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PARA UM MODELO DAS RELAGOES ENTRE ETICIDADE UNIVERSALISTA E SOCIEDADE, POLITICA DEMOCRATICA NO BRASIL Eurico A. Gonzalez Cursino dos Santos “F todo aguele gue ndo foi encontrado escrito noire de dab legal tnguads fog (Apocalipse, 20,15.) “Na minha tera dé banana edd aipim Meu trabalho & achar quem descasgue por shim. “iv0 triste mesmo assim.” ‘Noel Rosa, © orvalho vem caindo (1933) Resumo O texto procura a partir de ideias e perguntas oriundas da teoria sociols- gica clissica, fornecer elementos para o debate brasileito sobre a cultura politica, a democracia e, em particular, a participagio e a representagio politicas. Faz isso apoiando-se 1a histéria social das crengas éticas entre 16s, rastreando-as a partir da histéria ¢ da cultura rligiosas ~ cujos fatores centrais s4o a implantagio do catolicismo, por um lado, ¢2 importincia da ‘magia nas crengas populares. Palavras-chave: Btica particularista, ética universalista, representagio politica, religio, politica Introdugio Sociologia Classica e Vida Contemporinea A sociologia clissica no € mais, hoje em dia, uma teoria expli- cativa operacional. Suas pretensdes de construgo de um corpo tesrico fechado nao se concretizaram ¢, possivelmente, nao viréo a concreti- zar-se. Entretanto, se a olharmos nfio como um corpo teérico-meto- dologico confiavel, mas, antes, como fontes sapienciais, entao ela pode ter relagdes ricas com as atuais direcées da pritica sociolégica. Isso porque ela pode funcionar como um acervo de indagagdes que foram m1 esquecidas pela pritica da investigago contempordnea, mas que, nem por isso, sfio improcedentes. ‘Na obra durkheimiana encontramos uma sociologia da politica que funciona muito bem no sentido aludido, ao ensinar-nos a perguntar pela vida subjetiva caracteristica das democracias, Isto porque Durkheim di-se a0 direito de perguntar pela democracia para além do voto e das insti- tuigdes eleitorais: pergunta-se pelo tipo de subjetividade capaz de conju gar as idéias de representagio (que implica que a atividade politica direta set exercida apenas por um punhado de cidadios) e de participagiio (que implica que o cidadio tenha uma relagio esclarecida com seus pr6prios interesses e com o cenatio mais amplo no qual eles se encontram). Nesta ‘medida, Durkheim esté-se perguntando pelo tipo de constituigéo da sub- jetividade que torna os membros da sociedade politica aptos para a coope- tagio na atividade de governo da sociedade em geral. Trata-se da pergunta: como estarmos aparelhados para apercebermo-nos da existéncia do outro? Que significado estamos capacitados para the dar? © outro sera percebido apenas como instrumento ou obsticulo para a satisfagao de meus interes- s¢3, 04, em alguma medida, estardo nossas emogdes habilitadas a conside~ rar que ele € algo mais do que isso, algo em si? Colocando a questio em texmos mais nitidamente duricheimianos: 6a sociedade capaz de compelir nnossas emogdes em direso & consideragio minima do outro, como um limite absoluto que nio pode ser ultrapassado? Quis sfo as pre-condigies sociolégicas para o alcance desse patamar “minimo"? Este paper busca, por meio da refiexio historica, apontar caminhos para o esclarecimento empitico da dimensio simbélica daquelas precondigoes. Para tanto, vale-se da discussio weberiana sobre 0 conceito de ética, com sua distingao central entre particularismo ¢ universalismo, e vé nesse conceito uma aproximagao concreta do nticleo da questo durkheimiana: como é que as sociedades produzem em seus membros as disposigdes subjetivas que fario com que cles aceitem que a existén- cia do outro significa @ obrigagio de partilhar razoavelmente os produ- tos do esforso social de geracéo de riqueza, seguranga e bem-estar? "Tocqueville também pode ser chamado a nos ajudar: seu concei~ to de “egoismo esclarecido” descreve bem aquilo a que nos referimos. ‘A pergunta seria entio: como € que as sociedades produzem em seus membros o sentimento esclarecido do egoismo, ou seja, como € que a emogio egoista ja surge certa de que o interesse do outro, em alguma medida, é do interesse dela também? 92 | Politica e ética Na acepgio aristorélica, politica pode ser definida como a bus~ ca coletiva, a partir de consensos estabelecidos entre os membros da sociedade, de objetivos comuns que gerem uma boa vida para todos e cada um, Ou seja: hé uma dimensio da existéncia individual que sé pode ser satisfeita por meio da associagio dos individuos para.a produ- Gio de condigdes que s6 podem ser geradas coletivamente, Hii diversos elementos presentes na definigio acima, Vamos exa- miné-los. O primeiro, e mais estruturante, é 0 de que a politica apéia-se sobre czengas consensuais. Conforme a extensio € 2 intensidade de tais crengas ¢ que vai variar, portanto, o poder politico de uma sociedade. No extremo, por exemplo, uma sociedade pode ser muito poderosa do ponto de vista militar, sem o ser do ponto de vista politico, isto ¢, trata-se de uuma sociedad incapaz de conceber e de gerar uma boa vida para todos, ou para a maioria, de seus membros, ainda que sua “produgo coletiva” de conquistas militares seja grande. O que este exemplo nos permite ver é que a politica, em sentido aristotélico, pressupoe crengas que levem os individuos a perceber a possibilidade da elaboragio simbélica e coletiva de nogées de bem comum. Em outras palavras, ha que se pressupor cert qualidade das crengas socialmente vigentes para que estas comportem, em seus desdobramentos logicamente possiveis, a concepgio de ideais propriamente politicos, ou seja, de metas de bem comum, Provavelmente nfo deixa de espantar a nenhurn brasileiro ob- servador a medida.em que nds nfo somos capazes de, por meio da politica, alterar decisivamente areas da vida coletiva das quais acre- ditamos provirem muitos males da existéncia individual. Assim, da economia emana uma existéncia miseravel para dezenas de milhdes de compatriotas nossos; as condigdes da educagio ¢ da satide piblicas estio muito aquém do necessirio; a vida urbana € marcada por uma violencia que ha muito j4 passou das raias do tolerdvel, e mesmo a existéncia da familia, no meio urbano, é muito atingida pela caréncia econdmica, sanitéria, educacional, de seguranga etc. Quando olhamos para tais condigées e as reprovamos, o fazemos em nome de ideais que nos alertam para a possibilidade de as coisas nao serem como sao. Mas, logo a seguir, damos de ombros, desanimados com a constatagao de que hi pouco mais a fazer além de reprovar e indignar-se. Algum saber parece dizer-nos: a sociedade brasileira move-se por si mesma, ¢ iio pelo governo politico consciente da maioria de seus membros. O que significa exatamente isso? 93. Os ideais igualitaristas tém sido capazes de marcar as sociedades as quais nos referimos como modelares (Europa Central e América do Norte) no sentido de que estas lograram, de fato, produzir condigdes sociais dignas de existéncia material para a grande maioria, se no a to- talidade, de seus membros. E fizeram isso nao apesar da politica, mas por meio dela. Nas instituigdes de governo (parlamentos, executivos, ju- diciérios), foram sendo costurados, a0 longo do século XIX, nos EEUU, e do século XX, na Europa, pactos sobre temas decisivos entre os dife- rentes grupos sociais. Tais acordos, que versavam, antes de tudo, sobre transferéncias de renda material e de “reconhecimento de direitos”, bem como de “reconhecimento moral”, provaram, com 0 tempo, tratar-se de vverdadeiras mudangas na organizagio profunda daquelas sociedades, que passaram a ser capazes de existir sem a geragio estrutural de miséria, ‘A nés, porém, chama a atengao 0 fato de que, a despeito da pre- senga da crenga igualitarista entre nds, a reprodusio da sociedade pare- ce ndo poder prescindir da geragdo estrutural de condigoes miseriveis subumnanas, conforme a bem conhecida descri¢ao marxista do modo de ser do capitalismo. Mas nas sociedades do Atlantico Norte o capitalismo nido deixa mais esse rastro, O argumento que ora desejo apresentar é o de que as “condigoes da ideagio social” em nossas diferentes sociedades po- dem ajudar a explicar tal descompasso, ainda que niio devam ser tomadas como as tinicas varidveis relevantes para a explicagao do proceso. Permitam-me trazer alguns pressupostos de antropologia filos6fica para nossa discussio, A condigéo humana é definida pelas crencas ¢ idéias que, uma vez, adquiridas, nos conformam enguanto agentes sociais: nada, ou muito pouco, trazemos de inato a orientar nossas agées, As crengas 2s quais somos apresentados & medida que vamos sendo socializados € que nos produzem ¢ nos sustentam enquanto humanos, porque tais erengas possuem a capacidade de condicionar e da forma as nosss emogbes ¢ape- fites, que sio 2 matéria-prima de nossas motivagdes para a aco. Portanto, deve-se observar que os contetidos das crengas, bem como a qualidade ¢ a quantidade do modo como nos so apresentadls, io decisivos para a com- preensiio de qualquer trajetiria individual, e sociedades nada sao além do entrelagamento incrivelmente complexo de tais trajetdrias individuais. Se considerarmos que qualquer animal,ndsinclusive,tende a procurar a sobrevivencia por meio de relagSes com os objetos do meio circundan- te, podemos perceber a extensio da tendéncia clos seres vivos a tomarem como instrumento de sua vida tudo o que os cerca. Assim, na natureza as espécies se predam entze si, bem como nés predamos outros animais para 94 nossas necessidades. A constituigio de sociedades, animais ou humanas, coloca, portanto uma questo: 0 que faz com que a “voltipiainstrumentali zadora’ do meio ambiente, importantissimo instrumento de sobrevivéncia individual, sea inibida em certas situagbes? O que exclui certos seres da condigio de meros instrumentos para a satisfusio de apetites? Nas sociedades animais, a resposta parece ser a experiéncia con- creta da presenga ¢ do convivio cooperativo com o ser “semelhante”. Isso normalmente é acompanhado pela consangiiinidade, mas nao ne~ cessariamente. Decisiva é a experiéncia do convivio cooperative con- creto. Parentes € companheiros nao se predam entre si, € € s6 0 que nao predam.’Tudo o mais € instrumentalizivel A historia das sociedades humanas, vista em retrospecto, afasta-se progressivamente de tais definigoes. A organizacio social humana, sem diivida, comega sobre as mesmas bases das sociedades animais, a saber, a concreta do convivio, sendo tudo o mais instrumentalizé- res humanos niio reconhecidos como parentes ou. companheiros. O canibalismo com meros fins de nutrigio, bem como sua ritualizago posterior, sio as demonstragSes mais cabais desse fat. A escravizagao é, porém, sua expressio mais freqiiente, A maioria das sociedades humanas, entretanto, ampliou suas bases para além da experitncia concreta do convivio cooperativa, tornando-se, em alga ‘ma medida, sociedadescomplexas. Tsso significa que seus membros, durante © processo de socializacio, sto equipados com meios de deter a “volipia instrumentalizadora” com relagio a seres que nfo tém lagos de convivio cooperative concreto com eles. Ou scja: aprendemos que outros setes também merecem a mesma consideragio que, instintivamente, damos 2 1nossos parentes e companheiros. A extensio de tais contenges emocio- nais para além da experiéncia imediata parece ser um produto da cultura e da histéria. Portanto podemos, a partir dai, indagarmo-nos sobre as condigoes histéricas e culturais para que, em uma dada sociedade, 0 fe- nomeno do desejo de reconhecer o outro “desconhecido” esteja presente € possa marcar a historia das mesmas sociedades. ‘Vou postular a tese segundo a qual a formagiio da capacidade com- portamental, culturalmente originada, de resistir volipia instrumenta-~ lizadora (e que, doravante, chamarei de consideragio, ou competéncia, ético-universalista), que nos habilita, portanto, a viver na companhia de estranhos do ponto de vista biolégico ou experiencial, tem sido, his- toricamente, obra da inveneZo simbélica religiosa, Foram os simbolos teligiosos 0s primeiros a desenvolver a capacidade de atingir ¢ moldar 95 os petites humanos constantes, eonformando-os de modo a fazer com que determina tipos de seres (outros humanos X20 consangtiineos ou ii presentes na experiencia cooperativa concre) fossem incluidos no Tempo da eonsideracto ética, A historia comparads das religibes per care gbservar com grande nitdez, como algumas religioes Giustamente aquels ligadas & complexficago das socieclades) vio transferindo seu aataro de gravidade da mera ritualistca extracotidiana part & exigéncia Gh comportamento “benigno” no dia-a-dia = sendo tl qualidade das in- tengbes para com 0 ouro,em Lugar da mera desobyiga ritual, o que forma tered do pateimonio de salvagdo do individuo. Fambém °° claro gue a simbologia eligiosa foi desenvolvendo su comperéncia simbélica see gor “considera” “stranhos” na medida erm que 0s soe or ire as diferentes sociedades foram se tornando mais intenso8 © decisi- ‘vos para a vida das mesmnas. Em uma palavaflamos aqui das “competéncias ics ¢ de suarela- ao com win sentido aristtaico de pobtca Pars que Post surgis,em uma coat anerense pelo “bern cornu” como realidad objeiva (e nto seid Garce que mello implementa o inerese particu) € necessirio {que a compleicio média da subjetividade na sociedade em questio inclua ae apps tics. Na medida em que se trata de interessarse por 8 bem sama gue se refiraa“estranhos no sentido concreto 2 2° Te alu- Tao, tanto mais €necessrio que os elementos da culms ‘ética sejam de cid tant jersalata isto 6 €necessrio um conjunto simbsico qe Hear vogoe a relacionat-s socialmente com quer quer eve Sef Gr rpresente of tragos distintivos do humane, definidos entio de modo to tunériog e abstrato quanto posiel A ideasio da pers Portanto, & concebivel que a realidade subjetiva do interesse pelo tye comum, que tanta diferenca faré na constitigio objedva das socie- eee varie historimente de modo importante, Em outros Ty ha cecredades nas quais o “bem comum’ é objeto de um intereet real, 20 passo que, em outras tal interesse tender « 9 mais um disfarce irreal Passe -dadeiro interesse real presente na subjetividade: o interes parti-

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