O sonho de Elgrat

Lembro-me que Elgrat certa vez havia contado-me sobre um sonho que muito o perturbara
havia algumas semanas; fiquei muito curioso, principalmente por se tratar do Elgrat; ele
tinha os olhos assustados e as mos trmulas quando narrou-me a seguinte histria:

- Morte ditadura! Viva o livre comrcio! - gritava a multido, tomada por grande euforia;
aproximando-se enfurecidamente do centro do jardim. - No podemos tolerar que tais
homens, menos agraciados por Deus com talentos, vivam s custas doreino dos cus,
como parasitas! No deveriam mamar nos seios do jardim! Se arvore da vida no pode
ter os seus frutos vendidos, ns a derrubaremos, principalmente agora que o paraso est
repleto de santos, a demanda tornou-se ainda maior e poderamos conseguir grande lucro
com isso! Morte ao comunitarismo! Viva o individualismo!

Uma criana, at ento deitada na grama, levantou-se assustada com os brados que eram
desferidos com tamanha exacerbao; correu at o encontro do pai e agarrou-se com
fora sua cintura; o homem, por sua vez, vendo o grupo enfurecido, disse em voz alta,
tentando acalm-lo:

- Ouam-me, caros irmos; os frutos da rvore da vida so milagrosos! Sua folhas, de
igual modo, curam-nos as doenas e mantm-nos imortais; milagres no so
comercializveis! Lembrem-se do que Jesus fez com os comerciantes do sagrado templo,
enxotou a todos eles a chicotadas!

De repente, um homem de feio carregada comeou a gargalhar no meio do grupo que
se formou; procurou espao entre as pessoas que o rodeavam e, com ira na voz,
manifestou-se; tinha ele ouro no lugar dos dentes.

- Tolo! - exclamou - O que no milagre neste mundo? No o prprio mundo um
milagre? No foi ele criado por Deus a partir do nada? Tudo comercializvel, tudo! Os
milagres novos e os milagres antigos! - depois, olhou para trs e novamente para o
homem, sussurrou - O nosso nico deus o dinheiro!

Assim que terminou de dizer isso, a multido, atiada pelas suas palavras, lanou-sesobre
o homem e o seu filho, espancando-os, rasgando as suas roupas e ateando-lhes fogo; em
seguida, amarraram cordas no espesso tronco da rvore da vida, assim como entre os
seus galhos e, puxando-as com labor, lanaram-na, com uma s tentativa, finalmente
abaixo.

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