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A nacdo na América espanhola: 4 questdo das origens Frangois-Navier Guerra Centre de Recherches en Histoire de l'Amérique Latine et du Monde Ibérique, Universicé de Paris I (Panthéon - Sorbonne) Refletir sobre a nagio na América espanhola é se avencurar num vasto campo de pesquisas, nao s6 pelo ntimero de paises envolvidos — dezenove, contando Porto Rico ~ mas pela complexidade do processo de construgio na- cional em sociedades bem diferentes ¢ heterogéneas. Ja que este texto nao pretende esgotar 0 tema, centraremos nossa reflexo sobre as origens das “na ges” hispano-americanas, Esta escolha no corresponde somente ao lugar pri- vilegiado que as origens ocupam na elaboragio de qualquer imagindrio nacio- nal, mas também a uma das especificidades mais marcantes destes Estados, que éa de terem saido de um tinico conjunto politico, a Monarquia hispanica Reromar a questio das origens é, entretanto, avancar num terreno dificil, pois as interpretagdes e mitos elaborados por quase dois séculos de construgio nacional sio impregnantes. O nascimento das “nacdes” hispano-americanas evoca constantemente para os nfio-especialiscas e, « fortiori, para.a imensa mai- oria da populagio destes paises imagens e termos vagos, como emancipagio nacional, nacionalismo, coldnias, descolonizagio, paises novos. Esses tracos dos grandes debates politicos do passado americano, ftagmentos de constru- goes historiograficas, empréstimos feitos problematica nacional de outros continentes, transformaram-se em lugares-comuns propicios a todo tipo de ambigilidades e a todos os anacronismos. Os mais recentes destes lugares-comuns nfo sio menos duvidosos. Associ- ar, por exemplo, a independéncia da América hispanica a uma descolonizagio € adotar linhas incerprecativas elaboradas em tempos ¢ lugares diversos. Esta concepgio, que se desenvolveu apés a II Guerra Mundial, ligadaa visio tercei- ro-mundista de América Latina, resulta num verdadeiro contra-senso histéri- co, pois a palavra " oldnia”, empregada as vezes pelos procagonistas da inde- pendéncia, revestia-se de um sentido diferente. Nao se pode comparar a descolonizagio contemporinea, na qual os povos subjugados pela Europa se liberam de sua cutela, com uma independéncia realizada por descendentes de europeus. Se € preciso procurar uma comparagio pertinente, ¢ em dirego aos Estados Unidos que se deve voltar, marcando porém as diferengas — nume sas ~ que separam a América bricinica da América espanhola, tanto pelo card ter multiétnico desta, quanto pelo proprio desenrolar do processo de ir depen déncia. Como os Estados Unidos, os Estados hispano-americanos sfio paises novos, no sentido mais forte do termo, na medida que eles no cém outros precedentes histéricos a nao ser o das novas comunidades que a expansio euro- péia criou pouco a pouco no Novo Mundo. Fazer estes Estados, de alguma maneira, herdeiros dos antigos “Estados” indigenas é retomar ingenuamente os temas da retdrica independentista para justificar a separago com a Europa e exaltar sua nova existéncia por uma antiguidade gloriosa. © mesmo se aplica aos termos de "emancipagio nacional” e “nacionalis- mo”, ainda muito utilizados nas histérias nacionais dos paises lacino-america- nos. Gracas a estas expressdes, nds nos achamos em terreno conhecido: o da “questo nacional” da Europa do século XIX. Seguindo um esquema “nacionalistico” da formagio do Estado-nagio, os Estados hispano-americanos so concebidos como expressio de nacionalidades que, pela independéncia, conquistaram existéncia auténoma como nagdes soberanas. Esta versio to evidence e familiar apresenta problemas consideréveis. O primeiro é a auséncia de todo movimento nacionalista antes da independén- cia; curiosas nacionalidades, estas nacionalidades mudas.' O segundo concerne a0 contetido mesmo desta nacionalidade, que em geral remete a uma comuni- dade dotada de uma especificidade lingitistica e cultural, religiosa e étnica. A América espanhola é um verdadeiro mosaico de grupos deste tipo, mas ne- nhuma “nagio” hispano-americana jamais pretendeu se idencificar com qual- quer um deles. Acé porque, depois de erés séculos de vida em comum, todos estes grupos se encontravam entrelacados, profundamente miscigenados e partilhavam em grau bem elevado a mesma religido ¢ a mesma lealdade politica. Os fundadores dos novos Estados, os construtores das novas nagées sio todos de origem européia e tém em comum tudo que, além disso, consticui a nacionalidade: a mesma origem ibérica, a mesma lingua, a mesma religio, a mesma cultura, as mesmas tradigées politicas e administrativas. S60 lugar de nascimento eas identidades culturais em formacio os diferenciam dos euro- peus que estavam do outro lado do Atlintico. Mesmo se estes tiltimos ele- mentos serviram de fundamento 4 edificacdo de novas nagdes, parece excessivo 10 atribuir-lhes o valor de uma nacionalidad O problema da América Latina no é o das nacionalidades diferentes se consticuindo em Estados, mas sobre- tudo o problema de construir, a partic de uma mesma “nacionalidade” hispa- nica, nagées separadas ¢ diferentes. Conseqiiéncia légica dessa extraordindria homogeneidade culcural da Mo- narquia hispanica: as “nagdes" que nés conhecemos hoje raramente correspon- dem as que nasceram na época da independéncia. Estas tiveram existéncia efémera e, por sua vez, se fragmentaram, arrastadas por um movimento cen- trifugo que colocou em perigo a existéncia de nagdes, como a Argentina ou o México, que nos parecem agora os mais estabelecidos. Se uma certa nacionali- dade estava na base da nacio, como explicar a friabilidade dos novos Estados? O cardter teleoldgico desta interpretacio € evidente; ele repousa sobre uma confusio semfntica entre um dos sentidos politicos do termo “nagiio” — ser um Estado soberano — e de um dos seus sentidos culturais — ser uma comunidade humana dotada de uma identidade singular. S6 a necessidade imperiosa de con- solidar paises instaveis e de conforma-los ao modelo de Estado-nacio que triun- fava encio na Europa explica que os autores da bistéria pétria (a historia de cada uma das “nagdes” latino-americanas) cenham se esforgado a fazer da indepen- dén © coroamento, por assim dizer, natural ¢ inelutavel da preexisténcia da nagio, Tudo mostra, a0 contrério, que esta nao € um ponto de chegada, mas um ponto de parcida. A independéncia precede tanto a nacio como o nacionalismo. Isto quer dizer que os novos Estados no se apdiam sobre qualquer identi- dade coletiva prévia? Seria absurdo pretender tal coisa. Todo 0 problema é de saber quais eram, entre as mtiltiplas identidades grupais existentes nesta mo- narquia de antigo regime, as que serviram de fundamento a constituigao dos novos Estados, se elas bastavam para explicar a independéncia. O desmorona- mento do Império russo-soviético, ao qual nds assistimos, mostra bem que a desintegragio de um conjunto politico multicomunitério pode nao ter ori- gem nas reivindicagées destas comunidades — de existéncia aliés constance- mente incerta — mas numa crise que afeta primeiro 0 centro do império, poe em causa sua estrutura politica global e acaba por provocar numa tiltima fase sua implosio. E nesta ética — a ruptura de um conjunto politico multicomunitério, da qual o século XX nos oferece outros exemplos?— que convém analisar a inde- pendéncia da América espanhola. £ preciso, em conseqiiéncia, examinar pri- meiro a estrutura politica da Monarquia hispanica e os diferentes tipos de identidade coletiva que existiam no seu interior, para estudar, em seguida, ra sem preconceitos teleolégicos, a crise politica que comega em 1808 pela inva- sfo napolednica na Peninsula Ibérica ¢ a maneira pela qual ela modifica as relagdes entre as duas margens do Aclancico. Trata-se, enfim, de compreender por que, como e em nome de quem a porci 0 americana da Monarquia se separa da “metrdpole” e adoca esta nova forma de existir que é a nagio moder- na. Esta é, alids, insepardvel deste conjunto de idéias, de imagindrios ¢ de comportamentos que constituem a modernidade. Uma nagio moderna niio é um ser atemporal, existindo sempre e em toda parte, mas um novo modelo de comunidade politica. Modelo em dois sentidos. Em primeiro lugar, como arquétipo, como alguma coisa de ordem ideal, servindo de referencia ao pen: samento ¢ & ago em tentativas sempre inacabadas de inscrevé-la no real. Em segundo lugar, como um conjunto complexo de elementos ligados entre si— em nosso caso, como um combinatério inédito de idéias, imaginérios e valo- tes, e portanto de comportamentos ~ sobre a maneira de conceber uma cole- tividade humana: sua estrutura intima, 0 laco social, o fundamento da obri- gacio politica, sua relacdo com a historia, seus direitos Identidades de antigo regime A América espanhola anterior a independéncia é, como todas as sociedades de antigo regime europeu, um mosaico de grupos de todos os tipos, formais ou informais, entrelagados e superpostos uns aos outros e mantendo relagdes complexas com as autoridades mondrquicas igualmente diversificadas embaralhadas. Ela tem uma estructura ainda mais complexa que os Estados europeus da mesma época. Aos grupos existentes nestas sociedades — sejam formais, de cardter territorial (reinos, provincias, cidades, freguesias) ou pes- soais (ordens, todo tipo de corporacio) ou informais (lacos de parentesco, de cl ientela ou de interesses) ~ ela acrescenta uma divisio legal dos habitantes em duas “reptiblicas” (a dos espanhéis ea dos indios) de miltiplas distingoes menos formalizadas, fundamentadas sobre o local de nascimento (creallos* € peninsulares) e sobre a mesticagem (mesticos de condig&o incerta) Mesmo que esta multiplicidade de grupos explique o caréter complexo dos conflicos da independéncia — com freqiiéncia uma guerra de todos con- tra todos ~ a dificuldade de construir, em seguida, a nagio moderna, por natureza tendencialmente homogénea, nem todos participaram num mes mo nivel desta altima empreitada, Hoje em dia existe um acordo quase geral para privilegiar, de um lado, seja a consciéncia creolla e a identidade americana, sejam as identidades que foram elaboradas em diferentes regides 12 durante a época colonial ¢, de outro lado, a for nagiio de proco-Esta Jos, quer dizer, de espacos de poder relativamente auténomos criados pelas institui- gées € divisdes administrativa da Monarquia. Temos af duas abordagens uma mais cultural, oucra mais politica, ambas esclarecendo em parte as ori- gens da nagio moderna.’ Em parte somente, pois estas abordagens tendem a s6 considerar um tipo de identidade ~ cultural ou politica ~ ou a considerar apenas cectos niveis idencitarios, negligenciando as miiltiplas filiagdes que sfio a regra em toda sociedade ¢ o cardter hierarquizado que estas idenc des tém nas sociedades de antigo regime Sea identidade remete sempre ao que um grupo considera ser € ao que, portanto, o torna diferente dos outros, nés podemos considerd-la em dois re- gistros diferentes: 0 registro politico ~ pertencer a uma coletividade de condi- Gio politica reconhecida e possuindo um territério, insticuigdes € governo pré- prio, ¢ 0 registro culcural — partilhar um conjunto de representagées coletivas sobre as celagdes do grupo com o solo, a histéria, a provincia, seus vizinhos Estes dois tipos de identidade nao coincidem sempre, pois podem existir for- tes identidades culcurais que, como a “americanidade”, nao possuem corres- pondéncia politica, ¢ idencidades politicas extremamente vigorosas, como as de Caracas, Buenos Aires, atores principais da independéncia, fundadas sobre diferengas culturais bem cénues. Deve-se, entao, considerar ao mesmo tempo os dois tipos de identidade, suas concordincias e divergéncias e seu encadea- mento naquilo que aparece como uma pirimide de identidades superpostas. E como a Monarquia hispanica é antes de tudo uma arquitecura politica com- plexa, sio as identidades politicas que nos servirio como fio condutor. Na base de toda a escrucura politica americana, encontramos a cidade prin- cipal & frente, como centro de poder de uma regio. Trata-se da transposi¢io americana de um dos aspectos mais originais da estrucura territorial da Castilha dos comegos da Idade Moderna: a existéncia de grandes municipios, verdadei- 108 Senhorios coletivos exercendo sua jurisdigao sobre um conjunto de cidades ealdeias “sujeitas". A fundacio de cidades foi, desde o principio, insepardvel da Conquista, pois a cidade era para os conquistadores saidos do mundo medi- terrfineo o quadro ideal da vida em sociedade e 0 modelo primeico de organi- zagio politica. Sendo a Conquista, no essencial, uma iniciativa privada, em Fangio dos contratos passados entre os conquistadores ¢ 0 rei, entende-se porque as cidades precederam mesmo a organizacéo estacal. Quando a Coroa, numa segunda fase, retoma o controle do Novo Mundo,’ os poderes das cidaces foram diminuidos em beneficio das autoridades monarquicas ¢ seu governo cai em mios de algumas grandes familias; mas continuam sendo quase até o fim do século XVIII a base de toda organizacio politica da América espanhola, além de representar 0 id I de uma cidade autogovernada. A estas cidades ¢ povoa- dos “espanhéis” juntaram-se logo seus homélogos “indios", pois a Coroa se esforca com sucesso em estender as sociedades indigenas 0 modelo municipal castelhano. A cidade e, em diferentes escalas, as cidades secundrias ¢ povoamentos sio uma comunidade politica cendencialmente completa, uma pequena “re- publica” com seu territério, suas instituicdes baseadas no costume € no direito castelhano, um governo proprio, 0 cabildo, eleito por seus habitantes com di- reito de cidade, sua organizacio eclesidstica. A cidade € também um espaco urbano hierarquizado, centrado sobre a praca maior, onde se erguem as sedes do poder das quais ela € 0 centro: igreja principal — catedral ou paréquia, se- gundo a colocagao, a casa do cabilda ea residéncia das mais altas autoridades monérquicas. Ela &, enfim, a célula-base da sociabilidade, o lugar onde se manifesta por festas civis ¢ religiosas a unidade de todos os corpos © grupos étnicos que a compoem. E af que se enraizam e se expressam as identidades culturais mais fortes, fundadas sobre 0 apego ao solo, os costumes peculiares, 0 culto dos santos patronos, ou seja, uma meméria partilhada, tanto religiosa quanto profana. A importancia da meméria é considerdvel pois ela nao é simplesmente a comu- nhio na lembranga de acontecimentos excepcionais, favordveis ou catastréfi- cos, mas também 0 suporte dos direitos politicos da comunidade. E sobre ela, sobre uma meméria institucionalizada, que se apdiam tanto os “titulos pri- mordiais” das aldeias indigenas, garantia de seu governo auténomo e de posse de suas terras, quanto os privilégios de cidades espanholas ou indigenas, re- compensa de méritos e servicos prestados ao rei Acima desta forte trama municipal, a tinica unidade politica mais ampla que se encontra em algumas regides € 0 reino. Habituados a uma monarquia construida por uma agregacdo progressiva de reinos, acostumados a consi- derar 0 reino como ideal de uma comunidade politica de ordem superior, bem facilmente os conquistadores assimilaram os grupos indigenas de orga- nizagio social avangada aos reinos incorporados pela Conquista 4 Coroa de Castela, mercé, alguns anos antes, dos reinos muculmanos da peninsula. A ucilizacdo da palavra “reino” se impde rapidamente desde entio, no apenas entre os espanhéis, mas também entre os indios, para designar o México, 0 Peru, a Guatemala, Quito e o Chile. Sem falar que estes reinos das Indias, segundo logia oficial, cém menos consisténcia que os reinos europeus ¢ carecem as vezes de certos ele. mentos consticutivos deste modelo politico. O reino remete, na verdade uma unidade politica completa englobando milciplas comunidades locais num territdrio dotado das mesmas instituigdes e de um mesmo governo. Ele impli- ca também uma unidade moral pelo sentimento que seus habitantes tém de uma filiagdo e de uma diferenca comuns com comunidades andlogas. Nesta ética, outros elementos sio tio importantes quanto os elementos institucionais uma combinagio particular de grupos sociais, a existéncia de um espaco eco- némico relativamente unificado, a elabora presentacdes coletivas re- forgando o sentimento de filiagio. O reino, como a nagio moderna, € uma omunidade imaginada”, cuja conscrugio demanda tempo. Tal como a Europa medieval ¢ moderna, essas identidades culcurais dos reinos sio 0 longo resultado de um complexo processo de elaboracio ¢ de um imagindtio comum. Este era tio indispensavel que era preciso unit, numa mesma comunidade de pertencimento, os descendentes dos vencedores € dos vencidos, assim como os miiltiplos grupos écnicos resuleantes da miscura en- cre europeus, indios € africanos. Nessa empreitada, nem todas as regides americanas progrediram num mes- mo ritmo e nem seguiram as mesmas vias. Nos mais antigos vice-reinos, 2 Nova Espanha e o Peru, instalados sobre as ruinas dos “impérios” Asteca ¢ Inca, a elaboragio foi precoce e bem acabada, ainda que ela repousasse sobre fundamentos diferentes. A Nova Espanha privilegia a base religiosa, esco- Ihendo como herdis mais os evangelizadores do que os conquistadores e fazen- do do culo & Virgem de Guadalupe o elemento unificador de todos os compo- nentes da sociedade mes cana, O Peru tende sobretudo & continuidade ao “im- pério" Inca ¢ ao culto da primeira santa americana, Sanca Rosa de Lima. Nas outras regides de desenvolvimento mais recente e sem grandes civilizagdes pré- colombianas, a elaboragio da identidade foi mais tardia, mais erealla e mais té- nue. $6 0 pequeno Chile, extremidade longinqua e isolada, em luta contra os indios Araucans, se dota de uma identidade bem forte que exaltava a0 mesmo tempo as faganhas dos conquistadores e a valencia de seus adversarios No fim do século XVIII, somente dois reinos americans podiam ser compa- rados, de acordo com todos estes critérios, aos reinos europeus: a Nova Espanha e o Chile. O Peru, de identidade precoce e elaborada, inclufa regides bem diferentes para poder manter por muito tempo uma unidade de governo. Nos dois novos vice-reinos que foram erguidos no seu interior, a Nova Granada — como reino de Quito — em 1739, ¢ 0 Rio da Praca — como o Alto Peru — em 1776, 0 reino era apenas nominal ou mesmo inexiscente. Falra em toda a América espanhola um nivel intermedidrio de filiagio: a escala provincial, tio importante na América britdnica. Aquilo que se chama de “provincias” na América espanhola so os espagos politicos das cidades princi- pais, ou encio circunscrigdes administrativas onde os representantes do rei exer- cem sua autoridade; trata-se de circunscrigées muito variaveis no tempo para que possam servir de base sdlida a uma identidade bem-estabelecida. Elemento complementar da singularidade americana, a representaco politica inerente & qualidade de cidade e reino nao passa pela existéncia de instituigdes representa- tivas. Os reinos da Nova Espanha e do Peru receberam no século XVI 0 direito de se reunirem em cortes. Mas a Coroa sempre evitou que se consticuisse na América este contrapoder que ela combatia na Europa. Nao somence ela nunca convocou as cortes na América, como também nunca os deputados americanos assistiram as imponentes cortes castelhanas sob os Habsburgos, ou as fracas cor- tes espanholas sob os Bourbons. O tinico mecanismo de representagio formal que foi pracicado, as adverténcias de diferentes corpos ao rei ¢ as negociagbes subseqiientes, apenas reforca o papel dos mais importantes entre eles, as cidades capitais, A frente de suas provincias ou de seus reinos. Por fim, essas identidades sio englobadas em outras mais amplas como mostram em 1808 ainda as ceriménias de juramento de fidelidade ao rei: Artora-seo estandarte real, dizendo Castela, Nova Espanha, Guanaxuato por nos- so senbor Fernando VILS Os graus de filiagio sio claros: a Coroa (Castela), 0 reino (Nova Espanha), a cidade (Guanaxuato). Este modo de conceber a monarquia continua extremamente vivo até a independéncia. Isto apesar dos esforcos dos Bourbons no século XVIII para criar “um corpo unido de nagio”, ou seja, para homogeneizar a monarquia lutando contra os privilé- gios dos corpos e contra o status particular dos reinos. Essa reducio & unida- de, vitoriosa para uma boa parte da Espanha peninsular, fracassa nas [ndias. A América continuara sendo o bastiéio de uma visio plural de monarquia, tal como ela tinha sido pensada ~ e em parte funcionado ~ sob os Habsburgos: como um conjunto de provincias e de reinos, tanto europeus quanto ameri- canos, governados a partir de suas pr6prias instituigdes e unidos somente na pessoa do rei. Essa visio implicava também a sobrevivéncia de uma concepgio pré-abso- lutista de poder. Ao contririo dos tedricos modernos de uma soberania tinica e absoluta do monarca, as relagées entre o rei e seus Estados, e entre o monarca 16 € seus “vassalos"”, eram pensadas sob 0 modelo “pactista"S, ou seja, como uma relacdo bilateral feita de direitos ¢ de deveres recfprocos, 0 que trazia a idéia de uma soberania compartilhada’e a limitagio do poder monarquico pelos direi- tos dos reinos ¢ pelos privilégios dos individuos e dos corpos. O nio respeito deste pacto pelo rei segue justificando reagdes que podem ir da reprimenda A revolta’®, , passando por toda espécie de negociagées e pela nao aplicacio tem- poraria de uma decisao real. Existe um grau de identidade suplemencar que, apesar de informal, nao deixa de se revestir de uma grande importancia: ser nascido na América. Esta idencidade, essencial para as relagdes com a Espanha peninsular, se manifestou de diferentes maneiras depois da Conquista. Ela teve durante muito tempo um contetido politico: a demanda dos creollos de ocupar em prioridade os car- 0s ptiblicos nos seus reinos, o que significava que os reinos das fndias formas- sem uma categoria particular e distinta no interior da Coron de Castela. A reivindicagio encontrava fundamento na singularidade geogréfica ¢ humana das Indias, se exprimindo cada vez mais por um corpo Legislativo e insticui- gGes especificas e dando lugar a pedidos constantes de respeito de “foros ¢ privilégios” dos reinos das [ndias e de seus habitantes. Essa diferenciagio se vé reforcada no século XVIII, pela nova maneira que as elites peninsulares tém de considerar os reinos e provincias americanos: elas os tomam como “colénias", quer dizer, por tertitérios que existem apenas para o beneficio da metrépole que, implicitamente, sio desprovidos de direitos politi- cos préprios. O que implica igualmente que a América nao dependia do rei, como 0s outros reinos, mas de uma metrdpole, a Espanha peninsular. Mesmo que este vocdbulo nao tenha sido utilizado nos documentos oficiais, isto no impede que ele seja ressentido como uma ofensa pelos calles, orgulhosos de sua condicao de espanhdis € dos privilégios que mereceram por seus servicos ao rei, quando da Conquista. A partir da década de 1770, essa distingdo adquire, enfim, um contetido cultural, pela aparicio do que se poderia chamar de americanidade. Parcilhada em alguns aspectos pelos colonos britdnicos da América do Norte", esta nova identidade é uma resposta A visio pejorativa que a ciéncia européia dava do Novo Mundo e de seus habitantes na época das Luzes. Este imagindrio de americanidade busca seus elementos constitutivos em diversos dominios: a geografia ~ a distncia e a separacao entre os dois continentes —, a natureza — animada ou inanimada —, os mitos. © Novo Mundo é concebido como um mundo novo, preservado pela Providéncia a principio por impiedade do des- eee potismo europeu. Na América espanhola, a nova identidade comporta, além do mais, uma outra maneira de pensar as relagdes crvsllos-indigenas. Todos, quaisquet que sejam suas origens étnicas, sio americanos pelo fato de terem nascido sobre o mesmo solo. Essa unificagao, obra dos creollss, mantém-se po- rém em grande parte retérica, pois retine numa sé identidade os indigenas e os creallos. Ora, 0 status superior que estes tiltimos gozam na sociedade vem pre- cisamente da condigao de serem espanhdis, descendentes dos que conquista- ram e povoaram as Indias em detrimento das populacdes indigenas Mesmo essas diferenciagdes nao tendo, nas vésperas da independéncia, a fora desintegradora que lhes atribuiram diversos autores, verifica-se que as varias maneiras de formular a distingao entre os espanhéis da Espanha € 0s da América so reveladoras de uma crescente especificidade america- na, Uma singularidade que os creollos expressarao por sua vez, de acordo com 0 contexto politico, pela defesa de seus privilégios ou por uma reivin- dicagio de igualdade com os peninsulares. Porém, na véspera da crise de 1808, a unidade da Monarquia hispanica ainda é considerdvel e 0 pertencimento a esta continua como identidade su- prema e indiscutivel. Trata-se de uma identidade muito forte e fundada sobre uma extraordingria comunidade de tragos culcurais: a lingua, 0 castelhano — para a populagio creolla e a mestiga e para uma parte crescente da populagio indigena —, uma literatura ¢ movimentos artisticos partilhados; a religido, o catolicismo, sem minorias religiosas significacivas; ¢, para os creollos, a memé- ria de seus lugares de origem na Peninsula Ibérica e seus lacos familiares com 0s peninsulares que reforcam um fluxo continuo de imigrances Unidade politica também baseada, apesar do imagindrio absolutista, nos lacos pessoais e coletivos com o rei, ratificados em cada sucessiio de monarca pelo juramento de fidelidade e que fazem dele o centro de unio de Estados povos bem diversos. Essa identidade politica é reforcada para urna boa parte da populacio e apesar da secularizagio dos fandamentos do poder," por uma uni dade religiosa que se enraiza em valores da antiga Monarquia catdlica. A Provi- déncia tinha escolhido @ Monarquia hispanica para defender a Cristandade con- tra seus inimigos internos e externos e para expandir a (6. A fidelidade ao rei é insepardvel da adesio & religitio. A reprodugio da visio providencialista da mo- narquia, caracteristica dos séculos XVI e XVII, é considerével na América, nfo somente por causa do maior tradicionalismo desta, mas porque, em tiltima ins- tancia, ela legitima, inclusive pelos indios, a possessio da América pela Es- panha, Dai a dificuldade com que logo vio se deparar os fundadores das novas 18 ages: como ser, ao mesmo tempo, independente, republicano e catdlico? Como ligar entre elas comunidades cuja unidade era até entio assegurada por lacos verticais com 0 monarca? Como assentar a fidelidade & nagdo moderna, por esséncia secular, sobre um imagindrio que privilegiava os fundamentos religio- sos da obrigagio politica? Desafios e dilemas da identidade na época revoluciondria ‘Todas essas identidades politicas ¢ culcurais, que até entio nao apareciam nem como separdveis nem como incompativeis, a partir de 1808, comecario a ser auténomas: a se oporem € se recomporem de acordo com as conjunturas politicas de uma crise imprevisivel ¢ inédica. A crise, sabe-se, tem uma origem externa: a inyasio da Peninsula Ibérica por Napoledo, em 1808, ¢ a abdicacio forgada do rei da Espanha em favor de José Bonaparte. A abdicacio, unanimemente rejeitada pelos americanos ¢ pe- ninsulares, abre caminho a uma revolugio que o tradicionalismo da monar- quia nao conseguiu pressentir tio préxima, A acefalia do poder mondrquico obriga seus habitantes a assumir os poderes detidos pelo rei ¢ a debater sobre 0 fundamento ¢ o sujeito da soberania, sobre a representacio e sobre 0 cidadio, sobre a necessidade de dar uma nova Constituicio & monarquia. E ent&o que a nagdo irrompe no cendrio como referéncia central e incontornével do discurso politico. E levando com ela estas outras figuras identitarias” — patria, povo, reino — carregadas, como ela, de todas as ambigiiidades de um imagindrio politico em plena mutagio. Da dificuldade de pensar a monarquia em termos de nag&o moderna nascera a implosio do mundo hispanico. Contudo, nem 0 processo revoluciondrio nem o da redefinicio de identida- des so lineares ou simples. Numa primeira etapa, assiste-se a uma explosio de patriotismo onde espanhéis e americanos rivalizam, na ligacio 4 “nagio espanhola”, identificando esta ao conjunto da monarquia. Contrariamente a0 sentido restrito que logo Ihe sera atribufdo na América, a “patria” desta pri- meira época nao remete a comunidades especificas, mas a um patriotismo imperial e popular onde comungam tanto a Espanha pensinsular quanto a América, os diferentes reinos e provincias, os grupos sociais e os grupos étni- cos, inclusive os indios. Trata-se de um patriotismo tipico dos Estados de antigo regime europeu compostos geralmente por povos diferentes,"! um pa- triotismo, no nosso caso, centrado nos valores que asseguraram durante séculos a unidade da Monarquia hisp§nica: a fidelidade dos “vassalos” com o senhor, a defesa da fé, 0 providencialismo religioso e a conservacio de suas préprias leis ¢ 19 costumes. A nacao-pétria que se invoca € uma realidade ao mesmo tempo poli- tica, moral ¢ espirieual, que ulcrapassa largamente uma entidade geogrifica par- ticular; como disse com felicidade um americano: Sim, meus jovens, a patria, 2 amavel patria no é ourra coisa que a doce uniio que liga um cidadio a outro pelos laos indissoliveis de um mesmo solo, a mesma lingua, uma religiio imaculada, um gover- no, um Rei, um corpo, um espirito, uma fé, uma esperanga, uma caridade, um batismo ¢ Um Deus, pai universal de todos...” Entretanto, esta unanimidade de sentimentos acompanha a revelagio da pluralidade das comunidades politicas que estruturam a sociedade, Diance do desaparecimento do rei ¢ das hesitagdes, ou mesmo da colaboracao das autoridades monarquicas com o usurpador, sio as cidades principais que, sendo as cabecas de um reino ou provincia, aparecem como os protagonistas da resisténcia. So elas que, na Espanha, formam juntas insurrecionais, de- clarando guerra & Franga, levantando tropas, mobilizando as cidades secun- darias; so elas que, na América, proclamam sua lealdade ao rei legitimo ¢ sua solidariedade aos irmios peninsulares. Ninguém age ou fala em nome de um Vice-Reino, de um governo, de uma provincia ou de uma intendén- cia, mas em nome dos “povos” de um reino, de uma provincia ou de uma cidade. Contrariamente & visio administrativa e unitaria do absolutismo, é 0 velho imaginatio pré-absolutista de uma monarquia plural que ressurge entio com forca. Logo, em setembro de 1808, se constitui na Espanha um poder central provisério, a Junta Central: s6 as juntas espanholas que correspondem aos antigos reinos ~ mais Madri como capital — parcicipam de sua formagao e sio representadas. Esta distorgio entre unanimidade moral da “nagio espanhola” ¢ sua es- trucura politica fragmentada, que tinha sido gerada durante séculos pelo cardter pessoal e vertical dos lagos entre os “povos” eo rei, transform € agora numa contradigo maior. Ela mina a unidade da monarquia na medi- da que o desaparecimento do rei traz a necessidade de construir ou recons- truir uma representacio politica da “nacio". As préprias palavras manifes- tam esta tensio: com a nagio e a patria, sempre empregadas no singular, coexistindo as duplas reino-reinos ¢ povo-povos. Sem que ninguém tenha proposto, os acontecimentos de 1808 colocaram fim ao absolutismo. A re- sisténcia espanhola e a fidelidade americana nfo tiveram outro recurso para dar uma legitimidade & sua ago endo o de fazer apelo & soberania da nagio, do reino, do povo. Os termos empregados so miiltiplos e variéveis, mas 0 20 que eles designam é claro: a sociedade. A visio absolutista do poder desmo- ronou de uma vez pois ela no podia fornecer as bases tedricas da resisténcia E sea legicimidade s6 podia surgir da sociedade, a representagao desta socie- dade tornava-se uma necessidade urgente, Esta indispensivel representagio politica colocava, porém, questées consi- derdveis, mesmo quando vista, como é 0 caso nesta primeira época, de uma 6tica tradicional. Através de dois problemas paralelos — 0 direito dos america- nos em formar juntas de governo semelhantes as da Espanha e sua participagao has instituigdes provisdrias que substituem o rei no centro da monarquia -, ela colocava de uma maneira bem prdtica a questao do stats politico da América ¢ da igualdade entre os dois continentes A primeira reivindicagio se choca desde 0 comego com a recusa radical das aucoridades provisérias peninsulares ¢ de seus representantes na América. O pro- cesso de reunidio de uma Junta Geral — as Cortes — da Nova Espanha foi interrom- pido, de forma brucal, desde setembro de 1808, pelo golpe de Estado dos peninsu- lares do México. Na América do Sul, as tentativas de formagio de juntas auténo- mas foram duramente reprimidas, mesmo pelas armas quando necessdtio. A desi- gualdade de tratamento com a peninsula era flagrante, A América a privada de governances que buscassem na soberania do povo uma nova legicimidade. O qualificativo “despético”, com 0 qual os americanos logo qualificario as atiudes das autoridades espanholas, encontra aqui seu principal fundamento O segundo problema, mesmo recebendo um tratamento mais matizado, chega entrecanto a resultados anélogos, pois as declaragdes repetidas de igualdade en- tre a Espanha ¢ a América acompanham a negacio pritica desta igualdade, Em 1809, a convoca¢ cao dos cabildos das principais cidades americanas para eleger os representantes i Junta central representa, deste ponto de vista, um marco essen- cial. Pela primeira vez, 0s reinos e provincias das Indias sio chamados a enviar depurados & mais alta instincia politica da monarquia e se afirma de uma ma- neira solene que: 98 vastos ¢ preciosos dominios que a Espanha possui nas indias nao so exatamente Col6nias ou Feitorias como as de outras Nagdes, mas uma parte integrante da Monarquia espanhola."® Mas esse reconhecimento de sua igualdade politica com os reinos europeus continua em grande parte verbal, em relacio ao ntimero de representantes atri- buidos & América — 9 contra 26 da peninsula — e também ao uso, num docu- mento solene, mesmo no modo negativo, da palavra “colénias”, que os ameri- canos abominam. Mesmo elegendo esses deputados, os americanos reagem afirmando com veeméncia a igualdade dos direitos entte 03 teinos das fndias e os da peninsula, sem qualquer subordinagdo dos primeitos aos segundos: sua filiagdo & Monarquia no resulta de uma dependéncia qualquer da Espanha — peninsular ~ mas de seus lagos com 0 tei. # nesse sentido que eles reivindicam sua condigio de espanhdi [Nés somos os descendentes daqueles que derramaram seu sangue para adquirir noves dominios 2 Coroa da Espanha (...). E por isso que nés somos tio espanhdis quanto os descendentes do rei Pekigio e merecemos as mesmnas distingSes, privilégios e precrogativas que o resto da nago.!? A afirmagio de uma mesma identidade espanbola acompanha uma visio dualista da Monarquia formada por dois povos iguais em direitos ~ af esté o germe da ruptura se esses direitos nfo sfo respeitados. As mvdltiplas e ancigas queixas sobre a igualdade entre creollas e peninsulares se encontram agora unificadas na reivindicagio dos direitos da América. A partir de 1810, aumenta o fosso entre os dois continentes. A ofensiva francesa dercota os patriotas espanhéis, provoca a queda da Junta Central ea formagio, em Cadiz, assediada pelas tropas francesas, de um Conselho de Re- géncia de legitimidade incerta, A convocagio urgence das Cortes s6 acribui provisoriamente & América 28 deputados, contra mais de 200 na Espanha peninsular. Diante desses acontecimentos, que fazem pensar em uma decroca definitiva da Espanha resistence ¢ mostram uma vez mais a posicio secundaria que os governos provisérios atribuem ao Novo Mundo, a maioria das "cidades principais" da América do Sul constituem, como na Espanha de 1808, suas proprias juntas de governo, para a conservacio dos diteitos de Fernando VII. ‘A formagio dessas juntas nao significa ainda independéncia, como preten- derd mais tarde a mirologia “nacional”. Os documentos da época continuam destinar a palavra “nag” ao conjunto da Monarquia: s juntas se atribuem somente poderes tempordrios, assumindo provisoriamente a soberania na es- pera da constituigdo de uma soberania tinicae incontestdvel. Mas, apesar desta explicagio destinada a evitar anacronismos teleolégicos, é certo que a forma- gio de juntas € um marco essencial na ruptura politica e na redefinigéo de identidades. A dispersio da soberania e o nfio-reconhecimento reciptoco de poderes provisdrios espanhéis ¢ americanos vio provocar uma guerra na Amé- ica: 20 mesmo tempo uma guerra externa contra os espanhéis da “mecrépole” e uma guerra civil contra os americanos leais 4 Coroa. Ela é também um conflito de lealdades rivais: uns se batem pelo rei, outros por sua patria. Esta deixa de remeter ao conjunto da Monarquia € 0 patriotis- 22 mo se debruga sobre a defesa ¢ exaltagio da América, em principio da pequena patria ¢ em seguida, do reino, da cidade, da vila ou mesmo das freguesias E essa guerra que, pela dialética amigo-inimigo que ela implica, provoca em pouco tempo uma dadeira reviravolta de identidade. Diance da igual- dade politica flagrance, da qual eles sio objeto, os insurretos vio adotar pro- §ressivamente a denominacio “colénias" que até entdo tinham rejeitado para fazer um argumento em favor de sua independéncia.'* A mudanga vai mais longe e modifica a identidade mesma dos creoffos. Esses mesmos creollus que arvoravam a condigao de espanhéis americanos para reivindicar a igualdade de diteitos politicos separam daf por diance os dois termos € se servem disto para designar 0 confronto entre dois “povos": 0 espanhol ¢ o americano Na “guerra de palavras” que acompanha todo conflito e mais ainda a guer- ra civil, os peninsulares vio utilizar uma linguagem que 36 tende a agravar 0 distanciamento das duas partes da Monarquia € enfraquecer os lagos com os americanos leais 4 Coroa, Para estes, a guerra nao é uma simples lura contra “vassalos infigis” mas uma nova conquista da América, o que equivale a identi- ficat os creallos com os povos conquistados. Uma conquista tida como vitoriosa por antecipacao por causa da inferioridade atribuida ao novo continente e seus habitantes. Retrucando o argumento, os insurretos assimilam, eles também, a guerra & Conquista, mas a desqualificam com todos os argumentos que a “le- genda negr ” européia tinha utilizado contra a Espanha; eles chegam mesmo a se identificar com os povos conquistados recobrando a liberdade perdida. Mesmo sendo este argumento essencialmente retérico, sem ser empregado por todos, sua significagao é clara: a rupcura moral da identidade espanhola Seja pela negacao dos “justos citulos” da Conquista ou pela justa revolta contra um governo despético, estava aberta a via para a proclamagio da inde- pendéncia nao somente diance dos governos provis6rios peninsulares, mas tam- bém diante do rei 20 qual se havia prestado juramento pouco tempo antes Vitérias e incertezas da nagdo Paralelamente ao debate sobre a igualdade politica entre os dois continen- tes, 0 problema da representacio provocava, de igual modo, uma profunda mutagao no pensar a sociedade, a soberania, a autoridade. A longa evolucdo do pensamento europe nestes dominios vinha se juntar a nova maneira pela qual a Franga revolucionatia, tio préxima no tempo e no espaso, tinha formu- lado estas novas concepgées para dar nascimento A nagio moderna O centro dessa mutagio revolucionaria nfo se encontra, a0 contrario das interpretagées cldssicas, na América, mas na Espanha. Acrescente-se A sua participa mais incima as Luzes as circunstancias que so as suas insurreigdo: seu cardter de sede do poder central, 0 desaparecimento de fato da censura politica, a proliferagio da literatura patriécica ¢ a expansio das sociabilidades modernas. Pela Idgica mesma da crise, o imagindrio bem tra- dicional de 1808 cede lugar, em menos de dois anos, a uma visio moderna da nacio. A acefalia do poder politico faz, como tinhamos dito, com que a soberania passe repentinamente do rei A nagio. O q a Franga tinha obtido depois de um rude conflito com o soberano se faz em sua auséncia € em seu nome na Espanha. A transferéncia de soberania para a “nagio” € 0 ponto de parcida da revolugao hispanica. A principio, porém, a maioria das elites espanholas concebe essa transfe- réncia como proviséria e a nacio como um reino formado por diversos cor- pos cuja constituigdo politica foi forjada por uma longa histéria. Somence uma minoria radical, os futuros liberais, pensa a nagio como uma comuni- dade voluncaria, igualitéria e soberana, livre para definir sua propria Cons- tituigio e fonte de coda autoridade. Sio eles entretanto que, em favor do debate sobre a convocagio das Cortes, vio conseguir, gragas ao seu dominio da opiniao piiblica nascente, impor suas visdes Os argumentos utilizados sio muito diversos. A unanimidade de senti- mentos patriéticos dos espanhéis dos dois continentes, sem distingao de gru- pos ou de reinos, sua igual defesa do rei e da patria revelam o cardter iguali- tario da nagio. A fraqueza da Monarquia, manifesta na invasao francesa, acti buida a princfpio ao esquecimento no qual cairam todas as “leis fundamen- tais” do reino, é logo percebida como a conseqiténcia de um despotismo tio profundamente enraizado que s6 uma nova Constituigio poderia erradicar. Nao se trata mais de reformular a formagio histérica do reino, mas de criar uma sociedade nova, cujo edificio se apéia sobre as sdlidas fundagdes, do direico natural e culmina na mais perfeita harmonia do direito civil, arruinando assim o alcazar gético consteuido sobre o sofrimento e ignordncia de nossos ancestrais.” O patciotismo adquire um sentido novo. A luta pela liberdade ¢ indepen- déncia que, nas proclamagées da época, faz referéncia & defesa contra o invasor, passa ao registro da politica interna para reivindicar a liberdade da nagao e dos cidadaos diante do governo e do monarca. A patria passa a ser uma comunida- de livre, governada por leis que ela mesmo se outorgou: Quando no havia mais leis ditigidas ao interesse de todos (...), quan- do todas as vontades, todas as intengGes e todos os esforcos no lugar & de convergir para um centro estavam sujeitos ao arbicrio de um sé (...), havia certo um pais, e pessoas, um conjunto de homens, mas nao havia Pitria.*" A unio da patria como pais ¢ a patria como liberdade sera daf por diante um dos motores do patriotismo revolucionédrio, especialmente na América A nova concepgio da nagio triunfa em 1810. As Costes, que se retinem em Cadiz em setembro, no contam com representantes dos corpos privilegiados mas s6 dos depucados "comuns" do Terceiro Estado, eleitos em niimero propor- cional & populagio por um sufrégio quase universal. Desde sua primeira sessio, a vit6ria da nagio moderna estava adquirida Os deputados que compaem este Congreso, e que representam a Na- gio espanhola, declaram que eles se constitufram em Cortes gerais ¢ extraordindias e que nelas reside a Soberania nacional." Segue-se a promulgacio de uma nova Constituigio em 1812 e, durante quatro anos, uma multidao de leis acabando com o antigo regime e fixando nos textos os princfpios de uma modernidade do tipo francés. Mas se a nagio, como comunidade humana de um novo tipo, se impée entio na Espanha e se transmite em seguida & América rebelada ¢ fiel 4 Mo- narquia, esta nova figura se adapta mal estrucura politica do mundo hispani- co. O grande problema nfo é reconhecer a soberania da nacdo, mas saber qual a comunidade politica deve ser transfigurada em nagio moderna. Na América insurgente 0 problema crucial é que a afirmacao da sobera- nia dos “povos” precede de muito a definicao da nagio. Sdo estes “povos”, as cidades capitais, que formaram juntas de governo e reassumiram a sobera- nia. Mesmo agindo como cabeca de suas respectivas provincias ou de seus teinos e procurando fazer reconhecer sua autoridade pelas outras cidades ou vilas, se cornportam de fato como cidades-estados, chegando, as vezes, a promulgar suas proprias constituigdes. E 0 caso de Nova Granada entre 1810- 1811 e do Rio da Praca, em seguida. Deste fato, mesmo se as Constituigies independentistas adocam muitos pontos da Constituigdo de Cadiz ou de Constituigdes francesas das quais ela se inspirou, aquelas se distinguem des- tas por aspectos muito reveladores da maneira diferente de como se coloca o problema da nago na América Na Constituicio de Cadiz os corpos se constituem da nago ¢ aparecem como realidades incontestaveis que no necessitam de justificativas prévias: As Cortes gerais ¢ extraordinérias da Nagao espanhola (...) decretama Constituicio politica seguinte pelo bom governo e correta adminis- tragio do Estado.” Hay As Cortes sio, no imagindrio comum do mundo hispanico, a represencacdo de todos os espanhéis dos dois hemisférios”, 0 que equivale a identificé-la com 0 como “a reuniai legitima e tradicional do reino. Jé a nagio, ela defini conjunto da Monarquia. Os constituintes de Cadiz se baseiam assim em reali- dades dotadas de uma legitimidade histérica que as dispensa, no momento, nao de outra definigo. E verdade que as Cortes reunidas em Cadi: dio, nem pela composigdo, nem pelo modo de eleicao, nem por seus poderes, uma res- tauracao das Cortes tradicionais. A nagio que elas ém em perspectiva nao é tampouco a nagio antiga, o reino, uma entidade histérica formada de ordens € de corpos diversos, mas uma nagio moderna saida de uma associacao voluncé- ria de individuos. Mas, apesar de todas as novidades, a Constituigio de Cadiz poderia reivindicar sua continuidade com o passado, ainda mais que ela insis- tiria em reconhecer Fernando VII como soberano. A situacio € rotalmente diversa na América insurgente: a rupeura com 0 passado € evidente. Em primeiro lugar, porque a negacao do lago com 0 gover- no central da Monarquia ~ com o Conselho de Regéncia ¢ as Cortes, inicial- mente, ¢ com o rei, depois de seu retorno em 1814 — equivalia & dissolucio dos lacos dos povos americanos entre eles, pois, até entio, sua unidade resulta- va nao de lacos horizontais mas verticais, Em segundo lugar, porque no exis- tiam na América instituigdes representativas do reino ou da provincia que teriam podido substituir imediatamente 0 monarca Mesmo se, de acordo com 0 imaginério politico tradicional, 0 primeiro reflexo dos insurgentes foi convocar uma Junta de cidades, depois um Con- gresso ou Cortes, faltavam os antecedentes € reinava uma grande incerteza quanto aos “povos” que deveriam participar dessa reunido. A Gnica realida- de politica definida na América eram as cidades principais com seus campos de jurisdigao: uma unidade politica de ordem superior s6 poderia surgir de sua aquiescéncia. A elaborago de uma Constituicao equivalia, estrita e nao retoricamente, a consteuir um corpo politico inédito. Esse proceso s6 poderia se apoiar sobre os “povos”, por pactos e negociagies (...) entre Estados ox corpos politicas.® Por isso, mesmo falando de uma maneira bem moderna do povo de tal ou qual regio, explicita-se imediatamente que 08 sujeitos que interferem na constituiggo de um “corpo de nagao” nao sdo os individuos, mas os Estados, as provincias ou os povos ~ de fato, as cidades. O “povo” no singular s6 aparece em um sentido concreto, como 0 povo urbano que manifestava sua vontade na formagio das Juntas, ou no sentido bem geral e retérico de fonte de legitimidade A tarefa era considerivel na medida que a fragmentagio da soberania nao se deteve no nivel das cidades capitais; a seu turno, as cidades, as vilas secundirias mesmo as povoagées reclamaram sua soberania¢ estavam constantemente em con- flito com as cidades capitais, A comparagio com a América briténica mostra até que ponto a auséncia, na América espanhola, de insticuighes representacivas do reino ou da provincia tornou dificil ¢ conflicuosa a formagao de Estados indepen- dentes. Nas treze coldnias, a existéncia secular de insticuigdes representativas, tan- co em nivel local quanto provincial, rornava mais ficil no somente a substituigio do rei mas 0 pacto fundador da nova nagio. Na América espanhola, apesar da necessidade reconhecida por todos da unio dos “povos”, sua realizacio sera no apenas dificil mas explosiva. A auséncia destes ancecedentes representativos acres- centavam-se as dificuldades de ruptura com 0 governo central, que resultavam, de um lado, da definigdo de novos sujeitos da soberania ¢, de outro, da necessidade de inventar novos sistemas para representar nfo somente os “povos", mas também o cidadao que a modernidade nascente propunha como base da nova legitimidade ‘A “nagio” seré entio, na América insurgente, o resultado de um pacto entre 08 “povos”. Resultado inédito e incerto, nfo podendo ser baseado em elementos culturais que definiriio mais tarde a “nacionalidade” na Europa. A tinica iden- tidade que estes “povos” tinham em comum era a identidade americana, bem operatoria na luca contra os peninsulares, mas evidencemence impocente para fundar uma “nagio americana” capaz de vencer a imensidade do espaco. A unidade da América espanhola, que Bolivar tentard realizar mais carde, s6 poderia ser uma utopia politica fundada sobre uma identidade americana que nfo correspondia a qualquer identidade politica concreta A dificuldade de construgéo nacional se via, aqui, acrescida pelo regime re- publicano adotado depois das declaragies de independéncia. Se esta escolha era explicével ¢ sem diivida inevitavel, a modernidade do regime era um facor suplementar de fragilidade politica da soberania absoluta do povo que ele com- portay: O povo continuava como uma referéncia abstrata 0 individuo-cidadao uma excegdo nas sociedades que continuavam a ser massivamente sociedades de antigo regime, formadas por corpos de todo tipo. A Constituigao de Cadiz apre- goava também a soberania de uma nacio de individuos-cidados, mas essa legi- timidade moderna coexistia de fato com a legitimidade histérica do rei que continuava a gozar de uma forca extraordinécia. Nesse sentido, a América fiel 8 Monarquia®® se encontrava em uma me- Ihor situasao, pois sua fidelidade & Coroa, por um tempo, a preserva da disso- lusio territorial. Mas aqui também 0 problema acaba por se colocar, pois as Cortes de Cadiz foram incapazes de dar uma solugio consticucional as aspira~ dos americanos, A igualdade de representagio foi quase adquirida depois de um longo combate dos deputados americanos nas Cortes, a excecio do direico de voro recusado aos negros ¢ mulatos. Mas as Cortes no souberam encontrar uma expresso institucional para a estrucura plural da Monarquia tal como a concebia o imaginario americano € a representagio dos “povos”, 0 que cornava, dai por diante, 0 regime republicano incontornave Os constituintes das Cortes de Cadiz sempre conceberam a nagio espa- nhola ~ a Monarquia — como um Estado unitério, Suas louvagdes as institui- Bes representativas dos antigos reinos foram puramente verbais. Nao somen- te ninguém defendia uma representagio € um governo particulares para os reinos ou provincias, como também existiram até lamentos diante da impos- sibilidade de se proceder a uma divisio “racional” do territério, inspirada na divisio da Franca em departamentos. © postulado da unicidade da nacio, preparado pela redugio absolucisca dos diferentes reinos peninsulares a um s6 reino dotado de Cortes tinicas, ¢ reforgado pela adogio do modelo revolucioné- rio francés, tinha triunfado radicalmente nas elites peninsulares Serd preciso esperar a segunda revolugao liberal espanhola, em 1820, € os progressos dos movimentos independentistas para que os deputados america- nos nas Cortes proponham o plano de uma Monarquia — composta pela Espanha ¢ pelos erés reinos americanos dotados de insticuicdes representativas proprias e de um poder executivo confiado aos trés infantes. O primeiro deveria englo- bar 0 México e a América Central; o segundo, a Nova Granada e Venezuela; 0 terceiro, enfim, os dois Peru, o Rio da Prata eo Chile. O que, em 1810 ou em 1811, poderia ter respondido as aspiragdes americanas de igualdade politica e a governos auténomos vinha muito tarde € se chocava com a concepgio de nagao unitaria dos peninsulares. As Cortes se recusaram mesmo a examinar o projeto. Pode-se dizer, como ressalva As Cortes, que esse sistema, vizinho do que se adotard mais tarde no império britdnico, ndo tinha entio qualquer precedente. Aorigem da nagio na América espanhola nfo € cultural, mas essencialmen- te politica. A nag&o serd fundada, como na Franca e na Espanha revolucionérias, sobre a unio das vontades. Mas, diferente da Franca e da Espanha peninsulares, nio se trata de vontades individuais, mas da vontade dos “povos”. Enquanto na Franga ou em Castela,*6a nova figura recobria uma velha nagao no sentido cul- cural do termo, na América, a identidade politica era muito mais rescrita que a identidade cultural. Foi apenas em regides como o México ou Chile, onde o 28 reino era jé uma realidade definida, que a nacio foi herdada, sem muitas cuptu- ras, do reino. Em outras partes, mesmo se inscrevendo em diversos espagos ad- ministrativos ¢ econédmicos preexistentes, a naco serd o resultado frdgil « em parte aleatdrio dos pactos entre os “povos”, numa primeira fase; ¢ numa segun- da, da unidade imposta aos “povos” pelos exércitos dos Libertadores Uma vez alcangado esse resultado, resta construir outros aspectos da nagio moderna: o politico, destruir a sociedade de corpos para obter indivfduos e crans- formar os “vassalos” em cidadaos; e 0 culeural, fazer com que todos partilhem uma meméria e um imaginério comuns, mesmo miticos.2” Uma adogio preco- ce, premacura sem diivida, do modelo nacional: eis ai a principal singularidade da América espanhola, conseqiiéncia da crise acidental que atinge o primeiro € mais homogéneo dos impérios europeus Tradugto Marco Morel Notas 1 Foi preciso entio, para respeitar o esquema da emancipagio nacional, eransformar as revoltas de antigo regime contra os “maus governos", como a dos Andes em 1781 1783, em movimentos precursores da independéncia 2. E claro que 0 jogo de causalidades externas ou intetnas € diferente no Império austro-hiingaro ou no Império otomano 3. Esca palavea designa na América espanhola 0s habi tidos como tal, nascides na Amética 4. Para abordagens recentes dos problemas da nagio na América Latina ver A. Annino, L. Castro Leivae F-X. Guerra (dir). Delos inperias.a las nacones. Ueran Toercaja, 1994, 620p. e E-X. Guerra e M. Quijada (dir), "imaginarla naciéa’,n" 2 de Cuadernos de Historia Latinuamericana, Mnster-Hambourg, AHILA, 288p. tes de origem européia, ou 1, Saragosse, 5. A Corea consegue igualmente impedir a constituisio, na América, destes senhorios, pessoais que, com os municipios, tinham partilhado a cerra e os homens dos reinos, ‘muculmanos conquistados. 6. Suplemento a la Gazeta de Mexico, 28 de dexembro de 1808, . XV, n" 147, p. 1.019. 7. A utilizagio massiva da palavra "vassalo” no momento da crise da Monarquia marca bem a persisténcia de um imagingrio antigo. 8. Mesmo em se cratando de princi ios conteatuais, nds preferimos reservar esta palavra para 0 contratualismo modern; erata-se aqui das relagies entre os cpu e suas aucorilades 9. Para esta maneira de conceber a soberania, vet A. Anaino, op. cit. cap. 8 10. B af que se encontra 0 fundamento das revoltas das quais ns falamos na nota 1 11, Muicos desses cemas foram bem destacados por Thomas Paine. 12. CE. D. Brading e L. Castro Leiva, Delos Imperia a las nacones, op. cit, cap. Le 5 13. Para um estudo preciso dos diversos sentidos de nagio e de pétria ver o excelente artigo de M. Quijada, "é Que nacién? Dindmicas y dicoromias de la nacién en el mun- do hispinico", em Imaginar la navn, op. cit. pp. 15-52. 14, Para este tipo de pattiotismo ver E. Hobsbawm, Nations ef nationaliomes depuis 1780, Gallimard, 1992, p. 67. 29 30 15. Diario de Mesien, «XL, 0° LS: 16. Real Orden, Sevilha, 22 de j 17. Camilo Torres, sna Junta Central de Expatiz... 1809, ed. facs-, Bogors, 1960. 18. As obras do abade de Prac sobre as colinias desempenham tum papel importante nesta muragio. 19. Catecim de doctrina civil por dom Andris de Muga Luzuriaga, Cadiz, 1810. 20, Semanario Patretiso, Madti, a’ IM, 15 de setembro de 1808, p. 56 21. Decreto das Cortes, 24 de setembro de 1810. 22. Constituci politica de ka Monarguia espaol, 19 de marco de 1812, preimbulo. 23. "Acta de Federacién de las Provincias Unidas de Ja Nueva Granada’, vembro de [$11 24. A adogio desse regime, proprio do pattiotismo revolucionario tinha sido facilitads pela exaltagio das vircudes e exemplos das repablicas antigas. Cortespondis, além do mais, a cidades-Estados que, no comeco, eram os principsis atores da independéncia Este regime eta ali, inevitavel, na medida que se rejeicava a soberania do rei da Espanha Seo regime monarquico era preferido, como imaginar um out rei que fosse 0 “senhor natural” do reino, pois a legitimidade do reina era antes de tudo histérica? 25. Bssencialmente: México, América Central ¢ Peru. 26. A Espanha peninsular do fim do século XVIII é de fato uma Castela “expandids Seri preciso esperar a seguada metade do século XIX para que a homoyencizacio institucional e cultural dos outros reinos provoque enere os que possuem uma Lingus ¢ tuma cultura proprias movimentos nacionalistas que resultardo em nossos dias na d, 1 de secembro de 1809, p. 298. ro de 1809, AHN, “Estado”, $4, D, 7 tn de Santa Bow la Supre oral le rena us, Representacn del cab 7 de no- reconstituigio sob oucras formas ~ as auconomias ~ da Espanha plural 27. CE. particularmente para esta construgdo, Ménoires ex derenir. Amérique fatine XVI ~ XX sige, Bordeaux, Maison des pays ibériques, 1994, 377 p.

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