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Pedro e Inês – peça 10º F

PERSONAGENS
Narrador
Personagem que funciona como coro
Pedro
Inês
Ama de Inês
Secretário
D. Constança
Senhoras do povo (2)
Povo
D. Afonso IV
(Conselheiros )
- Pêro Coelho
- Diogo Lopes Pacheco
Carrascos
Mensageiro
Crianças (filhos de Pedro e Inês)

Personagem que funciona como coro:


Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

Do teu Príncipe ali te respondiam


As lembranças que na alma lhe moravam,

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Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fermosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.

Camões, Os Lusíadas,Canto III, 120 e 121

NARRADOR:

Quando D. Pedro, nascido nas margens do Mondego, chegou à idade de casar, o rei D. Afonso IV fez
o que era habitual na época: mandou pedir a mão de uma nobre moça para o seu filho, uma vez que
não lhe cabia decidir o seu futuro. A escolhida foi Constança Manuel, filha de um descendente de
monarcas dos reinos de Aragão, Castela e Leão.

Pedro não queria, mas submeteu-se ao casamento. D. Constança chega a Portugal acompanhada de
uma grande comitiva, como era costume na época, trazendo consigo entre muitas outras pessoas,
uma linda dama de honor, que se chamava Inês. Era uma donzela de linhagem fidalga, filha natural
de D. Pedro de Castro, nobre guerreiro da Galiza, e bisneta do rei D. Sancho IV de Castela. D. Pedro
recebeu D. Constança como sua mulher, tendo casado na Sé de Lisboa, em 1336.

CENA I
Cena familiar: D. Pedro, regressando de uma caçada, conversa com D. Constança. Contudo corteja
Inês.

Pedro: Voltei, senhora! Que grande caçada! Como tendes passado?


Constança: Bem, senhor. Ainda bem que regressais…
Pedro: Como esteve tudo na minha ausência, senhora?
Constança: Bem… Apesar de muito fatigada, tenho andado agradavelmente bem, senhor…

Pedro: E que tendes feito?

Constança. Oh! Passamos o tempo entre a leitura, a música, os passeios pelos jardins…
Pedro: Vou recolher aos meus aposentos. (E olhando demoradamente para Inês.) Hoje gostaria que
Inês me preparasse as roupas para a ceia. Os meus aios estão cansados da caçada!
(Constança mostra-se “furiosa” e triste)

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CENA II
Nas ruas o povo comenta os comportamentos e a paixão de D. Pedro. No mercado as pessoas
interrogam a Aia.
Senhora 1: Então como vão as coisas lá no palácio?
Ama de Inês: Bem… apesar de…
Senhora 2: É aquela moça, a Inês, não é?
Ama de Inês: Hummm!
Senhora 1: É sim… já toda a gente sabe…o povo todo comenta!
Ama de Inês: Não é bem assim… É uma moça muito simpática. Faz muita companhia a D. Constança,
quando D. Pedro não está. Eu bem vejo!
Senhora 2: Aquela moça, que veio lá de Espanha, de olhos brilhantes, rosto belo, de farta cabeleira,
de tronco roliço e generoso! Ainda vai ser a causa de muitas desgraças!
Senhora 1: Aquela figura esguia de moça, o andar pelos jardins do paço… É o que me diz o meu
homem que trabalha lá. Diz-se que D. Pedro não tira os olhos dela!!
Ama de Inês: Oh! Que maldades, dizeis. Pareceis umas invejosas. Ela é bela sim. Mas anda triste.
Contou-me, no outro dia, que não é feliz.
Senhora 2: Ó mulher! Tu, depois que foste para o palácio trabalhar, andas diferente. Até tens
vestidos novos! Cá para mim essa moça espanhola dá-tos para te calares! Olha que nós vivemos lá
mas… sabemos muito bem o que se passa lá dentro…
Senhora 1: Ai, eu não me importava de ir para lá trabalhar. Assistia às conversas deles e depois vinha
cá para fora contar tudo! Vendia aquelas histórias dos príncipes e princesas, dos reis e das rainhas. A
minha vida ia mudar em pouco tempo! E depois… Podia ir conhecer as cortes de outros países!

(O povo comenta a situação – Improviso entre vários elementos da turma)

Cena III
NARRADOR: A senhora D. Constança não vivia tranquila em seus paços, por saber como D. Pedro
cortejava Dona Inês de Castro.
Tinha pensado, no entanto, que o nascimento próximo de um filho viria chamar o pai à razão de
marido fiel que precisava de ser para viver um matrimónio feliz. Quando a princesa teve o primeiro
filho, em 1342, o infante tomou nome de Luís. Foi grande o contentamento na Corte e até o povo
festejou o acontecimento.

Constança: Pedro, meu adorado marido, devemos baptizar o nosso filhinho.

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Pedro: Sim, está um tempo agradável. Podemos fazer uma festa para toda a corte. Depois disso,
partirei novamente para a caça.
Constança: Esposo meu. Que achais de convidar Inês de Castro para madrinha do nosso querido
filho? Ela tem andado um pouco triste e, assim, talvez se possa animar um pouco com os
preparativos da festa.
Pedro: Fazei como achardes bem, minha esposa. Mas… Inês anda triste? Não tenho reparado nela
(com uma certa ironia)

NARRADOR
O estratagema era bem arquitectado pois que, sendo comadre de D. Pedro, a jovem Inês teria
certamente o bom senso de manter a devida distância entre ambos, como mandava a lei divina da
Igreja.
Aparentemente, a princesa mãe tinha conseguido o seu intento. Mas não duraria muito a ilusão: O
menino morreu passada uma semana do baptizado e D. Pedro parecia estar cada vez mais ausente. A
corte em peso comentava pelos corredores que a culpa era de Inês. Com certeza não tinha
pronunciado com fé as palavras sagradas junto da pia baptismal…
A hostilidade cresceu à volta de Inês de Castro, reforçada com este pretexto. Mas a verdade é que há
muito despertava invejas. Entre as mulheres por ser linda. Entre os homens por não lhes prestar
atenção.
E… ao que parece, D. Pedro encontrava-se frequentemente com Inês.

CENA IV
Cena romântica entre Pedro e Inês nos jardins do palácio).
(Num jardim, trocando mimos e carícias)
Pedro: Senhora minha, como sois bela!
Inês: São os vossos olhos, Senhor!
Pedro: Sois o sol que ilumina os meus dias… a lua que ilumina a minha noite. A alegria de meu viver.
Inês: Exagerais, senhor, exagerais…
Pedro: Estou tão feliz por estar aqui convosco…
Inês: Eu também, meu amado… por vós vivo e, se for necessário, por vós morrerei…
Pedro: Por vós, minha amada, renunciaria à minha vida…
Inês: Mas… estes nossos encontros clandestinos. Não me apraz nada. D. Constança parece-me
desconfiada.
Pedro: Inês, que nos interessa isso? Ela não vos trata bem?
Inês: Sim, trata. Mas… Pedro, amais a vossa esposa?

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Pedro: Não, Inês, não amo. Desde que vos vi, pela primeira vez, encantei-me com esse olhar
brilhante, esse belo rosto, esses cabelos de oiro. O vosso andar suave pelo paço e pelos jardins.
Inês: Pedro, também eu vos amo. Mas temo pela saúde de vossa esposa. Anda fraca e parece
doente. Se ela descobre, pode morrer de desgosto.
Pedro: Mas… Inês, minha amada. Não vos preocupeis. Manteremos em segredo este nosso amor
ardente…
(Inês suspira)

CENA V
Inês passeia-se pelo jardim, com ar apaixonado, e encontra a sua ama, a quem confidencia seus
amores por D. Pedro.

Inês: Oh que dia tão ditoso! Colhamos belas flores e com elas façamos coroas para enfeitar a cabeça.
Inspiremos este suave ar e cantemos doces cantos.
Ama de Inês: Oh! Tanta alegria vai com vossa senhoria!
Inês: Ama, minha querida ama. Hoje estou feliz!
Ama de Inês: E tanta felicidade não será mau presságio?
Inês: Trespassa a minha alma um enorme prazer, uma calma que não sei donde vem.
Ama de Inês: O que a traz assim tão feliz? Parecia-me tão triste ainda há dias! Pensei até que tinha
sido pela morte de vosso afilhado. Mas… abri-me a vossa alma…
Inês: Ama, um novo dia nasceu para mim. E quero mostrar quanta alegria me vai na alma. E mais te
digo, ama, nada temo… Nem o grande, o forte e temido D. Afonso IV, nem D. Constança… O Infante
D. Pedro, o meu doce amor, é a minha segurança. O amor que nos une é demasiado forte. Desde que
os nossos olhares se cruzaram, uma chama ardente acendeu-se nos nossos corações.
Ama de Inês: OH! Como estão cegos de amor os vossos olhos! E quanto mais desejais amar-vos, mais
difícil será para vós verdes com clareza.
Inês: Não digais tal coisa que me assustais.
Ama de Inês: Pois vos digo, Senhora, para vosso bem e para o de D. Pedro, guardai esse segredo só
para vós, por enquanto.
Inês: Agradeço os vossos conselhos e vossa fidelidade, ama. Bem que queria mostrar a toda a gente
este amor que arde no meu peito, mas guardo-o na minha alma. Agora vai, ama.

Separam-se. Inês fica a passear pelo jardim.

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NARRADOR
A saúde frágil da senhora Dona Constança e os desgostos de uma vida amargurada não lhe
permitiram durar muito. O segundo filho, a quem dera o nome de Fernando, fora amamentado e era
criado por uma ama de confiança.
A mãe escondia o mais possível a dor de sua desgraça conjugal, procurando a distracção e alívio no
passeio pelos jardins do palácio, por entre arbustos e flores, em conversas amenas com as suas aias,
e no gozo dos serões, no interior do solar, ouvindo os jograis, o som da flauta, da viola e das harpas,
no aconchego do salão iluminado por archotes, adornado de tapeçarias e brasões.
Dona Constança passava noites a meditar a sua triste sorte.
Em longas noites de Inverno, sentada junto à lareira ampla da torre, pensava muitas vezes em fazer
peregrinação a Santiago de Compostela, para rogar protecção e paz a seu lar ameaçado. Não chegou
porém, a realizar seus sonhos.
Efectivamente, morreu de parto, logo a seguir ao nascimento da filha Maria, em 1345. A tragédia
consternou a todos. Mas D. Pedro ficara livre para cair nos braços de Inês.

CENA VI

No mercado a ama de Inês volta a encontrar as outras senhoras que gostam muito de falar e de saber
os que se passa no palácio.

Senhora 1: Então, então. Voltaste ao mercado depois das cerimónias fúnebres de D. Constança?
Senhora 2: Assisti de longe ao cortejo fúnebre. Que triste cerimónia. Mas as senhoras iam tão bem
vestidas. Ai mulher, tu não viste? D. Pedro parecia-me mais animado do que triste!
Senhora 1: Coitada da Senhora D. Constança. Nunca foi feliz! Perdeu um filho e uma filha! D. Pedro
não lhe dava atenção!
Senhora 2: Passa a vida nas caçadas e deve ter uma meia dúzia de amantes, ou mais ainda. É cá um
mulherengo!
Senhora 1: Só tem olhos para Inês de Castro. Onde é que já se viu isto? Desavergonhado! Ainda a
mulher estava viva e ele já andava a cortejar Inês! Já tinha idade para ter juizinho!
Ama de Inês: Que dizeis, mulheres? Que más línguas!
Senhora 1: Mas tu estás de acordo com esta situação? El rei D. Afonso deveria tomar medidas e
mandar essa Inês para a terra dela!
Senhora 2: Sim, sim. Tornou-se amiga de D. Constança e andou a meter-se com D. Pedro!!! É uma
sem-vergonha! É o que é!

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Ama de Inês: Mas que têm vocês a ver com isso? D. Pedro está viúvo e D. Inês é uma mulher
descomprometida. É muito boa pessoa, bem vos posso dizer. É meiga, simpática, boa senhora. Tem
um bom coração.
Senhora 1: Santo Deus! Está comprada pela espanhola! Abre os olhos, mulher, ainda vais levar um
pontapé no traseiro. Depois não venhas choramingar!

Nos jardins do palácio, D. Pedro encontra-se com D. Inês. Têm uma conversa rápida, interrompida
pela ama de Inês que os avisa que El Rei anda próximo.

Pedro: Inês, agora que estou novamente livre, já nada nem ninguém impede o nosso amor.
Inês: Mas, senhor… Receio que o destino nos traia, que o vosso pai não concorde ou que deixeis de
me amar.
Pedro: Inês, sem vós o mundo seria como um deserto. Por isso, invoco Deus, para que abençoe o
nosso amor, a nossa paixão. Poderoso Senhor, a quem nada é impossível, dai-me força e paciência,
sossegai a fúria de meu pai, os ânimos do povo. Sou humano, Senhor. Arde-me o peito de paixão.
Que mal tem amar Inês?
Ama de Inês: Senhora minha, meu amado príncipe, El Rei D. Afonso anda pelo jardim com os seus
conselheiros. Tende cuidado. É melhor que vos afasteis…

Retiram-se todos, mas Pedro dá um abraço a Inês.

Personagem que faz de coro: D. Pedro, estais enamorado. E estar assim apaixonado não é nenhum
crime. No entanto, a razão pode não estar assim tão cega. Há coisas que em uns se aceitam mas
noutros são reprováveis. Cada um deixa-se levar pela sua vontade.

NARRADOR:
Durante algum tempo, Pedro e Inês viveram felizes e despreocupados. Os apaixonados comunicavam
entre si por cartas levadas e trazidas secretamente.
Contudo, alguns manifestavam preocupação com o Infante D. Pedro, por saberem que o Rei seria
contra esta relação e que poderia tomar medidas drásticas.

CENA VII

D. Pedro e o seu Secretário conversam sobre Inês

Secretário: Como pode, senhor meu, apaixonar-se por Inês? Tendes que ter muito cuidado.
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D. Pedro: Que dizes, meu secretário? Que achas que me pode acontecer?
Secretário: Acho que estais muito apaixonado e que Inês pode ser uma má escolha.
D. Pedro: Dói-me o peito. Que querem fazer com a minha alma?
Secretário: Não querem que manches a tua honra.
D. Pedro: E querem afastar-me da minha amada?
Secretário: Estais cego pelo amor. Estais preso a Inês. Há muito que me conheceis e sempre confiaste
na minha razão. Nunca vos traí, nem falei nas vossas aventuras a ninguém. Além disso, sou vosso
conselheiro. Não vedes como o céu escurece?
D. Pedro: (desesperado) Que dizes? Não te entendo. Vai-te daqui. Acho que já não és leal!
Secretário: A minha lealdade por vós, leva-me a chamar-vos à razão, para que se faça luz diante de
vossos olhos. Que dirá vosso pai? Que dirá o povo?
D. Pedro: Quem não deve, não teme. Amo Inês. Quem me julga também será julgado. Sigo o que me
vai na alma. Inês também tem sangue real. Se me afastarem dela, acabam comigo. A terra deixará de
ser terra, o fogo tornar-se-á frio e o sol deixará de brilhar. O mundo andará ao contrário. Não digas
nada a ninguém.
Secretário: Senhor. Colocais-me em maus lençóis. Mas… Vejo que afastar-vos dela será impossível.
D. Pedro: Só tens que seguir a minha vontade. E… Eu próprio tratarei de meus problemas. Quero
viver a minha vida.

Personagem que faz de coro: Quando o amor nasceu, nasceu a vida. O sol raiou, as estrelas
brilharam. Quando o sol resplandeceu, a escuridão desapareceu e as coisas belas puderam ser vistas.
Por amor, a terra ficou mais bela. A guerra tornou-se paz. O amor tudo transformou.
Mas…
O amor também pode ser um cruel engano. Pode afastar almas gémeas. Pode transformar o fogo
em cinzas. A neve volta à terra. Voltam a tristeza e a morte. O amor pode cegar, pode matar.

CENA VIII

NARRADOR:
A existência de D. Pedro e da linda Inês era imensamente feliz. Habitavam em Santa Clara, na
margem esquerda do rio Mondego, num pavilhão de caça que se erguia no local onde hoje fica a
Quinta das Lágrimas. Ali nasceram seus filhos: o primeiro chamou-se Afonso, o nome do avô, mas
morreu criança de tenra idade; os outros, dois meninos (João e Dinis) e uma menina (Beatriz),
cresceram com saudável robustez física, rodeados de carinho e ternura dos pais, como flores de
esperança no vale que se abria ar puro do céu azul.

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Por aqueles dias, D. Afonso IV subiu a Montemor-o-Velho com o seu séquito e ali reuniu os seus
conselheiros de Estado, Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho, para tomar uma
decisão sobre o destino da vida de Inês de Castro. Então, as intrigas voltaram a agitar a corte,
chegando ao ponto de convencer o rei de que a única forma de afastar Inês era matá-la.

D. Afonso IV, Diogo Pacheco e P, reúnem-se no Palácio. Diogo Pacheco fala com ar efeminado para
tornar a cena mais leve.

D. Afonso IV: (olhando o seu ceptro) OH! Que belo ceptro! Como és belo! Quantos desejariam
segurar-te e com ele dominar o mundo! Mas… o ouro pode ser um enorme engano.
Pacheco: Ai, sei lá, majestade! Um rei como vós não se deixa enganar! Haveis ainda de praticar
muitos e grandes feitos e o povo há-de sempre aclamar-vos (bate palmas). Vou dizer-vos algo que
me preocupa: Tendes que fazer algo pelo Infante D. Pedro. (aparte) Um homem tão belo, apaixonar-
se por uma espanhola! Que coisa!
D. Afonso IV: Vejo que o Infante está contra mim. Parece que uma escura nuvem se abateu sobre
ele. Qual será o seu destino?
Pacheco: Majestade, que se acabe o pecado entre D. Pedro e Inês enquanto é tempo. Se os
afastardes, o Infante ficará livre.
D. Afonso IV: Dizeis, então, que os devemos afastar.
Pacheco: Que a vossa vontade seja mais forte que o desejo deles. Que morra essa mulher.
D. Afonso IV: Dizeis-me que morra?
Pacheco: Para a salvação do povo. (aparte) e para minha salvação! Ai, que até se me falta o ar!!!!
Entra Pêro Coelho
D. Afonso IV: Matar quem não tem culpa?
Pêro Coelho: Podeis mandar matar sem culpa mas com razão.
D. Afonso IV: E qual é a culpa dela?
Pêro Coelho: Está a perturbar o bem comum. Tem atitudes duvidosas. Só irá prejudicar o reino. Está
a desviar as atenções do príncipe daquilo que realmente importa. Que morra!
Pacheco: Sim. MORRA! MORRA!
D. Afonso IV: Uma inocente? E não haverá outra forma de resolver a situação?
Pêro Coelho: Não.
D. Afonso IV: Mandá-la-ei para um convento.
Pêro Coelho: Nem pensar!
D. Afonso IV: Expulsá-la-ei do reino.
Pêro Coelho: Ainda que o façais, o fogo do amor não se apagará. Quanto mais lhe resistirdes, mais se
acende.
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D. Afonso IV: Mas… matá-la é demasiado cruel.
Pêro Coelho: Não vedes quantos morrem e não merecem? É Deus que assim quer. Pelo bem…
D. Afonso IV: Mas isso é lá com Deus. Não consigo matar uma inocente.
Pacheco: Mas, senhor meu, sei lá… há causas que justificam a morte dessa mulher.
D. Afonso IV: Tenho medo de me tornar injusto. Meu Deus, que estás nos céus, que tudo vês,
ilumina a minha alma. Não quero que uma inocente morra injustamente. Só tu és capaz de julgar!
Como vive feliz o lavrador, no seu campo, sem preocupações…

CENA IX
Inês conversa com a sua ama e confidente.
Ama: Que choros e gritos eram esses que vos ouvi esta noite?
Inês: Ama, minha ama, tive um sonho horrendo. Vi a morte crua e feroz.
Ama: Então... Sonhava, Senhora. Fiquei gelada de tanto medo!
Inês: Ainda estou assustada. Fico assustada quando D. Pedro parte. Adormeci tão triste e
tive um pesadelo. Sonhei que estava num bosque sombrio, que se ouviam gritos ao longe,
um lobo enorme cravava as garras no meu peito e eu morria.
Ama: Deus vos guarde. Às vezes os pensamentos tristes trazem visões medonhas.
Inês: Não sei o que isso é, mas ainda sinto a dor no coração. Temo, por meus filhos…
Ama: Não receeis, senhora. D. Pedro voltará e estareis segura nos seus braços.
Inês: Oh! Como anseio o seu regresso!
Ama: Alegrai essa alma. Não choreis pois as lágrimas cavam vales no rosto. Olhai como
correm as águas do rio e a beleza dos campos. Escutai o canto dos pássaros.

Personagem que faz de coro: Tristes e cruéis novidades vos trago, D. Inês.
Oh! triste de vós! Coitada de vós. Não mereceis a morte cruel que vos vem buscar. Esse rosto, esses
olhos, essa…
Não tarda muito a vossa morte. Salvai-vos, enquanto é tempo. Fugi, pois a morte vem
armada e vem correndo. El rei vem buscar-vos para vingar a sua fúria.

Inês: (num canto, sozinha) Onde estás, meu amado D. Pedro? El rei procura-me. A morte
cerca-se de mim…
Personagem que faz de coro: Fugi, D. Inês, enquanto é tempo. Poupai o presente. Após o Amor vêm
a morte, os males, os perigos…

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Ó príncipe! Estais tão cego! Fechastes os olhos, os ouvidos… Dormis e passeais, enquanto pelos
campos vem correndo a morte cruel, buscar uma inocente. O amor juntou os vossos corações. A
morte os separará.

CENA X
NARRADOR
Os primeiros tempos do ano de 1355 iram testemunhar uma tragédia. O príncipe D. Pedro nem
presumia o que estava para acontecer quando se despediu da sua querida Inês e seus filhos para
iniciar a caça de montaria pelos montes e florestas da Beira, a cavalo, com nobres amigos e
escudeiros.
Por aqueles dias, D. Afonso IV subiu a Montemor-o-Velho com o seu séquito e ali reuniu os seus
conselheiros de Estado, Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho, para tomar uma
decisão sobre o destino da vida de Inês de Castro. Esta vem à sua presença para lhe suplicar que não
a matassem. Que decisão tomará o rei?

Inês entra no palácio, com os filhos e dirige-se à presença do rei.

Inês: Meu Senhor. Eis aqui a mãe dos vossos netos. Sou uma mulher fraca, por quem sentis uma fria
crueldade. Beijo as vossas mãos, reais e piedosas. Pergunto-vos, clemente rei, porque me odiais?
Diante de vós está uma mulher inocente, sozinha e sem ter quem a defenda. E também estas
crianças, que não podem falar, não se podem defender.
D. Afonso IV: Os teus pecados te matam.
Inês: Quais são os meus pecados?
D. Afonso IV: (friamente) Muitas vidas me pedem a tua morte.
Pacheco: E o tempo voa!
Inês: Ó triste! Triste! Senhor, não acreditais na minha inocência. Que culpa há em amar quem me
ama? Se me matas por amar, o que fazes com um inimigo? Amor merece amor. Esta é a minha culpa.
Pacheco: D. Inês. A sentença está dada. Não choreis mais.
Inês: Cavaleiros. Vós que prometestes defender damas e donzelas, defendei-me, porque morro
injustamente.
Coelho: Que o tempo que ainda te resta sirva para que dês remédio à tua alma. Salvam-se o reino e a
tua alma. Enfim… terás glória.
Inês: Triste de mim. Ouvi pela última vez a voz desta triste alma. A vossos pés me ajoelho!
D. Afonso IV: Que me queres?

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Inês: Que vos posso querer? Ouvi a vossa consciência. Enganaram-se os olhos de vosso filho por
terem olhado para mim? Paguei-lhe com amor, o amor que me deu. Se pequei foi contra Deus.
Matando-me, matai-lo a ele também. E estas crianças? Também são filhas dele. Não vedes como são
parecidos com ele?
Chorai comigo, meus inocentes. Pedi clemência a vosso avô, para que não seja cruel. Ficareis sós.
Abraçai-me. Despedi-vos de quem vos amamentou. Quando regressar, vosso pai vai encontrar-vos
sós. As paredes ainda terão marcas do meu sangue.
Ai… que não posso mais!
D. Afonso IV: Ó mulher, como és forte! Venceste-me e convenceste-me. Vive, enquanto Deus quiser!

(retiram-se todos)
Personagem que faz de coro: Oh! Rei piedoso. Vivei vós também pois conseguis perdoar. Morra
quem leva a vossa intenção por diante.

Pacheco e Coelho regressam à sala do palácio para conversar sobre o destino de Inês.
Pacheco: O rei é um fraco. Deixou-se vencer por uma mulher. Francamente! Por uma MULHER! Que
coisa!
Coelho: Que desculpa apresentará ao reino por ter poupado Inês à morte? Parecia tão firme e forte
quando conversámos com ele!!
Pacheco: Ai! Sei lá. Teremos que agir nós. Façamos justiça, pelo nosso rei, pelo príncipe e pelo reino.
E que seja já. D. Pedro tem que ficar livre para o reino (aparte) E para mim!!!
Coelho: Pois bem. Contrataremos dois homens que matarão Inês, quando esta estiver a passear
pelos jardins ao cair da noite.
Pacheco: Pois que seja como dizes. Mas… como vamos fazer para que El rei não saiba?
Coelho: Iremos à vila, pela calada da noite. Só nós dois saberemos. Falaremos a dois homens, dar-
lhes-emos umas moedas em ouro. Esta gente contenta-se com pouco!
Pacheco: Vamos, sem demora.

Saem.
CENA XI
Encontramos os dois conselheiros do rei na vila com os dois carrascos, a combinar a morte de Inês.
Depois passamos para o jardim do palácio, ao cair da noite, onde Inês s e encontra só, junto da fonte.
Quando vê os homens, Inês fica assustada.

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Inês: Quem sois?
Carrasco 1: Vimos em nome de D. Afonso IV, rei de Portugal.
Inês: (Apavorada) O que quereis?
Carrasco 2: Trazemos uma mensagem para vós. Aproximai-vos.
Inês: Aconteceu algo com D. Pedro? Dizei-me o que aconteceu. Meu coração está apertado!
(Os carrascos dirigem-se a Inês e prendem-na, imobilizando-a)
Inês: Piedade, senhores… deixai-me viver! Tenho filhos que precisam de mim…
Carrasco 1: Não! São as ordens de Sua Alteza…
Inês: Concedei-me, ao menos, uma última oração…
Carrasco 2: Que seja então.

Música triste. Ouve-se um grito.


Carrasco 1: Cumprimos a nossa missão. Vamo-nos daqui para não sermos vistos.
Carrasco 2: Fujamos para bem longe daqui.
Saem de cena

Personagem que faz de coro: Já morreu, D. Inês. Matou-a o amor. Ó dura morte, como ousaste
tomar aquela vida? Mas… Inês viverá, enquanto o amor reinar entre os homens! E teus olhos, ó
príncipe, andarão chorando pela terra, uma vida cortada, enquanto era ainda viçosa flor.
Choremos todos esta triste tragédia. Inês, tua alma vai voando pelos céus. Jaz teu corpo envolto em
sangue. De nada te valeram as palavras. Ó mãos, Ó corações duros. Como pudestes ser tão cruéis?
Outras mãos venham que façam justiça!

CENA XII
NARRADOR
D. Pedro chega ao paço, radiante por pensar que encontrará sua Inês e seus filhos.

D. Pedro: Que dia tão belo, que sol brilhante! Não há nuvens, nem sombras. Parece-me tão claro
este dia!
A terra está alegre, as flores parecem viçosas, o Mondego corre alegremente para o mar. Inês, minha
amada, como desejo cair em vossos braços! Oh! que saudades! Viveremos muitos anos. Sereis rainha
deste reino! Meus olhos nada mais verão senão a vós, minha amada!

Mensageiro: Tristes novas vos trago, senhor!


________________________________________________________________________________________ 13
D. Pedro: Que novidades me trazes?
Mensageiro: São novidades muito cruéis e cruel sou eu por ter que as dar.
D. Pedro: Não esperes mais. Porque tardas em contar-me?
Mensageiro: D. Inês, que tanto amavas, está morta!
D. Pedro: Ó Deus! Ó céus! Que dizes?
Mensageiro: Só sei que está morta de morte cruel.
D. Pedro: (em desespero) Está morta? Quem a matou?
Mensageiro: Foram os homens armados que a mataram ontem à noite nos jardins do paço. A
inocente estava tão calma que nem fugiu. De nada lhe valeu o amor que sentia por vós, nem vossos
filhos. Pediu perdão a vosso pai, ajoelhou-se perante ele e ele a perdoou. Mas… seus cruéis ministros
e conselheiros arrancaram das espadas e trespassaram-lhe o peito!
D. Pedro: Que direi? Que farei? Inês, alma minha, amor meu, minha alegria. Mataram-te? Mataram-
te? E meu pai permitiu tamanha crueldade? É meu pai ou meu inimigo? Porque não me matou a
mim?
Mensageiro: Senhor. Agora não é tempo de chorar. Ide para junto daquele corpo e fazei-lhe honras.
D. Pedro: Inês merecia outras honras! Seus olhos estão fechados para sempre, seus cabelos,
manchados de sangue, suas mãos frias… Chorem comigo os que me escutam, chorem as pedras da
calçada. E tu, Coimbra, cobre-te de tristeza. Sequem as árvores e as flores. Mataram-te, Inês! Pois eu
os matarei também! Abrirei com as minhas mãos aqueles peitos. Arrancarei deles os ferozes
corações. De sangue se encherão os campos. Essa será a minha vingança! E tu, Inês, espera-me que a
ti me juntarei. Mas… antes coroar-te-ei a rainha que nunca foste na terra. Teu amor me
acompanhará. Nossos corpos se unirão e descansaremos juntos para sempre.

NARRADOR
Com o seu temperamento intempestivo, D. Pedro reagiu com a ferocidade de um tigre ferido.
Chamou às armas nobreza e povo de sua confiança, percorreu Trás-os-Montes e Douro pela sua
causa e desafiou o rei, seu pai, para uma guerra.
D. Pedro quando subiu ao Trono, no ano de 1357. O ódio que tinha aos conselheiros atirou-os para
os calabouços da prisão. Diogo Lopes Pacheco fugiu para França. Aos carrascos de Inês também não
poupou vingança. Mandou o carrasco tirar a um o coração pelas costas e a outro o coração pelo
peito.
No ano de 1360, D. Pedro mandou construir, na igreja do mosteiro de Alcobaça, dois túmulos
sumptuosos, um para Inês e outro para ele, quando a morte o levasse.
Depois, D. Pedro resolveu fazer a homenagem merecida a Dona Inês, rainha de Portugal. Ordenou
então, a transladação dos restos mortais de Coimbra para o túmulo de Alcobaça. Foi um cortejo
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fúnebre de imponência nunca vista. Gente do povo, do clero e da nobreza espalhou-se pelo

caminho, e todos fizeram vénias à passagem do caixão.


E repousam agora finalmente juntos no Mosteiro de Alcobaça… frente a frente. Olham-se
agora como nunca foram livres em vida de se olhar.

Personagem que faz de coro:

Assi como a bonina, que cortada


Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.

As filhas do Mondego a morte escura


Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores.

Camões, Os Lusíadas, Canto III, 134 e 135

Peça adaptada por Maria José Silva (professora de Português da Escola Secundária Ferreira
de Castro), com base no Episódio de Inês de Castro d’ Os Lusíadas de Luís de Camões, Canto
III; A Castro, de António Ferreira; http://web.educom.pt e criação da própria.

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