistas, quase em
unanimidade, ERICH iBECKER, Sickerung des Gkiubigers durch constitutum possessorium, 14 s.; GEoito
TARNOWSRI, Die fiduciarische Abtretung von Forderungen, 52; WILHELM ENGEL,
Sicherungsúbereignung um! Sickerungscession, 24 s.; MAx vON ASSEBURG-NEINDORFF, Cessio jiz
securitatem, 32 5.; diferente, SALOMO BUEI1Ow, fie Sickerungsúbeignungen, 20 s., e FLIITZ CASPARI,
Sickerungsiibereignung und Sicherungseession, 26 s.). Os documentos do crédito podem ficar com o fiduciante,
pois que o registro foi feito. Para que se dê transmissão, é preciso que se respeitem os princípios especiais.
propriedade só é de um, ou de alguns, e não de todos, o adquirente fiduciário tem os seus direitos incólumes a
alegações dos que não foram os outorgantes.
A propriedade fiduciária em segurança pode ser perante todos, exceto o fiduciante. Nas relações entre
fiduciante e fiduciário, o proprietário continua de ser o fiduciante, porém não contra terceiros, de jeito que, no
concurso de credores do fiduciário, não cabe ao fiduciante direito à separação, porque seria eficácia contra
terceiro (H. v. LANO, Die Wirkungen der fiduziarischen Geschãf te, Archiv fiir die civilistiscke Praxis, 82, 341
a.; 41. BIERMANN, Biirgeriiches Redil, 1, § 68, 3; ANDREAS vON TTJHR, Der Állge’meine TeU, II, 2, 202
5.; sem razão: L. ENNECCERUS, Uhrbuch, 1, 365; JOSEF KOHLER, Lehrbucli, 1, 144 s., e Leh.rbuch des
Konkursrechts, 179 5.; E. DERNBURO, Pandekten, j, 7•a ed. 233; E. JAE43ER, Koinnventar zur
Konkursordnung, § 43, nota 44). Se há solução da dívida, a propriedade volta.
O que acima dissemos sobre a transferência fiduciária da propriedade, em segurança, também se há de entender
a respeito da transferência fiduciária, em segurança, da titularidade de direito de crédito e de outros direitos
pessoais.
No concurso de credores do fiduciário, o fiduciante não tem direito à separação, pois o que pode ser levado a
liquidação é o valor da propriedade fiduciária, e não o do que volte ac fiduciante, porque esse não seria
apanhado pelo concurso de credores do fiduciário (cf. A. WULFF, Das Vollindossamcnt zu Inkassozwecken, 82;
STEINELINCK, Das fiduciarische bufossa.ment, 48; FIUEDLIICiI PUVOGEL, Begriff der fiducianschen
Rechtsitbertragung und deren Bedeutung, 41).
A propósito da parte pro indiviso no bem cuja propriedade se transfere, em segurança, cumpre advertir-se que o
fiduciante perde a sua parte pra indiviso e o fiduciário a recebe, passando a ser comuneiro, fiduciàriamente (só
êle), na propriedade do bem. A transferência de modo nenhum altera a situação jurídica dos condôminos, entre
si; apenas a parte pro indiviso, que foi objeto do negócio jurídico, se torna de outrem, que a perde ao ser
adimplida a divida do fiduciante. A esse volve a parte pra indiviso.
Devido à~ palavra “possuidor”, que aparece no art. 66, surge a questão de se saber se a) o credor proprietário se
faz possuidor próprio mediato, e o devedor, pelo constituto possessório, permanece possuidor imediato, ou lO
se o credor só tem a propriedade, e não a posse, ou e) se o credor recebe toda a posse e o devedor fica, apenas,
com o precanum, com a tença. A solução o) tem de ser afastada, evidentemente, porque a Lei n. 4.728, no art.
-w
66, § 2.0, diz que o devedor continua a possuir, “em nome (7> do adquirente”, o bem móvel cuja propriedade
transferiu. No art. 66, § 39, subordina a eventual aquisição da posse, pelo devedor, à aquisição da propriedade.
Cumpre, porém, observar-se que, no art. 66, § 39, a regra jurídica é dispositiva, e não cogente; de modo que se
pode estabelecer que a propriedade se transfere imediatamente, a despeito de não ter o alienante a posse do
bem, bis dispositivum, como é o art. 66, § 39, as ações que foram subscritas (ou outros títulos ou valores que
dependem de subscrição) e ainda não foram emitidas podem ser objeto de transmissão fiduciária da
propriedade, em segurança.
O constituto possessório passou a ser, dispositivamente, um dos pressupostos. Se o fiduciante, ao tempo do
negócio jurídico, não era possuidor próprio, a cláusula de constituto possessório é ineficaz, de modo que a
transmissão não se opera, ou se opera ao adquirir o devedor a posse própria, sem que se tenha de indagar da boa
fé em que estava o credor. A solução não coincide com a do direito alemão (Código Civil alemão, § 983; cf.
HEINRICTI LANGE, Ware und Geld, 2.~ ed, 191 5.; Vo~n atten zum neuen Schuldrecht, 49 5.; Lage and
Zukunft der Sicherungsiibertragung, Neve Juristische Wochenschrift, 1951, 565 s.; e o estudo sociológico de
MÚNzm~, Eigentumsvorbehalt und Sicherungsúbereignung, Monatsschrif 1 flir Deutsckes Rech,t, 1951, 129
s.). No direito brasileiro, a eficácia vinculativa inicia-se com a conclusão do negócio jurídico; a traslativa, não:
depende da posse própria transferivel, ou da aquisição da posse própria transferível, caso em que só então se dá.
Devido à palavra “possuidor”, que aparece no ad. 66. surge a questão de se saber se a) o credor proprietário se
faz possuidor próprio mediato, e o devedor, pelo constituto possessório, permanece possuidor imediato, ou lO
se o credor só tem a propriedade, e não a posse, ou e) se o credor recebe toda a posse e o devedor fica, apenas,
com o precanum, com a tença. A solução o) tem de ser afastada, evidentemente> porque a Lei n. 4.728, no art.
66, § 29, diz que o devedor continua a possuir, “em nome (‘2) do adquirente”, o bem móvel cuja propriedade
transferiu. No art. 66, § 39, subordina a eventual aquisição da posse, pelo devedor, à aquisição da propriedade.
Cumpre, porém, observar-se que, no art. 66, § 39, a regra jurídica é dis positiva, e não cog ente; de modo que se
pode estabelecer que a propriedade se transfere imediatamente, a despeito de não ter o alienante a posse do
bem. Jus dispositivum, como é o art. 66, § 39, as ações que foram subscritas (ou outros títulos ou valores que
dependem de subscrição) e ainda não foram emitidas podem ser objeto de transmissão fiduciária da
propriedade, em segurança.
Oconstituto possessório passou a ser, dispositivamente, um dos pressupostos. Se o fiduciante, ao tempo do
negócio jurídico, não era possuidor próprio, a cláusula de constituto possessório é in4icaz, de modo que a
transmissão não se opera, ou se opera ao adquirir o devedor a posse própria, sem que se tenha de indagar da boa
fé em que estava o credor. A solução não coincide com a do direito alemão (Código Ci
vilalemão, § 983; cf. HEINRIOR LANGE, Ware und Geld, 2•a ed, 191 s.; Vom alten zum neuen Schutdrech,í,
49 s.; Lage und Zukunft der Sicherungsiibertragung, Neve Juristische Wocher&. sch,rif 1, 1951, 565 s.; e o
estudo sociológico de MÚNZEL, Eigentumsvorbehalt und Sicherungstibereignung, Monatsschrif 1 flir
Deulsches Recht, 1951, 129 s.). No direito brasileiro, a eficácia vinculativa inicia-se com a conclusão do
negócio jurídico; a traslativa, não: depende da posse própria transferivel, ou da aquisição da posse própria
transferível, caso em que só então se dá.
O art. 66, § 3~0, somente pode ser entendido como ias disposilivum. Não se justificaria que a lei vedasse a
alienação apenas da propriedade: somente poderia alienar quem tivesse a propriedade e a posse; nem, a fortiori,
que se considerasse proibida a transmissão fiduciária imediata se outorgante-devedor e outorgado-credor
acordam em que não se aguarde, para a eficácia, a aquisição da posse ou a reaquisição (vindicação da posse, ou
reintegração da posse). Assim, se o instrumento de transmissão fiduciária da propriedade alude à falta da posse,
e não se estabelece que a eficácia é imediata, então cabe invocar-se o art. 66, § 3.0: há suspensividade da
eficácia transiativa e o negócio jurídico só se eficaciza, quanto à transferência do domínio, no momento em que
o outorgado adquire a posse. No mesmo instante, têm-se como transferidas a propriedade e a posse mediata.
Uma vez que é ius dispositivum a regra jurídica, os figurantes podem acordar em que a transferência da
propriedade fiduciária seja imediata, a despeito da falta da posse própria, que pudesse ser transferida. Por
exemplo: roubaram as jóias e alguém, que é credor da pessoa que sofreu o roubo, aceita o negócio jurídico
fiduciário, a despeito de ter o fiduciante apenas a propriedade sem a posse. Não se confunda posse própria com
direito à posse própria.
Se foi pré-excluída a incidência do art. 66, § 39, como se, no instrumento do negócio jurídico da transmissão
fiduciária da propriedade, em segurança (aliás, dar-se-ia o mesmo se em segurança não fôsse), se diz que se
transfere fiduciàriamente a propriedade, a despeito (= não obstante, = embora, pôsto que) de, no momento, não
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ser, ou ainda não ser possuidor o alienante, o fiduciário recebe a propriedade, com o direito à posse. É possível
que se haja atribuído a propriedade, sem a posse, por ter havido esbulho e estar por ser proposta, ou já estar
proposta, contra o esbulhador a ação de reintegração de posse ou a de vindicação de posse.
Para se construir, conceptualmente, a transferência fiduciária da propriedade, tem-se de partir do conceito e dos
pressupostos da transferência da propriedade, tal como ocorre no sistema jurídico. O elemento a mais é a
fiduciariedade, que nem sempre se prende à segurança ou garantia. No direito brasileiro, há transferência da
propriedade quer mobiliária quer imobiliária sem transferência de qualquer posse, ou sem transferência da
posse imediata, ou dá posse mediata.
Pode dar-se que não haja, in casu,constituto possessório, como se o outorgante transfere a propriedade e a posse
e apenas fica na situação de servidor da posse.
2.ILICITUDE E FRAUDE CONTRA CREDORES. O requisito da licitude tem grande relêvo, porque a fiducia
rum creditore enseja ofensas aos bons costumes e a regras legais, inclusive por falta de seriedade (L.
SCHÀFER, fie Rechtsprechung ilber die S’cherungsúbereignung Arckiv fi& Bilrgerlickes Rech,t, .38, 9 s.;
JAKo» VETSCII, file Umgekung dos Gesetzes, 58 s.).
A transmissão fiduciária da propriedade, em segurança, ou a cessão fiduciária de crédito, em segurança, é nula
se in fraudem legis (cf. A. NEFF, Reitrttg~ zur Lehre von der fraus legi facta in den Digesten, 24; ALEREO
WEVERS, Beitrag zur Lehre vom Szcherungskauf, 18 e 17 s.; A. BARTHELMES, Das Ilandein iii fraudem
legis, 23).
Quanto à fraude contra credores, se ela ocorre, há anulabilidade do negócio jurídico, conforme os princípios (cf.
Tomos III, §§ 274, 3; 275, 1; IV, §§ 482-504; V, § 532; VI. § 711; XI, § 1.244, 10; XXVII, §§ 3.279, 4; 3.280,
4; XXVIII, § 8.364, 3; XXIX, § 3.410, 5; XXX, §3.466, 7; XXXVII, §§4.157, 5, 8; 4.162, 2).
Além da transmissão fiduciária, em segurança, da propriedade e de créditos, há a transmissão fiduciária, em
segurança, de outros direitos, e a respeito dêles as leis especiais, que existam, têm de ser respeitadas. Às vêzes,
não há transmissão fiduciária, em segurança, mas negócio jurídico simulado, e cabem as regras jurídicas sobre
simulação.
segurança, e hrans,mtssiva, mas há a vinculação consistente na divida, que pode ser de origem legal ou
negocial. O adquirente não pode alienar o bem cuja propriedade se lhe transmitiu, salvo, em caso de
inadimplemento, para pagar-se. Não há necessidade de se inserir a cláusula de vendendo ou o pacto de
vendendo, porque resulta da lei.
(Dissemos “alienar o bem”, isto é, a propriedade sem a discriminação de direitos, do fiduciante e do fiduciário,
O fiduciante pode alienar o que é seu: o seu direito à volta da propriedade; o fiduciário pode alienar o que é seu:
a sua propriedade em fidúcia, que se extingue com o adimplemento da dívida pelo fiduciante.)
Se o fíduciante dá posse ao fiduciário e esse lhe causa dano, tem o fiduciário de indenizar. Assim era no direito
romano, com a acUo fidueiae directa, e assim é hoje (cf. F. P. BREMER, Das Pfandlreeht und die
Pfan~dobjekte, 5; STEINBLINCR, Das fiduciarische Indossameni, 22 s.).
O dano do patrimônio do fiduciante pode resultar de ato, positivo ou negativo, do fiduciário, que não seja ao
objeto por esse possuído. Se a posse está com terceiro e a ação proposta contra o terceiro foi perdida por ato do
fiduciário, responda dle pela indenização. Se o fiduciário, que tinha de receber o bem móvel em data marcada,
ou dentro de prazo (e. g., por estar na alfândega), incorre em mora creditoris, as conseqüências são contra êle,
no plano indenizatório.
3. PODER DE VENDER, QUE TEM O FIDUCIÁRIO, PARA SE PAGAR. Lê-se na Lei n. 4.728, art. 66, § 59:
“No caso da inadimplemento da obrigação garantida, o proprietário pode vender a coisa a terceiros e aplicar o
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preço da venda no pagamnento do seu crédito e das despesas decorrentes da cobrança, entregando ao devedor o
saldo porventura apurado, se houver . E o § 6.0: “Se o preço da venda da coisa não bastar para pagar o crédito
do proprietário fiduciário e despesas, na forma do parágrafo anterior, o devedor continuará pessoalmente
obrigado a pagar o saldo devedor apurado”.
A alegação de inadimplemento ou de adimplemento ruim precisa basear-se em ter havido mora. Os
pressupostos, para que o fiduciante incorra em mora, são os dos princípios gerais, mas pode ocorrer que lei
especial exija, na espécie, alguma formalidade. Terá de ser atendida.
Se o bem móvel tem cotação em bolsa, a venda há de ser na bolsa, ou, se fôr o caso, pelo preço da bolsa, à data
da mora, salvo se houve pedido do devedor para espera, com o que o fiduciário concordou. Se a operação de
venda tem, pelo elemento objetivo, ou por algum elemento subjetivo, de ser com outorga de poderes a alguma
empresa, ou classe de empresa, tem de ser cumprido o que se estabelece na lei.
O direito do fiduciante, se a transmissão fiduciária, em segurança, foi de direito real, é direito real (o que é de
grande importância em direito concursal, se em concurso de credores está o fiduciário, cf. F.
REGELSBERGER, Pandekten, 1, 519). Se a transmissão é de direito pessoal, tem-se de dar ao direito
expectativo do fiduciante o tratamento que teria o fiduciário, em caso de concurso de credores do fiduciante,
com a simples dedução do que paga a divida.
Uma vez que estamos a falar de “venda”, cumpre precisar-se que, ai, o que ocorre é a alienação da propriedade
sem fidúcia. O que se aliena, em verdade, é o total da propriedade fiduciária e do direito expectativo: alienam-
se todos os direitos, quer do fiduciante, quer do fiduciário, porque só assim se aliena a propriedade, o bem, O
direito, que resta ao fiduciário, é sobre o preço, até o importe da dívida que estava garantida com a transmissão
da propriedade. O direito, que resta ao fiduciante, é sobre o eventual excesso (preço divida = restante).
Dos arts. 758, 762 e 763 do Código Civil já falamos nos Tomos XIII, § 1.498, 4-7; XIV, § 1.613, 5; XVI, §
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1.857, 1; XIX, § 2.280, 5; XX, §§ 2.424, 2, 3; 2.425, 1; 4.427, 1, 3, 6; 2.439, 3-5; 2.459, 5; 2.504, 1; 2.506, 2;
2.508, 1, 3, 4, 6; 2.515, 2; 2.528, 2, 4, 6; 2.540, 1; 2.541, 1; 2.542, 1; 2.549, 7; 2.551, 2; 2.552, 8; 2.557, 1; XXI,
§ 2.629, 5; XXII, § 2.755, 4; XXV, § 8.073, 2; XXVII, § 2.258, 10; XXVIII, § 3.359, 4; XXIX, §§ 3.394, 2;
3.427, 5; XLII, §§ 4.586; 4.595, 2; 4.627, 1.
Diz a Lei n. 4.728, art. 66, § 9.0: “Aplica-se a alienação fiduciaria em garantia o disposto nos arts. 758, 762,
768 e 802 do Código Civil, no que couber”.
O art. 758 é jus dispositivum. Se não se inseriu cláusula em contrário, não há extinção da segurança no caso,
volta da propriedade fiduciàriamente transferida se o devedor paga as prestação sem integrar o pagamento. A
regra jurídica incide mesmo se a transferência fiduciária foi de dois ou mais bens.
O art. 762 e seus §§ 19 e 29 incidem, a despeito de se ter dado a transferência fiduciária da propriedade, O
artigo 763 é invocável.
O art. 802 do Código Civil é aquêle em que se enumeram as causas de extinção do contrato de penhor. Dêle
cogitamos no § 5.488.
CAPÍTULO III
1.CAUSAS DE EXTINÇÃO. O ad. 66, § 9,0, da Lei 4.728 remete ao art. 802 do Código Civil. Segundo o ad.
802, extingue-se o penhor aqui, a ,fiducia tore “1. Extinguindo-se a obrigação. II. Perecendo a coisa.
III. Renunciando o credor. IV. Dandose a adjudicação judicial, a remissão, ou a venda amigável do penhor, se a
permitir expressamente o contrato, ou fôr autorizada pelo devedor (artigo 774, n. III), ou pelo credor (art. 785).
V. Confundindo--se na mesma pessoa as qualidades de credor e dono da coisa.
VI. Dando-se a adjudicação judicial, a remissão (?) ou a venda do penhor, autorizada pelo credor”. Cf. Tomo
XX, §§2.428; 2.438.
Extinta a dívida, a propriedade volve ao fiduciante. Se perece o bem, não há mais propriedade fiduciàriamente
transferida, mas, com isso, não se extingue a dívida. Se o credor renuncia à propriedade fiduciária, a dívida não
deixa de existir, porque só se cogitou da renúncia à propriedade fiduciária. O art. 802, IV, só interessa ao
instituto da transmissão fiduciária da propriedade, em segurança, no que concerne à venda que o art. 66, § 6.0,
da Lei n. 4.728 permite, para que o credor se pague do que lhe é devido, ou, em caso de execução forçada, que
leve à adjudicação ou à remição.
Sobre o ad. 802 do Código Civil, Temos XX, §§ 2.428; 2.432, 1; 2.434, 1; 2.485, 1; 2.516, 4; 2.524, 1; 2.555,
10;2.592, 1; 2.598, 1; XXI, §§ 2.608; 2.611, 1, 2; 2.612, 2; 2.628, 1; XXII, § 2.827, 2; XXIII, §§ 2.787, 4;
2.826, 3; 2.827, 2; XXV, § 3.003, 3; XXIX, ~§ 3.394, 2; 3.398, 3; 3.436, 2; XLVI, § 5.009, 2.
A sucessividade dos credores, um dos quais se tornou proprietário fiduciário, em segurança, suscita problemas
de eficácia. Se o primeiro credor, que não se fêz proprietário fiduciário, não poderia alegar eficácia do seu
crédito contra terceiros, ou contra o terceiro credor, óbvio é que nada pode objetar, ou excepcionar, contra o
adquirente fiduciário. Se no intervalo, ou depois, com retroeficácia, há abertura de concurso de credores, as
regras jurídicas sobre alienações atingíveis são invocáveis.
Se o credor, que não adquiriu propriedade fiduciária, em segurança, tem a seu favor eficácia, contra terceiro,
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cabe-lhe a pretensão correspondente ao seu direito, por ter havido alienação nula, anulável, ou ineficaz.
Qualquer solução depende de exame a posteriori. Um dos casos é o de ter havido pré-contrato, com eficácia
registária, de transmissão fiduciária, em segurança.
1. Extinção DA DÍvIDA. Se a dívida se extinguiu, não há mais a causa para a segurança: não se assegura o que
não é. Então, a propriedade volve ao fiduciante, porque cessou a razão de ser para a fiducia. cum creditore: não
mais há crédito. Aliás, se a fonte do crédito foi declarada inexistente, ou decretada a invalidade do negócio
jurídico de que se teria irradiado o crédito, o fiduciante está legitimidado a exigir e cancelamento do registro.
Até o momento em que se desfaça a eficácia registaria, o fiduciário é tido como proprietário, salvo se a decisão
do juiz já a atinge diretamente.
3. RENÚNCIA PELO CREDOR. O credor, que renuncia à propriedade, não a abandona, sai da relação jurídica
de direito real, e nela entra, antes de qualquer pagamento, ou antes de solver a divida, quem fôra o fiduciante. A
dívida persiste, o que distingue da remissão de dívida a renúncia à propriedade fiduciária, em segurança.
4. VALOR DO BEM E SOLUÇÃO. A extração do valor do bem pode resultar de execução forçada, de
concurso de credores, de desapropriação ou de alguma outra emergência extrativa de valor. Seja qual fôr, a
propriedade fiduciária, em segurança, só se extingue se solvida a divida, ou entregue ao credor todo o valor
extraido. A remição presta todo o quanto devido.
CAPITULO 1
DE PARTICIPAÇÃO
§ 5.490. Conceito
1. DADOS HISTÓRICOS. A quota em conta de participação vem da commenda, de que também derivou a
sociedade em comandita, assunto que já se versou (Tomo LI, §§ 5.373--5.376, principalmente § 5.373, 2). O
mercador ou tinha a atividade e a prestação de figuração, preponderantes e ostensivas, ou apenas prestava o
trabalho, sem que se possa falar, na espécie, ainda naqueles tempos, de contrato unilateral. Cumpre advertir-se
que a forma societária foi posterior. Daí a divergência quanto à classificação do contrato de participação: se é de
sociedade, ou se o não é. Não se pode, em todas as espécies e em todos os casos, dizer, com BENEVENUTO
STRACCI{A, que socius cl partieeps idem sunt. Há participantes que não são sócios, de modo que a
participação, em virtude de contrato ou até de negócio jurídico unilateral do outorgante da participatio, pode
não societarizar a relação jurídica.
2. PRECISÃO CONCEPTUAL. A conta de participação supõe a participação e a conta. Não basta que se
participe, porque o sócio, que não é participante, participa, e participa o comuneiro. Mesmo quando há o
elemento de societariedade, o participante só participa em conta, sem a visibilidade do patrimônio e com direito
a receber algo.
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CAPÍTULO II
1.PARTICIPAÇÂO SoCiETÁRIA . Lê-se no art. 325 do Código Comercial: “Quando duas ou mais pessoas,
sendo ao menos uma comerciante, se reúnem, sem firma social, para lucro comum, em uma ou mais operações
de comércio determinadas, trabalhando um, alguns ou todos em seu nome individual para o fim social, a
associação toma o nome de sociedade em conta de participação, acidental, momentânea ou anônima; esta
sociedade não está sujeita às formalidades prescritas para a formação das outras sociedades, e pode provar-se
por todo o gênero de provas admitidas nos contratos comerciais (art. 122)”. Se civil a sociedade em conta de
participação, assunto que adiante temos de versar, rege o art. 1.366 do Código Civil. A redação não é boa: a
anonimidade não resulta de não ser acidental, nem momentânea a sociedade; a sociedade só é em conta de
participação se algum ou alguns sócios ou todos têm direito a quota de participação, sem que a atividade seja
sua, ou se apenas é no que resulta da atividade de outro, ou dos outros. Nem todas as sociedades com sócios
ocultos é sociedade em conta de participação. Já tratamos da sociedade em conta de participação no Tomo
XLIX, §§ 5.225-5.234.
Se o sócio operante, visivelmente, ou os sócios operantes, visivelmente, não são comerciantes, a sociedade em
conta do participação é civil, e se tem de invocar o art. 1.364 do Código Civil brasileiro.
No momento da conclusão do contrato de sociedade em conta de participação, pode ainda não ser comerciante
o sócio. ostensivo, a despeito de se querer criar sociedade mercantil (Tomo XLIX, § 5.195, 1).
Tribunal de Apelação de São Paulo, 12 de setembro de 1939; Tribunal de Apelação, 24 de julho de 1940,
R.dos T., 126, 167, e 130, 614).
A empresa, que acima se refere, não é empresa de financiamento, pôsto que o possa ser, O empréstimo com
destinação específica é financiamento. O contrato de financiamente é espécie de contrato de empréstimo. O que
importa, para que a figura se componha, é que o exame da destinação, por parte do investidor, não fique
estranho à conclusão do contrato (cf. Louís JANIN, Les Sodétés de participation au point de vue economique,
176); isto é, não tenha passado das punctações, ou não tenha permanecido como motivo. Não basta, portanto, a
intenção, se essa não chega a tornar elemento essencial, para o investidor, com a manifestação acorde do
recebedor, a destinação. O contrato de financiamento pode ter não tem necessàriamente a cláusula de
participação nos lucros, porque o interesse pode consistir em juros, ou, até, em opção ou preferência quanto a
produtos da aplicação do capital (e. g., opção ou preferência quanto a aquisição de apartamentos em edifício,
cuja construção foi financiada).
1.PRECISÕES. Dizemos “patrimônio social”, sem que, com isso, pensemos em “capital social”. A socialidade
do patrimônio não chega, ai, a cindir os haveres em patrimônio particular do sócio ostensivo e patrimônio
social. Fica nas relações jurídicas entre o sócio ostensivo e o sócio participante ou os sócios participantes. Não
se pode dizer que a socialidade do patrimônio (= a soma dos bens do sócio ostensivo com os bens do sócio
participante ou dos sócios participantes) somente ocorre no mundo fáctico: a inexistência de eficácia em relação
a terceiros de modo nenhum justificaria que não se visse a eficácia entre os sócios, com ou sem ocultação. A
eficácia jurídica de xy menos a eficácia jurídica de x ou de y continua eficácia jurídica. Portanto, a soma entrou,
embora não para todos, no mundo jurídico. Nêle está o patrimônio social (o do sócio ostensivo + o do sócio
participante), pôsto que só eficazmente entre os sócios. Antes do registro qualquer com propriedade imobiliária
de A e E é apenas entre os comuneiros; na sociedade em conta de participação, a compropriedade, que se
estabelece sem registro, existe, mas apenas como propriedade de A. O que não tem eficácia, no que tange a
terceiros, é a compropriedade, porque não se vê o que é de 13 como de E: não se vê a, como de A, e 6, como de
E, mas ab, como de A. Há patrimônio social, mas é invisível a socialidade: vê-se apenas o conteúdo do
substantivo, sem se ver o conteúdo do adjetivo.
Os sistemas jurídicos conhecem outros casos de ineficácia, semelhantes (não idênticos), como acontece com a
comissão mercantil (Tomo XLIII, §§ 4.722-4.732).
CAPITULO 1
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1.TRÊS ESPÉCIES. As empresas que subscrevem títulos ou outros valores mobiliários para venda (evitemos
dizer para revenda, porque quem subscreve não compra, adquire como sócio, e não se pode apagar o laço
societário, devido à imediatidade) são empresas subscritoras, ou que têm na subscrição uma das suas
atividades. Diferente é a atividade da empresa que se encarrega de distribuir as ações ou outros títulos ou
valores, a que tenham direito de opção ou direito de preferência algumas pessoas, ou que os recebem como
bonificação, ou da empresa que os coloca entre os que querem adquirir. Ainda é inconfundível com as duas
espécies a atividade da empresa que adquire ações, ou outros títulos ou valores para revenda.
A empresa pode ser ou não ser societária.
2.FUNCIONAMENTO DA EMPRESA. Lê-se na Lei número 4.728, art. 11: “Depende de prévia autorização
do Banco Central, o funcionamento de sociedades ou firmas individuais que tenham por objeto a subscrição
para revenda e a distribuição no mercado de títulos ou valores mobiliários”. E o parágrafo único: “Depende
igualmente de aprovação pelo Banco Central: a) a modificação de contratos ou estatutos sociais das sociedades
referidas neste artigo; b) a investidura de administradores, responsáveis ou prepostos das sociedades e em•
prêsas referidas neste artigo”.
O que depende de ato do Banco Central é o funcionamento da empresa, seja societária, seja individual. Isso não
significa que não toque ao Banco Central exame da legalidade do ato constitutivo, tanto mais quanto, no art. 11
da Lei n. 4.728, explicitamente se estabelece que a modificação do contrato ou dos estatutos (digamos do ato
constitutivo senso lato) há de ter aprovação do Banco Central.
O art. 12 da Lei n. 4.728 diz que depende de registro no Banco Central o funcionamento de sociedades que
tenham por objeto qualquer atividade de intermediariedade na distribuiçâo ou colocação no mercado de títulos
ou de valores mobiliários.
Diz a Lei n. 4.728, art. 13: “A autorização para funcionar e o registro referidos nos arts. 11 e 12 observarão o
disposto no § 1.0 do art. 10 da Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e somente poderão ser cassados nos
casos previstos em normas gerais aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional”, O art. 10, § 1.0, da Lei n.
4.595 apenas cogita da autorização pelo Banco Central, com inclusão de cláusulas.
A atribuição de aprovação pelo Conselho Monetário Nacional de normas gerais sobre cassação é exorbitante,
dentro dos princípios constitucionais. Se algum intérprete, com o exame das leis, redige enumeração dos casos
que importam infração grave, mesmo perante a Justiça, pode ser tida como acertada a enumeração. A atribuição
de especificar, quer ao Conselho Monetário Nacional, quer a outra instituição de direito público, é suscitamento
à usurpação de poder legislativo.
poderá ser distribuída entre os membros do consórcio”. E o § 2.0: “O consórcio será regulado por contrato que
só entrará em vigor depois de registado no Banco Central e do qual constarão, obrigatóriamente, as condições e
os limites de coobrigação de cada instituIção participante, a designação de instituição líder do consórcio e a
outorga, a esta, de poderes de representação das demais participantes”. Ainda o § 39: “A responsabilidade de
cada uma das instituições participantes do consórcio formado nos termos dêste artigo será limitada au montante
do risco que assumir no instrumento de contrato de que trata o parágrafo anterior”. E o § 4,0: “Os contratos
previstos no presente artigo são isentos do impôsto do sêlo”.
Sobre a organização consórtil, cf. Tomo LI, §§ 5.386-5.398. No § 1.0 do art. 15 diz-se que, em se tratando de
consórcio que opere com aceite ou coobrigação em títulos cambiários, a responsabilidade pode ser distribuída
entre os membros do consórcio. No § 2.0, prevê-se a distribuição, com os limites (le coobrigação, sem qualquer
referência a operações com títulos cambiários, de modo que não se pode interpretar o § 1.0 como se fôsse
objetivamente limitativo, isto é, a distribuição de responsabilidade entre os membros do consórcio somente
pudesse haver quanto àquela. operações de aceite e coobrigação de que trata o § 1.0, tanto mais quanto, no § 39,
se frisa que as empresas em consórcio só vinculam pelo que cada uma assumiu.
Quanto à expressão “representação”, que aparece no § 2.0, tem-se de advertir que nem todos os consórcios são
apenas vinculativos. Há consórcios societários, como há consórcios não
-societários (Tomo LI, § 5.387, 3). Se o consórcio é societário, a empresa dita líder é, de regra, órgão , e órgão
há de ser, no mundo jurídico (a liderança por parte de empresa que não é órgão estabeleceria contrôle somente
fáctico). Tal emprésa presenta, não repredenta. Se o consórcio é não-societário, há representação, sem que
tenha, necessAriamente, como elemento jurídico, a liderança.
1.LIMITAÇÕES SUBJETIVAS. Acima já falamos da política concentrativa. Daí estar na Lei n. 4.728, art. 16:
“As emissões de títulos ou valores mobiliários somente poderão ser feitas nos mercados financeiro e de capitais
através do sistema de distribuição previsto no art. 5~0”• E no § 19: “Para es efeitos dêste artigo considera-se
emissão a oferta ou negociação de títulos ou valores mobiliários: a) pela sociedade emissora ou coobrigada; b)
por sociedades ou empresas que exerçam habitualmente as atividades de subscrição, distribuição ou
intermediação na colocação no m3rcado de títulos ou valores mobiliários; c) pela pessoa natural ou jurídica que
mantém o contrôle da sociedade emissora tios títulos ou valores mobiliários oferecidos ou negociados”. No ~
2.0: “Entende-se por colocação ou distribuição de títulos ou valores mobiliários nos mercados financeiro e de
capitais a negociação. oferta ou aceitação de oferta para negociação: a) mediante qualquer modalidade de oferta
pública; b) mediante a utilização de serviços públicos de comunicação; c) em lojas, escritórios ou quaisquer
outros estabelecimentos acessíveis ao público; d) através de corretores ou intermediários que procurem
tomadores para os títulos”. E no § 3.0: “As sociedades que infringirem o disposto neste artigo ficarão sujeitas a
cessação imediata de suas atividades de colocação de títulos ou valores mobiliários no mercado, mediante a
intimação do Banco Central, que requisitará, se necessário, a intervenção da autoridade policial”.
O § 1.0 é de evidente impropriedade. A oferta ou negociação de títulos ou valores mobiliários não é emissão. A
sociedade ou outra empresa que vai emitir faz os títulos ou valores mobiliários, de ordinário assinando-os (=
subscrevendo-os, = assinando-os embaixo). Pode haver experimentação do mercado, mediante imitações à
oferta, ou lançamentos de projetos de emissão, para que os interessados subscrevam sem definitividade, por
parte da empresa, porque essa, por exemplo, subordina a condição de subscrição integral a emissão. Após a
subscrição da tomada de títulos ou valores mobiliários (que de modo nenhum se confunde com a subscrição de
títulos ou valores mobiliários que se vão emitir), os títulos ou valores mobiliários têm de ser entregues
(tradição). A função das empresas, de que os arts. 59 e 16 cogitam, ou é de subscrição, de modo que a empresa
emite os títulos ou valores e os entrega à sociedade que pode atuar no mercado financeiro e no mercado de
capitais, ou é de distribuicão, porque não é necessária a subscrição, ou é de colocação, o que supõe a atividade
intermediária para que os interessados subscrevam. Além dessas operações, podem elas adquirir títulos ou
valores mobiliários (por subscrição, ou por compra) e colocá-los (vendê-los).
Diz o art. 17: “Os títulos cambiais deverão ter a coobrigação de instituição financeira para sua colocação no
mercado, salvo os casos regulamentados pelo Conselho Monetário Nacional em caráter geral e de modo a
assegurar garantia adequada aos que os adquirem’. E o § 1.0: “As empresas que. a partir da publicação desta
Lei, colocarem papéis no mercado de capitais em desobediência ao disposto neste Capítulo, não terão curso na
Carteira de Redesconto, ressalvado o disposto no parágrafo seguinte”. E o § 2.0: “As empresas que, na data da
publicação desta Lei, tiverem em circulação títulos cambiais com sua responsabilidade em condições proibidas
por esta Lei, poderão ser autorizadas pelo Banco Central a continuar a colocação com a redução gradativa do
total dos papéis em circulação, desde que dentro de sessenta dias o requeiram, com a indicação do valor total
dos títulos em circulação e apresentação da proposta de sua liquidação no prazo de ate doze meses, prorrogável,
pelo Banco Central, no caso de comprovada necessidade, no máximo, por mais seis meses”. No § 3.0: “As
empresas que utilizarem a faculdade indicada no parágrafo anterior poderão realizar assembléia geral ou alterar
seus contratos sociais, no prazo de sessenta dias da vigência desta I~í, de modo a assegurar opção aos
tomadores para converter seus créditos em ações ou cotas de capital da empresa devedora, opção válida até a
data do vencimento dos respectivos títulos”.
No § 4.0: “A infração ao disposto neste artigo sujeitará os emitentes, coobrigados e tomadores de títulos de
crédito à multa de até cinqüenta por cento do valor do titulo”. Diz-se no art. 18: “São isentas do impôsto do
sêlo quaisquer conversões, livremente pactuadas, em ações ou cotas do capital das empresas obrigadas em
títulos de dívida em circulação na data da presente lei, sem a coobrigação de instituições financeiras
concretizadas no prazo de cento e oitenta dias da vigelicia desta Lei”.
O art. 16 não retirou às empresas o poder de emitir titulos ou valores mobiliários que elas mesmas distribuam
ou coloquem. O que se proibiu foi a atividade no mercado financeiro ou de capitais, sem ser através das
sociedades mie se mencionam no art. 59.
O art. 17, § 2.0, apenas se refere às sociedades ou empresas não societárias que, na data que incidiu a lei,
tivessem títulos cambiários em circulação, títulos que não poderiam, desde aquêle momento, ser emitidos, por
infringência de qualquer regra jurídica ~a Lei n. 4.728, ou que ela suponha em vigor e implicitamente abranja.
Há, porém, a necessidade de plus, que é a autorização pelo Banco Central, concernente a poder continuar a
emitir, aceitar ou avalizar, para colocação. Tal ato do Banco Central somente é permitido se foi requerido dentro
de sessenta dias, com a indicação do valor total dos títulos em circulação, e com a exigência de a empresa
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responsável pelos títulos cambiários em circulação sé lançar novos títulos se há redução do valor dos títulos em 3
circulação. Não se disse o prazo para a extinção da responsabilidade, o que depende do conteudo do ato do 9
Banco Central. 7
b) às cauções monetárias do ativo fixo ou de capital de giro próprio, c) aos saldos credores de acionistas, matriz
ou empresas “associadas”, se não há juros e se podem considerar capital adicional, avaliados, em moeda
estrangeira, à taxa de câmbio que no momento esteja fixada para amortização de empréstimos externos, e d) às
reservas e aos lucros pendentes.
Acrescenta a Lei n. 4.728, no art. 25: “O Banco Central,ao aplicar a norma prevista no art. 22, fixará as
condições se
guintes, se a média mensal das dívidas da empresa no sistema financeiro nacional, durante os dozes meses
anteríores, não tiver excedido os limites previstos no art. 23, esses limites serão obrigatórios inclusive para o
exercício social em curso; II, se a média mensal das dívidas da empresa no sistema financeiro nacional, durante
os doze meses anteriores, tiver excedido os limites previstos no art. 23, a empresa deverá aumentar os recursos
próprios ou reduzir progressívamente o total das suas dívidas no sistema financeiro nacional, de modo a
alcançar os limites do art. 23, no prazo máximo de dois anos, a contar da data da resolução do Banco Central”.
Diz a Lei n. 4.728, art. 23: “O limite de acesso ao sistema financeiro referido ao art. 22 não poderá ser fixado
em nível inferior: a) cento e cinquenta por cento dos recursos próprios pertencentes a residentes ou domiciliado 5
no exterior; b) duzentos e cinquenta por cento dos recursos próprios pertencentes a residentes ou domiciliado 5
no País”. Acrescenta o § 1.0: “O limite previsto no presunto artigo será apurado pela média mensal em cada
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3.SÉrIo. A propósito de sêlo, diz a Lei n. 4.728, artigo 43: “O impôsto do sêlo não incide nos negócios de
transferência, promessa de transferência, opção, ou constituição de direitos sobre ações, obrigações
endossáveis, quotas de fundos em condomínio, e respectivos contratos, inscrições ou averbações”.
1.PERMISSÃO DE ALIENAÇÃO. Lê-se na Lei n. 4.728, art. 60: “O Poder Executivo poderá promover a
alienação de ações de propriedade da União, representativas do capital de sociedade de economia mista e de
suas subsidiárias, mantendo cinqúenta e um por cento, no mínimo, das ações das empresas nas quais deve
assegurar o contrôle estatal”. Acrescenta o parágrafo único: “É excluída das disposições dêste artigo a Petróleo
Brasileiro, S.A. Petrobrás”. Primeiramente, tem-se de advertir que a alienação somente pode ser a pessoas que,
conforme a Constituição de 1946 e as leis, possam adquirir tais ações. Aliás, o parágrafo único ressalva as
ações da Petróleo Brasileiro S.A., diante do propósito desvinculativo do Estado que era, justamente, a retirada
do poder da União naquela empresa.
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2.FIxAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO. Seria repelível que se fixasse o número máximo de ações que a União
pudesse ter.
Fixou-se mínimo. Tinha-se de examinar cada espécie, ou mesmo cada caso. Dai dizer a Lei n. 4.728, ad. 61: “O
Conselho Monetário Nacional fixará a participação da União nas diferentes sociedades referidas no artigo
anterior, ouvido o Conselho de Segurança Nacional nos casos de sua competência, e no das empresas cujo
contrôle estatal é determinado em lei especial, e estabelecerá as normas que serão observadas
para a alienação, respeitadas as seguintes condições: 1 a alienação será precedida da reavaliação do ativo das
sociedades, feita com observância da legislação vigente, ficando as mesmas isentas do recolhimento do impôsto
de renda devido sobre a parcela da reavaliação proporcional à participação da União em seu capital social; II as
ações serão negociadas através do sistema de distribuição instituido no art. 59 desta Lei, com a participação do
Banco Central, na forma do inciso IV do art. li da Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964:
III poderão ser recebidos como pagamento de sessenta por cento do preço das ações os provantes de créditos
dos contribuintes, relativos aos adicionais e empréstimos compulsórios vinculados ao Impôsto de Renda, exceto
aquêles que se destinem à subscrição compulsória de Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional”.
No art. 61, ao Conselho Monetário Nacional atribuiu-se, com prévia audiência do Conselho de Segurança
Nacional, nos casos em que tenha de ser ouvido, inclusive naqueles em que lei especial submete a contrôle
estatal as empresas, ou a empresa, regulamentar as operações de alienação. Tal regulamentação há de atender,
primeiramente, a que, para qualquer alienação de ações ou quotas da União em empresas, é preciso que se
proceda à reavaliação do ativa, com observância das regras jurídicas vigentes sobre reavaliação e correçao
monetaria. Em segundo lugar, é pressuposto inafastável o ser em Bolsa de Valores a alienação , a despeito de se
aludir, no artigo 61, II, ao art. 59, que enumera os operadores no mercado de valores e nao seria admissível que
a União pudesse alienar títulos através de simples empresas autorizadas a operar no mercado. Terceiro
pressuposto é o de ser em dinheiro o pagamento do preço dos títulos ou em dinheiro, pelo menos, quarenta por
cento, e até sessenta por cento em créditos dos contribuintes, que o art 61, III, menciona.
O ato ilegal do Conselho Monetário Nacional é suscetível de exame e de julgamento pela Justiça, se os
pressupostos se juntam para a proponibilidade de alguma ação, inclusive da ação declaratória e da ação poder.
Aliás, algum texto da Constituição de 1946 pode incidir, de jeito que se afaste a competência do Conselho
Monetário Nacional para regulamentar a alienação.
jurídicas entre vendedores ou adquirentes. Assim, se um clube é sociedade em que cada sócio tem o seu terreno,
com edificação ou ainda sem edificação, as ações têm de ser nominativas, porque o endosso abstraIria da
finalidade da admissão do sócio. Se os proprietários de lotes, em comunhão pra indiviso de estradas ou de
serviços, constroem em seus terrenos, em comunhão de ativo e passivo, a própria societarização não permitiria
a circulação ao portador, nem, sequer, por endosso, porque não se trataria de ações, salvo se o ativo social só se
referisse a partes pro indiviso. Mas, aí, a ação nada teria com os terrenos pro diviso.
2.TRIBUTOS. A respeito de tributos, estatui a Lei n.4.728, art. 63: “Na alienação, promessa de alienação ou
transferência de direito à aquisição de imóveis, quando o adquirente fôr sociedade que tenha por objeto alguma
das atividades referidas no artigo anterior, a pessoa física que alienar ou prometer alienar o imovel, ceder ou
prometer ceder o direito à sua aquisição, ficará sujeita ao impôsto sobre lucro imobiliário, à taxa de cinco por
cento”. Acrescenta o § 1.0: “Nos casos previstos neste artigo, o contribuinte poderá optar pela subscrição de
Obrigações do Tesouro, nos termos do art. 39, § 8.0, da Lei n. 4.357, de 16 de julho de 1964”. E o § 29:
“Nos casos previstos neste artigo, se a sociedade adquirente vier, a qualquer tempo, a alienar o terreno ou
transferir o direito à sua aquisição sem construí-lo ou sem a simultânea contratação de sua construção,
responderá pela diferença do impôsto da pessoa física, entre as taxas normais e a prevista neste artigo, diferença
que será atualizada nos termos do artigo 79, da Lei n. 4.357, de 16 de julho de 1964”. O art. 63 é limitado às
sociedades de que acima falamos, se figurantes adquirentes, e às pessoas físicas que sejam alienantes, cedentes
de direitos sObre imóveis ou promitentes vendedores. Se havia pré-contrato, a cessão dá ensejo à invocabilidade
do art. 68. Idem, se a pessoa física, apenas pagara prestações de construção.
O art. 3•0, § 8.0, da Lei n. 4.354 dispensou o pagamento do impôsto de renda (art. 3•0, § ‘7.0) se o contribuinte
prefere adquirir Obrigações do Tesouro, para vencimento em prazo não inferior a cinco anos contados da data
do balanço de que conste a correção monetária que deu ensejo à incidência do impôsto de renda, mas em valor
nominal correspondente ao dôbro do impôsto devido.