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Harmonia Oclusal para a


Promoção de Saúde

ALFREDO JÚLIO FERNANDES NETO


FLÁVIO DOMINGUES NEVES

Boa parte das ações do homem na sociedade, objetivam fazer a vida melhor para a
humanidade, ou despertá-la para as medidas ou precauções necessárias.
Um importante elemento neste contexto é o nível de saúde do indivíduo, de um
grupo ou de uma sociedade. Saúde não significa apenas a ausência de doença, mas
também bem-estar somático, psíquico, social e harmonia no meio em que vive.
É importante que os profissionais que trabalham com pacientes que apresentam e
sofrem com as conseqüências das desordens do Sistema Estomatognático e estruturas
relacionadas, tenham consciência de que também os fatores somáticos, psíquicos e sociais
podem estar alterados e comprometer o senso normal de bem estar.
Estes pacientes podem apresentar persistente desconforto na face, cabeça, articula-
ções temporomandibular – ATMs e pescoço, além de contrações, fadiga muscular e limi-
tação dos movimentos mandibulares.
Estalidos nas ATMs ocorrem com freqüência e geralmente são tolerados pelos pa-
cientes até que atraiam a atenção de outros, originando um incômodo e um problema
social ao indivíduo. A dor de cabeça pode ser tolerada uma única vez, mas a repetição
diária altera o comportamento do paciente, irrita familiares e colegas de trabalho.
Os sintomas mencionados, se forem discretos e esporádicos, são ignorados por alguns
pacientes, porém para outros podem ser sérios a ponto de causar redução da capacidade
de trabalho e complicações emocionais, sociais e econômicas.
Mesmo com o conhecimento que os profissionais da Odontologia tem sobre as
desordens do Sistema Estomatognático, um grande número de pacientes continuam sem
um diagnóstico definitivo. Pesquisas epidemiológicas têm dado importantes informações
342 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

sobre a freqüência destas desordens em pacientes de ambos ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR - ATM


os sexos e diferentes faixas etárias e classes sociais.
Considerando que todas as condutas terapêuticas se As articulações temporomandibulares possuem todos
sustentam no respeito à natureza, e objetivam a remoção os elementos de uma articulação sinovial, incluindo um
dos fatores etiológicos e o resgate da biologia dos tecidos e disco articular. O homem é portador das ATMs desde o
fisiologia do Sistema Estomatognático, não se pode pensar nascimento, quando ainda inexis-tem os dentes nas arcadas
em promo-ção de saúde sem um profundo conheci-mento dentárias.
deste sistema, o que justifica uma breve revisão sobre esse Durante o seu desenvolvimento, os côndilos e as fossas
assunto. vão se remodelando continuamente através da transição da
O Sistema Estomatognático - SE, é uma entidade fi- dentição temporária para a permanente e mesmo quando da
siológica, funcional, perfeitamente definida e integrada por perda desta última, como resposta adaptativa, às característi-
um conjunto heterogêneo de órgãos e tecidos, cuja biolo- cas específicas destas dentições Figura 17.1. Assim sendo, as
gia e fisiopatologia são absolutamente interdependentes, ATMs são consideradas unidades fisiológicas básicas, pois são
envolvidos nos atos funcionais como: mastigação, degluti- referências para reabilitação do sistema estômatognático,
ção, fonação, expressão e estética facial, postura da mandí- além de serem fundamentais durante o movimento.
bula, da língua e do osso hióide, e nos atos parafuncionais
como: apertamento dentário e bruxismo. OCLUSÃO
São seus componentes anatômicos todos os ossos fixos
da cabeça, a mandíbula, o hióide as clavículas e o esterno, Oclusão se refere ao estudo das relações estáticas e
os músculos da mastigação, deglutição, expressão facial e dinâmicas entre as superfícies oclusais, e entre estas e todos
posteriores do pescoço, as articulações dentoalveolar (perio- os demais componentes do sistema estomatognático. Fun-
donto), e temporomandibular (ATM) e seus ligamentos, os cionalmente isto ocorre durante a fala, a mastigação e a
sistemas vasculares e nervoso, os dentes, a língua, os lábios, deglutição; dentre elas a mastigação é a que gera o maior
as bochechas e as glândulas salivares. esforço. A oclusão é considerada uma das unidades fisioló-
Apesar da conhecida importância de cada uma destas gicas básicas, pois a superfície oclusal é quem primeiro
estruturas para o funcionamento do sistema, quatro unida- recebe o impacto durante a função.
des fisiológicas básicas integram a unidade biológica fun- Uma oclusão é fisiológica quando apresenta harmonia
cional SE que por sua vez pertence à outra unidade bioló- entre os determinantes anatômicos e as unidades fisiológi-
gica fundamental: o indivíduo, do qual não pode ser sepa- cas do sistema estomatognático, não gerando patologias aos
rado ao se fazer considerações diagnósticas, prognósticas e tecidos.
terapêuticas quando se trata de promoção de saúde. São É considerado maloclusão os contatos oclusais anta-
elas: as articulações temporomandibulares - ATMs direita e gônicos ou adjacentes dos dentes quando estão em desar-
esquerda, a oclusão dentária, o periodonto e o sistema neu- monia com os determinantes anatômicos e unidades fisioló-
romuscular. gicas do SE. O termo “Maloclusão” não significa saúde ou

FIG. 17.1
Nesta ilustração vê-se os diferentes estágios das ATMs durante o desenvolvimento do crânio e da mandíbula de um recém
nascido, de uma criança, de um adulto e de um idoso.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 343

doença, e sim dentes mal posicionados ou desalinhados. equilíbrio entre as forças de ação que incidem sobre os
Muitas pessoas apresentam maloclusão, mas se adaptam a dentes e a reação biológica adequada dos tecidos do perio-
ela não apresentando sinais patológicos. Entretanto, na pre- donto de sustentação, cemento, fibras periodontais e osso
sença de desarmonia a oclusão será patológica, quando alveolar mantêm a integridade das estruturas e representa o
gera patologias aos tecidos. principal componente da homeostasia desse periodonto.
No sistema estomatognático, os dentes posteriores têm
como funções: mastigação, ponto de apoio da mandíbula SISTEMA NEUROMUSCULAR
durante a deglutição, manutenção da dimensão vertical de
oclusão, transmissão e dissipação das forças axiais, e a prote- Última das unidades fisiológicas básicas, o sistema
ção aos dentes anteriores e das articulações temporomandi- neuromuscular é considerado fator preponderante nas fun-
bulares, quando do fechamento mandibular, na posição de ções do sistema estomatognático; o sistema muscular, exci-
oclusão em relação cêntrica - ORC. tado pelo sistema nervoso, constitue-se na parte ativa que
Os dentes anteriores têm como funções: estética, foné- origina as forças necessárias às funções a que se des-tinam,
tica, apreensão e corte dos alimentos, e proteção dos dentes (Figura 17.3). As demais unidades repre-sentam os elemen-
posteriores e ATMs nos movimentos excêntricos da mandí- tos passivos encarregados de receber e transmitir a ação das
bula. forças.
Para o entendimento da interação do sistema neuro-
PERIODONTO muscular com a morfologia oclusal, faz-se necessário o co-
nhecimento das relações anatômicas das articulações tem-
Considerado uma das unidades fisiológicas básicas, já poromadibulares e de seus ligamentos com os músculos
que as forças que incidem sobre os dentes são transmitidas que o constituem. Este conhecimento inclui a função, a
aos ossos através das fibras periodontais. Figura 17.2. O inervação e a vascularização destes músculos.

FIG. 17.3
Sistema neuromuscular.
FIG. 17.2
Transmissão das forças incidentes ao osso através das fi-
bras periodontais.
344 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

SISTEMA MUSCULAR SISTEMA NERVOSO

O sistema muscular é o responsável pelo movimento. O sistema nervoso tem como funções básicas:
A capacidade de diminuir seu comprimento a partir de Manutenção da constância do meio interno (homeos-
uma contração provocada pelo estímulo nervoso gera a tase) através de funções vegetativas que asseguram sua orga-
movimentação; porém, o excesso de função ou a função nização.
indevida pode gerar fadiga Durante uma parafunção ou Emissão de comportamentos que são funções globais
mesmo na função mastigatória, ou de deglutição um distúr- do organismo no meio em que vive.
bio oclusal, conforme será visto na frente, poderá gerar des- Para o melhor entendimento do mecanismo de ação
conforto muscular intolerável, precipitando uma patologia. do sistema nervoso, deve-se recordar que este se constitui de
O acadêmico e o cirurgião-dentista devem ser capazes de sistema nervoso central - SNC e sistema nervoso periférico -
palpar os músculos envolvidos (Figura 17.4) para o diagnós- SNP.
tico de qualquer possível patologia, bem como identificar
os fatores etiológicos. NEUROFISIOLOGIA
As funções musculares ocorrem através de contrações,
sempre em direção à sua origem, podendo ser: A neurofisiologia bucal é a parte da Biologia que ex-
plica os mecanismos a serem explorados como recursos te-
- Isotônica: quando o músculo, ao se contrair, tem rapêuticos.
somente um de seus extremos de inserção fixo, se É fundamental aprofundar o conhecimento nesta
encurta sem aumentar a tensão de suas fibras (ex.: área, para estabelecer um elo entre estímulo e resposta nas
abrir e fechar a boca). abordagens clínicas, visto que os diversos caminhos percor-
- Isométrica: quando o músculo, ao se contrair, tem ridos pelos estímulos elucidam, através da participação do
os dois extremos de inserção fixos; não podendo se Sistema Nervoso, como e onde agir.
encurtar, gera um aumento da tensão de suas fibras A neurofisiologia se desenvolve em três etapas defini-
(ex.: hábito de apertamento den-tário ou bruxismo). das:

1. Percepção do Estímulo Sensorial.


2. Integração no SNC.
3. Reação Motora (na forma de contração muscular e
ou função glandular).

A percepção do estímulo sensorial é o mecanismo


pelo qual o SNC se mantém informado das condições in-
ternas e externas existentes no organismo, e se constitui de
duas fases: a recepção do estímulo por meio dos receptores
nervosos e a condução do estímulo até o SNC, por meio
das vias condutoras aferentes (sensorial).
Os receptores nervosos são terminações nervosas sen-
soriais, especializadas e sensíveis a determinados estímulos.
Em geral, cada tipo de receptor só responde a um determi-
nado tipo de estímulo, e pouco ou quase nada de outros.
A integração ao SNC ocorre a partir da produção de
um estímulo ao SNP captado por um receptor específico, a
partir do qual se inicia uma via ascendente (pelos nervos
sensoriais, aferentes) até o SNC especificamente até o cór-
tex sensorial, através dos diferentes constituintes do sistema
nervoso (cerebelo, tálamo, e outros), quando este é então
identificado, tornando-se consciente.
Cada estímulo específico é individualizado e determi-
na uma reação específica correspondente.
A reação motora do córtex motor, inicia-se após a integra-
FIG. 17.4 ção de um estímulo ao córtex sensorial do cérebro. O impulso
motor gerado inicia uma via descendente, através dos vários
constituintes do sistema nervoso até o executor corresponden-
te. Ex.: córtex motor, cerebelo, tronco encefálico, mesencéfalo
(núcleo motor), nervos eferentes, músculos.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 345

Existe outro tipo de mecanismo neuromuscular in- O que são e a que se destinam os
consciente, cuja ação motora se produz sem intervenção do objetivos
córtex cerebral, de forma automática: os arcos reflexos, que
se classificam como condicionados e incondicionados. Um Dimensão vertical (DV) é a dimensão vertical da face,
exemplo clássico deste mecanismo na odontologia é a brus- entre dois pontos quaisquer, arbitrariamente selecionados e
ca parada da mastigação, quando se morde uma pedra ou convenientemente localizados um acima, e outro abaixo da
algo estranho misturado ao alimento. boca, normalmente na linha média da face, variando entre
a dimensão vertical de repouso e dimensão vertical de oclusão.
A ODONTOLOGIA E O SISTEMA Fundamental na preservação da saúde da unidade fisiológica
ESTOMATOGNÁTICO neuromuscular do SE.
A dimensão vertical de repouso (DVR) é a dimensão
A manutenção ou reabilitação do sistema estomatog- vertical da face, quando a mandíbula se encontra sustenta-
nático pelo cirurgião-dentista tem como objetivo preservar da pela posição postural, ou de repouso fisiológico dos
ou restabelecer a: músculos do SE e com os lábios se contatando levemente.
- Dimensão vertical - DV. Independe da presença ou não dos dentes.
- Relação cêntrica - RC. A dimensão vertical de oclusão (DVO) é a dimensão
- Estabilidade oclusal - EO. vertical da face, quando os dentes estão em máxima inter-
- Guia anterior – GA. cuspidação e os músculos contraídos em seu ciclo de po-
tência máxima. Dependendo da presença dos dentes em
Para isto são necessários os seguintes procedimentos: oclusão.
O paciente pode apresentar diferentes perfis faciais
- Anamnese, exames: clínico, radiológico e dos mode- em detrimento de alterações na DV Figura 17.5.
los de estudo montados em articulador semi ajustá- A distância existente entre as superfícies oclusais e in-
vel em RC. cisais dos dentes antagonistas, quando a mandíbula se en-
- Diagnóstico. contra sustentada pela função postural ou de repouso mus-
- Planejamento e execução de procedimentos educa- cular fisiológica, é denominada espaço funcional livre
tivos, preventivos e restauradores. (EFL) o que representa a diferença entre as DVO e DVR,
sendo de aproximadamente 3 mm.
Para isto se fazem necessários os conhecimentos de: A relação cêntrica (RC) é a relação do côndilo com a
fossa mandibular do osso temporal em completa harmonia
- Biologia dos tecidos. com o disco articular. É uma posição estável e reproduzível
- Fisiologia do sistema estomatognático. pelo equilíbrio fisiológico dos músculos de sustentação
- Propriedade dos materiais odontológicos, mandibular e independe do relacionamento dentário. Im-
- Técnicas de execução dos procedimentos clínicos e portante na preservação da saúde das unidades fisiológicas
laboratoriais. neuromuscular e ATMs, do SE. Sendo fundamental nos
- Fundamentos de estética odontológica. casos de reconstruções oclusais extensas.

FIG. 17.5
Diferentes perfis faciais.
346 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

Estabilidade oclusal (EO) é a estabilidade dada à dentária que independe da posição dos côndilos, logo não
mandíbula em relação às maxilas pela intercuspidação si- deve ser impropriamente chamada de oclusão cêntrica,
multânea das cúspides funcionais nas respectivas fossas an- pois nesta posição a mandíbula estará sempre desviada da
tagonistas, em ambos os lados da arcada dentária (Figura RC.
17.6). Fundamental na preservação da saúde das unidades Como Guia Anterior (GA): descreve-se o relaciona-
fisiológicas: neuromuscular, ATMs, oclusão e periodonto mento das bordas incisais dos dentes anteriores inferiores
do SE. Pode ser conseguida com arco dental curto, em com a face lingual dos dentes anteriores superiores, duran-
algumas situações com oclusão até segundo pré-molar, mas te os movimentos de protrusão e de lateralidades da mandí-
com segurança até primeiro molar. A reposição de um se- bula, sem contato dentário posterior, formando-se com as
gundo molar só se justifica por estética ou para impedir a ATMs direita e esquerda um tripé de estabilidade (Figura
extrusão do antagonista. 17.8). Fundamental na preservação da saúde das unidades
A intercuspidação máxima dos dentes ocorrerá para fisiológicas: neuromuscular, ATMs, oclusão e periodonto
favorecer a melhor trituração dos alimentos, fonte de ener- do SE. Impede contatos indevidos e potencialmente pato-
gia e nutrição para o organismo. Esta intercuspidação máxi- lógicos dos dentes posteriores durante os movimentos ex-
ma ocorrerá com os côndilos estáveis ou não, determinan- cêntricos da mandíbula, seja quando da apreensão e cor-
do as posições mandibulares, chamadas respectivamente de te dos alimentos - guia anterior propriamente dita, ou da
1 - oclusão em relação cêntrica e 2 - máxima intercuspida- mastigação - guia de proteção lateral, em canina ou função
ção habitual. em grupo.
Denomina-se Oclusão em Relação Cêntrica (ORC) Como Guia Canina de proteção lateral: descreve-se
(oclusão cêntrica ou máxima intercuspidação cêntrica) o relacionamento de contatos contínuos de deslocamento
quando há coincidência da posição de máxima intercuspi- entre a superfície incisal do canino inferior e a fossa lingual
dação dos dentes, com a posição de relação cêntrica, Figu- do canino superior durante as excursões laterais de trabalho
ra 17.7. da mandíbula, ou seja o movimento que ocorre durante a
Como Máxima Intercuspidação Habitual (MIH), é mastigação do bolo alimentar, evitando contatos dos de-
considerada a posição maxilomandibular com maior núme- mais dentes anteriores e posteriores, o que geraria grande
ro de contatos entre os dentes antagonistas. É uma posição força lateral Figura 17.9.

FIG. 17.6

FIG. 17.7
Oclusão em relação cêntrica.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 347

Como Guia em Grupo de proteção lateral: descreve- entre cada movimento mandibular e suas respectivas guias
se o relacionamento de contatos contínuos de deslocamen- anteriores - unidade fisiológica básica. Torna-se imprescindível
to entre a superfície incisal do canino inferior e a fossa um melhor entendimento dos movimentos mandibulares.
lingual do canino superior, e entre as pontas de cúspides
vestibulares dos dentes interiores, cúspides funcionais - CF MOVIMENTOS MANDIBULARES
e as vertentes triturantes das cúspides vestibulares superio-
res, cúspides não funcionais - CNF, durante as excursões A partir da posição mandibular fisiológica inicial, a
laterais de trabalho da mandíbula, (Figura 17.10). Salienta- RC, os movimentos mandibulares de abertura, fechamen-
se que não poderão ocorrer contatos entre dentes do lado to, protrusão, retrusão e lateralidade são executados pelos
de não trabalho - balanceio. movimentos de rotação e translação condilar, direcionados
Considerando-se a definição de oclusão, como as rela- em planos e graus distintos.
ções estáticas e dinâmicas entre as superfícies oclusais e os Movimento de Rotação: é o movimento de um corpo
demais componentes do SE, e o estreito relacionamento ao redor do seu centro, Figura 17.11.

FIG. 17.8
Guia Anterior, plano sagital.

FIG. 17.9
Guia canina de proteção lateral: A - trajeto da guia pelo
canino, plano sagital e plano frontal, B - relacionamento
côndilo - fossa e dentes antagonistas no lado de trabalho,
C - relacionamento côndilo fossa e dentes antagonistas no
lado de balanceio.

FIG. 17.10
Guia lateral de proteção em função em grupo, plano fron-
tal: A – trajeto da guia, B – relacionamento côndilo-emi-
nência e dentes antagonistas no lado de trabalho, C - rela-
cionamento côndiloeminência e dentes antagonistas no
FIG. 17.11
lado de balanceio. Movimento de rotação condilar: A - plano sagital, B – pla-
no frontal, C – relacionamento. dentário no plano frontal.
348 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

Movimento de Translação: é o movimento de um temporal. As cúspides dos dentes posteriores do mesmo


corpo quando todos os seus pontos se movem em uma lado devem ser capazes de passar pelos planos inclinados
mesma direção ao mesmo tempo, Figura 17.12. antagonistas sem contato, quando de uma guia canina de
Movimento de Protrusão: É o movimento mandibu- proteção lateral, ou apresentar contatos contínuos de deslo-
lar na direção posteroanterior, de aproximadamente 10 camento, quando de uma guia em grupo de proteção late-
mm, Figura 17.13. ral. Este movimento é de aproximadamente 10 mm, Figura
No movimento protrusivo, os côndilos deslizam sobre 17.14.
a eminência articular (guia posterior) e, simultaneamente,
os dentes incisivos inferiores deslizam sobre a fossa lingual Movimento de lateralidade - lado de não
dos incisivos superiores (guia anterior). A relação dos pla- trabalho
nos inclinados distais das cúspides dos dentes superiores e
os planos inclinados mesiais das cúspides dos dentes infe- Analisando o movimento mastigatório, o lado oposto
riores devem permitir a desoclusão de todos os dentes pos- ao de trabalho é também chamado de lado de não traba-
teriores, durante o movimento. lho, uma vez que o trabalho - mastigação - está ocorrendo
do lado oposto. Se o indivíduo está mastigando do lado
Movimento de lateralidade - lado de direito, então este é o lado de trabalho, enquanto o lado
trabalho esquerdo o de não trabalho. No plano frontal, o côndilo
parece baixar ao longo da parede mediana da fossa, en-
É o movimento em direção ao lado para o qual a quanto que as cúspides funcionais inferiores se movem
mandíbula se desloca durante a função mastigação, com o para baixo, anterior e medialmente, sem contatar os planos
côndilo do mesmo lado rotacionando e transladando sobre inclinados antagonistas. Este movimento é de aproximada-
as paredes posterior e superior da fossa mandibular do osso mente 10 mm, Figura 17.15.

FIG. 17.12
Plano sagital: A - movimento de translação condilar, B –
relacionamento dentário.

FIG. 17.13
Movimento de protrusão mandibular, plano sagital: A –
deslize do côndilo sobre a eminência articular, B – guia
anterior.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 349

FIG. 17.14 FIG. 17.15


Movimento para o lado de trabalho: Movimento para o lado de não trabalho: relacionamento
- relacionamento do côndilo com a parede superior e pos- do côndilo com a parede mediana da fossa mandibular do
terior da fossa mandibular do osso temporal, A – plano osso temporal, A – plano sagital, B – plano frontal, C –
sagital, B – plano frontal plano horizontal.
- relacionamento dos dentes posteriores, C - plano frontal
e D – plano horizontal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS oclusão em relação cêntrica – ORC – estabilidade tempo-


romaxilomandibular, na dimensão vertical de oclusão –
Após a revisão da normalidade do sistema estomatog- DVO, após o que a ação dos músculos elevadores é neutra-
nático observa-se que em uma oclusão fisiológica ou orgâ- lizada, gerando a dimensão vertical de repouso – DVR. Nos
nica, ao final do fechamento mandibular, a ação neuro- movimentos excursivos da mandíbula, os dentes posteriores
muscular promove o assentamento dos côndilos na fossa devem desocluir pela ação das guias anterior e laterais, em
mandibular do osso temporal, denominada posição de rela- perfeita harmonia com os demais componentes do SE.
ção cêntrica – RC – estabilidade temporomandibular, co- Como o objetivo maior da Odontologia está em preser-
incidente com o máximo de contatos dentários posteriores var ou restabelecer a biologia dos tecidos e a fisiologia do SE.
bilaterais, denominada máxima intercuspidação - MI ou Recomenda-se assim a prática da odontologia 4 x 4, onde o
oclusão dentária – estabilidade maxilomandibular, confe- alcance dos quatro objetivos resulta na preservação e ou res-
rindo assim, à mandíbula uma posição estável denominada tabelecimento das quatro unidades fisiológicas (Tabela 17.1).

TABELA 17.1 – Odontologia 4x4

OBJETIVOS PERMANENTES A SEREM ALCANÇADOS UNIDADES FISIOLÓGICAS – PRESERVADAS

Dimensão vertical Neuromuscular


Relação cêntrica Neuromuscular
ATMs
Estabilidade oclusal Neuromuscular,
ATMs
Oclusão
Periodonto
Guia anterior Neuromuscular
ATMs
Oclusão
Periodonto
350 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

DISTÚRBIOS OCLUSAIS cionadas experimentam alterações para absor-ver e dissipar


as forças anormais criadas, conforme a capacidade de resistên-
Freqüentemente os pacientes apresentam-se com uma cia ou de adaptação biológica de cada tecido envolvido. Essas
RC não coincidente com a MI devido à presença de distúr- alterações poderão produzir compensações fisiológicas ou pa-
bios oclusais, impedindo o fechamento fisiológico da man- tologias. O principal fator etiológico da patologia do SE é
díbula em ORC, levando-a a instabilidade, deslizando-a representado pelas alterações da oclusão dentária, distúrbios
protrusiva ou lateroprotrusivamente, transportando-a a uma oclusais, cujas seqüelas patológicas são alterações no periodon-
posição denominada máxima intercuspidação habitual - to de sustentação, a abrasão oclu-sal acentuada, o bruxismo, as
MIH, que é adquirida ou habituada. alterações do mecanismo neuromuscular e das ATMs.
A auto observação da relação cêntri-ca pode ser reali- Os distúrbios oclusais se apresentam na forma de:
zada pelo próprio paciente, o que lhe propiciará o entendi- trauma oclusal, contato oclusal prematuro ou deflectivo,
mento de fatores não fisiológicos, tais como os distúrbios interferência oclusal, ausência de estabilidade oclusal e ou
oclusais que geram discrepância entre RC e MIH. de guia anterior e alteração da dimensão vertical.
Para realizar a auto observação, incline a cabeça para Trauma de oclusão são forças oclusais que excedem a
trás, fixe o olhar na união da parede com o teto do ambien- capacidade de adaptação do periodonto de sustentação e
te em que estiver, com o objetivo de contrair os músculos ou outros componentes do sistema estomatognático, poden-
do pescoço, relaxe os ombros e os braços, posicione a man- do ser:
díbula na dimensão vertical de repouso - DVR, em seguida,
abra e feche a mandíbula suavemente, dentro dos limites - Primário ou
do espaço funcional livre - EFL, sem contatar os dentes por - Secundário.
seis vezes; em seguida, feche-a suavemente simulando a
deglutição fisiológica até sentir o contato dentário. Trauma de Oclusão Primário é o que provoca uma
Se neste caso ocorrer um único contato dentário, lesão por forças oclusais excessivas sobre um periodonto de
pode ser uma prematuridade. Confirme sua localização re- susten-tação ou de inserção íntegro ainda não comprometi-
petindo o movimento de abertura e fechamento. Caso a do pela doença periodontal inflamatória, Figura 17.16A.
reprodução confirme a mesma localização, essa será a posi- Neste tipo de lesão, não ocorre perda de inserção. A lesão é
ção muscular de RC da mandíbula. reversível e geralmente pode ser corrigida pela eliminação
A seguir, feche a mandíbula a partir da prematurida- da causa que é a força oclusal excessiva.
de e observe se ela desliza protrusiva ou lateroprotrusiva- Trauma de Oclusão Secundário é o que provoca
mente guiada pelos dentes que apresentam a prematurida- uma lesão por forças oclusais normais ou excessivas sobre
de, assumindo a posição de MIH. O deslize entre a prema- um periodonto de sustentação ou de inserção já compro-
turidade em RC e a MIH é denominado discrepância em metido pela doença periodontal inflamatória, Figura
cêntrica. 17.16B. Este tipo de lesão ocorre freqüentemente nos casos de
Quando surgem alterações na con-formação, estrutura periodontites avançadas cujos dentes apresentam inserções
e ou função de uma das partes do SE, as demais interrela- bastante reduzidas.

FIG. 17.16
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 351

Contato oclusal expressa os contatos que ocorrem - Anterior.


entre as superfícies oclusais dos dentes antagonistas ao - À linha média da face.
final do movimento de fechamento da mandíbula, poden- - Contrária à linha média da face.
do ser:
Interferência oclusal expressa o contato oclusal não
- Contato oclusal cêntrico. fisiológico que ocorre entre as superfícies oclusais antago-
- Contato oclusal prematuro. nistas, dificultando ou impedindo os movimentos mandibu-
- Contato oclusal prematuro deflectivo. lares excursivos de:
- Protrusão.
Contato Oclusal Cêntrico é o contato oclusal dentá- - Lateralidade - lado de trabalho.
rio fisiológico que dá estabilidade à mandíbula no fecha- - Lateralidade - lado de não trabalho - balanceio.
mento em ORC, Ocorre normalmente de 4 a 10 minutos
diários, principalmente durante a deglutição (Figura 17.17). A falta de estabilidade posterior e ou de guia anterior
Contato Oclusal Prematuro é o conta-to oclusal den- também são distúrbios oclusais, pois sobrecarregam os den-
tário não fisiológico que dificulta ou impede o completo tes remanescentes, ATMs e músculos.
fechamen-to mandibular em ORC sem causar desvio. Finalmente as alterações de dimensão vertical, que
Ocorre entre ponta de cúspide e fossa antagonista, comum constituem um distúrbio oclusal que afetará principalmen-
em restaurações classe I ou II em amálgama, antes da es- te o Sistema neuromuscular. É importante lembrar que
cultura e acabamento final. Muitas vezes passam desaper- alterações na guia anterior e na dimensão vertical podem
cebidos, uma vez que o mercúrio marca a fita de carbono ainda gerar alterações na pronúncia de certos sons, com
ao invés desta marcar o contato prematuro. graves conseqüências fonéticas.
Contato Oclusal Prematuro deflectivo é o contato Os distúrbios oclusais freqüentemente são causados por
oclusal dentário não fisiológico que dificulta ou impede o mal posicionamento ou migrações dentárias, restaurações
completo fechamento da mandíbula, desviando-a de sua dentárias com contatos oclusais não fisiológicos ou ausentes,
trajetória normal de fechamento em ORC, gerando um ausência de dentes anteriores e ou posteriores, superiores e
deslize em direção: ou inferiores, uni ou bilateral e discrepâncias maxilares.

FIG. 17.18
Nesta ilustração vê-se um molar superior com uma lesão
de cárie e o mesmo restaurado, porém a restauração sem
FIG. 17.17 contato oclusal, ficando estes nos planos inclinados das
cúspides, direcionando as forças oclusais obliquamente
Nesta ilustração vê-se duas restaurações dentárias
em relação ao longo eixo médio do dentes, o que caracte-
ocluídas, em que as forças oclusais se dissipam paralelas
riza um distúrbio oclusal.
ao longo eixo médio dos dentes, não se caracterizando
como distúrbio oclusal.
352 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

FIG. 17.20
FIG. 17.19 Nesta ilustração, vê-se em A um molar inferior com lesão e
Nesta ilustração, vê-se em A um molar inferior com lesão e o antagonista com extrusão, em B o molar inferior restau-
o antagonista com extrusão, em B a demarcação da rado sem a prévia eliminação da extrusão do superior e
extrusão a ser eliminada e em C a extrusão eliminada sen- em C a interferência oclusal no lado de não trabalho gera-
do o molar inferior corretamente restaurado. do pela extrusão do antagonista não eliminada, causando
um distúrbio oclusal interferente.

FIG. 17.21
Nesta ilustração, vê-se um 3º molar inferior sem antagonis-
ta e extruído, provocando uma interferência oclusal no
movimento de protrusão e levando instabilidade às ATMs
e à guia anterior.
FIG. 17.22
Nesta ilustração, vê-se a ausência de estabilidade oclusal
do lado direito, o que permite a ação muscular M e M’
gerar instabilidade e estresse às ATMs, ao periodonto e aos
dentes remanescentes.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 353

BIOMECÂNICA DAS DESORDENS OCLUSAIS Usualmente, há mais de um sinal ou sintoma presente


nestes indivíduos.
A aplicação dos princípios biomecânicos no estudo do Os sinais do trauma oclusal são: grande mobilidade
estresse induzido no sistema estomatognático pelos distúr- dental, mudança no som a percussão dos dentes, padrões
bios oclusais ilustra claramente o mecanismo pelo qual atípicos de desgaste dental, migração patológica dos dentes,
mudanças patológicas produzem os sintomas reconhecidos hipertonicidade dos músculos da mastigação, formação de
nas desordens oclusais. abcessos periodontais, ulceração gengival e mudanças na
O estresse induzido ao sistema estomatognático pode ATM.
exceder em vinte vezes ao produzido durante as funções Os sintomas típicos destes distúrbios se manifestam no
fisiológicas de mastigação, deglutição e fala, resultando em sistema estomatognático, como dor ou desconforto perio-
mudanças adaptativas e ou proliferativas ou patológicas na dontal, hipersensibilidade dentária, dor e ou hipertonicida-
ATM, dentes, periodonto e músculos. Pode-se dependendo de muscular, mobilidade e ou migração dentária patológi-
do estresse então induzido aos respectivos tecidos, alcançar ca, dor nas ATMs, impacção alimentar, gerando desconfor-
ou exceder duas características individuais do paciente to gengival. Os pacientes relatam estes sintomas como uma
(hospedeiro) que devem ser consideradas: a suscetibilidade mudança na posição dos dentes, como uma migração pato-
- que é a tendência de sofrer influências ou contrair enfer- lógica do dente incisivo, uma mudança na mordida, uma
midades - e o limiar de tolerância - que é o limite máximo reclamação de impacção alimentar ou dolorimento gengi-
de tolerância do indivíduo (tecidos) aos esforços a partir do val, rangimento e apertamento noturno dos dentes, dolori-
qual um estímulo passa a produzir determinada resposta. mento dos dentes e músculos ao acordar, irregularidade do
Quando da presença de distúrbios oclusais, estes são movimento e travamento da ATM. Isso tudo é indicativo de
percebidos pelos proprioceptores (terminações nervosas que problemas relacionados com a oclusão podem estar
sensitivas), especialmente os do periodonto, integrados ao presentes.
sistema nervoso central que emite uma reação motora, de- Uma série completa de radiografias periapicais forne-
terminando uma hiperatividade dos agentes de defesa do ce meios para análise dos tecidos duros do periodonto.
organismo, podendo gerar disfunções ou desordens ao siste- Os sinais radiográficos do distúrbio oclusal envolvem
ma estomatognático. mais comumente a lâmina dura e o espaço da membrana
Mudanças adaptativas proprioceptivamente induzidas periodontal mas pode também envolver hipercementose,
pelas forças que tendem a deslocar o côndilo de sua fossa densidade maior do osso alveolar, calcificação pulpar e fra-
ou sobrecarregar os dentes podem incluir contração crôni- tura dental.
ca (tensão dinâmica) da porção superior do músculo pteri- Após um diagnóstico destes distúrbios, o exame das
góideo lateral. Este músculo puxa o disco articular para características da oclusão do paciente ajudará na definição
frente, deslocando o côndilo para baixo. Isto estabelece um do tratamento apropriado, não se esquecendo dos já co-
suporte condilar para prevenir uma sobrecarga nos dentes. mentados objetivos da Reabilitação Oral.
Mudanças proliferativas podem incluir aposição óssea Uma apreciação dos efeitos dos microrganismos e das
no côndilo e ou fossa, osteíte condensante da fossa, hiper- desordens oclusais sobre a população adulta pode ser feita,
cementose, exostose do osso alveolar e espessamento da no Quadro 17.1.
lâmina dura e do ligamento periodontal. O Quadro 17.2 mostra uma comparação das caracte-
As mudanças patológicas ou degenerativas induzidas rísticas dos pacientes em função e em disfunção ou para-
no sistema estomatognático pelos distúrbios oclusais são re- função.
conhecidas como desordens oclusais. Considerando o limiar de tolerância e a suscetibilida-
Podem incluir dores de cabeça crônica, desordens na de dos pacientes, as desordens geradas ao sistema estoma-
ATM (perfuração do menisco, osteoporose da fossa), des- tognático se manifestam em distintos grupos de pacientes,
gaste prematuro dos dentes, fratura de cúspide, pulpites, tais como:
dor facial, dor no pescoço e ombro, espasmos musculares,
reabsorção do osso alveolar, reabsorção do rebordo sob a Grupo I - pacientes suscetíveis à desordem periodontal.
prótese e desarranjo periodontal. - Quando da presença de distúrbios oclusais, apresen-
No tratamento das desordens oclusais, os distúrbios tam alterações do periodonto de sustentação que
oclusais devem ser removidos da oclusão. levam à mobilidade dentária ou à migração patoló-
A odontologia tem a habilidade de redirecionar o grau gica dos dentes.
e a direção das forças aplicadas sobre o sistema estomatog-
nático através da mudança da localização dos contatos den- Grupo II - pacientes suscetíveis à desordem neuromuscular
tários em várias posições mandibulares, aliviando o estresse – DNM, também denominada de síndrome dor disfunção
sobre os tecidos do sistema estomatognático. mio fascial.
A observação da presença de sinais e sintomas de distúr-
bios oclusais durante a anamnese e exame do paciente forne- - Quando da presença de distúrbios oclusais, apresen-
ce importantes meios para se chegar a um diagnóstico. tam disfunção mandibular.
354 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

QUADRO 17.1

MICRORGANISMOS (HIGIENE INADEQUADA)

Cárie dental (principalmente na infância)


Gengivite

DESEQUILÍBRIO OCLUSAL (MALOCLUSÃO)

Dor no ombro e pescoço


Doença periodontal avançada
Dor de cabeça
Dor facial
Desgaste prematuro
Pulpites
Periodontite apical
Disfunção da ATM
Prótese desconfortável
Audição prejudicada
Reabsorção radicular
Mordidas nos lábios e bochecha
Dor de garganta
Dor referida

QUADRO 17.2

FATOR FUNÇÃO PARAFUNÇÃO

Duração dos contatos dentários Curtos e intermitentes Prolongados


Duração dos contatos dentários em 24 hs. De 4 a 10 minutos 4 horas
Magnitude da força aplicada 9 a 18 Kg/pol2 Acima de 165 Kg/pol2
Direção da força aplicada Vertical (aceitável) Horizontal/ Lateral (injuriante)
Alavanca Classe III (às vezes classe II) Classe II ou I
Contração muscular Isotônica Isométrica
Influência ou proteção proprioceptiva Arco adaptável Arco
O reflexo condicionado evita a Esquelético
interferência dentária Mecanismo de proteção
neuromuscular ausente
Posição de fechamento mandibular Oclusão em relação cêntrica Excêntrica
Efeitos patológicos Nenhum ou ao menos mínimo Ocorrem mudanças patológicas
variáveis a cada paciente
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 355

Grupo III - pacientes suscetíveis à desordem oclusal. Cirúrgica - deve ser utilizada para corrigir discrepân-
- Quando da presença de distúrbios oclusais e outros cia dos maxilares em paciente adulto
fatores de origem psicológica e sistêmica induz o Nas outras áreas os esforços se concentram na pró-
desenvolvimento do hábito parafuncional de apertar pria desordem, ou em alguns casos em determinados sin-
e ou ranger os dentes. É o bruxismo. tomas, não necessariamente resolvendo a causa. Porém
em determinadas situações a associação destas terapias oti-
Grupo IV - pacientes suscetíveis à desordem temporoman- mizam e agilizam o tratamento odontológico. Alguns
dibular - DTM. exemplos são:
- Quando da presença de distúrbios oclusais, apresen- Fisioterapia - através do calor local - produzido por
tam um número de problemas clínicos que envol- uma toalha úmida aquecida sobre a região sintomática,
vem a musculatura mastigatória, as articulações mantida por 10 a 15 minutos, nunca ultrapassando 30 minu-
temporomandibulares - ATMs e ou estruturas asso- tos aumenta a circulação sangüínea na área aplicada. O uso
ciadas. do TENS (Transcutaneous Electrical Nerve stimulation) re-
Grupos V - pacientes não suscetíveis às desordens. comendado nos casos de dores faciais provocadas pelo há-
- Quando da presença de distúrbios oclusais, apresen- bito, mostrando-se como meio efetivo de controlar a dor e
tam uma acomodação tecidual. indução do relaxamento muscular.
Farmacológica - com o uso de miorrelaxantes. Tem
CONDUTAS TERAPÊUTICAS DAS DESORDENS um efeito limitado ao período de ação da droga, reinician-
OCLUSAIS do a sintomatologia quando de sua interrupção.
Psicológica - deve ser exercida por um profissional da
São várias as condutas terapêuticas das desordens área.
oclusais e disfuncionais, porém o único objetivo é estabele-
cer uma oclusão fisiológica. AJUSTE OCLUSAL POR ACRÉSCIMO DE
O tratamento deve ser de forma multiprofissional e MATERIAL RESTAURADOR OU DESGASTE
abranger vários aspectos, da terapia odontológica direta, DENTÁRIO SELETIVO
ajuste oclusal e ou restauradora; e da indireta, placas inte-
roclusais. Além de outras áreas, como a fisioterapia, a tera- O ajuste oclusal é a conduta terapêutica que trata das
pia médica, fármacológica, psicológica e o auto recondicio- modificações feitas nas superfícies dos dentes, restaurações
namento. Na odontologia os esforços se concentram em ou próteses, através de desgaste seletivo ou acréscimo de
eliminar ou minimizar os distúrbios oclusais, objetivando, materiais restauradores, buscando harmonizar os aspectos
como já dito restabelecer uma oclusão fisiológica. Assim funcionais maxilomandibulares na oclusão em relação cên-
sendo as seguintes terapias podem, dependendo da análise trica e nos movimentos excêntricos.
individual, ser utilizadas. Tem como finalidade melhorar as relações funcionais
Ajuste Oclusal - deve ser realizado sempre que estive- da dentição para que, juntamente com o periodonto de
rem presentes sinais e sintomas de oclusão traumática ou sustentação receba estímulo uniforme e funcional, propici-
patológica, discrepância em RC e interferências oclusais ando as condições necessárias para a saúde do sistema neu-
para reanatomizar as superfícies oclusais dos dentes, restau- romuscular e das articulações temporomandibulares.
rações e ou próteses, por acréscimo ou desgaste seletivo, Deve-se indicar o ajuste oclusal somente após um cor-
Placa Oclusal – deve ser utilizada para reposicionar a reto diagnóstico das necessidades do paciente
mandíbula e ou promover relaxamento muscular, diminui São as seguintes as indicações do ajuste oclusal:
a sintomatologia mesmo não tendo sido removidos os dis-
túrbios, pois podem atuar na ATM, induzindo o côndilo a - sempre que estiverem presentes sinais e sintomas de
se posicionar corretamente na fossa mandibular. Talvez a oclusão traumática ou patológica e as relações oclu-
simples distribuição das forças mastigatórias seja responsá- sais puderem ser melhoradas pelo ajuste, nas se-
vel por esse alívio sintomatológico. guintes situações:
Restauradora - a terapia restauradora deve ser realiza- - eliminar discrepância oclusal em relação cêntrica;
da, sempre que estiver presente superfície coronária dentá- - eliminar a tensão muscular anormal e conseqüente
ria parcial ou totalmente destruída, e que sua reconstitui- desconforto e dor resultante de hábitos como aper-
ção através da restauração dentária direta e ou indireta se tamento ou bruxismo, mesmo sabendo que terapias
fizer necessária para o restabelecimento da dimensão verti- complementares serão necessárias, como por exem-
cal de oclusão, relação cêntrica de oclusão, estabilidade plo uso de placa e terapia psicológica;
oclusal e guia anterior. - tratamento da disfunção neuromuscular;
Ortopédica - deve ser utilizada para corrigir discre- - estabelecer um padrão oclusal ótimo previamente e
pância dos maxilares em paciente jovem, durante procedimentos restauradores;
Ortodôntica - deve ser utilizada para nivelar e alinhar - auxiliar na estabilização dos resultados obtidos pelo
dentes, tratamento ortodôntico e ortopédico;
356 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

- Auxiliar na estabilização dos resultados obtidos pela O ajuste em RC será considerado concluído quando
cirurgia bucomaxilofacial; for obtida a estabilidade condilar e sua contenção, pelo
- Como coadjuvante no tratamento periodontal, nas maior número possível de contatos oclusais bilaterais
situações de trauma oclusal primário e secundário. (cúspides funcionais versus fossas oclusais antagonistas)
Na distribuição dos esforços quando da mobilidade sem contato dos dentes anteriores. Se estes ocorrerem,
dental. devem ser simultâneos aos contatos dos dentes posterio-
O ajuste oclusal: res, o que significa a obtenção da oclusão em relação cên-
- não deve ser feito profilaticamente (sem que o pa- trica - ORC. E o ajuste nos movimentos excêntricos estará
ciente apresente sinais e sintomas de oclusão trau- concluído quando as guias anteriores de protrusão e late-
mática ou patológica), ralidade estiverem efetivas em desenvolver a desoclusão
- não deve ser executado sem o diagnóstico da causa dos dentes posteriores, protegendo-os de sobrecarga late-
do distúrbio, o porquê desta causa e a maneira cor- ral. Este padrão oclusal é chamado de oclusão mutua-
reta de como fazê-lo. Um mau ajuste pode piorar o mente protegida. A seguir sugere-se regras para o ajuste
quadro. cêntrico e excêntrico, lembrando que o posicionamento
dental e as restaurações presentes, bem como outros fato-
São objetivos do ajuste oclusal: res poderão alterar as regras, que por isto são sugeridas e
não absolutas.
- eliminar os contatos que defletem a mandíbula da
posição de relação cêntrica para a máxima intercus- AJUSTE EM RELAÇÃO CÊNTRICA
pidação habitual;
- dirigir os vetores de força para o longo eixo dos dentes; Contato deflectivo com deslize em direção
- evitar sempre que possível, qualquer redução na al- à linha média
tura das cúspides funcionais;
- estreitar a mesa oclusal ao invés de alargá-la; Sempre que houver um contato deflectivo entre uma
- uma vez obtida a estabilidade em relação cêntrica, cúspide funcional e uma não funcional, este ocorrerá en-
não tocar mais nas cúspides funcionais. Muitas ve- tre uma vertente lisa da cúspide funcional (vestibular infe-
zes no ajuste excêntrico nós desgastamos estas cús- rior ou palatina superior) versus uma vertente triturante
pides sem alterar a dimensão vertical; da cúspide não funcional (vestibular superior ou lingual
- Fazer os ajustes excêntricos após o ajuste cêntrico inferior).
com o cuidado de não alterar a dimensão vertical.
Local de desgaste
O local do desgaste na superfície oclusal deve restrin-
gir-se única e tão somente à área demarcada pela fita mar- Em se tratando de estruturas de diferentes importân-
cadora, utilizando-se de uma broca diamantada ou carbide cias funcionais, opta-se prioritariamente pelo desgaste na
tipo 12 lâminas em alta rotação cuja forma melhor se adap- vertente lisa até que o contato ocorra na ponta da cúspide
te à face do dente a ser ajustada, optando sempre pelo funcional. Em seguida desgasta-se o contato na vertente
desgaste da estrutura menos importante na estabilidade triturante da cúspide não funcional, Figura 17.23.
oclusal.
O ajuste oclusal é sempre realizado em relação cêntri- Contato deflectivo com deslize em direção
ca – RC, visto que o que se busca é o restabelecimento da contrária à linha média
oclusão em relação cêntrica – ORC.
Observam-se três posições distintas do relacionamento Sempre que houver um contato deflectivo entre
oclusal antes e após o ajuste cêntrico: duas cúspides funcionais antagonistas, este ocorrerá en-
tre uma vertente triturante de uma cúspide funcional
- Máxima intercuspidação habitual - MIH, é uma versus vertente triturante de uma cúspide funcional anta-
posição adquirida em que se tem uma estabilidade gonista.
oclusal independente da estabilidade condilar - RC,
ou seja, máxima intercuspidação - MI diferente de Local de desgaste
RC antes do ajuste;
- Relação cêntrica - RC é uma posição de estabilida- Por se tratar de estruturas de mesma importância fun-
de condilar independente da estabilidade oclusal - cional, desgasta-se o contato que se localizar mais próximo
MI, ou seja, MI diferente de RC antes do ajuste; da ponta da cúspide. Assim que conseguir o contato na
- Oclusão em relação cêntrica - ORC é uma posição ponta da cúspide, desgasta-se a vertente triturante antago-
em que se tem uma estabilidade condilar - RC coin- nista. Quando os dois contatos se localizarem à mesma
cidente com a estabilidade oclusal - MI, ou seja, é a distância da ponta da cúspide, desgasta-se no dente em po-
posição almejada ao concluir o ajuste. sição mais desfavorável, Figura 17.24.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 357

FIG. 17.24

FIG. 17.23

Contato deflectivo com deslize em direção


Local de desgaste
anterior
Observar a posição dos dentes na arcada. Se estiverem
Sempre que houver um contato deflectivo entre duas
em boa posição, desgasta-se justamente o ponto demarcado
cúspides funcionais antagonistas, este ocorrerá entre uma
nas vertentes e arestas em ambos os dentes; caso contrário,
vertente triturante ou aresta longitudinal mesial da cúspide
desgasta-se o dente em posição mais desfavorável, Figura
funcional superior versus vertente triturante ou aresta longi-
17.25.
tudinal distal da cúspide funcional inferior.

FIG. 17.25
358 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

Contato prematuro sem deslize b) Desoclusão pela função em grupo:


Neste padrão de desoclusão durante o movimento de
Sempre que houver um contato pré-maturo entre trabalho ocorrem contatos contínuos de deslocamento en-
uma cúspide funcional e sua respectiva fossa antagonista, tre a superfície incisal do canino inferior e a fossa lingual
este ocorrerá entre uma ponta de cúspide funcional versus do canino superior e entre as vertentes lisas ou pontas das
fossa do dente antagonista ou ponta de cúspide funcional cúspides vestibulares inferiores e as vertentes triturantes das
versus faceta ou platô da vertente triturante de uma das cúspides vestibulares superiores de todos os dentes deste
cúspides antagonistas. Esta situação ocorre em casos onde lado.
existem facetas de desgaste ou após os ajustes em relação
com desvio, ou ainda após restaurações oclusais, inlays e Local de desgaste
onlays em que as fossas não foram esculpidas corretamente.
Quando as interferências forem em apenas alguns
Local de desgaste dentes posteriores, desgas-tam-se as vertentes lisas das cúspi-
des vestibulares inferiores até contatar a ponta da cúspide;
Consultar os movimentos de lateralidade se o desgaste não for suficien-te, faz-se nas vertentes tritu-
rantes das cúspides, vestibulares superiores dos dentes con-
a) se durante o movimento de trabalho a cúspide fun- tatantes até harmonizar a desoclusão em grupo.
cional tocar na vertente triturante e ou na ponta de
cúspide não funcional, e ou durante o movimento Ajustes dos lados de não trabalho
de balanceio as cúspides funcionais tocarem, des-
gasta-se na ponta da cúspide de contenção, Figura No ajuste dos lados de não trabalho busca-se remover
17.26. todas e quaisquer interferências oclusais que ocorreram en-
b) se durante os movimentos de lateralidade a cúspide tre os dentes deste lado durante o movimento. Se ocorrer
funcional não tocar no dente antagonista, desgasta- alguma interferência oclusal esta será entre a ponta de cús-
se a fossa, faceta ou platô, Figura 17.27. pide ou vertente triturante de uma cúspide funcional versus
ponta de cúspide ou vertente triturante da cúspide funcio-
AJUSTE DOS MOVIMENTOS MANDIBULARES nal antagonista.
DE LATERALIDADE
Local de desgaste
Considerando que a posição inicial de todos os movi-
mentos mandibulares é a oclusão em relação cêntrica - Por se tratar de interferência oclusal entre estruturas
ORC, para iniciar o ajuste dos movimentos excêntricos é dentárias de mesma importância funcional, deve-se desgas-
indispensável que o paciente já se encontre em tal posi- tar a interferência que se localizar mais próxima da ponta
ção. da cúspide; após conseguir a interferência na ponta da cús-
pide, desgasta-se a vertente triturante antagonista. Quando
Ajustes dos lados de trabalho as duas interferências se localizarem à mesma distância da
ponta da cúspide, desgasta-se no dente em posição mais
No ajuste dos lados de trabalho, há que se considerar desfavorável.
o padrão de desoclusão do paciente, se houver: Se a interferência for entre as pontas das cúspides des-
gasta-se no dente em posição mais desfavorável na oclusão
a) Desoclusão pela guia canina. em relação cêntrica - ORC, Figura 17.29.
Neste padrão de desoclusão, durante o movimento de
trabalho, os únicos dentes a contatarem são os caninos des- AJUSTE DO MOVIMENTO MANDIBULAR
te lado, não devendo apresentar nenhum outro contato EM PROTRUSÃO
entre os demais dentes anteriores e posteriores. Se ocorrer
alguma interferência oclusal esta será entre a ponta de cús- Tal como nos movimentos de lateralidade, a posição
pide ou vertente lisa de uma cúspide funcional versus pon- inicial do movimento de protrusão é a ORC.
ta de cúspide ou vertente triturante de uma cúspide não No movimento de protrusão, deve-se observar o con-
funcional. tato contínuo da guia anterior propriamente dita (pelo
menos em dois dentes incisivos inferiores) e a total deso-
Local de desgaste clusão dos dentes posteriores, se ocorrer qualquer interfe-
rência oclusal deverá ser removida até que a guia anterior
Deve-se evitar desgastar a ponta de cúspide funcional; seja restabelecida, (Figura 17.30). Obviamente uma defi-
após o ajuste do lado de trabalho, deve-se também verificar ciência na forma dos dentes anteriores pode impor a ne-
a ocor-rência de contatos no movimento de balanceio, Fi- cessidade da restauração, com conseqüente restabeleci-
gura 17.28. mento da guia.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 359

FIG. 17.27
FIG. 17.26

FIG. 17.29
FIG. 17.28

FIG. 17.30
360 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

PROCEDIMENTOS CLÍNICOS PARA O AJUSTE interferentes e o relaxamento muscular que facilitará a ma-
OCLUSAL POR ACRÉSCIMO OU DESGASTE SELETIVO nipulação mandibular pela técnica de eleição.

Procedimentos: MANIPULAÇÃO MANDIBULAR

A. Obtenção e montagem dos modelos de estudo em Existem duas técnicas de manipulação mandibular
articulador semi-ajustável, para a obtenção da relação cêntrica:
B. Análise Funcional da Oclusão,
C. Ajuste Oclusal Clínico - Técnica frontal de manipulação de Ramfjord
- Técnica bilateral de manipulação de Dawson.
MONTAGEM DOS MODELOS DE ESTUDO EM
ARTICULADOR SEMI-AJUSTÁVEL O importante não é a técnica empregada, mas sim a
precisão obtida, o que poderá ser confirmado pela reprodu-
Após a montagem do modelo de estudo do arco supe- ção da manipulação e a marcação repetitiva do ponto de
rior no articulador com o auxilio do arco facial, o paciente contato do incisivo inferior sobre o jig com uma fita marca-
usará então um jig por aproximadamente 5 minutos. O que dora para ajuste ou a reprodução de qualquer outro contato
propiciará a perda da memória proprioceptiva dos dentes de referência.

FIG. 17.31
Ajuste oclusal em relação cêntrica: Paciente com JIG –
desprogramação neuromuscular.

FIG. 17.32 FIG. 17.33


Ajuste oclusal em relação cêntrica: Manipulação mandibu- Ajuste oclusal em relação cêntrica: Manipulação mandibu-
lar – técnica frontal. lar – técnica bilateral.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 361

FIG. 17.34 FIGURA 17.35


Ajuste oclusal em relação cêntrica: Tomada do registro em Ajuste oclusal em relação cêntrica: Montagem em
Relação cêntrica. articulador semi-ajustável – modelos em relação cêntrica.

FIG. 17.36
Ajuste oclusal em relação cêntrica: Ramos superior e infe-
rior, após montagem dos modelos, ao lado fita
evidenciadora de contatos, e instrumental para desgaste
no gesso.

ANÁLISE FUNCIONAL DA OCLUSÃO


ções dos desvios até atingir a MIH, podendo ser realizada
É o procedimento pelo qual se detecta as possíveis clinicamente ou através de modelos de estudo montados
prematuridades que o paciente apresenta em RC e as dire- em articulador semi-ajustável.

FIG. 17.37 FIG. 17.38


Ajuste oclusal em relação cêntrica: Fita de papel celofane Ajuste oclusal em relação cên-trica: Fita evidenciadora de
presa na área equivalente ao contato prematuro. contatos na mesma região definida pelo papel celofane.
362 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

FIG. 17.39
Ajuste oclusal em relação cên-trica: Contato marcado no
arco superior, vertente triturante mesial da cúspide pala-
tina do segundo molar superior direito.

AJUSTE OCLUSAL CLÍNICO

FIG. 17.40 FIG. 17.41


Ajuste oclusal em relação cêntrica: Mesmo contato descrito Ajuste oclusal em relação cêntrica: Contato marcado no
anteriormente, porém evidenciado na boca. arco inferior, aresta longitudinal distal da cúspide disto-
vestibular do segundo molar inferior direito.

FIG. 17.42 FIG. 17.43


Ajuste oclusal em relação cêntrica: Mesmo contato descrito Ajuste oclusal em relação cêntrica: Local escolhido para
anteriormente, porém evidenciado na boca. desgaste no modelo, através de instrumento cortante.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 363

FIG. 17.44
Ajuste oclusal em relação cêntrica: Desgaste sendo feito no
dente através de broca carbide 12 lâminas, eliminando
desvio contrário a linha média.

Este procedimento de marcação e eliminação das versus fossas oclusais antagonistas) eliminando assim as
prematuridades se repetirá até que seja obtida a estabili- discrepâncias em cêntrica e harmonizado a MI com a
dade condilar e sua contenção, pelo maior número possí- RC, o que significa a obtenção da oclusão em relação
vel de contatos oclusais bilaterais (cúspides funcionais cêntrica - ORC.

AJUSTE EXCÊNTRICO COM ACRÉSCIMO DE RESINA

FIG. 17.45 FIG. 17.46


Ajuste do movimento de lateralidade esquerdo: o paciente Ajuste do movimento de lateralidade esquerdo: execução
em relação cêntrica, apresenta um canino mal do movimento, antes da confecção da resina na superfície
posicionado, que determinou a opção pelo ajuste por palatina do dente 23.
acréscimo seletivo de resina na palatina do dente 23.

FIG. 17.47
Ajuste do movimento de lateralidade esquerdo: fita
evidenciadora de contatos, em posição durante o movi-
mento – notar que todos os dentes do hemiarco estão
cobertos pela fita.
364 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

FIG. 17.48 FIG. 17.49


Ajuste do movimento de lateralidade esquerdo: contatos Ajuste do movimento de lateralidade esquerdo: contatos
demarcados em vermelho no arco superior, o canino só demarcados no arco inferior, notar os contatos de
toca no final do movimento. lateralidade marcados nas vertentes lisas das cúspides fun-
cionais dos dentes: 35, 36 e 37.

FIG. 17.50 FIG. 17.51


Ajuste do movimento de lateralidade esquerdo: paciente Ajuste do movimento de lateralidade esquerdo: execução
em relação cêntrica, após a confecção da resina na do movimento, após a confecção da resina na superfície
palatina do 23 – não deve constituir-se uma palatina do dente 23 – notar guia canina antes inexistente
prematuridade.

FIG. 17.52
Ajuste do movimento de lateralidade esquerdo: trajeto da
guia canina, demarcado pelo movimento do canino infe-
rior na concavidade palatina do superior, quando da
interposição da fita evidenciadora de contatos.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 365

TERAPIA RESTAURADORA Sendo os dentes - periodonto e oclusão, as articula-


ções temporomandibulares e o sistema neuromuscular os
Entre as condutas terapêuticas utilizadas para tratar as determinantes fisiológicos do sistema estomatognático, es-
desordens oclusais, têm-se como já visto, os procedimentos tes devem ser investigados antes de qualquer procedimen-
restauradores, que essencialmente restabelecem ou man- to restaurador, a fim de determinar a normalidade ou não
têm a dimensão vertical, a relação cêntrica, a estabilidade das funções do sistema, detectando qual impacto, seja
posterior e a guia anterior. Desta forma é impres-cindível positivo ou negativo pode ter uma restauração específica.
que um cirurgião-dentista que trabalha com a restauração Da mesma forma que um paciente deve ser alertado sobre
da anatomia oclusal e ou incisal saiba como harmonizá-la os malefícios trazidos pela ausência de dada restauração,
aos dentes vizinhos e antagonistas tanto durante o fecha- também deve estar devidamente informado para que não
mento quanto durante os movimentos mandibulares. Che- crie uma demasiada expectativa frente a limitações de
car os contatos cêntricos durante a abertura e fechamento, materiais ou da própria biologia e fisiologia dos tecidos
implica em reproduzir clinicamente os contatos que ocor- envolvidos.
rerão durante o final da mastigação e ou deglutição; checar Em nossa cultura, dificilmente um ser humano será
um movimento lateral da mandíbula implica em reprodu- plenamente feliz se não puder sorrir com liberdade e des-
zir clinicamente o ato mastigatório daquele lado durante a prendimento ou se não puder se alimentar dignamente,
alimentação cotidiana e finalmente, checar uma guia ante- isto implica em dentes saudáveis funcional e esteticamente,
rior implica em reproduzir clinicamente o movimento de tornando nobre e responsável a tarefa de trabalhar as super-
apreensão e corte dos alimentos. Qualquer face a ser re- fícies oclusais e ou incisais dos mesmos. As figuras a seguir
construída tem funções específicas, mais ou menos impor- ilustram situações clínicas de ajuste cêntrico e excêntrioco
tantes que outras, mas que não podem ser negligenciadas, de restaurações inlays e onlays e restabelecimento de estéti-
como foi visto, sob risco de gerar sobrecargas a outras estru- ca incisal, com a responsabilidade de devolver uma guia
turas, com perda ou alteração cada vez maior das funções anterior mais eficiente, dividida com o outro central e pro-
do sistema estomatognático. tegendo os posteriores de sobrecarga.

TERAPIA RESTAURADORA - EXEMPLOS CLÍNICOS

Ajuste clínico de uma inlay

FIG. 17.53 FIG. 17.54


Ajuste cêntrico de uma restauração inlay: o dente 14 - Ajuste cêntrico de uma restauração inlay: fita eviden-
preparado receberá uma restauração disto-oclusal. ciadora com o lado vermelho voltado para o dente prepa-
rado.
366 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

FIG. 17.55 FIG. 17.56


Ajuste cêntrico de uma restauração inlay: contatos Ajuste cêntrico de uma restauração inlay: contatos
cêntricos marcados em vermelho, antes da restauração do cêntricos marcados em preto, após a restauração do dente
dente 14. 14, a tinta preta deve cobrir toda a vermelha, ou teremos
uma prematuridade impedindo o fechamento.

Ajuste clínico de uma onlay

FIG. 17.57 FIG. 17.58


Ajuste cêntrico de uma restauração onlay: dente 46 prepa- Ajuste cêntrico de uma restauração onlay: demarcação dos
rado para receber uma restauração em porcelana pura. contatos cêntricos, através de fita evidenciadora com o
lado vermelho voltado para o dente preparado.

FIG. 17.59
Ajuste cêntrico de uma restauração onlay: contatos
cêntricos marcados em vermelho nos dentes vizinhos ao
preparado – o isolamento absoluto não desfaz as marcas.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 367

FIG. 17.60 FIG. 17.61


Ajuste cêntrico de uma restauração onlay: fixação da res- Ajuste cêntrico de uma restauração onlay: demarcação dos
tauração através de cimento dual após ajustes proximais. contatos cêntricos, através de fita evidenciadora com o
lado preto voltado para o dente preparado.

FIG. 17.62 FIG. 17.63


Ajuste cêntrico de uma restauração onlay: contato prema- Ajuste cêntrico de uma restauração onlay: desgaste do
turo marcado em preto na restauração. contato prematuro demarcado.

FIG. 17.64 FIG. 17.65


Ajuste cêntrico de uma restauração onlay: contatos Ajuste excêntrico de uma restauração onlay: movimento
cêntricos marcados em preto após o ajuste da de lateralidade esquerda com o lado vermelho voltado
prematuridade; notar que a tinta preta cobrindo a ver- para o dente que está sendo restaurado, lembrar que con-
melha, indica que a restauração apresenta contatos com a forme foto anterior os contatos cêntricos estão demarca-
mesma altura dos presentes nos dentes vizinhos. dos em preto.
368 PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL - PARADIGMA, CIÊNCIA E HUMANIZAÇÃO

FIG. 17.66 FIG. 17.67


Ajuste excêntrico de uma restauração onlay: notar conta- Ajuste excêntrico de uma restauração onlay: desgaste da
tos cêntricos em preto e excêntricos em vermelho, ou seja interferência oclusal na cúspide distovestibular da restau-
a marca vermelha na cúspide disto vestibular é uma inter- ração
ferência oclusal

FIG. 17.68
Ajuste excêntrico de uma restauração onlay: repetição do
movimento de lateralidade esquerdo com o lado vermelho
da fita evidenciadora de contatos voltado para a restaura-
ção, a ausência de marcas vermelhas indica uma correta
guia canina com ausência de interferências oclusais, o
mesmo processo deve ser repetido para o movimento de
lateralidade direito e guia anterior.

Restabelecimento clínico de guia anterior

FIG. 17.69 FIG. 17.70


Restabelecimento da estética e da guia anterior através de Restabelecimento da estética e da guia anterior através de
resina composta: sorriso da paciente, notar menor compri- resina composta: sorriso da paciente após confecção
mento cérvico-incisal do dente 11. de resina devolvendo o terço incisal da face vestibular do
dente 11.
HARMONIA OCLUSAL PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE 369

FIG. 17.71 FIG. 17.72


Restabelecimento da estética e da guia anterior através de Restabelecimento da estética e da guia anterior através de
resina composta: guia anterior deficiente, somente o den- resina composta: movimento protrusivo com adequada
te 21 toca durante o movimento de protrusão. guia anterior – distribuição dos esforços nos dentes 11 e
21.

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