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1) Adorno discute como as obras de arte refletem a sociedade e as relações de produção, embora sem a presença da sociedade real. 2) As obras de arte se tornam mercadorias absolutas que rejeitam a aparência do ser das mercadorias normais. 3) O princípio do "arte pela arte" tornou-se vazio e dogmático, levando à criação de obras kitsch que parodiam a catarse.
1) Adorno discute como as obras de arte refletem a sociedade e as relações de produção, embora sem a presença da sociedade real. 2) As obras de arte se tornam mercadorias absolutas que rejeitam a aparência do ser das mercadorias normais. 3) O princípio do "arte pela arte" tornou-se vazio e dogmático, levando à criação de obras kitsch que parodiam a catarse.
1) Adorno discute como as obras de arte refletem a sociedade e as relações de produção, embora sem a presença da sociedade real. 2) As obras de arte se tornam mercadorias absolutas que rejeitam a aparência do ser das mercadorias normais. 3) O princípio do "arte pela arte" tornou-se vazio e dogmático, levando à criação de obras kitsch que parodiam a catarse.
ADORNO, Theodor, W. Teoria esttica [1970]. Traduo de Artur Moro.
So Paulo: Livraria Martins Fontes, 1988, pp. 264 e ss.
(adaptao de Leila Longo)
ADORNO E O KITSCH
A sociedade aparece nas obras de arte com uma verdade polmica e ideolgica; isso conduz a uma mistificao filosfico-histrica, como se houvesse uma harmonia pr-estabelecida, urdida pelo esprito do mundo, entre a sociedade e as obras de arte. A questo, de fato, a seguinte: o processo que se cumpre nas obras de arte e nelas fica imobilizado deve ser considerado como tendo o mesmo significado do processo social onde elas de enquadram e cujas leis so semelhantes exteriormente s da sociedade. Ou seja, as foras produtivas sociais e as relaes de produo retornam s obras de arte porque o trabalho artstico um trabalho social. A nica diferena que nas obras de arte h a ausncia da sociedade real, apesar de o modelo ser normalmente a produo social e a reside a fora das obras de arte. Se as obras de arte so mercadoria absoluta como aquele produto social que rejeitou para a sociedade a aparncia do Ser aparncia que as mercadorias mantm com dificuldade , a relao de produo determinante (a forma da mercadoria) insere-se nas obras de arte como a fora social produtiva, bem como o antagonismo entre as duas. A mercadoria absoluta (a obra de arte) seria desembaraada da ideologia que inerente forma da mercadoria. Esta uma inverso da ideologia, uma inverso do contedo esttico e uma mudana de posio da arte em relao sociedade. No constitui abuso as obras de arte serem postas no mercado; esta apenas uma consequncia de sua participao nas relaes de produo, pois no seria possvel a nada nesse mundo estar fora da ideologia, ou seja, uma arte totalmente anideolgica no seria possvel.
O princpio de lart pour lart [arte pela arte = ars gratia artis], arte autnoma, vigora a partir de Baudelaire na Frana; por outro lado, na Alemanha, esse ideal esttico foi recebido pelo mercado como um constrangimento moral institucionalizado e, pela burguesia, como meio de neutralizao da arte, como forma de controle social. O que h de ideologia no princpio lart pour lart no a anttese da arte empiria, mas na 2 abstrao e facilidade dessa anttese. A ideia de beleza estabelecida no princpio lart pour lart amputa todo o contedo que no se dobra a um cnone dogmtico do belo, ou seja, o conceito de beleza de lart pour lart vazio e prisioneiro do cnone. A beleza, impotente para definir-se a si mesma, define-se pelo seu outro, est imbricada no destino da descoberta ornamental numa forma de organizao do tipo Jugendstil. Portanto, esta ideia do belo limitada porque uma anttese imediata em relao a uma sociedade rejeitada como feia. Em vez de se prenderem forma, Rimbaud e Baudelaire no fazem isso: Rimbaud extrai a anttese do contedo; Baudelaire, a imagerie de Paris. E foi justamente a autonomia da beleza neorromntica e simbolista, a sua vulnerabilidade perante os movimentos sociais que a fizeram consumvel. Essa beleza engana quanto ao mundo das mercadorias porque o poupa e isso a desqualifica como mercadoria. No entanto, a sua forma latente de mercadoria condenou esteticamente as obras lart pour lart a serem consideradas kitsch. Em Rimbaud, a obra deveria mostrar de que forma a anttese aguda em relao sociedade e complacncia com ela a reconciliao acontece e se torna impossvel salvar o princpio lart pour lart. Por isso mesmo, no plano social a situao da arte aportica, constitui um impasse: se diminui sua autonomia, ela se entrega ao mecanismo da sociedade existente; se permanece para si mesma, nem por isso deixa de se integrar no campo social. Nessa aporia aparece a totalidade da sociedade que absorve tudo o que acontece. Que as obras recusem a comunicao com a sociedade uma condio necessria para o princpio lart pour lart, mas no a condio necessria de sua essncia anideolgica. O critrio sua fora de expresso, uma tenso por meio da qual as obras falam como um gesto sem palavras; a expresso o fermento social de sua forma autnoma. Por exemplo, Guernica, de Picasso: sua rigorosa incompatibilidade com o realismo prescrito adquire, graas a uma construo inumana, a expresso que acuda seu carter de protesto acima de qualquer mal entendido contemplativo.
Contudo, a autonomia das obras de arte penosamente extorquida da sociedade e socialmente originada em si mesmas tem possibilidade de recair na heteronomia. As obras de arte podem se apropriar de seu elemento heternomo (dependncia de patrocnio, de mecenas, etc), da sua imbricao na sociedade porque elas so ao mesmo tempo algo de social. 3 Desde que a arte foi inserida no pensamento terico (na esttica, na filosofia da arte), este sente a tentao de, ao elevar-se acima da arte, vir a cair abaixo dela e de se entregar s relaes de poder. A soberania fcil que assinala arte seu lugar social, depois de lhe retirar sua imanncia formal, trata-a como autoiluso ftil e ingnua. Nesse sentido, a purificao das emoes conserva ainda um interesse em seu ideal de sublimao, encarregando a arte de instaurar a aparncia esttica como satisfao de substituio da satisfao fsica dos instintos e das necessidades do pblico. Ou seja, a catarse uma ao purgativa das emoes que so harmonizadas apesar da privao imediata. No entanto, a catarse aristotlica arcaica no sentido de inadequada aos efeitos reais. A doutrina da catarse imputa arte o princpio que a indstria cultural toma para si, o tutela e o administra. Se a emancipao da arte fosse possvel apenas pela recepo do carter de mercadoria como aparncia de seu ser-em-si, o carter de mercadoria sai de novo das obras. O Jugendstil contribuiu muito para isso com a ideologia da introduo da arte na vida preldio da indstria cultural: a intensificao e o domnio dos estmulos estticos os tornaram disponveis e puderam ser produzidos para o mercado da cultura. O consenso da arte com as reaes individuais associou-se sua reificao e afastou-se de uma produo subjetiva. O slogan lart pour lart foi a mscara de seu contrrio. O tipo intelectual dos clientes da indstria cultural tem um aspecto subjetivo de fraqueza do eu e a indstria cultural soube explorar isso. O kitsch no , como desejaria a f na cultura, um simples dejeto da arte originado de uma acomodao desleal que espreita as ocasies de emergir na arte que constantemente aparecem. O kitsch se esquiva de toda a definio histrica como um diabinho: sua neutralizao de sentimentos no existentes constitui uma de suas caractersticas mais tenazes. O kitsch parodia a catarse. A fico que produz o kitsch tambm produz uma arte de ambio que lhe foi essencial: a documentao de sentimentos realmente existentes, a restituio da matria-prima lhe estranha. intil, portanto, pretender traar abstratamente as fronteiras entre a fico esttica e a pilhagem sentimental do kitsch. Ele est misturado em toda a arte como um veneno; separar-se dele hoje uma das tentativas mais desesperadas da arte. O kitsch est na categoria do vulgar porque diz respeito tambm a todo e qualquer sentimento vendvel, complemento de sentimento fabricado e pronto para a venda. 4 difcil definir o que vulgar nas obras de arte; a arte tornou-se vulgar pela condescendncia; quando, atravs do humor, invocou a conscincia deformada e a confirmou. A arte respeitaria as massas se se apresentasse a elas como aquilo que poderiam ser em vez de a elas se adaptar na sua forma degradada. isso que faz o kitsch.