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TEÓRICA
Emigração
O fenómeno da emigração em Portugal
Olhai, olhai, vão em manadas
Os emigrantes…
Uivos de dó pelas estradas,
Junto dos cais, nas amuradas
Das naus distantes…
Desde o princípio dos tempos que o Homem deixa o lugar onde nasceu
e se desloca para novos locais. Os motivos são muitíssimo variados,
combinando-se entre si e levando milhões de pessoas a, durante toda a
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Finis Patriae (1890), 6.ª ed., p.56. In SERRÃO, Joel – A Emigração Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte 1977.
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História, deixar o seu local de origem e mudar-se para um novo sítio em busca
de uma vida melhor.
Actualmente, com a crescente mutação do mundo para uma aldeia
global, é cada vez mais fácil a deslocação, tornando-nos, mais do que pessoas
com diferentes nacionalidades, cidadãos do mundo.
O fenómeno da emigração tem estado presente
ao longo dos tempos, sendo um factor determinante
para a estrutura do mundo actual. Responsável por
conflitos culturais, pela reconstrução de cidades em
Fonte: http://www.weheartit.com
ruínas, por piadas infames e tantos outros aspectos, a
emigração é fonte de controvérsias e debates, sendo
apenas unânime o facto de que, se os povos não
tivessem começado a deslocar-se, o mundo que hoje
conhecemos não seria o mesmo.
Figura 1 – Símbolos da emigração.
A emigração portuguesa
Devido a um conjunto de condicionalismos históricos e geográficos,
coube a Portugal e Espanha a tarefa de iniciar a expansão europeia no “novo
mundo”.
Desde inícios do século XV até meados do século seguinte, Portugal
vive a aventura dos Descobrimentos, dando início, mesmo sem o saber, a uma
das formas mais primárias da emigração: a colonização.
Desde a conquista de Ceuta, em 1415, logo seguida da descoberta da
Madeira (1419), passando pela descoberta do Brasil, em 1500, e pelas Áfricas,
os portugueses tiveram não só a missão de chegar a terras até então
desconhecidas, mas também de as povoar e de as moldar à imagem da sua
metrópole. A expansão ultramarina trouxe, assim, consequências
demográficas, levando vários marinheiros a ficar-se pelas terras descobertas e
um número considerável de portugueses a deslocar-se para os novos solos do
império. À capital do reino vinham parar escravos importados, trabalhando no
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lugar daqueles que haviam saído para espalhar os costumes, a língua a
religião dos portugueses.
No entanto, há que distinguir os conceitos de colonização e emigração,
que, embora intimamente ligados, possuem algumas diferenças relevantes.
Colonização, ideia inserida num determinado contexto temporal, tem um
carácter menos lato do que emigração, uma vez que implica o abandono da
pátria com destino a uma colónia, incentivado por iniciativa estatal. Emigração,
por sua vez, é um conceito mais amplo, pois consiste somente em abandonar o
país de origem por motivos pessoais, muitas vezes até em oposição ao
definido pelo Estado.
Já nesta altura, muitos foram os autores a descrever a situação,
destacando-se Garcia de Resende, que tão bem retrata o papel dos
portugueses no povoamento do mundo novo:
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Garcia de Resende, Miscelânea, n.º 189. In SERRÃO, Joel – A Emigração Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte 1977.
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Século XX
Sendo um fenómeno presente ao longo de toda a História portuguesa
(tendo até em conta a localização geográfica do país), a emigração atingiu o
seu “boom” no século XX. Foram os cem anos em
que mais mudanças se verificaram a nível mundial,
Monterroso, O Tempo da História 12.º ano: 2.ª parte. Porto:
Fonte: COUTO, Célia Pinto do; ROSAS, Maria Antónia
abrindo caminho para o ritmo frenético em que a
sociedade do século seguinte viria a viver. O
mundo sobreviveu a duas guerras, tocou os astros,
ultrapassou as barreiras do espaço e do tempo,
revelando o melhor e o pior da espécie humana.
Nestes tempos conturbados, não admira que o
Porto Editora, 2009.
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Apesar das medidas do Governo português, as condições de vida no
país continuavam a ser difíceis, pelo que as fugas subsistiam. Visto que era
mais difícil e dispendioso sair do país através dos portos, onde o controlo era
maior, os portugueses voltaram-se para a Europa, mais acessível e também
ela uma fonte de novas oportunidades.
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945), apesar de não ter contado com
a participação de Portugal, acarretou consequências para o país e para os
fluxos migratórios de então. Uma vez que a Europa foi o seu palco principal, o
volume de saídas foi bastante reduzido durante os tempos de guerra, mas
apenas para dar origem à maior corrente migratória jamais vista em Portugal
nos anos seguintes.
Foi na década de 60 que se assistiu a uma saída em massa por parte da
população portuguesa, sendo que só em 1966 abandonaram o país cerca de
120 mil pessoas (QUEIRÓS, 2007). Os emigrantes voltaram a sua atenção
para a Europa Ocidental, com países em franco desenvolvimento industrial e
com necessidade de mão-de-obra para os apoiar na sua reconstrução durante
o pós-Guerra. Os trabalhos que iam desempenhar nesses países eram de
baixo prestígio social, pouco exigentes em termos de qualificação profissional,
mas de grande esforço físico e mal renumerados (conseguindo, mesmo assim,
superar os salários portugueses).
Monterroso, O Tempo da História 12.º ano: 2.ª parte. Porto:
Fonte: COUTO, Célia Pinto do; ROSAS, Maria Antónia
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político. Procuravam trabalho e melhores condições de vida, estabelecendo-se
nos países de acolhimento por grandes períodos de tempo, mas tendo sempre
em vista o regresso a Portugal, onde muitas vezes deixavam as suas famílias,
enviando-lhes remessas do pouco dinheiro que conseguiam acumular. A
proximidade geográfica permitia aos emigrantes poder esperar regressar um
dia, possibilidade que, com a emigração transoceânica, era quase sempre nula,
tornando a saída um acto definitivo.
É também importante destacar que, apesar dos números apresentados
oficialmente serem já elevadíssimos, estes não correspondem ao número total
de emigrantes que abandonaram o país, pois a emigração real foi sempre
superior à legal. Com o aumento das restrições, cada vez mais pessoas
abandonavam o país por sua conta e risco, fugindo ao controlo estatal e sendo
amiúde enganadas por muitos aproveitadores que prometiam levá-las ao
destino desejado, mas não passavam sequer a fronteira. A emigração
ultrapassa agora a população rural e estende-se para a generalidade social e
regional do Estado.
Pensa-se que a emigração clandestina, cujos destinos foram também na
Europa Ocidental, corresponda a cerca de um terço do total.
Mas além da França e da República Federal Alemã, também alguns
destinos transatlânticos continuaram a atrair os portugueses, especialmente os
Estados Unidos da América e o Canadá, que se mantiveram receptivos aos
portugueses durante mais tempo. É de destacar a existência de grandes
comunidades portuguesas nesses países, sendo que a maior parte dos
emigrantes aí presentes saíram da Região Autónoma dos Açores. Já em
relação à Madeira, as suas maiores comunidades encontram-se na Venezuela,
Brasil e África do Sul.
Após atingir o seu pico nos anos 60, os números da emigração
começaram a recuar, embora de forma irregular. Denota-se também uma maior
diversificação dos destinos, pois além do Canadá, Estados Unidos e Europa
Ocidental, a Austrália, a África do Sul e países do Médio Oriente começam a
cativar mais alguns portugueses.
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Fonte: COUTO, Célia Pinto do; ROSAS, Maria Antónia Monterroso, O
Tempo da História 12.º ano: 2.ª parte. Porto: Porto Editora, 2009.
Figura 4 – Evolução da emigração portuguesa de 1926 Figura 5 – Evolução dos principais destinos da
a 1974. emigração portuguesa.
a 1974.
Século XXI
Tendo em conta que estamos apenas a entrar na segunda década (ou a
finalizar a primeira, mas este não é o tempo nem o local indicado para tal
discussão) do século XXI, é difícil caracterizar a influência deste fenómeno nos
dias de hoje. O pouco distanciamento que temos em relação aos
acontecimentos deste século fazem com que seja difícil avaliar as
consequências que estes poderão ter, podendo apenas cingir-nos a previsões
sem carácter científico.
No início do século, estima-se que existiam cerca de 4,8 milhões de
portugueses a residir no estrangeiro, números que mostram a importância do
fenómeno da emigração na difusão da língua e cultura portuguesas no mundo.
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Portugal é o segundo país a nível
mundial, apenas ultrapassado pela Irlanda,
com maior percentagem de emigrantes em
Fonte: http://www.weheartit.com
relação à população total, podendo-se
assim constatar como este fenómeno veio a
alterar a estrutura do nosso país ao longo
dos anos.
Figura 6 – «O emigrante», José Malhoa (1915).
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Passei a fronteira, edição do C. E. P. F. In SERRÃO, Joel – A Emigração Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte 1977.
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Consequências da emigração
Nunca lá na terra tive um vintém de meu; e olhe que trabalhava como um moirinho
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desde pela manhã até à noite. Agora empresto dinheiro a juros; já lá tenho 6 contos.
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Diário de Lisboa, 2 de Junho de 1924. In SERRÃO, Joel – A Emigração Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte 1977.
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No entanto, e apesar da vida estar menos difícil, o país estava
envelhecido; a natalidade baixara (uma realidade que podemos ainda hoje
analisar nas pirâmides da estrutura etária da população) e muitas regiões,
especialmente as rurais, estavam quase desertas.
Ao longo dos anos seguintes, uma certa percentagem dos emigrantes
voltou, normalmente para gozar a tranquilidade da sua reforma no país natal.
Com eles trazem capital, que investem no local de onde, há tantos anos,
partiram, desenvolvendo infra-estruturas inovadoras e ao mais alto estilo
europeu.
De uma forma geral, podemos concluir que a emigração continua a ser
um assunto controverso, uma vez que tanto apresenta aspectos positivos como
negativos para o país. Importa não esquecer que, recentemente, têm sido
postas a descoberto situações de exploração de mão-de-obra portuguesa em
países estrangeiros, bem como conflitos oriundos do choque de culturas a que
os emigrantes muitas vezes se submetem, constituindo esta a face mais negra
deste fenómeno.
Considerações finais
Pelo dorso das vagas rugidoras
Eu corri de além-mar para estas plagas.
Pelas antenas, em nublada noite,
Ouvi o vento sul que assobiava,
E de ouvi-lo folguei. Da pátria vinha:
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Seu rijo sopro refrescou-me as veias.
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Alexandre Herculano, A Harpa do Crente, «Tristeza do Desterro». In SERRÃO, Joel – A Emigração Portuguesa.
Lisboa: Livros Horizonte 1977.
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no país de acolhimento, são estes emigrantes os responsáveis pela difusão da
língua, da cultura e dos valores portugueses pelo mundo, tarefa pela qual, na
maioria das vezes, não são sequer reconhecidos no país de origem.
Bibliografia
COUTO, Célia Pinto do; ROSAS, Maria Antónia Monterroso - O Tempo da
História 12.º ano: 2.ª parte. Porto: Porto Editora, 2009.
QUEIRÓS, Adelaide – Preparação para o Exame Nacional 2008: Geografia
A. Porto: Porto Editora, 2007.
RODRIGUES, Arinda; BARATA, Isabel – Geografia A: 10.º ano. Lisboa: Texto
Editores, 2007.
SERRÃO, Joel – A Emigração Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte, 1977.
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