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PAULO, O APÓSTOLO DOS GENTIOS
Série Trilogia de Paulo ⏐ Por Fabio Marchiori Machado
Vou começar este texto dizendo o que não vou apresentar nele. Esta parte da história
de Paulo, depois que ele começa a ser reconhecido como apóstolo, é muito, mas muito densa e
rica em edetalhes. Poderíamos dividir esta fase da vida do apóstolo em pelo menos cinco ou
seis partes. Para abordarmos somente os pontos importantes teríamos que escrever quase um
livro. Por tanto, não abordaremos os fatos da vida de Paulo, por ordem cronológica, assim
como fizemos com os outros dois textos da Série Trilogia de Paulo.
Nosso trabalho aqui irá concentra‐se em pontos importantes, mais precisamente em
fatos peculiares da vida de Paulo como apóstolo. Para tanto, devemos entender antes de
prosseguirmos o que é um apóstolo.
1. O QUE FAZ UMA PESSOA SER UM APÓSTOLO
Este tópico se faz necessário graças à grande confusão que reina hoje no meio
evangélico mundial. A história não registra nenhum surgimento de apóstolos entre o período
que vai dos tempos da Igreja Primitiva até meados dos anos de 1980. Apesar da igreja de Roma
ser intitulada “apostólica”, sabemos que a figura do apóstolo sempre foi suprimida, reservada
apenas a algumas pessoas nos dias dos Pais da Igreja Cristã. A partir de 1980, surge um
movimento apostólico, e o número de apóstolos auto‐intitulados explode mundo afora. Estima‐
se que atualmente existam mais de 10.000 apóstolos em todo o mundo. Todos estes apóstolos
defendem ter a mais alta autoridade espiritual na igreja, dentro de grupos pré‐estabelecidos. É
aconselhado pelas diretrizes do movimento, que cada apóstolo tenha jurisdição sob uma
determinada área (bairro ou cidade) ou sob uma determinada denominação (o mais comum).
Em uma perspectiva bíblica, os apóstolos formaram um grupo especial dentro do
contexto da Igreja Cristã. São reconhecidos nas Escrituras os 12 apóstolos (Pedro, André, Tiago,
João, Felipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, Tiago – Filho de Alfeu, Judas Tadeu, Simão e Judas
Iscariotes). Além destes, temos de maneira reconhecida pela Igreja Matias, que veio a substituir
Judas Iscariotes, e Paulo. Apóstolo era um delegado, um mensageiro, alguém que foi
comissionado para um determinado propósito. Analisando amplamente, o apóstolo funcionava
como um procurador ou representante de alguém. No caso do relato bíblico, eram os
“procuradores de Jesus Cristo”.
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Aproveitando esta idéia de o apóstolo ser um procurador de Cristo, podemos ressaltar o
que fazia da pessoa um apóstolo. A primeira questão é relativa ao comissionamento.
Entendamos o seguinte: ‐ é possível você se tornar procurador de um amigo seu, sem que este
tenha lhe dado pessoalmente esta autoridade? Certamente, não. Este seu amigo terá que
redigir um documento, assiná‐lo e torná‐lo autêntico em algum cartório, ou seja, sem a
intenção direta do seu amigo, não existe a menor possibilidade de você se tornar seu
procurador. No caso de um apóstolo a idéia da analogia deve ser a mesma. Apóstolo é somente
aquele que é comissionado por Jesus em pessoa. Não vale sonho, “sopro divino” ou qualquer
outra manifestação miraculosa. Uma palavra para os partidários dos neo‐apóstolos, não sou eu
quem está afirmando isso, mas a própria Escritura. Leia 1Co 9.1.
Outra característica essencial é que o apóstolo tinha a sua missão refletida na
abnegação pessoal. Nenhum dos apóstolos relacionados na bíblia teve algum tipo de conforto.
Muito pelo contrário, trocaram tudo o que tinham pelo evangelho. Nenhum deles foi “mais
abençoado” por ser apóstolo. Seus ministérios tinham um crescimento assustador, rápido e
inexplicável, e tudo isso relacionado à pregação a Palavra. Fico imaginando quantos a mais não
estariam genuinamente convertidos hoje, se os apóstolos de Jesus vivessem em nosso meio e
tivessem acesso a ferramentas como TV, rádio e internet para evangelizar. Minha sincera
opinião é que Jesus já teria voltado, pois seu evangelho já estaria pregado em todos os cantos
deste planeta.
Por último, os apóstolos tinham autoridade na Palavra. Todos os livros do Novo
Testamento foram escritos, ou assistidos diretamente, por um apóstolo. Este é o primeiro
requisito usado para que os livros do NT fossem considerados canônicos. Suas palavras não
contradiziam as Escrituras.
2. PAULO DEFENDE SEU APÓSTOLADO
Não há duvidas hoje que Paulo foi verdadeiramente um apóstolo de Jesus Cristo. Mas
no começo da era Cristã não era bem assim. Paulo enfrentou muita resistência no começo do
seu ministério. Existem alguns trechos da bíblia que o próprio Paulo defende o seu apostolado.
No meu entendimento, a mais impressionante e profunda defesa está descrita em 1Co 9.1‐27.
Neste trecho, Paulo não defende só seu apostolado, mas também o exercício dele. Acho incrível
como mostra que, por causa do seu ministério, se fazia lícito ter certos privilégios, mas mesmo
assim ele se abstinha dos mesmos. Veja o texto:
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1Co 9.11‐13
11
Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? 12 Se
outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida?
Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer
obstáculo ao evangelho de Cristo.
A visão que Paulo tinha acerca do seu ministério era extremamente profunda. No seu
argumento, ele mostra que de fato tinha direito de tirar o seu sustento dos irmãos (bens
materiais), mas não fazia isso para que nada atrapalhasse a sua pregação. É fácil entendermos o
ponto de vista de Paulo. Quantos hoje se afastam do evangelho por causa do mau testemunho
de líderes cristãos vistos como “sugadores de dinheiro” do seu rebanho.
O maior argumento de defesa do apostolado é que Paulo foi comissionado pelo próprio
Jesus (At 26.9‐18). Muitos estudiosos acreditam que Paulo foi à escolha de Deus para o lugar de
Judas Iscariotes, já que pouco se viu sobre os frutos de Matias. Jesus chama Paulo para ser
apóstolo. O apóstolo dos gentios.
Ele foi genuinamente um apóstolo, e algumas das peculiaridades deste apostolado
veremos a partir deste ponto.
3. UM GRANDE ESTRATEGISTA
Um dos grandes diferenciais do apostolado de Paulo é que ele enxergava que Deus
sempre dava a direção, mas as estratégias estavam continuamente em suas mãos. No começo
da segunda viagem missionária, Paulo tencionava ir a Ásia Menor, mas o Espírito de Jesus o
guiava. No seu repouso noturno, aparece a Paulo, em uma visão, um homem que dizia: ‐ Passa
a Macedônia (At 16.6‐10).
O direcionamento da caravana muda, em direção a península grega. Paulo utiliza
cidades chaves para a pregação do evangelho. Paulo focava as cidades de grande porte e a
partir delas o evangelho era irradiado para o interior. Entre estas cidades temos:
└ Beréia – Importante cidade da Macedônia
└ Atenas – Capital intelectual do mundo
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└ Éfeso – Capital da Ásia Menor
└ Filipos – Colônia romana
└ Tessalônica – Capital da Macedônia
└ Corinto – Importante centro econômico
Outra questão estratégica que Paulo assume é de não restringir a sua atuação na
localidade onde se encontrava em determinado momento. Neste ponto podemos dar dois
exemplos. O primeiro é o fato de Paulo manter presença nas igrejas que fundava através de
cartas, conhecidas como as epístolas de Paulo. Para se ter noção do tamanho da importância de
suas cartas, cerca de 48% do NT, ou seja quase a metade, é formado pelas cartas de Paulo a
igrejas e pessoas. Veremos mais sobre as suas cartas à frente.
O segundo fato é que Paulo não se esquecia dos irmãos, mesmo os que se encontravam
a quilômetros de distância. Em 46 d.C. o imperador Cláudio expulsa todos os judeus de Roma.
Estes judeus além de perderem suas propriedades, não tiveram direito de carregar as suas
coisas. A grande maioria destes judeus rumou para Jerusalém. Uma boa parte deste grupo era
composta por judeus convertidos ao cristianismo. A igreja de Jerusalém vê aumentado o
número de seus pobres numa proporção exponencial. Paulo leva consigo uma oferta para os
pobres de Jerusalém.
4. O HOMEM QUE SOFREU PELA MISSÃO
Paulo foi um apóstolo itinerante. Não tinha lugar fixo. Os escritos nos mostram que
fundou igrejas ou pregou em várias cidades da Ásia Menor, Acaia, Macedônia e Galácia. Em
Roma estima‐se que quase toda a guarda pretoriana, que era o exército especial do império,
ouviu o evangelho por causa da sua pregação.
Muitas pessoas gostam de ressaltar sempre as proezas dos apóstolos. Fica mais fácil
justificar hoje certas atitudes, se tivermos a concepção dos apóstolos como super heróis. A
verdade é que grandes coisas eles fizeram, mas é mais verdade ainda que eles sofreram muito
para tal êxito. O apóstolo que temos mais detalhes a respeito deste sofrer pelo evangelho é
Paulo.
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Ao contrário dos pregadores da atualidade, Paulo dificilmente era bem recebido quando
chegava a uma cidade. Em Filipos, ele foi açoitado em praça pública. Em Tessalônica foi
enxotado da cidade. Foi expulso sem a menor cerimônia de Beréia. Em Atenas, durante a sua
pregação foi chamado de tagarela. Em Corinto teve que se defender da acusação de ser um
impostor. E para fechar esta lista com chave de ouro, em Éfeso teve que enfrentar feras.
O que considero mais impressionante na vida de Paulo vêm através do relato contido
em 2Co 11.24‐28. Convido que você leia este relato neste momento, antes de prosseguir.
Paulo disse que carregava consigo “as marcas de Jesus”, literalmente em seu corpo (Gl
6.17). Acredito que estas marcas são resultado de todo o sofrimento que o apóstolo vivenciou,
e que estão descritos nestes cinco versículos de 2 Coríntios 11. Em poucas palavras Paulo diz ter
sido três vezes fustigado com vara, ou seja, apanhou com vara como se fosse um animal. Foi
preso algumas vezes. Apedrejado, em uma oportunidade. Cinco vezes açoitado, num total de
195 chicotadas. Passou necessidade, falta de comida, falta do que vestir, frio e até mesmo a
falta de um pouco de água. Por fim, enfrentou a ira da natureza. Teve que enfrentar ladrões e
todo o tipo de gente. Trabalhou arduamente para o seu sustento (acredita‐se que Paulo
acordasse às três da manhã para fazer tendas, para no resto do dia poder pregar o evangelho.
Isso em boa parte da sua vida). Tudo pelo evangelho. Ele se gloriava nisso.
Abro um parêntese para pedir uma reflexão a você. Da próxima vez que alguém lhe
falar, ou até mesmo você pensar, que a fé e a fidelidade do cristão é medida por bens materiais
que Deus dá para a você, releia o texto de 2Co 11.24‐28 e questione no que você, ou seu
pregador, é melhor do Paulo para o reino de Deus. Para muitos do nosso tempo Paulo seria um
homem sem fé. Se Paulo não tinha fé, o que temos nós?
5. SUA OBRA LITERÁRIA
O apóstolo Paulo foi um homem que produziu uma grande quantidade de textos,
segundo a tradição. Sem sombra de dúvidas ele foi o primeiro grande teólogo cristão. Treze de
suas cartas são consideradas inspiradas e fazem parte do NT. Como já dissemos anteriormente,
quase a metade do NT é formado por textos de Paulo. Este dado é verdade se considerarmos o
número de livros, mas se levarmos em conta o número de palavras escritas, certamente esta
proporção aumentará.
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A verdade é que Paulo não tinha a menor ciência que estava sendo usado por Deus para
produzir escritos sagrados. Sabia que falava pelo Senhor, mas nunca imaginaria que um dia seus
escritos teriam o mesmo peso de escritos dos profetas, como Isaías.
Das treze cartas, nove são destinadas a igrejas e quatro são para pessoas do
relacionamento pessoal de Paulo. As cartas para igrejas são: Romanos, Gálatas, Colossenses,
Efésios, 1 e 2 Coríntios, 1 e 2 Tessalonicenses e Filipenses. As cartas pessoais são: 1 e2 Timóteo,
Tito e Filemon.
Sua literatura tinha características importantes para entendermos com tal. As cartas de
Paulo tinham autoridade apostólica, requisito básico de canonicidade. Esta autoridade
mencionada vinha do fato de Paulo ter recebido do próprio Jesus a sua revelação (Gl 1.12). Um
ponto interessante é observar que nos escritos do apóstolo, percebia‐se várias influências do
seu tempo, como a cultura grega, as confissões de fé da igreja primitiva e catecismo, como o
Didaquê. Até hinos que eram comumente entoados nos primeiros dias fizeram parte da
composição de Paulo, como muito provavelmente o texto de Fp 2.6‐11. No entanto, a maior
característica de Paulo está na maestria com que ele harmonizou o AT com o evangelho de
Jesus.
6. O DESCORTINAR DE UMA VIDA DE ENTREGA
Veja o texto abaixo:
2Tm 4.6‐18
“ 6 Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. 7
Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. 8 Já agora a coroa da justiça me está
guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a
todos quantos amam a sua vinda. 9 Procura vir ter comigo depressa. 10 Porque Demas, tendo
amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia,
Tito, para a Dalmácia. 11 Somente Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze‐o, pois me é
útil para o ministério. 12 Quanto a Tíquico, mandei‐o até Éfeso. 13 Quando vieres, traze a capa que
deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos. 14
Alexandre, o latoeiro, causou‐me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras.
15
Tu, guarda‐te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras. 16 Na minha primeira
defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em
conta! 17 Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a
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pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do
leão. 18 O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino
celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!”
Estas são as últimas palavras registradas de Paulo antes da sua morte. Este texto traz
algumas questões importantes para o final da nossa reflexão. Paulo está fechando as cortinas
da sua vida. Neste momento ele está preso em uma masmorra, fria e escura. Não tinha muito
com que se prender. Não tinha bens, dinheiro ou herdeiros. No vv. 13 podemos ver tudo o que
Paulo tinha de material. Uma capa, alguns livros e pergaminhos.
Paulo se sente abandonado (vv.16) e traído por pessoas que lhe eram caras, como
Demas e também Alexandre, o latoeiro. É neste contexto que ele faz um balanço da sua vida.
Paulo não fugiu da sua responsabilidade, combateu o combate. Fez tudo aquilo o Senhor
destinou que deveria fazer em sua vida, por isso diz que havia completado a carreira. E o
principal, não negociou o seu bem mais precioso, a verdade que veio Deus. Fez isso guardando
a sua fé.
Neste estado até que melancólico, Paulo encara sua iminente morte não como um
ponto final, mas como uma partida. Podemos afirmar isso quando ele expressa esse sentimento
usando a palavra grega Analysis. Esta palavra é a mesma usada em Ap 14.13 e traz a idéia
principal de fardo tirado. Outra aplicação importante para esta palavra “mudar para a casa
permanente”. E é nesse espírito, que Paulo despede‐se desta vida terrena, muito
provavelmente no ano de 67 d.C., decapitado por julgo do imperador de Roma.
Aos olhos do mundo ele foi um fracassado, mas em Deus foi alguém muito forte. A
história é testemunha dos frutos da vida deste homem. Paulo, o apóstolo dos gentios.
Deus o abençoe
FICHA TÉCNICA
1. Bíblia de Estudo Almeida Atualizada
2. Dicionário Bíblico Almeida
3. Dicionário da Bíblia John Davis
4. Novo Testamento em Quadros ‐ Autor: H. Wayne House – Ed Vida
5. História, Doutrina e Interpretação Bíblica Volume I – Autor: Joseph Angus – Casa Publicadora Batista
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6.Introdução ao Novo Testamento – Autores: D.A. Carson, D.J. Moo e Leon Morris – Ed Vida
Nova
7. Descobrindo o Novo Testamento – Autor: Walter A. Elwell & Robert W. Yarbrough – Ed Cultura
Cristã
8. Notas do sermão A vida do Apóstolo Paulo, de Hernandez Dias Lopes, pregado no dia
08/08/2009 no encontro de lideranças do PLPA da IPI do Brasil.
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