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Darlan de Matos Cunha: texto sobre arte de Víctor Medeiros de Moraes


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Existiram. Esse é o tópico


que aqui, afinal, se aborda.

IVAN JUNQUEIRA, Sagração dos ossos


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Amarna
foi desmantelada
bloco a bloco
após devassar a fé
antiga
sobre a qual foram impostos
nequícias e nepentes
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DA HISTÓRIA DE AMARNA SE SABE SÓ O IMAGINÁRIO

Histórias há com sombra


e sem sombra de dúvida, legando
tanto uma síndrome qualquer
quanto invectivas de azul
provinciano, sintomas
de onde surgem, por exemplo, rogos
por alguma rota sem trevos, enfim, o de sempre

(y luego lo intentas, pero te cuesta creerlo,


o creerlo hasta cuando ya no importe).

E até que se abra de todo


a compreensão diante do que
se quer para si e para o Outro,
antes que nos frature o riso
alguma inusitada preamar,
a gente se advirta intentando
algo mais dúctil e púgil do que a Fala,

mais tátil do que a História


sob a qual, por ora, nos consagramos.
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1.
Propensões à igualdade abrem conversas, desde quando a Terra
começou a se separar em continentes, logo ao se consagrar
nos homens a idéia do ganho pelo suor alheio, o eco de perdas

e danos no solo da Fé, até que se aprendesse que a água existe


em terras distantes, e que os pássaros não deixam de pousar para
rever o horizonte que seus pais tomaram por sinal inequívoco

de local onde até os múrmuros podem ter vez para procriar, crescer
e de lá partirem; até que as mesmas imperiosas ações ou vontades
assumam neles de novo os riscos do retorno, sim, é caso então de

não dormir nas dunas, se mínimos castigos vos aguarda na volta


de caminho tão grande e molesto quanto o da infância, certamente
esquecida pelos que se esmeram em conservar uma natureza

que nada lhes dá de mão beijada, e quase nada melhora no velho


sonho de todos eles: povoar alguma ilha virgem, ir a uma taberna
sem o entorno tão comum da dor e do ódio, sob valores sociais

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rindo-se deles mesmos, ou seja, vale dizer que vivem pagando


língua pelos estigmas, até que novo arbítrio tome conta de seus
atos, até que luvas e máscaras comecem a render dividendos.

Mas vamos por partes: Antes de tal situação, aonde iam aqueles
de quem vos lembrais com noção mínima, ou coisa que o valha ?
Vamos por partes: Como garantir que o que segue rio acima

é aviso para cada erro rio abaixo, ou se é caso de antropologia


e de sociologia de açúcar regrado, refinado por mulheres gritando
que vêem diabos no claro e no breu ? Ora, chega de destrossos e

de bocas chorosas em paióis secos, camaleoas mostrando língua


após descobrirem atores fora do seu (t)ronco familiar, arremetendo
contra proibições antigas e novas, sim, no fundo elas são assim,

e não se sabe a que horas alguma alegria será possível, ainda que
não se tenha chegado ao fundo de nada, senão de terremortos
e maremortos, visto que o vício agregou-se a todos os sabores.

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A solidão sempre teve intensa necessidade de gritos e sussurros,


suja de areia, de ramas e minerais ainda sem nome, sem nada
capaz de inundar de todo a pretensa calma das pessoas, com algo

maior do que o medo, e assim as jornadas se sucedem até à vossa


porta, de armarem contendas contra êmbolos e diluírem grunhidos
há muito vivendo com eles e elas através de passos e tropassos.

Não, a solidão não abandona ninguém, e a pesada expiação sobre


os claros e escuros do mundo já previa que a solidez da solidão
se esmeraria sobre as pessoas encostadas no peso das moedas

que inventam e reinventam, tal como a noção que se faz da doença


em geral, mais ainda de certas tendências. Ora, numas sociedades,
as tendências são de louvor, mas noutras a loucura é tingida com

panos úmidos de aleijão e morte. A calma perseguida. A calma vos


dá de comer, vez e outra, serve alusões logo iniciado o dia; a calma
vive alisando a lápide das leis, ergue os braços para logo abaixá-los

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a um preço nunca antes por ninguém combinado, nunca antes


por ninguém que nunca adotara mesa nem cama. A calma exige
uma questão de olho fixo na manhã cuja sombra ela logo tornará

inapelável, como inapeláveis eram os piratas e bucaneiros, os tipos


medonhdos enviados de Sua Majestade, imundos conquistadores
de terras e águas e céus, enxames sem outra fé que não a bússola

da cobiça e o enleio maravilhoso por delírios à flor d’água. Sexuais


pela perda, deram tudo deles em vós, sendo vosso o eco da calma,
sem remover das armas e mastros a rota para a mata, angústias

com odor de rum e sardinha, o escorbuto roendo-lhes os colhões


e a alma, marinheiros que muito penaram e fizeram penar, filtrados
pelas tormentas, aranhados e camaleônicos, às barras do inferno

chegados e, diante deles, enfim, mil vislumbres do que teria de ser


tomado, penetrado a seco, e tudo assim sem sono algum dormido,
ou resto de sono acontecendo, mesmo agora em que o vento solar

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desarranja novos ecos eletrônicos. Ali e em todos os lugares estão


os homens e suas mulheres na solidão amorosa de um ambiente
que já não é mais de ninguém, ninhos fétidos sobre o mar mexido

por agouros a que se vai com mínimos ruídos e máximos castigos,


deixando nas bordas dos dias e das noites, aqui e ali, um exemplo
e algum sintoma além-lá das regiões do incômodo perpétuo, tudo

castigando sono e vigília, dando de cima noutras regiões cobertas


de cinzas, vivas brasas. Ah, o corpo deve saber em que se meteu,
ao dar ombros à paixão de viver, ou ao elidir o que poderia ser um

desvão futurista, praga de filha ou música de anunciante, e assim


vos digo para irmos por partes, até que os ecos solitários do capital
sejam de fato aproveitados por hgente de todos os lugares, estros

forjando lios e socando ecos nos vidros, sem gastar tempo apenas
a imaginar alguma trilha virgem, mas logo nos primeiros intentos
mudar de estação e fazer soar como armadilha os afiados dentes

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de seus ancestrais, sempre lá, onde sempre estiveram com certeza


iludidos de nossa rudeza, sabedores dos nossos laivos de fanáticos
amantes. Sim, vem pelo ar o aviso integral, e os pássaros e insetos

são os primeiros a perdê-lo, sim, vem pelo ar o indiviso, os ninhos


se fecham e as carapaças tomam o pulso do vento e se esgueiram
para longe das folhas da estação chegada antes, venenos

em formação, aguda e breve esta febre não será, não pode passar
sem deixar vestígios o ciúme, fazer comício é um velho idioma da
liberdade, gente quebrando muros, ora, de onze climas ou mais

podeis safar-vos, vós, que retornais aos mesmos estilos de sombra,


pelas mesmas funções sexuais pensando redigir o trajeto e redimir
o fôlego das plantações arrancadas pelos primeiros gregários, asas

tomadas pelos primeiros invasores, ah, o Tempo vos larga por aí,
pedindo mais e mais, medindo tudo, mientras se incendia el alma,
novos códigos e senhas limam vossa resistência na terra, assim é

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que vem pelo ar o aviso agudo, e se faz necessário estudar climas,


mas antes que o que ouvireis acabe convosco, montai ao contrário
na mula e desequilibrai o mundo ao revés, pondo nele uns coleios,

coisas de outro mundo, com rumores, sem presságios conhecidos


nem pátina alguma, então, montai guarda até se compor algum viés
ao acervo, e nada se distinga que não se lhe possa ter como aresta

de deuses ou impostura das dores, sentir o convívio pernicioso com


que o humano se faz desumano a cada instante. Se for mal sagrado
cada instrumento, as palavras chulas farão mossa de tudo, mas eis

o azeite pronto para descer das colinas, eis o vinho está pronto para
descer sobre a sanidade, porque o bebeis em demasia, e aí então
surgem temas ridículos para velhos enamorados, a métrica do vinho

tem membros redondos e bambos, no fim da noite uma pessoa vem


pedir cama, vem ficar à beira de outro saque familiar, é pura mágica
esta mágica a um palmo de distância da loucura e do encanto, mas

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o mar vos inteira do que podeis jogar nele ou dele retirar para
a encenação de cada dia, pouco exigindo pelos reveses impostos.
No princípio era o que no princípio se temia; depois, o custo

dos prazos foi se desacomodando cada vez mais, e cada vez mais
a ele vos destes de todo fervor, esquecidos de que tudo trama para
iludir-vos, mostrar a visão de uma boa colheita, mas coisa fraca é

a vontade: para o silêncio vir à tona de que se necessita ? Rum ?


O estádio ali está, e um poderoso barulho escoa-se dele e reduz
a nada o dorso da borboleta, reduz a nada a cidade toda, o país

todo arqueado, o mundo inteiro fluindo, o pulso infrene do estádio


os faz deterem-se diante do medo de serem felizes um instante,
embora o gol seja antigo na história dos homens: existiu nos maias,

e ainda antes que os etruscos se assentarem sobre suas cavernas,


já vos diqgo que o gol andou de porta em porta, de coma em coma,
viu a vida trançar-se numa obra de fogo, e o rumo tomou desrumo

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de imperador cujo tutor com certeza morreu cego de desgosto. O


esgosto é gregário, a palha de um gol cantou a mulher de satanás,
deu a deus um jeito de pinçar eleitos e reeleitos (deveríeis chorar

de rir, ou rir por chorar, se nem o princípio nem verbo não foram o
que se supôs ?). Montai ao contrário na mula, a poule pagará fora
do combinado, montai parâmetros novos para novos testamentos.

Veio de algum lugar o mar, mas seus peixes são filhos dele mesmo,
que evoluiu para além destes sulcos brilhantes em vossas faces, a
trégua em vias de se tornar algo normal, até mesmo constância

de lucro, ainda agora aparece diante de muitos o sonho, nalgum


lugar são horas de café e cerveja, também de apostasia, são horas
de muitos rios cobrirem favelas e plantações, e ruirem as bases

de algum possível contentamento, que a vida é de dar viva voz de


dar e receber, dá e toma com indescritível fervor e adivinha ondes
e quandos, comos e porquês. Bar aberto, a jornada de uma mulher

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no salão de espelhos continua, não pára onde moeda alguma lhe


estampe o rosto, pois é a sua mais franca lembrança do amor, de
quando mulheres que habitavam casas diferentes, casas da cor

do alabastro, e cingiam o tronco a enteus e ateus, a glande judaica


vendendo clitóris, muçulmano ator mata mulheres, feira de seixos
num mar vermelho, morto mar, porto cálido de embarques de onde

se parte para onde se pense poder falar sem comprar coleiras para
verbos, sapatos para adjetivos, brancas armas para substantivos,
luvas e máscaras para um simples grito, pingente é o suspense.

A calma exige dorsais e ventrais. Às onze horas os pedreiros têm


fome, em minutos os presos acabam com quem lhes reprove o
coito, estes caminhos vós os tendes à mostra no clima novo, pensai

o que sereis num futuro já passado de embrião. E mais não fosseis,


nada seríeis entre escadas e cômodos estalando dúvidas e dores
com o martelo de vidro da sexualidade, sexo é pão e água, pedaço

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e de pão que um fantasma aventou em redor da luta que todos nós


somos, vossas pretensas mães e pais, sim e não, fostes vós todos
um dia um camaleão, e este realce nos cílios não é prova de nada,

nem mesmo de que olhos há debaixo e sobre eles. Foi de dentro da


vossa desunião que meios se abriram para que o facho demarcasse
caminho mau, de múltiplas abordagens soando de modo estranho,

sensações distantes do usual soam com outras mãos e outros pés,


e de outras coisas não se fez parte impunemente, a gente persegue
uma causa, reclama o que salta diante dos olhos, aparece o medo

e vai tomando ponta, crescendo na praia o buraco do dia medonho,


e ninguém lhes adivinha os passos, mas lembrai que imperadores
não dormem direito, lembrai que as formigas se atêm às folhas em

seu caminho, domam o que encontram. A vida sabe que seus filhos
e filhas sofrerão reveses, que entendam o que é importante, o amor
espera estar sempre na moda, manter o que nunca perdeu, logro

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algum, a calma reflete o que lhe deixam ao largo, sopra até virar
apotegma total. No início ainda vos conformáveis a instantes
entre instrumentos de medição, mas a jornada (eu os vi em Roma,

rumo a Antuérpia muitos partem, sigilosos de seus diamantes)


requer adaptações iguais e diversas das que não foram capazes
os dinossauros, as mulheres se erguem para que não tenham

signo igual, é o que se diz: que umas aparências enganam desde


antes de judas e cristos se embrenharem no mundo da arte, ainda
antes que um dedo apontasse a si, não a outro como sendo

o do criminoso (vence a mais apurada mentira, nos ombros levada


e repetida), sois isto: um dedo na cabeça, ilações, a fenomenologia
inerente à existência de um parque temático, cepos arábicos

rixas de que vos fizestes hospedeiros ou vetores, enfim, nada


íntimo quer o mundo atual: quer-se sem segredos (deus, enquanto
pôde falar, nada percebeu), enojado de trocas de papéis, glórias,

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a meditação é outra, outros os nós, tudo é senha a que se condena


o graduado pleno de neoplasias e taquicardias, ladrões entrando
e saindo pela luz de um recurso, e então se tenta estender

o braço à Noção Nova, seu relho levemente parecido com algo


já experimentado, mas de erros se faz a fuga, de estranhos se faz
a cúpula que vos devora o coração, e até que fossem levantados

os primeiros muros e as primeiras povoações, desenhados no chão


os primeiros estandartes, impostos começassem a bater nas portas,
alguma noção de fé fosse construída na parte mais alta, comidos os

insetos e plantas carnívoras que ali e alhures viviam, até aí, amiga,
foi preciso mais do que dois instantes do Exemplo e sua agonia
para que tudo isso fosse História cujo peso assoma com a cabeça:

tensos os braços e as pernas, nunca sectário o coração todo ele um


arbítrio em vias de cair de borco em águas de malha fina, estações
a exibir o que gostam e o que podem, a granulação do ódio

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vendo rios perderem ou mudarem de forma, colinas e montanhas


serem desmontadas, levadas de lugar a lugar, torradas, novamente
levadas de lugar a lugar, e tudo isso foi História: gomos de hospício,

gomas de mascar como sendo outro artifício do medo, da tensão


pré-menstrual se fez um sem-fim de malabarismos, técnicas novas
abriram os conveses mas não afastaram a crença de que aqui

em se plantando, tudo dá. A calma pondere, evite desparramos,


naufrágios de início de século, transação de fim de feira, evite o eco
morder os poços da ira que é de sua constituição a contraparte.

Então o Paradoxo tomou linhas de câmbio quando a praia ainda era


só testemunho de bêbados e astrônomos ainda sem negros pontos
(astrônomos ficam no alto, desde e antes do calenário maia, desde

antes de acertadas as pedras do xadrez e o trigo fugisse à sina


de pão e se desse a truques ;antes que se perdessem entre dedos
lépidos as carreiras do ábaco, chamou as linhas de crédito para si

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o Paradigma, lanhou vítimas a Prática, abcessos inesperados


cortaram a trajetória do Cio, da História, premissas de solo cru
tressuando folclores e anamneses, arresto de bens e amnésia,

os consórcios restritos e o distrito policial (temerários, abrindo


caminho à chaga mnemônica, passam férias na região), ou seja,
o que se diz na praça serve para instigar nas partes

a necessidade imperiosa de se ir ao quintal alheio, de se manter


erguido o moral de tudo dentro das velhas e novas curvas e retas,
mas não se passaram dez dias e os bárbaros caminharam sobre

galinhas ciscando aviso para que alguém se desse conta


de que certa colina se mexeria, de isto ser bem típico dos anglos,
mas o que fazer se nada é confiável de todo, findas as guerras

e dissolvidos os balanços que a elas levaram ao lhes dar ilusória


sustentação ? Come sua relva o Tempo, admoesta-o sua irmã,
ralha com ele um filho bastardo de um tio renegado, ladri, ladri,

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sois vós que aí estais a evocar disparates políticos vendando


as tetas dos rumores caseiros e coando amanhos no teto vizinho,
melhor estaríeis se prontos para o repto no bolso do viajante

de onde o Desejo trouxe fragmento e mo vendeu por um preço


que só eu não pude deixar de soletrar antes de me dar por perdida:
preço de mãe, disse e repito, preço de fim

de feira e fim de mundo. A terra provê que leves contigo as drupas


e a Negação te redima consenso após outro que o solstício vem aí
e o mar se aproxima, tudo é ou está próximo de caber nalgum lugar.

O que se necessita para que a volição seja conspícua e o silêncio


venha a tona e evolua de tal forma a não ser necessário ofertar
uma vitela no devido tempo uma nesga de sal e pitadas de trigo ?

São grandes o bastante as emoções que nos apartam do real


como estas que aqui e ali sobem escadas e descem rumo ao sabor
conhecido que a alta pressão deixa na pélvis

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e não se fale só do que não interessa como exemplo, lembrar


de que em volta da lagoa outro indivíduo se perdeu por uma
tesoura dada como historicidade enfim patrimônio

a que nem eu nem tu nem outras terão acesso, senão aqueles


ventos contabilizados longe de tudo o que te faz feliz: a roupa
no varal e as formigas no café o coito atazanado

às avessas, los párpados de las chicas, uma ida à feira semanal


onde compraram-te uma tábua de artesanato em língua qualquer
a língua espúria de torcedor abrindo uma lata qualquer

dois ângulos fazendo outra dissidência até caísse do trapézio


a moça do circo e o circo também ele já insensível às massas
ao que a praia dita à moda e ao solstício da via preferencial

das crianças em verdade vos digo: nunca tiveram a si de fato


nem de direito e assim é que pescadores aqui da praia do sossego
já pouco calafetam suas venturas e quase nunca se abrem

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a não ser no taco do bilhar onde reencontram uma distante área


da humanidade chamada estereótipo também sinônimo de quê
senão de alegoria e algazarra enfim arquétipo

e outras indicações de simulação ? Maior é o diabo que está em


quase tudo, e o que se vê nesta praia é o galope perder ângulos
e o fôlego dos jovens ser canal já adverso

a eles mesmos, dia há em que pressupostos se acercam da gente


e então miasmas podem ser sentidos na calçada do vizinho
e de novo se faz a tunda porque o estropício fica sempre de vigia

perto e dentro e no entorno das mulheres, lá onde há vento há sal


e ventania, onde há ventania o diabo se acoita e delega poderes
à tara e tromba e bate a carne e diz e rediz o demo sabe

subir nas pernas dos homens e movê-los e comovê-los ao ponto


de pô-los em frágeis barcos e com eles atravessar mundos e fazer
mundos e destruir mundos a que todo fausto irá irá

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como o fizeram nossos e outros pais e mães. Certo ? Perde-se


por pouco a moça colide com ela mesma quando me quer dar
o de melhor entre a palavra possível e o ramo prudente

sempre sobre alguém abrindo cartas, mas aqui entre obreiros


e executivos de salto finíssimo como as turras de seus corações
monto favas e facas assimilo ao catar nos lábios da bendição

uma folga para o cuspo, porque é de mim o estar descontente


por não arrefecer quando me dizem que devo ir-me à coroação
da nova rês pública esta coisa de antenas coniventes

legado que já foi para dentro do ralo e debaixo de colares dúbios


pelos quais se vive colando poemas nas prateleiras dos mercados
e musicando corridas aos prédios da Justiça mais cabal, melhor

desater-vos do governo e alterar logo esta taquicardia e tentar


que se lembrem de vós os cegos, sim, lembrai-vos de que os cegos
e o amor se coadunam quando trocam peixes-lua e baiacus

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por fontes que lhes poderiam revelar o paradeiro do Mal ou ir


aonde os entediados esperam o trem que os leve de chofre ao
ofício a que se propuseram diante da folha da tarde do cisco

agregado ao salário e a tudo o que se precisa para repô-los


nos eixos, faca contra fio e prumo contra carne, grito contra óvulos
enfim o que os torna em tão pouco tempo inumanos ou

pelo menos irreconhecíveis ao cão da casa. Papa de cão na praça


alguém exibe seus confeitos de padaria soberana e diz que a fome
é coisa de pão só o pão e suas braguilhas podem mitigá-lá quase

tudo resolver, sim, a trilha do pão é tão antiga quanto tu e eu então


pergunto por perguntar a este aqui me ouvindo: O que sabes
do que em mim me apeteces ? do que sobre mim me esclareces ?

Inominável ou não (o termo certo inexiste) a cara do dia tem veneno


diferente para cada instante e dá de ombros ao que o filósofo disse
batendo na trave o faz de contas do arrimo se abate no bar

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o ritmo de sua cocção, destino comum da gente é querer mania


outra que não o próprio cisco, xisto betuminoso à porta, tu cedes
e vós também modelos e estátuas vemo-nos dois em um só

por um dia na vida do silva quem quer saber que besouros untou
a garganta do souza no cotidiano que todos temos assim como
certos dias de sim e não desde o código escrito às margens

do Tibre e do Eufrates, coisa de antes e de agora a gorda e viva


negação em verdade não se sabe o tamanho do rancor de um só
homem ou a massa composta que é um trejeito no lábio de uma só

mulher, não, vós de nada sabeis que me possas a mim e ao tempo


infringir penúrias ou temperar-me com nada mais do que com iscas
finalizadas em destrossos e comas e tais.

They are big enough to build dams ? Brain damage or not.


Suha é o nome numa lateral do barco no mar morto o abrasivo ar
de porto cerrado como nos olhos das indianas o grude e a pimenta:

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vê: o que se busca nestas funduras de bois e vacas mijando


enquanto Shiva cata risos e pernilongos nas costas e pernas
de Vishnu, lânguidos sob efeitos monumentais

que o viajor logo festejará mais de uma e de duas mil vezes


noites entre cetins-palavras e palavras-diamantes, sim, penso
que a razão plena lhes fugiu pois só assim se é glande

capaz de fecundar o mundo e enervar as obturações dos deuses


ao fazer crescer no tumor dos imperadores a festança de suas
repetidas ereções e eructações, mas vamos por partes como antes

por partes: ábaco para quê: para que nos inimizasse logo logo
diante da primeira tenda rasgada pela primeira tosse do sol e pela
língua pouco esmerada numa curva qualquer de algum sabor

próprio de humanos e animais e insetos ? Que filho é este


o que me assombra e assalta mal vistos os nódulos da madeira
de lei e as leis dependuradas junto às suratas e versículos ?

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Que filha é esta que me acostuma ao rancor e a paradigmas nunca


antes aqui ventilados entre doses mal aquinhoadas e nacos tão
pouco suculentos da vontade alheia

misturando lembranças de como foi a conquista e de como se herda


o que não se tem ? Mil coleios de colibri e mil penas violetas ou mil
noites convalescidas longe de gurus e xamãs, o nióbio acata

o neon latindo em letras indicando uma rinha de galos ou sinuca


de bico de coisa noturna tais noivos de média e café com conhaque
as contas místicas o desodorante vai a extremos

e o apátrida pensa saber disso e de outras lutas contra a fé


de todo o mundo, mas sua merenda tem número certo na estante,
sua síndrome já foi detectada e ruma agora para onde deve

nossa primavera tem degraus para os principiantes e o verão se faz


de sobra a quem não seja logo marcado para morder salsugem:
não só as coisas, também a esposa grita, não só as coisas

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não só as esposas, as coisas latem, não só os esposos também


as coisas ladram sem se absterem de seguir o protocolo viciado
ar de encontros com esposas sibilinas e esposos criativos

em sua afeição pelo moderno cada vez mais útil embora passa-
geiro em suas conformidades atualizadas dia após dia
o amarelo assume encargos e o vermelho e o ocre cindem formas

ao verde lhe resta sentar-se à mesa e comer o tom de última


hora na ceia dos presos que não se falam senão para rir do osso
dos trôpegos dentes teus olhos que já os sei tão escassos

quanto as luvas, vem, junta-te a mim que sou arquivo igual a ti


embora diferente de ti por temporário ao largo da lei a lei
faz coisa espúria com abelhas e formigas em todos os ditongos

malvários tipos novos, de tudo se faz canção e a caução se dá


no imo da manhã, fartos ambos e todos faltos consigo mesmos
ameaçam ceder ao apetite e não deporem as armas assinaladas.

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O medo veio com a fé (andara pouco até então) e eu o soube


e disjuntei de mim para juntar-me a seus faros e cascos ou cacos
fí-los andar de indiana fila antes de pô-los para secar

nas noites urbanas (única fisionomia em breve) dias cáusticos


como uma jarra sem assunto ou uma bandeja sem prerrogativas
o medo veio com a fé e viveu assim até ser posto num trem

e juntar-se às secções do olvido cheio de flutusituações cada vez


mais apertadas e canhestras quanto mais o esboço de uma vida
melhor foge da ficção final com que me safei

de seus chamados; assim é que sei o quanto de sombra vos aflige


e do medo de se perderem da algibeira da fé os filhos de deus
embora nem tanto as filhas tuas e as minhas, sim

o medo tem lá suas arritmias e isto fica claro quando se viaja


para qualquer lado da História: um assombro é o mque há em cada
uma das noções básicas de cada sociedade, um assombro

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pisando na moela do outro, alguém gritando a outro blasfêmias


de tenda em tenda o dominó e o fumo agregam desafetos e unem
dedos picotados pela usura de quererem só para si a mulher

do pródigo e a filha do ruminante além da irmã ou irmão de um


qualquer em que se lhe possa pôr a sombra, não só de peçonhas
e mãos vive o deserto na alma das gentes o pior é ficar sem crime

porque o crime contenta e amaina e procede o afeiçoar-nos a ele


de tal forma que já não dormimos se não lhe chupamos algum dedo
e não lhe absorvemos algum o calo ou não lhe aplicamos

a ferro quente o desejado sob lentes, se não lhe damos com um fio
de baba na pétala rubra incendiando a erva com nosso suor
e ainda se não lhe trazemos a grota mais sensível

do mar, se não sabemos onde melhor assumir os calcanhares


do desejo tal como existe: de par conosco desde antes de sermos
filhos dele, pois algo anterior às memórias de incesto é o crime.

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De sombras é do que se se quer livrar, mas desde que o giro


aponta o nariz para as coisas a gente é cauda de alguma delas
e sombra: micruro ou macruro a gente se estica à procura

de que distância ? corrida de que canteiros, aningapara ?

Gente é de tudo capaz, disse, e se meteu de borco após dar voz


de prisão ao amor ergueu-se e de lá não quer de meio-termo
saber nem de apôr excelência alguma ao já feito

senão no que virá, e assim dez ângulos se passaram entre todos


e ninguém se serviu deles para atiçar uma construção
na sequidão de ruas assaltadas por membros de todas as espécies

e sub-espécies. Pergunta-se por ombro alheio, mas com que tipo


de homens e mulheres fazer o necessário ? que tumbas abrir
e que asa primeiro pintar para exemplo, se o que se tem é astúcia

corporativa e mímese para autorizados, plásticas do tédio ?

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Cada dia pressupõe entorno diferente, embora o mesmo, mas


o que nos ameaça além dos atores e a síndrome púrpura
num convite ofendendo-nos por migas

enquanto se percebe a fratura atuando sobre questões gerais


maiores do que o preço da manteiga e a temperatura
na escandinávia ? Assim se passam lustros e décadas

sem que se abram de vez tetos e gavetas do museu de tudo


sem que as pessoas falem menos por si enquanto realinhem o foco
(luego lo intentas, pero te cuesta creerlo)

pois um entorno diferente é de se pressupor a cada dia, e a hora


dos ruminantes não acede em comer junto às aves que desertam
caso lhes seja imposta saída clássica de se esconder

as partes insolúveis e as volúveis num simples copo


com água ou num entorno diferente do original mostrado
à distância (lá fora os homens estão, todos se acham mortais)

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O que nos ameaça, senão o amor extremo, iminente,


atormentado ?
O que nos pega pelas traseiras e nos esfalfa sem nos conquistar ?

Modela mais o ator o ato ou o traço contrário que lhe negue


pouso ?
A que remos e ramos e rotas dar-se, se os de Pompéia já voltam ?

Prêmios para assuntos complexos: o convexo, o suposto, o lídimo ?


Em que vara se posta a cúpula para jogar pesado no eco díspare ?

Atira-se o cão no gato, e o que fica, senão girassóis plenos de puro


espanto, a garganta sendo já síndrome do falível, reboco tão acre ?

Absinto de filho para pai, assunto geral. Assenta-te, se és só uma


idéia pela qual tantos teceram poemas e infestaram camas. És ?

Remember what you’ve seen – and when ! How can be people so


dumb ? Let right be done, but they are big enough ? Come together.

Com o veneno todo de um pequeno dia reverberando, o que fazer ?


39

30.
Pensas um dia qualquer sobre o fato de que um dia, após tantas
repetições, um simples substantivo - no caso sinônimo de povo:
samba - se imponha de tal forma a ser o rosto primordial

senão a face mais em conta de uma nação: Noção Rítimca, e aí


algo parecido à sociologia te sacode e tu te voltas para os bacos
e barcos ainda ancorados, lívidos de espanto (que o espanto

muitas vezes é o supremo gozo, é mais que mito, mania, o acre


descer e subir escadas atrás de garrafas de pinga e cabaças com
castanhas, natureza selvagem é o porão do homem,

selvagem o ombro ainda é, e o sabemos quando o pomos a secar


junto às partes nobres dos prisioneiros/as e misturá-lo a histórias
e estórias de gozos e degradações), sim, é o que amiúde

se pensa por aí: o homem deve ao homem lembrar que os cegos


e o amor se coadunam, condizem com a manhã irrestrita traçada
por artimanhas sem fim, não, tu não te esgotas por seres finito.
40

31.
Elas sonham alto. Eles dormem pouco, mal, parcos de muito.
Vê-los é contentar-me à espera, não ao clima dos depostos ontem
e trasanteontem, quando à porta bateram tombos de gente

má e tambores de gente boa advertindo que o fim do mundo veste


capa azul; ilustra-te então para o Livro, oporto, parcéis e pedras
preciosas ficarão para trás porque têm outros a iludir, não

o mundo é uma tara só movendo cadinhos, remoendo estilos e


pondo-os a serviço de sua majestade: ele mesmo, o mundo é exato
em suas aparências, e não basta com ele estar de bem

ou de mal, é preciso pensar o certo: o mundo não existe talqual


nos fizeram ver as sensações primitivas ainda conosco sacando
preferenciais ao portador em botões matemágicos.

Eles sonham calados. Elas dormem pouco, mal, parcas de muito.


Vamos e venhamos: que pai e mãe não convidam filhos e fllhas a
extremos, não os incita com os cinco ramos da cólera
41

32.
em cada mão ? não os instiga a serem botânicos de novas safras ?
biólogos de nova cepa, não logros iguais ou maiores do que os
seus, ali e aqui e acolá sempre à vista, embutidos muitas vezes

até que um sopro de fatalidade, uma curiosidade qualquer ponha


de fora as agendas de eva, a nulípara, e o arbítrio de adão, o sócio
minoritário ? Acostumei-me ao idioma da ira. Não posso menos,

afeita à língua de tal extensão. E o que chama a atenção do detento


a não ser a árvore, o prego, a salsa num prato fictício com rum,
a descarada menção honrosa de uma sua mulher ?

Esteja todo judeu e toda judia prontos para a montanha (tu te


lembras, Sifoia, de Cacela ?), disseram antes que eu me desse por
mim, finalizada nalguma reentrância do deserto, nas águas

de uma fatia tão larga quanto o giro do pescoço da coruja, ímpia e


arredia, cruel como uma espera dentro da qual se conceitue o pavor
como têmpera para os animais e as armas que deles virão.
42

33.
De materiais nos falam, mas ajuntam e carreiam tudo para onde,
se nunca mais se ouve dizer que a perna encontrada é certamente
de fulana, que o umbigo da garoa revelou o bispo tal

e em tais e tais trajes o ator saiu de baixo do poeta e angariou


a destreza dos insetos e das serpes ao injetarem só o necessário
para que o resumo de uma vida lhes desça pela goela ?

beco de lama, tráfego aéreo congestionado, a fila indiana indo ao


caos e saindo para mais, vertendo minérios a cidade os come, bebe
sua sina de monumento aos soldados a si mesmos a praça, rústicos

embora e fadados a serem espoletas mádidas e bocas sem prumo


outro que não as abjeções do cais e a lixeira à entrada do púlpito,
nozes para convalescentes (foste a algum hospital em visita a um

estranho qualquer: comedores de batatas, homem sem cachimbo


uivando para a lua, uma ginófoba doutorada em blagues sobre o
lesbianismo, não as suas próprias fissuras, êmeses e hemoptises ?)
43

33.
Acostumada ao idioma da ira, não posso por menos deixar-te ir.
Afeita aà ira da língua, posso arrecadar distúrbios entre o teu meio
dia e a tua noite a meio, mas para dá-los a quem ? para que

servem, caso eu ache patos de tal envergadura ? Nução sobre


nução, acata o vento e dobra nele o que não sabes nem podes
ainda saber, e o que te encanta fique de lado

enquanto preparas a aposentadoria, enquanto escorre pela página


asseada teus humores e outros, fora de foco alguém sempre está,
e então cuidado: a placa não fala tudo, a cortesia não mostra

tudo, e assim é que te prepares quando entrares no oco da gaita,


quando o bolso da tara soprar de leve na praia junto aos abricós,
no asfalto sob as praias penduradas nalguma vértebra dos prédios,

bocas fundidas com o que há de sempre: o prazer é a cabeça, irmã,


o prazer dilui moedas podres e se evade sem vestígios, cala mares
e desertos, o prazer está acima da busca por tempo fundido
44

34.
em rimas, o prazer é metuendo, cioso de si, investe em nós, nós.

Sábado me vi cantando na chuva coisa corriqueira: quem não


contou na chuva suas moedinhas de ir-se a algum deserto e pular
de uma penedia ? moedas às três da manhã, deliquescentes e

úmidas de chuva e pobreza, túrgidas, regurgitadas pelo tom social


quase profético das ruas quase parando é que a gente se ouve
quando vai por vias tais de preto piso e amarela física, o tom lilás

do cheiro, sim, a lavanderia nunca fecha, a padaria é um zelo maior


do que a loucura: não fecha, a boca do mal está aqui comigo e vai
a extremos e sai deles como se policínica fosse

dona de rinhas ou de haras sem substantivos (cavalos) capazes


de levantar as massas e tirar-lhes, num vu, o sustento, sim, que a
vida é tara de touros derrear na arena, peões marcando-se aos oito

segundos. Tenhas tu nomes e atitudes que o prazer te dê de doer.


45

35.

A intimidade joga
entre nós seu peso,
e algo no ar o apara.
Condensado assim

de chofre, cai, grita


pouco, ou nada,
entre nós fique o peso O ENTORNO
do que nos reste,

um tanto que se filie


ao que nos detona,
pura e simples, ata
a manhã: o que for

de melhor sustança,
de melhor sal, face
no chão ou cara álacre
como o fumo na mão
46

36.

Desde as dobras mínimas


da folha o vazio coopta
o assunto: volta e meia
atende a fissuras novas

desencadeadas de não
se sabe onde, não se fixam
a meandros, de falácias O VAZIO
não só exigindo a hora:

mas de que hora se quer


sinônimo, não um parco
adjetivo rolando como se
com areia na moela

a criatura vista de lado,


mínimo castigo no entanto
bastando-lhe para o dorso
de folha dobrar-se e secar
47

37.

A este azul provinciano


não se pergunte nada:
de onde salta a garganta,
a quem serve azeite

no prato quase perfeito


a cantora, cosendo em si
um sol para mais tarde, A MARCA
língua de corpo e alma

total; não se pergunte


a esta exceção azul-martelo
o que faz entre os sapatos
aqui e ali estendidos

como se chegados para


ficar: apontados à maneira
crua de entrar, limpos
os olhos no céu da boca
48

38.
De atalho em atalho rainhas e reis entram para cobertura, arados,
olho de fato na arrumação idônea acelerando o pulso,
conferindo
o prumo à razão mínima de existir entre os de Amarna, de onde

saltam e se sustentam, de onde outros se evadem sobre os restos


da noite com sua mente apertada pelo círculo maldito, roa-se então
o que intentes, da febre pelo livre execício de inquietação

flua ainda um poco de ti e dos teus agora comigo que me tornei


uma só, dependendo da hora, da horda, de que inseto tocar a mão,
de que assombro coar o instinto ou deixá-lo à mercê

de novas coberturas, plicas do pódice, pligas, pois de madrugada


os materiais estalam como um convés a que um justiçado volta,
estalam na sala convivas cotidianos, e se os ouve, e no teu coração

minúcias de ontem marcam encontro no amanhã para se instruírem


com o vago e o séssil, a lupa de uma canção escapada a brâmanes
e mártires, não ao matricida que se instruiu com a culpa de ser
49

39.
pulpa de dobles labios, fiebre / fermenta el reposo: ” si fuera...
e com a apreensão de algo mais vasto e genuíno do que a nução
pura e simples de um sobre o outro, anunciantes de verbos

da hemorragia. Algo existe, luego lo intentas, pero te cuesta ya


creerlo u olvidar, algo a que o agiota não opôs argumentos existe,
o futuro não lhe abriu sequer meia vontade, meio rumo o intentas

porque não sai de ti pensar no que o esposo fermenta ao ceder


a si mesmo umas pastilhas contra o enjôo, dar a outros um tempo
diferente do contumaz, tu és fiel, estás quase pronto como esposo

e a esposa sabe aonde irá após pinçar da casa os ladrilhos e a cal


velha canseira de cama e mesa, mesclas inteiras à porta esperando
conclusa a assepsia, a esposa medra para dentro de si

aprendeu a cremar, a passar a limpo e a sujigar taurinos, ébrios


e fanhos, ater-se ao que mina das paredes e executar em tempo
hábil nas pernas do rumor o que a ele anteceda. Raro fato ?
50

*: Reynaldo Jiménez, La cerva del eco, poema Giróvago

40.
Foi preciso ser maior que o desespero de esperar em vão, cegos
os martinhos-pescadores do coração, manetas as percepções
preparadas para a reunião, até subir a maré e se ouvir o crescendo:

e porque não dissemos nada, já não podemos fazer nada, nada o


que pensar. Die Gedanken sind frei, os pensamentos são livres
para se pôr neles o vezo particular a cada denodo, cada geografia

mais íntima, desertores há-os e os sabemos capazes de que lividez,


com que breus untam o coração já amaro e dele extraem a seiva
intacta, veneno ou não, instrua-te para o começo

e para o retorno, para o dono dos azulejos intua que versão dar
da casa que te cumprirá, exata, fixa, começa já com o informe e
aleita o esboço sem deixar que nada seja mais sutil que a véspera

e que a força da precisão aja sem nó no caravançará e se estenda


mais além do depósito do partido da situação, vá e venha vestida
de sépia, sem saber exatamente como chegou à súplice, tara
51

*: Eduardo da Costa, com Maiakovski


41.
comum a uns, l’uomo qualunque, a liberdade continua na ânsia
e vaza de lá para longe de onde a palavra seja o princípio, corre
a porta japonesa a garota que em suportes mínimos pôs de fato

os olhos no mundo e arrasta para fora de si o movimento e motiva


o futuro ancestral lá de fora do pátio e da vista a ir-se a algo
a que a própria sutileza não tenha acesso. Assim a garoa se vai.

De outro lugar veio a Síndrome de Amarna, e quem relata seu teor


não vive dentro do seu futuro prometido em páginas pessoais
falsas, mas embora destituída de linguagem conhecida ou senhas

a Síndrome de Amarna se esmera em querer-te a confiança para


e além do fim do pólen, este mesmo que se gruda de tal modo a ti
como o fez com os ancestrais que ainda hoje se pode estudá-los

e dizer: Isto nos serve, se caldeado, isto nos desserve, e como tal
se proceda, porque o amor é cheio de truques, e esta visita se faz
misteriosa demais para os nossos cálculos, não untada de sestros.
52

42.
O crescente vermelho arrepia caminho à canção que chama
para com ela bancar o avanço senão atravessar de vez a partícula
e recolher de outros fachos um prato de ecos possível quanto

uma espera: pode valer algo, outra espera pode ser razão de vida
em comum: latem tanto para a névoa quanto ao exame de fundo
de olho e para morte no fundo de todas as atracações. Gastura.

Da sístole e da diástole interativa quem pode dizer de fato sabê-las


e coarctar-lhes a cicatriz de cada dia, se em cada duna todo valor
antigo já não é mais levado em conta, nada lhe suporta a cauda ?

E deus e o povo viram que era bom, e o povo sentiu o que significa
fazer-se pela vida a correr atrás de cardumes, de míseros peixes e
restos de peixadas, seixos, sexo árido ao peso da vida pagã, folia.

A moldura e a tela se estranham, uma na outra não põe rumo, não


se aturam no mesmo ambiente a tela e a moldura decididamente
não vieram das mesmas mãos, não comeram o mesmo grão, não.
53

43.
Aum é só um oriente das coisas, o dia se mete nas escamas
do barco e faz o incidental, um homem acende na boca de outro
uma mulher, visco ou víspora, cobra da mágoa uma faca furtiva,

outro homem acende na pele de outro uma mulher, bisca, víbora


ou obra de arte furtiva, mulher que nada a que sobe nos ombros
do rei, do peão, da torre e do bispo e até do cavalo,

uma mulher legítima diz muito mais do que mulheres que se fazem
necessárias ao mais do mercado, ao menos de suas invectivas
cada vez o assombro se asenhora da gente, e eis o que sobra:

gente terça, gente mínima aplicando regras, encastoada em praias


do nunca, dentição falsa, falsos meneios em que às mãos nada se
consente senão a limpeza fortuita do macabro, ah, continuemos

um homem cata em outro matéria com que se rir, ofuscados pelo


vento de areia fina, vertem ali mesmo na boca do mundo seus azuis
de comerciantes de ecos, nós, o peixe lhes fala de vertigem
54

44.
e os homens se safam de tudo o que não lhes apimenta os passos,
de tudo fazem uma regalia para o riso e o tombo na bisrosca, lá
longe um ruído que o sabem maléfico e benéfico já vem

por cima das casas aceleradas pelo afinco do amar que vige neles
com sobras de peixe, sobe em tudo o mar: canário a que se dá logo
atenção quando pia quando canta quando grita, o mar lhes é mais

que notícia vinda, por exemplo, de Andara ou da Breve Hegemonia,


vinda de Deserto Íntimo e da Olorosa Presença do Liame, notícias
dá-lhes o mármore, melhor, a madeira devassa do suor, vive neles

a doma intrínseca ao que se pesca e ao que se perde, mais isto,


o mundo não lhes parece correr de través. Como pode o cão
meter no próprio dono dúvidas de lealdade, e o mar florir longe

de lá e daqui de onde os esposos se fermentam para melhor


cumprí-lo seu moto, sua moto-vertigem ? e o mármore não con-
descender com o Grande Arbítrio (seu outro nome) ?
55

45.
Comigo mesma me descanso, abro a canela por onde a canalha
me lê o vaivém indecifrado pela lei mais seminal e pela infração
mais descabida entre tais achacadores de papéis há um elo

ao qual o sol -aqui sim - nunca se dá por completo, nunca se põe


de quatro para que nações inteiras o ponham de molho, sub-júdice
a álcoóis e corãos e comas e tais. Tríada de moluscos, a úlcera

come na praia a voçoroca entende o que quer é comer a brisa e


o mar da moça comer as curvas ríspidas do moço e a língua bífida
de quem passou com a banda, larga maneira de se dizerem unos.

A gente se advirta tentando algo mais táctil do que a história


e menos frágil do que a memória, dúcteis senões já e sempre fora
de questão estejam longe de afligir os já aflitos

por úlceras tantas quantas as evoluções rumo a que se enforque


os cristos, que se entorne deste total a alíquota com que possam
crentes e incréus vedar o grande olho por trás da psicotrama.
56

46.
Teu nome é meu incerto barbitúrico na porta bailando, célere
argumento querendo entrar, lépida contramão querendo sair, tu és
fiel a quê: ao que me redima um dia, ao que te exprima o dia ?

Teu nome é meu roubo, minha rota passa por ti, por dentro de ti é
que me saio mal, também me dou bem contigo (como não ?), vaso
conservado junto aos detidos ou vasca encontrada no incêndio

a que não se pôs senão um breve dilúvio distribuído andar por


andar, quota por quota perfazendo o momento solene do qual uma
história sairá a campo sem perceber disparidades.

No caminho da raiz, janela desmedida. Erva santa, água e olho.

A cheia convulsiona a todos e estiola a praça onde expandem


atritos até fincarem na ponta da noção outros entreveros que só
o cotidiano com sua escrita bem queimada pode mostrar
57

47.
com suas armas sempre elas e os senões assimilados por senhas
já mesmo elas com valor apenas fictício como fictícia é a noção do
boi a respeito do grande orifício

no céu, não da glande que o converte em feitor de lacre, estigma


sob as curvas da bolsa de valores rogando faça-me a luz e que
eu me meta em lençóis limpos com o que tive por bem guardar.

Velhos gostam de doces. Dê-os antes dos exames. Grama.


Velhos gostam de exames. Fê-los. O resultado de doces. Amanho.
Velhas pateiam, revolvem chamas, fogueiras saltadas. Todo enleio.
Velhas ateiam fogo à memória. Traço longo a estirpe. Toda poesia.
Todos em tudo insertos, incertos, infensos aos intentos da Dor.

Na janela da atriz, caminho desmedido. Terra solta, égua e molho.

Põe a mão na ardência e estropia o acervo de que faz tanto caso


de até se dar com o medo na cara do avaliador e a mesa crescer
aos olhos de quem entre para beber ou comer, tudo age
58

48.
e não serão atores suficientes para o próximo ato as paletas nem
os ferrões de número novo sob sacada velha, os atritos de pés e
mãos esmerados em que tudo saia de si, morda o invisível

e que desde então o inacreditável seja motivo de riso. O entanto


existe, o entorno prega peças, mas, a estes atores e atrizes, nada
os comove mais do que soar falso o que falso é, ou seja, a própria

clemência do seu fazer: um esboço, um títere, dois ou três passos


cíclopes, o recuo da boca para que a expressão seja realmente
ouvida, o avanço do braço lá-além do que o costume permite a um

morto no palco, a uma interação malvista por cleros e incestos, nós,

elo algum continuando sob tutela do que se perdeu ou se ganhou


enquanto a cunha roía o trato e o passo aniquilava o traço. Vai
ao ofício do amor o amante, venho dele que de mim se esquece
59

49.
se me dou de costas ao cantar de amor com suas tretas de prédio
em ruínas, suas falas sem algas, sem líquen suas moedas, aro
incerto o diâmetro de seu mando, seu triângulo nunca entorpecido

sobre indecisos e incautos. Pulpa de dobles labios, fiebre.


Caroço de fruta, arteira, a atriz na minha casa fuça o muro usado
e não se dá por vendida ao amarrar-se ao que vê e não vê no teto

ao partir deste mundo para o do supremo gozo, serva de ecos coti-


dianos, resvala da borda para o fundo, de lá para onde ninguém a
possa contentar nem mesmo com um chocalho, um mar de fúcsias.

A mim se une o pretenso, de mim se faz mais tentado, e vem com


típico enleio de quem se quer uno, vem por etapas a que logo retira
todo o poder de se reciclar, de trazer à tona desmemoriadas atrizes.
60

50.
Braço ou olho: de que fazer-se conta entre tanta prova amorosa
amortecendo os dias, bebendo sem parar nas curvas do porto
a que a cidade dá nota má ? Olho ou braço: de que se fazer

feitora e animadora de causas muito diferentes (ou as mesmas ?)


da dessas mulheres em corrente religiosa, se a minha também
tem sua maneira de assoar o nariz à fé, de correr e recorrer

ao inferno ? Tronco e membros, ameaças tomam conta de mim


que me dou de cepa nova cada vez que a vida típíca ameaça
pôr-me aparelho de som, vagina púrpura, língua de solstício qual ?

Não te sobraça todo o nível atual ? De que entorno te queixas, ala ?


Pelo que te pega pela base, o quanto devo eu saciar-me de vés-
pera, enquanto gravas as cores para meu assombro e tormento ?

Divisíveis os planos, nada porém de maktub, seguem, mutantes,


e de sua mão subirá o gozo, e de seus pés o alvitre conhecerá eco
violento, pronta estará, como nunca, para tais, a bocarra infernal
61

51.
Onde o abismo come alturas, como gente, disco, falo, desenrolo
a língua e na escada abro a propensão que me levará (perdoa-me
não) além-lá do que o que a tua agiotagem não me faz nem fez

de rogada, não, não vamos mais por partes, que a sede perdeu
mesmo o juízo e assim me dá ganas, me implode e me explode
no ritmo exato à não-volta. Não e não: o tédio não tem encantos,

não mais me enchem as mãos estas areias-canárias, estes restos


de sol farejados pelo mármore em lascas vendido, em lascas estás
tu que já me ouves na crista da onda: linda, pronta para outro

abate. O tédio não tem recursos. O tédio és tu encerrado em horta,


posto a pique pelo primeiro jejum, martirizado pelo que em mim
são seios duros de onde o riso escoa pelos mamilos alvoroçados,

dignos da imensa algazarra. A vida não se ulcera, por ti, por nadie.
A vida não ultrapassa o bom senso de viver distante de ti, de nadie.
Onde o abismo rói tonturas, construo o que não foi possível em ti.
62

52.
Órbitas a que se vai, a que se chega ou não. Nem punhos de cera
nem fio de lama na tez, veio para cá o síndico servir peixe postiço
ao calendário e garantir que amanhã te irás de Amarna

restrito ao que bordeia o rio, ouvindo que as explicações são formas


destrutivas também para a poesia, que não houve e não há e não
haverá ninguém capaz de escrever sem autobiografia, capaz

sim, de viver sem ela. Cabisbaixo, ludo à mão, persistiria cantando,


caso lhe pusesse o mundo em suas mãos a colheita do insano ?
I feel like a fish with no water, like a rabbit with no word.

Quando chega até você, o livro já mentiu mais do que quando ainda
te suportavas feil a ti mesmo: caindo a ereção, cai a canção,
e a tua infância universal já não é (se foi) paradigma para ninguém

mesmo que encharcado o casaco e a a unha lhe seja breve ida aos
tendões do amigo, da amiga se faça um molde para preencher ecos
daquele pigarro sobre a louça e ameaças de deitar fora o presente.
63

53.
Se não em boca alheia, o segredo não vingará se não se disser
que irá às penúltimas consequências de dar a César o que é
das cesarianas, partes do primeiro estouro ainda nos divide, claro

ou escuro, é nosso o devir, e o temor nos assalta sempre que se


volta a amores a que se dera, ou não. Poeira para viagem, agudo
é o rosto da Síndrome de Amara, o amor aos barcos

deita foz pelos dentes porque vem de algo o tormento, vem, e não
só em boca alheia o segredo vingará murmúrios desenhados
nas almofadas entre tombos e apuros, atalhos e esporros, amuos

mengas de longa esteira sobre este viver sem calma até mesmo
enquanto, alcoólicas em punho, dormem; e até que algum torpor
de se aposse da gente, para que mentir, se à casa se volta

com mais paredes, menos acessos para se fruir ? Hora de falar


é gala, e o que se disse do pigarro matutino vige nestas paredes,
junto aos pastéis e ao café, esteio. El lugar de la ira, de la derrota.
64

54.
El lugar de la derrota y el lugar de la ira. O que se vê nas curvas
mais recentes ? Gala é o que se espera no goto, mas a gente vai
e fica abrindo em leque a vida e assimilando fases e modos

de aprender a falar e garantir que irá com garra aos horizontes


cantar lios, e então se entende que aquém da forma primordial
o amor também sobrevive, não se contenta com o espaço da ira

muito menos com o tempo da derrota, e todas as partes da vida


estão lá amarradas ao que o coração realmente queria e ia atrás.
Alcoólicas anônimas resultam em cantar-se de amizade ao furor

adocicado de soluços e verbetes desconhecidos com os quais se


entremeiam e quaram suas antipatias mútuas, ângulos diversos
visitando e fazendo com que rendam mais que o imponderável.

Oblíqua ou não a vida, ela é o que se tem, e o que nos seja tara
formidanda de formiga e abelha, seja também ecos de alcoólicas
e anônimas belezas num lugar de ira e derrota. O quê há, curvas ?
65

55.
Insistes em que no lugar da ira a derrota é preferível, mas como
pode uma sem a outra ? como se entra no inferno sem que o fogo
esteja de boca escancarada, seus nepentes em alta como nunca ?

como não saber que a crueldade é um bem, ou que assim não


pensa o vizinho, a vítima distante ? como saber o quanto marca
um ludíbrio qualquer com que se desconcerta um irmão, uma irmã

perdidos entre as coisas, a isto e àquilo prestando-se ou não ?


Tu mereces o que não possuis, encarando ou não o que para tantos
é mera confluência de desejos com a loucura de não realizá-los.

Onde estão os rapazes e as moças sussurrando encostados no raio


de ação do fogo sua lavra de granito ? a que altura sua pirotecnia
ferverá o dia lá embaixo todo ele já de cócoras, moedas ao sol ?

Atender então aos homens e mulheres parece continuar em moda


tal flutusituação, barcos gritam seus rumos, o sobe e desce é pura
irrisão diante do que pretendem mulheres e homens entre estações
66

56.
de tempo ruim ou não, e se abrem ao mundo feito cravos e nabos,
girassóis cortados rente à imaginação, sim, onde estão os rapazes
prometidos e as moças em cuja boca o mundo espera

moer trigo e enriquecer não o urânio mas a perspectiva de algum


metal ainda não recolhido de sonho algum ? Bad und desinfektion.
Tempo ainda de erguer-se e trocar de mapa ao coar as pálpebras

diante dos muitos dias entre si e o oceano, a terra cominada, casas


geminadas rilhando sua história, estórias de pias e pios, madeiras
corroídas: não, não seja disso o dia de hoje, não se queime assim

um vão sequer do que conheço e desconheço, pensa alguém, farei


tramitar sob novas essências a razão, perguntando-me por quê não
se fazer o que nunca foi prometido, nunca tenha sido objeto político

ou lavra em que se assente a dor de um consentimento tardio em


detrimento de esperas, mesmo se inúteis, e de arrazoados estéreis
como o da tez da santa implorando sexo, crime, loucura, amor.
67

57.
Todos os palhaços do mundo, menos um, atestaram-se ao levar
consigo ao picadeiro o que mais temiam ou por levarem consigo
quem mais queriam rever sob luzes (enquanto isso em Amarna

vigorosos incêndios foram declarados criminosos, e a lei não se fez


esperar entre cinzas a lei é esperta e deve sê-lo para que ninguém
lhe saiba os flancos nem se amolde a seus tiques nervosos)

todos os palhaços do mundo, menos um, renunciaram ao cargo


de que tanto se fala, e tu és o que também sou, e juntos façamos
valer o tutano ao coibir entrada a pequenos comerciantes de óvulos.

Fiquei então naturalmente curiosa e encantada quando disseram


que nada ali se transforma em problema e em nada se distinguem
a cal de uma parceria e o endereço de um vilipêndio de um painel

advertindo acerca da compreensão de que se deve mais escutar


o indesejado e dividir com o possuidor a possuída ou reter noção
alguma à beira do cio na sala de cirurgia onde perderás a língua
68

58.
senão a consciência, e até amanhecer de novo a madrugada fá-lo
renunciar ao labirinto onde esperavas colher algum espelho talvez
mas não o anúncio do tamanho exato da desolação peniana

e assim desolados nos damos entre os ramos obliterados pela falta


de luz mas desta área não saberemos mais se não ficarmos todos
um de olho no outro sempre lerdos e molestos na partilha

sempre gordos na orelha esquerda pondo risco diferente daquele


a que o rumor direito concede aos parvos, e assim de anuência em
anuência forjar o dobro senão o triplo do que se pretende

para o almoço para o jantar espera-se que a mesa suporte o bafejo


das novas e que o princípio da legalidade não se faça esperar mais
do que o necessário silêncio (foi a Istambul roer mossas e fastios

mas em Amarna as condenações encontram certo rumo distinto de


tudo o visto até aqui até sempre em nada se toca em Amarna sem
que a primeira alusão esteja por terra)
69

59.
Rara seria cada instância da vida sobre as outras todas únicas
diante do inevitável mesmo se desentrelaçadas nada tivessem
a fazer até porque a infância engana e é enganada

dando asas à imaginação adulta e se mais não fosse o medir-se


por si mesma sobre o imponderável também não se deixa por saldo
algum amar o desperdício que todo vício acarreta

e o amor (vil sentimento de perdas e danos) insiste em relevar


mas nos intervalos de uma colheita não só se ouve dizer que a dor
dos outros também é a nossa como também que a vida pode

se abrir para todos os da tua e da minha infãncia e isto me lembra


de peixes entrando em casa pela porta da frente sim das mãos de
irmãs e irmãos querendo andar e andar coisas

do mundo, minha nega, esta e outras umas e todas as observações


de que o couro adusto foi a tua cama de mouro, talvez ainda o seja
mas não vem ao caso abastecer-te de gozos fingidos
70

60.
nem de dores exatas mas a respeito de cama diga-nos por mil
e quantas noites dormir nela sabendo que a infância é frequência
de dúvidas e dívidas, o cognitivo mais em perigo ?

Que o nariz adunco se afirme entre os seus e os não-assimilados


pela corrente e que se saiba onduladas as passagens e falsamente
intacta a cor na boca do convite e seus sinônimos

trazendo nos braços antônimos de florálias e afins, mas me lembro


de que eu não tinha anos nem identidade alguma capaz de atar-se
ao que em mim ou de mim fluísse

ou não: carrapetas e pragas, nada com que a epistemologia ou a


sociologia pudessem (e ainda não podem) compreender e sujigar
e muito menos equiparar seus ângulos a um entrave

ou a uma ilação já em vias de assumir cargas e desgraças, mas


já quase como as grutas em nosso imaginário a garagem entra
na gente com sua memória de zelos incontáveis
71

61.
varando esquinas na gola da blusa sim a garagem é um mundo
à parte de onde se sai para reinvidicar ao rio o amor a olho cru
ou algo do ciclo da banana no ciclo da bicicleta enfim alguma coisa

respinga na gente para sempre como o estorvo da vizinhança toda


ela em baraços e pregões de graus os mais diversos, mas baraço
e pregão, pregações legítimas e ilegítimas enchendo cofres

implodindo feito árias em sol menor porventura mal tocadas ou só


não tocadas nos becos e labirintos onde nem mesmo tamanduás
e cães se fixavam em seu espelho - só gente

espigada como espantalhos à porta da loucura ou já na mesa da


bodega onde ao diabo se serve sempre o melhor talvez melhor seja
dizer na realidade quem é o atendente, faustos há-os em profusão

diluindo rancores no meio da noite de outra senda enchendo-se


a boca mas nas fotos não se vê como agem os fantasmas uma vez
amarrados à glande da cidade e aos mínimos e grandes lábios
72

61.
do vício da dor da desolação, uma vez no meio de tal profusão
a gente se vê sob ofertas nos passeios das ruas com tudo
confluindo para ti e os teus todas as ruas dilatando-te as narinas

tirando-te o sono uma vez e sempre à mercê do assombro até não


mais se fazer caso de nada, vacinados e estereotipados por conta
não do azul metafísico da necropsia

mas do azul (embora hoje letárgico) dos arquétipos, de morte


alguma dando notícia se decisões são numerais se apenas nisto
se transforma um homem, queira-o ou não sua chã analogia

com o criador esquivo bicho, tua cabeça se esboroa pensando


em como as coisas surgiram, ora, tu sabes como é que as coisas
acabarão, por lo tanto, cuando ya no importe

grãos de fala debulharão para ti os viajantes, mas se em tua mente


ficarão somente os germes da futura atrofia e seus sinônimos
o que esperas para projetar-te ao derradeiro calor ?
73

62.

Que as coisas surgiram para ameaçarem-se


e através disso melhorarem a sua totalidade,
recolhendo ao impossível mais do que o nome
de quem entra na rua e no rio datando minúcias, não

as coisas não surgiram para obliterar a felicidade


também não para afastar o mar para que se leve
rebanho para cá e para lá: que as trilhas
tenham melhor distinção do que a de um traço

apodrecido pela culpa da humana mão, risco


divino algum devendo explicações ao calango
ou ao crustáceo nem àqueles a recolherem
o último suspiro do boi (para tais a forte luz tem cheiro)
74

63.
Resta a muitos esmurrar o travesseiro e esmiuçar no a exata
palavra para o suplício dos espantalhos mas isto toma precioso
tempo aos ímpios também aos crédulos isso toma tempo

mas derrame-se líquido em brasa pelo quase nada de um pai


e de mãe ali ao lado dormindo e reciclando-se enfim corroborando
sais e açúcares que logo partirão ao meio o mundo, sofrer a noite

moer sons inusitados até que se instalem de vez no pescoço da lua


a leveza do consentimento e a dureza das repetições, tudo agindo
como se não fossem pesadas as mãos saborosas cheias de culpa

de graça também se faz um favor e há outros significados ainda não


revolvidos mesmo ao cobrar-nos desventuras no porão a soberana
a luz e seus filhos bastardos também os pródigos

de uma casa cuja latência se esboroa sob anéis e se impacta contra


velhas essências, enfim, uma casa de onde outras casas poderiam
sair para acossar assuntos maiores do que a fixidez religiosa
75

64.
ou uma revolução por cravos canelas e outras especiarias tão a
gosto de todos, mas nalgum lugar do mundo e em cada movimento
teu alguém te descobre um pouco mais e persiste

sabendo que na simbologia das fronteiras a escada se perde em


seus próprios ecos e em ti um pouco menos em mim que recebo
novidades do chão, invectivas não propostas oficialmente

como a deste silêncio que a muitos se recusa íntimo, como aquele


grão e aquela vulválvula em fúria descomedida, comportamentos
forâneos exigindo o troco aos devedores, sim, gente boa

na simbologia das fronteiras o que vige é isto: estou sempre de olho


na outra margem do rio onde em cada movimento descobre-se algo
mais promissor do que as tábuas da salvação,

um cantil areado dentro do qual a palavra se perdeu de tanto matar


a sede aos expectadores e convivas de todas as partes, resolvidos
a abonar o que neste e noutros poemas se deplora, e assim é que
76

65.
num vilarejo íntimo não fique de costas para o fundo da manhã
o amor e outros senões não deixem de confluir sobre todas
as partes, não, o amor não se cala quando na trincheira percebe

vulto arredio afastar-se falsamente aproximar-se falsamente fazer


o sinal da cruz até alcançar o objetivo real, não, de costas para
o mundo fique só quando acompanhado por válidos

inválidos e transválidos, pois nada me convence de que a outra


margem do rio não tenha o que penso ter na medida exata da gula
com que Fausto não se aquietou mesmo após atazanar o diabo

e receber dele o aval que é de todos, convenha-se, de todos: meu


e teu, nosso e vosso, saber que a inveja é fronteira cobiçada pura
tara de todo mundo a ganância tem membros

que se encaixam nas três proposições: sólido líquido gasoso mais


a volição ou o querer a qualquer custo marcar encontro consigo
mesmo, arbitrário gosto talvez tresloucado gesto
77

66.
de quem ainda jovem tem adulterações em cada risco das mãos.
Veja-se esta terra onde mais que noutras o sal faz ver suas antigas
conotações, veja-se-lhe o dorso teso e as narinas ébrias

de dentro das quais se ergueu uma apostasia e todos os fermentos


e nódoas vingaram e nódulos espalharam-se por todo o mundo civil
e militar ao alcance de um atentado, fronteiras mudam-se

sobre o teclado se estende o caos em que a lavoura se equivocou


até sentir a medida provisória que é toda medida, e o que a fronteira
insinua é que há um sol sustenido lá fora maior do que o desejado

prêmio de, mais que entre fios de baba e silêncio peremptório, viver
à cunha o território pequeno da alegria entre as coisas tão somente
voltando-se a cabeça para o lado de onde venha o grito,

e até se pode arguir se o que na fronteira se demarca seria mais


o osso ou a carne desfeita em leque de argumentos todos levando
de roldão o sorriso do invasor sobre a vulválvula de um sonho
78

67.
preso na mão esquerda, outro na mão direita, vulpino sois vós
comissário, vós sois o que espero há muito comissária-vendedora
de passes azuis para a fronteira interminável, ai gozo

prega no meu ofício o desejo e a ação de varar fronteiras contigo


numa sanha fronteiriça com o pavor, sim, o pavor infundindo pavor
nos extremos da cerca viva de homens e mulheres

a dois soluços de distância arrastando-se sobre o plano desfeito


algum sortilégio arriscando-se ambos assim gloriosos de se abrirem
à carga pesada de seu amor, à morte pela mágoa

medindo-se à fúria de um silêncio inacabado, pondo-lhe porém sais


e açúcares para que a dois soluços de distância se possa perceber
alguma possível felicidade, e agora mesmo me lembro

do dia em que um preso colocou música para que todos os outros


pássaros no pátio ouvissem todas as coisas de que é capaz
de fazer um homem para que outros vivam mais e melhor.
79

68.

O pianista
não varre a introspecção
(saem dele ângulos
desgostosos, madraços)

começa a hora
sob ambiguidades
a cidade espera que sua gente
seja como este piano
de costas para o mundo
80

69.
Seremos como o ouro: prontos para o gasto descarado manuseio
pelas massas (mossas), sim, sejamos, como o ouro, capazes
de doer forte insuportavelmente tangíveis diante do cerco

sejamos como o ouro de algum sorriso que a esquina comeu sem


dividir com o gato e o cão muito menos com papagaios e peixes
quelônios e símios, sejamos fartos de nós mesmos

assim que raie novo dia saiamos de um lado para o outro com velas
sobre o blecaute as bocas brilhando à distância o que há
e houver entre nós seja medido com obstinado rigor ostinato rigore

para que de nós gerações não digam: Espúrios, mínimos animais !


Sejamos como o diamante do perigo ali e aqui e acolá também mais
para além do bem e do mal sejamos de todos e de ninguém

queda e abuso de poder sobre quem nunca sai de si, eis que o cão
do autista late diferente em cada ambiente nos diz o que é de
transparência ocupacional ou breu de toca, vamos então de samba

*.: Trecho de canção do jovem grupo alemão de rock KLEE: seremos como o ouro
*.: Ostinato Rigore, livro de poemas de Eugénio de Andrade
*. ; Alusão a Para além do Bem e do Mal, de FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE
81

70.
e pipoca na mão de fernanda passa boi passa queixada passa frio
na barriga o medo passa frio na boca de fernanda o porto se faz
translúcido tempo bom para se pescar lúcios e baiacus pegar

o veneno de um pequeno dia não nos basta e isto, parece, é ponto


pacífico como pode sê-lo o que de outros saia, o que de nós acuse
necessidade de se expressar uma vez no palco ou fora dele

pois se deve também falar das coisas que o verbo não apreende
e o gosto não apraza mas desvia de intento caso não lhe consiga
memória, dizer também dos prazos aquinhoados e dos prazos

manietados, de quando rostos deitaram-se uma vez chegada


a ilusão, ficando entre nós e as grandes luzes alopáticas a velha
carreira de sintomas sob cruzes e agulhas talvez outra coisa fosse

o que nos jogou por terra como jogou a todos a rima fácil nalguma
boca, com certeza já fomos ilididos e iludimos sem trégua o amor
que rói os tíbios e afana o bolso dos ímpios e o coração das corais.

*.: Acerca de FERNANDA PORTO, compositora, instrumentista e cantora, disco Giramundo.


*.: O amor que rói os tigres, livro de JOSÉ LEZAMA LIMA
82

71.
Caminhar assim ao longo do canal caminho com a tez para o ar
nas pernas o ritmo complexo do mundo a que impusemos esta
consistência macabra de futuro sem vez mas que conosco terá

mais do que cama e mesa terá conosco onde refestelar-se


sem necessidade de ilidir e iludir ou de se mascarar com portais
falsos testemunhos de um tempo nem mesmo ambíguo

e o perfume se derrama pela vida do lar escorre pela buganvília


os dedos da criatura se cumprem no zelo pelos animais da casa
de estimação os animais, mas só ? só estima os une ?

somente o calor da manhã os depura para o que devem ser ou se


corrigirem pelo que não dataram ou dataram incorretamente como
falsários que se amarram ao amor de notas novas velho ofício

de pernas e braços abertos, faustos, parcelas de crimes levamos


nas mãos ou é mesmo de evangelistas dizer que há um tempo para
tudo até para descoser o sexo do bom-senso pela boca do Mal ?
83

72.
Onde estamos que assim nos damos quase à revelia de nós
mesmos, nossos ossos querendo uma coisa e a carne querendo
outras maneiras de expressão fora da cosmogonia conhecida ?

Em Amarna faz-se noite mas no cérebro que a rege a inquietação


se alegra de que todos os nomes encontrem sob sua intenção
um método e uma questão perfilando-se para a justa memória.

Amarna seria destroçada grão a grão, ecos sem conta dando preço
de sua algazarra, a natureza de sua indisciplina e de sua perversão
podendo ser então aniquilada por novo pacto (Satan says).

Hipóteses. Eu e você a tudo dizermos não é assim o preparo da cor


(verde com vermelho = amarelo, o amarelo de um sorriso de um
aperto de mão um sos), você e eu e outros refazendo o método

ao juntarmos vários caleidoscópios num mesmo foco dissipando


ecos dos sintomas que nos afligirão em breve já todos eles à porta
mostrando-se cordiais figuras sem retórica palpável, drusos

*.: SATAN SAYS: Coletânea da qual fazem parte, entre outras, Sharon
84

73.
ou araucanos tardios talvez um hissope trincado por força de eco
alheio ao conjunto dos métodos até aqui conhecidos talvez
seja sim e mais a vida como representação da vontade

feminina (¿ y para colmo una chica, una cantante de absurdos ?).


Outra hora é nada se noutra não se liga. Alguém no ar, gritando ?
macerando quebrantos ou só brincando com cálices ?

Metropolitanos litorâneos ou não suburbanos estagnados ou não


metroplitanas sadias ou não urbanas enquistadas em esquinas
gritantes todas as veias nas paradas municipais

as veias sempre elas a darem as caras quando as coisas não vão


bem não se contentam com a verdade dos fatos quando as coisas
vão bem, sábiamente as veias não se modelam aos rumores

e que se danem os mortos se há vivos no ar querendo moldar-se


a algo ainda vivo como falar e tirar da raiz das coisas dúvidas
de quanto custa a sombra, de que se valer ao abrí-la e não abrí-la.

*.: Alusão a O mundo como Representação e Vontade, de Arthur Schopenhauer


*.: Trecho de uma canção do jovem grupo alemão de rock KLEE: e para cúmulo uma garota ?
85

74.
Foi dito que nunca se vai, só, às medidas do erro cooptar vozes
ou denegrir uma sombra já de si cheia de acrimônias, embora
amoras e lichias patenteiem a doçura

como seus afluentes perenes e nós saibamos não ser verdade


o que se põe para secar nos tribunais forenses, artimanhas causam
perda de peso nas considerações entre os homens, sim

já foi dito e provado que de certas cerimônias não se tira mais


do que um surdo ódio, uma inquietação tanta entre as flores tantas
que o pólen já não vinga e a xícara se parte ao osso.

Com a enchente vieram os girassóis e algum espanto por vê-los


subir nas calçadas e ali ficarem secando palavras e mutismos como
chumaços de algodão no sangue, indiferentes àqueles incapazes

de levar de uma lição o fato de que o mundo um dia rodaria


ao contrário e pelas avessas os levaria a confins muito além de sua
pífia noção da vida: pátria família religião (falida tríade).
86

75.
Mas se nos desapontam as rezas, melhor ficarmos onde no cais
se anoitece com águas saindo pelo ladrão, sáfiros e trêfegos,
banal o que se pense ou não de nós que por vós

esperamos venham ainda que tardios demais ao tutano e à pele,


levemente curiosos de saber como se faz o que não fazem à luz
do dia, severos em sua insígina de gente-bem, mas

esta lavoura é arcaica e sabemos disso infiltrando em suas nozes


um racemo diferente, capaz de coisas que o próprio Caos duvidou
quando por cá se aventurou com onze fidalgos e algumas cróias.

Em verdade não há nada que possa pôr-vos em perigo, parvos,


nada pode afligir a quem só de rendas vive envolto em leis e modos
de burlá-las ao sangrar metais como se fossem

prisioneiros ou pacientes de cujo rescaldo nunca se saberá quase


nada, amuados estamos com o que de pouco nos vale, sertões ou
veredas não importam a olhos de mar, o mármore acossando
87

76.
Ainda que noutro tempo te aches, nunca o digas distante de ti
como de mim este som, pois o tempo que prezo se faz com
hospício ou leitura de olhos também com giramundos assuntos

percalços de ventríloucos, as amas de uma possessão maldita


ou não, faça-me o favor de depositar o devido a quem de direito
pela condição de sua forma, e com nada que esteja fora de si

tu te desfaças em assuntos, não, combina contigo mesma hora


de ir-te ao mar passear entre o desânimo total e os urubus
cumprindo-se em alertas, vê: quase me esqueci de bater

a porta na cara do horror, por um fio já me soltava por aí


esquecida de quem sou e do que não pude, e embora o mundo
diga coisas palpáveis, melhor se está quando alguém te chama

para beber e comer, sentar-se à mesa com a mesma sonhada


calma com que um amor é declarado, a mesma inclemência
com que a mão não resiste ao inominável segredo de uma recusa.
88

77.
Deve então resistir quem sofre por não atender ao que o coração
exije ? ResistIr ao que o fato diz e insistIr em que ficar assim terá
poucas, leves e tardias consequências, e assim a sombra

molde o rosto à sua razão, tisne as mãos conforme o temor pela


alegria subindo de leve no termômetro montando guarda na boca
da intermitência até que nada mais contra ela se possa.

Mas eu não desejei somente ser a melhor a fazer pontaria com


a faca, senão que em incendiar carapinhas fosse também craque
consumada, como também a modificar ou substituir os metais

de que a razão era feita: e o consegui, mirando em mim e tirando


de muitos suas faces ocultas tudo de permeio com a lascívia mais
vil, vil porque não compartilhada, abjeta porque sombra

do que era eu quando cooptada para tão vasto e impiedoso mundo


onde às frutas se concede um dia de sol e um dedo de prosa contra
seis de tormentos breus labirintos enfim o sumo da súcia.
89

78.
Portantos que o homem do mar desconhece eu os levo a todos
os lugares onde possa, pois o mar é um dos elementos preferidos
em minhas lembranças de híbrida, não coisa hirta

o mar que tanto amo e temo se encarrega de dar-me o que falar


quando em suas treitas me preparo de bom grado e convido gente
próxima ao desarranjo, coroada ou não

não importa pois no mar eu me dou de lajedo e lápide, sôo como


deve soar uma estação de todos a ninguém fazendo elo
em especial com a música que abre sobre a mesa seus peixes

multicores e os membros revivem na algazarra da água urros


da mesopotâmia, traços vazados de alguma memória judia talvez
não, talvez do grito há muito pregado nas paredes da casa

de onde a felicidade ri para todos como se realmente algum dia


mísero dia sequer tivesse posto a cara neste mundo de meratrizes
e pastores víboras do melindre com suas mímeses do pior acaso.
90

79.
Das mímeses não lhes faz questão em absoluto o nó pagão
nos lábios, a mistura fina de sua admissão àquilo que em nada
poderia estragar-lhe a festa de vôo rasante sobre um

consentimento meramente formal por moeda nova entre as partes,


tudo dentro da ótica que circula entre homens desde que homens
puseram sobre si o peso medonho da compra e da venda.

E cá estamos entregues às frituras e rebojos, arados e decididos


em mover a decisão de seu pedestal, e ainda se ouve de alguém
que outro alguém é ‘um barulhinho ao fundo’ a ser extirpado.

It had happened to others. There was a word for us. I was: a Jew.
Cá estamos entregues a remoinhos preparados de antemão alguns,
outros há que surgem conforme se arranca rumo aos trevos

e com que artimundos se vai a eles decantar violações de amor


ou mascar ofício de advogado com um saque à mão e dois ou três
ditongos com que arrostar a vazão crescente sobre si e o cliente.

*.: SHARON OLDS, versos de That Year.


91

80.

Aproveirtar o silêncio da estação


ao desbravar as próprias raízes
sem atear notícias de rumo diverso
mesmo que ao dos comediantes
senão ao das meras atrizes,
e embora ao próprio senso de humor
reclamem paz os amantes,
o silêncio a muitos se recusa íntimo
92

81.
Estás desocupada, e isto mói o réu pai, estás desocupado e isto
tira ar à tua mãe surdamente em ambos uma espera de dunas
se faz e medra e medra até que o mármore não os faça felizes

mas truncados por versos e dispersos em chamas que a cidade


doa aos seus, suor de latas por amassar o pendor de destruição
nos ombros à beira – invade o repto Satanás

diz o que disse Zaratustra embora não ponha na antologia poética


dedo sequer seu que estudou música e medicina e foi dar-se azul
e ocra indo jogar contato com ladrões e prostiputas também

pássaros nos cemitérios, borboletas nos campos de batalha,


qualquer coisa entre. Não sei. Ferve o capricho a bailarina escoa
favores mais imaginários que reais e portanto não está longe

de certos paliativos fingindo existir de soro onde o álcool treme


os punhos e a cor dos lábios é incisiva ao mostrar com quantos fios
de nada se pode fazer antinomia ou mesmo catatonia.

*.: GUNNAR EKELÖF, poema Questionário, Antologia Poética. Quetzal, Portugal, 1992.
93

82.
Dito que o silêncio a muitos recusa intimidade, vacilar neste porto
é, mais que sandice, gorar ovos futuristas sob torrentes de senhas
com que os vivos se procuram e se rejeitam com sua arritmia,

e entre jogo e enigma não te faças a ela, a escrita, pois quebrarás


não só alguns ossos teus como também serás arguida pelo cisco
nos olhos de salamandras e serpes

que ainda nem o próprio veneno cometem na hora certa, não, cuida
que o entorno teu esteja sempre apto e que a mentira dos limpos
não se busque entre os girassóis e carrapichos teus, amiga.

Aberta a tormentos místicos, abriu uma loja depois uma corrente


uma seita até ver-se interessada na matemática de mortos em cada
degrau da escada de onde enviava notas ao mundo dos vivos

e semivivos, a idolatria subindo na cotação da bolsa, sim, há


mercado e tempo para tudo já se disse há tempos que a glória virá
pelo ressecamento de outras possibilidades, via única, mão sesga.

*.: GUNNAR EKELÖF, ‘um compromisso entre jogo e enigma’


94

83.
Em Amarna a salsaparrilha não saiu do mercado, nem o kebab
nem la buona pasta muito menos as línguas de fogo: há para quem
possa, há nas prateleiras deste e de outros corações

tormentos em abundância do baixo clero ali e aqui caindo de boca


nos esfarrapados amuletos jogados fora não sejam estes corações
vadios que não o admitem fingidor ao poeta [bicho de jogo

pálido], bicho sem a pele porosa como um sorriso dentro de um iglu


onde o frio não entra senão para pedir socorro e esmola e condição
para safar-se de si, oui, em Amarna as coisas não são de todo

compreensíveis nem pelo rumor nem pela destreza absoluta, nada


em Amarna se faz com consentimento de quem quer que seja, não
perde nada quem dorme de dia e se assume com a noite

ou vice-versa: toda antinomia encontra respaldo aqui também todos


se vêem longe do alcance do que nalgum idioma e noutros se disse
Stay, thou art so fair – e assim se nos passam de anões os anos.

*.: JOHANN WOLFGANG GOETHE, Fausto


95

84.
Onde estão os teus direitos adquiridos senão mortos a pancadas
distribuídas aos borbotões na via pública, no mercado centralizado
da morte a três por quatro ? Onde acendem o facho

o crime que te agonia e a bolsa que te auxilia rumo à gidantesca


apostasia ? Bactérias e gusanos, variados vírus inclusive o maior
e mais desgostoso deles enchem a insônia cruel que é a ilusão

da lheberdade, a insônia cruel de quem sabe e de quem pensa


saber do severo antagonismo entre as partes envolvidas pela osga
bem como das facções a esperar por botim e butim.

Triste ? Não viste nada senão escaravelhos e escorpiões à venda


todos eles pegos em Tijuana ou noutro mexicano lugar onde a visão
dos homens se estende quando o perigo arqueia

seus timbres, e talvez te lembres de que o epiléptico disse que


todos nós somos culpados de tudo, e assim então cheios de lições
escavem mais fundo a decisão em surdina já urdida – e aconteçam.

*.: FIÓDOR MAXIMOVITCH DOSTOIÉVSKI, Os Irmãos Karamázovi. Em verdade, toda a sua


obra é este, digamos, refrão.
96

85.
Faço-te notar que as venturas plantadas neste meio acusam já
as altas plantas de vender-lhes a preços exorbitantes um lugarzinho
ao sol, aviso-te e aos demais como tu, mein liebe,

que aí vem quem não dirá de bom grado a parca sentença de irem
e voltarem um dia mais amargos do que agora os deixo, vendidos
ao Mundo. Ao cacete ou ao deslavado sexo industrial dêem-se

também ao irremissível e depois cantem cantos de labuta indizível.


Se sei de quem encomendou o caixão ainda muito antes ou pouco
antes de te tornares viúva, então o que me dizes

de assim tornar as coisas diferentes do costume vigente neste meio


social ? Mas tens coragem, não o nega ninguém de bom senso, não
não te daremos pela língua embora saibamos em que degraus

te estimulas ou sob que pinheirinho te safas desde então de tantas


pulsações erráticas que durante tanto tempo obliteraram-te estar
com o que em desespero vias fugir de ti. Aningapara és. Nua cheia.

*.: Alemão: Minha querida


97

86.

Estética de massa, o punho


se retrai pelo ângulo oposto
ao da cerimônia, mas por pouco
tempo: logo exsuda poeira vinda de todos
os lados da ignomínia e da validade social,
e nela satisfaz a dúvida do construtor
e a dívida do futuro morador: nada
que lhes diga respeito
viverá com eles
98

87.
Não te permitas universal nesta via não te aventures sem antes
combinar o preço da relva em que te assentarás mesmo depois
de esqueceres que a vida está presa

ao que trafega dentro de nós com tanta desenvoltura, e mesmo


após isso não te permitas invalidar-te pelo universal, pois és fugidia
por natureza, e nunca em ti se sentirão confortáveis o rumor

de um labirinto, o espetáculo de uma cegueira no trapézio


ou o tijolo à espera de que o acusem de enfadonho senão de filho
de herança que carrasco algum deixou de levar ao pescoço

e o futuro não seja só de invalidar verbos ao mostrar ao dente como


se faz, que o dente nasce depois de ti, e assim se deve socar algum
intento e induzí-lo ao acerto, dizer talvez redizer

movimento – tão pouco é o ar, a força dos atritos em nós, a forma


do metal em ti que de tão pouco foges mesmo agora em que és pó
e nada de flor hemodinâmica incômoda ao sentar-te, sem mistura

*.: FERREIRA GULLAR, A luta corporal


99

88.
alguma capaz de se desvendar à histeria e outros encantos, mas
tranquilizem-se os católicos porque ao animal de estimação já se
faz luz no fim do anel de dois mil anos,

tranquilizem-se aqueles que se afogam em suas próprias lágrimas


senão nos próprios esporões, poemas desviados de sua reta natal
gritam sua impotência e tremem tremem como

se lembrassem de algo ou de algo soubessem ao ponto de fazer


com que o teto não gotejasse tanto e pelo sinal da cruz não fossem
capazes de cometer as melhores vergonhas.

Vergasta o lodo o caranguejo, varre a porta da rua vento ressecado,


ombro a ombro com a indulgência a fome sai de casa e ganha
mundo, cresce na panela o arroz

e outra noção de vida amarra em seu segredo um vocábulo


do qual gostaria de entender apodos e sequelas, entender-lhe azuis
as unhas da compreensão (azuis por que apertadas ao extremo,
100

89.
não por uma sugestão de amiga reconciliar-se com a moda vigente)
e a misericórdia dos seios sempre eles salvando gente e imitações
de gente a um convite ou a um cuspo de distância.

O punho lesto e pescado como se fosse um baralho, as vias de fato


não como uma palavra, mas como esta palavra que fala até falhar
sob ouvidos roucos anunciando o fim dos créditos educativos

à suma teológica após sua demoníaca e milenar andança em todas


as variantes de que o Homem dispôs, e assim foi que a palavra em
si falhou redondamente grotesca filha de híbridos

cada vez mais longe do mínimo exigido para que até a demência
tivesse crédito entre loucos precoces, e os velhos rituais de putas
continuassem entre paredes até então nunca contestadas de frente.

Gozosos embora tossegosos, fiados em que, fiadas em qual, assim


com um sempre em cada dedo, uma protelação sem maldade
ou desfaçatez pelo que levam no coração os crédulos, língua boa

*.: SHARON OLDS, Satanás diz. Verso: o punho vibrando lento e pesado como o caralho.
101

90.
sem vistas de noção estéril, e então para sempre seja louvado
quem não se poupou para que neste entorno fizesse corpo o Ideal,
distante dos híbridos chochos da infãncia, mas outros

estão sempre gozosos nalgum jardim onde se pode fazer aquilo


ou ao menos de conta se possa fazer prumo de valente
ou vender-se ao None of us. Culatra, teu nome tem dono, não sono.

Filho de bispo com doméstica assombra o mundo sua lavoura obra


maravilhas que o amor, e só ele, concebe e tangencia para dentro
dos alçapões, pois amálgama melhor do que este onde haverá

que lhe possa pôr os pés o filho do assombro e irmão do incesto,


de outros móveis de crime parente inconteste e orgulhoso de assim
o verem subir degraus ciciando flocos de mel a flores sésseis

rumo às aparências e seus enganos de filho bastardo à espera


de que as tropas inimigas derrubem os portais e nem senhas nem
contra-senhas o livrem de ser o que, num vu, será ? Vês, Príncipe

*.: Alusão a Niccòlo Maquiavelli, autor de O Príncipe


102

91.

cada ouro teu aqui


no cagadouro onde
a crotalus terrificus
e a boa constrictor
também a nux vomica
e a aningapara
ainda não de todo
desmemoriadas
ainda não de todo
trocadas de roupa
jogam veneno e anéis
na lógica dura e cara
do suicídio em massa ?
103

92.
A condição que nos devora a nós pescadores é a do mar ao pôr
sobre nossos pentáculos espetaculares suas almofadas cheias
de agulhas e embriões de espécimes pretensamente novos

quando na verdade sabemo-los coisa vasta e antiga na memória


de que ainda nos fazemos senhores, nós, pecadores de copo e tara
à mão, lisboetas envelhecidos, quenianas e tanzanianas

cujas modulações da dor entram no vitrificado ambiente como ecos


de distante flora e fauna relienta, depois arredia e rancorosa sob
acontecimentos que este luxo de som ambiente sabe (será ?).

A condição que se demora em nós pescadores é o mar: a ele deve


seu ouro cada morto, devem suas moléstias os barcos também
a ele se deve este cortejo cotidiácido entre as partes envolvidas

para que ao peixe se lhe dê digno preço ainda que à revelia dele
mesmo, e assim nos quedamos aqui e ali mordendo um a úvula
do outro, comendo a colher do próximo, úmidos percalços na rede.
104

93.

Torres de onde não se vê


saída nem entrada, termos
crescentes enviados através
de emissários, mas nada
vem de lá, nada lhes chega
senão o cabedal de aves
pássaros e rapinantes
que o rei não caçou, a rainha
desdenha, o bispo não abençoa
(gralhas, corvos e urubus ?)
mas que aos peões se fazem
espeto para vidas em brasas
sobre cavalos e territórios
até o xeque-mate
105

94.

O colchão parte-se em tantos


quanto possível ao mundo
merecê-los nas horas devidas
e indevidas, e se isto é aquilo
ou não, o colchão reparte núcleos
de mãos dadas com os pés
do cais e a sonoridade
do templo ou feira ou anúncio
de nova numismática (condenado,
o dinheiro já se nos devolve
pela êmese e pela hemoptise
mas não se indicia como parente
do acusma e da catatonia, virtual
em seu desespero, caça,
entoutros, peito onde se esconder,
sexo onde se meter, luvas e máscaras
de onde apresentar o que temes
tu e o que tememos nosoutros)
106

95.

Literatura comparada
meus ossos e os teus
destrossos
de cujos meandros
nada nos socorre, se não pelo peso
das linguagens um dia espavoridas
e insensíveis ao que a outra
dissesse, pelo cansaço
inevitável que a morte
em vida faz
107

96.

O prazer procura enxerto


com que se resolver de vez
acerca da terra e da água
já em si em níveis baixos,
saturados todos os campos
sobre os quais o depósito
ou silo mais em conta seria
para chamar-te à razão:
Vem, meu caro, não há
notícia de humanidade só,
notícia não há em lugar algum
de quem, sobre ou de dentro
apenas de si mesmo, pusesse
devassidão no entorno,
marcado de algum modo
indelével o sono e a vigília
do Outro
108

97.

Nos dias em que o fogo


por dois motivos ou três
senão quatro ou cinco
não parece querer amainar,
dá-se então a outra faina
o amor encerrado, volta
a si a tempo de deslocar
de um ombro ou de um mamilo
uma novidade não convidada,
não uma borboleta insistindo
entre restos de risos
e pingos de salmoura
em que quase toda lágrima
(breve arquitetura do choro)
se transforma: assim acontece
nos dias em que o fogo
por desconhecido motivo
morde com fogo os lábios
até o desespero final

*.: EUGÉNIO DE ANDRADE, Poemas (1945-1965). Verso: a breve arquitetura do choro


109

98.

Flores que se dêem


uma vez desligadas
de uma presença
ainda nos grãos
que o sapato recolheu
e o sol descolore

flores assim
bolindo pelo avesso
os tropassos de cama
mesa e banho

flores que se quer mais


se sésseis, cogniscíveis
o quanto pode ser
quem de mim se afaste
enquanto é tempo
110

99.

Lá fora que dia é


se dia não há que nos possa estender
mãos e pés por inteiro, cabeça
muito menos o leite da aventura
conjugada com uma morte
legal, nada solene ?

Que dia se faz lá fora


onde, parece, jogam bola
de modo muito diferente de quando jogam
suas preces sigilosas ao ar
os apurados de deus
e as detentoras do demo ?
111

100.

A algumas esquinas daqui


incêndio familiar corrobora
o que a si se diz alguém
quando o dia passa em brandas
nuvens: de brasas quisera
perceber a mão que me toca
como se de mim quisesse
despedir-se, cortar
relações até chegar à perfeição
das margens de um rio
112

101.

Supondo que sou


quem lhes endereça
mostras de nepentes aos quais deus algum
será convidado, caem no gosto
com a dúvida dilacerando-lhes o forro
dos sapatos e as manchas
na língua. Será mesmo ela
a que me dará gosto

e desgosto de que nunca me fiz


astuto borrador ?

De onde virá esta


maravilha da natureza à natureza recôndida
dos homens ? Em que portal buscá-la,
em que umbral deixá-la

a contraluz e a contragosto ?
113

102.

Um abcesso saiu do corpo


do ódio

lá estavam as cores todas


seus tropos e nervuras
anunciando que

num acesso de fúria e razão


cairia do topo de seu ódio

o ódio
114

103.

Silêncio (Só o ódio sequestra e sabe seu negócio)


após a chegada.

Tudo morto. Exata


noção de norma pura

aqui se tem deste termo


meu e teu: após a chegada

tudo certo
acertados com a morte

menos o silêncio:
bicho sagaz
incômodo como o ódio

que o gerou (entre a multidão de outros devedores)

*.: WYSLAWA SZYMBORSKA, Nobel de 1996.


115

104.
Mesmo após mostrar de que modo os principiantes devem manter
a fé da palavra dada e administrar de ambos os lados da clareza
e do entendimento o terceiro lado resultante disso

(e um quarto ainda não de todo esclarecido), virou-se de pronto


para o chefe de equipe e pediu molhassem mais o dedo na causa
em questão e só então pudesse a equipe conhecer

pelo êxtase sobre uma derrisão alheia a real natureza das disputas.
Blefe a blefe, saqueou com dados de natureza ruim até que um pé
o afastou, até que, saque após saque, declinou de levar a rosa

e pinçar a concha este alguém que a meu lado um dia assentou-se


e deu-me o que pensar e fazer por muito tempo senão por todo este
tempo em que aqui estou à espera do grau cabível. Seria eu

este alguém que não vive senão de esperas tardias sempre secas
e de palavras tocadas sob contingências nada especiais para quem
se preza por traduzir à dura realidade do amor seus contrários ?

*.: NICOLÓ MACHIAVELLI, O Príncipe, cap. XVIII: De que modo os príncipes devem manter a
fé da palavra dada.
116

105.
Em Amarna a palavra bárbara fracassa ainda antes que o assento
a que se propõe esteja sequer em construção, em Amarna o termo
bárbaro passa ao largo de sua estrutura usual, fica

de fora de usos e costumes no qual ela, Amarna, se sobressai entre


tantas, e, a rigor, não há diferença acentuada entre as proposições
a não ser talvez o tom coletivo de uma como contraponto de algo

metafísico permeando o pescoço de outra, enfim, uma descarnada


fluidez permeia o povo em Amarna ciente de si e do que lhe rodeia,
por exemplo, o exemplo de poupar água

começando pelas lágrimas, e tanto faz se pelo anônimo fato ou pelo


solitário prazer a gente se entenda imbuída de tudo que flui e reflui
do e para o entorno, ah, esta fissura em teus ombros: é preciso

estar atento e forte quem não tem tempo de amar ou temer a morte,
vivíparos e ovíparos circulando em couraças fuçam os sedimentos
e observam nos obstáculos novos uma premissa ou uma promessa.
117

106.
Em Amarna se poupa água e luz e sombra e se dá azo aos jogos
de fazer da felicidade coisa simples de riso estando em dia
consigo mesmo e com outros revele o há para ser apoiado ou
restringido

nalguns membros nos quais a hera se recusa a subir, também


as buganvílias e as coroas-de-cristo que se eximem de rodeá-los
como se um enxame de abelhas não lhes aprovasse tal decisão.

¿ Hay gobierno ? Sardanapalo e Heliogábalo. O dia foi outra vez


maior do que o teu dissensso e o teu cansaço ficou pelo caminho
como um bicho maltratado montado em pêlo, assim é que o dia

outra vez foi mais ancho do que tu, mas a outros te darás com
a confiança em alta pelo que te resta em cada canto da boca senão
no fundo daquele visto tão cheio de senhas já inválidas. Membros.

Como se fôra uma linha de montagem (assembly line), a escultura


no saguão do hipermercado desliza para dentro do teu desleixo
para com as artes, desliza para dentro de ti sem que saibas porque
118

107.
o dente dói mais em carne trôpega, brava mente que a enfrente
rumo ao prazer ou somente ao engano pelo prazer, sim, a gente
capitula tantas vezes quantas quer e outras mais muito acima

do nosso entendimento de outras forças cabais, ora, cabais em nós


mesmos deveríamos ser até cairmos mortos de estafa por algum
dever cumprido. Mas que dever seria este, filosofia ? que rumor

de placas contentes seria este, antropologia ? que pudor travando


ações rumo ao humano seria este de que ainda não somos capaz,
neurologia e psicanálise ? Um cachimbo para a criança macerar

seu umbigo, um xerimbabo para o ancião retomar sua paixão pela


física e pela química que tantos moinhos movem, uns tantos fora
de controle, embora a estrutura psíquica do mundo não mude

de lugar nem de força a sua insistência pela vida: seja ela plena
de avatares e espantalhos, mais viável ao riso do que ao osso
ou não. Em Amarna podes prescindir de glossários, ocos e apitos
119

108.
pois Amarna é atípica no sentido de que ali homens e mulheres
assam os próprios retornos como atos naturais de sua condição
natural, e o que dirias tu de visitar Amarna

sozinha ? de sozinho andar entre seus cúmulos, andrajo algum


à vista ali ou acolá em lugar algum o sentimento dizendo algo pouco
fluido ou o pensamento encalacrado em compra e venda, não

não em Amarna (acho que também lá em Andara se vê assim)


verás raiz má alguma ou sintoma de divisão à mesa de pano verde
quente e macio rumor de erva em suas caçapas (Die grüne Tisch)

ou bocas prestes a engolir o que se fez e o que se fará. O trapézio


é recorrente nesta autora autista que não sofre de esquivar-se
pelos bombons de luzes nalguma festa beneficente, seu olho

sem visco notável se cuida de tais benefícios, e em nada restringe


a mão? não, leva-a ao sexo da oração sempre que lhe dá na veneta
e amua-se se não morre com ele a autora, autista, que sou em mim.

*.: VÍCTOR FRANZ CECIM, Viagem a Andara.


*.: Die Grüne Tisch (A mesa verde), peça teatral alemã
120

109.

Até que lhe vedem o padrão,


o ícone põe a argamassa do medo
sobre as vontades, mas há mais
que esperança pagã escondida

Direta é a vida, e sua sede aponta


para o valor de derrota aparente
e de vitória iminente, todos a postos
onde mínimos rigores infringem a lei
enquanto vacas crestam o chão
de sua infância e bois maceram um fito
ao qual o abstrato corporativo
não chegou, mas

pessoas se constrangem pelo uxório


e pela plástica, e lá adiante se dirá
alguma poesia ou máxima
a que não se exporão
121

os de gesto gasto, também


entre os novos alguém há quem possa
valer-se de si e de outros
caso a concepção proposta
salve da prata a obssessão

pelo individual,

alguém há que pretenda


que uma lição de vida (e morte)
não se meta demais na história que conta
de memória – o que não evita cooptar acordos
e desacordos com a mesma ironia
de um tributo cobrado
duas vezes
122

110.
A moça parece dizer-nos que não é nulo o que extrai de si para
ater-se a um vago pressentimento azul por cima, condição esta
que talvez não nos saia tão bem quanto nela nos parece bem

mas a vida tem parãmetros de que seguramente prescinde (e aqui


lhes passo a sapiência dos grandes, incolor) desde que acertada
a paga por tal ousadia maior do que a do bastardo

que roubou o fogo aos deuses, pálidos porque precisam de fogo,


e assim é que seu consumo neste lugar provisóriamente chamado
Amarna nem mesmo é proibido por pífia a força de sua expressão

sobre quem nasceu e vive aqui em Amarna, repito, grandiosa como


a Babilônia – e fiquemos nesta comparação, porque outras não lhe
suportariam o peso da mensagem, sua letra, sua descarada falta

de senha diante do sexo e das prerrogativas rumo aos bens móveis


e imóveis, carnais e virtuais e coisas ainda menores, factuais como
ecos da inocência de que o sumo pontífice e o almuadem carecem.

*.: ANA PAULA INÁCIO, Vago pressentimento azul por cima. Ilhas, 2000. Portugal
123

111.
Disseram que retornariam, e aí estão ultrapassando cada vez mais
o crível e o incrível estar do homem no já pequeno planeta, sim,
gente sempre atenta, não abstrata (assim uns tantos)

disseram que viriam ver as condições dos partidos e as lições


recentes da nunciatura sobre os bibelôs adicionados aos preferidos
de pacifistas e polícias, senão de enfermarias e bancos, disseram

e cumpriram: vieram em massa, e são cada menos tolerantes com


o que algum amor e algum rancor tenham a dizer, e mesmo após
cumprirem sentenças invadem resistências e agouram azul e ocre

herr kommandant, es werden immer mehr es werden immer mehr.


Papa migliora, ma il mondo è ansia. Arrivederci.
Il vero amore aspira al cielo, ma i sensuali volgono a vil méta.

Levantam o colo os da tribo de Javé, que os ombros já se foram, nu


está o palácio de onde extrai sono de si a plebe para que, armada,
chegue ao que restou de tanta história escrita com maiúsculas.

*.: MICHELAGNOLO BUONARROTI, Rime e Lettere, Soneto VIII. G. Barbêra Editore, Firenze,
1940.
124

112.

Atacas o inútil
mas coma e beba
com ele o quanto possas

vê: enerva-te
que saibas a hora
de parar, e ele, o inútil,

também
125

113.

Oficinal,
recobra a indulgência
após soltarem-se
três ou quatro versões
da peça

oficinal,
nunca igual a uma raia
de festejos folclóricos,
dá no entanto
mostras de saber
que é longo o roteiro
da manipulação

e prega
peças, oficia
caos ao entorno, oficinal
126

114.
O roteiro da manipulação é longo e certamente cheio de amigos
e parentes, súditos e sinônimos também algum antônimo: assim é
um roteiro nunca de todo embriagado de si, ou não teria história

palpável como algo a se contar entre as necessidades básicas,


pão para toda hora, vinho e não zurrapa no fundo da lata velha
cheia de oferendas à luz de desejos turvos em escadarias

de quem te fez macumba e talvez até deambule com o teu universal


sangue doado a bem da verdade sob nenhum impulso generoso,
mas que nada, saio da tua frente pois queres passar

não quero pastar nem mesmo me dá por confortável, hoje, poder


dar-me às cebolas imensas e belas maturando, apodrecendo sob
devaneios políticos e surras de neve, na cabeça do pope as pedras

de gelo são amalgamadas com outras insurgências tanto do clima


quanto dos humanos, e então nos apalpamos como não o fazíamos
desde que a moral contra os costumes tentara fixar-se em Amarna.
127

115.

Pedra polida
num portal só frêmito

de visão dura, pura


delícia de clima

de onde com a fala


pendente das mãos

mancha os nervos
da usura o belo
128

116.

Silêncio arado
de onde não
se volta
impune, mente
quem diz que a rua é
cela, punho suxo
ou não, vieses
de estrupício e estropício,
mente quem nada
diz
ao pesado silêncio
da pensada imobilidade
da casa
129

117.

Sua boca parece ser


sua língua padrão
ou idioma: todo ele é
idolatria por algo além
do que espalha: coisas
pelas quais me resumi
um dia até deixá-las
de lado, no coração
só levarei quem muito
me incomode [falo do que impede / o sono] *
ao ponto, al dente, só
quem me dê pela dor
de cabeça entrando
de sola com a crua feição
de quem nada vai perder
com a morte, não
sua língua parecia ser
de boca confiável
pelos conflitos induzidos

*.: ORIDES FONTELA, Teia


130

118.
De Amarna soam extremos sem se aferrarem a milagres esparsos
e iconografias como sucedâneos de mãe coragem, e à toda dúvida
desamarrada de sua lei deixa-se um válvula de escape

para que mais do que de outro blefe que a democracia tente pregar
aos novatos, por inexistente em qualquer lugar e tempo humanos,
se saiba logo de que teor é o gole oferecido: Não, isto não se faz

em Amarna onde bebida tem sabor de estrela desvairada, fluxo tal


de tal desconhecido rumor, e admito que lhe fiz folguedos e vivi com
ele ainda antes de necessário ou permitido lá de onde veio, sim

vivi com todos os membros para o alto, cheia de ilações que só eu


poderia dar-mas e aquietá-las somente muito tempo após colhidas
as primeiras mostras da sega, seu texto abrindo alas

ao que viria cortar grama e amparar-se num método ligeiro de fazer


ou cometer poesia. Gastou pares de sapatos até se perguntar sobre
qual seria a sua missão na vida, sendo humano demasiado humano
131

119.
senão apenas isso. A égua de quatro anos papou o páreo, poule 4.
Chegaram notícias da Bulgária: seu ouro está a salvo, enquistado
na boca de suas mulheres o tesouro da Bulgária, cirílico amor.

Rime e lettere. A edição encadernada em ouro sob inusitada tática


de luzes fornicando em seus interiores já está à venda, versos anfí-
bios ou não, passou da moda reclamar de ou perseguir satânicos

pretensos, suas luvas e máscaras servindo a todos, em verdade


il Pope migliora, ma il trono è in ansia. Bebe o sangue de colombos
a vidente moça evidentemente em transe goza comigo só

os rumores de uma possibilidade. Dizes tu o quê, acerca de tanto ?


Cavalo castrado leva o páreo dos 800 metros em 1:49:17. Sábado.
Manhã de carnaval, o sábado promete tirar das raízes prematuras

e de ovos futuristas toda a alegoria necessária para que tudo acerte


o passo, todos se aceitem como queiram, larguem seus seixos
na correnteza para a qual destinam seus feitos e suas premonições.
132

120.
Na boca das mulheres da Itália está o cilíndrico amor de que se faz
tanta celeuma: tudo nelas reverbera como se só de ouro vivessem
as melhores e as piores mulheres da Itália, diamantinas

rodeando o coliseu assim como o colostro rodeia e salta guloso


dos mamilos da mãe que não se lembra de nada fora do filho
que acaba de nascer para o pecado, il peccatto, il chiaroscuro.

O sabão é mais antigo do que a civilização cristã, e certamente útil.


Comer tapioca, preservada mandioca, musa do paraíso, acaramelar
a fala porque é pela fala que a gente se perde ou foge do silêncio

às vezes doentio, sua cor de marasmo impregnando enteus e ateus


de todas as linhagens, sim, o sabão não lava pecados nem retoca
surras lavradas nas praias aonde agora mesmo pescadores voltam

com as traineiras cheias, pequenos barcos ancorados na felicidade


é o que são seus corações assim abertos em leque, madrugados
pelo sabor de um peixe nunca encontrado, mas perseguido a gritos
133

121.
e risos. Risco algum visível nas pernas da moça, arquitetura de sais
com verbetes de veneno e sombra para quem mereça. Sinônimos
andam atrás de ti que não te assustas por nada e vives dando

asas à cobra, aliciada pelo convite insuperado ainda edênico. Aún y


Ainda. Cisco algum nas ancas da moça, arquitontura do mais, caos
sem serpe visível dando de cima, por ora, mas de nada se sabe

ao certo quando se trata delas, ou vais também tu perguntar igual:


Vais ter com mulheres ? Não esqueças o chicote.
Chico algum no colo da garota verão propaganda a primavera real

de tudo é capaz o outono para firmar-se entre as estações mais


queridas - tolos que são humanos e desumanos ao celebrarem
himeneus no verão e na primavera, mas não no humilde inverno

em que seus corações às vezes pedirão conselhos de/aos suicidas.


Tarde demais, usualmente é assim, tarde demais nos vemos
rumo ao todo de que podemos dispôr, ilesos, saímos da vida ilesas.

*.: FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE, Assim falou Zaratustra


134

122.
Vasca e vasa. Vaso de terra quando de guerra mais fácil se quebra,
ou não ? Vaso de terra quando na guerra custa mais caro, ou não ?
Vaso de terra se é feito para adornar o entorno da casa

vive mais e melhor no coração da gente, ou não ? Asa e razia. Eco


de vasca é convulsão, e como tal deve ser enfrentada, mas negócio
é negócio, e a assembléia está conformada com o imposto

a ela. Fui a Roma ver se o papa se prestava a empréstimos, presto


silêncio caindo de sua boca inumerável disse em sustenido bemol
o que pardais à porta dizem, por dois francos, meio dólar, um real

sabor de mais-valia em seus bicos de profanadores, ah, os pardais


são assim mesmo estes Passer domesticus: bicam o que podem
aos urubus corvos também às gralhas agourentas de que tanto fala

O Grande Livro dos Apotegmas e das Pêtas Originais, mas é do dia


que tomo lições, do dia e da noite me faço lúpulo às vezes simbiose
e mímese com o Mal, tal como se o vê ainda hoje e a partir de hoje.
135

123.
Os primeiros profanadores teriam planos de tal, seriam mesmo
rasa gente, tipos insopitáveis, intoleráveis mesmo ao mais rasteiro
convívio ? Estes pioneiros da trajetória humana se apoiavam

em que termos e pernas, braços e coração para porem a nu a tarefa


que a outros talvez também competia ? seriam predestinados como
os israelitas se pretendem ? predestinado: isto existe ? sarcasmo

mais lúcido e canhestro há ? Diga-o tu, mulher e homem de homem


e de mulher, suxo e suxa, com escalavrões que a profissão de fé dá
– qualquer que seja ela, a profissão de fé é a tua marca, honra-a

um não sei quê de histórias a descoberto e encobertas, honra-a


o teu nariz mal feito, teus ombros mal arqueados, cílios de onde
as rosas proíbem vivam os espinhos necessários ao equilíbrio

entre deus e os diabos. Os primeiros profanadores são meus pais,


mãe alguma deixou de se encantar por eles e seus engodos, susto
algum escapou de o avaliarem e redimensionarem para melhor.
136

124.
Sou a astúcia da mímese, e de mim não terás mais do que dois
ou três préstimos com os quais possas tu sanar tuas contas
sempre insolvíveis. Entanto, tentamos, mal raia o dia.

Sou a mística da rosácea, crio-me de mim mesma, autofágica,


pretendo o que possuo, e o que não possuo tomo de vez, num zup
avanço na brancura ótica menos do que na objetividade crua e nua

tomo a mim o que reciclo de mim e dos outros, outras noções tiro
e ponho na calma das mãos, hediondas são as pessoas todas elas,
sem exceção, mergulham mal quando e se mergulham, marulham

farfalham, enfim, falham redondamente diante de nicas e ningres


falham pela soberba da imaginação ao pensarem que em Istambul,
por exemplo, se está a dois passos da conquista pagã

ou que a herança de meus pais não me toca mais a mim senão


a eles, eles que em verdade nunca existiram, não, nunca tive pais
nem mães, nem filhos, e é por isso que digo e repito e me repetem:

*.: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


137

125.
Não tive filhos. Não transmiti a ninguém o legado de minha miséria.
O que contenta e descontenta o Inominável pode estar próximo a ti,
mas a sabedoria aconselha que as ervas em conservas

sejam consumidas em tempo hábil, que as emoções pactuem com


outros espantos, que a língua comum seja aquela em que a sons
azuis e ditongos cor de terra juntem-se para o amor pleno

as ovelhas desgarradas. Besta ofício o amar, o amar é um toldo sob


o qual a chuva se empoça, brilha e reflete com fingido ardor o perfil
sem outro assunto que não o de voltar aos dezassete e ir aos trinta

dinheiros que o cristo, um dia, valeu. Em Portucálido vivi perdões


dezassete anos tinha quando surpreendi na bolsa uma questão vital
para mim a partir de então: a tua alma foi servida em banquete

a que não fui, eu, o demo em pessoa, aquele que debaixo da tua
saia refaz mundos e fundos, grita e esperneia e refaz no corpo todo
toda a trajetória de que só os grandes como nós somos capazes ?

*.: JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS


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