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13. OS JAPONESES DESDE © DIA DA VITORIA Os ameticanos tém boas razdes para se orgulhar do seu papel na administragao do Japao desde o Dia da Vi- toria. O plano de agao norte-americano ficou estabelecido na diretriz de Estado-Guerra-Marinha, transmitido pelo ridio a 29 de agosto, € foi administrado com habi- lidade pelo General Mac Arthur. Os excelentes motivos para tal orgulho tém sido amidde obscurecidos pelas criticas ¢ louvores partidérios na imprensa e no radio amerivanos, com pouca gente sabendo o suficiente acerca da cultura japonesa para poder certificar-se se de- terminada politica era desejavel ou nao. A grande questao na época da rendigio do Japao era 4 natureza da ocupacao. Iriam os vencedores utilizar o 249 governo existente, até mesmo o Imperador, ou seria ele li quidado? Iria haver uma administragdo de cidade-por- cidade, provincia.por-provincia, com os oficiais do Go- vyerno Militar dos Estados Unidos no comando? Os sis- temas na Itélia ena Alemanha levaram a instalagao de se- des locais do G.M.A., como partes integrantes das forgas de combate, colocando a autoridade para assuntos domésticos locais nas maos de administradores aliados. No Dia da Vitéria, os encarregados do G.M.A, no Pacifico ainda esperavam instituir um governo desses no Tapio. Os japoneses nio sabiam também que responsabilidade pe- las proprias questies teriam permissio de conservar. A Proclamacio de Potsdam estabelecera apenas que “pontos do territirio japonés a serem designados pelos Aliados sero ocupados a fim de assegurar os objetivos basicos que aqui estamos expondo” © que deverd ser climinada para sempre “a autoridade e influéncia da- queles que enganaram ¢ transviaram © povo do Japao no sentido de empreenderem a conquista do mundo”, A. ditetrig Estado-Guerra-Marinha confiada a0 general Mac Arthur inclufa uma grande decisio sobre esas questoes, totalmente apoiada pelo seu Quartel General. Os japoneses iriam ser responsiveis pela ad- ministragao reconstrugio de seu pais. “O Comandante Supremo exercerd a sua autoridade através do mecanisto governamental japonés © de érgios, inclusive 0 Im perador, na medida em que isto satisfatoriamente fa- vores os objetivos dos Estados Unidos. O governo ja- ones tera a permissio, sob as suas instrugdes (do general Mac Arthur), de exercet os poderes normais de governo em questies de administragio doméstica”. A ad- ministragio do Japo por parte do general Mac Arthur 6, portanto, de todo diferente da da Alemanha ou Itélia. E exclusivamente uma organizagao de comando, utilizando © funcionalismo japonés, do topo A base. Dirige os seus comunicados ao Governo Imperial Japonés e nao ao povo Japonés ou aos residentes de alguma cidade ou provincia, Sua fungio ¢ estabelecer as metas a serem alcangadas pelo governo japonés. Se um Ministro japonés julgé-las irrealizdveis, poderé apresentar a sua rentineia, e, sea sua causa for boa, poderé conseguir a modificagio da diretriz, Este tipo de administragio constituia um audacioso Passo, As vantagens deste plano de aco do ponto de vista 250 7 dos Estados Unidos sdo bastante claras, Como disse o general Hilldring na ocasido: As vantagensobthas stars do gorerno nacional so imensas. Se sido cxstnve gpremo fponts dsponid para noso uo. tedium de pera dietamente todo a complica mdguina necstria para Brunia deo pats de setenta mise habanee. Ese pve dite de nb es Hoga, costunese alti. Mediante a Tinpeza'¢ uli do mecanmo do gpvemo jas como wm instrament Cstaomos economizando © noo tempn. a nos mav-de-bra eo fons curses Eun tras pulsed, examin exigindo dos jposeses Gue facam a sun propre pera de casa, ms as expeteapces f- Rocets nbs Quando esta diretriz estava sendo tragada_em Washington, entretanto, muitos ameticanos ainda temiam que os japoneses fossem se mostrar intratdveis ¢ hostis, configurando-se um pats de vingadores alertas que sabotassem quaisquer programas de paz, Esses temores nao comprovatam setem justificades. E residem as razdes na curiosa cultura do Japao, mais do que em quaisquer verdades universais, sejam elas politicas ou ‘econdmicas, acerca de paises derrotados. Provavelmente em nenhum outro pais como no Japao teria compensado tanto uma politica de boa €. Aos olhios dos japoneses removeu esta do puro fato da derrota os simbolos da hhumithagao, desaflando-os a por em execugao uma nova politica nacional, cuja aceitagao somente foi possivel precisamente devido ao cardter culturalmente con- dicionads dos japoneses. Nos Estados Unidos discutimos interminavelmente acerca de condigoes de paz tigorosas ¢ brandas. A questiio verdadeira nio € serem rigorosas ou brandas. O problema consiste em utilizar a dose certa de rigor, nem mais nem menos, que iti romper artigos perigosos padroes de agressividade e estabelecer novas metas. Os meios a verem escolhides dependem do carater do povo ¢ da ordem social tradicional do pafs em questo. O autoritarlsmo: prussiano, implantado como esté na familla ena yida civiea cotidiana, torna necessérios certos tipos de von. digoes de paz para a Alemanha. Diretrizes sbias de paz teriam de diferir das do Japao. Os alemiies no se consi: deram, como os japoneses, devedores do mundo @ dow s€culos. Lutam, nao pata pagar uma divide Incalculavel © sim para evitar serem vitimas. O pai é uma figura autor asi taria e, como qualquer outra pessoa de posi¢ao superior, ele € quem, segundo a expressao, “‘compele o respeito” Ele € quem se sente ameagado se no o obtiver. Na vida alem’, cada geragao de filhos revolta-se na adolescéncia contra os pais autoritarios e se considera, por fim, rendida a idade adulta, a uma vida mon6tona e pouco excitante, {que identifica com a dos pais. O ponto alto da existéncia perdura como sendo os anos de Sturm und Drang da te- volta adolescente. ‘© problema da cultura japonesa no & 0 autori- tarismo grossciro. O pai € uma pessoa que trata seus {ills jovens com respeito e ternura tides como ex cepcionais, na experiéncia deste hemisférie, pelos observadores ocidentais. De vez que a crianga japonesa tem como certos determinados géneros de real com- panheirismo em relagio ao pai, dele se orgulhando abertamente, uma simples mudanga de voz da parte deste leva a crianga a cumprir os seus desejos. Nada tem 0 pai, pois, de excessivamente rigoroso com os filhos ¢ a adolescéneia nao 6 um periodo de revolta contra a autor dade paterna, E antes uma época em que as criangas tornam-se representantes responsaveis © obedientes da familia perante os oles julgadores do mundo, Demonstram respeito aos pais “por costume", “pot educagao”, isto 6, constituem eles um objeto de respeito que € um simbolo despersonalizado de hierarquia © da conduta de vida conveniente. Tal atitude, aprendida pela crianga desde as primeiras experiéncias com o pai, elabora-se num padrao para toda a sociedade japonesa. Os que sao alvo das mais profundas provas de respeito por sta posigao hierérquica nao exercem caractetisticamente poder algum arbitrario, Os que se encontram no topo da hierarquia tipicamente nao exercem a autotidade verdadeira, Do Imperador para baixo, consetheiros e forgas ocultas operam nos bas: tidores. Uma das mais precisas deserigies destes aspectos da sociedade japonesa foi fornecida peto lider de uma das sociedades siiperpattisticas do tipo do Dragio Negro a um reporter de um jornal inglés em Téquio, nos primérdios da década de 30. “A sociedade”, disse ele, re- ferindo-se evidentemente japonesa, “€ um. tridngulo controlado por um alfinete em um dos cantos’.” O 4 Citado por Upton Close, Behind the Face of Papa, 1942, p. 136 252 tridingulo, em outras palavras, jaz na mesa para todos verem, © alfinete é invisivel. As vezes, o tridngulo est para a direita, outras, para esquerda. Gira num eixo que nunca se revela. Tudo € feito, como costumam dizer 0s ocidentais, "com espelhos”. Cada esforgo é feito para reduzir ao minimo a aparéncia de autoridade arbitréria, fazendo cada ato assemelhar-se a um gesto de fidelidade a0 simbolo de categoria, continuamente desligado do verdadeiro exercicio do poder. Quando 05 japoneses identifieam de fato uma fonte de poder a descoberto, consideram-na tal qual ao agiota € 0 narikin, como exploradora ¢ indigna do seu sistema. Os japoneses, considerando o seu mundo desta maneira, sao capazes de encenar revoltas contra a ex- ploragio ¢ a injustiga, sem jamais se tornarem te- yoluciondrios, Nao se propdem a rasgar em pedaos a contextura do mundo, Podem instituit as mais completas mudangas, como fizeram no periodo Meiji, sem contudo aspergir sobre o sistema. Deniominaram-na Restauragiio, um “mergulho” no pasado, Nao sao revoluciondrigs e os escritores ocidentais que basearam suas esperangas em movimentos ideoldgicos de massas no Japio, que durante guerra exageraram a amplitude do movimento clan- destino japonés, contando que passasse a Tiderar na rendigio © que desde 0 Dia da Vitoria profetizaram o triunfo da politica radical nas urnas, incorreram em grave incompreensio da situagao, errando em seus préprios prognésticos. O primeiro-ministro conservador, 0 Bardo Shidehara, expressou-se com maior preciso quanto aos Jjaponeses ao formar o seu gabinete em outubro de 1945: © goveeno do nose Tapio tem uma forma demacratien que respeits 4 vontade do povo ... Desde os antigos tempos, em nosso pals, o Im perador fez di sua vontade a yontade do povo, E este 0 espirito da Constitucio do Imperadar Meiji ¢ o governo demoerdtico de que fala povie ser consideraca verdadeiramente uma mvanitestagao do seu es Dirt ‘Tal expressio de democracia pareceré menos do que nada para os leitores norte-americanos, mas nao hé davi- da de que 0 Japio conseguité mais prontamente ampliar @ zona das liberdades civis e estruturar 0 bem-estar de seu povo na base dessa identificaao do que na da ideologia ocidental. 253 O Jap, sem dtivida, hd de fazer experiéneias com os mecanismos politicos da democracia, mas as medidas oci- dentais no constituirao instrumentos dignos de con- fianga capazes de modelar um mundo melhor, como acontece nos Estados Unidos, As eleigdes populares ¢ a autoridade legislativa de pessoas eleitas criarao tantas ficuldades quanto as tesolverao, Quando essas ficuldades proliferarem, 0 Japao modificard os métodos sobre os quais nos apoiamos pata alcangar a democracia, Erguer-se-io, entao, vozes americanas para proclamar que a guerra foi em vo. Acteditamos na retidio dos ‘nossos instrumentos. Quando muito, pelo menos, as el des populares hao de ser periféricas & reconstrucao j Ponesa como nacio pacifica, por muito tempo ainda. Desde a Gltima década do século pasado, quando primeiro teve experiéncia de eleigoes, 0 Japao nao mudou j@ fundamentalmente, a ponto de no poderem ter ocorrido algumas das antigas dificuldades entio delinea- das por Lafcadio Hearn: Nao havia realmente animosiade pessoal aagulas farina dis putas eltorai que cstaram tants vida: pouco antagonism pss! fava naquelesebstesparsmence ce volenla sombre estrangelon As lta plas aay cram de fo ene lividus, mas Ente tresses desis ode partiow. Os devtadon stra deca Ou partido € que srsenteentendian a nora police como um note tp eerste de eae ser combate pr doles) Em eleigdes mais recentes, na década de 20 deste século, os aldedes costumavam dizer antes de langarem seus votos: “Meu pescoco est4 limpo para a espada”, uma expressio que identificava a disputa com os antigos ata- ques dos samurais privilegiados contra 0 povo. Mesmo hoje em dia, todas as implicagdes de eleigdes no Japio di- feririo das dos Estados Unidos, isto se verificando mesmo independente de estar ele ou nao empreendendo perigosas politicas agressivas. A verdadeira forga do Japio, por ela podendo ser usada para reconstruit-se como nagao pacifica, reside na sua capacidade de dizer a respeito de determinada rota de agao “Esta falhou” e, em seguida, lancar as energias em + Japan: An Lnerpretation. 1904, p. 453, 254 ‘outros canais. Os japoneses tém uma ética de alternativas. ‘Tentaram conquistar a sua “ posigao devida” na guerra e perderam. Poderio, agora, por de lado esse rumo, pois to- da a sua educagio os condicionou para possiveis mudangas de diregio, Os paises com éticas mais absolutistas precisam convencer-se de que esto lutando por principios. Quando se tendem aos vencedores, declaram “perdidos os direitos com a nossa derrota” © a sua dignidade exige que trabalhem para fazer esse “direi- to” vencer na préxima ver. Ou entio, baterio no peito, confessando a sua culpa. Os japoneses nao precisam fazer hnem uma coisa nem outra, Cinco dias depois do Dia da Vitoria, antes de qualquer americano haver desem- barcado no Japio, o grande jornal de Téquio, o Mainichi Shimbun estava pronto a falar de derrota e das mudancas politicas por ela acarretadas, dizendo “Tudo foi, porém. para o bem e para a definitiva salvagao do Japao”. O edi torial acentuava que ninguém deveria esquecer por um momento que cles haviam sido completamente derro- tados. J4 que os seus esforgos para edificar um Japao baseado na pura forca haviam fracassado inteiramente, dali por diante deveriam eles trilhar © caminho de uma nagao pacifica, O Asahi, outro grande jornal de Téquio, naquela mesma semana considerou a anterior "16 ex- cessiva na forca militar” por parte do Japao como “um erro sério” de sua politica nacional ¢ internacional, “A antiga atitude, com a qual ganhariamos tio pouco € so- frerfamos tanto, deveria ser abandonada por uma nova, enraizada na cooperacao internacional e no amor & paz”. (0 ocidental verifica esta oscilagao quanto Aquilo que considera prinefpios e acha suspeito. Trata-se, no entanto, de uma parte integrante da conduta de vida no Japa, seja nas relagées pessoais ou internacionais. O japonés consta- ta ter feito um “erro” seguindo uma linha de ago que nao atingiu a sua finalidade. Quando ela falha, ele a coloca de lado como causa perdida, pois nao esta con- dicionado a adotar quaisquer causas perdidas. “Nao adianta”, diz ele, “querer morder 0 proprio umbigo’ década de 30 deste século, 0 militarismo foi o meio aceito através do qual pensaram eles conquistar a ad- mirago do mundo — admiracao a ser baseada no seu po- detio armado —e aceitaram todos os sacrificios exigidos por esse programa. Fm 14 de agosto de 1945, 0 Im- petador, a voz autorizada do Japao, comunicou-Thes que 255 haviam perdido. Anuiram a tudo.o que este fato im- plicava. Significava a presenga de soldados americanos, pottanto eles os acolheram. Significava 0 fracasso de sua dinéstica aventura, portanto estavam prontos a levar em considera¢ao uma Constituicio que proscrevia a guerra, Dez dias depois do Dia da Vitéria, 0 seu jornal, o Yomiuri: Hochi, prontificava-se a eserever sobre’ 0 ‘Comecgo de uma nova arte © uma nova cultura’ proclamando “a : @ necessidade de haver uma firme con viegio em nossos coracoes de que a derrota militar nada tem a ver com o valor da cultura de uma nagao, A derrota militar deverd servir como um estimulo ... (pois) nada menos do que a derrota nacional foi necessaria para que 0 povo japonés verdadeiramente voltasse para o mundo as suas mentes, a fim de ver objetivamente as coisas, como de fato sao. Todo irracionalismo que vem deformando a mentalidade japonesa deverd ser eliminado por meio da anilise franca... F preciso coragem para encarar esta derrota como um fato consumado, (mas precisamos) por nossa fé na cultura nipénica de amanha’’. Haviam ten- tado uma linha de acao ¢ fracassado. Hoje haveriam de empreender as artes pacificas da existéncia, "O Japao”, repetiam os seus editoriais, “precisa ser respeitado entre eodever dos japoneses consistia em fo numa base no Esses editoriais jornalisticos ndo constituiam apenas a voz de alguns intelectuais. A gente comum de uma rua de Téquio © de uma remota aldeia dio a mesma meia- volta, Afigurou-se inetivel para as tropas americanas de ‘ocupagto como aquela gente amistosa era a mesma que jurara lutar até & morte com langas de bambu. A ética ja- Ponesa encerra muita coisa que os americanos repudiam, entretanto, as experiéncias destes durante a ocupacio do Japio tm constituide uma demonstragao excelente de ‘como uma estranha ética possa ter aspectos favordveis. © governo americano do Japio sob o general Mac Arthur admitiu esta aptidio japonesa de seguir um novo rumo, sem estorya-lo com a insisténcia em empregar téenicas de humithagio. Teria sido aceitavel culturalmente, de acordo com a €tica ocidental, se assim houvéssemos procedido, pois, constitui_um principio da ética ocidental serem a humilhagio © 0 castigo meios socialmente eficazes para provocar num transgressot a conviegio do pecado. Tal 256 | | reconhecimento conduz entao a um primeiro passo de sua reabilitagdo. Os japoneses, como vimos, formulam de outro modo a questio, A sua ética torna a pessoa res- ponsdvel por todas as implicagoes de seus atos, bastar-Ihe- iam as conseqiiéncias naturais de um erro para convencé- Jo de sua inconveniéneia, estando ai incluidas até mesmo uma derrota numa guerra total, Nao se trata, porém, de situagoes que os japoneses «elas se ressintam como humilhantes. No léxico japonés, uma pessoa ou nayao humilha a uma outra por difamagao, detrisio, desprezo, menoseabo e insisténcia sobre ‘simbolos de desonra, Quando os japoneses se julgam humithados, a vinganga torna-se uma virtude, Por mais que a étiea ocidental condene (al principio, a eficdcia da ocupagao americana do Japao depender’ do comedimento neste ponto. Pois os Japoneses separam a derrisao, de que se ressentem ex: iremamente, das “conseqiiéncias naturais”, que, segundo os termos de sua rendigao, ineluem coisas como a des- militarizagao ¢ até mesmo a imposigao espartana de indenizacoes, © Japa, na sua nica grande vitéria sobre uma grande paténcia, demonstrou que, mesmo como vencedor, foi capaz.de evitar cuidadosamente humilhar um inimigo derrotado quando este finalmente se tendeu, nao tendo cle julgado que a outa nagdo de si tenha escarnecido, Existe uma famosa fotografia da tendigao do exércite russo em Port Arthur em 1905 que & conhecida de todos 68 japoneses, Nela os russos aparecem usando stias es- padas. Veneedores © vencidos podem ser distinguidos Apenas por seus uniformes, pois os russos nao se achavitm privados de suas armas, O conhecido relato japonés dessa tendigio revela que quando o general Stoessel, o comandante russo, demonstrou disposigio em aceitar as propostas japonesas de rendigio, um capitio japonds ¢ tum intérprete dirigiram-se ao Seu quartel-general levando comida, “Todos os cavalos, com excegao do pertencente a0 general Stoessel, haviam sido mortos € comidos, portanto, o presente de cingiienta frangos e cem ovos frescos trazidos pelos japoneses foi de fato bem recebido”. O encontro entre o general Stoessel € o general Nogi foi mareado para_o dia seguinte. “Os dois generais aper- taram-se as maos. Stoessel expressou sua admiracio pela coragem dos japoneses e... 0 general Nogi elogiow a 257 prolongada e corajosa resisténcia russa. Stoessel_ex- pressou as stias condoléncias junto a Nogi pela perda de seus dois filhos na campanha . . . Stoessel presenteou 0 seu belo cavalo branco 4rabe ao general Nogi, mas este responcleu que por mais que estimasse recebé-lo como sev das maos do general, primeiro deveria ser presenteado ao Imperador. Prometeu, no entanto, que se a ele fosse entregue de volta, conforme tinha todos es motives para acreditar que viesse a sé-lo, cuidatia dele como se sempre houvesse sido seu”.* Todos no Japao conheceram a estre- baria que o general Nogi construiu para o cavalo do general Stoessel na frente de sua casa — por muitos considerada mais ostentosa do que a sua prépria casa, tendo se tornado inclusive parte do mausoléu do general Nogi, aps a sua morte, Diem que os_japoneses mudaram muito desde aquele dia da rendigio russa até os anos de sua ocupacio das Filipinas, quando a sua brutal agio destruidora e crueldade ficaram conhecidas pelo mundo todo. Para um povo com a tigorosa étiea situacional dos japoneses, no entanto, no vem a ser esta uma conclusio necesséria, Em primeiro lugar, o inimigo nao capitulou apés Bataan; tra- tou-se apenas de uma rendigio local. Mesmo quando os japoneses, por seu turno, renderam-se nas Filipinas, 0 Ja- pao ainda estava combatendo, Em segundo lugar, os ja- neses nunea julgaram que os russos os tivessem “insultado” nos primeitos anos deste século, ao paso que, com relagio & politica dos Estados Unidos, cada ja- pon@s foi educado nas décadas de 20 e de 30 no sentido de considerd-la como um “menosptezo ao Japio” ou, se- gundo a stta exptessio, como “pretendendo traté-lo igual as fezes”. Esta foi a reagio do Japao ao Ato de Exclusio, ‘a0 papel desempenhado pelos Estados Unidos no Tratado de Portsmouth e nos acordos da Paridade Naval. Os j poneses foram estimulados a encarar do mesmo modo 0 erescente papel econdmieo dos Estados Unidos no E: tremo-Oriente € as nossas atitudes raciais com relagao ‘a9s povos nao brancos do mundo. A vit6ria sobre a Rassia © a vitbria sobre os Estados Unidos nas Fi + Citadode um relat japonts por Upton Clase, Behind the Face ofSapan, 132. 294 Exa vendo da tendiao cuss nav proton eI teralmenteverdadcira para er impotsnca cultural. 258 plificam, portanto, a conduta japonesa nos seus dois speetos mais opostos: havendo insultos € nao havendo. ‘A vitbria final dos Estados Unidos modificou de novo 4 situagao para os japoneses. A sua derrota final acarre- tou, como de habito na vida japonesa, o abandono dos caminhos que vinham seguindo. A ética peculiar dos ja ‘poneses permitiu-Ihes limpar o quadro-negro. O piano de agao dos Estados Unidos ¢ a administragao do general Mac Arthur evitaram que fossem escritos novos simbolos de humilhagio no quadro-negro apagado, limitando-se simplesmente a insistir nas coisas que aos olhos dos ja- poneses sao as “conseqiiéncias naturais” da derrota. Deu resultado. Av conservacio do Imperador foi de grande im portincia, Foi bem conduzida. Foi o Imperador quem primeciro visitou o general Mac Arthur, e niio este a ele, 0 ‘que constituiu uma licao objetiva para os japoneses, cuja forga € dificil para os ocidentais avaliarem. Diz-se que quando foi sugerido ao Imperador que tejeitasse sua di- vindade, protestou ele que seria um embarago pessoal despojat-se de algo que nao tinha, Os japoneses, declarou ele sinceramente, nao 0 consideravam um deus no sentido ocidental. © Quartel-General de Mac Arthur, entretanto, instou-the que a idéia ocidental de sua pretensio de di- vindade era md para a reputagao internacional do Japao, tendo 0 Imperador concordado em aceitar 0 cons- trangimento que the iria causar a rejeigao. Ele discursou no dia do Ano Novo e pediu que Ihe fossem traduzidos to- dos os comentirios da imprensa mundial sobre a sua mensagem. Ap6s té-los lido, enviou uma mensagem ao Quartel-General do general’ Mac Arthur_declarando-se Satisfeito. Os estrangeiros obviamente no haviam en- tendido antes ¢ ele estava contente de ter falado, 0 plano de ago dos Estados Unidos, além do mais, permitia aos japoneses certas satisfagoes. A diretriz, Esta- do-Exército-Marinha especifica que “serio dados in- centivo © aprovagao a0 desenvolvimento de organizagdes de trabalho, indiistria ¢ agricultura, constituides numa base democritica”. O trabalho japonés organizou-se em muitas inddstrias ¢ as antigas ligas de agricultores, em atividade nas décadas de 20 ¢ 30 deste século, estao no- vamente se articulando Para muitos japoneses esta iniciativa que agora podem tomar para melhorar a sua condigao constitui uma prova de que o Japao conquistou 259 algo, como conseqiiéncia desta guerra, Um cortes- pondente americano narra a respeito de um grevista de ‘Téquio que ergueu o olhar para um soldado americano, dizendo, com um sorriso largo: “Tapio vence, nao?” As greves atitais no Japao em muito se assemetham as antigas Revoltas de Camponeses, em que a alegacio dos agricultores era sempre de que os impostos ¢ corvéias a que eram submetidos interferiam com a produgio ade. quada, Nao se tratava de lutas de classe no sentido oci dental, nem de tentativa de mudar o sistema. Atualmente, através do Japao, as greves nao atrasam a produgao. A forma preferida consiste nos trabalhadores “ocuparem a tabriea, continuando a trabalhar © fazendo a diregao desprestigiar-se, aumentando a produgao. Os grevistas de uma mina de carvao da Mitsui exeluitt dos pocos todo 0 pessoal da diregao e intensiticou a produgio didria de 250 toneladas para 620, Os trabalhadores das minas de cobre de Ashio trabalharam durante uma “greve”, aumentaram 4 producio e dobraram os préprios salarios.” © governo de um pats derrotado é, sem diivida, di- ficil, por maior bom senso que revele o plano de agao aprovado, No Japio, os problemas de alimentagio, ha- bitacao e reconversao sio inevitavelmente cruciais. Ha- veriam de ser pelo menos igualmente cruciais mum go- verno que nao fizesse uso de pessoal administrativo jax ponés. O problema dos soldados desmobilizados, tao temido pelos administradores ameticanos, antes do término da guerra, € certamente menos ameagador do que seria se nao houvessem sido conservados os funcionérios japoneses. Nao € contudo, facilmente resolvido, Os ja- ‘poneses estao a par da dificuldade, tendo os seus jornais se teferido com emocao, no outono pasado, accrea de quaio amargo era o fermento da derrota para os soldados que haviam sofrido © perdido, rogando-thes que nao deixassem que isto interferisse com o seu “julgamento”. © exército tepatriado revelou, de modo gerai, notével “julgamento”, mas o desemprego e a derrota langam alguns soldados no antigo esquema das sociedades secre- tas com objetivos nacionalistas. Podem facilmente se ressentir contra a sua presente situagao, Os japoneses nao mais thes conferiam seu antigo e privilegiado starus. O soldado ferido costumava andar vestido de branco © as # Time, 18 de Fevereiro de 1946, 260 pessoas inclinavam-se diante dele nas ruas. Mesmo um. recruta de tempo de paz era homenageado com festas de despedida e de recepgio no seu povoado, Havia bebida, comida, dangas trajes regionais, ocupando ele o lugar de honra, Agora o soldado repatriado nao € alvo de tai atengies. Sua familia reserva-lhe um lugar © nada mais que isso. Fim muitas cidades, grandes e pequenas, ele tratado com frieza, Sabendo-se quio amargamente encaram os japoneses tal mudanga de conduta, é facil imaginar a sua satisfagdio em reunit-se aos velhos camara- das, rememorando os passados tempos quando a gloria do Japao era confiada as maos dos soldados. Alguns de seus companheiros de combate, além disso, dir-the-Z0 como jé hd soldados japoneses de mais sorte lutando com os Alia- dos em Java, Shansi e Manchiiria, Por que haverd ele de desanimar? H4 de conseguir lutar novamente, garantem- Ihe. As sociedades secretas nacionalistas sio instituigdes muito antigas no Japao; clas “limpavam o nome” do Ja- pao. Homens condicionados a achar que “o mundo os- cila’, enquanto restar algo a ser feito para tais sociedades clandestinas. A violencia esposada pelas mesmas — as do género Dragao Negro e Oceano Negro — nao ¢ outra seniio a aliada pela ética japonesa ao giri devido ao nome ©0 longo esforgo do governo japonés para enfatizar o sgimu & custa do giri devido ao nome ter4 de ser continuo hos anos vindouros, caso se queira erradicar a violénci Exigit® mais do que um apelo ao “‘julgamento”. Fxi- gird uma reconstrugito da economia japonesa que pro- porcionard subsisténcia e “lugar devido” aos homens ora hos seus vinte ¢ trinta anos. Os japoneses tegressam, sempre que se verificam dificuldades econdmicas, as suas antigas aldeias agricolas e as minfisculas fazendas que so- brecarregadlas de dividas ¢ em muitos lugares do nus de arrendamento, nio mais podem sustentar muitas bocas. A industria também deverd ser propulsionada, pois o ressentimento contra a divisio da possessio com os filhos mais jovens acaba enviando a todos, com excegio dos mais velhos, a tentarem a sorte na cidade. ‘Os japoneses tém diante de siiuma estrada érdua, no hé diivida, mas se o rearmamento nao for prescrito no orcamento estatal, terdo eles oportunidade de elevar seu padrio de vida nacional, Um pats como o Japio que despendeu meade da sua renda nacional em armamento e forgas armadas, durante a década antecedente a Pear! 61 Harbor, poderao langar as bases de uma economia sa- Jutar s¢ eliminar tais despesas © ptogressivamente re- duzir suas requisigbes dos agricultores. Conforme vimos, 2 norma japonesa de diviso de produtos agricolas era de 60% para o agricultor, com 40% pagos em impostos € arrendamentos. Verifica-se ai um grande contraste com ‘outros pafses produtores de atroz como Burma © Siio, onde 90% constitufa a propotgao tradicional entregue a0 cultivador. Esta requisigao enorme sobre o agricultor no Japio foi o que finalmente possibilitou o financiamento da maquina de guerra nacional, Qualquer pais europeu ou asiatico que nao se armar durante a prokima década teré uma vantagem potencial sobre os que se estéo armando, pois a sua riqueza poderd ser utilizada para construit uma economia saudével préspera. Nos Estados Unidos pouco levamos em conta esta situagio nas nossas politicas asidticas © curopéias, pois sabemos que nao iriamos empobrecer este pais com dispendiosos programas de defesa nacional. Nosso pais nao foi devastado, Nao somos fundamentalmente um pais agricola, Nosso problema crucial € a superprodugao industtial. Aperfeigoamos a produgao em massa e equ pamento mecinico, a ponto de a nossa populagio na0 conseguir achar emprego, a menos que ponhamos em agio grandes programas de atmamento, produgao supérflua, bem-estar e servigos de pesquisa. A necessi- dade de investimento ucrativo para o capital & igual- mente critica, Esta situagio completamente diferente fora dos Estados Unidos. E diferente até mesmo na Euro- pa Ocidental. A despeito de todas as cxigéncias de in- denizacées, uma Alemanha sem permissao de rearmar-se poderd, por volta de uma década, ter estabelecido as bases de uma economia sadia e préspera, o que seria impossivel na Franga se a sua politica for de incremento ao poderio militar. 0 Japao poder beneficiar-se ao maximo de uma vantagem similar sobre a China. A militarizagio é uma meta atual da China € as suas ambigdes sio apoiadas pelos Estados Unidos. O Japio, se nao incluit a mili- tarizagio no seu orgamento, poderd se prover, caso queira, por meio de sua prépria prosperidade sem grande tardanga, tornando-se indispensavel_ no comércio do Oriente. Poderd basear sua economia nos lucros da paz € elevar 0 padrio de vida do seu povo. Um Japio assim 262 pacifico poderia alcangar um lugar de honra entre as na~ goes do mundo e os Fstados Unidos muito poderiam auxiliar se continuassem a utilizar a sua influéncia em apoio de um tal programa. ‘O que os Estados Unidos nao podem fazer — o que nenhum pais de fora podetia fazer — ¢ criar por decreto tum Japao livre e democratico, Isto nunca foi conseguido em nenhum pais dominado. Nenhum estrangeiro poder decretar, para um povo que nao tem os seus hébitos pressuposigies. um modo de vida elaborado de acordo com a sua propria imagem. Os japoneses ndo podem ser obrigados, através de leis, a aceitar a autoridade de pessoas eleitas e a desprezar a “devida_posigio” es- tabelecida no seu sistema hierarquico, Nao podem ser obrigados, por meio de legislagio, a adotar os contatos humanos livres e naturais a que estamos acostumados nos Estados Unidos, a ter uma exigéncia imperativa de ser li- ve, uma Ansia ‘propria a cada individuo em escolher a propria companheira, 0 proprio emprego, a casa em que moraré e as obrigagoes que iré assumir. Os proprios ja- poneses, no entanto, sao bastante claros quanto ‘as mudangas em tal ditegio por eles tidas como necessarias. Os seus homens piiblicos vém declarando desde o Dia da Vitéria que o Japio deve estimular seus homens ¢ mulheres a viver as proprias vidas ¢ a confiar nas préprias conscigneias. Est4 claro que nao 0 expressam, mas todo japonés compreende que estao ¢ contestando o papel da “yergonha” (haji) no Japa e abrindo esperangas de um novo incremento de libertagao entre os seus compatriotas: do temor da critica e do ostracismo do Pois as presses sociais no Japio, por mais vohin- tariamente que sejam acolhidas, exigem demais do in- viduo. Obtigam- no a ocultar as suas emogoes, a renunciat aos seus desejos € a etigit-se no representante em evi- déncia de uma familia, organizagao ou pats. Os japoneses demonstraram ser capazes de se sujeitar a toda auto- disciplina exigida por tal norma. Mas 0 peso sobre eles € demasiado, £ demasiado o que sto obrigados a reprimir. Temendo aventurar-se numa vida menos dispendiosa para suas psiques, foram conduzidos pelos militaristas para um rumo em que os gastos interminavelmente se amontoam. Tendo pago um prego tie elevado, tornaram- 63 Se orguthosos ¢ desdenhosos de povos com éticas menos exigentes, Os japoneses deram o primeiro grande passo na dire- da mudanga social a0 identificarem a guerra agressiva como um “erro” e uma causa perdida, Esperam adquirir stia_passagem de retorno a um lugar respeitado entre as nagoes pacificas, O mundo tera de ser pacifico, Se a Réssia e os Estados Unidos passarem os anos vindouros armando-se para atacar, o Japao utilizaré nessa guerra o seu conhecimento. Mas, admitir isto nao chega a con. testar a possibilidade inerente de um Japao pacifico. As motivagoes do Tapio sao circunstanciais, Ha de procurar © seu lugar no seio cle um mundo em paz se as cit- cunstincias © permitirem. Se ndo, 0 sera dentro de um mundo erganizado como um campo armado, Presentemente o Japao reconhece o militarismo como uuma luz que se apagou. H4 de procurar ver se em outros pafses do mundo assim também teré acontecido. Se nao tiver, 0 Japao poderé reacender o seu ardor guerreiro e demonstrat a eficiéneia de sua contribuigao. Caso tenha se apagaclo nos demais, poderd ele se dispor a comprovar quo bem aprendew a ligio de que as aventuras imperialistas nao conduzem & honra, GLOSSARIO* si, amor; espevificamente, © amor de um superior por um dependénte, ‘vigaco, obrigado: “esta coisa diel ‘ura, um povoado de umas quinze casas; 0 dstrito de uma aldeia. ‘bushido, “o procedimento dos samurais", Terma popularizado. neste stoulo destgnando ideas tradicionais de condata japoness. © Doutor Inazo Nitobe, em Bushido, @ alma do Jopio, expecifice como Bust do: retidio ou justia. coragem, benevolencia, polidez, sinceridade. honra, Jealdade ¢ autodominia ‘chu, fidelidade a0 Imperador. atmo, um senior feta () As tradusies Htersis estio entre aspas. Quando nio houve indicagao de acento, deve-se atribuir gual valor «tora a sitabas. Os acentos mareados sio toscas aproximagies apenas ‘destinadas a ausiliar leitores le fala inglese. 265

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