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Os indicadores

Os Indicadores
para
para as
empresas
as Empresas
Indicadores para
as Empresas
A Fundação Santander Central Hispano não se
responsabiliza pelas opiniões emitidas
pelo autor deste caderno.

A reprodução total ou parcial desta publicação é


proibida sem autorização da empresa editora.

© 2006. Fundação Santander Central Hispano. Todos


os direitos reservados. © do texto:
José Luis Blasco

Desenho editorial: Bactéria


Hoje já ninguém questiona que uma empresa seja uma ligação essencial do desenvolvimento sustentável.
Na história recente, a inclusão do mundo empresarial nesta nova forma de entender e fazer negócios marcará
uma linha relevante e possivelmente irreversível. As entidades que procuram ser simultâneamente
“economicamente viáveis”, “socialmente benéficas” e “ambientalmente responsáveis”, iniciam com este
triplo objectivo uma prometedora etapa, benéfica não só para elas, mas também para a sociedade
e o ambiente onde desenvolvem as suas actividades.

Perante este estimulante envolvimento das empresas, independentemente da sua dimensão, objecto social
e posição, às formas de gestão relevantes para a sustentabilidade, o Banco Santander quis dedicar esta
publicação aos indicadores de sustentabilidade para a empresa.

Com esta publicação pretendemos, tanto manifestar o nosso apoio e reconhecimento às entidades que já
estão a trabalhar de forma relevante para a sustentabilidade, como motivar as que ainda não iniciaram este
caminho para que o empreendam com ânimo e decisão. Para todas elas, esta Publicação recolhe uma
extensa e actual informação que acreditamos ser de grande utilidade e interesse.

A realização desta publicação esteve a cargo de José Luis Blasco, um profissional idóneo para cumprir com
sucesso esta missão. O resultado foi, como o leitor verificará, para além de proveitoso, altamente motivador
e preciso. A Fundação Santander Central Hispano deseja homenageá-lo e agradecer-lhe o seu excelente
trabalho. Agradecemos também, de forma especial, a Allen L. White o facto de ter tido a gentileza
de o prefaciar. O seu prestígio e saber, enriqueceram sem dúvida esta Publicação.

Esperamos que os leitores retirem destas páginas alguma utilidade e que as mesmas os motivem, ou que
os certifiquem, na necessária viagem até à sustentabilidade.

Fundação Santander Central Hispano


Índice

Prólogo..................................................................................................................................... 6

Apresentação............................................................................................................................. 8

Introdução ao conceito “desenvolvimento sustentável”......................................................10

Significado empresarial do conceito “sustentável”...............................................................16

Identificar o que é relevante ………........................................................................................24

O sistema de indicadores ..........................................................................................................38

Comunicar através de um relatório...........................................................................................65

Verificação................................................................................................................................79
06

Prólogo de forma contínua um marco de criação


de relatórios de sustentabilidade aceite,
de forma generalizada e globalmente aplicável.
Allen L. White
Senior Fellow, Tellus Co-Fundador do Instituto
Visto no seu contexto evolutivo, a história
e antigo CEO, Global Reporting Initiative
dos relatórios de sustentabilidade faz parte
de uma maior e contínua luta para definir -
- e redefinir - a natureza, direitos e obrigações
No campo da responsabilidade empresarial,
das empresas. A sociedade outorga às
poucas tendências na década passada
empresas a licença para operar. Mas, o que
rivalizam com a rápida evolução dos indi-
se deveria exigir em troca? A sustentabilidade,
cadores de sustentabilidade e poucas pessoas
como se faz ênfase em diferentes ocasiões
se podem comparar com a profundidade
desta Publicação, tem que ver com a res-
de José Luis Blasco no entendimento
ponsabilidade individual e institucional e com
do conceito e na prática dos referidos indi-
as gerações actuais e futuras. Os indicadores
cadores. Indicadores para a Empresa é um
de sustentabilidade são a ferramenta crucial
importante testemunho, tanto do movimento
que permite às empresas identificar, medir
dos indicadores como de um dos seus pensa-
e comunicar a forma de colocar em prática
dores líderes.
esta responsabilidade. No século XXI a pres-
tação de contas já não é uma opção; é uma
Apesar de uma mão cheia de empresas
expectativa e, no futuro imediato, provavel-
pioneiras já terem experimentado, no início
mente uma obrigação.
dos anos noventa, os indicadores de susten-
tabilidade, por motivos tanto de gestão interna
A par dos indicadores financeiros, os indica-
como de comunicação externa, os esforços
dores de sustentabilidade têm uma natureza
mais sérios e difundidos entre as empresas
dinâmica. Definir as suas diversas dimensões
aumentaram notavelmente nos últimos cinco
- materialidade, tipo, âmbito geográfico,
anos. O trabalho pioneiro da ONG norte-
horizonte temporal - é uma tarefa que se
-americana CERES na criação de relatórios
encontra em curso. Pode identificar-se uma
ambientais normalizados, foi refor-çado pelos
convergência em algumas áreas, tais como
programas governamentais sobre relatórios
nos indicadores ambientais, mas é muito menor
ambientais e pelo nascimento dos relatórios
noutras, como nos indicadores sociais.
de sustentabilidade. Estes últimos surgem
É precisamente esta qualidade dinâmica,
como um fenómeno identificável com o lança-
necessária para que uma instituição possa
mento do GRI (Global Reporting Initiative) nos
tornar credível o seu objectivo de servir,
finais de 1997. Depois de quatro anos a desen-
a longo prazo, como regedor do processo
volver o conceito através de um processo
técnico e multi-stakeholder, que conduz a uma
internacional e multistakeholder, o GRI
melhoria contínua do sistema de indicadores
constituiu-se, em Abril de 2002, como uma
de comportamento e à criação de relatórios.
instituição independente nas Nações Unidas.
Este é precisamente o papel do GRI.
A sua missão: desenvolver, difundir e melhorar
Nota: “Multistakeholder” ou “Multi-Stalkholder”.

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07

Nesta Publicação, José Luis Blasco capta Numa demonstração inesquecível de intelecto,
habilmente a riqueza, o valor, o compromisso dom e amplitude, teceu uma crítica cons-
dos indicadores de sustentabilidade e a cria- trutiva dos indicadores e com múltiplas fa-
ção de relatórios. Recordo uma reunião cetas que a audiência aplaudiu e agradeceu
do GRI em Boston, há vários anos, quando profundamente.
o programa estava nas fases de desen-
volvimento iniciais. José Luis apresentou-se, Esta Publicação é outro exemplo do entusias-
a meu convite, perante um grupo de em- mo e conhecimento que José Luis traz a este
presas, sociedade civil, Governo e outros aspecto tão crítico da responsabilidade
stakeholders para criticar alguns dos primeiros empresarial. Graças ao seu esforço, as empre-
indicadores que tinham surgido do processo sas serão melhores cidadãos, melhores orga-
GRI. nismos de ajuda aos stakeholders e o público
melhor controlador do futuro global.

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08

Apresentação de riqueza económica. Tanto assim é que


começaram a fazê-lo independentemente
dos direitos de outras pessoas, do seu
José Luis Blasco presente e, em muitos casos, do seu futuro.
Director, KPMG
As regras tiveram de ser rigorosas. Mais
legislação, mais coacção, mais transparência
Em meados do século XIX, durante a con- com a finalidade destas entidades criadas
quista do oeste norte-americano, os conces- para servir as pessoas se comportem como
sionários não podiam fazer frente aos impor- tal. Como numa história de ficção científica,
tantes riscos que envolviam a construção as empresas são convertidas em máquinas
de grandes infra-estruturas como eram autónomas no esplendor do desenvolvimento
as dos caminhos-de-ferro, as concessões capitalista do século XX, com escasso controlo
mineiras, etc. Até então, as pessoas que e inspiradas pela inteligência mais poderosa
as empreenderam tinham como único aval da Terra: a ambição humana.
o seu próprio património e aqueles que partici-
pavam nelas deviam responder por ele, caso O ser humano é uma das espécies sobre
as coisas não corressem bem. Hoje em dia, a Terra com maior facilidade de adaptação.
empresas como a seguradora Lloyd´s A sua capacidade de sobrevivência baseia-
ou a cadeia de distribuição C&A continuam -se na habilidade para interpretar os sinais
a seguir este modelo. do ambiente, processá-los e produzir
respostas que permitam o seu desenvol-
Ainda que a figura da sociedade anónima seja vimento e bem-estar.
anterior, a necessidade de assumir maiores
riscos levou o mundo dos negócios da época De igual forma, muitas empresas, as que
a criar uma figura jurídica que tivesse os atri- melhor se adaptam para sobreviver e de-
butos de uma pessoa física e, com isso, senvolver, deram-se conta de que a sua
as suas responsabilidades ficariam limitadas sobrevivência futura estava ligada à sua
aos seus actos e ao seu património. Esta capacidade de gerar valor para as sociedades
limitação da responsabilidade na empresa que servem, precisamente para preservar
tornou possível o nascimento das Inc. os interesses futuros daqueles que participam
(Incorporated), entidades constituídas no seu capital.
corporativamente capazes de vender, comprar,
ceder, penhorar, etc., direitos, bens, recursos Esta corrente vai mais além, de modo a repartir
e outros. Figuras que foram concebidas para parte dos benefícios entre um número maior
tornar mais eficiente a produção, o cresci- de participantes. Envolve um desenho de ne-
mento e a criação de riqueza. gócios capaz de produzir alterações positivas
nas condições de vida das pessoas que
Durante o século XX, estas entidades foram compram os seus produtos ou serviços, e no
sendo desenvolvidas e aperfeiçoadas até fazer das gerações futuras.
delas o instrumento mais eficiente de criação

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09

Durante os últimos cinquenta anos, as em- O seu conteúdo inclui inúmeras fontes
presas cresceram de forma grandiosa e foram de informação que analisam boa parte dos
entrando nas nossas vidas. Para competir conceitos tratados. Muitas delas, além
a nosso favor, tiveram de fazer avançar de referências, são fonte permanente de co-
a tecnologia, que tanto precisam para nos nhecimentos que os interessados, nesta
surpreender sistematicamente. As suas matéria, poderão ter em conta no futuro.
marcas fazem parte do nosso estilo de vida,
utilizamo-las para que digam coisas de nós,
formando parte dos sonhos materializados
de muita gente. Mas as diferenças são cada
vez mais facilmente imitáveis e necessitam,
para serem reconhecidas, de uma imagem
própria, e o que é cada dia mais importante,
um comportamento próprio semelhante
à nossa forma de pensar, inclusivamente
capaz, de actuar a favor das crenças dos seus
próprios clientes.

Esta conjuntura foi determinante para que


o conceito de “sustentabilidade”, ou “respon-
sável”, integrado na gestão empresarial, se
tenha desenvolvido no mundo dos negócios
convertendo-se, em poucos anos, na senha
de identidade da empresa do novo século.
Como se de uma película de ficção científica
se tratasse, as empresas necessitam agora
de “ter um coração”.

Sobre esta Publicação

Esta Publicação pretende ser de utilidade para


aqueles que trabalham em empresas, que
identificam os riscos e as oportunidades
reputacionais em ambientes dinâmicos e que
necessitam de informação elementar, que lhes
permita conhecer as principais ferramentas
de análise e a colocação em prática
de estratégias empresariais, capazes de captu-
rar as vantagens da integração do conceito
de “desenvolvimento sustentável” na gestão.

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Introdução ao conceito de oferecer este nível de bem-estar a um meio


cada vez mais interrelacionado e de recursos
“Desenvolvimento sustentável” limitados e, por último, experimentar diferentes
soluções capazes de conquistar equilíbrios
entre necessidades e capacidades de forma
“É aquele que satisfaz as necessidades das
duradoura.
gerações actuais, sem colocar em perigo
a satisfação das necessidades das gerações
O desafio pressupõe proporções incalculáveis,
futuras.”
no entanto, o conhecimento que a sociedade
“O Nosso Futuro Comum”, 1987
do nosso tempo possui sobre as capacidades
futuras do planeta e as condições de vida
dos seus habitantes, fizeram do modelo
Em busca da utopia sustentável uma aspiração incontestável.

Muitos pensam que o conceito “sustentável”


devolve, a uma sociedade em crise de valores,
O vector da sustentabilidade
a possibilidade de uma nova utopia, pondo
mesmo em discussão o conceito de realidade.
O termo “desenvolvimento sustentável”
Poderíamos dizer, inclusivamente, que o con-
subentende uma definição conceptual de um
ceito define o modelo através do qual a socie-
modelo de desenvolvimento, que vai mais
dade deste novo século deseja avançar.
além do crescimento económico. Esta nova
definição do modelo de desenvolvimento tem
Desde que foi adoptado em 1987, foi inter-
em conta que as necessidades das gerações
pretado de múltiplas formas. A força do con- 1
actuais e futuras não serão satisfeitas, se
ceito fez com que, apesar de ser um termo
não conseguirmos gerar equilíbrios perdu-
contrário às regras do marketing moderno,
ráveis que permitam, por um lado, conservar
complexo, não auto-explicativo, confuso,
recursos naturais capazes de oferecer salu-
aumenta de dia para dia o número dos que
bridade, segurança e crescimento económico
encontram nele razões para gerar mudanças.
e que, por outro, facilitem o acesso aos direi-
tos fundamentais como cidadãos livres.
O uso de expressões pouco concretas, como
“satisfazer necessidades” ou “gerações
Esta visão de desenvolvimento sustentável,
futuras”, deu lugar a que encontremos poucos
como resultante de diferentes equilíbrios, tem
exemplos, num determinado projecto humano,
virtudes interessantes, já que nos permite
que suscite consenso sobre a classificação
avançar na compreensão prática do termo,
sustentável.

Aprofundar o significado do termo leva-nos


a determinar, em primeiro lugar, quais são 1
A incorporação do conceito de solidariedade entre gerações introduz
as necessidades legítimas, já não apenas novas responsabilidades sobre a utilização dos recursos das gerações
básicas, dos habitantes do planeta; em actuais com respeito às futuras e convida ao planeamento a longo
prazo, transcendendo os âmbitos vitais e portanto, os interesses
segundo lugar, quais são as possibilidades particulares daqueles que tomam as decisões.

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observando assim que existem três tipos décadas. Da mesma forma, se as orga-
de valores a preservar: nizações ou as regras impedissem que as
empresas se desenvolvessem, a dimensão
• Valor económico: Criação de riqueza com económica tornar-se-ia débil, uma vez que
valor monetário transaccionável no mer- as empresas deslocar-se-iam para outros
cado. locais, tornando impossível o equilíbrio.
• Valor ambiental: Criação de biodiversidade
com valor de carácter permanente para
o equilíbrio dos ecossistemas.
• Valor social: Facilidade de acesso aos di-
reitos fundamentais, com valorização
dos direitos do ser humano.
Vector
Económico de Sustentabilidade
(económico,
Dimensões do vector da
ambiental, social)
sustentabilidade Ambiental
Social

Um vector tem o atributo da representação


gráfica do significado de “desenvolvimento
sustentável”. As três dimensões do vector,
económica, social e ambiental, ajudam-nos
a pensar no equilíbrio a que se refere o con-
ceito. Cada indivíduo de uma comunidade,
em função das suas expectativas pessoais Desta forma poderíamos dizer que um modelo
e das que deseja para as futuras gerações, de desenvolvimento é sustentável se procurar
tem uma ideia do lugar ideal onde se pode alcançar um ponto ideal resultante, “capaz
encontrar o equilíbrio. Da mesma forma, de satisfazer as necessidades das gerações
as comunidades acordam em conceber o seu actuais, sem colocar em perigo a satisfação
próprio modelo ou o modelo proposto pelos das necessidades das gerações futuras”.
seus representantes, pelas regiões, pelos
países, etc. As condições de partida e de equilíbrio
sustentável de cada comunidade num
Assim, os indivíduos, as organizações, determinado território são diferentes. Desta
os Estados, etc., têm uma função e desem- forma, as comunidades com rendimentos
penham-no desenvolvendo assimetricamente muito baixos, localizadas em meios muito
as dimensões do vector. Se, por exemplo, ricos em biodiversidade requerem um grau
uma empresa colocar a dimensão económica mais importante de desenvolvimento
à frente de qualquer outra, sem oposição da dimensão do valor económico, já que
(legislação, pressão das organizações, etc.) o desvio entre o valor económico do equilíbrio
o equilíbrio acabaria dando origem a des- sustentável e o actual é maior que, por
compensações que, por vezes, podem durar exemplo, o desvio no valor ambiental. Assim,

Os Indicadores para as Empresas


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para este caso, o programa de acção “mais de forma adequada e são muitas vezes
sustentável” será o que desenvolve de forma utilizadas pelas administrações locais para
prioritária o crescimento económico, da forma justificar programas de acção municipal
mais inócua para o meio ambiente. a curto prazo, em vez de directrizes para
o desenvolvimento adequado.
Esta questão não está isenta de polémica.
As condições culturais e sociais de cada A análise de desvios (gaps) entre as condições
comunidade num determinado território fazem de partida e as condições relevantes para
com que este ponto “ideal” seja diferente a sustentabilidade poderia ser considerada
e que inclusivamente se modifique com como diagnóstico e as acções que promo-
o tempo. Este aspecto é importante, já que veram estes equilíbrios poderiam ser
existem detractores do desenvolvimento consideradas como promotoras da sustenta-
sustentável que pensam que este modelo bilidade. Quando falamos de projectos
é pernicioso, enquanto utilizado como pretexto de desenvolvimento sustentável, entendemos
de desenvolvimento ou inclusivamente como que são projectos que permitem avançar na
agente homogeneizador global do sistema direcção do modelo e, portanto, tratam
de desenvolvimento ocidental. de diminuir o diferencial entre a situação
de partida ou da prática comum e a situação
Por isso, devemos pensar que as comuni- ideal. O cálculo desta linha de base deve
dades devem definir o seu modelo ideal como permitir-nos avaliar se um projecto promove
já considerado na definição da Agenda 21, o desenvolvimento sustentável, observando
desenvolvida na Cimeira do Ambiente como esta influência no seu caminho até
e Desenvolvimento celebrada no Rio de Janei- ao ideal sustentável concebido.
ro (Brasil) em 1992.

A tradução para instrumentos concretos, como O pós progressismo de Daniel Innerarity


as Agendas 21 locais ou outro tipo de
instrumentos, pode ser útil. Tratar-se-ia da Existe um número crescente de pen-
concepção de uma variante do plano sadores que colocam em questão
estratégico, a longo prazo, de uma deter- a concepção actual de progresso. Um
minada comunidade, que tem como objectivo exemplo que podemos encontrar no pen-
servir de ferramenta para que aqueles que samento do professor Innerarity na sua
2
aspiram à gestão pública proponham aos obra La sociedad invisible , prémio Ensaio
seus cidadãos as soluções que lhes parecem 2004. Neste trabalho, considera-se
mais adequadas. a crise da concepção clássica do pro-
gresso, onde este era um futuro
Assim concebidas, as Agendas 21 deveriam planificado, desresponsabilizado, que
também poder servir para avaliar os resultados liberta os cidadãos do difícil dever
a longo prazo dos diferentes gestores de eleger e da responsabilidade pessoal,
públicos. No entanto, nos últimos tempos
comprovamos que estas não se utilizam

Os Indicadores para as Empresas


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As ONG's, por sua vez, são uma manifestação


já que a tecnologia era capaz de solu- da sociedade civil, organizada com o fim
cionar todos os problemas. de quebrar subsidiariamente um determinado
desequilíbrio entre a situação a que se aspira
Neste progresso as coisas parecem ser e a actual. Neste contexto, a sociedade civil
feitas sem os cidadãos, basta estar à promotora da ONG não esperará que gere
altura dos tempos. No entanto, para importantes rentabilidades, enquanto isso
Innerarity a responsabilidade pelo futuro desenvolve o seu papel de forma adequada
poderá voltar a envolver a existência e trata de atenuar a situação na medida
humana, que a fé no progresso auto- das suas possibilidades.
mático havia vulgarizado. A questão da
responsabilidade perante as gerações Outros actores como as administrações locais,
futuras deveria estar no centro do que a comunidade académica, os meios de comu-
poderia denominar-se “uma ética do nicação ou magistrados, desempenham uma
futuro”. Trata-se de passar de uma função e portanto são responsáveis solidários,
responsabilidade das relações curtas da resultante do “vector do desenvolvimento”
(Ricoeur) a outra cuja regra seja “as coisas actual da comunidade.
mais distantes” (Nietzsche).
Para ajudarmos a visualizar a importância
Daniel Innerarity é professor de História desta acção conjunta, recorreremos ao estudo
e de Filosofia na Universidade de Saragoça. de cenários desenvolvido pelo WBCSD -
World Business Council for Sustainable
3
Development em 1998, a área de serviços
O papel dos diferentes agentes sociais de informação da Royal Dutch/Shell, o qual
nos permite observar o papel de cada actor
Numa comunidade, os diversos agentes têm na concepção do futuro. Neste modelo
papéis distintos e actuam de forma diferente existiam três concepções:
sobre a resultante que denominamos “vector
de desenvolvimento”. Desta forma, as em- • Cenário da inactividade ou da rã. Neste
presas têm como principal missão criar valor cenário não se identifica o ponto de sus-
económico e espera-se que reforcem a dimen- tentabilidade como aspiração colectiva
são económica da sociedade que servem, e o desenvolvimento está condicionado
principalmente em termos de rentabilidade. à criação de lucro, ignorando as conse-
quências. Neste cenário, tal como uma rã
ao aquecer-se com água numa panela,

2
Innerarity, D. (2004): La Sociedad invisible, Espasa Calpe. 3
Estudo disponível em www.wbcsd.org

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a humanidade iria adaptando-se a uma Estes cenários pretendem evidenciar um


situação global cada vez mais insustentável segundo desafio: uma vez descoberto o ponto
até sucumbir. Não nos esqueçamos que onde desejamos ir, qual é a forma mais
a espécie humana é uma das mais eficiente de o atingir.
preparadas para a adaptação ao meio
envolvente e, por isso, somos capazes (i) Pode encontrar mais informação sobre o processo
de viver com mais pessoas num lugar onde de elaboração destes cenários em www.shell.com
e em www.wbcsd.org
o ar é cada vez mais poluído, o solo está
mais contaminado, existe menos água
e mais insalubridade, etc., acreditando que
a nossa qualidade de vida e consumo Necessidade de afinar a orquestra
aumentem, até desaparecer.
As utopias começam sempre por definir ideais
• Cenário geopolítico. A humanidade observa e aspirações e terminam a produzir uma
o ponto até onde tem que caminhar. discussão acerca do que entendemos por
No entanto, para poder caminhar numa realidade, o que é possível e quais são as
determinada direcção, são necessárias nossas margens de acção (Innerarity, 2004).
regras globais e organizações que as façam
cumprir. Esta missão é depositada em O contributo para o desenvolvimento sus-
legisladores globais. Neste cenário existe tentável de um determinado projecto/agente
um jogo que todos devemos jogar e onde difere, dependendo da análise da situação
as regras são claras. Um “meta governo”, de partida. Em comunidades ricas, eco-
ou governo global, segundo parâmetros nomicamente falando, deparamo-nos com
democráticos, defende que os diferentes uma dimensão económica mais desenvolvida
países se alinhem em torno das referidas e serão necessários projectos de susten-
regras e estabeleçam as compensações tabilidade que reforcem o seu equilíbrio
para poder gerar um desenvolvimento ambiental e/ou social. Em comunidades
sustentável global. com importantes recursos naturais, mas com
escassos recursos económicos e qualidade
• Cenário jazz. Cada um dos actores sociais de vida, deve promover-se o desenvolvimento
persegue a mesma meta desenvolvendo sustentável daqueles que gerem crescimento
cada um, a sua função de forma eficiente e equidade, conservando o delicado equilíbrio
e responsável. Neste cenário, comportamo- da envolvente.
-nos como os músicos que interpretam
separadamente a sua partitura, mas o re- Continuando com o cenário da orquestra
sultado da união é harmónico, como numa de jazz, os músicos, como agentes de trans-
banda de jazz. Desta forma, cada um dos formação, afinam a sua actuação de for-
agentes trata de se “afinar” com o resto, ma diferente em cada momento e lugar.
mantendo a sua própria identidade como Não necessitam de partitura, mas devem
instrumento “social”. estar atentos à evolução dos seus

Os Indicadores para as Empresas


15

companheiros de grupo - obviamente partes empresas são encaradas, não como a causa
interessadas - para que a actuação conjunta dos problemas, mas como importantes fontes
seja harmoniosa. de soluções, por parte das organizações
governamentais e não governamentais.
Desta forma, os agentes que operam nos mer-
cados, as administrações, as ONG ou os ci- A partir da Cimeira Mundial para o Desen-
dadãos como consumidores e utilizadores volvimento Sustentável desenvolveram-se
de bens, têm responsabilidades no projecto numerosas iniciativas que tratam de juntar
final. Um projecto sustentável no qual parece esforços de diferentes agentes sociais, com
que nada se encontra comandado já que, o fim de trabalhar de forma coordenada em
como disse do nosso tempo Freeman, modelos de desenvolvimento sustentável.
“nobody is in charge” (ninguém está a coman- Muitos deles são citados nesta Publicação,
dar nem é o único culpado ou benfeitor), mas mas neste ponto devemos destacar a iniciativa
é a interacção, a nossa banda de música, do WBCSD e a sua Comissão de desenvol-
quem produz a música resultante. vimento de comunidades sustentáveis
(sustainable livelihoods). Nas páginas rela-
Daí a importância da acção conjunta tivas a esta Comissão encontra-se um
dos agentes sobre o terreno, acções coorde- interessante compêndio de iniciativas con-
nadas de dois ou mais agentes que permitem juntas (www.wbcsd.org).
resultados que envolvam uma produção
de bem-estar sustentável de maior velocidade. Em Setembro de 2005 e 2007 tiveram e terão
Processos catalizados por agentes com- lugar as revisões dos acordos alcançados
plementares trabalham conjuntamente, para a consecução dos objectivos do milénio
desenvolvendo dimensões da sustentabili- e da Cimeira Mundial para o Desenvolvimento
dade. Sustentável de Joanesburgo e poderão ser
observados os progressos realizados neste
As parcerias foram um dos principais sucessos campo. Os eventos podem ser consultados
da Cimeira Mundial para o Desenvolvimento em www.un.org.
Sustentável celebrada em Joanesburgo em
4
2002 . Na referida Cimeira observou-se, pela
primeira vez, todos os agentes como parte
da solução, em vez de causa de problemas.
Foi com especial interesse que se viu o pro-
tagonismo que teve o mundo dos negócios.
A alteração produz-se quando é estabelecido
um clima de confiança mútua, em que as

4
Denominados “acordos tipo II”, as parcerias entre Governos e actores
da sociedade civil, incluindo as empresas. Exemplos de parcerias
podem ser encontrados nas páginas resumo da Cimeira Mundial para
o Desenvolvimento Sustentável em www.un.org

Os Indicadores para as Empresas


16

Significado empresarial do
conceito “sustentável” As empresas têm demasiado poder e
responsabilidade ou apenas respondem
às pressões do meio envolvente?
A empresa como “unidade de organização
dedicada a actividades industriais, comerciais
ou de prestação de serviços com fins
lucrativos”, vem sendo o ponto central do po- 49%
Total mundial
der empresarial e a fonte de riqueza das 49%

nações. Nesta definição dada pela Real Ásia Ocidental


52%
57%
Academia Espanhola é concedida à unidade
49%
empresarial um papel meramente lucrativo, Ásia Pacífico 42%
conceito sujeito a alteração com base 27%
Europa Central e de Leste
na situação actual que se verificou até agora. 37%

A referida alteração trouxe consigo a análise África


52%
46%
da posição empresarial relativamente às
economias mundiais e ao seu papel no pro- América Latina
56%
53%
gresso económico e social dos países. 67%
América do Norte 48%

Alterações na envolvente competitiva 52%


Europa Ocidental 57%

38%
Muitos factores se alteraram nos últimos Médio Oriente 52%
tempos: a concorrência aumentou conside-
ravelmente e diminuíram as possibilidades
de criação de vantagens competitivas Respondem às pressões
persistentes. A generalização do capitalismo Demasiado poder e responsabilidade
popular, onde os fundos de pensões de todos
nós movimentam já quase uma quarta parte
do mercado mundial de acções da bolsa,
a necessidade da marca para obter confiança, Segundo este estudo realizado pelo
veja-se o fenómeno das franquias, a libera- Fórum Económico Mundial (World
lização dos mercados, o grandioso aumento Economic Forum), os cidadãos europeus
da dimensão das grandes empresas, unidos pensam que as empresas têm
ao rápido desenvolvimento dos meios de co- actualmente demasiado poder e
municação globais, a ligação que permite responsabilidade, enquanto que os norte-
fazer uma difusão global de qualquer facto a m e r i c a n o s a c re d i t a m q u e e s t a s
de uma parte a outra do planeta, etc., fizeram respondem às pressões de terceiros.
com que o mundo dos negócios e as empre-
(i) Para encontrar mais informação sobre este assunto consulte
sas façam parte do quotidiano e em conse- a secção de responsabilidade empresarial em www.wef.org

quência, devam atender a expectativas


de públicos cada vez mais vastos.

Os Indicadores para as Empresas


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Fala-se de empresas que não têm pátria Produto Interno Bruto 2001 em milhões de dólares
definida, que respondem a interesses que
Áustria 255.900,00
o cidadão comum que compra os seus pro-
Grécia 226.000,00
dutos, trabalha nelas ou que se encontra Suécia 255.400,00
à sua volta não compreende, mas que está Suíça 251.900,00
cada vez mais convencido do seu poder, Portugal 188.775,00
tornando assim as suas responsabilidades Noruega 183.000,00
paulatinamente maiores. Dinamarca 174.400,00
Finlândia 151.200,00
Marrocos 134.600,00
Definitivamente, algumas empresas alcan- Irlanda 126.400,00
çaram um crescimento que muitos rotulam Eslovénia 39.410,00
de especulativo, que na mudança de século Costa Rica 37.970,00
com a explosão das empresas tecnológicas Paraguai 29.930,00
e os escândalos financeiros deram lugar Lituânia 26.530,00
Honduras 18.790,00
a uma observação à lupa de qualquer acção
levada a cabo pelas empresas, em qualquer Fonte: Banco Mundial 2005
parte do mundo.

Se compararmos a facturação das prin-


Facturação das principais empresas cipais empresas do mundo, constata-
do mundo mos que é equivalente ao produto interno
bruto de países de grande dimensão.
Facturação anual em milhões de dólares Os bancos espanhóis, por exemplo, têm
universos de clientes superiores à popu-
Wal-Mart Stores 287.989,00 lação espanhola.
BP 285.059,00
Exxon Mobil 270.772,00
Royal Dutch/Shell Group 268.690,00
General Motors 193.517,00
Novas preocupações, novas
Daimler Chrysler 176.687,50 responsabilidades
Toyota Motor 172.616,30
Ford Motor 172.233,00 Esta situação originou que empresas criadas
General Electric 152.866,00
segundo os cânones do princípio do século XX,
Total 152.609,50
ChevronTexaco 147.967,00 tenham experimentado uma lenta, mas sensível
ConocoPhillips 121.663,00 transformação. Os seus gestores, concentrados
Repsol YPF 44.857,50 na procura do benefício económico para os ac-
Telefónica 38.188,00 cionistas, constataram como a consciência
Santander Central Hispano 31.803,60
de cidadania foi gradualmente reconhecida
Endesa 21.969,80
BBVA 21.335,50 pelos políticos, transformando-a em normas
Cepsa 15.650,00 e legislação que tratam de equilibrar o rendi-
ACS 14.152,90 mento obtido com a preservação de direitos,
Iberdrola 12.828,80 primeiro dos trabalhadores e posteriormente
de outros intervenientes sociais.
Fonte: Fortune, 25 Julho 2005

Os Indicadores para as Empresas


18

de imitar. As referidas formas de compromisso


Âmbitos de preocupação das empre- baseiam-se em expectativas de novos grupos,
sas até à segunda metade do século XX que procuram na empresa uma maior
implicação na transformação positiva,
sustentável, das sociedades em que operam.

Outros, pelo contrário, encontram o mesmo


Económico caminho procurando minimizar os riscos que
Ambiental surgem nos seus negócios, fruto de uma maior
pressão sobre os recursos ou o acesso a di-
reitos daqueles com os quais estão rela-
cionados. Estes são conhecedores que
Social
as suas responsabilidades não se limitam
apenas aos tribunais, mas também que
se encontram sob o escrutínio público
Na figura representa-se como as respon- e o decisivo juízo da opinião pública
sabilidades se encontram desconexas e procuram por isso novas formas de avaliar
nesta fase de evolução empresarial. os riscos e incorporar sistemas de detecção
Os factores externos negativos produ- precoce.
zidos pela procura do progresso eco-
nómico são cobertos através de gastos
e investimentos não produtivos. O que se alterou?

Baseado Baseado no Baseado na


no benefício cumprimento Prestação
Actualmente podemos dizer que esta primeira
de Contas
geração de empresas, que procura a qualquer (Accountability)
preço o rendimento económico das acti-
vidades que realizam, possui um valor inferior
ao das que respeitam a legislação. Cumprir
Económico Legal Moral
a legislação é hoje um padrão de gestão.
Os accionistas sabem que não cumprir as re-
gras do jogo coloca em grave risco os seus
investimentos.

Tudo isto se agravou pela maturidade de mui- A focalização dos gestores evoluiu,
tos mercados, naqueles em que a captação durante a segunda metade do século XX,
de vantagens competitivas se torna cada vez da atenção única do desejo dos accio-
mais difícil. Nesta procura falamos de novos nistas em aumentar os seus dividendos,
empresários que encontram novas formas à necessidade de contar com as regras
de compromisso com a sociedade, que tratam do meio onde uma legislação, cada vez
de criar valor com activos mais difíceis mais madura, faz com que as empresas

Os Indicadores para as Empresas


19

Os negócios do novo século


não se apropriem de forma oportunista
dos recursos adjacentes. Nos últimos
O conceito de desenvolvimento sustentável
anos, as empresas estão conscientes
fundamenta-se, entre outras coisas, na pro-
da necessidade de prestar contas sobre
cura de equilíbrio entre as sociedades com
o seu comportamento a novos detentores
diferentes graus de desenvolvimento, sempre
do capital das mesmas. Nesta situação,
que adaptemos o nosso objectivo às neces-
o julgamento da opinião pública é impla-
sidades das economias emergentes, onde
cável e diário. Actualmente, clientes,
o mercado ainda está por explorar. C.K.
trabalhadores, administradores, forne-
Prahalad sustenta no seu artigo Selling for
cedores, etc. com múltiplas fontes de in-
the poor o grande número de possibilidades
formação avaliam o comportamento
que nos oferecem os países em vias de
e actuam em consequência disso.
desenvolvimento, de abrir novas áreas de ne-
As suas decisões fazem parte do valor
gócio para as empresas. A dificuldade está
da empresa.
na adaptação dos produtos às necessidades
dos países e aos preços dos mesmos. Para
isso é necessário investigar e alterar os pro-
Na economia da atenção todos os actores
dutos já desenvolvidos tornando-os acessíveis
sociais se esforçam por desempenhar um
à sociedade, onde pretendam criar mercado.
papel que seja considerado relevante.
Um dos casos ilustrativos é o da empresa
Uma empresa que extraia um recurso natural
Grameen Telecom´s. O sucesso da sua ope-
valioso sabe hoje que o seu valor não reside
ração reside na necessidade de ligar as zonas
só nos seus clientes e no consentimento dos
rurais do Bangladesh com a rede móvel,
seus accionistas. A capacidade para operar
através de parcerias com empresários locais
no futuro ou para ampliar o seu negócio
que funcionam como facilitadores do negócio.
de forma geográfica, dependerá da confiança
O sucesso do negócio residiu na participação
que os governos e as comunidades locais
dos empresários locais, na sua maioria
possuem na actuação correcta, isto é, sus-
mulheres que, através de um empréstimo
tentável.
da Grameen Bank, puderam comprar os tele-
fones que os habitantes utilizavam para
Do mesmo modo, outras empresas em que
realizar as chamadas que antes implicavam
a mão-de-obra é o factor de risco do seu ne-
uma deslocação.
gócio, compreenderam que a forma de conti-
nuar a crescer é estabelecer parcerias com
Há que destacar que o Bangladesh é um país
as comunidades locais que lhes permitam
exportador e a necessidade de comunicar
desenvolver as sociedades em que fabricam
com os clientes que se encontram noutros
os seus produtos.
continentes é fundamental para o seu
desenvolvimento. O acesso ao telefone
significou para os empresários da zona, não
só um aumento nas comunicações com os

Os Indicadores para as Empresas


20

seus clientes, como também o acesso a me- senvolvimento sustentável. O envolvimento


lhores preços na obtenção de produtos. das empresas na melhoria da qualidade
de vida das comunidades, em que desen-
Existem novas responsabilidades empresa- volvem os seus negócios, é um factor
riais que são, cada vez mais notórias. de sucesso real.
Não é apenas importante a rentabilidade
económica, mas também a forma de atingi- As empresas são boas para o desenvol-
la e de contribuir para o desenvolvimento vimento sustentável e o desenvolvimento
das comunidades onde as empresas operam. sustentável é bom para as empresas, e um
claro exemplo é a variedade de índices
(i) Pode encontrar mais informação sobre experiências deste tipo em
da bolsa que publicam os seus resultados.
www.digitaldivide.org.
Pertencer a estes índices equivale a um seguro
a longo prazo para os accionistas.
À procura da confiança
Este novo modelo de empresa é uma nova
“As empresas não podem ter sucesso em so- forma de evolução do capitalismo, Capitalismo
ciedades que falham”, Björn Stigson, 2.0, que vincula as empresas com agentes
Presidente do World Business Council for sociais, que têm interesses diferentes, não
Sustainable Development (WBCSD). necessariamente opostos, ao crescimento
económico da empresa. Pressupõe uma forma
Com esta frase, o WBCSD estabelece um segura de realizar negócios, cuja sobrevivência
argumento fundamental para promover a longo prazo esteja garantida.
o envolvimento da comunidade empresarial
no movimento a favor de possibilitar um de-

Gerações empresariais

Primeira Geração Segunda Geração


Minimização de externalidades negativas O duplo dividendo

Ecoeficiência Económico

Económico Ambiental Desenvolvimento


Ambiental

Segurança Social

Social Terceira Geração


Os benefícios de gerir bens intangíveis

Responsabilidade
empresarial

Os Indicadores para as Empresas


21

Com a finalidade das agendas das empresas, atractivas, são factores de sucesso evidentes
de marcado carácter económico e as de ou- que geram novas oportunidades de negócio
tros actores sociais, denominados “partes e diferenciação.
interessadas”, “grupos de interesse” ou
“stakeholders” sejam não só compatíveis, mas
também sinérgicas. As empresas distinguiram O carácter local do desenvolvimento
no desenvolvimento sustentável um conceito sustentável
de gestão de grande utilidade.
A extensão da responsabilidade empresarial
As empresas começaram a ter consciência ao longo da cadeia de valor é real. Ligações
dos benefícios produzidos pela adopção distantes na geografia fazem parte principal
de estratégias que pensam no bem-estar do negócio como nunca antes tinha sucedido.
da sociedade que servem. Viram no conceito Desde uma pequena empresa até à maior
“desenvolvimento sustentável” uma fonte das multinacionais, são poucas as empresas
de vantagens competitivas persistentes, que capazes de se absterem deste fenómeno.
se apoiam nos benefícios que contribuem Podemos dar o exemplo de uma pequena
para as dimensões deficitárias do vector oficina de reparação de electrodomésticos,
de sustentabilidade. uma loja de alimentação ou uma loja têxtil
e em todas elas, seguramente, verificamos
Estes benefícios podem ser observados a cur- que a maior parte dos bens negociados, foram
to ou a longo prazo. Na maior parte dos casos, fabricados a vários milhares de quilómetros
quando falamos de benefícios a curto prazo e igualmente, que o seu pessoal, é cada vez
da aplicação de estratégias de susten- mais de diversas proveniências.
tabilidade estamos a falar de gestão do risco.
É a identificação e correcta gestão dos intan- Se falarmos da empresa que trabalha para
gíveis que oferece às empresas a possi- um desenvolvimento sustentável, teremos de
bilidade de obter uma maior vantagem considerar o “efeito borboleta” da acção das
competitiva perante os agentes de mudança empresas quando actuam no mercado. No
do mercado. entanto, a focalização sustentável perde-se
à medida que vai aumentando o âmbito
A correcta definição da estratégia da empresa espacial considerado. Desta forma, quando
permite evitar desequilíbrios no vector ampliamos o foco, as dimensões do desen-
de sustentabilidade, desequilíbrios que dariam volvimento sustentável emergem cada vez
lugar a conflitos que poderiam ocasionar mais complexas e por isso precisamos que
problemas para continuar a operar numa zona, as acções/programas tenham necessa-
ou problemas de reputação com graves riamente três dimensões (económica, social
consequências. A longo prazo, os benefícios e ambiental) para poderem ser consideradas
económicos são consequência clara de uma externamente como sustentáveis. Não
gestão sustentável; o envolvimento com devemos esquecer que as acções são
a sociedade em que se opera, a eficiência consideradas sustentáveis em função da sua
na gestão dos recursos ou condições laborais sociedade e das necessidades da mesma.

Os Indicadores para as Empresas


22

Por isso, a acção social de uma empresa, os seus produtos. Empresas que fazem parte
num determinado lugar, pode ser parte da cadeia de valor de grandes ciclos
de uma estratégia de sustentabilidade vasta produtivos, mas que localmente são motores
que englobe outras acções noutros lugares de desenvolvimento especialmente valiosos.
e uma vez analisadas as dimensões do vector Um número crescente de PME's está
de sustentabilidade da comunidade local a valorizar nas formulações de contratos
objecto, considera-se que esta acção é a a sua capacidade de diminuir riscos para
mais adequada para impulsionar o equilíbrio a empresa cliente, riscos que poderiam derivar
sustentável nessa envolvente em particular. de incumprimentos laborais ou práticas am-
bientais incorrectas. Pequenas empresas
capazes de reforçar o compromisso e os va-
O comportamento sustentável de uma lores dos seus clientes.
organização é a soma dos seus compor-
tamentos sustentáveis em cada uma das
comunidades em que opera e não da
PME's inovadoras
acção indiscriminada em que conside-
ramos dimensões do desenvolvimento
A capacidade de inovação é um activo que
sustentável.
parece não ser considerado quando falamos
de pequenas e médias empresas. A capaci-
dade dos pequenos negócios para apresentar
Importância para as pequenas soluções de maior eficiência do que os siste-
empresas mas standarizados são de grande interesse,
especialmente quando se tratam de melhorias
A realidade local do desenvolvimento no serviço ou na exploração de recursos
sustentável deve ser tida em consideração locais. Podemos encontrar casos deste tipo
do ponto de vistas das PME's. Estamos em experiências clássicas como o turismo
habituados a pensar que a responsabilidade rural, mas também em experiências bem
empresarial é um movimento reservado sucedidas nos serviços financeiros através
apenas às grandes empresas quando, de microcrédito a empreendedores locais,
no entanto, estas são sustentadas no tecido determinados sistemas de regalias ou novos
das pequenas e médias empresas. serviços de reciclagem e reutilização.

Ligação local de grandes ciclos Vantagens competitivas


de produção
A captura de vantagens competitivas
Devemos considerar que a reputação sustentáveis a curto prazo encontra-se,
e o comportamento sustentável de muitas basicamente, na capacidade da empresa em
empresas encontram-se nas mãos de pe- se associar a uma promessa de benefício
quenas empresas que fabricam, distribuem, futuro. Deste modo, a capacidade de captação
acondicionam e inclusivamente reciclam é directamente proporcional à dimensão

Os Indicadores para as Empresas


23

do bem intangível. Muitas das pequenas


empresas pensam que a sua intangibilidade
é muito pequena, no entanto, não é assim.
Uma pedreira que explora recursos naturais,
ou uma exploração agrária com mão-de-obra
intensiva, têm um intangível reputacional
elevado. Um exemplo disso pode ser en-
contrado nas campanhas de boicote
de determinados produtos agrícolas espanhóis
por parte de grandes clientes do centro da
Europa, com acusações de utilização de mão-
-de-obra não regular. A capacidade de relação
com a sociedade ou o conhecimento das ex-
pectativas dos grupos de interesse que fazem
parte do valor são, entre outras características,
parte fundamental da continuidade e cresci-
mento do negócio das PME's, sendo-lhes
totalmente aplicáveis os princípios básicos
que se relacionam nesta Publicação.

Os Indicadores para as Empresas


24

Identificar o que é relevante tificação e caracterização dos aspectos


que realmente devem ser considerados riscos
da extensão da responsabilidade e portanto,
“Quando desejamos conhecer todas as res- influenciar no presente e no futuro as condi-
postas, damo-nos conta que se alteraram ções de vida das sociedades que servem.
as perguntas.”
Mario Benedetti
Os aspectos da responsabilidade
empresarial que geram riscos devem
Um dos fundamentos que temos analisado estar integrados nos sistemas de gestão
é a proximidade ao terreno do conceito da empresa.
sustentável e assim poderíamos dizer que
é, na verdade, um conceito real a nível local.
Em consequência disto, as organizações que Por outro lado, existem outros aspectos que
trabalham para um desenvolvimento susten- geram oportunidades e reforçam as vantagens
tável, fazem-no enquanto contribuem para competitivas das empresas e estas precisam
o equilíbrio das comunidades locais das socie- de enfoque estratégico e não de gestão. Para
dades em que operam. isso é necessário incorporá-los no processo
de planeamento em paridade com outros
A primeira dificuldade com que se deparam elementos da envolvente.
as empresas, é conhecer onde se encontra
o equilíbrio sustentável dos locais onde
operam e assim as suas principais res- Os aspectos da responsabilidade
ponsabilidades/oportunidades para empresarial que geram oportunidades
o promover e as vantagens competitivas devem estar integrados no planeamento
que advêm deste movimento. estratégico da empresa.

Para este exercício, as empresas utilizam


o que denominaremos um proxy, uma iniciativa A construção de indicadores deve permitir
de ligação que permite identificar riscos enriquecer não só os sistemas de gestão
e oportunidades de carácter geral, através da empresa como também a estratégia. Por
de directrizes ou de princípios normalmente isso começaremos por identificar, através
impulsionados por instituições internacionais, de uma verificação sistemática, os aspec-
das quais falaremos mais à frente (Global tos que são realmente importantes para
Compact, Global Reporting Initiative, etc.). a empresa, do ponto de vista do risco e da
oportunidade que estes geram.
A utilização deste tipo de ferramentas
é importante mas, no entanto, não é capaz
de capitalizar vantagens para as empresas
e estas necessitam de avançar de uma forma
analiticamente mais precisa, através da iden-

Os Indicadores para as Empresas


25

Riscos e oportunidades Por outro lado, a identificação de aspectos


materiais ajuda-nos a conhecer e estudar
Definimos como “material” a informação que também oportunidades empresariais da res-
por ser omitida, não conhecida, ou errónea ponsabilidade empresarial.
que poderia conduzir a interpretações erradas
daquele que é o comportamento de uma Em ambos os casos, risco e oportunidade,
organização e assim influenciar negativamente deparamo-nos com um problema principal:
as conclusões, decisões e avaliações que o fenómeno da delimitação das organizações.
possam fazer dela determinados grupos Isto pressupõe que as empresas, na sua
de interesse, como é o caso dos accionistas. maioria, não se encontram preparadas para
Esta influência pode ocorrer devido ao facto avaliar os riscos e identificar as oportunidades
de não se dispor de informação com precisão, devido, principalmente, à responsabilidade
ou devido a um evento desconhecido, inclusi- empresarial não entender como estas se
vamente para os gestores, que possa colocar organizam mas sim como funcionam.
a empresa em risco. A materialidade, assim
entendida, podia levar-nos a pensar quais
dos aspectos da responsabilidade empresarial Directriz de identificação dos riscos
poderiam ser capazes de influir desta forma éticos, sociais e ambientais
significativa.
O crescente interesse suscitado pela
responsabilidade empresarial e o bom
A identificação da materialidade, en- governo levou a que múltiplos bancos
tendida como relevância contingente, de investimento tivessem necessidade
é o processo estratégico chave do pro- de proporcionar aos seus investidores
jecto sustentável da organização. Permite informação sobre o comportamento
observar a envolvente e disponibilizar social, ambiental e ético das empresas
informação para o projecto estratégico. onde vão aplicar o seu investimento.

Um claro exemplo disso é a ABI, que


Deveremos identificar portanto, em primeiro considera que a análise destes critérios
lugar, os aspectos materiais da respon- pressupõe um benchmark para analisar
sabilidade empresarial que podem ser o nível de desenvolvimento do conceito
considerados como riscos. Não devemos es- nas empresas, objecto de investimento.
quecer que esta influência poderia surgir da Recomenda-se a utilização da norma AA
omissão ou da incorrecta avaliação. Na 1000 com o objectivo de conhecer as
avaliação do risco existem três conceitos expectativas e necessidades das partes
fundamentais: o tipo, a frequência e o evento. interessadas da empresa.
Quando falamos de responsabilidade empre-
sarial, podemos saber claramente quais são Entre os critérios da ABI existem reco-
as fontes de perigo? mendações para o controlo dos riscos
derivados das actividades da empresa,

Os Indicadores para as Empresas


26

presarial. Desta forma, quem deseja iniciar


bem como outras destinadas ao conteúdo o caminho tem nestes documentos uma
dos relatórios anuais das empresas. importante ajuda para conhecer o seu com-
portamento e compará-lo com o seu meio
(i) Pode encontrar mais informação sobre a iniciativa em
www.abi.org.uk envolvente.

Fonte: ABI Estas iniciativas podem ser de grande ajuda


para efectuar um diagnóstico inicial, muitas
empresas iniciam o seu caminho na integração
Este fenómeno é bastante comum. O depar-
de critérios relevantes para a sustenta-
tamento de recursos humanos trabalha mais
bilidade nas suas políticas através da reali-
dependente dos recursos do que dos huma-
zação de relatórios de sustentabilidade, res-
nos, o do meio ambiente, mais do meio que
ponsabilidade social, responsabilidade
do ambiente, o de satisfação de clientes
empresarial, etc.
centra-se mais na métrica do que nos clientes,
etc... As organizações têm dificuldade em
Iniciar-se através destes exercícios tem uma
observar o que está a acontecer lá fora
vantagem importante, já que permitem ser
e verificar de imediato como melhorar dentro.
movidos de forma unilateral por depar-
tamentos da empresa, como podem ser
Consequência da delimitação é a falta de co-
as unidades ambientais, evoluindo desde
municação entre os diferentes departamentos.
a realização de relatórios ambientais, os depar-
A responsabilidade empresarial ultrapassa
tamentos de comunicação, evoluindo desde
estas fronteiras departamentais e deve colocar
os relatórios sociais ou anuais, de recursos
a funcionar órgãos da empresa, para além
humanos, que pretendem valorizar os progra-
do funcionamento que já tem. É uma grande
mas que realizam, etc.
barreira, mas um dos primeiros benefícios
importantes que as organizações obtêm.

Para organizarmos devemos saber quais


os aspectos em que nos devemos concentrar,
qual será a forma de elaborar um diagnóstico
da situação que nos permitirá conhecer
os aspectos que realmente são materiais.
Este diagnóstico deveria permitir-nos ainda,
avaliar os riscos de uma forma adequada
e identificar as oportunidades mais ajustadas
à nossa organização.

Para seguir este caminho são de grande ajuda


iniciativas globais que estabelecem princípios,
ou directrizes que permitem avaliar os aspec-
tos significativos da responsabilidade em-

Os Indicadores para as Empresas


27

Iniciativas de responsabilidade social empresarial

SA8000 Norma de responsabilidade social. www.cepaa.org

Modelo EFQM Modelo de qualidade total para empresas promovido pela European Foundation
for Quality Management. www.efqm.org

AA 1000 Norma de princípios para garantia da informação não financeira.


www.accountability.org.uk.

UN Global Compact Iniciativa das Nações Unidas de adesão voluntária a 10 princípios.


www.unglobalcompact.org ou www.pactomundial.org.

Ethical Trading Initiative Iniciativa para o estabelecimento de códigos de conduta para o desenvolvimento
de melhorias das condições de trabalho das cadeias de abastecimento.
www.ethicaltrade.org

Global Reporting Initiative (GRI) Directriz para a elaboração de relatórios de sustentabilidade. www.globalreporting.org

Dow Jones Sustainability Capitalização bolsista de empresas avaliadas como sustentáveis. www.sustainability-
Índex FTSE4Good indexes.com www.ftse.com/ftse4good/index.isp

Transparency International Organização responsável pela melhoria das condições de transparência dos
mercados e fortalecimento das instituições. Ver iniciativas como EITI.
www.transparency.org

EBI Empresas do sector petrolífero que procuram diminuir o impacto dos trabalhos de
exploração e produção. www.theebi.org

GEMI Iniciativa norte-americana que desenvolveu numerosas ferramentas de diagnóstico


e ajuda para empresas que se iniciam neste processo. www.gemi.org

WBCSD Associação global de grandes empresas que procuram desenvolver o compromisso


da sustentabilidade empresarial através do debate e da acção conjunta.
www.wbcsd.org

Ethos Instituto brasileiro promotor de experiências empresariais em coordenação com


o tecido social onde se inserem. www.ethos.org.br

Uma vez iniciado o processo, o primeiro es- que o papel sustentável das organizações
forço implica a participação de outros realiza-se a nível local e está muito ligado
departamentos e portanto, a implementação à actividade da empresa. Por isso é necessário:
de mecanismos de colaboração para a obten-
ção da informação com os benefícios que isto • Identificar localmente os riscos associados
acarreta, com a finalidade de romper para a empresa, se esta não contribuir ou
a “delimitação” dentro da organização. impedir o desenvolvimento sustentável das
comunidades em que opera.
Estes exercícios permitem-nos avaliar riscos • Identificar as vantagens competitivas
e oportunidades das organizações de forma de carácter permanente que permitam
geral e corporativa. No entanto, temos referido a diferenciação no panorama competitivo.

Os Indicadores para as Empresas


28

Como identificar os aspectos materiais A sistematização da materialização dos as-


da responsabilidade empresarial pectos da responsabilidade empresarial tem
sido desenvolvida até à data, por diferentes
Temos assistido durante os últimos anos, autores. Pela novidade que propõe, adap-
a uma profusão de normas e directrizes que tamos para esta Publicação os trabalhos
têm ajudado, como temos observado, recentes, levados a cabo pela Accountability
5
a começar a organizar estes aspectos nas no desenvolvimento da norma AA 1000 .
empresas. No entanto, neste momento
descobrimos que esta profusão gerou
necessidades nas empresas que não parecem Impactos directos do presente
estar enquadradas com a estratégia das incumprimento da norma
mesmas.

Se a empresa não trabalha no desen- Tratam-se de aspectos não financeiros que


volvimento das suas relações sustentáveis se encontram directamente relacionados com
e estas não enriquecem o seu posicionamento incumprimentos conhecidos ou desconhe-
estratégico, os indicadores implementados cidos da norma existente, ou de aplicação
não terão utilidade, já que acabarão por a curto prazo. Exemplos disso teríamos a
desaparecer por não se encontrarem ligados análise da afectação da organização por uma
às variáveis do negócio da empresa. directiva de solos contaminados, na entrada
em vigor do comércio de direitos de emissão.
Iniciativas com maior grau de implemen-
Pelo lado social deveríamos ter em consi-
tação pelos Administradores Executivos
deração, por exemplo, incumprimentos
na contratação de pessoal ou nas suas
ISO 14001 condições laborais.
Global Reporting
Initiative Temos um exemplo evidente em Espanha,
World Businnes
na obrigatoriedade de empregar cerca de 2%
Council for Sust. Dev. de incapacitados, ou efectuar compras, em
valor equivalente, a organizações que
ILO Core Conventions
os empreguem. Outros exemplos podem ser
Global Compact encontra-dos na legislação ambiental e na
OECD Guidelines legislação de prevenção de riscos laborais.
Estes aspectos existem desde sempre, não
Ethical Trading
Initiative

SA 8000

AA1000
5
Consultar www.accountability.org.uk . A comissão de responsa-
Percentagem de respostas
bilidade social de AECA publicou no mês de Maio de 2005 um
Fonte: Banco Mundial documento sobre esta matéria que pode ser consultado em www.aeca.es

Os Indicadores para as Empresas


29

são novos. Estão ligados a normas existentes,


têm responsabilidade limitada, podem ser Existe uma crescente convergência entre
identificados e quantificados economicamente ambas as responsabilidades e para isso
e geram riscos/oportunidades a curto prazo. são analisados quatro casos parti-
cularmente interessantes: as alterações
climáticas, a obesidade, os direitos
Novos tempos e responsabilidades
humanos e o legado das empresas.
ATCA
Uma mensagem chave desta inves-
Alien Tort Claims Acts (ATCA) é uma
tigação é que o longo debate sobre a
norma de protecção relativa aos abusos
necessidade de requisitos voluntários e
laborais das empresas. Trata de detectar
obrigatórios pode considerar-se de forma
situações de tortura, raptos, maus-tratos
crescente como limitado ao âmbito
físicos, trabalhos forçados. Esta lei já
académico. Verificámos como em muitas
existe há dois séculos e tem sido de
áreas que os aspectos hard e soft da
grande utilidade nos tribunais dos
responsabilidade se estão a converter
Estados Unidos para a defesa de
e a misturar. Os padrões da RSE (Res-
situações abusivas em ambiente laboral.
ponsabilidade Social Empresarial) estão
(i) Mais informação sobre Alien Tort Claims Act em
a alterar-se progressivamente de códigos
www.globalpolicy.org de conduta voluntários para regulamen-
tação e legislação. A responsabilidade
moral das empresas está a ser utilizada
Para além da legislação nos tribunais de opinião pública. O cum-
primento legal é, na sua essência, uma
Em Novembro de 2004, a empresa porta de entrada para as empresas que
Sustainability editou, em conjunto com estão a fazer negócio em qualquer parte
outras organizações, The Changing do mundo. No entanto, o cumprimento
Landscape of Liability. Nesta publicação legal não será suficiente no futuro. As
analisa-se como os tradicionais riscos empresas que se comprometam com
derivados da legislação adquiriram novas cumprimento técnico das normas sucum-
formas, para as quais existe pouca birão aos julgamentos da opinião pública,
familiaridade por parte das empresas. embora tenham sucesso nos verdadeiros
Esta análise descreve dois tipos de res- tribunais. Pelo contrário, é preferível uma
ponsabilidades liabilities: por um lado, focalização proactiva, firmemente basea-
as hard, ligadas aos incumprimentos da num profundo entendimento das ex-
de obrigações locais, nacionais ou inter- pectativas emergentes para um compor-
nacionais; por outro, as soft, que se en- tamento responsável.
contram ligadas às expectativas morais
e éticas das partes interessadas e de
que forma o negócio se encontra exposto
a elas.

Os Indicadores para as Empresas


30

Impactes directos do incumprimento empregados, em algumas das suas minas


dos códigos e princípios estabelecidos da Austrália Ocidental.

A polémica sobre se a empresa fazia uma


As empresas encontram-se ligadas a uma utilização oportunista de iniciativas
variedade de códigos e princípios que em internacionais como o Global Compact
determinadas ocasiões são subscritos pelos e Global Reporting Initiative manteve-se
benefícios mediáticos que estes envolvem, durante os meses seguintes.
mas não se tem conhecimento se são
cumpridos ou não por parte da organização O Sindicato Australiano informou o
subscrita. escritório do Global Compact, sendo
George Kell, o seu director executivo,
Estas adesões podem gerar incumprimentos que se dirigiu à empresa assinalando
materiais que supõem riscos importantes para quais as expectativas que o Global
a credibilidade da empresa. É necessário tê- Compact tem relativamente às práticas
-los em conta e estabelecer sistemas que das empresas aderentes.
permitam identificar e monitorizar os
requisitos. O Global Compact carece de um poder
decisivo vinculativo, para além da possi-
Outro exemplo é o estabelecimento de bilidade de excluir uma organização da
códigos de conduta e princípios de acção. lista de subscritores. De facto, o Global
Poucas são as organizações que estabelecem Compact anunciou que aquelas empresas
sistemas para o acompanhamento do que, dois anos depois da assinatura, ou
cumprimento de códigos de conduta. Estes em Junho de 2005, não informarem sobre
aspectos são, também, materiais e têm uma o progresso na adopção dos com-
importância radical na reputação das promissos, serão excluídas da lista de
empresas, especialmente na credibilidade da subscritores. Por isso, no caso do BHP
gestão relativamente aos colaboradores. Billiton, o Global Compact foi convocado
para arbitrar o conflito, o que sem dúvida
contribuirá para a sua credibilidade e para
BHP Billiton e Global Compact o reforço da sua integridade.

Entre as empresas que aderiram ao Fonte: www.ecores.org


Global Compact, encontra-se uma das
maiores empresas mineiras do mundo:
BHP Billiton. Foi protagonista, durante o
ano de 2003, de uma controvérsia sobre
o respeito dos direitos laborais, rela-
cionada, concretamente, com o respeito
ao direito de acordos colectivos dos seus

Os Indicadores para as Empresas


31

Quando o sector ou empresas da mesma


Normas de comportamento do sector dimensão ou condição seguem num
ou da concorrência determinado sentido, devemos conhecer quais
são as implicações para a nossa organização
com o objectivo de, o quanto antes, poder
Até agora temos identificado aspectos adoptar uma postura e explicá-la.
que são conhecidos pelas organizações,
mas que em determinados momentos não
se encontram adequadamente geridos. Expectativas das partes interessadas
Agora trataremos outros aspectos que ne-
cessitam de uma observação simples
e da avaliação interna. Em primeiro lugar de- Durante muito tempo, este foi considerado o
vemos estudar as normas de comportamento teste de materialidade principal. No entanto,
e/ou códigos, escritos ou não, que a con- conforme se foram aperfeiçoando as
corrência implementa. metodologias que avaliam estas expectativas,
as organizações deram-se conta das limi-
A não adesão a determinados princípios ou tações que a identificação destas teve nos
códigos não exclui que o nosso compor- modelos analíticos.
tamento seja observado a partir do padrão
do sector, embora a nossa organização não Em primeiro lugar, descrevemos as dificul-
o tenha subscrito. Um caso muito interessante dades da identificação de partes interessadas
foi o da publicação das remunerações dos e a obtenção de informação valiosa para o
administradores após entrada em vigor da lei sistema. As empresas tendem a representar-
espanhola de transparência. Existem empre- se no centro dos mapas das partes interes-
sas que publicaram nos seus relatórios as sadas. No entanto, a empresa faz parte da
remunerações que os seus administradores sociedade e portanto está sujeita à sua dinâ-
recebem individualmente, outras de forma mica. Este “narcisismo corporativo” traduz-
agrupada por comissões e outras em se também na tendência das empresas em
conjunto. É possível que num futuro muito identificar colectivos que consideram como
próximo todas as empresas publiquem estes “partes interessadas” de forma genérica.
dados de forma individual, é apenas uma
questão de tempo. As empresas pioneiras Estas duas aproximações são tanto comuns
ganharam credibilidade com isso, enquanto como ineficientes. A taxonomia das partes
que outras empresas preferiram não fazê-lo. interessadas e a análise das suas preocupa-
ções são básicas e requerem uma exposição
Encontramos outros casos, por exemplo, nas mais exaustiva, que transcende o objecto
empresas do sector de petróleo e gás com a desta Publicação.
iniciativa de transparência no pagamento aos
Estados publish what you pay, na política das
empresas de cosmética com os testes em
animais, etc.

Os Indicadores para as Empresas


32

Conhecimento de expectativas e acção Cada nível organizativo deve ter claras


coordenada no terreno as consequências para outros grupos de
interesse chave no sucesso do negócio.
Muitas organizações pensam que
trabalhando com determinados grupos • Dispersão da interlocução. Quando
que consideram representativos a nível falamos de accionistas, clientes, cola-
institucional, conhecem as expectativas boradores ou fornecedores como parte
das partes interessadas. Geralmente esta interessada, a quem nos referimos?
gestão efectua-se de forma indepen- Os processos comerciais complexos
dente, por grupos de interesse e níveis têm, seguramente, segmentados os
organizativos. clientes em centenas de tipologias
e os de compras nos diferentes graus
O grau de conhecimento das diferentes de homologação. Estes grupos são
partes interessadas é, para a empresa, analisados de forma crescente através
muito distinto em matéria de respon- de estudos de satisfação, que permi-
sabilidade empresarial. A importância tem monitorizar as suas expectativas
que tem para a Direcção deve ser em sobre diferentes aspectos tanto na
função do valor que cada uma delas média como na grande empresa.
possui, relativamente ao valor total da Podemos encontrar um exemplo no
empresa, como vimos anteriormente. caso da obesidade, onde as empresas
de comida rápida se esqueceram de
• Dispersão geográfica dos grupos de perguntar aos seus clientes se
interesse. Em cada comunidade em consideravam que os alimentos que
que a empresa opera encontramo-nos comercializavam estavam ou não
com proprietários de valor. No entanto, relacionados com o excesso de peso,
a interlocução não se encontra no terri- até que o tema saltou para os meios
tório. Um exemplo claro são os forne- de comunicação. O jornal britânico
cedores. O departamento de compras The Sunday Times intitulava, em Julho
de uma empresa pode ter fornecedores de 2003, “A comida é o novo tabaco”
em diferentes países, da mesma forma e perguntava-se se os consumidores
que a empresa por exemplo poderia exigiriam às empresas de alimentação,
ter clientes, trabalhadores e outros no futuro, responsabilidade pelas
grupos de interesse. No entanto, a ges- consequências do colesterol nas suas
tão é feita por canais distintos. As deci- artérias depois da visita a uma casa
sões, em muitos casos, não se tomam de hambúrgueres.
tendo em conta as relações que estes
têm no terreno, desperdiçando a ges- Para grupos difusos como meios de co-
tão desse valor capital. municação, líderes de opinião e, inclu-
sivamente ONG's, devem ser utilizadas

Os Indicadores para as Empresas


33

SES (Stakeholder Engagement Statement) e


outras ferramentas. Os estudos de identi- o primeiro volume dos trabalhos solicitados
ficação de prescritores, observatórios, pelo Programa das Nações Unidas para o
análise de percepção, os estudos de re- Meio Ambiente sobre compromisso com os
putação ou inclusivamente sistemas mais grupos de interesse.
complexos como a avaliação de intangí-
veis, oferecem bons resultados.
Origem da palavra stakeholder

A análise das preocupações das partes Alguns fixam a origem da palavra


interessadas é um tema cada vez mais impor- stakeholder no distante oeste americano,
tante, pelo que a utilização de ferramentas quando as caravanas que atravessavam
rigorosas é essencialmente necessária para os territórios com os novos colonos
identificar correctamente e estabelecer, no tinham que percorrer grandes distâncias
contexto, a posição relativa da percepção da até aos locais onde se situavam as
marca/empresa. parcelas que lhes haviam sido atribuídas.
Ao chegar ao local indicado, os novos
Os padrões globais ofereceram, durante anos, proprietários deixavam a caravana com
informação valiosa sobre estes aspectos, já uma bandeira.
que, ao serem incluídos entre os seus
requisitos, demonstraram a sua importância Quando o grupo se afastava com as
para a empresa a nível global. Neste momento, famílias que aguardavam a distribuição
é necessário dar um passo em frente com o da sua parcela, o colono ficava no terreno
objectivo de se ser mais eficaz na análise com a sua bandeira e podia ver à sua
risco/oportunidade. Por isso, as empresas volta os seus stakeholders com as suas
estão a avançar na adaptação e focalização bandeiras à volta. As pessoas que iam
das suas análises, levando-as aos terrenos ser mais do que seus vizinhos.
em que operam.
A água que os rios transportavam, que
De outra forma seria incompleto, já que, como banhavam a sua propriedade, os cami-
temos visto, o vector de sustentabilidade é nhos que a atravessavam, a segurança
local e a empresa estará ligada ao seu dos que a habitavam, etc., dependiam
desenvolvimento sustentável, apenas no caso também destas pessoas que as rodea-
que considere que está a contribuir em cada vam e sem dúvida, das relações que com
território, para as expectativas das partes eles estabelecia eram parte fundamental
interessadas. para o seu presente e para o seu futuro.

Em 2005 foram publicados dois interessantes


trabalhos que contribuem com novas ideias
na teoria de grupos de interesse e que
merecem ser consultados: a norma AA 1000

Os Indicadores para as Empresas


34

momento um número muito significativo de


6
A tradução em português desta palavra organizações, em todo o mundo, que se
é actualmente motivo de debates encontram a trabalhar sobre diferentes
académicos. Alguns preferem o termo aspectos da responsabilidade empresarial. A
“grupos de interesse”, outros “partes maturidade e o sucesso das referidas inicia-
interessadas”, “contribuintes” ou “novos tivas é, muitas vezes, incerto, mas torna-se
proprietários”, esta última numa versão necessária a sua análise. Muitas vezes as
mais livre, que o autor deste Caderno evidências são maiores, como pode ser o
gosta de utilizar. anúncio da entrada em vigor de uma deter-
minada lei, que deve ser tida em conta não
O grupo de responsabilidade social quando aparece no Boletim Oficial (Diário da
empresarial de AECA trabalhou, em dife- República em Portugal), mas no momento em
rentes documentos, sobre a utilização de que temos notícias que o legislador trabalha
termos neste campo, que podem ser de sobre o tema.
interesse -www.aeca.es.
O segundo provém da exposição sectorial
Ambos os trabalhos foram levados a cabo dos negócios e das responsabilidades. Muitas
por www.accountability.org.uk vezes, processos que foram levados a cabo
em sectores paralelos afectam o nosso.
Temos um exemplo nas directivas ambientais
de resíduos e reciclagem, onde a responsabi-
Normativo emergente lidade do produtor é cada vez maior. É impor-
tante monitorizar a legislação de sectores
análogos.
Os testes anteriores podem ser estabelecidos
de formas muito diferentes. Na sua elaboração Outra consequência desta análise é a
podem ter-se em conta aspectos de curto necessidade de ter em conta estes aspectos
prazo e outros em que são adiantados em momentos de compra, venda e fusão de
aspectos emergentes. Em todo o caso, deve empresas, onde a materialidade dos referidos
ter-se em consideração que a sua realização aspectos é muitas vezes desconhecida pelo
está mediatizada pelo momento em que estes comprador e torna-se necessário um estudo
se realizam e no âmbito que se considere. rigoroso.

Por este motivo, considera-se importante ter


em conta que existem temas emergentes que
podem afectar a análise da materialidade.

O primeiro deles é o tempo. Existem neste

6
“Castelhano” na versão original

Os Indicadores para as Empresas


35

A maturidade das expectativas dos grupos de interesse

Nível de Âmbito da
Sinais Expectativas
maturidade responsabilidade

Sistema de
Evidência
compromisso

Latente Assunto exploratório, Opinião de líderes Não existe Âmbito indeterminado


tema de investigação sociais regulamentação. com um debate muito
baseado em Interesses activistas Expectativas limitado
percepções, não limitadas
existem evidências

E m e rg e n t e Desenvolvem-se Pressão das ONG's. Expectativas O âmbito encontra-se


investigações Atenção dos meios de crescentes. em processo de
detalhadas, mas não comunicação. Os Regulamentação da definição
conclusivas representantes sociedade civil
políticos têm opinião

Estável Existem evidências Parcerias de vários Expectativas dos Existem exemplos


sólidas emergentes sectores (ex. GRI, grupos de interesse
Global Compact) coerentes. Existem
Associações (ex. iniciativas de auto-
Responsible Care) -regulamentação
ou regulamentação
multilateral

Institucional Evidência aceite Acção política Fortes expectativas. Bem definido


Acção judicial Existe
regulamentação

Fonte: KPMG

O terceiro provém da alteração de âmbito Em qualquer dos casos, os testes de materia-


geográfico. Uma empresa que realiza os seus lidade, tal como se encontram aqui descritos,
testes de materialidade para o seu país de têm uma validade média de seis meses,
origem, tem geralmente uma fotografia passados os quais se torna necessária a sua
completamente parcial e incompleta que gera repetição.
uma falsa segurança. Por outro lado, a expan-
são a novos territórios torna necessário incluir
novas análises.

Os Indicadores para as Empresas


36

uma melhoria simultânea em pelo menos duas


Utilidade dos testes de materialidade das três dimensões do desenvolvimento
sustentável.

Como temos verificado, o principal objectivo Os aspectos identificados nos testes podem
de efectuar testes de materialidade encontra- ser classificados em quatro grupos:
se na oportunidade de identificar os aspectos
que a empresa deve ter em consideração na • Vantagens competitivas. Primeiro grupo que
altura de analisar a concepção da sua estra- contribui com vantagens competitivas
tégia de responsabilidade empresarial. evidentes, já que a sua gestão correcta
gera, por exemplo, eficiências na gestão,
Esta identificação dos aspectos é fundamental como podem ser grande parte dos aspectos
e é a base, por um lado, da concepção es- ambientais. Outros não são tão evidentes,
tratégica e por outro, do sistema de indicado- já que podem oferecer vantagens competiti-
res de sustentabilidade da empresa. vas diferentes apenas se trabalhar em toda
a organização. Mas em todo o caso estas
Se a análise for efectuada exclusivamente a vantagens são tangíveis e quantificáveis.
nível corporativo, a informação será valiosa • Vantagens potenciais. Segundo grupo
para estabelecer programas de acção que sobre o que a empresa pressente que
reforçam as vantagens competitivas da gera vantagens competitivas, mas des-
empresa e a sua posição global, reforçando conhece quais e não está em condições
também o sistema de informação e o de quantificá-las.
enquadramento da organização. • Riscos potenciais. Um terceiro grupo é
formado pelos aspectos que por não serem
Por outro lado, se esta análise for efectuada controlados podem ser fonte de problemas
a nível dos territórios em que opera, será para a empresa. Nesta secção incluem-se
muito mais apertada e portanto, mais útil no aqueles aspectos dos testes relacionados
momento de estabelecer parcerias com com o cumprimento legal, código ou expec-
detentores de capital, para estabelecer planos tativas, especialmente quando se considera
de crescimento de capitais identificados. que o comportamento da nossa empresa
não é líder no sector. Esta categoria poderia
subdividir-se em função de diferentes graus
Identificando o importante de importância do risco.
• Risco/oportunidade baixa. Não se verifica
que estes aspectos possam envolver
Os testes de materialidade ofereceram-nos vantagens ou riscos para a empresa, já que
um resultado sobre os aspectos que podemos se consideram inócuos para a organização.
considerar materiais. O desafio seguinte é Os aspectos que compõem este quarto
como converter estes aspectos em indicado- grupo podem ser derivados de matérias
res que nos permitam desenvolver estratégias que sejam consideradas inerentemente
de duplo resultado, ou seja, que permitam superadas (por exemplo, uma certificação
por uma norma de qualidade).

Os Indicadores para as Empresas


37

Quando se classificam os resultados do teste e por outro, as acções reactivas que são ne-
de materialidade nestes aspectos, podem-se cessárias para manter a salvo a reputação da
construir mapas de relevância para as empresa.
organizações, nos quais se mapeiam os temas
que, de facto, têm maior importância para
cada empresa.

Estabelecidos os aspectos, aqueles que forem


considerados como vantagens competitivas
devem ser incorporados no planeamento
estratégico, utilizando um método semelhante
ao que se utiliza no planeamento estratégico
tradicional da empresa.

As empresas mais avançadas incorporam e


integram a análise estratégica da envolvente
e os aspectos da responsabilidade empre-
sarial, reforçando a marca e enriquecendo de
forma considerável. Aquelas que se encontram
em estados anteriores precisam da parti-
cipação dos grupos da empresa, que lhes
permitam classificar os aspectos determi-
nados, em cada categoria e extrair aqueles
que são capazes de contribuir com vantagens
competitivas.

As que contribuem com vantagens compe-


titivas devem servir de base para analisar os
planos de acção do planeamento estratégico
da empresa, para que sejam reforçados e
no caso de não existirem os referidos planos,
sejam concebidos e desenvolvidos.

Os aspectos que forem considerados riscos


potenciais, pelo contrário, devem ser incor-
porados nos sistemas de gestão, de forma a
que a sua identificação permita a sua revisão
e aperfeiçoamento. É importante ter em aten-
ção as vertentes. Por um lado, as acções pro-
activas que reforçam as vantagens identi-
ficadas e conduzem a uma comunicação líder

Os Indicadores para as Empresas


38

O sistema de indicadores Geralmente, esta segunda vantagem


encontra-se mais desenvolvida do que a
primeira. Por isso, muitas vezes as empresas
desconhecem a materialidade dos aspectos
Tipicamente, as organizações implementam
relevantes para a sustentabilidade da sua
processos de recolha de informação sobre
organização e precisam de desenvolver
aspectos da sua gestão sustentável, à medida
sistemas de informação para elaborar
que necessitam de informação. Isto é, se uma
relatórios de sustentabilidade ou responsabili-
organização está a conceber o seu relatório
dade social empresarial, resultantes da
de sustentabilidade de acordo com as
recolha anual de informação relativamente a
directrizes da Global Reporting Initiative,
um sistema de indicadores.
interpretará os aspectos da directriz como
indicadores e deverá recolhê-los anualmente
para reflectir a informação no relatório.
Formar um sistema de indicadores
Não devemos confundir este processo com
Como observámos anteriormente, a
a existência de um sistema de indicadores.
identificação da materialidade dos aspectos
Os sistemas de indicadores de sustentabilida-
do desenvolvimento sustentável evita o
de têm como primeiro objectivo disponibilizar
dinamismo de modas e iniciativas que, como
informação útil para os processos de tomada
cantos de sereia, confundem a mente dos
de decisão e de prestação de contas sobre
responsáveis das organizações para seguir
aspectos chave da empresa relacionados
essa ou outra iniciativa, tendo assim de alterar
com as suas responsabilidades relevantes
os sistemas de informação da empresa.
para a sustentabilidade.
As organizações, com rigorosos sistemas de
O sistema, como podemos ver, tem duas van-
identificação da materialidade no processo
tagens principais. Por um lado, influenciar na
estratégico, poupam tempo e recursos, sendo
tomada de decisão, isto é, que faz parte dos
capazes de liderar e desenvolver um perfil
aspectos a ter em conta na actividade quotidi-
diferenciador próprio, que gera avanços
ana da organização. Como tal, podem
sustentáveis claros e vantagens competitivas
considerar-se desde a viabilidade de um in-
duradouras para a organização.
vestimento aos incentivos dos colaboradores.

7 Se se considerar o processo de identificação


A segunda, a prestação de contas , permite
da materialidade como um processo
à empresa disponibilizar informação fiável
estratégico que posiciona a empresa no
aos órgãos de governo e às partes interessa-
mercado, devemos utilizar ferramentas do
das sobre os aspectos relevantes para a
mesmo tipo para a sua definição.
sustentabilidade.

7
O termo accountability é traduzido e utilizado como prestação de contas

Os Indicadores para as Empresas


39

Sistema de indicadores concebido processos e no modo como a organização


a partir dos princípios do Balanced satisfaz as expectativas das partes
Scorecard interessadas, com especial interesse nos
accionistas. Esta é, definitivamente, a melhor
A integração dos aspectos relacionados com medida das vantagens competitivas atribuídas
o desenvolvimento sustentável no processo pelo conceito sustentável à empresa.
estratégico traz grandes vantagens para uma
organização. A primeira delas e a principal, é
que desta forma o sistema de gestão dos Diz-me o que medes e eu te direi…
aspectos relevantes para a sustentabilidade
não segue em paralelo com o resto dos Os sistemas de medição numa organi-
sistemas da empresa mas, pelo contrário, zação disponibilizam informação sobre o
reforça as capacidades estratégicas da grau de importância que os diferentes
empresa. assuntos assumem para a direcção da
mesma.
O Balanced Scorecard é um modelo de gestão
que tem como função facilitar a implemen- • Perfil oportunista. Mede e gere os
tação de objectivos estratégicos transferindo- aspectos financeiros que têm impacto
-os para um plano de acção. sobre a conta de resultados anual.
• Perfil crescimento. Centra-se na conta
Este modelo foi desenvolvido por Robert de resultados dos três próximos anos.
8
Kaplan e David Norton que em 1992 criaram Incorpora alguns indicadores de riscos
uma ferramenta que permitiria gerir mais além sociais e ambientais (cumprimento).
dos indicadores financeiros de uma • Perfil futuro. Trata de identificar opor-
organização. tunidades relacionadas com o valor
que podem adicionar os diferentes
O Balanced Scorecard, assim concebido, grupos com que se relaciona, com uma
permite o planeamento estratégico, enca- perspectiva de longo prazo.
deando relações de causalidade entre os
resultados financeiros e as competências
intangíveis das organizações (mapas Esta ferramenta encontra-se muito dissemi-
estratégicos). nada nas empresas e é uma grande aliada
para a integração sustentável, já que se trata
É uma das ferramentas de maior utilidade na de um instrumento concebido para potenciar
elaboração de estratégias de desenvolvimento a obtenção de resultados económicos,
sustentável,é sustentado na análise do utilizando o potencial da informação não
conhecimento da envolvente, na forma como financeira.
esta informação se integra na melhoria dos
Um bom quadro integrado de indicadores
8
Para conhecer melhor esta interessante ferramenta pode consultar os
livros How to Apply the Balanced Scorecard to Corporate Strategy, de
conta a história da sua estratégia de negócio.
Robert S. Kaplan, Harvard Business School, ou Gestão estratégica e As principais dificuldades, na hora de motivar
medição, o CMI como complemento do Balanced Scorecard, do professor
López Viñegla, editado por AECA. a integração da responsabilidade social

Os Indicadores para as Empresas


40

empresarial no processo estratégico, surgem capacidade no desenvolvimento de acções, já


da convicção, por parte de muitas empresas, que os aspectos intangíveis reforçam o alcance
que os aspectos da referida responsabilidade dos objectivos tangíveis. Conseguir relações
não são estratégicos. Para que seja eficiente, claras e mensuráveis é a base do sucesso.
é necessário introduzir nos objectivos estra-
tégicos (ou mapa estratégico) da empresa O processo lógico parte, assim, da análise de
relações causais reais entre os riscos/ materialidade proposta e contínua no estabele-
/oportunidades sustentáveis e os resultados cimento de objectivos para cada um dos
da empresa. Desta forma, o desenvolvimento aspectos identificados, estudar como estes se
do mapa ver-se-á já envolvido na avaliação relacionam com o resultado económico, e con-
dos aspectos materiais identificados e não ceber as respostas adequadas para medir a
resultará de uma aproximação falsa e pouco sua evolução.
eficiente.
As respostas identificadas, em forma de indi-
A elaboração de um Balanced Scorecard cadores, devem gerar e promover alterações,
sustentável depende do sucesso com que deter- já que a medição deve motivar comportamentos
minamos as relações causais que nos ajudarão positivos. São particularmente importantes
a atingir os objectivos a que nos propusemos. aqueles que apoiam a organização a um cons-
A divisão por perspectivas permite-nos maior tante ambiente de mudança.

Desdobramento sustentável dos Balanced Scorecard (BS)

Balanced Scorecard convencional Balanced Scorecard sustentável

Perspectiva financeira Perspectiva de negócio sustentável

Perspectiva dos clientes Perspectiva das partes interessadas

Perspectiva dos processos internos

Perspectiva da aprendizagem e do conhecimento

Indicadores pressão-estado-resposta Correcta identificação dos aspectos


no Balanced Scorecard materiais. Aspectos principais que são origem
de risco ou oportunidades sustentáveis para
As chaves da concepção na implementação a organização.
estratégica de aspectos relevantes para a Concepção dos mapas de causalidade
sustentabilidade encontram-se de forma geral na: dos aspectos identificados. Objectivos cujo
enquadramento nos permite saber quando
(i) Pode encontrar mais informação sobre o Balanced Scorecard aplicado
ao desenvolvimento sustentável na Escola de Negócios INSEAD
www.insead.edu/cmer/research/strategy/sbsc.htm, e na Fundação
Suíça para a Economia e a Ecologia Oikos www.oikos-
stiftung.unisg.ch

Os Indicadores para as Empresas


41

se cumprem as metas estabelecidas pela empresa.


organização. Concepção de respostas que oferecem
Para isso definem-se como directrizes as resultados objectivos. A chave encontra-se
quatro dimensões (conhecimento, processos, na adequação das acções propostas como
partes interessadas, resultados). respostas (planos de acção) aos objectivos
Procura de ligações com os resultados propostos.
financeiros a curto e longo prazo. Nas etapas
iniciais devemos procurar causalidades, Finalmente, os indicadores, servem de medida
especialmente para curto prazo, em função para o desenvolvimento das respostas.
da sua contribuição para os resultados da

Exemplo Objectivo estratégico: aumento das vendas em países de grande rentabilidade

Perspectiva Objectivo Respostas tipo Indicadores tipo

Financeira Aumentar as vendas. Plano de marketing, Aumento das vendas;


identificação de novos Notoriedade ou preferência.
nichos de mercado;
Parceria para um novo
desenvolvimento;
Lançamento de serviços
para segmentos de baixa
rentabilidade.

Partes interessadas Melhoria da reputação. As Concepção de um sistema Número de apresentações;


nossas partes interessadas de informação que permita Produtos etiquetados com
têm mais confiança na nossa atingir especialmente os informações;
marca. meios de comunicação, Impactos da campanha
clientes e investidores. publicidade específica;
Notas de imprensa.

Processos Internos Condições de contratação Plano de verificação externa % dos fornecedores cobertos
de fornecedores. O sistema das condições de trabalho pelo sistema;
de gestão garante as dos fornecedores de % de incumprimentos;
condições de trabalho nos primeiro e segundo nível. Contratos anulados depois do
locais de trabalho dos Rotura das relações incumprimento de planos de
nossos fornecedores. comerciais com os acções correctivas.
fornecedores que não
cumprem.

Aprendizagem e tecnologia Atenção aos aspectos Formação de compradores. Número de horas de formação;
relevantes da função social Formação de fornecedores. % do grupo de compradores
da empresa. Conhecemos de Observatório de formado;
forma dinâmica os materialidade dos aspectos % dos fornecedores formados
compromissos que temos sociais. Revisão de processos.
com a comunidade.

Os Indicadores para as Empresas


42

Sistema de indicadores concebido a que desenvolve actividades diferentes deveria


partir de um metasistema de analisar a materialidade em cada um.
indicadores
Desta forma, a análise do vector de sustenta-
Esta técnica de concepção é uma adaptação bilidade local levar-nos-ia, através do diálogo
dos sistemas de indicadores clássicos. Surge com a comunidade, à determinação da mate-
da consideração que os aspectos materiais rialidade dos aspectos a cobrir localmente.
devem ser determinados em cada um dos
níveis organizativos das empresas. Este tipo
de conceito é compatível e ao mesmo tempo Do nível local ao nível corporativo.
independente do anterior. Trata-se de uma Aplicação do teste de materialidade
focalização técnica independente da focaliza-
ção estratégica, pelo qual, na ausência do Os primeiros aspectos, os locais, encontram-
anterior, continua a ser válido, mas com a -se determinados pelo vector de susten-
sua força, evidentemente, diminuída. tabilidade local. Estes devem ser concebidos
a partir da realização do teste de materialidade
Parte da ideia de considerar que a contribui- ou da consulta à Agenda 21 local. Este sistema
ção sustentável das empresas apenas é real tem a virtude de incorporar as especificidades
se esta tiver lugar a nível local. Poderíamos locais, tais como indicadores de biodiversida-
dizer que uma empresa que deseja contribuir de local, aspectos culturais locais, protecção
integralmente para o desenvolvimento de determinados direitos.
sustentável deveria fazê-lo em todas e cada
uma das comunidades em que opera. Uma
organização com filiais em vários locais e/ou

Impactos a Cumprimento Tendência Expectativas Novos temas


curto prazo de princípios da concorrência das partes emergentes
e códigos interessadas

Aspectos Preocupações
corporativos globais

Aspectos Preocupações
significativos sectoriais
a nível do sector

Aspectos Preocupações
identificados locais
como principais
para o equilíbrio
sustentável local

Os Indicadores para as Empresas


43

As empresas encontram-se cada vez mais


Um set modelo de indicadores diversificadas e realizam actividades de
sectoriais: compromisso de progresso natureza muito diferente, pelo que precisam
de consolidar a nível corporativo indicadores
Numa empresa, podem ser levadas a de actividades muito distintas. Este terceiro
cabo actividades muito díspares que têm nível considera o subconjunto de indicadores
aspectos materiais comuns e que inte- corporativos, directamente ligados a respos-
ressa comparar a nível sectorial. Nalguns tas a problemas comuns do mercado em que
casos, os indicadores foram definidos estão inseridos, que são cada vez mais
pelos sectores, de forma que são globais.
facilmente comparáveis e demonstram
um compromisso de progresso, como é
o caso do sector químico com a iniciativa Consensos sobre indicadores globais
Responsible Care.

Trata-se de um set de indicadores relativo Os conjuntos de indicadores definidos, por


ao comportamento ambiental, saúde e consensos globais, são de grande utilidade
segurança, bem como respostas em caso porque funcionam como directrizes dos
de emergência das empresas do sector, aspectos mais relevantes que preocupam e
as quais chegaram a um acordo para in- orientam, as políticas globais dos organismos
formar conjuntamente dos seus avanços internacionais.
nestes âmbitos. Esta iniciativa foi lançada
no Canadá em 1985 e actualmente de- Poderíamos dizer que cada um dos códigos
senvolve-se em cinquenta e dois países. ou princípios internacionais poderia dar lugar
a um set de indicadores globais igualmente
Os códigos de práticas de gestão do válido, mas o certo é que na maior parte dos
programa encontram-se disponíveis em casos tratam-se de aspectos e não de
www.feique.org indicadores.

Podemos encontrar exemplos no Global


O segundo nível de indicadores sintetiza Reporting Initiative, em muitos casos oferece
aqueles que são comuns ao sector, actividade diferentes opções de indicadores para um
ou departamento, em alguns casos ao país, mesmo aspecto, Global Compact ou em
permitindo um seguimento e benchmark de muitas outras iniciativas onde são trabalhados
grande interesse. aspectos, sobre os quais são necessárias
respostas das organizações, mas não
Neste segundo nível, a identificação da mate- indicadores quantitativos.
rialidade realiza-se adaptando-a ao nível da
interlocução da actividade sectorial. Os aspec- Iniciativas mais concretas neste aspecto são,
tos são recolhidos a nível local e são reporta- por exemplo, os objectivos do milénio das
dos por actividade sectorial ou empresarial. Nações Unidas, as reduções de emissões de

Os Indicadores para as Empresas


44

gases de efeito estufa ou de substâncias que


prejudicam a camada de ozono, ou os objec- Indicadores da UE sobre
tivos de desenvolvimento sustentável da União desenvolvimento sustentável
Europeia.

Estas iniciativas permitem-nos conceber Um caso que merece especial atenção, já


indicadores normalizados, de forma mais que não é muito conhecido, mas sim de
simples, que possibilitam a comparação grande utilidade, é a revisão anual dos
posterior. O exemplo de compromisso de indicadores de sustentabilidade da União
progresso da indústria química, anteriormente Europeia. A estratégia europeia para um
citado, é o antecedente da iniciativa que o desenvolvimento sustentável, adoptada em
sector do cimento tomou para aspectos seme- Gotemburgo pelo Conselho Europeu em 2001,
lhantes (mais informação em www.wbcsd.org, estabelecia a necessidade de contar com um
Cement Sustainable Initiative). sistema de indicadores capaz de medir os
progressos da UE, em matéria de desen-
Pode encontrar mais informação sobre os volvimento sustentável. Estes resumem-se
objectivos do milénio das Nações Unidas em anualmente numa comunicação ao Conselho
www.un.org/millenniumgoals/, sobre medições da Primavera da UE.
de gases de efeito estufa para diferentes
sectores em www.ghgprotocol.org e sobre Os aspectos informados sobre os quais se
Indicadores da Agência Europeia do Ambiente desenvolvem indicadores concretos são dez:
em www.eea.eu.int. desenvolvimento económico, pobreza e ex-
clusão social, distribuição etária da população,
saúde pública, alterações climáticas e energia,
padrões de produção e consumo, gestão dos

Esquema da pirâmide de indicadores

Consideram a materialidade das partes interessadas globais,


Aspectos globais e principalmente, investidores e clientes.

Consideram a materialidade de sectores de actividade e as


Aspectos suas partes interessadas, bem como investidores e
sectoriais colaboradores e, em menor escala, os clientes.

Aspectos locais
Consideram a materialidade dos aspectos locais,
recolhidos ao nível da empresa
colaboradores, administrações locais, vizinhos e envolvente.

Os Indicadores para as Empresas


45

recursos naturais, transporte, boa governação Uma segunda via é orientar a identificação
e parcerias globais. de aspectos de responsabilidade empresarial,
baseando-se numa análise das expectativas
(i) Pode encontrar mais informação sobre estes indicadores na
Comunicação do Comissário Almunia aos membros da Comissão
das partes interessadas, consideradas prin-
Europeia, SEC(2005) 161 final, de 9 de Fevereiro de 2005. cipais para a organização.

• Principais vantagens: Simplicidade na


Construção do metasistema construção. Personalizado e adaptável.
Capaz de contribuir com vantagens compe-
A construção do metasistema de responsa- titivas, se as expectativas forem analisadas
bilidade empresarial pode ser levado a cabo correctamente. Capacidade de comparação
por diferentes vias. parcial.
• Principais inconvenientes: Considera as
A primeira e seguida pela maioria das empre- partes interessadas como colectivos
sas, é beneficiar do sistema de ajuda que as desconexos. Favorece a estanquecidade
iniciativas internacionais proporcionam, que dos departamentos da empresa. Apenas
nos permitem conceber o nosso sistema se concentra nos esforços dos mesmos.
baseado, geralmente em aspectos relacio- Dificulta a capacidade da organização para
nados com a gestão do risco. Por isso, nesta gerar acções integradas.
secção serão revistos os metasistemas
concebidos com base em aspectos identi- As organizações que seguem este caminho
ficados por iniciativas globais, que chegaram dão-se rapidamente conta que se centram
a estabelecer códigos, normas, princípios ou na gestão do risco. No entanto, este processo
directrizes baseados em consensos de ma- não é suficiente para poder promover melho-
terialidade de carácter global, simples de rias competitivas e precisam de conceber
adaptar e que denominaremos “metasistemas sistemas que permitam a gestão da ma-
globais”. Por se tratarem de aspectos que se terialidade dos aspectos relacionados com a
gerem noutros sistemas da organização e que responsabilidade empresarial, para lá dos
são adoptados a nível global, devemos adap- padrões globais.
tá-los às envolventes locais.
Finalmente, a construção do metasistema
• Principais vantagens: Simplicidade na cons- baseado na materialidade é uma técnica da
trução. Comparabilidade. Prestígio derivado última geração que gera importantes
por seguir padrões globais. benefícios, já que se baseia na análise de
• Principais inconvenientes: Dificuldade de como a organização pode promover aspectos
adaptação dos aspectos/indicadores a do desenvolvimento sustentável da forma
envolventes concretas. Baseados, principal- mais eficiente.
mente, na gestão do risco. Contribuem com
vantagens facilmente imitáveis. • Principais vantagens: Completamente adap-
tável. Capaz de contribuir com vantagens
competitivas duradouras. Completamente

Os Indicadores para as Empresas


46

integrado na estratégia e nos sistemas de dade e compará-lo com a contribuição de


gestão. Capacidade de comparação parcial. outros agentes, com o fim de conhecer a sua
• Principais inconvenientes: Dificuldades na contribuição para a mudança.
sua construção. Necessidade de participa-
ção de numerosas partes da organização Estes aspectos locais, em comunidades que
horizontal e verticalmente. Não existe desenvolveram Agendas 21 sólidas, podemos
directriz, deve ser explorado e adaptado considerá-los como um exercício de materiali-
de forma dinâmica. dade dos aspectos que afectam a comunidade
e podem ser de grande interesse tomá-los
como referência no momento de desenvolver
Metasistema “global” aspectos -indicadores que permitam a com-
paração.
Atribui-se aos irmãos Saatchi a célebre frase
(i) Pode encontrar mais informação sobre como se realiza o processo
“Pensa global e actua local”, quando tentavam de elaboração de uma agenda local 21 em www.iclei.org
mostrar à sua organização a importância de
observar as grandes tendências, ao mesmo Por outro lado, devemos ter em conta as-
tempo que se conserva ambos os pés no pectos que podem ser considerados materiais
chão. Durante a década de noventa esta frase de uma forma comum para uma actividade
foi muito utilizada para significar que não sectorial. Existem iniciativas, a partir do ponto
estamos alheios ao efeito borboleta e assim, de vista sectorial, de grande interesse, que
ao mesmo tempo que pensamos nos mostram como gerir aspectos sectoriais para
problemas globais, é necessário actuar que estes sejam comparáveis. A sua materiali-
localmente. dade foi estudada com este carácter sectorial.

O fenómeno da sustentabilidade é local. As Um exemplo é o já citado Responsible Care,


organizações podem estudá-lo e promovê-lo na qual se incluíram indicadores comuns às
e serão organizações que trabalham a favor empresas do sector, dando lugar a um sistema
de ambientes relevantes para a sustentabi- de gestão que permite gerar dados agregados
lidade, portanto, os aspectos materiais devem e comparáveis para os seus membros, o que
ser estabelecidos, preferencialmente, a nível ajuda a melhorar. Outro caso é a metodologia
local. BSCI (Business Social Compliance Initiative),
que trata de homogeneizar os indicadores
Actividades similares em envolventes diversas que permitem avaliar as condições sócio-
possuem aspectos materiais diferentes. Cada laborais de fornecedores intensivos em mão-
empresa, em função da localização terá, -de-obra.
portanto, aspectos materiais comuns com
outras empresas da mesma natureza, no Ambas as iniciativas oferecem-nos sistemas
entanto, contará com aspectos que são de gestão de aspectos com carácter sectorial.
próprios do território e comunidade onde se
situa. Isto permite avaliar a contribuição para (i) Pode encontrar mais informação sobre os protocolos técnicos da
BSCI em www.bsci-eu.int, sobre o compromisso de progresso a nível
um desenvolvimento sustentável da comuni- internacional (Responsible Care) em www.responsiblecare.org e ao
nível espanhol em www.feique.es

Os Indicadores para as Empresas


47

Desta forma, numa empresa situada numa


Materialidade versus Comparabilidade determinada comunidade, os aspectos que
deve incluir no seu sistema têm que estar
relacionados com a sustentabilidade local, os
Materialidade Comparabilidade
Capacidade dos Capacidade dos aspectos sectoriais correspondentes à sua
indicadores em monitorizar indicadores em actividade fixados num ambiente de diálogo
aspectos relacionados com permitir comparações
os riscos e as oportuni- entre empresas.
sectorial e aqueles que se encontram ligados
dades significativas para aos consensos globais.
uma empresa.

Oportunidades Aspectos do metasistema “global”

Número
de aspectos Podem-se contabilizar em mais de seiscentas
as iniciativas de diferentes tipos e focalização
Riscos que tratam de estabelecer aspectos e indica-
dores em matéria de desenvolvimento
Nível Local Nível Sectorial Nível Global
sustentável. Existem diferentes trabalhos que
desenvolvem as intersecções, no que se refere
a aspectos de diferentes iniciativas inter-
Por último, devemos ter em conta aspectos nacionais.
que são considerados de carácter global. A
gestão de determinados recursos ou a re- O compêndio de iniciativas de indicadores de
percussão sobre o cumprimento dos direitos sustentabilidade encontra-se em:
humanos tem carácter global. Este é o caso www.iisd.org/measure/compendium/searchi
de iniciativas como o Global Compact, os nitiatives.aspx
objectivos do milénio ou o Global Reporting,
que permitem aderir o nosso sistema a Nesta referência podem procurar-se as
consensos globais, que por sua vez nos possi- iniciativas existentes, desde o nível global ao
bilitam informar e gerir os indicadores de local, em diferentes âmbitos. É uma das
forma estandardizada e, portanto, comparável. iniciativas mais completas sobre o tema.
Muitas têm sido referidas neste trabalho, além
A utilização de indicadores a nível local, das citadas, destacam-se as cinco seguintes:
relativos à empresa e aos riscos e oportunida-
des sustentáveis para o negócio afasta-nos, • Indicadores de desenvolvimento sustentável
no entanto, do objectivo de comparabilidade. das Nações Unidas. Sistema de 58 indica-
Os consensos sectoriais ou globais (iniciativas dores chave:
proxy), permitem avançar na identificação de www.un.org/esa/sustdev/natinfo/indicator
aspectos chave e portanto na comparação. s/isd.htm

Os Indicadores para as Empresas


48

• Banco Mundial. Indicadores de desenvol- evolução promovida pela referida resposta.


vimento. Sistema de 800 indicadores: Também podemos encontrar indicadores
www.bancomundial.org precursores, ao emitirem uma resposta que
• Indicadores de seguimento de susten- alcança um determinado ponto principal.
tabilidade da empresa Hydro Québec:
www.hydro.qc.ca Vemos que o indicador tem utilidade quando
• Indicadores para tomada de decisões está ligado a uma resposta. Se não ajuda à
concretas. Institut System und Innovations- gestão, a informação que nos facilita não é
forschung: www.isi.fhg.de útil.
• Grau de sustentabilidade por países.
Dashboard of Sustainability. IISD:
www.iisd.org/cgsdi/dashboard.asp Atributos de um bom indicador

Definição de indicadores do sistema Existem diferentes interpretações sobre as


características que os indicadores devem
Uma vez determinados os aspectos materiais, reunir. Resumem-se a seguir os atributos que
as organizações deparam-se com um segundo se consideraram mais relevantes:
problema: traduzir os aspectos em indicadores
que se integrem num sistema. Devemos fixar- • Relevante e neutro. Trata-se da sua qualida-
nos neste ponto, já que não se está a recorrer de principal: capacidade de informar sobre
a sistemas existentes para construir o sistema o aspecto que se deseja monitorizar, dificul-
de indicadores relevantes para a sustenta- dade em ser manipulado e reflectir o âmbito
bilidade. É desejável que esta utilização se correcto da forma mais económica.
realize numa etapa posterior. • Simples. De fácil obtenção.
• Comparável. Com capacidade de ser
A tradução dos aspectos materiais em replicado dentro e fora da organização.
indicadores pode ser definida como o • Disponível. Acessível sem restrições nos
processo de identificação de respostas, períodos que a empresa determina.
por parte da organização. Por exemplo, se • Fiável. Procedente de fontes de informação
uma organização identifica como materiais fiáveis e consistentes, com os sistemas de
as condições de trabalho da sua cadeia de controlo interno adequados.
fornecedores, a resposta da organização po- • Simples e preciso. Com capacidade de
de ser controlar: a idade dos trabalhadores, identificar as diferentes situações e detectar
a legalidade dos seus contratos, as condições alterações significativas.
higiénicas, a duração dos dias de trabalho, • Verificável. Transparente e com facilidade
etc., ou todas elas. Os programas que a em determinar da sua fiabilidade e rigor.
organização implementa para controlar ou
favorecer o cumprimento de determinados Recomenda-se que a concepção do sistema
padrões são a resposta concebida pela siga a lógica planeada, para que realmente
organização, medindo os indicadores a atenda aos aspectos relevantes e sejam

Os Indicadores para as Empresas


49

observadas alterações de acordo com os


objectivos que a empresa persegue. Muitas Conselho
organizações perguntam o que fazer com a
variedade de sistemas que já têm implemen- Muitos aspectos das directrizes Global
tados e se o caminho até à sustentabilidade Reporting Initiative que são referidos nos
lhes vai requerer um novo. seguintes epígrafes, foram desenvolvidos
por empresas que decidiram elaborar
As tendências mais modernas e flexíveis relatórios de sustentabilidade denomi-
partem do princípio inverso: como a identifi- nados “in accordance” , traduzindo-os
cação da materialidade pode fornecer em indicadores. Assim, pode ser útil a
informação valiosa aos sistemas de gestão consulta dos relatórios, existentes na
existentes e como podemos fazê-los actuar base de dados de relatórios, em
de uma forma mais integrada. www.globalreporting.org.

A determinação dos aspectos materiais do


desenvolvimento sustentável apenas inclui,
na maior parte das organizações geridas de Aspectos relacionados com a dimensão
forma adequada, novos requisitos no método económica
de informação da actividade empresarial,
especialmente na informação relativa ao A maior parte das organizações considera
negócio, à acção social e a criação de valor que os indicadores económicos do seu
directo e indirecto. O verdadeiro desafio situa- desempenho se encontram abrangidos pelos
se na flexibilidade dos sistemas da orga- indicadores financeiros. No entanto, estes
nização para introduzir novos aspectos e
incorporá-los nos processos de tomada de
decisões.

Passos chave na construção do sistema de indicadores

Análise Determinação Definição Concepção


do meio de aspectos das respostas de sistema
envolvente materiais da organização de indicadores

Concepção do Concepção de Seguimento,


planeamento planos de acção avaliação
estratégico e tomada de
decisões diária

Os Indicadores para as Empresas


50

centram-se principalmente na rentabilidade empresa. Este aspecto é mais importante


de uma organização, com o objectivo de quanto maior for o gap de rentabilidade das
informar a sua direcção e os seus accionistas. comunidades em que opera.
Os indicadores económicos, pelo contrário,
estudam o modo como as organizações
afectam as partes interessadas com que Impactos económicos indirectos
interactuam de forma directa e indirecta.
Portanto, a prioridade das medidas de
desempenho económico é a de assinalar Em linhas gerais, o impacto económico total
como influência o nível económico das partes de uma organização engloba os impactos
interessadas, em consequência das activi- indirectos causados por factores externos
dades da organização, mais do que como que afectam as comunidades como os custos
mudam em consequência das condições ou benefícios resultantes de uma transacção,
financeiras da mesma empresa. Em certos que não se reflectem totalmente no valor
casos, estas avaliações podem encontrar-se monetário da mesma. Considera-se comuni-
nos indicadores financeiros já existentes. dade todo um conjunto de indivíduos, desde
Noutros, no entanto, podem ser necessárias um colectivo a um país, ou inclusivamente a
medidas distintas, como a reformulação da uma comunidade de interesses, como por
informação financeira tradicional, para realçar exemplo, um grupo minoritário dentro de uma
o impacto nas partes interessadas. Neste sociedade.
contexto, consideram-se os accionistas como
uma das muitas partes interessadas. A dimensão económica tratada pela avaliação
das empresas integrantes de Dow Jones
A GRI estabelece impactos económicos Sustainability Indexes (DJSI) tem uma
directos e indirectos: orientação distinta. Esta avaliação baseia-se
principalmente em aspectos da qualidade da
gestão. A análise realiza-se a partir de um
Impactos económicos directos questionário que inclui aspectos gerais e
específicos de cada sector.

Os indicadores económicos sobre os Aspectos gerais da dimensão económica da


impactos directos centra-se no cálculo dos DJSI:
fluxos monetários entre a organização e as
suas principais partes interessadas e em • Governo corporativo.
assinalar como as circunstâncias económicas • Relações com os investidores.
das referidas partes são afectadas pela • Planeamento estratégico.
organização. • Sistemas de medição para a gestão.
• Gestão do risco e das crises.
Estes devem reflectir o âmbito geográfico • Códigos de conduta.
onde ocorrem as entradas, como a distribui- • Gestão das relações com clientes.
ção dos fluxos económicos directos da

Os Indicadores para as Empresas


51

Deste modo podemos considerar duas formas


Fluxos monetários de Aracruz de ver a criação de valor económico. Seguindo
a focalização clássica proposto pelo DJSI, os
colectivos que geram valor directo à empresa
Geração de riqueza de 1989 a 2001 são prioritários (clientes e accionistas), o resto
(milhões de $) dos mesmos são observados como indirectos
e são centrados nas implicações sociais e
ambientais da sua relação. Esta focalização,
do ponto de vista dos analistas de investimen-
Fluxo
Infra-estrutura
to, pretende detectar a credibilidade que a
de
Maquinaria,
equipamento
efectivo 66,4 organização tem para a sua continuidade no
299,7
e floresta
2.898,1
Impostos futuro.
492,2 Doações
Caixa 28,1
299,7
Reinvestimento Salários
Comunidade
2.898,1
586,7 596,5
Indicadores de gestão empresarial
Trabalho Obrigações
1.179,8 sociais 318,1
Diferentes agências de rating desenvol-
Fornecedores Remuneração
Benefícios
sociais
veram indicadores de gestão empresarial
2.333,7 de capital
1.525,5
voluntários
265,2
que nos podem ajudar a interpretar a ma-
Compra Dividendos terialidade dos aspectos relacionados
430,9
de materiais
e serviços com este tema, cada vez mais importante.
2.33,7 Custos
financeiros
1.092,6 Um exemplo é o rating elaborado pela
Agência Standard&Poor´s, que concebeu
um ranking de empresas melhor geridas,
Fonte: Aracruz
cujos indicadores, divididos em quatro
secções, encontram-se disponíveis em
Depois de uma primeira geração de www.standardandpoors.com.
sistemas de indicadores sem que fossem
acrescentados novos indicadores
económicos aos financeiros da empresa, Novos indicadores económicos
impuseram-se novas formas de ver os
aspectos económicos das empresas Este é um tema de grande interesse, já que
baseadas nos fluxos económicos das as empresas não se encontram satisfeitas
diferentes partes interessadas. Exemplos com as tendências predominantes. Muitas
interessantes desta representação podem empresas alegam que na visão GRI, ao tratar
encontrar-se numa das primeiras empre- as partes interessadas de forma individua-
sas que utilizou este modo de represen- lizada, os aspectos e indicadores derivados
tação: a celulose brasileira Aracruz. não são homogéneos.
(i) Pode encontrar mais informação sobre a Aracruz em
www.aracruz.com

Os Indicadores para as Empresas


52

A primeira dificuldade encontra-se na focali-


zação nos stakeholders da dimensão económi- sustentável trata de dar valor a muitos
ca o que gera uma distorção na definição de destes, debaixo de um guarda-chuva
indicadores para muitas empresas, que comum. Embora o estudo deste interes-
preferem desenvolver uma focalização por sante campo transcenda o objectivo
dimensões. desta Publicação, como prova da sua
importância e actualidade, podemos citar
A segunda é de carácter conceptual. Levado os avanços realizados nas novas normas
ao absurdo, uma empresa que melhora até internacionais de contabilidade.
ao infinito os rendimentos das partes inte-
ressadas poderia chegar ao ponto de repartir Esta nova norma contabilística para
tudo o que representa e desaparecer com ela empresas cotadas introduz novidades na
a capacidade de criação de riqueza futura. valorização incipiente destes activos, já
que estima a necessidade de conhecer
A terceira é de carácter formal. Os lucros dis- o valor razoável e o conceito de valor
tribuídos com as diferentes partes interessa- recuperável. Os avanços neste campo
das encontram-se em diferentes posições da servem de directriz para os próximos
demonstração de resultados e do balanço. anos e servirão de impulso à gestão de
Muitas organizações opõem-se a oferecer, sustentabilidade. Para conhecer mais
por exemplo, somas agregadas de tributos sobre este interessante campo de estudo
pagos e imposto de sociedades segundo o podem ser consultados os trabalhos
epígrafe de taxas e impostos atribuídos ao(s) realizados por:
Estado(s), já que poderia dar lugar a confusão
para um observador financeiro. • Escola de negócios ESADE
www.esade.edu
• Associação Espanhola de Contabilidade
Valor razoável dos activos intangíveis (AECA) www.aeca.es
• Instituto de Análise de Intangíveis
Existem numerosas definições de activo • Foro de Reputação Empresarial
intangível que convergem em definir como www.reputacioncorporativa.org
tal, aqueles que são uma origem provável Valorizações nas Normas Internacionais
de benefícios económicos futuros, que de Contabilidade (NIC) www.iasb.org
carecem de matéria física e que são • NIC 36 sobre deterioração do valor dos
controlados pela empresa como resultado activos (IAS 36 nas suas siglas em
de eventos anteriores ou transacções inglês)
(Cañibano, García-Ayuso e Sánchez, 1999). • NIC 38 sobre activos intangíveis (IAS
38 nas suas siglas em inglês)
É inquestionável a importância crescente
dos recursos e activos intangíveis no
sucesso empresarial dos nossos dias. Na visão DJSI, a informação que é necessária
De facto, a incorporação do conceito para gerir os referidos aspectos, geralmente

Os Indicadores para as Empresas


53

encontra-se completa nos relatórios anuais Responsible Economies) e o Instituto Tellus,


das sociedades cotadas e portanto suportada como a maior parte das pessoas que
por sistemas de gestão e indicadores. Em integraram as equipas de redacção, provinham
empresas mais pequenas, de igual forma, da área ambiental. A primeira directriz de
estes aspectos encontram-se geridos e fazem trabalho do ano 2000, de facto, tinha como
parte do management, caso contrário não principal problema estar muito orientado para
existem. os aspectos ambientais. Às outras iniciativas
que partiram de organismos diferentes
A tendência futura é que os aspectos ocorreram questões semelhantes, no entanto,
económicos clássicos venham a perder é certo que os aspectos ambientais das
terreno surgindo de forma emergente novos organizações têm um nível de maturidade
aspectos mais interrelacionados com as superior e portanto, são conceptualmente
dimensões social e ambiental, prognos- mais simples de conceber. Isto não quer dizer
ticando-se uma geração seguinte de relatórios que sejam fáceis de traduzir em indicadores.
muito mais integrados.

Embora os impactos indirectos derivados das Maturidade das respostas


actividades económicas da empresa tenham
dificuldades diferentes, podemos encontrar
aspectos materiais na: A definição dos indicadores e a sua utilidade
encontram-se ligadas, em grande medida, à
• Contribuição para o emprego nas comuni- maturidade das respostas que a empresa
dades locais. possui, no que diz respeito aos aspectos
• Investigação e desenvolvimento. materiais. Devemos começar por dispor de
• Contribuição para o bem-estar através de um objectivo e de uma resposta para planear
produtos e serviços que se lançam no um indicador. Isto é, devemos, pelo menos,
mercado. dispor de um sistema e de uma política para
• Contribuição para melhorar o funcionamento que este, também, tenha utilidade.
das instituições.
• Transparência nas contribuições às adminis- Mas ainda que pareça surpreendente, a maior
trações públicas e nas políticas face ao parte das empresas que possuem indicadores
suborno e corrupção. não são capazes de entrar em consenso com
• Criação de valor para a comunidade a partir os objectivos de melhoria. Isto na prática
das infra-estruturas da empresa. significa que as respostas das empresas aos
desafios do desenvolvimento sustentável
Aspectos relacionados com a dimensão encontram-se, ainda, numa etapa incipiente.
ambiental Existem múltiplas empresas que já desenvol-
veram políticas, existe um número menor que
Quando, em finais dos anos 90, se começou tem planos de acção com objectivos concre-
a conceber a Global Reporting Initiative (GRI), tos e o número reduz-se ainda mais quando
tanto a CERES (Coalition for Environmentally pensamos naquelas que, além disso, possuem

Os Indicadores para as Empresas


54

um sistema de indicadores que permite a Novos indicadores na dimensão


melhoria contínua nas três dimensões do ambiental
desenvolvimento sustentável, de forma homo-
génea e disponível ao público. O desenvolvimento dos indicadores am-
bientais esteve ligado, em grande medida, à
Normas como ISO 14001, ou o regulamento produção de contaminantes de substâncias
de ecogestão e ecoauditoria europeu (EMAS), perigosas para a saúde humana e ambiental.
ISO 14031 ou 14064, deram um importante Sem prejuízo da necessidade de reforçar a
contributo para o progresso na determinação medição dos efeitos no ambiente das substân-
da materialidade e exactidão dos indicadores cias que utilizamos, a capacidade de transferir
ambientais a nível local, pelo que não será um contaminante de um meio para outro,
aqui aprofundado este aspecto. deixou parcialmente invalidados estes in-
dicadores como ferramentas de gestão
Convém realçar que cada vez em maior me- empresarial, científica. Um efluente de uma
dida, os indicadores da dimensão ambiental fábrica pode ser evaporado transformando o
vão sendo influenciados pelo aparecimento efeito poluente local em efeito global como
de novos indicadores, que não se restringem é, por exemplo, o caso dos gases precursores
ao paradigma clássico pressão-estado- do aquecimento global que serão emitidos a
-resposta (ver página 46). centenas de quilómetros, na central energética
que gerou a electricidade para evaporar o dito
resíduo.
Indicadores ambientais básicos da
União Europeia Nos anos 80 iniciaram-se os primeiros estudos
sobre indicadores que integram os efeitos
A Agência Europeia do Ambiente acumulativos, ligados à quantidade de
encomendou numerosos trabalhos que materiais e energia necessária para produzir
estudam diferentes sistemas de o bem e o serviço que presta (MIPS, Material
indicadores. Em 2005 a Agência publicou Intensity Per unit of Service. Wuppertal
a directiva de indicadores ambientais Institute). Esta nova geração de indicadores
básicos da União Europeia (Technical ligados ao ciclo de vida dos produtos tem-se
Report Nº 1/2005). vindo a desenvolver de forma experimental
desde então, podendo-se agora encontrar
(i) Pode encontrar mais informação sobre modelos de indicadores
ambientais clássicos e a sua determinação em função de dife-
desenvolvimentos conceptuais muito inte-
rentes métodos em www.eea.eu.int/indicators ressantes.

Fonte: Agência Europeia do Ambiente

Os Indicadores para as Empresas


55

Exemplos de indicadores de eco segundo um sistema de indicadores


eficiência utilizados por empresas validado pela Universidad Rey Juan Carlos
de Madrid, o estabelecimento de objec-
TEPCO (Tokyo Energy Power Co) tivos ambientais quantificados, rela-
Indicador=Vendas / Carga ambiental + cionados principalmente com a eco
Consumo de combustíveis fósseis eficiência das obras e o seu nível de
execução e o nível de cumprimento da
(i) Pode encontrar mais informação sobre os indicadores na
legislação aplicável e a implicação dos
TEPCO em www.tepco.co.jp
expedientes administrativos sancionado-
res de carácter ambiental. O algoritmo
Procter and Gamble do ICM tem sido validado pela Universida-
Indicador= Quantidade de materiais de Rey Juan Carlos e conta com o apoio
vendidos/materiais comprados institucional da Cátedra Unesco de Meio
Ambiente. A sua evolução histórica
(i) Pode encontrar mais informação sobre indicadores de eco
mensal pode ser consultada em
eficiência na Procter and Gamble em www.pg.com
www.ferrovial.com/medioambiente

(i) Pode encontrar mais informação sobre o indicador integrado


da Ferrovial em www.ferrovial.es
Indicador de comportamento
ambiental da Ferrovial
Outros aspectos de interesse nos indicadores
250 Mau
ambientais são as novas abordagens
relacionados com esta temática, que se
200 Melhorável
encontram para lá das questões do sistema
150 Aceitável
produtivo clássico, mas que são assuntos
100 Bom materiais importantes do comportamento
50 Excelente ambiental da empresa, tais como:
0
dez abr ago dez abr ago dez abr ago dez abr ago dez
• O impacto ambiental das matérias-primas
00 01 01 01 02 02 02 03 03 03 04 04 04 utilizadas pelos seus fornecedores ou pelos
seus produtos.
Avaliado por: • A ocupação e a utilização do território por
parte das empresas.
Fonte: Ferrovial
• A protecção da biodiversidade.

O Índice de Comportamento ambiental


(ICM) da Ferrovial valoriza simultanea-
mente o impacto ambiental da actividade
nos centros de produção, medido

Os Indicadores para as Empresas


56

A BP e as alterações climáticas que das directrizes desenvolvidas, de grande


produzem os seus produtos interesse pelo seu conteúdo e metodo-
logia para a concepção de indicadores
de biodiversidade, para o controlo do
De onde procedem as
impacto e as acções de conservação na
emissões de gases
de efeito estufa?
indústria de exploração e produção de
petróleo e gás.
24 500 milhões
de toneladas (Mton) (i) Pode encontrar mais informação sobre os indicadores de
procedem da impacto na biodiversidade em www.theebi.org
utilização de energia
fóssil*

1 376 Mton de Aspectos relacionados com a dimensão


utilização dos produtos social
vendidos pela BP
82 Mton das operações Existe actualmente um grande interesse pelo
próprias da BP
desenvolvimento dos indicadores sociais,
732 Mton da gasolina dado que até finais dos anos 90 o contexto
586 Mton dos combus- estava centrado, fundamentalmente, em
tíveis e lubrificantes questões ambientais e de prevenção de riscos
58 Mton dos produtos
laborais. As normas e directrizes adoptadas
químicos pelas organizações internacionais continuam
a ser a principal referência para as empresas
* Agência Internacional de Energia, 2002. Administração Americana no momento de publicar a sua actuação
de informação sobre energia. social.
(i) Pode encontrar mais informação sobre indicadores de contribuição
para alteração climática da BP em www.bp.com
Os aspectos da dimensão social introduzidos
pelos principais padrões procuram respostas
principalmente em:
Indicadores de protecção da
biodiversidade da indústria petrolífera • Formação e desenvolvimento profissional
de capacidades.
Em 2002, um grupo de empresas do • Direitos humanos.
sector petrolífero iniciou o desenvolvi- • Saúde e segurança.
mento de políticas e sistemas de • Contribuições à comunidade.
actuação do sector, em âmbitos onde a
biodiversidade é material em actividades Nesta secção vai ser relatado o desenvolvi-
de exploração e desenvolvimento. mento de indicadores que ultrapassam os
dados numéricos tradicionalmente gerados.
Biodiversity Indicators for Monitoring
Impacts and Conservation Actions é uma

Os Indicadores para as Empresas


57

Aspectos que se podem encontrar em atender as necessidades dos investidores,


indicados nas Directrizes GRI 2002 quando era muito mais fácil encontrar um
banco para financiar um projecto do que en-
Emprego
contrar pessoas dispostas a cumprir os
Relação empresa/trabalhadores
Saúde e segurança
objectivos do mesmo.
Formação e educação
Diversidade e oportunidade O capital humano, a atenção e a capacidade
Estratégia e gestão de atracção do talento são capitais importan-
Não discriminação tes das empresas que, cada vez em maior
Liberdade de associação e negociação colectiva número, estão a desenvolver respostas mais
Trabalho infantil adequadas.
Trabalho forçado e obrigatório
Medidas disciplinares
Nestes aspectos, podem-se destacar por um
Medidas de segurança
Direitos Humanos lado os indicadores de desenvolvimento de
Contribuições para a comunidade capital intelectual e por outro, os de retorno
Corrupção e suborno do investimento na formação.
Contribuições políticas
Concorrência e preços
Saúde e segurança do cliente Skandia e as suas medições de capital
Produtos e serviços intelectual
Práticas publicitárias
Respeito pela intimidade e protecção de dados
A estratégia da Skandia baseia-se em
Aspectos valorizados no Dow Jones três áreas principais: o investimento no
Sustainability Index talento, o desenvolvimento da cultura da
Práticas laborais
empresa e a valorização do talento das
Desenvolvimento de capital humano pessoas da organização. Esta empresa
Atracção e retenção do talento desenvolveu em 1998 o primeiro relatório
Gestão do conhecimento anual sobre capital intelectual, com o
Padrões nos fornecedores consequente desenvolvimento estratégi-
Compromisso e diálogo com os grupos de interesse co e de indicadores que foi precursor do
Informação anual de temas sociais movimento na gestão empresarial.
Saúde e segurança no trabalho
Filantropia e enquadramento com o negócio
O capital intelectual surge da interacção
entre o capital humano e o estrutural,
onde a renovação contínua transforma o
Formação e desenvolvimento
conhecimento individual em valor para a
profissional
organização.

O esquema Skandia de valor demonstra


Recentemente, o professor Gosham declarou
que o capital intelectual é formado pelo
à Financial Times, que não entendia por que
é que as empresas estavam tão centradas

Os Indicadores para as Empresas


58

capital humano e pelo capital estrutural Monitor de activos intangíveis


(Capacidade de relação com os seus Desenvolvido por Karl Erik Sveiby, baseia-
clientes e capacidade organizativa para -se em considerar a composição dos
a adaptação ao ambiente). O capital activos intangíveis como a estrutura exter-
intelectual avalia-se descontando do na, a estrutura interna e as competências
excesso de rentabilidade da empresa, das pessoas, desenvolvendo indicadores
em comparação com os seus concor- de crescimento e desenvolvimento, indi-
rentes, o valor presente. cadores de eficiência e indicadores de
estabilidade.
(i) Pode encontrar mais informação sobre a Skandia Navigator
em www.skandia.com, secção investidores, relatórios de 1998
Human Capital Transformation.
(i) Existem numerosos indicadores, descritos pelo professor Sveiby,
para a medição de aspectos relacionados com o capital intelectual,
que são de grande interesse, em www.sveiby.com
Outros aspectos materiais desta dimensão,
no âmbito do desenvolvimento profissional, Também convém destacar o desenvolvimento
referem-se aos indicadores relacionados com de indicadores em temas emergentes e de
aspectos derivados da gestão de: grande interesse como:

• Políticas de captação de talento. • Satisfação dos colaboradores. Exemplos:


• Formação de quadros. Relatório de sustentabilidade de Endesa
• Gestão do conhecimento. 2004 e Relatório de responsabilidade social
• Gestão por competências. 2004 da Repsol YPF
• Remuneração e incentivos. • Conciliação da vida profissional e familiar.
Exemplo: Relatório anual de E.on
www.eon.com
Exemplos de modelos em • Diversidade de modelos. Exemplo: Relatório
desenvolvimento de sustentabilidade do Cooperative Bank
2002, 2003 e 2004.
Value Explorer • Políticas de remuneração. Exemplo:
Modelo desenvolvido por Daniel Relatório anual 2004 da BHP Billiton
Andriessen, que trata de definir compe- www.bhpbilliton.com
tências essenciais de uma empresa com
a finalidade de identificar indicadores
com os quais estrutura relatórios de capi- Direitos humanos
tal intelectual. Ver também “Intellectual
Capital Benchmarking System” (ICBS).
As empresas são, por diversas vezes, palco
(i) Consulte os trabalhos sobre ICBS do professor Josep María
Viedma, Internacional Journal of Technology Management
das críticas da sociedade que acredita que o
2000, Vol 20 N 5/6/7/8 pp. 799-818 seu comportamento possa conter situações
em que se violam os direitos humanos.

Os Indicadores para as Empresas


59

Estes aspectos têm especial relevância


naquelas organizações que produzem, A norma SA8000
distribuem ou têm os seus fornecedores em
países com instituições débeis. A norma SA 8000 foi criada em 1997 pela
organização norte-americana hoje
As convenções internacionais de direitos denominada Social Accountability
humanos, bem como as convenções da Internacional (SAI), procurando garantir
Organização Internacional do Trabalho, são os direitos básicos dos trabalhadores,
os elementos de referência mais utilizados princípios éticos e sociais. Esta norma é
na elaboração de padrões e códigos de baseada nas Convenções da Organização
conduta. Internacional do Trabalho, na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, na
(i) Pode encontrar mais informação sobre indicadores de condições Convenção das Nações Unidas sobre os
laborais na Organização Internacional do Trabalho www.ilo.org

Principais aspectos sociais que as empresas têm em consideração nos seus relatórios
de responsabilidade empresarial. Estudo internacional sobre relatórios de responsabilidade
empresarial da KPMG (2005)

Princípios fundamentais do trabalho Condições de trabalho

Tema % Tema %

Diversidade 68 Prevenção de riscos laborais 72


Igualdade de oportunidades 61 Formação 72
Direitos humanos 51 Condições de trabalho 62
Negociação colectiva 33 Satisfação do empregado 32
Trabalho infantil / Trabalhos sob coação 30
Liberdade de associação 27

Participação na comunidade Filantropia

Tema % Tema %
Altruísmo 74
Programas de educação e formação 65 Fundações 47
Implicação de empregados (voluntariado) 58
Programas médicos 40
Sida/HIV 29
Projectos de fornecimento de água 11

A % refere-se à proporção de relatórios tratados por cada aspecto


(i) O estudo está disponível em www.kpmg.es

Os Indicadores para as Empresas


60

Direitos da Criança e tudo isso sustentado Saúde e segurança


sob um sistema de gestão que segue os
modelos ISO.
O princípio 1 da Declaração do Rio diz que
Tem nove áreas principais sobre as quais “os seres humanos são o centro das preocu-
se fixam os requisitos para a política, pro- pações do desenvolvimento sustentável. Eles
cedimentos e práticas da empresa: traba- são os protagonistas de uma vida saudável
lho infantil, trabalhos sob coacção, saúde e produtiva em harmonia com a natureza”.
e segurança, liberdade de associação e
direito à negociação colectiva, discri- A saúde e a segurança das pessoas que
minação, medidas disciplinares, horário desenvolvem o seu trabalho profissional na
de trabalho, remuneração e sistemas de organização são tarefas básicas. A maior parte
gestão. dos sistemas de monitorização e melhoria
contínua têm como principais indicadores os
A grande novidade desta norma é que, que a lei determina.
aqueles que desejam obter a certificação,
(i) Pode encontrar mais informação sobre indicadores, materialidade
têm de garantir que os seus fornecedores e boas práticas na Agência Europeia para a Segurança e a Saúde,
e contratados também a cumprem, no trabalho www.agency.osha.eu.int. Destaca-se que o número 54
estendendo desta forma a responsa- da sua publicação (FACTS) dedica-se à relação entre aspectos
materiais da prevenção de riscos laborais e a responsabilidade social
bilidade a toda a cadeia de valor. das empresas.

(i) Pode encontrar mais informação SA8000 em www.cepaa.org


Um dos problemas principais em organizações
transnacionais é a heterogeneidade dos
critérios existentes para o cálculo dos
Muitas vezes esquecemo-nos de que o res-
indicadores e que pode dar lugar a problemas
peito pelos direitos humanos nos países
de fiabilidade dos resultados.
desenvolvidos também tem importância. Um
exemplo encontra-se na vigilância das condi-
ções laborais dos fornecedores e empresas Assuntos Aspectos
em sectores críticos, como o da construção, Organizacionais, Segurança industrial
o têxtil e o agro-alimentar, especialmente sim- relacionados com a
ples e que podem levar a situações injustas. estrutura e compromisso
da empresa
(i) Para encontrar mais informação sobre indicadores sociais relacionados
Técnicos, relacionados com Higiene industrial
com os direitos humanos em países desenvolvidos, visite o relatório
a execução dos programas
de responsabilidade social da Inditex (www.inditex.com) ou Eroski
(www.eroski.es).
Económicos, relacionados Medicina preventiva
com o custo dos programas e do trabalho

Normativos, relacionados Expedientes, sanções,


com o cumprimento das queixas
normas

Os Indicadores para as Empresas


61

Contribuições à comunidade que, decorrido um período, será repartida


entre os trabalhadores de acordo com
uma tabela relativa ao risco ou perigosi-
Uma das principais dificuldades no desen- dade, responsabilidade, etc...
volvimento inicial da responsabilidade
(i) Para encontrar mais informação sobre empresas com objectivo
empresarial numa empresa, encontra-se em
de acidentes zero pode consultar:
fazer a organização compreender que o ca- www.bp.com, www.statoil.com ou www.endesa.es
minho a empreender tem como fim principal
valorizar a contribuição monetária com que
Deveríamos estar convencidos, nesta altura
a empresa acredita devolver parte dos benefí-
da leitura desta Publicação, que as contri-
cios económicos que obtém à sociedade.
buições da empresa para a comunidade são
feitas em diferentes dimensões. As contri-
buições filantrópicas de carácter monetário,em
Simplicidade e contundência: zero certa medida, deveriam situar-se na dimensão
acidentes económica e não social.

A importância de assuntos como a segu- As contribuições filantrópicas encontram-se,


rança das pessoas que trabalham nas em grande parte, separadas da actividade da
instalações da nossa empresa requer me- empresa, já que em demasiadas ocasiões,
didas contundentes e simples. Podemos não respondem a uma estratégia previamente
encontrar inúmeros exemplos em diferen- estabelecida pela empresa, se não se desen-
tes indústrias, como a do petróleo, a volverem com um carácter discricional. Em
química ou a farmacêutica, onde o objec- certos momentos, esta circunstância provém
tivo exigido é zero acidentes. Este tipo das unidades de negócio da empresa, que
de indicadores, facilmente compreensíveis tratam de utilizar estes fundos para estabele-
e que procuram a perfeição do sistema, cer ou melhorar relações com determinados
encontram-se ligados aos incentivos dos agentes, enquanto noutros momentos trata-
que trabalham nas instalações de forma -se simplesmente de prurido dos gestores
directa. Deste modo, a empresa dispõe destes fundos. O certo é que as contribuições
de forma genérica de duas ferramentas, monetárias à comunidade são uma parte
que são utilizadas de diferentes formas relevante da sua relação e assim seria desejável
de acordo com a cultura da empresa. contar com uma estratégia comum e sinérgica
Uma prática cada vez mais comum liga em áreas da eficiência.
o objectivo ao bónus dos directores e
técnicos, não ao dos operários. Caso Identificaram-se dois atributos principais na
ocorram acidentes, do próprio pessoal gestão das contribuições à comunidade.
ou contratado, os salários variáveis ficam O primeiro deles é a clareza de objectivos.
reduzidos numa percentagem. Uma se- O dilema surge quando, por um lado, deve
gunda modalidade é a bolsa de incentivo responder a necessidades reais das

Os Indicadores para as Empresas


62

comunidades em que operamos e, por outro,


deve ser identificável para poder ser mas em países em vias de desenvolvi-
comunicado. mento e quantificação do impacto real.

•Objectivos:
Quando o importante são as necessi- http://www.un.org/spanish/millenniumgoals
dades básicas das comunidades em • Indicadores:
que operamos: Objectivos do milénio http://www.undp.org/spanish/mdgsp
/mdgtablesp.pdf
Em Setembro de 2000, dirigentes de todo •Recursos e referências úteis:
o mundo reuniram-se na sede central das http://spanish.millenniumcampaign.org
Nações Unidas em Nova Iorque com
o propósito de fixar uma ambiciosa
agenda, que tivesse como finalidade
paliar as principais carências que Voluntariado corporativo
impedem o desenvolvimento dos países
mais pobres. A este respeito fixaram-se Uma interessante prática emergente é a
os conhecidos como “Objectivos do ligação entre as pessoas da empresa e
milénio”. as contribuições sociais que esta leva a
cabo. As empresas tratam de fazer
Estes objectivos compreendem: reduzir participações aos funcionários, mediante
para metade a pobreza extrema e a fome; a sua contribuição, com tempo remunera-
conseguir o ensino básico universal e a do em acções de voluntariado corpo-
igualdade entre os sexos, reduzir a mor- rativo. A empresa apoia geralmente estas
talidade de menores de cinco anos e a acções com contribuições monetárias e
mortalidade materna, em duas terças em espécie através das horas cedidas.
partes e em três quartas partes respecti- As ONG locais ficam beneficiadas por
vamente; travar a propagação do HIV/ contar com pessoal qualificado para
/SIDA e o paludismo e garantir a susten- realizar acções e fundos para o
tabilidade do meio ambiente. Também desenvolvimento de projectos. Os funcio-
compreendem o objectivo de fomentar nários da empresa que participam
uma associação mundial para o desen- voluntariamente, consideram, geralmente,
volvimento, com metas para o apoio, o estas acções como incentivadoras e
comércio e o alívio da carga das dívidas. capazes de desenvolver novas com-
petências, que também são úteis para a
Uma característica interessante destes empresa.
objectivos é que se encontram traduzidos
em indicadores quantificáveis, que são Pontos-chave para o estabelecimento de
seguidos anualmente em todo o mundo, programas de voluntariado corporativo:
com os quais se constituem valiosas
referências para a execução de progra-

Os Indicadores para as Empresas


63

• Credibilidade: é necessário contar com participam e as organizações que os


uma estratégia clara de responsabili- acolhem, de forma a que o conheci-
dade empresarial que reflicta os valores mento empresarial da melhoria contínua
da empresa, enquadrada com a estra- se reflicta também nestes programas.
tégia de negócio, a visão e a missão • Parcerias com as ONG: as empresas
da empresa. devem estabelecer uma relação de
• Informação: é necessário contar com confiança mútua, transparência e coor-
as ferramentas de comunicação denação nos programas, de forma que
adequadas para obter o interesse, o estes se desenvolvam conjuntamente.
reconhecimento e a participação dos
funcionários. (i) Iniciativas interessantes

• Liderança: os programas com mais


Fundação Chandra. Programas de voluntariado
sucesso são apadrinhados pelos
de diferentes empresas como VIPs, DKV Seguros
líderes das empresas, que participam ou ONO
nos programas juntamente com os www.voluntariado.org
funcionários. Programa de voluntariado para funcionários.
• Infra-estrutura: as empresas necessitam Comunidade Valenciana
de saber como vão operar, definindo http://www.solidaridadyvoluntariado.org/planestr
ategico.jsp
um programa e os recursos que vão
Programa de voluntariado corporativo da Telefónica
ser destinados. Existe a convicção de http://www.fundacion.telefonica.com.ar/voluntariado/
pensar que o voluntariado corporativo Prémios Codespa de voluntariado corporativo
limita-se a doar horas excedentes. www.codespa.org
• Formação: a acção na comunidade, ou
no meio ambiente, requer uma forma-
ção prévia. Os programas devem incluir Não é o objectivo desta Publicação em de-
sessões formativas especializadas senvolvimento conceptual para resolução
antes de entrar em acção. deste dilema, mas ao analisar empresas do
• Reconhecimento: a empresa deve meio pode verificar-se a extensão deste
apoiar os programas tratando de obter problema.
retornos da relação em termos de
motivação e desenvolvimento de deter- O segundo grande desafio é a transparência.
minadas capacidades nos colaborado- Muitas vezes as contribuições à comunidade,
res da empresa, mas também deve quer seja em bens, infra-estruturas ou
reconhecer o esforço e a contribuição contribuição monetárias, podem ter utilidades
destes de forma constante, especial- ou interpretações indevidas. Assim, é
mente nos momentos de promoção importante contar com uma política que
interna. estabeleça como se levam a cabo, se
• Avaliação: os programas devem ser controlam e se informam da sua realização.
constantemente avaliados pela Isto é especialmente importante em relação
empresa, os colaboradores que às contribuições a grupos com interesses

Os Indicadores para as Empresas


64

competitivos concorrentes, como partidos


políticos ou grupos religiosos, bem como no • Assegurar que o processo inclui todas
caso de administrações públicas, interme- as empresas que operam no país.
diários ou lobby. • Assegurar que as ONG se encontram
envolvidas no processo.
• Levar a cabo um plano de trabalho que
EITI. Iniciativa para a transparência garanta estas condições a longo prazo.
das indústrias extractivas
Países assinantes (Junho 2005): Os
A Iniciativa para a Transparência das países fundadores foram Azerbeijão,
Indústrias Extractivas tornou-se pública Gana, República de Quirguistão e Nigéria.
pelo Primeiro-Ministro do Reino Unido, Encontram-se em negociações Angola,
Tony Blair, na Cimeira Mundial para o Chade, República do Congo, Gabão, São
Desenvolvimento Sustentável de Tomé e Príncipe, Perú e Trinidade e
Joanesburgo, em Setembro de 2002. Tobago.
O seu objectivo é aumentar a transpa-
rência nos pagamentos das empresas Esta iniciativa foi impulsionada em
aos Governos e a transparência das conjunto com o Governo Britânico e pela
contribuições recebidas pelos mesmos organização Transparency Internacional,
Governos. e a elaboração de relatórios como o
Índice de percepção de corrupção (CPI),
Esta iniciativa pretende incentivar, atra- Pagamento de subornos (BPI) ou o
vés da transparência, que as receitas Barómetro global de corrupção.
procedentes das empresas mineiras,
(i) Mais informação sobre a iniciativa EITI
petrolíferas e de gás na forma de impos- http://www.eitransparency.org
tos, royalties, antes das assinaturas de Pode encontrar políticas de comportamento empresarial, no
contratos e outros pagamentos, repre- caso de contribuições à comunidade em www.transparency.org

sentem um importante motor financeiro


para o crescimento económico e para o
desenvolvimento social nos países em
desenvolvimento e em transição.

Os países subscritores comprometem-


-se a:

• Levar a cabo auditorias independentes


dos pagamentos recebidos pelas
empresas.
• Publicar os pagamentos recebidos pe-
las empresas e estas pelos Governos.

Os Indicadores para as Empresas


65

Comunicar através de um
Tipologias de informadores
relatório

As estratégias de desenvolvimento sustentável Comportamento Proprietários


Líderes
empresarial têm como principal desafio obter de tesouros
a confiança das partes interessadas num
modelo de negócio que favoreça os seus Ausentes Piratas
interesses. De forma simplificada, poderíamos
dizer que, para tornar real esta posição
precisamos de dois componentes óbvios. Por Comunicação
um lado, de um comportamento que responda
às inquietudes e expectativas, questão que
tivemos oportunidade de analisar sumariamen-
te durante a análise de materialidade e respos- Existem organizações que estão a fazer
ta e por outro, uma comunicação adequada importantes esforços para adicionar valor
que permita tornar visível e fiável a mensagem. ao seu compromisso responsável (líde-
res), mas são uma minoria. A maior parte
do tecido empresarial está ausente desta
corrente e com isso perderá competiti-
Reputação =
vidade no futuro próximo. Muitos dos
comportamento x comunicação
gestores queixam-se da variedade de
empresas que, com um fraco desem-
penho, fazem grandes esforços de
As empresas adaptam este binómio à sua comunicação e fazem pensar que o
cultura empresarial de formas muito distintas. desenvolvimento sustentável é para as
Existem empresas cujo comportamento é, empresas uma moda na gestão (piratas).
por natureza, compatível com os princípios Este fenómeno retrai muitas empresas,
do desenvolvimento sustentável e que, optam com bons fundamentos de começarem
por um perfil comunicativo, enquanto os a aplicar os seus valores para a conta de
esforços de comunicação para outras é resultados. Desta poderíamos dizer que
insignificante. criarão riqueza a curto prazo para os seus
accionistas e para a sociedade que
servem.
Dependendo da cultura e posicionamento
clássico das empresas, reflexo da vontade e
dos princípios de quem as dirige, estas Em primeiro lugar, empresas “líderes” que
adoptam posturas que correspondem de analisam a realidade do seu meio, antecipam
forma simplificada a quatro fenótipos. as estratégias de posicionamento das empre-
sas de um sector, ou de um mercado, que
são geralmente marcados pelas empresas

Os Indicadores para as Empresas


66

líderes em magnitude e sucesso. Quando se encontramos importantes capacidades para


criam características de liderança e desen- gerar duplos dividendos, assim como para
volvimento de estratégias relevantes para a utilizar o vector de sustentabilidade como
sustentabilidade no mercado, o efeito multi- veículo para se modernizarem e liderarem.
plica-se e são geradas correntes, catalisadas
por estas empresas líderes. Este é o caso das Um terceiro tipo de empresas, que deno-
empresas que pertencem aos principais minaremos afectuosamente de “piratas”, inclui
índices relevantes para a sustentabilidade, aquelas que mantêm posições de liderança
como FTSE4Good ou Dow Jones Sustaina- e que adoptaram uma pose sustentável
bility Indexes, já que se tratam de empresas harmonizando-se com o ambiente que visuali-
que, pela sua dimensão, podem ser considera- zam apenas a curto prazo. Estas empresas
das global players, ao mesmo tempo que são acreditam que o desenvolvimento sustentável
analisadas e distinguidas como empresas que é uma moda e portanto, não valerá a pena
trabalham a favor de um modelo de desen- realizar investimentos transformacionais, nem
volvimento mais sustentável. Mas esta posição alinhamentos estratégicos, já que com uma
pode ser também alcançada por outras dose importante de comunicação são capazes
empresas no mesmo segmento, em ambientes de se tornar momentaneamente credíveis e
geográficos mais reduzidos ou nichos de mer- assim passar mais uma onda de gestão, sem
cado mais especializados. Em Espanha de- alterar o curso na direcção do leme. Estas
paramo-nos com caixas económicas ou empresas são mais facilmente identificáveis
armazéns que poderiam ser considerados do que seria suposto pensar, já que a
middle market e que desejam manter uma notoriedade que procuram não é correspon-
posição deste tipo. dida com a consistência das soluções que
implementam e o seu compromisso fica redu-
Quando as empresas não possuem vocação zido às efémeras palavras de um presidente,
para liderança, ainda que o comportamento numa conferência.
em matéria de compromisso sustentável seja
bom ou mesmo excepcional, optam geral- Em quarto lugar poderíamos nomear um tipo
mente por um perfil de comunicação inferior. de empresas que se encontram “ausentes”
Ter vocação para liderar não quer dizer que do movimento. Esta ausência pode responder
o ostentem no mercado. A vocação para a modelos de negócio depredatórios ou de
liderar faz parte da cultura da empresa, curto prazo.
independentemente da posição no ranking
que apresente em cada momento. Muitas vezes tendemos a imaginar as
empresas como entes ausentes de “alma”,
Estas empresas são denominadas como mas não devemos esquecer que as empresas
“proprietárias de tesouros”. Possuem são dirigidas por pessoas que têm nomes e
qualidades semelhantes ou superiores às apelidos e que são remuneradas em função
empresas líderes, mas no geral correspondem do sucesso do projecto. Os investidores e os
a perfis de direcção mais conservadores que analistas conhecem-no bem e consideram a
não desejam antecipar tendências. Nestas capacidade da equipa de direcção como
chave para a valorização das empresas.

Os Indicadores para as Empresas


67

Uma fórmula interessante para conhecer o Perca de confiança


quanto a sustentabilidade está integrada na
organização de uma empresa é analisar os No final dos anos noventa, a unidade de
sistemas de incentivo da mesma. Cada vez 8
estudos de Royal Dutch Shell realizou uma
mais, um maior número de empresas espa- série de estudos, alguns mencionados neste
nholas introduz indicadores baseados na trabalho, que contribuíram de forma
materialidade na avaliação dos seus significativa para contextualizar estratégias
directores. Geralmente estas empresas baseadas em elementos de reputação. Os
adaptam os seus sistemas de valorização investigadores da petroleira sofreram na pele
incorporando indicadores de capital, até agora a perda de confiança, depois da crise do
considerados como intangíveis para os seus colapso da plataforma Brent Spar e encon-
quadros de direcção. Casos conhecidos das travam-se em plena reestruturação.
principais empresas energéticas do nosso
país, estão a oferecer uma nova visão de Para conceber as alterações, analisaram a
como enquadrar estratégias para além do evolução das mensagens que conseguiram
vector financeiro. manter uma empresa líder como a Shell a
salvo de controvérsias importantes e como
Fórmulas empresariais com aparente ausência os erros cometidos serviriam para melhorar.
de capacidades de sustentabilidade latentes,
alteram as suas estratégias ao mudar de Observaram que durante muitos anos, as
equipas de gestores e tratam de potenciar a informações elaboradas internamente pela
criação de valor sustentável como elemento empresa bastavam para ganhar a confiança
de compromisso com o sucesso real. dos consumidores e investidores, principais
partes interessadas da empresa. Este nível
Estas empresas encontram no desenvol- de auto-confiança que se respira em muitas
vimento sustentável um aliado para gerar multinacionais é muito comum, está
mudanças e criar estilos de direcção motiva- fundamentado no prestígio da marca e em
dores, capazes de recuperar a ilusão. Um que muitos dos seus engenheiros e directores
exemplo disso é o número crescente de ali iniciaram as suas carreiras profissionais a
empresas de sectores de grande maturidade, partir da base, sem nunca terem visto o
tais como o mineiro ou o cimenteiro, que mercado de outro prisma que o da sua própria
estão a incorporar o conceito sustentável/ empresa, o que levava a pensar que eles
/responsável no seu modelo de negócio. ostentavam a razão e que o resto do mundo
se encontrava enganado.

8
Os trabalhos destes anos, realizados pela Shell, aparecem citados
em inúmeras publicações. Recomenda-se a visita às páginas web da
empresa onde são detalhados os princípios de reporting e o caminho
empreendido. Tem especial interesse a ferramenta “Tell Shell”, onde
a empresa faz participações aos visitantes da web, dos comentários
que lhe chegam sobre o seu comportamento, de forma directa e sem
filtros. Visite Tell Shell Forum em www.shell.com

Os Indicadores para as Empresas


68

Os investigadores deram conta de como essa tabilidade. Esta fase é muito importante, já
comunicação com o meio se circunscrevia a que gera compromissos concretos aos quais
noticias ocasionais por bons ou maus motivos. a empresa tem que responder.
Quando os momentos maus começaram a
superar os bons, a empresa percebeu que a Enquanto a informação pública se baseia na
situação começava a parecer um interrogatório análise documental, no seguimento de pa-
constante e que era necessário informar o drões ou directrizes, no benchmark com os
que se realizava no dia-a-dia, para poder competidores ou na criação de valor pela em-
contrariar a perda de confiança motivada por presa nas dimensões da sustentabilidade, os
episódios esporadicamente maus. compromissos que se adquirem, poderemos
dizer que são unilaterais. Nestas questões, é
Começaram a proliferar os relatórios e com a empresa que, por vontade própria, assume
isso a divulgar informação sobre a criação de compromissos que ao não cumpri-los defrau-
valor em numerosas acções que se realizaram
na empresa e que não aparecem de forma
habitual nos meios de comunicação. Este Lost in Translation
movimento foi seguido por múltiplas em-
presas, e muitas delas apoiaram com fotos e Uma das perguntas que habitualmente
papel couché comportamentos que mais tarde se fazem às empresas é como denominar
foram considerados reprováveis, com a conse- o relatório.
quente gradual perda de confiança do público
e portanto, dos relatórios. Uma primeira dificuldade que encontram
é que os termos, como vimos nos
A empresa tratou de melhorar a credibilidade primeiros capítulos, distam de estar
das suas acções sustentáveis, verificando amadurecidos e portanto encontramos
externamente os dados que incluíam nos alguma dispersão.
relatórios, tratando assim de diferenciar
aqueles que encontravam no relatório um Os relatórios de sustentabilidade e de
subterfúgio e não a prestação de contas de responsabilidade empresarial respondem,
um compromisso. geralmente, aos princípios das directrizes
GRI e seguem padrões semelhantes,
Este conceito de prestação de contas é um ainda que com diferente nome e
conceito chave quando falamos de reporting. orientação.
Trata-se de oferecer uma visão cabal dos
aspectos que merecem ser conhecidos pelas Outros nomes utilizados são: Relatório
partes interessadas, isto é, dos aspectos que de cidadania empresarial (Ford, Exxon
denominamos materiais. Mobil ou Microsoft), Responsabilidade
social (Gap), Stakeholders Report (BC
Como vimos, a participação é um elemento Biotech, filiais de BHP Billiton ou
chave tanto da fase de análise como da departamentos da administração britânica
implementação de uma estratégia de susten- e norte-americana), entre outros.

Os Indicadores para as Empresas


69

da de forma colectiva, mas em grande medida relevantes da contribuição sustentável do


inócua. No entanto, a participação e o envolvi- mundo privado, especialmente de empresas.
mento com agentes sociais concretos leva a
compromissos concretos, locais e quantifi- A principal vantagem do GRI foi, desde o seu
cáveis, cujo incumprimento pode originar ris- início, o carácter aberto, transparente e
cos importantes para a empresa. Como os integrador do processo. A vontade e vocação
benefícios do estabelecimento destes dos seus criadores é chave para entender o
compromissos não são claros para a grande que actualmente a GRI representa.
maioria das empresas, a participação das
partes interessadas é incipiente. Para poder obter o máximo das Directrizes
GRI devemos entender o objectivo para que
Bem ao contrário do que muitas vezes se foram projectadas. Em primeiro lugar, a sua
pensa, a participação das partes interessadas utilização pode ser progressiva, isto é, as
no estudo dos aspectos materiais das empresas não têm de conceber o seu sistema
empresas estará mais ligada aos benefícios de indicadores com base no GRI, desde o
que estas podem obter, que aos prejuízos primeiro dia, mas devem seguir paulatina-
que as suas reivindicações poderiam causar mente os seus princípios.
na reputação das empresas. Esta fase exige
esforço e visão por parte do mundo dos negó- Além disso, a directriz foi concebida com
cios, mas também das organizações represen- base no que poderíamos denominar “um
tantes do tecido social. estudo de materialidade colectivo”, baseado
no consenso global de pessoas provenientes
de diferentes sectores, lugares e culturas, e
Directrizes para o reporting por isso fala de aspectos que estão
relacionados com temas globais. Isto quer
As organizações que não seguiram o caminho dizer que para uma empresa ou organização
da identificação de aspectos materiais e o local, o GRI pode-lhe dizer muito ou nada,
desenvolvimento de sistemas de indicadores dependendo de como interprete os princípios
têm como ajuda, para relatar relativamente da directriz.
ao seu comportamento sustentável, diferentes
instrumentos de grande valor. Mesmo assim, para uma empresa de carácter
regional é difícil ser representada nos
As Directrizes Global Reporting Initiative indicadores da GRI. A adaptação às PME's
converteram-se, de facto, num padrão para da organização GRI pode servir de orientação,
a realização de relatórios que comunicam os mas se procurarmos apenas o cumprimento
progressos das empresas nas dimensões do da norma perderemos a parte mais útil do
desenvolvimento sustentável. Estas directrizes processo, a dos aspectos relevantes e, o que
recolhem um consenso global de aspectos é mais importante, encontrar as respostas.
elaborados por especialistas de diferentes
partes do mundo, com a finalidade de ajudar
as organizações a identificar as matérias mais

Os Indicadores para as Empresas


70

Global Reporting Initiative, o início seguiu, brilhantemente, um grande con-


senso, através de um processo amplo,
Em 1989, depois da publicação dos multi-regional e fundamentalmente aberto,
princípios da CERES (Coalition for que aglutinou muitas vontades e o entu-
Environmentally Responsible Economies), siasmo de pessoas muito valiosas.
Bob Mases o seu director, começou a sua
difusão por todo o mundo. A pequena Com o aparecimento da directriz, uma
Fundação, com sede em Boston, tinha vintena de empresas começaram a
como principal missão avaliar as empresas desenvolver relatórios seguindo a mesma.
em que se incluíam diferentes igrejas e Nesta versão da directriz, a dimensão
congregações religiosas da costa Este ambiental era a mais predominante, já que
dos EUA e lançou estes princípios com o era herdeira dos princípios da CERES,
objectivo de poder facilitar a tarefa de pelo que nos anos seguintes tentou-se
análise. introduzir elementos na equipa que
tornassem a parte social mais relevante,
Durante a fase de difusão, estes princípios internamente ao nível dos colaboradores,
fortaleceram-se. Muitas empresas vêem e a nível externo com o compromisso
uma fórmula mais fácil para informar, e com a sociedade.
empresas importantes começaram a
confiar no esquema proposto pela CERES. O resultado deste novo consenso foi
apresentado em 2002, durante a Cimeira
Em meados dos anos noventa e especial- de Joanesburgo, constituindo um sucesso
mente após a Cimeira do Rio de Janeiro, com o qual finalizava uma etapa épica de
o conceito sustentável despertou interesse criação de uma iniciativa que, sem dúvida,
nas organizações e iniciaram-se os ficará para a história.
trabalhos para conceber princípios mais
amplos, aproveitando o movimento e uma Após a Cimeira, a iniciativa, embora
procura crescente das empresas neste formalmente sob a protecção da PNUMA,
sentido. torna-se independente da CERES, elege
nova equipa executiva e directiva e
Os primeiros fundos foram provenientes muda-se para Amesterdão, onde continua
da Global Environmental Facility, um fundo um trabalho muito importante para
das Nações Unidas que investe em a comunidade empresarial.
programas que apoiam o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente Uma nova versão da directriz foi publicada
(PNUMA), e com isso elaborou-se um em 5 de Outubro de 2006. Os desafios
primeiro esboço em 1998 e uma primeira da informação XBRL, (extensible Business
directriz que oficialmente viu a luz na Reporting Language), a era post Enron e
primavera de 2000. os novos desafios globais ocupam grande
parte dos debates da sua elaboração.
A equipa de desenvolvimento liderado por
Allen White que dirigiu Tellus Institute con- (i) Pode encontrar mais informação sobre a GRI em:
www.globalreporting.org
(i) Sobre a nova directriz GRI 3G consulte www.gri3g.org

Os Indicadores para as Empresas


71

serviços financeiros, mineiros e metais,


Suplementos sectoriais, directrizes agências públicas, operadores turísticos e
técnicas e para PME's em GRI telecomunicações. Estão a ser desenvolvidos
outros para certos artigos têxteis, logística e
transporte, bem como para o sector eléctrico,
A Global Reporting conta com directrizes do petróleo e gás.
sectoriais que permitem uma maior adaptação
às necessidades das partes interessadas nos As directrizes técnicas tiveram um menor
referidos sectores. Existem suplementos desenvolvimento. Existem na actualidade
específicos para os sectores automóvel, algumas sobre trabalho infantil, balanço

Sistemas de indicadores globais

Comunicação do progresso de cumprimento dos princípios do Global


Global Compact www.unglobalcompact.org
Compact. 2004

Entidade brasileira que desenvolveu uma directriz para a elaboração


Ethos www.ethos.org.br
de relatórios de sustentabilidade. 2001

Sistemas de indicadores parciais

União Europeia Sistema de ecogestão e ecoauditoria. Nasce em 1993 www.europa.eu.int/env

Normas ISSO 14031 e 14064 para o desenvolvimento de indicadores www.iso.ch


ISO
ambientais. Surgem em 1999

World Resources Measuring Up. Para um marco de informação ambiental empresarial www.wri.org
Institute comum

World Business Informação sobre emissões de gases de efeito estufa. Esta iniciativa
Council for inicia as suas actividades em 2000 www.ghgprotocol.org
Sustainable
Development

ICCA Compromisso de progresso da industria química. Inicia as suas www.responsiblecare.org


actividades em 1985.

Transparency “Publish what you pay” iniciativa contra a corrupção www.publishwhatyoupay.org


International

BSCI Relatórios sobre os aspectos relevantes para a sustentabilidade da www.bsci-eu.org


cadeia de fornecedores

Os Indicadores para as Empresas


72

energético e consumo de água. Encontram-


-se em desenvolvimento a directriz sobre os Bases de dados de relatórios
limites dos relatórios que nos referiremos de sustentabilidade
no capítulo seguinte e outro sobre saúde e
segurança. Global Reporting Initiative
www.globalreporting.org
Para as pequenas e médias empresas o GRI
elaborou, em 2004, uma directriz denominada World Business Council for Sustainable
High5¡ que reduz o processo de elaboração Development
de relatórios de sustentabilidade em cinco www.sdportal.org
passos, os quais são sustentados sobre
princípios básicos de melhoria na empresa Corporate Register
(preparar, planificar, conceber, informar e Next Step
melhorar). www.corporateregister.com

Às empresas que baseiam o relato da sua Sustainability Reports


informação nas directrizes, sem análise da Van der Molen Environmental Internet
sua materialidade, surgem-lhes problemas Services
importantes na concepção das respostas, já www.sustainability-reports.com
que os directores das empresas não entendem
porque se deve actuar num aspecto para
melhorá-lo, quando não houve estudo por
parte da empresa dos benefícios envolvidos. Fundamentos para a concepção da
Se perguntam, logicamente, se apenas o informação
usamos para colocá-lo num relatório, é pre-
ferível que não apareça em lugar de investir Partimos da base que a organização tem
na sua melhoria. desenvolvido capacidades de identificação
da materialidade e tem digerido a referida
Por outro lado, muitos dos aspectos do informação concebendo respostas adequadas.
relatório GRI apenas se relatam uma vez por Quando isto tiver acontecido serão desenvolvi-
ano, o que significa um grande esforço para das capacidades competitivas persistentes,
a organização com pouca utilidade. Se apenas que trabalharão a favor da conta de resultados
se relata um aspecto anualmente, é claro que da empresa.
não existe uma gestão do mesmo e a sua
utilidade morre com o relatório. Devemos ter em consideração que a informa-
ção a que nos referimos tem como desti-
(i) Pode encontrar mais informação sobre directrizes, protocolos e
outros apoios em www.globalreporting.org natários diferentes grupos de interesse. O
comportamento sustentável das empresas
alimenta-se do compromisso das pessoas da
organização. Por isso, relativamente à comuni-
cação, o colectivo deveria ocupar, em grande

Os Indicadores para as Empresas


73

medida os nossos esforços, podendo a infor- esperam de nós? Mas sendo este um pro-
mação dividir-se em duas secções: cesso longo e dispendioso, pode parecer-nos
inútil quando, uma vez terminado, nos depa-
ramos com partes interessadas que têm mais
Sistemas internos sinais de identidade comuns, por âmbito
territorial que pela sua procedência.

Trata-se de informação não financeira ligada Esta questão, que parece lógica, não é comum
às consequências das decisões que a empre- na análise que as organizações levam a cabo.
sa toma no meio e pretendem oferecer sinais No âmbito local, encontramo-nos com admi-
claros de incentivo para comportamentos nistrações locais, vizinhos, organizações
sustentáveis. Desta forma, encontramos ambientais ou sociais, à volta de uma mesma
quadros indicadores de sustentabilidade e instalação, preocupados com o nosso com-
sistemas de remuneração por objectivos das portamento em aspectos mais semelhantes
pessoas da organização ligadas a estes, entre entre si. Quanto maior é a empresa e a sua
outros. dispersão territorial, maiores são as diferenças
entre as expectativas das suas partes interes-
sadas no âmbito local e global.
Sistemas externos

Communication on Progress, um
Tratam de identificar pessoas individuais, que relatório sobre o cumprimento dos
denominamos partes interessadas, em compromissos do Global Compact
diferentes colectivos. Tradicionalmente, estes
grupos de interesse repartiam-se por entida- Anualmente, todas as empresas assi-
des colectivas (accionistas, fornecedores, nantes do Global Compact das Nações
Unidas têm de tornar público, e incluir na
meios de comunicação, administrações, etc.).
página web do Global Compact em Nova
Esta divisão levanta problemas de identifi-
Iorque, os progressos das suas empresas
cação das expectativas. Por exemplo, se na implementação e na aplicação dos dez
identificarmos as organizações não gover- princípios do Global Compact.
namentais como partes interessadas,
deveríamos perguntar quais são e onde se Este relatório é a constatação formal que
encontram. Uma vez identificadas, deveríamos as empresas avançam no sentido que se
averiguar quantos sócios têm, que influência comprometem e o tornam público, sendo
possuem, com que conhecimentos contam recolhidos todos os relatórios de pro-
avaliar o nosso comportamento, que interes- gresso na página web do Global Compact:
ses perseguem, como elegem os seus www.unglobalcompact.org
dirigentes, qual é a coerência dos seus
comportamentos, como são financiados e
depois a pergunta mais complicada: com Uma organização ambientalista global pergun-
quem devemos falar para sabermos o que tará pela actuação da empresa em matéria

Os Indicadores para as Empresas


74

de alteração climática, enquanto que uma com um relatório baseada no GRI, é porque
local questionará sobre a contaminação do desejamos por exemplo mostrar compromisso,
rio numa determinada região. O investidor registar tendências, despertar admiração, e não
que avalia o comportamento ambiental da porque a directriz reflicta os aspectos mais
empresa fá-lo a nível global embora também relevantes para as nossas partes interessadas.
o preocupe as alterações climáticas, enquanto
que a administração local se preocupa com
o rio ou com os resíduos gerados. Um sistema Como seleccionam as empresas
o conteúdo dos seus relatórios
de informação adequado deve ter em
de responsabilidade empresarial
consideração que, para construir de modo
simples relações que nos tragam informação
e confiança na organização, estas devem ser
Referências % de relatórios
construídas em função das necessidades de
informação mais homogéneas, as quais se Directivas da GRI 40
encontram em primeiro lugar a nível territorial. Consulta com os grupos de 21
interesse
Partes Interessadas Respostas Outros (Por ex. leis e normas 18
nacionais)
Locais Diálogo Orientações empresariais 3
Alertas A Norma A1000 <1
Comissões consultivas Avaliação de riscos <1

Sectoriais Conferências e
comunicações Estudo Internacional KPMG sobre relatórios de
Estudos de percepção responsabilidade empresarial 2005.
Observatórios
Benchmark (i) www.kpmg.es

Globais Boletins de Informação


Relatórios À medida que os sistemas de indicadores se
tornam mais robustos, será mais simples
desenvolver relatórios a nível local de três
Como vimos no capítulo dedicado aos sistemas
dimensões, já que o seu custo de elaboração
de indicadores, um sistema robusto de indicado-
diminuirá de forma considerável.
res deve permitir construir informação com base
na obtida a nível local. Esta informação, permite-
Esta focalização levar-nos-á a utilizar melhor
-nos desenvolver sistemas rigorosos a nível
o relatório como uma ferramenta de
sectorial por actividades, a nível de país, região
comunicação com uma dupla orientação.
ou globais para toda a empresa.
Estes canais permitem-nos, em muitas
ocasiões manter actualizados, os nossos
Devemos seleccionar as ferramentas mais
testes de materialidade.
adequadas para a nossa organização. Se somos
uma organização local e estamos a informar,

Os Indicadores para as Empresas


75

Criação de relatórios
Na procura da comparação e o desafio
de XBRL Poder-se-ia dizer que existem três gerações
de relatórios de sustentabilidade ou responsa-
As previsões, na revisão das directrizes bilidade social empresarial. Esta classificação
GRI, que verão a luz em 2006, levam a é um reflexo do grau de integração do conceito
um padrão mais fechado da directriz de sustentável na estratégia da empresa.
2002. Neste caminho, está a trabalhar-se
num software que permita a compa-
tibilidade da nova directriz GRI com a Primeira geração
linguagem XBRL (extensible Business
Reporting Language), que está a surgir
com força na informação empresarial. Os relatórios de primeira geração caracteri-
zam-se por uma estrutura fragmentada, reflexo
Trata-se de uma meta linguagem pro- da colocação de valor de comportamentos
veniente do XML (extensible Mark up da empresa que até agora não se reflectiam
Language), que permite emitir e receber em nenhum relatório. Esta primeira geração,
digitalmente a situação financeira ou sem integração, é um reflexo da versão 2002
qualquer outro tipo de informação de da GRI, onde a integração de indicadores é
forma normalizada, facilitando a sua distri- muito limitada. Estes relatórios necessitam
buição e utilização. O sistema facilita a de recolhas de dados muito trabalhosas, já
comunicação de relatórios completos em que as pessoas que os elaboram seguem,
vez de utilizar parcelas. Desta forma é geralmente, padrões que obrigam o relato de
possível procurar num documento XBRL indicadores, que não contam com sistemas
e retirar conceitos individuais que permi- de acompanhamento adequados.
tam análises particulares.
Nesta geração de relatórios apenas se
A XBRL é uma organização internacional diferenciam no índice os comportamentos
sem fins lucrativos, que procura o ambientais, sociais e económicos, seguindo
desenvolvimento profissional dos negócios o padrão da Directriz GRI. Outra forma de
que permita uma mudança no sistema focalizar relatórios de primeira geração é
de informação que as empresas oferecem, segmentar a informação por grupo de interes-
não por ser uma nova linguagem mas se, de forma que a organização da empresa
por oferecer uma nova forma dos sis- responda por departamento aos indicadores
temas, anteriormente independentes, se da directriz.
entenderem.

(i) Pode encontrar mais informação sobre a linguagem XBRL em


www.xbrl.org.es. Existem tutoriais à sua disposição sobre o
funcionamento de XBRL em www.kpmg.com/xbrl

Os Indicadores para as Empresas


76

nos seus processos e produtos, de desenvolvi-


Quem são os destinatários do nosso mento das comunidades, de contribuição para
relatório? o melhor funcionamento das instituições e da
sociedade, de como fazem cumprir os seus
Um erro muito comum nos relatórios de códigos de conduta.
sustentabilidade/responsabilidade social é
a sua falta de destaque. Neste caso, a sua Por fim, indicam como executar. Identificaram
utilidade é baixa já que em muitas situações o que é material e tornaram robustos os seus
são feitos como reacção a um concorrente. sistemas de informação. Existe uma evolução
São trabalhos elaborados, geralmente, por da organização e a orientação da direcção
departamentos que solicitam informação a
torna-se patente.
diversos departamentos, os quais tratam
de o criar de acordo com uma directriz. Este
Regra geral, esta evolução vem acompanhada
processo consome muita energia à orga-
nização. Por um lado, porque a empresa da certeza de que é necessário publicar dois
dedica grande parte do trabalho das equipas tipos de relatórios, um de carácter local nos
de RSE na elaboração do relatório, e por seus principais mercados e outro global da
outro, porque a debilidade dos sistemas de empresa, cujo principal leitor será o investidor.
recolha de informação nas organizações
faz com que esta seja um trabalho árduo
em muitos departamentos. Terceira geração

Objectivos e estratégias claras, com partes


interessadas definidas que ajudem na Quando a integração do conceito sustentável
integração do conceito nos departamentos, na organização é efectiva os sistemas conven-
são aliados importantes no momento de cionais da empresa recolhem informação,
aperfeiçoar os relatórios.
tanto financeira como não financeira, relativa
às consequências das decisões sobre as
partes interessadas. A comunicação não se
limita a relatórios anuais e actualizações
Segunda geração
semestrais, mas sim que nos elementos de
comunicação da empresa se encontre
integrado o conceito e as decisões de
A integração começa por actuar, regra geral,
concepção sejam coerentes com o mesmo.
nos duplos dividendos do desenvolvimento
sustentável. Desta forma, deparamo-nos com
Para estas empresas a preocupação é tornar,
relatórios em que o importante não é relatar
em cada dia, a sua mensagem mais credível,
como lidam com os factores externos nega-
e com isto aumentar a confiança, através da
tivos que ocorrem nas suas actividades, mas
identificação de fórmulas que levem à
como os seus produtos e serviços se enqua-
participação, de um número cada vez mais
dram nos modelos sustentáveis de desenvol-
significativo de pessoas, na estratégia e no
vimento. Informam como cumprem os seus
compromisso da empresa.
compromissos no campo da eco-eficiência

Os Indicadores para as Empresas


77

Tendências
• Defina qual é a sua visão e o seu com-
As principais tendências nos próximos anos promisso com o desenvolvimento
poder-se-iam resumir em cinco: sustentável de forma ambiciosa,
contudo realista.
• Normalização, com uma aceleração da • Identifique os destinatários dos rela-
aplicação de padrões globais cujo principal tórios, defina porque são importantes
exponente será o GRI. Teremos novos desen- e as suas necessidades de informação.
volvimentos sectoriais, novas directrizes e • Descreva as políticas, os sistemas e a
protocolos técnicos que permitirão uma maior organização existente para a gestão
homogeneidade no momento de estabelecer dos aspectos não financeiros.
o sistema de indicadores para as grandes • Descreva os impactos e desafios ma-
empresas. teriais, ambientais e sociais que tem o
• Consolidação da linguagem que é utilizada seu sector e a sua empresa.
nos relatórios, com o que se gerará uma maior Materialidade.
confiança nos textos e na forma de proceder. • Analise as respostas que a sua empresa
Os sistemas de recolha de informação serão desenvolveu para os ditos desafios,
chave para oferecer versatilidade e modos bem como os sistemas que as gerem.
de proceder homogéneos. Obtenha informação dos indicadores.
• A verificação será convertida num padrão • Descreva as principais iniciativas que
necessário a curto prazo. a sua empresa tem colocado em mar-
• Emerge com força a necessidade de uma cha para mitigar os impactos e promo-
regulação para a realização de relatórios. Na ver melhorias.
Europa têm-se generalizado legislações • Analise os custos, investimentos e resul-
obrigando as empresas a relatar. tados que as melhorias têm reportado.
• Integração dos relatórios corporativos das • Descreva as metas e objectivos que a
empresas apenas num relatório para inves- sua empresa estabeleceu para o próxi-
tidores e relatórios concretos para outras mo ano.
partes interessadas, bem como relatórios de • Procure uma forma efectiva de apre-
filiais e subsidiárias. sentar o seu comportamento de forma
clara e que atenda às necessidades de
informação das partes interessadas.
Conselhos para uma organização que Este é o momento de recorrer, se assim
se está a iniciar na elaboração de se considera, aos padrões de informa-
relatórios * ção sustentável.

* Adaptação com base em trabalhos da American Society for Quality,


• Descreva a sua empresa de forma a GRI e Accountability.
que as considerações ambientais e
sociais sejam correctamente definidas.

Os Indicadores para as Empresas


78

Estes relatórios SERÃO OBRIGATÓRIOS promotora de Responsabilidade Social nas


no futuro? empresas que estão a estudar este aspecto
detalhadamente.
É claro que esta pergunta terá uma resposta
(i) Pode encontrar mais informação sobre esta iniciativa do governo britânico
afirmativa a curto prazo. Enquanto nos Estados em www.dti.gov.uk/cld/financialreview.htm
Unidos, US Securities a Exchange não conseguiu (i) Pode encontrar mais informação sobre o processo de elaboração desta
iniciativa em www.mtas.es
o acordo para pautar a forma como a informação
social e ambiental deveria ser apresentada, na
Europa temos já exemplos de legislação im-
pulsionadora. No Reino Unido, a Secretaria de
Comércio e Indústria emitiu legislação que obriga
as empresas a relatar sobre estes aspectos
Elaboração de uma norma que entrou em vigor
no ano fiscal de 2005, que inclui a obrigação
de informar sobre determinados aspectos atra-
vés do relatório anual das empresas cotadas,
que são cerca de 1 290, no Reino Unido.

Em Espanha está a ser preparada uma iniciativa

Informação do comportamento social, ambiental e ético das empresas cotadas

País Tipo Âmbito

Áustria Voluntário Desenvolvimento sustentável


Bélgica Obrigatório Social (estrangeiros)
Dinamarca Voluntário Social e ético. Ambiental obrigatório
Finlândia Obrigatório Ambiental
França Obrigatório Desenvolvimento sustentável
Alemanha Obrigatório Apenas fundos de pensões
Itália Voluntário Incentivos regionais
Noruega Obrigatório Ambiental
Suécia Obrigatório Apenas fundos de pensões
Holanda Voluntário RSC. Ambiental obrigatório
Reino Unido Obrigatório* Social, ambiental e ético

* Apenas para empresas cotadas

Os Indicadores para as Empresas


79

Verificação As principias dificuldades no momento de


realizar uma verificação externa, têm a sua
origem na rigidez dos sistemas que recolhem
A exigência na consistência da informação a informação. Os principais pontos críticos
dos relatórios, tem tornado a verificação na concepção destes processos na empresa
externa uma necessidade, especialmente no são:
tempo em que a confiança na informação que
as empresas oferecem é reduzida. As organi- • A recolha de dados. Para muitos dos indica-
zações consideram que o esforço de realiza- dores que constam no relatório, a recolha
ção de um relatório, bem como a necessidade de dados pode incluir: imprecisões impor-
de diferenciação, merecem contar com uma tantes provenientes das pessoas que os
opinião externa sobre a fiabilidade e consis- recolhem, das métricas, dos procedimentos
tência dos dados. e das unidades utilizadas. Exemplos típicos
encontram-se na estimativa que muitas
De acordo com os dados do estudo Risk & empresas fazem dos gastos ou investi-
Opportunity, Best Practice in Non-Financial mentos na comunidade, ou na métrica em
Reporting, estudo periódico que o Programa indicadores de prevenção de riscos laborais,
de Nações Unidas realiza para o Ambiente de acordo com diferentes países, entre
(UNEP), conjuntamente com a Sustainability outros.
em 2005, pela primeira vez com a Standard • Estimativas e cálculos. Muitas vezes, as
and Poor´s, 78% dos que tinham sido organizações não dispõem de dados
catalogados como os cinquenta relatórios directos e têm de realizar cálculos ou
mais bem realizados, contam com uma garan- estimativas para disponibilizar a informação.
tia externa, uma vez que existe uma grande A realização deste tipo de práticas supõe,
diversidade de formas das empresas os reali- por vezes, uma primeira abordagem ao valor
zarem. e noutras a forma de conhecer os dados.
As fórmulas de estimativa devem ser claras
Como primeira abordagem, as verificações para o leitor.
têm dois benefícios principais para as orga- • Âmbito da recolha de dados. É uma fonte
nizações, por um lado, permitem fortalecer de erro muito sensível e os dados devem
os sistemas de indicadores e por outro, geram estar claramente definidos no texto do
uma maior confiança na organização e naque- relatório. Os perímetros de consolidação
les que lêem os relatórios sobre a fiabilidade das empresas podem mudar substancial-
dos dados em que se baseiam. mente de um ano para o outro. O que se
repercute sobre diferentes rácios que devem
ser tidos em consideração. Exemplos clássi-
cos podem ser encontrados nas diferenças
9
Risk & Opportunity, Best Practice in Non- Financial Reporting. The de âmbito dos dados económicos e ambien-
Global Reporters 2004, Survey of Corporate Sustainability Reporting tais, ou na revisão dos dados históricos
(2004). Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP)
(www.unep.org) , Sustainability (www. Sustainability.com), Standard
quando existem alterações nos limites.
and Poor´s (www.standardpoors.com). • Sistema de consolidação. As imprecisões

Os Indicadores para as Empresas


80

anteriores devem separar-se das incorridas O GRI está a trabalhar num protocolo técnico
pela consolidação dos dados. Em muitos que auxilia o debate sobre qual o âmbito mais
casos, isto leva-se a cabo uma vez por ano adequado para determinar o limite de reporting
e de forma manual. O estabelecimento de de uma empresa. Esta directriz estabelece,
procedimento de validação ao longo da cadeia de forma simples, uma metodologia em cinco
de responsabilidade é importante no momento passos, baseada em critérios de significância
de estabelecer controlos internos relativos a e controlo por parte da entidade relatora de
esta informação. cada uma das actividades que realiza.

Passo 1: identificar riscos e impacto


Informando adequadamente a influência Passo 2: analisar a importância
que a organização tem sobre o meio Passo 3: analisar o controlo e
influência
Onde se encontram Passo 4: determinar o âmbito
os limites do âmbito informático?
Passo 5: justificação
Débil
Águas Produtores (i) Pode encontrar mais informação sobre os protocolos técnicos do GRI
acima de matérias-primas em www.globalreporting.org
Fornecedores
Sub-fornecedores
Operações Controlo
Cadeia
Logística forte Global Reporting Initiative in accordance
Organização
de valor
Comerciantes Influência
Distribuidores forte As primeiras verificações tiveram como
Retalhistas
objectivo promover a consolidação das
Consumidores
Águas Gestores do produto Directrizes GRI entre as empresas relatoras e
abaixo em final de vida. que os seus princípios fossem aplicados de
Débil
forma adequada. Estas verificações têm um
A segmentação aqui mencionada é um exemplo carácter testemunhal e não oferecem qualquer
Fonte: GRI segurança sobre os dados incluídos nos
relatórios.

Estes aspectos acentuam-se em empresas que Estas práticas podem conduzir a confusões,
estão a modernizar os limites para áreas de já que existem organizações que as exibem
influência da empresa na cadeia de valor. Um como verificações de informação contidas no
caso interessante pode ser encontrado no relatório, quando apenas se tratam de
relatório de sustentabilidade da BP 2003 comprovações de requisitos de cumprimentos,
(www.bp.com), no qual se reportam os dados que o GRI denominou na directriz 2000 in
das emissões de gases de efeito estufa da accordance, aos quais se circunscrevem
empresa e dos produtos que comercializam, aspectos formais da elaboração dos mesmos.
em comparação com as emissões totais deste
tipo de gases. Para poder clarificar esta questão, a Global
Reporting Initiative desenvolveu, em 2004 uma

Os Indicadores para as Empresas


81

nota clarificadora da condição “de acordo organizações através de três compromissos


com os princípios da GRI” (in accordance). já comentados:
Esta clarificação faculta exclusivamente a
instituição GRI a oferecer esta qualificação, • Compromisso com a relevância (materia-
g r a t u i t a m e n t e o f e re c i d a a t o d a s a s lidade). O compromisso da organização
organizações que desejem enviar os seus para identificar e entender o comportamento
relatórios à organização, inclusivamente antes e o impacto social, económico e ambiental
de serem publicados. e a percepção das diferentes partes
interessadas.
(i) Pode encontrar mais informação sobre a GRI in accordance em
• Compromisso com a resposta adequada.
www.globalreporting.org
(i) Consulte os novos critérios em in accordance da GRI em Considerar e responder coerentemente às
www.gri3g.org aspirações e necessidades das partes
interessadas nas suas políticas e práticas.
A série de normas AA1000 • Compromisso com o rigor. Oferecer uma
prestação de contas adequada sobre as
decisões, acções e impactos.
Paralelamente ao processo de elaboração da
directriz GRI, o instituto britânico Accoun-
tability, dirigido por Simón Zadek, desenvolveu
nos finais dos anos noventa, uma primeira
directriz que propunha fórmulas que ajudavam
a melhorar a credibilidade dos relatórios finan-
ceiros nas empresas.

Enquanto a informação financeira se baseava


em convenções com mais de cem anos de
idade, actualmente temos que reportar sobre
aspectos com menos de uma década, como
se não existissem quaisquer preocupações.
(i) Pode encontrar mais informações sobre a série de normas AA1000
A série de normas AA1000 trata de realçar as em www.accountability.org.uk

dificuldades de garantia deste tipo de in-


formação e oferece uma directriz de “código
aberto” com a finalidade de estabelecer a ISAE 3000
credibilidade dos relatórios. A parceria es-
tabelecida entre a Accountability e a Global A Federação Internacional de Contabilistas
Reporting Initiative, faz-nos crer que o seu (IFA) e o seu Comité principal - International
desenvolvimento terá paralelismos a curto Auditing and Assurance Standards Board
prazo. (IAASB), começaram a trabalhar no princípio
de 2000, no que hoje é uma norma
Esta directriz torna o compromisso cada vez internacional para a realização de revisões de
mais consistente com a transparência das comportamento da organização, que não

Os Indicadores para as Empresas


82

foram auditadas ou com revisão da suportam os dados, os controlos internos e


informação não financeira coberta pelas céle- a qualidade da informação são muito va-
bres Normas Internacionais de Contabilidade riáveis. O risco é no entanto cada vez mais
(IAS), ou pelas Normas de Revisão de elevado, já que as informações que constam
Contratos de Auditoria (ISRE). neste relatório têm como receptores os
analistas financeiros do mercado.
Os profissionais e empresas que realizam o
trabalho de verificação têm um desafio impor- Esta norma utiliza terminologia como “garantia
tante neste contexto, já que os critérios razoável” e “garantia limitada” para distinguir
empregues pelas empresas, os sistemas que dois tipos de verificação que as empresas de
verificação podem oferecer. O objectivo do
primeiro é reduzir o risco de revisão de siste-
Um mesmo objectivo, diferentes mas que se encontram nas empresas, na sua
abordagens maioria com um nível de segurança baixo,
mas que oferecem uma garantia descrita no
Existem organizações, especialmente fora termo positivo do tipo, “na nossa opinião, o
d e E u ro p a , q u e e l e g e r a m c o m o controlo interno é eficaz nos aspectos mate-
fornecedores de garantia para os seus riais, baseado nos critérios XYZ”.
relatórios, organizações sem fins lucrativos,
bem como sistemas mistos entre ONG e A garantia limitada reduz o risco da revisão
verificadores convencionais. Novas formas quando os sistemas não permitem oferecer
de colaboração, onde as ONG estabelecem uma conclusão formulada em termos
a materialidade e avaliam a resposta das positivos. Este é o caso quando as conclusões
organizações, enquanto entidades de elaboradas são do tipo “baseado no trabalho
verificação, fazem-no sobre o rigor e
que temos realizado, nada chamou a nossa
fiabilidade dos dados expostos no texto.
atenção para acreditar que o controlo não é
Outras seguem os padrões de garantia efectivo em todos os aspectos materiais
financeira e utilizam uma ou duas empresas identificados, baseados nos critérios XYZ”.
de auditoria convencional, para levar a cabo
este trabalho, como é caso das principias
petrolíferas mundiais. Algumas, para Kasky contra Nike. Um caso para a
oferecer maior independência, seleccionam história da RSC
uma empresa diferente da que realiza a
auditoria financeira. Este caso judicial realçado pela impor-
tância das empresas que realizaram as
A Federação Europeia de Especialistas verificações da informação não financeira,
Financeiros desenvolveu diferentes quando nos anos noventa a Nike se en-
trabalhos de análise, e elaborou documentos controu no centro do debate sobre as
sobre o estado das questões de interesse. condições de trabalho dos seus fornece-
dores.
(i) Para encontrar mais informação sobre a Federação Europeia de
Especialista Financeiros consulte www.fee.be

Os Indicadores para as Empresas


83

perdas de credibilidade de alcance


Com o objectivo de responder aos ata- incalculável.
ques, a empresa desenvolveu uma série
de acções para difundir as práticas de
controlo e seguimento do comportamento As equipas mais avançadas já dominam
dos seus fornecedores, bem como dos metodologias capazes de combinar as três
programas de melhoria que haviam sido iniciativas aqui mencionadas, utilizando os
colocados em prática. critérios da Directriz GRI e dos seus suple-
mentos técnicos, em conjunto com a norma
Os cépticos da consistência das acções
AA1000 para definir a materialidade e a res-
da empresa denunciaram-na. Este foi o
posta da empresa, enquanto a norma
caso de Marc Kasky, que interpôs um
processo em 1998, perante o Tribunal ISAE 3000 permite estabelecer práticas,
Supremo do Estado da Califórnia por relativamente ao terceiro principio de AA1000,
concorrência desleal e publicidade falsa. o rigor.
Durante vários anos esta causa foi passa-
(i) Pode encontrar mais informações sobre a norma ISAE 3000 em
ndo por diferentes trâmites, sub-dividindo- www.ifac.org
-se em diferentes sub causas. Uma delas
tratava de procurar a protecção da liberda-
de de expressão, enquanto outras deriva- O desafio
vam do incumprimento das leis comerciais.
Os avanços da garantia da informação não
Não foi possível conhecer a decisão do financeira que as organizações oferecem têm
tribunal, já que em Setembro de 2003, sido muito importantes. Os principais encon-
Marc Kasky e Nike anunciavam o acordo tram-se nos sistemas, em andamento nas
para que esta oferecesse um valor de 1.5
empresas, em primeiro lugar para poder ter
milhões dólares à ONG, com sede em
uma segurança razoável sobre a informação
Washington “Fair Labor Association”,
que se inclui nos relatórios de responsabili-
abrindo assim uma nova era da exigência
de responsabilidades das empresas sobre dade social empresarial e nos relatórios de
as afirmações relativas aos seus sustentabilidade.
comportamentos não financeiros, que
afectam o valor da mesma perante os Contudo, a preocupação das empresas de
consumidores. verificação encontra-se principalmente no
aumento do risco da profissão de verifi-
Esta questão ampliou a sua importância cador/auditor nos últimos anos, e estes estão
a partir do momento em que os inves- conscientes que as cartas de verificação
tidores e accionistas, assim como os elaboradas possuem importantes limitações,
clientes, figuram como partes destina- do ponto de vista da clarificação das partes
tárias dos relatórios de RSC e estes são interessadas.
entregues nas Assembleias Gerais Accio-
nistas. As consequências de disponibilizar
informação incorrecta ao mercado de valo-
res, pode levar a sanções importantes e

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O próximo desafio encontra-se em poder


oferecer cartas de verificação que permitam,
por um lado, limitar o risco para as empresas
de verificação de forma adequada às compro-
vações realizadas, e por outro lado, que os
leitores dos relatórios considerem estes
esclarecimentos suficientes para se sentirem
confortáveis e seguros com o nível de garantia
oferecido.

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, à oportunidade proporcio-


nada pela Fundação Santander Central Hispano,
esperando que satisfaça a curiosidade de alguns,
alimente a imaginação de outros e convide a
uma acção de um maior número de leitores
possível.

A mim, admirou-me Allen White, pai e inspirador


do espírito que levou ao triunfo da Global
Reporting Initiative, pelas suas amáveis palavras
no prólogo, que não mereço.

Também à minha filha Lúcia e à María, pelas


suas ideias, correcções e paciência. Deveria
figurar como co-autora desta Publicação, como
faz sem dúvida parte da minha vida.

José Luis Blasco

Os Indicadores para as Empresas


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Os Indicadores para as Empresas


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Os Indicadores para as Empresas


O conceito de sustentabilidade ou responsabilidade integrada na gestão
empresarial converteu-se no bilhete de identidade da empresa do novo século.
As entidades já não procuram ser apenas economicamente viáveis, mas também
socialmente benéficas e ambientalmente responsáveis, iniciando com este
triplo objectivo uma prometedora etapa, vantajosa para estas e também para
a sociedade e meio onde desenvolvem as suas actividades. Perante esta
estimulante inclusão das empresas às formas de gestão sustentável, a Fundação
Santander dedica este número aos Indicadores de sustentabilidade para a
empresa, a ferramenta que permite identificar, medir e comunicar como as
empresas colocam em prática a sua responsabilidade com as gerações presentes
e futuras. O seu autor, José Luis Blasco, resume, antes de mais uma extensa
informação básica e numerosas fontes de documentação adicional.

Os Indicadores para as Empresas é impresso em papel Inaset Plus Offset 100g/m2, produzido pela Portucel, empresa
certificada pela NP EN 9001/2000 e NP EN ISO 14001/1999

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