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1. Introdução
A inflação é um fenômeno que vem acompanhando a evolução da moeda desde a sua
criação. Caracterizada pela perda do poder de compra da moeda, a inflação passou a ser tema
de estudo para a contabilidade a partir do século XX. Seus primeiros registros datam da
década de 20, devido, basicamente, à política de industrialização mundial e ao excesso de
meio circulante existente àquela época. A partir desse período, até o início da década de 60,
não houve uma grande evolução para a solução dos problemas causados pelos efeitos da
inflação, o que se resumiu à criação de algumas modalidades de reavaliações opcionais pela
legislação. Foi apenas em 1961, com o trabalho de Edwards e Bell (1961), que surgiu a
primeira metodologia de mensuração desses efeitos, a partir do custo corrente. Nessa mesma
década, no Brasil, surgia em 1966 outra importante evolução para esse tema, a tese de
doutoramento de Iudícibus (1966), que desenvolvia uma metodologia de reconhecimento dos
efeitos da inflação através da correção monetária.
A partir desse período, a correção monetária passou a ser considerada por alguns
estudiosos e pesquisadores da área contábil como uma das maiores evoluções da
contabilidade. No Brasil, ela teve sua expansão ocasionada, principalmente, após a
promulgação da Lei No. 6.404/76, a Lei das Sociedades por Ações, através da imposição legal
de uma metodologia de reconhecimento dos efeitos da inflação que valorizou
substantivamente a qualidade da informação contábil. Editada em um período de altas taxas
inflacionárias, a Lei objetivou reconhecer os efeitos dessa alta inflação nos demonstrativos
das empresas, para que, assim, fosse possível a realização de uma análise financeira mais
“real” sobre seus resultados.
Passados os anos e observando uma redução significativa das taxas de inflação após
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uma série de planos de estabilização, o Governo editou e promulgou a Lei No. 9.249/95, de 20
de dezembro de 1995, extinguindo a obrigatoriedade da realização da correção monetária nas
demonstrações contábeis para fins societários e fiscais. Essa lei foi a “divisora de águas” entre
o período no qual se reconheciam os custos e efeitos da inflação no patrimônio e resultado das
empresas, e o período no qual não os reconheciam. Levando em consideração que essa
redução do custo inflacionário não foi a zero ponto percentual, ou seja, a inflação baixou
significativamente, mas não foi extinta, estudiosos e pesquisadores passaram a discutir os
prejuízos que a citada lei trouxe à qualidade da informação contábil.
Tendo como principais usuários de suas informações contábeis os agentes econômicos
e os usuários externos e internos em suas tomadas de decisão, há a necessidade de uma
relevância cada vez maior das informações contábeis, no sentido de que reproduzam com a
maior fidelidade possível a realidade empresarial (IUDÍCIBUS, 2004). Sendo assim, atenta-se
para a necessidade de reconhecimento desses custos inflacionários nos demonstrativos das
empresas, tornando-os mais confiáveis e relevantes para a tomada de decisão.
Nesse sentido, o objetivo deste estudo é analisar o impacto que o custo inflacionário
provoca na análise das demonstrações contábeis das empresas brasileiras. Para isso foi
realizado um estudo de caso com uma empresa brasileira, de capital aberto, que elabora e
publica suas demonstrações contábeis, reconhecendo o custo inflacionário em suas
demonstrações e, sem reconhecê-lo.
2. O Custo Inflacionário e a Análise das Demonstrações Contábeis
A evolução do patrimônio e dos resultados de uma entidade, além de sua transparência
através das demonstrações contábeis, é de interesse não só aos sócios e acionistas, mas
também às entidades públicas ou privadas que tenham qualquer interesse ou vínculo jurídico
com esta entidade. Sendo principal meio de comunicação entre a organização e os
interessados em seus resultados, as demonstrações contábeis refletem essa evolução em
determinado período. Dessa forma, elas são importantes instrumentos de auxílio aos gestores
em suas tomadas de decisão, pois são fontes essenciais de informações sobre a entidade.
Um dos problemas enfrentados por estas demonstrações, sob a ótica da evidenciação,
como comentado por Souza, Klann e Beuren (2006) e, apontado por pesquisadores e
profissionais da área contábil, é a falta de reconhecimento do custo inflacionário, o que pode
provocar distorções consideráveis no resultado das empresas. Nesse sentido, Iudícibus (2004)
observa que se pode afirmar que a contabilidade se amoldaria quase perfeitamente dentro dos
princípios geralmente aceitos, se não houvesse flutuações de preços na economia e, se o
futuro fosse perfeitamente previsível. No entanto, como as condições econômicas reais são
sensivelmente diferenciadas das que serviram de inspiração inicial para a doutrina contábil
tradicional, os profissionais e estudiosos da contabilidade se encontram de frente à um
impasse: ao aplicarem rigorosamente os princípios geralmente aceitos poderão produzir
relatórios contábeis de pouca relevância, pelo menos sob alguns aspectos; e, ao utilizarem-se
de outros critérios de avaliação para tornar os demonstrativos mais relevantes, estarão
correndo o risco de serem considerados revisionistas, desobedientes aos princípios geralmente
aceitos, e poderão ter seus trabalhos severamente questionados pela profissão estabelecida e
representada em associações e institutos.
Ainda, observando o exposto por Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p. 57) sobre os
Princípios Contábeis Geralmente Aceitos, nota-se que o Princípio do Custo como Base de
Valor supõe que, “o custo de aquisição de um ativo ou de insumos necessários para fabricá-
los e colocá-los em condições de gerar benefícios para a entidade, representa a base de valor
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CH MC Variação CH MC Variação
Balanço Patrimonial
2006 2006 % 2005 2005 %
Ativo
Circulante 1.261.805 1.266.691 0,39% 907.875 942.622 3,83%
Realizável a Longo Prazo 154.168 154.168 0,00% 154.906 160.871 3,85%
Permanente 1.050.182 1.801.807 71,57% 1.125.823 2.149.880 90,96%
Total do Ativo 2.466.605 3.223.116 30,67% 2.188.604 3.253.373 48,65%
Passivo
Circulante 840.694 840.585 -0,01% 694.827 721.448 3,83%
Exigível a Longo Prazo 325.751 583.209 79,04% 246.450 589.508 139,20%
Patrimônio Líquido 1.300.160 1.799.322 38,39% 1.247.327 1.942.417 55,73%
Total do Passivo 2.466.605 3.223.116 30,67% 2.188.604 3.253.373 48,65%
QUADRO 1 – COPESUL. Variação do balanço patrimonial da empresa após a correção monetária integral. 2005
– 2006. Fonte: Dados da empresa.
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CH MC Variação CH MC Variação
Balanço Patrimonial
2006 2006 MC-CH 2005 2005 MC-CH
Ativo
Circulante 51,16% 39,30% -11,86% 41,48% 28,98% -12,50%
Realizável a Longo Prazo 6,26% 4,80% -1,46% 7,08% 4,94% -2,14%
Permanente 42,58% 55,90% 13,32% 51,44% 66,08% 14,64%
Total do Ativo 100,00% 100,00% - 100,00% 100,00% -
Passivo
Circulante 34,08% 26,08% -8,00% 31,75% 22,18% -9,57%
Exigível a Longo Prazo 13,21% 18,09% 4,88% 11,26% 18,12% 6,86%
Patrimônio Líquido 52,71% 55,83% 3,12% 56,99% 59,70% 2,71%
Total do Passivo 100,00% 100,00% - 100,00% 100,00% -
QUADRO 2 – COPESUL. Variação da análise vertical entre os balanços patrimoniais em custos históricos e o
em moeda de poder aquisitivo constante. 2005 – 2006. Fonte: Elaboração Própria.
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Passivo
Circulante 840.694 20,99% 694.827 840.585 16,51% 721.448 -4,48%
Exigível a Longo Prazo 325.751 32,18% 246.450 583.209 -1,07% 589.508 -33,25%
Patrimônio Líquido 1.300.160 4,24% 1.247.327 1.799.322 -7,37% 1.942.417 -11,60%
Total do Passivo 2.466.605 12,70% 2.188.604 3.223.116 -0,93% 3.253.373 -13,63%
QUADRO 3 – COPESUL. Variação da análise horizontal entre os balanços patrimoniais em custos históricos e
em moeda de poder aquisitivo constante. 2005 – 2006. Fonte: Elaboração própria.
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TABELA 1 – COPESUL. Teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov para uma amostra. 2005 – 2006.
One-Sample Kolmogorov-Smirnov Test 2006CH 2006MC 2005CH 2005MC
N 8 8 8 8
Normal Mean
0,9213 0,9850 0,856 1,0513
Parameters (a,b)
Std. Deviation 0,96621 1,18116 0,8744 1,30284
Most Extreme Absolute
0,304 0,329 0,253 0,296
Differences
Positive 0,304 0,329 0,253 0,296
Negative -0,231 -0,242 -0,213 -0,267
Kolmogorov-Smirnov Z 0,838 0,860 0,930 0,715
Asymp. Sig. (2-tailed) 0,484 0,450 0,352 0,686
Fonte: Elaboração própria com auxílio do software SPSS.
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TABELA 2 – COPESUL. Cálculo da correlação existente entre as amostras emparelhadas. 2005 – 2006.
Paired Samples Correlations N Correlation Sig.
Pair 1 2006CH & 2006MC 8 0,991 0,000
Pair 2 2005CH & 2005MC 8 0,989 0,000
Fonte: Elaboração própria com auxílio do software SPSS.
TABELA 3 – COPESUL. Teste t de igualdade de médias para amostras emparelhadas. 2005 – 2006.
Paired Differences
95% Confidence
Std. Interval of the
Std. Error Difference Sig.
Mean Deviation Mean Lower Upper t df (2-tailed)
Pair 1 2006CH- 2006MC 0,13000 0,36975 0,13073 -0,17912 0,43912 0,994 7 0,353
Pair 2 2005CH- 2005MC 0,12875 0,34128 0,12066 -0,15656 0,41406 1,067 7 0,321
Fonte: Elaboração própria com auxílio do software SPSS.
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(2006CH – 2006MC) foi de 0,130. Já para o par 2 (2005CH – 2005MC) esse valor foi de
aproximadamente 0,129. Tomando-se como base o valor do t-tabelado de 1,96 para o nível de
significância de 5% (α = 0,05) e, que os “t-values” dos pares 1 e 2 são, respectivamente, 0,994
e 1,067, observa-se que os dois pares se apresentam na região de aceitação da hipótese nula
(H0). Sendo assim, pode-se concluir que não há diferenças significativas entre as médias dos
indicadores calculados antes ou após a correção monetária integral.
4.3. Discussão dos Resultados
Analisando as demonstrações contábeis da Companhia, em custo histórico e em moeda
de poder aquisitivo constante, pode-se constatar o impacto negativo que o custo inflacionário
causa a estas demonstrações. Aumentando significativamente seu ativo permanente, seu
passivo exigível a longo prazo e seu patrimônio líquido, o reconhecimento desses efeitos
altera sensivelmente os valores dos indicadores econômico-financeiros da Companhia.
Conseqüentemente, isso pode levar seus gestores a decisões equivocadas sobre seu futuro.
Mesmo com a constatação de que não existem diferenças estatisticamente
significativas entre as médias dos indicadores econômico-financeiros da empresa estudada, é
consenso entre os estudiosos da área contábil que estas diferenças causam impactos negativos
na análise de desempenho das empresas. Por menores que estas variações sejam, podem
significar valores monetários consideráveis quando se trata de grandes quantias negociadas,
ou por longos períodos de tempo.
5. Considerações Finais
Amparando-se em uma base teórica composta por referenciados autores, partiu-se para
a investigação sobre o impacto que o custo inflacionário provoca na análise das
demonstrações contábeis das empresas brasileiras. No tocante a isto, foi realizado um estudo
de caso onde se observou que as demonstrações da empresa estudada são sensivelmente
impactadas pela inflação e que, como reflexo disso, seus indicadores econômico-financeiros
se mostraram vulneráveis a estes efeitos.
Em suma, quatro importantes conclusões podem ser enumeradas:
1. Observou-se que o custo inflacionário impacta negativamente a análise das
demonstrações contábeis da empresa estudada, tendo em vista que, após a
realização da correção monetária destas demonstrações, seus indicativos e
percentuais de resultado reduziram significativamente;
2. O patrimônio da empresa se encontra “inflado” pelo custo inflacionário, tendo em
vista que à custos históricos apresenta um crescimento de 4,24% e, considerando o
custo inflacionário, passa a apresentar uma desvalorização de 7,37%;
3. O teste estatístico de igualdade de médias para amostras emparelhadas revelou não
haver significância estatística entre as diferenças de médias dos indicadores
analisados, tendo apresentado, respectivamente, “t-values” nos valores de 0,994 e
1,067, estabelecendo-se na área de aceitação da hipótese nula (H0);
4. Apesar de não ter havido significância estatística entre as diferenças de médias
existentes, esta diferença pode ser caracterizada como uma deficiência da
informação contábil, o que é ratificado por Iudícibus (2004, p. 278), ao observar
que “[...] informações contábeis baseadas em preços correntes são mais suscetíveis
de fornecer melhores alternativas para o tomador de decisão”
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Por fim, atenta-se para as limitações que este estudo possui, tendo em vista ser um
estudo de um fato isolado, realizado em um período de apenas dois exercícios sociais, o que
impede a realização de inferências sobre o impacto do custo inflacionário sobre vários
exercícios futuros, ou generalizações indevidas a partir de um caso. No entanto, observa-se
que estas limitações não invalidam os achados pelo estudo, ratificando que os efeitos da
inflação ainda estão bastante presentes nas operações dessas empresas, o que serve de
sugestão para novos estudos em novos ambientes empresariais.
Referências
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