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Aspectos da presenca dos Jesuitas em Cabo Verde no século XVII 1. Antecedentes e negociagées Muito antes de 1604, ano da chegada dos primeiros jesuitas a Cabo Verde, jé tinham sido feitos varios pedidos ¢ tentativas para conseguir a sua colaborago missionéria, quer por parte da Coroa ¢ autoridades religiosas quer mesmo por insisténcia de simples cidadaos que haviam sugerido e solicitado 0 envio de religiosos para a regido. Em 1578, Ant6nio Velho Tinoco, provedor da Fazenda e capitio da cidade da Ribeira Grande, acalentara a esperanga de levar alguns jesuitas para 0 arquipélago e para a Costa da Guiné mas a sua morte, nesse ano, na desastrosa batalha de Alcécer Quibir, impediu-o de concretizar o projecto Por sua vez, André Alvares de Almada, no seu Tratado breve dos rios de Guiné do Cabo Verde, de 1594, recorda as diligen- SIGLAS ANITT— Arquivos Nacionais/Torre do Tombo |ARSI_ — Archivum Romanum Socitats Jesu BA — Biblioteca da Ajuda uno da Sita Goncalves * ae re 3 Cunt at {ea ne tventes oir 980 p83 MMA —Monumenta missionaria africana. Africa Ocidental, coligita © anotada por Anténio Brisio, 2* série, vols, HEIV, Lisboa, AAgtncia Geral do Ukeamar, 1964, 1968; vo. V, Lisboa, Academia Portuguesa da Histéria, 1979, * Doutorade em Mirada ig pela Universidade Gregorian en 145 999) 732 intopwa es ae oo Cie vee, te eras 39. Gels Com cias que tinha empreendido, em Lisboa ¢ Madrid, com a fina: lidade de obter a fundagZo, na ilha de Santiago, de uma casa de padres da Companhia ou de outros religiosos: «fiz. lembranca a Sua Magestade quanto servigo faria a Nosso Senhor em mandar fundar na Ilha de Santiago uma casa de Padres da Companhia ou outros Religiosos, porque estes fariam nas IIhas ¢ em Guiné muitos servigos a Deus € a Sua Magestades® Ideia semelhante a de Almada foi defendida, por volta de 1600, numa relagio de Lopo Soares de Albergaria, fidalgo da casa real ¢ membro do Conselho de Estado. Lamentando 0 abandono em que tinham sido deixados os cristlos da Guiné € 0 desleixo na conversdo dos gentios, lembra que, no rio de S, Domingos, em Cacheu, onde havia seiscentos cristios e se tinha 4 construfdo uma boa igreja, se poderia fazer uma casa ou recolhimento para padres da Companhia ou «frades virtuosos. ara Santiago, por seu lado, sugeria a fundaclo de um semindrio ou colégio de jesuitas, «ainda que no fosse de mays que de seis ou sete, onde podiam ir pregar fazer residencia 20 dito Rio de S. Domingos ¢ 4s mays povoacées que parecesse neces: Em 1587, estava em Lisboa 0 P. Joao Pinto, da diocese de S. Tomé mas oriundo da Costa da Guin€, da regito dos jalofos. Este sacerdote tinha estudado, em Portugal, com os jesuitas € pedia agora o auxilio dos antigos mestres para iniciar uma miss30, nna sua terra natal, O P, Sebastiio de Morais, provincial, referiu © pedido a0 P. Geral Claudio Aquaviva, mas pensava que nio se devia por entlo aceitar a proposta, por serem escassas as infor- mages sobre a regiio € por esta no estar sob 0 dominio efec- tivo do rei de Portugal A posicio reticente dos superiores manteve-se até 1603 ¢ contrasta com o primeiro documento jesultico que conhecemos sobre Cabo Verde, datado de 1585. Nesse ano, 0s jesuitas por- tugueses chegaram a oferecer-se 20 cardeal Alberto, vice-rei de Portugal, para essa missio € 0 P, Fernio Rebelo propds mesmo (© assunto a0 Geral da Companhia, sugerindo que, dos muitos jesuitas que passavam por Cabo Verde, em viagem para o Brasil (ou outros destinos, alguns ali se detivessem para conhecer melhor a regiio € respectiva populagio ’. ‘Da parte das autoridades portuguesas, as tentativas para con- seguir jesuitas para Cabo Verde sio também anteriores a 1604. Em 1596, numa consulta sobre a Guiné e Cabo Verde, a Mesa da Consciéncia € Ordens considerava que © rei devia enviar padres da Companhia, por serem os mais aptos para ensinar € doutrinar e para terem a seu cargo seminérios em terras to remotas®, De facto, nesse mesmo ano, Filipe If mandou que se tratasse com os padres da Companhia a aceitagio de um colégio em Santiago, que serviria também de seminario € onde deveriam ensinar gramatica € casos de consciéncia. Como fundos destinados 20 funcionamento do colégio, 0 rei indicou os 200.000 réis que estavam atribuidos ao seminério ¢ 0s ordenados das ligdes que se deveriam dar, Para a construgio do edificio, por seu lado, destinavam-se os trés ou quatro mil cruzados que estavam depositados dos rendimentos do seminério, Uma vez estabelecidos no colégio, os jesultas poderiam ir missionar 20 rio de S. Domingos ¢ a outros pontos da Costa da Guiné”. Qual a reacgio dos jesultas a esta iniciativa do monarca? Em Setembro de 1596, também por solicit cial, P, Francisco de Gouveia, estava disposto a mandar para ‘Cacheu, com 0 governador de Cabo Verde que estava para partir, dois padres € dois irmaos, embora nao mostrasse qualquer entu- siasmo 10 real, 0 provin- Yo avia meses fue avisado de uno del Consejo que se trataria desto _y Procure divertsr et negocto de los nuestros por ser aquel lugar muy ‘enfermo y estar exhausta esta provincia de obreros y tos offi de, Magestad acudiren mala pagar lo necessario a los de Angola, ‘enpero por no dar desgusto a S. Magestad parecio que no convenia ddesar do conceder algunos? (Os quatro jesuitas destinados a Cacheu no chegaram a partir ¢, €m relagdo 20 colégio de Santiago, o P. Gouveia mostrou-se sempre contririo 4 sua aceitaga0. Conhecemos as suas razdes ppelas cartas que dirigiu 20 superior geral e aos governadores de Portugal. Fundamentalmente, o provincial afirmava que os 5 canada. Fedo Rete 132) inhi p29. ‘et 27 Abel de 1586, Inia hp 388 7 caarignsoneocteo ‘cabo Weree 6g no ‘9 ma p58 com ae Socotra 396 ABS ca ast tobe Tae ommend 10 Canad P Faesca de Sout a esmbrode 1556 mp4 vice ison a ‘nde 13 MMA, 12 ca tga 2 rovinca dow ene vane 3 Seen Se 160i, ese 10 jesuitas portugueses jf estavam empenhados em tantos trabalhos que nao poderiam encarregar-se de mais este, tratando-se para mais de uma terra doentia € onde seria dificil sustentarem-se materialmente. O P. Gouveia temia a morte répida, em Santiago, de metade dos stibditos que enviasse conhecia os problemas dda escravatura com que os jesuftas se veriam forgosamente con- frontados?. Por todas essas razOes, era de opiniio que a Pro- vincia nao estava em condigoes de aceitar uma nova e tio dificil obrigagio, tendo jf de prover campos to vastos como eram (5 colégios € casas do Reino, da Madeira, Agores ¢ Angola ¢ ainda enviar missionarios para as provincias do Oriente € Brasil ®. ‘A mudanga de opinido quanto 4 fundagao de uma missi0 em Cabo Verde manifestou-se durante a Congregagio Provin- cial reunida em Lisboa, na casa professa de S. Roque, de 10a 20 de Abril de 1603, estando no governo da Provincia 0 P. Joao Correia. Desta vez, 05 jesuitas portugueses, num postulado enviado 20 P. Geral, pediam que a Companhia aceitasse a missio € declaravam que era de toda a justiga que fossem enviados missionstios para uma regio que tanto necessitava de evange- lizadores que distava de Portugal apenas quinze ou vinte dias de viagem " 2. Preparativos imediatos Como 0 Geral da Companhia previa na resposta 20 postulado da Congregacio Provincial portuguesa de 1603, Filipe Il escreveu para Roma mas, logo no inicio de 1604, antes de receber 4 resposta, jf tomava as medidas necessirias para que se desse inicio 4 missio. Nesse sentido, escreveu ao provincial que esco- lhesse quatro padres que estivessem prontos «para hirem na pri meira occasito de embarcacio que se offerecer para aquellas partes, a dar principio a esta obra e informarse dos pasticulares da terra, € meios que pode aver para a execugo della: ® Na mesma altura, © monarca informou o vice-tei de Por tugal, D. Afonso de Castelo Branco, pedindo-Ihe que providen ciasse a viagem dos jesuitas por conta da Fazenda real € que preparasse uma carta para 0 governador de Cabo Verde, dando conta do intento da missio ¢ ordenando-the que prestasse toda a assisténcia necessiria'3, Para sustento dos missionérios, destinavam-se os duzentos mil reis anuais atribufdos 20 semi nitio, como ja anteriormente se tinha estabelecido © P. Baltasar Barreira foi designado para superior da pri- meira expedicio que inclufa ainda os padres Manuel de Bacros Manuel Fernandes ¢ 0 Irmao Pedro Fernandes. Foi cle a per sonagem central dos primeiros anos da missio cabo-verdiana, tendo sido escolhido devido as suas qualidades de governo ¢ 2 longa experiéncia missiondria em Angola, onde estivera de 1580 2.1592. Encontrava-se em Evora, em 1604, quando © provin- cial, P. Ant6nio de Mascarenhas, Ihe prop0s a missio de Cabo Verde. © P. Barreira, entio com 66 anos mas ainda de perfeita saiide, aceitou com grande entusiasmo o convite do provincial € respondeu-the, a 16 de Marco de 1604 [Nam posso encarecer com palavras a consolagam, que em minka alma ‘eausou a significacam, que V.R. me deo, de se querer o Senhor seevit {de mim na missim de Caboverde, pelo qual benefcio dow 2 sua dvina magestade infinitas gracas, & a V.R. agradeco quanto posso 0 por os colhas pera esta empresa em mim tam indigno della. Manifestando-se pronto a partir a qualquer momento, o P. Bar- reira tinha consciéncia de que se tratava ainda de uma missio explorat6ria, destinada a tomar conhecimento da regiao a pre- pparar as bases para o futuro. Por isso, acrescentava: «0 titulo desta miss deve ser hir vera disposicam da terra: & parecendo bem a V.R. desejo que se faga isto com 0 menos estrondo, que for possivels 6, Manifestava, assim, a prudéncia de quem julgava necessario ir observar primeiro as circunstancias ¢ condig6es concretas, antes de se comprometer com planos definitivos deli- neados teoricamente. ‘A mesma prudéncia era recomendada de Roma a0 P. Bar- reira pelo P. Joao Alvares, assistente do P. Geral: pedia-Ihe grande ‘equilibrio ¢ realismo nas informagdes que fornecesse € que con- siderasse bem o grande nimero de misses que a Provincia de Portugal tinha ja a seu cargo. Era irrealismo querer estar em todas, 2m pe ao 3 ja ta, Su ip. 3052, 1 cas esd Cone Sage ei, th, e 1 doin de Macarena, fom ergo ce, nia 9 "6 mide,» 36 u 17 caso te hares ‘ig ee Novembro se aot in th bet (go, 2 ao ce th {ago 1 oe Al 105, I tae 80 3 19 cara oof Baca 20 {igo, 2 bo de 1608 sme Nap to. 12 as partes do mundo € 0 P. Alvares via jf as consequéncias pro- vaveis dessa atitude: a falta de missionarios para o Oriente ¢ a excessiva dispersio da Provincia. Por tudo isso, insistia, sobre- tudo, para que o P. Barreira no se comprometesse com um, colégio em Cabo Verde, tarefa que Ihe parecia incomportivel para as forgas dos jesuftas portugueses ". 3. Primeiras impressées ¢ inicio da apostolado ‘A partida de Lisboa dos quatro primeiras jesuitas da missio de Cabo Verde deve ter sido a 20 de Junho de 1604, pois o P. Bar- reira refere que a viagem demorou quinze dias ¢ © P. Manuel de Barros escreve que chegaram a 5 de Julho "® Logo no dia 22 de Julho, o P. Barreira escreveu 20 provin- cial, P. Ant6nio de Mascarenhas, contando as primeiras impres- s6es € 0 bom acolhimento da populagio e das autoridades. Decli- nando 0 convite do governador, Fernio de Mesquita, para se alojarem em sua casa, 0s jesultas preferiram habitar na Miseri- cérdia onde foram recebidos pelo provedor e demais oficiais. Passados os primeiros dias, por conselho do governador € pessoas principais da terra, alojaram-se na fortaleza da cidade, construida num lugar alto, arejado € sadio, onde pensavam estar melhor protegidos contra as doengas que habitualmente acometiam 0s recém-chegados ”. No primeiro Domingo apés a chegada, organizaram, no ter- reito da Misericérdia, uma procissio € prega¢do publica com ‘grande afluencia da populacao que dava gracas a Deus pela pre- senga dos jesuftas e Ihes pedia que perseverassem naquelas terras®, (© P. Barreira manifestava-se confiante no futuro da missio, escrevendo 20 provincial que esperava que ela crescesse com 4 chegada de outros companheiros, para bem dos cristios € dos gentios da Guiné. Nem o clima da ilha Ihe parecia tao doentio ‘como se temia em Portugal, achando-o até mais tolerivel € cémodo que 0 de Angola”! Este optimismo foi, no entanto, rapidamente desmentido porque, logo em Agosto de 1604, faleceu oP. Manuel Fer- andes €, a 29 de Outubro do ano seguinte, morreria na ilha do Fogo o P. Manuel de Barros. O proprio P. Barreira adoeceu também ¢ causou grande preocupacio aos companheiros™. £0 P. Manuel de Barros, em carta de Abril de 1605, quem nos 44 conta da situagio dramética que teve de enfrentar: ‘como a doenca hia em augmento, depois que vim de entertar 20 . Manoel Fernandez detzeminei com o parecer do medic levar pera baixo 20 P. Baltesar Barceica porque a este tempo estavamos no forte © qual estt em hum termo apartado da cidade € pouco cémodo pera ‘0 servo de casa e em particular de doente, a quem o medio san- grader e 0 mais nfo podia vie tanto a tempo, pelo que o teouxemos em bragos pera a cidade aonde me tinha dadas hum amigo nosso has ‘casas muy hem asombradas, vendo que ers alvite pera elle ter oust que servsse a saude do Padre. Emfim que 2ssi pollo bom sitio das © desejo de atender espiritualmente os habitantes das outras ithas levou 0 P. Almeida a tentar ira iha de Maio, durante a Semana Santa daquele ano de 1607. Embora um cnego da Sé tivesse obrigacdo de se destocar aquela ilha todas as quaresmas, havia dois anos que o nio fizia, com medo dos navios inimigos. Isso levou o P. Almeida a preparar-se para partir secretamente, com a conivéncia do mestze € piloto de um navio, Prestes jf a embarcar, foi descoberto pelo governador que o impediu de partir. A tentativa, no entanto, foi positiva, pois 0 cénego fal- toso viu-se obrigado a vencer os receios ¢ acabou por ir vsitar 0s eristios, como Ihe comperia ‘A questio do baptismo dos escravos mereceu também a atencio dos padres. Procuraram, em primeiro lugar, que todos ‘os que chegavam da Guiné fossem baptizados, antes de se espa- lharem pela ilha. Em relagio aos escravos que ja viviam em Santiago, muitos morriam sem terem recebido o baptismo porque havia Senhores que procuravam esquivar-e 8 obrigacio de os andar baptizar. Para evitar que tal acontecesse, o P. Almeida contou com 0 apoio das criangas da cidade que 0 informavam quando algum negro no baptizado caia doente; mesmo em relagio aos que viviam no interior da ilha, conseguiu que os senhores fossem mais colaborantes, enviando-os 2 cidade para 8 catequese e preparagio para 0 baptismo”. Concluindo as suas informagdes sobre 0 trabalho apost6- lico, 0 P. Almeida escrevia: Acodesse a muitas pessoas necessitadas, asi cB esmollas como c6 favor era quem as ata mal fazemse muita amizades de importancia, ivose alguns presos, evitdose muitos peccados, e c8 a terra ser tam vicosa fe devassa como as que mais slo, veesse notavel emenda nos brancos € 908 pretos,e& que damos mi gragas 20 Senhor que qu nos trouxe {quando menos culdavamos . Dols meses depois de mandar para Lisboa estas informagdes to positivas, o P. Almeida escreveu novamente mas, desta vez, para ‘uma ce 1% n i, Neh, £9 tao, 268. 7 2 conan P.M. eAlmede thus prov tig, 2 fe Aga de 60 it, Wipe, lero face Cos Invenio 60 que 2 Be eas, 36, Soe 37. Ane Ave antago 9 ‘eno enna, 29? jerome Da, provi i ena Sea de Tela aa, 1p 96 18 comunicar o falecimento do P. Pedro Neto. Ao terceiro dia de doenga, o governador tinha-o levado para sua casa, para o tratar ‘com todos 0s cuidados. Contudo, mesmo assim, nao the tinha conseguido evitar a morte que causou consternagio em toda a cidade», © P. Manuel de Almeida ficou s6 mas nfo desanimou € a tristeza ndo o impediu de apelar para a vinda de mais operirios: “Temos necessidade de hum Padre pera yr acompanhar o Pe, Manoe! Alvares e hum Iemao que salba bem latin, pera me ajudst 20 enssino dos meninos desta terra, ue importa muito. F ¢® isto poderd vir da Serra o Pe. Barrel. Ev espero em Nosso Senhor que no io defaltar spiritos generosos na provincia, que devxando 4 parte 0 medo da morte, se quero offerecer e pegio os mandem a estas partes ®. © P. Almeida acabou por nao ver o resultado deste seu apelo. A.11 de Outubro de 1607, também ele morreu, deixando mais uma vez a ilha sem qualquer padre da Companhia “ © regresso do P. Baltasar Barreira a0 arquipélago, nos finais de 1608, coincidiu com a chegada da terceira expedicio missio- nia, formada por quatro padres ¢ um irmao. Eram os padres Jodo Delgado, Sebastio Gomes, Ant6nio Dias Jozo de Nigris 0 Ir. Jodo Fernandes. Os cinco constituiam 0 maior grupo que foi mandado para Cabo Verde durante os trinta ¢ ito anos da Em Fevereiro de 1609, 0 P. Barreira mandou-os todos para 4 costa afticana, com a justificaglo de que ai poderiam resistir melhor as primeiras doencas. Apesar de ser esse 0 motivo apre- sentado, no seré dificil entrever igualmente o interesse do supe- rior da missio pela continuagio da obra evangelizadora na Guiné. ‘Assim, os padres Sebastido Gomes ¢ Joao de Nigris particam para 4 Serra Leoa e 0s padres Joo Delgado € Ant6nio Dias, com 0 Ir. Joao Fernandes, embarcaram para Cacheu®, Foi uma decisio que se revelou providencial pois, deste grupo, apenas oP. Del- gado nao resistiu, morrendo em Bichangor, 2 23 de Junho de 1609, depois de intenso apostolado naquela povoacio ®. Dos restantes elementos do grupo, dois regressaram rapi- damente & Europa e outros dois perseveraram longos anos na missio. © P. Joao de Nigtis, que tinha vindo da Provincia Romana, deve ter sido © primeiro a partir, provavelmente por Como os missionatios tinham constantemente de recorrer 4 Lisboa para obterem 05 bens de que necessitavam, existia uma conta-corrente entre a residéncia de Cabo Verde e 0 pro- ccurador da Provincia, em Portugal. Conservam-se muitos desses documentos, nomeadamente para os anos 1605 a 1612. Assim, de 1605 a 1608, as despesas somaram 799.822 réis ¢ as receitas 639.889 réis, pelo que a residéncia de Cabo Verde ficou a dever a0 procurador da Provincia 159.933 réis. No ano de 1609, a rmissio tinha feito despesas no valor de 397.404 réis e entregara 200.000, ficando a dever 197.404. No perfodo de 30 de Margo de 1611 até 20 de Marco de 1612, as contas aparecem mais equi- libradas: 560.455 réis de despesas ¢ 577.860 réis de receitas™. Particularmente interessante € a possibilidade de percor- rermos as listas dos bens que eram mandados de Lisboa para Santiago € que nos fazem perceder muito concretamente a escassez da produgio propria do arquipélago. No capitulo da alimentagio, encontramos: azeite, farinha, quetjos do Alentejo, ameixas em conserva, azeitonas, ginjas secas.., Entre o material para alfaiataria referem-se: pegas de burel e de outros tecidos, cintos, retr6s, lagos de couro © dedais. Abundam, depois, as ferramentas, utensflios ¢ material de construgio: martelos, machados, foices, picaretas, goivas, enxadas, limas, formées, arame, pregos, gonzos, cadeados, anz6is, linha de pesca e folha- de-flandres. Existem, finalmente, as referéncias aos livros enviados: missais, biblias, breviirios, os decretos do Concilio de Trento e obras dos jesuitas Joao Rebelo e Sebastiso Barradas € do franciscano Frei Manuel Rodriguez”. Do de 6 mo pe Tov des de Cabo Were lua ie dos 50 aoe SP Migace mend ee ent como a for Jaan mage St oe 8 Jess nage 96, 80 Jets ago, aoe ‘Soma ana e160 ‘NUT, Cs xj smo 6, df 29 30 7. conciusso Um dos aspectos que fica mais patente ao estudarmos a presenga da Companhia de Jesus em Cabo Verde € 0 papel relevante da Coroa na actividade missionéria, Detentora do Padroado, a Coroa manifesta de modo claro as suas responsabilidades e prerroga- tivas. A hist6ria dos jesuitas em Cabo Verde é um caso que ilustra com clareza as vantagens ¢ os inconvenientes dessa situagio. Muito provavelmente, se no fosse 0 Padroado, os jesuitas ‘nunca teriam partido para esta missio: foram os reis Filipe Il ¢ Filipe III que levaram a Companhia a accité-la; foi a Coroa a propor planos de acgio € a responsabilizar-se pelo sustento dos missionirios. Colocando-nos no campo das hipéteses, nio serd menos verdadeiro pensar que, se a intervencio da Coroa no fosse tio decisiva, muitas situagdes de indefinigio nunca teriam surgido € a Companhia de Jesus teria sentido a necessi: dade de enveredar, logo de inicio, por uma maior autonomia. A ligagao entre a Coroa € os missionirios que poderia ter sido, como noutras partes do mundo, forga dinamizadora do projecto, acabou por tornar-se, em Cabo Verde, uma das causas da sua fraqueza, quando as duas partes, por falta de meios, por falta de vontade © por uma grande variedade de circunstancias ‘externas, permitiram que 2 missio cafsse na estagnacio e viesse a ser encerrada Acompanhando a decadéncia social e econémica das ilhas — sem diivida um factor determinante — a missio de Cabo Verde acabou por ir definhando até ser de todo abandonada. Mais do que de projecto falhado, poder-se-ia falar de um projecto que nunca foi bem delineado, As intermindveis negoctagdes sobre © tipo de casa a fundar e respectivo sustento demonstram a falta de um objectivo claro que pudesse ajudar a vencer as inimeras, dificuldades com que os jesuitas se depararam. Colocados perante ‘a morte de grande ntimero dos primeiros missionérios, vitimas das doengas, ¢ a falta dos suficientes recursos econémicos, (8 jesuftas cedo puseram em questo a permanéncia nas ilhas. Os superiores da Companhia chegaram até a declarar que pre feriam uma fundacio na tetra firme da Guiné, por ser a regio mais necessitada, mas nunca puseram em prética essa opcio. {As proprias datas evidenciam isso mesmo: em 1617, coma morte do P. Manuel Alvares na Serra Leoa, terminou a presenga da ‘Companhia de Jesus no continente; mas a presenga na ilha de Santiago, embora sempre reduzida, havia de prolongarse ate 1642. A figura do P. Baltasar Barreira ilumina, com a sua coragem, «€ dinamismo, 0s primeiros oito anos da missio de Cabo Verde. (Os anos que se seguiram foram os mais marcados pela estagna- ‘lo, pelas questoes econdmicas, pela indefinigao de projectos € pelo agudizar de conflitos. Se estes aspectos sao, pela sua propria natureza, os que mais ficaram registados na documen- tacdo, no deixa de ser verdade, em contrapartida, que hé um Conjunto de apostolados que marcam com continuidade todos (05 anos da missao: pregar, confessar, ensinar latim e casos de consciéncia, dar catequese as criangas € aos escravos, assistir (5 enfermos, contribuir com a simples presenca para a mora- lizagao dos costumes foram sempre actividades constantes dos jesuitas, mesmo nos anos mais dificeis. £ importante sublinhar 2 fidelidade a este conjunto de apostolados que correspondiam 4 necessidades reais da populacio de Santiago ¢ que foram levados a cabo com meios humanos reduzidos e, muitas vezes, debilitados pela doenca, Neste sentido, embora sublinhando 0 caricter impar da personalidade do P. Baltasar Barreira, nao podemos deixar de sublinhar 0 mérito dos padres Sebastiio Gomes e Antonio Dias € do Ir. Manuel Alvares, protagonistas, «em Santiago, dos trinta anos, quase sempre penosos ¢ atribulados, que decorrem entre 1612 ¢ 1642. Foram eles, no fundo, as prin- cipais vitimas da falta de um projecto orientador ¢ motivador para a missio cabo-verdiana da Companhia de Jesus e os que rela perseveraram apesar dessa situacio. ‘Ao conteério do que aconteceu em muitas outras partes do mundo, os jesuitas da missio de Cabo Verde no nos legaram edificios grandiosos que possamos hoje visitar. As ruinas que ainda atestam a sua presenca em Santiago sio pouco mais do ue simbéticas: na Cidade Velha, antiga capital, uma inscri¢lo 31 32 colocada pelo Instituto Nacional da Cultura identifica 0s escassos vestigios dum edificio denominado «Colégio dos jesutase; na povoagio de S. Domingos, onde possufam uma propriedade, existe ainda hoje um lugar chamado «Colégio» que a populac30 continua, quase teimosamente, a associar aos jesuitas. Para além desta tradigao de dedicago 20 ensino que — passados mais de 350 anos — ainda € evocada em Cabo Verde, do grupo de 21 jesuftas que passaram pelas ilhas ficaram-nos, sobretudo, os testemunhos escritos: informagGes sobre o quotidiano, as contas da missio, relat6rios enviados aos superiores, testamentos, documentos judiciais € reflexdes de inquestiondvel riqueza sobre 2 problemética missiondria, num conjunto que constitui uma fonte inestimavel para a hist6ria cabo-verdiana. A compro- ‘var a importancia deste legado esti o interesse com que esta documentagio continua a ser estudada e o lugar de relevo ue ocupa no Ambito dos estudos em curso sobre a historia de Cabo Verde.

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