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1ª edição
São Paulo
Edição do Autor
2009
Gonzales, Tânia, 1971 -
Suzana, Letícia, Paula e Lúcia-uma história de
dor, amor e perdão / Tânia Gonzales – São Paulo,
2009.
ISBN 978-85-910249-0-2
1.Literatura Brasileira
CDD-B869
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem a
autorização prévia da autora.
Obra protegida pela Lei de Direito Autoral nº 9610/98.
Provérbio irlandês
Prólogo
Dominada pelo pânico, ela não conseguia gritar. Ele a estava
machucando. Qual o motivo para tanta maldade? Por quê? Ela
queria gritar, queria fugir daqueles braços fortes, mas era frágil
demais...
Capítulo 1 -Aniversário
Paula acordou cedo no dia de seu 19° aniversário. Teria uma festa
surpresa. A mãe, Regina, bem que tentou esconder, mas não
conseguiu ser discreta o suficiente para que tudo ficasse em
segredo, a filha acabou por ouvir uma conversa aqui, outra ali, e
adeus segredo. Mas Paula resolveu fingir que não sabia de nada.
Hoje seria um daqueles dias que ela teria que sair da rigorosa dieta
imposta por ela mesma. Ela tinha um sonho: ser uma modelo
profissional. Já havia feito alguns pequenos trabalhos, mas ela
queria mais, muito mais.
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com Paula.
_Parabéns, Paulinha! É pra você, espero que goste- disse
Leonardo entregando-lhe um bonito pacote vermelho com um laço
dourado.
_ Obrigada, meu Léo! Como você está gato hoje! Eu queria você
embrulhado pra presente, pode ser?
_Você não tem jeito mesmo! - disse ele.
_ Oi, Lê! Que bom te ver!- falou Paula cumprimentando Letícia.
_ Feliz aniversário! Você está linda, que novidade, né? - e em
seguida também entregou um presente.
_ Obrigada! E agora é só curtir a minha festa!
_ Como você está gato! Hum... eu acho que alguém está querendo
uma reaproximação... - comentou Letícia assim que Paula se
afastou.
_ Para com isso, Leca! - provocou Leonardo, chamando-a pelo
apelido que ela detestava.
_ Léo, fale baixo e não me chame assim novamente.
_ Assim como, Leca?
_ Dá pra você parar? Vamos comer alguma coisa?
_ É claro que vamos... minha Leca! - Leonardo deu um largo
sorriso e a puxou pelo braço.
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Capítulo 2 - Perfumes
_Minha irmãzinha querida, preciso de sua ajuda. - disse Leonardo
ao entrar na casa da irmã em uma tarde de sábado; duas semanas
antes do dia das mães.
_É assim que você entra na casa de sua única irmã? E meu beijo? -
perguntou Beatriz.
_É verdade, que mancada!- Leonardo deu um apertado abraço e
dois beijos na irmã, para em seguida completar- Me desculpe!
_Tudo bem, mas do que você está precisando?
_Eu quero aproveitar para comprar o presente da mamãe, pra não
deixar para a última hora, estou sem nada para fazer mesmo, vou
até o shopping.
_Está adiantado, hein? Quer uma dica? Eu vou comprar um
vestido que eu vi outro dia, ela estava comigo e eu percebi que ela
ficou interessada nele, mas eu sei o que você pode comprar. Ela
adorou o perfume que eu dei de presente para minha cunhada.
Você pode comprar um kit; eu vou anotar pra você, porque com
certeza se eu falar você vai esquecer.
_Valeu!
_Você vai com a Lê?
_Não, vou sozinho mesmo. Não tenho nem uma companhia, pleno
sábado... vou sozinho para o shopping. Você acha que isso é justo?
_Que drama, Léo! Está sozinho porque quer. Por falar nisso...
bom.. ontem a mamãe ficou me perguntando sobre você e a Lê,
ela não se conforma, quer saber o porquê de tanta indecisão.
_ Indecisão? Quem está indeciso? A mamãe não tem jeito! A Lê é
como se fosse minha irmã mais nova e eu sou como um irmão pra
ela. Será que é tão difícil entender isso?
_ É que a mamãe e o papai acham que vocês formam o casal ideal.
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dolorido passar por isso! Por duas vezes ficar feliz, se sentir
realizada para em seguida...perder. Outro dia eu estava
conversando com uma mãe e ela me contou que uma sobrinha dela
ficou grávida aos 17 anos e por medo da reação do pai, resolveu
abortar. Eu me senti tão mal. Quantos que recebem esta dádiva e
abandonam o bebê até no lixo! Não me conformo! Eu e o Bruno
queremos tanto...
_Bia, vocês vão conseguir! Não perca a fé, não desanime. Você
será uma mãe maravilhosa!
_Você tem razão, vamos parar com esta conversa... eu vou fazer
um cafezinho pra nós e depois você vai comprar o presente da
mamãe.
Beatriz estava casada com Bruno há 5 anos, por duas vezes ficou
grávida e sofreu muito por causa dos abortos. Estava com 30 anos
e tinha um desejo enorme de ser mãe. Era médica pediatra, e o
convívio diário com os pequenos pacientes aumentava ainda mais
este desejo.
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Após 4 dias, Leonardo voltou àquela loja , ele até que tentou
resistir, mas não conseguia parar de pensar em Suzana. Desta vez
ele não precisou chamá-la, Suzana o viu assim que ele entrou.
_ Boa noite senhor! Posso ajudá-lo?
Leonardo gostaria de poder dizer:” Eu preciso muito de sua ajuda,
pois não consigo parar de pensar em você”- mas limitou-se a
dizer:
_ Sim, eu gostaria de uma sugestão, mas hoje eu quero um
perfume masculino. É... pra mim.
Suzana voltou com 4 opções.
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_ Não Su, eu vou com você. Nós viemos juntas, vamos juntas.
Nós podemos aproveitar a carona de meus pais, eu preciso tomar
vergonha e tirar a minha carta.
Leonardo bem que tentou se aproximar, mas sempre aparecia
alguém para conversar, ele viu as duas se afastarem, o que muito
o desapontou, mas já havia decidido que iria até a casa de Letícia.
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Capítulo 3 -Regime
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No dia seguinte, Paula acordou com uma forte dor de cabeça, mas
não se queixou; comeu duas torradas e tomou suco de laranja, a
tia Carmem insistiu para que ela se alimentasse melhor, mas foi
em vão. No almoço não foi diferente, Paula colocou uma colher
rasa de arroz em seu prato e um pouco de salada de alface com
cebola e tomate; Carmem insistiu para que ela comesse um bife
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_ Com a saúde não se brinca! Eu vou pegar no seu pé, quero ver
você não comer!
_ Mãe, é claro que eu vou comer, só que não é porque vocês
enchem a barriga que eu também vou.
_ Vai, vai sim! Se você acha que se alimentar bem é encher a
barriga, então você vai encher a barriga, pode ter certeza que eu
vou pegar pesado.
_ Que saco!
_ Cuidado como fala comigo!
_ Me desculpe, mas caramba você quer que eu fique gorda?
_ Eu quero vê-la com saúde, é só isso que eu quero! E você não
está gorda, não sei por que você cismou com isso.
_ Cismei? Mãe, eu me olho no espelho todos os dias e não gosto
do que vejo, eu não...- ao dizer isso Paula começou a chorar.
_ Filha, minha filhinha... vem aqui, querida, você é tão linda -
Regina a abraçou com carinho- Pare de falar bobagens, você tem
um corpo perfeito.
_ Perfeito? Desde quando? Mãe eu quero ser uma modelo
profissional e assim como eu estou é impossível.
_ Você não pode emagrecer mais.
_ Eu preciso e vou conseguir, pode ter certeza!
Naquele dia, por causa da insistência de sua mãe, Paula se
alimentou um pouco melhor, mas quando ficou sozinha em seu
quarto e se olhou no espelho começou a chorar e dizer:
_ Sua gorda! Vou me livrar de você, pode ter certeza! Você não vai
acabar com a minha carreira antes mesmo dela começar. Não vai,
não vai mesmo... a Paula gorda está com os dias contados.
Em seguida foi ao banheiro e provocou o vômito.
_ Não disse? A Paula gorda está com os dias contados.
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Capítulo 4 -Informações
Leonardo? Que surpresa, entre! Letícia! Letíciaaa! Olha só quem
está aqui! - disse Sandra sem se preocupar com a exagerada
demonstração de alegria.
_ Obrigado Sandra, desculpe a hora.
_ Não precisa se desculpar, são só dez horas.
_ É que eu preciso falar com a Lê, mas prometo que não vou
demorar.
_ Você pode ficar o tempo que quiser... até que enfim filha - falou
Sandra assim que Letícia apareceu.
_ Oi, Léo, você quer falar comigo? O que será?
_ Bom, eu vou preparar alguma coisa pra vocês comerem - disse
Sandra deixando-os a sós.
_ Você foi embora tão rápido - começou Leonardo.
_ A Suzana quis sair quase correndo, acho que você a assustou!
_ Eu? O que foi que eu fiz?
_ Brincadeira, mas e aí?
_ E aí digo eu. Quero saber de tudo.
_ Saber o quê?
_Para com isso! Bom, mas tudo bem, eu vou fazer as perguntas:
Qual a idade dela? Ela está namorando? Ela falou alguma coisa
sobre mim? E...
_ Calma! Que interrogatório é este?
_ Leca, me ajuda vai, fala.
_ Léo, como você está desesperado! Tudo bem, eu vou dar as
respostas: 19 anos. Não namora. Não falou nada sobre você.
_ Nada?
_ Só falou que você foi algumas vezes até a loja e comprou
perfumes, só isso.
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_ Como ela é?
_ A Suzana é inteligente, esforçada, boa filha, pelo que eu pude
constatar, mas é tímida quando o assunto é rapazes. Eu até que já
tentei saber alguma coisa, mas ela não diz nada. Outro dia eu
fiquei conversando com ela sobre namoro, rapazes e tal... mas só
eu que fiquei falando sem parar.
_ E a família dela?
_ O pai chama-se Davi, ele é motorista particular; a mãe, Marina,
trabalha em um hospital, é auxiliar, não, é técnica em
enfermagem; ela tem uma irmã que chama-se Sueli, de 27 anos
que trabalha em uma empresa de telemarketing e ...
_ E a Suzana faz faculdade do quê?
_Letras. Quer ser professora! O que mais eu posso contar?
Espera... eles moravam em Belo Horizonte se mudaram para cá
há dois anos e moram com a Marisa, você conhece... a minha
vizinha que ficou viúva há quase três anos, você lembra... o
marido dela também era da igreja, o Luís, ele morreu de enfarto.
_ Eu lembro dele sim. Então, ela é sobrinha da Marisa!
__É isso aí! A Marisa tem uma casa nos fundos e eles moram lá,
satisfeito agora?
_ Por enquanto, sim!
_ Como você está interessado!
Letícia foi interrompida pela mãe que entrou com uma bandeja
nas mãos.
_ Preparei um lanche pra vocês.
_ Sandra, não precisava.
_ Leonardo, Leonardo! É claro que precisava, fique à vontade e
apareça mais vezes, você anda tão sumido!
_ A Sandra está certa! Tudo bem, Leonardo? - perguntou Fernando
ao aparecer na sala.
_ Oi, Fernando! Tudo ótimo e você?
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pois também avistou Daniel, então, antes que eles pudessem ouví-
la, ela falou com Letícia:
_ Não acredito que você fez isso comigo, Letícia. Eu vou embora.
_ Suzana, olha, espera... não vai não! Me desculpe, mas é que eu
preciso conversar com o Daniel e …
_ Eu vou embora, você fica.
_ Mas Su... vai ficar estranho você chegar sozinha... eu não quero
que você vá. Me dê uma hora, só uma, vai!
_ E eu vou fazer o quê?
_ O Léo é um cara legal, converse um pouco com ele, não custa,
vai!
_ Letícia... eu...
_ Por favor! Faz isso por mim!
_ Mas é só uma hora!
_ Valeu, amiga! - dizendo isso Letícia pegou Suzana pelo braço e
foi ao encontro dos rapazes.
Letícia cumprimentou Leonardo e Daniel com um beijo no rosto,
Suzana falou um discreto “oi” para os dois e em seguida Letícia e
Daniel se afastaram. Por um momento Leonardo ficou sem saber
o que dizer, pois Suzana estava com uma expressão que não o
encorajava, mas ele sabia que tinha que fazer alguma coisa para
quebrar o gelo; ele era um rapaz bem extrovertido, mas diante dela
não estava conseguindo pensar direito.
_ É... nós temos uma hora, o que você gostaria de fazer?
Suzana gostaria de dizer: “ Quero fugir de você”. Mas como isso
seria muito embaraçoso, ela disse simplesmente:
_ Eu quero ver uns livros- e em seguida foi até a megastore que
ela conhecia muito bem, pois estavam no mesmo shopping onde
ela trabalhava.
_ Tudo bem- respondeu Leonardo seguindo-a.
Suzana entrou na loja e começou a procurar um livro, Leonardo se
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aproximou dela.
_ Olha, Leonardo, você não precisa ficar aqui comigo, pode fazer
outra coisa que depois eu ligo pra Letícia.
_ Nem pensar, eu não vou me afastar de você e adorei ouvir o meu
nome na sua boca, foi a primeira vez e eu …
_ Vamos deixar as coisas bem claras- começou Suzana em um tom
nada amigável apesar de manter a voz bem baixa- eu não quero
conversar com você, não estou interessada em conhecê-lo... só
estou aqui porque a Letícia me pediu, só por isso, então...
_ Calma, eu falei alguma coisa errada?
_ Eu já falei que não quero...
_ Suzana, qual o problema com você? Eu só gostaria de conhecê-
la melhor, ser seu amigo.
_ Eu não quero ser sua amiga... eu não sei o que você está
pretendendo, mas...
_ Nossa, como você é direta.
_ É melhor assim - dizendo isso Suzana voltou a olhar para os
livros.
Leonardo ficou sem saber o que fazer, era uma situação bem
desconfortável; permaneceu dentro da loja mas manteve uma certa
distância de Suzana que continuava muito interessada nos livros.
Após quase uma hora, ela pagou pelo livro que havia escolhido e
ligou para Letícia informando o local em que estava. Enquanto
esperavam por Daniel e Letícia, os dois permaneceram em
silêncio; Suzana aproveitou para começar a leitura do livro,
Leonardo observava o movimento do shopping e às vezes olhava
para Suzana, bem discretamente.
_ Demoramos? - perguntou Letícia ao se aproximar.
_ Vamos embora? - perguntou Suzana apressadamente.
_ Embora? Vamos comer! Estou morrendo de fome, você não? -
quis saber Letícia.
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_ Eu prefiro ir embora.
_ Nem pensar, Suzana! Vamos comer.
Letícia puxou Suzana para levá-la à praça de alimentação.
Resolveram comer pizza. Daniel e Letícia conversavam
animadamente, mas Suzana e Leonardo ficaram em silêncio quase
que o tempo todo, Letícia logo percebeu que o clima entre eles
não estava nada bom.
_ Agora sim podemos ir! - anunciou Letícia- Léo, você dá uma
carona pra o Daniel, ele preferiu vir sem carro só para poder voltar
juntinho comigo, ele não é um amor?
_ Beleza! Mas logo, logo, você vai poder levá-la para casa,
Daniel! - disse Leonardo.
_ Assim eu espero.
A última coisa que Suzana queria naquela noite era sentar-se ao
lado de Leonardo no carro, mas ela não ia ser chata ao ponto de
separar um casal apaixonado. Sentiu-se extremamente
desconfortável por estar tão próxima dele, ficou o caminho todo
olhando para o lado oposto e não disse uma palavra durante todo
o percurso; Leonardo dirigiu calado a maior parte do tempo, só
quebrava o silêncio quando Letícia ou Daniel faziam algum
comentário que o envolvia.
Depois que deixaram Daniel, Letícia tentou descobrir o que estava
acontecendo entre os dois, mas percebeu que não iria obter
sucesso, o clima estava tenso, então ela resolveu esperar para
perguntar ao amigo.
Ao descer do carro, Suzana disse um quase inaudível boa noite e
saiu rapidamente. Letícia aproveitou para questionar Leonardo.
_ O que aconteceu entre vocês? Não me diga que tentou beijá-la?
_ Não viaja, Leca! Beijá-la? Se eu fizesse isso acho que ela me
mataria!
_ Que exagero! Mas o que aconteceu?
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_ Nada! Nem sei dizer... ela quis ver uns livros eu a acompanhei,
ela me falou que eu não precisava ficar ali... e... sei lá, depois ela
falou que não queria ser meu amigo.
_ Só isso? Léo, você fez alguma coisa... não é possível, o que você
disse pra ela?
_ Olha, a única coisa que eu disse...bom... não é nada demais...
_Fala.
_Ela disse o meu nome e eu gostei, uma bobagem, sabe? Eu gostei
de ouvir o meu nome na boca dela e mencionei isso.
_ Léo, eu não disse que era pra você ir devagar?
_ Mais devagar do que isso?
_ A Suzana é … diferente, é isso! Já desanimou?
_ Não! Mas eu fiquei tão sem graça! Você acredita?
_ Meu amigo! Eu preciso entrar, mas valeu! Não fica triste.
Leonardo se despediu da amiga e durante o caminho para casa
continuou pensando em Suzana; ele havia esperado com tanta
ansiedade por aquele encontro que fora um verdadeiro fiasco. Mas
ele não iria desistir, o desafio estava apenas começando.
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
enquanto dizia:
_ Minha, você é minha! Só minha!
Suzana acordou muito assustada, começou a chorar bem baixinho
e dizer:
_Será que isso nunca vai acabar? Será que eu não vou me livrar
disso? Meu Deus! Meu Deus!
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Capítulo 5 -R.E.M.A.
Regina estava muito preocupada com a filha, como era difícil
convencê-la a se alimentar melhor. Paula sempre dizia que não
estava com fome e quando olhava-se no espelho sempre
reclamava da aparência. Nos últimos dias sua obsessão pela
magreza havia aumentado, pois estava aguardando ser chamada
para realizar umas fotos.
_ Paula, você precisa estudar, ocupar a mente com algo produtivo,
filha eu acho que...
_ Não acredito! Você vai começar com essa história novamente?
Eu já disse mil vezes que não vou para a faculdade, pelo menos
por enquanto. Tenho outras prioridades, mãe.
_ Qual? Ficar doente por falta de nutrientes em seu corpo?
_ Que drama! Quem vai ficar doente? Sabe qual é o problema de
vocês? Sempre acham que os filhos precisam comer mais.
_ Você está comendo como um passarinho.
_ Mãe, entenda uma coisa de uma vez por todas: eu preciso
perder 5 quilos! Preciso muito perder 5 quilos! Este é o meu
objetivo e por favor não me atrapalhe!
_ Você sempre precisa perder 5 quilos! Se você emagrecer tudo
isso você vai ficar doente, filha!
_ Que papo chato, olha... eu não ia para a reunião da REMA, mas
pra não precisar ouvir esses absurdos...
_ Vai ser bom você se encontrar com os jovens da igreja.
Paula estava se referindo a um trabalho especial que o líder de
jovens da IGAG, Mateus, havia criado. A REMA: rede melhores
amigos, era realizada há dois anos, desde que ele havia assumido a
liderança. Funcionava assim: era realizado um sorteio entre todos
os jovens que iriam participar; cada jovem pegava um papel onde
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
estaria escrito o nome do grupo que ele iria fazer parte durante os
próximos três meses; cada grupo era formado por 8 jovens e um
casal de líderes. Uma das regras da rede era que cada grupo
deveria se encontrar uma vez por semana e o encontro precisaria
durar uma hora pelo menos. Outra regra: todos os membros do
grupo deveria ter o número de telefone um do outro e também
saber o endereço de cada um, para que caso algum participante
faltasse pudesse ser contactado. Se algum jovem percebesse algum
problema com um membro do grupo também teria a liberdade de
entrar em contato para conversar e tentar ajudar de alguma
maneira. A REMA existia justamente para promover a união e a
integração entre os jovens. Naquele sábado seria o primeiro
encontro do grupo que Paula pertencia, o Alfa, que seria liderado
pelo casal: Jônatas e Jessica. O líder havia marcado uma rápida
reunião na IGAG para depois saírem.
Leonardo e Letícia também iriam fazer parte do mesmo grupo, era
a primeira vez que isso acontecia.
Apesar da maioria dos jovens ter muitos compromissos durante a
semana com os estudos e o trabalho, a REMA era um sucesso
entre eles; todos se esforçavam para participar dos compromissos
que eram sempre combinados antes para não ocorrer problemas
com a agenda de cada um.
_ Oi, Léo! Só vim porque você faz parte do mesmo grupo que eu!-
disse Paula assim que se aproximou de Leonardo que já estava
esperando o início da reunião do grupo Alfa.
_ Paulinha, minha linda! Você está bem?
_ Estou legal! Só espero que não inventem algum programa que
envolva uma porção de calorias!
_ Você e as calorias não se entendem mesmo, né?
_ É só elas ficarem bem longe de mim - comentou Paulinha para
em seguida cumprimentar o líder do grupo que havia chegado- Oi,
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Jônatas!
_ Olá! Paz queridos! Estão animados? - perguntou Jônatas.
_ Tudo depende de você, líder. - disse Paula.
_Que responsabilidade, Jô! - foram as palavras de Leonardo.
_ Pois é! Quem está faltando ?
_ Acho que só a Letícia e a Kátia – disse Leonardo.
_Vamos esperar mais um pouquinho... nem vai ser preciso...
-constatou Jônatas ao ver Letícia que veio com Suzana.
_ Que vergonha! Vocês só estavam esperando por nós duas? -
perguntou Letícia.
_ Tudo bem, vocês estão dentro do horário - disse Jessica, a
esposa de Jônatas.
Letícia cumprimentou todos os participantes do grupo e
aproveitou para apresentar Suzana. Como Letícia sempre
cumprimentava os amigos com um beijo ela precisou fazer o
mesmo, ficou sem jeito quando se aproximou de Leonardo, mas
seria muito estranho se ela o evitasse, assim Suzana também deu
um beijo no rosto dele, era a primeira vez que eles ficavam tão
próximos um do outro, o coração dos dois disparou e Suzana
corou.
Jônatas iniciou a reunião com uma oração, em seguida agradeceu
a participação de todos e aproveitou para fazer uma explicação
que julgou necessária.
_ Eu preciso explicar para vocês o motivo da ausência da Kátia
em nosso grupo. Ela agora pertence ao grupo Ágape e por quê? É
o seguinte: a Letícia me procurou para saber se seria possível que
a amiga dela, Suzana, fizesse parte do mesmo grupo que ela, pois
é a primeira vez que Suzana vai participar da REMA. Como ela
ainda não conhece o pessoal daqui seria melhor as duas estarem
juntas. Bom, eu concordei, mas vocês sabem que o grupo é
formado por 10 pessoas e aqui vale uma explicação: Por que dez?
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Capítulo 6 -Problemas
Paulo Reis teria uma semana muito agitada. Os compromissos
para pregar já se iniciava em plena segunda-feira, o que provocou
uma séria discussão com a esposa.
_ Que maravilha, Paulo! Então, hoje à tarde você não vai ficar
cuidando da loja? É claro, as pessoas estão esperando pelo grande
pregador! - disse Regina com ironia.
_ Regina, cuidado! Isso é jeito de falar?
_ Me desculpe, querido! É que eu já fiquei a manhã inteira
ocupada organizando algumas coisas na loja e pensei que o meu
querido marido iria ficar lá à tarde. É que eu tenho pouco serviço
aqui em casa, sabe? Quase nada, pensei que poderia descansar -
ela continuou com a ironia.
_ Regina, eu não estou gostando nada do seu tom, fala direito
comigo! Eu passei a manhã inteira em oração e leitura da Palavra,
me preparando para o culto e você com os seus comentários
maldosos está atrapalhando tudo.
_ Me desculpe, grande pregador! Me desculpe por precisar de
você às vezes e não poder contar, me desculpe por ser sua esposa,
me desculpe por viver- ao dizer isso Regina desabou, começou a
chorar.
Paulo sabia muito bem usar as palavras certas em um sermão,
mas não conseguia se expressar quando o assunto envolvia
sentimentos. Saiu sem dizer nada para a esposa, que ainda ficou
por alguns minutos ali na sala de sua casa, em prantos. Voltou
após uma hora e encontrou a esposa deitada no sofá da sala.
_ Ainda está aí, Regina? Almoçou pelo menos? Eu já comi na rua-
informou Paulo.
_ Que consideração a sua, como você é sensível, Paulo! Olha, se
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Paulinha ouviu toda a conversa dos pais sem que eles percebessem
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não a filha dele. Que droga! Você sempre volta neste assunto
chato!
_ Teimosa. Come alguma coisa, por favor! Por mim.
_ Só se você me dar um beijo bem gostoso! - provocou Paula.
_Paula, sem brincadeira!
_ Quem disse que eu estou brincando? Eu deixo você me levar pra
jantar se você me beijar.
_ Isso é chantagem.
_Isso é carência... que custa? Você está sozinho, que eu sei... e eu
também... estou com saudades! Não seja mau.
_ Paula, o assunto mudou de uma maneira...
_ Você quer que eu me alimente e eu quero um beijo, você não
acha justo? Já imaginou a alegria da minha mãe ao saber que eu
jantei com você? Alegria em dose dupla: a filha dela resolveu
comer de verdade e em ótima companhia.
_ Você é tão esperta!
_ E aí? O que você me diz? Ou melhor, não precisa dizer nada... é
só... você sabe.
_ Você está falando sério? Paula, é melhor não.
_ Se eu desmaiar a culpa é toda sua.
_ Não faz isso.
_ Eu estou ficando tonta... não almocei hoje.
_Paula, para com isso.
_Que tontura... as coisas estão rodando... - ao dizer isso, Paula fez
que ia cair e Leonardo foi ampará-la, aproveitando que ele estava
próximo ela o beijou.
_ Que bom... eu tinha esquecido o quanto era gostoso.
_ Paula, isso não se faz … você se aproveitou da situação.
_ Você não quis, foi mesquinho...
_Mesquinho?
_É isso mesmo! E já que eu te beijei nós não vamos jantar.
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Naquela noite, Leonardo fez uma oração especial por Paulinha, ele
ficou muito preocupado com a amiga. Ele percebeu que todas as
vezes que a via ela estava mais magra e o pior é que sempre
Paulinha dizia o contrário. Ele achava muito estranho a atitude da
amiga, será que ela estava com uma daquelas doenças que afetam
as garotas que se preocupam demais com a aparência? Ele se
levantou e foi fazer uma rápida pesquisa pela internet. Digitou:
Bulimia e anorexia. Entrou em alguns sites que falavam sobre o
assunto e chegou a conclusão que a amiga apresentava sintomas
de anorexia.
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_ Espero que não, no outro dia eu estava torcendo pra isso, mas
agora … eu não vou impor a minha presença, se ela não me
suporta, o que eu posso fazer?
Letícia percebeu o quanto aquela situação estava machucando seu
amigo. Ele estava interessado em se aproximar de Suzana e ela
decidida a ficar bem longe dele.
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não precisa se preocupar pelo trabalho que ele vai ter, pois foi ele
mesmo quem se ofereceu... agora, quanto à Suzana, bem... aí eu
concordo que vai ser um problema convencê-la.
Marina prometeu que teria uma conversa com o marido e depois
falaria com a filha; aproveitou a oportunidade e pediu para
Letícia apresentar Leonardo para ela. Eles conversaram por
alguns minutos e Marina saiu muito impressionada com o rapaz,
achou-o muito educado e gostou da maneira como ele se referia à
Suzana. No caminho para o shopping, ela aproveitou para
conversar com o marido, pois eles iriam juntos buscar a filha
naquela noite e como o culto na IGAG terminava às 19h30, eles
teriam tempo de sobra para chegar até lá.
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sócio lá? Esse pessoal gosta de deixar tudo em família, por isso
não fique sonhando!
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_ Anemia? Para com isso, deve ser algum engano. Eu estou ótima,
foi só porque eu fiquei muito tempo esperando.
_Paula, por favor, me ajude! Você precisa aceitar o tratamento.
Filha, eu não quero te perder... - disse Regina com lágrimas nos
olhos.
_ Ih... que drama! Mãe, para com essas ideias, você vai me perder,
por quê? Você acha que eu vou morrer assim tão jovem? Eu estou
bem, os médicos são assim mesmo, eles sempre exageram.
Foram interrompidas por uma batida na porta.
_Posso entrar? - perguntou Paulo Reis ao colocar a cabeça na
porta semi-aberta.
_ Oi, pai, é claro que pode, mas já vou avisando que não quero
ouvir nenhum sermão. - ironizou Paula.
_ Oi, Regina, eu conversei com o médico, ela já sabe?
_ Já, eu contei para ela sobre a anemia profunda, mas ela não está
acreditando.
_Filha, como você pode ser assim tão irresponsável? Sai de casa
sem se alimentar direito, fica por horas em uma fila e...
_ Foi pra isso que o meu querido e amado pai, o pregador das
multidões, veio até aqui? Se a resposta for sim, pode sair... dá
licença... não quero ouvir essas baboseiras... caramba! Não
acredito nisso, que droga!
_ É assim que você fala com o seu pai? Será que não aprendeu
tudo o que nós te ensinamos?- disse Paulo Reis indignado.
_Paulo, não é hora e nem o lugar para esse tipo de conversa.- disse
Regina.
_ O que você me ensinou, pai? Bom... deixa eu pensar um pouco...
ah... lembrei: você me ensinou que é melhor se esconder dos
problemas do que enfrentá-los e uma boa viagem para pregar em
congressos é uma ótima saída. Faz a obra de Deus para todos
verem e admirarem o grande pregador, e de quebra se livra da
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me buscando no serviço?
_Eu acredito, a sua mãe estava tão preocupada...
_Eu me sinto tão mal... ela trabalha o dia inteiro e depois vai até lá
me buscar... mas não consigo convencê-la que não é necessário.
Na próxima semana, por exemplo, ela volta a trabalhar no período
noturno e aí o que ela vai fazer? E você deve saber da ideia
absurda dela, né? Aliás, tem um dedinho seu nesta história.
Dedinho? Uma mão inteira.
_ Eu? Nem imagino. Qual a ideia dela?
_ Você disfarça tão mal! Letícia, eu não vou aceitar que o
Leonardo me busque, não mesmo!
_ Por quê?
_ Não faz sentido algum! Absurdo total! Ele sair da casa dele
depois de um longo dia de trabalho só pra me buscar?
_ Mais absurdo é a sua mãe sair de casa e demorar uma hora e
meia para chegar e depois precisar voltar tudo de novo. Isso sim é
um absurdo. O Léo se ofereceu com a maior boa vontade. De
carro ele vai demorar uns 30 minutos.
_ Sem chance!
_Porque você é muito teimosa! Isso daria tranquilidade para sua
mãe e pouparia muito trabalho, concorda?
_ Já decidi. Eu vou encontrar outra solução, você vai ver.
Suzana foi para trabalho, não daria tempo para almoçar por isso
fez um lanche rápido. Naquela semana o seu dia de folga seria
domingo e o seu grupo participaria de um campeonato de boliche
contra o grupo de Sueli, iriam logo após o culto.
Quando chegou em casa naquela noite de terça-feira, junto com a
mãe que foi buscá-la apesar de todos os protestos, a vovó Vivi
estava esperando.
_ Vovó! Que bom tê-la aqui! Minha vovó querida, a senhora deve
estar cansada mas mesmo assim ficou me esperando...- disse
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Suzana ao abraçá-la.
_ Minha neta linda, você acha que eu ia esperar até amanhã para
dar um forte abraço e muitos beijos em você?
_Vovó linda! Isso é para senhora- ao dizer isso Suzana entregou
uma caixinha para a vovó Vivi.
_Obrigada! Mais não precisava gastar comigo.
_ Quando a senhora ver o que é, vai mudar de opinião.
_ Hum... tem razão! Precisava sim! - brincou a vovó- Você sabe
que chocolate é algo que eu não resisto.
_Eu sei vó. Agora, eu vou precisar de sua ajuda. Convença a
minha linda mãe que não precisa me buscar no serviço, por favor!
A senhora viu a hora que ela saiu daqui, não viu?
_ Eu não vou convencer a sua mãe de nada. É você quem eu
quero convencer. A Marina me explicou tudo e até me falou sobre
um rapaz que se ofereceu para buscá-la de carro, sua mãe me disse
que ele é um bom rapaz.
_ Vovó, até a senhora? Esqueça este assunto e me conte as
novidades. Como a tia Marli está?
Suzana conversou com a vovó Vivi até uma hora da manhã.
Como estava muito cansada adormeceu rapidamente.
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por você.
_ Obrigada, meu Léo. Agora eu só quero sair daqui e batalhar por
minha carreira, é isso.
_ Para se ter uma carreira é necessário ter saúde. Grave isso em
sua linda cabecinha loira.
_ O que você quis dizer com cabecinha loira? Olha o preconceito,
hein?
_ Preconceito, eu? Paulinha, porque você não volta à estudar?
_ Se liga, Léo! Nada a ver; você sabe muito bem que a minha mãe
sempre sonhou em ser veterinária e como não conseguiu passou
este sonho pra mim, mas o meu sonho é outro.
_ Eu gostaria que você sonhasse com um prato bem colorido,
cheio de legumes, arroz, feijão, filé de peito grelhado, saladas...
_ Dá um tempo, Léo! E isso seria um pesadelo.
_ Eu vou ter uma conversa com o dr. Romeu...
_ Para com isso, Léo. Eu vou sair daqui amanhã. Se liga, tá?
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onde existe uma distorção da imagem corporal, isso quer dizer que
a pessoa passa a se ver como gorda, mesmo estando abaixo do
peso. E por achar que está gorda recusa os alimentos. Uma pessoa
que sofre de anorexia, sempre diz que não está com fome, arruma
desculpas para não participar das refeições ou então sempre
inventa dietas absurdas.
_ Eu li que a pessoa pode ficar com sérios problemas psicológicos,
além dos físicos- explicou Renan- Depressão, síndrome do
pânico...
_ Eu li sobre isso também – foram as palavras de Willian- A
pessoa pode ter problemas cardíacos, anemia, como foi o caso da
Paulinha, atrofia muscular, insuficiência renal e... pode até morrer.
_ É um problema muito sério- iniciou Leonardo- Esta preocupação
exagerada com a beleza e todas essas exigências têm destruído o
sonho de muitas meninas. Elas querem brilhar e para isso fazem
qualquer sacrifício. Desejam ter o corpo perfeito, mas na verdade
estão acabando com a saúde. A Paulinha sonha em ser uma
modelo profissional e isso não é um problema, mas quando vira
uma obsessão, aí as coisas complicam. Vocês sabem que ela saiu
hoje do hospital e agora é que entra a parte mais difícil, ela precisa
seguir uma dieta especial e o médico foi bem claro que dessa vez
ela teve muita sorte, nós sabemos que foi a mão de Deus, mas o
doutor disse que se ela não obedecer fielmente à dieta dada por
ele, as consequências serão desastrosas, por isso, precisamos orar
muito e não perdê-la de vista.
_O Leonardo está certo- disse Jônatas- a Paulinha é nossa
prioridade máxima. Ela precisa sentir que nós a amamos muito e
que é muito especial para todos nós e principalmente para Deus.
Ela tem muito valor e precisa saber urgentemente disso.
Queridos, é muito perigoso quando nós damos muito valor à
algumas coisas e desprezamos outras. O equilíbrio é importante
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_ Su, parece que você não ouviu uma só palavra do que eu disse.
Eu não falei que foi coisa da Paulinha, que ela simulou uma
tontura para ele se aproximar?
_ Eu entendi. Mas e daí? Não estou nem aí para a vida amorosa do
Leonardo.
_ Eu, hein? O que deu em você?
_ Vamos mudar de assunto? Vocês vão visitar a Paula amanhã à
noite, né?
_ É isso mesmo. Pena que você não possa ir com a gente.
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quero mais mentir para as minhas colegas, mas também não quero
dizer que eu nunca fui beijada, isso não... então, a única solução
que eu encontrei depois de quebrar a cabeça foi...é... pedir para o
meu amigão... me beijar.
_ O quê? É brincadeira, né?
_ Léo, quem melhor que você? Eu tenho vergonha, já pensou se
algum menino resolve me beijar? Ele vai perceber logo que eu não
sei como fazer... e aí as minhas colegas vão...
_Letícia, se as meninas te contarem que não são mais virgens você
vai querer... você está me entendendo, não está?
_ Eu sei o que você quer dizer, mas é claro que não, Léo! É só um
beijo... é uma coisa normal.
_ Leca, essas coisas são assim, daqui a pouco elas vão começar a
fazer pressão sobre isso também e aí você vai se desesperar? Não
entra nessa, amiga!
_ Não é isso, Léo. É que eu quero dar meu primeiro beijo, eu estou
ansiosa... se fosse com você seria perfeito. Eu não quero que algo
tão especial de repente se transforme em algo ridiculo por causa
de algum menino idiota! Eu sei que você não riria de mim.
_Lê, se o cara gostar de você, com certeza não vai rir.
_Por favor! Faça isso por sua amiga!
_Você só tem 15 anos, o meu primeiro beijo foi quando eu tinha
16 anos, eu não sou tão experiente assim. Vou te contar um
segredo: foi com uma menina de 18 anos e a iniciativa foi dela.
Esquece esse assunto. Se eu a beijasse seria muito estranho
depois.
_Por favor!
Por vários dias Letícia continuou com o mesmo pedido e
Leonardo com a mesma resposta. Um dia eles foram ao cinema
juntos. Era uma comédia romântica. Letícia estava assistindo com
muito interesse quando, de repente, Leonardo se aproxima dela e
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sabe! Porque nisso, com certeza, você não vai poder contar
comigo!
_ Engraçadinho!
Depois daquela conversa o relacionamento dos dois voltou à
normalidade. Eram os dois melhores amigos novamente.
“ A Suzana não pode sequer imaginar que foi o Léo que me beijou
pela primeira vez. Ela não vai acreditar que foi a única vez e
também não vai entender que foi um grande favor que o Léo me
fez” - pensou Letícia após terminar sua viagem ao passado.
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_Está bem. Ela ficou muito feliz com a visita. Foi bem legal, nós
cantamos muito. Eu comprei um livro para ela... tem uma sacola
lá trás, você pode pegar para dar uma olhada.
_ É melhor não, deve estar embrulhado para presente e...
_Pode abrir, eu vou fazer uma dedicatória.
Suzana pegou a sacola, abriu o pacote e leu o título do livro: “ A
Ditadura da Beleza e a Revolução das Mulheres”2
_É um romance que conta a história de Sarah; ela é uma menina
de 16 anos que é muito infeliz apesar de ser rica e ter uma
carreira de sucesso, ela é modelo profissional. Sarah tem um sério
problema de relacionamento com a mãe e sofre muita pressão por
causa do padrão de beleza imposto pelo mundo da moda e ainda
por cima os pais dela são divorciados. Em um momento de
desespero ela tenta acabar com a própria vida. Felizmente ela se
recupera e a mãe procura um psiquiatra chamado Marco Polo.
Sarah, depois de resistir ao tratamento, começa a aceitar e aprende
com o sábio psiquiatra, o verdadeiro valor da vida. É muito
interessante.
_ Eu já li alguns livros deste autor. Marco Polo? Será que é o
mesmo do livro “O futuro da humanidade?”3
_ É ele mesmo; eu também li. No “ O futuro da humanidade”,
Marco Polo é um estudante ainda e no livro que eu comprei para
Paulinha ele já é um psiquiatra bem sucedido, lembra do poeta?
Qual o nome dele mesmo?
_ Falcão. - lembrou Suzana.
_É isso mesmo, Falcão. Ele também aparece no “ A ditadura da
Beleza”.
_Que legal, deve ser bem interessante mesmo.
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Quem é Sandra?
_Mãe, a Sandra é a minha vizinha, ela é mãe da Letícia. Ela sonha
em ter o Leonardo como genro - explicou Marisa.
_ Ela sonha... mas se o Leonardo estiver sonhando com a Suzana,
o que ela pode fazer? - disse vovó Vivi.
_Vó, que história é essa? Vamos parar com este assunto?
_ Eu quero que você ligue para ele e o convide para vir aqui
domingo à tarde tomar um café comigo. Eu vou preparar umas
bolachinhas de nata e um bolo cremoso de fubá e mais algumas
delícias.
_Vovó, por favor, não faça isso - pediu Suzana.
_ Suzana, que coisa feia! O rapaz é tão gentil e você não vai me
deixar agradecer? Ligue para ele.
_Tá bom, vó! Amanhã eu ligo.
_ Eu estou tão feliz por você ter dito sim ao meu convite- dizia
Leonardo- você não imagina o quanto eu tenho pensado em você.
_ Leonardo, eu também tenho pensado muito em você.
_Como é bom ouvir isso.
Leonardo se aproximou bem devagar e acariciou levemente os
cabelos de Suzana, deslizou a mão para o rosto dela e com os
dedos sentia a maciez da pele dela. Suzana estava com os olhos
fixos nos dele. O momento era perfeito... quando... de repente...
um homem se aproximou e puxou Leonardo com violência. Ele
começou a dar socos e dizer:
_ O que você está pensando? Acha que pode ficar com ela? Pois
eu digo que não pode! Olhe bem para mim rapaz, eu digo que
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você não pode ficar com ela e sabe por quê? Porque ela é minha!
Está entendendo? Ela é minha!
_ Não faça isso... não o machuque - gritava Suzana desesperada.
_ Você não quer que eu o machuque? Por quê? Olhe bem pra ele,
pois será a última vez que você o verá! A última! - ao dizer isso o
homem deu um chute próximo ao estômago de Leonardo, que
ficou gemendo no chão.
_Não, não... por favor, não faça isso... não....
Suzana acordou com os próprios gritos, eram cinco horas da
manhã. Olhou em volta e ficou aliviada por não ser real e também
pela vó não estar dormindo ali naquela noite.
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olhos verdes, o que era raro, pois na maioria das vezes ela
desviava o olhar rapidamente, era como se tudo o mais não
existisse, como se o tempo parasse.
_Leonardo? Filho? Ei! - era Lígia tentando chamar a atenção do
filho que estava sonhando acordado sentado à mesa do café da
manhã.
_O quê? Aconteceu alguma coisa?
_Onde você estava?
_Eu? Aqui, eu acordei e vim tomar o café da manhã.
_Não estava … Leonardo, você estava pensando em quem?
_Mãe, para com isso! Bom dia! É assim que as pessoas civilizadas
se cumprimentam e a senhora não vai beijar o seu filho?
_Bom dia e eu não vou só beijar, vou abraçar também, meu lindo
filho. Mas em quem você estava pensando? - insistiu.
_ Dra. Lígia, que tal nós tomarmos um belo café?
_ Não vai me contar... tá bom! E como a Paulinha está? O pai
dela estava lá?
_Ela está bem e o Paulo Reis não estava.
_ É óbvio! A Regina foi até a clínica ontem, ela estava com um
problema em um dente, e ela me disse que o Paulo ia pregar em
um congresso. Ela está bem chateada porque o marido não para
em casa mesmo com o problema da filha.
_ Ah, mãe, o Paulo Reis ama pregar.
_Ama mais do que a própria família.
_Mãe, pegou pesado!
_É verdade, a Regina é quem disse isso, eu só estou repetindo.
Leonardo, você não está pensando em voltar a namorar a
Paulinha, está?
_É claro que não! Mãe...
_Vai saber! Eu gostaria muito de entender por que você e a Letícia
não namoram?
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Capítulo 11 -Conversando
Paula olhou-se no espelho e pensou: “ Como eu estou gorda! Essa
história de alimentar-se bem está acabando com o meu corpo, se
eu continuar com isso não vou conseguir voltar ao peso ideal... eu
preciso dar um jeito nisso... mas com a mamãe pegando no meu pé
como é que eu vou fazer? “
_ Filha? Filha? O almoço está na mesa! - anunciou Regina.
Almoçou para satisfazer a vontade da mãe, mas, assim que ficou
sozinha foi atéo banheiro e provocou o vômito.
“ É isso mesmo que eu vou fazer- pensou- é a única solução!”
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despedir.
_ Já que os seus pais não estão, eu vou embora... isso é pra você –
disse ele entregando o presente para Paula.
_ Pra mim? Obrigada! Vou abrir... ah, que gracinha! Só você
mesmo, Léo! “ A ditadura da Beleza...”, legal.
_Você promete que vai ler? Responda, minha linda!
_ Ah... eu... prometo, quer dizer... eu... Léo você sabe que eu não
sou muito chegada à leitura e... esse assunto... já vi tudo!
_Por favor, faz isso por mim! Paulinha, você está se alimentando
direito?
_Estou, Léo! É uma droga... mas o que eu posso fazer? Minha
mãe “tá” de marcação, mas olha pra mim... olhou? Percebeu o
estrago?
_Percebi que você está linda! Se continuar assim vai se recuperar
rapidamente.
_ Quem quer recuperar peso? Diz pra mim? Qual mulher em seu
juízo perfeito gostaria de recuperar o peso perdido? Conhece
alguma?
_ O que está em jogo aqui é a sua saúde, nunca se esqueça disso.
Eu vou ser um pouco duro agora, mas acho que é necessário. Do
que vai adiantar ter um corpinho de modelo dentro de um caixão,
hein? A única vantagem é que vai ser bem mais fácil carregá-la.
_Léo! Que horror! Isso é coisa pra dizer? Caramba, agora você
exagerou... pisou feio!
_ É a verdade! Para de se preocupar com a estética e pense em
você. Entendeu? Pense na pessoa que está aí dentro... você é
especial do jeito que é. As crianças da igreja cantam: “ Aos olhos
do pai, você é uma obra-prima, que Ele planejou, com suas
próprias mãos pintou...”- lembra? A seguir Leonardo continuou
cantando:“ Você é linda demais, perfeita aos olhos do pai, alguém
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estava satisfeita.
_ Estava deliciosa, o pessoal caprichou- comentou Daniel.
_Concordo com você, que tal nós darmos uma voltinha por aí? -
sugeriu Letícia- Você se importa, Suzana?
_É claro que não.
Leonardo e Suzana ficaram a sós e em silêncio por um breve
momento.
_Tem certeza que não quer mais um pedacinho? - perguntou
Leonardo.
_ Tenho sim, obrigada.
_ E a sua vó?
_ Está toda animada com os preparativos de amanhã.
_Diz pra ela que não precisa se incomodar, pode ser só um
cafezinho mesmo e...
_Você não conhece a minha vó. Pega leve no almoço, porque com
certeza ela vai preparar um banquete.
_Não quero dar trabalho.
_ Ela adora, desde que chegou tomou conta da cozinha.
_ Deve ser muito bom tê-la por perto, né?
_Ela é maravilhosa! Vamos fazer de tudo para que ela fique mais
tempo aqui... e os seus avós?
_Os pais da minha mãe moram em Fortaleza, o irmão mais velho
dela mudou-se por causa do trabalho e os levou também. Eles
vêm aqui uma vez por ano e nós passamos as férias lá. É um lugar
maravilhoso! Meu avô paterno já faleceu e a minha avó mora em
Santa Catarina, ela casou-se novamente. E os seus avós paternos?
_ Também moram em Belo Horizonte, mas detestam viajar. Vovô
Samuel tem 77 anos e a vovó Diva tem 75 anos.
_ Legal! A sua tia Marisa não tem filhos?
_ Não. Com a minha tia estava tudo certo, os médicos sempre
diziam que ela tinha todas as condições para engravidar, uma vez
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_ Eu acho que não é bem isso, ela tem certeza que eles não vão
notar.
_ Eu vou procurar a Vitória e pedir que ela te leve para casa.
_ Você tem algum compromisso?
_Compromisso, eu? Não, vou direto para casa... por quê?
_ Por que a Vitória precisa me levar? Você não...
_ Eu? Eu posso levá-la e quero, é que eu pensei que você … sei
lá... você deve estar pensando que eu combinei com a Lê, olha,
não foi nada disso.
_ Eu não pensei isso, se você puder me deixar em casa, eu
agradeço.
_É claro que eu posso, você quer ir agora?
_Quero, por favor.
Leonardo ficou muito surpreso com a atitude de Suzana, na
verdade, ela o havia surpreendido várias vezes naquela noite. Eles
conversaram como dois amigos e a maior parte do tempo ela
esteve descontraída, nem parecia a mesma garota desconfiada e
distante. Durante o caminho para casa, eles continuaram
conversando. Suzana aproveitou a oportunidade e perguntou por
Paulinha, quis saber se ela havia gostado do livro.
_ Não sei se ela vai ler, eu estou muito preocupado... a Paulinha
continua com as mesmas ideias, eu até falei para ela voltar a
estudar. Ela ia fazer faculdade de veterinária e mudou de ideia
para seguir a carreira de modelo.
_ Tomara que ela se recupere de verdade... seria ótimo se ela fosse
para a faculdade, a Paula precisa ocupar a mente com outras
coisas... precisa parar de se preocupar tanto com a aparência.
_ Eu tenho a impressão que você é bem tranquila com relação a
sua aparência, não é?
_O que você quer dizer com isso?
_ Espera um pouco, eu não fui claro, eu acho que você não é do
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tipo que fica toda preocupada com isso... sei lá... não que eu pense
que você não liga para sua aparência, ou que você não esteja em
boa forma, não é isso, mas é que eu vejo que você não exagera na
maquiagem, por exemplo, a sua é bem suave e eu gosto disso...
hoje, por exemplo, eu até comentei com a Leca que você estava
ainda mais linda, não sei... você tem uma beleza natural... me
desculpe.
Enquanto Leonardo se atrapalhava todo para explicar sobre a
beleza de Suzana, ela permaneceu em silêncio, mas não desviou
os olhos dele.
_Boa noite, Leonardo e obrigada pela carona.
_Dê um abraço na sua vó por mim. Boa noite.
Leonardo foi para casa pensando em como ele havia se
atrapalhado para falar com Suzana sobre a aparência dela. “ O que
foi aquilo?” - pensou alto.
Suzana também pensou muito nas palavras de Leonardo, ela
precisou reconhecer que havia gostado de conversar com ele
naquela noite. Pensou tanto nele que até sonhou que os dois
estavam em frente à casa dela conversando bem amigavelmente,
quando, de repente, ela ouviu um estrondo e a seguir Leonardo
caiu no chão todo ensanguentado. Suzana se desesperou e gritou
pedindo socorro.
_ Ele está morto! Não adianta pedir ajuda, ele está morto, acabou!
Você pensava mesmo que poderia pertencer a outro? Não
aprendeu ainda que você é minha?
_Não! Alguém me ajude! Por favor! Leonardo! Leonardo! Não,
não, não...
_Querida? Suzana? Você está bem? - perguntou vovó Vivi.
_Ele morreu! Ele morreu! A culpa é minha... - dizia Suzana.
_Suzana, foi só um sonho, está tudo bem.
_Vó?- perguntou Suzana ainda confusa- Foi horrível!
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claro que dou graças pelo alimento que nos tem dado. Oro em
nome de seu filho amado Jesus, amém.”
_ Podem se servir, fiquem à vontade – disse Marina.
_ Vovó, esse pão folhado é delicioso! Adorei! - elogiou Leonardo-
E o seu Davi?
_ Ele precisou levar o patrão para uma festa hoje- explicou
Marina- Esse serviço de motorista particular é assim.
_Leonardo, não fique tímido, sirva-se à vontade – pediu a vovó.
_Eu não estou tímido, pode ficar tranquila, eu me sinto bem à
vontade aqui com vocês... e parabéns, está tudo maravilhoso!
Após o café, vovó pegou algumas fotos.
_ Vó, ele não está interessado em ver fotos- disse Suzana.
_É claro que eu estou! Principalmente se tiver alguma foto sua
quando era bebê.
_Eu tenho sim, nesta foto aqui Suzana tinha 1 aninho.
_Que gracinha! E aqui? - perguntou Leonardo ao ver outra foto.
_Aqui ela tinha uns 5 anos, não era uma princesinha?
_Era uma princesinha, agora é uma verdadeira princesa – o
comentário de Leonardo fez Suzana corar.
_Suzana, não precisa ficar com vergonha, ele tem toda a razão, a
minha neta é uma princesa.
_Vó, quer parar com isso? E a Sueli, hein? - perguntou Suzana
para deixar de ser o centro das atenções.
_Ela tinha uma reunião do grupo, é... qual o nome mesmo? -
perguntou Marina.
_Grupo Ágape. Hoje, depois do culto nós vamos participar de um
campeonato de boliche contra o grupo dela- anunciou Suzana.
Letícia e Suzana começaram a conversar sobre o campeonato de
boliche e os outros compromissos que teriam na próximas
semanas enquanto Leonardo e a vovó Vivi olhavam os álbuns de
fotografia.
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Leonardo aproveitou para fazer uma visita à irmã, pois sabia que
naquele dia ela havia comparecido a uma consulta de pré-natal.
_E então, como o bebê está?
_Está bem, graças a Deus. Estou mais tranquila agora. E a Paula
está melhor?- perguntou Beatriz.
_ Está na mesma. Ela conversou comigo hoje, está tão fraca, a voz
dela quase que não saía...
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fiquei arrasado.
_Ah, Léo, Deus ajude que ela fique bem. É tão jovem e bonita!
Essa loucura de querer ter o corpo perfeito... isso precisa mudar...
essas meninas fazem tanto sacrifício!
_ Eu espero que ela se recupere, é muita dor para uma mãe; como
é difícil ver o sofrimento da Regina!
_As mães querem a felicidade dos filhos, desejam que os sonhos
deles se tornem em realidade. De repente você vê o seu maior
tesouro em um hospital, com a vida por um fio, abala a estrutura
de qualquer um. E você se alimentou direito, hoje?
_Não estava com fome... comi pouco no almoço.
_Então você vai jantar aqui, o Bruno já deve estar chegando.
Leonardo aceitou o convite da irmã. Bruno, como Beatriz havia
previsto, logo se juntou a eles. Às nove horas e quinze minutos,
ele saiu para buscar Suzana. Ficou esperando por ela durante uns
20 minutos. Ao vê-la se aproximar, seu coração acelerou... era
difícil disfarçar os sentimentos que ela provocava nele, era uma
sensação maravilhosa saber que ela estava se aproximando e que
eles sairiam dali juntos e melhor ainda: Suzana havia ligado para
ele e sabia que ele estaria esperando por ela.
_Oi, Leonardo, esperou muito?
_ Só um pouco, por você eu esperaria o quanto fosse preciso.
O comentário dele deixou Suzana sem reação, ela não estava
esperando algo tão direto, por isso ele mesmo precisou desfazer o
constrangimento.
_ Eu vi sua mãe hoje lá no hospital.
_É mesmo? E como a Paula está?
_Na mesma. Bom, ela conversou um pouco. Ela está muito fraca,
a voz saiu com muita dificuldade. Ela queria se desculpar, fez
questão de me dizer que não leu o livro que eu dei... é melhor nós
irmos até o carro.
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na recepção.
_Como ela passou a noite? - perguntou Leonardo.
_Dormiu a maior parte do tempo, graças a Deus. Posso considerar
que foi uma noite tranquila. O médico me disse que ela está
reagindo bem, está bastante otimista, bem diferente do dia
anterior.
_Que boa notícia, Regina. E o Paulo?
_Ele está lá com ela, chegou ontem à noite. Ficou uma fera, disse
que eu deveria ter avisado.
_Regina, ele está certo. Ele é o pai dela, os problemas que vocês
dois estão enfrentando precisa ficar em segundo plano, pelo
menos por enquanto.
_Ah, você está certo.
_Agora eu vou trabalhar, mas eu volto à tarde para vê-la, diz isso
pra Paulinha.
_Eu digo, sim. Eu agradeço todo o seu carinho, eu sei que você é
muito especial pra ela. A Paula o admira muito.
Antes de chegar ao estacionamento do hospital, o celular de
Leonardo tocou.
_Leca?
_Me desculpe ligar tão cedo, mas eu precisava falar com você. E
a Paulinha?
Leonardo deu a boa notícia para Letícia.
_ Que ótimo! Léo, ontem a minha mãe veio com uma história...
bom, ela acha que nós dois estamos namorando escondido.
_A minha mãe comentou isso comigo também.
_Léo, você não está entendendo, ela cismou com isso. Eu ia falar
com eles, domingo, mas...
_Lê, eu acho que agora é a hora certa. Ela está desconfiada porque
você tem se encontrado com o Daniel, não é?
_É isso mesmo, só que ela acha que é com você. A sua mãe tem
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uma parcela de culpa, nesta história. Ela disse que você está muito
misterioso. Acontece que os nossos horários estão coincidindo. A
sua mãe acha que você não foi participar de um café especial
naquele domingo e a minha também não, elas pensam que nós
dois inventamos isso. É mole? Contamos a verdade e elas não
acreditam. Para completar, ontem eu saí com o Daniel e você foi
buscar a Suzana. A imaginação delas está correndo solta... hoje no
café da manhã a minha mãe me deu um abraço e disse: “ Como
eu esperei por este dia! ”
_Mães! Por isso mesmo você deve esclarecer tudo.
_Agora que eu estou com mais receio ainda. Você não ouviu a
minha mãe. “ Filha, eu estou tão feliz, não estou entendendo o
porquê de tanto mistério, mas se vocês querem assim! Eu sei que é
muita pressão em cima de vocês dois, mas é porque nós queremos
o melhor. Como eu pedi a Deus que vocês se decidissem! ” Léo, o
pior é que ela não me ouve, eu digo que ela está confundindo tudo
e é como se eu não dissesse nada.
_Calma, Lê. Mas eu continuo com a opinião de que você deve
esclarecer tudo o mais rápido possível. Esta situação é muito
injusta para o Daniel.
_Ah, meu amigo! Eu preciso desligar, eu estou com tanto medo
da reação deles.
Letícia tinha todos os motivos para ter medo da reação dos pais. A
notícia de seu namoro cairia como uma bomba, principalmente
para sua mãe.
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queria sair dali, mas sabia que não era uma boa ideia, pois ele a
seguiria, pensou em voltar para a loja, mas os seus pés não
obedeciam.
_Vamos, boneca! Eu vou levá-la comigo, você não vai mais ficar
sozinha... não mesmo.
Suzana não conseguia responder, queria dizer que estava
esperando por alguém, mas as palavras não saíam, uma sensação
terrível de pânico começou a tomar conta dela, e se ele mostrasse
uma arma e a obrigasse a acompanhá-lo? Ela não iria, nem que ele
ameaçasse atirar nela, ela não iria a nenhum lugar com ele,
preferia morrer ali.
O homem se aproximou mais um pouco e disse:
_Vamos, minha bonequinha... estamos perdendo tempo aqui, há
tantas coisas boas para se fazer! Eu quero ficar sozinho com você
e...
_Desculpe a demora, estava tudo parado por causa de um
acidente- disse Leonardo ao se aproximar, em seguida colocou o
braço no ombro de Suzana.
O homem se afastou rapidamente. Suzana ainda estava sem
nenhuma reação.
_Ei, está tudo bem agora, eu vi de longe que ele a estava
incomodando. Me desculpe o atraso. Suzana?
_Eu... preciso sentar.
_Vem comigo, isso... aqui – disse Leonardo ao se aproximarem de
um banco- Calma, está tudo bem... eu saí cedo, mas foi como eu
disse, o trânsito estava terrível...eu sinto muito.
_Eu...estou bem. Agora, eu estou bem. Que bom que você
chegou... eu estava apavorada!- confessou Suzana.
_Suzana... aquele sujo, falou alguma coisa...
_Ele só dizia que queria me acompanhar e levar pra algum lugar,
sei lá... eu fiquei com medo, na verdade eu fiquei paralisada de
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
tanto medo.
Leonardo se aproximou e ia abraçá-la para que se sentisse
protegida, mas Suzana se afastou. Ele percebeu que ela sempre
fugia de qualquer contato físico.
_ Já dá para você andar? Podemos ir para o carro?
_ Podemos, sim.
_ É melhor você me esperar dentro da loja- disse Leonardo ao
entrarem no carro.
_Não é necessário.
_Por quê? Você não quer que alguém da loja me veja?
_Não é isso, espero em frente à loja, está bom assim?
_Tudo bem. Eu vou sair mais cedo ainda, não quero te fazer
esperar novamente.
_Leonardo, você já está me fazendo um grande favor, não precisa
sair mais cedo...
_Eu prefiro esperar por você do que correr o risco de acontecer
algo semelhante novamente.
_Não conte isso pra ninguém, tá?
_Você não vai dizer para os seus pais?
_Não, é claro que não. Eles já se preocupam muito comigo, não
precisam de mais um motivo.
_Tudo bem, eu não conto, vai ser mais um segredinho nosso.
Outro dia você chorou depois que eu mostrei o bouquet, eu não
entendi nada, não sei se você ficou emocionada por causa do
presente ou ...eu acho que foi por outra coisa, mas não sei explicar.
_Vamos esquecer tudo isso? Leonardo, amanhã é o meu dia de
folga.
_Que pena! Quer dizer que ótimo, pra você!
_Amanhã tem uma reunião na casa do Jônatas.
_Que bom! Pensei que não teria a oportunidade de ver o seu lindo
rosto.
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mundo, se ...
_Leonardo, é melhor você parar com isso.
_Agora, eu vou falar tudo... você não vai me impedir.
_Pare com isso, não estrague tudo.
_Relaxa, eu estava só brincando com você. Eu sei que você já
esgotou a sua cota de emoções hoje. Vamos conversar
amenidades. Vamos começar com este livro- disse ele apontando
para o livro que Suzana estava segurando- Qual é o nome dele?
_Orgulho e preconceito5.
_Hum... e ele fala sobre o quê?
_É um romance inglês. Fala sobre o julgamento que fazemos das
pessoas pelo fato delas terem dinheiro ou não, ocuparem uma alta
posição na sociedade ou não. É bem interessante.
Suzana deu mais alguns detalhes sobre o livro e poucos minutos
depois Leonardo estacionou o carro em frente à casa dela.
_Está muito cansada, hoje? - perguntou Leonardo enquanto
Suzana abria o portão.
_Um pouco, tem algum motivo pra me perguntar isso?
_Tenho. Você por acaso gostaria de receber uma ligação mais
tarde?
Suzana ficou calada por alguns segundos. A garota do celular
queria dizer que sim, a Suzana cheia de receios e medos queria
dizer que não. Por fim disse:
_Você acha que deveria me ligar?
Suzana entrou e fechou o portão sem olhar para Leonardo.
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você.
Leonardo ficou mais alguns minutos fazendo companhia à amiga,
ao sair do quarto dela, encontrou-se com Regina no corredor.
_ Regina, eu queria mesmo falar com você. Eu posso te pedir um
favor?
_Claro, Leonardo! Depois de toda a força que você …
_Regina, não precisa mencionar isso, eu estou aqui porque a
Paulinha é uma amiga muito querida. Eu sei bem que não é nada
educado se envolver em problemas de casais, mas este caso é
especial, eu faço isso por ela. Por favor, Regina, espere que ela se
recupere, depois você e o Paulo se acertam. Ela sofre muito com
esta situação. Ela precisa ser poupada agora. É momento de vocês
esquecerem as diferenças e se unirem pelo bem da filha de vocês.
Eu não vou pedir desculpas por isso. Amanhã eu volto.
_Leonardo, você tem toda a razão, eu vou me esforçar. Obrigada.
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deixou tudo por minha conta e risco, mas depois ocupou o celular
só para não falar comigo.
_Você tentou ligar, ontem? - perguntou Suzana, surpresa.
_Claro que sim. Mas você...
_A Letícia me ligou, ela estava precisando conversar.
_Ah, foi ela quem ligou! Gostei de saber, mas sobre isso eu
converso com a Suzana, amanhã, hoje eu quero falar com a garota
do celular, pode chamá-la?
_O que você quer com ela?
_ Eu quero continuar uma conversa que eu comecei com a Suzana
e ela me cortou, eu acho que a garota do celular vai me ouvir.
_Leonardo, eu...
_Eu disse para a Suzana que gostaria de assumir um namoro, mas
não com a Letícia...
_Leonardo, eu acho melhor você não falar...
_Eu estou conversando com a garota do celular, com a Suzana eu
falo amanhã. Desde a primeira vez que eu …
_Leonardo!
_Naquele dia, quando eu fui comprar um presente para minha
mãe, eu olhei pra você eu nunca mais fui o mesmo, eu voltei
algumas vezes e depois sumi porque fiquei com vergonha, me
senti ridículo, mas eu queria muito vê-la novamente, quando eu vi
você conversando com a Letícia na igreja quase não acreditei.
Você estava tão perto e eu nem sabia. Suzana, tenho que dizer
que eu estou...
_Leonardo, eu acho melhor você parar, por favor!
_Amanhã eu não vou falar sobre isso, a menos que a Suzana
queira, mas hoje, como eu estou conversando com a garota do
celular, eu vou continuar... eu tenho que dizer que... estou
apaixonado por você. É isso, eu estou completamente apaixonado
por você.
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Foi difícil para Suzana se concentrar no trabalho, tanto por não ter
dormido direito como por não conseguir parar de pensar nas
palavras de Leonardo. Passou a maior parte do tempo em silêncio,
entregue aos pensamentos.
_Nossa, como você está calada hoje! Aconteceu alguma coisa?
Você está doente?- perguntou Cláudia.
_Me desculpe, Cláudia, não estou em meu melhor dia.
_Isso deu pra notar. Mas qual o motivo? Conta, vai!? É por causa
de algum gatinho?
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_Hoje estou muito cansada. O pior é que desde cedo que eu estou
assim.
_Não dormiu bem?
_Não. Foi uma longa noite...
_Suzana, foi por minha culpa?
_Leonardo, não estou gostando do rumo que esta conversa está
tomando...
_Tudo bem, esqueça.
_Sabe os livros que você comprou pra mim? Você poderia trazê-
los?
_Claro, até que enfim você... o que significa isso? - perguntou
Leonardo ao ver que Suzana estava lhe dando dinheiro.
_São R$185,00. Foi isso que você pagou, certo?
_Era muito bom pra ser verdade! Por que você simplesmente não
aceita como um presente?
_Eu não vou discutir isso com você. - disse colocando o dinheiro
no porta luvas.
_Tudo bem, amanhã você estará com eles nas suas mãos. Você é
inacreditável! Eu já entendi, você está me castigando por ontem,
não é? Eu sei que ontem eu acabei me empolgando e cometi uma
falta grave, fui íntimo demais, não é? Exagerei. Mas, pode ficar
tranquila, eu não vou mais dizer que estou apaixonado por você,
aliás eu nem sei por que eu disse...
_Leonardo, para com isso! Eu não estou te castigando, eu já tinha
pensado nisso há alguns dias, eu preciso dos livros, mas estava
sem o dinheiro, foi isso, não tem nada a ver com o que você disse
ontem.
_Por que você tem tanto medo? Por que é tudo tão difícil com
você? Você foge do quê?
_Eu disse que se fosse para ter este tipo de conversa …
_Eu sei, tudo bem. Eu não vou falar mais sobre isso. Acho que é
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_Suzana, esse rapaz só quer te fazer feliz, por que você não
permite isso? Seja feliz!
_Vó... minha vó linda, eu não sei o que fazer.
_Seja feliz, é simples assim. Não tenha medo do sentimento que
está dentro de você, é algo lindo e puro.
_ Puro? Onde está a pureza?
_Suzana, não confunda as coisas, você precisa deixar que Deus te
cure. Permita que as feridas cicatrizem. Está na hora de você ser
feliz e o Leonardo é o rapaz certo para isso.
_Vó... vamos parar com esse assunto, por favor! Meg...
aqui...isso... agora você vai dormir e eu também. Boa noite, Meg-
disse Suzana colocando-a de volta na gaiola.
_Vai ligar pra ele?
_Não, vó, eu prefiro falar pessoalmente.
_Oi, filha! Que presente, hein?- disse Davi ao se aproximar da
filha.
_Oi, pai! É um belo presente- respondeu Suzana dando um beijo
em seu pai- Agora eu vou tomar banho.
Em seu quarto, Suzana começou a pensar em sua última conversa
com Leonardo: “ Como ele ficou chateado por eu ter pago pelos
livros! Agora dá pra entender, ele havia deixado um presente aqui
pra mim e eu pagando pelo outro! Leonardo, Leonardo, você
precisava ser tão maravilhoso? Precisava ser tão gentil? Você tinha
que ser lindo e encantador? E eu tinha que me apaixonar? Eu não
posso viver esse amor, sei que vou sofrer, mas é melhor assim,
principalmente pra ele. O Leonardo merece alguém sem traumas,
sem um passado triste e terrível como o meu.
Enquanto isso, em sua casa, Leonardo estava pensando em
Suzana: “ É tão difícil entendê-la! Ao mesmo tempo que ela
demonstra que gosta da minha companhia, ela foge. Parece que
ela tem medo que eu queira algo mais do que uma amizade e é
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exatamente isso que eu quero, mas parece que ela também quer. É
tudo tão confuso! Se amanhã ela aparecer com dinheiro nas mãos,
eu não vou aceitar. Não vou mesmo. Ah, Suzana, o que você tem
de linda tem de complicada!”
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ama: pregar.
_Acho que é melhor mudar de assunto- sugeriu Leonardo.
_Eu vou deixá-los a sós.
_Às vezes eu acho que eles nunca vão se entender- foi o
comentário de Paulinha assim que a mãe saiu.
_Não pense isso. Agora o importante é a sua saúde, ter esse tipo de
pensamento não vai ajudar. E aí, você está precisando de alguma
coisa?
_Eu “tô” precisando de carinho, será que você pode me ajudar?-
pediu Paula cheia de dengo.
_É claro que eu posso- respondeu Leonardo para em seguida se
posicionar ao lado dela- será que vou arranjar problema se me
sentar na sua cama?
_É claro que não, senta aqui.
Leonardo sentou-se e começou a acariciar os cabelos de Paula e
com a outra mão segurou uma das mãos dela.
_Você está tão cheiroso, pena que eu estou horrível...
_“ Aos olhos do Pai, você é uma obra-prima que Ele planejou,
com suas próprias mãos pintou, a cor de sua pele, os seus cabelos
desenhou, cada detalhe, com um toque de amor...”7 - cantou
Leonardo.
_Você é um sonho... mas me conta as novidades do grupo Alfa;
ontem a Jessica e o Jônatas estiveram aqui, mas eles só falaram
por cima, quero saber dos detalhes... mas não precisa parar de me
fazer carinho, é tão bom!
Leonardo passou a manhã e o início da tarde com Paulinha;
Regina aproveitou para resolver algumas pendências da loja, já
que Paulo Reis estaria muito ocupado durante todo o dia se
preparando para o sermão da noite.
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_Ela não pediu pra você dar um sumiço no prato dela, né?
_Suzana fazendo piadinhas?
_Parece piada, mas não é. O assunto é muito sério. Eu queria saber
se o pedido dela tinha alguma coisa a ver com a alimentação.
_Não e nem se tivesse, eu nunca a ajudaria nisso. Ela me pediu
algo que eu gostaria... eu vou falar mesmo que você fique um mês
sem me dirigir a palavra. Eu gostaria que você me fizesse um
pedido igual.
_Leonardo!
_Ela me pediu carinho.
Suzana não disse uma palavra mas continuou olhando para
Leonardo.
_Calma, não fique com esta carinha de espanto; quer que eu
demonstre?
_É claro que não!
_Você não confia em mim? O que você está pensando que eu fiz?
_Não estou pensando nada.
_Confie em mim, afinal eu estava em um hospital com uma garota
frágil e indefesa. Me deixe demonstrar. Suzana, você não confia
em mim?
_Confio, mas...
_ Se existe um “mas” é porque você não confia.
_Leonardo, você é …
_Convincente?
_Persistente! Tudo bem, pode demonstrar.
_E convincente. Eu só me aproximei dela e fiz isso- Leonardo
ficou bem próximo e começou a acariciar os cabelos de Suzana,
enquanto isso ela ficou imóvel olhando fixamente para ele,
permaneceram assim por alguns segundos, até que Leonardo tocou
levemente em uma das mãos dela e em seguida suas mãos
entrelaçaram-se. Suzana ainda olhava para ele. Por alguns
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_Dá pra você prolongar o caminho? Preciso falar com você- disse
Suzana surpreendendo Leonardo.
_ Vamos dar um passeio pela cidade.
_Leonardo... é... o problema não está em você, está em mim. Você
não precisa se desculpar. A única pessoa culpada aqui sou eu por
não conseguir agir com naturalidade diante de algo tão normal, eu
não sei se estou me expressando direito, não sei se você está
compreendendo, mas, ah... o que é fácil para a maioria das
garotas para mim é muito complicado. Eu gostaria que tudo fosse
diferente, você é muito especial, é tão gentil e eu gosto muito da
sua companhia.
_Eu não quero que você se afaste de mim, que me impeça de
buscá-la. Eu prometo que vou me comportar. Não quero que pense
que entre mim e a Paulinha...
_Tudo bem, eu entendi, você é amigo dela e isso é ótimo. Dá para
perceber que ela gosta muito de você e que o admira também.
Fique tranquilo, eu não pensei que você se aproveitou da
situação.
_É que tem aquela história do beijo na padaria e você pode querer
ligar os pontinhos e...
_Não. Pode ficar tranquilo.
_Eu tinha que fazer uma gracinha! Você nunca mais vai me
convidar pra sair.
_Não fale assim. Você está enganado e para provar isso eu te
convido para almoçar na minha casa domingo. Na verdade, este
convite não é só meu, é que a minha vó pediu para convidá-lo.
_Domingo você entra cedo no serviço, não é?
_Eu saio às duas horas. Você me busca e depois almoça em casa.
_Você me surpreende. Só que tem um problema, domingo à tarde
o Daniel vai conversar com os pais da Letícia e eu não gostaria de
estar tão perto. A Sandra está confundindo tudo, você sabe.
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Marque um outro dia com a sua vó. Mesmo assim eu vou buscá-la
e se você concordar nós podemos almoçar juntos, lá no shopping
mesmo. O que você acha?
_Tudo bem, estamos combinados. Eu espero que dê tudo certo
para Lê e o Daniel. E agora, que tal você me levar para minha
casa?
Em dez minutos, estavam em frente à casa de Suzana.
_Eu já ia me esquecendo- disse Leonardo pegando uma sacola no
banco de trás- Seus livros, afinal você pagou por eles, e... espera
um pouco... isso... R$1,50, é o seu troco.
_Meu troco? Você é pior do que eu! Ah...amanhã o meu pai vai me
buscar, o patrão resolveu dar uma folga pra ele. Então você pode
aproveitar a noite de sábado.
_Sem você? Impossível.
_Você não tem jeito mesmo. Boa noite.
_Espera um pouquinho... olha só o que eu estou lendo- dizendo
isso Leonardo mostrou um livro para ela.
_O quê? Você está lendo “Orgulho e Preconceito”?
_Para você ver o quanto eu me interesso por você. Confesso que
não é uma leitura muito fácil, mas você tinha razão é bem
interessante. Vou ler mais um pouco e depois nós conversamos
sobre “ Elizabeth e Mr. Darcy”, ok?
_Você é... é …
_Nossa, valeu a pena comprar o livro, eu até a deixei sem fala!
_Engraçadinho! Boa noite.
Enquanto Suzana abria o portão, um carro parou e Letícia saiu
dele.
_Oi, Lê. Era o Daniel ?- perguntou Leonardo apontando para o
carro que havia saído.
_Oi, Léo, Suzana. Era a Vitória. Saímos juntos, eu e o Daniel, ela
e o Renan.
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Capítulo 17 -Decepção
Leonardo e Letícia encontraram-se no corredor, quando estavam
se dirigindo para suas classes da escola bíblica, naquela linda
manhã de domingo.
_E aí, amiga? Tudo certo para a grande revelação?
_Ah, meu amigo, estou tão ansiosa! Nem dormi direito.
_Fique calma, “lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque
ele tem cuidado de vós.”8
_Tem razão. Acho que nunca orei tanto como nestes últimos dias.
sexta-feira a minha mãe ficou toda animada, não adiantou eu dizer
que nós não havíamos saído juntos, ela simplesmente não me
ouviu. Ela está tão certa que você vai lá em casa hoje à tarde que
fez um banquete, com tudo o que ela sabe que você gosta.
_Hum... acho que vou dar uma passadinha lá!
_Léo, não brinque com isso!
_Tudo bem, eu não vou, mas guarda alguma coisa pra mim, tá?
_Só você mesmo... e aí, o que está acontecendo entre você e a
minha amiga?
_É muito complicado, nem sei explicar. Quando parece que
estamos evoluindo, de repente tudo volta à estaca zero. Eu acho
que a Suzana teve algum problema muito sério no passado, deve
ter acontecido algo, eu não sei, eu percebo que os pais e a vó se
preocupam muito com ela. Um dia, conversando com o Jônatas,
ele me disse que às vezes nós temos dificuldade em entregar para
Deus certos assuntos em oração, e são coisas importantes, que nos
preocupam muito, mas pensamos que dá para resolver sozinho,
que não é algo para falar com Deus, então eu percebi que era
justamente isso que eu estava fazendo. Mas eu mudei, agora eu
8 1 Pedro 5.7
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Após o almoço, Sandra ligou para Lígia, ela estava muito ansiosa,
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pois Letícia havia saído para almoçar fora e ela queria muito saber
se ela e Leonardo estariam juntos.
_Hoje é o grande dia, Lígia. O Leonardo almoçou com vocês?
_Não, ele saiu. Por que você quer saber isso?
_A Letícia também saiu para almoçar fora, eles devem estar
chegando aqui, já são quase quatro horas!
_Sandra, eu não sei não, se o Leonardo fosse oficializar o namoro
hoje, eu saberia, você não acha?
_Eles estão fazendo um mistério, não sei o porquê, mas tudo bem,
eu não ligo, estou tão feliz!
_Sandra, cuidado, você pode ter uma decepção!
_Decepção? Tenho certeza que não. Amiga, finalmente aqueles
dois resolveram se acertar. Agora eu vou desligar. Acho que eles
chegaram. Beijo, tchau.
Letícia entrou com Daniel na sala de estar. Fernando estava lendo
jornal e Sandra terminando de arrumar a mesa na sala de jantar.
_Oi, pai! Nós precisamos conversar com o senhor e a mamãe-
começou Letícia.
_Boa tarde, seu Fernando, tudo bem? - cumprimentou Daniel.
_Boa tarde, você é …
_É o Daniel, pai, ele é filho do irmão Isaque, da mecânica-
explicou Letícia.
_Ah... como o seu pai está?
_Está bem, obrigado.
_Filha, que bom que vocês chegaram, Leonardo olha só o que eu
fiz pa...- Sandra não terminou, ficou parada olhando para Daniel.
_Mãe, este é o Daniel. Ele quer falar com vocês.
_Sente-se, Daniel, fique à vontade- disse Fernando tentando
desfazer o constrangimento.
_Obrigado, bom...eu vou ser bem objetivo. Eu estou aqui para
pedir a permissão do senhor e da senhora para namorar a Letícia.
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_Adiar? Pai?
_Seu pai está certo, Letícia, eu vou embora, depois nós
conversamos. Você me acompanha até a porta?
_Tá... mas eu acho que isso não está certo!
_Boa tarde, seu Fernando e me desculpe...
_Você não precisa se desculpar, eu é que peço desculpas. Boa
tarde e mande um abraço para o seu pai.
Letícia acompanhou Daniel até o portão; estava inconsolável.
_Que absurdo! Eu imaginei que não seria fácil, mas... ela nem nos
deu a oportunidade de falar.
_Calma, meu amor, a sua mãe não estava esperando por mim. Foi
uma grande decepção para ela! Ela tinha certeza que veria um
rapaz alto, branco, de cabelos castanhos, chamado Leonardo.
_Isso não tem graça!
_Tenha paciência. É uma questão de tempo. Agora eu vou embora,
nos vemos na igreja- disse Daniel e em seguida despediram-se
com um beijo.
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_Oi, dona Marina, tudo bem com a senhora? Seu Davi, boa tarde.
_Oi, Leonardo, comigo tudo bem e como foi o almoço de vocês?
- perguntou Marina.
_ Foi ótimo, almoçar com uma princesa é uma honra – brincou
Leonardo.
_Eu concordo com você, a minha filha é uma princesa! - disse
Davi.
_Podem parar com isso?- pediu Suzana envergonhada- Olha a
Meg aqui, Leonardo.
_Oi, Meg, será que ela vem comigo? Ei... Meg... isso... vem aqui
menina!
_Ela é muito meiga... gostou de você.
_Agora ela quer a dona...eu não culpo você Meg, pode ir...
A calopsita ficou no ombro de Suzana recebendo afagos.
_Viu como ela é dengosa? - perguntou Suzana.
_ Eu nunca pensei que um dia iria desejar ser uma calopsita!
O comentário de Leonardo provocou risos em todos, menos em
Suzana que olhou para ele com olhar de reprovação.
_Uma calopsita macho, que constem nos altos! Meg sortuda!
_Aceita um café, Leonardo? - perguntou vovó Vivi ainda sorrindo.
_Aceito, vó. A Suzana me avisou que eu tenho um compromisso
no próximo domingo, é isso mesmo?
_Com certeza e você não pode faltar, vamos preparar um almoço
daqueles!
Depois de alguns minutos, Leonardo se despediu de todos, pois já
eram cinco e dez; teria poucos minutos para se arrumar e chegar
ao culto.
Lígia estava muito ansiosa para conversar com o filho, assim que
ele entrou, ela o interrogou:
_Leonardo, você sabia que a Letícia e o Daniel estão namorando?
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Tânia Gonzales
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
culto e ainda não creu em Jesus, abra o seu coração, creia que Ele
morreu na cruz para te salvar, para que você pudesse se reconciliar
com Deus, aceite o sacrifício de Jesus, pois crer Nele... é doce.
Louvemos.
_Depois de uma tarde amarga, o meu Daniel está mesmo
precisando cantar : Oh! Quão doce é crer em Cristo.”
_Calma, minha amiga. Tenha paciência, espere em Deus, Ele vai
acalmar o coração da sua mãe. Dê um tempo. Eu tenho certeza
que a Sandra vai adorar o Daniel.
_Você é tão otimista!
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Tânia Gonzales
vocês...
_Vamos falar sobre você e o Daniel.
_Do que você tanto tem medo? O Léo é …
_Pare com isso, Letícia! Eu não quero que você comece a
enumerar as qualidades do Leonardo. Esqueça... entre mim e o
Leonardo não vai existir nada além de uma amizade.
_Suzana, você não deveria ser tão taxativa. Não tenha medo de ser
feliz. Tenho certeza que você e o Léo...
_Chega! E aí, o que vocês pretendem fazer agora?
_Vamos precisar fazer algo que eu detesto: esperar. Preciso dar um
tempo para minha mãe, vocês estão certos. Mas, eu não vou
esperar muito tempo.
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
_E você concorda que ela namore com ele? Pois eu nunca vou
aceitar esse namoro. Você está me ouvindo, Fernando? Nunca.
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Capítulo 18 - Revelação
Aquela segunda-feira não foi fácil para Lígia, pois precisou ouvir
as queixas de Sandra sobre o namoro da filha.
_Lígia, você não concorda que eu fui traída? Até o seu filho me
traiu!
_Sandra, eu avisei que você poderia estar enganada à respeito da
Letícia e o Leonardo. Mas você com essa sua obsessão, nem me
deu ouvidos.
_Obsessão? É assim que você chama o meu desejo de ver os
nossos filhos juntos?
_Sandra, eu adoraria vê-los juntos, mas as coisas não são assim.
Eles têm direitos também. Nós devemos ajudá-los e orientá-los,
mas eles precisam de liberdade para escolher.
_Acontece que a Letícia não soube escolher. O Leonardo é o rapaz
perfeito e ela aparece com aquele... rapaz.
_Sandra, o Daniel é um bom rapaz. Ele trabalhou na mesma
empresa que o meu genro e o Bruno lamentou muito quando ele
pediu a conta para poder ajudar ao pai, você sabe que depois da
morte da esposa, o Isaque não conseguia fazer mais nada, a oficina
ficou parada e o Daniel precisou assumir tudo.
_É fácil dizer que ele é um bom rapaz, não é com a sua filha que
ele vai namorar! Eu não aceito esse namoro e ponto final.
_Não seja radical, Sandra. Dê uma oportunidade para ele. Espera
aí, não pode ser... será que o problema … não... acho que não.
_O que é Lígia?
_O que te incomoda no Daniel, Sandra, fale honestamente.
_O que me incomoda? O fato dele não se chamar Leonardo, o fato
dele não ser o Leonardo.
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
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Tânia Gonzales
assuntos?
_Eu fiz uma pergunta tão difícil assim?
_Leonardo, você é um amigo e eu quero que continue assim. Se
você estiver pensando que entre nós dois pode existir algo mais,
só está se iludindo.
_Você adora jogar balde de água fria em mim, não é?
_Não, eu adoro a verdade, é só isso.
_Pois, eu não vou perder as esperanças, eu sei que você sente algo
por mim, só não entendo por que você não deixa que esse
sentimento...
_Eu não quero conversar sobre isso... e a sua irmã, está bem?
_Está. Ontem nós fomos comer pizza na casa dela, quase que eu a
convidei, mas... você teria aceito o convite?
_Provavelmente não.
_Foi o que eu pensei. A princesa Suzana não iria se expor dessa
maneira.
_Acontece que seria muito estranho eu participar de um programa
com a sua família. Eles iriam pensar que...
_E você não gostaria que eles pensassem que entre nós...
_É claro que não! Pra quê? Não existe nada e nunca vai existir.
_Nunca? Você não deveria dizer isso. E se você for um presente
de Deus pra mim?
_Deus não faria isso com você. Leonardo, eu já disse uma vez,
mas vou repetir, o problema não está em você.
_Qual é o problema então? Suzana...
_Chegamos... obrigada pela carona.
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12 2 Samuel 13.2
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
errado, quando Amnom lhe contou, Jonadabe teve uma ideia; ele
diz para Amnom deitar na cama e se fingir de doente e ao receber
a visita do rei era para ele pedir que Tamar cuidasse dele, assim
os dois ficariam sozinhos. E foi assim que aconteceu; quando
Amnom ficou sozinho com Tamar pediu para que ela se deitasse
com ele, mas como ela negou, Amnom a forçou. Renan, leia o
versículo 15, por favor.
_” Depois, Amnom sentiu por ela grande aversão, e maior era a
aversão que sentiu por ela que o amor que ele lhe votara. Disse-lhe
Amnom: Levanta-te, vai-te embora.”
_Valeu, Renan. Vocês notaram que depois que Amnom conseguiu
o que queria, o sentimento por ela acabou? O que ele sentia por
ela?
_Atração física- respondeu Leonardo.
_É isso mesmo- concordou Jônatas- Nada além disso. Amnom só
queria satisfazer o seus desejos sexuais. Queria sentir prazer, só
isso. Depois que conseguiu, ele a desprezou. O amor não é assim.
O amor sabe esperar. Ele quer o bem da outra pessoa. Na primeira
carta do apóstolo Paulo aos Coríntios no capítulo 13 diz que o
amor “não procura os seus interesses”. O amor é muito diferente
de uma paixão que leva o outro ao desespero. Quantas histórias
vocês já ouviram de pessoas que abandonadas por seu amor se
desesperam; uns, por acharem que a vida já não vale mais nada, se
suicidam, outros, por ódio, matam a quem um dia chamou de
amor. Isso não é amor. É sentimento de posse; ela me pertence, ele
me pertence; se não vai ficar comigo, então com mais ninguém. O
filho de Davi provocou uma grande desgraça em sua família,
acabou sendo assassinado por Absalão, irmão de Tamar, que não
se conformou com o que ele fez. Tudo isso por causa de alguns
minutos de prazer. Jovens, vale a pena esperar. E cuidado com os
sentimentos, talvez aquilo que você acha que é amor, é somente
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_Isso não.
_Não, é claro que não. É muito fácil dizer: Eu, racista? De jeito
nenhum! Eu respeito todas as pessoas, eu as aceito, desde que
fiquem bem longe da minha filha.
_Você está indo longe demais... cuidado, eu sou sua mãe.
_Eu falei para o Leonardo, eu disse que eu estava com receio
justamente por isso... mas ele não, ele disse:” Que isso! Você acha
mesmo que os seus pais vão ter esse tipo de preconceito?”
_E ele estava certo, eu não tenho. Só não quero que você namore
com esse rapaz.
_Mãe, eu gosto do Daniel, dê uma chance para ele, conheça-o, por
mim.
_Eu sinto muito, mas não posso. Esqueça. Por quem o Leonardo
está apaixonado?
_Por que a senhora quer saber?
_Me conte, eu quero saber se ele soube escolher. É claro que para
escolher bem mesmo só se fosse você, mas...
_Para com isso. Não vou falar.
_Letícia, você está impossível! Você não quer falar porque não é
verdade, é isso!
_Agora eu sou mentirosa.
_Bem... quem é que estava saindo às escondidas? Agora, me
conte por quem ele está apaixonado?
_A senhora não vai desistir, não é? Pela Suzana.
_Suzana? A sobrinha da Marisa?
_É ela, quem mais?
_Nossa! Vocês estão brincando com a gente, só pode ser isso! A
Suzana? Aquela garota não tem nada a ver com ele. Vive de favor
nos fundos da casa da tia, é uma vendedora que trabalha em
shopping, o pai é um ex-presidiário...
_O quê? Mãe, que história é essa? O pai dela é um ex-presidiário?
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_Eu não deveria ter falado isso, esquece... vou deixar você dormir.
_Mãe, agora a senhora vai falar...
_Eu já disse para você esquecer, eu falei sem pensar, foi isso.
_Mãe, que absurdo! A Suzana é uma excelente pessoa, é
esforçada, está na faculdade, trabalha...eu não sabia que a minha
mãe era tão preconceituosa!
_Eu vou dormir, cansei desse assunto, mas tenho certeza que a
Lígia não vai ficar nada...
_ Agora vai se intrometer na vida do Leonardo também?
_Letícia, isso não é problema seu, pode deixar que eu me entendo
com a minha amiga. Boa noite.
Naquela noite foi difícil para Letícia dormir, não conseguia parar
de pensar nas palavras da sua mãe: “ O pai é um ex-presidiário”-
de onde que ela havia tirado isso?
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13 1 João 2.17
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
Deus, eu sou linda e preciosa aos olhos dele”; pois é isso mesmo
que você é, tenha certeza disso, amiga!
As duas se abraçaram e choraram muito. A visita de Júlia foi
realmente um presente muito especial para Paulinha.
Naquele mesmo dia Paula recebeu uma ótima notícia do dr.
Romeu, se a recuperação dela continuasse no mesmo ritmo ela
teria alta no início da próxima semana. O que ela não sabia e
também não deveria saber, era que os pais falavam até em
separação, a situação deles estava bem complicada, não
conseguiam manter um diálogo, pois sempre acabava em
discussão.
_Eu não aguento mais a sua indiferença, Paulo! Você não se
importa comigo, eu sei que você já não me ama mais.
_Como você é dramática, Regina! Pare de pensar só em você, a
nossa filha está internada e você falando esse tipo de coisa? Só
rindo!
_É, eu sei que faz tempo que eu virei um motivo de piada para
você!
_Pare com isso! Não suporto quando você fica aí choramingando.
_Você não me suporta, não é? As pessoas que adoram convidá-lo
para pregar e dar palestras sabem disso? É claro que não! Elas
pensam que o grande pregador Paulo Reis é um santo, acham que
ele é um excelente pai e um ótimo marido... coitados... estão sendo
enganados!
_Regina, eu já avisei para você que eu estou cansado de ouví-la
lamentar!Você é uma ingrata, é isso o que você é! Está sempre
insatisfeita, deveria sentir orgulho em ter um marido tão
respeitado e requisitado, mas não, isso pra você não tem a menor
importância. Estou cansado disso!
_Eu eu já me cansei faz tempo. Vamos resolver isso de uma vez
por todas, para que viver de aparências...
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nenhum.
_Que coisa chata.
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_O meu abraço... por que essa carinha brava? Hoje não tem
abraço? E se eu disser que estou precisando ser abraçado hoje, que
estou muito carente?
_Problema seu!
_Ué, o que você fez com a Suzana de ontem?
_Ela faltou hoje.
_Que pena. Eu gosto mais daquela, ela é mais feliz,
livre...corajosa e espontânea.
_O que você acha de irmos? Eles estão nos esperando para
almoçar, lembra?
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
fazer.
_Posso falar agora? - perguntou Davi- Acalmem-se! Estas
mulheres, são capazes de nos deixar malucos! Pois muito bem, eu
estou muito feliz e é claro que você tem a minha permissão para
namorar a minha filha. Você é um bom rapaz e tem demonstrado
que gosta muito da Suzana e a respeita também, o que é muito
importante. Só espero que vocês não exagerem no horário e que
tomem muito cuidado.
_Quanto a isso, o senhor pode ficar tranquilo, eu respeito muito a
sua filha e é claro que eu gosto muito dela e... é isso.
_Então, só temos que dar os parabéns ao novo casal de
namorados- disse vovó Vivi- Querida, estou tão feliz por você!- a
seguir abraçou Suzana- Leonardo, venha aqui me dar um abraço...
ganhei um novo neto.
_E eu ganhei uma vó linda e maravilhosa.
Ainda ficaram se confraternizando por alguns instantes, até que
Leonardo disse que precisava ir embora senão se atrasaria para o
culto. Suzana o acompanhou em silêncio até o portão.
_O que foi aquilo? - perguntou quebrando o silêncio.
_É assim que você chama o nosso namoro?
_Leonardo, como você pôde fazer isso comigo? Você se
aproveitou de uma situação... eu deveria ter sido consultada antes,
estou errada?
_Em circunstâncias normais, sim, mas...
_O quê? Leonardo você não pode decidir por nós dois, isso não é
correto!
_Eu sei qual seria a sua resposta se eu falasse com você antes.
Mas eu também sei que você gosta de mim, não pode negar isso,
eu já desconfiava e ontem tive a certeza.
_Ontem? Você tomou uma decisão dessas por causa de ontem?
Aquilo foi só...
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Tânia Gonzales
_Não sabe nem explicar, pois eu sei o que foi aquilo, foi o seu
coração me dizendo que você também está apaixonada por mim.
_Eu... você está...
_Eu estou o quê? Mentindo? Delirando? Viajando? Tenho certeza
que não. Se eu estiver errado, então me corrija, vamos, diga que
não sente o mesmo por mim, mas seja convincente!
_Pare com isso... eu não vou dizer nada.
_Não pode negar, é por isso que você não vai dizer nada.
_Eu não posso namorar você.
_Por que você não falou lá dentro? Quer voltar lá? Vamos...
_Não. Eu não tive coragem de dizer porque eles ficaram muito
felizes.
_Só por isso? Se foi só por isso nós vamos lá agora e eu vou me
desculpar e dizer que fui precipitado. Vamos?
_Leonardo... não.
_Então me diga que não foi só para não estragar a alegria deles,
me diga.
_Eu... por que você faz isso?
_Porque eu te amo, é só por isso. Diga.
_Não foi só por esse motivo... não foi só por eles, foi por você...
eu não queria magoá-lo.
_E por você? Diga.
_Também.
_Também? Fale claramente... fale... eu preciso ouvir.
_Eu também gosto de você... ah... mas não posso, você merece
alguém melhor do que eu.
_Isso sou eu quem decide. Eu quero você, Suzana, não quero
alguém melhor ou pior. Eu só quero você, é tão difícil entender
isso?
_Eu... não sei se consigo ser uma namorada pra você, eu já disse
mais de uma vez que o problema está em mim.
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
_Não entendo por que você diz estas coisas, mas quando você se
sentir à vontade para me contar eu estarei pronto para ouví-la.
_Eu não vou conseguir, eu tenho tanto medo...eu não sei … você
precisa de alguém que possa ser carinhosa e não alguém cheia de
receios e medos...
_Fique tranquila, eu espero até que você...
_Leonardo, você quer uma namorada que fique tremendo quando
você se aproxima e …
_ Não sei por que você tem dificuldade para se relacionar, eu sinto
que não é só por timidez... Suzana, ontem você me abraçou,
lembra? Não fique ansiosa, eu sei que você está preocupada com o
nosso primeiro beijo, não é? Não precisa ficar envergonhada, eu
vou esperar, não quero forçá-la e nem vou pegá-la de surpresa ...
fique tranquila, eu sou bem paciente. O importante é que eu sei
que você corresponde ao meu amor, é claro que à sua própria
maneira. Só peço uma coisa, que você me autorize a segurar na
sua mão, senão vai ficar estranho um casal de namorados que
mantêm distância um do outro. Agora eu preciso ir, eu volto daqui
a trinta minutos para buscá-la, afinal você agora é minha
namorada.
Leonardo se despediu de Suzana dando-lhe um beijo no rosto.
Poucos minutos antes das cinco e meia ele já estava de volta, para
buscá-la.
_Você está linda... vamos, eu tenho pouco tempo, a orquestra vai
tocar... e você nunca pensou em tocar algum instrumento?
_Eu já pensei em aprender a tocar violão, mas nunca tentei. Você
gosta muito de violino?
_Muito, tocar faz muito bem, é claro que é necessário se esforçar,
ter disciplina, mas pra mim é algo muito relaxante, que eu faço
com muito prazer. Você deveria experimentar, tenho certeza que
iria gostar, se quiser eu posso ser seu professor, só que tem que ser
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Tânia Gonzales
de violino.
_Eu agradeço, mas, por enquanto, não. Você falou com seus pais
sobre nós?
_Ainda não. A minha mãe notou que eu voltei mais feliz, você
acredita?
_É mesmo? Leonardo, como você consegue se contentar com tão
pouco? O que eu posso oferecer pra você? Quase nada.
_Suzana? E desde quando o amor pode ser considerado assim? Eu
amo estar com você, é tão difícil você entender isso? Depois
conversamos mais, agora vamos participar de um culto
maravilhoso, venha minha linda namorada.
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Capítulo 20 -Treinamento
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aproveitá-la.
_Pode ter certeza, aquela Paula maluca não vai ter vez! Eu sei que
não vai ser fácil, o doutor me explicou tudo muito bem, ele disse
que é muito perigoso, que para ter uma recaída é num piscar de
olhos. Eu tenho que ser monitorada, foi bem esta a palavra que ele
usou, o tempo todo, que a minha mãe precisa ficar de olho em
mim. Mas eu estou bem mais consciente agora, da outra vez eu
estava aqui no hospital pensando em como perder peso
rapidamente, maluquinha! Eu vou cuidar da minha saúde pode
ficar tranquilo, meu amigo lindo, meu gato! A sua amiga colocou
um pouco de juízo na cabecinha teimosa dela. Só estou
preocupada com os meus pais, eles estão tão estranhos! Quase
não se falam, eu acho que eles estão me escondendo alguma
coisa...
_Você não deve se preocupar com isso, o mais importante é a sua
saúde, provavelmente é só impressão sua, eles estão
preocupados com você. Ficar todos esses dias no hospital não foi
nada fácil para eles. Deve ser cansaço, é isso.
Duas horas depois da visita de Leonardo Paula saiu do hospital
com seus pais.
À noite, Leonardo foi buscar Suzana e contou sobre a saída de
Paulinha do hospital.
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
nunca vou...
_Calma... me escuta, eu pensei assim: eu vou fechar os meus
olhos, ficar imóvel, esperando que você me beije.
_Leonardo, se é esta a sua ideia eu sinto informar que...
_Espera... não seria um beijo daqueles... e sim um selinho. Eu
fico com os olhos fechados e totalmente parado, sem mexer um
músculo, as minhas mãos vão ficar em cima das minhas pernas, eu
não vou abraçá-la... você vai estar no controle. Se por acaso você
desejar que eu ... a beije, você aperta uma das minhas mãos. E aí?
_Ah... sinceramente eu não sei.
_Vamos tentar?
_E se eu... Leonardo... eu falei pra você que nós dois juntos não ia
dar certo. Você acha que já existiu algum casal de namorados com
esse tipo de conversa?
_Isso eu não sei e também não estou interessado em saber. Suzana,
somos só nós dois, eu acho que é uma boa ideia, tente... olha... vai
ser tudo de acordo com o seu ritmo, você vai estar no controle,
confie em mim, eu não vou me aproveitar da situação. Tudo vai
depender de você. Tente... por nós.
_Tudo bem, vou tentar.
_Então... vou fechar os olhos e esperar, é só isso que eu vou fazer.
Leonardo fechou os olhos e ficou imóvel esperando por Suzana,
que a princípio não teve qualquer reação... alguns segundos se
passaram e Suzana só olhava para ele sem conseguir sair do lugar.
“ Tente... por ele... coragem, isso não pode ser tão complicado, ele
está esperando... por que é tão difícil pra mim? É só encostar
meus lábios nos dele, é só isso... eu preciso, eu tenho que
conseguir... se alguém o visse assim acharia que ele está fazendo
um papel ridiculo e eu não consigo sair do lugar...”
Suzana foi se aproximando bem devagar, com o coração
disparado, ela tocou nos lábios dele com os dedos e depois chegou
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
Letícia passou uma semana bem complicada; sua mãe não lhe deu
trégua, aproveitou cada oportunidade para falar mal do
relacionamento dela com Daniel e também não poupou nem
Leonardo e muito menos Suzana.
_ Você e o Leonardo formam um par perfeito, mas vocês adoram
nos contrariar, não é mesmo?
_Mãe, deixe o Leonardo fora da nossa conversa.
_Ele teve a coragem de trocar uma menina linda, de boa família
como você, por aquela...
_Mãe, cuidado como fala da Suzana, ela é uma pessoa
maravilhosa.
_Sei... por que ela não se interessa pelo Daniel, hein? É claro que
não, ele não é um advogado, não tem uma boa família e...
_Mãe, para com isso... o Daniel tem uma família ótima. São
honestos, trabalham, são unidos e...
_E não conseguem chegar a lugar algum. O Daniel e a Suzana
formam um casal perfeito, assim como você e o Leonardo!
_Eu não sabia que a senhora era tão preconceituosa! Só dá para
descobrir esse tipo de coisa quando...
_Preconceituosa, não, eu sou realista e sincera. Por que mentir?
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Suzana sonhou com uma voz ameaçadora que dizia: “ Você nunca
vai conseguir, nunca! E sabe por quê? Porque você me pertence!
Ele não vai suportar isso por muito tempo e vai desistir de você,
mas eu nunca vou abandoná-la, nunca! Minha menina linda!
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Capítulo 21 - Aconselhamento
Leonardo acordou cedo, era uma linda manhã de sábado; havia
marcado com o pastor Pedro Gabriel de tomarem o café juntos,
por isso, às oito horas da manhã já estava tocando a campainha da
casa do pastor.
_Paz, meu querido, vamos tomar um belo café da manhã, me
acompanhe.
_Paz, pastor Pedro. E a primeira dama, como está?
_A Rute está muito bem, obrigado. Ela saiu para caminhar com
uma amiga dela.
_Pr. Pedro, eu sei o quanto é complicado falar sobre a vida dos
outros, mas eu faço isso pela Paulinha- começou Leonardo assim
que se acomodaram.
_Pode ficar à vontade, Leonardo. Fale tudo o que for necessário.
_É sobre o Paulo Reis e a Regina. Ela quer divorciar-se dele.
_É um assunto muito delicado; e justamente agora que a filha
precisa tanto dos dois!
_É isso o que mais me preocupa, ela pediu a minha ajuda, mas só
está desconfiada. Eu tive uma conversa com a Regina e ela não
teve nenhum receio em dar a notícia. O senhor poderia conversar
com eles, sem que...
_Fique tranquilo, eu dou um jeito nisso.
_Não sei se o senhor está disponível, mas... é o seguinte: Hoje à
noite o nosso grupo vai realizar uma reunião especial para tratar
do evento de missões e a Paulinha faz parte do grupo. Se o senhor
pudesse conversar com eles...
_Eu posso sim. Eu acho que sei o que vou fazer... vou convidá-los
para jantar, o que você acha?
_Excelente.
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Rute não perdeu tempo, assim que se viu sozinha com Regina,
iniciou uma conversa.
_Regina, eu percebi que você está muito triste, o que está
acontecendo? A Paulinha está se recuperando bem, não está?
_Está sim, graças a Deus; o problema é outro, eu não sei se devo
ocupá-la com ele.
_Pode se abrir comigo, Regina, eu estou aqui para ajudar.
_Rute, é um assunto muito delicado.
_Fique à vontade para falar.
_Eu... eu quero me separar do Paulo.
No escritório...
_Paulo, você está viajando muito ultimamente, não é?
_Estou sim, graças a Deus tenho muitos convites. Você sabe que
eu amo pregar.
_É... eu sei, Paulo. Mas será que este amor não está exagerado?
_Não entendi.
_Será que você ama mais o seu ministério do que a sua família?
_Pastor Pedro, o que é isso? Eu amo a minha família, é claro, mas
eu tenho que valorizar o dom que Deus me deu. Concorda?
_Sim, é claro. Mas, Paulo, seja bem sincero comigo, você tem
dedicado tempo à família?
_Bem... nem sempre é possível; preciso atender aos convites.
_Paulo, falar a palavra de Deus às pessoas é muito importante,
mas quando isso atrapalha o relacionamento familiar é necessário
parar um pouco e fazer uma análise. A união da família é muito
importante para Deus e para a igreja, pois ela é feita de famílias.
Paulo, quando os compromissos se avolumam e tomam todo o seu
tempo, alguma coisa está errada. Para um casal viver bem é
necessário companheirismo e comunhão, como ter isso estando
sempre ausente?
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Rute e Regina...
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_Querida, acalme-se, ninguém vai contar nada para ele, isso é algo
que só você pode decidir.
Vovó Vivi colocou a cabeça da neta em seu colo e ficou
acariciando os cabelos dela por um longo tempo.
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Capítulo 22 -Lúcia
Leonardo foi até a igreja para o ensaio da orquestra; conseguiu
participar do final da escola bíblica.
_Eu precisava tanto falar com você!- disse Letícia ao se
encontrarem após o término da escola bíblica.
_O que aconteceu, Leca?
_Léo, uma pessoa me procurou hoje, logo cedo, aqui na porta da
igreja.
_Que pessoa?
_É uma história bem esquisita, mas... eu tenho uma colega dos
tempos do colégio, é a Elisa, a mãe dela estudou com a minha mãe
também. Ela me procurou hoje acompanhada de uma senhora
chamada Rita, que tem uma filha de 19 anos. Bom...ela está
enfrentando sérios problemas com essa filha que não sai do
quarto, quase não se alimenta, não faz mais nada, além de ler,
assistir filmes românticos e escrever em um diário.
_E...
_É aqui que você entra na história...
_Eu?
_A Rita encontrou uma foto debaixo do travesseiro da filha e
como não reconheceu a pessoa da foto perguntou para a Elisa,
que é muito amiga da filha dela, e ela disse quem era a pessoa que
estava na foto.
_Letícia, desenrola isso logo, daqui a pouco vai começar o nosso
ensaio- disse Leonardo impaciente.
_Tá legal. A Elisa disse que o rapaz da foto se chamava...
Leonardo.
_O quê?
_É isso mesmo. A garota tem uma foto sua, bom... a Elisa disse
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interveio Letícia.
Parecia que Lúcia não podia ouví-la, pois continuou com o olhar
fixo em Leonardo esperando pela explicação dele.
_Ah... eu terminei a faculdade, era o meu último ano.
_Terminou sua missão? Não... não faça isso comigo, eu preciso
muito de você, preciso que você me proteja... que cuide de mim.
Por um breve momento, Leonardo pensou em abraçá-la e dizer
que estava tudo bem, que ela não precisava se preocupar, mas
resolveu ficar onde estava, era melhor agir com cautela, por não
saber qual seria a reação dela.
Lúcia, com o olhar fixo nele, continuava sentada em sua cama.
Leonardo não sabia o que dizer, por isso ficou em silêncio, sentiu
um grande alívio quando Rita voltou com a refeição da filha.
_Filha, veja que delícia, fiz o seu macarrão favorito- disse Rita.
A garota nem se mexeu, continuou olhando para Leonardo sem
dizer uma palavra.
_Lúcia, lembra do que nós combinamos? Você concordou em se
alimentar- falou Leonardo.
Ao ouví-lo, Lúcia levantou-se e pegou o prato das mãos de sua
mãe; começou a comer imediatamente, ali como estava, em pé.
_Sente-se, por favor- pediu Leonardo apontando para uma
delicada cadeira.
Próxima à cadeira havia uma pequena mesa, Lúcia colocou o
prato e reiniciou o almoço.
Rita não conteve as lágrimas pois há meses que não via a filha se
alimentando de verdade. Nos horários das refeições as duas
sempre discutiam muito, pois Lúcia dava só uma ou duas
garfadas e já afastava o prato dizendo estar sem fome.
Em poucos minutos o prato de Lúcia estava vazio.
_Obrigado, Lúcia, isso foi ótimo. Eu quero lhe propor um acordo-
começou Leonardo que durante os minutos em que acompanhou a
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matrimônio?“
Após o culto, vovó Vivi ficou observando os jovens que saíam na
esperança de ver Leonardo, de repente avistou Letícia.
_Minha querida! Você viu o Leonardo?
_Ele estava conversando com o pastor Pedro Gabriel. E a Suzana?
_Ela não veio hoje, estava com dor de cabeça.
Letícia conversou com vovó Vivi por mais alguns segundos e em
seguida despediu-se dela pois iria embora com o pai que seguia as
recomendações da esposa. Sandra o fez jurar que ficaria de olho
na filha.
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Suzana não contou para a sua família que o seu namoro havia
terminado, por isso foi para casa sozinha naquela noite de
segunda-feira. Estava torcendo para que ninguém a visse chegar e
foi exatamente isso que aconteceu. Ao entrar, cumprimentou o pai
que estava assistindo TV e foi para a cozinha onde encontrou a
mãe e a vovó Vivi. Conversou alguns minutos com elas, e a seguir
foi tomar um banho quente. Sentiu-se aliviada por conseguir
esconder a tristeza que invadia o seu coração e por não
perguntarem nada sobre o horário que ela chegou. No dia
seguinte ela estaria de folga do trabalho, iria aproveitar para fazer
uma visita à Paulinha.
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se afastar.
_Eu comi um lanche.
_Lanche? Me desculpe, só agora que eu pensei nisso. Você veio
direto da faculdade e...
_Não se preocupe. E você almoçou?
_Eu comi um pouco, estava sem apetite. Eu acho melhor levá-la
para casa, agora a minha mãe vai ficar lá com a Bia e é melhor
que as duas tenham um pouco de privacidade; não vai adiantar
ficarmos aqui. Sandra, quer uma carona?
_Eu vou esperar um pouco, quero ver a Beatriz- respondeu Sandra
que até então estava observando os dois conversarem.
Despediram dela rapidamente e saíram. Sandra ficou olhando para
os dois até desaparecerem de seu campo de visão. Muito lhe
desagradava ver Leonardo de braços dados com aquela garota.
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_Beatriz, você não tem que pedir perdão, querida, você não tem
culpa de nada.
_O Bruno estava tão feliz... ele casou com a pessoa errada. Eu
nem posso dar um filho para ele.
_Filha, não fale assim. O Bruno a ama tanto, ele ficaria muito
triste ao ouvir isso. Agora tente descansar. Eu vou ficar aqui bem
pertinho de você.
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que gostaria de fazer uma visita para Paulinha, ele a levou até a
casa dela.
_Eu vou deixar vocês duas conversando e dar um pulinho até em
casa para tomar um banho- avisou Leonardo- Daqui a pouco eu
volto para buscá-la.
_Tudo bem, eu espero.
_Tchau, Léo. Pode ir tranquilo, gato- disse Paulinha piscando para
ele, e assim que ele saiu disse: Não precisa ficar com ciúmes,
Suzana, eu adoro o Léo, mas infelizmente perdi a minha
oportunidade, agora ele é todo seu; pensa que eu não percebi o
jeito que ele olha pra você? Um olhar tão apaixonado! Você é
uma sortuda!
_Paulinha...
_Não precisa ficar com vergonha, e só peço uma coisa: não o
perca. Não faça como eu, que fui uma boba, eu sei que perdi
muito, ele é tudo de bom! Hum... tudo de bom! Pode crer. Eu
percebi que você não está gostando desse papo, tudo bem... eu
fiquei muito chateada com o que aconteceu com a Bia, é muito
triste, né? “Pô” como que foi acontecer isso?
_É um momento muito difícil para todos eles, a dona Lígia chegou
hoje de viagem e recebeu esta notícia tão triste!
_Poxa! É muito chato... o pior é ter coragem para ficar grávida de
novo, após três abortos!
Suzana e Paula continuaram conversando até que Leonardo
voltou.
_Se comportaram bem na minha ausência?
_É claro, “tá” pensando o quê? Você, hein? Como conseguiu
voltar mais lindo ainda?- brincou Paulinha.
_Que isso, são os teus olhos! Você é que está linda, aquela sua
cor rosada já voltou ... estou feliz por você estar seguindo
direitinho a dieta.
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_Eu estou, nossa... que alívio, estava me sentindo tão fraca, era
horrível! Mas, graças a Deus , aos amigos que ele me deu e é claro
à minha família, eu estou melhorando a cada dia. E você é o
principal culpado por eu estar assim- disse segurando na mão dele.
_Quero sempre ser culpado por isso.
_E depois eu quero ter uma conversa com você sobre aquele
assunto, “tá” , meu gato?... - disse Paula se referindo aos pais.
_Ah... tudo bem. Agora nós precisamos ir, fique com Deus, minha
linda.
_Tchau, Paula, fiquei muito feliz por vê-la tão bem- disse Suzana.
_Obrigada pela visita, vou acompanhá-los, a minha mãe vai ficar
muito triste por não vê-lo, gato, você sabe o quanto ela gosta de
você.
_Agora são oito horas, quer dar uma passada no hospital comigo?-
perguntou Leonardo ao entrarem no carro.
_Eu quero, quem sabe eu consigo ver a sua irmã dessa vez.
_Claro que sim. Mas, por causa do horário, só dá para ficarmos
um pouquinho.
_Você e a Paula...
_Que foi? Ficou com ciúmes?
_Não é isso... é que parece que vocês dois ainda não se
acostumaram com a ideia de que não são mais namorados...
_Por quê? O que fizemos de errado?
_Não... é só... nada, esquece.
_Que coisa mais fofa! Você com ciúmes fica ainda mais linda!
_Para com isso... é que é um tal de meu gato e de minha linda...
Ao ouvir isso, Leonardo riu com vontade.
_Você acha engraçado? Pois é isso mesmo.
_Que gostoso, você com ciúmes de mim! Adorei! Ei... não pense
isso... olha, é só nosso jeito de tratar um ao outro, mas não tem
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feliz. Ele estava doído para ser tio, mas não foi desta vez, o papai
do céu não quis... eu não sei o porquê, mas preciso aceitar a
vontade dele.
_Beatriz, Deus vai lhe dar forças para suportar... não sabemos as
respostas para todos os nossos porquês, mas mesmo assim
devemos confiar Nele.
_Você tem razão. Eu quero que você marque um dia para ir lá em
casa, tá? Amanhã eu já estarei lá, então combine com o Léo.
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ternura.
_Você tinha tanto medo e agora... viu só? Não havia motivo para
tanto receio. -disse Leonardo.
_ Eu não pensava que fosse tão...
_Tão?
_Tão maravilhoso! Tão bom e...
_ Não precisa ficar com vergonha de mim, diga.
_E... gostoso- ao dizer esta palavra, Suzana desviou o olhar.
_Minha princesa, você tem razão, é maravilhoso, bom, gostoso,
especial e eu estava ansioso por beijá-la! Seus lábios são doces,
meu amor.
_Eu... tinha tanto medo, eu fiz você esperar e...
_Valeu a pena esperar, como valeu!
_Você é tão compreensivo! Eu quero agradecer por...
_Suzana, você não vai me agradecer... isso não.
_Mas, eu preciso; Leonardo, quando eu estou com você tudo
parece ser mais fácil... você é tão gentil e atencioso comigo, antes
de conhecê-lo eu tinha a certeza de não querer me relacionar com
ninguém, por um motivo que eu não gostaria de contar, é algo
muito doloroso para mim. Mas, você com seu jeito especial, me
conquistou.
_Agora você me deixou sem opção, vou precisar beijá-la, as suas
lindas palavras é que provocaram isso.
_Eu não vou reclamar.
Se beijaram novamente e depois Suzana repousou a cabeça no
peito de Leonardo, que acariciava os cabelos dela com carinho e
por alguns minutos ficaram assim.
_Agora, eu preciso ir, boa noite, minha princesa.
_Boa noite, meu príncipe.
_Adorei, o meu príncipe. Tchau.
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Ao olhar pela janela de seu quarto, Lígia viu que o filho acabara
de chegar, resolveu descer e conversar com ele naquele noite
mesmo; pois o assunto sobre o pai de Suzana muito a inquietou.
_Que bom que chegou, filho, eu preciso falar com você.
_Querida, eu acho melhor deixar esse assunto para amanhã, hoje
foi um dia difícil para todos nós- disse Rafael querendo poupar o
filho, por já saber do que se tratava.
_Que assunto?
_Filho, sente-se aqui perto de mim- pediu Lígia- Eu pensei em
deixar para outro dia, mas eu estou tão preocupada! Leonardo, eu
percebi o quanto você está interessado por aquela garota...
_O nome dela é Suzana, mãe. Eu vou trazê-la aqui para...
_Não... pelo menos por enquanto. Filho, eu fiquei sabendo de algo
muito sério sobre a família dela..
_Sobre a família da Suzana? Mãe, são pessoas excelentes, me
tratam muito bem e...
_Leonardo... eu quero o melhor para você, meu filho... o pai da
Suzana... é um ex-presidiário, ele ficou preso por quase três anos.
_O quê? Como que a senhora soube disso?
_Filho, você não sabia, não é? Está vendo só? Eles não contaram
pra você.
_Mãe, isso não é algo que as pessoas gostariam de falar.
_Tem razão. Filho, afaste-se desta garota... por favor.
_Calma, Lígia! Deixe que ele decida- interveio Rafael.
_Quem foi que disse isso? - perguntou Leonardo.
_A Sandra, mas...
_Ah, eu estou começando a entender, a Sandra não está satisfeita
em proibir o namoro da filha, agora ela quer...
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_Tem alguém aqui nessa mesa que está radiante hoje! - foi o
comentário de Sueli ao ver a irmã toda sorridente; eram seis horas
da manhã de quarta-feira.
_O quê? Falou comigo? Eu preciso tomar o café rapidinho, senão
foi me atrasar para a faculdade, você acordou cedo hoje, hein?
_É, hoje eu preciso entrar mais cedo no serviço. Suzana, você está
nas nuvens hoje! O que aconteceu? Me conta... bom... com toda a
certeza um rapaz alto e bonito tem tudo a ver com a sua alegria!
_É... você acertou!
_Mas e aí? O que rolou?
_ É que aconteceu algo lindo... mas eu acho que não vou contar.
_O quê? A minha irmã vai ficar de segredinho, é? Se liga, Suzana!
Vai contando e com detalhes.
_Detalhes? Não mesmo. Sueli, é que ontem, eu e o Leonardo...
nos beijamos pela primeira vez.
_O quê? Vocês ainda não …
_Não. Você sabe como eu sou para esse tipo de coisa e sabe muito
bem o porquê.
_Uau! Suzana, e aí? Foi o máximo? Conta.
_Foi maravilhoso... mas nada de detalhes, pode esquecer!
_Ah, sua chata! Mas, eu fico feliz. Você merece. Coitado do
Leonardo, hein? Haja paciência!
_Nisso você tem razão. Agora, eu preciso ir, tchau!
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_Eu não disse que voltaria? Lúcia, fale comigo... como você está?
O que está sentindo?
_Eu estou bem porque você está aqui, meu anjo.
_Por que você não sai um pouco, faz um passeio com a sua mãe,
eu tenho certeza que ela ficaria muito feliz.
_Não.
_Por quê?
_Não posso sair... aqui é o meu mundo.
_Há tantas coisas lindas para se ver lá fora...
_Não. Há muitas coisas horríveis lá fora, pessoas más... é
perigoso... há muita tristeza e sofrimento...
Era a primeira vez que ela se expressava dessa maneira, as
palavras saíram carregadas de tanto sentimento que Leonardo
ficou impressionado. “ O que essas palavras significam? Com
certeza não são só meras palavras jogadas ao vento”- pensou ele.
_Lúcia, você pode se abrir comigo. Eu estou aqui para ouví-la.
_Eu quero ouvir a sua voz... leia algo para mim, por favor, meu
anjo.
_Você tem uma Bíblia?
_Bíblia? A minha mãe deve ter uma.
_Então, eu vou falar com ela, já volto.
Leonardo saiu do quarto e encontrou Rita na copa preparando um
café.
_Eu já ia levar um cafezinho para você.
_Obrigado, a senhora teria uma Bíblia, a Lúcia quer que eu leia
para ela.
_Eu tenho, está no meu quarto... beba um cafezinho enquanto eu
vou buscá-la.
Leonardo ficou pensando o que leria para Lúcia, fez uma rápida
oração pedindo direção a Deus... quando Rita voltou com a Bíblia
nas mãos ele já sabia qual a leitura que deveria fazer.
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_Lúcia, aqui está a Bíblia... eu vou ler: “ Jesus anda por sobre o
mar ”15
Leonardo leu pausadamente e com uma voz muito tranquila;
durante a leitura, Lúcia ficou com os olhos fechados.
_Lúcia, você sabe por que os amigos de Jesus ficaram com medo?
_Por causa do vento?
_O vento era motivo de preocupação, mas eles ficaram
assustados com a aproximação de Jesus, eles pensaram que era um
fantasma e começaram a gritar, Jesus acalmou-os dizendo:” Tende
bom ânimo! Sou eu! Não temais!”, e quando ele subiu no barco o
vento cessou. Lúcia, eu não sei o que provoca medo em você... os
discípulos viram naquele que se aproximava, uma ameaça,
ficaram atemorizados, mas na verdade, a presença de Jesus iria
cessar o vento. Talvez você esteja com medo de quem quer se
aproximar de você para ajudá-la. Eu não sei o que aconteceu com
você, Lúcia, se quiser me contar eu estarei pronto para ouví-la...
mas não impeça que a sua mãe, por exemplo, a alcance... permita
que ela se aproxime, quem sabe assim o vento cessa. Jesus entrou
no barco e tudo se acalmou. Ele também quer fazer isso na sua
vida... não se feche em um mundo só seu, não faça isso. Deixe que
a alcancemos.
_Jesus enviou você para me ajudar, você é o anjo dele, eu sei.
_Você precisa abrir o seu coração... fale comigo, Lúcia, eu estou
aqui para ajudá-la.
_Eu não quero falar... só quero ouvir a sua voz, ela é tão suave...
traz paz... leia mais pra mim.
_Tudo bem, eu vou ler um Salmo que é muito conhecido e é o
favorito de muitos, é o Salmo 23.
Leonardo leu o Salmo 23 por seis vezes seguidas a pedido de
15 Marcos 6.45-52
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merece, né?
_É... eu já pensei em conversar com o pastor sobre isso. Quem
sabe se ele falar com a minha mãe... sei lá. Eu fico revoltada com
essas coisas, Su. O Daniel é responsável, fiel a Deus, um
excelente filho e minha mãe não enxerga isso.
_Você vai precisar de mais um pouquinho de paciência.
_Agora, vamos falar sobre você e o meu amigo Léo! Su, você
está muito feliz, né?
_Muito. O Leonardo é maravilhoso. Você tinha toda razão ao me
falar sobre as qualidades dele, você não exagerou, ele é uma
pessoa incrível. Ele me faz sentir como se eu fosse a mais linda
do mundo. É tão atencioso e compreensivo.
_Eu fico feliz ao ouvir isso, eu estava tão preocupada; ele,
completamente apaixonado e você tão distante! Vocês formam
um lindo casal.
_Letíciaaa, a Elisa está te chamando no portão - gritou Sandra.
_Eu vou lá ver o que ela quer, já volto, Su.
Elisa queria conversar com Letícia sobre Lúcia, estava ansiosa
para contar que a amiga havia saído do apartamento para tomar sol
por ter combinado com Leonardo. Enquanto as duas conversavam,
Sandra foi até o quarto da filha, pois queria aproveitar que Suzana
estava sozinha.
_Eu quero falar com você.
_Tudo bem.
_Suzana, não é nada pessoal, mas eu tenho que falar algumas
verdades para você. Eu sei que você está muito feliz e não é para
menos, está namorando o Leonardo, que além de bonito, é
inteligente, tem uma excelente profissão, é de boa família, é um
jovem temente a Deus... enfim, é o namorado que toda garota
gostaria de ter; mas eu preciso dizer que ele não é para você, me
desculpe, mas é a verdade. O que você pode oferecer para ele,
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a senhora não tem ideia do que ele sofreu, não o conhece, não tem
o direito de julgá-lo.
Suzana tremia muito ao falar e as lágrimas também começaram a
inundar seu rosto.
_Se você gostar um pouquinho do Leonardo, o que eu duvido
muito, pois eu acho que você está é interessada no que ele pode te
oferecer, você se afastaria dele... ele não merece passar por essa
vergonha, já imaginou o que as pessoas vão pensar? É uma pena,
você não tem culpa, mas o seu pai envergonhou o nome de sua
família, e, infelizmente, isso ele nunca vai poder mudar, ele
acabou com a sua família, ele manchou a honra...
_Não! Pare de falar do meu pai dessa maneira, a senhora está
sendo muito injusta.
_Injusto foi o seu pai e cruel, nem deu chance para que o pobre
homem...
_Pobre homem? Aquele porco, imundo, sujo... a senhora chama o
meu pai de cruel? Aquele homem sim, foi cruel! Ele não pensou
que acabaria com a vida … não pensou que destruiria uma
família... o meu pai sofreu muito.
_Sofreu? Bateu no homem sem piedade, quem é que sofreu? Não
adianta querer defender... eu já entendi, você tem medo dele, não
é? Ele já agrediu você? É claro... ele é agressivo... você morre de
medo de seu pai, é por isso que está tremendo desse jeito!
_Chega! O meu pai não merece isso! Ele nunca tocou um dedo em
mim, ele é um pai excelente, ele só queria me proteger... é isso! A
senhora quer saber? O meu pai não suportou ver aquele homem
sujo em cima da filha dele, o meu pai não aguentou ver a filha
dele toda machucada... ele não conseguiu ver aquela cena
repugnante e não fazer nada... aquele pobre homem que usa uma
bengala é um homem sem caráter, é um imundo que... me feriu
profundamente! É isso mesmo! Eu sou uma vítima de... estupro.
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outras coisas, mãe, eu não suportei ouvir tudo aquilo, tinha que
dizer que tudo o que ele fez foi para me defender.
_Ah... minha filha!
_Me perdoe, Suzana, estou tão envergonhada... a minha mãe não
tinha o direito de fazer isso com você... eu sinto muito.
_Você não tem culpa.. Mãe, a senhora precisa contar para o
Leonardo... explique tudo para ele, eu não quero que a mãe da
Letícia …
_Su, eu vou conversar com a minha mãe, vou implorar para que
ela não fale com ninguém sobre isso, fique tranquila.
_Faz isso, Letícia, por favor... eu não gostaria que o Leonardo
soubesse da verdade por sua mãe... agora eu quero dormir, é só
isso que eu quero. Mãe, avise a Cláudia que eu vou faltar hoje...
eu não vou conseguir trabalhar.
_Fique calma, filha. Vá descansar.
_Su, mais uma vez eu peço desculpas... não estou reconhecendo a
minha mãe, depois que ela ficou sabendo sobre o meu namoro ela
mudou tanto! Estou com tanta vergonha.
_Letícia, não se culpe, você é uma amiga maravilhosa!- disse
Suzana.
Suzana passou a tarde inteira na cama. Chorou a maior parte do
tempo. Vovó Vivi ficou sabendo de tudo e tentou consolar a neta.
_Minha querida... não fique assim. Tudo vai ser esclarecido e você
vai sentir-se melhor. Você sempre dizia que não gostaria de
enganar o Leonardo, embora isso não pode ser considerado
enganar, pois é algo muito difícil para ser revelado, mas agora, já
que essa mulher sabe de tudo, é melhor esclarecer as coisas, e
você tem razão quando diz para sua mãe conversar com ele, já que
é para ele saber a verdade que saiba como tudo realmente
aconteceu e pela pessoa certa, não por alguém com péssimas
intenções.
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_Ah, vó... o Leonardo não vai querer ter uma namorada como eu...
ele não vai.
_Não fale isso, ele está tão apaixonado!
_Por isso mesmo que é ele vai ficar mais decepcionado ainda. Eu
não vou conseguir mais olhar para ele... vou morrer de vergonha!
_Minha neta, não pense isso. Ele é um rapaz maravilhoso. Não vai
ser fácil para ele, com certeza vai sofrer muito, mas ele vai
conseguir superar isso. Deus vai ajudá-lo.
Neste momento, Marina entrou no quarto com o marido que
estava com os olhos cheios de lágrimas.
_Minha filha, me perdoe, se eu não... se …
_Pai, não precisa pedir perdão... ah, meu pai.
_Preciso sim, se eu não tivesse me descontrolado as coisas seriam
bem diferentes hoje. Você não precisaria se expor desse jeito,
ninguém iria saber... a culpa é toda minha. Aquela mulher só
ficou sabendo porque eu fui para prisão, eu poderia ter evitado
tudo isso e aquele canalha não teria ficado impune.
_Pai, não se culpe, o senhor já sofreu tanto!
_Minha filha, se o Leonardo não conseguir aceitá-la... eu não vou
me perdoar.
Pai e filha se abraçaram e choraram muito. Marina e a vovó Vivi
saíram do quarto, não suportaram ver a tristeza dos dois.
No final da tarde, Marina ligou para Leonardo avisando que
Suzana não estava bem e por isso estava em casa. Ela bem que
tentou dar um jeito para ele não ir até lá, mas era difícil dar
alguma explicação para convencê-lo.
_Filha, o Leonardo está vindo.
_Mãe, ele não pode me ver assim.
_Querida, ele ficou tão preocupado!
_O que vou falar? A senhora precisa conversar com ele.
_Eu pensei bem e cheguei à conclusão que é melhor contar tudo
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_Será?
_O Léo está tão apaixonado! Vai ser muito difícil para ele, então é
melhor que ela conte. Seja compreensiva.
_O Leonardo vai querer distância dessa encrenca.
_Ah... vou para o meu quarto, não dá para conversar.
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poderia imaginar que a Suzana iria querer sair hoje, não mesmo-
disse Marina.
_Vai ser bom, ela precisa se distrair um pouquinho.
_Tem razão. Obrigada por você ser tão atencioso com a minha
filha.
_Eu amo a sua filha, e me corta o coração vê-la tão pra baixo.
Vou tentar animá-la.
Após trinta minutos, Suzana apareceu na sala com um vestido cor
de ameixa, que fez o coração de Leonardo disparar.
_Nossa, você quer acabar comigo. Está linda!
_Você não acha que esta cor é muito... chamativa?
_Realmente... ela está me chamando para bem perto de você.
Ao ouvir o comentário dele, Suzana corou.
_O seu lindo rosto está combinando com a cor do vestido.
_É melhor você parar com os comentários, o meu rosto está
queimando.
Marina ficou olhando para os dois, estava sorrindo, mas,
discretamente precisou enxugar algumas lágrimas teimosas.
_Bom... vamos? Não se preocupe, dona Marina, estaremos de
volta antes da meia-noite.
_Quando ela está com você eu não me preocupo, bom jantar,
divirtam-se.
Ao chegarem próximos ao portão, Leonardo a puxou e beijou-a
suavemente.
_Não resisti, já estava com saudades do sabor dos seus lábios.
_É melhor nós irmos- disse ela simplesmente.
Após o trajeto de vinte minutos, Leonardo entregou as chaves do
carro ao manobrista.
Durante o jantar, Suzana conseguiu se divertir, pois Leonardo
fazia de tudo para animá-la, até lembrou do acesso de riso que
tiveram na quinta-feira, o que a fez rir bastante, esquecendo-se
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Capitulo 27 – A verdade
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começando a chegar.
Letícia saiu rapidamente, ela sabia muito bem que se ele insistisse
seria difícil ficar calada; a história sobre Suzana a havia deixado
muito triste, principalmente pelo fato da mãe ter provocado
aquela situação. Ao entrar na cozinha, ela recebeu um sorriso que
a fez esquecer por um momento de toda aquela confusão, pois
Daniel também ajudaria na cozinha, assim os dois teriam a
oportunidade de ficarem próximos um do outro.
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_Me desculpe, eu sei que ainda faltam uns vinte minutos, mas eu
não estava conseguindo me concentrar no trabalho- explicou
Leonardo.
_Tudo bem, entre- disse Marina.
_Dona Marina, eu gostaria que a senhora fosse bem direta, eu
estou muito ansioso.
_Percebi. Aceita um café?
_Aceito se já estiver pronto.
_Calma, Leonardo, eu acabei de fazer, vou buscar.
Dona Marina voltou logo em seguida trazendo duas xícaras de
café.
_Eu vou começar. Leonardo, a Suzana me pediu para conversar
com você, porque ela não gostaria que soubesse da verdade por
outra pessoa. Sábado, ela e a Letícia saíram juntas para comprar
algumas coisas para o evento de missões e depois foram até a casa
da Letícia, bom... em um determinado momento, a Suzana ficou
sozinha e a Sandra aproveitou para ter uma conversa com ela.
Você já ficou sabendo que o meu marido esteve preso por quase
três anos, certo?
_A minha mãe me contou. Eu achei melhor não mencionar isso
com a Suzana.
_Entendo. Sabemos que foi a Sandra quem contou. Só que ela não
disse o motivo, pois ela não sabia o porquê do meu marido ser
um ex-presidiário. É um assunto muito delicado, e a Sandra
conheceu o motivo sábado e foi a Suzana quem contou. A minha
filha não suportou ouvir que o pai era violento, que era um
covarde por ter agredido um homem inofensivo. Que aquele pobre
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homem não teve a mínima chance, que o Davi bateu nele com
uma bengala e coisas desse tipo. Foi muito difícil para a Suzana
ficar calada ouvindo aqueles absurdos, porque o meu marido não é
um homem violento, ele teve um momento de fúria, sim, mas não
é próprio dele... e a Suzana não quer que você pense mal do pai
dela.
Marina não conseguiu segurar mais as lágrimas.
_Dona Marina, a senhora não precisa me dizer o motivo, eu
percebo o quanto esse assunto a machuca...
_Eu preciso... Leonardo, a Suzana gosta muito de você, ela o
admira e acha que você merece saber a verdade e depois você
decide se... continua o namoro.
_Que isso? Não estou entendendo, eu não...
_Espera, eu preciso contar... a Suzana estava sozinha em casa, na
época ela tinha 11 anos, era o início de uma noite fria do mês de
julho, eu, o meu marido e a Sueli, estávamos trabalhando; a
campainha tocou e quando a Suzana foi atender ela percebeu que
era o patrão do Davi. Ela achou estranho porque ele perguntou
onde estava o pai dela e disse que ficou esperando por ele em um
determinado local que havia combinado e que ele não havia
aparecido. Disse que esperou por mais de uma hora e nada, então
pegou um táxi e foi até a nossa casa tirar satisfação com ele. A
Suzana explicou que ele não estava, o homem entrou e disse que
não iria embora até que o Davi chegasse. Sentou-se no sofá e
pediu para Suzana lhe trazer um copo com água. A Suzana foi até
a cozinha e enquanto ela enchia o copo... ele se aproximou e
começou... a passar as mãos nos cabelos dela... perguntou onde a
Sueli estava e como a Suzana disse que a irmã estava trabalhando,
ele...
Marina fez uma pausa, pois era muito difícil para ela descrever o
que aconteceu a seguir. Leonardo estava muito tenso, algumas
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Leonardo saiu arrasado, pensou até em não ir direto para casa pois
não queria falar com ninguém, mas ao mesmo tempo ele não via a
hora de se refugiar em seu quarto. Entrou, encontrou os pais
conversando na sala de estar, cumprimentou-os rapidamente e
disse que estava muito cansado e por isso iria direto para a cama.
Lígia percebeu que algo grave havia acontecido, por isso foi até o
quarto do filho.
_Querido, me desculpe atrapalhar, mas o que aconteceu?
_Mãe, por favor, hoje não. Não estou com cabeça para conversar
eu só quero tomar um banho e dormir, me entenda.
_Meu filho, permita que eu o ajude.
_Se a senhora me deixar aqui quietinho estará me ajudando muito.
_Tudo bem, mas se precisar é só me chamar.
_Obrigado, mãe.
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_Gosto, às vezes...
_Eu gravei umas músicas para você, são louvores a Deus, elas
fazem com que você se sinta mais próximo de Deus. Eu toco
violino, aqui... - disse Leonardo mostrando o CD- eu gravei
especialmente para você. Um dia, se você quiser, eu vou trazer o
meu violino e tocá-lo aqui.
_Violino... tá bom. Eu vou ouvir o CD o dia inteiro.
_Que bom... Lúcia, eu preciso ir... é … eu vou precisar viajar e por
isso não poderei estar aqui com você, mas eu ligo e conversamos
pelo telefone. Não deixe de se alimentar e também de descer para
o seu banho de sol. Por que você não sai com a sua mãe para
almoçar fora, amanhã?
_Sair não. Você vai viajar? Eu não queria ficar muitos dias sem
ver o meu anjo.
_Eu preciso visitar alguém que completará oitenta anos, mas eu
volto daqui a alguns dias.
_Oitenta anos! Então, tá...eu vou esperar por você.
_Que bom... agora, preciso ir. Fique com Deus, Lúcia.
Leonardo explicou para Rita sobre a viagem que faria, ela ficou
muito preocupada com medo da reação da filha, mas ele a
tranquilizou dizendo que ligaria. Saiu de lá muito pensativo.
Lúcia, que a maior parte do tempo parecia tão distante, havia
percebido a tristeza dele. E muito o intrigou aquela história de
monstros, será que Lúcia era mais uma vítima como Suzana?
Leonardo havia tomado a decisão de ir para Fortaleza com a
família, seria bom se ausentar por alguns dias, por isso ligou para
Marina avisando-a. Não fez nenhuma pergunta sobre Suzana, era
melhor assim, pensou.
Ao saber que Leonardo viajaria, Suzana sentiu-se aliviada por não
precisar encará-lo tão cedo, e feliz, pois seria bom para ele estar
com a família, mas ao mesmo tempo a tristeza invadiu o seu
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coração.
Sandra resolveu não conversar com a amiga até que ela voltasse
da viagem, não queria preocupá-la, mas tinha certeza que era
obrigação sua alertá-la, pois, provavelmente, Leonardo não teria
coragem de falar sobre o passado da namorada.
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Capítulo 28 -Viagem
Às nove horas e trinta minutos da manhã de quinta-feira, a família
Martins pegou o avião para Fortaleza. Beatriz percebeu que o
irmão não estava bem, todos estavam animados com a viagem,
conversando muito e ele ficou calado a maior parte do tempo.
Decidiu conversar com ele assim que tivessem um tempo a sós.
O voo foi bem tranquilo, o avião pousou em Fortaleza quando
faltavam cinco minutos para uma hora da tarde.
Luciano, o irmão mais velho de Lígia, estava esperando-os no
aeroporto.
_Que alegria! O papai e a mamãe estão ansiosos. Sejam bem-
vindos à Fortaleza.
_Meu irmão querido, você está ótimo!
_Você está maravilhosa! Uma gatona! Dr. Rafael, como está? E
os meus sobrinhos lindos? Bruno e aí, tudo bem?
Cumprimentaram-se e após quinze minutos de carro, chegaram à
casa de Luciano e Fátima, que tinham dois filhos: Thaís de 29
anos e Lucas de 32 anos, ainda solteiros. Os avôs estavam
esperando no portão. Foram muitos abraços e beijos. Fátima havia
preparado um almoço muito especial.
No início da noite foi outra festa, pois Thaís e Lucas chegaram do
trabalho.
Beatriz só conseguiu conversar com o irmão no outro dia logo
pela manhã. Leonardo acordou bem cedo e estava apreciando o
lindo jardim da casa dos tios, que era cuidado pelos avós, eles
amavam mexer com a terra, tinham muita disposição e já estavam
há pelos menos uma hora se dedicando às plantas.
_Léo, vamos até a padaria? Eu quero conversar com você.
_Vamos sim, avise a tia Fátima.
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várias vezes ainda, mas o importante é que você não cedeu. O seu
corpo está ótimo, nem pense que está gorda e continue se
alimentando, amiga. Eu passei por isso, uma vez eu coloquei o
dedo na garganta e fiquei por vários minutos naquela dúvida
cruel. Graças a Deus consegui resistir.
_Outro dia eu resisti a uma forte tentação de jogar a comida que
estava em meu prato no lixo.
_É uma barra! Mas, você vai vencer, aliás, já está vencendo.
_Pode crer, é difícil pra caramba, mas com fé e a ajuda da família
e dos amigos eu vou conseguir.
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_Tem razão, é diferente. A sua mãe não tem nenhum motivo real
para proibir o seu namoro, mas no meu caso... bom... as mães
querem o melhor para os seus filhos e eu não …
_Suzana, para com isso. Você é a pessoa mais doce que eu
conheço, ah, amiga, apesar de todo o sofrimento você não se
transformou em uma pessoa amarga.
_Eu gostaria de ter o poder para apagar o meu passado, eu queria
tanto...
_Ah, Su, apagar o passado não dá, mas você pode ser feliz agora e
no futuro, não permitindo que essa dor tome conta de você, amiga.
Deus colocou o Léo em seu caminho porque ele é a pessoa certa,
é compreensivo, atencioso, amigo para todas as horas... depois que
o Léo ficou pronto, Deus jogou a receita fora, pode acreditar.
_Nisso você está certa, o Leonardo é maravilhoso. Eu nunca
imaginei que poderia existir alguém igual a ele e é por isso mesmo
que ele merece alguém especial.
_E você é especial.
_Não... eu preciso me preparar psicologicamente para quando o
Leonardo voltar, porque vou ter que aprender a viver sem ele. Só
o verei de longe nos trabalhos da igreja e...
_ Su, você precisa é parar com esse tipo de pensamento.
_A sua mãe está errada ao proibir o seu namoro com o Daniel,
mas eu tenho que concordar com ela em uma coisa.
_Concordar com a minha mãe depois de tudo o que ela falou para
você?
_Ela acha que você e o Leonardo formam o par perfeito e eu
concordo.
_Ai, ai, ai, Suzana, você precisa descansar, eu já entendi, a
saudade que você está sentindo é que está provocando isso, não
está conseguindo raciocinar direito.
_É isso mesmo. Você é uma pessoa excelente e é linda. Vocês se
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de Fernando.
_Oi, minha filha, que bom vê-la aqui. Sem o Rafael e o Leonardo
está uma loucura, apesar de terem deixado tudo em ordem com os
processos deles, mas, mesmo assim...
_Será que o senhor pode parar um pouquinho para conversar?
_É claro, querida. Eu não almocei ainda e você?
_Também não. Podemos almoçar?
_Devemos.
Fernando escolheu um restaurante bem próximo ao escritório.
_E então, o que está preocupando a minha linda filha?
_Ah, meu pai...
_A sua mãe, não é? A Sandra ficou tão decepcionada por você e o
Leonardo não namorarem que está impossível.
_É... o senhor está sabendo que ela está atrapalhando até o namoro
do Léo?
_Ela me contou algo muito chato com relação à Suzana, fiquei tão
triste por ela, eu não podia imaginar que foi por isso que o pai
dela... você sabe.
_Pai, a Suzana é uma excelente pessoa, ela não merece passar por
tudo isso, já sofreu tanto e agora precisa dar explicações?
_Tem razão.
_Eu quero que o senhor me responda uma coisa.
_Pode perguntar.
_O senhor também é contra o meu namoro?
_Não, eu não concordo com a sua mãe. Filha, eu também gosto
muito do Leonardo e ficaria muito feliz se vocês dois
namorassem, mas eu sei que você está apaixonada pelo Daniel e
eu acho que ele é um bom rapaz.
_Obrigada, pai, é tão bom ouvir isso. Eu não aguento mais... eu e
o Daniel só nos encontramos na igreja. Ele não quer sair
escondido, o Daniel deseja tanto a aprovação de vocês, mas a
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mamãe...
_Eu sei, filha. Eu tenho conversado com a Sandra, mas ela está
irredutível. Nunca vi a sua mãe assim.
_Me ajuda, pai. Racismo é um absurdo e vindo de alguém que diz
servir a Jesus é pior ainda. O Daniel é trabalhador, é honesto, ama
a Deus, ele é tão responsável...
_Eu sei, filha, eu vou tentar... vou pensar em alguma coisa. Fique
tranquila, tudo vai se resolver.
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o namorado dela e o trate com respeito, pois é assim que deve ser.
_Fernando, você só pode estar delirando. Eu nunca vou aceitar,
nunca!
_Sandra, a nossa filha está sofrendo. Não faz sentido você ser
contra só porque ele...
_Você também acha que eu sou racista?
_É o que está parecendo, me diga mais algum motivo.
_Ele é um mecânico, não estuda e...
_Sandra, eu não estou lhe reconhecendo. Ele trabalha duro na
oficina do pai, você sabe que o Isaque ficou tão arrasado pela
morte da esposa que não conseguia fazer mais nada, foi o Daniel
que tomou conta de tudo e precisou abandonar a faculdade.
_Tudo bem, ele pode até ser um rapaz trabalhador, mas não serve
para a minha filha. Como que ele pode pensar em namorar a
Letícia?
_Sandra, você precisa orar.
_Não me venha com esta conversa, Deus sabe como o meu
coração está.
_E como sabe! Sandra dá para ter comunhão desta maneira? Eu
não sei como você tem a coragem de participar da...
_Fernando, você está indo longe demais. Está falando da minha
vida espiritual e isso eu não admito. Não adianta querer me
convencer usando esse tipo de argumento, comigo não. Estava
tentando me sensibilizar falando sobre a luta que é a vida do
Daniel e agora quer que eu fique com medo de estar pecando?
Fernando, eu quero o melhor para a minha filha e Deus entende
isso, porque ele sempre quer o melhor para os seus filhos. Nós não
sabemos o que é melhor e às vezes desejamos algo que vai nos
prejudicar e Deus que é onisciente, que vê lá na frente, nos diz
não. Assim eu estou fazendo com a Letícia, ela não sabe o que é
melhor... se soubesse estaria noiva do Leonardo.
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Capítulo 29 -Saudade
Enfim chegou o grande dia do aniversário do vovô João;
acordaram bem cedo pois não podiam perder tempo.
Comemorariam os oitenta anos do vovô em um chácara. Às oito
horas da manhã já estavam lá organizando tudo. O vovô João e a
vovó Helena estavam muito felizes, principalmente pelo privilégio
de ver a família reunida.
Às onze horas Leonardo ligou para Lúcia.
_Oi, meu anjo.
_Oi, Lúcia, você está bem?
_Estava ouvindo você tocar... quando vou ouví-lo aqui no meu
quarto?
_Breve. Tenha paciência. Você está se comportando bem?
_Estou fazendo tudo o que o meu anjo mandou.
_Eu pedi, não mando em você, Lúcia. Eu peço e você atende, é
isso.
_Meu anjo, o monstro manda... faz coisas horríveis, ele não pedi
licença.
Leonardo pensou em perguntar que coisas horríveis seriam, mas
pelo telefone achou que não seria conveniente.
_Lúcia, você quer me falar o nome do monstro?
_Não. Ele não vai gostar.
_Ele esteve aí?
_Não. Eu não quero que ele venha... ele disse que virá logo, mas
eu não quero.
_Quando ele falou com você?
_Comigo não. Eu não falo com ele.
_Quem falou com ele?
_Minha mãe.
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_Entre com a sua mãe, não vai dar para conversar com ela hoje.
_Nisso você tem toda a razão. Venha Letícia!
_Tchau, Dani e me desculpe.
_Não precisa se desculpar.
_Letíciaaaa! - gritou Sandra impaciente.
Letícia entrou muito contrariada e foi direto para o seu quarto.
_Volte aqui, você me deve uma explicação.
_O que está acontecendo, Sandra? Por que essa gritaria?-
perguntou Fernando saindo do quarto.
_Pai, pai... ela fez um escândalo lá na rua, tratou o Daniel tão mal
e...
_Calma, filha.
_Calma? Ela está saindo escondida com aquele rapaz, você
acredita? Ele a trouxe de carro, eu os peguei...
_Sandra, vamos parar com isso, amanhã conversamos melhor, vá
dormir, minha filha.
_Amanhã você não me escapa, vou falar com você- disse Sandra
em um tom ameaçador.
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_Suzana, o que está acontecendo com você hoje? Tudo bem que
nos últimos dias você também esteve bem distante... sei que está
com saudades de seu amor, mas, hoje...
_Ah... Cláudia, deixa pra lá.
_Fala comigo, o que aconteceu? Ele chegou de viagem? Vocês
conversaram?
_Ele chegou ontem e … nem me procurou. Nem sei por que eu
estou assim, já esperava por isso.
_Suzana, você não me contou o motivo, mas, ele vai procurá-la,
pode ter certeza disso. Ele deve ter chegado tarde e...
_É, pode ser.
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não voltou.
_Exatamente. Você disso tudo. Obrigada por ter me avisado, Lê.
Você sabe qual é a previsão do retorno deles?
_Meu pai disse que só na próxima semana. Como o Léo levou o
notebook está trabalhando quase que normalmente. O dr. Rafael
só não ficou também porque precisava comparecer em algumas
audiências e a Lígia também não podia mais se ausentar da
clínica.
Após desligar o celular, Suzana pensou: “ Doí menos saber que ele
ainda não voltou... mas, e se acontecer o que eu mais temo? E se
ele preferiu ficar mais alguns dias para me esquecer de vez... ele
não deve nem pensar em mim... é claro que não.
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Assim que o amigo desligou, Letícia fez uma ligação para Suzana.
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Capítulo 30 -Expectativa
Mais três dias se passaram e finalmente a quarta-feira chegou.
Bruno, Beatriz e Leonardo pegaram o voo de volta para São Paulo
às nove horas da manhã. O avião aterrissou no aeroporto de
Guarulhos poucos minutos depois de uma hora da tarde. Rafael
foi recebê-los.
_Sejam muito bem-vindos. Já estava com saudades. A Lígia não
pôde me acompanhar porque havia um cliente marcado
exatamente neste horário- explicou Rafael.
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ansiosa!
_Tudo bem.
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_Lá é bem mais longe, né? Sueli, vamos logo, esquece isso, depois
você resolve, eles já foram embora.
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minha preferida!
_Você já disse isso para ele?
_Já.
_Que gracinha! Ele colocou pensando em você, que romântico!
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_Eu?
_Não precisa responder, você está tão nervosa! Acalme-se, não
estava esperando que eu fosse aparecer?
_Hoje não.
_Algum dia você esperou?
_Por que você sempre faz estas perguntas difíceis?
_Não precisa responder esta também.
_Como foi a festa de aniversário do seu avô?
_Foi show! Ele e a minha vó até dançaram valsa!
_Que legal!
_Você teria adorado... e a festa da REMA?
_Foi ótima, o pessoal estava animado como sempre.
_Eu fiquei sabendo que você ajudou na organização.
_É isso mesmo, foi bem legal trabalhar com a Paulinha e a Letícia.
A Paula é muito divertida!
_Com certeza. Eu fico feliz que ela esteja bem. E você, está bem?
_Estou.
_Suzana, eu...
_Leonardo, é melhor você não falar nada sobre aquele assunto.
O restante do trajeto até a casa de Suzana foi feito no mais
absoluto silêncio.
_Posso entrar?
_Eu acho que...
_Só um pouco.
_Você quer entrar para cumprimentar a minha vó e meus pais?
_Hoje não, eu só gostaria de ficar um pouco com você. Posso?
_Pode.
Entraram e por alguns instantes os dois permaneceram distantes, o
clima entre eles estava estranho, parecia que havia um obstáculo
que os impedia de se aproximarem um do outro.
_Suzana... eu senti tanta saudade, só fiquei todos esses dias longe
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Capítulo 31 -Lúcia?
Ao entrar, Suzana notou que a casa estava bem silenciosa, foi até o
seu quarto e lá encontrou Sueli que a estava esperando.
_Oi, já estão todos dormindo?
_Eles esperaram até onze e meia, a vovó está na tia Marisa. É,
pelo jeito o reencontro foi bom.
_Foi ótimo.
_Suzana, eu não quero ser a chata que vai colocar coisas na sua
cabeça e atrapalhar a sua felicidade, mas eu não conseguiria
dormir se não conversasse com você.
_O que aconteceu, Sueli?
_O Leonardo chegou hoje de Fortaleza?
_Hoje à tarde, por quê?
_Irmãzinha, ele comentou alguma coisa sobre ter ido ao cinema
hoje?
_Cinema? Não.
_Bom... eu vou falar! Fiquei com muita raiva hoje! Caramba!
Hoje, aproveitei a minha folga e eu fui com uma amiga ao
shopping, vi o Leonardo saindo de uma das salas de cinema com
uma garota.
_O Leonardo com uma garota?
_Tenho certeza que era ele, eu quase que fui atrás... eles estavam
juntos.
_Juntos?
_Juntos, abraçados.
_Não pode ser... ele chegou na loja antes das nove e meia.
_Eram mais ou menos sete horas quando eu os vi. Me desculpa, eu
sei que você estava feliz, não sei o que significa isso, mas que é
bem estranho, isso é, você concorda?
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_É muito estranho.
_Ele comentou se veio algum parente de Fortaleza, vai saber, de
repente é uma prima dele...
_Não disse nada. Como era a garota?
_Bem nova, deve ter mais ou menos a sua idade.
_Ele tem uma prima em Fortaleza, mas ela é mais velha que ele.
_Suzana, você deveria falar com ele.
_Eu nem vou conseguir dormir.
_Me desculpa, por que você não liga para ele, agora?
_Agora? Está tão tarde!
_E daí? É melhor do que ficar com a pulga atrás da orelha, né?
_Tem razão, eu vou ligar, agora.
_Vou deixar você à vontade, mas seja firme!
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almoço ela não voltou para a clínica, foi até a casa do pastor Pedro
Gabriel para conversar com a esposa dele, a irmã Rute.
_O que a está preocupando, Sandra?
_Rute... eu fico até com vergonha de dizer, mas... a minha filha
está interessada no Daniel, o filho do Isaque, o mecânico.
_Qual é o problema? Ele é um ótimo rapaz. Ela não é
correspondida?
_Pelo contrário, os dois estavam até namorando escondido. Ele foi
até em casa para pedir a nossa permissão, mas eu não consigo
aceitar.
_Por qual motivo?
_Eu sempre sonhei em ver a minha filha namorando o Leonardo...
_Ah, agora estou começando a entender. Sandra, eu concordo que
o Leonardo é um rapaz maravilhoso, qual a mãe que não gostaria
de tê-lo como genro? Mas, se a Letícia gosta do Daniel... Sandra,
não estamos mais naquela época que os pais arranjavam
casamento para seus filhos. Você pode achar que a Letícia e o
Leonardo formam o casal perfeito, mas as coisas não funcionam
assim. O Daniel é um rapaz sério, cuida muito bem da família;
você sabe que a mãe dele morreu e que o Isaque ficou muito
deprimido e que foi o Daniel que tomou conta de tudo. Qual é o
problema? Qual é o real motivo para que você não aceite o
namoro dos dois? Seja sincera comigo.
_Ah, Rute... eu tenho vergonha de dizer, eu sei que Deus não está
nada satisfeito comigo.
_Pode falar.
_Eu olhava para o Leonardo e a Letícia juntos e pensava: Eles
formam o casal ideal; se dão muito bem e nossas famílias são
muito unidas. Era perfeito. Até que apareceu o Daniel e estragou
tudo. Em pouco tempo ele destruiu o que eu construí durante
anos! Ele não tem nada a ver com a minha filha, nada.
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de você.
_Eu quero ir embora.
_Embora? Não mesmo! Não vou perder a viagem... você é uma
ingrata, é isso o que você é... eu tenho sido tão paciente com você,
acho que mereço uma recompensa.
_Não, por favor! Vamos sair daqui!
_Para começar eu quero que você me dê um beijo. Eu vou ficar
esperando, mas não demore, não sou tão paciente assim como
você imagina.
_Leonardo, não faça isso! Você está estragando tudo! Eu confiei
em você e...
_ O quê? Chega dessa conversa, você está falando demais. Se
você não quer se aproximar então eu vou até você, não vou
esperar mais...
_Não, por favor, não se aproxime... estou com medo de você.
_Medo de mim? Eu sou o seu namorado, eu mereço que você me
dê um pouco de atenção. Aquele homem conseguiu tudo o que
quis de você, e eu? Nada? Não, isso não vai ficar assim... eu quero
você e agora.
_Não, não, por favor, Leonardo, não se aproxime de mim...
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_Posso entrar?
_Eu acho melhor não, não fique bravo comigo, eu estou muito
cansada hoje.
_Suzana, nós precisamos conversar, não se feche desse jeito, por
favor. Você está inacessível e isso é péssimo para o nosso
relacionamento. Deixe que eu entre, fale comigo.
_Ah... Leonardo, eu avisei que não seria uma boa namorada para
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você, eu avisei.
_Não vamos ficar aqui no portão.
_Tudo bem...vamos entrar.
_Fale, o que aconteceu? A minha mãe te procurou?
_Não é nada disso. Eu não posso contar, você me odiaria.
_Como eu poderia odiá-la? Eu te amo. Vem aqui, fique perto de
mim.
_Não... eu não posso me aproximar de você.
_Por quê?
_Estou com medo.
_Medo de mim?
_Me perdoa! Eu não queria isso... eu não... você não merece isso.
_Suzana, fala comigo.
_Eu sou horrível!
_Não é não, você é linda! Por que você está tão longe de mim?
_Eu... tive um pesadelo com você, eu nem deveria contar isso,
você vai ficar muito zangado.
_Pesadelo comigo? Suzana, nós não podemos controlar os nossos
sonhos. Eu não sei o que aconteceu em seu sonho, mas seja o que
for, você não teve culpa e nem eu.
Com muita dificuldade, Suzana contou sobre o seu pesadelo para
Leonardo.
_Ah... agora eu entendi porque você se afastou quando eu fui
beijá-la. Então é por isso que você não quer viajar comigo!
Bom... eu não posso obrigá-la, se você não se sente segura
comigo... se não confia em mim, o que eu posso fazer?
_Isso machucou você, é lógico. Eu disse que você não deveria
namorar comigo, eu disse.
_Suzana...
_Eu sou uma ingrata mesmo, pelo menos nisso o Leonardo do
sonho tem razão. Você é tão bom pra mim e eu tenho a coragem
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_O que foi aquilo? Por que você não disse para sua vó que nós não
íamos mais?- perguntou Leonardo ao se aproximarem do portão.
_Porque nós vamos.
_Vamos? Suzana, você disse que...
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_Surpresa?
_Olha só quem vai conosco...
Letícia e Daniel estavam dentro do carro e também iriam para
campos do Jordão.
_Não acredito! Vocês dois juntos? A sua mãe...
_Ela sabe. Estamos aqui com permissão.
_Que legal!
_Oi, Suzana, Deus fez um milagre! - disse Daniel todo sorridente.
_Su, Deus usou o São Leonardo e também a irmã Rute para
conversar com a minha mãe- explicou Letícia toda animada.
_São Leonardo?
_É isso mesmo, Su. O Léo almoçou com ela...
Durante o caminho, Letícia contou sobre a conversa da mãe com a
irmã Rute. Após alguns minutos, eles pararam em uma padaria.
_Vamos tomar um belo café? - perguntou Leonardo- depois eu
gostaria de saber como foi a sua conversa com a Sandra, certo,
Leca?
_Vou contar tudo.
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
Sandra.
_Você acha que eu não confio em você, não é? Leonardo... me
perdoe.
_Suzana, para com isso! Você não tem culpa se sonhou que...
_Não tenho culpa por ter sonhado, mas por ter evitado o seu beijo
e por não querer mais viajar, eu tenho culpa sim.
_Chega... vamos tomar café, eles estão nos esperando. E não fale
mais sobre este assunto.
Suzana concordou, mas estava se sentindo muito culpada.
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Tânia Gonzales
Leonardo e depois fui até a casa da irmã Rute. Deus usou os dois
para abrir os meus olhos; eu estava me sentindo péssima... não
conseguia aceitar o Daniel e isso era um absurdo! Eu abri o meu
coração para Deus, e então eu enxerguei que estava sendo
preconceituosa. Foi duro reconhecer o meu erro, mas depois veio
um alívio enorme. Por isso eu quero pedir perdão para você e ao
Daniel também e dizer que a partir de hoje vocês têm a minha
permissão para namorarem.
_Mãe? Ah... mãe! Obrigada! Me perdoe também por ter falado
algumas coisas que...
_Você não precisa me pedir perdão, eu estava errada.
_Minha mãe! Estou tão feliz! Não imagina o alívio que estou
sentindo, não aguentava mais ficar sem conversar com você, mãe!
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Tânia Gonzales
_Me perdoa...
_Não precisa pedir perdão, minha princesa.
_Diz que me perdoa, por favor!
_Se isso fará você se sentir melhor, tudo bem, eu a perdoo.
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
_Lúcia, fale com o seu pai.- pediu Rita meio sem jeito.
_E então? Vai ficar aí se escondendo de mim? E este rapaz é o seu
namorado?
Como Lúcia continuava parada e sem dizer nada, Leonardo
resolveu se apresentar:
_Eu sou um amigo dela, meu nome é Leonardo.
_Leonardo, muito prazer, eu sou Valter.
_Eu quero voltar para o meu quarto- pediu Lúcia quase
sussurrando para Leonardo.
_Minha filha, há quatro meses que eu não a vejo e é assim que sou
recebido? Eu quero um abraço e um beijo. O que o rapaz vai
pensar?
Valter se aproximou de Lúcia, a abraçou e beijou, mas ela ficou
dura como uma pedra e assim que se viu livre dos braços dele,
correu para o quarto.
_Jovens! Quem os entende? Ela deve estar brava porque eu
demorei muito para visitá-la; mas eu sou muito ocupado. É a vida,
Leonardo, é a vida!
_Bom, eu... vou conversar com ela, com licença- disse Leonardo
para em seguida sair rapidamente da sala.
_Rita, você deixa esse rapaz entrar no quarto dela?
_Valter, não pense bobagens, ele a está ajudando muito, é muito
atencioso.
_Atencioso... sei.
_Você não tem o direito de pensar mal dele, eu não vou admitir
isso.
_Nossa! Ele também conquistou você?
_É melhor ir embora, você sabe muito bem o quanto a sua
presença faz mal à nossa filha.
No quarto de Lúcia...
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Tânia Gonzales
_Fala comigo, Lúcia! Por que você está assim? Você ficou
apavorada ao vê-lo, por quê?
_Eu não quero falar. Só quero que ele vá embora e não volte
nunca mais.
_Por quê? O que ele fez com você?
_Ele... acabou com os sonhos dela, ele a machucou.
_Como? O que ele fez? A sua mãe sabe?
_Minha mãe sabe de tudo.
_Lúcia, foi por isso que eles se separaram?
_Não quero falar.
_Lúcia, eu quero muito ajudá-la, mas se você não...
_Por favor, meu anjo, chega.
_Tudo bem, se você não quer falar eu vou respeitar a sua decisão.
Lúcia, eu preciso ir, tenho que voltar ao trabalho. Amanhã eu
volto.
_Meu anjo, obrigada.
_Não precisa me agradecer.
Leonardo saiu do quarto e encontrou Rita no corredor.
_Ele já foi?
_Acabou de sair. Como ela está?
_Assustada. Rita, eu já percebi que é um assunto que vocês duas
evitam, mas, eu preciso saber...
Leonardo não conseguiu completar, foi interrompido por Rita.
_Eu peço que você não insista, quem sabe um dia eu conte, mas eu
gostaria que a Lúcia tomasse a iniciativa de contar para você.
_Ah, tudo bem, o que eu posso fazer? Bom... preciso ir, volto
amanhã.
_Agradeço muito. A sua presença é muito importante para a minha
filha.
Leonardo se despediu, já estava perto da porta quando lembrou
que havia deixado o violino no quarto de Lúcia.
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ou...
_Léo, é um trauma profundo porque é uma violência terrível. Note
bem, uma garota que foi vítima de um estupro, teve a sua
intimidade violada. Alguém chega de repente e invade o corpo
dela. Tem todo um processo de recuperação, muita conversa,
carinho dos familiares, mas com muito cuidado, porque há garotas
que ficam com muita dificuldade, elas não conseguem sequer ser
abraçadas, ficam apavoradas. Eu tive uma paciente que sofreu um
abuso quando tinha 13 anos , o trauma foi tão grande que ninguém
podia se aproximar dela, nem a própria mãe. Demorou um bom
tempo para que ela permitisse a aproximação. A palavra chave:
compreensão; outra: paciência. Mas, muitas conseguem superar,
formam uma família e são felizes. Meu amigo, você já pensou em
mudar de profissão?
_Henrique, não brinca. Tratar com o emocional das pessoas não é
para qualquer um, eu deixo isso com você. Eu acabei entrando
nessa situação e agora não tem para onde fugir e nem quero; eu
me preocupo muito com a Lúcia e gostaria que ela vivesse como
uma jovem de 19 anos, que estivesse estudando, trabalhando,
namorando...
_Ela vai superar isso. Se você quiser que eu vá visitá-la...
_Henrique, eu tenho medo que ela fique chateada e perca a
confiança em mim.
_ Tudo bem. Continue sendo um bom amigo para ela.
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até agora.
_Ai, Léo, para com isso, fala logo, estou ficando angustiada.
Ele contou tudo e quando terminou a amiga estava de boca aberta.
_Não acredito que ela te pediu isso. Ah... Léo, só você mesmo.
Não é a primeira vez que você recebe esse tipo de pedido vindo
de uma amiga. Quem sou eu para julgar a Lúcia!
_Ah, é bem diferente, né? Eu fiquei sem saber o que fazer,
agradeci a Deus por a amiga dela ter aparecido.
_Léo, Léo... deixa a Suzana saber disso!
_Ela nem pode imaginar. Bem que ela me alertou.
_E aí? E se ela insistir?
_Eu quero a sua ajuda. O que eu posso fazer?
_Vou ser bem prática, há duas opções: beijar ou não beijar.
_Que legal, você me ajudou tanto!
_Ah, amigo!
_Eu não posso beijá-la, eu não posso fazer isso com a Suzana. E
tem mais, mesmo se eu não estivesse namorando eu também não
poderia. Não posso bagunçar a cabeça dela, eu sou alguém que
deseja ajudá-la, não quero complicar ainda mais as coisas.
_É isso, você respondeu. Agora só precisa usar as palavras certas
para não machucá-la.
_Aí que está o problema. Como eu vou explicar para ela?
_Leonardo, peça sabedoria a Deus. Ele vai colocar as palavras
certas na sua boca. Você é tão sincero, eu acho que o caminho é
esse: a sinceridade.
_Valeu, amiga.
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Capítulo 36 -Valter
_O que você está fazendo aqui?
_Eu que pergunto, seu espertinho! Fica de conversinha com a
minha filha e agora está com outra?
_Cuidado com as suas palavras. Você me seguiu?
_Eu não lhe devo explicações, agora você sim, seu conquistador
barato! Visita a minha filha e depois...
Enquanto os dois discutiam, Suzana, que não havia saído da
garagem, estava paralisada, não conseguia sair do lugar. “ Não
pode ser verdade- pensava ela- eu reconheço essa voz, eu sei
quem é... não... não pode ser, por favor, não! “
_Como teve a coragem de me seguir? Foi longe demais, já não
chega o que fez à sua filha, hoje?
_Cala boca, rapaz! Cuidado, você não me conhece.
_Nem quero conhecê-lo, o pouco que sei já basta para eu saber
que tipo de homem você é.
_Rapaz, me respeite. Eu vou contar para minha filha o
conquistador barato que ela foi arrumar. Ela vai saber muito bem...
Suzana, que não podia ser vista, pois o portão de alumínio era
quase que totalmente fechado. Ela queria gritar, pedir para
Leonardo entrar, mas as palavras não saíam, de repente ela
começou a pensar se aquilo tudo não era mais um de seus
pesadelos, e desejou que fosse, desejou do fundo do coração, mas
logo ela percebeu que era tudo real. Estava apavorada- “ E se ele o
machucar, e se ele veio aqui atrás de mim, e se.... meu Deus, me
ajuda! Eu não consigo me mover, estou apavorada...”
_Vá embora daqui, ou eu chamo a polícia! E nunca mais volte
aqui!
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_Você acha mesmo que eu tenho medo de você, rapaz? Olha bem
para mim, olha... você até que é alto, tem um certo porte, mas,
olha aqui, rapaz, eu posso acabar com você, eu posso...
_Você foi longe demais. Eu vou ligar agora e dizer que fui
ameaçado- Leonardo pegou o celular e isso fez com que Valter se
afastasse dizendo:
_Tudo bem, rapaz, eu vou embora, mas amanhã a minha filha vai
saber quem você é.
Valter entrou em seu carro e saiu cantando pneus.
_Suzana, você ouviu tudo, né? Me desculpe, eu … Suzana, você
está bem?
Ela não respondeu, simplesmente não conseguia sair do lugar e
nem se expressar, o medo a dominou.
_Suzana, fala comigo, Suzana, por favor...
Leonardo a abraçou e só então ela conseguiu sair daquele transe.
_Eu... eu... estou com medo- disse com uma voz quase que
inaudível.
_Não precisa ficar com medo, estou aqui. Aquele homem... como
pôde vir até aqui? Minha princesa, calma, ele já foi. Não... não
chore, está tudo bem. Não aconteceu nada, fique tranquila.
_Aquele homem...
_É o pai da Lúcia.
_Não... não... Leonardo fique longe dele, por favor, fique longe
dele.
_Suzana, acalme-se. Você está ainda mais nervosa do que a Lúcia,
se é que isso é possível. Ele não pode fazer nada contra você, ele
nem a viu.
_Tenho medo por você. Leonardo, por favor, afaste-se deles, eu
imploro!
_Suzana, acalme-se, isso não faz bem, você está … apavorada.
Enquanto estava no aconchego dos braços de Leonardo, Suzana
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pensou: “ não posso contar a verdade para ele, não posso, se ele
soubesse poderia acontecer uma tragédia. Meu Deus, como isso é
possível? Eu não vou me livrar disso nunca?”
_Está mais calma, agora?- Suzana fez que sim com a cabeça- é
melhor você descansar. Eu vou embora, mas me prometa que vai
ficar bem e que não vai encher essa sua cabecinha linda de
bobagens, pare de pensar na Lúcia e no pai dela. Certo?
_Prometa que não vai lá amanhã.
_Suzana, eu não posso prometer isso, a Lúcia...
_Leonardo, esse homem teve a coragem de seguir você, ele é
perigoso, você mesmo disse o quanto a filha dele tem medo e...
_Suzana, calma. Vai ficar tudo bem, logo ele volta pra família dele
e...
_Afaste-se deles, por favor!
_Eu vou embora, descanse. Que Deus lhe dê um sono bem
tranquilo.
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com aquela pobre garota? Ah, desculpe, eu não deveria falar isso.
_Tudo bem, vó, eu também penso o mesmo. Estou apavorada, eu
quero que o Leonardo se afaste deles, mas a Lúcia conta muito
com ele, agora mesmo eles devem estar almoçando juntos.
_Que situação! Só Deus para nos guiar. Ah, Suzana, vamos pedir a
Ele que nos oriente, pois tem o seu pai também. Eu tenho mais
medo da reação dele.
_Dos dois, vó! Imagine o que o Leonardo vai...
_Calma querida!
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e ele me pegou saindo, mas depois que ele foi embora, eu entrei
novamente e a encontrei apavorada, ela se assustou muito.
_Não... não...
_Lúcia, o que foi? Por que você está tão aflita?
_Ah, não... vamos sair daqui, eu já terminei, a gente conversa no
carro.
_Tudo bem.
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Leonardo não conseguiu completar, agora era ele que estava com
os olhos cheios de lágrimas.
_Era. Eu sinto muito.
_Lúcia... eu sei que ela sofreu muito, a mãe dela me contou, mas...
foi o seu pai que... foi ele, aquele...
Leonardo queria desabafar, gostaria de falar tudo o que pensava de
alguém que comete tal violência, mas se controlou por causa de
Lúcia.
_Pode falar, ele é um monstro, é isso o que ele é, um monstro, um
covarde... eu não entendia o porquê de não poder mais brincar
com a Suzana. O pai dela a levava até a minha casa uma vez por
semana, o monstro não me deixava ir na casa dela. Temos a
mesma idade e meu... o monstro, não permitia que mais nenhuma
menina fosse lá, só a Suzana. De repente, sem mais nem menos, o
pai dela sumiu. Meu pai foi parar em um hospital, minha mãe
disse que foi um assalto e que bateram nele. Eu perguntava sobre
a Suzana, ela dizia que a família dela havia mudado de cidade.
Eu fiquei sem entender pois ela nem se despediu de mim. Cerca de
dois meses depois, meus pais se separaram. Eu vim com a minha
mãe para cá. Ela tinha algumas amigas que moravam aqui e
sempre falavam bem, então, como ela queria ficar bem longe de
Belo Horizonte, nos mudamos. Ele sempre vinha nos visitar, mas
minha mãe nunca me deixava sozinha com ele e os dois quase
nem se falavam. Um dia eu acordei e ouvi algumas vozes que
vinham da sala, percebi que era uma discussão, ainda era bem
cedo, sete horas da manhã, eu acho; abri a porta bem devagar e fui
até o corredor e ouvi tudo o que eles falavam. Leonardo... eles
estavam brigando, a minha mãe resolveu colocar tudo para fora...
foi então que eu descobri a verdade sobre o afastamento da
família da Suzana. Fiquei sabendo que o pai dela esteve preso por
algum tempo e também ouvi minha mãe dizendo que a culpa era
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_Eu posso cuidar disso, mas primeiro vamos esperar que aquele...
que ele vá embora. Suzana, me desculpe, eu sei o quanto é difícil
para você falar sobre este assunto, mas, o que aconteceu depois
que seu pai foi preso? Eu quero dizer com relação ao Valter.
_Eu não sei muita coisa... eles mudaram do bairro deles e nós
também mudamos do nosso, era muito difícil para mim... se
continuássemos lá eu teria demorado bem mais para voltar à
rotina.
_Mas, ele não pagou pelo que fez?
_Não. Eles sumiram e a minha família estava tão fragilizada que
não... sei lá.
_Tudo bem. Não, não está tudo bem. Suzana, ele precisa pagar
pelo que fez. Eu vou conversar com seu pai e...
_Não, por favor, Leonardo, eu quero esquecer tudo isso, para
acusá-lo eu vou precisar me expor e toda a minha família, nós já
sofremos tanto, chega.
_Suzana, ele cometeu um crime, eu gostaria que houvesse uma
maneira dele pagar, mas quem sabe se ele já não pagou. Ter aquele
tipo de relacionamento com a própria filha deve doer bastante e
sabe lá o que mais ele precisou enfrentar por causa do que fez. Se
bem que mesmo assim...
_Por favor, eu não …
_Minha princesa, chega desse assunto por hoje.
_Eu vou conversar com meus pais, é melhor eles saberem logo.
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_Aquele sem vergonha, canalha... ele merece pagar pelo que fez.
Nós devíamos denunciá-lo, é isso.
_Davi, olha só para nossa filha, ela está tão aflita! Ele deveria
pagar, mas para isso teríamos que...
_Eu sei, Marina. Filha, não quero que você tenha que contar e
recontar aquela história que tanto a machuca, eu não vou permitir
que você passe por tudo aquilo novamente, mas, para isso,
infelizmente, nós precisamos pagar o preço, o preço da
impunidade.
_Pai, eu sei que Deus não é injusto, aquele homem já pagou ou
ainda vai pagar pelo que fez.
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_Lúcia, a sua cabeça já está bem melhor. E eu acho que vai ser
muito bom para vocês duas esse reencontro.
_Depois eu dou a resposta. Leonardo, por enquanto eu gostaria de
agradecer por tudo, você é um grande amigo. É um exemplo do
que é se doar por alguém. Você conviveu com uma jovem
confusa, deprimida, meio maluquinha, e se saiu muito bem. Você é
incrível! A Suzana precisa de alguém como você, ela merece ser
feliz depois de tudo o que ela passou.
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Na rodoviária...
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_Agora? Eu... sei lá. Estou com medo. Ela está aí com você,
Leonardo?
_Está sim. Lúcia, para que esperar até amanhã? Não precisa ter
medo, vai ser um encontro emocionante.
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
Elas ficaram paradas, uma olhando para a outra sem saber o que
fazer. Leonardo precisou intervir.
_E aí, vão ficar assim o tempo todo?
Ele pegou na mão de Lúcia e a levou até Suzana. As duas amigas
estavam com os olhos marejados. Mais alguns segundos se
passaram, só então Suzana quebrou o silêncio.
_Oi, Lúcia, é assim que você gosta de ser chamada, não é?
_É. Suzana... ah, Suzana, eu nem sei, eu...
As duas amigas se abraçaram e choraram muito uma no braço da
outra. Não conseguiam dizer uma palavra, deixaram que as
lágrimas falassem por elas. Leonardo e Rita foram até a cozinha
para que elas pudessem viver aquele momento especial.
_Suzana, eu sinto muito. Amiga, eu sofri tanto com a sua ausência,
eu não conseguia entender o porquê que nós duas não podíamos
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Suzana ficou muito feliz ao saber que Lúcia iria voltar para a
faculdade e que também estava decidida a arrumar um emprego.
As duas amigas conversavam animadamente quando Rita
apareceu na sala anunciando que o almoço estava pronto,
Leonardo veio logo atrás trazendo os pratos e talheres para
arrumar a mesa.
Foi um almoço muito especial. Leonardo e Suzana se despediram
delas e combinaram de buscar Lúcia para o encontro de jovens
no dia seguinte.
Leonardo deixou Suzana no shopping para mais um dia de
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Suzana, Letícia, Paula e Lúcia – uma história de dor, amor e perdão
serviço.
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Aquele final de ano foi inesquecível para todos: para Paula, por
estar se recuperando muito bem, por estar na expectativa de no
próximo ano voltar para a faculdade de Veterinária e também
pelos pais estarem se entendendo; para Lúcia por ter saído de sua
prisão interior, por ter encontrado em Leonardo um amigo muito
especial e ter se reencontrado com a sua amiga Suzana; para
Letícia, por seu namoro, principalmente pelo fato de seus pais
estarem se dando muito bem com Daniel e finalmente, para
Suzana, pelos encontros e reencontros daquele ano: encontrou o
amor em Leonardo, a amizade em Letícia e reencontrou a alegria
de viver e a sua amiga de infância, Lúcia.
E Leonardo? Está muito feliz, por ter participado das conquistas
das amigas e principalmente por ter o amor de Suzana.
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Capítulo 38 -Novidades
14 meses depois...
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_A sua irmã está grávida? Uau! Vai casar daqui a um mês! Que
inveja!
_Leonardo? Inveja, é?
_Ah... eu gostaria que o nosso casamento estivesse marcado, como
eu gostaria! Mas, espera aí... eu...
_Leonardo, nada de ideias mirabolantes... precisamos esperar.
_Esperar o quê? Suzana, estamos namorando há quase dois anos,
eu quero...
_Calminha aí... agora é a vez da minha irmã. E nós estamos
namorando há um ano e meio.
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_Mas nós podemos marcar a data, não podemos? Não vai ser
daqui a dois ou três meses não, mas, quem sabe daqui a seis
meses, o que você acha?
_Leonardo, eu preciso terminar a pós e...
_Minha princesa, por quê?
_É melhor assim, já imaginou que correria?
_Suzana, eu quero que você seja minha esposa.
_Eu sei, mas vamos esperar.
_Quanto tempo? Eu quero uma data.
_Nossa, só porque a minha irmã vai casar? A situação dela é outra
e...
_Não é só porque ela vai casar, eu já tenho pensado nisso há
algum tempo. Suzana, quer casar comigo?
_Não faz assim... você me deixa sem jeito.
_Responda, por favor! Você quer casar comigo?
_Leonardo, isso não se faz, você já me colocando em uma
situação bem desconfortável...você me pegou de surpresa.
_Eu pensei que você me amasse tanto quanto eu a amo.
_Ah, agora você abusou. Está muito dramático!
_Dramático? Eu amo você e quero que seja a minha esposa. Por
que estamos namorando então?
_Leonardo, para com isso. É claro que eu quero ser a sua esposa,
mas...
_É isso que eu queria ouvir. Quando?
_Eu vou pensar com calma e dou a resposta daqui a uma semana.
Combinado?
_Tudo bem. Eu não quero pressioná-la, mas já está na hora, né?
Eu quero acordar todos os dias e vê-la ao meu lado, vai ser
maravilhoso.
_Meu Leonardo... eu amo você.
Ele chegou mais perto e a beijou.
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você.
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Capítulo 39 -Casamento
Apesar de toda a preocupação e de todos os seus receios, Suzana
estava feliz; os últimos meses foram de muita correria, por causa
dos estudos e principalmente pelos preparativos para o casamento.
Faltava só um mês para o tão esperado dia. Eles encontraram uma
casa bem agradável, próxima à casa dos pais de Leonardo. Tinha 3
quartos, sendo um com suíte, uma sala ampla, copa e cozinha,
com um pequeno, mas convidativo quintal com churrasqueira.
Demoraram alguns dias para escolher os móveis e também
correram para entregar todos os convites com uma certa
antecedência. Suzana, assim que ficou tudo certo com a data do
matrimônio, saiu com a mãe para escolher o vestido, e até que foi
uma tarefa fácil porque ela já havia olhado algumas revistas, assim
ela já tinha uma ideia do que queria.
Os padrinhos de Leonardo seriam: Letícia e Daniel, Paulinha e
Willian, Beatriz e Bruno, Jônatas e Jessica; os de Suzana: Sueli e
Maurício, Cláudia (que trabalhou com ela na loja de perfumes) e
Márcio (namorado dela), Lúcia e Henrique (um jovem da IGAG),
Marli e Moacir (tios dela de BH).
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_Tê-la aqui é tão bom, vó linda! - disse Suzana ao ficar a sós com
a avó- Nunca esqueço daqueles meses que a senhora passou aqui.
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O pastor Pedro Gabriel fez uma oração e após pediu para que os
convidados se sentassem.
_Queridos, hoje é um dia muito especial na vida destes dois.
Suzana e Leonardo, estão aqui hoje para se unirem. O casamento
é algo precioso aos olhos de Deus. O próprio Deus realizou a
união do primeiro casal: Adão e Eva. Ele viu que não era bom
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22 1 Coríntios 13.4-7
23 Mini dicionário Caldas Aulete
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amor.”24
A emoção tomou conta de todos os presentes, principalmente dos
pais de Suzana e da vovó Vivi, que sabiam o quanto aquelas
palavras significavam para ela.
Ao terminar, Leonardo beijou a mão de Suzana e sussurrou:
_Eu te amo!
Suzana nem conseguiu retribuir, as palavras simplesmente não
saíam. Leonardo tirou um pequeno lenço do bolso e enxugou as
lágrimas dela.
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25 Recife- Pernambuco
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Leonardo levantou-se antes das 8h e saiu para dar uma volta pelo
hotel, quando retornou Suzana já estava acordada.
_Bom dia, já podemos tomar o café da manhã?- disse ele.
_Bom dia. É claro que sim.
_Posso... não... não é nada, vamos então.
Leonardo, por um momento, pensou em perguntar para ela se ele
poderia beijá-la, mas mudou de ideia.
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Capítulo 41 – O retorno
Deixaram o hotel às 13h; durante o trajeto até o aeroporto eles
permaneceram entregues cada um ao seu próprio pensamento; e
durante o vôo até São Paulo não foi diferente. A situação só
mudou quando encontraram-se com Rafael, aí resolveram colocar
uma máscara para não transparecer que o clima entre eles não
estava nada bom.
_E então? Qual a opinião de vocês sobre Porto de Galinhas?
_Um verdadeiro paraíso- foi a resposta de Suzana.
_O lugar é maravilhoso, pena que a Suzana não gostou da
companhia- ironizou ele.
_Por quê?Vocês tiveram algum problema com a companhia aérea?
_Não, é brincadeira do Leonardo- disse Suzana lançando ao
marido um olhar de reprovação.
_A minha esposa tem razão, eu só estou brincando, estou com um
ótimo senso de humor hoje.
_Tem todos os motivos para isso. Suzana, domingo eu vi o seu
sobrinho, o nome dele é Mateus, certo?
_É isso mesmo.
_Ele está lindo.
_E a Vitória? - quis saber Leonardo.
_Está uma fofura, precisa ver a careta que ela faz! E o biquinho
quando vai chorar? É uma graça!
_Vovô coruja.
_Nós tiramos os presentes do quarto de vocês; colocamos no outro
quarto; são muitos presentes, vocês vão ter bastante trabalho.
_Que bom, nós não temos nada para fazer mesmo- Leonardo
respondeu novamente com ironia.
_Sei. É claro que vocês não têm nada para fazer e isso é ótimo,
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26 Mateus 6.12
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Eram oito horas quando Alessandra foi até a sala de Leonardo, ele
já estava trabalhando há pelos menos uma hora.
_Nossa, como você ama o seu trabalho! Já está aí todo
concentrado! Bom dia.
_Oi, bom dia, Alessandra. Tem razão ,eu amo o meu trabalho.
_Eu acho que do trabalho nós devemos gostar, há outras coisas
mais interessantes para amar e que dão mais... alegria e prazer.
_Será?
_Com certeza. É... eu estou um pouco sem jeito, mas eu preciso de
um favor.
_Pode falar.
_Bem... é que ontem à noite a chave do meu banheiro quebrou
dentro da fechadura.
_Tem um chaveiro aqui perto. É bem próximo ao restaurante que
almoçamos ontem.
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Ela queria que Leonardo tivesse a certeza das suas intenções para
logo mais à noite em sua casa.
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_Obrigado.
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vinho.
Jantaram em um restaurante muito aconchegante; conversaram
muito e até dançaram duas músicas românticas.
_Lembra quando nós dançamos pela primeira vez?
_É claro que lembro. Eu estava tão triste aquela noite; só ficava
pensando em sua reação ao saber do meu passado.
_Bom, é melhor não falarmos sobre isso. Suzana, você está
maravilhosa.
_E você também. Eu amo você. Vamos pra casa agora?
_Tudo bem, meu amor. Você manda.
_Mas você é o seu aniversário.
_Então eu vou dar uma ordem: beije-me!
_E eu obedeço.
Ela o beijou demoradamente e depois os dois foram para casa.
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Após terminar a leitura do cartão, ele olhou para ela com um largo
sorriso e disse sem esconder a emoção:
_Eu sei que vou amar muito este presente, muito.
Três horas depois, Suzana estava olhando para o marido que havia
adormecido. Ela enxugou algumas lágrimas que insistiam em cair
e sentou-se na cama, este movimento fez Leonardo acordar.
_O que foi? Aonde você vai?
_Vou tomar água, já volto.
_Ah... não demore.
_Não.
Segundos depois ela estava de volta.
_Suzana, você estava chorando? Conseguiu dormir um pouco?
_Chorando? Eu ainda não consegui dormir.
_Meu amor, por quê?
_Estou muito feliz, estou eufórica! Leonardo....
As lágrimas começaram a cair novamente.
_Minha princesa, pare de chorar.
_Eu preciso, são lágrimas de felicidade. Consegui, eu finalmente
consegui vencer o trauma. Parecia um obstáculo intransponível.
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_E você...
_Eu? Não tenho nada a ver com isso!
_É mesmo?
_Não. Eu tenho tudo a ver e sempre quero ser o responsável por
isso, sempre.
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Epílogo
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Fim
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