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CARLOS COELHO O papel das mulheres na máfia siciliana
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ISA CLARA NEVES
JOANA AMARAL CARDOSO
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EDITORIAL//LAMAG
Itália
em
fogo ana mesquita
O
carteiro entra ansioso em
casa de Pablo Neruda, o
poeta já então Prémio No-
bel, exilado político numa
das ilhas do arquipélago da Sicília. É o
actor Massimo Troisi, vestindo a perso-
nagem de Mario Ruoppolo, um analfa-
beto incumbido de levar correspondên-
©artur cabral
©artur cabral
de cartão reciclado? Rebelo de Sousa
Sim às três no prefácio, o livro
perguntas. no qual descobrimos
É uma escultura que a realidade
do siciliano é sempre mais
Marco Giunta criativa que a mais
que é também fértil imaginação.
responsável pela Editora Objectiva
maravilhosa Casa
Talia que vemos
nas páginas 90
a 93. Um exemplo
da arte em prol
de um planeta
mais verde.
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eficácia, sempre
no meu kit
de sobrevivência.
A pré-base que dá luz
e unidade a qualquer
maquilhagem,
e o hidratante que
trata, dá um brilho
leve e rosa e tem
sabor a morango.
Estas sandálias
da Lanidor que usei
nas entrevistas
do FashionTV
durante a
ModaLisboa
deixaram o mulherio
em delírio. Será
que sobra algum O anel Oui da Dior
par em stock? é a aliança ideal para
De qualquer modo uma noiva que já disse
esta colecção que sim e quer fugir
tem centenas ao clássico, mantendo
de referências a adorável tradição
de sapatos, quase do brilhante.
todos delirantes.
CUMPLICES//LAMAG A
A António a levaram para um universo de interpre- ne” e é membro do júri do Prémio Máxi- tudo. Aqueles artistas que mais do que
Pedro FERREIRA tações individuais pintadas a cores garri- ma de Beleza e Perfumes desde 1998. fazerem a diferença (e também fazem)
O António Pedro licenciou-se em Medi- das, ao qual se rendeu para todo o sempre. dão o sangue, o suor, as lágrimas, a alma,
cina e fotografa desde os dez anos. Esteve Formou-se em Design de Comunicação as vísceras... fazem hara-kiri. Pode ser
dois anos em Paris onde foi fazer um e desde então tem trabalhado como desig- o Francis Bacon ou o Caravaggio.
ner em algumas agências lisboetas, mas D MARGARIDA Isso, ainda não fez. Porque não é para
trabalho sobre imigrantes portugueses
a sua verdadeira paixão é a ilustração in- DA CUNHA quem quer, é para quem pode.
orientado pelos fotógrafos da agência
fantil. Já ilustrou vários livros publicados BELÉM
Magnum. Regressou a Portugal e exer-
e até algumas páginas da LA Mag. Tirou o curso de pintura na Escola Supe-
ceu a profissão de médico, que acabou
rior de Belas-Artes de Lisboa e tudo o que
por deixar para se dedicar ao fotojorna-
fez até agora deu-lhe muito prazer. Faz
lismo. Já fotografou milhares de pessoas,
exposições há mais de 15 anos. E depois, E SOLANGE
de situações, de lugares, em toda a parte
fez uma série de outros trabalhos, de res- COSME
do mundo. Continua sempre à procura
C Vera tauro e de investigação. Escreveu um livro É apaixonada. Por tudo e intensamente.
da fotografia perfeita. O momento certo.
Saldanha sobre técnicas tradicionais de construção Gosta de palavras, de poesia, de música,
O instante exacto. Porque a fotografia
Sem saber bem se gostava mais de dese- e foi co-autora de uma fotobiografia so- da família, dos amigos e de pés na areia.
não é uma paixão, é a paixão.
nhar ou escrever, formou-se em Design bre o pintor Amadeo de Sousa-Cardozo. Detesta o frio.
e decidiu que ia ser copywriter para Já escreveu sobre muita coisa e já pensou Imerge em números diariamente, mas
poder continuar a viver entre desenhos sobre mais ainda. Mas é só isto. as letras são o seu coração desde criança.
e palavras. Um estágio na redacção da Fez pintura. E já viu muita pintura. Adora histórias, abraços apertados e bolo
B Mica “Marie Claire” mostrou-lhe outro ca- Excepcional, muito boa, só boa... mas de chocolate.
Cabral minho: é jornalista há 16 anos, actual- aquilo que lhe vem direito ao fígado, que Sonha passar metade do ano dentro de
Nasceu em Moçambique no ano de 1975 mente freelancer. Escreve semanalmente lhe acrescenta coisas, que faz dela uma um veleiro, para poder descrever, todos
e cresceu rodeada de artistas que cedo a secção de beleza da “Notícias Magazi- pessoa diferente, são as Obras que lhe dão os dias, o mundo visto do mar.
© CORBIS/VMI
Giuseppe
Tornatore, o
cineasta natural de
Bagheria, durante
as filmagens do seu
filme Malèna, 2000.
Giuseppe
tornatore
cine
Sicília
E
ste homem respira Tornatore é o cineasta das emoções totais.
Sicília por todos os
poros. Uma Sicília O homem com a câmara virada para a Sicília.
que já não existe, an- Um siciliano que gosta de pequenos vilarejos, dos
corada numa caixinha de recorda-
ções, recortada com requintes de rostos dos aldeões, da paisagem rural.
nostalgia clássica. Isto no cinema Foi ele quem descobriu o “Cinema Paraíso”,
resulta num efeito pitoresco, onde claro… num lugar esquecido da paisagem siciliana.
a crónica de costumes é uma forma
de estudar um lado quase etnográ- Aliás, ele tornou a Sicília em lugar de cinema.
fico de uma maneira de ser italia- Amado e odiado, Tornatore faz um cinema
na. Dê por onde der, este cineasta italiano que já não existe.
de Palermo, mais propriamente de
Bagheria filma um estado de espí-
rito de um povo, ou seja, um sen-
timento. Sentimental? Sim, sem Texto RUI pedro TENDINHA
preconceitos. Mas se há uns anos
era visto como nova via de repre-
sentar uma certa tradição italiana
de cinema, nos anos 90 tornou-se
persona non grata da família ci-
néfila internacional. Nunca mais
conseguiu ir a Cannes, é gozado
pelos críticos – muitos chamam-
no um desonesto de mau gosto
emocional – e na própria Itália
é visto como fabricante de bilhe-
tes-postais da Sicília para estran-
geiro ver. Há ainda quem o acuse
de se ter vendido aos americanos
desde “Malèna” – foram os irmãos as, está uma amostra de gente feliz lho do ladrar dos cães e faz rimar No primeiro o dispositivo chega
Weinstein quem financiaram pre- com lágrimas. Não são semblantes a música do grande maestro Ennio mesmo a requerer o chamado «tes-
cisamente esse filme com Monica carregados e reais como os rurais Morricone, com sorrisos de velhos te de câmara». Ou seja, o cinema
Bellucci. Para mal dos seus peca- de “Sicília!”, o filme radical de e crianças. Claro que os rostos são a enquadrar a essência dos sicilia-
dos, o ano passado, quando apre- Straub e Huillet. É a tal nostalgia o mais importante. Rostos que se nos. Depois, em tudo o que fil-
sentou “Baarìa” no Festival de Ve- alegre, em que a comédia pode deslumbram na beleza da paisa- ma, há uma intenção: transbordar
neza foi conotado como realizador romper da tragédia, seja numa es- gem. E ele faz close-ups, aos bam- de vida. O seu cinema tem por
do Estado depois de Berlusconi quina de uma pequena aldeia, seja binos marotos, aos castiços casuais isso um affaire flagrante com as
se ter mostrado sensível ao filme. à beira-mar. Por isso a sua câmara e às viúvas emocionais. O “Ho- grandes emoções da vida. Se ca-
E o que está então dentro da cine- fixa-se nos olhos negros dos cam- mem das Estrelas” e “Cinema Pa- lhar por isso, é mais um cineasta
Sicília de Tornatore? Estão pesso- poneses sicilianos, amplia o baru- raíso” são disso bons exemplos. de público do que de imprensa.
© Antoine Le Grand/Corbis Outline/VMI
© CORBIS/VMI
QUEM//LAMAG
© CORBIS/VMI
Os close-ups aos
bambinos marotos,
aos castiços casuais
e às viúvas emocionais,
são uma constante nos
filmes de Tornatore.
Garra
de
siciliana
Texto alda rocha
A
jornalista pergunta-
-lhe como conseguiu
Há muito que ganharam o mundo, uma como primeira-
uma italiana afirmar- -bailarina, outra como cantautora, e são património
se na Ópera de Pa- da Sicília, onde as celebram como divas
ris, mas quase não tem tempo de
terminar: «Siciliana!» é a réplica
pronta. Eleonora Abbagnato não
permite equívocos quando se trata
de identidade, enquanto Carmen
Consoli não precisa sequer de o
dizer, a música que faz é uma ce-
lebração da Sicília e das mulheres
da ilha.
A pulsão criativa deu sinal quan-
do ambas eram crianças. Eleono-
ra despertou para a dança ainda
a fala estava a ser adquirida, aos
três anos. Foi vista por uma vizi-
nha, Marisa Benassai, que dirigia a
escola de dança de Palermo, cida-
de onde nasceu em 1978. Dançar
tornou-se uma obsessão para uma
menina que cresceu fechada a ver
© Corbis/VMI
à consagração como primeira- questionável, vai sendo conhecida curso de bailarina na biografia “Un
bailarina, aos 27 anos. São muitos no estrangeiro. “Ellettra”, o CD Angelo Sulle Punte” (Um Anjo em
anos longe da sua ilha, mas nunca mais recente, entrou directamen- Pontas). Quando lhe perguntam
houve lugar à distância, só às sau- te para número 2 do top italiano, se estes anos todos lhe cobraram
dades. «Sinto falta do sol e do calor o que não é novo numa carreira algo em troca, a bailarina confes-
das pessoas», confessou. Depois da em que os sete discos de origi- sa que sim, a família foi posta de
formação clássica, aventura-se por nais venderam mais de um milhão lado, mas di-lo com tranquilida- 2002
interpretações experimentais di- de cópias. Na última digressão de. «As luzes apagam-se. É altura
rigida por grandes nomes como nos Estados Unidos, o crítico do de entrar em cena. Este é o meu
Pina Bausch, Jiri Kilian e o seu “The New York Times” definiu-a mundo. E quando o percebi, per-
mentor Roland Petit. como uma «magnífica combinação cebi-o para sempre.»
Carmen canta principalmente em de rocker e intelectual», uma voz E neste limbo da criação serão
italiano mas também em espa- «plena de dor, compaixão e for- para sempre divas. LA
nhol, francês ou grego e uma vez ça», que canta histórias em cada
ou outra em inglês. Enquanto nos uma das suas canções. Carmen
primeiros trabalhos cantava te- encarna na perfeição o feminino
mas sem lugar, com o tempo foi na sua máxima força, por isso não
aproximando-se mais da realidade se estranha que quando quiseram
siciliana nas suas letras, enquanto saber como lidava com o envelhe-
o som foi misturando a canção cimento, a sua resposta fosse clara:
italiana, com influências de indie «Recuso-me a encará-lo.»
2006 2006 2003
QUEM//LAMAG
Antonio Berardi
é um designer britânico,
mas com alma mediterrânica.
A sua paixão pela ordem,
pelo rigor dos cortes,
pela alfaiataria, herdou-a
da sua regrada mãe siciliana,
das suas tias e dos bordados
faustosos da sua região.
AntOnio
Berardi
O barroco
em Berardi
Texto Joana Amaral Cardoso
Q
uando se começa a
escrever uma história
sobre um designer de
moda, é quase sem-
pre inevitável escapar a um início
marcado por um mesmo motivo,
um padrão: «Era uma vez um me-
nino que, encantado pelas agulhas,
linhas e estilo da sua figura femini-
na dominante, cresceu e se tornou
um criador, um mestre do corte e
costura.» E, confirma-se, assim co-
meça a história de Antonio Berar-
di, o britânico mais siciliano das Antonio Berardi tem
ilhas de sua majestade, o moreno
do estilo limpo mas barroco. Be- 15 anos de carreira e uma
rardi nasceu no Reino Unido mas
os seus pais e avós são sicilianos. vida dupla – é inglês
E foram a sua mãe, avó e tias que
lhe instilaram o gosto pela moda e siciliano, rigoroso no corte
– afinal, o pequeno Berardi não
só registava os dress codes de uma e barroco na silhueta.
família que seguia à risca as regras
do vestuário dentro e fora de casa,
em viagem ou para ir às compras,
como sentia na pele o que era
a atenção à moda. O seu primeiro autor de um estilo baroque ‘n’ roll: so e sonho, abordo o meu trabalho assistente de John Galliano, Berar-
fato, afinado pelas mãos dos alfaia- a sua Sicília na herança de sangue de uma forma muito mais britâni- di estudou na incontornável Cen-
tes de Saville Row vestiu-o aos seis e temperamento. «O meu sangue ca», explica. E já o sabia aos nove tral Saint Martins School e nem
anos. Esse é o lado cool britannia, é cem por cento siciliano, família, anos, quando decidiu que a moda uma estação precisou de esperar
o amor pela técnica e a limpidez tradição, amor e respeito são parte seria a sua profissão. Contemporâ- para fazer estrondo no mercado.
das linhas. Depois, há o outro lado, da minha herança siciliana», disse neo de Alexander McQueen e Hus- A colecção de fim de curso foi
o que o faz ser auto-intitulado numa entrevista. «Enquanto pen- seyn Chalayan, estagiário e depois logo comprada por importantes
QUEM//LAMAG
Colecção
Primavera
Verão 2010
Máfia
de salto
alto
texto ana esteves
ILUSTRAÇÃO ricardo TADEU barros
Q
uando Vito Vitale, As mulheres já não ficam em casa a limpar
chefe mafioso de Par-
tinico, Sicília, se jun- manchas de sangue da roupa de maridos,
tou atrás das grades pais e irmãos. Assumem lugares importantes
aos irmãos Leonardo e Michele, foi
a irmã mais nova, Giusy, quem as- na máfia siciliana. Ou então rompem com o sistema
sumiu o comando do clã. Em 1998, e denunciam os homens da família
aos 26 anos, ela estava por dentro
dos segredos da organização fami-
liar, pois desde os 13 que ajudava
os irmãos, transportando mensa-
gens quando estes se encontravam Fê-lo pelos filhos, disse, para nante na Cosa Nostra, transmitin- lá chegaram pelo casamento, as-
fugidos ou presos. Foi o elo de li- lhes dar a oportunidade de terem do a sua cultura e assumindo pro- sumiram voz activa participando
gação nos momentos difíceis. Estava outra vida. gressivamente papéis de gestão. no mundo do crime. Para outras,
bem preparada. Foi a primeira mulher a assumir Eram protegidas, mas também a coragem revelou-se ao colabo-
Apesar de o código da Cosa Nos- uma posição de chefia na máfia. os protegiam, com o silêncio. Len- rarem com a justiça. Giusy junta
tra não permitir às mulheres pa- Mas também se tornou o primeiro tamente levantaram a voz, mui- as duas faces do protagonismo
péis de chefia, o carácter forte chefe a colaborar. «Quando che- tas vezes empurradas pela prisão feminino a que a máfia assistiu
de Giusy contribuiu para a decisão guei à prisão, pela primeira vez de maridos ou irmãos que as levou nas últimas duas décadas.
dos irmãos, que sempre tinham senti-me livre», conta. Hoje vive a assumir o controlo. Como acon- Foi capaz de ordenar assassinatos.
dominado a sua vida. Antes de fa- com os dois filhos fora da Sicília, teceu com Giusy. Mas também conseguiu romper
lar com eles, tirava o batom como sob anonimato. Clare Longrigg jornalista britâ- os laços mais apertados e quebrar
sinal de respeito, conta no livro de nica, autora de “Mafia Woman”, as regras de lealdade, testemu-
Camilla Costanzo “Ero cosa loro” Ambiciosas e astutas afirma que elas podem ser ainda nhando contra os irmãos. Como
(“Eu era coisa deles”, trocadilho A máfia siciliana é tradicional- mais convictas na defesa da orga- muitas outras.
com Cosa Nostra), escrito em mente uma organização patriarcal. nização do que os homens: «Elas Algumas destas mulheres fazem
2009, onde desfia as memórias. O lugar das mulheres era em casa, são ambiciosas, corajosas e, às ve- parte da Associação Siciliana
Foi detida meses depois de as- cuidando dos filhos e garantindo a zes, mais astutas que os homens.» de Mulheres contra a Máfia. E há
sumir a liderança, libertada em preservação dos valores. Pode pa- também aquelas que, por isso ou
2002 e novamente presa em 2003. recer pouco, mas para Anna Pugli- A coragem de passar porque a tradição já não é o que
Em 2005 decide colaborar com si, investigadora e autora de vários para o outro lado era, perderam a vida, apanhadas
a justiça, revelando segredos e trabalhos nesta área, as mulheres Nem todas as mulheres que cres- no meio de vinganças e acertos
testemunhando contra os irmãos. sempre tiveram um papel determi- ceram em famílias da máfia, ou de contas. LA
QUEM//LAMAG
ra contra a a adolescência –
através do cinema,
N
unca fui à Sicília. Duas
amigas minhas, esplen- de amor honraria
dorosas, daquele géne-
ro de mulheres que não um país assim, feito
consegue passar despercebido nem
que se esforce (e estas felizmente não de um sépia dourado
se esforçam nada) foram, há uns anos, capaz de condensar
sozinhas, e eu fiquei azamboada com
a coragem delas. Regressaram felizes toda a força.
e sem nódoas negras, por dentro ou
por fora. Falaram-me da estarrecedora
beleza natural, das praias, da qualida- tezas e que luta, desconcertado, para
de da comida, da simpatia dos sicilia- não ter de se despedir delas; um Arturo
nos. Então compreendi que a Sicília que esbraceja por entre acontecimen-
não será só máfia, machismo e intimi- tos contraditórios (o pai, que despreza
dação. E pensei que um dia havia de as mulheres, volta a casar; o pai, rei
ir – mas ainda não aconteceu. A Itá- invulnerável, definha de amor por um
lia é o meu reduto secreto: se um dia preso de delito comum; Nunziata, que
me sentir demasiado triste, voo para devia ser só mais uma fêmea «entrou-
lá. É um país com que sonho desde xada» torna-se-lhe um nome amargo
a adolescência – através do cinema, na sua luz excessiva, a «jovem esposa»,
da língua, das canções e dos livros, por ou, mais exactamente, «a jovem espo-
esta ordem. Nunca tive urgência de lá sa de meu pai»); um Arturo que quer
chegar, porque acreditava que só uma ser indiferente e nunca consegue ser
grande história de amor honraria um menos do que ardente. A páginas tan-
país assim, feito de um sépia dourado tas, Arturo sente que «era impossível
capaz de condensar toda a força. Aca- abraçar o enorme corpo da praia com
bei por ser conduzida por essa história os seus inumeráveis grãos de areia ví-
de amor aos lagos de Como e Luga- trea que fugiam por entre os dedos».
no, e depois a Milão. Anos mais tarde, dade, enfim, todos os sentimentos que Esta ânsia de perfeição, esta épica dor
a celebração da memória de José Car- movem o mundo. «No amor há um de que a paixão seja sempre mais vasta
doso Pires (um escritor que amava Paraíso, e depois, não se sabe como, do que o fragmento amado é, para mim,
a literatura italiana, e que a Itália ama) precipitamo-nos no Inferno» - pala- a definição da Itália, corpo vibrante
levou-me a Roma. Recentemente uma vras de Elsa Morante, uma fabulosa de que a Sicília é um membro parti-
imensa história de amizade levou-me escritora italiana, morta há 25 anos. cularmente libidinoso – ou não fosse
aos silenciosos canais de Veneza. Mui- Acaba de ser reeditado um dos seus ela a bola que a bota que é a Itália pa-
to em breve irei a Florença, em busca melhores romances, “A Ilha de Artu- rece querer lançar. Elsa Morante viveu
de uma princesa triste que mora na pa- ro”, sobre um adolescente que cresce sempre cheia de febre, fazendo de cada
rede de um dos seus múltiplos museus, numa ilha deslumbrante, entre a soli- livro uma fronteira contra a loucura;
acompanhada por uma princesa minha dão abissal de dois mitos – uma mãe manteve-se à tona das desilusões cruéis
amiga, por causa de um livro que trago morta e um pai sempre de passagem. do mundo pescando nas profundidades
na cabeça. Uma história de amor, claro Elsa Morante escreve como se fosse todas as palavras claras que estavam
– não há outras. Porque o amor inclui o coração de Arturo a bater desvaira- esquecidas. Sim, escrever é mergulhar
o sonho e o medo, o poder e a liber- damente: um Arturo que constrói cer- na Sicília – noite, sangue, sol. LA
O QUÊ//LAMAG
Villa Casalle
(Piazza Armerina)
a ilha
SICÍLIA:
A Itália de
Homero
texto margarida da cunha belém
fotografia antónio pedro ferreira
A
Sicília é Lampe- «Vocês, sempre com os vossos sabores misturados!
dusa. Descrita
brilhantemente O ouriço deve saber também a limão, o açúcar
no seu romance também a chocolate, o amor também a paraíso!»
“Il gattopardo”, viajamos pelos “A Sereia”, Tomasi di Lampedusa
olhos do príncipe de Salina ou
pelos olhos de Burt Lancaster
e Visconti, num mundo prestes
a desaparecer. É a Sicília do sé-
culo XIX, a unificação italiana
com Garibaldi e a sua integração
na grande Itália. Mas a Sicília
sempre foi mais que um territó-
rio conquistado durante séculos.
Este chão tantas vezes milenar
também foi grego, francês, es-
panhol e palco de filmes que
o imortalizaram, como “Strom-
boli” de Rossellini, “A Terra Tre-
me”, o primeiro filme de Viscon-
ti filmado numa aldeia de pes-
cadores, Aci Trezza, “O Cinema Palermo
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Anfiteatro em Taormina
Taormina
siCília
SUMPTUOSA
E SECRETA
TEXTO isa clara neves
fotografia miguel judíce
P
ensando em Sicília Desbravada por fenícios, ocupada por
surge irresistivel-
mente a sua ima- gregos, tomada pelos romanos, habitada
gem passada. A Si- pelos árabes, construída pelos bizantinos
cília de tanta cultura, tanta pro- e concluída por artistas barrocos
cissão, tantos pratos que correm
o mundo. A Sicília que o cinema
não cessa de mostrar, por vezes
uma Sicília mais africana que ita-
liana. A Sicília das belas praias,
ruínas, montanhas e do maior
vulcão activo da Europa. A Sicí-
lia do inexplicável. Só respirando
a atmosfera para absorver a aura
desta ilha.
Ensolarada, de natureza rica de
contrastes, com uma esplêndida
e refinada costa, de uma beleza
seca e amarela, esconde verdadei-
ros tesouros em todos os cantos:
praias soberbas de areia branca,
de seixos, de rocha, cidades secu-
lares e paisagens inconfundíveis.
A paisagem é árida, lunar, e cheia Taormina
de história, da história e do sangue
dos séculos.
Situada na periferia da Europa
e no coração do Mediterrâneo, no entanto, a um oceano de dis- ga, francesa, italiana e espanhola. e sabores distintos, escolas de arte
esta ilha italiana é uma realidade tância, tanto culturalmente como Esta língua continua a ser falada e literatura e encontramos mar-
separada do resto do país, uma Itá- noutros aspectos. Todos os habi- sobretudo pelas classes trabalha- cas na arquitectura de edifícios,
lia diferente, bem menos italiana. tantes estão familiarizados com doras e pelos mais velhos. Numa escolas, igrejas, museus e monu-
Embora geograficamente esteja a língua híbrida da Sicília, que in- mistura de culturas, a região tor- mentos. Nas pontes românticas,
muito próxima do continente está, clui palavras de origem árabe, gre- nou-se uma fusão rica de aromas nas ruas estreitas, na gritaria dos
O QUÊ//LAMAG
Mosaico romano
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Catania
O QUÊ//LAMAG
Bam
bina Carlos Coelho
CRIADOR DE MARCAS, PRESIDENTE DA IVIT Y BR AND CORP E WORLD BANK OF CREATIVIT Y
V
ai fazer seis anos que numa truir o berço das suas primeiras meninas
pequena aldeia do Norte in- de verdade e, pelas curtas e curvilíneas
dustrial de Itália, a 20 km estradas de Maranello, passeou, ao colo,
de Modena, tive o privilégio em 1947, a sua primeira Ferrari.
de assistir ao nascimento de uma menina Foi precisamente a este autódromo da
muito especial. imaginação, ainda passeado pelo espírito
Para o esperado momento vieram convi- do seu fundador, hoje já falecido, que vie-
dados de todo o mundo e para nos receber, mos sentir o primeiro bater do coração de
como se a emoção do prometido parto não uma nova menina.
bastasse, estavam: o Michael Schumacher Depois de estonteados pelas boas-vindas
e o Rubens Barrichello. de Schumacher e Barrichello levaram-nos
Reuniram-nos junto à pista de testes, liga- para o interior de uma sala discretamente
ram as suas duas máquinas, essas já adul- vestida de preto, onde o nosso coração ba-
tas, e brindaram-nos com uma arrepiante tia pelo momento mais esperado do dia.
sinfonia de excessos, de velocidade e de Ao fundo, sobre um pequeno e bem ilu-
emoções que transpiravam o amor da bor- minado palco, lá estava ela, coberta por
racha que se fundia com o asfalto e que um manto de paixão, vermelho, como
injectavam na nossa imaginação o cheiro a o das suas irmãs mais velhas.
magia daquele lugar. Como todas sabem, a Ferrari é vermelha,
E quando pensávamos que paravam, fo- aquilo que talvez não saibam é que o ver-
ram no máximo 6 segundos – 6 segundos melho da Ferrari não é uma questão de es-
de pit stop, para mudar os quatro pneus, Mas os seus voos seriam outros. tética, é uma questão de alma, de coração,
abastecer 200 litros de combustível e para Em 1923, após ter ganho uma corrida em de coragem.
nos mostrar como são precisos apenas Ravena, conheceu os condes Baracca, pais E foi cheio de sentimentos vermelhos car-
6 segundos para orquestrar uma brilhante de Francesco Baracca, o ás dos ases que regados de emoção que subiu ao palco
equipa de homens que insistem em desa- morreu em Montello na Primeira Guerra o então CEO da Ferrari.
fiar as barreiras da física e do coração. Mundial. A condessa Paolina viu em Enzo «Per fare delle macchine straordinarie, bi-
E no final deste princípio, estávamos to- a força de um herói aviador, como fora seu sogna che ci siano degli uomini straordi-
dos atropelados pelo fascínio de estar na filho. Talvez por isso lhe tenha na altura nari, delle donne straordinarie lavorando
mítica maternidade da Ferrari. dito para pintar no seu carro o cavalinho in un ambiente straordinario», afirmou.
A Ferrari é uma pequena empresa quando rampante da fuselagem do avião do seu E depois de um pequeno e muito emotivo
comparada com as suas gigantes concor- falecido filho, que com a sua bênção lhe discurso, pediu a Schumacher e a Barrichello
rentes, emprega 1900 funcionários, mas traria fortuna. que descobrissem o manto vermelho e fizes-
tem uma marca do tamanho do mundo E assim nasceu o símbolo da Ferrari, pela sem bater o coração da sua nova menina.
e um dos mais carismáticos símbolos pla- vontade de uma mulher, e a fortuna acon- E eis que ela, ainda tímida, se deixou ver,
netários, a par da Coca-Cola, da Marlboro teceu. vermelha, linda, ofuscada pela tempesta-
e da McDonald’s. A primeira vez que o cavalinho da Ferrari de de flashes e pela rampante energia da
Mas esta história, muito feminina como voou, como símbolo da scuderia Ferra- alegria das palmas de todos nós, os seus
irão perceber, nasceu do sonho de um ho- ri, curiosamente ainda numa Alfa Ro- babados padrinhos.
mem que a neve de Modena quis desace- meo, cumpriu-se a vontade da condessa, Mas muito mais que a beleza da nova Fer-
lerar, fazendo que fosse apenas registado a Ferrari ganhou a sua primeira corrida rari, tocaram-me especialmente as pala-
dois dias depois de ter nascido. e fez nascer o carismático e inconfundí- vras visivelmente emocionadas de Luca di
Talvez por isso Enzo Ferrari tenha em- vel símbolo daquela que veio a ser a sua Montezemolo:
penhado toda a sua vida a acelerar nasci- grande marca. «Mi sento sempre commosso quando nas-
mentos, na sua maternidade de meninas A partir dessa altura Enzo correu sempre ce una nuova bambina», desta vez uma
voadoras. com o seu cavalinho da fortuna percorren- menina com 490 cavalos, que faz 4 segun-
A Ferrari é mesmo uma menina que voava do, a alta velocidade, a estrada que o levou dos dos 0 aos 100 km/h, e tudo isto fruto
na imaginação de Enzo, um homem que pelas vitórias e, na Segunda Guerra Mun- do trabalho dos tais 1900 homens e mu-
começou a testar a velocidade da sua pai- dial, à pequena aldeia de Maranello. lheres extraordinários.
xão, na década de 1920, ao volante de um Enzo encontrou neste recanto de campo Uma Ferrari não é um carro, é uma má-
Alfa Romeo. da sua sanguínea Itália a energia para cons- quina extraordinária, uma menina cons-
«Mi sento sempre commosso quando nasce una nuova bambina»
Luca di Montezemolo
C
Shot in Sicily
Michael Roberts
A
A visão particular de Michael Roberts – Banda Sonora
director de moda da “Vanity Fair” – da Sicilia. filme “Nine”
coordenação solange cosme As pessoas, as tradições, as paisagens. O casting de “Nine”, de Rob Marchall
Apresenta um fantástico editorial com fotos (realizador de Chicago) é impressionante.
a preto e branco feitas na ilha italiana Daniel Day-Lewis, Marion Cotillard,
O universo cultural siciliano e a Dolce Vita Style, de Jean-Pierre Dufreigne, Penélope Cruz, Judi Dench, Fergie, Kate
inspirado no filme de Federico Fellini, Hudson, Nicole Kidman e Sophia Loren
é um pequeno parêntese na cultura com fotos da época também tiradas em Itália. fazem subir a fasquia no filme que foi já
italiana. Recheada de histórias, Abarcando duas décadas, “Shot in Sicily”
é o resultado de uma visão de um país cheio
nomeado para cinco Globos de Ouro,
incluindo na categoria de Melhor Canção
são as suas gentes que fazem de ambiguidades e sensualidade. Original para Cinema Italiano. De referir
Com epílogo do designer Manolo Blahnik. que são os próprios actores que interpretam
da Sicília um local diferente: www.steidlville.com as músicas, à semelhança do que aconteceu
de identidade própria, criam-se no filme “Mamma Mia!”
universal
múltiplas personalidades nos seus D Be Italian – BSO Nine
http://www.youtube.com/
A Siciliana
habitantes. Cenário de histórias Sveva Casati Modignani
watch?v=XSelItmbH5I
nas artes e nos espectáculos é aqui Já não é uma novidade nas prateleiras das
livrarias, mas está a tornar-se um clássico! B
que grandes artistas vêm buscar Na Sicília, uma enigmática freira dá uma Penínsulas
entrevista reveladora a um jornalista.
inspiração. Também é daqui O seu nome é Nancy Pertinace e, antes & Continentes
Maria de Medeiros
que saem outros tantos artistas. de desaparecer nos confins da ilha, era uma
das mulheres mais famosas de Nova Iorque, O novo álbum de Maria de Medeiros,
Deixe envolver-se nesta ilha cidade onde contava poder vir a ser mayor. é uma viagem musical entre as penínsulas
Ibérica e Itálica e os continentes americano
Mas no seu passado pesa a longa sombra da
de mistério e viva uma apaixonante máfia e no seu presente nem tudo parece claro... e africano. Aqui podem-se ouvir temas de José
Afonso, Vítor Jara, Nino Rota ou Lenine.
viagem pelas artes escritas ou Um romance apaixonante que foi já foi
adaptado à televisão. Além da música, as próprias línguas criam
ouvidas, mas sempre arrebatadoras. www.asa.pt
uma trama melódica: português, espanhol,
italiano, catalão, inglês... Línguas
das penínsulas e dos continentes.
E Maria de Medeiros apresenta o seu novo
B Honra o Teu Pai disco a 7 e 8 de Abril, em Lisboa e no Porto.
Apresenta-se em trio, ao qual se juntarão
A Cosa Nostra Gay Talese
o trombonista Itacyr Bocato e o percussionista
História da Máfia Ascensão e queda de uma das mais conhecidas
Quem é Lou Sciortino? famílias de máfia nova-iorquina. Rubem Dantas do Brasil e o violoncelista
de Ottavio Cappellani Siciliana espanhol Manuel Martínez del Fresno.
Este é um magnífico documento sobre a
A soberba estreia na ficção daquele que John Dickie
ascensão e queda da notável família Bonanno, Em Lisboa também estará presente Paulo
é considerado o Roddy Doyle siciliano trata Cosa Nostra é a história da máfia siciliana, Furtado, com quem Maria de Medeiros
um dos pilares do crime organizado de Nova
da disputa de poder entre dois grupos da máfia, a organização criminosa mais famosa em todo colaborou no seu mais recente
Iorque, por volta dos anos 60 do século
um estabelecido na Itália e outro nos EUA, o mundo, mas também a mais misteriosa, álbum, “Femina”.
que passou. A história centra-se no rapto do
deflagrada após um crime que parecia banal: e que durante muitos anos permaneceu envolta universal
filho de Joe Bonanno, um dos grandes patrões La Dolce Vita, Maria de Medeiros Penín-
o assassinato de um agente da polícia durante num véu de secretismo e numa aura romanesca,
da máfia de então, que esteve misteriosamente sulas & Continentes
um assalto a uma pequena loja em pleno centro a que não é estranha a sua representação
desaparecido durante 18 meses, e a chamada www.youtube.com/
histórico da Catânia, o coração da máfia. na literatura e no cinema.
«guerra das bananas» entre esta família e os seus watch?v=ik4v3g4e2kw
Este crime traz à cena inesquecíveis A obra traça-nos a história desta organização
rivais. Entre as mais interessantes revelações deste
personagens: actores loucos, músicos lunáticos, cujas raízes se confundem com a formação
livro, e certamente também de grande interesse
assassinos glamorosos e o misterioso Lou do estado italiano. Aliás, na sua luta pelo poder C
histórico, encontram-se a estrutura financeira do
Sciortino, um italo-americano que mora e pelo controlo, a Cosa Nostra não se coíbe,
como as suas acções o comprovam, de enfrentar
crime organizado nos Estados Unidos, os feudos, The Story
em Los Angeles, onde lava o dinheiro sujo a tomada de decisões e acordos. A origem Faced Man
da família como produtor de cinema, esse mesmo estado, seja pelos atentados
histórica da máfia merece também uma palavra Vinicio Capossela
que é obrigado a refugiar-se na Sicília. ou subornando os seus funcionários,
de destaque neste relato, lembrando o seu início Vinicio Capossela está na linha da frente
Esta é uma obra única: um romance escrito incluindo elementos da classe política.
www.edicoes70.pt como uma associação dos sicilianos contra de uma nova geração de cantautores que
de forma maravilhosa, hilariante, engenhoso, os opressores. É uma oportunidade única reinventaram a canção italiana. A sua música
apaixonante e autêntico, que revela como para ter uma ideia de como se vivia no interior homenageia Paolo Conte e Tom Waits,
funciona a máfia actual. dessas famílias, que as muitas faces do sonho mas a sua magia reside na forma como
www.dquixote.pt americano tornaram quase lendárias. quebra as fronteiras de uma canção e evoca
www.presenca.pt mundos habitados por demónios, sombras,
A B
C D
No atelier de Massimo
Izzo, em Siracusa,
criam-se joias.
Obras de arte para
coleccionadores privados
ou projectos para
marcas como a Ferrari
e a Max Mara.
JOALHEIRO
massimo
Como aparece a Sicília
izzo
naquilo que faz
e em quem você é? texto anabela mota ribeiro
Aparece completamente.
As minhas jóias são uma
concentração de emoções fortes,
imagens, História, perfumes,
cores... Só quem vive
na Sicília pode assimilar estas
características que a ilha tem
e transmiti-las no que faz.
As suas peças
parecem artesanais,
muito laboriosas,
delicadas. Como se
cada peça fosse única,
fosse um tesouro morganites e turquesas verde- maturidade artística na joalharia teatro, por exemplo.
descoberto no fundo -persa ou azul-bebé californiano. e no manuseio de materiais Então, porquê este
do mar. É esta ideia Diamantes, peridotos e corais nobres. Foi em 1985. Antes disso tipo de criatividade?
(de raridade antigos sicilianos, dos quais sou tive o privilégio de ser aluno É preciso nascer criativo.
e preciosidade) coleccionador. de dois grandes mestres de Depois trata-se de alimentar
que pretende que Siracusa. Quando tinha 15 anos e estimular esse talento. Eu dirijo
elas tenham? Como faz o que faz? assistia às suas aulas, à tarde, a minha criatividade. LA
Sim, sem dúvida. Com amor, paixão, e uma depois de ter feito os meus
irreprimível vontade de descobrir trabalhos de casa. São Salvatore
novas técnicas e materiais. Cassone e Peter Di Paola.
Fale-me dos materiais
que mais usa. Como começou tudo? O que fez de si uma
Ouro de diferentes cores.
Água-marinha branca,
Comecei por estudar na Art State pessoa criativa? Não
cor-de-rosa, amarela. Corais,
School, onde adquiri uma certa faz arqueologia ou
POR QUE SE TORNOU CRIATIVO?//LAMAG
FRANCESCO
Como aparece a Sicília
CAFISO
naquilo que faz
e na pessoa que é? texto anabela mota ribeiro
Tenho muito orgulho em ser
siciliano. Quero que toda
a gente saiba que nasci aqui
e que a Sicília não é simplesmente
a terra da máfia, e todos esses
lugares-comuns... Que é uma
terra de cultura, arte, vinho, sol,
mar, paisagens deslumbrantes.
Um lugar da história, onde
no passado se cruzaram muitas
civilizações que fizeram da Sicília
o sítio maravilhoso que é hoje.
E é também uma terra de
grandes músicos de jazz: Nick
la Rocca, Frank Sinatra, Joe Pass,
Joe Lovano e muitos outros.
É uma ilha bela e completa sob
vários pontos de vista.
«Precocidade» parece
ser a palavra mais usada
para falar sobre si. Não
é assustador por vezes?
Sentir uma expectativa
muito elevada desde
sempre. E era muito
jovem, é muito jovem...
Eu nunca penso no «sucesso» Foi a experiência mais por mim. Depois disso comecei a nem arqueologia, por
ou no que «as pessoas» importante na minha curta fazer tournées sozinho, com exemplo. Porquê esta
e «os críticos» pensam sobre mim carreira. Fui com o Wynton a minha própria banda. Fiz muitas forma de criatividade?
ou sobre a minha música. Marsalis e a sua banda para coisas. Mas nunca é suficiente... A música é a rainha das artes.
O meu objectivo é fazer sempre a estrada, em tournée, quase Adoro Jazz porque tenho
o meu melhor, tentando fazer um mês. Tocámos nos mais Explique-me que a oportunidade de improvisar
uma coisa especial. Não consigo importantes clubes e salas relação física e e partilhar com a audiência
pensar que as pessoas estão de espectáculo. Wynton sentimental tem com os meus sentimentos, os
a olhar para mim. Concentro ensinou-me muito, sobre música, o instrumento que toca. meus pensamentos, a minha
a minha personalidade sobre a cultura americana. O meu saxofone é como disposição, quem eu sou.
no processo de crescimento Não era fácil, porque eu tinha a minha namorada! Ninguém De um modo geral adoro todas
e tento ser cada vez melhor. apenas 14 anos! E não sabia falar lhe pode tocar. Falo com ele, as formas de arte: cinema,
inglês. Mas agora sei que foi uma e falamos sobre tudo... Tenho teatro, livros, escultura,
Encontrar a família bela experiência. Aquela banda verdadeiramente uma relação pintura... Todas elas me
Marsalis, prestigiada é como uma segunda família paranóica e ciumenta com enriquecem e participam
no mundo do jazz, para mim. Todos os membros são o meu saxofone! na minha maneira de tocar. LA
mudou a sua vida? Fale- meus amigos e serei sempre grato
-me desta relação, e do ao Wynton pelo que fez por Que fez de si uma pessoa
seu desenvolvimento. mim, pelo que continua a fazer criativa? Não faz teatro
© CORBIS/VMI
PORQUÊ//LA MAG
(La) Dolce
(Vita) © CORBIS/VMI
& Gabbana
TEXTO Ana Cristina Leonardo
Colecção Dolce & Gabbana,
Primavera 2010
Stefano Gabbana
e Domenico Dolce no
final do desfile da sua
colecção Primavera-
Verão 2008
© CORBIS/VMI
© CORBIS/VMI
Madonna
na Campanha
Primavera-Verão Domenico Dolce no backstage do desfile
2010 da colecção Outono-Inverno 2010
de Itália (e alguns escândalos com mum aos dois: foi exactamente mundo cada vez mais dominado talvez menos flashy (idade obli-
a publicidade da marca confir- isso que os juntou quando ambos pelos grandes aglomerados, insis- ge), e a eles se aplicará sempre
mam isso mesmo). Juntos aliarão trabalhavam como assistentes te em manter total controlo dos o adjectivo molto sexy. LA
o savoir-faire da alfaiataria mila- num atelier da capital de mo- seus negócios. Negócios muito
nesa, com Stefano (Milão, 1962), da italiana. lucrativos. Totalmente desconhe-
ao folclore siciliano e sulista, Isabella Rosselini, Christy Tur- cidos no início, Dolce & Gab-
com Domenico (Palermo, Sicília, lington, Monica Bellucci ou Ma- bana rivalizam hoje com nomes
1958). Mera hipótese. Porque donna são algumas das mulheres como Prada, Versace ou Armani.
o gosto pelo barroco, pelo eclec- que se renderam ao talento des- E, apesar de terem vindo a tor-
tismo e pelo espectáculo é co- ta dupla de designers que, num nar-se, não menos sensuais mas
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Seguindo a tendência internacional de acessórios
no cabelo, a Lanidor, em parceria com o hair-stylist
Miguel Viana, lança esta Primavera uma colecção
exclusiva. Colaborador da marca há 12 anos,
Miguel Viana inspirou-se nas noites boémias
dos anos 20 e 30 e criou uma completa linha
de luxuosos acessórios nos quais se incluem bandas
para cabeça, bandoletes e ganchos, em materiais tão
diversos como penas de aves, tule, rendas e aplicações
metálicas. Alguns destes acessórios têm ainda
a versatilidade de se poder utilizar como pregadeiras,
dando liberdade à criatividade individual.
Elegantes e femininos podem completar um look
de festa personalizado e acompanham uns jeans,
no look casual com requinte.
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Inspirado nas cálidas águas mediterrâneas
e no luxo das quentes tardes a bordo de um veleiro.
O azul e o branco em perfeita harmonia com tons
terra, permitem-lhe criar um look casual-chique
e recriar o lifestyle de umas férias no Mediterrâneo.
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Acessórios no
cabelo
Há muitas maneiras de prender
o cabelo com estilo – em cima,
em baixo, bem esticado ou meio
despenteado – mas este ano,
para estar na moda é preciso
personalizar com um acessório
de tamanho XL. O volume é
importante; para os desfiles de
Cabelo solto e natural Bottega Veneta e Marc Jacobs,
A inspiração nos anos 70 é evidente nos cabelos compridos, Guido aplicou a espuma de
bem abaixo dos ombros e com um aspecto natural. É um look volume Aerate 08, da Redken,
desalinhado, que faz pensar em praia e férias. No desfile Pri- secou o cabelo sem esticar e de-
mavera/Verão de Versace, Guido criou uma ondulação suave pois apanhou atrás, ao alto. Re-
com um modelador eléctrico e separou as madeixas à mão, mata-se com um gancho grande,
com a ajuda da pasta flexível Rewind 06, da Redken. A versão com uma pregadeira ou um dos
mais sofisticada, da Majirel, é inspirada no estilo “Anjos de acessórios criados pelo Miguel
Charlie”. Aqui, a arma secreta é o brushing à moda antiga, Viana para a Lanidor, deixando
com secador e escova redonda. as pontas caídas.
Neo(n)
chic
coordenação vera saldanha
Da cor da pele
O bege total. Mas não fan-
tasmagórico, porque com-
bina tonalidades de bege
rosado, pêssego e dourado
para dar boas cores. Uma tez
sem defeitos é base obrigatória
para este look suave e mono-
cromático. É uma alternativa
perfeita e muito elegante ao look
bronzeado típico do Verão.
COMO//LAMAG
© Corbis/VMI
Os segredos das sicilianas estão
provavelmente escondidos
algures entre a dieta
mediterrânica, o estilo de vida
orientado para o prazer, para
o sol e os produtos que tanto
alimentam essa dieta como
a pele, os cabelos e os corpos.
© Corbis/VMI
beleza
mediterrÂnica
ESPELHO, ESPELHO
MEU, COMO FAZER
DA BELEZA
SICILIANA UM
SEGREDO
SÓ MEU?
N
ão é por acaso que a texto joana amaral cardoso
dupla Dolce&Gabbana
tem um perfume bap-
tizado como Sicily – afinal, Do-
menico Dolce é siciliano. Mas há
outro motivo. O Mediterrâneo,
Amêndoas, limão,
visto desta ilha, tem um aroma óleos essenciais,
próprio. Há, como no perfume
Sicily, a bergamota que cresce bergamota.
na ilha mais hedonista de Itália. Ingredientes para
E há outras fontes naturais de
beleza. Os segredos das sicilianas um regime de intenso
estão provavelmente escondidos
algures entre a dieta mediterrâni-
hedonismo.
ca, o estilo de vida orientado para
o prazer, para o sol e os produtos
que tanto alimentam essa dieta A sua base são as reluzentes e su- mas tem as resistentes oliveiras, as A marca Ortigia, por exemplo, de-
como a pele, os cabelos, os corpos. culentas azeitonas da Sicília, cujos fortes amendoeiras, os verdes ar- dica-se a fragrâncias única e exclu-
No fundo, as oliveiras, os limoei- caroços servem para criar pode- voredos de citrinos que alimen- sivamente feitas à base de produ-
ros, as amêndoas, os óleos essen- rosos esfoliantes, cujo óleo é um tam a ilha, sustentando em parte a tos sicilianos – flor de laranjeira,
ciais. Os ingredientes sicilianos regenerador carregado de ácidos economia e nutrindo e animando gerânio, figo da Índia, lima sicilia-
estão em qualquer parte. Na pele gordos essenciais e cujos poderes os habitantes. Exemplo disto é a
de um John Galliano, por exem- curativos remontam à era do im- Acqua Di Parma Blu Mediterra- na, lavanda… Laranjas sanguíne-
plo, que comprou toda a linha pério romano e dos gladiadores. O neo – Mandorlo Di Sicilia, feita as, pistácio, açafrão. Eis a Sicília,
dos produtos bio Oliva da Baro- património natural da Sicília fun- à base dessas amêndoas multiusos com tantas cores e aromas quanto
nessa de Cali, que tratam de corpo ciona de facto como um ecossiste- que servem para fazer cremes, per- o Magrebe, mas com a sofisticação
e rosto. ma perfeito – a terra pode ser rude, fumes, champôs e máscaras. do Mediterrâneo. LA
COMO//LAMAG
Dar
de comer
à pele
texto joana amaral cardoso
Segredos de beleza
is/
provenientes da Sicília?
rb
Co
© Corbis/VMI
Sophia Loren disse-o várias vezes,
em entrevistas, e até o escreveu num
livro sobre as mulheres e a beleza:
o segredo de uma boa dieta é a pasta.
A verdadeira pasta à italiana,
com molho de tomate fresco e azeite.
© Corbis/VMI
Comer
contra o
envelheci
mento
S
ophia Loren disse-o vá-
rias vezes, em entrevis- texto vera saldanha
tas, e até o escreveu num
livro sobre as mulheres e a beleza:
o segredo de uma boa dieta é a
pasta. A verdadeira pasta à italia-
A cozinha tradicional
na, com molho de tomate fresco do Sul de Itália, pródiga
e azeite. Este prato simples encerra em cores, aromas e sabores,
toda a sabedoria da famosa dieta
mediterrânica: a massa é um dos
é uma festa para os sentidos.
alimentos energéticos mais sau- E também muito saudável.
dáveis que podemos consumir, Descubra o segredo mais
o tomate é rico em licopeno, um
antioxidante poderoso que prote- bem guardado dos habitantes
ge as células do envelhecimento do Mediterrâneo: o poder
e o azeite é uma gordura vegetal
que mantém as artérias saudáveis
nudo
www.nudo-italia.com rejuvenescedor dos alimentos.
e também actua como antioxi-
dante. Se juntarmos fruta, temos e as gorduras animais têm o efeito à dieta mediterrânica: menor inci- do, que ajudam a manter o corpo
as fibras e as vitaminas que faltam oposto, podendo tornar-se tóxicos dência de doenças cardiovasculares hidratado. Não é preciso ser um
para uma refeição equilibrada, se consumidos em grandes quan- e cancro, maior resistência ao enve- grande chef para dominar esta arte
com pouca gordura e muita ener- tidades. lhecimento. Junte-se muito peixe, que estimula os sentidos e ape-
gia. Uma pizza margherita de mas- Ora, a natureza é generosa nas que também contém gordura de la à criatividade. Basta procurar
sa fina seria igualmente saudável... margens do mar Mediterrâneo, o boa qualidade – os famosos óme- inspiração nos produtos frescos
e apetitosa. que favorece um consumo elevado ga 3, ácidos gordos que regulam da época, resistir à tentação de
A palavra “antioxidante” é a chave de vegetais e reduz o consumo de o colesterol, mantêm o coração usar molhos pré-confeccionados
da chamada dieta mediterrânica, produtos de origem animal. Po- e o cérebro saudável, e dão brilho e natas, e permanecer fiel aos tem-
que os especialistas em nutrição demos regalar-nos, sem medo da ao cabelo – uma dose ocasional de peros tradicionais à base de ervas
consideram ser um dos regimes balança, com saladas frescas, sopas queijo, ovos e carne de aves, pou- aromáticas, azeite, cebola e alho.
alimentares mais saudáveis do reconfortantes e legumes grelha- quíssima carne vermelha, e temos Depois é só saborear o resulta-
mundo. O poder antioxidante de dos ou assados no forno. Sempre uma alimentação realmente equi- do, acompanhado com um copo
um alimento corresponde à sua temperados com um fio de azeite, librada. de bom vinho tinto, que acrescen-
capacidade de proteger as células a mais saudável das gorduras. À qualidade dos ingredientes ta ainda mais algumas proprieda-
do envelhecimento precoce, sen- Aqui, nem no pão se põe manteiga. juntam-se os benefícios de uma des antioxidantes a esta dieta com
do mais elevado nos alimentos de Os especialistas atribuem ao azeite culinária simples e saudável à sabor a mar e a sol, onde não ca-
origem vegetal. A carne vermelha a maioria das virtudes associadas base de sopas e cozidos com cal- bem sacrifícios. LA
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COMO//LAMAG
Cosa
Nostra
texto helena mascarenhas
Q
uando é que o medo começa? a escolha dos filmes só lhe interessassem
É preciso que alguma coisa aqueles em que existissem crimes. «Para
aconteça? Os especialistas di- se ser mau é preciso ter estilo», dizia ele
rão que o medo é uma defesa e portan- cheio de ironia, aconchegando a sua ga-
to talvez se trate de uma característica bardina topo de gama ao corpo impo-
© Corbis/VMI
natural que cada um de nós desenvolve nente. Levou anos a construir inimigos
mesmo antes de nascer. Calculo que e divertia-se com as hostilidades que
os acidentes de percurso tornem alguns era capaz de provocar com meia dúzia
mais permeáveis do que outros à aflição, de palavras, sempre terríveis e certeiras.
ao coração acelerado, aos suores frios, Um dia descobri que ele conhecia de fio
a essa inquietação fininha que se instala a pavio as vidas de Al Capone, Lucky
sem controlo. Luciano ou Tomaso Buscetta, embora
Depois do escuro - o primeiro medo este último fizesse parte de um género de
de que me recordo, chegaram os mons- bandidos que desprezava, os arrependi-
tros, todos eles tão feios que lhes cha- dos. O encanto pelo submundo afastava-
mava horripilantes. Mais tarde o medo o mesmo daqueles que teimavam ficar
passou a piar fininho e a habituar-se próximos e em pouco tempo a barreira
A história dele a um estado de aventura iminente. tornou-se cada vez mais visível. Quem
acabou cedo e, O mais difícil tornava-se sempre mais o procurasse tinha de descer as escadas
interessante, o precipício por exemplo, do bar mais sórdido. Era lá que ele se en-
escusado será só depois de pisado estaria excluído dividava em jogos de cartas, cujas regras
dizer, não acabou da lista de afazeres. O desafio perma- tornavam vencedor quem melhor sou-
nente, a sensação de invencibilidade, besse fazer batota. No que se transfor-
bem. Quem não eis o grande estimulo para qualquer mara este rapaz cheio de sardas e calções
vence o medo, reguila que se preze. E há quem não pelo joelho, espancado por um grupo
o dispense para o resto da vida. Um dos de adolescentes, enfileirados, corredor
mais cedo ou meus maiores amigos de infância fez da fora, sem que ninguém o tivesse acudido?
mais tarde acaba provocação o seu lema. Seguia o perigo Num farrapo cheio de medo, às voltas
com um faro caprichoso, sempre pronto no seu labirinto. Agredido e humilhado
sempre por ser a dar o corpo às balas. Os anos passaram correu para se salvar transformando-se
engolido por ele. e ele sem dar sinais de desistir. Por vezes no agressor. E como se tal não lhe bas-
a insensatez era tanta que a adrenalina tasse, montou um cerco para se penalizar
o transformava no monstro que ele todos até deixar de sentir dor. A história dele
os dias procurava gladiar. Onde houves- acabou cedo e, escusado será dizer, não
se escuro era para onde ele se encami- acabou bem. Quem não vence o medo,
nhava. Com ele percorri algumas salas mais cedo ou mais tarde acaba sempre
de cinema, embora quando chegasse por ser engolido por ele. LA
COMO//LAMAG
© Corbis/VMI
MÃO
NA
MÃO
TEXTO CARLA nascimento RIBEIRO
Q
uando me lançaram
o desafio de escrever
duas páginas de ideias
para passar o tempo em família,
vieram-me logo à cabeça as pala-
vras quando, onde e como.
Passar o tempo em família pare-
ce algo tão empreendedor quanto
planear escalar o Evereste ou fazer
a circum-navegação da Terra.
Põe-se logo a questão para quan-
do? São os testes, os TPC, a pre- Apenas com imaginação, uma boa dose
guiça de sair de casa, de descal- de boa disposição e improvisação
çar as pantufas e enfiar os ténis, e uma mochila às costas, podemos viver
de desligar a PlayStation e arrumar e partilhar experiências e emoções
os jogos, de pôr, sem obrigação, fantásticas com os nossos filhos.
o nariz fora da porta e partir com
ou sem destino planeado. Depois continua a ser a melhor opção. mãos se escapam das nossas e eles bolbos de várias cores e tamanhos.
surge o onde? Encontrar um lo- Numa das dramatizações que fiz voam para novos poisos. Por não ser uma tarefa muito exi-
cal no planeta que agrade a todos na escola com os meus alunos so- Apenas com imaginação, uma boa gente, grandes e pequenos rapida-
não é tarefa fácil. «Não tem piada, bre as relações entre pais e filhos, dose de boa disposição e impro- mente encontram prazer quer na
é para miúdos! Já lá fomos com um dos temas mais escolhidos visação e uma mochila às costas, escolha do local, quer nos buracos
a escola! Que seca!!! Está a cho- foi precisamente o pouco tempo podemos viver e partilhar experi- pouco fundos que têm de se esca-
ver! Está calor! É muito perto! passado em família. Segundo eles, ências e emoções fantásticas com var. Acaba-se sempre em amena
É muito longe!» E por fim, resolvi- nós pais só arranjamos tempo pa- os nossos filhos. cavaqueira, de joelhos no chão,
do o quando e onde, resta a forma ra trabalhar. Desta feita fica um leque de su- falando sobre tudo e todos, menos
de lá chegar. A pé, de comboio, de Daí que, por mais que a infância gestões que tem como tema a na- das pequenas cebolas que se acon-
autocarro e… o carro estacionado e a adolescência pareçam por vezes tureza. Apenas do lado de fora da chegam na terra.
à porta, logo do outro lado do por- fases intermináveis de birras, dis- porta, num canteiro ou num vaso E é a partir do cheiro a terra e a
tão, sem ar condicionado e com parates, caprichos e respostas na podemos começar por antecipar flores que proponho estas suges-
migalhas em tudo o que é canto, ponta da língua, logo logo as suas a chegada da Primavera plantando tões para fora de casa. LA
fora
de casa
Sábados
no
Parque
Para descongestionar da se- des do sabugueiro, que pre- sábado do mês é escolhido
mana, nada como nos em- cedem a grande flor branca um tema – “Conversa do
brenharmos num passeio em forma de guarda-chuva, Mês”, à qual se segue uma vi-
de 3 km no Parque Biológico ou os rebentos das aveleiras, sita guiada pelo trilho de des-
de Gaia, mais concretamen- dos catapereiros e dos car- coberta. Mais informações
te em Avintes. «Os visitantes valhos, todos a falarem dos em www.parquebiologico.pt
podem desenvolver os seus ritmos da natureza que escoa ou através dos telefones
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COMO//LAMAG O mar, esse,
é repleto de história
UM TOUR e mitologia. Reza a
lenda que à beira desse
PELA mar, em Ortigia, exista
uma fonte de água
SICíLIA helena sacadura cabral doce, que fala de amor.
Foi nela que a ninfa
Aretusa pediu à deusa
Ártemis que a ajudasse
Q
uando recebi o tema des-
te número tive imensas a fugir do amor
dúvidas. É que não é fá-
cil falar-se da Sicília, uma de Alfeu, o Caçador.
terra de contrastes, que vão da máfia à A deusa fá-la fugir,
dureza do trabalho, da beleza das falé-
sias à fúria dos vulcões, das ruínas aos por baixo de água,
monumentos que o tempo não gastou, e transforma-a numa
enfim, da embriaguez das vielas mais
simples à majestade de uma história na fonte. Alfeu, louco
qual se cruzaram as influências mais de paixão, converte-se
variadas.
Para mim, só há uma forma de falar num rio, atravessa
desta ilha. É andar por ela, no tem-
po e no espaço, num olhar que, sendo o mar Jónico e junta-se
pessoal, pode, contudo, servir a outros à amada em Ortiga,
de guia impressivo. Assim decidi fazer-
vos um tour pelo que conheço. provendo-a para
Comecemos pela história. Por volta do sempre de água doce.
ano 3000 a. C. a Sicília era habitada de água doce, que fala de amor. Foi
por diferentes etnias, nomeadamen- nela que a ninfa Aretusa pediu à deu- Taormina fica no alto de uma espécie
te os sicanos, os sículos e os élimos. sa Ártemis que a ajudasse a fugir do de morro. É uma cidade de caracterís-
O seu nome terá ficado a dever-se, amor de Alfeu, o Caçador. A deusa ticas medievais, muito bem conserva-
durante bastante tempo, aos sicanos. fá-la fugir, por baixo de água, e trans- da e com um teatro que possui uma
Mas a forma triangular da ilha levou forma-a numa fonte. Alfeu, louco vista esplendorosa sobre o mar. Vale
a que, já na antiguidade, fosse conhe- de paixão, converte-se num rio, atra- a pena caminhar pela praia cerca de
cida pelo nome de Trinacria. vessa o mar Jónico e junta-se à amada três quilómetros, ir até Naxos e esperar
Devido à posição geográfica, a Sicí- em Ortiga, provendo-a para sempre no areal, o pôr de Sol belíssimo!
lia desempenhou sempre um papel de de água doce. Depois, a sugestão é ir para Palermo,
grande relevo nos acontecimentos que Esta ilha de Itália, a maior do mar a capital, e deleitar-se com o Palácio
tiveram como protagonistas os povos Mediterrâneo, está separada da Ca- dos Normandos e a Catedral Árabe.
do Mediterrâneo. lábria pelo estreito de Messina que, Indispensável ainda é a visita a Catâ-
As múltiplas civilizações que por ela com apenas três quilómetros de lar- nia, considerada património da huma-
passaram deixaram sinais de um pas- gura, desemboca no magnífico porto nidade pela UNESCO. Aqui tente es-
sado que a tornam uma região privile- natural da cidade do mesmo nome. preitar o cume do vulcão Etna. Eu fui,
giada, na qual a história deixou marcas Esta desenrola-se como um anfiteatro mas fiquei decepcionada. Na verdade
dos gregos, dos romanos, dos bizanti- aos pés do monte Peloritani. Ao per- quem quiser chegar ao topo tem de se
nos e dos normandos. corrê-la lembramos que foi profunda- aventurar a uma escalada exaustiva,
Continuemos agora pela geografia. mente atingida por terramotos e pela com rochas de pura lava, muito áspe-
As costas setentrionais, altas e rocho- guerra. Sugiro ver a Igreja de S. Fran- ras. Nesse dia o vento soprava dema-
sas, lançam-se sobre o mar Tirreno, cesco e as fontes de Neptuno e Orion. siado forte e, chegada ao término, não
em recortes como os golfos de Cas- Depois vêm cidades como Palermo, vi grande coisa da cratera. Mas, para
tellammare del Golfo, Palermo, Ter- Taormina, Ragusa ou Siracusa. compensar, nada como olhar o anfitea-
mini Imerese, Milazzo, nos quais se Siracusa, imperial, é a mais antiga e foi tro, a Basílica de S. Nicolau e o Palácio
abrigam amplas praias cobertas de fi- fundada pelos gregos, antes da chega- dos Elefantes.
níssima areia. da dos romanos. O seu anfiteatro, os A metáfora perfeita da Sicília diz que
O mar, esse, é repleto de história e mi- templos a Zeus e a Apolo, assim como ela é, ao mesmo tempo, próxima e dis-
tologia. Reza a lenda que à beira des- o Castelo de Maniace são locais emble- tante da Itália. É de facto verdade. Mas
se mar, em Ortigia, exista uma fonte máticos a não perder. não se sabe porquê! LA
ONDE//LA MAG
Quarto Quarto
Scirocco Cedro
Jardim
stay on
romance
na
sicília
O
significado da palavra
italiana “talia” encon-
tra-se algures em “ad-
mire-se”. Nas raízes da mitologia, TEXTO JOANA catarino
Talia era uma das musas de Apolo,
deus do Sol, aquela que o delicia-
va com as suas comédias. A Casa
Talia, um verdadeiro oásis no cen-
tro histórico de Modica, não foge
Entre o centro histórico
muito às origens. A admiração in- de Modica e o sol
vade-nos ao primeiro vislumbrar,
além do jardim, um conjunto de mediterrânico que pinta
portas emolduradas entre paredes a encosta em tons de mel
caiadas e telhados de madeira.
O estilo barroco típico do co- e azeitona, encontramos
ração do Val di Noto, pleno de
resquícios de um riquíssimo pas-
a Casa Talia. Um
sado cultural, e as cores e aromas pedaço de história
do Mediterrâneo preenchem-nos
os sentidos e fazem-nos sonhar
esculpido para nos fazer
com deuses gregos banhando-se sonhar devagar.
sob o sol que acolhe as oliveiras
que se espalham nos planaltos.
Encantador é a melhor palavra Pela mão de Apolo sol e os labirintos formados pe- E é também este o conceito que se
para descrever o ambiente que Encontramos a Casa Talia no las ruas, permitindo encontrar nos cola à pele, quando acordamos
nos envolve, nesta cidade do Su- quarteirão judeu, perto da rua o silêncio e a paz do lugar mais para descobrir um mundo onde
deste siciliano que honra as suas principal de Modica. Fruto dos tranquilo da Terra apesar de es- o tempo passa lento.
raízes e tradições, proporcionando sonhos mais ricos de Marco tar no centro do movimento foi
aos que a visitam um espectáculo Giunta e Viviana Haddad, um o que inspirou este projecto», Ao sabor do Mediter-
de rara beleza. Subindo a encosta, jovem casal de arquitectos que explica Marco. Como num oásis râneo
é com agrado que nos deixamos decidiram deixar Milão e ir viver marroquino, os quartos são como Os quartos arrumam-se em dife-
perder nos caminhos sinuosos devagar, como pede esta região pequenas casas, maravilhosamente rentes pisos, mobilados com uma
que escondem verdadeiros tesou- tipicamente siciliana, o projec- acolhedoras, cada um com a sua simplicidade espartana à primeira
ros históricos e arquitectónicos ao to que deu vida à Casa Talia «foi varanda debruçada sobre o centro vista. «Todos os materiais são na-
dobrar de cada esquina, honrando inspirado pelo ambiente inti- histórico da cidade de Modica. turais, ecológicos e acima de tudo
o estatuto que Modica ostenta mista das casas da Medina, onde De noite, quase juramos ter um respeitam a tradição siciliana»,
desde 2003, quando foi conside- o traço árabe predomina». «A ri- presépio aos nossos pés. explica Viviana, descrevendo como
rada Património da Humanidade queza da Medina, cujas paredes Viver devagar é o lema com as paredes de pedra caiadas curam
pela UNESCO. frescas nos aliviam do tórrido que nos recebem na Casa Talia. ao sol e o chão de laje quente
ONDE//LA MAG
Quarto Quarto
Mediterraneo Cedro
Sala de
Estar
«A riqueza
da Medina, cujas
paredes frescas
nos aliviam
do tórrido sol
e os labirintos
formados pelas
ruas, permitindo
encontrar
o silêncio e a paz
do lugar mais se misturam com as madeiras de No Zagare e no Scirocco, os traços Lá fora, num jardim salpicado
peças tão antigas que através delas da ruralidade dominam o ambien- com as cores do Mediterrâneo –
tranquilo da Terra se adivinham as histórias. O estilo te em tons da terra, com aponta- a lavanda, o mel, o verde azeito-
apesar de estar rústico confunde-se com todos os mentos de madeira e ferro forjado. na, os azuis profundos e o bran-
no centro confortos que possa desejar para O Sirah distingue-se pelo requinte, co vibrante do sal – numa paleta
passar uns dias de absoluta tran- encorpado como os tintos da cas- de encantar, esperam-nos novas
do movimento foi quilidade, entre o passado tão ta a que rouba o nome e as cores. surpresas. Espreguiçadeiras convi-
o que inspirou presente da cidade das 100 igrejas No Cedro, a suavidade dos tons dam a desfrutar da hospitalidade
e dos planaltos luxuriantes que do mel e das salinas contrastam
este projecto». a envolvem, enfeitados com oli- com a memória dos antepassados, do próprio Apolo. E sob uma oli-
veiras, amendoeiras e alfarrobeiras presente em cada peça que repousa veira carregada, uma mesa de re-
que rompem entre a rocha quente sobre as lajes escuras do chão. O feição convida a provar as delícias
de sol do Val di Noto. Mediterrâneo veste-se com os tons da mundialmente famosa cozinha
Cada quarto, um ambiente. Para de um mar ao crepúsculo e o Me- siciliana: o vinho Nero d’Avola,
cada ambiente um nome. «Escolhi- ridiana vai buscar o doce traço das o queijo Ragusano DOP, o azeite
do pelas influências mediterrâni- alfarrobas para criar um ambiente Frigintini, o tomate de Pachino
cas que encerra», explica Viviana. avassaladoramente romântico. e o famoso chocolate de Modica. LA
Quarto Detalhe do quarto
Zagare Meridiana
Sala Quarto
de Estar Meridiana
Terraço do Quarto
quarto Sirah Meridiana
ONDE//LA MAG
Sant’
Ambrogio
Ecoturismo
à moda
da
Sicília
Texto joana amaral cardoso
E
porque ali se pode simplesmente de estúdios a casas autónomas, e que se dedicou a fazer um back
m Itália, as Vespa respirar, comer, dormir, passear, passando por apartamentos espa- to basics à italiana. A sua terra
são rápidas, o trân- recarregar. A vida da aldeia tem çosos ou para casal. Ah, facto in- natal estava tão diferente, a sua
sito é alucinante as mesmas Vespas, mas não tão contornável para os amantes do Sicília não era a mesma e por isso
mas o tempo é todo daquele país rápidas, e produz as imagens mar, ele está lá, à vista, em quase era preciso recordar-lhe as raízes,
– lá moram as relíquias do impé- que nos fazem pensar uma Cór- todas as casas que no seu interior as cabras e as salinas. Agora man-
rio romano, lá mora a mais deli- sega que conhecemos dos livros usam lâmpadas de baixo consu- da vir todos os produtos ecológi-
ciosa gastronomia que tem tudo de Astérix: mulheres vestidas de mo energético, são limpas com
de fast (nada mais rápido do que cos, encarregou-se de vulgarizar
negro à soleira das portas, ido- produtos amigos do ambiente e a reciclagem na aldeia e oferece,
improvisar uma pasta ou uma sos sentados em bancos corridos podem ser recheadas com os pro-
pizza), mas cuja alma é slow-food. via internet, o aluguer destas ca-
a ver o dia passar. dutos locais mais caseiros e com a
E se há cantinhos particularmente sas para viver uma “sicilian expe-
A Signora Maranto faz pão para pegada ambiental mais diáfana. E
propensos à vida deliciosamente a aldeia, as azeitonas crescem nos nas ruas, tal como nestas casas, há rience”. Já subiu ao Kilimanjaro,
lenta mas ao mesmo tempo sur- olivais em torno da povoação e os contentores de reciclagem, ópti- já geriu hotéis de cinco estrelas
preendentemente moderna, esses queijos são feitos ali. Na piazza mos para a separação dos resíduos na Toscana e nos Alpes, já foi
cantinhos estão resguardados na central ainda há festa na aldeia, e para apenas deixar um rasto consultora da União Europeia
Sicília. porque os jovens ainda lá mo- de felicidade e relaxamento à saí- para o Ecoturismo num projecto
Sant’Ambrogio fica nas encostas ram e nos arredores há passeios da de Sant’Ambrogio. no Gabão e é escanção. Mas só
dos montes Madonie, no Norte a cavalo, sobreiros e caminha- A culpa de tudo isto, claro, é de quer promover o modo de vida
da Sicília, e é um desses recan- das convidativas. Para dormir uma mulher desenvolta e globa- “dos sicilianos”. Para que o mun-
tos modernos, porque tenta ao e descansar do calor da Primavera lizada: Carmelina Ricciardello, do – via turistas eco-slow – se veja
máximo ser sustentável, e lentos, e do Verão, há 29 habitações – australiana nascida na Sicília “através de olhos sicilianos”. LA
Vista
geral da
aldeia Ernesto
de Sant’ com Pepe
Ambrogio Arsino
A responsabilidade
é de uma mulher globalizada
e apaixonada pela
sua Sicília. O resultado
é uma aldeia autêntica,
convidativa, sustentável
mas não excessivamente
modernizada nem
aculturada.
A distribuição de
frutos e vegetais
em Sant’ Ambrogio
A Signora
Maranto Carmelina
e o seu marido Ricciardello,
com o pão a responsável
que acabram por esta“Sicilian
de cozer Experience”
ONDE//LA MAG
Restaurante
LA Cucina di
DonnaCarmela
Contrada Grotte, 5
Carruba di Riposto - Catania
Tel. +39 095 809383
www.donnacarmela.com
A cozinha siciliana
é riquíssima e foi sendo
criada ao longo dos séculos
pelos diversos povos
que conquistaram a ilha.
A Parmiggiana
da La Cucina di
DonnaCarmela.
Prato siciliano
feito com beringela
frita, tomate
fresco, manjericão
e presunto.
A Sicília
é de se
comer
TEXTO miguel júdice
RESTAURANTE
LA CAPINERA
Via Nazionale, 177 | Spisone - Taormina (Me)
Tel: +39 0942 626247 Chef Pietro D’Agostino
Tlm: +39 338 1588013 na cozinha do
www.ristorantelacapinera.com restaurante La Capinera
a cozinha está no sangue das pes- o Principe Cerami, e a Casa Grug- bém comem e não é pouco. Quem tonas variadas, filetes de peixe com
soas, que a praticam com simplici- no. Em Licata fica um dos dois res- visita a ilha não consegue ficar tomates maduros a acompanhar,
dade, sabor e grande genuinidade. taurantes que rivalizam pelo posto indiferente aos carciofi ripieni alla e até couscous variados que evocam
Também por isso a Sicília é um de melhor restaurante da ilha, griglia (alcachofras recheadas gre- na boca as memórias da passagem
delicioso destino gastronómico. o La Madia do chef (ou Monsu, lhadas), saladas frescas com azei- dos árabes pela Sicília. LA
Apesar da enorme variedade de do francês Monsieur, como aqui
bons restaurantes, existem alguns chamam aos grandes cozinheiros)
que vale a pena referir pela sua Pino Cuttaia. O outro concorren-
singularidade ou pela particular te é o Al Duomo do Monsu Ciccio
qualidade da oferta gastronómica. Sultano, em Ragusa, talvez a mais
Para que possa ter boas moradas na bonita cidade histórica da Sicília.
inevitável visita que vai ter de fazer Restaurantes tradicionais – As es-
à Sicília, aqui vai a nossa lista: colhas abundam mas algumas das
Restaurantes tradicionais/contem- melhores moradas incluem o La
porâneos – Uma das grandes refe- Rusticana em Ragusa Ibla, a Ta-
rências da ilha é o DonnaCarmela, verna Nicastro em Modica, a Os-
um pequeno hotel no campo onde teria Al Duomo em Cefalu, o Bye
Tagliolini
se faz uma cozinha siciliana tradi- Bye Blues em Mondello (o nome Carruba um
cional mas com um toque de mo- pouco siciliano esconde afinal um dos pratos
da autoria do
dernidade. Outro local fantástico excelente restaurante de cozinha Chef Mantarro
servido no
e incomum é a Antica Stazione local), o La Scudiero em Palermo, restaurante
Ferroviaria Ficuzza, em Ficuzza, o Don Camillo na deslumbrante Principe Cerami.
Entrada para o
renovado LA Caffé
Avenida
O LA Caffé Avenida,
recentemente remo-
delado, reúne num
só espaço características tão pró-
prias que o tornam único e atraem
um almoço no meio de um dia
de trabalho ou mais cosy para um
jantar. Com esta remodelação o
restaurante ganhou uma deliciosa
área privada com capacidade para
curas dos aparadores antigos, os
espelhos, os quadros vintage e as
toalhas de pano branco, tudo so-
bre o cenário de uma vista delicio-
sa sobre o coração da Avenida da
à primeira visita. 15 pessoas. Liberdade.
Quem entra na sala principal e se de- A decoração é pensada ao porme- Faça parte da pretty people que
para com o balcão de entrada ilumi- nor e prepara-lhe os sentidos para frequenta o restaurante e não se
nado consegue de imediato sentir a uma refeição de autor: o Chef deixe enganar pelo LA em néon
atmosfera que o rodeia. O LA Caffé António Runa. Na decoração há vermelho no corner de mesas cor-
Avenida apresenta-se como uma uma harmonia entre o vidro e as ridas. Parece, mas não está em Los
das alternativas mais trendy para paredes de tijolo e as madeiras es- Angeles. É Lisboa, com estilo. LA
Detalhe da nova
área privada
para refeições
até 15 pessoas
ONDE//LA MAG
patrícia
reis
Editora da revista “Egoísta”, empresária,
escritora, mãe de dois rapazes. Não admira
que de vez em quando precise de vestir,
por baixo das suas peças clássicas, o fato
de Mulher-Elástica. À noite, um pijama
masculino é a sua «capa» de escritora.
Texto Ana Esteves
Fotografia Luciana Cristhovam
Produção Simonne Doret
Make-up (YSL)/Cabelos (REDKEN) Miguel Catrica
Na construção das personagens
que dão vida aos seus livros,
“EGOÍSTA”
Capas da revista
editada por
cliente
o que vestem é importante?
A roupa pode caracterizar
Patrícia Reis
LA n i d o r
o estado de espírito ou reflectir
uma profissão. Faz parte
do processo narrativo,
da construções das personagens
e dos ambientes. A sua relação
com o corpo, com a imagem é,
muitas vezes, essencial à história
PALAVRAS QUE NÃO
que se quer contar. ENTRAM NA MODA
«máscara de olhos, nunca
conseguirá derrotar o
Que lugar ocupa no seu dia clássico rimmel»
o cuidado com a imagem?
Tenho uma empresa na área
da comunicação, logo
a imagem é tudo. O meu
guarda-roupa reflecte isso:
muitos fatos de corte masculino,
geralmente combinados com O MELHOR
DA LANIDOR
T-shirts, alguns vestidos mais O cartão de fidelidade
formais, casacos de bom corte, MALA LANIDOR
gabardines diversas. Vou ao Um dos
acessórios TÚNICA LANIDOR
cabeleireiro todas as semanas que melhor a Peça ideal para
definem escrever nas
e preocupo-me com a aparência noites de Verão
das mãos. É sempre feio
ver alguém com umas mãos
descuidadas. Eu sei,
r e s p o s ta s
roí as unhas anos a fio. rápidas
As insónias de uma escritora Uma palavra que adore acessório que melhor a Comprar roupa é um
Mimo. define A mala e os sapatos. prazer solitário ou não
são compatíveis com o seu
ideal de beleza? dispensa uma opinião?
O melhor sítio para ler No fundo da sua cartei- Compro por impulso ou para
O meu ideal de beleza não passa um romance Cama.. ra há sempre Foto dos meus
efeitos terapêuticos, quer isto
pela beleza física. A beleza reside filhos, rebuçados bolas de
Música para a nova esta- neve, um frasco de viagem do dizer que vou às compras
no estado de espírito da pessoa
ção O novo disco de Bernar- perfume Marc Jacobs... para desanuviar a cabeça
e não na sua aparência.
do Sassetti Trio: “Motion”. e vou quase sempre sozinha.
As insónias são capazes de deixar
Se pudesse, o que muda-
marcas no rosto difíceis de O próximo tema da “Ego- va no seu corpo? A traição O melhor da Lanidor
disfarçar, porque não sou muito ísta” Liberdade. do corpo com a idade, as A variedade, a qualidade,
adepta de maquilhagem. É para alergias, as dores lombares... a proximidade de uma
mim um gesto mais formal, Manter a forma é Fazer
Pilates duas vezes por sema- Elegância ou sensuali- das lojas da minha casa
mais festivo e mais nocturno.
na na máquina desenhada dade? São sinónimos ou se e do meu atelier, o cartão
Que tem vestido quando pelo senhor Joseph Pilates. não são deveriam ser. de fidelidade, o Outlet...
escreve pela noite dentro?
Geralmente um pijama de corte e que estão na moda, fazem este ano). Apesar disso, tenho
masculino, por ser mais prático É mais “mãe de rebolar parte das tendências. Exemplo? algumas peças de criadores
e quente. De Verão uma túnica na relva” ou “mãe de histórias Pumps. Outras, como “máscara portugueses e estrangeiros que
serve perfeitamente. no sofá”? de olhos”, nunca conseguirão são invulgares, nomeadamente
As duas coisas, embora derrotar o clássico “rimmel”. da Lidija Kolovrat. Para
Diz que nas férias dos seus me incline mais para a segunda Gosto da forma como a moda compras seguras, a Lanidor
filhos veste o fato de Mulher- hipótese com uma manta se reinventa e nos obriga a usar é uma das minhas marcas.
-Elástica? Como é ele? e um chá. Rebolar na relva e reutilizar peças. Deve ser por Durante anos tive um casaco
O fato da Mulher-Elástica também é bom, mas como isso que tenho oito metros de de corte navy, malha bege,
traduz-se em ser multitarefeira. tenho dois rapazes tudo se torna varões cheios de roupa. Algumas botões de um dourado velho.
Quando temos uma empresa muito físico (há sempre alguém peças têm mais de 15 anos. O casaco foi, estupidamente,
nunca estamos de férias. que se aleija). ao secador. Mandei-o para a sede
Tenho de tentar casar as Isso também acontece na com uma súplica: por favor,
necessidades do Atelier 004, Há palavras que entram forma como se veste? façam outro, é um clássico.
da minha família e, claro, na moda, marcam um tempo. Eu diria que sou mais clássica Até Coco Chanel tinha um
a minha vontade de escrever. Usa-as ou prefere uma do que inovadora. Não acho casaco assim. Ainda não perdi
A elasticidade e agilidade linguagem clássica? que tenha idade para vestir a esperança, sobretudo agora
de pensamento ajudam muito. Há palavras que ficam comigo uma mini-saia (faço 40 anos que o navy vem aí em força. LA
ONDE//LA MAG
© Corbis/VMI
Rapa
rigas
de bi
quíni
TEXTO ana esteves
A imagem do biquíni
caiu como um explo-
sivo nos meios conser-
vadores dos anos 40. A influente
editora de moda Diana Vree-
land classificou-o, em 1946, como
«a invenção mais importante desde
a bomba atómica». E Louis Réard,
o criador, baptizou-o com o nome
de uma ilha do Pacífico onde se
tinham realizado testes atómicos.
Mas a verdade é que a bomba, afi-
nal, já tinha séculos. Os vestígios
mais antigos do biquíni estão na
Sicília.
O palácio Villa Romama del Casa-
le, do séc. IV d. C., foi classificado raparigas de biquíni enchem uma praticando exercícios com alteres, ni de Brigitte Bardot em “E Deus
como Parimónio da Humanidade
das paredes. Mais do que o gla- lançamento do disco, corrida e jo- criou a Mulher”. Mas quem sabe
pela riqueza dos seus mosaicos.
Os mais conhecidos são os da mour ou a sedução, elas parecem gos com bola. se não terão provocado, no seu
Sala delle Dieci Ragazze, onde dez cultivar os valores do desporto, Nunca terão o impacto do biquí- tempo, o mesmo tipo de furor. LA