REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.
fato existentes, aquilo que ele chamou de preconceito de classe. Nem
mesmo a rgida estrutura de desigualdades na distribuio de riquezas entre brancos e negros pode contrariar o historicismo, que v as diferenas como resultado de pontos de partida diferentes e trata os mestios embranquecidos como negros que ascenderam socialmente. A esse respeito, h que se fazer justia a Arthur Ramos, quando, introduzindo o livro de Pierson ao pblico brasileiro, em 1945, avana a hiptese de trabalho de que os estudos da UNESCO se valero anos depois: Estas concluses podem ser comparadas com as do professor negro Frazier, (...) que tambm nos visitou recentemente, e que verificou a existncia de um preconceito de cor que deveria ser distinto do preconceito de raa. um assunto aberto discusso se este preconceito ligado cor negra mais carregada coincide ou no com o status social e econmico mais baixo, o que as pesquisas de Pierson nos levam a admitir. (Ramos, 1971, p. 96)
Em outras palavras: se no existia preconceito racial entre ns tal
como Blumer (1939) o definia , existiria preconceito de cor tal como definido por Frazier (1942)? Ou teramos apenas preconceito de classe, como queria Pierson? Lembremo-nos de que o preconceito racial entendido, na sociologia de ento, a partir do paradigma de Herbert Blumer, como fundamentalmente um processo coletivo, que opera pelos meios pblicos em que indivduos que so aceitos como porta-vozes de um grupo racial caracterizam publicamente um outro grupo racial, definindo, neste processo, seu prprio grupo. Para Blumer, isso equivale a colocar ambos os grupos em relao recproca, definindo suas respectivas posies sociais. So quatro os sentimentos que, segundo Blumer, estaro sempre presentes no preconceito racial do grupo dominante: (a) de superioridade; (b) de que a raa subordinada intrinsecamente