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\ \ fe IVERSALISMO EUROPEU a retdrica do poder | Immanuel Wallerstein APRESENTAGAO, Luiz Alberto Moniz Bandeira Taal Beatriz Mec © UNIVERSALIswo EUROTE Os conceitos de democracia e de direitos humanos, de superio- ridade da civilizagao ocidental ~ porque baseada em valores e ver- dades univer — e de inescapabilidade da submissao a0 “mercado” so apresentados como} evidentes po: elas nao séo nada evidentes. Trata-se de idéias complexas que pre- ccisam ser analisadas com atengao e despidas de seus parmetros nocivos e nfo-essenciais para que sejam avaliadas com sobrieda- de e postas a servigo de todos ¢ no de poucos. Compreender como, por quem ¢ com que objetivo se comecaram a afirmar es- sas idéias € parte necessdria da tarefa de avaliagdo, tarefa para a qual este livro pretende contribuit. 1 QUEM TEM 0 DIREITO DE INTERVIR? OS VALORES UNIVERSAIS CONTRA A BARBARIE A histéria do sistema-mundo moderno tem sido, em grande par- te, a histéria da expansao dos povos e dos Estados europeus pelo resto do mundo. Essa € a parte essencial da construgio da econo- mis-mundo capitalista, Na maioria das regides do mundo, essa expansao envolveu conquista militar, explorago econdmicae in- justigas em massa, Os que lideraram e mais Jucraram com ela justificaram-na a seus olhios e aos do mundo com base no bem maior que fepresentou para todos os povos. O argumento mals comum é que tal expansio disseminou algo invariavelmente cha- mado de civilizagdo, crescimento e desenvolvimento econémico ‘ou progresso, Todas essas palavras foram interpretadas como ex- © UNIVERSALISMO EUROPEU pressdo de valores universais, ncrustados no que se costuma cha- mar de lei natural, Porisso, afirmou-se que essa expansio nao s6 foi benéfica para a humanidade como também historicamente ine- vitdvel. A linguagem utilizada para : descrever essa atividade ora foi teol6gics, ora derivou de uma perspectiva loréfica secular. E claro que arealidade social do que ocorreu foimenos gloriosa do que o quadro anésapresentado pela justificativasintelectusis. AA discrepncia entre a realidade e as justifcativas foi duramente sentida e expressa de virias maneiras pelos que pagaram o preso na vida pessoal ecoletiva, Masela também foi notada por diversos intelectuais oriundos dos estratos dominantes. Assim, a hist6ria do sistema-mando modemo envolveu igualmente um constan- te debate intelectual sobre a moralidade do préprio sistema. Um dos primeiros e mais interessantes debates ocorreu muito cedo, noséculo XVI, dentro do contexto da conquistaespanhola de bos parte das Américas. Em 1492, Cristévao Colombo, depois de longa e ardua viagem pelo oceano Atlintico a caminho da China, atracou em diversas ilhas do Mar do Caribe, Nio encontrou a China, mas achou algo inesperado que hoje ‘chamamios de Américas, Logo outros espa- nis seguitam seus passos. Em poucas décadas, os conguistado- res espanhéis haviam destruido a estrutura politica dos dois maiores impérios das Américas, 0 asteca ¢ o inca. Imediatamen- te, um bando variegado de seus seguidores reivindicou a terra e procurou utilizar i forga e impiedosamente o trabalho das popu- ages desses impérios e do resto das Américas para lucrar com a QUEM TEM 0 DIREITO DE INTERVIRE terra de que se apossaram. Dali a meio século, grande parte da | populasioindigena haviasido aniquilada pelas armase pelas doen- a8. O niimero exato tem sido tema de debates tanto no século ‘XVI quanto nos anos pés-1945. Hoje, a maioria dos especialistas acredita que se trata de um ntimero extremamente grande! Bartolomé de las Casas foi um personagem consagrado da época. Nascido em 1484, chegou as Américas em 1502 e ordenou- se em 1510; foi o primeiro padre a ser ordenado no Novo Conti- nente. A principio, foi favordvel ao sistema espanol de encominda, que envolviaa divisio (repartimient) de amet dios como trabalha- doresforgados entre os espanhéis que administravam proprieda- desagricolas, pastoris ou mineiras, e dele participou. Masem 1514 passou por uma “conversio” espiritual e renunciou a sua patici- pagio no sistema de encomienda; € 4 obra de sua vida: condenar as inj jtou a Espanha para dat inicio “Tas Casas tentow influenciar a p participando de muitas comissSes e escrevendo livros e memo- randos. Frequentou os alt tulos, além de ser recebido e, as vezes, até favorecido pelo imperador Carlos V (rei-Carlos I da Espana). Obteve alguns sucessos iniciais para a causa que abra- “Bartolomé de las Casas escreveu, em 1352, a Brevisma relic de a destruc dls Td, O rela devastadoragitow a opinifo piblca da Espanha na dliscussio ps-1945 sobre odecinio tary: Meson he Caribesn. que pro- ‘ocou Ba parte da recente cuss, © UNIVERSALISMO EUROFED ou. Em 1537, 0 papa Paulo Ill publicou a bula Sublimis Deus, na qual determinava que os amerindios nio poderiam ser escraviza- dos 56 poderiam ser evangelizados por meios pacificos. Em 1543, Carlos V decretou as Leyes Nuevas, que estabel Las Casas propusera paraaAmé iam muito do que inclusive o fim de novas con- cessbes de encomiendas. No entanto, a bula papal e o decreto real sofreram resisténcia considerével por parte dos encomenderos e seus amigos ¢ partidérios na Espanha e na Igreja. A bula papal ¢ as Leyes Nuevas, aps certo tempo, foram suspensas. Em 1543, ofereceram a Las Casas o bispado de Cuzco, que ele recusou; depois, aceitouo bispado menor de Chiapas, na Guatemala (hoje localizado no sul do México). Come bispo, Insistiv no cum- primento estrito das Leyes Nuews, ordenando que os confessores impusessem como peniténcia aos encomenderssa compensacao dos amerindios,e até sua_iberasto das obrigases da enmiena, De cer- to modo, essa interpretasio ampliava o decreto de Carlos V, que no se aplicava is encomiendas concedidas anteriormente; em 1546, as Casas abandonou o bispado de Chiapas e voltou a Espanha. Lienfrentou os esforgossistemiticos de seus adversiris para refutar seus argumentos em termos teoldgicos eintelectuais. Um peréonagem-chive nessa empreitad foiJuan Ginés de Septlveda. O primeiro livro de Septilveda, Demicrates primero, escrito em 1531, teve negado o direito de publicagio. Mas Sepiilveda insistiu. E, em 1550, Carlos V convocou um jiri especial do Conselho das indias para reunir-se em Valladolid e aconselhé-lo a respeito do mérito da controvérsia entre Septilveda e Las Casas. O jiiri ouviu QUEM TEM © DIREITO DE INTER ‘a ambos sucessivamente, mas tudo indica que a Junta ndo che- .gou aum veredicto definitive, Quando, alguns anos depois, Carlos V foi sucedido no trono pelo filho Felipe, o ponto de vista de Las Casas perdeu forga na corte. ct Tudo o que temos hoje sio os documentos que os dois dleba- tedores prepararam para a discussio. Como esté claro que esses documentos fazem uma pergunta fundamental com a qual © mundo ainda hoje se preocupa—quem tem o direito de intervir, quando como? vale pena rever com atensio seus argumentos. Sepilveda escreveu um segundo livro especificamente para esse debate: Denicrates segundo Trazo subtitulo Das cas juss da guerra conta os nds. Nele, SepGlveda apresentou quatro argumen- tos diferentes em defesa das politicas do governo espanhol, da mianeira como eram interpretadas e executadas pelos encomeniers Apresentou como embasamento uma longa série de citagSes das autoridades intelectuais mais respeitadas da época, em especial Aristételes, santo Agostinho e santo Tomas de Aquino. Primeirament, Sepilveda argumenta que os amerindios sio birbaros, simplérios,iletrados e nio instruidos, brutos totalmente incapazes de aprender qualquer coisa que no sejaatividade meci- 2, cheios de vicios, cruéis e de tal tipo que se aconselha que se- jati governados por outros le a goer 0 UNIVERSALISMO EUROPEU A segunda tese diz que 1s indios devem aceitar 0 jugo espanhol mesmo que nio o quei- ram, como retificagtio [enmiends, emendentur]e puniso por seus crimes Zontraa lei divinae natural com os quais esto manchados, princi- palmente a idolatria¢ 0 costume impio do sacifcio humane. A terceira rani € que os espanhtis sto obrigados, pela lei divi- naenatural,a que aquéles que sinda nfo extio sb o dominic espanol continua hoje a infigit, a grande nimero de pessoas inocentes sacrificadas aos idolos todos os anos. E o quarto argumento é que o dominio espanhol faciita a evan- agelizasio cristd ao permitir que os padres catdlicos preguem “sem Ss id se seem mortos por goverantes¢ sacerdotes pagios, como aconteceu trés ou quatro vezes". 1 Todas essascitagBes so do resumo dos argumentos de Septlveda feito indice é mais breve que ore sumo de Las Casas, mas em esséncia & a mesma coisa. Ler o prolixo texto ddeSeptilveda, principalmente sobre os dois primeiros argumentos, pouco acrescenta ao resumo de suas opinides. QUEM TEM © DInEITO DE INTERVIR? tém sido usados para justificar todas as “intervengdes” subse- qilentes dos “civilizados” do mundo moderno em zonas “nio- civilizadas": a barbarie dos outros, o fim de praticasque violam os valores universais, a defesa de inocentes em meio aos crutis € a possibilidade de disseminar valores universais, Mas é claro que essas intervengGes s6 podem ser realizadas quando se tem poder politico-militar para isso, como foi o caso na conquista espanho- Ja de grande parte das Américas, no século XVI. For mais que os argumentos tenham servido como forte incentivo moral aos con- uistadores, est claro que foram altamente espaldados pelos be- neficios materiaisimediatos que obtiveram com a conquista. Logo, ‘quem estivesse inserido na comunidade conquistadora e quisesse refutar tais teses teria antes de enfrentar uma jornada exaustiva. Essa pessoa teria de argumentar tanto contra crengas como con- tra interesses. Foi a essa jornada que Las Casas se dedicou. ‘Ao argumento de que hé pessoas naturalmente birbaras, Las Casas respondeu de varias maneiras. Uma delas foi observar as baro”. Las Casas disse que, se alguém é definido como birbaro porque fem comportamento selvagem, entdo podemos encon- trar tais pessoas em todas as partes do mundo. Se alguém é consi- derado birbaro porque sua lingua nao éescrita, entio essa lingua poderia ser escritae, a0 fazé-lo, descobriremos que elaé tao racio- nal quanto qualquer outra. No entanto, se limitarmos a palavra “barbaro” 2o significado de comportamento monstruoso de fato, pode-se dizer que esse tipo de comportamento é bastante raro € sot todos 0s povos. ‘A objesdo de Las Casas ao argumento de Sepiilveda foi a gene- mente restringido mais ou menos no mesmo grau em ralizagio‘a um povo iniiro ou a uma estrutura politica do com- portamento que, no méximo, seria de uma minoria ~ minoria cajos equivalentes seriam tio ficeis de encontrar tanto no grupo autodefinido como mais cviliado quanto no grupo considera- do birbaro, Ele lembrou ao leitor que os romanas haviamn definido como barbaros os ancestrais dos espanhéis. Las Casas propunha 0 argumento da equivaléncia moral média de todos os sistemas so- ciais conhiecidos, de modo que nao havia hierarquia natural en- tre eles que justificasse o dominio colonial". Se. argumento sobre a barbirie moral era abstrato, o de que os indios haviam cometido crimes e pecados que deviam ser cor- rigidos e punidos era muito mais concreto. Nesse caso especifico, a acusagio concentrava-se na idolatria € no sacrificio humano. Aqui: Las Casas tratava de questdes que despertaram com muita rapidez a repugnncia moral dos espanhéis do século XVI, que nio conseguiam entender como se podia permitir que alguém fosse idélatra ou realizasse sacrificios humanos. ‘A primeira questo que Las Casas levantou foi a jurisdigao. Destacou, por exemplo, que os judeus e mugulmanos que viviam em tetras cists podiam ser obrigados a obedecer is is do Esta- Tas Casas, op cit. p. 15-44 QUEM Tew © DIREITO DE INTERVINE ddo, mas no podiam ser punidos por seguir seus préprios prece’- tos religiosos. Essa seria uma verdade a frtion caso os judeus ou ‘mugulmanos vivessem em terras que nao fossem governadas por um cristdo, Esse tipo de jurisdisao s6 poderia ser exercdo, dia orque efen- , sobre um herege cristo, porque o herege era alguém que havia violado o voto solene de obedecer & doutrins da Igreja. Sea lgzeja no tinha jurisdigo sobre os ndo-ristios que habitavam a Igreja tinha jurisdigZo sobre os que nunca haviam ouvido falar de sua doutrina. Conseqiientemente, a idolatria poderia ser julgada por Deus, mas nao estava sujeita 3 jurisdigio de um gru- po humano externo ao grupo que a praticava rarfamos 0 argumento de Las Casas smo moral ou, pelo menos, do relativismo legal. Naquela época, porém, assim como hoje, ele estava sujeito A acusagdo de que esse ponto de vista demonstra pelo sofrimento de inocentes, vitimas de priticas contrdrias i lei natural. Essa era a terceira tese de Se ence veda, e a mais forte. Las Casas tratou-a com prudéncia. Em primeiro lugar, insistiu que a “obrigagao de libertar inocentes [ no existe quando hi alguém mais adequado para liberté-los” Em segundo luger, isse que, se a Igfeja Conflaraa um soberano cristao a tarefa de libertar os ino- centes, “outros no deveriam agir nesse caso, muito menos fazé- locom petulncia”, Mas inalmente, mais imp. apresentou 0 argumento de que se deve ter cuidado ao agir de acordo com o principio do mal menor: Bo eae a 0 UNIVERSALISMO FUROTED ‘Embora admitamos que a Igreja tem obrigagao de impedir a morte de inocentes, é essencial que isso sejafeito com moderagio, i culdado para que nfo se fasa um mal maior a outros po- {que seria um impedimento a sua salvasao e tornaria Tera. incompreendida palxio de Cristo Esse era um ponto fundamental para Las Casas ele lustrou com a questio moralmente complicada dos rituaisem que se co- shacinados de criangas. Comesou observando que no cTacostamede odos os gruposindigenssnemeram muitas as rian as sacriicadas naqueles grupos quese dedicavarnaessapritica. Mas {sso teria sido fugir & questio se Las Casas nio enfrentasse a realida- dede uma escola. Eagulele defende o principio do mal menor: Além disso, € um mal aravel poucos inocentes do que os infiés blasfemem c rivelde Cristo, e que a religido crstd seja difamada e detestada por comparavelmente menor que morram ‘onome ado~ Povos € outros que dela saibam, quando ouvem dizer que rmiuitas criangas, idosos e mulheres de sua raga foram mortos sern motive peloscristis, come parte do que acontece na firia da guer- ra, como jd ocorreu* Las Casas foi implacivel contra que hoje chamarfamos de “dano colateal 7 pecado que merece 2 danagio eterna erie matar es para punir os culpados, pois isso € contrério a justica™, 7 Weider. p13. © thidem,p. 187 + idem, p.29. QUEM TEM 0 DIREITO DE INTERYIR E apresentow uma razio final pela qual no espanhéis punissem 05 indios pelos pecados que estes poderiam cometer contra inocentes. £ “a grande esperanga e presungio de {que tais inféis serio convertidos e corrigirdo seus erros[.. [aque] ‘no cometem tais pecados obstinadame: mas com ce em virtude de sua ignorincia de Deus" E Las Casas terminou a discussio com uma peroragio Os espanhéis penetraram, certamente com muita audicia, nessa parte nova do mundo, da qual nunca haviam ouvido falar nos sicilosanteriores,enag avonta contra vontade de seu soberano., co- y'dindrios. Mataram milha- imaram suas aldeias, tomaram seu gado,

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