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Os Puritanos
e a conversão
Pecado: O Mal sem Par
Samuel Bolton
A Conversão de um Pecador
Nathaniel Vincent
A Coisa Indispensável
Thomas Watson
Título original:
The Puritans on Conversion
Editora:
Soli Deo Gloria Publications
Tradução do inglês:
Marlene Marques Prado
Revisão:
Antonio Poccinelli Capa:
Ailton Oliveira Lopes
Composição e impressão:
Imprensa da Fé
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ÍNDICE
Prefácio do Editor
PREFÁCIO DO EDITOR
À Sua Glória
DonKistler
Soli Deo Gloria Publications
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PREFÁCIO PARA
"OS PURITANOS E A CONVERSÃO"
O tema mais crucial com o qual a mente e o coração humano podem se
ocupar está ligado com a questão, "como pode o pecador se tornar justo diante
de Deus?" Todos os que têm se apegado à fé bíblica e apostólica concordam
que a única base de aceitação dos pecadores por Deus está incluída na obra
dohomem-Deus, Jesus Cristo, Aquele que levou os pecados do Seu povo,
como substituto dele, e adquiriu a justiça perfeita como fruto de Sua vida,
morte e ressurreição (Rom. 5:12).
Entretanto, as Escrituras deixam bem claro que ninguém chega a
possuir a justiça operada por Cristo, exceto através da total conversão a Deus
(Atos 26:16-18; Mateus 18:3). A verdadeira conversão compreende a área na
qual há grande confusão e terrível engano em nossos dias, sim, mesmo entre
os evangélicos que são esclarecidos na questão do fundamento da aceitação
do pecador por Deus. É precisamente na área da apresentação da doutrina
bíblica da conversão que os pregadores puritanos têm muito a nos ensinar.
Enquanto o livro de Joseph Alleine Um Guia Seguro para o Céu e Um
Chamado ao não Convertido de Richard Baxter foram editados inúmeras vezes
nas últimas décadas e se tornaram um modelo da pregação puritana sobre a
doutrina da conversão, os três menores tratados reunidos neste livro nos dão a
essência do mesmo entendimento puritano sobre a doutrina da conversão.
As vantagens desta trilogia é que cada sermão tem sua área distinta de
força na apresentação de uma sã teologia da conversão e um profundo
discernimento pastoral do método de conversão. Contrastando com muitas
pregações e publicações evangélicas em nossos dias, estes três sermões são
marcados por características distintivas no extenso conteúdo da doutrina
puritana da conversão, e a maneira pela qual pregaram essa doutrina.
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O CONTEÚDO DA DOUTRINA DA
CONVERSÃO
1. Eles mostram o terrível mal do pecado sem, de modo algum, tirar o
brilho da magnitude da graça de Deus. O tratado de Bolton é muito útil ao
mostrar que ninguém consegue exagerar o tremendo mal do pecado. Além
disso, o referido tratado em conjunto com os outros dois sermões silencia para
sempre qualquer acusação de que uma preocupação com os detalhes e a
extensão do mal do pecado poderiam obscurecer a magnitude da graça de
Deus.
2. Os sermões demonstram a necessidade de um exame consciente do
pecado sem, de modo algum, restringir a liberdade de acesso do pecador a
Cristo ou a necessidade imediata de suplicar a misericórdia perdoadora de
Deus.
3. Cada um destes sermões desperta a consciência sobre a absoluta
necessidade de um profundo e completo arrependimento, se é que deva
existir uma fé genuína na promessa de perdão para os pecadores que crêem.
Ao contrário do conceito de "graça barata" em nossos dias, estes autores
demonstram de uma maneira convincente, que Jesus Cristo veio para salvar
Seu povo de seus pecados, mas não em seus pecados.
4. Cada um destes autores é claro em relação a tão discutida questão, se
Cristo pode ser ou não recebido como Salvador enquanto não conhecido como
Senhor. Como um exemplo dessa asserção, Vincent mostra que na verdadeira
conversão, os convertidos são tirados das "trevas da ignorância". E assim, cita
uma das áreas específicas na qual esta libertação ocorre. Ele escreve: "Ele os
faz saber que Cristo deve ser recebido por fé, que não existe salvação em
nenhum outro, e que é vão esperar qualquer coisa dEle como Salvador, a não
ser que haja consenso em obedecê-lO como Senhor. Estas e outras verdades
não são mais desconhecidas por eles." Mais tarde no mesmo tratado ele
escreve: "O convertido vê Deus como Senhor. Ele se apropria de Sua soberania
e submete-se ao Seu cetro. Na verdade em tempos passados outros senhores tiveram
domínio sobre ele (Is. 26:13), mas agora sua resolução é firme e imperiosa em
não pertencer a nenhum outro Senhor, senão somente a Deus. Sua vontade se
submete em obediência à vontade de Deus e concorda com ela."
5. Estes tratados mostram uma visão da conversão centralizada em
Deus. Embora não haja nada obscurecendo as realidades de paz e de alegria
que goza o penitente e convicto pecador, há uma constante ênfase sobre o fato
de que na conversão é propósito de Deus trazer o pecador de volta à intenção
original para a qual ele foi criado - a saber, para uma vida centralizada em
Deus. Novamente as palavras de Vincent deixam isso bem claro quando ele
escreve: "O convertido vê Deus como seu objetivo máximo, vê que Deus deve
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impressão errada. Deve ser lembrado que a visão puritana sobre justificação
somente pela fé, através da imputação da justiça de Cristo, era tão clara
quanto a de Martinho Lutero. Este aspecto é certamente destacado nestas
obras. Por exemplo, Bolton escreve: "Cristo não deixou nada para ser feito por
nós, a não ser receber o que Ele adquiriu e entregou às mãos do Pai; nada
além do que pedir uma absolvição, sim, das mãos dAquele que é justo, e que
nunca nos decepcionará; das mãos dAquele que certamente concederá tudo o
que Seu Filho tenha adquirido pela Sua obra redentora". Bolton prossegue
escrevendo: "Oh, como isso deveria fazer-nos promover Cristo, admirar
Cristo, valorizar Cristo! O que aproximaria mais nossos corações de Cristo do
que saber que Ele levou nossos pecados e o fez de modo que nunca jamais
teremos que levá-los se estivermos vinculados a Ele?" Entretanto, para uma
compreensão mais profunda da doutrina puritana da justificação devem ser
lidos trabalhos tais como o Volume 5 de Owen, o Volume 8 de Goodwin e as
seções específicas nas obras de Roberl Traill.
Ao exporem tais textos, como Rom. 4:4-5, estes homens declaram a
graciosidade e a plenitude da salvação fundamentada na obra de Cristo. Mas
quando examinaram textos tais como Lucas 13:24, que nos ordena a que
"esforçemo-nos para entrar pela porta estreita" eles não se detiveram em expor
e aplicar a pressão própria de tais textos.
Se existe qualquer esperança de que a verdadeira doutrina da conversão
seja mais uma vez proclamada no poder e na compaixão do Espírito Santo, é
bem provável que os autores destes sermões e destas páginas sejam os nossos
guias mais úteis.
O editor deve ser elogiado por tornar estes três tratados sobre a
conversão acessíveis a nossa necessitada geração.
coração doeu a Davi" e ele orou, versículo 10: "... Peço-te que traspasses a
iniqüidade de teu servo; porque tenho procedido mui loucamente..."
Aqui, porém, alguém pode interrogar: por que Davi orou pelo perdão
de seu pecado, quando Deus ameaçou com julgamento? Por que ele não pediu
que Deus suspendesse Seus castigos, e assim desviasse Sua ira em vez de
simplesmente suplicar perdão pelo seu pecado? Ou se ele desejou isso, por
que então não suplicou tanto um quanto o outro, unindo-o na mesma petição?
Resposta 1. Para ensinar-nos em todas as opressões e aflições sobre o
nosso homem exterior a voltarmos os nossos pensamentos para o nosso
homem interior e lamentar pelo pecado.
Resposta 2. Porque ele viu o pecado como a causa do julgamento e
portanto, desejou a remoção deste para que o outro fosse retirado.
Resposta 3. Porque ele sabia que o julgamento jamais poderia ser
removido através da misericórdia, a menos que o pecado fosse retirado. Tudo
o que é retido é também uma reserva. Toda libertação é feita em justiça, não
em misericórdia, se permanece o pecado.
Resposta 4. Ele estava mais apreensivo por estar desonrando a Deus
através de seu pecado, do que propriamente com qualquer julgamento que
resultasse do seu pecado.
Resposta 5. Ele vê no pecado o grande mal, e portanto busca a correção
deste mais do que qualquer outro mal: "...traspasses a inqüidade do teu servo...".
No texto observa-se duas partes da oração: (1) Confissão (2) Petição.
1. Confissão, com auto-julgamento: "porque tenho procedido mui
loucamente... "
2. Petição: "... traspasses a iniqüidade do teu servo... ", unida com fé.
Aqui temos (1) o suplicante, Davi, declarando seu relacionamento: "...
teuservo", (2) o suplicado, Deus, (3) a petição em si:"... traspasses (ou perdoes) a
iniqüidade de teu servo...". A frase parece ter relação com o bode expiatório, um
tipo de Cristo, que levou os pecados do povo de Israel para o deserto (Lev.
16:22), dessa forma significando a retirada dos pecados por Cristo.
Há pouca dificuldade nas palavras, a não ser aquela dificuldade que
criemos. Realmente, seria criar uma dificuldade se tentássemos explicar aquilo
que é tão evidente, em vez de expor as palavras. Se eu fosse falar das várias
distinções que os homens fazem do pecado, diria três palavras no hebraico.
Pela primeira eles entendem o significado do pecado original, pela segunda
enfermidades, e pela terceira seus pecados mais graves. Mas após um exame,
descobri-as usadas mescladamente, e portanto tais distinções não tem
fundamento.
As letras das palavras e seu aspecto exterior no texto falam de três
doutrinas:
1. Que os servos de Deus podem cometer pecado, cometer iniqüidade:
"... a iniqüidade de teu servo..."
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E ainda mais, este se opõe ao seu ser. Ele o leva a morte. Você pecaria até
morrer, caso Deus não o impedisse e fizesse com que se sentisse um
miserável, por causa do seu pecado.
5. Todos os outros males são destrutivos para o homem em si; eles
lutam contra particularidades. Entretanto este é contrário ao bem universal,
sendo contrário a Deus, e é, até onde pode ser, destrutivo ao próprio ser de
Deus, como mostrarei doravante.
6. Todos os outros males são criações de Deus, e portanto bons. Ele é o
possuidor de tudo; Ele é o autor de tudo o mais. "... sucederá qualquer mal à
cidade, e o Senhor não o terá feito?" (Am. 3:6), significando todos os males de
punição penal, não mal pecaminoso, pois este é criação do diabo e realmente
pior do que tudo mais, sendo todo pecado.
7. Todos os outros males são medicina de Deus e são usados como
remédios, tanto para a prevenção, como para a cura do pecado.
Como prevenção do pecado: para que você não seja condenado com o
mundo, Ele envia aflições e males sobre você (I Cor. 11:32). Ele permitiu a
satanás tentar Paulo e o entregou aos seus ataques, o que no entanto é o maior
mal no mundo e o mais próximo do pecado, o maior mal punível no mundo. E
para que impedisse o pecado, como disse o apóstolo em II Cor. 12:7, Deus
enviou um mensageiro de satanás para esbofeteá-lo, e qual era o motivo? Só
para prevenir o pecado, para que nao se exaltasse, isto é, para que não ficasse
orgulhoso.
E como Ele usa todos os outros males para prevenção, do mesmo modo
Ele os usa para a cura do pecado. Não se conhece nenhum remédio que possa
ser tão ruim como é essa doença. Todos os outros males Deus tem permitido
sobre o Seu povo para a cura ou para a recuperação do estado pecaminoso. E
para falar sem exagero, não há tanto mal na condenação de mil mundos de
homens como existe no menor pecado, no menor pensamento pecaminoso que
se levante no espírito, visto que o bem destes carece do bem e da glória de
Deus.
Pela comparação deste mal com os outros males, pode ver que de todos,
o pecado é o mal supremo - o que passaremos a demonstrar a seguir.
1. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que luta contra e se opõe ao maior Bem, deve ser o maior mal,
portanto, o pecado se opõe e luta contra o maior Bem. Por isso um dos Pais da
Igreja chamou o pecado de "Deus-matança", aquele que luta contra o ser e a
essência de Deus, aquele que, se fosse suficientemente forte e infinitamente
mau como Deus é infinitamente bom, porfiaria para "acabar" com Deus. Deus
é summum bonun, e realmente non datur summum malüm, o pecado não pode
ser infinito.
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2. DEMONSTRAÇÃO
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Aquilo que é universalmente mal não tendo bem nenhum em si, deve
ser o maior mal do mundo. O pecado é inteiramente mal. Como podemos
dizer de Deus "não há mal nEle pois Ele é bom" então posso dizer do pecado,
não há bem nele, pois ele é inteiramente mal!
Há algo de bom nas piores coisas do mundo e há algo nas piores coisas
para torná-las elegíveis a nossa escolha em alguns casos; algo bom na doença,
algo bom na morte. Entretanto, não há bem algum no pecado e nem pode
qualquer situação no mundo fazer do pecado o objeto de nossa escolha.
Embora um pecado pudesse evitar a morte, ainda assim o pecado é
universalmente mal e não há bem algum nele. Você não deve fazer uso do
pecado a fim de evitar a morte.
Por isso vemos que quando o apóstolo Paulo se referia ao pior pecado,
ele não encontrou nenhuma expressão pior do que esta para descrevê-lo em
Rom. 7:13 "excessivamente maligno ". Ele o chama de excessivamente maligno -
maligníssimo!
3. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que é o único objeto da ira de Deus deve ser o supremo mal.
Mas o pecado é o único objeto, não somente o objeto, porém o único objeto da
ira de Deus. Ele não odeia nada a não ser o pecado. Seu amor flui nos diversos
ribeiros em direção a tudo o que Ele tem criado, contudo a Sua fúria corre por
somente um canal, e este em direção ao pecado.
Se o homem fosse feito o centro de todos os outros males no mundo,
Deus ainda assim poderia amá-lo se o pecado não estivesse nele. Se existe
uma confluência de todos os outros bens, saúde, beleza, riqueza, aprendizado
e tudo o mais, Deus o abomina se existir nele pecado. O amor de Deus não
habitará nele, e sim a Sua ira.
4. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que separa a alma do Bem maior, aquilo que separa a alma e
Deus, o Bem maior, deve ser o maior mal. O pecado faz separação entre a
alma e Deus: "mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus" (Is.
59:2), entre sua alma e a graça de Deus, entre sua alma e o conforto de Deus,
sua alma e as bênçãos de Deus.
Diz-se que Naamã era um grande homem, um homem honrado, um
poderoso homem de guerra, porém ele era um homem leproso. (II Reis 5:1).
Quaisquer ornamentos que o homem tenha, quaisquer dons, beleza, bens,
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riquezas, etc, entretanto se ele for leproso, apesar de ser um homem letrado,
um homem rico, ele é um homem repulsivo e isso estraga tudo.
5. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que é o fundamento e a causa de todos os outros males deve ser
o mal sem par, pois o pecado é a causa de todos os outros males. O mundo
antigo foi submerso em água? Isso foi por causa do pecado. Sodoma foi
destruída com fogo, se transformando num lago de asfalto até o dia de hoje?
Isso foi por causa do pecado. Jerusalém foi transformado em ruínas? O pecado
fez isso. Se eu continuar citando nunca encontrarei um fim.
O pecado é a causa de todos os males nacionais. A seguir daremos
nomes a alguns deles.
1. Guerras "E se escolhia deuses novos, logo a guerra estava às portas".
(Juízes 5:8).
"De onde vem as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vem dos
vossos deleites?". (Tiago 4:1).
2. Fome "Ele converte a terra frutífera em terreno salgado, pela
maldade dos que nela habitam. (Salmo 107:34). "Por isso também vos dei
limpeza de dentes (por causa de seus pecados) em todas as vossas cidades, e
falta de pão em todos os vossos lugares, etc." (Amós 4:6).
3. Pestilência Observe o pecado de Davi em numerar o povo em
Deuteronômio 28:21: "O Senhor te fará pegar a pestilência, até que te
consuma da terra a que passas a possuir." Como o pecado é a causa dos males
nacionais, assim ele é também a causa dos males pessoais, e eles são (1)
temporais, (2) espirituais, e (3) eternos.
O pecado é a causa, a conseqüência, o responsável por tudo. Todos os
males têm origem no pecado. O pecado é um mal protuberante e todos os
outros males provêm dele. Alguns se manifestam sobre os seus corpos:
doenças, dores, temores, enfraquecimentos. Outros sobre suas almas: medos,
corações feridos, terrores, horrores. Se você pudesse rasgar o pecado,
encontraria tudo isso habitando no interior do menor pecado.
Quer saber de uma coisa? O pecado foi o fundador do inferno, aquele
que assentou a pedra angular da câmara mortuária das trevas, pois antes do
pecado não existia inferno. E ainda, foi o pecado que edificou o inferno e o
tem equipado com aqueles tesouros e riquezas da ira, fogo e enxofre. E não
somente isso, entesoura ira para o dia da ira (Rom. 2:5).
Portanto, sendo um mal universal, um mal católico, o útero dos males e
a causa de tudo, é o maior mal.
6. DEMONSTRAÇÃO
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Aquilo que é pior do que o mais terrível dos males, há de ser o pior dos
males, porém o pecado é o mal sem par. Aquilo que é maior do que o maior
mal é excessivamente mau. O inferno é o mais terrível mal, todavia o pecado é
pior do que o inferno em si. O inferno separado do pecado é somente
miserável, não pecaminoso; um lugar punitivo, não um pecado em si.
Separe o inferno do pecado (embora não possamos fazê-lo, ainda
podemos fazer uma separação intelectual, abstrair o inferno do pecado só em
nosso entendimento), digo então que o pecado é pior do que o inferno, porque
o inferno é somente um lugar punitivo, o pecado é um mal excessivamente
maligno. Existe o bem na punição, o bem na justiça, mas não existe bem
nenhum no pecado, portanto, o pecado em si é o maior mal.
Agora vamos ao segundo ponto, que é o principal. O pecado em si, na
compreensão do povo de Deus, é o mal sem par. Seus lamentos pelo pecado, e
seus sofrimentos a fim de evitá-lo, mostra que ele reconhece ser o pecado o
mal sem par.
1. Concernente a seus lamentos pelo pecado - pode ser visto nos salmos
penitenciais de Davi quantas foram as lamentações e os gemidos dele por
causa do pecado. Leiam o Salmo 51. Por que, qual foi a razão para eles? Todos
os sofrimentos, todos os males no mundo não o teriam afetado tanto quanto o
seu pecado. Paulo diz em Rom. 7:24: "Miserável homem que sou! Quem me
livrará do corpo desta morte ? " A morte de seu corpo não era nada para ele em
comparação com o corpo da morte!
Paulo passou por muitas tribulações, suportando grande sofrimento,
como vocês podem ler em II Cor. 11:23-25. No entanto, todos esses flagelos,
essas prisões e perseguições não machucaram tanto o seu coração como o
pecado, isto é, não o poder do pecado, e sim sua simples presença. Ainda que
tenha sofrido muito, não lemos que ele tenha lamentado por tudo isso. Mas
lamentou pelo pecado, "Oh miserável homem que sou! Quem me livrará deste
corpo do pecado?" Assim fez Pedro, Manasses e outros.
2. Concernente ao sofrimento deles para evitar o pecado - Daniel estava
contente ao ser atirado na cova dos leões, os três jovens no fogo, Paulo e Silas
nos troncos. E muitos filhos de Deus escolheram prisões, estacas, fogo, e as
mais ardentes perseguições em vez de pecar, o que claramente evidencia para
nós que consideraram ser o pecado o maior mal.
Eles consideraram-no pior que a pobreza, que é um grande mal.
"Melhor mendigar do que pecar" disse alguém. "Moisés escolheu antes ser
maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado ".
(Heb. 11:24-28). Alguém semelhante a Moisés, Caleacius Caracciolus, foi um
nobre príncipe e marquês que, para não pecar, deixou tudo o que tinha e foi
morar em pobreza com o povo de Deus, meramente para se deleitar nas
ordenanças.
Músculus, um homem de grande sabedoria e famoso teólogo, em vez de
pecar preferiu se submeter a qualquer condição. A história conta-nos que
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1. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado é o maior mal no mundo, então vamos nos prostrar e
admirar a sabedoria e adorar a bondade de Deus, Aquele que do maior mal,
traria o maior bem, Aquele que faz do maior mal uma ocasião para o maior
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bem jamais feito antes. Bernardo foi tão absorvido por tais pensamentos a
ponto de dizer: "Bendito erro que proporcionou tal Redentor."
Deveríamos ficar humilhados pelo erro e agradecidos a Deus pelo
Remédio, e dessa maneira admirar a sabedoria e a bondade que foram
reveladas por causa da maldade do homem para declarar a bondade de Deus;
pelo pecado do homem tornou conhecida e expressa Sua infinita sabedoria,
poder, misericórdia, justiça, etc. Esta seria então uma oportunidade para
manifestar todos os Seus gloriosos atributos; pois Ele traria bem do mal, vida
da morte, céu do inferno, bem do pecado, licor do veneno.
Nunca duvidemos, nunca suspeitemos, de que Deus pode trazer o bem
de qualquer coisa, pode tornar os maiores males na manifestação de Sua
glória e o bem do Seu povo, Ele pode tirar benefício do pecado e do inferno. O
que é para Ele transformar as aflições, perseguições, conspirações
emalignidades do homem? O que é para Ele transformar os problemas,
guerras, etc., em Sua própria glória, e o progresso de Sua causa? Ele que foi
capaz de transformar o maior mal em bem?
Ele que pode transformar o mal do pecado, o qual é a quintessência do
mal e o maior dos males, pode muito mais transformar o mal do problema no
bem de Seu povo. Isso fez com que o apóstolo dissesse que todas as coisas
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Aquele que tem
experiência disso não precisa duvidar de nada mais. Esse Deus, que pode
transformar o pecado, pode transformar as aflições, cruzes, perseguições e
tantas outras coisas, no bem de Sua Igreja e de Seu povo.
2. CONSEQÜÊNCIA
Daí se conclui que ser entregue ao pecado, é a mais triste punição, o
mais terrível julgamento que existe no mundo.
Esta é a pior punição que Deus impõe sobre os homens, portanto, é a
maior de todas as punições.
Deus normalmente age em etapas em Sua maneira de julgar. Primeiro,
Ele começa com a menor. Se não der resultado, então Ele aumenta a
intensidade. Ele punirá sete vezes mais, e quanto mais longe Ele for maiores
serão Seus golpes.
Esta é a conclusão, o golpe final; esta é a última punição e a maior de
todas elas, entregar o homem ao estado lamentável do pecado, dizendo-lhe:
"Aquele que é sujo, suje-se ainda, aquele que é imundo seja imundo ainda ". Ele disse
isto em Ez. 24:13:"... pois te purifiquei, e tu não te purificaste; nunca mais serás
purificada da tua imundícia..." Ele diz ainda aos israelitas: "Porquanto Efraim
multiplicou os altares para pecar; teve altares para pecar. " (Os. 8:11).
Oh, não há outro julgamento mais triste no mundo do que o homem ser
abandonado à corrupção do seu próprio coração! Isso traz como conseqüência
eterna noite de trevas.
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3. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado é o maior mal no mundo, então vejam quão loucos são
aqueles que procuram livrar-se de outros males, admitindo o pecado. Aquele
que trabalha para evitar outros males, ou removê-los praticando o pecado,
incorre no maior de todos os males. Ele se mata para salvar-se. Ele se destrói
para preservar-se. Aquele que tenta salvar a sua vida dessa forma, perdê-la-á.
Jamais houve tempos tão ruins que o povo de Deus não pudesse estar
seguro neles se apenas tivesse confessado o pecado. No entanto, ele achou sua
segurança no sofrimento, quando devia tê-la achado na confissão do pecado.
Vemos isso exemplificado na ação dos três jovens: Sadraque, Mesaque e
Abednego.
Este era o argumento dos cristãos primitivos quando foram ameaçados
com prisões e mortes, caso não renunciassem a Cristo. "Bom Imperador, você
ameaça com prisão, mas Cristo ameaça com o inferno!"
Quando Cipriano foi sentenciado a morrer pela mesma causa, o
governador tentou discutir com ele que deveria ter pena de si e renunciar seu
erro ao invés de perder sua vida. Cipriano, porém, respondeu-lhe: "Senhor tu
és meu juiz, e não meu conselheiro. Em tão clara e justa causa não há
necessidade de conselho. Não irei desonrar a justiça da minha causa, entrando
em discussão e conselho como se fosse decidir entre sofrer ou pecar". É como
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o caso da jovem de quem Basílio fala, que preferiu dizer adeus à vida e aos
seus bens do que abandonar sua profissão de fé.
Quão deplorável coisa seria assegurarmos as nossas vidas através
daquilo que é a nossa ruína, comprar nossa liberdade através da escravidão,
nossa salvação através do pecado. Vejam o que isso custou a Frances Spira e
Cranmer nos dias da rainha Maria. Cranmer não sabia como vingar-se por seu
próprio ato, a não ser queimando primeiro aquela mão que tinha contribuído
para o pecado.
É melhor ainda estar na prisão do que pelo pecado abrir a porta da
prisão, porque é melhor ser prisioneiro de Deus do que ser um homem livre,
pertencendo ao diabo. Melhor perder tudo do que preservar nossos bens pela
prática do pecado.
E portanto, quaisquer que sejam seus problemas, quaisquer que seja
seus temores, quaisquer que sejam seus perigos, tenham cuidado em
preservar-se ou comprar liberdade ou mesmo vida por um preço tão alto
como abraçar-se ao pecado, desonrando a Deus e ferindo suas próprias
consciências. Tenham cuidado ao se tornarem amigos do homem, fazendo de
Deus o seu inimigo.
Não sabemos ainda qual será o rumo dos nossos tempos, porém está
fora do alcance do poder ou da malícia dos homens fazer de você um
miserável, meu amigo, se eles primeiro não fizerem de você um pecador.
4. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado considerado separadamente é um mal tão grande, o que é
então o pecado circunstancial? O pecado contra o conhecimento? Contra
intenções? Se há tanto mal no pecado, no menor pecado, quanto haveria,
então, no maior? Se os átomos são tão grandes, quão grandes então são as
montanhas? Se os pensamentos impertinentes são tão pecaminosos, tendo
mais pecado neles do que todos os tesouros do céu possam expiar (a exceção
de Deus e Cristo) o que seriam então, os pensamentos rebeldes, os
assassinatos planejados, o adultério, a maldade premeditada, os meios e fins
gananciosos, o desrespeito a Deus, negligenciando e desvalorizando Seus
caminhos? Se há tanto pecado e inferno numa vã e tola palavra, que inferno
de pecado, que montanha de ira há em seus discursos apodrecidos, fétidos,
seus terríveis juramentos de sangue e blasfêmias?
Se existe tanto mal num pecado, considerando-se simplesmente um
pecado, o que devemos pensar do pecado composto, pecado pormenorizado,
pecado feito excessivamente maligno? Pecado contra a sabedoria? Contra as
intenções? Contra as misericórdia? Oh, sente-se e considere um pecado e veja
como ele é grande! Aquele pecado que eu cometi contra o conhecimento,
contra os avisos da consciência, contra o mover do Espírito, etc. E me diga se o
menor pecado não é excessivamente pecaminoso.
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5. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado é um mal tão grande, então vejam quão loucos são aqueles
que zombam do pecado: "Os loucos zombam do pecado " (Prov. 14:9), eles
brincam com o pecado. É um esporte jurar, ficar bêbado, etc. Eles irão pecar
por esporte e recreação. É recreação para eles praticar o mal, beber, jurar,
mentir, profanar o dia do Senhor. Estes são loucos. Loucos naturais? Não.
Aquele que prossegue assobiando, tagarelando e na ociosidade, está numa
situação melhor. Este é um louco espiritual, o maior dos loucos.
Vocês se divertiriam com veneno? Vocês se divertiriam com o inferno?
Não, e ainda mais, vocês se divertiriam com sua própria destruição?
Vocês se divertiriam com aquilo que foi tão amargo para Cristo, e que
também lhes será, caso não sejam perdoados?
Quem se divertiria com aquilo que é a miséria dos homens e demônios
perdidos, tanto aqui quanto no inferno eternamente?
Consideraríamos desprezível alguém divertir-se dilacerando o corpo,
ferindo e derramando o sangue de um estranho, de um inimigo, porém
quanto mais do nosso mais querido Amigo? Vocês que se divertem com o
pecado, fazem o mesmo com Cristo. Vocês se divertem matando Cristo,
crucificando-O, dilacerando Seu corpo novamente. Toda blasfêmia é um
punhal no Seu coração, como uma lança no Seu lado novamente.
Divertir-se com o pecado é a maior manifestação da natureza
demoníaca no mundo. Ninguém a não ser os demoníacos fazem isso. Este é o
fardo de Deus. Ele Se queixa disso e considera um alívio ficar livre de vocês:
"Ah! consolar-me-ei acerca de meus adversários." (Is 1:24).
Isto é o ferir a Cristo, o pesar do Espírito, o problema dos anjos, a
destruição das criaturas. Acaso vocês se divertiriam com aquilo que trouxe
todo o mal sobre o homem e mesmo sobre Cristo? Divertir-se--iam com o que
gerou o inferno e o abasteceu, com o que tem sido o tormento das almas e o
será para sempre?
Oh, não se alegrem naquilo que foi o sofrimento de Cristo e será o seu
também para sempre, caso sua alegria no pecado não se transforme em pesar
pelo pecado!
6. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado é o maior mal, então vejam a absoluta impossibilidade de
recebermos alívio e socorro da parle de qualquer um debaixo do céu, por
causa da culpa do nosso pecado, a não ser que venha do próprio Senhor Jesus
Cristo. Você, pecador, cometeu um único pecado? Então, disso nem todos os
tesouros da justiça nos céus e na terra são capazes de livrá-lo ou ajudá-lo, a
não ser o Senhor Jesus Cristo. O que é exigido para expiar a culpa de milhares
de pecados é também exigido para expiar a culpa de um só pecado. Infinita
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justiça é exigida para um, e não mais é exigida para milhares. E tal justiça,
ninguém tem a não ser Cristo somente.
Ninguém pode nos libertar do mal do pecado, a não ser Aquele que é
justo. Ora, não existe justiça no mundo que seja proporcional ao mal do
pecado senão a justiça de Cristo. A nossa própria justiça, vocês sabem, é muito
pequena e é chamada de trapos de imundícia (Is. 64:6). Um trapo, portanto,
não pode cobrir-nos; uma imundícia, portanto, embora pudesse cobrir-nos,
cobriria somente a imundícia com outra imundícia, como diz o profeta em Is.
30:1: "...se cobriram com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem
pecado a pecado, " ou seja, eles acrescentam o pecado de sua justiça ao pecado
de sua injustiça. Eles cobrem mancha com mancha, adicionam pecado a
pecado, esterco a esterco.
A justiça da lei ainda não seria suficiente, supondo-se que o homem
fosse capaz de cumprir toda a justiça e guardar toda a lei. A obediência
presente, embora supostamente adequada à justiça da lei, jamais irá responder
pelas ofensas e desobediências passadas.
A lei é forte o suficiente para amaldiçoar a milhares, porém é incapaz de
salvar uma só alma. Pode trazer o inferno, a ira e a condenação sobre um
mundo de pecadores, todavia é incapaz de trazer a graça ou dar justificação
para um só deles. O apóstolo nos diz em Rom. 8:3: "Portanto o que era
impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em
semelhança da carne do pecado, condenou o pecado na carne " . O mesmo apóstolo
nos diz em Gal. 3:21: "... se dada fosse uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na
verdade, teria sido pela lei. " O apóstolo também nos diz em Gal. 3:17: "... a lei que
veio quatrocentos e trinta anos depois... ", para mostrar que não precisamos
trabalhar para que sejamos justificados, e sim sermos justificados para sermos
capazes de trabalhar. Se Deus pretendesse que a lei fosse o instrumento da
justificação, Ele teria dado a lei quatrocentos e trinta anos antes da promessa.
E, ainda mais, essa não é a justiça dos anjos (a qual é maior do que a da
lei, visto que os anjos estavam acima do homem em inocência) porque esta
também foi uma justiça criada finita e de maneira alguma proporcional ao mal
do pecado. Se o tivesse sido, um pecado não teria despojado imediatamente
aqueles gloriosos anjos de sua bondade e feito deles demônios, o que o pecado
fez, mostrando que existiu mais mal no pecado do que bem ou justiça neles.
Bem, então isso mostra a absoluta impossibilidade de sermos libertos do
mal do pecado por qualquer outro no céu ou debaixo do céu, que não seja
Jesus Cristo. Nada a não ser infinitude pode lidar com o pecado. É necessário
infinita sabedoria para tratar disso. É necessário infinita misericórdia para
perdoar, infinito poder para subjugar; infinito mérito para purificar e limpar, e
infinita graça para aniquilar o pecado.
Seja lá o que for que vocês pensem sobre o pecado, na verdade ele tem
sido o grande inimigo com o qual Deus e a Sua graça têm contendido
incessantemente desde que o mundo começou. E é por isso que Deus tem Se
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7. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado é o mal sem par, então vejam o quanto estamos presos a
Cristo, Aquele que carregou os pecados e todos os males de vocês que têm
interesse nEle.
Oh, o amor de Cristo! Quão admirável que Ele pudesse carregar o
pecado, o qual é maior que todas as misérias, um mal maior do que a morte,
do que o inferno em si!
Caro leitor, se houvesse alguém no mundo que ficasse contente em ser
pobre no seu lugar, levar as suas dores, ficar doente, ser preso, morrer por
você, e ainda sofrer a ira de Deus e padecer as dores do inferno no seu lugar, o
quanto você se. consideraria preso e devedor a tal pessoa por tudo isso?
No entanto, Cristo fez isso por você. Ele carregou o pecado - o maior de
todos os males, aquele que abrange todos os outros em si -pois, ninguém
senão Cristo, seria capaz de fazê-lo.
Se Deus colocasse sobre você o menor pecado, simplesmente um
pecado (o qual ninguém exceto Cristo jamais carregou neste mundo), isso o
faria em pedaços com seu peso, ainda que todos os pilares do céu e todos os
anjos gloriosos contribuíssem com sua força para o ajudar a carregá-lo.
O menor pecado merece e atrai para si uma infinita ira que nem você,
nem todos os anjos do céu são capazes de ficar em pé debaixo dela. Os
perdidos carregam esse peso no inferno. Eles sofrem-no, porém sem forças
para suportá-lo. Eles são moribundos sem poder morrer. Sempre consumindo,
nunca consumidos! Portanto, veja quanto você está endividado a Cristo -
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recuperação. Contudo, Ele não o fez, embora (em relação a Sua humanidade)
isso fizesse da obra de Sua misericórdia uma coisa estranha. Não, Ele carregou
o pecado, levou a ira e derramou até a última gota de sangue do Seu corpo.
Oh, leitores, pensem consigo mesmos, vocês que são o povo de Deus, o
quanto estão dependentes de Cristo!
Quantos de nós podemos dizer como Bernardo: "Tu és minha vida, sou
Tua morte; Tu és minha justiça, sou Teu pecado; Tu és meu céu, sou Teu
inferno; Tu és minhas riquezas, sou Tua pobreza." Oh, quanto vocês estão
dependentes de Cristo, dAquele que carregou o pecado!
E ainda mais, vocês sabem o quanto estão dependentes de Cristo,
dAquele que carregou o pecado de maneira como jamais poderíamos fazê-lo,
pagando assim o débito do qual estamos absolvidos? "Havendo riscado a cédula
que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e
a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz." (Col. 2:14). Como a morte de Cristo
foi o pagamento necessário para nosso resgate, assim também a Sua ressur-
reição constitui-se em nossa absolvição. "O qual por nossos pecados foi entregue, e
ressuscitou para nossa justificação. " (Rom. 4:25). Somos justificados pelo Seu
sangue? Somos. Todavia Ele não ressuscitou formalmente para justificar-nos,
e sim para declarar que já estávamos justificados, que estávamos
desobrigados, e que nossos pecados foram perdoados.
Se Cristo ainda fosse prisioneiro sob as cadeias da morte, não
poderíamos ter nenhuma certeza de que nosso débito fora pago. Como diz o
apóstolo Paulo: "Se Cristo não houvesse ressuscitado, estaríamos ainda em nossos
pecados". Mas agora Cristo - preso, levado prisioneiro, posto no túmulo e
tendo quebrado os grilhões da morte, na qual era impossível prendê-lO -
tendo ressuscitado, declara, por tudo que passou, que nossos pecados estão
perdoados.
Se realmente Cristo levou o pecado e nós também tivéssemos que levá-
lo, qual a nossa vantagem? No entanto, Cristo levou o pecado de maneira tal
que não temos de levá-lo, então quão infinitamente somos devedores a Ele por
isso!
Cristo não deixou nada para fazermos, a não ser receber o que Ele
adquiriu e entregou nas mãos do Pai: nada além de pedir uma absolvição,
sim, e das mãos dEle que é justo e nunca nos decepcionará, das mãos dAquele
que certamente concederá o que quer que seja que Seu Filho tenha tão
custosamente adquirido pela Sua obra expiatória.
Se umhomem morre e deixa legados nas mãos de alguém que é fiel, não
podemos requerê-los? Quando Cristo morreu, Ele confiou todos os Seus
méritos nas mãos de Seu Pai, e Ele não deixou nada para fazermos, a não ser
requerê-los todos.
Deus fez um pacto com Cristo que, se Ele levasse o pecado, não
precisaríamos carregá-lo também; que se Ele morresse pelo pecado, o mesmo
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seria perdoado por Ele; pois tudo isso está incluso em Isaías, capítulo 53,
versículo 11: "O trabalho de sua alma ele verá, e ficará satisfeito ".
Ora, Cristo colocou em nossas mãos todas as cédulas e fianças de Seu
Pai, e ainda uma procuração pela qual estamos autorizados a reivindicar tudo
isso das mãos de Deus.
Foi por nós que Cristo Se incumbiu do trabalho e tudo o que Cristo fez
foi para nos comprometer com Deus, para satisfazê-lO e depois comprometê-
lO, fazer de Deus o devedor daqueles que foram Seus devedores. E enquanto
houver uma gota do sangue de Cristo para ser distribuída (o qual nunca se
esgotará, é uma justiça eterna) haverá a misericórdia de Deus, ou melhor, a
justiça de Deus incumbida de transmiti-la a nós que pela fé chegamos a Ele. E
não sobrou nada para fazermos em relação à justificação, a não ser requisitar
tudo o quanto Cristo já adquiriu.
Vivemos no mundo como se tivéssemos que comprar o perdão, quando
temos apenas de recebê-lo. Deus nos detém pelo débito do nosso pecado, mas
vocês pensam que temos de pagar por ele? Ai de nós, pobres criaturas, se
tivéssemos que pagar! Isto não é senão para tirar-nos de nós mesmos e trazer-
nos para Cristo - Aquele que já pagou o débito.
Oh, como isso nos faria proclamar Cristo, admirá-lO, prezá-lO! O que
poderia aproximar mais o nosso coração a Cristo do que o fato de que Ele
levou os nossos pecados, e o fez de modo que nunca teremos que levá-los se
tivermos interesse nEle?
8. CONSEQUÊNCIA
Se o pecado é o maior mal, então isso deve conduzir-nos para:
1. a maior tristeza
2. o maior ódio
3. o maior cuidado em evitá-lo
4. o maior empenho em livrar-nos dele.
Se o pecado é o maior mal, então precisa haver a maior tristeza por sua
causa. Nenhuma aflição, nenhum problema, nenhum mal deve ser tão amargo
para nós como o pecado, porque o pecado é o maior mal. É uma coisa triste
ver nossos corações suscetíveis e sensivelmente afetados com males menores e
problemas, e ainda permanecerem duros e insensíveis ao pecado, o qual é o
maior dos males.
Seria sábio de nossa parte, portanto, quando nenhum outro mal estiver
sobre nós, voltarmos todos os nossos lamentos, lágrimas e tristezas para o
pecado.
É um aforismo na medicina que, se um homem sangrar copiosamente
num lugar, os médicos o farão sangrar em outro lugar, a fim de fazer o fluxo
de sangue mudar de direção. Seria sábio de nossa parte, quando nossas almas
sangrarem e nossos corações lamentarem por outros males, direcionar todos
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os lamentos angustiosos para o pecado. Deixem que eles corram pelo canal
certo.
Lágrimas derramadas deveriam ser derramadas novamente se não
foram derramadas pelo pecado. A tristeza é como a influência de Mercúrio:
boa, se unida a outro planeta bom, má, se ligada a um planeta mau. Não é
tanto a tristeza em si como o é a base e a fonte da tristeza. O motivo dela é que
deve chamar a atenção. A tristeza era nula em Judas, sincera em Pedro, foi
nula em Saul, sincera em Davi. Mundana em um, divina em outro - "A tristeza
do mundo opera a morte ". E tal é toda tristeza que não tem o pecado como seu
fundamento, a graça como seu princípio e Deus como seu fim.
Onde o pecado é entendido como sendo o ma ior mal, será objeto da
maior tristeza, tristeza para exceder todas as outras tristezas.
1. Embora nem sempre em quantidade c tamanho, mas em qual ida de
e equivalência: um pouco de ouro vale tanto quanto unia grande quantidade
de terra e entulho.
2. Embora não em força - porém em extensão e continuidade -outras
tristezas são como terra inundada, ocasionada pela tempestade a qual quando
se vai, a inundação desaparece. Esta tristeza divina vem de um manancial, e
tendo uma fonte para alimentá-la, é permanente mesmo quando a outra se
vai. Esta é a diferença entre a tristeza divina e a outra.
As tristezas do povo de Deus, que são espirituais, vêm de um
manancial. A tristeza mundana surge da tempestade, da comoção. As tristezas
do ímpio surgem de suas tristezas emocionais, surgem de uma tempestade, de
peso na consciência, de temor da ira, portanto suas tristezas mundanas
surgem de uma fonte.
Onde o pecado é compreendido como sendo o maior mal, haverá a
maior tristeza, (1) a tristeza é proporcional à medida e gravidade do pecado e
(2) a tristeza é proporcional ao merecimento e valia do pecado.
Como o merecimento do pecado é infinito, então a tristeza por ele deve
ser uma tristeza infinita. Infinito, digo, não em ação e expressão, porém no
desejo e afeição da alma. Aquele cujo coração e olhos secam ao mesmo tempo,
cuja expressão em lágrimas e inclinação à tristeza terminam ao mesmo tempo,
embora tenha chorado um mar de lágrimas, não tem ainda verdadeiramente
chorado pelo pecado. Se a tristeza vem de Deus, há uma disposição ao
lamento mesmo quando cessam as expressões de lamento, porque cada gota
de lágrima vem de uma fonte interior de lágrimas.
Como cada ato de fé surge de uma disposição de crer, um hábito de fé
interior, todo ato de amor surge de um princípio de amor interior, assim toda
expressão de tristeza surge de uma disposição à tristeza no espírito. Por isso
lemos em I Sam. 7:6 que as tristezas dos filhos de Israel são expressas por esta
metáfora:"... e tiraram água (vinda de um poço) e a derramaram perante o Senhor
". Seus olhos não davam vazão à medida que seus corações se enchiam. Seus
olhos não podiam extravasar tão rápido quanto seus corações produziam.
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falhas dos outros, as quais para ele não são limites da terra para orientá-lo, e
sim limites da maré e rochas a evitar. Ele é familiarizado com a fraqueza e a
iniqüidade de seu próprio coração e espírito, e por conseguinte vigia. Ele sabe
que não pode confiarem nenhum dos seus membros sem que esse esteja
debaixo de vigilância.
Os olhos estão cheios de pecado: adultério, orgulho, inveja, concu-
piscência dos olhos (I João 2:16) e ele não pode confiar em seus olhos sem o
pacto de Jó: "Fiz um concerto com meus olhos, como eu os colocaria sobre uma
virgem ? (Jó 31:1).
A língua está cheia de pecado: de maldição, murmurações, injúrias,
palavras vãs e não há confiança nela sem o freio de Davi: Eu disse: guardarei os
meus caminhos para não delinqüir com a minha língua" (Sal. 39). Ele conhecia sua
própria fraqueza e iniqüidade, e por isso não ousava confiar em nenhum
membro sem ser vigiado.
Tal homem está familiarizado com o poder e estratégia de satanás, que
é, como Lutero o chamou, um inimigo sutil, cujas tentações são chamadas de
"as profundezas de satanás". Apoc. 2:24; seus ardis, II Cor. 2:11, seus métodos
Ef. 4:14. Ele também adapta espertamente suas tentações.
Tal pessoa está familiarizada com os perigos e as estratégias do pecado,
e como ele é (1) enganoso em seu objetivo; (2) enganoso em seus argumentos;
(3) enganoso em suas pretensões e artimanhas; (4) enganoso em suas intrusões
e (5) enganoso em suas promessas. E assim tal pessoa manterá uma santa
sobriedade, um temor humilde, grande e cuidadoso sobre seu próprio espírito
de modo a não cair em pecado. Ele vê o pecado como seu mal sem par,
emprega seu maior esforço e cuidado para evitá-lo.
Se o pecado é o maior mal, então devemos principalmente nos
empenhar em nos livrar do pecado. Todo homem deveria se esforçar para
livrar-se do mal, e quanto maior o mal, tanto maior deveria ser o desejo dele
de se livrar desse mal. Ora, o pecado é o maior dos males. Quanto mais então
deveríamos labutar e esforçarmo-nos para sermos libertos do maior dos
males?
Ai, ai de mim! O que são os outros males comparados ao mal do pecado
- o qual torna nosso bem em mal? E ainda para se ver a vileza do íntimo dos
homens, ficam felizes em se livrar de todos os outros males, senão o do
pecado. Assim disse Faraó: "Retire esta morte, esta praga." Eles reclamam do
resultado do mal, porém não do mal em si, da punição do mal, no entanto não
do mal punido. Eles uivam sob os castigos e aflições presentes, mas nunca
lamentam o pecado. Eles ficariam felizes em se livrar da dor, todavia ainda
prefeririam manter os dentes. Infelizmente, até que o pecado seja removido,
não seremos tratados em misericórdia, e sim em julgamento; uma temporária
libertação somente nos reservaria o mais severo golpe. Pelo contrário, onde o
pecado é removido, a aflição será removida. Eles são como o corpo e a
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quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus "
o que dizer então de Sua misericórdia perdoadora?
Finalmente, seria o pecado um mal tão horrendo? Então vejam que
motivo temos para humilhar nossas almas diante de Deus neste dia devido
termos pensamentos tão superficiais sobre o pecado, e desde que Deus tem
classificado o pecado como o maior de todos os males. Que pensamentos
levianos temos do pecado? Podemos engoli-lo sem medo, podemos viver nele
sem percebê-lo, podemos cometê-lo sem remorso. Tudo isso mostra a
superficialidade dos nossos pensamentos sobre o pecado. Não avaliamos o
pecado como sendo um mal tão grave como realmente ele é.
Agora, para que vocês possam ter conceitos mais adequados sobre a
magnitude dele, para que sejam capazes de ver o pecado como algo
excessivamente maligno, irei apresentá-lo resumidamente sob seis aspectos.
1. Olhem para ele sob o prisma da natureza a qual, embora seja um
cristal pouco transparente, é um refletor autêntico. O pecado tem ofuscado
essa lente, ainda assim ela é capaz de revelar-nos muito do mal do pecado.
Mesmo os pagãos têm visto e julgado por eles mesmos, muitos pecados como
sendo o maior dos males.
Embora os pecados espirituais fossem ocultos a eles, sua luz não era
capaz de descobrir a infidelidade e os pecados íntimos. Todavia eles têm
descoberto os pecados morais, e os evitado, e prefeririam correr o risco de
sofrer do que cometer tais pecados. Os exemplos de Platão, Cipião, Catão, e
muitos outros irão elucidar isso. Tudo isso foi descoberto pelo prisma da
natureza, feito por ela própria, porém não pela mera natureza caída, e sim
pela natureza bem administrada, pela natureza desenvolvida, pela
implantação de princípios morais juntamente com a graça restringedora e de
outros dons comuns do Espírito.
O grande ódio que sentem pelo pecado, o grande cuidado que têm para
evitá-lo, o grande sofrimento que experimentam por não quererem cometer
pecado, deveriam ser suficientes para revelar-nos quão grande é o mal do
pecado - mas interromperemos o assunto aqui.
2. A segunda lente pela qual vocês podem ver até onde vai o pecado é a
lente da lei, a lente que revela o pecado em todas as suas dimensões: a culpa, o
demérito, a corrupção e a malignidade do pecado. Portanto, o apóstolo diz em
Rom. 7:7 "... mas eu não conheci o pecado senão pela lei..." Isto é, eu não teria
conhecido o pecado como sendo tão abominável quanto ele o é, eu não teria
conhecido o pecado em sua amplitude e latitude. Eu não teria conhecido a
gravidade do pecado se não tivesse sido pela lei, se a lei não tivesse sido a
lente para revelar o pecado a mim.
Ela revelou a grandeza do pecado para Davi: "A toda a perfeição vi limite,
mas o teu mandamento éamplíssimo " (Sal. 119:26), isto é, por revelar a extensão
do pecado em proporção a sua amplitude e grandeza.
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Que lástima! Isso irá revelar a vocês mais nudez num pecado do que o
mundo todo pode cobrir, mais indigência num pecado do que todos os
tesouros da justiça disponível são capazes de suprir; mais obliqüidade e
injustiça num pecado, num pensamento errado, do que a morte de todos os
homens e o extermínio dos anjos seriam capazes de expiar.
Procurem na lei e vocês descobrirão milhares de pecados que caem sob
toda e qualquer lei de Deus. Eis aqui a lente!
3. Olhem para o pecado sob a lente das dores, feridas penetrantes e
tristezas, as quais os santos encontraram em seu acesso e primeira entrada no
estado de graça, em suas reincidências e retornos à insensatez.
Para o primeiro, vejam que gemidos e humilhações tiveram que
suportar em sua primeira admissão ao estado de graça - Manasses em II Crôn.
33:12, Paulo em Atos, capítulo nove, os judeus convertidos em Atos 2:37 -
admissão semelhante à ocasião quando os pregos perfuraram Cristo, agora
cravados em seus corações como a lança no lado de um animal.
Quantos dos muitos santos que já existiram estiveram presos num leito
de miserável angústia, acamados sob os golpes da justiça possi velmente por
muitos anos, e tudo isso por causa do pecado. Em todas as épocas houve
milhares de exemplos dessa natureza.
Olhem para as angústias e quebrantamentos que os santos t i veram
quesuportar por causa de suas reincidências no pecado. Vejam nos em Pedro e
em Davi. Leiam as tristes expressões que ele tem no Sal. 6:1-7 e no Sal. 32:3-5.
Do mesmo modo no Sal. 51. Como ele lamenta pela sua alma perturbada, seus
ossos quebrados, seus olhos consumidos pela tristeza, sua cama está
encharcada com lágrimas! E tudo isso por causa do pecado. Aqui está a lente
pela qual pode-se ver o mal do pecado como sendo o maior mal. Sim, quando
Deus o enfoca, o menor pecado resultará em tudo isso.
4. Olhem para o pecado em Adão e vejam a extensão dele. Aquele único
pecado de Adão trouxe todas as misérias, doenças, morte e outras desgraças,
sobre toda a sua posteridade desde aquele tempo. O pecado tem sido a
maldição de milhares de homens e ainda continua sendo. A justiça de Deus
ainda não foi satisfeita. Se ela tivesse sido, haveria um fim. Não morreríamos,
nem ficaríamos doentes jamais, etc. Oh, aqui vocês podem ver o pecado em
sua extensão!
5. Olhem para o pecado sobre Cristo. Vejam que humilhações, que
quebrantamentos, que feridas cruciantes, que ira isso trouxe sobre o próprio
Cristo. Foi isso que misturou aquele cálice amargo com ingredientes tão
terríveis, os quais, se tivéssemos que libá-lo quando assim estava temperado,
teriam colocado nossas almas debaixo de uma ira pior do que aquela que
todos os condenados sofremno inferno. Cristo suportou plena justiça por
causa do pecado.
Isso fez com que Ele que era tanto Deus quanto homem, santificado
pelo Espírito para essa missão, fortalecido pela Deidade, suasse gotas de
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sangue, e até lutasse, parecendo recuar e orar contra a obra de Sua própria
misericórdia, querendo desistir do propósito de Sua própria vinda ao mundo.
Ah, ninguém sabe senão Cristo, nem é o finito entendimento humano
capaz de conceber, o que Cristo suportou quando estava para carregar o
pecado e com isso lutou contra a infinita ira e justiça do infinito Deus, os
terrores da morte, e os poderes do mundo vindouro. Aqui está uma lente pela
qual vocês podem ver a grandeza, a amplitude, a culpa, o demérito do
pecado, tudo o que é revelado ao indivíduo na morte, sofrimentos,
quebrantamentos e feridas do Filho de Deus.
Você, amigo, que despreza o pecado, vá para Cristo e pergunte a Ele
quão duro isso foi, aquilo que você despreza esmagou-O contra o chão. E o
menor pecado esmagaria você e todos os pilares do céu para o fundo do
inferno para sempre.
6. A sexta lente: olhem para o pecado na condenação eterna da alma,
que nada satisfaria à justiça de Deus a não ser a destruição da criatura. Nem
doenças, nem prisões, nem sangue, nem sofrimentos, a não ser os sofrimentos
do inferno! E esses não por um tempo, mas para sempre! Ah, vejam aqui a
enormidade do pecado, o qual poderia ser ainda mais ampliado
considerando-se a preciosidade da alma, a qual o pecado arruina por toda a
eternidade. E portanto, vocês conheceriam o pecado? Perguntem aos
condenados: o que é pecado? Volvam seus ouvidos ao inferno e ouçam todos
aqueles berros, aqueles gritos, aqueles rugidos dos condenados, e tudo isso
por causa do pecado. Oh, eles foram os prazeres custosamente comprados, os
quais precisam ser conseqüentemente pagos com dores sem fim.
Assim através destas lentes vocês vêem o que é o pecado. E por
conseguinte como devemos ser humilhados por causa de nossa indiferença
em relação ao pecado, o qual é um mal tão grande!
APLICAÇÃO
(1)
Então, se é assim, vejam a necessidade que temos de enfatizar
sobremaneira o pecado em nossas confissões, pois tudo o que podemos dizer
dele será infinitamente deficiente diante da gravidade do pecado. Vocês não
podem tornar o pecado mais grave do que eleja é, elevá-lo acima dele mesmo.
Vocês não podem ter lentes de aumento para tornar o pecado maior do que
eleja é. Vocês têm tais lentes para aumentar o tamanho dos objetos, as quais
são capazes de apresentar pequenas coisas como sendo grandes, ampliando-as
em seu tamanho, mas não têm lentes para multiplicar o pecado e fazê-lo
parecer maior do que ele já é.
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(2)
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enchestes, mas me deste trabalho com os teus pecados, e me cansaste com as tuas
maldades. Eu, eu mesmo, sou o que apaga as tuas transgressões por amor de mim, e
dos teus pecados me não lembro ".
Poderia o homem ter esperado isso? Isso mostra espontaneidade não
somente quando não a merecemos, porém quando merecemos exatamente o
contrário: "... E me cansaste com tuas maldades... " Oh, infinita e livre
misericórdia! Deus é misericordioso somente porque Ele quer ser
misericordioso.
Esta é uma misericórdia outorgada, uma misericórdia que outorga a
vocês um bem maior do que sou capaz de expressar ou do que vocês são
capazes de conceber. Esta é a misericórdia que os envolve em todas as outras
misericórdias. Isso outorga-lhes todos os bens sobre a terra, toda a glória do
céu. Esta é a misericórdia produzindo misericórdia, a misericórdia que faz
com que todas as outras coisas sejam misericórdia para vocês.
Coisas boas são misericórdias. Tudo que vocês possuem - riquezas,
grandeza, posses, maridos, esposas, crianças, e tantos outros bens; todas essas
coisas não são bênçãos enquanto não associadas ao perdão, o que faz delas
bênçãos. Não, não somente boas coisas, e sim as coisas más também são
misericórdias para vocês. O perdão do pecado faz a pobreza, a aflição, a
doença, e mesmo a morte em si uma misericórdia. Semelhante ao chifre do
unicórnio, o perdão tira a malignidade e o veneno de toda água. Como a
pedra do filósofo, isso transforma tudo em ouro. Como disse o apóstolo:
"Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. " Uma cruz
santificada é melhor do que um conforto não santificado. A perda na
misericórdia é melhor do que o deleite na ira.
Vocês nunca serão capazes de tornar bom aquilo que Deus concede em
misericórdia, até que o pecado seja perdoado. A culpa do pecado sobre nós
muda a natureza das coisas, e f az com que aquelas coisas que são boas em si
mesmas sejam um mal para nós.
Esta é uma misericórdia irrevogável. Deus pode dar outras miseri-
córdias e retirá-las novamente. Na verdade, outras coisas são mais
emprestadas do que dadas: marido emprestado, mulher emprestada, etc.
Portanto elas são chamadas de talentos em suas mãos e somos mordomos
delas por um tempo. Deus pode retirá-las quando desejar ou podemos ser
privados delas e perdê-las.
Quão freqüentemente somos privados e perdemos coisas boas por
causa do nosso caminhar indigno no prazer que elas proporcionam! "Portanto,
tornar-me-ei, e a seu tempo tirarei o meu grão, e o meu mosto no seu determinado
tempo... " (Os. 2:8 Tudo isso era de Deus, e vocês saberiam qual a razão dlile
em retini las? Vejam o versículo citado acima. Eles não reconheceram Deus
como sendo o doador delas, mas atribuíram nas a Baal como se fosse ele que
as tivesse dado.
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(3)
E finalmente, seria o pecado o maior mal no mundo? Oh, então, acima
de tudo neste mundo esforcemo-nos para nos livrar do pecado. Recebam o
perdão do pecado. Digam como Davi: "Oh! retira o pecado de teu servo ". Que
proveito terá o gozo de todas as outras boas coisas se seus pecados não são
perdoados? Que proveito teve Dives de sua riqueza? Ou Saul de seu reino?
Uma coisa a ser profundamente lamentada é ver quão ativos e séri os
são os homens sobre a remoção de outros males e na aquisição de outros bens,
porém ainda quão negligentes, quão superficiais eles são quanto a alcançar o
perdão do pecado.
Você, leitor, está sob a culpa do pecado. Permanece como um homem
ou uma mulher debaixo da condenação. Deus tem lhe dado tempo, e esse
tempo não é somente de alívio temporário, mas é um tempo em que Deus tem
permitido a você alcançar o perdão. E custou nada menos do que o sangue de
Cristo para alcançar você. Isso foi o que fez cessar os atos de justiça de Deus
contra você, senão já estaria no inferno há muito tempo. E irá desperdiçar esse
tempo? Negligenciará esta questão? Negligenciará tal perdão?
Se houvesse um homem condenado a morrer, cuja execução fosse
adiada para que pudesse procurar seu perdão, e se o rei estivesse disposto a
conceder-lhe perdão, você não acha que tal homem mereceria ter morrido,
desde que agora desperdiça seu tempo bebendo, festejando ou coisa parecida?
Ora, este é o seu caso.
Existe ainda um outro tipo de pessoas que buscam o perdão, no entanto
o procuram com indiferença. Eles o buscam formal, negligente e
superficialmente. Eles o buscam como se não tivessem nenhuma necessidade
dele, como se fossem bons o suficiente, embota necessitem perdão.
Há muitos que brincam com Deus sobre esta importante questão.
Muitos homens no mundo só fazem zombar de Deus sobre isso. Vou
enumerar cinco ou seis tipos de homens que são zombadores de Deus no que
diz respeito a este importante assunto, e mesmo eles não são os piores.
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Todavia eu não vou falar agora das pessoas debochadas, e sim daquelas que
parecem fazer alguma coisa para obter perdão.
1. Os do primeiro tipo são: aqueles que buscam e talvez clamem
sinceramente, mas ainda continuam na prática de todos aqueles pecados para
os quais imploram perdão. Não estou falando agora de pecado, e sim de
pecados como, por exemplo, pecados habituais, pecados de enfermidade,
fraqueza e imperfeição na obediência. Estes, os melhores, apesar de suas
orações diárias por perdão, ainda caem em pecado freqüentemente.
Entretanto eu falo de pecados mais graves, pecados que ferem profundamente
a consciência. Zombar de Deus é uma coisa terrível.
O que vocês pensariam de um homem que deveria implorar o perdão e
ainda, antes que o perdão lhe fosse dado corresse para cometer novos atos de
traição? Esse é o seu próprio caso. Eu vejo muitos de vocês vivendo na
maldição do pecado: bebendo cerveja, bebida forte, praguejando. Estou
envergonhado só em mencioná-los.
Vocês oram por perdão? Ou não oram? Se não oram, vocês não são
melhores do que os ateus. Vocês oram por perdão e ainda vivem na prática
daqueles pecados pelos quais oravam? Oh, quão perigoso é brincar assim com
Deus!
Acaso vocês não vêem que barreira forte é contra o pecado, orar pelo
seu perdão? O quê? Vocês têm confessado pecado, humilhado suas almas por
causa dele, implorado perdão, e tão logo voltam suas costas para Deus e
retornam ao pecado? Ah, realmente esta é uma brincadeira perigosa!
Este é um terrível agravante do pecado. Vocês pensam que virá
resultado favorável sobre seus dias de humilhação por causa de suas orações
pelo perdão. Pensam que há algum bemnisso. Porquê? Vocês imploraram
perdão, embora tivessem pecado; ainda assim têm orado, e portanto esperam
que, apesar de seus pecados, Deus ouça suas orações. Todavia, vocês vivem
no pecado e confessam o pecado? Praticam-no, e ainda oram pelo perdão
dele? Vocês os cometem e ainda se humilham por ele? Oh, estes são grandes
agravantes do pecado. Estes adicionam mais peso a ele!
Vocês acham que seria um atenuante ou um agravante para o malfeitor
implorar perdão, e ainda correr para a mesma rebelião novamente? Ele
pensaria que seu pecado seria amenizado por que tem formalmente
implorado perdão? Não, certamente! Ele olharia para isso como um grande
agravante. Pois bem, esse é o caso de vocês!
E este, como podem ver, foi a posição de Israel que tanto desagradou a
Deus: "... Pai meu, tu és o guia da minha mocidade " (Jer. 3:4). Aquele povo disse a
Deus boas palavras, honrou-O com boas expressões, mas o Senhor disse: "...
Eis que tens feito coisas más, e nelas permaneces ", versículo 5.
2. O segundo tipo que brinca com Deus são aqueles que buscam o
perdão de alguns pecados, porém ainda continuam a amar e a simpatizar-se
com outros. Pode ser que vocês estejam aflitos e preocupados com alguns
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A CONVERSÃO DE UM PECADOR
Explicado e Aplicado
"... convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos, pois por que razão
morreríeis, ó casa de Israel? (Ezequiel 33:11)
Nathaniel Vincent
(Primeira edição: 1669)
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A DEDICAÇÃO
À Tua sagrada e mais gloriosa majestade, Deus dos céus e da terra, REI
DOS REIS e SENHOR DOS SENHORES; que está muito acima dos mais altos
poderes e dos governos no mundo, do que estes estão acima de seus servos
mais insignificantes. Senhor Todo-poderoso, a Ti, a quem tenho me devotado,
dedico meu livro, tudo o que há de bom nele é Teu, e se ele trouxer algum
bem, a Ti dou todo o louvor. O escritor seria realmente envergonhado e
desencorajado se não soubesse que Tu podes operar tão bem tanto pelos
meios fracos quanto pelos fortes. Algumas vezes Tu escolhes o fraco com o
propósito de não permitir à carne gloriar-se, c sim que a excelência do poder
seja somente Tua.
Foi pela mais rica e voluntária graça de Deus - a qual a eternidade será
pequena demais para admirar e adorar que eu recebi a salvação, eu que uma
vez estive tão contaminado quanto qualquer outro; eu que andei tão longe no
caminho largo e pequei até estar bem próximo da destruição eterna! Todavia,
devido não ser somente um convertido, e sim também um instrumento usado
para converter outros, minha obrigação em manifestar Teu louvor é ainda
maior, embora já seja infinitamente grande.
Este é o desejo de minha alma, ó Senhor, que Teu reino seja estendido e
que o domínio usurpado pelo pecado e por satanás seja destruído. Sendo Teu
jugo tão suave e Teu governo tão doce e benevolente, por que não deveriam
ser numerosos Teus súditos? Cinja-te de Tua espada sobre Tua coxa, única e
Todo-poderoso! Cavalgue conquistando e para conquistar; que Tua mão
direita mostre Tuas maravilhas. Que Tuas flechas sejam aguçadas e Tua
Palavra penetrante como espada de dois gumes; que o mundo todo, quer pela
conversão quer pela subversão, mas especialmente pela conversão, se prostre
diante de Ti!
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CARTA AO LEITOR
Caro leitor, imediatamente antes de começar a leitura, pare e olhe para
o céu! Como se obter algum proveito na leitura a não ser que o Pai das Luzes
abra seus olhos e lhe dê um coração compreensivo! Ele pode mostrar-lhe
maravilhas nas verdades mais simples, as quais eram desconhecidas para
você. Do mesmo modo que seu julgamento pode ser aprofundado em relação
àquelas doutrinas que são pregadas com mais freqüência, estou certo de que
seu ânimo precisa ser estimulado na proporção adequada para suportar o
peso e a concernência de tais doutrinas.
Ao ver como alguns mestres tornam enjoativas algumas verdades,
entristeci-me e cheguei quase à indignação. E ainda que se trate de verdades
tão puras, as quais são freqüentemente ouvidas, eles não as conhecem como
deveriam conhecer. No que se refere às intenções dos corações e ao
conhecimento operante, estas pessoas que fantasiam, julgando-se muito
inteligentes, são excessivamente ignorantes. Suas consciências são
obscurecidas e nunca estiveram sob o poder da palavra que lhes é pregada. Os
deveres, embora clara e freqüentemente obrigatórios, são negligenciados e os
pecados comumente reprovados, ainda assim, são praticados por eles.
Você que não aprecia um sermão a menos que ele satisfaça sua fantasia
e lhe provoque coceiras nos ouvidos, você tem toda razão para questionar se
sua natureza já foi renovada. Pois aqueles que nasceram de novo desejam o
genuíno leite da palavra (embora exista uma pequena mistura com aquilo que
é humano) de tal modo que eles possam crescer através dela.
Leitor, acaso você é totalmente ignorante e incrédulo? O quanto então,
você estaria interessado em utilizar-se dos meios disponíveis para alcançar a
sabedoria? Sem o conhecimento seu coração não poderá ser bom, nem você
estará seguro. Você estará perdido. Oh, seja convertido imediatamente para
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que seu próximo passo não seja dado em direção ao túmulo e ao inferno.
Ignorar o perigo é uma falsa segurança. É uma alegria deplorável ignorar sua
própria miséria, pois esta mesma ignorância aumenta o perigo e tornará sua
miséria ainda mais inevitável. O pecado é algo tão terrível que ninguém
jamais se arrependeu de tê-lo abandonado. Portanto conscientize-se da
necessidade de rejeitar toda sua irreligiosidade e comportamento mundano a
fim de viver sóbria, justa e santamente no presente mundo mau.
Se você é um professante mas não um praticante da religião, considere
isto: "Não é para uma conversão aparente, e sim para uma conversão genuína,
de coração, que a vida é prometida e assegurada". Se você mostra uma
aparente santidade mas sem o poder, isso prova o quanto você ainda é ímpio.
Certamente pensa que o Senhor não o observa e nem irá puni-lo, cuidando
que ao menos com você Ele será parcial. Eu me espanto como você se atreve a
vir constantemente a Sua presença, tão próximo a Sua arca onde Seu zelo é tão
ardente, e tão freqüentemente envolve-se em funções referentes à Sua
adoração, mantendo em seu coração algum pecado ou vaidade que o afasta
dEle.
Mas se você é realmente convertido, oh, chegue mais perto de Deus e
volte-se mais e mais a Ele. A graça é algo tão excelente que eu creio que você
deveria persistir sem descanso para obter uma medida maior dela. Quanto
mais você conhecer o Senhor tanto mais O amará, e mais relutante será em
deixá-lo para retornar à loucura.
A conversão é o prego no qual os profetas do passado martelaram
incansavelmente. Nosso Senhor e seus apóstolos insistiram neste assunto, e
ultimamente Deus não só tem enviado seus ministros para ocuparem-se disso
mas tem tomado Ele mesmo o martelo dos julgamentos para fazer com que
este prego penetre. Agora, quanto maior a resistência que ofereçamos, tanto
maiores serão os golpes vindos desse martelo. Temos visto ultimamente dias
de grandes calamidades e aflições, porém ainda assim eles tem sido, em certo
sentido, dias de graça. Portanto, os julgamentos temporais têm vindo para que
as misericórdias possam ser valorizadas e os julgamentos eternos possam ser
evitados.
Deus tem um desígnio de amor por trás de toda Sua severidade. Vamos
corresponder a isso pois se ainda continuarmos a andar na contra-mão, Ele
tem ameaçado castigar-nos furiosamente sete vezes mais do que Ele já o tem
feito. E eu tremo só em pensar em tais julgamentos, os quais serão sete vezes
piores do que as pragas e o fogo. Entretanto, se adquirirmos instrução e
sabedoria através de Sua correção e nos convertermos a Ele que tem nos
afligido, encontraremos as expressões de Seu favor e benevolência muito
maiores do que jamais foram os sinais de Seu descontentamento.
N. Vincent
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A CONVERSÃO DE UM PECADOR
"... convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos, pois por que razão
morreríeis, ó casa de Israel?" (Ez. 33:11)
algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém Abraão lhe disse: Se
não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco acreditarão, ainda que algum dos mortos
ressuscitem ". (Luc. 16:30-31).
Meu trabalho ao expor esta doutrina será, primeiro, demonstrar a
verdade contida nela, que os homens morrem porque querem; segundo, para
evidenciar que a incapacidade do homem fazer o que é bom, tão
freqüentemente mencionada nas Escrituras, não contradiz esta doutrina.
Os argumentos para demonstrar que os desejos dos homens são a
grande causa de sua morte e perdição são estes:
1. Um argumento será deduzido da corrupção natural e depravação da
vontade do homem. E essa corrupção se evidencia na vontade do homem
afastar-se de Deus, a Fonte da vida e da paz, e inclinar-se para o que é mal,
embora o pecador (ai dele!) chame de bem aquilo que é mal e imagina ser
doce aquilo que provará ser amargo e venenoso como toda picada de áspide.
Os pelagianos talvez assemelhem a vontade do homem a uma virgem pura, a
qual escapou de ser deflorada na sua primeira apostasia, mas sabemos pelas
Escrituras e pela experiência que o pecado original revela-se mormente na
vontade. Aquele que não entende que seu coração é desesperadamente
corrupto (Jer. 17:9), mostra um sinal de que seu coração o engana e ele nem
sabe disso. Quanta incredulidade, quanto orgulho, quanta alienação da vida
de Deus, quanta inimizade contra o mandamento, o qual é santo, justo e bom,
existem na vontade do homem natural! Vejam Romanos, capítulo 7. A
vontade, então, sendo tão completamente corrupta e exercendo tanta
influência como exerce, impede a conversão a Deus e a santidade, o que a
contraria muito. E conseqüentemente ela tem grande responsabilidade na
perdição dos filhos dos homens.
2. Outro argumento será deduzido da reprovação e ira justas de Deus.
Certamente Ele não os repreenderia tão duramente, Sua ira não fumegaria
tanto contra eles por causa de suas teimosias e obstinações nos seus maus
caminhos, se tivessem uma vontade sincera e faltasse apenas a força para
fazer o que é bom. Quando o Senhor infligiu julgamentos sobre o Seu povo
antigo, Ele falou da obstinação dele, da recusa em entender e ser regenerado, e
isto Ele fez para vindicar a retidão de Suas mais severas maneiras de lidar com
ele. Nós lemos que o Senhor testificou contra Israel pelos Seus profetas e
videntes dizendo: "... convertei-vos de vossos maus caminhos, e guardai os meus
mandamentos. Porém não deram ouvidos, antes endureceram a sua cerviz como a
cerviz de seus pais, que não creram no Senhor seu Deus". (II Reis 17:13-14,18).
Agora, após sua obstinação, seguiu-se, e muito justamente, a ira de Deus e a
destruição deles. Portanto, o Senhor estava muito irado com os filhos de Israel
e os afastou de Sua vista.
Em segundo lugar, vou provar que a habilidade dos homens em fazer o
que é bom não frustra a doutrina de que os seus pecados e misérias
permanecem à porta da vontade deles. O Espírito Santo, Aquele que torna
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humilde os filhos dos homens, põe por terra a opinião que eles têm de seu
próprio poder e justiça e os faz usar a linguagem do profeta Isaías:
"Certamente no Senhor tenho justiça e força... " -inferindo, portanto, que o
homem em seu estado degenerado e pecaminoso é incapaz de fazer o que é
espiritualmente bom. Por conseguinte, somos considerados fracos - "Não que
sejamos capazes por nós, de pensar alguma coisa como de nós mesmos, mas a nossa
capacidade vem de Deus ". (Rom. 5:6; II Cor. 3:5). Somos considerados cansados
e sem vigor (Is 40:29), e nosso Senhor nos afirma claramente em João 15:5:
"Sem mim nada podeis fazer. " Mas por tudo isso, embora nos falte a força para
fazer o que é bom, nossa vontade é culpada do mal cometido por nós.
Não se pode imaginar que as Escrituras mencionem a incapacidade do
pecador em fazer o bem como uma desculpa para ele fazer o mal, mas sim
para dirigí-lo a Cristo quem pode fortalecê-lo a fazer todas as coisas (Fil. 4:13).
É verdade que o homem é incapaz, porém ele também não está disposto a
fazer o que Deus requer dele, apesar de ser para o seu próprio bem. A razão
pela qual ele continua no pecado e é subjugado por ele não é somente porque
o homem não pode converter-se a si mesmo, e sim também, e principalmente,
porque ele não está disposto a ser convertido. Isso será particularmente
ampliado a seguir.
a. O homem pecador pensa que é capaz de deixar seus maus caminhos.
Ele adia seu arrependimento como se pudesse voltar-se para Deus quando
quisesse. Já que ele não faz o que pensa que pode, sua própria vontade deve
ser a causa do impedimento, e ela deve ser responsabilizada no caso dele
perecer.
b. O homem pecador não faz o que realmente é capaz de fazer. Tem um
talento, todavia não quer negociar com ele. Poderia se abster de muitos
pecados que o expõe a ira e vingança se quisesse, porém infelizmente ele é um
escravo voluntário deles, e está feliz com sua servidão. O adultério
propositadamente vai a casa da prostituta, o ímpio mundano
propositadamente procura o ganho desonesto. Portanto, segue-se que estes
voluntariamente destroem a si mesmos.
O homem natural pode fazer o que é bom, embora ele falhe, na maneira
de fazê-lo. Ele pode orar, ouvir, ler, contudo, intencionalmente omite estas
obrigações, e assim voluntariamente se sujeita à maldição que o ameaça por
causa de sua omissão. Ele não fará o que realmente pode, e, certamente, ainda
que seu poder fosse ampliado jamais seria usado. Aquele que tem de sobra e
recusa-se a dar um cruzeiro a um pobre, podemos concluir com certeza que
não estaria disposto a fazer uma doação generosa - embora bem pudesse. Da
mesma maneira, o homem natural que não fará o que pode para ser salvo,
apesar de ser muito pouco, por certo não faria maior esforço, a fim de ser
salvo, mesmo se seu poder fosse aumentado.
c. O homem pecador lamenta que seja capaz de fazer o quanto pode. Ele
desejaria ser totalmente impotente para que isso pudesse servir-lhe de
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desculpa. Isto mostra a malignidade de sua vontade. Além disso, ele não quer
usar os meios pelos quais a graça e a força são transmitidas. Ele não quer
esperar em Deus, nem invocá-lO. Ele não quer buscar nEle o cumprimento
das promessas feitas na aliança da graça. Não, ele resolutamente resiste o
Espírito quando este vem operar nele. Ele preferiria ser deixado entregue ao
seu pecado. Essa é a linguagem dos ímpios: "E todavia dizem a Deus: retira-te de
nós, porque não desejamos ter conhecimento dos teus caminhos." (Jó 21:14). O
homem depravado pode argumentar que lhe falta o poder, ainda assim esta
falta de vontade de arrepender-se e viver é principalmente o que o arruina. E
todos aqueles pensamentos e argumentos contra Deus, como se Ele fosse um
mestre severo, como se Seus caminhos não fossem justos - pergunto: não será
o homem envergonhado diante dEle naquele Grande Dia, no qual sua
consciência o acusará e em tristeza o reprovará por isso? Ele que fora
constantemente avisado e admoestado, entretanto, não se arrependeu para
que pudesse ter vida.
APLICAÇÃO
lá? Tais reflexões serão como punhais envenenados perfurando as almas dos
réprobos condenados. Ele dirá: o que houve comigo para que me tornasse um
diabo para mim mesmo? O que me levou a aliar-me a satanás, acarretando
minha própria destruição? Que loucura foi esta de fazer eu mesmo o chicote
com o qual seria açoitado, acender com minhas próprias mãos as chamas nas
quais eu terei que permanecer, a fim de queimar para sempre?
2. Advertência: tenham cuidado quanto a pecar voluntariamente, pois,
essa é a estrada principal que conduz à morte. Fiquem atentos também em
não se contentar com um aparente desejo de escapar da destruição.
A. Deixem-me alertá-los contra o pecado voluntário. Quanto maior a
voluntariedade envolvida na transgressão, maior a inclinação. Por isso, Davi
foi tão cuidadoso em se proteger, a fim de não ser preso pelo pecado da
soberba o qual ele conhecia, pois o pecado da presunção é uma grande
transgressão. (Sal. 19:13). Numa nação esclarecida gozando um período de
luz, tomem cuidado para não ser intencionalmente ignorantes. Em meio aos
auxílios e encorajamentos para o dever, precavenham-se contra a preguiça
que é falta de disposição, mas sejam seguidores daqueles que através da fé e
da paciência herdam as promessas (Heb. 6:12). Não se permitam amar o
pecado, desejá-lo, viver nele. Não deixem o sabor deleitoso fazê-los aventurar-
se para algum fruto proibido. Não se deixem enganar pela maciez da pele,
abraçando uma serpente que poderá picá-los até a morte.
B. Deixem-me alertá-los sobre aquilo que é somente um simulado
desejo de deixar o pecado e escapar da destruição.
i. Uma vontade vã, induzida, é somente uma vontade simulada. Um
indolente desejo de ser salvo, onde não há seriedade no uso dos meios de
salvação, significa nada mais que vocês são grosseiramente ignorantes e
estúpidos; ignorantes do valor da salvação e estupidamente insensíveis do
perigo que estão correndo.
ii. Uma vontade procrastinadora é somente uma vontade simulada. A
maioria daqueles que vão por seus maus caminhos tem vontade de deixá-los
no futuro, porém isso somente demonstra a presente relutância deles. Se vocês
estão relutantes em arrepender-se agora, do mesmo modo vocês estarão no
futuro mais adversos quando Deus estiver mais distante de vocês, quando
satanás tiver construído fortalezas em vocês, e suas consciências estiverem
mais obtusas, quando o hábito de pecar tiver dobrado a força e veemência de
sua inclinação natural a ele. Que lástima! Quantos milhões têm morrido e se
perdido em suas iniquidades, os quais estavam tão completamente decididos
a se arrependerem no futuro, como aqueles que ainda permanecem vivos.
Tomem cuidado com esta pedra sobre a qual muitos têm se partido e têm sido
condenados para sempre. A vontade de Deus é para o presente. Ele diz: "Hoje
se ouvirdes minha voz não endureçais os vossos corações". (Heb. 3:7-8). Mas se
agora, quando Deus está querendo lhes dar vida, vocês estão relutantes, Ele
poderá no futuro relutar quando vocês a quiserem. Ele admoestou vocês para
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será dado o amplo direito de entrada no reino eterno. Daí a segunda doutrina:
a razão por que os homens morrem e morrem para sempre, é porque eles
querem.
DOUTRINA 3. Esta é a terceira doutrina. O Senhor adverte os
pecadores e os adverte novamente, a deixarem seus maus caminhos para que
vivam: "arrependei-vos, arrependei-vos" diz o Senhor no texto. A questão da
conversão não é uma coisa que o homem tenha pensado antes de Deus. Não,
ele nunca pensaria nisso ou seria persuadido disso se o Senhor não o
chamasse e tornasse essa chamada eficaz. De fato, lemos nas Escrituras sobre
os penitentes sensíveis e alertas chorando e implorando a conversão, mas
estes gritos eram como que ecos da voz e do chamado de Deus que vieram
antes. Na exposição da doutrina, eu mostrarei primeiramente como Deus
chama os pecadores a volverem se para Ele; e em segundo lugar porque Ele o
faz; em terceiro, explicarei a natureza desta conversão ou arrependimento; e
em quarto concluirei com a aplicação.
Em primeiro lugar vou mostrar como Deus chama os pecadores a
voltarem-se para Ele. Isto Ele faz de diversas maneiras.
1. Ele os chama do monte Ebal. Esse era o monte de onde as maldições
eram pronunciadas. Ele lhes fala em Sua Palavra da maldição e da praga do
estado do não convertido. Ele envia a lei como um professor para ensinar-lhes
uma triste lição, que por causa de suas freqüentes transgressões, eles estão à
beira da miséria eterna. E Seu desígnio é que com isso possam ser despertados
e barrados em seus caminhos destrutivos, e não se enganem com esperanças
de paz enquanto caminharem de acordo com a imaginação de seus próprios
corações.
Esta voz do Senhor através da lei é alta e terrível, declarada com o
propósito de despertar e sobressaltar aqueles que dormem o sono da morte.
Quando a lei foi dada, houve no monte palpável chamas de "fogo e escuridão, e
trevas e tempestades, e sonido de trombeta, voz de palavras, a qual os que a ouviram
pediram que se lhes não falassem mais... e tão terrível era a visão que Moisés disse:
estou todo assombrado e tremendo ". (Heb. 12:18-19,21). Se a maneira como a lei
foi pronunciada foi tão terrível, muito mais terrível será a maneira como será
executada sobre aqueles que a violaram. O fogo e a escuridão do monte Sinai
não são nada se comparados ao fogo do inferno e o negrume da escuridão que
existe lá. O Senhor tem ameaçado o iníquo impenitente: "sobre os ímpios fará
chover laços, fogo, enxofre e vento tempestuoso: eis o porção do seu copo ". (Sal. 11:6).
E verdadeiramente esta demonstração da lei é necessária para que possamos
ganhar um verdadeiro conhecimento e entendimento do pecado. E quando
estivermos aos pés do monte Ebal e do Sinai, tendo ouvido que o pecado é o
grande impedimento a todo tipo de bênção e aquilo que nos carrega com
maldição de toda espécie, (tanto temporais quanto espirituais, e também
eternas) esta é a maneira de curar nossa loucura irracional por ele, e nos fazer
tremer e temer por termos dado tantas ocasiões a ele.
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Não deveria o Salvador ser estimado por aqueles que, devido ao pecado, estào
escravizados e perdidos, e em perigo de se perderem por toda a eternidade?
Considerem tais coisas e mostrem-se homens, vocês transgressores". Assim o
Senhor roga para que Ele possa triunfar sobre os pecadores para o próprio
bem deles.
4. Deus chama os pecadores para voltar a Ele através do exemplo de
outros e pela voz da vara sobre eles. Os ímpios são propensos a observar os
maus exemplos que eles podem imitar, porém é dever deles observar as
punições exemplares que lhes são infligidas, a fim de que possam ficar
receosos de continuar na maldade por mais tempo. Quando observamos
outros sendo castigados pelos mesmos pecados dos quais nós somos
culpados, o Senhor exorta-nos através dos golpes que eles têm recebido diante
de nossos olhos, a ver a abominação de nossa própria iniqüidade. E podemos
justamente prever que tais pecados terão semelhante resultados se houver
continuidade na prática deles. Os exemplos são propositadamente colocados
diante de nós "para que não cobicemos as coisas más" (1 Cor. 10:6) para que
sejamos admoestados a sair destes caminhos que têm levado outros à ruína.
Mas especialmente quando a vara desce sobre nossas costas, Deus nos
chama de uma maneira mais perceptível e sensível para voltarmos a Ele. O
propósito da vara é tornar o pecado amargo, tanto para a carne como para a
consciência, a fim de não mais poder ser visto como coisa agradável, a qual é a
razão para cada chicotada a ser suportada. A vara tem uma voz tanto quanto a
Palavra, e seríamos sábios se a ouvíssemos. Quando a aflição vem sobre os
ombros do pecador, sabemos então que o Senhor está falando pela linguagem
de Jer. 2:17: "Porventura não procuras isto para ti mesmo " pelo pecado? Deixar a
sua iniqüidade é levar em conta seu próprio bem-estar; deixe a dor da vara
(que é nada comparada às dores do inferno) convencê-lo de que o pecado não
deve ser apreciado pelos seus prazeres. No presente você é somente castigado
com açoites, porém se for incorrigível e pecar mais e mais, certamente por fim
será açoitado com escorpiões.
5. Deus chama os pecadores ao arrependimento pela voz interior e a
operação do Seu Espírito. O Espírito freqüentemente adverte com relação ao
enganoso e falso caminho, "não é este o caminho e portanto saia dele". Mas em
relação ao caminho da santidade o qual leva a Deus, Ele diz: "este éo caminho,
andai nele ". E sem desviar-se "andai nele " (Is. 30:21). Todos os outros
chamados serão de pouca utilidade, a não ser que venham acompanhados
pelo Espírito. Sem Sua convicção as denúncias de maldição não serão
consideradas. Sem Sua iluminação as bênçãos proferidas serão
desvalorizadas. Sem Sua espada penetrante, os mais patéticos apelos não
terão a mínima eficácia para persuadir. As palavras gritadas não serão
atendidas mais do que sussurros. A não ser que o Espírito junte Sua instrução
e ensinamento, a vara será muda e insignificante. Nada será aprendido, nem
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pedirão às rochas e montanhas para que caiam sobre eles, para que possam se
esconder da face dAquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro!
Isto faz com que ele pare repentinamente no seu mau caminho. Ele não se
atreve a continuar correndo em direção ao pecado, assim como o cavalo corre
em direção à batalha.
C. Aqueles que o Espírito chama efetivamente, Ele desperta pesar e
tristeza neles por causa de seu pecado e miséria. Eles vêem o que têm feito
contra Deus e contra si mesmos, e isso faz com que seus espíritos fiquem
perturbados. Isso é o que é estar cansado e sobrecarregado (como dizem as
Escrituras), estes são os que Cristo chama para vir a Ele, para que possam
encontrar descanso para suas almas. (Mat. 11:28-29). Havia uma voz vinda
dos lugares altos, voz de choro e súplica dos filhos de Israel, porque eles
perverteram seus caminhos e esqueceram-se do Senhor seu Deus, e isso
aconteceu antes de aceitarem o Seu convite para retornar a Ele. (João. 3:20-21).
O pecador, pelo Espírito, é levado a contemplar a gravidade do seu
caso, o mal do seu pecado, e ver quão miseravelmente ele tem sido enganado
pela sua concupiscência e por satanás, como também sua loucura em se
render a eles. Vejam como ele agora acusa e condena a si próprio! "Quando o
coração se me amargou e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e
ignorante, era como um irracional à tua presença" (Sal. 73:21-22). Ele desejaria
milhões de vezes que as tentações tivessem sido recusadas e que o pecado
nunca tivesse sido cometido.
Quero apresentar o lamento do coração do pecador nesta proposição:
"Oh, como sou miserável, o que tenho feito eu durante todos os meus dias!
Seria esse o fim para o qual fui criado, destruir a mim mesmo? Não havia algo
melhor a fazer do que adicionar pecado a pecado, e então entesourar ira para
o dia da ira? Quanto tempo tenho desperdiçado, e como tenho me esforçado
para tornar ine um miserável! Ah, tolo, miserável auto-destruidor! Não
percebe o quanto tem provocado a ira do Senhor? Oh, que meus olhos sejam
fontes de lágrimas e que eu possa chorar dia e noite! Os condenados irão
chorar e lamentar par sempre, e eu não deveria lamentar e chorar - eu que
mereço tanto ser condenado? Tenho toda razão para estar perturbado e
humilhado grandemente, e para prantear durante o dia todo".
Assim o pecador se aflige e lamenta-se, pois a companhia dos amigos,
os prazeres sensuais e as diversões mundanas não podem mandar embora
suas tristezas. Ninguém, senão Aquele que faz as feridas no coração, é capaz
de curá-las novamente.
D. Aqueles que o Espírito chama efetivamente, Ele faz com que se
desesperem de si mesmos. Eles são levados a compreender que não há poder
neles mesmos, a não ser fora dos caminhos do pecado e da miséria nos quais
estão mergulhados. E como são incapazes de se ajudarem, então eles
compreendem que são totalmente indignos de serem ajudados. Deus pode
justamente permitir que permaneçam onde caíram e, não fosse a Sua
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intervenção, cairiam cada vez mais até não poderem mais ser recuperados. O
pecador pode valer-se de suas boas obras, esperando com isso reconciliar-se
com Deus por causa daquilo que ele tem feito de errado, entretanto é levado a
ver que suas melhores obras estão tão misturadas com o pecado que, não fosse
a justiça e a intercessão de Cristo, estas seriam verdadeiras abominações.
Agora ele está abatido no seu interior. Ele não tem confiança na carne (Fil. 3:3).
Ele não pode fazer nada por si mesmo. Não pode alegar que tenha direitos a
ter algo feito em seu favor, mas ele deve esperar a graça de Deus para tudo.
Baseado nisso, ele clama pelos caminhos do Senhor (Sal. 130:1). Ele
percebe que está afundando e clama: "Dasprofundezas a ti clamo, ó Senhor.
Senhor salva-me ou perecerei. Estou à beira do inferno e cairei, a menos que a
mão da misericórdia me segure." Ele implora com Efraim: "Salva-me, e serei
salvo. " E como o mal do pecado se torna manifesto à sua vista, assim a
bondade de Deus é, em alguma medida, revelada pelo Espírito. E, portanto,
ele decide se tornar um convertido, não somente pela necessidade, porque
dessa maneira ele seria extrema e eternamente miserável, mas também por
escolha, porque esse é o caminho para a verdadeira felicidade. E este desejo de
ser convertido é como se fosse o primeiro sopro da operação do Espírito em
todos aqueles que Ele chama efetivamente para voltarem-se para Deus, como
também são as muitas outras maneiras como o Senhor chama os pecadores à
conversão, muitas das quais tornaram-se sem efeito, porque aqueles que
foram chamados são surdos, desobedientes e rebeldes.
Meu trabalho, em segundo lugar, será discorrer sobre as razões por que
Deus chama os filhos dos homens, dessas maneiras, para arrependerem-se dos
seus maus caminhos e viverem. As razões são tais como se segue:
1. Por meio disso Ele mostra Sua natureza benevolente, pois Ele não Se
deleita na destruição e morte de Suas criaturas. Realmente, a morte será
infligida a eles, devido sua obstinação em continuar no mal, porém mostrar
misericórdia e dar vida são coisas que agradam a Deus. Portanto Ele chama o
mais obstinado à conversão.
2. O Senhor chama-nos à conversão para que através disso possa
informar-nos sobre a nossa obrigação. Nós devemos entender daqui por
diante que é nossa obrigação não mais errarmos o caminho, mas voltarmos
rapidamente à casa de nosso Pai. E pela freqüente pressão dos apelos, nossa
obrigação para com esta tarefa é grandemente intensificada. E
verdadeiramente negligenciar nossa tarefa neste particular, e os grandes
encorajamentos para isso, nossa recusa em voltar, nos causará maior dano do
que todos os nossos pecados. Na nossa conversão todos os outros pecados
seriam totalmente perdoados, todavia enquanto permanecermos sem
conversão nenhum deles é perdoado. A culpa de tudo desaba sobre nós, e
seguramente permanecemos debaixo da ira.
3. O Senhor nos chama ao arrependimento para mostrar que nossa
conversão a Ele não será em vão. Embora o pecado tenha sido abundante, não
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alguma coisa quando a sentença for proferida, deve ser para concordar com a
justiça de Deus contra si mesmos, para reconhecer a eqüidade de Seus
caminhos e a ' iniqüidade de seus próprios caminhos.
6. O Senhor nos chama ao arrependimento para que aqueles que estão
ordenados para a vida eterna sejam eficazmente influenciados e persuadidos a
realmente buscá-lO. Lemos que o evangelho foi pregado tanto para os judeus
como para os gentios - "...e creram todos quantos estavam ordenados para a vida
eterna ". (Atos 13:48). E a verdade é, que é para o bem dos eleitos que estão
espalhados entre a multidão, que o chamado seja tão universal quanto
realmente o é. Por isso todos aqueles que o Pai tem dado a Cristo são
conduzidos ao lar e, chegando em casa, quão bemvindos eles o são! "Todos
aqueles que o Pai me deu virão a mim, e aquele que vem a mim de maneira nenhuma o
lançarei fora. " Muitas são as razões porque Deus chama os pecadores à
conversão.
Em terceiro lugar, eu prometi explicar a natureza desta conversão ou
arrependimento. E eu encontro o apóstolo dando uma notável e | completa
definição em Atos 26:18, onde ele chama isto de uma volta { das trevas para a
luz e do poder de satanás para Deus. Daí concluirmos I que a conversão
baseia-se em quatro pontos:
a. Em voltar-se das trevas;
b. Em voltar-se para a luz;
c. Em voltar-se do poder de satanás;
d. Em voltar-se para Deus.
vão esperar qualquer coisa dEle como Salvador a não ser que haja uma
disposição para obedecê-lO como Senhor. Estas e outras verdades
semelhantes não mais lhes são ocultas. Eles estão cientes agora do mal e do
perigo da ignorância. Portanto, eles desejam ardentemente ser libertos da
ignorância, e prosseguir em conhecer ao Senhor.
B. Os convertidos são tirados das trevas da incredulidade. O Espírito
faz uma obra de persuasão em seus corações a respeito das verdades
estabelecidas, de tudo o que Deus (em revelado em Sua Palavra. Todavia, eles
não devem atrever se a continuar a fazer Deus mentiroso, deixando de
acreditar naquilo que Ele registrou. Eles crêem, admiram e reconhecem a
sabedoria do mistério de Deus do Pai e de Cristo. (Col. 2:2). Até agora, sua
incredulidade ocultou deles o evangelho eosmantevena condição de perdidos.
Eles não entendiam o mistério da Palavra. Eles não consideravam os tesouros
da sabedori a e da graça, os quais são agora revelados. Nem ficaram
amedrontados com as ameaças dos terrores que pesam contra os ímpios,
terrores esses dos quais a Palavra está cheia. No entanto agora o véu é retirado
e eles concordam e se comovem com o que o evangelho lhes fala. Eles crêem
que Deus está em Cristo reconciliando o mundo conSigo mesmo, não
imputando-lhes suas transgressões, e que "sendo justificados pelo seu sangue,
seremos por ele salvos da ira. " (Rom. 5:9). Eles crêem que o pecado é mortal e
que o mundo é um engano, que a felicidade verdadeira e eterna é encontrada
só em Deus. Portanto eles deixam o que é inconsistente para abraçar aquilo
que é substancial.
C. Os convertidos são tirados das trevas do preconceito. O preconceito
levanta um estranho tipo de neblina diante dos olhos, a qual impede que a luz
da verdade brilhe na mente. O preconceito dos judeus contra Cristo foi o
maior causador da cegueira deles, o principal impedimento para que
abraçassem a fé. Satanás esforça-se para encher os ímpios com este
preconceito, a fim de incentivá-los, porque através disso seu reino é
sustentado. Às vezes os pecadores são preconceituosos contra a santidade
como se ela fosse uma desgraça, ao passo que, sendo ela a glória da natureza
divina, certamente é a maior honra e perfeição de que a criatura racional é
capaz de experimentar. Às vezes a santidade é vista como desnecessária,
entretanto as Escrituras afirmam que ninguém verá a Deus sem santidade. Às
vezes o coração carnal se levanta contra a santidade pois imagina que ela não
é consistente com nenhum dos seus deleites e prazeres, porém o que
realmente acontece ao sermos convertidos a Deus é que não perdemos a nossa
alegria, posto que ela é sublimada. O reino de Deus não é somente justiça, mas
também gozo paz e alegria no Espírito Santo. (Rom. 14:17). Antes a alegria era
pobre, inferior, irracional, e impura, sendo misturada com a relutância muito
secreta da consciência e apreensões do coração. Agora, na conversão, a alegria
é pura, angelical, satisfatória, e zelosa daqueles prazeres que serão para toda a
eternidade. (Sal. 16).
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C. Essa luz opera de uma maneira poderosa. Ela é tanto luz quanto
calor. Os convertidos se apercebem do mal, da loucura do pecado, portanto,
agora eles o vêem através de outra luz e seus corações fervem de indignação
contra o mesmo. Eles vêem o pecado do modo como são profundamente
atingidos. Eles o lamentam e o abominam. Antes foram informados da
misericórdia e onipotência e outras perfeições de Deus, todavia agora eles têm
uma visão de Sua glória na face de Cristo que suscita o amor ardente, e tal
amor os leva à ação. Quando Calebe viu a terra da promessa ele desejou muito
entrar e possuí-la. (Num. 13:30). E verdadeiramente quando a luz revelar a
Canaã celestial e ensinar aos convertidos como chegar lá, oh, quanta
vigilância, quanta oração, quanta resistência, quanto empenho será
empregado!
3. Esta conversão implica em ser libertado do poder de satanás. Ele é o
espírito que opera e governa nos filhos da desobediência (Ef.. 2:2) e tem
domínio sobre eles até que sejam convertidos. Mas então ele é expulso e suas
fortalezas são derrubadas. Que maravilha! Considerando o ódio do diabo, seu
poder, sua sutileza, que misericórdia é essa que tenhamos em mãos as cordas
com que nos manteve cativos ao seu bel prazer! Três coisas são
compreendidas ao sermos libertos do poder de satanás:
A. Aqueles que são convertidos são libertados do domínio de satanás.
Eles têm sabedoria e graça para resistir à sua autoridade usurpada. A
promessa feita a eles é que não estão mais debaixo da lei e sim debaixo da
graça, e que o pecado não terá domínio sobre eles. (Rom. 6:14). Isto implica
necessariamente que o domínio de satanás será destruído, pois é pelo poder
do pecado que ele os mantém presos. O laço é agora rompido e a alma escapa
como um pássaro liberto da armadilha do caçador. Como é escravo de satanás
o pecador não convertido! Se o diabo lhe diz para ir, ele vai; não, ele corre,
ainda que seja paraasua própria ruína. O diabo só precisa pedir para ter. Ele
pode exigir o tempo e os membros do pecador, e mesmo sua alma - e os terá.
O convertido, porém, corre para perto de Deus, e é tão fortalecido pela Sua
graça que, ao invés de ser comandado por satanás, ele o compele a fugir.
B. Aqueles que são convertidos se mantêm à distância de satanás. Eles
são conscientes de quão indignas e injuriosas são as artimanhas de satanás,
tanto para Deus quanto para suas próprias almas. E existe uma obra melhor
do que a dele, a saber, a obra do Senhor, na qual eles labutam e, por mais que
se empenhem, ainda deixam incompleta.
C. As armadilhas de satanás se tornam desprezíveis para todos aqueles
que são convertidos. E é através delas que satanás é tão poderoso. O deus
deste mundo usa grandemente o mundo para encantar e enlaçar os filhos dos
homens. Ele magnifica excessivamente os deleites da sensualidade,
alimentação requintada, roupas caríssimas, crédito entre os homens e
recreações agradáveis. Ele insinua: "Quão feliz estas coisas lhes farão!" Ele fala
aos pecadores do valor da prata e do ouro, e freqüentemente, através da visão
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convertido é um peso para ele. A lei do Senhor é aprovada e aceita por ele. Há
um deleite naquilo que é santo, justo e bom. O convertido (o qual é diferente
dos hipócritas) está muito longe de querer que a lei fosse menos santa, a fim
de que tenha liberdade para pecar, mas ele deseja que seu coração e sua vida
sejam mais santos, e mais e mais estejam em conformidade com a lei.
B. O convertido vê Deus como Pai, ou como desejando que Ele Se torne
seu Pai em Jesus Cristo. Isso foi dito na verdade por um erudito, "Não há
nenhum outro Pai como Deus, nenhum outro há tão pleno de afeições
paternais." Ele tem reservas suficientes para suprir todas as necessidades dos
filhos pródigos que regressam, e Ele está muito mais desejoso de prover esse
suprimento para aqueles que sentem sua necessidade e o buscam do que os
pais terrenos possam querer alimentar seus filhos famintos. (Mat. 7:11). Por
isso vale a pena retornar. Aquelas parábolas da ovelha perdida, da moeda
perdida e do filho pródigo foram transmitidas para esse fim: para encorajar os
pecadores e voltarem para casa, para Deus. (Lucas, capítulo 15). Aquele
homem se regozijou quando encontrou sua ovelha perdida, também aquela
mulher quando encontrou sua moeda de prata. Aquele pai amoroso, cujo filho
voltou ao lar por necessidade, depois de estar prestes a perecer num país
distante - e embora tenha voltado ao lar em trapos, tendo gasto todas as suas
economias numa vida desenfreada -eu digo que aquele pai amoroso, tão logo
que viu seu filho, correu para ele, e tendo compaixão dele o abraçou, o beijou,
o vestiu, o adornou e fez uma festa para ele. Como ficou feliz porque o filho
perdido foi encontrado, e o que estava morto reviveu!
Podemos concluir que Deus está desejoso de receber todos aqueles que,
estando cônscios como Jó: "pequei, e perverti o direito, o que de nada me aproveitou
" (Jó 33:27), se voltam a Ele de todo o coração. E verdade que os pecados do
convertido junto com seu coração incrédulo enchem-no muitas vezes de
dúvidas e temores. Ele se lembra de Deus e fica perturbado porque Lhe tem
provocado tão amargamente. Ele fica temeroso de chamar-Lhe de "Pai" e tem
muitas dúvidas de que será recebido. Mas novamente a fé e a esperança são
encorajadas por promessas tais como as que se lê em II Cor. 6:17-18:
"nãotoqueis em coisas impuras; e eu vos receberei, serei vosso Pai, e vós sereis para
mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso. "
C. O convertido vê Deus como seu objetivo maior. Portanto deseja que
Deus possa ser glorificado, e possa ser desfrutado pelo seu retorno a Ele. O
convertido é conscientizado de que enquanto incrédulo ele viveu para a
desonra de Quem lhe deu vida, e em cuja mão está o seu fôlego de vida.
Agora, entretanto, ele deseja ardentemente andar de maneira digna do
Senhor, sendo Lhe em tudo agradável, sendo frutífero em todos os trabalhos
que são para o Seu louvor. Antes ele só pensava em si mesmo, em suas
próprias coisas. Não tinha alvos elevados além de satisfazer as inclinações
mundanas da carne com o que sua mente carnal e corrupta julgava
conveniente. Ele não se preocupava com o quanto o Senhor estava magoado e
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entristecido. No entanto, agora ele tem outra mente. Ele sustenta os mesmos
desígnios dos anjos, os mesmos propósitos que Cristo teve, a saber, honrar e
agradar ao Deus da glória. E não somente cumpre seu propósito em suas
ações espirituais, mas também em suas ações naturais, civis e recreativas, as
quais, estando ele renovado, se tornam espiritualizadas.
Ele leva a sério o que o apóstolo diz em I Cor. 10:31: "Portanto, quer
comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. "
E agora ele vive como nova criatura, como um filho. Antes não vivia nem
como um nem como outro, pois vivia somente para si.
Por assim glorificar a Deus, o convertido toma o rumo certo para alegrá-
lO. Ele vê Deus como a melhor porção, e portanto se lança sobre Ele. Agora
esta é sua linguagem: "Deixem os homens mundanos participarem das coisas
do mundo que lhes agradam. Deixem que corram atrás do vento. Deixem que
se envergonhem e se aborreçam com aquilo que, uma vez alcançado, resultará
somente em mais aborrecimentos. Minha alma busca a Deus. Somente Ele
merece minha busca. Somente Ele, quando encontrado, pode preencher-me
totalmente."
O convertido não se satisfará com apenas um pouco de Deus. Riquezas
não poderão fazê-lo. Reputação, prazeres sensuais tampouco poderão fazê-lo.
Nem mesmo as ordenanças por si mesmas, pois são iguais a corações vazios e
cisternas rachadas, a menos que venham acompanhadas do prazer da
comunhão com Deus. O convertido ora para Deus, ele ouve a Deus, ele jejua
para Deus, ele participa da Ceia do Senhor para Deus. Para ele a terra é como
um inferno se Deus estiver ausente, e avalia que o céu não seria o céu se Deus
não estivesse sempre presente. Assim, tenho mostrado até aqui em que
consiste a conversão, ou seja, consiste em voltar-se das trevas para a luz, e do
poder de satanás para o poder de Deus.
Devo acrescentar uma palavra ou duas para esclarecer através de quem
o pecador deve voltar-se para Deus, se ele realmente deseja ser recebido. E a
verdade é esta, que é somente através de Cristo. O apóstolo claramente
afirma: "porque por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito " (Ef. 2:18). E
nosso Senhor em termos expressos, diz em João 14:6: "Eu sou o caminho, a
verdade, e a vida, ninguém vem ao Pai a não ser por mim." É impossível que
criaturas tão culpadas e corruptas como nós, por causa do pecado, possam ser
aceitas diante de um Deus justo e santo, sem terem um Mediador. Portanto
segue-se que existe uma necessidade de olharmos para Jesus para podermos
usar a frase do apóstolo, "em quem Deus está reconciliando consigo o mundo " (II
Cor. 5:19). Doutro modo não devemos nos atrever a aproximarmo-nos dEle,
mas sim fugirmos com medo de sermos consumidos (como de fato
merecemos).
Agora quando olhamos para Jesus o Mediador, devemos olhar para Ele
como sendo a nossa Justiça, nosso Advogado e nosso Ajudador.
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1. Precisamos olhar para Jesus como nossa Justiça. Este é o nome através
do qual aquele renovo que brotou de Davi é chamado: "O Senhor Justiça nossa
". (Jer. 23:6). Não há como vir para Deus sem justiça. Nossa justiça é
considerada como trapo de imundícia, e desde que é um trapo não é capaz de
nos cobrir; visto que é trapo de imundícia não pode nos adornar ou
recomendar-nos. Portanto, precisamos olhar para Jesus para que Ele seja feito
justiça por nós, para que em consideração à Sua obediência e sofrimento em
nosso lugar, nossos pecados possam ser perdoados e possamos ser aceitos
diante de Deus. A justiça de Cristo, a qual é imputada aos crentes, é de tal
forma perfeita e suficiente, de modo que os penetrantes e puros olhos de Deus
não podem perceber a mínima imperfeição ou defeito neles. Entretanto, se
somos assim convertidos, nenhum de nossos pecados surgirá contra nós ou
será lançado sobre nós. Cristo morreu e, baseado na Sua morte, Deus justifica.
Quem, portanto, poderá acusar ou condenar aqueles que crêem?
2. Quando nos voltamos para Deus, precisamos olhar para Cristo como
nosso Advogado:"... se alguém pecar, temos um advogado com o Pai, Jesus Cristo o
justo." (I João 2:1). Como esse Advogado sofreu para adquirir perdão e graça,
então Ele intercede para que estes possam ser concedidos aos pecadores que
se arrependem, e Deus Seu Pai sempre O ouve. Devemos refletir, encorajando-
nos através da consideração, de que temos um Sumo Sacerdote à mão direita
de Deus. Quando o pecador se vê em sua destruição, e pede por remissão de
pecado, pela cura de suas feridas espirituais, e pela salvação de sua alma, que
parece estar às margens da condenação, esse Advogado irá levar as petições
do pecador e apresentá-las ao Seu Pai, e tudo será concedido, sim, e
infinitamente mais do que o pecador possa desejar ou conceber.
3. Quando nos voltamos para Deus, precisamos olhar para Cristo como
nosso Ajudador. Ele fortalece os joelhos fracos, do contrário não seríamos
capazes de dar um só passo no caminho da vida. O Senhor Jesus é chamado "o
Autor da nossa fé" (Heb. 12:2) e através dEle podemos ter acesso àquela graça
na qual permanecemos. (Rom. 5:22). O pecador precisa se aperceber de sua
incapacidade de arrepender-se, de se libertar, e baseado nisso precisa olhar
para o Filho de Deus, para tirar sua alma da prisão, para torná-lo realmente
livre da maldição da lei, da escravidão da corrupção, e torná-lo apto a voltar-
se para Deus e apegar-se a Ele.
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APLICAÇÃO
1. DO EXAME
Uma vez que Deus chama reiteradamente os pecadores para voltarem-
se, é muito interessante examinar se esse chamado tem sido obedecido! È
sábio colocar nossa graça diante da Pedra-angular, visto que existe tanta
falsificação da graça no mundo. Devido ser fácil e comum equivocar-se sobre
esse assunto, portanto não existe nenhum erro mais perigoso, e muito em
breve não será mais possível corrigir erros sobre a salvação. E então os
condenados vêem onde foram enganados, mas ai deles! É muito tarde para
pensar em voltar e consertar. A porta da misericórdia está fechada e barrada, e
estará barrada para sempre. Recordo-me de Theodoret, comentando sobre
esse texto, observou que a repetição da palavra "arrependei-vos, arrependei-vos"
nos leva a entender a sinceridade requerida na conversão. Uma mera
aparência nos coloca mais distantes de Deus.
Falarei agora de algumas mudanças que têm uma semelhança com a
conversão, as quais carecem da graça e da glória de Deus.
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2. DO TERROR
Quem quer que você seja, alto ou baixo, rico ou pobre, mulher ou
homem e que esteja lendo estas linhas e nunca foi convertido, eu sou um
enviado de Deus para você e trago duras notícias, tais como: se você continuar
sendo cruel e irracional, pode lhe acontecer como aconteceu com Belsázar, que
viu aquela mão na parede escrevendo: "Então se mudou o semblante do rei, e os
seus pensamentos o turbaram, as juntas dos seus lombos se relaxaram, e seus joelhos
bateram um no outro. " (Dan 5:6). Eu não vou profetizar coisas boas a seu
respeito, porém coisas más. Tenho algo a dizer-lhe, o qual está escrito com
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Você está continuamente afastando--se de Deus e fazendo com que Ele fique
mais e mais contra você, Aquele que unicamente pode ser seu refúgio e
salvação. Você verá afinal que tem sido seu próprio adversário e que tem
agido para sua própria confusão. "Acaso é a mim que eles provocam à ira, diz o
Senhor, e não antes a si mesmos, para confusão dos seus rostos?" (Jer.7:19).
(3) . Enquanto não for convertido você se torna cada vez menos apto
para a glória e a santidade. Quanto mais impuro você for, menos apto estará
para ver Deus. As abominações que você pratica e ama o tornam um habitante
inadequado para a Nova Jerusalém. A herança celestial é a herança dos
santos. É uma herança incorruptível e impoluta. (I Ped. 1:4). A companhia
toda é santa e santos são todos os afazeres. Não há sequer uma palavra vã ou
pecaminosa falada, nem é encontrado sequer um desejo ou pensamento
impuro dentre os que estão lá. E o que faria lá entre eles, a não ser que uma
mudança fosse operada em você?
(4) . Se não se arrepender, é certo que morrerá eternamente. Assim
como a vida é longínqua, assim a morte está próxima. O salmista nos fala que
"Deus é um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias. Se o homem se não
converter, Deus afiará a sua espada; já tem armado o seu arco e está aparelhado. "
(Sal. 7:11-12). E quando os instrumentos da morte estiverem preparados é um
sinal que Deus fará um trabalho rápido e repentinamente eliminará o ofensor.
A morte é chamado de "Rei dos Terrores", e em relação aos ímpios este nome é
bem merecido. As coisas boas deles são todas recebidas e seus males vêm
sobre eles, os quais nunca serão removidos. Tem início seus tormentos para
nunca terem um fim. Enquanto Deus for Deus, eles O terão como inimigo.
Enquanto Deus for feliz, eles estarão na mais extrema miséria! Poderia a
língua pronunciar ou o coração imaginar o horror de tudo isso? Um Senhor
irado, vingando-Se do pecado colocará sobre você a carga que merece, e ainda
impedirá que você afunde no nada. Ele susterá seu ser para que não se esvaia
e você possa ser atormentado para sempre. Ele mostrará Seu supremo poder
ao levantá-lo com uma das mãos, para que possa chicoteá-lo com a outra por
toda a eternidade.
3. DA CONSOLAÇÃO
A vocês que têm obedecido o chamado de Deus para arrepender--se, eu
devo dar uma mensagem de paz e consolo: "Consolai, consolai o meu povo, diz o
vosso Deus ". (Is. 40:1). Os incrédulos não são tão amaldiçoados quanto vocês
são abençoados. Eu tenho várias coisas para dizer-lhes que farão seus corações
saltarem de alegria.
(1). Deus tem tido pensamentos de amor para com vocês desde antes
que os fundamentos da terra fossem lançados. Ele os predestinou e os
escolheu para a doação de filhos, muitos antes de existirem. (Ef. 1:4-5). Desde
a eternidade Ele determinou fazê-los herdeiros e co-herdeiros com Cristo
daquele reino e glória com os quais os sofrimentos do tempo presente não são
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dignos de serem comparados. E como o amor de Deus para com vocês vem
desde a eternidade, é co-eterno com Ele, nunca poderá ser mudado em tempo
algum.
(2). Deus os justificou livremente pela Sua graça através da redenção em
Jesus Cristo. (Rom. 3:24). "Quanto está longe o oriente do ocidente, assim afasta de
nós nossas transgressões". (Sal. 103:12). E certamente isto é tão distante quanto
se possa desejar. Eles são aprisionados no fundo do mar, o qual implica que
quando forem procurados não serão encontrados, tanto quanto as coisas que
estão presas no fundo do mar, as quais não temos esperanças que sejam
recuperados. "Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas
iniquidades". (Is. 53:5). E como a imputação de seus pecados a Cristo fez com
que Ele passasse por reais sofrimentos, assim a imputação de Sua justiça a
vocês trará uma real isenção da ira e das punições que, pelo pecado, vocês
justamente mereciam. Alegrem-se, convertidos, seus pecados são perdoados e,
conseqüentemente, a maldição das aflições e também o estigma da morte foi
retirado.
(3). Vocês que são convertidos, não demorará muito para serem
glorificados: "E aos que predestinou a estes também chamou: e aos que chamou a
estes também justificou: e aos que justificou a estes também glorificou. " (Rom. 8:30).
Deus prometeu que aqueles que vencessem sentariam com Ele em Seu trono.
Vocês não serão apenas vencedores, porém serão mais do que vencedores por
Aquele que os amou. As mansões já estão preparadas, e quando vocês
estiverem prontos para elas, serão recebidos lá. Então nem a fúria nem o favor
do mundo serão mais tentações. Os dardos inflamados de satanás não serão
capazes de atingi-los quando alcançarem o terceiro céu. Quando estiverem
entrando na Nova Jerusalém darão um adeus ao pecado e à miséria às portas,
pois nenhum deles será capaz de entrar com vocês. Todas as lágrimas serão
enxugadas e a causa das tristezas não mais existirá. Haverá uma visão clara de
Deus sem a mínima nuvem. O Sol da Justiça brilhará para sempre sem
nenhum eclipse. Haverá completo gozo sem pesar, perfeita paz sem quaisquer
problemas, completa santidade sem o mínimo resquício de corrupção, benção
completa sem interrupção.
4. DA EXORTAÇÃO
Diante disso, quem não gostaria de ser convertido? Alguém teria
alguma coisa a dizer contra o perdão ou contra a glória que tem sido
revelada? Deveríamos perguntar se preferem antes os prazeres eternos ou os
tormentos eternos? Oh, que possam voltar-se para si mesmos! E então estou
certo de que se voltarão para Deus imediatamente. Os argumentos para
persuadi-los são diversos.
(1). Se não se arrependerem, não poderão corresponder àquilo para o
que foram criados. Não pensem que Deus lhes deu um ser e enviou--os ao
mundo para agradarem-se a si próprios, para satisfazerem seus desejos
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* A cidade de Londres esteve incediada por uma semana em 1666.
O cetro real continua apontado para vocês; o Senhor não foi removido
do Seu trono de misericórdia. Misericórdia e graça estão agora ao seu alcance
se vocês virem recebê-las. Contudo se não reconhecerem uma boa proposta,
por estarem decididos a não dar fim ao seu obstinado caminho, subitamente
um juramento poderá ser pronunciado que vocês nunca mais entrarão em
descanso. Deus poderá dizer: "Aquele que é sujo, suje-se ainda. Aquele que é
injusto seja injusto ainda. Aquele que é amante dos ganhos e prazeres do
mundo, os quais se tornaram seus ídolos, deixe-o só. Aquele que desprezou a
oferta da graça não terá outra oferta; aquele que agora recusa a ser convertido
nunca será um convertido."
Oh, que eu possa convencê-los através destes argumentos. Todavia,
caso eles não os impressionem, caso eles escapem de suas mentes e assim não
tenham influência em seus corações, eu reforçarei os mesmos da seguinte
maneira:
A. Com a voz do inferno;
B. Com a voz do céu;
C. Com a voz de Cristo.
A. Com a voz do inferno. Imaginem, portanto, um pecador condenado
que tivesse permanecido muitos anos no lago de fogo. Suponham que ele
pudesse voltar e aparecer diante desta assembléia e um rio de lágrimas
jorrasse de seus olhos, e então finalmente parando de chorar ele dissesse:
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companhia de anjos e tenha visto Deus face a face, possa, por um tempo,
deixar sua gloriosa mansão, e tendo abundância de alegria e glória diante de
seus olhos, proferisse uma mensagem tal como esta diante de vocês:
"Oh, a altura, o comprimento, a profundidade e largura do amor de
Cristo, o qual ultrapassa o conhecimento! Quão inescrutável é Sua bondade e
Sua misericórdia revelada! Digno é o Cordeiro que foi morto, de receber
poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e bênção, pois Seu
sangue me redimiu, com milhões de outros de todo grupo, língua, povo e
nação! Fui chamado para me arrepender e viver, e através da rica graça fui
capacitado a obedecer ao chamado.
E agora descobri quão gloriosa é aquela vida para a qual serão trazidos
os convertidos sinceros e perserverantes. Esta é uma vida livre do pecado, a
qual nunca verá a morte".
"O melhor de tudo é estar perto de Deus. Cristo é sem qualquer dúvida
o melhor Mestre. Estar sujeito a Ele é reinar, e reinar para sempre! O que afeta
este cego e estúpido mundo e faz com que os homens não vejam nenhuma
formosura nem atrativos em Cristo - o mais belo e desejável dentre outros dez
milhões, a luz de cuja face faz o céu não precisar da luz do sol, da lua, ou das
estrelas? Sua beleza ultrapassa a tudo, Sua graça vale muito mais do que o
ouro que perece, mas a Sua glória não me é lícita ou possível expressar".
E agora algum de vocês continuará a menosprezá-lO? Abram seus olhos
e vejam claramente que vocês são filhos da perdição, os filhos da morte sem
Ele. Mas através dEle podem ser convertidos. Através dEle podem ser salvos
com uma grande e eterna salvação. Certamente, então, vocês têm razões para
valorizá-lO acima de tudo, embora o mundo todo, sim, dez milhões de
mundos, pudesse estar competindo com Ele."
C. Com a voz de Cristo. Imaginem o Senhor Jesus aparecendo numa luz
que exceda a luz do sol. Suponham que alguns de Seus anjos viessem como
anunciadores e precursores, vindo à frente dEle e anunciando: "Santo, santo,
santo éo Senhor dos Exércitos", e por fim que Ele mesmo viesse visivelmente
enchendo este lugar com Sua majestade e Sua glória. E, tendo inspirado em
vocês profunda reverência e tendo provocado em vocês uma admiração por
Sua excelência e grandeza, suponham que Ele fale então:
"Olhai para Mim e sereis salvos, todos os confins da terra. Eu sou Seu
Redentor, e não há outro. Vocês têm se auto-destruído, mas em Mim, e
somente em Mim, poderão encontrar ajuda. A não ser que Eu os torne livres, o
pecado continuará reinando em vocês, e se ele reinar, também destruirá. A
não ser que Eu amarre o homem forte, ele irá mantê-los presos e os levará
cativos ao seu bel prazer. A não ser que Eu Me volte e os traga para perto de
Deus, vocês correrão cada vez para mais longe dEle, até que por fim não haja
mais nenhuma possibilidade de retorno. Por quanto tempo vocês, almas
simples, amarão a simplicidade, e vocês, tolos, odiarão o conhecimento?
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5. DA DIREÇÃO
Eu gostaria de crer que agora vocês estão desejando ouvir, e igualmente
desejando seguir, algumas indicações de modo a se tornarem sinceros
convertidos. Direções sobre como libertarem-se da dor, como recobrar saúde
quando estiverem doentes, ou uma determinada condição que tenham
perdido, estou confiante que vocês dariam atenção. E não seriam as
orientações vindas da infalível Palavra da verdade de muito maior
conseqüência?
As orientações são as seguintes:
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A COISA INDISPENSÁVEL
"Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação...?"
(Hebreus 2:3)
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Thomas Watson
Pastor da Igreja de São Estevão,
Walbrook na cidade de Londres
Excelência,
Não era minha intenção ter este sermão publicado (eu o considerava
despretencioso), mas primeiro recebi o convite de Vossa Senhoria, e depois fui
convidado pelo seu honrado Gabinete. Eu não soube como recusar, caso que,
esquivando-me de suas ordens, eu incorresse em sua justa censura. Meu
Senhor, foi meu desejo neste sermão chamá-lo para fora do vazio, das noções
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exageradas, e disputas litigiosas destes tempos para buscar aquilo que é mais
sólido, no que, estou certo, todo homem está muito interessado, a saber, o
desenvolvimento de sua salvação. Este é um trabalho que talvez exija, que
demande os mais vigorosos atos espirituais da alma na sua realização. Este
trabalho tem necessidade de ser bem feito, pois o mesmo é para a eternidade.
Meu Senhor, esta é a verdadeira sabedoria: ser sábio para a salvação. (I
Tm. 5:15). Através desta santa linha de ação nós iremos superar todos os
políticos de todos os tempos. Nós escaparemos do inferno. Nós sentar-nos-
emos no verdadeiro lugar de honra. Deus será nosso Pai, Cristo nosso irmão,
o Espírito nosso Consolador, os anjos nossos companheiros. Quando
morrermos, levaremos conosco uma consciência limpa e deixaremos um bom
nome atrás de nós. Não discorrerei mais. Meu desejo é que este sermão possa
ser patrocinado por sua Excelência. Certas pequenas adições serão
encontradas no final deste, as quais preparei de antemão para Vossa Senhoria,
porém me faltou tempo para acrescentá-las. Que o Senhor Deus o enobreça
com Seu Espírito, e o coroe com prosperidade de alma, a qual será a oração
daquele que é,
Seu Honrado,
no serviço do evangelho
Thomas Watson
Do meu gabinete na
Capela de S. Estevão, Walbrook
15 de outubro de 1656
A COISA INDISPENSÁVEL
"...desenvolvei a vossa vocação com temor e tremor... "
(Filipenses2:12)
Essas palavras são uma exortação grave e séria, necessária não somente
para aqueles cristãos que viveram no tempo dos apóstolos, mas altamente
apropriada para esta época em que vivemos.
Primeiramente observe no texto o modo da advertência.
"Meus amados". O apóstolo tentou por todos os meios tornar-se
agradável a fim de penetrar nos corações dos Filipenses. Ele prescreveu uma
pílula de evangelho e mergulhou-a no açúcar para que pudesse ser melhor
engolida. Ele esforçou-se para levar os Filipenses à compreensão do seu
axioma, isto é, que tudo quanto falava com eles sobre suas almas o fazia em
puro amor. Às vezes misturou suas palavras com lágrimas e falou chorando.
(Fil. 3:8). Às vezes ele as mergulhava em mel. Paulo sabia como reprovar. Era
parte de seu trabalho e ferramenta de sua cirurgia espiritual, "...repreende-os
duramente ", (Tito 1:13), ou como dizem os gregos, "severamente". Entretanto,
quando terminava de lancetar, ele sabia como colocar vinho e óleo sobre a
ferida. Ele oferecia aconchego como uma ama, e desejava repartir com o povo
não somente seus sermões, como também sua alma. (I Tess. 2:7-8).
Aqui o apóstolo Paulo dá um exemplo a todos os ministros de Cristo.
Seus corações devem arder não com o fogo da paixão, e sim com o do amor
para com seu povo. Sendo eles os embaixadores de Cristo, devem vir com
palavras de paz em seus lábios." Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos
anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
"(ICor. 13:1).E melhor amar como um pastor do que falar como um anjo. O
amor é aquela flor que deve crescer no coração e espalhar seu perfume nos
lábios de cada ministro. Aqueles que vêm em espírito de moderação para seu
povo provavelmente farão maior bem. Corações endurecidos serão rápida
mente amolecidos pelo amor. O amor abrasado penetrará onde a cunha não
pode penetrar. O raio quebra, todavia o sol funde. Quando o amor manifesta
sua doce influência, faz com que o coração do pecador se desfaça em lágrimas.
Quando as engrenagens estão duras e emperradas, coloca-se óleo para que
fiquem flexíveis. A melhor maneira de amolecer um coração duro e enternecê-
lo, é untá-lo com este óleo do amor. É por essa razão que a advertência se
inicia com "Meus amados ".
Agora passarei à exortação em si: "desenvolvei a vossa vocação com temor e
tremor ", cujas palavras se dividem em três particulares.
Primeiro, a ação: "desenvolvei". Segundo, o objeto: "sua salvação ".
Terceiro, o modo, ou a maneira como devemos desenvolvê-la: "com temor e
tremor ". Falarei principalmente das duas primeiras, e retornarei brevemente à
outra na aplicação.
A proposição é a seguinte: deve ser a maior tarefa do cristão
desenvolver sua própria salvação. O grande Deus nos colocou no mundo
como se fosse numa vinha, e aqui está a tarefa que Ele nos deu, o
desenvolvimento de nossa salvação. Há um versículo paralelo a este em II
Ped. 1:10: "procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição... " Quando
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Questão 1. Mas por que Deus fez o caminho para o céu tão difícil? Por
que tanto trabalho?
Resposta 1. Para ensinar-nos a valorizar as coisas celestiais. Se a
salvação viesse facilmente, não lhe daríamos o devido valor. Se os diamantes
fossem comuns teriam pouca importância, entretanto, visto que são tão
difíceis de serem conseguidos, são tão valorizados. Tertuliano conta que
quando as pérolas eram comuns em Roma, as pessoas as usavam em seus
sapatos, cujo próximo passo era esmagá-las sob seus pés. A salvação é uma
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pérola que Deus não permite ser desconsiderada. Portanto, deverá ser
conseguida com trabalho santo. Deus não permitirá que baixem os preços das
misericórdias espirituais. Aqueles que têm esta preciosa flor da salvação
devem colhê-la com o suor de seus rostos.
Devemos trabalhar e nos esmerar para podermos estar qualificados
para o céu. Um pai deixará sua herança ao filho, todavia primeiro ele lhe dará
uma educação para que possa estar qualificado para ela. Deus nos dá a
salvação, contudo primeiro Ele "nos fez idôneos para participar da herança dos
santos na luz. " (Col. 1:12). Enquanto estamos trabalhando, estamos correndo e
nos adequando para o céu. O pecado está sendo enfraquecido, a graça está
sendo amadurecida. Enquanto estamos em combate, estamos nos preparando
par a a coroa. Primeiro se amadurece o odre antes de colocar o vinho. Deus irá
nos amadurecer com a graça antes de derramar o vinho da glória.
Questão 2. Mas se deve haver este trabalho, como se diz que o jugo de
Cristo é suave?
Resposta 2. Para a parte carnal é difícil, porém onde há a infusão de um
novo e santo princípio, o jugo de Cristo é suave. Não é um jugo, e sim uma
coroa. Quando as rodas da alma são lubrificadas com graça, então um cristão
se move no caminho da religião com facilidade e alegria. Uma criança se
alegra em obedecer a seu pai. Para Paulo servir ao Senhor era o céu: "...
segundo o homem interior tenho prazer na lei de Deus. " (Rom. 7:22). E quão
rapidamente a alma é levada por essas asas! O serviço de Cristo é a liberdade
de Cristo, portanto o apóstolo chama isso de "lei da liberdade " (Tg. 1:25).
Servir a Deus, amar a Deus, ter prazer em Deus, é a mais doce liberdade
do mundo. Cristo não faz como fez Faraó: "... faziam servir os filhos de Israel com
dureza " (Ex. 1:13), mas Ele põe sobre eles os constrangimentos do amor: " ...o
amor de Cristo nos constrange... "(II Cor. 5:14). Seus preceitos não são cargas, são
privilégios; não são obstáculos, são ornamentos. Portanto, Seu jugo é leve, mas
para o homem não regenerado este fardo tem um peso que o atormenta e
aborrece. Quando a corrupção prevalece, ainda o melhor coração encontra
alguma relutância. É isso que precisa ser levado em conta quanto à primeira
razão que citamos, a dificuldade do trabalho. A segunda razão porque
precisamos de muito suor santo e esforço no desenvolvimento da salvação é
devido à excelência desse traba lho. Pouco serão salvos, portanto devemos
trabalhar o máximo que puder mos para estarmos entre esses poucos. O
caminho para o inferno ó largo, ele está repleto de riquezas e prazeres. Ele tem
uma rua de ouro, por isso há muitos que viajam por ele; no entanto, o
caminho para o céu não lhes é atraente. Não é uma trilha batida, e poucos
podem achá-la.
Os anunciadores da graça universal dizem que Cristo morreu
intencionalmente por todos, mas então por que nem todos são salvos? As
intenções de Cristo poderiam ser frustradas? Alguns afirmam tão
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grosseiramente que todos serão realmente salvos, porém não foi o que disse o
Senhor Jesus: "estreita éaporta e apertado o caminho que leva à vida, epoucos há que
a encontrem. " (Mat. 7:14). Ora, como todos podem entrar por essa porta e
poucos a encontrarem, para mim parece um paradoxo! A manada dos homens
vai para o matadouro, "mas o remanescente será salvo. " (Rom. 9:27). A peça
inteira é cortada e vai para o diabo. Somente um remanescente será salvo. A
maioria das pessoas no mundo é fruto caído da árvore, derrubado pelo vento.
Aquela oliveira em Is. 17:6 com duas ou três azeitonas na mais alta ponta dos
ramos, é um símbolo apropriado do reduzido número daqueles que serão
salvos. Satanás vai embora com a colheita, Deus tem somente alguns rabiscos.
Nesta grande cidade se fizéssemos uma votação ou uma pesquisa de opinião,
o diabo certamente venceria.
Baseado no que aprendemos, observe que se fôssemos dividir o mundo
em trinta partes iguais, dezenove destas trinta estão cobertas de idolatria
barbaresca, seis dos onze restantes com a doutrina de Maomé, de modo que
restaria apenas cinco partes das trinta onde há um pouco de cristianismo.
Entre estes "cristãos" há muitos seduzidos pelos papistas por um lado e
protestantes formais por outro, de forma que há poucos que são salvos. Assim
sendo, isso deve levar-nos a um esforço cada vez maior para fazermos parte
do pequeno número daqueles que herdarão a salvação.
A terceira razão porque devemos pôr tanto vigor neste trabalho é
devido a possibilidade do mesmo. A impossibilidade mata todo o esforço.
Quem irá sofrer por algo que não tenha a esperança de conseguir? Mas "... no
tocante a isto ainda há esperança para Israel. " (Esd. 10:2). A salvação é algo
viável, ela pode ser conseguida. Ó amigos, embora a porta do paraíso seja
estreita ela ainda está aberta. Está fechada para os demônios, aberta porém
para vocês. Quem não se esforçaria por entrar por ela? É uma questão de
livrar-se de seus pecados, remover esta fina camada de barro que os mascara,
desinflar seu orgulho e assim talvez vocês possam entrar pela porta estreita.
Esta possibilidade da salvação, aliás probabilidade, deve fazer com que vocês
empenhem sua vida neste esforço. Se há alimento, por que continuarem por
mais tempo morrendo de fome em seus pecados?
APLICAÇÃO
1. Informação. Este texto mostra que a salvação não é algo tão fácil
como tantos imaginam. Muitos fantasiam um modo elegante e fino de se
chegar ao céu; um suspiro, ou lágrima, ou "Senhor, tenha misericórdia"
supondo que isso irá salvá-los. Aqueles que assim crêem estão num sonho
dourado. O texto nos fala de desenvolver nossa salvação. Basílio compara o
caminho para o céu com um homem passando por uma ponte estreita. Se ele
caminhar muito na beira ele cai e se afoga. Aquele que pensa que o caminho é
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mas isso será para a própria condenação deles. Alguns dos melhores
escritores pagãos (Livio, Aristóteles, Plutarco) afirmam que houveram
sentenças e punições decretadas por príncipes e governadores pagãos a
respeito da religião. Se o pagão não permitia que o seu deus fosse blasfemado,
porventura os cristãos permitiriam que Cristo fosse blasfemado?
E. Ele reprova aqueles que, ao invés de buscarem sua salvação, buscam
sua própria destruição. Essas são as pessoas profanas que vão para o inferno
através do suor de seus próprios rostos:
(i) . Os bêbados. O que eles ganham no templo, perdem no bar. Eles
colocam de molho no vinho os sermões que ouviram. "Ai da coroa de soberba
dos bêbados de Efraim ". (Is. 28:1). Eu poderia mudar a expressão e dizer "os
bêbados da Inglaterra." Há um tipo de vinho que é chamado lácrimo, o qual
significa lágrimas. Tal vinho que o condenado bebe é inflamado pela ira de
Deus, e este será o cálice dos bêbados.
(ii) . Os blasfemadores. Eles blasfemam até o ponto de perderem a
salvação. O blasfemador, ao que parece, não tem crédito. Ele precisa apoiar-se
em juramentos (blasfêmias) ou ninguém acreditará nele. Mas deixem-me
lembrar-lhes que a alma dele esbarra na admoestação "de maneira nenhuma
jureis". (Mat. 5:34). Se temos que prestar contas das palavras vãs, não serão os
vãos juramentos (blasfêmias) levados em conta e registrados no livro razão?
Quando a escara aparece no lábio, tal homem deve ser considerado impuro.
Cada juramento é uma ferida para a alma, e cada ferida tem uma boca que
clama aos céus por vingança. Alguns chegam a um ponto de perversidade,
que voam no rosto de Deus como cachorros loucos, amaldiçoando.
_________________
* Do Socínio. Salvação pelas obras.
Resposta. Mesmo assim, use os meios. Embora você não possa trabalhar
espiritualmente, trabalhe fisicamente. Faça o que você é capaz de fazer, e isso,
por duas razões:
1. Porque o homem, negligenciando os meios, se auto-destról, como o
homem que não vai para o médico, pode ser responsabilizado pela sua
própria morte.
2. Porque Deus nunca está em débito conosco, mesmo quando fazemos
o que somos capazes de fazer. A promessa urge: "buscai e encontrareis." (Mat.
7:7). Transforme esta promessa em súplica através de oração. Você diz que
não tem poder, porém você não tem uma promessa? Aja da melhor maneira
que você puder. Embora eu não me atreva a dizer, como os arminianos, que
quando nos esforçamos e seguimos em frente, Deus é obrigado a conceder
graça, entretanto digo que Deus não está endividado àqueles que buscam Sua
graça. Não, e digo mais. Ele não nega Sua graça a ninguém, a não ser àqueles
que deliberadamente a recusam.
Obstáculo 2. O segundo obstáculo é este: mas para que finalidade devo
trabalhar? Há um decreto estabelecido. Se Deus decretou que devo ser salvo,
serei salvo.
Resposta 2. Deus decreta a salvação sem desprezar esforço. (II Tess.
2:13). Orígenes, em seu livro contra Celsus, observa um sutil argumento
daqueles que discutem sobre sorte e destino. Alguém deu um conselho ao seu
amigo doente de que não fosse para o médico porque, ele disse, está escrito
pelo destino se você vai se recuperar ou não. Se for seu destino recuperar-se
então você não precisa do médico, e se não for seu destino, então o médico
não lhe fará nenhum bem.
A mesma falácia é usada pelo diabo contra os homens. Ele os induz a
não se empenharem. Se Deus tiver decretado que eles serão salvos, eles serão
salvos e não há necessidade de porfiar. Se Ele não tiver decretado sua
salvação, então o trabalho deles não lhes fará nenhum bem. Este é um
argumento retirado do pensamento do diabo. Mas dizemos que Deus decreta
o fim usando os meios. Deus decretou que Israel entraria em Canaã, contudo
primeiro eles deveriam lutar contra os filhos de Anaque. Deus decretou que
Ezequias deveria recuperar-se de sua doença, porém ordenou que colocasse
pasta de figos como emplasto sobre as chagas. (Is. 38:21).
Não usamos tais argumentos em outros assuntos. Um homem não diz:
"Se Deus decretou que eu terei uma colheita este ano, eu terei uma colheita
este ano! Por que eu terei que arar, semear ou adubar a terra?" Não, ele usará
os meios e esperará pela colheita. Embora "a bênção do Senhor é que enriquece "
(Prov. 10:22), e isso é uma verdade, "a mão dos diligentes enriquece" (Prov. 10:4).
Os decretos de Deus são executados através de nosso trabalho.
E assim, amigo, tendo removido estes obstáculos, deixe-me agora
persuadi-lo a empenhar-se neste trabalho abençoado, o desenvolvimento de
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trabalho. Assim, no céu, quando virmos o fruto obtido de nosso esforço: "o fim
de nossa salvação " (I Ped. 1:9), isso fará o céu muito mais doce. Quanto maiores
forem os esforços para se alcançar o céu, tanto mais bem-vindo ele será.
Quanto mais suor, tanto mais doçura. Quando o homem peca, o prazer se vai
e as acutiladas permanecem, mas quando ele se arrepende, o labor se vai e o
gozo permanece.
4. Vocês ainda têm tempo para trabalhar. Este texto, ou sermão, estaria
fora da época para ser pregado para o execrável no inferno. Se eu lhes
ordenasse que trabalhassem, já seria tarde demais. O seu tempo já passou. É
noite com o diabo, mas hoje é ainda dia para vocês. "...trabalhem enquanto édia
" (João 9:4). Se vocês perderem seu dia, perderão suas almas. Este é o tempo
para suas almas. Agora Deus ordena, agora o Espírito sopra, ministros
suplicam, até mesmo as campainhas de Arão soariamnas suas almas
chamando-os para Cristo. Oh, aproveitem a época! Este é seu tempo de
semear; semeiem agora as sementes da fé e do arrependimento. Se na época
certa vocês não têm o desejo, virá o tempo em que terão o desejo e não terão
mais a época certa. Aproveitem o tempo enquanto podem. O marinheiro iça
suas velas enquanto sopram os ventos. Nunca um povo teve ura caminho tão
aberto para o céu como as pessoas desta cidade, e não iriam vocês prosseguir
adiante em suas viagens? E como corre para o final este tempo! Eu lhes
asseguro que o Grande Legislador não atrasará Seu chamado. Oh, meus
irmãos, agora é o tempo de chamada para suas almas. Agora supliquem a
Deus por misericórdia, ou pelo menos peçam a Cristo que faça isso por vocês.
maior valentia. A alegria é como a música para a alma, ela estimula para a
tarefa. Ela lubrifica as engrenagens das emoções. A alegria faz com que
realizemos o serviço com prazer, e nunca somos levados tão velozmente na
religião como quando estamos nas asas da alegria. A melancolia trava as
rodas de nossa carruagem e então fica muito difícil dirigi-la.
3. O terceiro obstáculo para a salvação é a preguiça espiritual. Este é um
grande impedimento ao nosso trabalho. Foi dito dos filhos de Israel que
"desprezaram a terra aprazível". (Sal. 106:24). Qual seria a razão? Canaã era um
paraíso de delícias, um tipo de céu. Sim, mas eles pensaram que esta lhes
traria uma grande quantidade de problemas e exigiria muito esforço para ser
alcançada, assim eles preferiram continuar sem ela. Desprezaram a terra
aprazível. E acaso não existem milhões entre nós que prefeririam ir dormindo
para o inferno, mais do que esforçarem-se em ir para o céu? Eu ouvi falar
sobre alguns espanhóis que viviam perto de um local onde existia grande
quantidade de peixes, todavia eram tão preguiçosos que não se esforçavam
em pescá-los. Eles os compravam de seus vizinhos! Existe uma preguiça tão
pecaminosa sobre a maioria das pessoas, de modo que, embora Cristo esteja
perto delas, embora a salvação lhes seja oferecida através do evangelho, ainda
assim elas não a desenvolvem. "A preguiça faz cair em sono profundo". (Prov.
19:15). Adão perdeu sua costela enquanto dormia, e muitos são os homens
que perdem suas almas durante o sono profundo.
4. O quarto obstáculo no caminho da salvação é a opinião de que a
salvação é muito fácil - "Deus é misericordioso e se acontecer o pior, nós
somente temos que nos arrepender".
Deus é misericordioso, é verdade, no entanto Ele é justo. Ele não
prejudica Sua justiça por mostrar misericórdia. Portanto observe aquela
cláusula na proclamação: "...que ao culpado não tem por inocente. " (Ex. 34:7). Se
um rei proclamasse que seriam perdoados somente aqueles que viessem à sua
presença e se submetessem ao seu cetro, poderia ainda alguém que persistisse
na rebelião reivindicar o benefício desse perdão? Oh, pecador, você gostaria
de receber misericórdia, no entanto sem depor as armas da injustiça?
"Somente arrepender-se?" É este "somente" que nós não podemos
alcançar, a não ser que Deus direcione nossa seta. Diga-me, pecador, é coisa
fácil para um homem morto viver e andar? Você está espiritualmente morto e
embrulhado em sua mortalha. (Ef. 2:2). É fácil a regeneração? Não há
angústias no novo nascimento? É fácil negar-se a si mesmo? Você sabe o
quanto a verdadeira religião deve custar, e o que ela pode custar? Ela deve
custar a sua separação de suas concupiscências, e ela pode custar a sua
própria vida! Preste atenção a esta obstrução. A salvação não é per saltum. Não
é um passeio pela floresta. Milhares têm ido para o inferno por causa desse
engano. Os óculos de aumento da presunção têm feito a porta estreita parecer
mais larga do que realmente é.
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Quarto, vão com calma, sejam humildes, não pensem que vocês
merecerão qualquer coisa pelo seu trabalho. Satanás nos nliislitiri do trabalho
ou nos tornará orgulhosos dele. Deus precisa perdoar os nossos trabalhos
antes de coroá-los. Se pudéssemos orar como os anjos, derramar rios de
lágrimas, construir igrejas, erigir hospitais, r tivéssemos o conceito de que
mereceríamos qualquer coisa por causa disso, seria como uma mosca morta
num frasco de perfume. Macularia e ofuscaria a glória do trabalho. Nossas
obras, como o bom vinho, tomam o gosto do barril ruim. Elas serão nada mais
do que cintilantes pecados. Não deixemos o orgulho envenenar nossas coisas
santas. Quando estamos trabalhando para o céu, devemos dizer como o bom
Neemias: "Nisto Deus meu, lembra-te de mim, eperdoa-me segundo a abundância da
tua benignidade. " (Nee. 13:22).
Quinto, trabalhem sobre os seus joelhos. Sejam fervorosos em oração.
Supliquem ao Espírito de Deus para ajudá-los no trabalho. Façam esta oração:
"Levanta-te vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim..." (Cantares de
Salomão, capítulo 4). Precisamos ter o Espírito soprando sobre nós, pois
existem muitos ventos contrários soprando contra nós. Consideremos a
rapidez com que nossas santas afeições estão sujeitas a murcharem. O jardim
não precisa de mais vento para fazer brotar seus frutos do que nós precisamos
do Espírito para fazer florescer nossas virtudes.
Filipe juntou-se à carruagem do eunuco, o Espírito de Deus precisa
juntar-se à nossa carruagem. Do modo como o marinheiro mantém a mão no
leme, assim também ele mantém os olhos nas estrelas. Enquanto estamos
trabalhando, precisamos olhar para o Espírito. Que valor tem a nossa
preparação sem a operação do Espírito? De que vale todo o nosso remar sem o
vento do céu? "O Espírito me levantou ". (Ez. 3:14). O Espírito de Deus precisa
tanto infundir a graça quanto estimulá-la. Nós lemos da roda dentro da roda
em Ez. 1:16. O Espírito de Deus é aquela roda interior que precisa mover a
roda dos nossos esforços.
Para concluir, orem a Deus para abençoá-los em seu trabalho. "...não é
dos ligeiros a carreira, nem dos valentes a peleja... " (Ecl. 9:11). Nada prospera sem
a bênção, e qual o modo de se obter isso, a não ser pela oração? É um velho
ditado: "Os santos levam a chave do céu em seus cintos." A oração derruba as
armas das mãos do inimigo e apanha a bênção das mãos de Deus.
Finalmente, sexto, trabalhem com esperança. O apóstolo disse: "Aquele
que lavra deve lavrar com esperança". (I Cor. 9:10). A esperança é a âncora da
alma. (Heb. 6:19). Lancem esta âncora sobre a promessa e vocês jamais
afundarão. Nada nos atrasa mais em nosso trabalho do que a incredulidade.
"Claro", disse um cristão: "Posso trabalhar penosamente o dia todo e não
conseguir nada." O quê? Não há bálsamo em Gileade? Não há um trono de
misericórdia? Oh, derramem fé em cada tarefa, olhem para a livre graça, fixem
seus olhos no sangue de Cristo. Vocês querem ser salvos? Façam seu trabalho
com fé.
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CONTRACAPA
Os Purita nos
e a conversão
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