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3 SÉRIE
ENSINO MÉDIO
Volume 2

FILOSOFIA
Ciências Humanas

CADERNO DO PROFESSOR
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO

MATERIAL DE APOIO AO
CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO
CADERNO DO PROFESSOR

FILOSOFIA
ENSINO MÉDIO
3a SÉRIE
VOLUME 2

Nova edição

2014 - 2017

São Paulo
Governo do Estado de São Paulo
Governador
Geraldo Alckmin
Vice-Governador
Guilherme Afif Domingos
Secretário da Educação
Herman Voorwald
Secretária-Adjunta
Cleide Bauab Eid Bochixio
Chefe de Gabinete
Fernando Padula Novaes
Subsecretária de Articulação Regional
Rosania Morales Morroni
Coordenadora da Escola de Formação e
Aperfeiçoamento dos Professores – EFAP
Silvia Andrade da Cunha Galletta
Coordenadora de Gestão da
Educação Básica
Maria Elizabete da Costa
Coordenadora de Gestão de
Recursos Humanos
Cleide Bauab Eid Bochixio
Coordenadora de Informação,
Monitoramento e Avaliação
Educacional
Ione Cristina Ribeiro de Assunção
Coordenadora de Infraestrutura e
Serviços Escolares
Dione Whitehurst Di Pietro
Coordenadora de Orçamento e
Finanças
Claudia Chiaroni Afuso
Presidente da Fundação para o
Desenvolvimento da Educação – FDE
Barjas Negri
Senhoras e senhores docentes,

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo sente-se honrada em tê-los como colabo-
radores nesta nova edição do Caderno do Professor, realizada a partir dos estudos e análises que
permitiram consolidar a articulação do currículo proposto com aquele em ação nas salas de aula
de todo o Estado de São Paulo. Para isso, o trabalho realizado em parceria com os PCNP e com
os professores da rede de ensino tem sido basal para o aprofundamento analítico e crítico da abor-
dagem dos materiais de apoio ao currículo. Essa ação, efetivada por meio do programa Educação
— Compromisso de São Paulo, é de fundamental importância para a Pasta, que despende, neste
programa, seus maiores esforços ao intensiàcar aç×es de avaliação e monitoramento da utilização
dos diferentes materiais de apoio à implementação do currículo e ao empregar o Caderno nas aç×es
de formação de professores e gestores da rede de ensino. Além disso, àrma seu dever com a busca
por uma educação paulista de qualidade ao promover estudos sobre os impactos gerados pelo uso
do material do São Paulo Faz Escola nos resultados da rede, por meio do Saresp e do Ideb.

Enàm, o Caderno do Professor, criado pelo programa São Paulo Faz Escola, apresenta orien-
taç×es didático-pedagÓgicas e traz como base o conteÙdo do Currículo 0àcial do Estado de São
Paulo, que pode ser utilizado como complemento à .atriz Curricular. 0bservem que as atividades
ora propostas podem ser complementadas por outras que julgarem pertinentes ou necessárias,
dependendo do seu planejamento e da adequação da proposta de ensino deste material à realidade
da sua escola e de seus alunos. 0 Caderno tem a proposição de apoiá-los no planejamento de suas
aulas para que explorem em seus alunos as competências e habilidades necessárias que comportam
a construção do saber e a apropriação dos conteÙdos das disciplinas, além de permitir uma avalia-
ção constante, por parte dos docentes, das práticas metodolÓgicas em sala de aula, objetivando a
diversiàcação do ensino e a melhoria da qualidade do fazer pedagÓgico.

Revigoram-se assim os esforços desta Secretaria no sentido de apoiá-los e mobilizá-los em seu


trabalho e esperamos que o Caderno, ora apresentado, contribua para valorizar o ofício de ensinar
e elevar nossos discentes à categoria de protagonistas de sua histÓria.

Contamos com nosso Magistério para a efetiva, contínua e renovada implementação do currículo.

Bom trabalho!

Herman Voorwald
Secretário da Educação do Estado de São Paulo
A NOVA EDIÇÃO
0s materiais de apoio à implementação f incorporar todas as atividades presentes
do Currículo do Estado de São Paulo nos Cadernos do Aluno, considerando
são oferecidos a gestores, professores e alunos também os textos e imagens, sempre que
da rede estadual de ensino desde 2008, quando possível na mesma ordem;
foram originalmente editados os Cadernos forientar possibilidades de extrapolação
do Professor. Desde então, novos materiais dos conteÙdos oferecidos nos Cadernos do
foram publicados, entre os quais os Cadernos Aluno, inclusive com sugestão de novas ati-
do Aluno, elaborados pela primeira vez vidades;
em 2009. f apresentar as respostas ou expectativas
de aprendizagem para cada atividade pre-
Na nova edição 2014-2017, os Cadernos do
sente nos Cadernos do Aluno – gabarito
Professor e do Aluno foram reestruturados para
que, nas demais ediç×es, esteve disponível
atender às sugest×es e demandas dos professo-
somente na internet.
res da rede estadual de ensino paulista, de modo
a ampliar as conex×es entre as orientaç×es ofe- Esse processo de compatibilização buscou
recidas aos docentes e o conjunto de atividades respeitar as características e especiàcidades de
propostas aos estudantes. Agora organizados cada disciplina, a àm de preservar a identidade
em dois volumes semestrais para cada série/ de cada área do saber e o movimento metodo-
ano do Ensino Fundamental – Anos Finais e lÓgico proposto. Assim, além de reproduzir as
série do Ensino Médio, esses materiais foram re- atividades conforme aparecem nos Cadernos
vistos de modo a ampliar a autonomia docente do Aluno, algumas disciplinas optaram por des-
no planejamento do trabalho com os conteÙdos crever a atividade e apresentar orientaç×es mais
e habilidades propostos no Currículo 0àcial detalhadas para sua aplicação, como também in-
de São Paulo e contribuir ainda mais com as cluir o ícone ou o nome da seção no Caderno do
aç×es em sala de aula, oferecendo novas orien- Professor (uma estratégia editorial para facilitar
taç×es para o desenvolvimento das Situaç×es de a identiàcação da orientação de cada atividade).
Aprendizagem.
A incorporação das respostas também res-
Para tanto, as diversas equipes curricula- peitou a natureza de cada disciplina. Por isso,
res da Coordenadoria de Gestão da Educação elas podem tanto ser apresentadas diretamente
Básica (CGEB) da Secretaria da Educação do apÓs as atividades reproduzidas nos Cadernos
Estado de São Paulo reorganizaram os Cader- do Professor quanto ao ànal dos Cadernos, no
nos do Professor, tendo em vista as seguintes Gabarito. Quando incluídas junto das ativida-
ànalidades des, elas aparecem destacadas.
Além dessas alteraç×es, os Cadernos do possibilitando que os conteÙdos do Currículo
Professor e do Aluno também foram anali- continuem a ser abordados de maneira prÓxi-
sados pelas equipes curriculares da CGEB ma ao cotidiano dos alunos e às necessidades
com o objetivo de atualizar dados, exemplos, de aprendizagem colocadas pelo mundo con-
situaç×es e imagens em todas as disciplinas, temporâneo.

Seções e ícones

Leitura e análise Aprendendo a


aprender
Para começo de Você aprendeu?
conversa

?
!

Pesquisa individual Lição de casa

O que penso Situated learning


sobre arte?

Learn to learn Pesquisa em grupo

Homework Roteiro de
experimentação

Pesquisa de Ação expressiva


campo
Para saber mais Apreciação
SUMÁRIO
Orientação sobre os conteúdos do volume 7

Situações de Aprendizagem 10
Situação de Aprendizagem 1 – Filosofia e Ciência 10

Situação de Aprendizagem 2 – 0 libertarismo 1

Situação de Aprendizagem  – 0 determinismo 28

Situação de Aprendizagem 4 – A concepção dialética da liberdade 39

Situação de Aprendizagem  – Filosofia e -iteratura 4

Situação de Aprendizagem  – A felicidade segundo o estoicismo e o epicurismo 1

Situação de Aprendizagem 7 – Ser feliz é preciso 1

Situação de Aprendizagem 8 – Felicidade e compromisso consigo e com o outro 7

Quadro de conteúdos do Ensino Médio 77

Gabarito 78
Filosofia – 3a série – Volume 2

ORIENTAÇÃO SOBRE OS CONTEÚDOS DO VOLUME


Prezado Professor, Entendemos que nunca é demais lembrar que
o atendimento ao Currículo 0àcial é indispensá-
0 presente volume sofreu algumas altera- vel, pois trata-se de uma política de Estado que
ç×es em relação às ediç×es anteriores. As visa a melhoria da educação pÙblica e a uniàcação
mudanças foram modestas e tiveram o sentido dos processos de ensino e aprendizagem. Essa
de melhorar o diálogo entre o Caderno do uniàcação pretende garantir a igualdade na for-
Professor e o Caderno do Aluno. mação e, assim, oportunizar aos nossos alunos
trajetos mais equânimes. Ainda, o Currículo pro-
De maneira geral, procuramos preservar as porciona oportunidade para uma educação com-
Situaç×es de Aprendizagem no seu formato prometida com a formação crítica, solidária e
original, pois não se trata de uma nova publi- inclusiva na medida em que também tem o sentido
cação, mas de nova edição. Dessa forma, àze- de preparar os nossos alunos para a vida social e
mos alguns acréscimos e algumas exclus×es, para adentrar e melhor se adaptar às demandas
sempre no sentido de melhor atender as orien- da esfera do mundo do trabalho, com base no
taç×es gerais para o ensino de Filosoàa. desenvolvimento de habilidades e competências.

Enfatizamos que o encaminhamento pro- Conhecimentos priorizados


posto nas Situaç×es de Aprendizagem disponí-
veis no Caderno do Professor e no Caderno do Neste volume, prop×e-se o estudo de quatro
temas as relaç×es entre Filosoàa e Ciência, a liber-
Aluno tem o sentido de apresentar uma possi-
dade, as relaç×es entre Filosoàa e -iteratura e, por
bilidade para percorrer as diretrizes dadas pelo
àm, a felicidade. Na abordagem das relações entre
Currículo 0ficial do Estado de São Paulo.
'ilosoàa e CiËncia o discurso àlosÓàco será con-
Contudo, entendemos que, para seguir o Cur-
frontado com o discurso cientíàco, buscando-se
rículo, você não precisa nem deve àcar restrito
delimitar aproximaç×es e distanciamentos não
apenas aos Cadernos, podendo complementar
apenas pela informação histÓrica sobre essa rela-
as Situaç×es de Aprendizagem propostas com ção, mas também por meio de comparação entre
outros recursos. Você pode, ainda, adotar os dois discursos. Na abordagem do tema liber-
como referência um livro didático de sua pre- dade, serão apresentadas três teorias que busca-
ferência. Mas, mesmo que faça essa opção, ram compreender a natureza do homem como um
lembre-se sempre que, ainda assim, deverá ser que enfrenta limites à sua liberdade e também
complementar a proposta do livro com outros como alguém capaz de ser livre. Dessa forma,
recursos e planejamento a fim de atender o libertarismo, determinismo e dialética foram os
Currículo. Advertimos que nenhum material é recortes selecionados para discutir um dos proble-
perfeito e jamais poderá ser utilizado sem pla- mas fundamentais da Filosoàa O ser humano é
nejamento e sem as indispensáveis contribui- livre? Sobre as relações entre 'ilosoàa e Litera-
ç×es teÓricas e práticas do docente. Professor, tura, o discurso literário será confrontado ao
você tem autonomia para planejar e preparar discurso àlosÓàco também buscando delimitar
as suas aulas, selecionar os textos e os pensa- aproximaç×es e distanciamentos. Em relação ao
dores que melhor se adéquam aos temas curri- tema felicidade, serão apresentadas duas teorias
culares e ao desenvolvimento das competências epicurismo e estoicismo, além de aspectos contem-
e habilidades referidas no Currículo. porâneos subjacentes ao assunto, como o prazer

7
a qualquer preço, o imediatismo na busca da feli- 0 Currículo e, como não poderia deixar de ser,
cidade e a relação do ser humano com a morte. os Cadernos de Filosoàa, procuram atender não
Para fechar este volume e as reáex×es àlosÓàcas apenas a demanda instrumental dada pela Lei de
na 3ª série do Ensino Médio, o tema felicidade será Diretrizes e Bases (LDB) mas também promover
pensado tomando-se por base as condiç×es indi- e valorizar a reflexão do tipo filosÓfica. Dessa
viduais que levam uma pessoa a ser feliz ou não e forma, a organização dos temas curriculares e das
algumas condiç×es sociais que podem propiciar a Situaç×es de Aprendizagem procura, com base
felicidade. Ser feliz com o outro essa é a perspec- em temas e conceitos relevantes no contexto da
tiva valorizada pelos autores deste Caderno para histÓria da Filosoàa, favorecer a reáexão àlosÓ-
o trabalho com os estudantes do Ensino Médio. àca para os alunos do Ensino Médio. Assim, ao
trazermos para a reáexão àlosÓàca a atividade
CompetËncias e habilidades filosÓfica e as suas relaç×es com a linguagem,
elemento fundamental para se fazer ciência e
As competências e habilidades priorizadas literatura, e com a política, que trata não apenas
são aquelas referentes à atividade àlosÓàca e às de governos instituídos, mas também das relaç×es
suas relaç×es com a linguagem e com a política entre as pessoas, procuramos acentuar a necessi-
visando estimular a reáexão e a tomada de posi- dade de se atentar para as condutas cotidianas.
ção no tocante a quest×es prÓprias da vida
democrática. Destacamos que a reflexão e a Ao centrar as Situaç×es de Aprendizagem nas
manifestação exigem o exercício da leitura, da quest×es que perpassam a recepção da atividade
escrita e da prática dialÓgica. Essas três práticas àlosÓàca, nos temas Filosoàa e Ciência, Filosoàa
elementares são indispensáveis para a com- e Literatura, a liberdade e a felicidade, não dispen-
preensão dos fenÔmenos histÓricos, sociais, samos a histÓria da Filosofia, a retomada dos
culturais, políticos, artísticos e científicos. A conceitos àlosÓàcos e o exercício de oralidade,
compreensão desses fenômenos permite a orga- leitura e escrita que permitem explorar o potencial
nização, a interpretação e a reáexão àlosÓàca. àlosÓàco de cada aluno e não cair em um ensino
enciclopédico. Consideramos, na abordagem do
Metodologia e estratégias tema, que o aporte da tradição àlosÓàca sÓ terá
sentido se incentivar a elaboração de uma reáexão
A Filosoàa no Ensino Médio tem o sentido àlosÓàca, se os alunos puderem experimentar o
de responder à necessidade de uma educação percurso do pensamento organizado por meio do
integral. Ela comp×e, junto com a arte e a ciência, encontro com diferentes possibilidades de vocabu-
uma maneira de abordar o mundo. Dessa forma, lário, raciocínio, hipÓteses, escolhas de premissas
entendemos que um ensino que ignore a perspec- e consequências. Nesse sentido, incentivamos nas
tiva filosÓfica de abordar o mundo não pode Situaç×es de Aprendizagem a leitura e análise para
almejar ser integral. Se a presença da Filosoàa a compreensão do texto, com base em pesquisas
no Ensino Médio é justiàcada por uma demanda que visam ampliar o vocabulário e, em especial,
instrumental que seria a de munir os jovens de permitir que os alunos tenham acesso aos termos
certos conhecimentos considerados necessários àlosÓàcos. )á, ainda, a indicação de quest×es que
para o exercício da cidadania, essa demanda não orientam o aluno a se remeter ao texto preferen-
lhe é exclusiva e é compartilhada por todas as cialmente ou à explicação do professor. E, em
disciplinas do Currículo. A demanda exclusiva menor frequência, mas não em menor importân-
da Filosofia é apresentar aos nossos jovens a cia, destacamos o papel da redação, que não espe-
reáexão do tipo àlosÓàca e por ela ofertar aos ciàcamos como dissertação, pois esta deve ser uma
nossos alunos uma formação mais abrangente, opção do professor, baseando-se na condição da
que vise a formação integral. turma de alunos que tem diante de si. Contudo,

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Filosofia – 3a série – Volume 2

lembramos que a dissertação é ocasião privile- signiàcados diante do tema apresentado; se foram
giada para o exercício da reáexão àlosÓàca. ­ por capazes de identiàcar os problemas apresentados
ela que o aluno experimenta, que assume as hipÓ- em cada Situação de Aprendizagem; se ao ler um
teses que deve levá-lo a certas conclus×es. Neste texto àlosÓàco, conseguiram identiàcar os concei-
volume, você, professor, poderá desaàar os alunos tos e a linha argumentativa do àlÓsofo; se foram
a argumentar acerca da Filosoàa, da atividade capazes de, por meio desse contato, reconhecer a
àlosÓàca, sobre a relação da Filosoàa com a Ciên- relevância do problema e da contribuição da tradi-
cia e a Literatura, a liberdade e a felicidade, e as ção filosÓfica; se foram capazes de identificar o
consequências das concepç×es e escolhas. problema proposto como um problema atual, da
sua realidade; e ànalmente, até que ponto eles con-
Avaliação da aprendizagem seguiram avançar para uma reáexão e argumenta-
ção do tipo àlosÓàca.
Estamos acostumados com a perspectiva de
avaliação como uma régua, uma medida que per- Professor, optamos, nesta edição, por não tra-
mite classiàcar os alunos. Para realizar essa medi- balhar com a perspectiva de gabarito no sentido de
ção, nÓs, professores, geralmente aplicamos provas stricto sensu, pois, no contexto do ensino de Filo-
cujos resultados nos permitem dar notas e, assim, soàa, devemos atentar, mais do que para a precisão
classiàcar os nossos alunos. Muitas vezes a classià- das respostas, para o quanto o aluno reconhece os
cação, ao ànal de um ano, nos permite identiàcar conteÙdos transmitidos e, com base neles, apre-
os alunos que apresentam ou não as condiç×es para senta condiç×es de se aproximar da experiência
avançar no processo de escolarização. 0u seja, no àlosÓàca. Assim, reforçamos a perspectiva de que
processo ela nos permite decidir pela aprovação ou as sugest×es de quest×es, presentes nas Situaç×es
reprovação dos alunos. Entendemos que essa pers- de Aprendizagem, não conàguram um receituário
pectiva é apenas parcialmente válida se considerar- de perguntas em que as respostas já foram deàni-
mos a atual função da escola. Dessa forma, procure das. Com isso não queremos dizer que vale qual-
estar sempre atento aos processos de aprendizagens quer resposta. Lembramos que as Situaç×es de
dos alunos, às necessidades, aos avanços e às dià- Aprendizagem apresentam como referência textos
culdades e não apenas ao que o aluno apresenta na e questionamentos que abordam o pensamento de
prova bimestral. Considerando que a avaliação deve determinados àlÓsofos. Dessa forma, as respostas
fazer parte do cotidiano escolar e não pode se redu- dos alunos devem se remeter ao que foi proposto e
zir a uma prova, ela deve contemplar todas as aos pensadores citados, sempre que assim for
tarefas propostas, não apenas para o professor requerido. Por àm, sugerimos que você realize o
classiàcar, mas também para que o aluno reconheça exercício de responder às quest×es propostas em
as suas diàculdades e suas potencialidades. Assim, cada Situação de Aprendizagem antes de indicá-las
entendendo a avaliação da aprendizagem como para os alunos e veriàque se elas são pertinentes
parte de um processo formativo, o professor deve para a sua turma, se elas atendem à expectativa de
considerar todas as atividades propostas (e isso aprendizagem e formação com base no tema tra-
inclui as pesquisas, a lição de casa e, sempre que balhado. Esse procedimento deve ser considerado
possível, a redação). Não esqueça que cada ativi- sempre que utilizar quest×es que não foram elabo-
dade proposta e realizada deve receber da sua parte radas por você, tais como as que estão propostas
um retorno individualizado, preferencialmente, e/ em livros didáticos, e as que foram formuladas para
ou geral (nesse caso, deve-se especiàcar o que foi o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), pro-
considerado um acerto da turma e no que eles pre- vas de vestibulares e outras. Afinal, ninguém
cisam melhorar). No contexto deste volume, consi- conhece melhor as turmas do que você!
dere se os alunos, com base no tema proposto,
foram capazes de identiàcar palavras centrais e seus Bom trabalho!

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SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM
SI56A¬«0 DE APRENDI;AGEM 1
FIL0S0FIA E CI®NCIA

Nesta Situação de Aprendizagem, a pro- dois campos na Grécia Antiga e as hipÓteses


posta é pensar a Filosofia em comparação para o distanciamento ocorrido entre eles
com a Ciência. Nesse processo, mais impor- ao longo da histÓria principalmente
tante que traçar fronteiras demasiadamente tomando-se por base a concepção de Ciên-
explícitas é pensar uma origem comum aos cia moderna.

Conteúdos e temas: Filosoàa e Ciência aproximaç×es e distanciamentos.

CompetËncias e habilidades: relacionar informaç×es de fontes variadas com conhecimentos de


situaç×es diversas, para construir argumentação consistente; comparar discurso àlosÓàco e discurso
cientíàco; aprofundar a compreensão sobre o que é Filosoàa valendo-se de comparação com o
conceito de Ciência; ler, compreender e interpretar textos teÓricos e àlosÓàcos; expressar-se por
escrito e oralmente de forma sistemática; elaborar hipÓteses e quest×es com base em leituras e
debates realizados.

Sugestão de estratégias: levantamento das opini×es contidas no senso comum sobre a Filosoàa e
os àlÓsofos mediante dinâmicas de grupo, pesquisa de campo e debates; leitura sistemática e
problematizadora de textos e elaboração escrita do prÓprio pensamento.

Sugestão de recursos: textos para leitura; discussão em sala de aula.

Sugestão de avaliação: sugere-se que sejam avaliados o domínio do conteÙdo (conceitos, ideias,
raciocínios etc.) estudado, a capacidade de expressão clara, áuente, coerente, coesa, bem articulada
e consistente (bem fundamentada, buscando-se superar o senso comum) e o envolvimento do aluno
nas atividades propostas. Como instrumentos de avaliação, recomendam-se dissertaç×es individuais,
provas dissertativas e reáexivas, veriàcação das atividades do Caderno do Aluno, participação em
sala, e outros trabalhos que julgue adequados e pertinentes.

Sondagem e sensibilização Para a sondagem inicial, você orientará os


estudantes a realizarem uma comparação entre
No volume anterior, desaàamos os alunos a esses dois tipos de discurso.
comentarem um fato a partir de dois pontos de
vista, o de um àlÓsofo e o de um religioso. 0 Para isso, sugerimos a leitura dos
objetivo era identiàcar semelhanças e diferenças prÓximos dois textos um àlosÓàco,
entre esses dois discursos. de Michel de Montaigne, e outro
tipicamente cientíàco, retirado de um relatÓ-
Neste momento, vamos pensar nas seme- rio sobre violência no Brasil. 0s textos estão
lhanças e diferenças entre o discurso àlosÓàco no Caderno do Aluno, na seção Leitura e
e o discurso cientíàco. análise de texto.

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Filosofia – 3a série – Volume 2

De como àlosoGar é aprender a morrer


Para Cícero, filosofar não é outra coisa que preparar-se para a morte. Talvez porque o estudo e a
contemplação tiram a alma para fora de nÓs, separam nossa alma do corpo, o que, em suma, se
assemelha à morte e constitui como que um aprendizado em vista dela. 0u então é porque de toda
sabedoria e inteligência resulta, finalmente, que aprendemos a não ter receio da morte. Em verdade,
ou nossa razão falha ou seu objetivo Ùnico deve ser a nossa prÓpria satisfação, e seu trabalho tender
para que vivamos bem, e com alegria, como recomenda a Sagrada Escritura.
[...] Não sabemos onde a morte nos aguarda, e por isto a esperamos em toda parte. Refletir sobre
a morte é refletir sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir; nenhum mal
atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é um mal; saber morrer nos
libera de toda sujeição e constrangimento.
M0NTAIGNE, Michel de. Les Essais. Livre I. Chapitre 9I9. p. 33 e 3. Disponível em francês em
http//XXX.dominiopublico.gov.br/pesquisa/Detalhe0braForm.do select@actionco@obra3384.
Acesso em 19 dez. 2013. Tradução Luiza Christov.

Dados da mortalidade juvenil no Brasil


[...] a taxa total de mortalidade da população brasileira caiu de 31 por 100mil habitantes em 1980,
para 08 em 2011, fato bem evidente na melhoria da esperança de vida da população. Esse é um dos
indicadores cuja progressiva melhora possibilitou significativos avanços no Índice de Desenvolvimento
)umano dos Ùltimos anos. Apesar dos ganhos globais, a taxa de mortalidade juvenil manteve-se
praticamente estagnada ao longo do período, ainda com um leve aumento, passando de 127 em 1980
para 13 por 100 mil jovens em 2011. Tal diferencial nos ritmos de evolução da mortalidade já está a
indicar a existência de processos diversos. As características da mortalidade juvenil não permaneceram
congeladas ao longo do tempo, mudaram radicalmente sua configuração a partir do que poderíamos
denominar de “novos padrões da mortalidade juvenil”.
Estudos histÓricos realizados em São Paulo e Rio de +aneiro (Vermelho e Mello +orge1) mostram
que as epidemias e doenças infecciosas, que eram as principais causas de morte entre os jovens cinco
ou seis décadas atrás, foram sendo progressivamente substituídas pelas denominadas causas externas,
principalmente, acidentes de trânsito e homicídios. [...]
Em 1980 as causas externas já eram responsáveis por pouco mais da metade – 52,9% – do total de mortes
dos jovens do país. +á em 2011, dos 4.920 Óbitos juvenis registrados pelo SIM [Subsistema de Informação
sobre Mortalidade], 34.33 tiveram sua origem nas causas externas, fazendo esse percentual elevar-se de
forma drástica em 2011 quase 3/4 de nossos jovens – 73,2% – morreram por causas externas.
[...] o maior responsável por essa mortalidade são os homicídios a ceifar a vida de nossa juventude,
apesar das quedas observadas entre os anos 2004 e 2007 resultantes do impacto das estratégias de
desarmamento da época e de políticas pontuais de enfrentamento da violência em algumas Unidades
da Federação, notadamente São Paulo e, em segundo lugar, Rio de +aneiro.
1
VERMEL)0, Letícia L.; MELL0 +0RGE, Maria ). P. Mortalidade de jovens análise do período de 1930 a 1991 (a transição
epidemiolÓgica para a violência). Revista de Saúde Pública. São Paulo, vol. 30, n. 4, 199. Apud MELL0 +0RGE, Maria ). P.
Como morrem nossos jovens. In CNPD. Jovens acontecendo na trilha das políticas públicas. Brasília, 1998.

8AISELFIS;, +ulio +. Mapa da Violência 2013 – )omicídios e juventude no Brasil. Rio de +aneiro CEBELA, 2013.
Disponível em http//XXX.cebela.org.br/site/common/pdf/Mapa@2013@+ovens.pdf. Acesso em 15 jan. 2014.

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0s alunos podem realizar a leitura e a com- Registradas as hipÓteses, você, professor,
paração desses pequenos fragmentos em duplas poderá fazer uma síntese, destacando os
ou grupos. ApÓs a leitura do texto, peça que aspectos comuns e as distinç×es apresentadas
respondam às quest×es a seguir e registrem as pelos alunos.
respostas no espaço destinado à atividade, no
Caderno do Aluno. Feita a sondagem inicial, partimos para
outra leitura importante, porque contextua-
1. 0s dois textos trazem opinião de seus autores liza e oferece elementos para a reáexão sobre
o tema desta Situação de Aprendizagem.
2. Como se apresentam as informaç×es em cada
um dos textos Solicite aos alunos que leiam com
atenção o texto a seguir, reproduzido
3. Quais diferenças entre os dois textos chamam no Caderno do Aluno, na seção Lei-
mais a atenção tura e análise de texto.

'ilosoàa e CiËncia: uma origem comum e um destino de separação


No momento de origem da Filosofia, na Antiguidade Grega, não havia distinç×es entre Filosofia e
Ciência. Filosofia era considerada o conjunto de todos os conhecimentos físicos e metafísicos. A leitura
dos textos de AristÓteles, por exemplo, revela que esse autor escreveu tanto sobre a alma como sobre a
natureza, sem diferenciar os campos de conhecimento científico e filosÓfico, como fazemos atualmente.
0 saber filosÓfico contemplava uma enorme diversidade de conhecimentos, uma vez que os primeiros
filÓsofos refletiam sobre quest×es relativas a campos que hoje são identificados como Matemática, Bio-
logia, Física, LÓgica, MÙsica, Teatro, Astronomia, Política e ­tica.
0 mundo a ser compreendido abarcava quest×es em torno de dois grandes temas a natureza e o
homem. E, como não havia acÙmulo de conhecimentos associados a nenhum dos dois temas, a Filo-
sofia foi se constituindo como um campo amplo de perguntas e respostas sobre o mundo natural e o
mundo humano.
Essa abordagem ampla da Filosofia preservou-se até o período medieval, quando a Teologia se cons-
tituiu como campo dos estudos sobre Deus e sobre a fé.
A partir do Renascimento e durante a Idade Moderna, a Física, a Matemática, a Química e a Biologia
foram conquistando autonomia em relação à Filosofia e delimitando campos específicos de investigação
de seus objetos, em um processo que se estendeu por séculos.
Isaac NeXton e René Descartes são autores cuja obra registra aspectos que sugerem uma transição
na qual a Filosofia se separa da Ciência. 0 livro em que NeXton apresentou as leis da mecânica chama-se
Princípios matemáticos de filosofia natural. 0 livro de Descartes, que se chama Princípios de Filosofia, está
dividido em quatro partes, denominadas Dos princípios do conhecimento humano, Dos princípios das coisas
materiais, Do mundo visível e A Terra.
A formulação do método científico foi fundamental para a separação entre Filosofia e Ciência. Esse
processo teve início no Renascimento, entre os séculos XIV e XVI, e se consolidou entre os séculos XVII
e XIX. Tal formulação entende que os conhecimentos sobre a natureza devem ser passíveis de obser-
vação e experimentação para que seja possível verificar hipÓteses. 0 prÓprio conceito de Ciência ganha
essa forte significação de conhecimentos que podem ser observados e experimentados para serem
comprovados ou negados.

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Filosofia – 3a série – Volume 2

0utra ideia formulada no interior da Ciência sobretudo a partir do século XIX, serve para
especificá-la diante da Filosofia a neutralidade do cientista em relação ao objeto de conhecimento.
Segundo esta concepção, de que é preciso ser neutro diante do objeto investigado, o cientista não
deveria interpretar e decidir quais dados selecionar entre aqueles que vai encontrando no processo
de pesquisa científica. Essa concepção contemplava a visão de que os dados deveriam falar por si
prÓprios, sendo o papel do cientista evidenciá-los.
Muitas vezes, diante dessa perspectiva, considera-se que de modo geral, os filÓsofos posicionam-se
a partir da sua visão de mundo, a qual condiciona sua interpretação, o que contrastaria com a neu-
tralidade da Ciência. Filosofia e Ciência deveriam, assim, construir caminhos separados para o
conhecimento.
Coube à Filosofia orientar sua finalidade para questionar métodos sobre o processo de conheci-
mento como um todo e a reflexão sobre o sentido e o valor da vida e do mundo, com destaque especial
para as quest×es que cercam a existência humana. A Filosofia passou a se dedicar a temas relativos
à produção do conhecimento, como a teoria do conhecimento; a temas relativos à linguagem, com
destaque para a lÓgica; e a temas associados aos fundamentos da arte e da sensibilidade, prÓprios do
campo da estética; e a temas ligados aos valores humanos e à convivência, como a ética.
Em síntese, pode-se dizer que Filosofia e Ciência nasceram juntas como um conjunto de conheci-
mentos sobre a natureza e a sociedade humana e separaram-se gradualmente ao longo de pelo menos
seis séculos. Contribuiu para essa separação e para delimitar os discursos filosÓficos e científicos uma
determinada visão de Ciência, baseada na observação, na experimentação, na comprovação de hipÓteses
e em uma suposta neutralidade. Além disso, os saberes foram se especializando, e foram sendo criadas
as disciplinas tal como as conhecemos atualmente.
Porém, nos séculos XIX e XX, uma nova visão de Ciência foi formulada, com base na ideia de que
nem sempre são possíveis comprovaç×es ou experimentaç×es e de que é impossível a neutralidade do
cientista, uma vez que ele necessariamente interpreta, seleciona e se posiciona de forma interessada
diante dos dados que analisa.
Pode-se destacar algumas aproximaç×es entre discurso filosÓfico e discurso científico, como
f ambas as modalidades de investigação são inspiradas pela curiosidade e por um conjunto de per-
guntas sobre a realidade;
f filÓsofos e cientistas fazem um esforço para esclarecer as suas ideias;
f ambos constroem uma argumentação que permita a comunicação dos saberes formulados,
investigados;
f ambos usam metáforas para oferecer imagens mais prÓximas a saberes já conhecidos, no esforço
para comunicar novos conhecimentos.
Como diferenças entre esses discursos, pode-se destacar
f a Filosofia utiliza diversos gêneros textuais para expressar suas ideias cartas, poemas, diálogos,
ensaios etc. A Ciência não faz uso de tantos gêneros textuais, e seu gênero é o relatÓrio de pes-
quisa e o artigo científico;
f a Filosofia questiona métodos e finalidades da Ciência. A Ciência utiliza instrumentos para
construir dados, enquanto a Filosofia não está associada ao uso de instrumentos;
f os termos usados pela Ciência costumam ser definidos de forma que o seu significado possa ser
generalizado. Em Filosofia, um termo ou expressão pode ter diferentes significados, a depender

13
do contexto e argumentação feita por cada autor. Exemplo a palavra “átomo”, em Química, e
a palavra “sujeito”, em Filosofia. ­ comum usarmos as express×es “Marx entende o sujeito
como...”; “Para Foucault, o significado da palavra sujeito é...”; “Em Deleuze, o sujeito é...”; ou
“Descartes afirmava que o sujeito constitui-se em...”.
Além dessa reflexão sobre a diferença entre os textos filosÓficos e científicos, a experiência de
leitura desses dois tipos de discurso contribuirá para o reconhecimento não apenas das marcas
prÓprias de cada um, mas, sobretudo, de sua importância para a formação do cidadão.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

ApÓs a leitura, as quest×es a seguir, que 1. Quais são as diferenças que você aponta
também se encontram no Caderno do Aluno, entre a ciência que leciona/desenvolve e a
podem orientar a discussão do texto, come- Filosoàa
çando por pequenos grupos e, depois, envol-
vendo toda a classe 2. Existe alguma colaboração entre essa ciên-
cia e a Filosoàa
1. Considerando a leitura dos textos De como
àlosofar é aprender a morrer, Dados da 3. Existem mitos na Ciência Se a resposta
mortalidade juvenil no Brasil e Filosoàa e for aàrmativa, indique exemplos.
Ciência: uma origem comum e um destino
de separação, o que se pode aàrmar sobre a 4. Você poderia citar exemplos de momentos
diferença entre Filosoàa e Ciência em que a Ciência promove a humaniza-
ção e momentos em que ela atua contra a
2. 0s procedimentos para elaborar um texto humanização
àlosÓàco e um texto cientíàco são os mes-
mos +ustiàque sua resposta. Com as informaç×es obtidas na entrevista,
o grupo deverá organizá-las e estudá-las para
ApÓs a apresentação de cada um dos gru- que a atividade seja ànalizada com um debate
pos, é interessante que você, professor, faça sobre os limites e as possibilidades da Ciência
uma síntese que recupere as ideias centrais do no processo de humanização.
texto Filosoàa e Ciência: uma origem comum e
um destino de separação. Lembre-se de que o Avaliação da Situação de
importante dessa comparação é a oportuni- Aprendizagem
dade de aprofundar a compreensão sobre o que
é Filosoàa. Para finalizar esta Situação de
Aprendizagem, você poderá aplicar
Conforme proposto no Caderno do uma avaliação. Sugerimos as seguin-
Aluno, na seção Lição de casa, tes quest×es, que também se encontram no
peça aos estudantes que formem Caderno do Aluno, na seção Você aprendeu .
grupos para a realização de entrevistas. Essa
entrevista deverá ser feita com um professor ou 1. Comente o tratamento dispensado ao tema
outro proàssional da área de Ciências da Natu- “morte” no texto de Montaigne e no texto
reza (Biologia, Química e Física), na qual os de +ulio +acobo 8aiselàsz, apresentados
alunos perguntarão anteriormente.

14
Filosofia – 3a série – Volume 2

Montaigne pensava a morte valendo-se da própria expe- Recursos para ampliar a perspectiva
riência, sem referências a dados gerais sobre mortalidade do proGessor e do aluno para a
em seu tempo e em seu país. O texto de Julio Jacobo compreensão do tema
Waiselfisz apresenta dados gerais sobre a mortalidade,
a partir de estudos de grandes contingentes populacio- Livro
nais. A reflexão de Montaigne é subjetiva e o relatório
científico procura apresentar dados baseados em infor- M0RIN, Edgar. A religação dos saberes o desa-
mações objetivas. ào do século XXI. 9. ed. Tradução e notas Flá-
via Nascimento. Rio de +aneiro Bertrand Brasil,
2. Como se pode deànir a Filosoàa, se com- 2010. Livro importante para compreender as
parada com o discurso cientíàco transformaç×es em torno do conhecimento
Por esta comparação, a Filosofia é um discurso que pensa cientíàco e àlosÓàco, especialmente no que diz
a realidade a partir de hipóteses e da coerência ou lógica respeito à necessidade atual de um conheci-
interna aos próprios argumentos, sem necessariamente mento comprometido com preservação ambien-
referir-se a informações baseadas em levantamentos tal e com a construção de uma sociedade
empíricos, ou seja, na experiência de grande número de solidária, capaz de superar a exclusão não ape-
pessoas. É preciso cuidado com esta comparação, pois, nas de certos grupos sociais, mas de continentes
no discurso científico, também há hipóteses e coerência inteiros, como é o caso da África.
lógica e, na Filosofia, também há referência à experiên-
cia. Por isso, é difícil encontrar palavras para distinguir Site
com precisão os dois discursos. Os alunos poderão fazer
essa distinção por hipóteses e aproximações e, com a sua M0LINA, +orge A. A leitura dos textos àlosÓ-
ajuda, também perceber fronteiras entre um discurso e ficos. Disponível em http//XXX.unisc.br/
o outro. portal/images/stories/mestrado/letras/colo
quios/ii/leitura@textos@àlosoàcos.pdf. Acesso
em 19 dez. 2013. Trata-se de um texto em lin-
Proposta de situação de recuperação guagem clara, que aborda com profundidade a
comparação da Filosoàa com outros discursos,
Caso alguns alunos não apresentem desem- chamando a atenção do leitor para os desaàos
penho satisfatÓrio durante os trabalhos desta da leitura de um texto àlosÓàco. (Sugestão tam-
Situação de Aprendizagem, você poderá pro- bém presente no Caderno do Aluno.)
por que retomem a leitura do texto Filosoàa
e Ciência: uma origem comum e um destino de Slides
separação. Solicite-lhes que, apÓs a leitura,
respondam, em folha avulsa F0NSECA, Andre A. Como estudar um texto
cientíàco ou àlosÓàco. Disponível em http//
1. Quais são as indicaç×es de que a Filosoàa pt.slideshare.net/andreaugfonseca/como-
e a Ciência tiveram uma origem comum estudar-um-texto-cientàco-ou-àlosàco. Acesso
em 15 jan. 2014. Trata-se de uma pequena apre-
2. Quais são as informaç×es oferecidas no sentação de slides que orienta a leitura e o enten-
texto que justiàcam a separação entre Filo- dimento de textos científicos e filosÓficos.
soàa e Ciência Baseado no livro Metodologia do trabalho cien-
tíàco, de Antonio +oaquim Severino (São Paulo
3. Como se pode deànir Filosoàa Cortez, 2008). (Sugestão também presente no
Caderno do Aluno.)

15
SITUA¬«0 DE APRENDI;AGEM 2
0 LIBERTARISM0
Nesta Situação de Aprendizagem, será Segundo essa corrente, ser livre é agir volun-
abordado o tema da liberdade sob o enfoque tariamente, sendo a vontade determinada
do libertarismo. exclusivamente pelo prÓprio agente. Para ana-
lisar essa concepção, veremos, brevemente, a
0 libertarismo concebe a liberdade como posição de AristÓteles e a tese do livre-arbítrio
autodeterminação ou autocausalidade. tal como formulada por Santo Agostinho.

Conteúdos e temas: introdução ao conceito de liberdade; a liberdade segundo o libertarismo; o


livre-arbítrio.

CompetËncias e habilidades: relacionar informaç×es de fontes variadas com conhecimentos de


situaç×es diversas, para construir argumentação consistente; problematizar a questão da liberdade
e sensibilizar-se quanto à relevância de reáetir de forma sistemática e rigorosa sobre ela; identiàcar
as contribuiç×es e os limites das concepç×es de liberdade abordadas e posicionar-se criticamente
em relação a elas; conhecer e dominar aspectos das concepç×es de liberdade; ler, compreender e
interpretar textos teÓricos e àlosÓàcos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemática;
elaborar hipÓteses e quest×es com base em leituras e debates realizados.

Sugestão de estratégias: levantamento das representaç×es dos alunos sobre o problema da liberdade;
discussão em grupo sobre as quest×es levantadas nas aulas; leitura sistemática e problematizadora
de textos e elaboração escrita do prÓprio pensamento; pesquisa bibliográàca complementar.

Sugestão de recursos: discussão em sala de aula; bibliograàa complementar; àlmes.

Sugestão de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o domínio pelos alunos do conteÙdo
(conceitos, ideias, raciocínios etc.) estudado, a capacidade de expressão clara, áuente, coerente,
coesa, bem articulada e consistente (bem fundamentada, buscando superar o senso comum), e
o envolvimento do aluno nas atividades propostas. Como instrumentos de avaliação, recomendam-
-se dissertaç×es individuais, provas dissertativas e reáexivas, veriàcação das atividades do Caderno
do Aluno, participação em sala e outros trabalhos que o professor julgar adequados e
pertinentes.

Sondagem e sensibilização 2. ­ possível ser livre na sociedade em que


vivemos Por quê
Para esta sondagem, peça aos alunos que
formem grupos. Isso favorecerá a discussão 3. Você se considera uma pessoa livre
compartilhada desta atividade, pautada nas +ustifique.
seguintes perguntas, que também se encontram
no Caderno do Aluno Um aspecto importante é fundamental que
os alunos sintam-se à vontade para falar o que
1. 0 que é liberdade para você Dê uma pensam. Isso é particularmente significativo
definição. neste momento em que a classe estará discu-

1
Filosofia – 3a série – Volume 2

tindo o tema da liberdade, pois pode-se fazer Ainda como estratégia de sensibili-
das prÓprias experiências vivenciadas em sala zação inicial em torno do tema,
de aula o objeto de sua reáexão. Evidentemente, propomos um texto introdutÓrio,
você tem autonomia para substituir ou acres- reproduzido a seguir e no Caderno do Aluno,
centar quest×es conforme julgar conveniente. na seção Leitura e análise de texto.

Liberdade – Introdução
A liberdade é, sem dÙvida, um dos valores mais defendidos no mundo atual. Ela é considerada um
direito inalienável na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão e na Constituição da
maioria das naç×es. No caso do Brasil, esse direito é garantido pelo artigo 5o da Constituição
Federal.
Mas será que todos entendemos a liberdade da mesma forma Em nome desse valor moral tão
decantado já não se cometeram horríveis atrocidades Será que ela se aplica da mesma maneira a todas
as pessoas e classes sociais Por exemplo, a Constituição brasileira diz, no artigo 5o, inciso XIII, que
“é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificaç×es profissionais
que a lei estabelecer”. Na prática, porém, todos podem escolher com liberdade a profissão que exercem
ou vão exercer 0 inciso XV do mesmo artigo diz que “é livre a locomoção no territÓrio nacional”.
Mas todos têm iguais condiç×es para decidir por exemplo, quando, como e para onde desejam ir nas
férias ou nos feriados prolongados Será que a liberdade proclamada no plano formal (na lei, por
exemplo) está sendo assegurada na prática
Do ponto de vista estritamente filosÓfico, podemos perguntar 0 homem é livre para agir segundo
sua vontade ou está sujeito a alguma espécie de lei ou mecanismo que determina a forma como ele se
comporta Em outras palavras, as coisas acontecem de determinada forma porque têm necessariamente
que acontecer assim, ou somos nÓs quem as fazemos conforme bem entendemos 0u será que, na
verdade, tudo acontece por acaso Existe um destino previamente traçado e do qual não conseguimos
escapar, ou somos nÓs os autores e sujeitos do nosso destino, da nossa histÓria Enfim, é possível ao
homem exercer a liberdade Em que medida
Vemos que o problema não é simples. Nas prÓximas duas Situaç×es de Aprendizagem, vamos tratar
do tema da liberdade. Na realidade, já o abordamos brevemente no volume anterior, quando estudamos
a desigualdade vista por +ean-+acques Rousseau, no texto O contrato social e a igualdade formal, em
que ele procurou conciliar obediência às leis com o exercício da liberdade. Segundo Rousseau, pelo
contrato social, cada membro da sociedade decide voluntariamente alienar-se de seus direitos parti-
culares em favor da comunidade. Como essa alienação é praticada por todos, e como as leis às quais
cada um deve obedecer são fruto da vontade geral, na prática, cada cidadão obedece às leis que
prescreveu para si mesmo, preservando, assim, sua liberdade. Desse modo, Rousseau estabeleceu uma
distinção entre liberdade natural (fazer tudo o que se deseja e que seja possível) e liberdade civil ou
liberdade moral (limitada pela vontade geral). Esta, para ele, é “a Ùnica capaz de tornar o homem
verdadeiramente senhor de si mesmo, pois o impulso do simples apetite é escravidão e a obediência à
lei que nÓs mesmos nos impomos é liberdade”1.

1
R0USSEAU, +ean-+acques. Do contrato social. Disponível em http//XXX.dominiopublico.gov.br/pesquisa/Detalhe0braForm.
do select@actionco@obra12924. Acesso em 19 dez. 2013. Tradução Rita de Luca.

17
Nesta e nas prÓximas Situaç×es de Aprendizagem, vamos ampliar um pouco o estudo desse assunto,
examinando brevemente três posiç×es filosÓficas. São elas o libertarismo ou a concepção da liberdade
como autodeterminação ou autocausalidade; o determinismo; e a dialética. As duas primeiras op×em-se
uma à outra, ao passo que a terceira procura superar o antagonismo entre elas.
Evidentemente, há muitas outras formas de se abordar o tema liberdade, que foi e é objeto de estudo
de inÙmeros autores que refletiram sobre esse tema a partir das mais diversas perspectivas. 0ptamos,
porém, pela abordagem apresentada, por entendermos que ela favorece uma visão panorâmica, sistemática
e crítica acerca da liberdade, sobretudo considerando a forma como ela se apresenta nos dias de hoje.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

ApÓs a leitura, seria interessante abrir Se não for possível para os alunos assistir
espaço para que os alunos possam se posicio- a esse filme, eles poderão descrever e discu-
nar sobre os questionamentos levantados pelo tir uma situação que envolva o tema liber-
texto, de acordo com proposta do Caderno do dade em um outro filme que já tenham
Aluno. Cabe, porém, a você avaliar a pertinên- assistido.
cia dessa atividade.
A ideia é que ocorra um breve
Para ampliar a reflexão e trazer o debate sobre as impress×es dos
tema da liberdade para situaç×es alunos em relação ao filme e sobre
histÓricas bastante concretas, sugeri- as respostas que deram à pergunta nortea-
mos para a prÓxima etapa a proposta de Pesquisa dora. Avalie, porém, a necessidade e a rele-
individual do Caderno do Aluno. De acordo com vância de fazê-lo. Na aula seguinte, então,
essa proposta, os alunos deverão assistir ao àlme você pode iniciar com a conversa sobre o
Milk – A voz da igualdade, (direção de Gus Van filme. Além disso, propomos a reflexão
Sant, 2008), que mostra a histÓria de um cidadão sobre o significado do Ato Institucional n o 5
estadunidense que acabou se tornando uma e sua relação com a questão da liberdade. 0
importante liderança política na defesa da liber- texto proposto como subsídio para esta ati-
dade para os homossexuais. Em seguida, é apre- vidade é transcrito a seguir e está disponível
sentada uma pergunta-guia para reflexão, na seção Leitura e análise de texto do
também presente no Caderno do Aluno. Caderno do Aluno. Apesar disso, certa-
mente, você pode se valer de outras fontes,
f Você concorda com a causa defendida por mais ricas e completas, se considerar neces-
Milk – A voz da igualdade +ustiàque. sário ou pertinente.

Ato Institucional no 5, de 13 de dezembro de 1968


O Ato Institucional no 5, conhecido como AI-5, um dos instrumentos jurídicos usados pela Ditadura
Militar instalada no Brasil em 194, tinha como uma de suas justificativas assegurar a “autËntica ordem
democrática, baseada na liberdade” e “no respeito à dignidade da pessoa humana”. Apesar disso, instituía
medidas de exceção, como a concessão de amplos poderes ao presidente da RepÙblica, que podia,
entre outras medidas “decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e
das Câmaras de Vereadores”, “legislar em todas as matérias”, “decretar a intervenção nos Estados e
Municípios, sem as limitaç×es previstas na Constituição”, “suspender os direitos políticos de quaisquer
cidadãos pelo prazo de dez anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais”, suspender

18
Filosofia – 3a série – Volume 2

o “direito de votar e de ser votado nas eleiç×es sindicais”, proibir “atividades ou manifestação sobre
assunto de natureza política”; impor a “liberdade vigiada”, proibir de “frequentar determinados
lugares”, “demitir, remover, aposentar ou pôr em disponibilidade” empregados de “autarquias, empre-
sas pÙblicas ou sociedades de economia mista”, além de “demitir, transferir para a reserva ou reformar
militares ou membros das polícias militares”, “decretar o estado de sítio” e suspender “a garantia de
habeas corpus”. Assim, em nome da liberdade, da democracia e da dignidade humana, o AI-5 passava
por cima da Constituição, lei maior que justamente deveria salvaguardar esses princípios.
Fonte de dados BRASIL. Ato Institucional no 5, de 13 de dezembro de 1968. Disponível em
http//XXX.planalto.gov.br/ccivil@03/AIT/ait-05-8.htm. Acesso em 19 dez. 2013.

A pergunta sugerida para nortear essa 1. Qual a diferença entre uma ação voluntária
reáexão, e que também está no Caderno do e uma ação involuntária ApÓs responder,
Aluno, é a seguinte escreva exemplos no quadro. (0s exemplos
de aç×es voluntárias e involuntárias deve-
f A liberdade e a democracia são compatíveis rão ser anotados em um quadro existente
com medidas como as previstas no AI-5 no Caderno do Aluno.)
+ustiàque a sua resposta.
2. Você é capaz de imaginar um tipo de ação
A atividade seguinte abre a discussão que seja uma espécie de mistura entre
sobre a primeira concepção da liberdade que voluntária e involuntária Como ela seria
será estudada o libertarismo. 0 autor de Dê exemplos.
referência é AristÓteles, já estudado pelos
alunos. Mas é sempre interessante motivá- Pretendemos, aqui, levantar o senso
-los a conhecer o pensamento de AristÓteles, comum dos alunos a respeito desses
particularmente no que se refere ao tema da conceitos para que, posteriormente à
liberdade. Solicite que, apÓs a leitura do leitura do texto, confrontem sua posição com
texto que segue, os alunos discutam em gru- a do autor estudado. A seguir, o texto proposto
pos e respondam, no Caderno do Aluno, a no Caderno do Aluno, na seção Leitura e aná-
duas perguntas lise de texto.

Liberdade segundo Aristóteles


A posição do libertarismo é aquela que entende a liberdade como a possibilidade do indivíduo
de decidir e agir conforme sua prÓpria vontade. Ser livre é, pois, o mesmo que agir voluntariamente,
sendo esta vontade determinada exclusivamente pelo prÓprio agente. 0u seja, diante de uma situação
qualquer, posso agir de uma maneira ou de outra, dependendo apenas da minha decisão. Daí essa
concepção também ser denominada de perspectiva da autodeterminação, pois o prÓprio sujeito que
age é a causa de sua ação, sem que sofra qualquer constrangimento de fatores externos a ele. Esta é,
também, ao que parece, a posição que mais se aproxima da concepção de liberdade característica do
senso comum.
Um dos primeiros a formular essa noção de liberdade foi AristÓteles (384-322 a.C.), em sua obra
Ética a Nicômaco, mais precisamente no Livro III. Ele inicia distinguindo o voluntário do involun-
tário “Aquelas coisas que ocorrem sob compulsão ou por ignorância são, pois, consideradas invo-
luntárias; e é compulsÓrio aquilo cujo princípio motor se encontra fora de nÓs e para o qual em nada

19
contribui a pessoa que age e que sente a paixão – por exemplo, se essa pessoa fosse levada a alguma
parte pelo vento ou por homens que a tivessem em seu poder”1.
Portanto, “o voluntário parece ser aquilo cujo princípio motor se encontra no prÓprio agente,
estando ele ciente das circunstâncias particulares do ato”2.
Mas há, também, para AristÓteles, certas aç×es que parecem misturar o caráter voluntário e invo-
luntário. Por exemplo, “se um tirano ordenasse a alguém que cometesse um ato vil e esse alguém, tendo
seus pais e filhos em poder daquele, praticasse o ato para salvá-los da morte”; ou “quando se lançam
cargas ao mar durante uma tempestade”3 em nome da segurança da embarcação. Embora seja discutível
o caráter voluntário ou involuntário de atos desse tipo, eles se assemelham mais a atos voluntários, visto
que, em condiç×es normais, não teriam sido realizados. Resultam, portanto, de uma escolha que se dá
em função das circunstâncias do momento. “Aç×es desse tipo são, por conseguinte, voluntárias, mas
em abstrato talvez involuntárias, pois ninguém as escolheria por si mesmas”4, isto é, pelo que elas
prÓprias representam.
Mas, como vimos, o involuntário é também aquilo que se faz por ignorância. E existe uma diferença
entre agir por ignorância e agir na ignorância. No primeiro caso, age-se por causa da ignorância, isto
é, a ignorância é a causa da ação. Se soubesse o que fazia, a pessoa não agiria de tal maneira. Por
exemplo, quando uma criança brincando com um revÓlver o dispara acidentalmente, ferindo uma
pessoa, ou quando alguém tem uma reação alérgica a um medicamento cujos efeitos colaterais des-
conhecia. No segundo caso, a ignorância não é propriamente a causa da ação, mas, ao contrário,
consequência de uma outra causa (a embriaguez, a fÙria etc.), que leva a pessoa a ignorar momenta-
neamente o que faz. Por exemplo, quando um homem embriagado atravessa uma avenida movimen-
tada pondo em risco sua vida e a de outras pessoas.
ApÓs esclarecer o sentido de voluntário e involuntário, AristÓteles passa a discutir o conceito de
escolha. Em primeiro lugar, “a escolha envolve um princípio racional e uma ideia”5. Por isso, ela é
prÓpria dos seres humanos. 0s animais não são capazes de escolher, como vimos no exemplo dado
por Rousseau (no volume anterior, no texto O homem no estado de natureza) um gato faminto morre
de fome diante de uma porção de frutas. Não lhe é possível decidir comê-las ou não. Apenas obedece
aos condicionamentos que a natureza lhe impôs. 0 homem, ao contrário, dotado da capacidade de
escolha, pode se alimentar do que não gosta e até de alimentos que lhe são prejudiciais à saÙde.
Escolher envolve sempre deliberação, decisão. Deliberar, por sua vez, requer investigação e análise.
Mas nem tudo é passível de deliberação. Sobre certas coisas, não temos nenhum poder de decidir. Por
exemplo o fato de a diagonal e os lados de um quadrado terem medidas diferentes, os solstícios, o
nascimento e a morte das estrelas, as secas e as chuvas, os acontecimentos fortuitos (como um tesouro
que se encontra por acaso, ou um pneu que fura na estrada). Mesmo entre os atos humanos há muitos
sobre os quais não podemos deliberar. Um brasileiro não pode decidir sobre as leis da Argentina. Em
suma, nenhuma dessas coisas pode ocorrer por nossa iniciativa.
Sobre o que, então, podemos escolher e deliberar Apenas “sobre coisas que estão ao nosso alcance
e podem ser feitas”. 0u seja, deliberamos sobre coisas possíveis, as quais são assim definidas por

1
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Disponível em http//XXX.dominiopublico.gov.br/doXnload/texto/mc000011.pdf.
Acesso em 19 dez. 2013. Tradução do inglês Eloisa Pires.
2
Ibidem.
3
Ibidem.
4
Ibidem.
5
Ibidem.

Ibidem.

20
Filosofia – 3a série – Volume 2

AristÓteles “Por coisas Apossíveis entendo aquelas que se podem realizar pelos nossos prÓprios esfor-
ços”7. Por exemplo um médico pode deliberar sobre os meios de conduzir o tratamento; um comer-
ciante, sobre as formas de negociar seus produtos; um professor, sobre os procedimentos didáticos
mais adequados; e assim por diante. Assim, diz AristÓteles, “toda classe de homens delibera sobre
coisas que podem ser feitas por seus prÓprios esforços”8.
0ra, se a escolha sup×e deliberação e sÓ podemos deliberar sobre coisas possíveis (que estão a
nosso alcance), então sÓ podemos escolher coisas possíveis. “A escolha não pode visar a coisas impos-
síveis, e se alguém declarasse que as escolheu passaria por tolo”9.
Temos, então, uma definição de escolha
“Sendo o objeto de escolha algo que está ao nosso alcance e que é desejado apÓs deliberação, a
escolha será um desejo deliberado de coisas que estão ao nosso alcance; pois, quando decidimos como
resultado de uma deliberação, desejamos de acordo com o que deliberamos.”10
Concluindo, podemos tentar agora definir a liberdade com base no que vimos do pensamento de
AristÓteles. Liberdade seria, então, agir voluntariamente (isto é, tendo no prÓprio agente o princípio
motor da ação e sem qualquer interferência externa a ele), podendo escolher entre coisas possíveis
mediante um processo de deliberação.
0 problema dessa concepção de liberdade é que ela exclui por completo qualquer determinação
exterior ao sujeito, entendendo que, se nossas escolhas resultassem de causas externas a nÓs ou de leis
necessárias, ou mesmo do acaso, não dependeriam de nossa deliberação e, consequentemente, não
seriam livres. A liberdade seria, pois, impossível. Mas será que nossas escolhas podem ser isoladas das
circunstâncias em que as fazemos e que, muitas vezes, independem de nossa vontade Por exemplo o
médico pode escolher o melhor tratamento para um paciente que não pode pagar por esse tratamento,
ou se o hospital de sua cidade não possui os devidos recursos 0 pequeno comerciante tem liberdade
para decidir o preço de suas mercadorias, tendo que enfrentar a concorrência dos grandes 0 professor
pode adotar os recursos didáticos que deseja, se a escola não disp×e de bibliotecas, laboratÓrios,
equipamentos, enfim, das condiç×es objetivas adequadas
Se a resposta for negativa, talvez tenhamos de admitir que o libertarismo não responda de forma
plenamente satisfatÓria ao problema da liberdade.

7
Ibidem.
8
Ibidem. ­ importante lembrar que AristÓteles pensava a liberdade no contexto da polis, da política, portanto, de uma pers-
pectiva coletiva, prÓpria da Filosofia do século IV a.C.
9
Ibidem.
10
Ibidem.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

­ importante salientar desse texto a deàni- também de operar com essa deànição. Este é,
ção de libertarismo, os conceitos aristotélicos aliás, um dos objetivos dos dois parágrafos
de voluntário, involuntário, escolha, deliberação ànais do texto, que procuram levantar os pro-
e possível, além da distinção entre agir na igno- blemas e limitaç×es dessa forma de conceber a
rância e agir por ignorância. Espera-se, ao ànal, liberdade. Se julgar pertinente, abra uma dis-
que o aluno se aproprie desses conceitos e seja cussão sobre as quest×es levantadas pelo texto
capaz não apenas de compreender a deànição ou sobre outras trazidas por você ou mesmo
de liberdade formulada a partir deles, mas pelos alunos.

21
Considerando a necessidade de propor- segundo AristÓteles e da leitura do trecho de
cionar aos alunos oportunidade de proble- Pai contra mãe, reproduzido a seguir. Com
matizar a concepção de liberdade pela base nesses elementos, os alunos poderão
vertente do libertarismo, propomos, na seção escrever uma pequena narrativa, poesia ou
Desaào! do Caderno do Aluno, uma ativi- mÙsica que mostre que as circunstâncias
dade de criação a partir da releitura dos dois podem limitar ou impedir o nosso poder de
Ùltimos parágrafos do texto Liberdade deliberação, de escolha.

Pai contra mãe


[...] Quer dizer que as dívidas de Cândido Neves começaram de subir, sem aqueles pagamentos
prontos ou quase prontos dos primeiros tempos. A vida fez-se difícil e dura. [...]
Clara não tinha sequer tempo de remendar a roupa ao marido, tanta era a necessidade de coser
para fora. Tia Mônica ajudava a sobrinha, naturalmente. Quando ele chegava à tarde, via-se-lhe
pela cara que não trazia vintém. +antava e saía outra vez, à cata de algum fugido. [...]
[...]
A natureza ia andando, o feto crescia, até fazer-se pesado à mãe, antes de nascer. Chegou o oitavo
mês, mês de angÙstias e necessidades, menos ainda que o nono, cuja narração dispenso também.
Melhor é dizer somente os seus efeitos. Não podiam ser mais amargos. [...]
[...]
Foi na Ùltima semana do derradeiro mês que a tia Mônica deu ao casal o conselho de levar a
criança que nascesse à Roda dos enjeitados. [...] Candinho arregalou os olhos para a tia, e acabou
dando um murro na mesa de jantar. [...]
Clara interveio.
– Titia não fala por mal, Candinho.
– Por mal replicou tia Mônica. Por mal ou por bem, seja o que for, digo que é o melhor que
vocês podem fazer. Vocês devem tudo; a carne e o feijão vão faltando. Se não aparecer algum
dinheiro, como é que a família há de aumentar E depois, há tempo; mais tarde, quando o senhor
tiver a vida mais segura, os filhos que vierem serão recebidos com o mesmo cuidado que este ou
maior. [...] Pois então a Roda é alguma praia ou monturo Lá não se mata ninguém, ninguém morre
à toa, enquanto que aqui é certo morrer, se viver à míngua.
ASSIS, Machado de. Pai contra mãe. Disponível em http//machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/contos/
macn007.pdf. Acesso em 19 dez. 2013.

Uma nova atividade, neste caso, -arbítrio. Para tanto, recomendamos que, ao
indicada como Lição de casa no assisti-lo, os alunos sejam orientados a se aten-
Caderno do Aluno, é sugerida como tarem às seguintes quest×es
forma de preparação para a etapa seguinte.
Trata-se da indicação de exibição do àlme O 1. Pode-se dizer que ChicÓ e +oão Grilo agiam
auto da compadecida (direção de Guel Arraes, com liberdade quando aplicavam pequenos
2000), que poderá ser usado como referência golpes, aproveitando-se da ingenuidade das
para o questionamento da tese central do livre- pessoas Por quê

22
Filosofia – 3a série – Volume 2

2. ChicÓ e +oão Grilo podem ser moralmente mente levantadas. Avalie, porém, a necessidade,
responsabilizados por esses atos Por quê a pertinência e a forma de fazê-lo.

3. Por que o cangaceiro Severino é o Ùnico 0utra atividade que sugerimos é a dis-
absolvido de imediato no tribunal do +uízo cussão com toda a classe sobre o texto
Final, sendo logo enviado para o céu Você Tabaco e livre-arbítrio, reproduzido a
concorda com essa decisão seguir e também no Caderno do Aluno, na seção
Leitura e análise de texto, que resume algumas
A ideia é, também aqui, explicitar a forte consideraç×es do artigo O fumante e o livre-arbí-
ináuência das circunstâncias da vida nos com- trio um polêmico tema envolvendo a responsabi-
portamentos e nas decis×es humanas. ­ uma lidade civil das indÙstrias do tabaco, de LÙcio
atividade pensada para ser feita em casa, mas Delàno. 0 autor defende a tese de que a decisão
nada impede que você a planeje na prÓpria de começar ou de parar de fumar, ao contrário do
escola, da forma que julgar mais adequada. que muitos pensam e do que aàrma a indÙstria
tabagista, não depende exclusivamente da vontade
Na impossibilidade de os alunos assistirem ao do indivíduo, pois há inÙmeros fatores externos
àlme, eles poderão procurar pela Constituição que o induzem a começar e o impedem de parar.
brasileira e ler o artigo 5 (disponível emhttp// 0 texto de LÙcio Delàno é bem mais longo e rico
XXX.planalto.gov.br/ccivil@03/constituicao/cons- do que o resumo apresentado a seguir e inserido
tituicao.htm. Acesso em 19 dez. 2013), a àm de no Caderno do Aluno e pode ser encontrado na
elaborar uma reflexão sobre as condiç×es de íntegra no site indicado ao ànal do texto. Seria
atendimento à lei em uma sociedade com profun- interessante você ler a versão integral, pois ela traz
das desigualdades sociais. 0 texto produzido dados chocantes e outros subsídios para o debate
pelos alunos poderá abordar, por exemplo, a sobre o tema em questão.
abrangência da liberdade e responder se ela é a
mesma para todos os cidadãos brasileiros em 0 objetivo é colocar os alunos diante de uma
todos os sentidos, inclusive no acesso aos bens de situação concreta que envolve a questão do
atendimento jurídico. livre-arbítrio, mostrando que não se trata de um
assunto de menor importância ou de mera espe-
A Ùltima etapa tratará da questão do livre- culação, mas de algo que diz respeito à sua vida
-arbítrio. Propomos que, inicialmente, seja cotidiana. Considerando-se que pode haver
aberto um breve debate sobre as quest×es nor- fumantes na classe, a discussão talvez venha a
teadoras para o àlme, além de outras eventual- ser acalorada.

Tabaco e livre-arbítrio
Nos Ùltimos anos têm-se avolumado as aç×es judiciais contra a indÙstria tabagista, reclamando
indenizaç×es em consequência dos males à saÙde provocados pelo cigarro. Um dos argumentos mais
empregados por essa indÙstria em sua defesa fundamenta-se na tese do livre-arbítrio do tabagista.
Segundo essa perspectiva, o ato de fumar decorre Ùnica e exclusivamente da vontade livre do indivíduo,
de modo que os eventuais malefícios que tal ato venha a lhe causar são de sua inteira e exclusiva
responsabilidade. Afinal, ninguém é obrigado a começar a fumar. 0s que contestam esse argumento,
por sua vez, entendem que, na verdade, o tabagista é induzido ao vício por inÙmeros fatores externos,
tais como a curiosidade, a necessidade de autoafirmação, o espelhamento nos adultos ou nos ídolos,
e, principalmente, a publicidade, que, em vez de adotar um perfil informativo, cria uma aura falsamente
positiva em torno do tabaco e oculta intencionalmente os seus efeitos nocivos.

23
Documentos revelados em 1994, nos Estados Unidos da América, demonstraram que nos anos
190 a indÙstria do tabaco já havia provado em pesquisas que o alcatrão presente no cigarro causava
câncer em animais, que a nicotina provocava dependência e que o nível dessa substância era calculado
para manter o tabagista viciado. Sabe-se, também, que “188 (cento e oitenta e oito) atores e diretores
cinematográficos receberam pagamento das empresas do fumo, entre os anos de 1978 a 1988, para
que imagens de cigarro fossem divulgadas nas telas de cinemas”. ­ evidente que toda essa estratégia
de marketing induz a subestimar os perigos do cigarro, prejudicando o discernimento do indivíduo.
Assim, pode-se dizer que, na realidade, “não há – ao menos na maior parte dos casos – livre-arbítrio
ao se iniciar a prática do tabagismo”. Aliás, como dizia Alberto Magno, o homem livre é aquele que “é
causa de si e que não é coagido pelo poder de outro”. 0ra, em relação ao tabaco, não é o que ocorre.
“Frente ao cigarro, o homem não é causa de si, coagido que foi e é pelo influente poder econômico da
indÙstria do tabaco, que, além de seduzi-lo a experimentar um produto mortífero, acaba por transfor-
má-lo num doente crônico, instalando em seu organismo uma dependência que, no mais das vezes, o
impede de abdicar do tabagismo pelo simples exercício de sua vontade”.
Adaptado de DELFIN0, LÙcio. O fumante e o livre-arbítrio um polêmico tema envolvendo a responsabilidade civil das
indÙstrias do tabaco. Disponível em http//XXX.clubjus.com.br/ artigosver2.19138. Acesso em 19 dez. 2013.

Para aprofundar o tema do livre- Como a referência principal é Santo Agostinho,


-arbítrio, apresentamos o texto repro- é interessante que você faça uma exposição ini-
duzido a seguir e também no Caderno cial sobre esse autor, motivando os alunos para
do Aluno, na seção Leitura e análise de texto. o estudo que farão.

O livre-arbítrio
Por definição, livre-arbítrio é a “possibilidade de decidir, escolher em função da prÓpria vontade,
isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante”1.
Um dos filÓsofos que se ocuparam de elaborar essa concepção de liberdade foi Santo Agostinho
(354-430). Ele que viveu na cidade de )ipona, no norte da África, onde se tornou bispo catÓlico2.
Para ele, o homem seria uma criatura privilegiada, porque foi feito à imagem e semelhança de
Deus. Assim, em correspondência com as três pessoas da Trindade, a alma humana também seria
dotada de três faculdades a memÓria, a inteligência e a vontade. A memória seria responsável por
preservar as imagens provenientes dos sentidos, equivaleria à essência, isto é, àquilo que não muda
(Deus Pai). A inteligËncia corresponderia ao logos, isto é, à razão, à verdade (Filho); e a vontade,
que representaria o amor que cria o mundo (Espírito Santo). Entre essas faculdades, a mais
importante é a vontade, que, para Santo Agostinho, é criadora e livre (livre-arbítrio).
Nem mesmo a presciência de Deus é incompatível com a livre vontade do homem. Presciência (pré 
antes; ciência  conhecimento) é a capacidade que sÓ Deus possui de conhecer todas as coisas antes
que elas aconteçam. De fato, para Santo Agostinho, Deus conhece a ordem das causas que dão origem
a todas as coisas. Mas disso não se pode concluir que não há nada que dependa da vontade humana,
porque, segundo o filÓsofo, “também nossa prÓpria vontade se inclui na ordem das causas, certa para

1
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
2
As consideraç×es aqui apresentadas baseiam-se parcialmente em PESSAN)A, +osé A.M. Santo Agostinho vida e obra. In
Santo Agostinho. São Paulo Nova Cultural, 1984. p. V-XX.

24
Filosofia – 3a série – Volume 2

Deus e contida em sua presciência”3. Santo Agostinho acrescenta “Por isso, de maneira alguma nos
vemos constrangidos, admitida a presciência de Deus, a suprimir o arbítrio da vontade ou, admitido o
arbítrio da vontade, a negar em Deus a presciência do futuro, o que é verdadeira impiedade”4.
Graças ao livre-arbítrio, o homem pode inclusive afastar-se de Deus, afastamento este que consiste na
essência do pecado. 0 pecado, portanto, não é necessário (no sentido de algo que tem obrigatoriamente
que acontecer e que não pode ser evitado), mas contingente, ou seja, resulta não de Deus, mas da vontade
do homem (isto é, de seu livre-arbítrio, ou, mais precisamente, do mau uso de sua liberdade). A queda de
Adão e Eva foi de inteira responsabilidade deles. Mas o seu livre-arbítrio não era suficiente para que
retornassem a Deus. Para tanto, era preciso, também, a graça divina. Esta graça seria a ajuda que Deus dá
aos homens para que possam cumprir os desígnios divinos e alcançar a salvação. Sem essa ajuda, o homem
não conseguiria dirigir-se para o Bem e renunciar ao Mal.
0corre, porém, que, para Santo Agostinho, nem todas as pessoas recebem a graça de Deus, mas apenas
alguns escolhidos, que estariam predestinados à salvação. ­ a doutrina de predestinação. Caberia, então,
a pergunta Afirmar a necessidade da graça divina e a existência da predestinação não implica entrar em
contradição com a tese do livre-arbítrio Para Santo Agostinho, não. Isso porque, na visão do filÓsofo,
mesmo com a ajuda da graça divina, o homem é livre para escolher praticar o Bem ou o Mal. E isso vale
também para os que estão predestinados à salvação. 0u seja, para o homem se salvar, não basta estar
predestinado a isso. ­ preciso, ainda, que ele escolha fazer o Bem. A predestinação, portanto, não é uma
necessidade, ela depende também da vontade humana. Do contrário, não se poderia responsabilizar o
homem pelo erro ou pelo pecado.
Como Santo Agostinho afirmou “Assim, quando Deus castiga o pecador, o que te parece que ele diz
senão estas palavras AEu te castigo porque não usaste de tua vontade livre para aquilo a que eu a concedi
a ti Isto é, para agires com retidão. Por outro lado, se o homem carecesse do livre-arbítrio da vontade,
como poderia existir esse bem, que consiste em manifestar a justiça, condenando os pecados e premiando
as boas aç×es Visto que a conduta desse homem não seria pecado nem boa ação, caso não fosse voluntária.
Igualmente o castigo, como a recompensa, seria injusto, se o homem não fosse dotado de vontade livre.
0ra, era preciso que a justiça estivesse presente no castigo e na recompensa, porque aí está um dos bens
cuja fonte é Deus”5. Portanto, conclui o autor, “era necessário que Deus desse ao homem vontade livre”.

3
SANT0 AG0STIN)0. A cidade de Deus. Tradução 0scar Paes Leme. Bragança Paulista Editora Universitária São Francisco,
2003. p. 202, v. 2. (Coleção Pensamento )umano).
4
Ibidem, p. 205.
5
SANT0 AG0STIN)0. O livre-arbítrio. Tradução, organização, introdução e notas Nair de Assis 0liveira. Revisão )onÓrio
Dalbosco. São Paulo Paulus, 1995. p. 75.

Ibidem.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

ApÓs a leitura, é importante direcionar os 2. Por que, para Santo Agostinho, a presciên-
alunos para que respondam às quest×es a cia divina não é incompatível com o livre-
seguir, que também se encontram no Caderno -arbítrio dos homens
do Aluno e, a nosso ver, traduzem alguns pon-
tos que merecem destaque 3. Por que, para Santo Agostinho, aàrmar a
necessidade da graça divina e a existência
1. Qual é a deànição de livre-arbítrio apre- da predestinação não implica entrar em
sentada contradição com a tese do livre-arbítrio

25
4. Por que a aàrmação do livre-arbítrio é neces- primeira consiste em um questionário, ao estilo
sária para que uma pessoa seja moralmente de uma prova, que visa veriàcar a apropriação
responsabilizada por seus atos pelos alunos do conteÙdo estudado. A segunda
é uma dissertação que pretende proporcionar aos
Consideramos importante discutir sobre o alunos oportunidade de empreender uma reáe-
livre-arbítrio por ser um tema bastante difundido xão mais pessoal sobre o conteÙdo estudado, na
e que, muito provavelmente, povoa as mentes e qual eles possam empregar os conceitos trabalha-
as conversas dos adolescentes, embora, por vezes, dos. As atividades estão presentes também no
ele seja abordado apenas no nível do senso Caderno do Aluno, na seção Você Aprendeu .
comum. 0 objetivo é, portanto, superar esse nível
de entendimento, problematizando as concep- 1. Faça o que se pede
ç×es correntes e avançando para uma compreen-
são mais elaborada da questão. A tarefa, porém, a) Apresente uma deànição de libertarismo.
exige cautela, pois, em se tratando de quest×es O aluno pode descrever situações nas quais a autodeterminação
religiosas, as suscetibilidades podem ser facil- esteja presente. Libertarismo é o movimento que se caracteriza
mente aguçadas. por ações propostas e empreendidas com plena consciência,
determinação e autonomia dos sujeitos nelas envolvidos.
Finalizando esta etapa, propomos
uma atividade, presente no Caderno b) Responda 0 que é livre-arbítrio para
do Aluno, na seção Lição de casa, Santo Agostinho Como ele conseguiu
em que o aluno é solicitado a se posicionar sobre conciliar a liberdade humana com a teo-
a lei que proíbe o tabaco em ambientes de uso ria da graça e da predestinação
coletivo, pÙblicos ou privados, incluindo bares, O livre-arbítrio, para Santo Agostinho, não está associado
restaurantes, hotéis, boates etc., no Estado de a Deus e, sim, ao homem. Pelo livre-arbítrio, o homem
São Paulo. Novamente, trata-se de tentar trazer pode decidir aproximar-se de Deus ou não. Santo Agosti-
a discussão para a realidade contemporânea. nho concilia teoria da predestinação e livre-arbítrio, afir-
Esperamos, com isso, que o aluno seja capaz de mando que a predestinação depende da vontade humana.
se posicionar com clareza, articulando sua argu- Para se salvar e ser agraciado por Deus, o homem precisa
mentação com o conceito de livre-arbítrio. escolher fazer o bem.

2. Escolha uma das duas teses a seguir e elabore,


Avaliação da Situação de em folha avulsa, uma dissertação (20 a 30
Aprendizagem linhas) argumentando em favor da tese esco-
lhida. Nessa argumentação, é fundamental que
Inicialmente, convém deixar claro sejam mencionados conceitos e teorias estuda-
que é você, professor, quem tem as dos nas aulas.
melhores condiç×es de saber quando
e como avaliar seus alunos. 0 que apresentamos
Tese 1 0 fumante tem livre-arbítrio para
aqui são sugest×es. decidir se começa ou não a fumar. Por isso, a
indÙstria tabagista não deve ser responsabilizada
As prÓprias atividades indicadas ao longo pelos malefícios provocados à saÙde pelo cigarro.
desta Situação de Aprendizagem podem servir Tese 2 0 fumante não tem livre-arbítrio para
de instrumentos de avaliação para veriàcar se as decidir se começa ou não a fumar. Por isso, a
competências e habilidades esperadas foram indÙstria tabagista deve ser responsabilizada
satisfatoriamente desenvolvidas. Avalie, portanto, pelos malefícios provocados à saÙde pelo cigarro.
a necessidade de acrescentar outras atividades. A

2
Filosofia – 3a série – Volume 2

Para escolher uma das teses sugeridas, os alunos devem Recursos para ampliar a perspectiva
retomar as análises e os textos estudados durante a Situa- do proGessor e do aluno para a
ção de Aprendizagem para, assim, construir seus argu- compreensão do tema
mentos. Espera-se que eles revelem autonomia ao optar
por uma das teses. Não há uma resposta correta, apenas a Livros
exigência de que argumentem com base nas leituras. Se
você preferir, essa atividade também pode se transformar ABBAGNAN0, Nicola. Dicionário de Filosoàa.
em um debate em sala, no qual cada metade da classe . ed. Tradução Alfredo Bosi. São Paulo 8MF
defende e argumenta em favor de uma tese. Nesse caso, Martins Fontes, 2012. Pode ser de grande ajuda
porém, deve-se estar atento para que, de fato, sejam feitas no entendimento dos conceitos aqui
referências ao conteúdo estudado, a fim de evitar que a apresentados.
discussão se perca em discursos do senso comum.
ARISTÓTELES. Ethica Nicomachea I, 13 –
III, 8 – Tratado da virtude moral. Tradução
Propostas de situações de Marco ;ingano. São Paulo 0dZsseus Edi-
recuperação tora, 2008. (Coleção 0bras Comentadas).

Caso os alunos não obtenham o rendimento )UISMAN, Denis. Dicionário dos àlÓsofos.
esperado, apresentamos a seguir duas alterna- Tradução Claudia Berliner. São Paulo Mar-
tivas de atividade de recuperação. Em casa, os tins Fontes, 2001. Traz informaç×es sobre
alunos devem desenvolver uma reáexão pessoal inÙmeros filÓsofos, inclusive os estudados
sobre uma das seguintes quest×es, demons- neste volume.
trando em sua argumentação o aproveitamento
que tiveram do estudo realizado. Se preferir, PESSAN)A, +osé A.M. Santo Agostinho vida
indique outro tema que considere mais ade- e obra. In Santo Agostinho. São Paulo Nova
quado ao interesse dos alunos. Cultural, 1984. (Coleção 0s Pensadores).

f Dissertação (20 a 30 linhas) sobre o tema R0USSEAU, +ean-+acques. Do contrato social.


“0 tabagismo e o livre-arbítrio”. Disponível em http//XXX.dominiopublico.gov.
f Dissertação (20 a 30 linhas) sobre o livre-ar- br/pesquisa/Detalhe0braForm.do select@
bítrio em seu cotidiano. actionco@obra12924. Acesso em 19 dez.
2013. (Sugestão também presente no Caderno do
Nas duas atividades, é importante deixar Aluno.)
claro para os alunos que eles têm plena liber-
dade para expor seu pensamento, mas que SANT0 AG0STIN)0. O livre-arbítrio. Tra-
isso não significa que possam argumentar dução, organização, introdução e notas Nair
apenas no nível do senso comum. ­ preciso de Assis 0liveira. Revisão )onÓrio Dalbosco.
que sua reáexão incorpore conceitos e argu- São Paulo Paulus, 1995. Foi usado, basica-
mentos desenvolvidos nas aulas, independen- mente, o Livro II, Capítulo 1, cujo título é “0
temente da opinião que tenham sobre as livre-arbítrio vem de Deus”.
correntes estudadas. Em ambos os casos,
seria interessante que você indicasse leituras SANT0 AG0STIN)0. A cidade de Deus.
complementares, visando ao aprofunda- Tradução 0scar Paes Leme. Vol. 2. PetrÓpolis
mento do estudo. Vozes de Bolso, 2012. Recomendamos, espe-

27
cialmente, os capítulos IX, X e XI do livro 5, Filme
intitulados respectivamente “A presciência de
Deus e a livre vontade do homem, contra a Efeito borboleta (The ButteráZ Effect). Direção
deànição de Cícero”; “Está sujeita a alguma Eric Bress; +. MacLZe Gruber. EUA, 2004. 113
necessidade a vontade humana ” e “Provi- min. 14 anos. Filme que, inspirado em um termo
dência universal de Deus, cujas leis abrangem referente à dependência sensível às condiç×es
todas as coisas”. iniciais dentro da teoria do caos, retrata as con-
sequências da liberdade e leva a reáetir sobre até
VÁ;QUE;, Adolfo S. Ética. 30. ed. Rio de que ponto o libertarismo é possível. (Sugestão
+aneiro Civilização Brasileira, 2008. também presente no Caderno do Aluno.)

SITUA¬«0 DE APRENDI;AGEM 3
0 DETERMINISM0
Nesta Situação de Aprendizagem, vamos escapam ao controle dos homens, de modo que
aprofundar a discussão sobre liberdade, abor- a liberdade é impossível. Para estudar o deter-
dando um tema de grande relevância para a minismo faremos uma breve introdução ao
Filosofia, que é o determinismo. Segundo a tema e, em seguida, ampliaremos um pouco
concepção determinista, o mundo, os aconte- mais a discussão, analisando o fatalismo e a
cimentos e até o comportamento humano são providência, que são entendidos como expres-
regidos por leis necessárias e imutáveis, que s×es particulares do determinismo.

Conteúdos e temas: introdução ao conceito de determinismo; o fatalismo como expressão do


determinismo; liberdade e providência divina.

CompetËncias e habilidades: relacionar informaç×es de fontes variadas com conhecimentos de


situaç×es diversas, para construir argumentação consistente; problematizar a questão da
liberdade e sensibilizar-se quanto à relevância de reáetir de forma sistemática e rigorosa sobre
ela; identiàcar as contribuiç×es e os limites das concepç×es de liberdade, tendo em vista a
concepção determinista de realidade; ler, compreender e interpretar textos teÓricos e àlosÓàcos;
expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemática; elaborar hipÓteses e quest×es com
base em leituras e debates realizados.

Sugestão de estratégias: levantamento das opini×es dos alunos sobre o problema da liberdade;
discussão em grupo das quest×es levantadas nas aulas; leitura sistemática e problematizadora
de textos e elaboração escrita do prÓprio pensamento; pesquisa bibliográàca complementar.

Sugestão de recursos: discussão em sala de aula; bibliograàa complementar; àlmes; mÙsicas.

Sugestão de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o domínio pelos alunos do conteÙdo
(conceitos, ideias, raciocínios etc.) estudado, a capacidade de expressão clara, áuente, coerente,
coesa, bem articulada e consistente (bem fundamentada, buscando superar o senso comum)

28
Filosofia – 3a série – Volume 2

e o efetivo envolvimento do aluno nas atividades propostas. Como instrumentos de avaliação,


recomendam-se dissertaç×es individuais, provas dissertativas e reáexivas, veriàcação das ati-
vidades do Caderno do Aluno, participação em sala e outros trabalhos que o professor julgar
adequados e pertinentes.

Sondagem e sensibilização seguida, responda ­ você mesmo quem


escolhe com liberdade ou você é induzido a
Para introduzir o tema do determinismo, preferir determinadas coisas e produtos no
propomos, inicialmente, que os alunos discu- lugar de outros
tam em grupo a seguinte questão e anotem
suas reáex×es a respeito ­ possível que os alunos se recordem da
discussão sobre o tabagismo e se reportem a
1. As coisas acontecem porque têm que acon- ela. Isso seria bastante salutar, pois revelaria
tecer ou somos nÓs que fazemos com que capacidade de articulação de um conteÙdo
aconteçam +ustiàque. com o outro, demonstrando que tiveram
bom aproveitamento do estudo realizado. De
Posta dessa forma, a pergunta parece vaga. todo modo, esperamos que, a esta altura, eles
Contudo, a intenção é trazer à tona uma ideia estejam em condiç×es de problematizar ou
comum aos adolescentes e que, em geral, se mesmo criticar a noção de que todas essas
exprime em outros termos “as coisas sÓ acon- escolhas são absolutamente livres, sem qual-
tecem quando têm de acontecer”, “nada acon- quer interferência de fatores externos ao
tece por acaso”, “aconteceu porque tinha de sujeito que escolhe.
acontecer”, “aconteceu porque estava escrito
que seria assim” etc. Essa explicitação inicial 0 texto proposto para leitura, reproduzido
do senso comum dos alunos acerca do deter- a seguir e também no Caderno do Aluno, na
minismo tem por objetivo aquecer a discussão seção Desafio!, intitula-se Determinismo e
e motivá-los ao estudo que virá a seguir. liberdade. Com ele, introduzimos o estudo
acerca da concepção determinista, segundo a
Nessa mesma linha, é proposta uma segunda qual as coisas, os acontecimentos e até o com-
atividade, que consiste em reáetir sobre a natu- portamento humano são determinados por
reza livre ou não livre das inÙmeras escolhas que causas externas ao indivíduo, de modo que a
fazemos no nosso dia a dia. liberdade, em Ùltima instância, é impossível.
Aliás, este é justamente um dos aspectos que,
2. No dia a dia, fazemos inÙmeras escolhas a nosso ver, merecem ser destacados no texto.
a todo momento da roupa, do calçado ou E uma possível forma de fazer isso é, talvez,
do corte de cabelo que usamos; do livro desafiar os alunos a encontrar uma saída,
que pegamos para ler; da notícia de jornal mesmo que neste momento ainda em nível de
que privilegiamos; dos valores, crenças e senso comum, para o dilema entre libertarismo
opini×es que adotamos; das mÙsicas que e determinismo. Aànal, tanto um quanto outro
preferimos sintonizar no rádio ou baixar apresentam aspectos positivos, mas também
da internet; dos programas de TV a que sérios problemas. Como então resolver esse
assistimos; da proàssão que almejamos impasse )averia uma posição conciliatÓria
no futuro; da pessoa com quem deseja- Essa questão, que também se encontra no
mos namorar ou casar etc. Enumere mais Caderno do Aluno, serve para desencadear o
algumas escolhas do seu cotidiano e, em processo de reáexão sobre o problema.

29
Determinismo e liberdade
Se procurarmos no dicionário, veremos que determinismo é a concepção segundo a qual “tudo no
universo, até mesmo a vontade humana, está submetido a leis necessárias e imutáveis, de tal forma
que o comportamento humano está totalmente predeterminado pela natureza, e o sentimento de
liberdade não passa de uma ilusão subjetiva”1. Portanto, se o comportamento humano é determinado,
a liberdade torna-se impossível.
Se tudo é determinado, não há ato voluntário nem escolha. Como tudo é movido por uma causa
que se encontra fora de nÓs, não podemos evitar agir como agimos. Daí também não podermos ser
moralmente responsabilizados pelo que fazemos, visto que não poderíamos tê-lo feito de outro modo.
Este parece ser o caso, por exemplo, do cangaceiro Severino, personagem do filme O auto da compa-
decida. A certa altura da histÓria, os protagonistas morrem, indo se encontrar no +uízo Final. Entre
todos, porém, apenas Severino é absolvido de imediato e enviado para o céu. A justificativa é a de que,
pela vida miserável que levou, vítima de extrema violência e pobreza, não poderia ser culpado pelos
crimes e pecados que cometeu. Seu destino tinha sido estabelecido pelas condiç×es em que viveu, sem
que tivesse qualquer possibilidade de escolha.
0 determinismo não afirma que existe uma força coercitiva que nos obriga a agir de certa maneira.
Na realidade, são as circunstâncias em que nos encontramos que produzem esse agir. Assim, não sou
eu quem escolhe (não há escolha livre), mas as circunstâncias escolhem por mim, compelindo-me a agir.
Como vemos, o determinismo é o extremo oposto em relação ao libertarismo. Enquanto para este
as circunstâncias externas são totalmente desconsideradas, em nome da preservação da liberdade, no
determinismo elas são as Ùnicas que contam, sacrificando-se a dimensão subjetiva e individual das
escolhas humanas e, em Ùltima instância, a prÓpria liberdade.
0ra, abdicar da liberdade é justamente o problema do determinismo. De fato, as circunstâncias
externas determinam, em alguma medida, o comportamento humano, mas isso não significa que o
homem seja mera vítima dessas circunstâncias.
Não se trata de negar a determinação do homem pelas circunstâncias externas, regressando ao liber-
tarismo, mas de reconhecer essa determinação sem, contudo, considerá-la incompatível com a liberdade.
Aqui, porém, já estamos falando de outra posição sobre o problema da liberdade a posição dialética,
que será objeto de estudo mais adiante.
1
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Como preparação da prÓxima etapa, que eles se sintam mais bem situados ao tomar
que tratará da questão do fatalismo e contato com a referida histÓria.
do destino ilustrada com o mito de
­dipo, propomos que os alunos façam, fora do Entramos, então, no tema fatalismo, que é
horário de aula, uma breve pesquisa, consultando entendido como uma forma de expressão do
a bibliograàa indicada por você, bem como outras determinismo.
fontes, sobre o que foi a Tragédia Grega e que
importância ela tinha para a sociedade da época. Para esta etapa, inicialmente sugerimos
Essa proposta também se encontra no Caderno motivar os alunos a discutirem em grupos as
do Aluno, na seção Pesquisa individual. Isso para seguintes quest×es, propostas na seção Desaào!

30
Filosofia – 3a série – Volume 2

do Caderno do Aluno. Recomendamos, porém, dendo acertadamente, livre da peste a cidade de


que eles anotem suas respostas individual- Tebas. Posteriormente, ao ler o texto destinado
mente em seus Cadernos. a esta etapa, os alunos irão se deparar nova-
mente com esse enigma, situado em seu devido
1. 0 que é que vive na Terra e possui quatro contexto. A segunda é uma questão aberta, com
pés pela manhã, dois ao meio-dia e três à objetivo de, novamente, trazer à tona o senso
tarde +ustiàque sua resposta. comum dos alunos, o qual, esperamos, venham
a problematizar mais adiante.
2. Você acredita que existe um destino pre-
viamente traçado para cada pessoa e que 0utra atividade, também de caráter
não pode ser mudado +ustiàque. introdutÓrio e motivacional, pede que
os alunos se posicionem em relação a
A primeira das duas quest×es anteriores é, um fato real, que pode ser acompanhado pelo
na verdade, um enigma, aquele que a Esànge texto a seguir, também disponível no Caderno
prop×e a ­dipo e que faz com que ele, respon- do Aluno, na seção Leitura e análise de texto

No Brasil, há alguns anos, havia um programa de TV de perguntas e respostas, no qual o participante


que acertasse todas as respostas ganharia 1 milhão de reais. Certa vez, um senhor aposentado chegou até
a pergunta final, que era a seguinte “Quantas letras há no lema da bandeira brasileira ”. Se desistisse de
responder, ganharia R 500 mil. Se errasse, sairia quase sem nada. 0 senhor decidiu encarar o desafio,
mas errou a resposta. Em vez de 15, contou 1 letras. Pensou em “0rdem ou progresso” em vez de “0rdem
e progresso”. Saiu do programa com apenas 300 reais, valor que todos os participantes recebiam. Inda-
gado sobre como se sentia apÓs o ocorrido o participante ponderou que aquela era a vontade de Deus e
que sÓ lhe restava acatar o acontecido. Ele entendia que não havia perdido, que apenas deixou de ganhar.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Sugerimos que os alunos se pronunciem sobre a atenção para o fato de que, por vezes, a pers-
a consideração do participante, conforme proposto pectiva fatalista pode signiàcar conformismo,
no Caderno do Aluno, na sequência ao texto. acomodação, servindo como estratégia psíquica
para a aceitação de fatos indesejáveis que, na
1. Você concorda com a explicação dada por verdade, poderiam ser evitados.
esse senhor para o fato de não ter acertado
a resposta +ustiàque. Para abordar mais diretamente o tema
do fatalismo, apresentamos o texto
2. Você conhece situaç×es em que as pessoas intitulado Sobre o destino, disponível
respondem de forma semelhante à descrita no Caderno do Aluno, na seção Leitura e análise
no texto Relate-as brevemente e comente, de texto, que traz um resumo do mito de ­dipo.
manifestando a sua opinião a respeito. Recomendamos que os alunos leiam o mito na
íntegra a partir de pesquisa na internet, bai-
0 objetivo é chamar a atenção para a pre- xando o texto do Portal Domínio PÙblico (dis-
sença do fatalismo em nosso cotidiano, mos- ponível em XXX.dominiopublico.gov.br/
trando a relevância de reáetir sobre ele. 0 vídeo pesquisa/Detalhe0braFor m.do select@
do episÓdio pode ser encontrado na internet. actionco@obra2255) ou a partir de alguma
Talvez seja interessante, na discussão, chamar versão disponível na biblioteca da sua escola.

31
Sobre o destino
Uma das formas mais comuns de manifestação do determinismo é o fatalismo, que consiste na
concepção segundo a qual as coisas acontecem porque têm que acontecer, porque foram determinadas
pelo destino, sem que se possa mudar o rumo dos acontecimentos.
Mas será que existe mesmo um destino previamente traçado e do qual não podemos escapar Essa per-
gunta, que ainda intriga muita gente nos dias atuais, já era feita pelos gregos na Antiguidade. E, a julgar pela
sina de ­dipo, descrita na tragédia de SÓfocles, a resposta, para eles, era afirmativa. Vejamos, então, um breve
resumo do mito Édipo Rei narrado por SÓfocles (dramaturgo grego que viveu entre 49 a.C. e 40 a.C.)
Laio era rei de Tebas e +ocasta, a rainha. Como não conseguiam ter filhos, o rei decidiu ir a Delfos
consultar o oráculo e receber orientaç×es para ter um sucessor ao seu trono. A resposta do oráculo
deixa Laio transtornado se tiver um filho, este matará o pai e se casará com a mãe. Mortificado, Laio
decide não ter filhos. Porém, em um momento de embriaguez, ama +ocasta e a engravida. 0s reis
tornam-se pais de um menino, confiado a um pastor, que deveria levá-lo para uma montanha e matá-
-lo, para evitar a realização da profecia.
Ao chegar à montanha, porém, o pastor se comove com o olhar do menino e decide entregá-lo
a outro pastor, que, por sua vez, entrega-o ao rei PÓlibo e à rainha Peribeia, de Corinto, que não
tinham filhos e desejavam um. Adotam o filho de Laio e +ocasta com o nome de ­dipo. Embora ele
prÓprio desconhecesse sua origem, as pessoas do lugar sabiam que não era filho biolÓgico do rei.
­dipo ouvia comentários sobre não ser filho de PÓlibo e, intrigado e insatisfeito, vai a Delfos con-
sultar o oráculo para saber sua origem. 0 oráculo responde-lhe com a profecia que fizera a Laio
ele matará seu pai e se casará com sua mãe. )orrorizado, ­dipo decide se exilar para o mais longe
possível, a fim de proteger aqueles a quem tinha como pais. Assim, em vez de voltar para Corinto,
dirige-se a Tebas, sem saber que estava regressando à sua terra natal.
Tebas vivia uma terrível epidemia de peste. Preocupado, o rei Laio (pai biolÓgico de ­dipo) decide
ir a Delfos pedir conselhos ao oráculo. No caminho, depara-se com ­dipo (sem saber que se tratava
de seu filho), justamente em uma parte estreita da estrada em que sÓ era possível passar uma carrua-
gem de cada vez. Laio, na condição de soberano, julga ter prioridade na passagem e ordena a seu
cocheiro que mande ­dipo se afastar. 0 cocheiro obedece, demonstrando certa violência. ­dipo reage
e, na luta, mata o cocheiro e também Laio. Um dos membros do séquito real, porém, consegue fugir
e retorna para Tebas. ­dipo, considerando que agiu em legítima defesa, segue seu caminho.
Tempos depois, ao chegar à cidade, descobre que ela está sob a ameaça da Esfinge um monstro
com cabeça e seios de mulher e patas de leoa que se alojara às portas da cidade e se divertia propondo
enigmas aos jovens tebanos. Quando não conseguiam responder, devorava-os. Creonte, irmão da
rainha +ocasta, governava Tebas apÓs a morte do rei. Ao se deparar com ­dipo, alimenta a esperança
de que talvez este jovem fosse capaz de resolver um enigma apresentado pela Esfinge, libertando a
cidade dos males que estava sofrendo. Prop×e-lhe, então, que, se derrotar o monstro, poderá se casar
com a rainha +ocasta.
­dipo aceita o desafio. A Esfinge pergunta “Quem, entre os que vivem na Terra, de manhã tem
quatro pés, dois pés ao meio-dia e três à tarde ”. ­dipo responde que é o homem. Quando criança,
ele engatinha, na idade adulta, é bípede e, na velhice, usa uma bengala. A Esfinge, derrotada, atira-se
do alto do rochedo e morre.
­dipo é recebido na cidade como herÓi e, como recompensa, casa-se com +ocasta, ignorando
tratar-se de sua mãe, e torna-se rei de Tebas. Durante anos, tudo corre muito bem e o casal tem
quatro filhos. Até que, de repente, uma outra peste se abate sobre a cidade. As crianças nascem
deformadas ou mortas. Uma doença misteriosa ataca homens, mulheres, crianças e idosos.

32
Filosofia – 3a série – Volume 2

Creonte resolve mandar alguém a Delfos para saber do oráculo a origem dessa epidemia. A resposta
é que a peste duraria enquanto o assassinato de Laio não fosse vingado. ­dipo, então, sem saber que
o assassino era ele prÓprio, assume o compromisso de achar o culpado e inicia uma investigação.
Nesse meio tempo, chega a Tebas um mensageiro, vindo de Corinto, trazendo uma triste notícia
para o rei a de que seus pais, o rei e a rainha de Corinto, haviam morrido. Triste e com sentimento de
culpa por estar longe dos pais, ­dipo justifica-se dizendo que saíra de Corinto por causa da previsão
do oráculo de que mataria seu pai e se casaria com sua mãe. Ao ouvir isso, o mensageiro lhe revela que
isso não seria possível, pois PÓlibo e Peribeia não eram seus pais biolÓgicos. ­dipo, estarrecido, pergunta
ao mensageiro como ele poderia saber de tudo aquilo. Ao que ele responde “Eu sei porque fui eu quem
entregou você a meus patr×es”. “E quem te deu esta criança ”, pergunta ­dipo. 0 mensageiro aponta
para um dos presentes, reconhecendo o pastor de Laio que lhe havia entregue o menino. ­dipo, então,
se dirige ao pastor perguntando quem lhe dera a criança. Ele responde “+ocasta”.
­dipo percebe que a profecia do oráculo se cumprira ele era filho da mulher com quem se deitara
e cujo marido, seu pai, fora morto por suas mãos. Feito um louco, corre para o palácio à procura de
+ocasta e a encontra morta, enforcada com seu cinto. Inconformado e apavorado, fura os prÓprios
olhos com as presilhas do vestido de sua mãe e esposa.
Fonte de dados SÓF0CLES. Édipo Rei. Disponível emhttp//XXX.dominiopublico.gov.br/pesquisa/Detalhe0braForm.
do select@actionco@obra2255. Acesso em 19 dez. 2013.

Dois aspectos, pelo menos, parecem-nos de Corinto de ter um àlho, o encontro com
dignos de destaque. 0 primeiro é a centralidade Laio na parte estreita da estrada, a fuga de
do tema do destino nessa tragédia de SÓfocles. um dos acompanhantes do rei, a Esànge,
Aànal, existe realmente um destino predetermi- a resposta ao enigma, a peste em Tebas, a
nado e do qual não podemos escapar, mesmo se chegada do mensageiro de Corinto etc. Esse
o conhecêssemos antecipadamente, como acon- determinismo presente nas narrativas trá-
teceu com ­dipo 0utro aspecto é a sucessão de gicas mostra o encadeamento de eventos
acasos que ocorrem ao longo da histÓria, os que condicionam um determinado àm, mas
quais acabam por conduzir Laio e ­dipo ao o determinismo está presente também nas
encontro do destino que lhes fora profetizado. explicaç×es cientíàcas, o chamado determi-
Para ajudar os alunos na exploração do texto, nismo cientíàco. Converse com seus profes-
propomos a eles duas quest×es que se referem sores e colegas, consulte a internet e os livros
justamente a esses dois aspectos mencionados. disponíveis na biblioteca e indique exemplos
de determinismo nas ciências.
ApÓs a leitura do texto, sugerimos as seguin-
tes quest×es Uma Ùltima atividade, mais
lÙdica, é proposta como Lição de
1. Qual era a mensagem dessa tragédia para a casa no Caderno do Aluno assis-
sociedade ateniense daquela época em rela- tir ao filme Quem quer ser um milionário?
ção ao destino +ustiàque sua resposta. [Slumdog Millionaire] (direção de DannZ
BoZle. Inglaterra, 2008. 120 min. 1 anos).
2. Na histÓria de ­dipo, ocorre uma sucessão Conta a histÓria de um jovem indiano, cha-
de “acasos” que o conduzem à realização da mado +amal, morador de uma favela e que
profecia do oráculo a bebedeira do pai, a trabalha servindo chá em um call center. Um
fertilidade da mãe justamente naquele dia, dia, ele decide participar de um programa de
a presença do outro pastor, o desejo dos reis perguntas e respostas na TV. Para a surpresa

33
de todo o país, o jovem, que quase não tinha Diante delas, os alunos serão instigados a
estudo, consegue chegar à Ùltima pergunta, responder como as interpretam e que papel
àcando prestes a ganhar o prêmio máximo, tem Deus, para cada um deles, na condução
20 milh×es de rÙpias. Certamente, há muita dos acontecimentos. Se necessário, você
proximidade entre o enredo do àlme, o epi- poderá ajudá-los na discussão, acrescentando
sÓdio real acontecido no programa de per- questionamentos do tipo Quando digo “Se
guntas e respostas brasileiro apresentado Deus quiser, tudo vai dar certo”, estou aàr-
anteriormente e a histÓria de ­dipo, embora mando que, se não der certo, será porque Deus
os desfechos sejam diferentes. Em todos esses não quis? Em outras palavras, quando algo dá
casos, a explicação é depositada no destino, certo é porque Deus quer e quando não dá é
ou em Deus, ou no fato de que “estava porque ele não quer? Logo, por esse raciocínio,
escrito”. A àm de auxiliar no direcionamento seja qual for o resultado de uma ação, ele pode
da reáexão sobre o àlme, propomos que os ser atribuído a Deus? Quando alguém diz
alunos respondam à seguinte questão Você “Graças a Deus, passei no vestibular!”, está
vê semelhanças entre as histÓrias do protago- aàrmando que passou por causa da ação de
nista Jamal, do senhor que participou do pro- Deus? Ora, mas há inúmeras outras pessoas
grama brasileiro de perguntas e respostas e de que não passaram. Logo, Deus quer que algu-
Édipo? Quais? mas passem e outras não? Como isso é possível,
sendo ele bom, justo e sábio? Quando pensa-
Caso o aluno não consiga assistir ao àlme, mos: “Foi por Deus que não aconteceu um
indique outro ou mesmo um livro que ajude a acidente”, indiretamente não estamos também
enriquecer as quest×es estudadas. aàrmando que quando um acidente acontece é
porque Deus não o impediu? Mas como Deus
Pedimos ainda que os estudantes anotem permite que acidentes aconteçam com alguns
suas conclus×es no Caderno do Aluno e as e não com outros?
levem para a aula seguinte, a àm de ser discu-
tidas em grupo. Cabe, porém, a você, professor, Na verdade, a maioria das pessoas usa essas
avaliar se isso é possível e/ou adequado aos express×es sem reáetir sobre elas e sem se dar
seus objetivos. conta de sua relação com a discussão sobre a
providência divina. 0 objetivo aqui é justa-
A Ùltima etapa desta Situação de Aprendi- mente chamar a atenção para esse fato e moti-
zagem, e que fecha o tema do determinismo, var essa reáexão.
aborda a relação entre liberdade humana e
providência divina. Para envolver os alunos no 0 texto proposto para estudo inti-
assunto, propomos, logo no início, que reái- tula-se Liberdade humana e provi-
tam sobre algumas express×es do cotidiano dência divina, e é reproduzido a
que tomam como pressuposta a tese da provi- seguir e no Caderno do Aluno, na seção
dência divina, embora a maior parte das pes- Leitura e análise de texto. Neste momento, o
soas talvez não se dê conta disso. As express×es autor utilizado como referência será Thomas
são as seguintes )obbes, mais especificamente o capítulo
XXI de sua obra Leviatã, intitulado “Da
f “Se Deus quiser, tudo vai dar certo.” liberdade dos sÙditos”. Novamente, cabe
f “Graças a Deus, passei no vestibular!” usar de bastante cautela nesta atividade,
f “Foi por Deus que não aconteceu um visto se tratar de assunto controverso, de
acidente.” natureza religiosa.

34
Filosofia – 3a série – Volume 2

Liberdade humana e providËncia divina


0utra forma de manifestação do determinismo é a doutrina da providência divina. Providência vem
do latim providentia e significa conhecer, ver ou descobrir antecipadamente. Nesse sentido, essa doutrina
se assemelha bastante ao fatalismo, com a diferença de que ela possui um caráter mais explicitamente
religioso. Em linhas gerais, consiste em afirmar que Deus é o criador da ordem do mundo e que é o
responsável pela condução dos acontecimentos. Em outras palavras, o mundo possui uma ordem
racional que vem de Deus e que compreende tanto os acontecimentos quanto as aç×es dos homens.
De modo geral, a doutrina da providência implica negar a possibilidade da liberdade humana, pois
ao homem cabe apenas adequar-se aos desígnios divinos.
0 tema da providência foi objeto da preocupação de vários filÓsofos ao longo da histÓria. Alguns
deles, porém, procuraram conciliar a tese da ordenação divina com a liberdade do homem. Um desses
foi o inglês Thomas )obbes, que viveu entre os séculos XVI e XVII.
Em sua obra Leviatã, na qual expôs suas teses políticas, )obbes dedicou o capítulo XXI à questão
da liberdade dos sÙditos. Ele iniciou definindo a liberdade “Liberdade significa, em sentido prÓprio,
a ausência de oposição (entendendo por oposição os impedimentos externos do movimento)”1.
Em seguida, apresentou alguns exemplos de situaç×es em que não há liberdade quando alguém
está “amarrado ou envolvido de modo a não poder mover-se”; as “criaturas vivas, quando se encon-
tram presas ou limitadas por paredes ou cadeias”; “as águas, quando são contidas por diques ou
canais”2.
No caso do conceito de “livre-arbítrio”, )obbes atribuiu a ele um significado um pouco diferente.
Quando dizemos “o caminho está livre” não pretendemos afirmar a liberdade do caminho propria-
mente dito, mas sim das pessoas que por ele passam. Assim, também quando falamos em livre-arbítrio,
não podemos inferir dessa expressão a “liberdade da vontade, do desejo ou da inclinação, mas apenas
a liberdade do homem”3. Esta “consiste no fato de ele não deparar com entraves ao fazer aquilo que
tem vontade, desejo ou inclinação”4. Em outras palavras, o homem é livre para fazer o que tem von-
tade, mas não é livre para escolher a vontade, o desejo e a inclinação que tem. A vontade, o desejo e
a inclinação que há no homem derivam de outras causas, alheias a ele. Mais precisamente, derivam de
uma cadeia de causas, cuja origem está em Deus, que é a causa primeira de tudo.
Assim, )obbes procurou conciliar liberdade e necessidade
“A liberdade e a necessidade são compatíveis tal como as águas não tinham apenas a liberdade,
mas também a necessidade de descer pelo canal, assim também as aç×es que os homens voluntaria-
mente praticam, dado que derivam de sua vontade, derivam da liberdade; ao mesmo tempo que,
dado que os atos da vontade de todo homem, assim como todo desejo e inclinação, derivam de
alguma causa, e esta de uma outra causa, numa cadeia contínua (cujo primeiro elo está na mão de
Deus, a primeira de todas as causas), elas derivam também da necessidade. De modo tal que para
quem pudesse ver a conexão dessas causas a necessidade de todas as aç×es voluntárias dos homens
pareceria manifesta.”5
1
)0BBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de uma República eclesiástica e civil. 0rganização Richard TucL. Tradução
+oão Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo Martins Fontes, 2008. p.179. (Clássicos Cambridge de Filosofia
Política.)
2
Ibidem, p. 179.
3
Ibidem, p. 180.
4
Ibidem.
5
Ibidem.

35
Se, em Ùltima instância, a origem da vontade humana encontra-se em Deus, então a ideia de
providência divina fica preservada
“Portanto Deus, que vê e disp×e todas as coisas, vê também que a liberdade que o homem tem de
fazer o que quer é acompanhada pela necessidade de fazer aquilo que Deus quer, e nem mais nem
menos do que isso. Porque, embora os homens possam fazer muitas coisas que Deus não ordenou, e
das quais portanto não é autor, não lhes é possível ter paixão ou apetite por nada de cujo apetite a
vontade de Deus não seja a causa.”
Não fosse assim, a liberdade do homem “seria uma contradição e um impedimento à onipotência
e liberdade de Deus”7.
­, pois, por esse raciocínio que )obbes procurou conciliar a liberdade do homem com a providên-
cia divina. Trata-se, porém, de uma liberdade limitada, porque a vontade humana, necessariamente,
deriva da vontade de Deus.
0ra, entre os atributos de Deus estão a sapiência, a bondade, o amor, a justiça. Portanto, atribuir
a ele a causa da vontade humana, da ordem do mundo e dos acontecimentos não seria uma forma de
minimizar a responsabilidade do homem pelas circunstâncias em que vive Não seria uma estratégia
eficaz para sacralizar e legitimar o mundo e a ordem social vigente Assim, não haveria na tese da
providência divina, pelo menos na forma acrítica em que ela geralmente é apresentada, um sentido
politicamente conservador

Ibidem, p. 180-181.
7
Ibidem, p. 181.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

ApÓs a leitura, sugerimos que os alunos res- sente aos alunos trechos do poema de literatura
pondam em seus Cadernos às duas quest×es a de cordel “A chegada de Lampião no Céu”,
seguir, como forma de destacar os aspectos que reproduzidos a seguir e também na seção Leitura
consideramos mais relevantes do texto, a saber e análise de texto do Caderno do Aluno, para que
façam uma análise, a ser registrada em seus
1. Em que consiste a tese da providência Cadernos, a partir do que foi visto nesta Situação
divina de Aprendizagem e na anterior sobre as condi-
ç×es de liberdade.
2. 0 que )obbes pensava sobre a liberdade
0 objetivo é, mais uma vez, permitir que o
Para ànalizar esta etapa, sugerimos que aluno faça uso por si mesmo dos conceitos
você proponha aos alunos uma Ùltima apreendidos e que os articule com diferentes
atividade de caráter mais lÙdico. Apre- situaç×es do nosso contexto cultural.

A chegada de Lampião no Céu


Foi numa Semana Santa Quando chegou Lampião.
Tava o céu em oração [...]
São Pedro estava na porta
Refazendo anotação Pedro disse a Lampião
Daqueles santos faltosos Eu lhe peço com licença

3
Filosofia – 3a série – Volume 2

Saia já da porta santa Que sÓ me causam tropeço.


0u haverá desavença. [...]

Lampião lhe respondeu Por um cruel fazendeiro


Mas que santo é o senhor Foi meu pai assassinado
Não aprendeu com +esus Tomaram dele o dinheiro
Excluir Ódio e rancor ... De duro serviço honrado
Trago paz nesta missão
Não precisa ter temor. Ao vingar a sua morte
0 destino em má sorte
Disse Pedro isso é blasfêmia Da “lei” me fez um soldado.
­ bastante astucioso
Pistoleiro e cangaceiro Mas o que devo a visita
Esse povo é impiedoso Pedro fez indagação
Não ganharão o perdão Lampião sem bater vista
Do santo Pai Poderoso Vê padim Ciço Romão
Pra antes do ano novo
Inda mais tem sua má fama Mandar chuva pro meu povo
Vez por outra comentada Você sÓ manda trovão
Quando há um julgamento
Duma alma tão penada Pedro disse é malcriado
Porque fora violenta Nem o diabo lhe aceitou
Em sua vida é baseada. Saia já seu excomungado
Sua hora já esgotou
– Sei que sou um pecador Volte lá pro seu Nordeste
0 meu erro reconheço Que sÓ o cabra da peste
Mas eu vivo injustiçado Com você se acostumou.
Um julgamento eu mereço
Pra sanar as injustiças VIEIRA, Guaipuan. A chegada de Lampião no Céu.
© Guaipuan Vieira.

Avaliação da Situação de 2. Como )obbes procurou eliminar a contradi-


Aprendizagem ção entre providência divina e livre-arbítrio
Você concorda com essa argumentação
As atividades de avaliação sugeridas +ustiàque.
a seguir encontram-se também no Hobbes procurou eliminar a contradição entre providência
Caderno do Aluno, na seção Você divina e livre-arbítrio associando liberdade e necessidade no
aprendeu . entendimento de que Deus confere liberdade ao homem
acompanhada da necessidade de realizar a vontade divina.
1. 0 que é determinismo
Uma possível definição pode compreender a ideia de ação 3. Em folha avulsa, elabore uma breve disser-
que se impõe ao sujeito independentemente de sua von- tação comparando libertarismo e determi-
tade ou de ação provocada por fatores alheios à vontade do nismo, com base nos autores estudados.
sujeito que age. A dissertação deve registrar o esforço dos alunos em reler os

37
autores estudados e em analisar, por meio da comparação, os C0LE¬«0 Mito e mistério. São Paulo Ediç×es
conceitos-chave, como libertarismo e determinismo. Mostre SM, 200 (Édipo, o maldito; Ariadne contra o
a importância da referência aos autores como uma maneira Minotauro; Uma armadilha para Iàgênia). )istÓ-
de superar o senso comum e de auxiliar na argumentação rias de suspense com herÓis das tragédias gregas
elaborada no processo de comparação. e das epopeias homéricas. Voltada para o pÙblico
jovem, essa coleção ajuda a reáetir sobre valores
e referências culturais de nossa civilização e sobre
Propostas de situações de quest×es fundamentais nessa faixa etária, como
recuperação a vida em sociedade, as relaç×es familiares e as
escolhas pessoais. No ànal de cada volume, há
Caso os alunos não consigam obter o ren- um dossiê com informaç×es sobre o mito e suas
dimento esperado, apresentamos a seguir duas variantes na literatura e em outras áreas do
alternativas de atividade de recuperação. conhecimento. No site da editora (http//XXX.
edicoessm.com.br, acesso em 19 dez. 2013),
1. Dissertação sobre o tema “libertarismo pode-se encontrar os guias de leitura, nos quais
versus determinismo”. Peça aos alunos o professor terá sugest×es de abordagem dos
que elaborem uma dissertação (50 a 0 temas e de atividades didáticas.
linhas) esclarecendo as diferenças entre
essas duas posiç×es relacionadas ao pro- VÁ;QUE;, Adolfo S. Ética. 30. ed. Rio de
blema da liberdade e se posicionando a +aneiro Civilização Brasileira, 2008. 0 capítulo
respeito. V, intitulado “Responsabilidade moral, determi-
nismo e liberdade”, trata do assunto desenvol-
2. Dissertação (20 a 30 linhas) sobre o tema vido nesta Situação de Aprendizagem. (Sugestão
“determinismo em seu cotidiano”. também presente no Caderno do Aluno.)

VERNANT, +ean-Pierre. O universo, os deuses,


Recursos para ampliar a perspectiva os homens. Tradução Rosa Freire dAguiar. São
do proGessor e do aluno para a Paulo Companhia das Letras, 2008. Indica-
compreensão do tema mos particularmente o capítulo intitulado
“­dipo, o inoportuno”.
Livros
Filme
ABBAGNAN0, Nicola. Dicionário de Filoso-
àa. . ed. Tradução Alfredo Bosi. São Paulo Blade Runner, o caçador de androides (Blade Run-
WMF Martins Fontes, 2012. Pode ser de ner). Direção RidleZ Scott. EUA, 1982. 117 min.
grande ajuda no entendimento dos conceitos 1 anos. Este àlme é um clássico entre aqueles que
aqui apresentados. têm se dedicado a representar sociedades distÓpi-
cas (ou seja, o contrário da utopia), em que se vive
C)AUI, Marilena. Introdução Æ HistÓria da nas piores condiç×es imagináveis de opressão e de
Filosoàa dos pré-socráticos a AristÓteles. 2. desespero. Nessa sociedade, os seres humanos
ed. São Paulo Companhia das Letras, 2011. fabricam robôs orgânicos, chamados “replican-
No capítulo 4, intitulado “0s soàstas e SÓcra- tes”, que são destinados a servir aos seus criadores
tes o humano como tema e problema”, há e têm um destino pré-programado. Porém, um
uma boa exposição sobre o sentido da tragé- grupo desses replicantes, insatisfeito com a sua
dia na sociedade ateniense e que pode ajudar condição, entra em conflito com os humanos.
no trabalho sobre o mito de ­dipo. (Sugestão também presente no caderno do Aluno.)

38
Filosofia – 3a série – Volume 2

SITUA¬«0 DE APRENDI;AGEM 4
A C0NCEP¬«0 DIAL­TICA DA LIBERDADE

Nesta Situação de Aprendizagem, será àa, passando por àlÓsofos como )eráclito,
abordada a concepção dialética da liberdade, SÓcrates, Platão, )egel, Marx e Engels. Pos-
procurando apresentá-la como uma síntese teriormente, enfatizaremos a perspectiva do
superadora da contradição entre o liberta- materialismo histÓrico dialético, particular-
rismo e o determinismo. Para tanto, inicia- mente no que diz respeito à sua concepção
remos com uma breve exposição sobre o de homem. Entendemos que, dessa forma, é
sentido geral do termo “dialética”, esclare- possível superar tanto a onipotência ingênua
cendo alguns dos inÙmeros signiàcados que do libertarismo como a impotência imobi-
ele adquiriu ao longo da histÓria da Filoso- lista do determinismo.

Conteúdos e temas: introdução ao conceito de dialética; concepção dialética da liberdade.

CompetËncias e habilidades: relacionar informaç×es de fontes variadas com conhecimentos de


situaç×es diversas, para construir argumentação consistente; apreender o conceito de dialética,
em suas diferentes acepç×es, articulando-o com a questão da liberdade; identiàcar as contribuiç×es
e os limites das concepç×es de liberdade abordadas e posicionar-se criticamente em relação a
elas; trabalhar com os conceitos e as teorias dos autores estudados; ler, compreender e interpretar
textos teÓricos e àlosÓàcos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemática; elaborar
hipÓteses e quest×es com base nas leituras e debates realizados.

Sugestão de estratégias: levantamento das opini×es dos alunos sobre o problema da liberdade;
discussão em grupo das quest×es apresentadas nas aulas; leitura sistemática e problematizadora
de textos e elaboração escrita do prÓprio pensamento; pesquisa bibliográàca complementar;
utilização de mÙsicas e àlmes.

Sugestão de recursos: discussão em sala de aula; bibliograàa complementar; mÙsicas.

Sugestão de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o domínio do conteÙdo (conceitos, ideias,
raciocínios etc.) estudado, a capacidade de expressão clara, áuente, coerente, coesa, bem articulada
e consistente (bem fundamentada, buscando superar o senso comum) e o envolvimento do aluno
nas atividades propostas. Como instrumentos de avaliação, recomendam-se dissertaç×es individuais,
provas dissertativas e reáexivas, veriàcação das atividades do Caderno do Aluno, participação em
sala e outros trabalhos que o professor julgar adequados e pertinentes.

Sondagem e sensibilização Ao apresentar seus exemplos, cada grupo


deve ser estimulado a argumentar de acordo
A partir de uma conversa com os alunos, com as características de cada uma das teorias
divididos em grupos, oriente-os a citar exem- estudadas.
plos de situaç×es do cotidiano que não se pode
aàrmar que são marcadas pelo libertarismo, No fechamento da sondagem, você, profes-
tampouco pelo determinismo. sor, poderá anunciar que, nesta Situação de

39
Aprendizagem, serão estudadas as contribui- para a deànição e a compreensão do conceito
ç×es teÓricas que nos ajudam a pensar justa- de dialética. Nem poderia preencher, visto
mente a respeito da possibilidade de superação não ser esse o propÓsito ao observar essa
do dilema entre libertarismo e determinismo. imagem. Sua utilização, no entanto, pode
ajudar o aluno a perceber a perspectiva de
Para a primeira etapa, propomos uma movimento, de transformação, uma das
atividade com base na observação da ima- características da dialética. A atividade con-
gem das ondas do mar. 0 objetivo dessa siste em pedir a eles que analisem a imagem
observação e posterior análise é tentar apro- e respondam em seus Cadernos à seguinte
ximar o aluno de uma perspectiva da dialé- questão Que relação a imagem do mar e do
tica. Evidentemente, o mar em movimento movimento de ondas pode ter com a noção de
não preenche todos os requisitos necessários dialética? Justiàque.
© :uriZ BrZLaZlo/iStocLphoto/ThinLstocL/GettZ Images

Figura 1.

Em seguida, é proposta a leitura do fundamentos teÓricos da perspectiva de liber-


texto A dialética, no qual apresenta- dade que será enfatizada na etapa seguinte.
mos alguns dos significados que o Trata-se, claro, de uma explanação sumária,
termo adquiriu ao longo da histÓria da Filo- apenas para ilustrar de forma parcial o per-
sofia. Assim, partindo da definição geral curso histÓrico do conceito e os diferentes
extraída de um dicionário da língua portu- signiàcados que ele adquiriu de um autor para
guesa, passamos muito rapidamente por )erá- outro. 0 texto mencionado encontra-se repro-
clito, SÓcrates, Platão e )egel, chegando a duzido a seguir e no Caderno do Aluno, na
Marx e Engels, autores que forneceram os seção Leitura e análise de texto.

40
Filosofia – 3a série – Volume 2

A dialética
Vimos que tanto o libertarismo como o determinismo levantam quest×es importantes sobre o pro-
blema da liberdade, mas não oferecem respostas suficientes para ele. Enquanto o libertarismo descon-
sidera a influência das circunstâncias em nossas decis×es, o determinismo enfatiza de tal maneira essa
influência que chega a negar a liberdade. Mas existiria uma posição capaz de aproveitar a contribuição
positiva dessas duas concepç×es de liberdade e, ao mesmo tempo, superar suas limitaç×es Uma posição
que admita os condicionamentos externos sem abrir mão da liberdade Uma possível resposta parece
ser a concepção dialética da liberdade.
Mas o que vem a ser dialética De acordo com o dicionário, “em sentido bastante genérico”, a palavra
está associada à ideia de “oposição, conflito originado pela contradição entre princípios teÓricos ou
fenômenos empíricos”1.
Um dos primeiros a desenvolver essa forma de pensar foi )eráclito, filÓsofo grego do período pré-
-socrático que viveu na cidade de ­feso, nos séculos VI e V a.C. Para ele, nada é imÓvel, imutável, isto
é, nada permanece aquilo que é; ao contrário, tudo está em movimento, tudo muda, tudo flui, tudo se
transforma, tudo é devir. Por isso, ele teria dito “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”, porque
tanto as águas como a pessoa que entra nelas novamente já não são as mesmas.
0 motor dessa transformação é a contradição que está contida em todas as coisas. Isso quer dizer que,
no interior de cada coisa, há forças opostas em luta entre si e que fazem com que essa coisa deixe de ser o
que é e se torne outra coisa. Em outras palavras, cada coisa é uma “unidade de contrários”. Dia e noite,
vida e morte, luz e escuridão, tristeza e alegria, quente e frio, amor e Ódio, acaso e necessidade, beleza e
feiura, enfim, qualquer que seja a dupla de contrários que se imagine, cada elemento da contradição traz
dentro de si a sua negação (o seu contrário) e nele se transforma, em um movimento infinito.
No tempo de SÓcrates e Platão, a palavra “dialética” designava certo modo de discutir ou dialogar
que tinha por objetivo explicitar as contradiç×es presentes no raciocínio dos interlocutores, a fim de
superar as divergências das opini×es particulares e atingir o conhecimento verdadeiro2. Portanto,
também aí o conceito de dialética estava associado à ideia de contradição, de conflito, de antagonismo
e de busca de sua superação. No caso da dialética socrática e platônica, tratava-se da contradição
presente no pensamento e no discurso, responsável por produzir um conhecimento falso ou, pelo
menos, impreciso (opinião – doxa) e que precisava ser substituído por outro, considerado verdadeiro
(ciência – episteme).
De lá para cá, ao longo da histÓria da Filosofia, inÙmeros filÓsofos fizeram uso do conceito de
dialética, atribuindo a ele diferentes conotaç×es, mas sempre enfatizando o aspecto da contradição.
A contradição, portanto, é um elemento fundamental na perspectiva dialética.
Mas quem de fato sistematizou a dialética como método de interpretação da realidade foi um filÓsofo
alemão idealista, dos séculos XVIII e XIX, chamado Georg Wilhelm Friedrich )egel. De modo muito
simplificado, podemos dizer que )egel retoma a tese de )eráclito da luta dos contrários e, por meio dela,
afirma que a histÓria é um processo que resulta das contradiç×es presentes no pensamento. Analisando a
evolução do pensamento humano, )egel percebeu que ela ocorre por um processo que envolve três momen-
tos o da tese (afirmação de uma ideia ou posição), o da antítese (afirmação da ideia contrária à primeira)
e o da síntese (conclusão derivada da superação da contradição entre as duas primeiras). Esta conclusão,
uma vez estabelecida, será transformada em uma nova síntese, recomeçando o processo. ­ o que ocorre,

1
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
2
Esse sentido é mais prÓximo do etimolÓgico, pois dialética vem do termo grego dialektkê que significa “arte de discutir e usar
argumentos lÓgicos”. Ibidem.

41
por exemplo, segundo ele, com os sistemas filosÓficos ao longo da histÓria, tais sistemas sucederam-se uns
aos outros por um processo de tese, antítese e síntese. Como )egel considerava que o motor da histÓria é
o pensamento (as ideias, a consciência, o espírito), dizemos que a sua filosofia tem caráter idealista.
,arl Marx absorveu o nÙcleo dialético do pensamento hegeliano, mas conferiu a ele um caráter
materialista. Para Marx, a realidade, o mundo e a sociedade também têm contradiç×es, mas essas con-
tradiç×es não são resultado do pensamento, e sim do modo como os homens produzem a sua existência
material e do tipo de relaç×es sociais que estabelecem entre si nesse processo produtivo. Por exemplo, no
modo de produção capitalista, as relaç×es sociais dominantes ocorrem entre capitalistas (proprietários
dos meios de produção) e proletários (proprietários da força de trabalho). Entre essas duas classes sociais,
há uma relação de contradição, de antagonismo, pois a realização dos interesses de uma (exploração do
trabalho e obtenção da mais-valia) implica a negação dos interesses da outra (libertação da exploração).
Assim, uma das principais contradiç×es da sociedade é justamente a luta de classes, que, na visão de
Marx e Friedrich Engels – seu colaborador em boa parte de suas obras – não é exclusiva da sociedade
capitalista, mas algo que se verifica em toda a histÓria da humanidade e que, para eles, é o motor das
transformaç×es que se sucederam ao longo dessa histÓria. Nas palavras dos autores
“A histÓria de toda sociedade existente até hoje tem sido a histÓria das lutas de classes.
)omem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e companheiro, em
uma palavra, opressor e oprimido, em constante oposição, têm vivido uma guerra ininterrupta, ora
disfarçada, ora aberta, que terminou sempre pela reconstituição revolucionária de toda a sociedade
ou pela destruição das classes em conflito.
Desde as épocas mais remotas da histÓria, encontramos, em praticamente toda parte, uma complexa
divisão da sociedade em classes diferentes, uma gradação mÙltipla das condiç×es sociais. Na Roma
Antiga, havia patrícios, guerreiros, plebeus, escravos. Na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, com-
panheiros, aprendizes, servos; e, em quase todas essas classes, ainda outras camadas subordinadas.
A sociedade moderna burguesa, surgida das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonis-
mos de classe. Apenas estabeleceu novas classes, novas condiç×es de opressão, novas formas de luta,
em lugar das velhas.”3
Assim, para Marx e Engels, não é o pensamento que, organizando-se de forma contraditÓria (tese,
antítese e síntese), produz a realidade material, mas sim, a realidade material que, por força das contradiç×es
que existem nela (como a luta de classes, por exemplo), gera as diferentes formas de pensamento. Dizendo
de outra maneira “Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência”4.
Eis, portanto, o materialismo de Marx e Engels. Porém, como se trata de um materialismo dialético,
isto é, que afirma a existência da contradição, da luta dos contrários, essa relação de determinação
também é contraditÓria, de modo que, se, de um lado, a consciência é determinada pela vida, de outro
lado, a vida também é determinada pela consciência. )á, na realidade, uma ação recíproca de mÙtua
determinação entre os elementos opostos. Daí a conclusão dos autores para todo esse raciocínio de
que “[...] as circunstâncias fazem os homens, assim como os homens fazem as circunstâncias”5.
Essa Ùltima afirmação já nos sugere um caminho alternativo para superar a contradição entre
determinismo e libertarismo, como veremos na prÓxima etapa.
3
MARX, ,arl; ENGELS, Friedrich. 0 Manifesto Comunista. In B0:LE, David. O Manifesto Comunista de Marx e Engels.
Rio de +aneiro +orge ;ahar, 200. p. 33-34.
4
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Tradução Rubens Enderle, Nélio Schneider, Luciano Cavini Marto-
rano. Texto final Rubens Enderle. São Paulo Boitempo, 2007. p. 94.
5
Ibidem. p. 43
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

42
Filosofia – 3a série – Volume 2

Para auxiliar no entendimento e na àxação Ela será mais trabalhada ao longo desta etapa,
de alguns conceitos trabalhados no texto, pro- mas seria interessante observar a forma como eles
pomos aos alunos as seguintes quest×es, cujas a interpretam apenas à luz do estudo feito até aqui.
respostas poderão ser registradas no Caderno
do Aluno Em seguida, indique a leitura do texto
intitulado Dialética e liberdade, no
1. Como se pode deànir a dialética em um qual é articulada a perspectiva de
sentido mais geral Marx e Engels sobre a dialética com a questão
da liberdade. 0 objetivo é mostrar que, desse
2. Qual é o signiàcado da frase atribuída a ponto de vista, é possível superar tanto o redu-
)eráclito “Não se pode entrar duas vezes cionismo do libertarismo como o do determi-
no mesmo rio” Você concorda com ele nismo. Para isso, partimos da concepção de
homem como “conjunto das relaç×es sociais”,
3. Que sentido tinha o termo “dialética” para explicitando, assim, seu caráter socialmente
SÓcrates e Platão determinado. Tal determinação, porém, não se
dá de modo absoluto, mecânico, unilateral, pois
4. Qual é a principal diferença entre a dialé- não elimina a condição do homem de sujeito de
tica de )egel e a de Marx e Engels sua histÓria. Como, porém, os homens não
fazem a histÓria a seu bel-prazer, visto que estão
5. Analise e comente o signiàcado da frase de limitados pelas circunstâncias materiais em que
Marx e Engels “A histÓria de toda socie- se encontram, sua liberdade não é total, pois
dade existente até hoje tem sido a histÓria sofre a interferência de causas externas a ele.
das lutas de classes”. Enàm, as circunstâncias fazem os homens, mas
os homens também fazem as circunstâncias.
A etapa seguinte é dedicada à concepção dia- Para a compreensão dessa perspectiva, são fun-
lética da liberdade. Como motivação inicial, os damentais os conceitos de “contradição” e de
alunos poderão comentar e tomar posição sobre “ação recíproca”, sobretudo para evitarmos o
a seguinte aàrmação, presente no texto lido risco de incorrer no determinismo. 0 texto suge-
rido para esta etapa encontra-se reproduzido a
f “As circunstâncias fazem os homens, assim seguir e também na seção Leitura e análise de
como os homens fazem as circunstâncias.” texto do Caderno do Aluno.

Dialética e liberdade
0 problema da liberdade diz respeito à ideia que se tem do homem e do papel (ativo ou passivo)
que ele desempenha na histÓria. Na perspectiva do materialismo histÓrico dialético, o homem é o
conjunto das relaç×es sociais, uma vez que ele (homem) não pode ser concebido como um ser
abstrato, isolado, destacado do mundo concreto em que vive (como pode nos fazer pensar a pers-
pectiva do libertarismo). Ao entender que é o homem que se faz pelas relaç×es sociais, reconhece-
mos que ele (homem) não está imune às circunstâncias em que vive e às relaç×es sociais que
estabelece com seus semelhantes. Pelo contrário, ele é, em grande medida, produto dessas relaç×es
e transforma-se continuamente com as transformaç×es dessas relaç×es. 0 homem da sociedade
capitalista não é o mesmo do feudalismo, que, por sua vez, não é o mesmo do escravismo, que não
é o mesmo das comunidades primitivas. Podemos dizer, portanto, que o homem é determinado
pelas relaç×es sociais ou que ele é socialmente determinado.

43
Mas, como vimos, a dialética sup×e a contradição e a ação recíproca entre os elementos de
uma dupla de contrários. Portanto, conceber o homem dialeticamente implica entender que a
relação dele com a histÓria, com a sociedade, com a natureza, com os outros homens, enfim, com
a realidade que o cerca é também contraditÓria e de mÙtua determinação. Desse modo, se as
relaç×es sociais produzem os homens, também os homens produzem as relaç×es sociais que viven-
ciam. 0u, nas palavras de Marx e Engels “[...] as circunstâncias fazem os homens, assim como
os homens fazem as circunstâncias”1.
Assim, do ponto de vista da dialética, o homem tem um papel ativo na determinação das
circunstâncias em que vive. Porém, como ele é também socialmente determinado, cabe perguntar
Em que medida ele é realmente capaz de alterar as relaç×es sociais de que participa Até onde vai
o seu poder de fazer a histÓria Com que grau de liberdade ele pode fazer isso De acordo com
Marx “0s homens fazem a sua prÓpria histÓria; contudo, não a fazem de livre e espontânea
vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob as quais ela é feita, mas estas lhes
foram transmitidas assim como se encontram”2. Não se trata, portanto, de um poder ilimitado,
absoluto, tampouco de um poder irrisÓrio, insignificante, nulo.
Concluindo, podemos dizer que a perspectiva dialética permite superar tanto a onipotência
do libertarismo quanto a impotência do determinismo. Assim, ela coloca sobre nossos ombros a
exata medida de responsabilidade que nos cabe na construção de nosso destino. De fato, não
podemos tudo. Mas há algo que podemos, a partir das condiç×es objetivas em que nos encontra-
mos. E é nessa margem relativa de possibilidades limitadas que podemos fazer valer a nossa
liberdade.

1
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Tradução Rubens Enderle, Nélio Schneider, Luciano Cavini Martorano.
Texto final Rubens Enderle. São Paulo Boitempo, 2007. p. 43.
2
MARX, Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. Tradução Nélio Schneider. São Paulo Boitempo, 2011. p. 25.

Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

ApÓs a leitura, sugerimos duas quest×es, mentos com os conteÙdos que foram traba-
cujo objetivo é auxiliar na compreensão e na lhados ao longo desta e de outras Situaç×es
àxação de alguns dos conceitos trabalhados de Aprendizagem.

1. 0 que signiàca dizer que o homem é um Para concluir o estudo sobre liber-
“conjunto de relaç×es sociais” dade, nesta mesma etapa, os alunos
poderão analisar as imagens repro-
2. Como a concepção dialética procura su- duzidas a seguir, procurando explicitar e dis-
perar a contradição entre libertarismo e cutir a concepção de liberdade nelas subjacente,
determinismo Posicione-se. de acordo com a proposta de Lição de casa do
Caderno do Aluno.
As quest×es podem ser debatidas entre os
alunos, inicialmente em pequenos grupos, 0 objetivo dessa breve análise é que os alu-
para depois haver uma discussão com a sala nos identifiquem diferentes concepç×es de
toda, mediada por você, professor. ­ impor- liberdade e demonstrem que são capazes
tante que os alunos construam seus argu- de empregar os conceitos estudados.

44
Filosofia – 3a série – Volume 2
© Studio-AnniLa/iStocLphoto/ThinLstocL/
GettZ Images

Avaliação da Situação de
Aprendizagem
Novamente, convém registrar que,
para nÓs, é você, professor, quem
deve decidir quando e como avaliar
seus alunos. De todo modo, apresentamos a
seguir algumas quest×es, a título de contribui-
ção. As quest×es também se encontram no
Caderno do Aluno, na seção Você aprendeu .

Figura 2 – As coisas acontecem porque estão marcadas 1. De que forma o conceito de ação recíproca
ou porque disseram que acontecerão e, por isso, se fazem
acontecer
pode questionar o determinismo
O conceito de ação recíproca questiona o determinismo
© Edson Grandisoli/Pulsar Imagens

porque permite o entendimento de que é possível criar ou


recriar situações a partir de condições dadas, de que é pos-
sível mudar situações originadas por fatores externos à von-
tade do homem.

2. Apresente a diferença entre a concepção de


dialética dos autores analisados.
Houaiss: oposição, conflito originado por contradição entre
teorias.
Heráclito: movimento provocado pela contradição que está
presente em todas as coisas.
Platão e Sócrates: diálogo, contradição, antagonismo e busca
de superação.
Figura 3 – Ainda que o homem tenha criado a agricultura, Hegel: contradição entre pensamentos – afirmação de uma
o resultado final da safra está sujeito aos caprichos da ideia, oposição a esta ideia e produção de nova ideia como
natureza. superação da afirmação e da negação.
Marx: contradição no campo da produção das condições
© +uca Martins/Pulsar Imagens

materiais de sobrevivência. Admite afirmação, negação e sín-


tese que resulta dessa confrontação entre tese (afirmação) e
antítese (negação).

3. Elabore, em folha avulsa, uma disserta-


ção sobre o tema “a concepção dialética
de liberdade como forma de superação
do libertarismo e do determinismo”, res-
gatando esses conceitos já trabalhados na
dissertação solicitada anteriormente.
Os alunos devem retomar as concepções de libertarismo e
Figura 4 – 0 povo quis votar para presidente, porém seus determinismo e apresentar as possibilidades de superação dos
representantes não permitiram. dois conceitos com base nos textos sobre dialética e liberdade.

45
Propostas de situações de recuperação ànal Rubens Enderle. São Paulo Boitempo,
2007.
Caso alguns alunos não tenham o desempe-
nho esperado nesta Situação de Aprendizagem, MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. 0 Mani-
propomos como atividades de recuperação festo Comunista. In B0:LE, David. O
Manifesto Comunista de Marx e Engels. Rio
1. Retomar a leitura dos textos desta Situação de +aneiro +orge ;ahar, 200. (Sugestão
de Aprendizagem, destacando o signiàcado também presente no Caderno do Aluno.)
da palavra dialética para os diferentes autores.
VÁ;QUE;, Adolfo S. ­tica. 30 ed. Rio de
2. Destacar dos textos os argumentos que +aneiro Civilização Brasileira, 2005. Como já
evidenciam a superação do libertarismo e foi dito, o capítulo V, intitulado “Responsabi-
do determinismo. lidade moral, determinismo e liberdade”, foi
referência para a elaboração dessas duas Ùlti-
mas Situaç×es de Aprendizagem.
Recursos para ampliar a perspectiva
do proGessor e do aluno para a Site
compreensão do tema
DIAL­TICA. Brasil Escola. Pequeno artigo
Livros que, de forma breve, traça o caminho da dialé-
tica na Filosoàa. Disponível em http//XXX.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideo- brasilescola.com/filosofia/dialetica.htm.
logia Alemã. Tradução Rubens Enderle, Nélio Acesso em 15 jan. 2014. (Sugetão também pre-
Schneider, Luciano Cavini Martorano; texto sente no Caderno do Aluno.)

SITUA¬«0 DE APRENDI;AGEM 5
FIL0S0FIA E LITERATURA
Nesta Situação de Aprendizagem, vamos da Filosoàa como discurso capaz de narrar o
pensar a Filosoàa em comparação com a Lite- pensamento reflexivo, não apenas sobre os
ratura, para completarmos o ciclo de aproxi- temas mais relevantes da existência humana,
maç×es e distanciamentos que nos conduzem mas, principalmente, sobre os demais discur-
a um aprofundamento sobre a especiàcidade sos Literatura, Ciência, Religião.

Conteúdos e temas: Filosoàa e Literatura; aproximaç×es e distanciamentos.

CompetËncias e habilidades: relacionar informaç×es, representadas de formas variadas, com


conhecimentos disponíveis em diferentes situaç×es, para construir argumentação consistente;
comparar discurso àlosÓàco e discurso literário; aprofundar compreensão sobre o que é Filosoàa
em comparação com a Literatura; ler, compreender e interpretar textos teÓricos e àlosÓàcos;
expressar-se por escrito e oralmente de modo sistemático; elaborar hipÓteses e quest×es sobre
leituras e debates realizados.

4
Filosofia – 3a série – Volume 2

Sugestão de estratégias: levantamento de hipÓtese sobre aproximaç×es e distanciamentos entre


Filosoàa e Literatura; leitura sistemática e problematizadora de textos e elaboração escrita do
prÓprio pensamento.

Sugestão de recursos: texto poético; texto àlosÓàco a respeito da leitura do discurso da Filosoàa.

Sugestão de avaliação: sugere-se que seja avaliada a capacidade de expressão clara, áuente e consistente,
buscando superar o senso comum e o enfrentamento reáexivo dos alunos com as atividades propostas.
Como instrumentos de avaliação, recomendam-se registros individuais; veriàcação das atividades do
Caderno do Aluno; outros trabalhos que o professor julgar adequados e pertinentes.

Sondagem e sensibilização Provoque os alunos com as duas quest×es a


seguir, propostas no Caderno do Aluno, e
Nas Situaç×es de Aprendizagem anteriores, observe se são capazes de respondê-las. Se
desaàamos os estudantes a pensar em aproxi- apresentarem diàculdades, você pode auxiliá-
maç×es e distanciamentos entre o discurso -los a partir do questionamento sobre a ideia
cientíàco e o discurso àlosÓàco. Neste momento, principal da poesia e como o autor procura
vamos pensar a distinção e a aproximação entre justiàcar a sua primeira aàrmação.
o discurso àlosÓàco e a Literatura.
1. Como o poeta descreve a sua condição
Como sondagem inicial, solicite a humana
leitura do poema “Começo a conhe-
cer-me. Não existo”, de Fernando 2. Por que é possível aàrmar que ele é um
Pessoa (Álvaro de Campos), que também intervalo
consta no Caderno do Aluno, na seção Leitura
e análise de texto. 3. Como você imagina essa reáexão a partir
do texto àlosÓàco argumentativo Em folha
avulsa, construa um breve texto àlosÓàco a
partir das ideias contidas no poema.
Começo a conhecer-me. Não existo
Começo a conhecer-me. Não existo. ApÓs o exercício com o poema, peça aos alu-
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os nos que realizem dois movimentos de comparação
[outros me fizeram, em grupo o primeiro movimento comparando
ou metade desse intervalo, porque também seus textos, trocando ideias sobre a forma que
[há vida... encontraram para transformar o poema em um
Sou isso, enfim... breve discurso àlosÓàco. No segundo movimento,
eles devem comparar o poema propriamente dito
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter
[barulhos de chinelos no corredor. com seus textos Qual é a diferença
Fique eu no quarto sÓ com o grande sossego
Você, professor, poderá acompanhar a reáexão
[de mim mesmo.
comparativa de cada grupo e, ainda, se houver
­ um universo barato. tempo, solicitar a cada equipe que apresente uma
PESS0A, Fernando (Álvaro de Campos). Poemas síntese sobre o processo de discussão.
de Álvaro de Campos. Disponível em http//XXX.
dominiopublico.gov.br/doXnload/texto/
jp000004.pdf. Acesso em 19 dez. 2013.
Na etapa seguinte, leia com os alunos
o texto a seguir, que também se encon-

47
tra no Caderno do Aluno, na seção Leitura e e Filosoàa apontada no texto e explique por que,
análise de texto, e peça que realizem a atividade de acordo com os argumentos do texto, é difícil
proposta Destaque uma diferença entre Literatura distinguir essas duas áreas.

A leitura dos textos àlosóàcos


+orge Alberto Molina1

Queremos aqui caracterizar aquelas produç×es textuais que classificamos como textos de Filoso-
fia. Num romance, como Madame BovarZ, os personagens são seres humanos, reais ou fictícios, como
Ema BovarZ, Monsieur )omais, o Doctor BovarZ etc. No texto filosÓfico, os personagens são as
teses defendidas. Essas teses estão apoiadas sobre argumentos. 0 texto filosÓfico é um texto de tipo
argumentativo. Mas essa é ainda uma caracterização muito geral, pois um ensaio sociolÓgico, um
editorial de jornal, um sermão, são também textos argumentativos. De maneira que essa descrição é
insuficiente, a menos que precisemos, com mais exatidão, quais são os traços específicos da argumen-
tação filosÓfica. 0 que dificulta ir além daquela caracterização muito geral é o fato de o discurso
filosÓfico manifestar-se através de uma grande variedade de gêneros textuais diferentes2.
Antes de SÓcrates, a Filosofia usou como forma de expressão a poesia, e ainda no período romano-
-helenístico encontramos De rerum natura, de Lucrécio, como exemplo de poema filosÓfico. Platão e
também AristÓteles usaram o diálogo como veículo para expressar suas ideias. 0 diálogo filosÓfico está
presente até na Idade Moderna, lembremos por exemplo o Diálogo sobre a conexão entre as ideias e as
palavras, de Leibniz, e os Três diálogos entre Hilas e Filonius, de BerLeleZ. As cartas têm servido como
instrumento de expressão de ideias filosÓficas. Podemos citar exemplos célebres como a correspondência
entre Leibniz e ClarL sobre a natureza do espaço e do tempo, a correspondência entre Leibniz e Arnauld
sobre a noção de substância, as cartas a Lucílio de Sêneca etc. A autobiografia tem sido usada para
expressar concepç×es filosÓficas, assim As Confissões de Santo Agostinho e as de Rousseau. 0s filÓsofos
também se apropriaram do gênero apologético e, como mostra disso, encontramos a Apologia de SÓcra-
tes, de Platão, A Cidade de Deus, de Santo Agostinho, e Os pensamentos, de Pascal. 0 tratado científico
foi introduzido por AristÓteles como gênero textual para a expressão de filosofemas. Existem também
textos filosÓficos formados a partir de aforismos, como o Tractatus, de Wittgenstein. Face a essa grande
variedade de gêneros textuais usados pelos filÓsofos, nos perguntamos sobre a justificativa para colocar
produç×es pertencentes a gêneros tão diferentes sob o rÓtulo comum de texto filosÓfico.
[...]
Podemos, então, afirmar o seguinte parece difícil apontar a priori um conjunto de marcas neces-
sárias e suficientes que outorguem uma especificidade ao texto filosÓfico. Não podemos definir o texto
filosÓfico por meio de uma cláusula do tipo “texto filosÓfico é ABC, e somente aquilo que seja ABC...
poderá ser chamado de texto filosÓfico”. No entanto, pensamos que, malgrado a impossibilidade de
definir diretamente o que é um texto filosÓfico, podemos obter luz sobre o nosso tema, comparando
o discurso filosÓfico com outros tipos de discursos o científico, o jurídico, o teolÓgico e o literário.
[...]
Diferenciar a Filosofia da Literatura é mais difícil, e tememos que qualquer critério de demarcação
que seja dado entre as duas disciplinas possa ser sempre impugnado. Platão considerava que a Poesia
busca comover e que a Filosofia procura a verdade3. 0 bom poeta, segundo ele, é aquele que sabe
1
Doutor em LÓgica e Filosofia da Ciência pela Unicamp, professor do Departamento de Ciências )umanas e docente do
Mestrado em Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC.
2
Estou usando a distinção entre gêneros e tipos textuais apresentada em Marcuschi (2002).
3
República X, 05d-07d.

48
Filosofia – 3a série – Volume 2

provocar em nÓs as emoç×es apropriadas. AristÓteles considerava o discurso poético como aquele que
representa coisas fictícias como possíveis, enquanto a Filosofia é um discurso que expressa o que é, da
forma que ele é. 0u, dito de outra forma, o discurso filosÓfico descreve como é o que existe4. )egel con-
siderava que a arte representa o universal sob a forma da sensibilidade, ao passo que a Filosofia representa
o universal sob a forma de conceito5. Agamêmnon representa a hZbris ou desmesura comum a vários
governantes; Antígona e Creonte, o conflito entre a razão de estado e a piedade familiar; Dom Quixote,
o espírito sonhador e aventureiro. Personagens da literatura representam conceitos ou situaç×es universais.
Então, baseados naqueles três filÓsofos, podemos dizer que o discurso literário se diferencia do filosÓfico
pelo fato que i) ele busca suscitar em nÓs emoç×es; ii) ele tem um caráter fictício; iii) ele representa situa-
ç×es universais (o universal) sob a forma de um conjunto de representaç×es individuais.
4
“Pelo exposto se torna Óbvio que a função do poeta não é contar o que aconteceu mas aquilo que poderia acontecer, o que é
possível, de acordo com o princípio de verossimilhança e da necessidade” (Poética, 51a 3-51b 11). “Deve preferir-se o impossível
verossímil ao possível inverossímil” (Poética, 0a 27).
5
“[...] a função da arte consiste em tornar a ideia acessível à nossa contemplação, mediante uma forma sensível e não na figura
do pensamento e da espiritualidade em geral [...]”. )egel (1993), p. 47.

M0LINA, +orge Alberto. A leitura de textos filosÓficos. Revista Signo, vol. 31, p. 37-47, 200. Disponível em
http//online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/vieXFile/438/291. Acesso em 19 dez. 2013.

Baseando-se na leitura e com a escolha de Peça aos alunos que façam uma
uma das diferenças apontadas, é importante pesquisa de outros àlÓsofos que se
que você faça uma síntese com as ideias cen- expressaram por meio da Litera-
trais do texto. Solicite a alguns alunos que tura e registrem em folha à parte seus nomes
leiam suas respostas ou dÙvidas ao exercício e suas principais obras. Essa proposta encon-
proposto, pois este é um momento de discus- tra-se no Caderno do Aluno, na seção Pes-
são sobre as principais características do quisa individual.
discurso àlosÓàco.
A distinção de limites entre a Filosoàa e a
A Literatura talvez seja o discurso que Literatura torna-se, assim, uma tarefa complexa
menos se distanciou do discurso àlosÓàco, uma e delicada que não se esgota nesta Situação de
vez que poetas, romancistas e cronistas tratam Aprendizagem, cujo objetivo é oferecer mais
de quest×es filosÓficas como a finalidade da uma oportunidade de confronto entre diferentes
existência humana e de dramas éticos. modos de pensar e dizer os temas centrais da
existência humana.
Essa aproximação é notada também no
caso dos àlÓsofos que escolheram a Literatura
para abordar sua àlosoàa. +ean-Paul Sartre Avaliação da Situação de
(1905-1980) é um deles. Escreveu romances Aprendizagem
como A náusea (1938), ou sua trilogia de
romances A idade da razão (1945), Sursis 0riente os alunos a preencher um
(1947) e Com a morte na alma (1949). 0utro quadro-síntese, conforme consta
filÓsofo que escolheu a Literatura para expor no Caderno do Aluno, na seção
seu pensamento educacional foi +ean-+acques Você aprendeu . Esse quadro servirá para ava-
Rousseau (1712-1778), em sua obra àccional liar a compreensão dos traços que marcam o
Emílio ou da Educação (172). discurso àlosÓàco.

49
Aproximações DiGerenças

Filosoàa, A Filosofia não surge em contraposição ou O discurso nos mitos apresenta-se como uma
Mitologia dissonância dos mitos e discursos religiosos. Ao narrativa marcada por analogias, metáforas e
e Religião contrário, é baseada em temas e preocupações parábolas, ao passo que o discurso na Filosofia se
predominantes no discurso religioso e nos mitos manifesta por questionamentos sucessivos a cada
registrados em poemas como a Ilíada e a Odisseia, afirmação, por fundamentação e crítica sobre o
de Homero, e nos poemas de Hesíodo. saber afirmado.

Aspectos que são comuns a ambos os discursos: As religiões, especialmente se tomarmos as religiões
preocupação dos poetas de apresentar causas e monoteístas, professam verdades cuja base é a fé
motivos das ações; esforço para descrever os fatos no divino. A Filosofia busca significados na ordem
em uma abrangência que abarca deuses, homens, do humano a partir de uma reflexão que deve ser
terra, céu, guerra, paz, bem e mal; preocupação radical, rigorosa e de conjunto (conforme Dermeval
dos poetas em construir narrativas para ensinar Saviani1) e, dessa forma, questionar certezas e
justiça como virtude fundamental. O mito e alguns verdades.
discursos religiosos, assim, já contemplariam a
estrutura de apresentação dos fatos e os temas
valorizados pela Filosofia.

Filosoàa A curiosidade e o conjunto de perguntas sobre a A Filosofia utiliza diversos gêneros textuais para
e CiËncia realidade que inspiram ambas as investigações; expressar suas ideias: cartas, poemas, diálogos,
ensaios. A Ciência utiliza ensaios, mas não poesias,
O esforço de explicitação de ideias que filósofos e
diálogos ou cartas sem que passem por explicitação
cientistas empreendem;
analítica.
A construção de argumentação que permita a
As definições dos termos em Ciência são especifi-
comunicação dos saberes formulados, investigados;
cadas de forma que se generalize seu significado.
A utilização de metáforas para oferecer imagens Em Filosofia, um termo ou expressão pode ter
mais próximas a saberes já conhecidos, no esforço diferentes significados a depender do contexto e
de comunicação dos novos conhecimentos. da formulação argumentativa do autor. Exemplo: a
palavra “átomo”, em Química, e a palavra “sujeito”,
em Filosofia. É comum usarmos expressões como
“o entendimento da palavra sujeito” em Marx, em
Foucault, em Deleuze ou em Descartes.

Filosoàa e Filosofia e Literatura abordam temas em comum; Literatura: busca suscitar em nós emoções; tem um
Literatura a Literatura problematiza situações do cotidiano e caráter fictício; representa situações universais (o
provoca reflexão, assim como a Filosofia. universal) sob a forma de um conjunto de represen-
tações individuais.

1
SAVIANI, Dermeval. A Filosofia na formação do educador. In @@@@@. Educação: do senso comum à consciência filosÓfica. Campinas
Autores Associados, 2007. p. 24. http//XXX.autoresassociados.com.br. Lembramos que o tema citado já foi abordado nas Situaç×es
de Aprendizagem anteriores.

Proposta de situação de recuperação rio do àlosÓàco, sugerimos, como situação de


recuperação, que escrevam um texto poético e
Caso ainda exista diàculdade por parte de um texto àlosÓàco com o tema “morte”, atendo
alguns alunos para diferenciar o discurso literá- às deàniç×es de ambos dadas por Platão e Aris-

50
Filosofia – 3a série – Volume 2

tÓteles, no texto A leitura dos textos àlosÓàcos. cientíàco e àlosÓàco ao longo do tempo e o
Platão considerava que a poesia busca comover valor do conhecimento na sociedade contem-
e que a Filosofia procura a verdade. 0 bom porânea. Aborda a necessidade de um conhe-
poeta, segundo ele, é aquele que sabe provocar cimento comprometido com a preservação
em nÓs as emoç×es apropriadas. AristÓteles con- ambiental e com a construção de uma socie-
siderava o discurso poético como aquele que dade solidária e capaz de superar a exclusão
representa coisas fictícias como possíveis, não apenas de certos grupos sociais, mas de
enquanto a Filosoàa é um discurso que expressa continentes inteiros, como é o caso da África.
o que é, da forma que é. (Sugestão também presente no Caderno do
Aluno.)

Recursos para ampliar a perspectiva Artigo


do proGessor e do aluno para a
compreensão dos temas M0LINA, +orge A. A leitura dos textos
filosÓficos. Revista Signo, vol. 31, 200.
Livro Disponível em http//online.unisc.br/seer/
index.php/signo/article/vieXFile/438/291.
M0RIN, Edgar. A religação dos saberes o Acesso em 19 dez. 2013. Com linguagem clara,
desaào do século XXI. Tradução Flávia Nas- este texto faz uma comparação dos discursos da
cimento. 9. ed. Rio de +aneiro Bertrand Filosoàa com outros discursos. Sugerido para
Brasil, 2011. 0bra importante para compre- os alunos aprofundarem seus conhecimentos
ender as transformaç×es do conhecimento sobre as características dos textos àlosÓàcos.

SITUA¬«0 DE APRENDI;AGEM 
A FELICIDADE SEGUND0 0 EST0ICISM0 E 0 EPICURISM0
Nesta Situação de Aprendizagem, será com prudência, submetendo-o ao exame e à
abordado o tema felicidade, tomando-se por reáexão. Daí a importância da Filosoàa para
base as concepç×es de duas correntes àlosÓà- a conquista da felicidade. Antes, porém, de
cas do período helenístico (323 a.C.-147 a.C.) entrarmos na exposição sistemática dessas
o estoicismo e o epicurismo. Para o estoicismo, duas doutrinas, faremos uma introdução ao
a felicidade consiste em adequar nossa von- tema felicidade, procurando problematizar
tade ao destino, desejar apenas as coisas que brevemente sua deànição e evidenciar a sua
dependem de nÓs e eliminar todas as paix×es, importância como objeto da reáexão àlosÓ-
a àm de alcançar o estado de imperturbabili- àca, uma vez que dele se ocuparam inÙmeros
dade da alma – a ataraxia. Para o epicurismo, àlÓsofos. Nesta introdução, tentaremos, tam-
a felicidade reside em afastar os medos que bém, caracterizar o contexto histÓrico do
nos trazem infelicidade (como o medo dos helenismo, a fim de propiciar uma com-
deuses e da morte), descrer no destino, habi- preensão mais adequada do estoicismo e do
tuar-se a uma vida simples e buscar o prazer epicurismo.

51
Conteúdos e temas: a felicidade como tema da Filosoàa; o estoicismo e a felicidade como resignação;
a felicidade segundo o epicurismo; felicidade para além do estoicismo e do epicurismo.
CompetËncias e habilidades: relacionar informaç×es, representadas de formas variadas, com
conhecimentos disponíveis em diferentes situaç×es, para construir argumentação consistente;
problematizar a questão da felicidade, reconhecendo a relevância de reáetir de forma sistemática
e rigorosa sobre ela; identiàcar as contribuiç×es e os limites das concepç×es de felicidade abordadas
(estoicismo e epicurismo), posicionando-se criticamente em relação a elas; apropriar-se das ideias
principais dessas concepç×es e trabalhar com os princípios estudados; ler, compreender e interpretar
textos teÓricos e àlosÓàcos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemática; elaborar
hipÓteses e quest×es sobre leituras e debates realizados.
Sugestão de estratégias: levantamento das opini×es dos alunos sobre o problema da felicidade;
discussão em grupo das quest×es levantadas nas aulas; leitura sistemática e problematizadora de
textos e elaboração escrita do prÓprio pensamento; pesquisa bibliográàca complementar.
Sugestão de recursos: internet, caso a escola conte com esse recurso; bibliograàa complementar.
Sugestão de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o domínio do conteÙdo estudado (conceitos,
ideias, raciocínios etc.) pelos alunos; a capacidade de expressão clara, áuente, coerente, coesa, bem
articulada e consistente (bem fundamentada, buscando superar o senso comum); e o efetivo
envolvimento nas atividades propostas. Como instrumentos de avaliação, recomendam-se dissertaç×es
individuais; provas dissertativas e reáexivas; veriàcação das atividades do Caderno do Aluno;
participação em sala e outros que o professor julgar pertinentes.

Sondagem e sensibilização a) Felicidade não existe. SÓ existem momen-


tos felizes.
Esta sondagem será feita com as quest×es a
seguir a ser trabalhadas em grupo e cujo objetivo b) 0 dinheiro não traz felicidade.
é trazer à tona as concepç×es de felicidade que
eventualmente possuam e que, neste momento, c) A felicidade está dentro de cada um de
ainda se encontram no nível do senso comum. As nÓs.
perguntas encontram-se também no Caderno do
Aluno Pretende-se, com isso, iniciar o pro-
cesso de questionamento do senso
1. 0 que é felicidade para você Apresente comum sobre a questão da felici-
uma deànição. dade, “destruindo” algumas certezas e prepa-
rando o caminho para o estudo ulterior. Para
2. 0 que é preciso para ser feliz no mundo de tanto, vamos ler um texto introdutÓrio, repro-
hoje duzido a seguir e na seção Leitura e análise de
texto do Caderno do Aluno, com o objetivo
3. Você se considera feliz Por quê principal de contextualizar as doutrinas do
estoicismo e do epicurismo. Tal contextuali-
4. As frases a seguir traduzem pensamentos zação é fundamental para que o aluno com-
do senso comum a respeito da felicidade. preenda as raz×es pelas quais temas como esse
Comente-as, posicionando-se em relação a se tornaram tão relevantes e centrais naquele
elas e justiàcando seus argumentos. momento histÓrico.

52
Filosofia – 3a série – Volume 2

A Gelicidade como tema da Filosoàa


Se há algo nesta vida que todos, sem exceção, desejamos, é ser feliz. Quem nunca se perguntou
0 que é a felicidade 0 que é preciso para alcançá-la Ela existe realmente, ou podemos ter apenas
momentos felizes
Se procurarmos no dicionário, veremos que a felicidade é identificada com o “estado de uma
consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar”1. Mas, será que para ser feliz
basta satisfazer a consciência 0 “bem-estar” a que se refere a definição anterior não implica, também,
outros níveis de satisfação, como a das condiç×es materiais básicas, necessárias a uma vida digna e
confortável 0 Dicionário básico de Filosofia2 parece ampliar um pouco a noção de felicidade, conce-
bendo-a como “Estado de satisfação plena e global de todas as tendências humanas”. Como, porém,
atingir tal grau de satisfação Isso é possível
Desse modo, a questão da felicidade não é tão simples como à primeira vista pode parecer.
Enfrentá-la exige reflexão cuidadosa, sistemática, profunda e crítica, ou seja, precisa da ajuda da
Filosofia. De fato, ao longo da histÓria da Filosofia, ela foi objeto da preocupação de inÙmeros
pensadores, que, instigados por quest×es como as mencionadas no início deste texto, aventuraram-se
a apontar alguns caminhos que, na visão deles, poderiam levar à felicidade.
Com base nisso, vamos estudar duas correntes filosÓficas que se ocuparam desse tema – o estoi-
cismo e o epicurismo – e que surgiram em um mesmo momento histÓrico o período romano-helenís-
tico. Elas foram escolhidas em virtude de estarem entre as que exerceram e continuam a exercer grande
influência sobre nossa cultura, contribuindo significativamente para a formação das ideias que temos
acerca da felicidade. Para compreendê-las melhor, porém, é importante recordar brevemente o que foi
esse período histÓrico.
Tradicionalmente, o helenismo foi o processo de fusão da cultura grega com a dos povos orientais,
com predomínio da primeira sobre a Ùltima, fusão esta propiciada pelas conquistas de Alexandre
Magno. Esse processo teve início com a tomada da Grécia pela Macedônia, no século IV a.C., mar-
cando o fim da época clássica.
Do ponto de vista político, a principal consequência da invasão macedônica foi a dissolução da
polis, isto é, da cidade-Estado grega, que, pouco a pouco, foi perdendo sua autonomia. Antigas insti-
tuiç×es, como a assembleia dos cidadãos e a democracia ateniense, deixaram de existir. Não havia mais
espaço para a participação ativa dos cidadãos nas decis×es mais importantes da vida da população.
A rigor, não havia mais cidadãos, no sentido pleno da palavra, mas apenas “sÙditos” de um monarca
estrangeiro. As cidades outrora soberanas eram, agora, subjugadas por uma potência invasora.
No século II a.C., foi a vez de Roma conquistar a Grécia, transformando-a em província do
Império Romano e subtraindo-lhe definitivamente a liberdade.
Nesse contexto tumultuado, de decadência da polis e dos valores políticos e morais tradicionais,
de perda da liberdade, de sincretismo e de conflitos culturais causados pelo contato com outros povos
de tradiç×es e crenças diferentes, de insegurança constante provocada pela dominação estrangeira, de
medo da morte iminente, enfim, nesse ambiente de crise generalizada, era natural que a Filosofia
também sofresse significativas transformaç×es, mudando o foco de suas preocupaç×es.
De fato, no período clássico, a política era um dos temas centrais da reflexão filosÓfica. Basta lembrar
a importância fundamental que ela teve para SÓcrates, Platão e AristÓteles, que se ocuparam de quest×es

1
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa..
2
+APIASS¼, )ilton; MARC0NDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. 5. ed. Rio de +aneiro +orge ;ahar, 2008. p. 104.

53
de natureza essencialmente política, tais como Qual é a melhor forma de governo ; 0 que é uma cidade
justa ; Quais são as virtudes que devem prevalecer na polis ; Como deve ser a educação dos cidadãos ; Que
papel cumprem as leis . No helenismo, por outro lado, os assuntos políticos são postos de lado, cedendo
lugar às quest×es da vida privada e interior de cada indivíduo, especialmente aos problemas morais. Mas
agora, o que se espera da Filosofia é que ela aponte caminhos (por exemplo, por meio da indicação de
regras morais práticas) para a eliminação do sofrimento humano e para a conquista da felicidade – ambos,
sofrimento e felicidade, entendidos como problemas meramente individuais, subjetivos.
Assim, a felicidade passou a ser um tema central da Filosofia, como resultado das condiç×es impostas
pela nova realidade social, política e cultural vivida pelos gregos naquele momento histÓrico.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

ApÓs a leitura do texto, peça aos alunos que duzido a seguir e no Caderno do Aluno na seção
se reÙnam em grupos para explicar as quest×es a Exercícios. ApÓs a análise cuidadosa, peça que
seguir, conforme proposta do Caderno do Aluno respondam às quest×es que seguem ao texto.

1. Em que medida o helenismo ináuenciou as


Concede-me, Senhor, a serenidade necessá-
temáticas àlosÓàcas na Grécia e por quê
ria para aceitar as coisas que não posso modi-
ficar, coragem para modificar as que eu posso
2. Você considera que a Filosoàa pode con- e sabedoria para distinguir umas das outras.
tribuir para o enfrentamento do problema
da felicidade Como Frase atribuída a Reinhold Niebuhr.

No primeiro caso, o objetivo é que eles per-


cebam a vinculação entre essa mudança e as 1. )á coisas que não podemos modiàcar e há
transformaç×es ocorridas na sociedade grega, coisas que podemos Quais são elas
em virtude da ocupação macedônica. No
segundo, que se posicionem livremente sobre a 2. Como podemos distinguir umas das outras
pergunta apresentada, a àm de veriàcar, ao tér-
mino da Situação de Aprendizagem, se essa 3. 0 que signiàca aceitar com serenidade as
opinião sofre alteração signiàcativa. coisas que não podemos modiàcar

Ao concluir esta primeira etapa, espera-se Realizada a atividade, vamos iniciar


que os alunos tenham percebido que a questão um estudo mais sistemático do estoi-
da felicidade não é tão simples, como, à pri- cismo por meio do texto intitulado O
meira vista, pode parecer, e que eles necessitam estoicismo e a felicidade como resignação, dispo-
de estudos mais aprofundados para se posicio- nível no Caderno do Aluno e reproduzido a
nar com mais consistência em relação a ela. seguir. Trata-se de um texto sintético, que procura
destacar algumas das ideias mais importantes
Na segunda etapa, vamos nos dedicar ao sustentadas por essa corrente àlosÓàca acerca da
estudo do estoicismo. Inicialmente, com o intuito felicidade, a àm de permitir aos alunos um pri-
de abordar elementos familiares aos alunos (do meiro contato com tais ideias. ­ desejável que
senso comum), propomos que se discuta em você, professor, acrescente outros elementos que
grupos uma frase de um texto bastante divul- levem a um aprofundamento, bem como indique
gado e conhecido, a Oração da serenidade, repro- aos alunos outras fontes de consulta e de estudo.

54
Filosofia – 3a série – Volume 2

O estoicismo e a Gelicidade como resignação


0 nome estoicismo vem do termo grego stoa, que significa “pÓrtico”. Isso porque ;enão de Cício,
fundador dessa escola filosÓfica, costumava ensinar nas proximidades do PÓrtico de Poikilé (o qual
fora ornamentado pelo pintor Polignoto), em Atenas.
Trata-se de uma corrente de pensamento que se entendeu do século IV a.C. ao século II d.C., e que
repercute até os dias atuais.
Deixando de lado algumas diferenças entre os pensadores do estoicismo (também chamados
“estoicos”), podemos dizer que, de modo geral, para eles, existe uma Razão Divina (o Logos, ou Deus)
que rege todo o universo, imprimindo-lhe uma ordem necessária (isto é, que não pode ser de outro
jeito) e perfeita. Este Logos, ou Deus, entretanto, não é um ser pessoal e transcendente que existiria
em algum lugar fora do mundo e de onde exerceria seu governo sobre a natureza e os seres humanos.
Antes, trata-se de um deus imanente, ou seja, inseparavelmente integrado ao mundo físico e material.
Daí a ideia de que Deus está em tudo, Deus é tudo. ­ a doutrina do panteísmo, segundo a qual Deus
e o universo são concebidos como realidades intrinsecamente entrelaçadas ou mesmo como “uma
Ùnica realidade integrada”1.
0ra, se a ordem do universo é regida por um Deus imanente, e se esse Deus é identificado com o
Logos, isto é, com a Razão, pode-se concluir que há no universo (repleto do Deus-Logos) uma ordem
racional necessária e perfeita. Em outras palavras, as coisas são (e não poderiam deixar de ser) como
a Razão Divina quer que elas sejam. Por isso, elas são precisamente como devem ser e como é bom
que sejam. Se um determinado acontecimento – por exemplo, uma doença – , visto isoladamente,
parecer sinal de imperfeição ou irracionalidade, tomado em sua articulação com o todo, veremos que,
na realidade, contribui para a realização da perfeição desse todo.
)á, portanto, no estoicismo certa noção de Providência Divina, embora não no sentido de uma
providência transcendente, praticada por um Deus pessoal, como no Cristianismo. A providência dos
estoicos assemelha-se mais à ideia de Destino, no sentido de que, se tudo deriva do Logos Divino,
então tudo é necessário, ou seja, tudo é como deve ser, sem nenhuma possibilidade de que seja de outro
jeito. ­ bom que seja assim, visto que a origem, em Ùltima instância, está em Deus, na Razão Divina.
Mas, se tudo é necessário, como fica a liberdade humana Para os estoicos a verdadeira liberdade,
aquela praticada pelos sábios, consiste em adequar a vontade ao Destino, desejando aquilo que ele
prepara para cada um. Afinal, se o Destino é obra da Providência Divina e se Deus é o Logos, então
desejar o que o Destino traz é o mesmo que se deixar guiar pela Razão Divina. Isso é sabedoria.
Essa é a chave para a felicidade, segundo o estoicismo. Se desejarmos algo contrário ao nosso
Destino e que, portanto, não poderemos alcançar, certamente ficaremos frustrados e infelizes. Por
outro lado, se conformarmos nossa vontade a ele, desejando apenas o que efetivamente está ao nosso
alcance, nossas chances de felicidade serão muito maiores.
A felicidade, para o estoicismo, consiste também em buscar o bem, isto é, a virtude, e evitar o mal,
ou seja, o vício. Bem e mal, portanto, são entendidos em um sentido puramente moral. As coisas
relativas ao corpo, independentemente de serem nocivas ou saudáveis, não são em si boas nem más,
mas indiferentes. Como explica ;enão
“0s entes dividem-se em bons, maus e indiferentes. Bons (os bens) são os seguintes inteligência,
temperança, justiça, fortaleza e tudo aquilo que é virtude ou participa da virtude. Maus (ou males)
são os seguintes idiotice, dissolução, injustiça, vileza e tudo aquilo que é vício ou participa do vício.

1
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

55
Indiferentes são a vida e a morte, a celebridade e a obscuridade, a dor e o prazer, a riqueza e a pobreza,
a doença e a boa saÙde, e coisas semelhantes a estas.”2
Além disso, como diz Epicteto, a felicidade também está ligada à nossa capacidade de discernir entre
as coisas que dependem de nÓs e as que não dependem, buscando apenas as primeiras e permanecendo
indiferentes em relação às segundas. Caso contrário, seremos infelizes, pois não temos poder algum sobre
as coisas que não dependem de nÓs. Nas palavras do filÓsofo
“Sob nosso controle estão as nossas opini×es, aspiraç×es, desejos e as coisas que nos causam repulsa
ou nos desagradam. Essas áreas são justificadamente da nossa conta, porque estão sujeitas à nossa
influência direta. Temos sempre a possibilidade de escolha quando se trata do conteÙdo e da natureza
de nossa vida interior.
Fora do nosso controle, entretanto, estão coisas como o tipo de corpo que temos, se nascemos ricos
ou se enriquecemos de repente, a maneira como somos vistos pelos outros ou qual é a nossa posição na
sociedade. Devemos lembrar que essas coisas são externas e, portanto, não dependem de nÓs. Tentar
controlar ou mudar o que não podemos sÓ resulta em aflição e angÙstia.
Lembre-se as coisas sob nosso poder estão naturalmente à nossa disposição, livres de qualquer
restrição ou impedimento. As que não estão, porém, são frágeis, sujeitas a dependência ou determinadas
pelos caprichos ou aç×es dos outros. Lembre-se também do seguinte se você achar que tem domínio
total sobre coisas que estão naturalmente fora do seu controle, ou se tentar assumir as quest×es de outros
como se fossem suas, sua busca será distorcida e você se tornará uma pessoa frustrada, ansiosa e com
tendência para criticar os outros.”3
A felicidade, segundo os estoicos, exige também que adotemos uma atitude de apatia em relação às
paix×es, pois essas, em geral, são causa de perturbação e infelicidade para nossa alma. Sentimentos como
medo, dor, piedade, inveja, ciÙme, aflição, ansiedade, cobiça, raiva, amor (especialmente quando não
correspondido), Ódio, volÙpia, entre outros, nos aprisionam, nos atribulam e nos impedem de ter paz de
espírito. Suprimi-los, portanto, é a atitude do sábio e o caminho para a ataraxia, isto é, o estado de
imperturbabilidade da alma necessário à conquista da felicidade.
Em suma, a felicidade estoica consiste em não desejar mais do que se pode ter, conformar-se com o
Destino, discernir entre as coisas que dependem e as que não dependem de nÓs, tornando-nos indiferentes
a essas Ùltimas, e renunciar às paix×es que são causa de dor e sofrimento. ­, pois, uma
disposição da vontade individual. Sou eu quem decide ser feliz, disciplinando meus desejos através de
minha razão. Trata-se, portanto, de uma concepção idealista da felicidade, que desconsidera a influência
de fatores externos que a determinam e que, por isso mesmo, conduz ao conformismo, à resignação, à
apatia. Em um contexto de tantas turbulências, como foi o do helenismo, compreende-se por que os
preceitos do estoicismo lograram tamanha aceitação, sobrevivendo com vigor até os nossos dias.

2
;enão, fragmento 38-39. In REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. HistÓria da Filosofia Filosofia pagã antiga. São
Paulo Paulus, 2003. p. 29, v. 1.
3
EPICTET0. A arte de viver uma nova interpretação de Sharon Lebell. Tradução Maria Luiza NeXlands da Silveira. Rio
de +aneiro Sextante, 200. p. 14.

Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Consideramos importante destacar desse existe uma Razão Divina (o Logos, ou Deus)
texto os seguintes aspectos a origem do que rege todo o universo, imprimindo-lhe
nome estoicismo; os períodos em que a his- uma ordem necessária (isto é, que não pode
tÓria da escola se dividiu; a ideia de que ser de outro jeito), racional e perfeita; a

5
Filosofia – 3a série – Volume 2

noção estoica de providência imanente, que A terceira etapa desta Situação de Aprendi-
difere da que temos nos dias atuais; a noção zagem terá como tema o epicurismo. Mais uma
de liberdade como adequação da vontade ao vez, iniciamos com uma atividade que pretende
Destino; a relação entre a felicidade e a problematizar o senso comum dos alunos a
capacidade de discernir entre as coisas que respeito de alguns temas caros ao epicurismo e
dependem de nÓs e as que não dependem, ao que serão trabalhados de forma sistemática no
optar pelas primeiras e permanecer indife- texto a seguir. Trata-se de uma dinâmica de
rentes em relação às segundas; a importân- grupos na qual os alunos devem debater as
cia e o papel da apatia na busca da felicidade; seguintes quest×es da seção Exercícios do
o caráter idealista e conformista da felici- Caderno do Aluno e anotar suas consideraç×es
dade estoica, bem como o significado polí- em relação a elas
tico de suas teses.
1. Você tem medo da morte E de Deus Dis-
Concluído o trabalho com o texto, propo- cuta com seus colegas e justiàque, indivi-
mos algumas quest×es para serem debatidas dualmente, anotando suas ideias a seguir.
em grupo e respondidas no espaço destinado
à atividade no Caderno do Aluno. Essas 2. Caso tenha esses medos, acredita que eles
quest×es têm o intuito de ajudar na àxação sejam obstáculos à sua felicidade Por quê
do conteÙdo estudado e na ampliação da 0 que pensam os colegas sobre esses medos
reáexão.
3. Para você, que papel tem o prazer na con-
1. Quais são as recomendaç×es do estoi- quista da felicidade
cismo para a conquista da felicidade
Você concorda com elas +ustiàque. Terminada a discussão, sugerimos a
leitura do texto A felicidade segundo
2. Você considera que a morte, a saÙde, o epicurismo, reproduzido a seguir e
a doença, a beleza, a feiura, a riqueza, a também no Caderno do Aluno, na seção Lei-
pobreza, a escravidão e a liberdade não tura e análise de texto. 0 objetivo dessa lei-
dependem de nÓs +ustiàque. tura é a introdução ao estudo da concepção
de felicidade dessa doutrina. Nesse caso, a
3. Você reconhece traços do estoicismo na principal fonte consultada foi a Carta a Mene-
Oração da serenidade, apresentada ante- ceu, ou Carta sobre a felicidade, de Epicuro.
riormente Explicite-os. Novamente, vale lembrar que sempre é dese-
jável que você, professor, acrescente outros
4. Indique pelo menos uma situação do elementos e proponha outras fontes bibliográ-
cotidiano que possa ser interpretada à luz àcas, com a ànalidade de oferecer ao aluno
do estoicismo. oportunidade de aprofundamento do estudo.

A Gelicidade segundo o epicurismo


Epicuro (341-270 a.C.) nasceu na ilha grega de Samos, mas passou boa parte de sua vida em
Atenas, onde fundou uma escola filosÓfica, mais tarde denominada epicurismo. A escola funcionava
no jardim de sua casa e, por isso, ficou conhecida como “+ardim de Epicuro”.
Uma de suas principais preocupaç×es era com a questão da felicidade. Em sua famosa Carta a
Meneceu, mais conhecida como Carta sobre a felicidade, ele nos revela alguns ensinamentos para que
alcancemos a felicidade e a conservemos ao longo de nossas vidas.

57
Logo de início, ele enaltece a utilidade da Filosofia para a obtenção da “saÙde do espírito”,
isto é, da felicidade. Isso porque é filosofando que aprendemos a distinguir entre as coisas que
nos aproximam da felicidade e as que dela nos distanciam, optando pelas primeiras e evitando as
segundas.
Em seguida, Epicuro faz algumas recomendaç×es para quem deseja ter uma vida feliz. Em primeiro
lugar, é preciso afastar as falsas opini×es que, em geral, temos sobre os deuses e que nos levam a
temê-los, pois esse temor também é causa de infelicidade. Para o autor, os deuses existem realmente,
são imortais e bem-aventurados, mas vivem em um mundo supra-humano e em nada interferem em
nossa vida, nem para nos socorrer nem para nos castigar. Por isso, não há motivos para temê-los. Pela
mesma razão, preces, sacrifícios e louvores são inÙteis e desnecessários.
Em segundo lugar, temos de nos libertar do medo da morte, outro obstáculo à nossa felicidade. De
acordo com Epicuro, não há por que temê-la, pois não temos como saber se ela é um bem ou um mal.
0ra, sabemos se uma coisa é boa ou ruim pelas sensaç×es que ela nos provoca. A morte, porém, nada
mais é do que a ausência de toda e qualquer sensação. Portanto, a morte não é nada para nÓs. Na
realidade, nunca a encontraremos, pois enquanto estamos vivos ela está ausente e, quando ela chegar,
nÓs é que não estaremos presentes, já que não teremos mais nenhuma sensação. ­ tolice, portanto, nos
angustiarmos pela espera da morte. Essa consciência de que a morte nada significa para nÓs é impor-
tante para que aproveitemos melhor a vida enquanto a temos e sejamos felizes no momento presente.
Essa é a atitude do sábio, que nem desdenha a vida (como se ela fosse um fardo insuportável) nem se
apega a ela em demasia (a ponto de desejar a imortalidade), mas que sabe vivê-la bem.
Em terceiro lugar, Epicuro recomenda que não acreditemos no destino e na sorte, como se deles
dependesse nossa felicidade, pois essa crença também pode ser motivo de perturbação de nossa alma,
porque o que vai acontecer no futuro é uma construção de cada um e não sorte ou destino. Entretanto,
essa construção sofre influência alheia e nem sempre o que se planeja se concretiza. Logo, é algo que
nos pertence e ao mesmo tempo não.
Em quarto lugar, para sermos felizes, também precisamos conhecer bem os nossos desejos e dire-
cionar nossas escolhas àquilo que contribui para a manutenção da boa forma física e o cultivo de um
espírito plácido, porque, segundo Epicuro, esse é o propÓsito da vida feliz. 0 critério dessa escolha é,
em Ùltima instância, a distinção entre prazer e dor. De fato, para Epicuro, a principal finalidade da
vida humana é o prazer. Mas não se trata de qualquer prazer. Somente dos que passam pelo crivo da
avaliação dos benefícios ou danos que podem ser advindos deles, para o homem que os usufrui.
Além disso, como nem tudo o que desejamos está ao nosso alcance, devemos aprender a extrair
prazer daquilo que temos, ou das coisas simples da vida, em vez de sofrer pela falta daquilo que não
podemos ter. ­ o que Epicuro chama de autossuficiência.
0 prazer, para Epicuro, não se confunde com a busca irrefletida e desenfreada do prazer cego;
trata-se, antes, do prazer entendido como estado de conforto e tranquilidade, Ùnico capaz de nos
proporcionar a verdadeira felicidade.
Portanto, o prazer, para ser de fato fonte de felicidade, precisa ser temperado pela prudência, que,
para Epicuro, é o bem máximo, a primeira de todas as virtudes.
0ra, nada melhor do que a Filosofia para nos ajudar a empreender essa reflexão que nos permite
distinguir entre as coisas que verdadeiramente nos trazem prazer e as que nos provocam dor e viver
segundo a prudência. Eis a importância fundamental da Filosofia para a conquista da felicidade,
segundo Epicuro.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

58
Filosofia – 3a série – Volume 2

Para complementar o estudo do texto, çar um prazer ainda maior. ApÓs descrevê-la,
peça aos alunos que realizem as atividades, os alunos deverão posicionar-se em relação a
conforme proposta do Caderno do Aluno. ela e justiàcar a posição assumida.

1. Considere as situaç×es descritas a seguir. A outra atividade, sugerida como


Lição de casa no Caderno do Aluno,
a) Uma pessoa é diabética e, por isso, abs- é composta de duas quest×es e uma
tém-se de comer doces. pequena pesquisa. As quest×es são as seguintes

b) 0s encarcerados decidem fazer greve de 1. Resuma os conselhos de Epicuro para se


fome para chamar a atenção da popula- alcançar a felicidade.
ção e das autoridades para o problema
da superlotação da penitenciária. 2. Que papel Epicuro atribuiu à Filosoàa na
busca da felicidade Você concorda com
c) 0 jovem deixa de viajar com os amigos ele +ustiàque.
no feriado prolongado para estudar
para o vestibular. No caso da segunda questão, ela serve para
que os alunos reflitam sobre a resposta que
d) 0 pai desempregado corta gastos supér- deram à pergunta realizada anteriormente
áuos para garantir o que é básico para a Você considera que a Filosoàa pode contribuir
sobrevivência da família. para o enfrentamento do problema da felicidade?
Como? 0 principal objetivo dessas quest×es é
e) A jovem diz “não” ao namorado por ele reforçar o entendimento do texto e procurar
insistir em não usar preservativo. favorecer a apropriação do conteÙdo estudado
e a reáexão sobre o tema felicidade.
Agora, responda Como cada uma delas
se relaciona com a doutrina de Epicuro Você Como proposta de Pesquisa indi-
concorda com as atitudes tomadas +ustiàque vidual, de acordo com o Caderno
sua posição. do Aluno, solicite aos alunos que
escolham uma mÙsica que melhor repre-
2. Descreva uma situação vivida ou presenciada sente a sua concepção de felicidade. Eles
por você na qual tenha ocorrido a privação devem transcrever a letra em folha à parte e
deliberada de um prazer a àm de evitar um so- levá-la para a aula seguinte para discutir
frimento, ou alcançar um prazer ainda maior. com seus colegas.
Você concorda com essa atitude +ustiàque.

0bviamente, professor, você pode e deve Avaliação da Situação de


propor outras atividades que julgar mais ade- Aprendizagem
quadas à realidade dos alunos. 0 importante
é que eles demonstrem compreensão do con- Sabemos que é você, professor,
teÙdo estudado por meio da análise dessas quem tem as melhores condiç×es de
situaç×es. Depois de comentarem essas aàr- saber quando e como avaliar seus
maç×es, eles deverão descrever outra situação, alunos. De todo modo, vamos apresentar a
extraída de sua prÓpria experiência de vida, seguir algumas sugest×es como contribuição,
retratando a privação deliberada de um pra- também disponíveis no Caderno do Aluno, na
zer, a àm de evitar um sofrimento ou de alcan- seção Você aprendeu .

59
Se julgar conveniente, as atividades desen- tica”. Nesse trabalho o aluno apresentaria
volvidas ao longo das aulas podem servir de uma síntese das principais teses das duas
instrumentos de avaliação para veriàcar se as doutrinas e o seu posicionamento pessoal em
competências e habilidades esperadas foram relação a elas. Na argumentação seria inte-
satisfatoriamente desenvolvidas. ressante que fossem feitas citaç×es dos textos
àlosÓàcos, acompanhadas das devidas refe-
Caso considere necessário acrescentar rências bibliográàcas.
outras, uma possibilidade seria elaborar um
questionário voltado para a veriàcação da com-
preensão e da apropriação das ideias centrais Recursos para ampliar a perspectiva
das duas correntes àlosÓàcas estudadas. Nesse do proGessor e do aluno para a
caso, as perguntas poderiam ser as seguintes compreensão dos temas
1. Em que sentido a concepção estoica da felici- Crônica
dade conduz à resignação, ao conformismo
Como você se posiciona em relação a isso LISPECT0R, Clarice. Felicidade clandestina.
A concepção estoica pode conduzir ao conformismo uma In Felicidade clandestina. Rio de
vez que defende a aceitação da natureza e da vida tal como +aneiro Rocco, 2013. Crônica em que a autora
se apresentam e se oferecem ao ser humano. Defende tam- questiona o que é felicidade e como agir para
bém o cultivo da indiferença perante o sofrimento. obtê-la e conservá-la. (Sugestão também pre-
sente no Caderno do Aluno.)
2. Cite e explique pelo menos três recomenda-
ç×es de Epicuro que mostram como chegar à Livros
felicidade. Você concorda com elas Por quê
A retomada do texto permite encontrar as três recomenda- ABBAGNAN0, Nicola. Dicionário de Filosoàa.
ções de Epicuro para se chegar à felicidade: não esperar que . ed. Tradução Alfredo Bosi. São Paulo WMF
os deuses interfiram na vida humana; não temer a morte e Martins Fontes, 2012. Pode ser de grande ajuda
compreender que o futuro não depende de cada um de nós no entendimento dos conceitos de felicidade e
e que não somos totalmente donos de nosso destino. de beatitude.

3. Você concorda com as concepç×es de feli- EPICUR0. Carta sobre a felicidade – a


cidade do estoicismo e do epicurismo Meneceu. São Paulo Editora da Unesp,
+ustiàque. 2002. Foi a principal referência para o estudo
Espera-se que o aluno explicite seu posicionamento diante do epicurismo. Trata-se de um livro bem
das duas correntes estudadas, justificando-o com argumentos pequeno, em edição bilíngue e de baixo
que podem ser embasados em sua experiência de vida ou em custo, que pode, até mesmo, ser usado na
argumentos lógicos fundamentados nas leituras realizadas. íntegra com os alunos se o professor assim
desejar. (Sugestão também presente no
Caderno do Aluno.)
Proposta de situação de recuperação
EPICTET0. A arte de viver uma nova inter-
Se o aluno ainda não conseguiu o rendi- pretação de Sharon Lebell. Tradução Maria
mento esperado, uma possível atividade de Luiza NeXlands da Silveira. Rio de +aneiro
recuperação poderia ser uma dissertação Sextante, 200. Trata-se de uma adaptação
com o título “A felicidade na perspectiva do simpliàcada de partes de obras de Epicteto,
estoicismo e do epicurismo abordagem crí- na qual, porém, o intérprete aàrma procurar

0
Filosofia – 3a série – Volume 2

conservar a autenticidade da mensagem do ciam a felicidade ao prazer, sob diferentes


autor, embora não necessariamente por meio perspectivas, inclusive do epicurismo.
do texto literal. Tal simpliàcação, embora
traga o risco de alguma distorção, pode faci- REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. His-
litar o entendimento por parte do aluno, tÓria da Filosofia Filosofia pagã antiga. 4.
razão pela qual as citaç×es de Epicteto foram ed. São Paulo Paulus, 2009.(Coleção )istÓ-
colhidas dessa obra. 0 referido risco, por sua ria da Filosofia). Trata-se de um manual de
vez, pode ser minimizado mediante a utiliza- histÓria da Filosofia que pode ajudar na
ção, pelo professor, do Manual de Epicteto, preparação das aulas sobre estoicismo e
indicado a seguir, como obra de referência. epicurismo. 0 livro traz trechos dos prÓ-
prios filÓsofos que podem ser acrescentados
@@@@@. Manual de Epicteto. Tradução Pedro ao material didático, com a finalidade de
Alvim, s/l, Vega, 1992. ReÙne máximas e afo- aprofundar e ampliar o conhecimento dos
rismos de Epicteto, cuja leitura é importante alunos.
para a compreensão das ideias do autor e para
o preparo das aulas. VÁ;QUE;, Adolfo S. Ética. 30. ed. Rio de
+aneiro Civilização Brasileira, 2008. 0 capí-
GIANNETTI, Eduardo. Felicidade diálogos tulo XI, intitulado “Doutrinas éticas funda-
sobre o bem-estar na civilização. São Paulo mentais”, trata muito brevemente das correntes
Companhia das Letras, 2010. Trata-se de àlosÓàcas aqui estudadas. Por sua vez, o capí-
uma interessante discussão sobre o tema da tulo VII, intitulado “A avaliação moral”, traz
felicidade, escrita na forma de um diálogo uma interessante reáexão sobre o tema felici-
entre quatro amigos, na qual o autor faz dade, particularmente no tÓpico 3 “0 bom
referência a uma vasta quantidade de auto- como felicidade” (eudemonismo).
res, oferecendo muitos subsídios para a pre-
paração das aulas. VERGE;, André; )UISMAN, Denis. HistÓria
dos àlÓsofos ilustrada pelos textos. Rio de +aneiro
L0REN;0N, Alino. A ética do prazer. Reáe- Freitas Bastos, 1982. Trata-se, também, de um
xão. Campinas PUC, ano V, n.18, p. 57-5, manual de )istÓria da Filosoàa, mais resumido,
set.-dez. 1980. 0 autor faz uma interessante que também aborda o estoicismo e o epicurismo
discussão sobre algumas doutrinas que asso- e traz excertos de textos dos àlÓsofos.

SITUA¬«0 DE APRENDI;AGEM 7
SER FELI; ­ PRECIS0
Nesta Situação de Aprendizagem, vamos competitivas, como ter sucesso e reconheci-
trabalhar a Filosofia em relação a algumas mento social, e, ainda, como viver a vida
quest×es prÓprias do cotidiano atual dos densa de glamour que é propagandeada em
jovens brasileiros e que cercam o tema feli- anÙncios nos meios de comunicação de
cidade. Tais quest×es referem-se às represen- forma geral. Diante de tudo isso, uma per-
taç×es que associamos à ideia de felicidade, gunta fundamental é Quais são os fetiches
como o prazer imediato, o consumo, como associados à ideia de felicidade em nosso
levar vantagens em diferentes situaç×es cotidiano cultural

1
Conteúdos e temas: valores associados à felicidade; entraves à felicidade; aspectos biolÓgicos, psi-
colÓgicos e sociais da felicidade.

CompetËncias e habilidades: relacionar informaç×es, representadas de formas variadas, com


conhecimentos disponíveis em diferentes situaç×es, para construir argumentação consistente (Enem);
problematizar o tema felicidade, tendo em vista quest×es da sociedade brasileira contemporânea,
e sensibilizar-se quanto à relevância de reáetir de forma sistemática e rigorosa sobre tais quest×es;
ler, compreender e interpretar textos teÓricos e àlosÓàcos; expressar-se por escrito e oralmente de
forma sistemática; elaborar hipÓteses e quest×es sobre leituras e debates realizados.

Sugestão de estratégias: levantamento das opini×es dos alunos sobre o problema da liberdade;
discussão em grupo das quest×es levantadas nas aulas; leitura sistemática e problematizadora de
textos e elaboração escrita do prÓprio pensamento; pesquisa bibliográàca complementar.

Sugestão de recursos: internet para bibliograàa complementar; Caderno do Aluno.

Sugestão de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o domínio pelos alunos do conteÙdo estudado
(conceitos, ideias, raciocínios etc.); a sua capacidade de expressão clara, áuente, coerente, coesa,
bem articulada e consistente (bem fundamentada, buscando superar o senso comum); e o seu
efetivo envolvimento nas atividades propostas.

Sondagem e sensibilização sobre suas respostas e apresentem uma síntese


que contemple, de forma objetiva e sintética, as
Nesta sondagem e sensibilização, abordare- características da Pasárgada de cada um.
mos a relação entre o tema felicidade e as ques-
t×es destacadas nesta Situação de Aprendizagem. Trata-se de uma atividade que não abarca
Então, propomos que os alunos leiam, em sala critérios de certo e errado, porém, é necessário
de aula, com atenção, a poesia bastante conhe- ajudá-los a classiàcar suas condiç×es para a feli-
cida de Manuel Bandeira Vou-me embora pra cidade nestas categorias possuir bens materiais,
Pasárgada. 0riente-os para que a procurem na ser bem-sucedido financeiramente, ser bem-
biblioteca da escola ou na internet e peça que -sucedido afetivamente, ter saÙde, apresentar
tragam para a aula. ApÓs a leitura, eles devem bom desempenho nos esportes ou na escola.
responder às seguintes quest×es, conforme pro- Com essa classificação, chegaremos a um
posto no Caderno do Aluno mapeamento de valores associados à felicidade.

1. Quais imagens associadas à palavra felici- Na etapa seguinte, é preciso fazer


dade são apresentadas na poesia uma reáexão a respeito da fantasia
que temos sobre um lugar como
2. Retome sua resposta sobre o signiàcado de Pasárgada, no qual possamos realizar todos os
felicidade, da Situação de Aprendizagem nossos desejos. Para tanto, sugerimos aos alu-
anterior, e substitua esses fatos por outros nos que leiam o breve texto a seguir, presente
que correspondam ao seu ideal de felicidade. também na seção Leitura e análise de texto do
Caderno do Aluno, e, depois, que respondam
Em seguida, peça aos alunos que conversem às quest×es que o acompanham.

2
Filosofia – 3a série – Volume 2

Entraves à Gelicidade
A humanidade pode contar com diversos lugares imaginários como Pasárgada, nos quais a
felicidade plena e eterna existe. Além de Manuel Bandeira, Luís de Cam×es, no poema épico Os
lusíadas, descreve a Ilha dos Amores, lugar da satisfação do desejo e da utopia.
A ideia de um paraíso ou de um lugar especial, no qual realizamos todos os nossos desejos, faz
parte do imaginário humano, justamente porque em nosso cotidiano, em nossa experiência de vida,
encontramos diversos entraves para a realização dos nossos desejos. Integram nossa cultura, também,
as fantasias em torno do que faríamos se ganhássemos na loteria, por exemplo.
Imaginar um lugar de felicidade eterna ou uma condição material capaz de comprar tudo o que
necessitamos e desejamos são fantasias diretamente relacionadas ao fato de que nossos desejos sofrem
limitaç×es ou entraves que geram frustraç×es. Faz parte de um bom processo de maturidade aprender
a lidar com essas frustraç×es.
A reflexão filosÓfica pode ajudar na identificação dos limites ou entraves aos nossos desejos e na
compreensão sobre o modo como lidamos com eles. A felicidade depende mais da maneira como nos
relacionamos com esses limites e entraves do que, propriamente, da satisfação dos nossos desejos.
Pode-se afirmar, sem medo de errar, que a histÓria da Filosofia é marcada pela preocupação dos
filÓsofos a respeito das condiç×es dos seres humanos para o enfrentamento de seus sofrimentos, de
suas frustraç×es, de suas inquietaç×es e para a compreensão dos prÓprios limites.
Grande parte da produção em Filosofia e em Psicologia ajuda os seres humanos a compreender
que nem sempre desejo e necessidade andam juntos. No mundo contemporâneo, sob o efeito da
publicidade e de todo o apelo da sociedade de consumo, somos cada vez mais influenciados a desejar
o que não necessitamos ou a acreditar que necessitamos o que nos ensinam a desejar.
FilÓsofos contemporâneos como +ean Baudrillard (1929-2007), Walter Benjamin (1892-1940),
Friedrich Nietzsche (1844-1900), +ean-Paul Sartre (1905-1980) produziram reflex×es sobre temas
como consumo, prazer, convívio social e limites à felicidade humana. São autores que problematizam
o tema felicidade no âmbito da Filosofia.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

ApÓs a leitura do texto Entraves à felicidade, De posse das respostas dadas às quest×es
os alunos poderão, a seu critério, responder às apresentadas, convide alguns alunos a apre-
seguintes quest×es, que também se encontram sentar suas hipÓteses. Você poderá fazer uma
no Caderno do Aluno síntese do exercício chamando a atenção para
a importância da compreensão de que muitos
1. Como se apresenta, no texto, uma possível de nossos desejos são primordiais, relativos à
justiàcativa para o fato de imaginarmos nossa condição biolÓgica ou psicolÓgica, mas
lugares nos quais nossa felicidade poderia muitos deles são associados aos valores de
ser completa e eterna cada momento histÓrico e, se em um passado
não muito distante éramos capazes de viver
2. Por que nosso processo de maturidade sem telefones celulares, atualmente esse objeto
emocional deve contemplar a ideia de que é tido pela maioria das pessoas como de
estamos sujeitos a frustraç×es em nossos extrema necessidade, além de se constituir em
desejos um sonho de consumo de muita gente. De

3
maneira geral, na nossa sociedade, associa- crescente, à adoção de uma imagem ou a um
mos a felicidade à prosperidade econômica padrão de comportamento idealizado
como crescimento constante de consumo de
bens ou como adoção de um padrão de vida Para reáetir sobre o assunto, sugeri-
e um comportamento que nos conduziria para mos a leitura do trecho que segue,
a felicidade. Mas será que a nossa felicidade reproduzido também na seção Lei-
pode ser resumida a um consumo sempre tura e análise de texto do Caderno do Aluno.

O hedonismo moderno: uma arma trágica de dois gumes


Indubitavelmente, vivemos em uma época na qual a promessa de felicidade [...] estaria no
final da trilha de um comportamento que chamaríamos de hedonista. 0 hedonismo não é inven-
ção moderna. E pode ter tido, ao longo da histÓria, várias vers×es. [...]
Em termos genéricos, poderíamos dizer que o hedonismo que se nos apresenta hoje em dia
prop×e extrair da liberdade individual o máximo de prazer disponível, o que seria o equivalente a
ser feliz. Emprego o termo disponível para sinalizar a possibilidade de consumo de todas as benes-
ses que o progresso tecnolÓgico nos p×e à disposição. Quanto mais pudermos consumir, mais
seremos felizes. Essa é a promessa embutida na crença propagada pelos meios de produção. [...]
Essa proposta hedonista se insere dentro de uma arquitetura de “raz×es”, algumas explícitas,
outras implícitas. ­ importante não sÓ assinalá-las, como discutir suas consequências.
A primeira delas aponta não apenas que podemos ser felizes, mas que devemos ser felizes. [...]
A segunda “razão” formula, generosamente, em termos explícitos, as trilhas e as atitudes que
todas as pessoas devem adotar para chegarem “lá”. 0 que fica implícito (ou oculto) na proposta
é a contradição nela embutida que a decantada liberdade individual na escolha dos prazeres fica
tolhida, quando não negada, pelo fato de se imporem às pessoas padr×es de consecução de
prazer. Exemplos a mulher feliz é a que…; o homem de sucesso é aquele que…; [...] A obrigação
de ser feliz é também condicionada à posse de um corpo cujas características estéticas estão
determinadas, a priori, por padr×es preestabelecidos. Quem não se enquadrar nesse padrão, trate
de alcançá-lo, senão… [...] Estamos aqui em plena vigência de outra contradição os mesmos
modelos ofertados para se alcançar uma felicidade padronizada, idealizada, acabam arrastando
a pessoa para frustração, culpa e sensação de exclusão do paraíso. [...]
FRANC0 FIL)0, 0dilon de M. A civilização do mal-estar pela não felicidade. Rev. Bras. Psicanál. [online], vol. 43,
n. 2. p. 183-192, 2009. Disponível em http//pepsic.bvsalud.org/pdf/rbp/v43n2/v43n2a1.pdf.
Acesso em 19 dez. 2013.

Sugerimos que a reáexão seja realizada em 2. De que forma somos levados a idealizar
pequenos grupos a partir das seguintes ques- e a adotar padr×es de consumo, de vida e
t×es, que também se encontram no Caderno comportamento
do Aluno
0s alunos poderão, a seu critério, apresen-
1. ­ possível a felicidade sem a aquisição de tar as reáex×es dos grupos, oralmente, por
determinados padr×es de consumo e de meio de uma exposição dialogada com a
comportamento turma ou a partir e uma encenação.

4
Filosofia – 3a série – Volume 2

Na Ùltima etapa desta Situação de Apren- Para tanto, inicialmente sugerimos


dizagem, veremos também outro tema funda- que os alunos leiam o texto Morte,
mental que se desdobra da reflexão sobre de Aguinaldo Pavão, que é professor
felicidade a morte. Como nos relacionamos de Filosoàa da Universidade Estadual de Lon-
com essa que é a Ùnica certeza da existência drina, reproduzido a seguir e na seção Leitura
de todos os seres vivos e análise de texto do Caderno do Aluno.

Morte
Parece-me que o dia 2 de novembro reforça a necessidade em mim de pensar sobre a morte. Eu fico
muito triste quando penso na minha morte. Por outro lado, é desconfortável a ideia de que poderia
não morrer, de que poderia ser eterno. Que graça teria a vida se nÓs não morrêssemos A ânsia de
viver, de gozar a vida, parece sÓ ter sentido porque sabemos que vamos morrer. Sei que esta é uma
filosofia meio barata (contudo, não esqueçamos que, no fundo, a filosofia é apenas uma sofisticação
do senso comum). De fato, não precisamos de profundidade para fazer essa reflexão desconcertante.
A morte é desesperadora. A morte é o fim das leituras, o fim das viagens, o fim do amor, o fim do
sexo, o fim da mÙsica, o fim de tudo. Todavia, é Ótimo que haja morte. NÓs temos de assumir nossa
mortalidade. Quanto mais assumirmos isso, mais poderemos degustar a vida. Precisamos lembrar de
Aquiles, o herÓi grego os deuses é que devem invejar os mortais, pois é a nossa condição de mortais
que permite sentir a importância de cada momento.
Mas talvez haja vida apÓs a morte. Contudo, se me fosse dada a oportunidade, na hipÓtese de haver
vida apÓs a morte, eu gostaria de dizer que renuncio à eternidade. Eu devolveria o bilhete. A eternidade
me cansa. Seria um tédio insuportável viver para sempre. SÓ a ideia já me cansa. E eu quero ter um
corpo, e parece difícil a ideia de que meu corpo também sobreviverá. Ele ficará imperecível, insuscetível
à ação do tempo Se eu não quero aqui a eternidade, lá eu também não quero. Porque se eu não a
desejo aqui, não vejo raz×es para mudar de ideia lá.
Se eu fosse um outro eu, talvez a quisesse, mas aí já não seria mais eu, e não sendo mais eu, não
saberia como esse outro eu agiria, como ele sentiria as coisas. Se houvesse vida apÓs a morte, eu seria
condenado à eternidade Ao que parece, sim, embora isso não seja necessário. Mas se fosse eterno, isto
é, se minha vida pÓs-morte implicasse uma duração infinita no tempo, eu mais perderia do que ganharia.
0ra, eu não escolho nascer, mas posso escolher me matar. Se fosse eterno não teria essa liberdade.
PAV«0, Aguinaldo. Morte. Disponível em http//agguinaldopavao.blogspot.com/200/11/morte.html.
Acesso em 19 dez. 2013.

As quest×es a seguir, que também se encon- 2. Releia o trecho do texto “Todavia, é Ótimo
tram no Caderno do Aluno, podem ajudar na que haja morte. NÓs temos de assumir nossa
reáexão, que pode ser individual ou por meio mortalidade. Quanto mais assumirmos isso,
de conversas em grupos. Você pode avaliar a mais poderemos degustar a vida”. Agora,
melhor forma de organizar a turma para essa responda Por que assumir a nossa mortali-
discussão. dade permite degustar a vida Você concorda
com essa aàrmação Quais são os argumen-
1. 0 autor fala de tristeza diante da morte. 0 tos do autor para defender essa ideia
que caracteriza essa tristeza Perguntando
de outro modo Quais são os fatos que tor- 3. De que forma a morte nos torna livres em
nam a morte uma experiência triste vida, segundo a argumentação do autor

5
Se as respostas dos alunos forem individuais, Avaliação da Situação de
organize um momento coletivo para a sociali- Aprendizagem
zação e a troca dos argumentos. Se responde-
rem em grupos, eles poderão organizar um As quest×es apresentadas a seguir
painel oral ou um mural com ilustraç×es sobre encontram-se também no Caderno
o tema. Este é um momento importante para do Aluno, na seção Você aprendeu .
chamar a atenção sobre o imperativo de felici-
dade que marca a nossa cultura e é veiculado 1. “Ser feliz é preciso” é o título desta Situa-
pelos meios de comunicação. ção de Aprendizagem. Comente esse valor
presente em nossa cultura.
A nossa natureza biolÓgica, psicolÓgica e Espera-se que o aluno traga exemplos de situações que valo-
social, no entanto, impede que se entenda a rizam a felicidade a qualquer preço. Espera-se que ele apre-
felicidade como ter prazer sempre, rir sem- sente uma reflexão crítica sobre a exigência de felicidade
pre, não viver padecimentos. Somos seres imediatista e associada a valores materiais.
sujeitos a padecimentos físicos e psicolÓgi-
cos. A morte é um deles. Se somos seres que 2. Morte e padecimentos constituem a nossa
sentem padecimentos, a felicidade pode ser natureza. Se, por um lado, nos trazem
entendida não como esse prazer imediato e infelicidade, por outro, algumas culturas
que deve ser permanente, mas como uma boa entendem que a felicidade está justamente
relação com cada situação de padecimento na sabedoria de não negá-los, mas de
inevitável, prÓprio de nossa natureza, como assumi-los como parte integrante da vida.
é o caso da morte. Uma boa relação com o Registre sua reáexão a respeito.
padecimento pode vir da transformação dele Da mesma forma que na resposta anterior, espera-se que o
em aprendizado. Para tanto, a reáexão àlo- aluno reflita sobre a importância de nos prepararmos para as
sÓàca pode ser uma aliada. perdas inevitáveis e para não negarmos este aspecto funda-
mental de nossa natureza: a morte.
Agora, você pode solicitar aos
alunos uma atividade, de acordo 3. Comente a relação entre consumo e feli-
com a proposta de Lição de casa cidade.
do Caderno do Aluno. Peça que pesquisem Aqui, espera-se que o aluno apresente crítica ao vínculo
sobre as relaç×es que as diferentes culturas entre consumo e felicidade estabelecido pelo mundo da
têm com a morte. Como os muçulmanos publicidade e por valores já enraizados em nossa cultura.
entendem a morte E os budistas do Tibete
E o povo Xavante 0u, ainda, como as dife-
rentes pessoas do seu cotidiano explicam a Proposta de situação de recuperação
morte
Caso alguns alunos apresentem diàculdades
0riente-os sobre o fato de que essas infor- para expressar as reáex×es desta Situação de
maç×es podem ser pesquisadas na internet, Aprendizagem, peça a eles que retomem as
mas também entre as pessoas da comunidade leituras e quest×es com o seu acompanhamento
que conheçam essas culturas. Peça que façam e façam um trabalho que poderá ser individual
as anotaç×es em folha à parte para ser apre- ou em grupos, se mais de um aluno tiver a
sentadas em sala de aula. necessidade de recuperação.


Filosofia – 3a série – Volume 2

Recursos para ampliar a perspectiva M0RUS, Thomas. Utopia. Disponível em


do proGessor e do aluno para a  h t t p  / / X X X. d o m i n i o p u b l i c o. g ov. b r /
compreensão dos temas pesquisa/Detalhe0braFor m.do select@
actionco@obra2301. Acesso em 15
Livros jan. 2014. Livro que descreve uma sociedade
absolutamente feliz e serve de exemplo para
BAUDRILLARD, +ean. A troca simbÓlica e a tanto. (Sugestão também presente no
morte. São Paulo LoZola, 1999. Nesta obra, o Caderno do Aluno.)
autor analisa temas centrais da sociedade
atual o trabalho, a moda, o corpo, a morte, a PLAT«0. Fédon ou da alma. In Diálogos. São
linguagem poética, em perspectiva crítica para Paulo Nova Cultural, 2004.
a compreensão das necessidades criadas que se
transformam em desejos. Filme

@@@@@. A sociedade de consumo. 2. ed. Tradu- Ilha das Flores. Direção +orge Furtado. Bra-
ção Artur Morão. Lisboa Ediç×es 70, 2011. sil, 1989. 13 min. Livre. Filme que descreve o
(Coleção Arte e Comunicação). Neste livro, o ser humano com sua capacidade de construir
autor analisa a sociedade industrial da segunda cultura e, ao mesmo tempo, destruir o
metade do século XX, destacando a criação de ambiente. Pode colaborar para aprofundar a
valores e necessidades. Com ele, podemos crítica ao imediatismo. (Sugestão também
repensar nossos conceitos sobre a felicidade. presente no Caderno do Aluno.)

SITUA¬«0 DE APRENDI;AGEM 8
FELICIDADE E C0MPR0MISS0 C0NSIG0 E C0M 0 0UTR0

Nesta Situação de Aprendizagem, que àna- Dois objetivos, neste momento, são centrais
liza o estudo de Filosofia no Ensino Médio, favorecer a reáexão sobre a responsabilidade de
serão analisadas as condiç×es pessoais e sociais cada cidadão para com a prÓpria felicidade e
para a construção de uma abordagem da felici- para com a felicidade do outro; e pensar limites
dade. Ser feliz com o outro, ser feliz na cidade, entre lidar bem com frustraç×es e não se deixar
no interior da vida social e imersos na cultura conduzir pelo conformismo. Duas das etapas
que herdamos ao nascer são quest×es que sem- destinam-se ao tratamento das quest×es mais
pre marcaram a Filosoàa. pessoais e as outras duas, às sociais.

Conteúdos e temas condiç×es pessoais e sociais para a felicidade; ser feliz com o outro; felicidade
como responsabilidade pessoal e social.

CompetËncias e habilidades relacionar informaç×es, representadas de formas variadas, com conhe-


cimentos disponíveis em diferentes situaç×es, para construir argumentação consistente (Enem);
discutir as condiç×es pessoais e sociais para a felicidade; expressar-se por escrito e oralmente de forma
sistemática; elaborar hipÓteses tomando-se por base as quest×es desta Situação de Aprendizagem.

7
Sugestão de estratégias: levantamento das representaç×es dos alunos sobre as condiç×es pessoais
e sociais para a felicidade; discussão em grupo das quest×es levantadas nas aulas; elaboração escrita
do prÓprio pensamento.

Sugestão de recursos: registros a partir de memÓria pessoal; bibliograàa complementar.

Sugestão de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o enfrentamento das quest×es propostas e os
registros solicitados. Como instrumentos de avaliação, recomendam-se a veriàcação das atividades
do Caderno do Aluno; a participação em sala; e outros que o professor julgar pertinentes.

Sondagem e sensibilização que simbolize as características levantadas


em cada grupo.
Ao iniciar esta reflexão, oriente os alu-
nos a conversar em grupo e responder Exis- ApÓs a apresentação de todos os
tem algumas características pessoais que o grupos, recomenda-se a leitura do
impedem de ser feliz? Se existem, quais são texto a seguir, também presente na
elas? Pode-se apresentar o resultado por seção Leitura e análise de texto do Caderno do
escrito ou por associação a uma imagem de Aluno, com o propÓsito de preparar a discus-
revista, a uma foto ou mesmo a um desenho são para as prÓximas etapas.

O bem e o mal dependem sobretudo da ideia Rue Gazemos deles


0s homens, diz uma antiga sentença grega, são atormentados pelas opini×es que têm sobre as
coisas, não pelas prÓprias coisas. Seria de fato um importante passo para o alívio de nossa miserável
condição humana se pudéssemos estabelecer a verdade desta opinião em todas as situaç×es. Pois se é
apenas o nosso julgamento que permite que os males nos adentrem, parece que poderíamos desprezá-
-los ou transformá-los em bem. Se as coisas se rendem à nossa vontade, por que não tratá-las como
dono ou acomodá-las em nosso favor Se o que chamamos de “mal” ou de “tormento” não é nem mal
nem tormento em si, mas é a nossa imaginação que lhe atribui este caráter, temos o poder de mudá-lo.
E já que temos a escolha, é completamente tolo atermo-nos à opção que nos é mais incômoda e darmos
às doenças, à indigência e ao desprezo um gosto amargo e mau, quando podemos lhes dar um gosto
bom e, o destino nos fornecendo simplesmente a matéria, nos cabe lhe dar forma.
M0NTAIGNE, Michel de. Les Essais, Livre I. Chapitre XL. Disponível em francês em http//XXX.dominiopublico.gov.br/
pesquisa/Detalhe0braForm.do select@actionco@obra3384. Acesso em 19 dez. 2013. Tradução Renée Barata ;icman.

Feito isso, peça aos alunos que destaquem, reflexão sobre o tema em questão, prepa-
no quadro destinado a essa finalidade no rando-os para a discussão sobre a dimensão
Caderno do Aluno, as frases com as quais social e a dimensão política da felicidade.
concordam e as outras das quais discordam,
acompanhadas das justiàcativas para essas Na etapa seguinte à sondagem, mostre ao
escolhas. 0 objetivo dessa atividade é permitir aluno a importância da reáexão sobre a dimen-
que eles lancem mão do que já aprenderam são pessoal, individual ou psicolÓgica para a
nas Situaç×es de Aprendizagem anteriores e, felicidade. A reáexão àlosÓàca também pode
ao mesmo tempo, motivá-los a continuar a ajudar, na medida em que favorece o questio-

8
Filosofia – 3a série – Volume 2

namento, o qual leva ao autoconhecimento, e 2. Qual é a diferença entre não ser escravo do
contempla em sua histÓria um conjunto de desejo e lutar pelo que se quer
obras, sob cujos pontos de vista a nossa rela-
ção com a felicidade é pensada, tal como vimos 3. Qual é a diferença entre não se ver como
na Situação de Aprendizagem  deste volume. centro do mundo e a baixa autoestima

No exercício proposto para a sondagem, 4. Qual é a diferença entre respeitar as prÓ-


apresentamos a perspectiva de questionar a prias emoç×es e deixar-se levar por elas
nossa responsabilidade em relação à prÓpria
felicidade. Então, nesta etapa, vamos cami- ApÓs as apresentaç×es, uma síntese será
nhar um pouco mais nessa linha, ao abordar bem-vinda, com ideias centrais de cada grupo
algumas condiç×es emocionais e alguns e comentários do professor sobre cada uma das
valores pessoais que costumam propiciar a quatro quest×es. ­ fundamental lembrar aos
infelicidade. alunos que, com respeito às quest×es debatidas,
pode-se prever a organização de pelo menos
São campos férteis para infelicidade não quatro grupos de pessoas. No primeiro grupo,
saber lidar com frustraç×es; ser escravo do situam-se aquelas pessoas que contemplam
prÓprio desejo; desejar o impossível; ver-se todas as condiç×es psicolÓgicas e intelectuais
como centro do mundo; não realizar o esforço para enfrentarem as quest×es anteriormente
de conhecer a si prÓprio; deixar-se levar pelas descritas, e que, de fato, o fazem, distinguindo
emoç×es; não respeitar as prÓprias emoç×es; as tais fronteiras entre a aceitação diante do
não cuidar da saÙde; não cuidar do prÓprio inevitável e o conformismo que impede a solu-
espaço; não cuidar da saÙde emocional, men- ção de problemas. No segundo grupo, encon-
tal, psicolÓgica; não parar para pensar, para tramos as pessoas que não conseguem lidar
planejar e não reáetir sobre as consequências com perdas e entraves aos desejos, apesar de
dos prÓprios atos; não aceitar a ideia de que elas apresentarem condiç×es intelectuais para
não existem opç×es sem perdas. essa reáexão, sobre o que poderiam mudar e
rever em sua prÓpria postura e em seu conjunto
As afirmaç×es apresentadas remetem às de valores, para, sem resvalar no conformismo,
quest×es propostas no Caderno Aluno, na aceitar sem traumas as frustraç×es impostas
seção Exercícios, que nos ajudam a distinguir pela vida. Em geral, são pessoas que partici-
diferentes representaç×es cotidianas de nossa pam de tratamentos psicoterapêuticos e sabem
relação com a felicidade. Vamos a elas, com a questionar sua relação com a felicidade, mas
recomendação de que os alunos as respondam ainda assim não conseguem ser felizes por
baseando-se em uma discussão em grupo. conta de entraves de natureza emocional, pro-
duzidos, em sua grande parte, justamente em
1. Qual é a diferença entre aceitar uma frustra- situaç×es de frustraç×es aos desejos. No ter-
ção, uma perda, sem se deixar derrotar psi- ceiro grupo, temos pessoas para as quais essas
cologicamente por ela, e o conformismo, ou quest×es não se colocam e seguem a vida sem
seja, a desistência de lutar pelo que se quer questionamentos sobre a possibilidade de
A frustração produzida pela morte de uma serem felizes ou de lidarem melhor com os
pessoa querida não pode ser incluída nesse motivos para a infelicidade que a experiência
questionamento. Trata-se de uma situação vivencial oferece. Um quarto grupo que ainda
na qual a sabedoria de aceitação de nossa pode ser caracterizado é o das pessoas capazes
natureza mortal pode ajudar no enfrenta- de boas relaç×es com as frustraç×es e de cons-
mento desse tipo de perda em especial. truir ideias de felicidade que se assentam na

9
aceitação do que é inevitável, para o bem e Iniciamos, então, a discussão sobre
para o mal, sem que realizem reáexão alguma a dimensão social da felicidade.
a respeito, e que cultivam postura feliz diante Essa introdução ocorrerá por meio
da vida. ­ importante lembrar que uma mesma das atividades a seguir, que os alunos poderão
pessoa pode transitar em diferentes grupos a discutir em sala, mas as reáex×es individuais
depender de diferentes momentos da vida. podem ser registradas fora do horário de aula,
de acordo com a proposta de Lição de casa do
Neste momento, cabe a pergunta aos alunos Caderno do Aluno.Na primeira atividade, deve-
Em que grupo nos situamos? -se provocar os alunos a reáetir sobre ideias do
seu cotidiano, expressas em frases como
Se a reáexão àlosÓàca deve ser uma cons-
tante em nossa vida para análise dos contextos a) Na vida, como na selva, vale a lei do mais
que nos cercam, ela pode auxiliar também o forte. 0s fracos não sobrevivem.
autoconhecimento, principalmente para a dis-
tribuição entre processos que devem ser aceitos b) 0 mundo é dos espertos.
por serem inevitáveis, como a morte, e proces-
sos que exigem lutas para transformaç×es e c) 0 importante é levar vantagem em tudo.
não aceitaç×es.
0 objetivo é introduzir, de forma mais
A reáexão deve ajudar a compreender que espontânea, o tema do egoísmo e do individua-
a felicidade e o prazer a qualquer preço não lismo, que será desenvolvido na segunda ativi-
condizem com a construção de uma vida soli- dade, na qual apresentamos o trecho a seguir,
dária, na qual a lÓgica da vantagem de uns da obra A Igreja do Diabo, de Machado de
sobre os outros merece ser banida, e, portanto, Assis. A análise e o comentário do excerto da
a felicidade de todos também é um critério e obra devem ser feitos pelos alunos, conside-
um limite para a capacidade de lutar pelo que rando a perspectiva de vida e felicidade que o
se quer ou lutar pela prÓpria felicidade. excerto apresenta.

Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a ideia de fundar uma
igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que
exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por
assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular.
Por que não teria ele a sua igreja Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras reli-
gi×es, e destruí-las de uma vez. [...]
E descia, e subia, examinava tudo, retificava tudo. Está claro que combateu o perdão das injÙrias
e outras máximas de brandura e cordialidade. Não proibiu formalmente a calÙnia gratuita, mas induziu
a exercê-la mediante retribuição, ou pecuniária, ou de outra espécie; nos casos, porém, em que ela
fosse uma expansão imperiosa da força imaginativa, e nada mais, proibia receber nenhum salário, pois
equivalia a fazer pagar a transpiração. Todas as formas de respeito foram condenadas por ele, como
elementos possíveis de um certo decoro social e pessoal; salva, todavia, a Ùnica exceção do interesse.
Mas essa mesma exceção foi logo eliminada, pela consideração de que o interesse, convertendo o
respeito em simples adulação, era este o sentimento aplicado e não aquele.
Para rematar a obra, entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda a solidariedade humana.
Com efeito, o amor do prÓximo era um obstáculo grave à nova instituição. Ele mostrou que essa regra

70
Filosofia – 3a série – Volume 2

era uma simples invenção de parasitas e negociantes insolváveis; não se devia dar ao prÓximo senão
indiferença; em alguns casos, Ódio ou desprezo. Chegou mesmo à demonstração de que a noção de
prÓximo era errada, e citava esta frase de um padre de Nápoles, aquele fino e letrado Galiani, que
escrevia a uma das marquesas do antigo regime “Leve a breca o prÓximo! Não há prÓximo!”. A Ùnica
hipÓtese em que ele permitia amar ao prÓximo era quando se tratasse de amar as damas alheias, porque
essa espécie de amor tinha a particularidade de não ser outra coisa mais do que o amor do indivíduo
a si mesmo. [...]
ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de +aneiro Garnier, 1884. Disponível em
http//XXX.dominiopublico.gov.br/doXnload/texto/bv000195.pdf. Acesso em 19 dez. 2013.

Em seguida, realize com os alunos uma social da felicidade, disponível também no Caderno
nova leitura, agora do texto A dimensão do Aluno, na seção Leitura e análise de texto.

A dimensão social da Gelicidade


Ao contrário do que muitos pensam, a realização da felicidade não depende apenas da vontade e da
atitude de cada pessoa, por mais esforçada e determinada que ela seja. Isso porque ninguém é autossu-
ficiente para satisfazer suas necessidades subjetivas e objetivas. 0 homem é um animal político, isto é,
um ser que, pela sua prÓpria natureza, sÓ existe em sociedade, na convivência com seus semelhantes,
havendo entre todos uma relação de dependência recíproca no atendimento a essas necessidades.
Do ponto de vista objetivo, precisamos de uma infinidade de coisas que são fruto do trabalho de
outras pessoas alimentos, roupas, calçados, diversos utensílios do nosso dia a dia, livros, cadernos,
lápis, canetas, transporte, atendimento médico, odontolÓgico e psicolÓgico, segurança, espaços para
lazer e prática esportiva, e muitos outros. A lista não teria fim. Sabemos, pela nossa experiência
cotidiana, que, na vida em sociedade, cada pessoa depende do trabalho das demais. 0ra, se todas essas
coisas são necessárias à felicidade, então ela depende da ação coletiva de um nÙmero imensurável de
pessoas que produzem esses bens e prestam esses serviços.
0 mesmo vale para as necessidades subjetivas. Todos precisamos de amor, carinho, respeito,
afeição, consideração, atenção, ternura, cordialidade, hospitalidade, cuidado, prazer, conhecimento,
liberdade, espaço para pensar, criar, sentir, crer, enfim, de uma infinidade de elementos relacionados
à nossa vida interior, os quais somos incapazes de obter sozinhos. Também aqui precisamos da
colaboração das pessoas à nossa volta.
A felicidade, por conseguinte, tanto no seu aspecto objetivo quanto no subjetivo, é sempre pro-
duto de uma ação coletiva dos membros de uma dada sociedade. Em outras palavras, podemos dizer
que a felicidade é socialmente produzida e, portanto, tem um caráter social. Afinal, como diz a letra
da canção Wave, de Tom +obim, “é impossível ser feliz sozinho”. Por essa razão, não faz sentido
buscá-la no individualismo ou no egoísmo, isto é, agindo de acordo com nossos interesses particu-
lares, procurando tirar vantagem das diversas situaç×es, sem nos preocuparmos com as consequên-
cias de nossos atos.
0corre, porém, que o egoísmo e o individualismo são justamente os valores mais estimulados por
nossa sociedade quando o assunto é a busca da felicidade. Aprendemos desde muito cedo que o
sucesso ou o fracasso na escola, na profissão e na vida de forma geral dependem de nosso esforço
individual; que, no mundo, prevalecem as leis do “cada um por si” ou do “salve-se quem puder”; que
precisamos nos preparar para enfrentar a grande competitividade do vestibular e, depois dele, do

71
mercado de trabalho; que, uma vez empregados, devemos disputar com nossos colegas pela ascensão
na carreira, por status e poder; que, ao nosso lado, há não um amigo ou um companheiro, mas um
adversário, um concorrente, alguém que, para nÓs, representa uma ameaça. Se ele desistir, tanto
melhor, pois nossas chances de sucesso serão maiores.
Aqui, aliás, encontramos outro sentido que nos possibilita dizer que a felicidade tem um caráter
social em grande parte, é a sociedade que produz a imagem de felicidade que assimilamos e que
transformamos em objeto de nossos maiores anseios, muitas vezes sem questionar.
Em uma sociedade em que as pessoas são mais valorizadas e reconhecidas pelo que possuem do
que pelo que são, a felicidade tende a ser identificada com a posse de bens materiais e de dinheiro, que
é o meio pelo qual se adquirem esses bens. Por esse raciocínio, quanto mais posses tiver uma pessoa,
mais feliz ela será. Quanto menos posses, mais infeliz. Assim, esse passa a ser o ideal dominante de
felicidade que vai mobilizar o desejo e os sonhos da maioria das pessoas. 0corre que, em se tratando
de uma sociedade com profundas desigualdades de classe e na qual o ter mais de alguns se viabiliza à
custa do ter menos ou do não ter dos demais, esse ideal de felicidade se revela, na prática, inatingível
para a grande maioria das pessoas (os pobres) e privilégio de poucos (os ricos).
Por outro lado, em uma sociedade organizada de maneira diferente, na qual as pessoas fossem
mais valorizadas pelo que são do que pelo que possuem, certamente prevaleceria outro ideal de
felicidade.
A construção de um novo modelo de sociedade, que proporcione condiç×es mais igualitárias de
acesso à felicidade, é, sem dÙvida, responsabilidade de todos nÓs. Mas, enquanto isso não se viabiliza
plenamente, talvez possamos nos empenhar em mudar desde já alguns valores, rejeitando a imposição
do individualismo e do egoísmo e procurando construir relaç×es mais ancoradas na amizade, na
solidariedade e na cooperação, antecipando aqui e agora, na medida do possível, a utopia de uma
sociedade feliz.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Consideramos importante destacar desse Ao concluir esta etapa e com o objetivo de


texto os seguintes aspectos a impossibilidade assegurar a compreensão do conteÙdo estu-
de autossuàciência para a satisfação das neces- dado, propomos algumas perguntas que reme-
sidades subjetivas e objetivas do ser humano; a tem diretamente a ele. As quest×es não
sua natureza essencialmente política; o fato de precisam ser respondidas no Caderno do
que dependemos do trabalho uns dos outros na Aluno, mas recomenda-se que sejam debatidas
vida em sociedade, conàgurando-se, assim, uma entre os alunos em sala.
relação de interdependência entre os membros
dessa sociedade; o caráter socialmente produ- 1. 0 que signiàca dizer que ninguém é capaz
zido da felicidade; a associação feita pela socie- de satisfazer sozinho suas necessidades
dade entre felicidade e as tendências egoístas ou subjetivas e objetivas
do “espírito de posse” do indivíduo, que faz que
o ter de uns ocorra à custa do não ter dos 2. Em que sentido se pode aàrmar que a feli-
demais; a responsabilidade coletiva pela cons- cidade tem um caráter social
trução de relaç×es sociais mais felizes. Eviden-
temente, você pode destacar outros aspectos, ou 3. Em que se baseia a aàrmação de que não
mesmo acrescentar novos elementos que não tem lÓgica buscar a felicidade no individua-
tenham sido abordados no texto. lismo e no egoísmo

72
Filosofia – 3a série – Volume 2

4. Na sociedade em que vivemos, é possível dade de reáexão sobre a concepção de felicidade


superar a ináuência do egoísmo e do indi- a ela subjacente e também sobre as suas prÓprias.
vidualismo Como Se possível, toque a mÙsica em sala, o que acres-
centaria um caráter lÙdico ao trabalho e motiva-
De acordo com a proposta de Pes- ção para realizá-lo.
quisa em grupo do Caderno do
Aluno, solicite que encontrem a Depois, ainda organizados em grupos, os
mÙsica “Comida”, do grupo Titãs, transcrevam alunos vão debater e responder a algumas per-
a letra em seus Cadernos, reáitam sobre ela, pro- guntas, cujo objetivo é instruí-los para a reáexão
curando relacioná-la com o que foi estudado mais sistemática que farão a partir da leitura do
sobre o tema felicidade. Peça que anotem suas prÓximo texto.
conclus×es logo abaixo da letra para utilizá-las
na aula seguinte, em discuss×es em grupos. 0 As perguntas, disponíveis também no Caderno
objetivo é, através da mÙsica, chamar a atenção do Aluno, são as seguintes
para o fato de que a felicidade tem mÙltiplas
dimens×es e que todas precisam ser satisfeitas 1. 0 que você entende por política
para que ela, a felicidade, realmente ocorra. Além
disso, esta atividade pode inserir um componente 2. Você tem algum tipo de participação política
lÙdico que ajude na motivação para o estudo. Por quê Em caso aàrmativo, descreva-a.

Como preparação para o prÓximo tema, que 3. 0 que você pensa do ditado “Política,
tratará a dimensão política da felicidade, que, a futebol e religião não se discutem” +usti-
rigor, está intrinsecamente ligada à sua dimensão àque sua resposta.
social, seria interessante desenvolver uma discus-
são em grupo com a mÙsica “Comida”, subsidiada 0 texto a seguir encontra-se também
com as anotaç×es que já àzeram previamente em no Caderno do Aluno, na seção Lei-
casa, para proporcionar aos alunos a oportuni- tura e análise de texto.

A dimensão política da Gelicidade


Vimos que, pela prÓpria natureza política do ser humano, a felicidade possui um caráter social, no
sentido de que as condiç×es objetivas e subjetivas necessárias à sua realização são coletivamente
produzidas.
Por sua vez, a existência ou não dessas condiç×es, bem como o nÙmero de pessoas que terão
acesso a elas, depende, em grande parte, das políticas governamentais implementadas nas diversas
áreas da administração pÙblica. Temos, por exemplo, políticas para a saÙde, a educação, a habitação,
o transporte, a segurança, o emprego, os direitos humanos, as mulheres, os negros, os povos indí-
genas, os portadores de necessidades especiais, o meio ambiente, o emprego, e muitas outras.
0ra, se a presença de certas condiç×es necessárias à felicidade resulta de políticas governamentais,
então podemos concluir que a felicidade ou a infelicidade da população depende, ao menos em parte,
da ação dos governantes.
0corre que, em uma democracia, os que governam nas diversas instâncias (municipal, estadual e
federal) são eleitos pelo voto direto dos cidadãos. Isso significa que, em alguma medida, todos os que
votam (ou deixam de votar) são corresponsáveis por essas políticas e, por conseguinte, também pela
realização ou não realização da felicidade da população. Eis a dimensão política, em sentido mais
estrito, da felicidade.

73
Daí a importância da participação política consciente, sobretudo em relação ao voto. Mais
do que um direito, essa participação é também um dever de cada cidadão, pois dela derivam
consequências que afetam a vida de toda a sociedade.
No entanto, muitas pessoas ainda se recusam a participar politicamente, dizendo que não
gostam ou não entendem de política e que preferem cuidar da prÓpria vida, dos assuntos parti-
culares. Muitos se negam a discutir quest×es políticas, temerosos das possíveis consequências do
confronto de ideias. +ustificam sua indiferença com o famoso ditado “Política, religião e futebol
não se discutem”. 0utros, ainda, alegam que política é coisa suja, que todo político é corrupto
e que, por isso, preferem permanecer distantes para não se contaminarem.
Quem adota essa atitude está, na verdade, expressando uma consciência ingênua e alienada
em relação à política. Isso porque, na prática, a abstenção política é impossível. Pelo simples
fato de fazer parte de uma sociedade, sofremos as influências do contexto em que vivemos, como
também exercemos influência sobre ele, mesmo sem perceber. Posso, por exemplo, desistir de
votar em uma determinada eleição, por motivos particulares, mas essa minha atitude, somada
às dos demais eleitores, não deixará de repercutir proporcionalmente no resultado eleitoral,
assim como este não deixará de repercutir em minha vida privada. Além disso, abdicar da
política é uma forma de apoiar as aç×es governamentais, o que também constitui uma atitude
política que nada tem de neutralidade. Na verdade, o desinteresse do povo pela política sÓ
interessa a certos governantes, que o querem distante das decis×es, para que possam favorecer
os prÓprios interesses. Engana-se redondamente, portanto, quem acredita que pode permanecer
alheio à política.
A rigor, a participação política não é necessariamente algo que se faça por prazer (embora
isso seja perfeitamente possível), mas por necessidade, pois a nossa participação é inevitável.
Aliás, é bastante provável que, para muitos, ela não seja mesmo prazerosa. Mas aqui talvez valha
o ensinamento de Epicuro de que, às vezes, é preferível aceitar certos sofrimentos (como o fazer
algo de que não se gosta) se esse for o caminho para se obter um prazer maior (por exemplo,
condiç×es sociais mais favoráveis à felicidade de todos). Do contrário, nossa omissão pode resul-
tar em grande infelicidade, inclusive para nÓs mesmos.
)á várias formas de participação política. Votar conscientemente é apenas uma delas. Na
verdade, é o mínimo que se pode exigir de um cidadão em uma democracia. E, para que o voto
seja de fato consciente, é preciso que o eleitor esteja bem informado sobre as atribuiç×es dos
cargos em disputa, as características dos candidatos e partidos, os principais problemas que
deverão ser enfrentados pelos eleitos e as possíveis soluç×es para eles. Além disso, o eleitor
consciente deve agir com liberdade e responsabilidade social, não aceitando jamais vender ou
trocar o seu voto nem oferecê-lo em retribuição a algum favor ou para agradar alguém.
Mas além do voto, há outras formas de participação política a individual e a coletiva. Do
ponto de vista individual, há uma enorme gama de aç×es que cada um pode praticar dialogar
em casa, na escola, no trabalho, ou em qualquer outro lugar sobre os problemas da cidade, do
Estado ou do país, buscando adquirir e também despertar nos outros uma consciência mais
crítica sobre tais problemas; escrever em jornais, revistas e outros meios de comunicação, denun-
ciando situaç×es de injustiça; enviar e-mails para as autoridades cobrando providências e seus
compromissos de campanha; manter-se informado sobre a realidade do país, através da leitura
de jornais e revistas; defender e pôr em prática no dia a dia valores como a solidariedade, o
respeito e a cordialidade, como forma de combater o individualismo e o egoísmo que hoje vemos
com frequência.

74
Filosofia – 3a série – Volume 2

Por outro lado, a participação coletiva do indivíduo ocorre por meio do envolvimento em
partidos políticos, associaç×es, organizaç×es não governamentais, sindicatos, grêmios estudantis,
movimentos, enfim, em qualquer agrupamento que tenha objetivos bem definidos. Vale lembrar
que o grupo, sobretudo quando bem organizado, é sempre mais forte que o indivíduo.
Muitas coisas exteriores a nÓs, e que influem em nossa felicidade ou infelicidade, dependem
direta ou indiretamente de nÓs e da forma como participamos politicamente. Nesse sentido,
podemos dizer que a felicidade tem também uma natureza política que não pode ser desconsi-
derada. ­ evidente que as diversas formas de participação são muito facilitadas em um regime
democrático. Daí também a importância da democracia para a construção da felicidade.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

Nesse texto, sugerimos que sejam destaca- 3. Você concorda que a participação polí-
dos os seguintes aspectos a relação entre a tica é um importante instrumento para a
felicidade e as políticas governamentais, evi- construção de uma sociedade justa e feliz
denciando a dimensão política da primeira; Por quê
a importância da participação política para a
realização da felicidade; as diferentes formas 4. 0lhando para sua realidade (cidade, bairro,
dessa participação; a impossibilidade prática escola, trabalho etc.), que tipo de parti-
de abster-se da política e as consequências do cipação política você está disposto a ter
desinteresse do povo por ela; o fato de que a para ajudar na construção de algumas
participação política não é necessariamente condiç×es básicas para a felicidade de sua
prazerosa, mas necessária; a impossibilidade comunidade
de separar radicalmente interesses privados dos
interesses pÙblicos; a importância da democra- Essa Ùltima questão, que fecha a presente
cia para a participação política e, consequen- Situação de Aprendizagem, visa desafiar os
temente, para a busca da felicidade. 0 texto faz alunos a assumir uma atitude política mais ativa
ainda referência a Epicuro e ao estoicismo, e participativa em sua prÓpria comunidade, de
oferecendo oportunidade para uma breve reto- acordo com as condiç×es objetivas e subjetivas
mada desses conteÙdos. de que eles disp×em. Você certamente pode
ajudá-los a pensar sobre as possíveis alternati-
Em seguida, propomos algumas perguntas vas, a começar por seu envolvimento mais efe-
relacionadas ao conteÙdo do texto, a àm de tivo na vida da escola.
ajudar na sua compreensão e na ampliação da
reáexão sobre o tema. As quest×es se encon-
tram no Caderno do Aluno. Avaliação da Situação de
Aprendizagem
1. Em que sentido se pode dizer que o desejo
de abstenção política reáete uma consciên- Professor, gostaríamos de frisar que
cia ingênua e alienada Você concorda com cabe a você decidir sobre quando e
isso +ustiàque. de que forma avaliar seus alunos.
Como forma de contribuição, porém, apresen-
2. 0 que signiàca a aàrmação de que a feli- tamos as seguintes sugest×es de atividades, que
cidade tem uma dimensão política Você também se encontram no Caderno do Aluno,
concorda com isso +ustiàque. na seção Você aprendeu .

75
Em relação à questão 1, o trabalho pode ser Recursos para ampliar a perspectiva
feito tanto em sala de aula como em casa, para do proGessor e do aluno para a
posterior entrega a você. Avalie, então, a alter- compreensão dos temas
nativa mais adequada. 0 importante é que, em
seu texto, os alunos demonstrem a apropriação Livros
do conteÙdo trabalhado. Se preferir, substitua
a mÙsica sugerida por outra de sua escolha, ou ABBAGNAN0, Nicola. Dicionário de Filo-
de escolha dos alunos, ou até mesmo por outro sofia. . ed. Tradução Alfredo Bosi. São
tipo de texto que julgar mais pertinente. Paulo WMF Martins Fontes, 2012. Pode ser
de grande ajuda no entendimento dos con-
1. Em folha à parte, faça uma breve disser- ceitos trabalhados.
tação (30 a 40 linhas) analisando, à luz do
estudo realizado, a noção de felicidade con- DALLARI, Dalmo de A. O que é participação
tida na mÙsica “Comida”, do grupo Titãs. política. São Paulo Brasiliense, 2004. (Primei-
Espera-se que o aluno apresente uma breve caracterização ros Passos). 0 livro foi uma das referências
dos valores associados à felicidade em nossa sociedade: ter para os textos das duas Ùltimas etapas desta
casa própria, emprego, relacionamento amoroso, amor, Situação de Aprendizagem. Em etapas proprie-
sucesso, reconhecimento e notoriedade, ser uma celebri- dade a questão da participação política, ofere-
dade, e que critique tais valores. cendo muitos subsídios para a reáexão crítica
sobre esse tema. (Sugestão também presente
2. Elabore uma reáexão que contemple as no Caderno do Aluno.)
dimens×es pessoais, sociais e políticas da
felicidade. GAD0TTI, Moacir. Pedagogia da Terra. 4.
Espera-se que o aluno identifique desejos construídos e cul- ed. São Paulo PeirÓpolis, 2005. Este livro
tivados em nossa sociedade e identifique valores e desejos traz informaç×es importantes sobre a possi-
associados à natureza humana independentemente de uma bilidade de sermos felizes respeitando o Pla-
determinada cultura. neta Terra. (Sugestão também presente no
Caderno do Aluno.)
3. Comente esta questão Se não vivemos em
uma ilha da fantasia, na qual a felicidade é VÁ;QUE;, Adolfo S. Ética. Rio de +aneiro
entendida como processo de permanente Civilização Brasileira, 2005. No capítulo
satisfação de nossos desejos e de nossas VII há um tÓpico intitulado “0 bom como
necessidades, como podemos pensar a felici- felicidade” (eudemonismo), que traz impor-
dade em nossa realidade social atual tantes contribuiç×es para o tema desenvol-
Espera-se que o aluno discuta a relação entre felicidade e desejo. vido nas duas Ùltimas etapas desta Situação
de Aprendizagem.

Proposta de situação de recuperação VERGE;, André; )UISMAN, Denis. His-


tÓria dos àlÓsofos ilustrada pelos textos. Rio
As mesmas atividades sugeridas como ins- de +aneiro Freitas Bastos, 1982. Trata-se,
trumentos de avaliação podem servir de traba- também, de um manual de )istÓria da Filo-
lho de recuperação para os alunos que soàa, mais resumido, que também aborda o
eventualmente não tenham demonstrado o estoicismo e o epicurismo e traz excertos de
rendimento esperado. textos dos àlÓsofos.

7
Filosofia – 3a série – Volume 2

QUADRO DE CONTEÚDOS DO ENSINO MÉDIO


1ª série 2ª série 3ª série

Descobrindo a Filosoàa Ética e o utilitarismo ético Para Rue Filosoàa


– Por que estudar Filosoàa – Introdução à ética. – 0 que é Filosoàa
– As áreas da Filosoàa. – 0 eu racional. – Superação de preconceitos em
relação à Filosoàa e deànição e
– A Filosoàa e outras formas de – Autonomia e liberdade.
importância para a cidadania.
conhecimento Mito, Religião,
– Introdução à Teoria do
Volume 1

Arte, Ciência. – 0 homem como ser de natureza e de


Indivíduo +ohn LocLe, +eremZ
linguagem.
Bentham e Stuart Mill.
– Características do discurso àlosÓàco.
– Tornar-se indivíduo Paul
Ricoeur e Michel Foucault. – Comparação com o discurso
religioso.
– Condutas massiàcadas.
– 0 homem como ser político.
– Alienação moral.
– A desigualdade entre os homens
como desaào da política.

Filosoàa Política Filosoàa Política e Ética O discurso àlosóàco


– Introdução à Filosoàa Política. – Filosoàa Política e ­tica – Características do discurso àlosÓàco.
humilhação, velhice e racismo.
– Teoria do Estado Socialismo, – Comparação com o discurso
Anarquismo e Liberalismo. – )omens e mulheres. cientíàco.
– Democracia e cidadania origens, – Filosoàa e educação. – Três concepç×es de liberdade
Volume 2

conceitos e dilemas. Liberalismo, Determinismo e


– Desaàos éticos contemporâneos
Dialética.
– Desigualdade social e ideologia. a Ciência e a condição humana.
– Comparação com o discurso da
– Democracia e justiça social. – Introdução à Bioética.
literatura.
– 0s Direitos )umanos.
– Valores contemporâneos que cercam
– Participação política. o tema da felicidade e das dimens×es
pessoais da felicidade.

77
GABARITO É importante que os alunos leiam as respostas dos professores
e debatam, destacando críticas às situações nas quais a Ciên-
cia é utilizada para humilhar pessoas. Um exemplo desse tipo
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 de humilhação pode ser observado quando alguns médicos
Filosoàa e CiËncia apresentam diagnósticos de doenças a seus pacientes em
Leitura e análise de texto (CA, p. 5-6) uma linguagem médica, sem fazer o esforço de traduzi-lo
1. Pode-se dizer que nenhum dos textos apresenta a opinião para o senso comum e facilitar o entendimento do assunto
dos autores, pois, no texto filosófico, a conclusão surge de pelos pacientes.
um processo reflexivo. No texto científico, por sua vez, a
conclusão surge depois de análises e comparações de dados. SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2
2. No texto filosófico, as informações têm sua fonte não no O libertarismo
ambiente externo, mas em um processo reflexivo e intros- Exercícios (CA, p. 12)
pectivo; elas não são confirmadas por dados nem números, 1. Resposta aberta. Os alunos podem redigir uma definição
mas apenas pelo conhecimento, pela sabedoria de quem baseando-se na própria experiência ou em leituras que
as trouxe à luz. As informações presentes no texto cientí- porventura tenham como referência.
fico são dados de pesquisas baseadas em registros, índices 2. Resposta aberta, mas espera-se que os alunos assumam uma
etc., e pautam-se em números, porcentagens e datas, entre posição diante da pergunta e apresentem uma justificativa.
outros. 3. Resposta aberta. Oriente os alunos para que reflitam sobre
3. Uma grande diferença está na forma como são relatadas a própria necessidade de ser livre: O que motiva essa
as informações e na construção do argumento. No texto necessidade? Quais os entraves à sua liberdade?
filosófico, o autor mescla informação histórica com sua
reflexão sobre a morte. No texto científico, o autor ou os Leitura e análise de texto (CA, p. 12-14)
autores descrevem dados estatísticos. Resposta aberta, a depender do comentário dos alunos. No
entanto, é preciso que os argumentos deles dialoguem de fato
Leitura e análise de texto (CA, p. 7-9) com o texto analisado, que eles discordem ou não do texto e
1. A Filosofia utiliza diversos gêneros textuais para expressar justifiquem seu posicionamento. O texto problematiza o tema
suas ideias: cartas, poemas, diálogos, ensaios. A Ciência não liberdade, por isso, é importante que o comentário registre
faz uso de tantos gêneros textuais; seu modo de expressão é essa problematização.
basicamente o relatório de pesquisa e o artigo científico. A
Filosofia questiona métodos e finalidades da Ciência. A Ciên- Pesquisa individual (CA, p. 14)
cia utiliza instrumentos para construir dados (telescópios, Resposta aberta, que depende do posicionamento dos
microscópios entre outros), e a Filosofia não está associada alunos diante das questões apresentadas pelo filme. O objetivo
ao uso de instrumentos. é motivar a reflexão com base em uma situação concreta que
2. Os procedimentos de pesquisa para a elaboração de cada envolve o direito à liberdade e a luta contra o preconceito. Há
tipo de texto podem ser os mesmos ou podem ser diferen- muitos outros exemplos, de filmes e atividades, que podem ser
tes. A reflexão em um texto filosófico pode basear-se em utilizados em substituição ao proposto, se o professor assim julgar
dados qualitativos ou quantitativos; e a análise em um texto conveniente.
científico também pode tomar como ponto de partida a
leitura de dados qualitativos ou quantitativos. No caso dos Leitura e análise de texto (CA, p. 14-15)
textos analisados neste exercício, a reflexão filosófica não Espera-se que os alunos respondam negativamente, demons-
se apoia em dados estatísticos, ao passo que o relatório trando perceber a contradição entre medidas totalitárias, como
científico, sim. o golpe de Estado de 1964, do qual resultou a decretação do
AI-5, e princípios como liberdade e democracia. Esta pode ser
Lição de casa (CA, p. 10) uma boa ocasião para discutir brevemente sobre esse período
As perguntas orientam a entrevista que os alunos devem da história brasileira, talvez até com a proposição de um trabalho
realizar com os professores da área de Ciências da Natureza. interdisciplinar.

78
Filosofia – 3a série – Volume 2

Leitura e análise de texto (CA, p. 15-18) do acesso de grande parte da população aos benefícios
1. Ação voluntária: aquela em que o sujeito que age é a única previstos legalmente e aos recursos materiais.
causa da ação (autodeterminação), isto é, o princípio que
move a ação reside no próprio agente. Ação involuntária: é Leitura e análise de texto (CA, p. 22-23)
quando ocorre o contrário, ou seja, o princípio que move a Resposta aberta, mas é importante orientar os alunos para
ação é exterior ao sujeito que age (ignorância ou força). que, ao argumentar e justificar sua posição, eles dialoguem
com o texto. De toda maneira, durante as discussões, não se
Ações voluntárias Ações involuntárias pode perder de vista que o livre-arbítrio é a possibilidade de
decidir em função da própria vontade, sem nenhuma causa
Alguém decide por si mesmo Alguém é levado à força ou determinante alheia a essa vontade.
fazer ou não algo, como por necessidade a ir a algum
ingerir bebidas, fumar, lugar ou a praticar alguma Leitura e análise de texto (CA, p. 23-25)
praticar o bem ou o mal etc. ação. 1. Segundo o texto e a referência citada, o livre-arbítrio é a
possibilidade de decidir em função da própria vontade,
2. Ação voluntária e involuntária: aquela que se dá por escolha sem nenhuma causa determinante alheia a essa vontade.
do agente, que, no entanto, age por força das circunstâncias. 2. Porque do fato de Deus conhecer a ordem das causas
Exemplo: os tripulantes de um navio que decidem livrar-se que dão origem a todas as coisas não se pode concluir
da carga para evitar o naufrágio. que não há nada que dependa da vontade humana. Nossa
vontade também faz parte da ordem das causas conheci-
Desafio! (CA, p. 19-20) das por Deus.
Resposta aberta. Contudo, os alunos devem expressar nas 3. Porque, mesmo com a ajuda da graça divina, o homem é
produções escritas que as situações podem limitar o nosso livre para escolher se vai praticar o Bem ou o Mal. E isso
poder de deliberação e escolha e atentar para as situações vale também para os que estão predestinados à salvação.
“limitadoras” nas suas diferentes dimensões: sociais, econômi- Ou seja, para o homem se salvar, não basta estar predesti-
cas, tecnológicas e históricas. nado a isso. É preciso, ainda, que ele escolha fazer o Bem.
A predestinação, portanto, não é uma necessidade. Ela
Lição de casa (CA, p. 21-22) depende também da vontade humana. Não fosse assim,
1. Resposta aberta. Porém, os alunos devem compreender que não se poderia responsabilizar o homem pelo erro ou
os personagens eram movidos, principalmente, pelas cir- pelo pecado.
cunstâncias em que viviam (de extrema pobreza). 4. Porque, se não há liberdade de escolha, a ação não pode
2. Resposta também aberta, mas deve haver questionamento ser julgada como sendo boa nem má, e, portanto, não
sobre as consequências de Chicó e João Grilo responderem cabe punição nem recompensa.
por esses atos e sobre as causas que as suas atitudes provoca-
vam. É preciso mostrar a importância da reflexão sobre a neces- Lição de casa (CA, p. 25)
sidade de termos sempre de responder por nossos atos. Resposta aberta, que exige dos alunos reflexão e posiciona-
3. Resposta aberta. O argumento apresentado no filme é o de mento, com explicitação de argumentos sobre o livre-arbítrio nas
que o cangaceiro não tivera escolha, dadas as circunstâncias relações sociais e situações de convivência.
em que vivera desde a infância. Daí ele não poder ser respon-
sabilizado por seus crimes, sendo, portanto, absolvido. SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 3
Os alunos que não puderam assistir ao filme e desenvolve- O determinismo
ram uma reflexão com base no artigo 5º da Constituição Exercícios (CA, p. 28)
devem contemplar a problematização sobre a viabilidade 1. Resposta aberta. O objetivo da questão, ao introduzir o
prática dos direitos previstos em lei: Quais são os entraves estudo sobre o determinismo, é orientar os alunos para
que impedem essa viabilidade? que, ao responder, levem em consideração a sua própria
Um entrave que pode ser apontado como exemplo é o da experiência de vida, o que resultará em uma melhor com-
má distribuição de renda e o consequente impedimento preensão do tema.

79
2. Resposta aberta. A intenção é provocar nos alunos o ques- Lição de casa (CA, p. 34-35)
tionamento sobre como elaboram os critérios com base Espera-se que os alunos apontem como semelhança nas
nos quais eles fazem suas escolhas. três histórias o determinismo, pois os três protagonistas acre-
ditam que possuem uma trajetória de vida que concatena os
Desafio! (CA, p. 29) fatos de forma que o resultado não poderia se dar de outra
Nesta resposta, espera-se ao menos um exemplo no qual maneira, ainda que tenham tomado decisões para atingi-lo.
alguém não se apresente unicamente como vítima de determi-
nada situação e também não se apresente com liberdade abso- Leitura e análise de texto (CA, p. 35-37)
luta para fazer o que quiser. Este exercício deve revelar o esforço 1. Consiste em considerar Deus o criador da ordem do mundo
da busca de uma solução que demonstre que se deve evitar e o responsável pela condução dos acontecimentos. Em
tanto a radicalidade da visão determinista quanto a radicalidade outras palavras, o mundo possui uma ordem racional que
da visão de que o homem é livre para fazer tudo o que deseja vem de Deus e que compreende tanto os acontecimentos
ou imagina. como as ações dos homens. De modo geral, portanto, a dou-
trina da providência implica negar a possibilidade da liber-
Pesquisa individual (CA, p. 30) dade humana, pois ao homem cabe apenas adequar-se aos
As informações sobre a tragédia grega podem ser encontra- desígnios divinos.
das com facilidade, mas o fundamental para esta pesquisa são 2. O homem é livre para fazer o que tem vontade, mas não é livre
alguns dados sobre a Antiguidade Grega, sobretudo referente ao para escolher a vontade, o desejo e a inclinação que tem. A
século V a.C. A tragédia apresentava os conflitos sociais próprios vontade, o desejo e a inclinação do homem derivam de outras
da época, quer seja em termos das relações familiares, quer seja causas, alheias a ele. Precisamente, derivam de uma cadeia de
no âmbito de poder mais amplo, da polis. Por meio da tragédia, causas, cuja origem está em Deus, que é a causa primeira de
os gregos falavam, reconheciam e refletiam sobre seus conflitos. tudo. Assim, as ações praticadas pelos homens derivam em
parte de sua vontade (liberdade) e em parte da providência
Desafio! (CA, p. 30) divina (necessidade). Liberdade e necessidade, portanto, não
1. O homem. Esta foi a resposta dada por Édipo à Esfinge. são, para Hobbes, incompatíveis.
2. Resposta aberta, porém, o objetivo aqui é levar os alunos
ao entendimento das questões próprias do tema “determi- Leitura e análise de texto (CA, p. 38-39)
nismo”, que será abordado nesta aula. Resposta aberta. Esta atividade permite muitas análises.
Contudo, os alunos deverão demonstrar entendimento da
Leitura e análise de texto (CA, p. 30-31) leitura proposta apontando para o que o poema revela acerca
1. Resposta aberta, mas os alunos devem associar o determi- das circunstâncias da vida de Lampião e o que origina o estra-
nismo a situações do cotidiano. nhamento da sua chegada ao Céu. Os alunos devem atentar
2. Peça aos alunos que tentem recuperar na memória esse tipo para a atitude de Lampião de vingar a morte do pai e que
de situação. Solicite que descrevam, apresentando um posi- tal atitude foi justificada como resposta à violência do fazen-
cionamento e justificando, o que é sempre interessante para deiro. Nesse contexto, os alunos devem demonstrar capaci-
o exercício da argumentação. dade de refletir sobre a atitude de Lampião e se ela decorre
de uma espécie de determinismo (a partir de uma cultura de
Leitura e análise de texto (CA, p. 31-34) vingança) que motivou a sua condição de pistoleiro ou se
1 A mensagem é a de que existe um destino, previamente tra- a sua atitude está fundamentada no livre-arbítrio. Os alunos
çado, que não pode ser evitado. Édipo, ao tentar escapar do deverão apresentar suas análises e questionamentos sobre
seu destino, acaba indo diretamente ao encontro dele. a justificativa de Lampião para a sua vida (causas e conse-
2. Neste exercício, o objetivo é levar os alunos a estabelecer quências) com base nas concepções de liberdade observadas
um paralelo entre os exemplos de determinismo na tragédia anteriormente (Situações de Aprendizagem 2 e 3). Eles pode-
grega e os que ocorrem no chamado “determinismo cien- rão, ainda, analisar se o pedido de Lampião para o santo fazer
tífico”, motivando-os a estudar e pesquisar exemplos sobre o chover no Sertão nordestino é determinante para a pobreza
determinismo nas ciências. da região.

80
Filosofia – 3a série – Volume 2

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 4 Leitura e análise de texto (CA, p. 45-47)


A concepção dialética da liberdade 1. Dizer que o homem é um “conjunto de relações sociais”
Exercício (CA, p. 41) significa que, na concepção do materialismo histórico dia-
O objetivo desta questão é introduzir as discussões desta lético, o homem não pode ser concebido como um ser
Situação de Aprendizagem. A referência à imagem do mar no abstrato, isolado, destacado do mundo concreto em que
seu constante movimento tem o sentido de aproximar os alunos vive (como faz o libertarismo), pois ele é, em grande parte,
do tema proposto (dialética). A relação entre o tema e a imagem determinado pelas circunstâncias em que vive (mas não de
está na ideia de que tudo flui, tudo muda, tudo é movimento. modo absoluto, como quer o determinismo).
2. Ao afirmar que o homem tem papel ativo na determinação
Leitura e análise de texto (CA, p. 42-45) das circunstâncias em que vive (liberdade), ainda que ele
1. Em um sentido geral, a palavra está associada à ideia de um seja determinado, em grande medida, por estas circunstân-
todo formado por partes que se opõem, e que estão em cons- cias. Não se trata, porém, de uma determinação absoluta
tante conflito. Por meio da contradição, há uma transformação (determinismo), assim como a sua liberdade para interferir
nas partes, dando origem a um novo todo. Assim, uma aula nas circunstâncias também não é absoluta.
expositiva com base nos textos do Caderno do Professor pode
ajudar os alunos a se apropriar desse conceito de forma rigo- Lição de casa (CA, p. 47-48)
rosa, tendo em vista a contribuição dos autores destacados. Para esta discussão, peça aos alunos que retomem as reflexões
2. Para Heráclito, nada é imóvel, imutável, permanente; ao con- sobre a liberdade e destaquem, em cada imagem, as referências
trário, tudo está em movimento, tudo muda, tudo flui, tudo que sugerem concepções de liberdade. Este exercício exige que
se transforma, tudo é devir. Por isso: “Não se pode entrar duas os alunos revelem seus entendimentos sobre o tema.
vezes no mesmo rio”, porque tanto as águas como a pessoa
que nelas entra novamente já não são as mesmas. Peça aos SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 5
alunos que se manifestem e se posicionem a respeito da visão Filosoàa e Literatura
do filósofo. Leitura e análise de texto (CA, p. 50)
3. Em linhas gerais, para Sócrates e Platão, a palavra “dialética” 1. Resposta aberta, que depende da capacidade de argumen-
designava certo modo de discutir ou dialogar, cujo objetivo tação do aluno, mas é preciso destacar que o ser humano é
era explicitar as contradições presentes no raciocínio dos formado por uma série de fatores internos e externos, o que
interlocutores. Sua finalidade era superar as divergências das não permite uma posição definitiva sobre o que somos.
opiniões de cada um e atingir um conhecimento comum 2. A resposta exige que o aluno reflita sobre o significado da
verdadeiro. palavra “intervalo” quando esta se refere à constituição da
4. A dialética de Hegel é identificada pela palavra “idealista”, ou identidade.
“idealismo”. Segundo esse ponto de vista, a trajetória humana 3. Resposta aberta que depende da abordagem do texto,
e sua transformação têm como desígnio o aperfeiçoamento mas é preciso que os alunos se refiram ao poema e reco-
do espírito. A palavra “dialética”, na obra de Marx e Engels, nheçam que ele traz uma importante reflexão sobre o
é associada à palavra “materialista”, ou “materialismo”, por autoconhecimento.
entender que a trajetória humana e sua transformação resul-
tam no aperfeiçoamento das relações humanas na existência Leitura e análise de texto (CA, p. 51-52)
material, na transformação da natureza e da sociedade para Das diferenças apontadas no texto, uma é o caráter fictí-
construção de igualdade. cio da Literatura (lembrando que filósofos podem fazer uso
5. A frase denota a concepção materialista e dialética dos auto- de situações fictícias para construir a argumentação). Outra
res, para os quais as transformações na sociedade humana, das diferenças é que o discurso da Literatura procura provocar
verificadas ao longo da história, ocorrem por força das con- emoções, e o da Filosofia suscita reflexões. A dificuldade em
tradições a ela inerentes, como a contradição entre as classes distinguir essas duas áreas reside justamente no fato de que a
sociais. Dessa forma, as duas classes sociais fundamentais do Literatura também provoca reflexões e o texto filosófico mui-
capitalismo (a burguesia e os trabalhadores) estão sempre em tas vezes faz uso de narrativas fictícias como pano de fundo
contradição, em luta. para seus argumentos.

81
Pesquisa individual (CA, p. 53) política para a vida privada, também consequência do contato
Oriente os alunos para que a pesquisa seja feita em diferentes com outros povos, que trouxe a necessidade de refletir sobre
fontes e peça a eles que registrem pelo menos um filósofo que moral e sobre diferenças pessoais no processo de convívio
também escreva usando a Literatura.. Jean-Jacques Rousseau é um social.
exemplo. Com essa pesquisa, os alunos entrarão em contato com, 2. Resposta aberta, que depende das hipóteses dos alunos. É
pelo menos, dois ou três filósofos que expressaram suas concep- importante lembrar que a Filosofia pode ajudar no processo
ções e questionamentos por meio da Literatura. de autoconhecimento e na reflexão sobre uma forma melhor
de convívio entre os homens.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 6
A Gelicidade segundo o estoicismo e o epicurismo Exercícios (CA, p. 57)
Exercícios (CA, p. 55) 1. Mostre aos alunos a importância de que eles investiguem,
1. Resposta aberta, que depende da ideia que os alunos têm em suas experiências de vida, o que podem mudar e o que
sobre felicidade em geral, mas a definição pode ser expressa não podem mudar. Por exemplo, não podemos mudar certas
com ajuda de uma metáfora, de uma situação real. Espera-se situações, como a morte de pessoas queridas.
que, com esta atividade, os alunos possam desenvolver sua 2. Podemos distinguir umas das outras por meio da observação,
própria visão sobre felicidade, a fim de ampliar seu modo de segundo nossa experiência vivencial, e por meio de reflexão
expressão ao utilizar uma metáfora. filosófica. Muitas vezes precisamos parar para identificar o que
2. Resposta aberta, que depende das representações e hipóteses for- está em nossas mãos e para poder evitar ou mudar o que não
muladas pelos alunos. No entanto, oriente-os no sentido de que a depende de nós, mas que pode ser transformado por meio de
resposta revele a leitura do mundo atual, com seus problemas mais ações coletivas.
cruciais, como miséria, degradação ambiental, doenças etc. 3. Aceitar com serenidade não é se conformar sem fazer nada,
3. Resposta aberta, que depende das representações dos alunos mas significa identificar que não está em nossas mãos o
sobre a própria felicidade. Porém, são imprescindíveis argu- poder de mudar tudo e todos. Também não será uma ação
mentos que justifiquem a resposta e espera-se que sejam coe- apenas de passividade se refletirmos e aprendermos com as
rentes com as representações da felicidade. Exemplo: se os alu- situações que devemos aceitar.
nos afirmarem que ser feliz é ter uma casa, é importante que
eles justifiquem por que e de que forma a felicidade se associa Leitura e análise de texto (CA, p. 58-61)
ao fato de ter uma casa. 1. É preciso retomar a leitura do texto, pois essa resposta com-
4. A seguir, indicamos algumas respostas possíveis. preende um dos argumentos centrais, porque, fundamental-
a) De fato, não existe o permanente estado de felicidade. Cada mente, segundo o estoicismo, não podemos desejar o que
um de nós tem momentos felizes e momentos de profunda é contrário ao nosso destino. Mas o texto traz ainda outros
infelicidade. aspectos que podem ser destacados pelos alunos.
b) A boa condição financeira não é suficiente para solucionar 2. Resposta aberta, que depende das representações dos alunos
todos os problemas emocionais e afetivos do ser humano. sobre essas questões cotidianas. No entanto, chame a atenção
c) A felicidade está dentro de nós, mas dependemos também deles para o fato de que algumas situações de saúde, beleza,
de algumas condições objetivas externas, como boa condição riqueza e de liberdade podem depender de nós. Neste exer-
de moradia, acesso à saúde e à educação. Além disso, mesmo cício, mostre a importância da reflexão sobre a diversidade de
que façamos de tudo para nos relacionarmos bem com todas fatores que cercam cada uma das situações apontadas.
as pessoas, algumas delas apresentam problemas que impedem 3. Na Oração da serenidade, um traço do estoicismo está na
a exteriorização de nossa felicidade. Entretanto, a Filosofia nos proposta de aceitar o que não se pode mudar.
ajuda a pensar na relação entre o eu individual e o mundo. 4. Resposta aberta, que depende da situação citada pelos alunos.
Um exemplo é o falecimento de um familiar por doença ou
Leitura e análise de texto (CA, p. 55-57) em razão de um acidente.
1. Neste exercício, os alunos devem reler o texto A felicidade
como tema da Filosofia, para identificar os argumentos asso- Exercícios (CA, p. 61)
ciados à mudança de objeto da reflexão filosófica da esfera 1. O resultado deste exercício está na representação dos alunos

82
Filosofia – 3a série – Volume 2

sobre a morte. É importante que eles analisem sua relação Com esse levantamento sobre o ideal de felicidade dos alu-
com a morte e com a ideia de Deus e que deem razões para nos, você pode identificar representações associadas a valo-
ter ou não ter medo. res que mereçam questionamentos, como a ideia de prazer
2. Oriente os alunos para que se estabeleçam relações entre o imediatista ou de individualismo, por exemplo.
medo e os entraves para a felicidade.
3. Nesta questão, a reflexão é fundamental para levantar as Leitura e análise de texto (CA, p. 68-69)
representações sobre o prazer. Deve-se ainda lembrar que 1. Uma possível justificativa está no fato de que sofremos entra-
a felicidade pode também advir de processos nada pra- ves à nossa felicidade cotidianamente, por sermos seres rela-
zerosos, de sacrifícios para ajudar alguém doente, para cionais que vivem em dependência da natureza e dos demais
conquistar um título em campeonato. Esforço e trabalho seres humanos.
também podem estar associados à felicidade. 2. Porque, se não admitirmos que somos seres limitados e que
nem todos os nossos desejos podem ser satisfeitos, teremos
Leitura e análise de texto (CA, p. 62-64) frustrações permanentes. O texto traz argumentos para essa
1. Solicite aos alunos que retomem atentamente a leitura para reflexão de forma aprofundada.
dar uma resposta a cada situação. Depois disso, eles pode-
rão também constatar que uma ideia presente em todas as Leitura e análise de texto (CA, p. 70-71)
afirmações refere-se a um princípio de Epicuro: abrir mão 1. Resposta pessoal que depende da representação que os
de prazer imediato em nome da felicidade, de um prazer alunos têm da felicidade. Porém, são necessários argumen-
mais duradouro. tos reflexivos sobre a relação entre felicidade e aquisição
2. Neste exercício, o aluno deve relatar, e, ao final, justifi- de bens e adoção de normas de comportamento. Nesse
car uma situação na qual de fato ele tenha sido capaz sentido, espera-se que os alunos relacionem a felicidade e
de superar o imediatismo e pôde deixar de lado um pra- a concepção de liberdade e autonomia.
zer momentâneo para conquistar a felicidade entendida 2. Resposta pessoal. Porém, são necessários argumentos refle-
como um processo mais duradouro de bem-estar físico ou xivos que demonstrem uma leitura coerente do mundo atual
espiritual. e do poder dos meios de comunicação.

Lição de casa (CA, p. 64) Leitura e análise de texto (CA, p. 71-72)


1. Para fazer este resumo, os alunos devem retomar a leitura 1. A perda da convivência, a ausência de quem admiramos e
do texto A felicidade segundo o epicurismo, recuperando as amamos e o medo de não viver os sonhos, no caso da ideia da
ideias de Epicuro sobre a felicidade. própria morte.
2. Para Epicuro, a Filosofia pode ajudar no exame cuidadoso para 2. Ao retomar os argumentos do autor, pode-se perceber que
a distinção entre as coisas que verdadeiramente nos trazem uma ideia central refere-se ao fato de termos consciência de
prazer e as que provocam dor. que não somos eternos e, por isso, podemos degustar a vida
no presente com mais intensidade.
Pesquisa individual (CA, p. 65) 3. A morte nos torna livres em vida porque podemos optar por
Com a realização desta pesquisa, os alunos poderão exercitar morrer ou viver. Podemos escolher a vida.
a capacidade de identificar concepções sobre a felicidade em
uma poesia ou em uma letra de música. Lição de casa (CA, p. 72)
Incentive e oriente os alunos de forma que eles entrem em
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 7 contato com diferentes concepções sobre a morte. Em cada
Ser Geliz é preciso cidade, eles poderão encontrar pelo menos duas pessoas de
Exercícios (CA, p. 67) diferentes religiões de quem obter uma entrevista. Com esta
1. A felicidade de ter a mulher amada, de ser amigo do rei (e, atividade, os alunos poderão conhecer abordagens distintas
com isso, ter benefícios) e de poder escolher. sobre o tema morte e relativizar e ampliar sua concepção.
2. É fundamental que os alunos sejam incentivados a pensar Seria interessante que, em sala de aula, fossem socializadas as
em seu ideal de felicidade para compor seu projeto de vida. informações adquiridas por meio das entrevistas.

83
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 8 2. Os alunos deverão demonstrar o entendimento de que o
Felicidade e compromisso: consigo e com o outro texto apresenta uma versão de bem-estar e felicidade indivi-
Exercício (CA, p. 75) dual e egoísta. Uma perspectiva em que a felicidade deve ser
Resposta aberta, para a qual é importante que os alunos conquistada individualmente e de forma a excluir os outros.
façam um esforço de auto-observação para perceber quais de
suas características podem dificultar ou impedir sua felicidade. Leitura e análise de texto (CA, p. 79-80)
Por exemplo: dificuldade de comunicação, timidez etc. 1. Significa que somos seres que vivemos em relação uns com os
outros.
Leitura e análise de texto (CA, p. 75-76) 2. No sentido de que somos incompletos e precisamos de outros
Resposta aberta. Depois que os alunos destacarem no texto as seres humanos, da natureza e da sociedade como um todo
frases com as quais concordam e as frases com as quais discor- para satisfazer as nossas necessidades materiais e espirituais.
dam, eles devem justificar as suas escolhas. Com isso, desenvol- 3. Baseia-se no fato de que somos seres para os quais é importante
verão a capacidade de leitura reflexiva e a capacidade de justificar ter relações uns com os outros e de que a solidariedade e a coo-
seu posicionamento. peração podem levar a boas condições de vida para todos.
4. É possível superar o egoísmo e o individualismo por meio de
Exercícios (CA, p. 77) políticas públicas voltadas para a justiça e a equidade econô-
1. A diferença está na capacidade de aprender com as situa- mica e social; da ampliação dos direitos na perspectiva de cons-
ções de perda e com as situações em relação às quais não trução da ética da solidariedade; e também da autoavaliação
podemos fazer nada. Por outro lado, o conformismo passivo sobre suas próprias atitudes e sua relação com os outros.
é aquele segundo o qual concordamos com situações, até
mesmo com aquelas que poderíamos mudar. Pesquisa em grupo (CA, p. 80)
2. Ser escravo do desejo é viver apenas pela satisfação a qual- Resposta aberta. Entretanto, ao pesquisar a letra da música
quer preço, ao dominar pessoas, por exemplo. Lutar pelo que na internet, os alunos podem deparar com interpretações já
se quer implica ética para identificar se o que se quer não pre- formuladas que relacionam a música com “crítica social”, e
judica ninguém e se pode ser motivo de união de esforços de que “para ser feliz é preciso ir além das necessidades bási-
para satisfazer mais as pessoas do que a si mesmo. cas” etc. Essas interpretações estão corretas, mas neste caso
3. Baixa autoestima implica desvalorizar-se perante o outro. A é importante que se exija do aluno que ele relacione a letra
compreensão de que não sou o centro do mundo não signi- da música com outros textos e com as considerações de aula
fica que eu me desvalorize, e, sim, que reconheço meus limi- feitas pelo professor. Dessa forma, essa pesquisa requer que
tes e que preciso do outro. os alunos formulem uma visão crítica da felicidade com o
4. Deixar-se levar pelas emoções sugere ausência de reflexão e auxílio de diferentes tipos de textos e de informações (letra
falta de cuidado nas relações. Respeitar as próprias emoções da música, textos no Caderno, explicação do professor de
sugere respeito a si e ao próximo. Filosofia e outros comentários sobre o tema e que o aluno
já teve acesso). Nesse sentido, os alunos devem associar o
Lição de casa (CA, p. 77-78) imperativo de que para ser feliz é preciso ir além das necessi-
1. dades básicas com a necessidade de se incluir os outros, que
a) A frase indica que alguns nascem fracos e destinados a ser infeli- todos devem, por exemplo, ter direito à diversão e às pro-
zes. E merece questionamento sob a ótica de uma ética solidária. duções culturais e que para ser feliz é preciso refletir (“Você
b) Somente os espertos podem ser felizes. Merece questiona- tem fome de quê?”) e não apenas aderir a uma imagem, um
mento: O que torna uma pessoa esperta? Quais são as carac- produto ou um comportamento.
terísticas de uma pessoa esperta? O que leva uma pessoa a
não ser esperta? Exercícios (CA, p. 81)
c) Felicidade é vantagem sobre tudo e sobre todos. Cabe ques- 1. Reflexão de suma importância para levantar as representações
tionar se não é o caso de todos construírem um mundo em dos alunos sobre a palavra “política”, cuja justificativa deve
que haja vantagens para todos. ser incentivada.

84
Filosofia – 3a série – Volume 2

2. Resposta aberta, mas oriente os alunos na descrição do tipo Leitura e análise de texto (CA, p. 82-84)
de participação. 1. No sentido de que se abster politicamente implica perder a
3. Esses são temas sobre os quais as pessoas discutem, e oportunidade de tomar decisões importantes para a vida social.
muito. A frase parte do pressuposto de que cada um deve 2. Uma resposta possível é que a felicidade tem, sim, dimensão
seguir sua orientação e, para evitar conflitos, não a colo- política, porque é parte importante de nosso bem-estar material
car em discussão. A reflexão filosófica exige exatamente o e espiritual e depende do tipo de sociedade no qual vivemos.
contrário: tudo é motivo para discussão, entendida como 3. A participação política é uma das condições para a constru-
troca de ideias para construir novas formas de pensar e ção da felicidade especificamente no que se refere à construção
de agir. Discutir política é fundamental para a construção de uma sociedade justa, solidária e que beneficie todos.
de uma sociedade mais justa. Futebol e religião também 4. Resposta aberta, para a qual se deve incentivar os alunos a
são práticas humanas que merecem ser debatidas para o ler sua realidade e indicar, ainda que teoricamente e hipo-
aperfeiçoamento do ser humano. teticamente, uma forma de participação para auxiliá-los a
melhorar as condições básicas da sua comunidade.

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CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO GERAL Química: Ana Joaquina Simões S. de Mattos Rosângela Teodoro Gonçalves, Roseli Soares
NOVA EDIÇÃO 2014-2017 Carvalho, Jeronimo da Silva Barbosa Filho, João Jacomini, Silvia Ignês Peruquetti Bortolatto e Zilda
Batista Santos Junior, Natalina de Fátima Mateus e Meira de Aguiar Gomes.
COORDENADORIA DE GESTÃO DA Roseli Gomes de Araujo da Silva.
EDUCAÇÃO BÁSICA – CGEB Área de Ciências da Natureza
Área de Ciências Humanas
Biologia: Aureli Martins Sartori de Toledo, Evandro
Coordenadora Filosofia: Emerson Costa, Tânia Gonçalves e
Rodrigues Vargas Silvério, Fernanda Rezende
Maria Elizabete da Costa Teônia de Abreu Ferreira.
Pedroza, Regiani Braguim Chioderoli e Rosimara
Diretor do Departamento de Desenvolvimento Geografia: Andréia Cristina Barroso Cardoso, Santana da Silva Alves.
Curricular de Gestão da Educação Básica Débora Regina Aversan e Sérgio Luiz Damiati.
João Freitas da Silva Ciências: Davi Andrade Pacheco, Franklin Julio
História: Cynthia Moreira Marcucci, Maria de Melo, Liamara P. Rocha da Silva, Marceline
Diretora do Centro de Ensino Fundamental Margarete dos Santos Benedicto e Walter Nicolas
de Lima, Paulo Garcez Fernandes, Paulo Roberto
dos Anos Finais, Ensino Médio e Educação Otheguy Fernandez.
Orlandi Valdastri, Rosimeire da Cunha e Wilson
Profissional – CEFAF Luís Prati.
Sociologia: Alan Vitor Corrêa, Carlos Fernando de
Valéria Tarantello de Georgel
Almeida e Tony Shigueki Nakatani.
Coordenadora Geral do Programa São Paulo Física: Ana Claudia Cossini Martins, Ana Paula
PROFESSORES COORDENADORES DO NÚCLEO Vieira Costa, André Henrique Ghelfi Rufino,
faz escola
PEDAGÓGICO Cristiane Gislene Bezerra, Fabiana Hernandes
Valéria Tarantello de Georgel
Área de Linguagens M. Garcia, Leandro dos Reis Marques, Marcio
Coordenação Técnica Educação Física: Ana Lucia Steidle, Eliana Cristine Bortoletto Fessel, Marta Ferreira Mafra, Rafael
Roberto Canossa Budiski de Lima, Fabiana Oliveira da Silva, Isabel Plana Simões e Rui Buosi.
Roberto Liberato Cristina Albergoni, Karina Xavier, Katia Mendes
Suely Cristina de Albuquerque Bomfim e Silva, Liliane Renata Tank Gullo, Marcia Magali Química: Armenak Bolean, Cátia Lunardi, Cirila
Rodrigues dos Santos, Mônica Antonia Cucatto da Tacconi, Daniel B. Nascimento, Elizandra C. S.
EQUIPES CURRICULARES
Silva, Patrícia Pinto Santiago, Regina Maria Lopes, Lopes, Gerson N. Silva, Idma A. C. Ferreira, Laura
Área de Linguagens Sandra Pereira Mendes, Sebastiana Gonçalves C. A. Xavier, Marcos Antônio Gimenes, Massuko
Arte: Ana Cristina dos Santos Siqueira, Carlos Ferreira Viscardi, Silvana Alves Muniz. S. Warigoda, Roza K. Morikawa, Sílvia H. M.
Eduardo Povinha, Kátia Lucila Bueno e Roseli Fernandes, Valdir P. Berti e Willian G. Jesus.
Língua Estrangeira Moderna (Inglês): Célia
Ventrella.
Regina Teixeira da Costa, Cleide Antunes Silva,
Área de Ciências Humanas
Educação Física: Marcelo Ortega Amorim, Maria Ednéa Boso, Edney Couto de Souza, Elana
Filosofia: Álex Roberto Genelhu Soares, Anderson
Elisa Kobs Zacarias, Mirna Leia Violin Brandt, Simone Schiavo Caramano, Eliane Graciela
Gomes de Paiva, Anderson Luiz Pereira, Claudio
dos Santos Santana, Elisabeth Pacheco Lomba
Rosângela Aparecida de Paiva e Sergio Roberto Nitsch Medeiros e José Aparecido Vidal.
Kozokoski, Fabiola Maciel Saldão, Isabel Cristina
Silveira.
dos Santos Dias, Juliana Munhoz dos Santos,
Kátia Vitorian Gellers, Lídia Maria Batista Geografia: Ana Helena Veneziani Vitor, Célio
Língua Estrangeira Moderna (Inglês e
Bomfim, Lindomar Alves de Oliveira, Lúcia Batista da Silva, Edison Luiz Barbosa de Souza,
Espanhol): Ana Beatriz Pereira Franco, Ana Paula
Aparecida Arantes, Mauro Celso de Souza, Edivaldo Bezerra Viana, Elizete Buranello Perez,
de Oliveira Lopes, Marina Tsunokawa Shimabukuro
Neusa A. Abrunhosa Tápias, Patrícia Helena Márcio Luiz Verni, Milton Paulo dos Santos,
e Neide Ferreira Gaspar.
Passos, Renata Motta Chicoli Belchior, Renato Mônica Estevan, Regina Célia Batista, Rita de
Língua Portuguesa e Literatura: Angela Maria José de Souza, Sandra Regina Teixeira Batista de Cássia Araujo, Rosinei Aparecida Ribeiro Libório,
Baltieri Souza, Claricia Akemi Eguti, Idê Moraes dos Campos e Silmara Santade Masiero. Sandra Raquel Scassola Dias, Selma Marli Trivellato
Santos, João Mário Santana, Kátia Regina Pessoa, e Sonia Maria M. Romano.
Língua Portuguesa: Andrea Righeto, Edilene
Mara Lúcia David, Marcos Rodrigues Ferreira, Roseli
Bachega R. Viveiros, Eliane Cristina Gonçalves História: Aparecida de Fátima dos Santos
Cordeiro Cardoso e Rozeli Frasca Bueno Alves.
Ramos, Graciana B. Ignacio Cunha, Letícia M.
Pereira, Carla Flaitt Valentini, Claudia Elisabete
Área de Matemática de Barros L. Viviani, Luciana de Paula Diniz,
Silva, Cristiane Gonçalves de Campos, Cristina
Matemática: Carlos Tadeu da Graça Barros, Márcia Regina Xavier Gardenal, Maria Cristina
de Lima Cardoso Leme, Ellen Claudia Cardoso
Ivan Castilho, João dos Santos, Otavio Yoshio Cunha Riondet Costa, Maria José de Miranda
Doretto, Ester Galesi Gryga, Karin Sant’Ana
Yamanaka, Rosana Jorge Monteiro, Sandra Maira Nascimento, Maria Márcia Zamprônio Pedroso,
Kossling, Marcia Aparecida Ferrari Salgado de
Zen Zacarias e Vanderley Aparecido Cornatione. Patrícia Fernanda Morande Roveri, Ronaldo Cesar
Barros, Mercia Albertina de Lima Camargo,
Alexandre Formici, Selma Rodrigues e
Priscila Lourenço, Rogerio Sicchieri, Sandra Maria
Área de Ciências da Natureza Sílvia Regina Peres.
Fodra e Walter Garcia de Carvalho Vilas Boas.
Biologia: Aparecida Kida Sanches, Elizabeth
Área de Matemática
Reymi Rodrigues, Juliana Pavani de Paula Bueno e
Matemática: Carlos Alexandre Emídio, Clóvis Sociologia: Anselmo Luis Fernandes Gonçalves,
Rodrigo Ponce.
Antonio de Lima, Delizabeth Evanir Malavazzi, Celso Francisco do Ó, Lucila Conceição Pereira e
Ciências: Eleuza Vania Maria Lagos Guazzelli, Edinei Pereira de Sousa, Eduardo Granado Garcia, Tânia Fetchir.
Gisele Nanini Mathias, Herbert Gomes da Silva e Evaristo Glória, Everaldo José Machado de Lima,
Maria da Graça de Jesus Mendes. Fabio Augusto Trevisan, Inês Chiarelli Dias, Ivan Apoio:
Castilho, José Maria Sales Júnior, Luciana Moraes Fundação para o Desenvolvimento da Educação
Física: Anderson Jacomini Brandão, Carolina dos Funada, Luciana Vanessa de Almeida Buranello, - FDE
Santos Batista, Fábio Bresighello Beig, Renata Mário José Pagotto, Paula Pereira Guanais, Regina
Cristina de Andrade Oliveira e Tatiana Souza da Helena de Oliveira Rodrigues, Robson Rossi, CTP, Impressão e acabamento
Luz Stroeymeyte. Rodrigo Soares de Sá, Rosana Jorge Monteiro, Log & Print Gráfica e Logística S.A.
GESTÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO CONCEPÇÃO DO PROGRAMA E ELABORAÇÃO DOS Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton Luís
EDITORIAL 2014-2017 CONTEÚDOS ORIGINAIS Martins e Renê José Trentin Silveira.

COORDENAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime Tadeu


FUNDAÇÃO CARLOS ALBERTO VANZOLINI DOS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DOS Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Araujo e
CADERNOS DOS PROFESSORES E DOS Sérgio Adas.
CADERNOS DOS ALUNOS
Presidente da Diretoria Executiva
Ghisleine Trigo Silveira História: Paulo Miceli, Diego López Silva,
Mauro de Mesquita Spínola
Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e
CONCEPÇÃO
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GESTÃO DE TECNOLOGIAS APLICADAS Guiomar Namo de Mello, Lino de Macedo,
À EDUCAÇÃO Luis Carlos de Menezes, Maria Inês Fini Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza
(coordenadora) e Ruy Berger (em memória).
Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe,
Direção da Área
Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina
Guilherme Ary Plonski AUTORES
Schrijnemaekers.

Coordenação Executiva do Projeto Linguagens


Coordenador de área: Alice Vieira. Ciências da Natureza
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Arte: Gisa Picosque, Mirian Celeste Martins,
Geraldo de Oliveira Suzigan, Jéssica Mami Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo
Gestão Editorial
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Denise Blanes
Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta
Educação Física: Adalberto dos Santos Souza, Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Santana,
Equipe de Produção
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Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Mendes da Silveira e Solange Soares de Camargo.
Editorial: Amarilis L. Maciel, Ana Paula S. Bezerra,
Renata Elsa Stark e Sérgio Roberto Silveira.
Angélica dos Santos Angelo, Bóris Fatigati da Silva,
Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Leite,
Bruno Reis, Carina Carvalho, Carolina H. Mestriner, LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto,
Carolina Pedro Soares, Cíntia Leitão, Eloiza Lopes, Alzira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida
Érika Domingues do Nascimento, Flávia Medeiros, Rodrigues, Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria
Giovanna Petrólio Marcondes, Gisele Manoel, Fidalgo. Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo
Jean Xavier, Karinna Alessandra Carvalho Taddeo, Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro,
LEM – Espanhol: Ana Maria López Ramírez, Isabel
Leslie Sandes, Mainã Greeb Vicente, Maíra de Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão,
Gretel María Eres Fernández, Ivan Rodrigues
Freitas Bechtold, Marina Murphy, Michelangelo Martin, Margareth dos Santos e Neide T. Maia
Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume.
Russo, Natália S. Moreira, Olivia Frade Zambone, González.
Física: Luis Carlos de Menezes, Estevam Rouxinol,
Paula Felix Palma, Pietro Ferrari, Priscila Risso,
Guilherme Brockington, Ivã Gurgel, Luís Paulo
Regiane Monteiro Pimentel Barboza, Renata Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet
de Carvalho Piassi, Marcelo de Carvalho Bonetti,
Regina Buset, Rodolfo Marinho, Stella Assumpção Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar,
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Mendes Mesquita, Tatiana F. Souza e Tiago Jonas
Henrique Nogueira Mateos. Roger da Purificação Siqueira, Sonia Salem e
de Almeida. Yassuko Hosoume.
Matemática
Direitos autorais e iconografia: Beatriz Fonseca Química: Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Denilse
Coordenador de área: Nílson José Machado.
Micsik, Dayse de Castro Novaes Bueno, Érica Morais Zambom, Fabio Luiz de Souza, Hebe
Matemática: Nílson José Machado, Carlos
Marques, José Carlos Augusto, Juliana Prado da Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Ribeiro da Cruz Peixoto, Isis Valença de Sousa
Silva, Marcus Ecclissi, Maria Aparecida Acunzo Pastore Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Santos, Luciane Hiromi Akahoshi, Maria Fernanda
Forli, Maria Magalhães de Alencastro, Vanessa Ferreira da Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Penteado Lamas e Yvone Mussa Esperidião.
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Caderno do Gestor
Edição e Produção editorial: Adesign, Jairo Souza Ciências Humanas Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de
Design Gráfico e Occy Design (projeto gráfico). Coordenador de área: Paulo Miceli. Felice Murrie.

Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas

* Nos Cadernos do Programa São Paulo faz escola são São Paulo (Estado) Secretaria da Educação.
indicados sites para o aprofundamento de conhecimen-
tos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados S239m Material de apoio ao currículo do Estado de São Paulo: caderno do professor; filosofia, ensino
e como referências bibliográficas. Todos esses endereços médio, 3a série / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Luiza Chirstov,
eletrônicos foram checados. No entanto, como a internet é Paulo Miceli, Renê José Trentin Silveira. - São Paulo: SE, 2014.
um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria da v. 2, 88 p.
Educação do Estado de São Paulo não garante que os sites
indicados permaneçam acessíveis ou inalterados. Edição atualizada pela equipe curricular do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais,
Ensino Médio e Educação Profissional – CEFAF, da Coordenadoria de Gestão da Educação Básica -
* Os mapas reproduzidos no material são de autoria de CGEB.
terceiros e mantêm as características dos originais, no que
diz respeito à grafia adotada e à inclusão e composição dos ISBN 978-85-7849-637-1
elementos cartográficos (escala, legenda e rosa dos ventos).
1. Ensino médio 2. Filosofia 3. Atividade pedagógica I. Fini, Maria Inês. II. Chirstov, Luiza. III.
* Os ícones do Caderno do Aluno são reproduzidos no Miceli, Paulo. IV. Silveira, Renê José Trentin. V. Título.
Caderno do Professor para apoiar na identificação das
atividades. CDU: 371.3:806.90
Validade: 2014 – 2017

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