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mo direita, com a outra acariciava os cabelos de Estela. Inesquecvel aquele gesto de nossa me, em toda a nossa vida, por seu corpo
passando a nossa ultima sintonia.
As pessoas iam chegando, a hora do enterro se aproximava.
Madrinha apagou os quatro tocos de vela acesos ao redor de Estela.
Comearam a distribuir os ramos de flores para o acompanhamento.
Eu reparava nos meninos e nas meninas que se acotovelavam para
ver a morta. Alguns que sempre zombavam dela. Uns me pareciam
tristes, outros apenas viviam uma aventura. Eu me sentia completamente afastado de todos.
Iam fechar o caixo. Minha me despejou mais lgrimas e
inquiria Deus pela morte da filha. E at madrinha, pela vez primeira,
soltou as rdeas do seu pranto. Eu me guardei no silncio, peguei um
ramo de rosas que estava prximo ao rosto de Estela. No me pareceu
que eu pudesse beijar o seu rosto agora, j que nunca o fizera em
vida. Ento beijei as flores e pus de volta no caixo.
Era hora, o enterro ia seguir. Quando me mandaram olhar
minha irm pela ltima vez, no chorei, pois me pareceu que ela sorria
um sorriso longe s para eu sentir. Ento percebi que ela agora se
tornava com nuvens. Eu quis seguir com ela, mas no me deixaram.
E me levaram Estela de mim.
O cortejo dobrou a primeira curva de nossa rua. Os meus
olhos continuaram buscando, at hoje parados naquela curva sem
nome. Madrinha varreu a casa, dos fundos para a porta da frente,
juntando as folhas e restos de flores e tocos de velas. Deixou o montinho no p de jambo que Estela chamava de meu segundo amor.
Era onde minha irm costumava ficar sombra, enfeitando-se com
as flores rubras de jambo. Ali eu derramei as minhas derradeiras
lgrimas.
Minha irm, ainda hoje eu contemplo a tua estrela e tenho
uma vontade enorme de que fosse minha. Eu vejo tua imagem se
projetando de l, num sorriso longe que no me deixa desamparado. Era essa luz que voc me oferecia, por apenas um sorriso que j
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