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Enias Galvo: Miragens

Texto-Fonte:
Obra Completa de Machado de Assis,
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, vol. III, 1994.

Publicado na Semana Literria, seo do Dirio do Rio de Janeiro, 05/06/1866.

Meu caro poeta, este seu livro, com as lacunas prprias de um livro de estria,
tem as qualidades correspondentes, aquelas que so, a certo respeito, as
melhores de toda a obra de um escritor. Com os anos adquire-se a firmeza,
domina-se a arte, multiplicam-se os recursos, busca-se a perfeio que a
ambio e o dever de todos os que tomam da pena para traduzir no papel as suas
idias e sensaes. Mas h um aroma primitivo que se perde; h uma expanso
ingnua, quase infantil, que o tempo limita e retrai. Compreend-lo- mais tarde,
meu caro poeta, quando essa hora bendita houver passado, e com ela uma
multido de coisas que no voltam, posto desse lugar a outras que as
compensam.

Por enquanto fiquemos na hora presente. a das confidncias pessoais, dos


quadros ntimos, a deste livro. Aos que lho argirem, pode responder que
sempre haver tempo de alargar a vista a outros horizontes. Pode tambm
advertir que um pequeno livro, escolhido, que no cansa, e eu acrescentarei,
por minha conta, que se pode ler com prazer, e fechar com louvor.

Que h nele alguns leves descuidos, uma ou outra impropriedade, certo;


contudo v-se que a composio do verso acha da sua parte a ateno que hoje
indispensvel na poesia, e uma vez que enriquea o vocabulrio, ele lhe sair
perfeito. V-se tambm que sincero, que exprime os sentimentos prprios, que
estes so bons, que h no poeta um homem, e no homem um corao.

Ou eu me engano, ou tem a com que tentar outros livros. No restrinja ento a


matria, lance os olhos alm de si mesmo, sem prejuzo, contudo, do talento.
Constrang-lo o maior pecado em arte. Anacreonte, se quisesse trocar a flauta
pela tuba, ficaria sem tuba nem flauta; assim tambm Homero, se tentasse fazer
de Anacreonte, no chegaria a dar-nos, a troco das suas imortais batalhas, uma
das cantigas do poeta de Teos.

Desculpe a vulgaridade do conceito; ele indispensvel aos que comeam. Outro


que tambm me parece cabido que, no esmero do verso no v ao ponto de
cercear a inspirao. Esta a alma da poesia, e como toda a alma precisa de um
corpo, fora dar-lho, e quanto mais belo, melhor; mas nem tudo deve ser
corpo. A perfeio, neste caso, a harmonia das partes.

Adeus, meu caro Poeta. Crer nas musas ainda uma das coisas melhores da
vida. Creia nelas e ame-as.

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