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TALENTOSA DEMAIS PARA SER PROFESSORA* Marla Eliana Novaes + Mestne em Educacdo pola Uni- versidade Federal de Minas Ge- nais, + Assessona da Coordenacao e Planejamento de Ensino da Secretaria de Educacdo doEs- tado de Minas Gerais. Deus te abengoe, fithinho, vat pra escola, sea educado ¢ respettador, honra teu mestre. Mestre? Onde @ que ha um mos- tre no Brastl para que eu Lhe bedie ae mace? (PRADO, 1979, p. 50). Mestre, Mestra, Professor, Professora... Engraca- do, uma pequena amostra de criancas de pré-escolar e 1° Grau (quatro primeiras séries), de diferentes escolas piiblicas e particulares de Belo Horizonte, quando interrogadas sobre © nome de sua professora se espantaram e sé diziam: Ah!?... Em seguida, quando a questdo era recolocada como se ; 1 chama a sua tia da escola? __ logo informavam seu nome. * Trabalho participante do Concurso Nacional de Pesquisa em Educa- go, realizado em maio de 1982 pela Fundaco Educacional do Estado do Parana - FUNDEPAR. Autorizado para publicacao pela Editora Cortez/Mo- raes e Autores Associados, por constituir-se parte de livro no prelo como titulo de Professora Primaria - Mestra ou Tia? 1 Questdes levantadas, informalmente, pela autora com um grupo de criangas, durante uma festa de aniversario. Educar, Curitiba, 2(1):90-106, jan./abr., 1982. 30 Pelo jeito, Adélia Prado vai mesmo ter dificulda- des para cumprir o seu "betja-m@os"!... Ora, pensar numa escola sem professores, para os tempos atuais, é tao estra- nho, quanto pensar numa escola sem alunos: 0 que esta acon- tecendo entao?! Parece que, até 1906, quando surgiu a figura do diretor de grupo escolar, no Estado, a professora era sobe- rana em matéria de ensino. Nessa época, tia certamente tam- bém era somente a "inma dos pais, em reLagdo aos filhos des- tes" ou a "mulher do tio, em re£acdo aos sobninhos" (Holan- da Ferreira, s/d, p. 1386). Na primeira década deste século surgiram os pri- meiros grupos escolares e com eles a funcao de diretor de escola primaria. As classes se juntaram, cada professora assumiu uma série (de 1° a 4%) e uma delas respondia também pela coordenacdo do trabalho na escola ____era a diretora, aquela escolhida, no grupo, como a representante do Estado. Mais tarde, em fins da década de 20, a professora para ser diretora deveria portar um diploma da Escola de Aperfeicoamento, que se propunha a formar a diretora e a orientadora técnica.” K diretora técnica, além das funcdes administra- tivas e de controle exercidas até ento, era atribuida também a funcao de orientacéo e direcao do trabalho das professoras, em termos pedagégicos. Se uma escola contasse também com a orientadora técnica, o trabalho se repartia mais aindae a 2 As fungdes da orientadora técnica foram assumidas, na atualidade, pela supervisora e pela orientadora educacional. Educar, Curitiba, 2(1):90-106, jan./abr., 1982. a diretora dirigia a escola, a orientadora orientava 0 proces- so de ensino definindo o que e como ensinar, e a professo- ra obedecia, ensinando o que Ihe era ordenado ensinar! Da Escola de Aperfeicoamento, as diretoras e orien- tadoras passarama formar-se no antigo CAE - Curso de Adminis- tragdo Escolar. Mais recentemente, essa titulacdo passou a serobtida via cursos de Pedagogia, no préprio Instituto de Educacdo de Minas Gerais - TEMG - e nas Faculdades de Filoso- fia ou Educacdo. Enquanto isso, a professora continuou a- prendendo seu oficio nos cursos de formacao do Magistério, cuja estrutura permanece intocada desde 1946. Ora, nao é dificil concluir que, havendo a_possi- bilidade da continuidade de estudos, tenha ocorrido um en- xugamento do curso normal, o que ocasionou o distanciamento entre o saber produzido nesse curso e nos cursos de pedago- gia: enquanto a diretora e a orientadora tiveram 0 seu sa- ber aumentado, o inverso ocorreu com a professora. E, interessante, o que é ensinado a mais 4 dire- tora e 4 supervisora é feito em nome de uma melhor orienta- cdo e conducdo do trabalho da professora e diz respeito ao seu trabalho quotidiano. Ora, por que entao nao se modifi- cou 0 curriculo dos cursos de formacdo de professora, en- sinando diretamente 4 professora, aquilo que lhe faltava na formacgdo? Por que foi criado o intermediario, o repassador (apropriador) do saber a (da) professora? De certa forma, o que 6 ensinado 4 diretora e & supervisora é 0 que deixou de ser ensinado 4 professora. Educar, Curitiba, 2(1):99-106, jan./abr., 1982. 92 Assim, na realidade, 0 que ocorreu com a profes- sora, foi uma desvalorizagao de sua titulagdo e, paralela- mente, da fungao por ela exercida, tendéncia que se acen- tuou a partir da Lei 5692/71, quando o antigo curso normal foi esvasiado em nome da expansao do curso de Pedagogia. Esse esvasiamento @ percebido pelas préprias pro- fessoras e supervisoras que consideram as professoras re- cém-formadas como incapazes e, portanto, despreparadas pa- ra exercer efetivamente sua funcdo. Contudo, essa "queda da quatidade" @ associada muito mais ao nivel sécio-econé- mico dos atuais alunos do curso normal do que 4 inadequa- co do curso. Realmente, conforme os dados coletados nesta pes- quisa, comparativamente, houve uma mudanga na clientela dos cursos de formag&o do magistério., Muitas das atuais alunas sdo filhas de motoristas, costureiras e mesmo de emprega- das domésticas. Elas préprias sao balconistas, auxiliares de enfermagem, babas. Ainda existem as filhas de médicos, de professores, de iufzes, mas a proporcao @ bem menor. Ora, atribuir o insucesso do processo escolar 4 democratizacado das oportunidades educacionais, principal- mente quando & conhecida a alteracdo desse alunado, no mi- nimo parece irresponsabilidade ou ingenuidade. Talvez esse seja um mecanismo que a escola uti- lize para se eximir de possiveis culpas que lhe sejam a- tribuidas. E compreensivel essa atitude pois, nos cursos voltados para o magistério, o problema de aprendizagem Educar, Curitiba, 2(1):90-100, jan./abr., 1982. 33 tradicionalmente se explicaria sob dois aspectos: o primei- ro seria a "maturidade", a "prontédao" do aluno para apren- der; o segundo seria a adequacdo das técnicas e processo de ensino. © Instituto de Educacdo de Minas Gerais - IEMG sempre foi considerado como escola modelo e a auto-imagem de seus funcionarios e corpo docente € muito positiva, o que dificulta e de certo modo impede uma critica dos méto- dos e processos utilizados pela escola. Assim, na impossi- bilidade de se inserir o problema educacional numa pers- pectiva mais ampla que criasse condicdes para a sua inter- pretacéo sociolégica, a escola atribui seus possiveis in- sucessos 4s falhas de maturidade, prontidao ou "back-ground" cultural dos alunos. Desta forma, se a professora € ava- liada como ineficiente, a culpa é dela prépria que nao a presenta os pré-requisitos para fazer um bom curso de Ma- gistério. Se seus alunos sao fracassados é porque jd che- garam & escola nessa condicdo. Sob a ideologia vigente, surpresa seria se 0 pensamento fosse outro: transferir pa- ra o individuo todo o mérito pelos seus éxitos e fracassos € eximir a sociedade, ou melhor, ignorar as divisdes e as condicédes de classe intrinsecas 4 sociedade capitalista. Parece ingenuidade acreditar que a escola se constitua num "oasis", mas € essa a imagem que a ideologia dominante pro- cura difundir. Assim é que as professoras e especialistas en- trevistadas tomam os efeitos como causas nos seus argumen- Educar, Curitiba, 2(1):90-106, jan./abr., 1982. oh tos: "Esta oconrendo uma baixa no nivel cultural e social da prokessora-prinaria”. "No Brasil, todo o magistério nao & vatorizado. An- Aégamente quem buscava o magistorio era uma elite, hoje esta tao decadente... Quem faz o curso normat esta querendo ascender socialmente”. "0 que ha de professonas analfabetas nao se conta"... "Ndo sei o que € que vat ser do ensino. Sd domestica % que esta Se interessando om ser professona”. "Acho muito necessaria a Supervisio. A professona nao esta prepanada para dar aulas sozinha. Muétas vezes as supervisoras tim ate que fazer a revisao do Paid Casa, pods tomos progessoras que cometem enros ate de ortognagia". 3 "Ks vezes a progessonra: primiria comeca a dar aulas sem muito preparo, pois mudtos dos atunos que re bem diploma do curso normal nao deveriam recebé-Lo' ‘No meu tempo, as professoras tinham mais capacidade. Ensinar era tarega de elite". "A Supervisona ajuda muito porque a progessona est — saéndo da escota som saber muito. A supervisona supre @ ma gormacdo da progessona”. Fica claro que, para as entrevistadas, a profes- sora primaria hoje em dia nao 6 a mesma de tempos atras. Ela & vista como incapaz e incompetente, seja porque ela nao tem suas raizes numa familia de elite, seja porque nado se prepara convenientemente no curso normal. Desse modo, a su- pervisora, a "especialista" torna-se necessdria para suprir a ma formacéo, o ndo saber da professora. 3. Fala de uma supervisora. A preocupacao com o "Para Casa" se ex- plica, pois a tarefa que o aluno realiza em casa, é utilizada pelos pais para controlar a escola. 8, 2(1):90-196, jan./abr., 1982. 95 Fducar, Curitil As professoras e as "especialistas” incorporan plenamente o julgamento que é feito delas, profissionalmen- te. A supervisora, julga indispensivel a preparagdo de "si- mulas para a orientacao do trabalho da professora. Para verificar se sua orientacdo é seguida, a supervisora ainda vai até a sala assistir as aulas das professoras. Vez por outra, faz uma inspecao nos cadernos dos alunos. Se a_pro- fessora nao esta executando as ordens de modo satisfatério a propria supervisora vai para a aula e di uma aula de de- monstracdo, para a professora e seus alunos. Com esses procedimentos, acreditam que nao estao controlando o trabalho da professora, pois "supervisona ne- nhuma pede o Caderno de Planos para dar visto; a professora faz 0 que quer”. Realmente, alguma professora ainda faz o que quer. Sao aquelas professoras cuja experiéncia profissional lhes garante o direito de nao cumprir ordens. Essas professoras tém uma visdo diferente da supervisdo. Para elas: "Supenvisdo @ carrcina de boa vida, de ficar % toa"... "Como as progessoras de 19 ano tém mais experisneia, exigem menos da supervisora, ficam mais soltas”. "E claro que posso realizar meu trabatho sozinha. Sei Lor, 424 consultar o programa oficial e outros Livros para preparrar minhas aulas. A ohientagao que recebo da Supervisona @ totalmente dispensavee”. 4 Apesar de algumas supervisoras nao usarem essa denominagao, a "gignula" constitui-se no planejamento detalhado das atividades da pro- fessora, elaborado pela supervisora. Educar, Curitiba, 2(1):90-106, jan./abr., 1982. 96 — "Pependendo da forga de vontade, trabatharia bon, de —— to da sata de auea, com ou sem supervisora vigéando” Entre as novatas, de tal forma se -cristaliza a imagem de incompeténcia da professora, regente de classe, que para algumas delas torna-se questao de honra deixar a classe e finalmente provar sua competéncia intelectual e profissional: "Sai da negéneia de classe porque precisava orovar minha capacidade progissionae” "Ad Supervisoras e professoras espectatizadas se acham perteee que as regentes - 50 por que tém curso supe- "Resolvi ser supervisora porque todo mundo me achava muito competente para gécar 56 na regéncia”. "0 Estatuto do Magistinio abre possibitidade para o tacesso vertical’, para quem tiver curso superior. porisso que ocorae 0 @xodo dos bons progissconais, pois quem faz curso supertor ndo géca na hegencia”. "Sou dindmica, set de tudo, aco de tudo, nao tenho preguica, porisso fico sempre fora da regéncéa”. Nao @ dificil estabelecer uma analogia entre a es- cola e a fabrica. 0 fim de ambas sera produzir uma mercado- ria cuja comercializacao garantira a circulacéo e a conse- qUente realizacdo da mais valia. No caso da escola, essa mer- cadoria sera a educagao e na sua forma acabada, o aluno di- plomado (Carneiro e outros, 1979). 0 titulo, o diploma con- cedido pela escola, carrega em si todo o fetiche da mercado- ria educagao. Como qualquer mercadoria, a educagdo para ser pro- duzida necessita dos meios de produc3~ matéria prima, Educar, Cu a, 2(1):90-106, jan./abr., 1982. 7 instrumentos ou meios de trabalho e demais condicées mate- riais e do trabalhador, aquele que emprega a sua forca-de- trabalho na produgio. Assim, o progessor ao vender & escola a sua gorca-de-trabatho neatiza o seu vaton de troca e aliona seu valor de uso, nao podendo receber um sem thands- ferir o outro. A escola capi- talista ao incorporar forca-de- trabalho ao processo de pro- dugao da educagao, trans forma valor om capital, om valor que Se amplia (Carneiro e outros, 1979, p. 14). Ora, um dos mecanismos utilizados para se garan- tir a acumulagdo do capital 6 a facilidade da exploracao do trabalho pela distincdo fabricada entre trabalho qualifica- do e trabalho ndo qualificado e, também, pela divisio téc- nica do trabalho difundida nas teorias de administracao. Essa distincao, como bem disse Arroyo (1980), te- ra duas grandes repercussdes: a primeira sera o barateamen- to do custo de reprodugdo e a paralela desvalorizacao e depreciagado do trabalho nao-qualificado; a segunda, o al jamento do trabalhador sem qualificacdo de controle da téc- nica e da ciéncia que orientam o processo de: producao. A rede escolar e sua administragao se constitui nu- ma imensa empresa piiblica que emprega mais de 100.000 fun- cionarios no Estado de Minas Gerais e a ampliacgdo dos qua- dros funcionais de magistério se deu simultaneamente a ex- pansdo das oportunidades educacionais. Assim, a criagio da figura do especialista em educacao, ou seja, a introducdo Educar, Curitiba, 2(1):90-106, jan./abr., 1982. 38 do diretor e do supervisor educacional na organizacgéo esco- lar teve, ao lado das funcdes de controle j4 mencionadas, o objetivo de reduzir os custos do sistema, via distingdo en- tre trabalho habil e indbil da mao-de-obra ocupada no setor. Na andlise da evolucdo dos saldrios apresentada no grafico I fica visivel a diferenga de tendéncia observadas para as curvas de salério dos professores e dos especialistas. Os niveis de remuneracdo vao ficando gradativamen- te mais distantes um do outro. Ao nivel da aparéncia, essa distingdo se faz pela hierarquizacéo de postos de trabalhos, justificada pela titulacdo diferenciada de seus ocupantes. 0 nimero de horas-aula, entendido como o tempo so- cialmente necessdrio para a produgfo de um "éndividuo-educa- divo" vai variar entre cursos e, internamente, em cada um deles. Justifica-se desse modo, toda a segmentacao do merca- do de trabalho, via educagdo. Segundo Illich (Snyders, 1977, P. 29), quanto mais horas se passa na escola, mais se @ vatonizado no mercado”, ou seja, a especializacao e a hie- rarquizacdo entre cursos e profissdes sera exercida pela pro- posicao de que o aumento da competéncia profissional estaria ligado 4 qualidade da formagdo, qualidade esta avaliada pelo niimero de cursos feitos e pela duracdo desses cursos __o nimero de horas-aula gasto com a educacao do profissional. Educar, Curitiba, 2(1):90-106, jan./abr., 1982. 99 GRAFICO I EVOLUCAO DOS SALARIOS REAIS DE PROFESSORES E ESPECIALISTAS DA REDE ESTADUAL E MINIMO REGIONAL-MG-66/80 SALARIO { REAL (cRs1,00) 18000 0 1966 G7 6B 69 70 71 72 73 74,75 76 77 78 79 80 ANOS LEGENDA + nota “+ SALARIO REAL D0 PROFESSOR ‘A PARTIR OE 1975, 0 SALARIO ==== SALARIO REAL 00 SUPERVISOR REAL DO SUPERVISOR € 00 THE SALARIO REAL 00 INSPETOR INSPETOR E, PRATICAMENTE, — SALARIO REAL DO DIRECTOR © MESMO, SENOO OUE & PAR: == SALARIO MaiWinO REGIONAL REAL TUR DE 1979, SAO 1GUAIS, Educar, Curitiba, 201):90-108, jan./abr., 1982. 100 En sintese, no discurso oficial, a introducdo do especialista surge como mecanismo para suprir as deficién- cias de formacdo da professora e também como opcdo de pro- gressdo na carreira do magistério. Entretanto, a introducado do especialista configura-se mais como um mecanismo que a administragdo do ensino encontrou para legitimar a desqua- lificagao da normalista e, conseqlientemente, reduzir os cus- tos de sua reprodugdo. Quanto as especialistas, em propor- cao minima, passardo a usufruir saldrios significativamente superiores ao corpo docente "ndo especiatizado”. Ocuparao cargos de chefia e supervisdo, passando a exercer 0 contro- le do trabalho docente com o qual deixam de se identificar, pois sua lealdade passa a ser devida ao Estado que possibi- litou o seu acesso profissional. Entrementes, dentro da "taylorézagao" da organi- zagdo escolar, o problema principal nao é o parcelamento do trabalho docente e a especializagao de fungdes mas, sim, a hierarquizacgao que ele cria pela oposigao de fungdes. Essa oposicgdo tem a ver coma tao discutida divisao entre traba- lho intelectual e trabalho manual ____na escola, o docente ocuparia o lugar do operario enquanto o especialista se en- tregaria As atividades de concepcio e geréncia. Para Arroyo (1980, p. 18) h@ uma retagao entre a divi- 4a0 do tnabatho na unidade es- colar e na modernizacdo dos cursos de Pedagogia, entre a estnuturacdo destes cursos co- mo centnos de titutacdo e qua- Ligicacdo de especiabistas e Educar, Curitiba, 2(1):90-106, jan./abr., 1982. “Tor eas condighes da exptoracao e@ depreciagao do trabatho do docente de base. A oposicdo entre os docentes e especialistas, cos- tumeiramente dissimulada em suasrelacées de trabalho, se ex- poe em momentos de crise, tal como aconteceu em greves re- centes. A imagem difundida da organizacao escolar como sistema de engrenagens perfeitamente ajustadas € logo coloca- da abaixo quando se percorre uma escola. Ali, mesmo velada- mente, os conflitos e contradicgdes vio logo aflorando. Du- rante as entrevistas nao foi dificil perceber a quase com- pleta desarticulagdo entre os diferentes setores da escola e, em muitos casos, uma oposicao concreta entre eles. Isto ocorreu entre as diferentes professoras regentes, "especia- Lizadas" na série em que atuam. Por exemplo, a professora da 3? série incrimina a da 24 e a da 4% série; as professo- ras especializadas® se opdem as regentes dizendo que elas nao lhes facilitam o trabalho; entre as professoras, as su- pervisoras e a direc&o, o conflito se coloca a nivel de au- tonomia — poder e entre as préprias supervisoras, 0 choque ocorre pela diversificacao das linhas de trabalho, entre ou- tros motivos. £ de se lamentar que o que deveria ser uma conju- gacdo de esforcos em beneficios do aluno, na realidade mos- 5 Professoras de Misica, Educagao Fisica, Educagao para a Saude, Ar- tes, Religido e Biblioteca. Educar, Curitiba, 2(1):90-106, jan./abr., 1982. 102 tra-se como uma arena onde os diferentes setores se degla- diam. A falta de integracao, ainda que desconcertante, € a conseqliéncia légica da divisao do trabalho dentro da esco- la. Na estrutura do Instituto, as professoras regen- tes de classe se subordinam as supervisoras e estas a coor- denagdo de cursos. As professoras especializadas se ligam diretamente 4 direcdo da escola, no caso, 4 diregao do Cur- so de 1° Grau. © que pode ser entendido como trabalho conjunto, resume-se\numa reuniado de todo o pessoal no inicio e no fi- nal do ano letivo. Durante o ano letivo parece predominar a atividade de equipes e grupos isoladamente e o trabalho vai acontecer dependendo do nivel de consciéncia de cada pro- fissional. Ha entre as professoras, muitas que, perfeita- mente amoldadas 4 estrutura vigente, declaram: "Nao tenho condigoes nem {%sicas nom mentais, nem culturaés para outna progissao. Nao gaco nada sem sex mandada. E pregentvel sen sol- dado ras0 que generat”. Apesar de reconhecer que os tempos atuais sao mais favoraveis para o general, essas professoras ilustram muito bem a situacgdo do docente que internalizou as regras do jogo, acriticamente. Tudo leva a crer que o grande papel reservado para as professoras, na atual estrutura do sistema de ensi- no, @ obedecer e executar as ordens que lhes sdo transmiti- das. iba, 2(1):90-196, jan./abr., 1982. he Educar, Cui E porisso que entre as professoras é significati- vo o niimero daquelas que se consideram incapacitadas para desempenhar sua fungdo, vivendo em completa dependéncia das orientagdes recebidas de seus superiores, mais particular- mente das supervisoras. Quanto ao seu trabalho pedagdgico, as professoras costumam dizer que "a supervisona & uma mac: ja entrega o pla- nejamento prontinhoe tao simples, tao deta- thado, que a professora ndo tem trabathe ne- aa Fica desnecessdrio comentar o que tal atitude sig- nifica em termos de uniformizacao do ensino, pois a cria- tividade da professora, a capacidade de jnovar e improvisar é praticamente eliminada. A autonomia da professora se re- duz quase por completo e, mesmo assim, nao deixa de causar espanto quando as professoras declaram que até para mudar as carteiras de lugar, mudar o "fay-out” da sala, precisam de autorizacZo da supervisora e da diretora. 0 mesmo acon- tece para a realizacao de excursées, convites para entre- vistas, etc.® Nessa perspectiva, fortalece-se a problematica do controle dentro da escola e fora dela. Referindo-se 4 Uni- versidade, Santos (1978. pn, 4) disse que "a Universidade faz em sé 0 que a Sociedade faz nela”. Por extensio, o mesmo a- contece com a escola primaria e com a professora que faz com seus alunos o que ela sofre na prépria pele. 6 Durante a realizagao das entrevistas para este estudo, algumas professoras s6 se dispuseram a responder 3s questdes quando confirmaram que tal trabalho tinha sido previamente autorizado pela direc3o da esco- Ja. Por outro lado, duas supervisoras se negaram a conceder a entrevista e, pelas suas declaracées, suas atitudes pareceram mais uma reacao a0 fato de nao terem sido consultadas sobre a possibilidade da pesquisa jun to as professoras. Educar, Curitiba, 2(1):90-106, jan./abr., 1982. Tod contece com a escola primaria e com a professora que faz com seus alunos o que ela sofre na propria carne. © inspetor escolar, desde o Império, foi o res- pons4vel pelo controle do trabalho das professoras nas es- colas. Ele era o representante direto do Estado e, a partir da expansao da rede escolar e do aumento da complexidade da organizacgdo responsavel por sua administracéo, a sua tarefa foi dividida com 0 diretor da escola, com escalées superio- res e também com os supervisores que passaram a atuar den- tro da prépria escola. E inegavel que o trabalho da profes- sora praticamente nasceu controlado pelo Estado e, de ou- tra forma nao poderia ser, pois as escolas se multiplicam sob 0 seu patrocinio. Por outro lado, nao ha como nao per- ceber que o controle do trabalho da professora apesar de praticamente surgir junto com ele, muda de natureza e se fortalece no decorrer da histéria. & bem diferente o Estado ser dividido em alguns "CZxculos Litenr&rios", cada um deles com um inspetor escolar, responsdvel pelo controle de um niimero variavel de escolas e o fato de se ter em cada esco- la um diretor (ou coordenador) auxiliado por um corpo de supervisores. Desta forma, nao se pode pensar que o contro- le foi eliminado. Na realidade, foi fortalecido, na medida em que ao trabalho do inspetor foi associado 0 trabalho do diretor e o do supervisor escolar. Mesmo assim, nado se deve interpretar essa hierar- quia e toda a dominacdo pretendida como uma via de mao-ini- ca. As contradicdes existem e se revelam. Educar, Curitiba, 2(1):90-106, jan./abr., 1982. 105 01 02 03 04 0s 06 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ARROYO, M. G. Operarios e educadores se indentificam. Que rumos tomard a educacao brasileira?. Educagao e Sociedade. Sao Paulo, (5):5-23, jan. 1980. CARNEIRO, A. F.; ESTANISLAU, L. A.; NOVAES, M. E. Edu- cagdo: mencadonia? s.1, s. ed. (mimeo.). (Trabalho apresentado durante o curso de Mestrado em Educagao da FAE/UFMG; 1979. HOLANDA FERREIRA, A. B. Novo déctonario da lingua pox- tuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira. - PRADO, A. Solte 08 cachonnos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1979. - SANTOS, J. H. A univensidade e a Sociedade brasiveina dtual; participagao e alienacao. s. 1, s. ed. (tra- balho apresentado na reuniao do Conselho de Reitores das Uni- versidades Bras! leiras; reallzado em Jodo Pessoa, Parafba), 1978. - SNYDERS, G. Escola, classe e futa de classes. Lisboa, Moraes, 1977. Educar, Curitiba, 2(1):30-106, jan./abr., 1982 106

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