Sunteți pe pagina 1din 37
so Brasil f stom das Advogade Censelhe Faden Brasttoa - 5 EXCELENTISSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO EGREGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL appr 189 . e800 sera roma iq sti | 21/10/2008 16:02 "149629 CEUTA © CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL ~ OAB, por seu Presidente, vem, a presenga de inado, com Vossa Exceléncia, por intermédio de seu advogado infra-as instrumento procuratério especifico incluso e enderego para intimagdes na SAS Qd. 05, Lote 01, Bloco M, Brasilia-DF, com base nos arts. 102, § Ie 103, inciso VII da Constituigdo Federal c/c art. 1°, pardgrafo tinico, inciso I e art. 2°, inciso I da Lei n° 9.82/99, e de acordo com a decisiio plenaria tomada nos autos do protocolo n° 2008.19.06083-01-Consetho Pleno (certidao anexa — doc. 01), propor ARGUICAO DE DESCUMPRIM. 0 DE PRECEITO FUNDAMENTAL nos termos seguintes: 1. O DISPOSITIVO LEGAL QUESTIONADO. Eis 0 teor do dispositive legal questionado (§ 1° do Art 8 da Lei n° 6.683/1979), ¢ que & © ato do poder piblico objeto da presente argiiigao: Ordem dos Adwogades do Brasit Gomselho Federal Brasilia DF Art. 1° E concedida anistia a todos quantos, no periodo compreendido entre 02 de setembro de 1961 ¢ 15 de agosto de 1979, comet politicos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos politicos suspensos ¢ aos servidores da Administragio Direta e Indireta, de fundagdes vineuladas ao poder piblico, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciario, aos Militares e aos dirigentes ¢ representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais & Complementares. & 1° - Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de ualquer_natureza relacionados com crimes politicos ou_praticados jam crimes 2. CABIMENTO DA PRESENTE DEMANDA 2.1 PRESSUPOS DESCUMPRIMI “INCIDENTAL” ‘OS PARA O CABIMENTO DA ARGUIGAO DE TO DE — PRECEITO FUNDAMENTAL Apés apontar que a doutrina, quase que a uma s6 voz, extrai da Lei n° 9.882/99 a existéncia de dois tipos de argtiigio de descumprimento de preceito fundamental (auténoma e incidental), sendo a modalidade incidental percebida no inciso I do parigrafo tinico do Art. 1°, LUIS. ROBERTO BARROSO expie os pressupostos do seu cabimentoz “Seus outros requisitos, que sio mais numerosos que ox da argiiigéo auténoma, incluem, além da subsidiariedade e da ameaca ou lesio a preceito fundamental, a necessidade de que (i) seja relevante 0 fundamento da controvérsia constitucional ¢ (ii) se trate de lei ou ato ” (BARROSO, Luis ito Brasileiro, Sio Pois bem, presentes esto, no caso, os pressupostos acima apontados para o cabimento da argligdo “incidental”, que passario a ser demonstrados a seguir, dem des Addvogados do Brasil Yonselhe Federal Brasilia DF 2.2 RELEVANCIA DO FUNDAMENTO DA CONTROVE! A CONSTITUCIONAL SOBRE LEI FEDERAL ANTERIOR A CONSTITUICAO A sociedade brasileira acompanhou o recente debate piiblico acerca da extensio da Lei n° 6.683/79 (“Lei da Anistia”). E notoria a controvérsia_constitucional surgida a respeito do ambito de aplicagdo desse diploma legal. Trata-se de saber se houve ou no anistia dos agentes publicos responsaveis, entre outros crimes, pela pratica de homicidio, desaparecimento forcado, abuso de autoridade, lesées corporais, estupro e atentado vi pudor contra opositores politicos ao regime militar, que vigorou entre nds antes jento_ao do restabelecimento do Estado de Direito com a promulgagio da vigente Constituigao. A controvérsia publica sobre o ambito de aplicagio da citada lei tem envolvido, notadamente, 0 Ministério da Justiga e o Ministério da Defesa, 0 que demonstra, por si s6, a relevancia politica da questo em debate. Tudo aconselha, pois, seja chamado o Poder Judiciétio a por fim ao debate, dizendo o Direito de forma definitiva. Confira “O presidente da Comissdo de Anistia (6rgao ligado ao Ministério da Justica), Paulo Abrio, disse nesta sexta-feira 4 Fotha Online ser favoravel ao debate sobre a responsabilizacao dos crimes de tortura ocorridos no periodo da ditadura militar. Para Abrio, os crimes de tortura nio sio politic portanto, nfo presereveram, como afirmam alguns contririos a diseus “Eu acredito que os crimes de tortura no so politicos, portanto nao presereveram", disse Abrio, ressaltando que sua interpretagio € ba: acardos internacionais ¢ no direito internacional.” (Folha On Line, 08/08/2008, disponivel em http://www 1.fotha.uol.com.brfolha/brasiVult96u431294.shtml); dem das Advogades Conslhe Federal Brasitea “Convidado a vir ao Brasil pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidéncia da Repiblica (Sedh), 0 juiz espanhol Baltasar Garzén, famoso por ter decretado em 1998 a prisio do ditador chileno Augusto Pinochet, defendeu hoje (18) em Sio Paulo a punigao penal para crimes contra a humanidade cometidos durante 0 periodo da ditadura brasileira. ‘Quando se trata de crimes contra a humanidade, entendo que nao é possivel a anistia e que a preserigio também nao é possivel. Hi a primazia do direito penal internacional sobre o direito local sempre quando o pais que estamos falando fax parte do sistema internacional de Justiga, como 0 caso do Brasill, disse’. (disponivel 18.1734311067/view); “No dia 31 de julho de 2008 foi realizado oseminario “Limites possibilidades para a responsabilizacdio juridica dos agentes violadores de direitos humanos durante estado de excecio no Brasil" sob o patrocinio do Ministro da Justiga Tarso Genro, do Ministro dos Direitos Humanos e de Paulo Abrio, presidente da Comissio de Anistia.. A platéia estava repleta de ex-subversivos e terroristas, de familiares de mortos ¢ desaparecidos, além de simpatizantes. A finalidade do debate era discutir a revisio da Lei da Anistia e encontrar uma base legal para a punigdo dos militares. Durante o seminirio 0 advogado criminalista e professor de direito da FGV Thiago Bottino do Amaral declarou que nio hi base legal para punir militares por tortura, Segundo ele, 0 Direito Penal segue 0 principio da anterioridade, isto é, a lei que prevé 0 delito nao pode retroagir, Ele argumentou que nao havia lei tipificando esse tipo de crime na época. O advogado Iembrou que os crimes jé presereveram. Segundo ale, a Constituigao s6 considera imprescritiveis os crimes de racismo ¢ de grupos armados que atentem contra o Estado.” (disponivel em http:/brasilacimadetudo. lnc com/indes.toontion com_content&task dois lados. Foi uma pedra colocada sobre 0 ocorrido, Também houve crimes do lado dos opositores a0 regime. Mexer com uma coisa dessas pode gerar uma bola de neve”, afirma. O ex-presidente do STF e atual ministro da Defesa Nelson Jobim, ¢ 0 atual decano do STF, ministro Celso de Mello, corroboram com — a opiniao—de~—-Velloso” —(disponivel em hitp:/Avww.jornaldedehates.ig.com.br/debate/lei-anistia-deve-ser-revista); Alvogades do Brasil Yonslhe Federal Brastlia ~ “Cresce movimento para que a corte se manifeste sobre validade da lei para crimes como tortura e assassinate A Lei de Anistia, 29 anos depois de sancionada, esta a caminho de se transformar e into polémico do Judiciario. Uma série de movimentos do governo ¢ do Ministério Pa sdo ou mais tarde o Supremo Tribunal Federat (STF) tera de dizer se a anistia vale para crimes como tortura © assassinato, cometidos durante o regime militar (1964-1985), ou se beneficin exclusivamente acusados de crimes eminentemente politicos, como fechamento do Congresso, “4.2 jornais por ordem do governo e cassago de parlamentares. “Eu tenho dito que em algum momento Supreme teri de ser provocado ¢ acho que este momento esti chegando. E 9 momento para saber se a lei de 1979 anistia os torturadores, os estupradores, os inatos. € 0s responsiveis por desaparecimentos ow afirmou ao Estado 0 ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos. A declaragdo de Vannuchi aio & vor isolada no governo. O ministro da Justiga, Tarso Genro, ja referendou, em discurso, a opinido de que a lei precisa ser revista ou avaliada pelo Judiciirio. “Se um agente pablico invade uma residéncia na ditadura cumprindo ordem legal, isso é um crime politico de um Estado de fato vigente naquele momento. Agora, se esse mesmo agente pablico prende uma pessoa e a leva, para um pordo e a (ortura, esse crime no € um crime politico porque nem a legalidade da ditadura permitia tortura, Mas isso teria que ser uma interpretacao do Poder Judiciario", disse Tarso na semana passada.” (disponivel em http://www. fessergs.com,hr noticias. php ?id=245); ‘m primeiro lugar, pondere-se que a anistia ¢ oblivio, esquecimento, Juridieamente ela provoca, na verdade, a eriagéo de uma fiesio legal: nlo apaga propriamente a infracdo, mas 0 direito de punir, razao pela qual aparece depois de ter surgido o fato criminoso, nao se confundindo com uma novasao legislativa, isto 6 no transforma 0 crime em ato licito. Ou seja, anistiar os torturadores que agiram dentro de um quadro politico a cle obviamente conexo nko significa violar a Constituigio nem os tratados Internacionais que proscrevem a tortura como um crime contra a humanidade Afinal, no direito moderno, 4 anistia nfo € medida voltada para wma determinada pratica nem significa o seu reconhecimento como legitimo, mas é sto soberano que io pede nenhuma justificardo condicional & autoridade que a concede. porque visa a outro interesse senso o interesse saberano da prépria sociedade, Nesse sentido, mio esti submetida a ponderagies entre a di torturado € ° ato degradante do torturador. Em segundo lugar, excluir 0 torturador da anistia referente aqueles que co crimes conexos sob 0 argumento de que se trata de crime contra a humat portanto, impeeser irrestrito da lei, conforme the reconheceu @ STM (Superior Tribunal Militar), Come o paragrafo 2° do artigo 1° da lei 6.683/79 exctui expressamente dos benefieios da anistia ox que haviam praticado crimes de terrorismo, por exemplo, mediante seqilestro, a jurisprudéncia do STM, diante de am flagrante tratamento desproporcional, estenden 0 heneficio: a anistia tornou-se goral e ireestrita Ora, uma reinterpretacio da lei, sobretudo com o fito de pu tortura, reverteni o argumento jurisprudencial, pois ira solapar a extensio da istia aos terroristas, fazer negativas (exclusio/inclusio de terrorista/torturadar) tenha de ser rediseutido, Ou seja, em nome da mesma proporcionalidade, havers de lembrar-se que tratados internacionais consideram, por exemplo, também o seqilestro motivada por razbes politicas um crime contra a humanidade, igualmente impreseritivel, Com isso, lade ofendida do fel provoca um efeito que hi de desnaturar 0 carter geral & nilitares por atos de Jo com que todo o universe de avaliagées mutuamente dom dos Adwogadlos de Yfonselhe Federal Brastlea DF ancins de eral € voltaria ambos os restr, ‘Ou seja, de parte a parte, numa reinterpretagio da lei, o cariter eriminoso dos Fespectivos atos (Lortura/ seqilestro) teri de ser retomado, pois & com base nos mesmos argumentos que 0 direito de punir (anistia) seria ou ndo afastada, reinterpretagio da let que exelua da anistia a pratiea da tortura, 0 arg de justi¢a, invocado pelo STM em favor dos que, movidas por razaes politicas, tenham praticado atos de terror (seqiiestro), acabaria por ser, inevitavelmente, utitizado em favor dos torturadores, Se da Lei da Anistia devessem estar exeluidas os torturadores, por idos tambént estariam os seqiiestradores. Interpretagao ‘que, em suma, violaria o sentido j4 reconheeido da lei de coneeder uma anistia geral © irvestrita.” (1 Sampaio Ferraz Jimnior, de cessidaade de avaliagdes de priticas eriminosas e suas eonseg los, prejudicando © correto entendimento de wma anistia © quadroacima_—apresentado.- ~—_apenas exemplificativamente, dada a sua notoriedade - revela a existéncia de séria controvérsia constitucional sobre lei federal anterior 4 Constituigao, que é uma das hipéteses de cabimento da argiii¢do de descumprimento de preceito fundamental (Art. 1°, parégrafo tinico, inciso I da Lei n° 9.882, 99). Caso se admita, como parece pacifico, que a Lei n° 6.683/79 foi recepcionada pela nova ordem constitucional, & imperioso imterpreti-la e aplicd-la a luz dos preceitos e principios fundamentais consagrados na Constituigao Federal. Essa Suprema Corte ja teve a oportunidade de apreciar Argiligdes de Descumprimento de Preceito Fundamental a fim de restabelecer, em harmonia com a Constituigdo, interpretagdes infundadas de atos piblicos normativos. Ainda recentemente (06/08/2008), esse Egrégio Tribunal conheceu da ADPF n® 144, por meio da qual a Associago dos Magistrados do Brasil questionou interpretagées, inclusive Resolugdes do Tribunal Superior Eleitoral dem dos Advogados do Brasil Yonselhe Federal Brastha- Qe Nesse sentido, LUIS ROBERTO BARROSO: “Embora a motivagio imediata de quaisquer dos legitimados possa ser a eventual tutela de uma situag%o especifica ~ agindo, portanto, como substituto processual do verdadeiro interessado — devera cle demonstrar ser relevante a controvérsia constitucional em discussio, Sera relevante a controvérsia quando scu deslinde tiver repercussio geral, que transcenda ao interesse das partes em litigio, seja pela existéncia de um mimero expressivo de processos aniilogos, seja pela ‘gravidade ou fundamentalidade da tese em discussio, por seu aleance politico, econdmico, social ou ético. Por vezes, a reparacio imediata de uma injustica individual tem uma valia simbélica decisiva para impedir novas violagGes. Seja como for, na argilicio incidental, mesmo que _estejam em jogo direitos subjetivos, haverd de estar envelvida uma_situacio que afete_o_ordenamento_constitucional_de_maneira objetiva” (grifou-se) (BARROSO, op. cit., p. 229). Como bem se percebe, trata-se de tipica situagio da cabimento da ADPF como instrumento habil para a definigdo rdpida e com eficacia geral acerca de norma infraconstitucional, cuja interpretagdo corrente, nos pretorios ou fora deles, ofende frontalmente diversos preceitos fundamentais da Constituigao. E a forma de ressaltar, mais uma vez, 0 carater objetivo da atuagdo dessa Corte, no exercicio de sua fung%o precipua de guardia da Constituigaio e, em decorréncia, guardia dos principios ético-juridicos que devem nortear a sociedade brasileira, clom dex Addvegades do Brasil Gonslbe Federal Brevtlin DH 2.3 ATO DO PODER PUBLICO - LEL OU ATO NORMATIVO - O CONTROLE ABSTRATO Na argiligdo “incidental, objeto da demanda é uma lei ou ato normative. No ha qualquer dificuldade nesse ponto, eis que a presente ADPF tem como fulero a interpretagdo do disposto no § 1° do Art. 1° da Lei n® 6.683/1979. Na verdade, 0 remédio judicial trazido pela Constituigdo Federal de 1988 e afinal regulamentado pela Lei n° 9.82/99, assemelha-se a Verfassungsbeschwerde regulada no art. 93, 2 da Lei Fundamental alema. Como salienta a doutrina germénica, trata-se de uma demanda que visa ao controle abstrato de constitucionalidade de uma norma do direito federal ~~ ou—estadual. «Ss (KLAUS SCHLAICH, Das Bundesverfassungsgericht, 3 ed., Munique, Verlag C.H.Beck, n° 122) 2.4 LESAO A PRECEITO FUNDAMENTAL A interpretagao, segundo a qual a norma questionada concedeu anistia a varios agentes piblicos responsaveis, entre outras violéncias, pela pratica de homicidio, desaparecimento forgado, tortura e abusos sexuais contra opositores politicos viola frontalmente diversos preceitos_fundamentais da Constituicdo, conforme sera demonstrado abaixo. Ondem des Advegades do Brasil Gonselhe Federal -@. Brasil SUBSIDIARIEDADE Dispde o § 1° do Art. 4° da Lei n° 9.882/99: jo de descumprimento de preecito fundamental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a Desse dispositivo, os doutrinadores e a jurisprudéncia dessa Corte extraem a subsidiariedade como requisito de cabimento da ADPF. Em outras palavras, s6 sera cabivel a interposigao de ADPF quando inexistir, no ordenamento juridico, qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade a preceitos fundamentais da Constituigao. A jurisprudéncia mais recente dessa Corte Suprema imerpreta a exigéncia de subsidiariedade da demanda prevista no § 1° do art. 102 da Constituigdo Federal, pela inexisténcia de qualquer outro meio de controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade, ja ajuizado com referéncia ao objeto da ADPF. Do contrario, restaria sepultado © instituto, eis que dificilmente se encontraria uma situagao de inexisténcia, em tese, de meios aptos a restabelecer a ordem constitucional, concreta ou potencialmente violada (a exemplo de mandado de seguranga, habeas corpus, agdo popular, agdo civil pablica, agdes judiciais e diversos recursos, cautelares, antecipagdo de tutela). Observe-se: “O diploma legislativo em questio — tal como tem sido reconhecido por esta Suprema Corte (RTJ 189/395-397, vg.) — consagra o principio da subsidiariedade, que rege a instauracdo do proceso objetivo de argitigao de descumprimento de preceito fundamental, condicionando 0 ajuizamento dessa especial agio de indole constitucional A auséncia de qualquer outro meio processual apto a 9 ¢f irdom dos Aedvogades de Brasil Yonselhe Federal Brastlia GF sanar, de modo eficaz, a situagao de lesividade indicada pelo autor: (..) Q exame do precedente que venho de referir (RTJ_184/373-374, Rel. Min. Celso de Mello) revela que o principio da subsidiariedade niio_pode — nem deve — ser invocado para impedir 0 cxercicio da acho _constitucional_de_argilieéo de deseumprimento_de_preceito fundamental, eis que esse instrumento esti vocacionado a viabilizar, numa dimensao estritamente objetiva, a realizacio_jurisdicional de direitos basicos, de valores essenciais ¢ de preceitos fundamentais contemplados_no_texto_da_Constituicio_da_ Republica. (...) Dai_a prudéneia com que o Supremo Tribunal Federal deve interpretar_a regra inscrita no art. 4°, § 1°, da Lei n. 9.882/99, em ordem a permitir que_a_utilizacdo dessa nova aeio constitucional_possa_efetivamente prevenir ou reparar lesio a preceito fundamental causada por ato do Poder Publico. Nao é por outra razio que esta Suprema Corte vem entendendo que a invocagao do principio da subsidiariedade, para nao conflitar_com_o carater_objetive de que se reveste a argilicio de descumprimento de preceito fundamental, supde a impossibilidade de utilizacao, em cada caso, dos demais_instrumentos de controle normativo_abstrato: (...) A pretensao ora deduzida nesta sede processual, que tem por objeto normas legais de carter pré- constitucional, exatamente por se revelar insuscetivel de conhecimento em sede de agio direta de inconstitucionalidade (RTJ 145/339, Rel. Min, Celso de Mello — RT 169/763, Rel. Min. Paulo Brossard — ADI 129/SP, Rel. p/ 0 acérdio Min, Celso de Mello, »g.), no encontra obstéculo na regra inscrita no art. 4", § 1° da Lei n. 9.82/99, © que permite — satisfeita a cxigéneia imposta pelo postulado da subsidiariedade — a instauragio deste processo objetivo de controle normativo concentrado. Reconheco admissivel, pois, sob a perspectiva do postulado da subsidiariedade, a utilizagio do instrumento processual da argiiiedo de deseumprimento de preceito fundamental.” (ADPF 126-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisio monocrtica, julgamento em 19-12-07, DJE de 1°-2-08) “O desenvolvimento do principio da subsidiariedade, ou da idéia da existéncia de outro meio eficaz, dependerd da interpretago que 0 TF venha a dar a lei. A primeira vista, poderia parecer que somente na hipotese de absoluta inexisténcia de qualquer outro m eficaz para afastar a eventual lesio poder-se-ia manejar, de forma tt a argiticfio de descumprimento de preceito fundamental. F._facil_ver que_uma leitura_excessivamente_literal_dessa_disposicio, que tenta introduzir entre nds 0 principio da subsidiariedade vigente no direito alemio (recurso constitucional) ¢ no direito_espanhol (recurso de acabaria por retirar_desse institute qualquer significado De uma perspectiva estritamente subjetiva, a acio somente pratico. 10 Eonelhe Federal Brasttia ~ GP ia s $ ivesse verificado a exaustiio de todos os meios eficazes de afastar a lesio no Ambito judicial, Uma leitura mais cuidadosa hi de revelar, porém, que na anilise sobre a eficicia da protecdo de preceito fundamental nesse processo deve predominar um. enfoque objetivo ou de protegdo da ordem constitucional objetiva. Em gutros termos, 0 principio da subsidiariedade - inexisténcia de outro meio_eficaz de sanar_a lesio -, contido no § 1° do art. 4° da Lei n. 9.882/1999, hide ser _compreendido no _contexto_da_ordem constitucional global. Nesse sentido, caso se considere 0 cardter enfaticamente objetivo do instituto (0 que resulta, inclusive, da legitimagao ativa), meio eficaz de sanar a leso parece ser aquele apto a solver a controvérsia constitucional relevante de forma ampla, geral ¢_imediata. Nesse_cenario, tendo _em _vista_o_cardter acentuadamente objetivo da argiticio de descumprimento, 0 juizo de subsidiariedade ha de ter em vista, especialmente, os demais processos objetivos jd _consolidados_no_sistema__constitucional. Destarte, assumida _a__plausibilidade da __alegada violacio _ao__preceito constitucional, cabivel_a_acio direta de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade, _no__sera__admissivel__a __argilicho de constitucionalidade, no __serd___admissivel__a__argtli¢do __de descumprimento. Em sentido contrario, em principio, nao_sendo admitida_a_utilizagio de acdes diretas de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade - isto é, no se verificando a existéncia de mei apto_para solver _a_controvérsia_constitucional_relevante de forma ampla, geral ¢ imediata -, ha de se entender possivel a utilizaco da argilicio de descumprimento de preceito fundamental. (...) No se pode admitir que a existéncia de processos ordinirios © recursos extraordindrios deva excluir, @ priori, a utilizacio da. argil descumprimento de preceito fundamental. Até porque o instituto assume, entre nés, feigio marcadamente objetiva. Nessas hipsteses, ante_a inexisténcia de processo de indole objetiva, apto a solver, de uma_ver por todas, a_controvérsia_constitucional, afigurar-se-ia integralmente_aplicivel_a_argili¢lo de descumprimento_de_preceito fundamental. E que as agées origindrias e 0 proprio recurso extraordinario nao parecem, as mais das vezes, capazes de resolver a controvérsia constitucional de forma geral, definitiva e imediata. A necessidade de interposicio de um sem numero de recursos extraordinarios idénticos podera, em verdade, constituir-se_ em ameaca ao livre funcionamento do STF e das préprias Corte ordinarias. (..) Desse modo, & possivel_concluir_que_a_simples existéncin de acdes ou de outros recursos processuais - vias processuais ordinarias - no podera servir de Gbice 4 formulacio da argilicio de descumprimento. Ao contririo, tal como explicitado, a multiplicagio de processos ¢ decisdes sobre um dado tema constitucional reclama, as mais das vezes, a utilizacio de um instrumento de feicio concentrada, u Cxdem dos Advogades do} Yfonsclho Federal Brasiten D. Como o instituto da ADPF assume feicio eminentemente objetiva, 0 juizo de relevincia deve ser interpretado como requisite implicito de admissibilidade do _pedido. Seria _possivel_admitir, em_tese,_a propositura de ADPF diretamente contra ato do Poder Pablico, nas hipéteses em que, em ravao da relevancia da matéria, a adogio da via ordindria acarrete danos de dificil reparacio A ordem juridica, O caso em apre¢o, contudo, revela que as medidas ordindrias 4 disposi¢io da ora requerente - e, nao utilizadas - poderiam ter plena efiedcia. Ressalte-se que a formula da relevaneia do interesse piblico, para justificar a admissio da argitigio de descumprimento (explicita no modelo alemao), esta implicita no sistema criado pelo legislador brasileiro. No presente caso, afigura-se de solar evidéncia a falta de releyaneia juridica para a instauragio da ADPF. Assim, tendo em vista a existéncia, pelo menos em tese, de outras medidas processuais cabiveis ¢ efetivas para questionar os atos em aprego, entendo que 0 conhecimento do presente pedido de ADPF nao é compativel com uma interpretagio adequada do principio da subsidiariedade. (.. Conseqiientemente, nego seguimento ao presente pedido de argiticio de descumprimento de preceito fundamental por entender que a postulacao é manifestamente ineabivel, nos termos e do art. 21, § I° do RISTF. Por conseguinte, declaro 0 prejuizo do pedido de medida liminar postulado.” (grifou-se) (ADPF 76, Rel. Min. Gilmar Mendes, decisio monocratica, julgamento em 13-2-06, DJ de 20-2-06). E © que ocorre no presente caso. Ainda nao se questionou, perante o Poder Judicidrio, a compatibilidade com os preceitos fundamentais da Constituigao Federal da interpretagdo da Lei n° 6683/1979, no sentido de que a anistia estende-se aos crimes comuns, praticados por agentes publicos contra opositores politicos, durante 0 regime militar. Como € sabido, ja se firmou na jurisprudéncia dessa Corte 0 entendimento de que nao cabe Agao Direta de Inconstitucionalidade de lei anterior 4 Constituigao. E os outros meios de controle objetivo de constitucionalidade nao sao aptos a pér fim a controvérsia constitucional acima apontada, porque: a) destinados a pleitear a constitucionalidade de lei ou ato Y s idem dos Adwogades do Brasit Consclho Federal Brastlia -G. normativo (ago declaratoria de constitucionalidade), quando 0 que se pretende aqui € justamente 0 conirério; b) destinados 4 materializagiio de intervengao federal ou estadual (representago interventiva), 0 que no é 0 caso. 3. INEPCIA JURIDICA DA INTERPRETACAO QUESTIONADA DA LEI n° 6.683/1979 O Art. 1° da Lei n° 6.683, de 28 de agosto de 1979, declara que “€ concedida anistia a todos quantos, no periodo compreendido entre 02 de setembro de 1961 ¢ 15 de agosto de 1979, cometeram crimes politicos ou conexos com estes”. O § 1° desse mesmo artigo esclarece: “Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza, relacionados com crimes politicos ou praticados por motivacao politica”. E sabido que esse iiltimo dispositivo legal foi redigido intencionalmente de forma obscura, a fim de incluir sub-repticiamente, no Ambito da anistia criminal, os agentes piblicos que comandaram e executaram crimes comuns contra opositores politicos ao regime militar. Em toda a nossa historia, foi esta a primeira vez que se procurou fazer essa extensio da anistia criminal de natureza politica aos agentes do Estado, encarregados da repressiio, Por isso mesmo, ao invés de se declararem anistiados os autores de crimes politicos ¢ crimes comuns a ele conexos, como fez a lei de anistia promulgada pelo ditador Getiilio Vargas em 18 de abril de 1945, redigiu-se uma norma propositalmente obscura, E nao s6 obscura, mas tecnicamente inepta. | 13 Ordem des Advogades do F Gonselhe: Federal Brasthia DF Se nao, vejamos. E de geral conhecimento que a conexao criminal implica uma identidade ou comunhio de propésitos ou objetivos, nos varios crimes praticados. Em conseqiiéncia, quando o agente é um s6 a lei reconhece a ocorréncia de concurso material ou formal de crimes (Cédigo Penal, artigos 69 ¢ 70). E possivel, no entanto, que os agentes sejam vario: . Nessa hipotese, tendo. em vista a comunhdo de propésitos ou objetivos, hd co-autoria (Codigo Penal, art. 29). E bem verdade que, no Cédigo de Processo Penal (art. 76, | in fine), reconhece-se também a conexao criminal, quando os atentes criminosos atuaram uns contra os outros. Trata-se, porém, de simples regra de unificagao de competéneia, de modo a evitar julgamentos contraditérios. Nao é norma de direito material. Pois bem, sob qualquer Angulo que se examine a questo objeto da presente demanda, é irrefutavel que nao podia haver e nao houve conexdo entre os crimes politicos, cometidos pelos opositores do regime militar, e os crimes comuns contra eles praticados pelos agentes da repressio ¢ seus mandantes no governo. A conexao s6 pode ser reconhecida, nas hipdteses de crimes politicos e crimes comuns perpetrados pela mesma pessoa (concurso material ou formal), ou por varias pessoas em co-autoria, No caso, portanto, a anistia somente abrange os autores de crimes politicos ou contra a seguranga nacional e, eventualmente, de crimes comuns a eles ligados pela comunhao de objetivos

S-ar putea să vă placă și