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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoríam)
APRESErsTTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanza a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanca e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenga católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
': controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega no
Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar
este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estéváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacao.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada


em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xxxix Abril 1998 431
«Ressuscitou ao terceiro dia...» (1Cor 15,3)

O Camelo e o Fundo da Aguiha (Mt 19,24)

A colaboracáo de Leigos e Clérigos na Igreja

Divorciados e Recasados

Calendario das Festas das Religioes Abraámicas

"Desejo voltar para casa" (Madre Teresa de


Calcuttá)

"O Sal da Térra" (Cardeal J. Ratzinger)

Ainda as Profecías de Fim de Ano


PERGUNTE E RESPONDEREMOS ABRIL 1998
Publicac.áo Mensal N°431

Diretor Responsável
SUMARIO

Estéváo Bettencourt OSB «Ressuscitou ao


Autor e Redator de toda a materia terceiro día...» (1Cor 15,3) 145
publicada neste periódico
Será possível?
Diretor-Administrador: O Camelo e o Fundo da
Agulha (Mt 19,24) 146
D. Hildebrando P. Martins OSB
Documentos da Santa Sé:
Administrado e Distribuicáo:
A colaboracáo de Leigos e Clérigos na
Edicóes "Lumen Christi" Igreja 152
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501
Tel.: (021) 291-7122 Fala o Evangelho:
Divorciados e Recasados 162
Fax (021) 263-5679
Em vista do Diálogo Religioso:
Endereco para Correspondencia: Calendario das Festas das Religióes
Ed. "Lumen Christi" Abraámicas 173
Caixa Postal 2666
Um Testemunho Valioso:
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
"Desejo voltar para casa" (Madre Teresa

Visite O MOSTEIRO DE SAO BENTO


de Calcuttá) 184

e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Falando com sinceridade...


na INTERNET: http://www.osb.org.br "O Sal da Térra" (Card. Ratzinger) 188
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J
"RESSUSCITOU AO TERCEIRO DÍA..."
(1 Cor 15,3)

A festa da Páscoa celebra a ressurreicáo de Cristo, que é o auge da


vida temporal de Jesús. É a pedra de toque do Cristianismo, a ponto que Sao
Paulo pode dizer: "Se Cristo nao ressuscitou, va é a vossa fé" (1 Cor 15,14.17).
Já que se trata de um tato muito singular, os críticos nos últimos sécu-
los tém procurado negar a sua historicidade, julgando estar diante de urna
concepcáo mítica. Há, porém, um texto que suscita serios embaracos aos
racionalistas: é o de 1 Cor 15,1-8. Sao Paulo ai refere urna profissáo de fé na
ressurreicáo de Jesús nao redigida por Paulo, mas recebida por ele quando
se converteu em 36 ou voltou da Arabia em 39: Transmiti-vos aquilo que eu
mesmo recebi: 'Cristo morreu por nossos pecados... ao terceiro dia ressusci
tou conforme as Escrituras'". A boa exegese reconhece que esta profissáo
de fé data do terceiro decenio da era crista, ou seja, de poucos anos após a
Ascensáo do Senhor Jesús; está redigida em termos que nao ocorrem ñas
demais cartas de Sao Paulo e usa linguagem sobria, sem referencia a terre
moto, anjos, claráo... O Apostólo acrescenta-lhe ainda a noticia de que em
56, quando ele escreve aos corintios, ainda há testemunhas vivas que podem
documentar o fato histórico. Tal texto, portante, exprime a fé da Igreja nascen-
te em sua primeira hora; nao é produto da imaginacáo que foi lentamente
concebendo as suas lendas. O caráter arcaico do texto leva a crer que a fé
assim professada corresponde a urna realidade histórica..., realidade que,
por sua índole objetiva, se impós ao ánimo dos Apostólos descrentes e céti-
cos, bem representados por Tomé incrédulo até tocar as chagas de Jesús. A
profissáo nao brotou da mente alucinada dos discípulos, pois estavam longe
de imaginar a ressurreicáo do Mestre, mas é a expressáo de um fato históri
co, que se tornou evidente e levou posteriormente os Apostólos a exclamar:
"Nao podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos" (At 4,20).
A ressurreicáo de Jesús, como fato real, é que o Cristianismo tem de
mais belo e elevado a apregoar. Com efeito; significa nao apenas a ressurrei
cáo de um morto, mas também a recriacáo do género humano. Cristo apare-
ceu como nova criatura, nao por causa de Cristo mesmo, mas por causa dos
homens, que Ele incorpora a Si no Corpo Místico da Igreja, fazendo-os parti
cipar das dores, da morte e da vitória sobre a morte que Ele adquiriu para
todos. E nao somente a morte do homem é assim transfigurada, também o
currículo de vida terrestre de todo ser humano, com suas alegrías e tristezas,
é santificado, pois todo cristáo pode, na alegría e na tristeza, dizer: "Por aqui já
passou Deus Filho".
É este o ámago do Evangelho. Faz-se mister que os cristáos se com-
penetrem disto, e facam do misterio da Páscoa (a Vida que vence a morte, a
Cruz que supera a dor) o centro de sua vida espiritual. Desta conviccáo resul-
tam o apostolado e o empenho social do cristáo.
E.B.

145
PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
(C

Ano XXXIX - N9 431 - Abril de 1998

Será possível?

O CAMELO E O FUNDO DE AGULHA (Mt 19,24)

Em síntese: Em Mt 19,24 Jesús afirma que é mais fácil um camelo


passarpelo fundo de urna agulha do que um rico entramo reino dos céus.
A comparagao, hiperbólica como é, tem suscitado hesitagáo, de modo
que há quem a queira atenuar: pensam alguns em urna pequeña porta da
cidade de Jerusalém, na qual só penetravam animáis encurvados; pen
sam outros em um grosso cabo de navegagáo. Na verdade, porém, a
comparagao do texto do Evangelho com passagens semelhantes da Es
critura e com dizeres rabfnicos dá a ver que Jesús tinha em mira realmen
te o fundo de urna agulha e um camelo propríamente dito. - Tal sentenga
do Senhor nao condena os ricos honestos e bons dispensadores dos be
neficios recebidos de Deus, mas se dirige a ambiciosos e egoístas.

O Senhor Jesús afirmou que é mais fácil um camelo passar pelo


fundo de urna agulha do que um rico entrar no Reino dos céus (cf. Mt
19,24). - É tao desproporcional o tamanho de um camelo com o do fundo
de urna agulha que muitos perguntam qual o sentido exato dessa com-
paracáo. E o que vamos estudar neste artigo.

Para entender os dizeres citados, será preciso, antes do mais, lem-


brar o episodio que Ihes deu ocasiáo (cf. Mt 19, 16-22; Me 10, 17-22; Le
18, 18-23).

Um jovem rico, cheio de ardor, foi certa vez perguntar ao Divino


Mestre o que devia fazer para conseguir a vida eterna. Jesús Ihe indicou
os mandamentos da Lei de Deus. Tendo o jovem respondido que já os
observava desde a juventude, o Senhor aconselhou-lhe vendesse as suas
posses, distribuísse o preco entre os pobres e, voluntariamente pobre,
seguisse o Mestre. Contudo, "ao ouvir estas palavras, o jovem afastou-
se entristecido, porque era proprietário de grandes bens" (Mt 19,22)

146
O CAMELO E O FUNDO DE AGULHA (Mt 19,24)

Foi esta atitude do jovem entravado pelo amor aos seus haveres
que ocasionou as seguintes observacoes do Salvador aos discípulos:

Mt 19,23: "Em verdade vos digo que difícilmente um rico entrará no


reino dos céus.z* Digo-vos aínda: é mais fácil passar um camelo pelo
fundo de urna agulha do que um rico entrar no reino dos céus".

Estas afirmacoes devem agora ser analisadas. Examinaremos, em


primeiro lugar, o sentido da comparacáo contida no v. 24; depois deduzi-
remos a mensagem geral expressa pelo Senhor ñas frases transcritas.

1. A comparacáo

Jesús, querendo inculcar a dificuldade com que alguém se salva,


cita o caso de um camelo, animal de grandes proporcóes, que quisesse
entrar pelo orificio de urna agulha, buraco de mínimas dimensoes; certa-
mente nao o conseguiría. Tal seria a sorte dos ricos perante a salvacáo
eterna!

Veremos em breve o sentido doutrinário desta afirmativa; no mo


mento interessa apenas explicar o seu aspecto literario, ou seja, a men-
cáo do camelo e da agulha como termos de comparacáo.

Deveremos dizer que tal linguagem enfática ou hiperbólica, longe


de ser estranha aos semitas, era bem familiar a um círculo de judeus:
deviam entender um camelo tal qual e o pequeño furo da agulha como
ele se apresenta na sua realidade natural; a desproporcáo, o contraste
quase absurdo, nao os espantava. Com efeito, lé-se em outros textos
judaicos semelhante comparacáo: para dizer que algo era impossível, os
rabinos lembravam o caso de um elefante (em lugar de camelo) que ten-
tasse penetrar o fundo de urna agulha.

Tenham-se em vista as seguintes palavras do Talmud (coletánea


de sentencas dos rabinos ou dos mestres judaicos):

"Raba (352) afirmou: 'Ninguém imagina, nem mesmo em sonho,


urna palmeira de ouro ou um elefante que passa pelo buraco de urna
agulha"'.

Também se lé no Talmud, á guisa de proverbio: "O elefante nao


danca em um gab {= medida de exigua capacidade)".

Cf. Talmud da Babilonia: Berach. 55b e Baba Mesia 38 b.

Muito antes de Jesús, o elefante tomara-se famoso na cultura ori


ental, visto o papel que desempenhara ñas guerras da Macedónia e da
Siria; nos tempos de Cristo, porém, era mais conhecido e vulgar o came
lo. Daí provavelmente a mencáo que o Senhor faz de camelo, e nao de
elefante, no Evangelho.

147
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

O livro bíblico dos Proverbios (17,22), recorrendo a análogo modo


de falar, assevera que "é melhor encontrar urna ursa a quem tenham sido
arrebatados os filhotes do que defrontar um insensato em delirio". O pro
feta Jeremías (13,23), também numa comparacáo enfática, pergunta:
"Pode um etíope mudar a própría pele?
Ou um leopardo apagar as malhas do pelo de que se reveste?
E vos como podereis praticar o bem se estáis impregnados de
maldade?"

Jesús mesmo no Novo Testamento, dirigindo-se aos fariseus, diz


que filtram um mosquito, mas engolem um camelo (cf. Mt 23,24).

Quanto ao buraco de agulha, servia freqüentemente de compara-


gao ñas escolas judaicas:

Assim falava um mestre em Israel: "Se em um odre houver um ori


ficio do tamanho do fundo de urna agulha, bastará para que todo o líqui
do escorra por ele". Outro atribuía ao SenhorDeus a exortagáo seguinte:
"Fazendo penitencia, abrís para mim urna passagem do tamanho do bu
raco de urna agulha, e eu vos abriré! urna porta por onde os veículos e os
carros poderáo passar".

Contudo alguns antigos leitores do Evangelho julgaram estranha


a comparacáo ocorrente em Mt 19,24. Por isto, S. Cirilo de Alexandria
(t 444) quería abrandá-la, diminuindo o tamanho do camelo, isto é, en-
tendendo o camelo (kámelos, em grego) nao no sentido de um animal,
mas como se fosse a corda grossa ou cabo (kámilos, em grego) ao qual
os navegantes prendem a áncora de bordo; assim, por exemplo, se lé na
traducio latina da obra desse apologeta dirigida contra o imperador Juliano
o Apóstata:

"Accipit ergo demonstrationem: foramen acus et camelus; non ani


mal, ut opinatur Julianus impius et omnino insipiens et idiota, sed potius
rudens crassus qui in omni navi. Ita enim mos est nominandi iis qui docti
sunt res nautarum" (luliani imperatoris librorum contra Christianos quae
supersunt. Teubner 1880, pág. 56).

"O Senhor recorre a urna comparagáo, lembrando o buraco de urna


agulha e um camelo: nao camelo animal, comojulga o implo Juliano...,
mas antes um cabo grosso tal como se encontra em toda nave. Tal é o
expressionismo próprio dos peritos em navegagáo."

Alguns outros poucos autores antigos interpretavam "camelo" do


mesmo modo. Eis o que diz o Tractatus de divitiis (XVII11 e 2), atribuido
ao bispo Fastidio (410-450) ou ao escritor pelagiano Agrícola (cerca de
429):

148
O CAMELO E O FUNDO DE AGULHA (Mt 19,24)

"Sed non de camelo dictum est, inquies, cui per foramen acus transiré
penitus impossibile est, sed de camelo, id est, de náutico quodam fuñe.
Nao se trata de um camelo propriamente dito, pois a este animal é
de todo impossível passar pelo buraco de urna agulha, mas tratase de
um cabo usual em navegagáo".

Outros comentadores de Mt 19,24, também desejosos de suavizar


a hipérbole, julgam que Jesús tinha em vista pequeña porta da cidade de
Jerusalém chamada "Buraco da Aguiha", pequeña porta pela qual os
animáis de carga só poderiam passar se fossem despojados da baga-
gem e dobrassem os joelhos; os homens só transitariam por ai se se
encurvassem. Assim pensam alguns antigos e modernos intérpretes.
Contudo a existencia dessa porta é controvertida por arqueólogos com
petentes. Váo seria fundar a explicacáo dos dizeres de Jesús sobre tal
hipótese. Nao há dúvida, a accepcáo literal do "camelo" e da "agulha"
está bem na linha do pensamento semita; Jesús terá usado realmente
essa comparacáo forte. Resta-nos entáo analisar o que o Divino Mestre
quería dizer mediante tal forca de expressáo.

2. A mensagem das palavras de Cristo

O Senhor nao condena o dinheiro ou as posses materiais como


tais. Sao instrumento: instrumento para o bem, quando se acham ñas
maos dos bons; instrumento para o mal, quando se acham ñas maos dos
maus. O dinheiro bem pode servir de meio para que o homem cultive o
amor a Deus e ao próximo, praticando boas obras, e assim, mediante
esse bom uso, mereca entrar na vida eterna (as boas obras seriam "ami
gos que nos receberiam ñas mansóes eternas", conforme Le 16,9). Tal
homem é dito "rico para Deus" (cf. Le 12,21), em vez de ser rico para si,
isto é, rico de maneira egoística e prazenteira. Jesús reconhece a exis
tencia de pessoas ricas e boas, como era, por exemplo, Zaqueu, o qual
restituía quatro vezes mais, quando verificava ter lesado alguém (cf. Le
19,8-10).

Tenha-se, pois, por certo que o Evangelho de modo nenhum con


dena a propriedade particular. Esta é baseada no direito natural; constituí
a expressáo da personalidade humana e, por assim dizer, urna das con-
dicoes normáis de desenvolvimento da personalidade. É preciso que todo
homem possua seu aconchego próprio e indevassável, como ele tem o
seu próprio "eu" inconfundível (uns possuirao menos, outros possuirao
mais, de acordó com as qualidades e a capacidade de cada um).

Contudo Cristo em Mt 19,24 quer lembrar que a posse de dinheiro


é algo de perigoso, pois tende a absorver e avassalar o homem ou, no
mínimo, a embotar-lhe a consciéncia. "Onde está o teu tesouro, ai está

149
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

também o teu coracáo", dizia o Senhor em Mt 6,21. É com vistas aos que
voluntariamente cedem á absorcao e materializacáo que o Senhor afir
ma a impossibilidade de se salvarem; e, para incutir enfáticamente tal
impossibilidade, recorre á comparacáo do camelo e da agulha.

As riquezas acariciadas em sentido materialista, isto é, como fonte


de toda esperanca e como limite ao qual se confinam as aspiracoes do
homem, exercem verdadeira tiranía, diria S. Joáo Crisóstomo (t 407).
Fomentam diversos vicios (a ambicio, a luxúria, a gula, o egoísmo, etc.)
e desvirtuam até mesmo o que possa haver de bom no individuo. Por isto
Sao Paulo considera a avareza como raiz de todos os males:

"Aqueles que querem tornarse ricos, caem na tentagáo, no lago,


em numerosos desejos insensatos e perniciosos, que mergulham os ho-
mens na ruina e na perdigáo. Porque o amorao dinheiro é a raiz de todos
os males. Levados pelo desejo de possui-lo, alguns se desviaram para
longe da fé e atormentaram-se a si mesmos com muitas afligóes" (1Tm
6,9s).

Em conseqüéncia, exortava o Apostólo:

"Aos ricos deste mundo prescreve que nao sejam orgulhosos,


nem ponham sua esperanga na instabilidade das riquezas, mas sim
em Deus, que nos concede tudo em grande abundancia para nosso
uso; pratiquem o bem, tomem-se ricos de boas obras, déem com libe-
ralidade, repartam do seu e, deste modo, acumulem para si um tesou-
ro, que será sólido cabedalpara o futuro, a fim de alcangarem a verda
deira vida "(1Tm 6,17-19).

O espirito de pobreza ou a superioridade do homem frente aos


bens materiais difícilmente se pode conservar sem um ambiente de so-
briedade e parcimónía; a tendencia a evitar posses supérfluas é neces-
sário esteio do dominio do homem sobre a materia. Quem vive continua
mente no gozo, acariciado pelos favores desta vida temporal, arrisca-se
a perder o controle sobre a materia e a amesquinhar-se ou mesmo es-
cravizar-se.

Ainda urna observacáo: o evangelista S. Marcos (10,24.26) refere


que as palavras de Jesús concernentes as riquezas muito surpreendiam
os apostólos. Isto se explica, pois, como genuínos filhos de Israel, os
primeiros seguidores de Jesús deviam ser inclinados a crer que os have-
res temporais sao sinal de béncáo de Deus e quase prenuncio ou penhor
de salvacáo eterna; a pobreza, ao contrario, significaría maldicáo divina.
Tal era o modo de pensar predominante entre os antigos judeus, cuja
mentalidade ainda se ressentia de rudez ou infantilidade. É essa falha de
pensamento que o Senhor, entre outras coisas, deseja remover no Evan-

150
O CAMELO E O FUNDO DE AGULHA (Mt 19,24)

gelho: "ser abencoado o amigo de Deus" nao quer necessariamente d¡-


zer "vir a ser dotado de bem-estar e de consolo terrestres"; ver¡fica-se
mesmo que Deus "repreende e castiga os que Ele ama" (Ap 3,19); é
assim que Ele os purifica e dilata, emancipando-os dos grilhóes do ego
ísmo.

Eis, pois, em síntese, a mensagem decorrente das palavras do


Senhor em Mt 19,24: as posses temporais sao urna dádiva boa do Bom
Deus. É preciso, porém, que o homem nao se deixe avassalar nem ab-
sorver pelos seus haveres, mas, antes, os domine e administre de modo
a dar gloria ao Criador, beneficiar o próximo e enobrecer a sua própria
alma.

APÉNDICE
ESCREVE CLEMENTE DE ALEXANDRIA (t 215 aproximadamente):

"Uns ouvem a palavra do Salvador: 'É mais fácil o camelo passar


pelo fundo de urna agulha do que o rico entrar no reino dos céus' (Mt
19,24), e chegam a desesperar de si, como se já nao pudessem obter a
vida eterna; entregam-se entáo cada vez mais ao mundo, apegándose a
vida presente como se fosse a única e afastando-se cada vez mais do
caminho para a outra vida; nao procuram averiguar quem é que o Salva
dor interpela, ou de que maneira o impossível para os homens é possível
para Deus...

Ora, os que amam seus irmáos... convém que primeiramente Ihes


tirem com boas razóes todo desespero e Ihes expliquem os oráculos do
Senhor, os quais nao excluem da heranga do reino celeste os que obede-
cem aos mandamentos. Convém, em segundo lugar, recordar aos irmáos
que o seu temor é desarrazoado e que, se desejarem, o Senhor os aco-
Iherá de bom grado. Mas será preciso também iniciá-los místicamente na
maneira como, com obras e disposigóes de espirito, se soergue a espe-
ranga, sempre na suposigáo de que nao Ihes será fechada a salvagáo e
de que nao se Ihes abre sem esforgo. Se usássemos de urna compara-
gao, diríamos acontecer aqui o mesmo que entre os atletas.

Entre estes, quem desespera de vencer e obter o premio, já nem


se inscreve entre os concurrentes. De outro lado, quem tem boa espe-
ranga, mas nao impóe a si mesmo os devidos exercícios, também fica
sem o premio e sua esperanga falirá. Semelhantemente, quem possui
muitas riquezas da térra nao se tenha por excluido dos galardóes do
Senhor Deus, desde que seja fiel e compreenda a magnificencia da bon-
dade de Deus; nem, de outro lado, espere cingir-se com a coroa da ¡mor-
talidade, se nao se cobre de pó e suor. Submeta-se ao Verbo como ao
diretor dos exercícios, a Cristo como ao presidente do céñame".

151
Documento da Santa Sé:

A COLABORAQÁO DE LEIGOS E CLÉRIGOS


NA IGREJA

Em síntese: A Santa Sé publicou urna Instrugáo datada de 15/8/


97, em que define com precisáo as modalidades da colaboragáo de lei-
gos e clérigos ñas fungóes litúrgicas e no exercicio de atividades pasto-
rais. Tendo em vista a tendencia a clericalizar os leigos e laicizar os cléri
gos, a Igreja deseja que se guardem as características próprias de leigos
e clérigos na celebragáo dos sacramentos e em outras instancias da vida
paroquial. Sao especialmente importantes as normas baixadas com refe
rencia aos Ministros Extraordinarios da Comunhao Eucarística, aos Mi
nistros do Batismo, a assisténcia aos casamentes por delegagáo do Bis-
po... Requer-se, da parte dos ministros do culto, ordem, a devida prepa-
ragáo e a habilitagáo para tais fungóes, a fim de se evitarem abusos e
mal-estar entre os fiéis.

Foi publicada aos 15/8/1997 urna Instrucáo da Santa Sé sobre a


colaboragáo de leigos e clérigos na vida paroquial e no desempenho da
S. Liturgia. Deve-se a prolongado estudo realizado por oito órgáos da
Curia Romana, a saber: a Congregacáo para o Clero, o Pontificio Conse-
Iho para os Leigos, a Congregacáo para a Doutrina da Fé, a Congrega
cáo para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, a Congregacáo
para os Bispos, a Congregacáo para a Evangelizacáo dos Povos, a Con
gregacáo para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de
Vida Apostólica e o Pontificio Conselho para a Interpretacáo dos Textos
Legislativos.

A Instrucáo consta de urna Premissa e de duas Partes, das quais a


primeira expóe Principios Teológicos e a segunda apresenta Disposicóes
Práticas. É de importancia, pois leva em conta situacdes ambiguas, que
necessitam de esclarecimentos e definicóes. - Eis por que passamos a
apresentar urna síntese de tal documento.

1. Premissa

O documento comeca registrando o apelo que se fez ouvir, princi


palmente após o Concilio do Vaticano II, a que os leigos tomem parte
ativa na missáo da Igreja. Constata-se a colaboracáo dos fiéis tanto no
plano temporal como no plano espiritual, em vista de estabelecer e pro
mover o Reino de Deus.

152
A COLABORACÁO DE LEIGOS E CLÉRIGOS NA IGREJA 9

Feita esta observado, é exposta a razáo de ser da Instrucáo:

"A finalidade do presente documento, no entanto, é simplesmente a


de fomecer uma resposta clara e autorizada aos prementes e numerosos
pedidos enviados aos nossos Dicastérios por Bispos, presbíteros e leigos,
os quais solicitaram esclarecimentos em face de novas formas de atividade
pastoral de fiéis nao-ordenados no ámbito das paróquias e das dioceses.

De fato, tratase freqüentemente de práticas que, embora nascidas


em situagóes de emergencia e de precariedade e no mais das vezes
desenvolvidas no desejo de prestar um generoso auxilio na atividade
pastoral, podem acarretar conseqüéncias gravemente negativas em de
trimento da reta compreensáo da verdadeira comunháo eclesial. Tais prá
ticas, na realidade, estáo mais presentes em algumas regióes e, as ve
zes, dentro das mesmas regioes, variam muito".

Em palavras mais explícitas, pode-se dizer que se registra hoje


uma tendencia a clericarizar os leigos e laicizar os clérigos.

Antes, porém, de apresentar solucóes concretas para problemas


ocorrentes, o documento expóe os principios teológicos que estáo
subjacentes á prática.

2. Principios Teológicos

2.1. Participacáo no Sacerdocio de Cristo

Há duas maneiras de participar do único sacerdocio de Cristo: 1) o


sacerdocio comum ou universal, decorrente do sacramento do Batis-
mo e da Crisma, que habilitam os fiéis a tomar parte na oblacáo do sacri
ficio de Cristo ou na Eucaristía; sao cooferentes e cooferecidos; 2) o sacer
docio ministerial, conferido pelo sacramento da Ordem, o qual possibilita
ao ministro ordenado consagrar o pao e o vinho, absolver os pecados, presi
dir as celebrares litúrgicas e servir de modo especial ao povo de Deus.

O sacerdocio ministerial ou hierárquico nao significa maior grau de


santidade em relacáo ao sacerdocio comum dos fiéis, mas implica um
dom particular para que os ministros possam ajudar o povo de Deus a
exercer com fidelidade o sacerdocio comum, que Ihe é conferido. Na
edificagáo do Corpo de Cristo que é a Igreja, ocorre a diversidade de
funcoes, mas um só é o Espirito que distribuí os seus varios dons com
magnificencia correspondente as necessidades dos servaos (cf. 1Cor
12,1-11). Todos sao chamados á perfeicáo ou á santidade, cada qual em
sua vocacáo e no desempenho de suas funcoes pessoais dentro da uni-
dade do Corpo de Cristo.

A diferenca está no modo de participar no sacerdocio de Cristo; é


essencial no sentido de que, enquanto o sacerdocio comum dos fiéis se

153
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

realiza desenvolvendo a graca do Batismo (vida de fé, esperanca e carida-


de), o sacerdocio ministerial está a servio do sacerdocio comum e é cha
mado a servir ao desenvolvimento da graca batismal de todos os cristaos.

De maneira clara, a Instrucáo sintetiza as diferencas entre um e


outro tipo de sacerdocio, afirmando:

"As características que diferencian) o sacerdocio ministerial dos


Bispos e dos presbíteros do sacerdocio comum dos fiéis e que conse-
qüentemente delineiam os limites da colaboragáo destes no sagrado mi
nisterio, podem ser assim sintetizadas:

a) o sacerdocio ministerial tem a sua raíz na sucessáo apostólica e


é dotado de um poder sagrado, que consiste na faculdade e na respon-
sabilidade de agir na pessoa de Cristo Cabega e Pastor;

b) esse sacerdocio torna os ministros sagrados servidores de Cris


to e da Igreja, mediante a proclamagao autorizada da palavra de Deus, a
celebragáo dos sacramentos e o governo pastoral dos fiéis.
Colocar os fundamentos do ministerio ordenado na sucessáo apos
tólica, já que esse ministerio continua a missáo que os Apostólos recebe-
ram de Cristo, é ponto essencial da doutrina eclesiológica católica".

2.2. Tres funcóes do sacerdocio ministerial

Ao ministerio ordenado competem tres funcóes, que constituem


uma unidade indivisível: a de ensinar, a de celebrar o culto e a de pastorear.
Estas tarefas nao podem ser compreendidas separadamente urnas das
outras, mas sao complementares entre si. Admite-se que os fiéis leigos
participem, de certo modo, numa ou noutra de tais funcoes, desde que
sejam chamados a tanto pela legítima autoridade. Mas nem por isto os
fiéis leigos sao transformados em pastores da Igreja, dado que o ministe
rio pastoral depende da ordenacao sacerdotal. Somente o sacramento
da Ordem confere aos Bispos e presbíteros uma peculiar participacáo na
obra de Cristo, Pastor da Igreja. As tarefas que os leigos exercem como
suplentes, recebem a sua legitimidade da delegacáo oficial que Ihes dáo os
pastores ordenados e estáo sujeitas á diregáo da autoridade eclesiástica.
"É imperioso reafirmar esta doutrina", diz a Instrucao (n9 2), porque
em alguns casos os leigos chamados a colaborar com os clérigos (para
suprir a carencia numérica de ministros ordenados) se tém apoiado no
sacerdocio comum dos fiéis para pretender realizar funcóes típicas e
intransferíveis do sacerdocio ministerial, confundindo entre si as duas
modalidades do sacerdocio. Isto nao somente tem causado perplexida-
de e escándalo ñas comunidades católicas, mas também diminuí o interes-
se dos jovens pelo sacerdocio ordenado e obscurece a razáo de ser de uma
formacáo específica dos candidatos á sagrada Ordenacao; o leigo e o padre
estariam habilitados as mesmas, ou quase as mesmas, funcoes. Estariam

154
A COLABORAgÁO DE LEIGOS E CLÉRIGOS NA IGREJA 11^

assim em curso o clericalismo dos leigos e conseqüentemente a laizacáo


dos clérigos (interessados por cargos políticos e profissoes seculares).
2.3. Sacerdocio ministerial insubstituível

Na verdade, insiste o documento, o ministerio ordenado é insubs-


tituível:

«Urna comunidade de fiéis, para ser chamada Igreja e para o ser


realmente, nao se pode governar seguindo criterios organizacionais de
natureza associativa ou poliüca. Cada Igreja particular deve a Cristo o
seu governo, porque foi Ele, fundamentalmente, quem concedeu a Igreja
o ministerio apostólico. Por essa razáo, nenhuma comunidade tem o po
der de dá-lo a si própria ou de estabelecé-lo por meio de urna delegagao.
O exercicio da fungáo de magisterio e de governo requer, com efeito, a
determinacáo canónica ou jurídica por parte da autoridade hierárquica.

O sacerdocio ministerial é, portanto, necessário á própria existen


cia da comunidade como Igreja: nao se deve, pois, pensar no sacerdocio
ordenado [...] como posterior á comunidade eclesial, de modo que esta
pudesse ser concebida como já constituida independentemente de tal
sacerdocio. Com efeito, se na comunidade vem a faltar o sacerdocio, ela
fica privada do exercicio e da fungáo sacramental de Cristo Cabega e
Pastor, essencial para a própria vida da comunidade eclesial.

O sacerdocio ministerial é, portanto, absolutamente insubstituível.


Donde se deduz imediatamente a necessidade de urna pastoral vocacionaí
que seja zelosa, bem ordenada e continua, para dar á Igreja os ministros
necessários, bem como de proporcionar urna cuidadosa formagáo a to
dos os que, nos Seminarios, sé preparam para receber o presbiterado.
Qualquer outra solugáo que pretenda enfrentar os problemas provenien
tes da carencia de ministros sagrados será necessariamente precaria».

2.4. Colaboracáo de fiéis leigos no ministerio pastoral

Há certas funcóes dos pastores da Igreja que nao requerem o sa


cramento da Ordem; por isto, podem ser exercidas por fiéis leigos, desde
que delegados pela autoridade eclesiástica, na falta de ministro ordena
do. É necessário que esses casos extraordinarios ou excepcionais nao
se tornem "ordinarios" ou rotineiros. Para que isto nao aconteca, requer-
se que os principios doutrinários estejam claros a todos os fiéis e se faca
aplicagáo leal e coerente das disposicoes vigentes, que passam a ser
enumeradas a seguir.

3. Disposicoes Práticas

Sao doze os artigos respectivos.

3.1. Terminología

Diz a respeito o artigo 19 § 3:

155
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

"O fiel nao ordenado pode assumir a denominagáo genérica de


ministro extraordinario somente quando é chamado peía Autoridade com
petente a desempenhar, em fungáo de suplencia, os encargos de que
falam os cánones 230 § 3, 943 e 1112. Nao é lícito portanto que os fiéis
nao ordenados assumam a denominagáo de Pastor de cápela, Coorde
nador, Moderador ou outras semelhantes que possam confundir o seu pa
pel com o do próprio pastor, que é exclusivamente o Bispo e o presbítero".
3.2. Ministerio da Palavra e Homilía (art. 2 e 3)
O Ministerio da Palavra consiste na pregacáo pastoral, na catequese
e em qualqueroutro tipo de instrucao, incluida a homilía. Esta é a modalida-
de de pregacáo que comenta os textos bíblicos da Missa, propondo aos fiéis
as verdades da fé e os principios da Moral no decorrer da Liturgia da Missa.
Os ministros da Palavra ordinarios sao os Bispos, os presbíteros e
os diáconos. Todavía, aos leigos podem - e, as vezes, devem por neces-
sidade premente - ser confiados os oficios de pregar na igreja, exercer a
catequese, o ensino da Religiáo, excetuando-se, porém, a homilía. Esta,
por ser parte integrante da Liturgia, é reservada únicamente aos Bispos,
presbíteros e diáconos, que sao consagrados pelo sacramento da Or-
dem para oficiar na Liturgia; nem mesmo o Bispo diocesano pode conce
der a um leigo o encargo de fazer a homilía, ainda que seja um semina
rista ou um estudante de Teología.

É lícito, porém, pedir a um leigo que faca algum breve comentario


da Liturgia para favorecer maior compreensáo da mesma em días espe
ciáis ou também que dé um testemunho de vida em Missas celebradas
em jornadas particulares (no Dia dos Enfermos, por exemplo, ou no Día
das Vocacóes). Todavía estes comentarios e testemunhos nao devem
assumir características que os possam confundir com a homilía.

Admite-se também o diálogo na homilía como meio positivo de es


clarecer algum assunto, desde que se use com prudencia e nao se dele
gue ao leígo o oficio da pregacáo.
Fora da Missa, é permitido aos fiéis nao ordenados comentar os
textos bíblicos da Liturgia.

A homilía nao pode ser confiada, em hipótese alguma, a sacerdo


tes ou diáconos que tenham deixado o estado clerical.

3.3. O Pároco e a Paróquia (art. 4)

Na falta de sacerdotes o Bispo diocesano pode confiar a fiéis nao


ordenados certa partícípacáo no trabalho pastoral de urna paróquia.
Esta concessáo é cercada de algumas cláusulas:

1) Faca-se isto, quando necessário, por efeíto da penuria de sacer


dotes e nao com o intuito de falsa promogáo do laicato.

156
A COLABORACÁO DE LEIGOS E CLÉRIGOS NA IGREJA 113

2) O leigo nao há de dirigir, coordenar, moderar ou governar a paró-


quia, pois isto compete exclusivamente aos sacerdotes.
3) Por isto, mesmo confiando aos leigos urna participacao no tra-
balho da paróquia, o Bispo deverá sempre designar um sacerdote que, á
guisa de pároco, dirija e oriente as atividades pastorais e responda por
elas. Para tanto, o Bispo pode recorrer a sacerdotes anciáos ainda sau-
dáveis; pode também confiar diversas paróquias a um só sacerdote ou a
urna equipe de sacerdotes.

O canon 538 § 3 manda que o pároco, aos 75 anos de idade, apré


sente ao Bispo sua renuncia á paróquia. Todavía nao se dé por exonera
do de suas funcóes senao depois que o Bispo, por escrito, Ihe comuni
que a aceitacáo da renuncia. O próprio Bispo nao a deve aceitar senáo por
razoes plausíveis, pois o sacerdote tem o direito de exercer as funcóes ine-
rentes á sua ordenacáo; além do qué, a penuria de sacerdotes recomenda
prudencia no tocante a dispensar de suas funcóes os presbíteros idosos.
3.4. Os Organismos de Colaboracao ñas Dioceses e ñas Paró
quias (art. 5)
Vém ao caso os Conselhos que assistem ao Bispo e ao pároco.
O Conselho Presbiteral, que acompanha o Bispo, é reservado aos
presbíteros, como diz o nome.

«§ 1. As normas do Código de Direito Canónico acerca do Conselho


Presbiteral determinan) quais sacerdotes podem ser membros. Com efeito,
ele é reservado aos sacerdotes, porque tem o seu fundamento na comum
participagáo do Bispo e dos presbíteros no mesmo sacerdocio e ministerio.
Nao podem, portanto, gozar do direito á voz ativa e passiva nem os
diáconos, nem os fiéis nao-ordenados, ainda que colaboradores dos mi
nistros sagrados, bem como os presbíteros que tenham perdido o estado
clerical ou que, de algum modo, tiverem abandonado o ministerio sagrado.
§ 2. O Conselho Pastoral, diocesano e paroquial, e o Conselho
Económico Paroquial, dos quais fazem parte fiéis nao-ordenados, go-
zam únicamente de voto consultivo e nao podem, de modo algum, tor
narse organismos deliberativos. Podem ser eleitos para tais encar
gos somente os fiéis que possuam as qualidades requeridas pelas
normas canónicas.

§ 3. É próprio do pároco presidir os Conselhos Paroquiais. Eis por


que sao inválidas e, portanto, nulas as decisóes deliberadas por um Con
selho Paroquial reunido sem a presidencia do pároco, ou contra ele.
§ 4. Todos os Conselhos Diocesanos podem exprimir validamente
o próprio consentimento a um ato do Bispo somente nos casos em que
esse consentimento é expressamente requerido pelo Direito.

157
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

§ 5. Consideradas as realidades locáis, os Ordinarios podem ser


virse de especiáis grupos de estudo ou de peritos em questóes particu
lares. Todavía, eles nao podem constituir organismos paralelos ou de
exautoragáo nem dos Conseihos Diocesano, presbiteral e pastoral, nem
dos conseihos paroquiais, regulados pelo Direito universal da Igreja nos
cánn. 536, § 1 e 537. Se tais organismos surgiram no passado em base a
costumes locáis ou a circunstancias particulares, empreguem-se os mei-
os necessários para adequá-los á vigente legislagáo da Igreja.

§ 6. Os Vigários foráneos, também chamados decanos, arciprestes


ou com putro nome, e aqueles que os substituem, «pró-vigários», «pró-
decanos», etc., devem sempre ser sacerdotes. Portanto, quem nao é
sacerdote nao pode ser nomeado validamente para tais encargos».
3.5. As Celebrares Litúrgicas (art. 6)

Todo o povo de Deus participa das celebrares da Liturgia, que é o


culto oficial da Igreja; cada qual, porém, observe a funcáo que Ihe é própria.
«§ 2. Para salvaguardar, também neste campo, a identidade eclesial
de cada um, devem ser removidos os abusos de varios tipos que sao
contrarios á norma do can. 907, segundo o qual, na celebragáo eucarfstica,
aos diáconos e aos fiéis nao-ordenados nao é consentido proferir as ora-
góes e qualquer outra parte reservada ao sacerdote celebrante - sobre-
tudo a oragáo eucarística com a doxologia conclusiva - ou executar agdes
e gestos que sao próprios do mesmo celebrante. Constituí igualmente
abuso grave que um fiel náo-ordenado exerga, de fato, urna quase presi
dencia da Eucaristía, deixando ao sacerdote somente o mínimo para ga
rantir a sua validade.

Na mesma linha aparece evidente a ilicitude do uso, ñas agoes


litúrgicas, de paramentos reservados aos sacerdotes ou aos diáconos
(estola, planeta ou casula, dalmática) por quem nao é ordenado.
Deve-se evitar cuidadosamente até mesmo a aparéncia de confu-
sáo que pode surgir de comportamentos litúrgicamente anómalos. Assim
como se recorda aos ministros sagrados o dever de vestirem todos os
paramentos sagrados prescritos, assim também os fiéis nao-ordenados
nao podem revestir aquilo que nao Ihes é próprio.

Para evitar confusáo entre a liturgia sacramental presidida por um sa


cerdote ou diácono e outros atos animados ou dirigidos por fiéis nao-ordena
dos, é necessário que estes últimos usem fórmulas claramente distintas».
3.6. As Celebracdes Dominicais na ausencia de presbítero (art. 7)
«§ 1. Em alguns lugares, as celebragóes dominicais sao dirigidas,
na falta de presbíteros ou diáconos, por fiéis náo-ordenados. Esse servi-
go, táo importante quanto delicado, é desempenhado segundo o espirito

158
A COLABORACÁO DE LEIGOS E CLÉRIGOS NA 1GREJA ]5

e as normas específicas emanadas, a esse respeito, pela competente


Autoridade eclesiástica. Para dirigir as mencionadas celebragdes, o fiel
náo-ordenado deverá ter um mandato especial do Bispo, que deverá dar
as indicagóes oportunas acerca da duragáo, do lugar, das condigóes e do
presbítero responsável.
§ 2. Tais celebragdes, cujos textos deveráo ser os aprovados pela
Autoridade eclesiástica competente, configuram-se sempre como solu-
góes temporarias. Éproibido inserir na sua estrutura elementos próprios
da liturgia sacrifica!, sobretudo a «oragáo eucarística», aínda que em for
ma narrativa, para nao induzir os fiéis ao erro. Para este fim, deve-se
recordar sempre aos participantes destas celebragdes que elas nao subs-
tituem o Sacrificio Eucarístico e que o preceito dominical é satisfeito so-
mente através da participagao na Santa Missa. Nesses casos, onde as
distancias e as condigóes físicas o permitirem, os fiéis devem ser estimu
lados e ajudados a fazer o possível para cumprir o preceito».
3.7. O Ministro Extraordinario da S. Comunháo (art. 8)
Na falta de ministro ordinario (Bispo, presbítero, diácono), pode o
Bispo diocesano conferir a leigos, mediante urna béncáo especial, a mis-
sao de distribuir a S. Comunháo, a título extraordinario. Costumam ser
numerosos tais Ministros Extraordinarios da Comunháo Eucarística
(MECEs), que desempenham papel importante e benemérito. - Para evi
tar abusos no caso, observem-se as seguintes normas:
«§ 2. Para que o ministro extraordinario, durante a celebragáo
eucarística, possa distribuir a sagrada comunháo, é necessário ou que
nao estejam presentes ministros ordinarios ou que estes, embora pre
sentes, estejam realmente impedidos. Pode igualmente desempenhar o
mesmo encargo quando, por causa da participagao particularmente nu
merosa dos fiéis que desejam recebera Santa Comunháo, a celebragáo
eucarística prolongar-se-ia excessivamente por causa da insuficiencia
de ministros ordinarios.
Este encargo é supletivo e extraordinario e deve ser exercido se
gundo a norma do Direito. Para este fim é oportuno que o Bispo diocesano
emane normas particulares que, em íntima harmonía com a legislagáo
universal da Igreja, regulamentem o exercido de tai encargo. Deve-se
prover, entre outras coisas, que o fiel deputado para esse encargo seja
devidamente instruido sobre a doutrina eucarística, sobre a índole do
seu servigo, sobre as rubricas que deve observar para a de vida reveren
cia a táo augusto Sacramento e sobre a disciplina que regulamente a
admissáo á comunháo.
Para nao gerar confusáo, devem-se evitar e remover algumas prá-
ticas que há algum tempo foram introduzidas em algumas Igrejas particu
lares, como por exemplo:

159
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

- o comungarpelas próprias máos, como se fossem concelebrantes;


- associar á renovagáo das promessas sacerdotais, na Santa Mis-
sa Crismal da Quinta-Feira Santa, também outras categorías de fiéis que
renovam os votos religiosos ou recebem o mandato de ministros extraor
dinarios da comunháo eucarística;

- o uso habitual de ministros extraordinarios >nas Santas Missas,


estendendo arbitrariamente o conceito de numerosa participagáo».
3.8. O Apostolado junto aos Enfermos (art. 9)
Os fiéis nao ordenados realizam obra de grande valor visitando os
doentes e reconfortando-os com a Palavra da fé. Cuidem de suscitar nos
enfermos o desejo de receber os sacramentos da Penitencia e da Uncáo
dos Enfermos, que sao reservados aos Bispos e aos presbíteros. Nao
facam unc.áo sobre os doentes nem com óleo abencoado para a Uncao
dos Enfermos nem com óleo nao abencoado.
3.9. Assisténcia aos Matrimonios (art. 10)

Na falta de ministros ordenados, pode o Bispo diocesano delegar a


leigos a funcáo de assistir a casamentos. Na verdade, os ministros do
matrimonio sacramental sao os próprios nubentes; a Igreja acompanha o
rito, recebendo o consentimento conjugal dos noivos e (quando há Bispo,
sacerdote ou diácono qualificado) abencoando-o. A designacáo de delega
dos leigos por parte do Bispo diocesano deve observar tres requisitos:
- haja absoluta falta de ministro ordenado e qualificado;
- haja o voto favorável da Conferencia Episcopal;
- haja autorizacao da Santa Sé;

Nenhum ministro ordenado pode autorizar um fiel nao ordenado a


assistir, em nome da Igreja, ao matrimonio sacramental.
3.10. O Ministro do Batismo (art. 11)

O Ministro ordinario do sacramento do Batismo é o Bispo, o


presbítero ou o diácono. Todavía, em perigo de morte de urna crianca,
qualquer Ieigo pode batizar, desde que tenha a intencáo de fazer o que a
Igreja faz e aplique á pele da crianca agua natural com as palavras: "Eu
te batizo em nome do Pai...". Acontece, porém, que, mesmo nao haven-
do perigo de morte, se faz necessário instituir ministros extraordinarios
do Batismo, dada a penuria de ministros ordenados.
Eis por que é permitido ao Bispo diocesano delegar a fiéis nao
ordenados a faculdade de batizar. Essa delegacao, porém, deve ser bem
entendida como algo de extraordinario e nao habitual. Nao se conside-
ram suficiente base para tal investidura: 1) o trabalho excessivo do minis
tro ordinario; 2) a sua nao residencia no territorio da paróquia; 3) a sua
nao disponibilidade no dia previsto pela familia.

160
A COLABORACÁO DE LEIGOS E CLÉRIGOS NA IGREJA 17

3.11. Celebrado das Exequias Eclesiásticas (art. 12)


Já que as práticas exequiais sao fecunda ocasiáo de pregacáo,
catequese e atividade pastoral, é para desejar que os sacerdotes e os
diáconos presidam pessoalmente os ritos fúnebres, para rezar pelos de-
funtos de maneira conveniente e aproximar-se das familias, levando a
estas a Boa-Nova de Cristo.
«Os fiéis nao-ordenados podem dirigir as exequias eclesiásticas
somente nos casos de verdadeira falta de um ministro ordenado e obser
vando as respectivas normas litúrgicas. Eles devem ser bem preparados
para essa tarefa, tanto do ponto de vista doutrinal como litúrgico».
3.12. Formacio adequada (art. 13)
«É dever da Autoridade competente, quando ocorra a objetiva ne-
cessidade de urna suplencia, nos casos ácima indicados, escolher o fiel
que seja de sá doutrina e de exemplar conduta de vida. Nao podem,
portanto, ser admitidos ao exercício destas fungoes os católicos que nao
vivem urna vida digna, que nao gozam de boa fama ou que se encontram
em situagóes familiares incoerentes com o ensinamento moral da Igreja.
Além disso, devem possuir a devida formagáo, para o cumprimento ade-
quado da fungao a eles confiada.
Segundo as determinagóes do Direito particular, aperíeigoem os seus
conhecimentos, freqüentando, na medida dopossível, os cursos de formagáo
que a Autoridade competente organizará no ámbito da Igreja particular. Sejam
esses cursos ministrados em ambientes distintos dos Seminarios, que devem
ser reservados exclusivamente aos candidatos ao sacerdocio, cuidando com
atengáo que a doutrina neles ensinada seja absolutamente conforme ao
magisterio eclesial e que o ambiente seja verdaderamente espiritual».
4. Conclusáo

Em seus parágrafos fináis, a Instrucáo insiste em que "é preciso


reconhecer, defender, promover, discernir e coordenar com sabedoriae
determinacáo o dom peculiar de cada membro da Igreja, sem confusáo
de papéis, de funcoes ou de condicóes teológicas e canónicas".
De outro lado, o texto salienta que o recurso a Ministros Extraordi
narios nao deve diminuir o zelo pastoral em prol das vocacoes sacerdo-
tais. Estas deveráo gozar sempre de estima prioritaria por parte dos Bis-
pos e pastores da Igreja.
Vé-se assim que a Igreja tenciona promover a participacáo dos
leigos ñas atividades litúrgicas e pastorais, sem contudo os clericarizar
ou evitando que se faca confusáo entre as funcoes dos leigos e as dos
clérigos. Todos tém a mesma dignidade de filhos de Deus e a mesma
vocacáo a. santidade, devendo esta ser atingida por aquela via que a
Providencia Divina queira assinalar a cada qual.

161
Fala o Evangelho:

DIVORCIADOS E RECASADOS

Em síntese: O Código de Direito Canónico promulgado em 1917


era muito severo em relagáo aos fiéis católicos divorciados e recasados,
por viverem em situagáo religiosamente irregular. A partir do Concilio do
Vaticano II, a Igreja, sem retocar a lei divina que proclama a
indissolubilidade de um matrimonio validamente contraído e consumado,
procura estimular tais fiéis a nao se afastarem do convivio da comunida-
de católica; procurem, antes, tomarparte em atividades da paróquia com-
patíveis com o seu estado; rezem e tudo fagam para educar os fiihos na
fé católica. É claro, porém, que nao podem ter acesso a Comunháo
Eucaristica, pois esta supóe o estado de graga, que a situagáo conjugal
desses fiéis excluí.

O artigo abaixo enuncia minuciosamente os itens que definem a


posigáo dos divorciados recasados frente a Igreja e examina as objegóes
levantadas contra a praxe da Igreja.

A situacáo dos fiéis católicos divorciados e recasados constituí um


dos mais graves problemas da Igreja em nossos dias. Sempre houve
dificuldade de desarmonia conjugal. Eis, porém, que atualmente se tor-
nam mais prementes, pois se tém multiplicado os casos. A Igreja está
atenta a tais situacóes e vem acompanhando os cónjuges infelizes com
especial zelo pastoral.

A seguir, seráo propostas 1) as principáis intervencóes do Magiste


rio neste particular; 2) os elementos essenciais da doutrina católica; 3) as
críticas levantadas contra essa doutrina e as respostas a Ihes ser dadas.
1. Os recentes Pronunciamentos do Magisterio

Ñas décadas de 1960 e 1970 o divorcio foi legalizado em varios


países de populacáo católica em sua maioria - o que tornou candente o
problema dos fiéis divorciados e recasados. O Direito Canónico promul
gado em 1917 e ainda vigente na época considerava tais cristáos como
pecadores públicos {canon 2356, § 1S), privados dos sacramentos da
Penitencia e da Eucaristía, enquanto vivessem conjugalmente. Verdade
é que já entáo se faziam ouvir vozes de clérigos, principalmente nos Es
tados Unidos, que julgavam demasiado severa tal legislacáo: lembravam
162
DIVORCIADOS E RECASADOS 19

a diversidade das situacóes e, principalmente, o caso daqueles cónjuges


divorciados recasados que tinham dúvidas fundadas a respeito da vali-
dade de sua primeira uniáo, mas nao podiam apresentar provas suficien
tes para iniciar um processo de declaracáo de nuiidade. Havia também
quem adotasse urna solucáo de foro meramente interno, afirmando que,
em certos casos e sob certas condicóes, o confessor poderia autorizar os
divorciados a receber os sacramentos da Penitencia e da Eucaristía.
Diante destes fatos, a Congregacáo para a Doutrina da Fé enviou,
aos 11/4/1973, urna Carta a cada Bispo, reafirmando a indissolubilidade
do matrimonio sacramental. Quanto ao problema dos que vivessem em
situacáo irregular, pedia que se observasse a doutrina vigente e lembra-
va "o possível recurso á praxe da Igreja no foro interno".
Tal Carta tinha por objetivo defender a indissolubilidade do matri
monio, ameagada por varios lados. Mas a expressáo "recurso á praxe da
Igreja no foro interno" se prestava a interpretacoes diversas. A Congre
gacáo para a Doutrina da Fé entendia-a no sentido de que os divorciados
recasados se poderiam aproximar dos sacramentos desde que passas-
sem a viver como irmáo e irmá e evitassem qualquer escándalo. Todavía
nao foi assim que muitos interpretaram os dízeres da Igreja: julgavam
que os fiéis recasados poderiam receber os sacramentos mesmo man-
tendo sua uniáo conjugal ilegítima; colocavam também o problema da
queles que estavam subjetivamente convictos da nulídade da sua uniáo
precedente.

Esses questionamentos vieram á tona no Sínodo Mundial dos Bis-


pos realizado em 1980. Como fruto das reflexóes ocorrentes nessa as-
sembléia, o Santo Padre Joáo Paulo II, aos 22 de novembro de 1981,
assinou a Exortacáo Apostólica Familiaris Consortio, que tracava dire-
trizes a ser observadas no tocante ao sacramento do matrimonio, inclusi
ve com referencia aos divorciados recasados.

Em 1983 foi promulgado o novo Código de Direito Canónico, que


confirmou a praxe vigente: nao se admitam á Comunháo Eucarística os
fiéis divorciados recasados {canon 915; o mesmo vale para os católicos
de rito oriental, conforme o Direito respectivo, canon 712). O Código de
1983 atribuí exclusivamente aos tribunais eclesiásticos a competencia
para examinar a validade do matrimonio dos católicos como também
estipula novos impedimentos que tornam nulo o casamento sacramen
tal. Tais impedimentos levam em conta a incapacídade psicológica, que
afeta nao poucos individuos, de assumir urna vida a dois em caráter vita
licio; sao ai considerados os diversos casos que ajudam a compreender
a crise e a angustia de muitos casáis.

Apesar das explícitas declaracoes de Familiaris Consortio, do

163
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

Catecismo da Igreja Católica (n9s 1650s) e documentos congéneres, havia


na Igreja quem estimulasse os divorciados recasados a receber a Comu-
nháo Eucarística, principalmente quando levassem vida fiel á sua nova
uniáo. Em 1993, os Bispos da Provincia Eclesiástica do Alto Reno (Ale-
manha) publicaram urna Carta Pastoral a respeito do acompanhamento
pastoral de pessoas infelizes em seu casamento, divorciadas e divorcia
das recasadas. Essa Carta reafirmava a indissolubilidade do matrimonio
frente a certa inseguranca e hesitacáo existente em algumas paróquias,
mas admitía que em certos casos se poderia dar a Comunháo Eucarística
a divorciados recasados que em sua consciéncia se julgassem aptos e
para tanto obtivessem o parecer favorável de um sacerdote prudente e
experimentado.

Tal atitude dos tres Bispos mencionados encontrou cá e lá ecos


positivos, mas suscitou outrossim a réplica de muitos prelados e organis
mos da Curia Romana que pediram á Congregacáo para a Doutrina da
Fé urna tomada de posicáo. Outras vozes, porém, pediam a abolicáo das
normas vigentes, em favor de maior liberalizacáo; assim, por exemplo,
alguns propunham que dos fiéis divorciados e recasados se exigisse um
período de reflexáo e penitencia, após o qual seriam readmitidos aos
sacramentos em geral. Outros ainda proclamavam que se deixasse a
decisáo á consciéncia dos interessados ou dos sacerdotes.

Diante deste cruzamento de sentencas, a Congregacáo para a Dou


trina da Fé houve por bem publicar urna Carta aos Bispos sobre a recep-
cáo da Comunháo Eucarística por parte dos fiéis divorciados e recasados,
com a data de 14/9/94. Tal documento reafirmava as normas clássicas
da Igreja para o caso.

Vejamos agora

2. Os Pontos Essenciais da Doutrina Católica

Pode-se compendiar em sete pontos a doutrina católica concernente


ao assunto.

1) Os fiéis divorciados recasados estáo em situacáo que con


trasta com o Evangelho.

Basta lembrar a palavra de Jesús em Me 10,11 s:

"Quem repudia a sua mulher e desposa outra, comete adulterio


contra ela; se a mulher repudia o marido e desposa outro homem comete
adulterio".

Em conseqüéncia, a Igreja afirma que ninguém, nem mesmo o


Papa, tem o poder de declarar nulo um matrimonio validamente contraí-
164
DIVORCIADOS E RECASADOS

do e consumado. Alias, a própria lei natural, impregnada no íntimo de


cada ser humano, rejeita o divorcio, isto é, a dissolucáo do casamento
com direito a novas nupcias. Do divorcio se distingue a separacáo conju
gal, que pode ser legítima, quando a vida matrimonial se torna muito
difícil ou insustentável.

2) Os fiéis divorciados e recasados continuam sendo mem-


bros da Igreja dentro da comunidade eclesial e devem experimentar
o amor de Cristo e o acompanhamento materno da Igreja.

As segundas nupcias de pessoas divorciadas privam da Comu-


nháo Eucarística, mas nao acarretam a excomunháo. Esta é urna pena
jurídica, de foro extemo, e priva, de modo geral, da comunháo com a
Igreja e nao apenas priva da Eucaristía.

A solicitude materna da Igreja deve estender-se a todos os filhos,


inclusive aos que vivem em situacáo irregular. A Igreja é chamada a pro
curar promover a salvacáo de todos. Daí as palavras de Joáo Paulo II:

"A igreja nao pode abandonar aqueles que, ligados pelo vinculo
matrimonial sacramental, passam a novas nupcias. Por isto Ela se esfor-
gará incansavelmente por colocar á sua disposigáo os meios de salva-
gáo" (Familiaris Consortio n9 84).

Nao sonriente os sacerdotes, mas também os fiéis leigos ou toda a


Igreja tém a obrigacáo de procurar fazer que os irmáos e irmás de vida
irregular nao se considerem separados da Igreja:

"A Igreja reze por eles, estimule-os, mostre-se Mae misericordiosa


e assim os sustente na fé e na esperanga" (ibd., nB 84).
Leve-se em conta que há diversas situacóes de cristáos divorcia
dos recasados: existem aqueles que passaram a novas nupcias depois
de haver tentado todos os meios possíveis para salvar seu casamento, e
existem aqueles que culpadamente destruíram seu matrimonio. Existem
aqueles que contraíram novas nupcias em vista da educacáo dos filhos
e, no momento, nao se podem separar. Existem também os que se
recasaram porque, em consciéncia, julgavam ter sido nulo o primeiro
casamento (embora nao pudessem provara nulidade). Porfim, há tam
bém aqueles que em sua nova uniáo descobriram os valores da fé e
perfazem urna caminhada religiosa de grande significado; cf. Familiaris
Consortio n9 84.

3) Na qualidade de cristáos batizados, os fiéis divorciados


recasados sao chamados a tomar parte ativa na vida da Igreja na medi
da em que isto seja compatível com a sua situacáo dentro da Igreja.
"Juntamente com o Sínodo, exorto vivamente os pastores e a intei-

165
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

ra comunidade dos fiéis a ajudar os divorciados, promovendo com carí-


dade solícita que eles nao se consideren) separados da Igreja, podendo
e, melhor, devendo, enquanto balizados, participar na sua vida. Sejam
exortados a ouvir a Palavra de Deus, a freqüentar o Sacrificio da Missa,
a perseverar na oragáo, a incrementaras obras de caridade e as iniciati
vas da comunidade em favor da justiga, a educar os filhos na fé crista, a
cultivar o espirito e as obras de penitencia para assim implorarem, dia a dia,
a graga de Deus. Reze por eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se máe miseri
cordiosa e sustente-os na fé e na esperanga" (Familiaris Consortio n3 84).

A pertenca á Igreja nao se manifesta apenas na freqüenta9áo da


Comunhao Eucarística. Existem varias possibilidades de participar da
vida da Igreja no campo extra-sacramental.

4) Em virtude da sua situacáo irregular, os fiéis divorciados


recasados nao podem exercer certas funcóes na comunidade cató
lica.

Tais funcóes seriam, entre outras, a de padrinho ou madrinha do


Batismo e da Crisma, pois tal tarefa implica dar testemunho de vivencia
católica aos afilhados, que necessitam de ver concretamente a fidelida-
de dos mais velhos.

Eis outras funcóes excluidas: a de ministros extraordinarios na Li


turgia, a de catequista, a de membro do Conselho Pastoral, pois tais encar
gos exigem lúcido testemunho de vida católica; sao funcóes de certo relevo,
que nao podem ser entregues aos que nao vivem integralmente segundo o
Evangelho, pois isto poderia suscitar confusáo no povo de Deus.

Estas restricóes nao implicam injusta discriminacáo, mas sao conse-


qüéncias naturais da situacáo em que se acham os fiéis divorciados
recasados.

5) Desde que os divorciados recasados deixem seu estado ir


regular, separando-se ou vivendo em plena continencia, podem ser
readmitidos aos sacramentos.

Para receber o sacramento da Reconciliacáo, que no caso é a úni


ca via para a Comunhao Eucarística, requer-se que o fiel faca o propósito
de nao tornar á vida irregular. Isto implica que o(a) penitente se separe
do(a) ilegítimo(a) consorte ou, caso nao seja possível (por causa dos
filhos ou por outras razóes), deixe de ter relacóes sexuais; cf. Familiaris
Consortio n9 84.

No caso de voltarem aos sacramentos, os dois interessados deve-


rao procurar evitar mal-entendidos ou escándalos por parte do povo de
Deus.

166
DIVORCIADOS E RECASADOS 23

6) Os divorciados recasados que estáo convictos da nulidade


de seu precedente casamento, devem regularizar sua situacáo por
vias de foro externo, ou seja, por vias jurídicas.

O casamento é urna realidade pública que afeta tanto a Igreja quanto


a sociedade civil. Por isto o consentimento matrimonial nao é um ato
meramente privado, mas cria urna situacáo de caráter social. Por isto
nao compete á consciéncia de cada um julgar, na base de suas convic-
cóes, se o respectivo casamento foi válido ou nao e daí tirar conclusóes
de ordem pública e prática, contraindo novas nupcias.

Por isto a experiencia da Igreja atribui aos tribunais eclesiásticos o


exame da validade dos casamentos dos fiéis católicos.

7) Os divorciados recasados nunca devem perder a esperanca


de obter a salvacáo eterna.

Diz o Papa Joáo Paulo II em Familiaris Consortio n2 84:

"Com firme confianga a Igreja eré que mesmo aqueles que se afas-
taram dos mandamentos do Senhor e vivem atualmente nesse estado,
poderáo obter de Deus a graga da conversáo e da salvagao, se perseve
raren) na oragao, na penitencia e na caridade".

Embora nao possa aprovar formas de vida contrastantes com a


Palavra do Evangelho, a Igreja nao deixa de amar seus filhos em situa
cáo matrimonial irregular. Ela compreende seus sofrimentos e dificulda-
des e acompanha-os com ánimo materno, procurando fortalecé-los na fé
e incutir-lhes a confianga na misericordia de Deus, que tem ampios re
cursos para levar os homens á salvacáo eterna.

Faz-se oportuno agora examinar as principáis críticas levantadas


contra a doutrina da Igreja.

3. As Críticas

Sao sete as principáis objecoes levantadas contra a doutrina da


Igreja.

1) A Escritura permite flexibilidade

Há quem aponte os textos de Mt 5,32 e 19,9, em que Jesús parece


abrir urna excecáo em favor de separacáo e novas nupcias. Eis os dize-
res do Senhor:

"Eu vos digo: todo aquele que repudia a sua mulher, a nao ser por
motivo de pornéia1, faz com que ela adultere e aquele que se casa com

1 A palavra grega pornéia é o cerne da discussáo. O seu significado será explanado


a seguir.

167
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

a repudiada comete adulterio" (Mt 5,32, idéntico a Mt 19,9).

A propósito, note-se quanto segué:

Consta dos textos do Novo Testamento que o matrimonio é


indissolúvel, como se depreende das citagóes seguintes:

Me 10,11s: Disse Jesús: 'Todo aquele que repudia a sua mulhere


desposa outra, cometerá adulterio contra a primeira; e, se essa repudiar
o seu marido e desposar outro, cometerá adulterio".

Le 16,18: 'Todo aquele que repudiar a sua mulher e desposar ou


tra, comete adulterio; e quem desposar urna repudiada por seu marido,
cometerá adulterio".

1Cor 7,10: "Quanto aqueles que estáo casados, ordeno nao eu,
mas o Senhor: a muihernao se separe do marido; se, porém, se separar,
nao se case de novo ou reconcilie-se com o marido; e o marido nao repu
die a esposa".

Rm 7,2s: "A mulher casada está ligada por leí ao marido enquanto
ele vive; se o marido vier a falecer, ela (icará livre da lei do marido. Por
isso, estando vivo o marido, ela será chamada adúltera se for viver com
outro homem. Se, porém, o marido morrer, ela ficará livre da lei, de sorte,
que, passando a ser de outro homem, nao será adúltera".

Como se vé, as afirmacóes sao peremptórias.

Verdade é que as passagens de Mt 5,32 e 19,9 sao interpretadas


pelos cristáos cismáticos do Oriente e pelos protestantes como se auto-
rizassem o divorcio em caso de adulterio. Verifica-se, porém, que tal in-
terpretacáo nao condiz com os textos paralelos de Me 10,11 s e Le 16,18,
em que Jesús ensina irrestritamente a indissolubilidade do matrimonio
(omitida a cláusula de adulterio); supoe, além disto, haja Sao Paulo ordena
do em nome do Senhor o contrario do que o Senhor mesmo preceituou.

Já estas consideracoes tornam a interpretacáo divorcista dos tex


tos de Mt assaz suspeita, se nao impossível; o Evangelho tem que ser
explicado pelo Evangelho e pela Escritura Sagrada em geral. Ora nao
resta dúvida de que S. Marcos, S. Lucas e S. Paulo nos transmitem a
genuína mente do Senhor.

Por conseguinte, como entender os textos de Mt 5 e 19?

A interpretacáo mais provável é a seguinte:

Baseados sobre erudito aparato de filología bíblica e extrabíblica


assim como de jurisprudencia rabínica, os estudiosos concluem que o
termo grego pornéia corresponde ao termo aramaico zenut, que signifi-
168
DIVORCIADOS E RECASADOS _25

ca uniáo incestuosa. No caso, compreende-se que a separacáo seja nao


somente tolerável, mas desejável. Jesús ter-se-ia referido a zenut, pois
este termo significa a uniao ilegítima, por motivo de parentesco proibido
pela Lei de Moisés (cf. Lv 18.1-24)1.
É de crer que ñas antigás comunidades cristas houvesse unioes
matrimoniáis proibidas pela Lei de Moisés, mas toleradas pelos cristáos
provenientes do paganismo; estas unioes deveriam causar dificuldades
á boa convivencia de cristáos provenientes do judaismo e do paganismo.
Daí a ordem - auténticamente atribuida a Jesús - de romper tais unióes
irregulares, que nao eram senáo falsos casamentos.

Em At 15,20.29; 21,25 lé-se que os cristáos provenientes do paga


nismo tendiam a tolerar aigumas unioes matrimoniáis que Lv 18 julgava
ilícitas. Ora isto escandalizava os judeocristáos; por isto o decreto dos
Apostólos no fim do Concilio de Jerusalém em 50 assim rezava:

"Os Apostólos e os andaos, vossos irmáos, aos irmáos dentre os


gentíos que moram em Antioquia, na Siria e na Cuida, saudagóes!... Pa-
receu bem ao Espirito Santo e a nos nao vos impor nenhum outro peso
além destas coisas necessárias: que vos abstenhais das carnes ¡mota
das aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e das unioes ilegiti
mas. Paréis bem preservando-vos de tais coisas. Passai bem" (At
15,23.28s). Ver At 21,25.

Isto quer dizer que os cristáos provenientes do paganismo estari-


am dispensados de observar a Lei de Moisés, mas, para manter a boa
paz com seus irmáos judeocristáos, deveriam observar as quatro cláusu
las discriminadas, entre as quais a abstencáo de pornéia ou das unioes
conjugáis que a Lei de Moisés tinha como ilícitas.

2) A tradicáo dos Padres (ou antigos escritores) da Igreja justi


fica urna praxe menos severa

Alega-se que os Padres da Igreja, embora sustentassem o princi


pio geral da indissolubilidade, toleraram excecóes de acordó com as
modalidades de cada caso.

1 Eis os impedimentos que podem vir ao caso:


"Nao descobrírás a nudez da irmá de teu pai, pois é a carne de teu pai.
Nao descobrírás a nudez da irmá de tua máe, pois é a própria carne de tua máe.
Nao descobrírás a nudez do irmáo de teu pai; nao te aproximarás, pois, de sua espo
sa, visto que é a mulher de teu tio.
Nao descobrírás a nudez de tua ñora. É a mulher de teu filho e nao descobrírás a
nudez déla.
Nao descobrírás a nudez da mulher de teu irmáo, pois é a própria nudez de teu
irmáo- (Lv 18,12-16).

169
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

- Em resposta, deve-se notar que as declaracóes dos Padres que


parecem reconhecer um segundo matrimonio em certos casos, sao pou-
cas, de modo que nao perfazem urna convergencia doutrinária. Por isto
nao podem ser tomadas como criterio determinante para a doutrina e a
disciplina da Igreja. Nenhum Bispo e nenhum escritor da Igreja antiga
autorizou, na base de Mt 5,32, um homem a casar-se de novo após adul
terio cometido pela esposa. De modo geral, os textos que parecem abrir
excecóes ao principio da indissolubilidade conjugal na base de Mt 5,32,
sao passagens obscuras e imprecisas, que podem ser interpretadas de
maneiras diferentes.

3) A Igreja Ortodoxa Oriental aceita o divorcio


Com efeito; as comunidades orientáis separadas da Igreja Católi
ca, em certos casos e após certo tempo de penitencia, admitem segun
das e, as vezes, terceiras nupcias.

- Em resposta, a Igreja Católica nao vé fundamento nem na Biblia


nem na Tradicáo para se adequar á praxe dos cristaos ortodoxos orien
táis. Além do qué, há historiadores que julgam que a praxe oriental pode
decorrer da dependencia dos cristaos ortodoxos em relacao ao Impera
dor bizantino.

4) Aceite-se a afirmacáo feita em consciéncia por cónjuges in-


felizes a respeito da nulidade do seu matrimonio
Dadas as dificuldades de provar a nulidade no foro externo, a Igre
ja deveria reconhecer as alegacoes feitas em consciéncia pelos cónju
ges infelizes.

- Como dito, o matrimonio é de público interesse, de modo que é


contraído publicamente e, quando necessário, é declarado nulo por vias
públicas ou por instancias de foro externo. O novo Código de Direito
Canónico ampliou o número de impedimentos que tornam nulo o casa
mento, levando em conta especialmente os casos de despreparo ou inep
cia psicológica, que freqüentemente sao alegados por cónjuges infeli
zes; tais situacoes sao consideradas com seriedade e objetividade pelos
tribunais eclesiásticos, de sorte que se pode crer que nao deixa de ser
atendida nenhuma peticáo baseada sobre argumentos de ordem psico
lógica ou mais íntima. A Santa Sé deseja que haja agilizacáo dos proces-
sos, evitando-se a molesta duracao dos mesmos.
Também se pleiteia na Igreja mais adequada preparacáo dos jo-
vens para o casamento, a fim de tentar minorar pela raiz os males decor-
rentes de casamentos precipitados e levianamente contraídos.
5) O matrimonio morre quando o amor morre
O matrimonio é um contrato entre homem e mulher, por ¡sto tem
170
DIVORCIADOS E RECASADOS 27

um aspecto jurídico, que interessa á sociedade. Mas também tem seu


lado humano, pessoal, que nem sempre coincide com o aspecto jurídico.
Daí pleiteia-se a dissolucáo do casamento quando o relacionamento hu
mano amoroso perece.

- Em resposta, deve-se dizer que nao há oposicao entre o jurídico


e o pessoal do matrimonio. As normas jurídicas, deixadas a sos, podem
ser cegas e sufocadoras. Mas também os valores pessoais, subjetivos,
deixados a sos, podem ser deletérios ou perturbadores da ordem social.
Desde que esteja incorporado numa sociedade, já nao me posso reger
apenas por meus anseios pessoais e subjetivos, mas tenho que observar
normas objetivas que garantem o bem comum, para o qual devo colabo
rar na medida em que sou membro de tal sociedade.

Por isto nao se pode sobrepor o aspecto pessoal subjetivo ao as


pecto jurídico. Mas deve-se procurar promover o entrosamento de um e
outro. A harmonía entre valores subjetivos e valores objetivos é indispen-
sável em qualquer sociedade,... também na sociedade matrimonial.

6) A Igreja deveria aplicar o principio da epiquéia ou da dis


pensa da lei aos casos de matrimonio fracassado

- Existe, de fato, o principio da epiquéia ou a dispensa (bem pon


derada) para todas as leis humanas. O legislador que faz a lei, ou seu
delegado, pode dispensar da lei, visto que nenhuma lei humana é capaz
de prever todos os casos e situacóes. Toda lei tem sua letra e tem seu
espirito (que é a intencáo concebida pelo legislador ao formular a letra da
lei); o espirito da lei pode exigir que se dispense ou se ponha de lado a
letra da lei, para que se cumpra o designio do legislador encarregado do
bem comum.

Todavía a indissolubilidade conjugal depende nao de lei humana; é


de direito divino explicitado pelo Senhor Jesús: "O que Deus uniu, o ho
mem nao o separe" (Me 10,9). Daí nao poder a Igreja recorrer á epiquéia
para dissolver casamentos válidos, mas infelizes.

7) A linguagem da Igreja é demasiado jurídica e nao suficiente


mente pastoral

- Nao se deve estabelecer antítese entre a lei, de um lado, e, de


outro lado, a compreensáo humana ou pastoral. Está claro que a lei é
feita para o homem ou para o bem da pessoa humana; deve promover o
ser humano e nao o sufocar. É notorio, porém, que o bem da pessoa
humana nem sempre coincide com a satisfacáo de suas tendencias ou
impulsos espontáneos; a natureza humana por vezes tende a certos bens
aparentes ou ilusorios, a tal ponto que o Apostólo Sao Paulo podia dizer:
171
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

"Nao fago o bem que eu quero, mas pratico o mal que nao quero"
(Rm 7,19).

Conseqüentemente a lei de Deus, de que a Igreja é porta-voz, coibe


certas tendencias da natureza humana, entre as quais a de realizar mais
de um casamento ou de ter por dissolvido um casamento válido com
perspectivas de novas nupcias. A lei, especialmente a lei de Deus, nao
pode ser adaptada a certas iniciativas pastorais que contradigan! frontal-
mente ao preceito do Senhor. É o que nota o Papa Joáo Paulo II na sua
encíclica Veritatis Splendor n9 56:

"Há quem proponha urna especie de duplo estatuto da verdade


moral. Para além do nivel doutrínal e abstrato, seria necessário reconhe-
cera oríginalidade de urna certa cqnsideragáo existencialmais concreta.
Esta, tendo em conta as circunstancias e a situagao, poderia legitima-
mente estabelecer excegoes á regra geral, permitindo desta forma cum-
prir praticamente, em boa consciéncia, aquilo que a lei moral qualifica
como intrínsecamente mau. Oeste modo, instalase, em alguns casos,
urna separagao, ou até oposigáo entre a doutrina do preceito válido em
geral e a norma da consciéncia Individual, que decidiría, de fato, em últi
ma instancia, o bem e o mal. Sobre esta base, preténdese estabelecer a
legitimidade de solugóes chamadas "pastorais", contrarias aos
ensinamentos do Magisterio, e justificar urna hermenéutica "criadora",
segundo a qual a consciéncia moral nao estaría de modo algum obriga-
da, em todos os casos, por um preceito negativo particular.

É impossfvel nao ver como, nestas posigóes, é posta em questáo a


identidade mesma da consciéncia moral, face á liberdade do homem e a
lei de Deus. Apenas o esclarecimento precedente sobre a relagao entre
liberdade e lei, apoiada na verdade, torna possível o discernimento acer
ca desta interpretagáo "criativa" da consciéncia".

Além destas observacóes, faz-se mister ainda lembrar que as nor


mas da Igreja referentes a pessoas divorciadas e recasadas nao sao
apenas jurídicas, mas, sem ceder nos pontos intocáveis, desejam incen
tivar tais fiéis á esperanca e á confianca em Deus; a Igreja os convida a
participar de atividades da paróquia e a viverem urna vida de oracáo as-
sídua, que os alimente na fé e os ajude a educar os filhos segundo os
principios do Evangelho, como dito atrás.

Eis o que ocorre observar no tocante á situacao dos fiéis divorcia


dos e recasados frente á Igreja. Esta nao os quer traumatizar com seve-
ridade despropositada, mas deseja vivamente que nao percam o ánimo
nem se afastem do convivio da comunidade eclesial.

172
Em vista do Diálogo Religioso:

CALENDARIO DAS FESTAS DAS RELIGIÓES


ABRAÁMICAS1

Em síntese: O artigo propóe as festas religiosas dos judeus, dos


mugulmanos e dos cristáos ortodoxos, explicando brevemente o sentido
de cada qual. Segue-se a lista das festas litúrgicas do Catolicismo. A
finalidade destes elencos é favorecer o diálogo religioso, que, ao menos
entre católicos e judeus, se vai tornando sempre mais freqüente.
* * *

O fiel católico ouve falar das festas judaicas, especialmente das


que ocorrem em setembro/outubro de cada ano. Ouve falar também,
embora menos, das festas islámicas (especialmente do Ramada), mas
sente-se talvez desorientado por nao conhecer a fundo o calendario reli
gioso judaico e o maometano. Eis por que parece oportuno oferecer ñas
páginas subseqüentes um breve percurso das principáis festas judaicas
e maometanas, as quais se seguirao as do calendario cristáo ortodoxo
(oriental) e as do calendario católico.

1. Calendario Judaico

1.1. Roch Hachaná

19 día do mes de Tichri: inicio do novo ano

1998:21/09 1999:11/09 2000:30/09


Os judeus comemoram nesse dia "o primeiro dia da criacáo do
mundo". Ao mesmo tempo, consideram o último dia da historia ou o dia
do juízo final. Rezam para que o destino de cada um seja assinalado pela
misericordia divina e por um julgamento favorável.
A festa dura dois dias. No primeiro léem-se ñas sinagogas o livro
do Génesis, capítulo 21 (o nascimento de Isaque) e o 1S de Samuel, cap.
19 (o nascimento de Samuel). No segundo dia léem-se Génesis 22 (o
sacrificio de Isaque) e Jeremías 31,1-20 (o pranto de Raquel e o cántico
da esperanca).

Um ponto alto da Liturgia é o toque do chofar (chifre) para lembrar

1 Religióes abraámicas sao as que reconhecem o Patriarca Abraáo: o Judaismo, o


Cristianismo e o Islamismo.

173
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

a misericordia divina e despertar os coracoes para a confissáo dos peca


dos. Anuncia-se a ressurreicáo dos mortos e o juízo final.
Os dez dias seguintes, chamados "Dias Terríveis" (Yammim
Noraim), sao dias de arrependimento, reparacáo das faltas cometidas e
reconciliacao com o próximo.

1.2. Yom Kippur

10Q dia do mes de Tichri: día da Expíacáo e do Perdao


1998:30/09 1999:20/09 2000:09/10

Este dia encerra o período precedente. Marcado pela penitencia e


absoluto jejum. Compreende cinco oficios solenes, desde a véspera á
tarde. As oracoes imploram o perdao de Deus para as faltas cometidas e
pedem a isencao de pecado para o novo ano. Cada fiel confessa em alta
voz as suas transgressoes ocorridas no ano findo e se prostra no solo,
invocando o nome do Todo-Poderoso.

De manhá léem-se Levítico 16 (o Bode Expiatorio) e Isaías 57,14-


58,14. Ao meio-dia, Levítico 18 e o livro de Joñas. O dia termina com o
oficio de Neila, o fechamento das portas (do Templo), que é um dos ofi
cios mais comoventes da sinagoga.
1.3. Sukkot

15 do mes de Tichri: festa dos Tabernáculos ou das Tendas


1998:05/10 1999:25/09 2000:14/10
É festa alegre após a austeridade das datas anteriores. Logo no
dia seguinte ao Kippur, constrói-se a Sukkah ou tenda, que lembra os
quarenta anos passados em tendas no deserto e a precariedade da vida,
considerada como peregrinacao. Os fiéis se colocam dentro das tendas,'
ornamentadas com folhagens durante urna semana e ai recebem visitan
tes e amigos.

Sukkot é também a festa da colheita dos frutos do outono. Os ju-


deus rezam, tendo em máos um ramalhete de quatro tipos de planta de
significado simbólico.

No 19 dia léem-se Levítico 22,26-23,44 e Zacarías 14,2-21, pedin-


do a salvacáo e a ressurreicáo dos mortos. Tal festa é mencionada em
Joáo 7,2.

1.4. Simhat Torah: Alegría da Tora ou da Lei


1998:13/10 1999:03/10 2000:22/10
No oitavo dia da oitava das Tendas, celebra-se a festa da Alegría
da Tora, com cantos e dancas exuberantes ñas sinagogas iluminadas.
174
CALENDARIO DAS FESTAS DAS RELIGIÓES ABRAÁMICAS 31

Termina-se a leitura anual da Tora com os capítulos 33 e 34 do Deu-


teronómio. Comeca-se novo ciclo de leitura da Tora a partir de Génesis 1.
1.5. Hanukká
25 do mes de Kislev: festa da Dedicacáo do Templo, que os sirios
profanaram

1998: 14/12 1999: 04/12 2000: 22/12


Comemora-se a Purificacáo e Dedicacáo do Templo profanado por
Antíoco IV Epifánio, rei dos sirios. Celebra-se também a Vitoria dos ir-
máos macabeus sobre o mesmo em 164 a.C.
É também dita "a Festa das Luzes", pois durante oito dias acende-
se, ao anoitecer, urna das lamparinas de um candelabro de oito bracos,
erñ memoria do milagre do óleo, assim concebido: no dia da Dedicacáo
do Templo por Judas Macabeu, encontraram no santuario devastado
apenas um pequeño frasco de óleo para realizar a consagracáo do altar,
ao passo que seriam necessários ao menos oito frascos. Nao obstante,
comecaram a cerimónia e, á medida que se retirava óleo do frasco, ele
se enchia de novo.

Nao se confunda o candelabro de oito bracos com a Menorá ou


candelabro de sete bracos do Santuario.
Hannuká é urna festa alegre para as criancas, que recebem pre
sentes, como os cristáos os recebem na festa de Natal.
1.6. Purim

14 do mes de Adar: festa de Ester


1998:12/03 1999:02/03 2000:21/03
Esta festa comemora a libertacáo do povo judeu ameacado de ex
terminio na Diáspora persa do século V a.C A numerosa comunidade
judaica foi repentinamente condenada a perecer por um decreto do rei
Assuero, instigado por seu vizir (Ministro) Ama. Tendo lancado as sortes
(purim), o monarca escolheu o dia 13 de Adar (12S mes) para que o povo
persa se atirasse sobre os judeus a fim de os matar. Aconteceu, porém,
que Mardoqueu, judeu domiciliado na Pérsia, pediu á sua sobrinha Ester,
lotada no palacio do rei, que intercedesse pelo seu povo. Ester o fez e
obteve nao somente a revogacáo do decreto de Assuero, mas também a
permissao para que os judeus se vingassem dos persas na data prevista
para o exterminio dos israelitas.

Em Purim lé-se o livro de Ester. Há grande júbilo entre os fiéis, que


realizam ceias festivas, com presentes para as criancas, os amigos e os
pobres. Em certas regióes da Europa as criancas se vestem de fantasías
como no Carnaval.

175
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

1.7. Pessah (Páscoa)

15 do mes de Nisá: Páscoa1

1998: 11/04 1999: 19/04 2000: 20/04

É a maior das testas judaicas, que, com Chavuot e Sukkot, com-


poe o auge do ano litúrgico de Israel. Na véspera, ou seja, a 14 de
Nisá celebra-se a Ceia ou Seder em memoria da saída do Egito. Cada
judeu se considera entáo como se tivesse ele mesmo deixado o cati-
veiro egipcio.

O ritual da Ceia prescreve que em cada familia se imole um cordei-


ro, acompanhado de ervas amargas (lembrando a amargura da escravi-
dáo no Egito), agua salgada (que recorda as lágrimas entáo derrama
das), um molho especial e pao ázimo ou nao fermentado. Sao oferecidas
quatro tacas de vinho; a quinta, de que ninguém bebe, é reservada para
o profeta Elias, precursor do Messias, segundo os judeus.

A festa é celebrada durante oito días. No primeiro dia léem-se Éxodo


12,21-51 e Josué 5. No oitavo dia léem-se Deuteronómio 15,19-16,17;
Isaías 10,32-12,6. Todo o livro de Cántico dos Cánticos é relido, pois
celebra a alianca nupcial entre Javé e a Filha de Sion.
1.8. Chavuot

6 do mes de Sivá: Festa das Semanas ou Pentecostés


1998:31/05 1999:25/05 2000:09/06

Cinqüenta días após Páscoa, festa da saída do Egito, comemora-


se a chegada ao monte Sinai e a entrega da Lei a Moisés (Natán Torah).
E também a festa das primicias da messe, que eram levadas ao Templo
com grande solenidade.

No primeiro dia léem-se Éxodo 19 e Ezequiel 1. No segundo dia,


Habacuque 3. O livro de Rute é lido por inteiro.
1.9. Tisha Be Av

10 do mes de Av: destruicáo do Templo de Jerusalém


1998: 1e/08 1999: 22/07 2000: 10/08

O Templo foi destruido duas vezes, sendo a primeira vez em 586


a.C. e a segunda em 70 d.C. Estes fatos sao comemorados com grande
luto e jejum, estendendo-se a tristeza á recordacáo de outros eventos
trágicos da historia de Israel: massacres, exilio e a Choah ou o Holocausto
de 1933 a 1945.

1 A data de Páscoa é calculada segundo éxodo 12,1-3.

176
CALENDARIO DAS FESTAS DAS REUGIÓES ABRAÁMICAS 33

Lé-se o livro das Lamentacóes do profeta Jeremías.

2. Calendario Muculmano

2.1. Moharram

1S día de Moharram: dia do Novo Ano

1998:28/04 1999:17/04 2000:06/04

Comemora-se a migracáo de Maomé, que, partindo de Meca, foi


para Medina em 622, dando inicio á era muculmana ou hegira.

Já aos dez anos de idade, Maomé ou Muhammad ouviu (como se


diz) o anjo Gabriel a Ihe revelar a Palavra de Deus. A fé monoteísta assim
incutida chocava-se com as crencas tradicionais politeístas dos maiorais
de Meca. Maomé, feito adulto, resolveu entáo deixar esta cidade e foi-se
refugiar ñas grutas do monte Hira; depois passou para Medina, onde
formou a sua primeira comunidade ou Umma.

A festa recorda assim o nascimento do Isla. Os muculmanos reú-


nem-se entáo ñas mesquitas para renovar sua fidelidade ao Coráo e ao
seu profeta, lembrados de que está escrito: "Expulsam o Profeta e a vos
também, porque credes em Deus nosso Senhor" (Coráo LX 4).

2.2. Achura

10 do mes de Moharram: a comemoracáo de Hussein

1998:07/05 1999:26/04 2000:15/04

Celebra-se neste dia a morte de Hussein, neto do profeta. Os sunitas


0 fazem com regozijo, ao passo que os chutas com sofrimento e luto. Na
verdade, foi por ocasiáo da morte de Hussein em 683 que se deu a rup
tura entre uns e outros. Tal foi a seqüéncia dos acontecimentos:

Ali, o genro de Maomé, recusou reconhecer como Califa o Gover-


nador da Siria e foi assassinado em 661.0 seu filho Hussein continuou a
revolta de Ali e dos "legitimistas", que passaram a se chamar "chutas" ou
"partidarios". Hussein caiu morto no campo de batalha de Karbala; ferido
por urna flecha, tinha nos bracos o seu filho ainda criancinha. Karbala no
1 raque ficou sendo lugar de peregrinacao dos chutas do mundo inteiro,
aos quais se opóem os sunitas.

Na véspera da comemoracáo, longas procissóes percorrem as rúas,


tendo á frente grupos de penitentes, que se flagelam as costas até o
sangue com chicotes de ferro, para se associar ao martirio de Hussein.
Encabecando a procissáo, vai sempre o portador de urna lanca, á qual
está afixada urna máo aberta, que simboliza os cinco primeiros imás:
Muhammad, Ali, Fátima, Hassan e Hussein.

177
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

Os sunitas celebram tal dia festivamente, comemorando outrossim


algumas grandes ¡ntervencóes de Deus na historia: a saída de Noé inclu
so na Arca, após o diluvio, a travessia do mar Vermelho por obra de
Moisés...

2.3. Mulud

12 do mes de Rabié: Nascimento de Maomé

1998:07/07 1999:26/06 2000:15/06


O aniversario do nascimento de Maomé é convencionalmente co
locado no dia de Mulud ou Mawlid al-nabi. A importancia desta testa foi
crescendo, apesar da oposicáo de alguns ulemás.
2.4. Mi'radj

27 do mes de Rajab: Ascensáo de Maomé


1998:17/11 1999:06/11 2000:26/10

Diz-se que Moamé subiu aos céus por meio de urna escada celes
te, num rapto dito Isra ou Viagem Noturna, a partir do Rochedo de Jeru-
salém conservado visível no centro do Domo da Rocha, também chama
do Mesquita de Ornar. O anjo Gabriel terá despertado e acompanhado
Maomé. Este nos céus encontrou os profetas, com quem rezou, visitou
os sete céus, como dizem; também terá encontrado a Deus, com quem
haverá conversado a respeito das oragóes cotidianas, sendo que Moisés
tomou parte no debate (como dizem). Por fim terá retornado a Meca.
2.5. Ramada

19 do mes de Ramada: o Grande Jejum

1998: 1e/01 1999: 10/12 2000:29/11


O Ramada é urna das cinco pilastras da observancia muculmana.
Durante um mes inteiro o fiel nao pode comer, beber, fumar e ter relacoes
sexuais desde o nascer do sol até o poente. Isto nao é tido como prática
de penitencia, mas como autodominio, á semelhanca do que fazem os
jovens hinduístas e budistas.

No fim de cada dia, o fiel é convidado a ir á mesquita a fim de fazer


a oragáo da noite com vinte prostracóes, recitar urna parte do Coráo e
ouvir o sermáo de um mollah. Após a oracao, a familia se reúne com
amigos para fazer urna refeicáo.
2.6. Leilat Al Qadr

27 do mes de Ramada

1998:27/01 1999:06/01 2000:25/12

178
CALENDARIO DAS FESTAS DAS RELIGIÓES ABRAÁM1CAS 35

O maometano deve acabar a recitacáo ou a escuta do Coráo intei-


ro na noite de 26 para 27 do mes lunar de Ramada. Nessa noite celebra
se a noite em que o anjo Gabriel desceu para revelar a Maomé a palavra
de Allah. O profeta fora meditar, conforme seus hábitos, numa das grutas
tranquilas do monte Hir, perto de Meca, quando o anjo comecou a Ihe
ditar o Coráo. Conta-se que anualmente Maomé retornava a esse lugar
bendito, chamado "monte de Luz", para recordar em seu coracao todas
as palavras que o anjo Ihe dirigirá durante o ano.

Todos os muculmanos, naquela noite, se esforcam por imitar o pro


feta. Após a oracáo, sao distribuidos doces as chancas para que
compreedam quáo doces sao as palavras dos anjos.

2.8. Aid El Fitr

19 dia do mes de Chual: fim do Jejum

1998:30/01 1999:09/01 2000:28/12

Celebra-se com entusiasmo a quebra do jejum, também dita Aid al


Saguír, "a pequeña festa", após a ocorréncia de urna Nova Lúa, ansiosa
mente desejada.

É necessário entáo que cada maometano saia de casa e se dirija a


um muro construido para se fazer oracáo junto a ele, com todos os cren-
tes do quarteiráo. Cada qual, rico ou pobre, se coloca em fila, segundo a
ordem de sua chegada. As pessoas chegam por urna estrada e voltam
por outra, a fim de permitir aos mendigos que se apresentem para rece-
ber esmola.

O dia é marcado por demonstracóes de alegría, troca de congratu-


lacóes e distribuigáo de balas, principalmente ás criancas. Na Turquía é
dito "Festa do Acucar".

2.9. Aid El Kebir

10 do mes de Dhul Hidja: Festa da Submissáo a Deus

1998:08/04 1999:28/03 2000:16/03

Esta festa comemora a submissáo de Abraáo, a quem Deus pediu


que fosse ¡molar o seu filho Ismael no monte Marwah (como dizem) junto
a Meca. Corresponde á Jornada da Grande Peregrinacáo dos peregrinos
reunidos perto de Meca no vale da Mina.

Nesse dia cada familia muculmana deve sacrificar um carneiro


segundo um ritual minucioso, para o repartir entre os seus membros;
oferece algo aos amigos e, principalmente, ás pessoas mais desprovi-
das. A pele do animal é vendida e o dinheiro dado aos pobres.

179
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

Antes de realizar este sacrificio, todos os muculmanos devem reu-


nir-se ao ar Hvre ou numa mesquita, para fazer longa prece de louvor e
renovar sua submissáo total ao Deus único, e sua solidariedade para
com todo o povo de Deus.

É também este o dia em que, ao menos urna vez na vida, todo


muculmano deve iniciar sua peregrinacáo a Meca.

A reuniáo de fiéis assim efetuada, com exclusáo de nao crentes,


prefigura a assembléia no dia do juízo final. É o Hdj.
3. Calendario Cristáo Oriental Ortodoxo1

Trata-se dos cristaos orientáis que se separaram da Santa Sé, mas


também cristaos unidos a Roma pertencentes a ritos orientáis (bizantino,
sirio, caldeu, melquita...). Muitas festas sao comuns a todos os cristaos;
os ortodoxos, porém, tém suas festas próprias, como também os católi
cos latinos as tém.

3.1. A Santa Teofania de Nosso Senhor Deus e Salvador Jesús


Cristo

06/01

É esta urna das grandes festas litúrgicas dos cristaos orientáis, tam
bém chamada "Festa da Epifanía"; nao celebra propriamente algum evento
especial, mas, sim, a Encarnacáo do Verbo e a sua manifestacáo (ou
Teofania ou Epifanía) entre os homens; sao considerados aspectos des-
sa manífestacao na medida em que sao epifanías do Verbo: o nascimen-
to de Jesús, o anuncio aos pastores, a vocacáo dos magos, o Batismo de
Jesús, o milagre de Cana...

As comunidades orientáis celebram tal festa desde o inicio do sé-


culo IV.

3.2. O Domingo do Fariseu

109 domingo antes da Páscoa

1998: 08/02 1999: 31/01 2000: 20/02

A Igreja propoe aos seus fiéis urna licáo de humildade, lendo e


comentando a parábola do fariseu e do publicano, que foram rezar no
Templo; cf. Le 18,10-14. Quer assim preparar a comunidade para o perí
odo de austeridade que é a Quaresma; as boas obras háo de ser acom-
panhadas por profunda humildade.

1 A designagáo "ortodoxos" se deve ao fato de que tais cristaos permaneceram fiéis


á reta fé nos séculos ameagados por graves heresias trinitarias e cristológicas, ou
seja, até o século Vil.

180
CALENDARIO DAS FESTAS DAS RELIGIÓES ABRAÁMICAS 37

3.3. A Semana dos Laticínios

7S Semana antes da Páscoa


Este período preparatorio para a Quaresma data do século IV; o
jejum quaresmal foi entrando aos poucos na praxe do povo de Deus. A
partir da segunda-feira de tal semana, é proibido o uso da carne, mas
continuam lícitos os laticínios e os ovos, que somente a partir da segun
da-feira da primeira semana da Quaresma se tornam proibidos.
3.4. Quaresma

A partir da sexta semana antes da Páscoa


1998: 02/03 1999: 22/02 2000: 13/03
Na segunda-feira da sexta semana antes da Páscoa, comeca a
Quaresma. Os fiéis sao convidados a se purificar interiormente mediante
jejum rigoroso e assídua oracáo. No domingo, dia do Senhor, nao se
observa o jejum.

3.5. Triunfo da Ortodoxia

Domingo dos Santos icones: 69 Domingo antes da Páscoa


O litigio iconoclasta ou do combate as imagens foi candente no
Imperio bizantino dos séculos VIII e IX. Muitos defensores das imagens
foram presos, exilados e mesmo martirizados. O Concilio Geral de Niceía II
em 787 reconheceu a legitimidade do culto de veneracáo das imagens;
todavía nem por isto a controversia cessou, de modo que em 843 um
Sínodo regional, convocado pela Imperatriz Teodora, definiu mais urna
vez a liceidade dos sagrados icones e, para valorizar tal definigao, os
cristáos ortodoxos instituiram a Grande Festa da Ortodoxia, que come-
mora nao somente a Vitoria sobre o iconoclasmo, mas também todas as
Vitorias obtidas sobre a heresia.
3.6. A Entrada em Jerusalém
Domingo de Ramos, último domingo antes da Páscoa
1998:12/04 1999:04/04 2000:23/04
É esta urna das treze festas maiores do Senhor, tendo o mesmo
significado que na Igreja Católica Ocidental.
Já no século IV era solenizada a entrada do Senhor Jesús em Je
rusalém: o Bispo montava um burrinho e a multidáo em procissáo canta-
va- "Bendito aquele que vem em nome do Senhor!", trazendo ñas máos
ramos de palmeira e oliveira. A cerimónia dos ramos parece ter sido
introduzida em Roma e no Ocidente no século Vil aproximadamente. Em
181
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 431/1998

algumas regióes as crianzas acompanham a procissáo com velas e pal


mas ñas maos.

3.7. Santo, Luminoso e Grande Domingo de Páscoa1


1998: 19/04 1999: 11/04 2000: 30/04

Os orientáis costumam exclamar nesse día: "Cristo ressuscitou! -


Sim, realmente Ele ressuscitou!". Costumam passar em oracáo a noite
inteira de sábado para domingo, e celebram a Eucaristía na aurora da
Páscoa.

3.8. Ascensáo de Nosso Senhor Deus e Salvador Jesús Cristo


Quinta-feira, quarenta dias após Páscoa
1998:28/05 1999:20/05 2000:08/06
A liturgia oriental celebra na véspera o encerramento do tempo
pascal. A festa da Ascensáo segue-se um tempo litúrgico que se concluí
na sexta-feira antes de Pentecostés.

3.9. Pentecostés ou festa da SSma. Trindade


50 dias após Páscoa

1998: 07/06 1999: 30/05 2000: 18/06


A festa celebra a SSma. Trindade e nao a vinda do Espirito Santo,
como no Ocídente. Os latinos cultuam especialmente a SSma. Trindade
no domingo após Pentecostés. A descida do Espirito Santo sobre os
Apostólos é festejada pelos orientáis na segunda-feira após Pentecostés.
4. Calendario Católico Latino

Quatro semanas antes do Natal: Advento, tempo de preparacáo


para o Natal

08/12: Festa da Imaculada Conceicáo de Maria


25/12: Natal do Senhor
Domingo posterior ao Natal: Festa da Sagrada Familia
1s/01: Maternidade Divina de Maria SSma.
06/01: Epifanía do Senhor {celebrada em domingo)

A data de Páscoa dos cristáos orientáis cismáticos é calculada na base de Ex 12 1-3


como a Páscoa dosjudeus, com a diferenga de que, como os católicos latinos e'spe-
ram sempre o domingo seguinte á Lúa cheia para celebrara ressurreigáo do Senhor.
Além do qué, os ortodoxos nao seguem o calendario gregoriano ou o calendario
reformado no século XVI, mas se atém ao calendario juliano, devido a Julio César
Imperador (f 44. a.C).

182
CALENDARIO DAS FESTAS DAS REUGIÓES ABRAÁMICAS 39

13/01: Batismo de Jesús (celebrado em domingo)


02/02: Apresentacáo de Jesús no Templo (festa da Candelaria)
Seis semanas antes da Páscoa: Quarta-feira de Cinzas1
Domingo de Ramos: último domingo antes da Páscoa
Domingo de Páscoa2
40 dias após Páscoa: Ascensáo do Senhor (celebrada em domingo)
50 dias após Páscoa: Pentecostés ou a vinda do Espirito Santo
Domingo após Pentecostés: Festa da SSma. Trindade
Quinta-feira após a Festa da SSma. Trindade: Solenidade do Cor-
po e Sangue de Cristo
Sexta-feira da semana seguinte: Festa do Sagrado Coracáo de
Jesús
24/06: Festa de S. Joáo Batista
29/06: Festa dos SS. Apostólos Pedro e Paulo (celebrada em do
mingo)
06/08: Transfiguracáo do Senhor
15/08: Assuncáo de Maria SSma. aos céus (celebrada em domingo)
19/11: Festa de todos os Santos (celebrada em domingo)
02/11: Finados ou Comemoracáo de todos os fiéis defuntos
Último domingo antes do Advento: Solenidade de Cristo-Rei
Possa este variado elenco de datas contribuir para dilatar os hori
zontes do leitor, que pedirá ao Senhor Deus queira abencoar o Diálogo
Religioso (entre católicos e nao cristáos) e o movimento ecuménico (en
tre cristáos separados por razóes hoje, em grande parte, superadas)!
' Faz-se oportuno registrar o porqué da quarta-feira de Cinzas. -Esa razáo: a pre-
oaracáo para a Páscoa compreende seis semanas ou 42 dias, seguindo o exemplo
de Jesús quejejuou quarenta dias (cf. Mt 4,2). Visto, porém, que nos domingos os
cristáos náojeiuam, retiram-se dos 42 dias ou seis domingos respectivos, ficando
entáo apenas 36 dias de preparagáo. Para completar o número sagrado, foram acres-
centados os quatro dias anteriores ao primeiro domingo da Quaresma, ou seja, a
auarta-feira de Cinzas, a quinta-feira, a sexta-feira e o sábado seguintes. Ponstoé
aue a Quaresma no Ocidente comega nao na segunda-feira da primeira semana da
Quaresma, mas na quarta-feira anterior. - De passagem, diga-se para atender a
urna pergunta freqüente: a datagáo do Carnaval é fungño da oscilagao da quarta-
feira de Cinzas (que, em última análise, depende do cómputo dos meses lunares

^Tpáfcoadoscatólicos ocidentais é celebrada segundo as indicagoes básicas de


Ex 12 1-3 Todavía a Igreja espera o domingo após a Lúa chela para festejara res-
surrei'cáo de Jesús. Segué o calendario gregoriano, devido ao Papa Gregorio XIII,
que reformou o calendario em 1582. de tal modo que é comumente observado no
mundo inteiro.

183
Um Testemunho Valioso:

"DESEJO VOLTAR PARA CASA"


(Madre Teresa de Calcuttá)

Em sfntese: Madre Teresa de Calcuttá declarou a um repórter ita


liano nao ter medo de morrer, pois isto significava, para ela, voltarpara
casa ou entrama patria definitiva. A visao de fé da Religiosa exprimiu-se
de maneira decidida e corajosa, que surpreendeu o jornalista, como se
depreende dos dizeres abaixo.
* * *

O jornalista italiano Renzo Allegri narra interessante encontró que


teve com Madre Teresa de Calcuttá, manifestando a fé firme e viva dessa
Religiosa no tocante á morte e á vida postuma.
Transcrevemos o relato tal como foi publicado pela revista ITAICI
ns 30, dezembro 1997, pp. 44s.

"COMO POSSO TER MEDO DE MORRER?"


"Um dia, no fim de urna longa entrevista, perguntei á Madre Teresa
de Calcuta: 'Madre, a senhora tem medo de morrer?'
Era o ano de 1986. Madre Teresa já fora internada varias vezes em
hospitais, por problemas do coracáo. Tinha sido também submetida a
intervencóes cirúrgicas delicadas, mas sempre voltara á plena atividade.
Naquela vez, eu estivera com ela o dia inteiro e a acompanhara fora de
Roma, em automóvel. Tínhamos falado de sua atividade na india, de sua
Congregacáo das Missionárias da Caridade, que se estava expandindo
pelo mundo inteiro. A Madre mostrava-se cheia de energía, empenhada
mesmo diante do enigma da morte, que faz parar tudo, interrompe qual-
quer coisa. Por isso, eu Ihe fiz aquela pergunta. Pronunciei a frase bem
baixinho porque, no meio de tanta atividade e entusiasmo, ela parecía
destoar; e também porque Madre Teresa é freirá e, portanto, pessoa que
pensa só em Deus.

A Madre olhou em meus olhos por alguns instantes. Talvez nao


esperasse aquelas palavras. Depois, perguntou-me: 'Onde mora o se-
nhor?' - 'Em Miláo', respondí. 'Quando volta para sua casa?' - 'Espero
voltar hoje mesmo, á noite. Gostaria de tomar o último aviáo e, assim,
amanha, que ó sábado, poderei estar com minha familia', disse eu. 'Vejo
que o senhor está feliz de voltar para sua casa e poder ficar com sua
familia', observou Madre Teresa. - 'Estou ausente faz quase urna sema
na', disse para justificar meu entusiasmo.

184
"DESEJO VOLTAR PARA CASA"

'Muito bem', acrescentou a freirá. 'Está certo que o senhor esteja


contente. Vai rever sua esposa, suas criancas, seus entes queridos, sua
casa. É justo que seja assim'. Ficou alguns instantes em silencio, mas
depois prosseguiu: 'Pois eu estaría contente como o senhor, se pudesse
dizer que esta tarde vou morrer. Morrendo, eu iria também para minha
casa, iria ao paraíso, ¡ria ver Jesús. Eu consagrei minha vida a Jesús.
Tornando-me freirá, fiquei sendo a esposa de Jesús. Veja, tenho também
a alianca, como as mulheres casadas. Mas estou casada com Jesús.
Tudo o que faco aqui, nesta térra, faco-o por amor dEle. Portante mor
rendo, voltaria eu para casa, para meu esposo. Além disso, lá no paraí
so, encontraría também todos os meus entes queridos. Milhares de pes-
soas morreram em meus bracos. Já faz mais de quarenta anos que dedi
co minha vida aos doentes e moribundos. Eu e minhas Irmas recolhemos
pelas estradas, sobretudo na india, milhares e milhares de pessoas no
fim da vida. Trazemo-las para nossas casas e as ajudamos a morrer se
renamente. Muitas daquelas pessoas morreram em meus bracos, en-
quanto eu sorria para elas e acariciava seus semblantes moribundos.
Pois bem, quando eu morrer, irei ver todas essas pessoas. Estáo lá me
esperando. Amamo-nos naqueles últimos momentos difíceis, continua
mos a querer-nos bem na lembranca. Quem sabe como vao me festejar
quando nos revirmos? Como posso ter medo de morrer? Eu desejo a
morte e espero-a, porque finalmente me permitirá voltar para casa1.
Nunca ouvira Madre Teresa falar tanto e com tanto entusiasmo.
Ela, geralmente, era resumida ñas entrevistas, dava respostas breves.
Naquela ocasiáo, para responder áquela minha pergunta, tinha feito um
auténtico discurso".

COMENTANDO...

A resposta de Madre Teresa ao jornalista sugere cinco pondera-


coes:1
1) A Religiosa encara a morte como urna volta á Casa do Pai, onde
a familia dos filhos de Deus se reúne, onde nos esperam os irmáos e
irmás que deixaram este mundo. É um retorno para casa, ainda mais
alegre do que a volta de Renzo Allegri para junto de seus familiares. -
Urna concepto semelhante já era professada pelos antigos escritores
da Igreja. Assim, por exemplo, se lé na carta de S. Inácio de Antioquia
(t 107) aos cristáos de Roma, que procuravam evitar fosse ele lancado
as feras do Coliseu:
"É bom para mim morrer a fim de me unir ao Cristo Jesús... Aproxi
mase o momento em que serei dado á luz... Nao ponhais empecilho a
que eu viva, nao queirais que eu morra" (Aos Romanos, 6,1s).
1 Estas ponderagoes foram redigidas em estilo de programa de radio, que foi ao ar
em 13/01/98.

185
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

Ou ainda:

"Escrevo a vos, possuído do amor da morte...; há em mim urna


agua viva que fala e dentro de mim diz: 'Vem para o Pai'" (ibd. 7,2).'
No século MIS. Cipriano (t 258), Bispo de Cartago, escrevia:
"Consideremos, irmáos caríssimos, que renunciamos ao mundo e
provisoriamente habitamos aquí como hospedes e estrangeiros. Abrace
mos o dia que enderega cada qual ao seu domicilio, dia que, libertados
desta vida e soltos dos lagos do século, nos restituí ao paraíso e ao rei
no... Espera-nos lá grande número de parentes, irmáos, filhos; anseia
por nos urna familia avultada e numerosa, já certa da sua salvagáo e
ainda solicita da nossa" (De mortalitate 26).
2) Nota o jornalista que Madre Teresa falava da morte com entusi
asmo... Por qué? - Porque a morte, para o cristao, é urna passagem,
urna Páscoa, urna transicáo do precario para o absoluto, do provisorio
para o definitivo da outra vida. Os homens se acham táo acostumados ás
coisas visíveis e sonoras da térra que, com o seu poder de fascínacáo,
elas nos parecem ser tudo, ser o que há de mais importante; constituem
urna cortina opaca que nos encobre a visáo sobre o além. Faz-se neces-
sário furar essa cortina e tomar consciéncia nítida de que a vida plena
nao está neste mundo, mas está no além, na Casa do Pai, onde nossos
irmáos nos esperam.

3) Para poder considerar a morte com alegría e confianca, o cristao


tem que viver a vida presente na fidelidade á lei de Deus, pois na verdade
os bens definitivos já nos sao dados em meio ao provisorio deste mundo.
0 discípulo de Cristo pode desde já desfrutar os valores eternos, que, em
última análise, sao o encontró com Deus, a Bondade Infinita. O Deus da
eternidade, que faz a bem-aventuranca dos justos no além, é o Deus do
tempo, que se dá a nos através da Eucaristía e dos demaís sacramentos;
Ele se dá veladamente no claro-escuro da fé; Ele se dá plenamente no"
face-a-face da eternidade. Ele pode ser cada vez mais fonte de alegría e
felícidade para os fiéis peregrinos na térra, desde que se entreguem dó
cilmente á sua santa vontade.

4) De quanto foi dito segue-se urna conclusáo importanto: a morte


nao atemoriza o cristao fiel; ao contrario... O que o deve levar a sentir
horror e repulsa, é outra coisa; é o pecado. Este, sim, nos separa de
Deus e nos tira a alegría da eternidade antecipada. Por conseguínte, o
cristao foge do pecado, nao só do pecado grave, mas também do pecado
dito "leve", pois este debilita a uniáo com Deus e ameaca a vida espiritual.
5) Compreende-se também que nao convém afastar da mente a
idéia da morte. Muitas pessoas a repelem como se fosse algo de
1 A agua viva, no caso, é o símbolo do Espirito Santo, conforme Jo 7,37-39.

186
"DESEJO VOLTAR PARA CASA" 43

impensável. Engana-se quem assim procede: a morte é a única certeza


que a crianga tem quando nasce. Nao se entende, pois, que alguém nao
queira tomar consciéncia disto. É oportuno refletir sobre a morte quando
ela parece estar longe (nunca se sabe se está longe ou perto); nao se
deve esperar o momento em que estaremos esclerosados, incapazes de
refletir, cegos ou surdos; será tarde demais para comecar a pensar na
morte;'facamo-lo enquanto gozamos de lucidez de mente, armazenando
boas disposicóes para a enfrentarmos quando ela se aproximar. Assim nos
familiarizaremos com a Irma Morte e sua capacidade de nos transferir para
a Casa do Pai. Sejamos, pois, corajosos e realistas, e nao fujamos da verda-
de. Deus nos chama a todo momento para um convivio sempre mais íntimo
com Ele. Sejamos-Lhe gratos e respondamos-Lhe com generosidade.

Jesús, por varios autores preponderantemente italianos. Tradugáo


brasileira por peritos anónimos. - Jornal do Brasil Industrias Gráficas S.
A., 4 volumes, Rio de Janeiro 1997.
Tratase de urna obra monumental, da qual os tres primeiros volu
mes acompanham o texto do Evangelho em seus grandes quadros e os
váo comentando por obra de especialistas renomados da Italia e de ou-
tros países, como sao Bruno Forte, Bruno Maggioni, Rinaldo Fabris,
Settimio Cipriani, Pía Compagnoni, Anna Passoni Dell'Acqua, WHhelm
Egger... O quarto volume apresenta Jesús na arte, figurando em primeiro
lugar Jesús na Arte Brasileira, por Carlos A. C. Lemos, professorda USP.
O próprio texto dos comentarios é acompanhado de fotografías e ilustra-
góes grandiosas que possibilitam ao leitor conceber urna idéia do cenarlo
em que Jesús pregou, assim como de resquicios arqueológicos profanos.
A obra é de nivel elevado, abordando nao somente os aspectos
teológicos do Evangelho, mas também questóes críticas hoje discutidas;
conserva sempre fidelidade tanto á ciencia como a fé proposta pelo ma
gisterio da Igreja. Exemplificando, encontramos no volume 1a os seguin-
tes títulos de capítulo: As Fontes da Vida de Jesús (fontes profanas, Evan
geihos apócrifos e Evangeihos canónicos), Os Anos Anónimos da Vida
de Jesús, As Tentagóes de Jesús e a Base Histórica das Narrativas das
Tentagóes, Cronología da Vida de Jesús, Jesús Operador de Milagres
(os milagres do Evangelho e os Taumaturgos do tempo de Jesús), Um
Día na Vida de Jesús (que língua Jesús falava)... A orientagáo dada a tais
explanagóes é seria e sólida. - Recomendase, pois, vivamente a leitura de
táo densa obra a quem deseje aprofundar-se no conhecimento de Jesús
Cristo sem terque considerar hipóteses e teorías, por vezes, defasadas.
Os interessados poderáo solicitar a obra a Leo Christiano Editorial
Ltda., Caixa postal 25.026, Rio (RJ) 20551-000; tel: (021) 234 8594/568-
1979 e 576-3119.

187
Falando com sinceridade...

"O SAL DA TÉRRA"


pelo Cardeal Joseph Ratzinger

Em síntese: O jornalista Peter Seewaid entrevistou o Cardeal


Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregagáo para a Doutrina da Fé, a res-
peito de varias questóes que afetam a Igreja neste fim de milenio. O pre
lado respondeu com sinceridade e humildade, por vezes de maneira ori
ginal. Sao destacados, a seguir, alguns tópicos do livro, entre os quais os
que se referem ao papel dos crístáos no desenrolar da historia da huma-
nidade.

* * *

O Cardeal Joseph Ratzinger é o Prefeito da Congregacáo para a


Doutrina da Fé, eminente personalidade por sua cultura e sua atuacáo
no desempenho da missáo de guardiáo da fé. Foi entrevistado pelo jor
nalista Peter Seewaid, que deixou a Igreja há duas décadas. Como bom
repórter, Seewaid abordou as mais delicadas questóes que interessam á
Igreja Católica neste final de milenio; o entrevistado respondeu com sin
ceridade e coragem, nao sem alguma originalidade; daí o subtítulo da
obra: "O Cristianismo e a Igreja Católica no limiar do terceiro milenio".
O texto é, por vezes, um pouco pesado; a traducáo nem sempre
contribuí para o tornar mais nítido. Como quer que seja, vale a pena des
tacar do livro em foco alguns tópicos muito interessantes, como se verá a
seguir.

1. Cristianismo e Historia da Humanidade


O jornalista Peter Seewaid costuma ser pessimista e pungente em
suas interrogacóes ao Cardeal. Todavía á p. 80 faz a seguinte proposicáo:
"Nao é possível saber como o mundo se tena desenvolvido sem a
Igreja. Entretanto, é difícil ignorar que a fé crista também libertou e culti-
vou o mundo, ao desenvolver os direitos do Homem, a arte e a ciencia, a
educagáo moral. Nao é possível imaginar a Europa sem essa fecunda-
gao. O escritor judeu Franz Oppenheimer afirmou: •As democracias ñas-
ceram no mundo judaico-cristáo do Ocidente. A historia do seu apareci-
mento é um pressuposto fundamental do nosso mundo pluralista. Deve-
1 O Sal da Térra. O Cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do Terceiro Milenio
Traducáo de Inés Madeira deAndrade. - Ed. ¡mago. Rúa Santos Rodrigues 201-A
Rio de Janeiro (RJ), 150x230 mm, 223 pp

188
"O SAL DA TÉRRA" 45

mos também a essa mesma historia os criterios com base nos quais as
nossas democracias puderam voltara ser criticadas e corrigidas até hoje.'
E o senhor também indicou que a subsistencia das democracias está
relacionada com a subsistencia dos valores cristáos".

Responde o Cardeal Ratzinger:

"Nao posso senáo concordar com o que Oppenheimer disse. Hoje


sabemos que o modelo democrático se desenvolveu a partir das consti-
tuicóes monacais que anteciparam esses modelos com os capítulos e a
votacáo. Assim, a idéia de um direito igual para todos pode encontrar a
sua forma política. É claro que antes já tinha havido a democracia grega,
da qual vieram impulsos decisivos...
É fato conhecido que as duas democracias originarias, a america
na e a inglesa, se baseiam num consenso de valores que vém da fé
crista e que só puderam e podem funcionar quando existe um consenso
básico no que diz respeito aos valores. De outro modo, elas se dissolve-
riam e se desfariam. Pode-se, pois, fazer um balanco histórico positivo
do cristianismo, o qual levou a urna nova relacáo do homem consigo
mesmo e a um novo modo de ser humanitario. A democracia grega anti-
ga baseava-se na garantía sagrada dos deuses. A democracia crista da
época moderna baseia-se no caráter sagrado dos valores garantidos pela
fé...
Precisamente o que disse há pouco sobre o balanco do século XX
mostra também que, quando se retira o cristianismo, voltam a irromper,
de repente, torcas arcaicas do mal que estiveram banidas por causa dele.
Pode-se dizer, de um ponto de vista puramente histórico, que nao há
democracia sem um fundamento religioso, sagrado".
A pág. 181 continua P. Seewald:
"O cardeal inglés Newman disse certa vez sobre a missáo da Igreja
no mundo: 'O fim do mundo só é postergado porque nos cristáos existi
mos, porque há urna rede internacional de comunidades espalhadas atra-
vés do universo. A subsistencia do mundo está ligada á subsistencia da
Igreja. Se a Igreja adoecer, o mundo se queixará'".
Diz o Cardeal Ratzinger:

"Esse enunciado talvez seja drástico demais, mas eu diria que é


precisamente a historia das grandes ditaduras atéias do nosso século, o
nacional-socialismo e o comunismo, que mostra que o declínio da Igreja,
o enfraquecimento e a ausencia da fé como torga marcante precipitam
realmente o mundo no abismo. O paganismo pré-cristáo ainda tinha cer
ta inocencia, e a ligacáo com os deuses também representava valores

189
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 431/1998

originarios que limitavam o mal; se agora desaparecessem as forcas que


se opóem ao mal, o desmoronamento seria algo descomunal.
Podemos dizer, com base na certeza empírica, que, se o poder
moral representado pela fé crista fosse arrancado de repente á humani-
dade, ela vacilaría como um navio que tivesse batido num iceberg, e en-
táo a sua sobrevivencia estaría em grande perigo".
Como se vé, o Cardeal Ratzinger reconhece os males que afligem
o século XX. Fazendo-se eco ao Cardeal J. H. Newman, julga que se
devem a um enfraquecimento do Cristianismo; este terá ocorrido nos
séculos XIX e XX como conseqüéncia das varias correntes materialistas
que bafejaram o Ocidente. Lógicamente a renovacáo do mundo atual
está associada á renovacáo da fé crista e, em especial, ao revigoramento
da tempera crista. É esta urna conclusáo corajosa, nao carente de funda
mento na própria historia da humanidade, pois foi o Cristianismo quem
salvou do caos e da mina a civilizacáo greco-romana ameacada pelas
invasoes bárbaras. Algo de análogo poderá ocorrer em nossos días des
de que os fiéis católicos se compenetrem mais profundamente da sua
missáo de sal da térra (cf. Mt 5,13).

2. "O que Deus realmente quer de nos"

O livro termina com duas perguntas de P. Seewald sobre o sentido


da historia e o papel do homem como seu protagonista:
"Gostaria de Ihe fazer urna última pergunta. Qual é, Senhor Carde
al, a verdadeira historia do mundo? E o que Deus realmente quer de
nos? O senhor urna vez escreveu: A Historia está marcada pelo confron
to entre o amor e a incapacidade de amar, pela desertificagáo das almas
que surge onde o Homem só é capaz de reconhecer os valores
quantificáveis como valores e como realidade. (...) Essa destruigao da
capacidade de amargera o tedio mortal. É o envenenamento do Homem.
Se vingasse, o Homem e com ele o mundo seriam destruidos".
Responde o Cardeal Ratzinger:
"Apoiei-me, nesse ponto, em Santo Agostinho, que, por sua vez,
recorre á tradicáo catequética crista precedente, que representou toda a"
Historia como urna luta entre dois Estados, entre duas comunidades de
cidadáos. Goethe retomou essa concepcáo e disse que a Historia é no
seu todo, urna luta entre a fé e a incredulidade. Santo Agostinho fez urna
interpretacáo um pouco diferente, dizendo que é urna luta entre dois ti
pos de amor, entre o amor a Deus até a renuncia a si mesmo e o amor a
si mesmo até a negacáo de Deus. Apresentou, portanto, a Historia como
um drama da luta entre dois tipos de amor. Procurei precisar um pouco
mais essa idéia ao dizer que o movimento contrario, na realidade, nao é
190
"O SAL DA TÉRRA"

outro amor; nem merece o nome de amor, mas é a recusa do amor. A


Historia é. no seu todo, a luta entre o amor e a incapacidade de amar,
entre o amor e a recusa do amor. É o que, atualmente, voltamos a viver,
quando a independencia do Homem é levada ao ponto de ele dizer: nao
quero amar, porque entáo me torno dependente, o que contraria a minha
liberdade.
Na realidade, o amor significa depender de alguma coisa que tai-
vez me possa ser tirada e, por ¡sso, traz enorme risco de sofrimento para
a minha vida. Daí vem a recusa explícita ou implícita; prefiro nao amar a
ter de me expor constantemente a esse risco, a ser limitado na minha
determinacáo de mim mesmo, a depender do que nao depende de mim e
a poder, por isso, precipitar-me de repente no nada. A decisáo que parte
de Cristo é, contudo, outra: slm ao amor, porque só o amor, precisamen
te com o risco de sofrimento e de perda de si mesmo, leva o homem a si
próprio e torna-o o que ele deve ser.
Pensó que esse é, realmente, o verdadeiro drama da Historia; na
multiplicidade das frentes contrapostas urnas as outras, a Historia pode
ser reconduzida, em última análise, a esta fórmula: sim ou nao ao amor".
Verdade é que amor é palavra inflacionada e até mesmo esvazia-
da de conteúdo, já que pode hoje em dia significar manipulacáo egoísta
de um(a) parceiro(a). O amor cristáo, porém, tem significado bem defini
do Sao Joáo afirma que Deus é amor (agápe); cf. Uo 4,8. Esse amor
que Deus é, implica benevolencia nao interesseira ou amor para fazer
bem á pessoa amada. Foi assim que Deus amou o homem, mostrando
absoluta gratuidade. Tal amor é derramado nos coracóes dos cristaos
(Rm 5 5) que sao conseqüentemente chamados a viver o agápe de ma-
neira éoerente. É isto que Deus quer, diz Ratzinger; é isto que pode tor
nar o mundo mais feliz. É este o pape) do sal da térra. ^

{continuacáo da pág. 192)


na Italia, em fevereiro 1997 ouvir-se-ia urna "declaracáo explosiva"
do líder socialista Bettino Craxi, que finalmente obteria urna vitória políti
ca em novembro de 1997;
na Italia ainda, o Presidente Scalfaro sofrena o embate de forte
crise política aos 16 de Janeiro de 1997-0 que foi desmentido pelos
fatos.
Estas e outras averiguares podem concorrer para que o público
se sinta impelido a prudencia e cautela diante de "previsóes", previsoes
que neste fim de sáculo tém pululado com especial frequencia...
Estéváo Bettencourt O.S.B

191
E a Vida continua...

AÍNDA AS "PROFECÍAS" DE FIM DE ANO

Em síntese: O artigo transmite averíguagóes da revista italiana Scienza


e Paranormale, aportando erros e omissóes por parte de "videntes" que
¡ñutamente impressionaram o público com falsas previsdes para 1997.
* * *

Existe na Italia a revista Scienza e Paranormale, órgáo bimestral


do CICAP (Comitato Italiano per il Contrallo delle Affermazioni sul
Paranormale, Comité Italiano para o Controle das Afirmacoes relativas á
Paranormalidade). - Nos últimos dias de 1997, tal revista apresentou um
balanco do ano, confrontando-o com as previsóes de astrólogos e "vi
dentes" feitas para 1997. Tais previsóes haviam sido amplamente
divulgadas pela imprensa escrita e talada, suscitando, como de costume
cunosidade e talvez emocóes da parte do público. O CICAP conta corrí
membros de projecao cultural como a Dra. Rita Levi Montalcini e o Dr
Cario Rubbia, ambos Premio Nobel, além de personagens como Umberto
Eco, Garattini, Hack, Regge...

A revisáo do ano de 1997 apontou varios erros ñas previsóes dos


adivinhos considerados pelo CICAP, entre os quais sejam citados os se-
guintes:

- em 1997 a rainha Elizabeth, da Inglaterra, devia abdicar;


a princesa Diana sofreria alguns males, mas em 2000 participaría
das Olimpiadas. Ninguém predisse a morte de Lady Diana, como tam-
bem nao a de Madre Teresa de Calcuttá, dois acontecimentos que im
pressionaram profundamente o público internacional;
na Inglaterra, o Partido Conservador de Major devia vencer as elei-
coes, quando na verdade ganharam os trabalhistas;
na Franca, a direita devia ganhar as eleicoes, quando na verdade
foi o Partido Socialista de Jospin quem venceu;
na Italia o Primeiro-Ministro Prodi teria um govemo de dezesseis
meses apenas, quando em fevereiro 1998 já durava vinte meses;
na Italia o Primeiro-Ministro Prodi enfrentaría serios problemas de
saude - o que nao se veríficou;

na Italia casar-se-ía a filha do Presidente Osear Scalfaro - o que


nao ocorreu; M
(continua na pág. 191)

192
PUBLICACÓES MONÁSTICAS
- SAO BENTO, O ETERNO NO TEMPO, D. Lourenco de Almeida Prado, O.S.B. Ed. "LUMEN
CHRISTI", 1994, 289 págs R$ 16,50.
(A coletánea que forma este volume, representa até pela volta freqüente aos mesmos
textos e as mesmas reflexóes, pensamentos ou meditares de um beneditino que ficou
mais conhecido como educador, sem nunca deixar de querer ser, antes de tudo, um
discípulo do Patriarca de Monte Cassino).
- SALTERIO MEU M1NHA ALEGRÍA, os 150 Salmos pelas Monjas beneditinas de Santa
Maria - SP. Salterio ¡lustrado para enancas e adultos com alma de crianca... 2a edicáo.
1994, Formato: 21,5 x 16cm R$ 12'60-
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ro eremita. Vida de S. Maleo, escravo e monge. Vida de S. Hilario. Carta XXIII a Eustáquia.
Traducáo- D. Abade Timoteo Amoroso Anastácio, OSB. Revisáo Mosteiro Maria Máe de
Cristo. Impressáo: Mosteiro da Santa Cruz. 1996. 148 págs R$ 11,00.
- A ESCOLHA DE DEUS, comentario sobre a Regra de Sao Bento, por Dom Basilio Penido,
OSB. 2a edicáo revista- 1997. 215 págs R$ 16,50.
- A PROCURA DE DEUS, segundo a Regra de Sao Bento. Esther de Waal
Traduzido do original inglés pelas monjas do Mosteiro do Encontró, Curitiba/PR. CIMBRA
-1994. 115 págs R^" 18,10.
Apresentado pelo Dr. Roberto Runcie, arcebispo anglicano de Cantuária, pelo Cardeal
Basil Hume, OSB, arcebispo de Westminster e de D. Paulo Rocha, OSB, abade de Sao
Bento da Bahía.
- A REGRA DE SAO BENTO, 3a edicáo em latim-portugués, com anotacóes por Dom Joáo
Evangelista Enout OSB. A Regra que Sao Bento escreveu no século VI continua viva em
todos os mosteiros do nosso tempo, aos quais nao faltam vocacóes para monges e
monjas. 210 págs R$ 12'60'
- PERSPECTIVAS DA REGRA DE SAO BENTO, Irma Aquinata Bóckmann OSB.
Comentario sobre o Prólogo e os capítulos 53, 58, 72, 73 da Regra Beneditina -
Traducáo do alemáo por D. Mateus Rocha OSB.
A autora é professora no Pontificio Ateneu de Santo Anselmo em Roma (Monte
Aventino) Tem divulgado suas pesquisas nao só na Alemanha, Italia, Franca, Portugal,
Espanha, como também nos Estados Unidos, Brasil, Tanzania, Coréia e Filipinas, por
ocasiáo de Cursos e Retiros. 364 págs R$ 11>20-
- TRATADO SOBRE A ORACÁO. Tertuliano, S. Cipriano e Orígenes. Traducáo do Revmo.
D Abade Timoteo Amoroso Anastácio, OSB. Revisáo: Mosteiro de Maria Máe do Cristo
- Caxambu. Cimbra-1996. Mosteiro da Santa Cruz. 250 págs R$ 16,00.
- VIDA E MILAGRES DE S. BENTO - LIVRO SEGUNDO DOS DIÁLOGOS DE S.
GREGORIO MAGNO. Traducáo do Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro 4a edicao.
1996 115 págs. Edigóes "Lumen Christi" R$ 6>60-
Trecho da introducáo: "...A traducáo que estas páginas apresentam, é a vida de um santo
escrita por um santo. S. Gregorio, o grande Papa restaurador da disciplina eclesiástica apos
a invasáo dos Bárbaros, o reformador da liturgia romana, escreve a vida de S. Bento... .
- A MEDALHA DE SAO BENTO. D. Próspero Guéranger O.S.B., Abade de Solesmes. 2a
edicáo - 1996 - Artpress - Sao Paulo. 142 págs.
Brinde: Urna Medalha de Sao Bento ■■■■ • R» 1Z£°-
Trecho de prólogo do autor:"... O único desejo que nos leva a publicar este ensaio sobre
táo delicado assunto, numa época em que o racionalismo vai causando tantos estragos,
é sermos de utilidade a nossos irmáos na fé...".

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res de Dom Estéváo. Sao professores da Escola Teológica, do Pontificio Ateneu de
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