e aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confisso no transfigurada pela arte indecente. Minha vida est nos meus poemas , meus poemas so eu mesmo, nunca escrevi uma vrgula que no fosse uma confisso. Ah! m as o que querem so detalhes, cruezas, fofocas... A vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades s h duas: ou se est vivo ou morto. Neste ltimo caso idade demais, poi s foi-nos prometida a Eternidade. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que no estava pronto. At que um dia descobri que algum to completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinio do s outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrrio, sou to orgulhoso que ach o que nunca escrevi algo minha altura. Porque poesia insatisfao, um anseio de auto -superao. Um poeta satisfeito no satisfaz. Dizem que sou tmido. Nada disso! sou cala do, introspectivo. No sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. S por no p oderem ser chatos como os outros? Exatamente por execrar a chatice, a longuido, que eu adoro a sntese. Outro element o da poesia a busca da forma (no da frma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prtico de farmcia durante cinco anos. No te-se que o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de rico Verssimo - que bem sabem (ou souberam) o que a luta amorosa com as palavras. Mario Quintana