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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO


Jor

FACULDADE DE JORNALISMO
Editorial, comentário e artigo
MELO, José Marques de. Jornalismo opinativo. 3 ed. Campos do
Jordão : Mantiqueira, 2003, p. 101-128

Gêneros Opinativos: os núcleos emissores


A manifestação de opinião no jornalismo contemporâneo não é um fenômeno
monolítico. Por mais que a instituição jornalística tenha uma orientação definida
(posição ideológica ou linha política), em torno da qual pretende que as suas
mensagens sejam estruturadas, subsiste sempre uma diferenciação opinativa (no
sentido de atribuição de valor aos acontecimentos). As condições de produção do
jornalismo atual exigem a participação de equipes numerosas, donde a impossibilidade
de controle total do que se vai divulgar.
O monolitismo opinativo caracterizou a vida dos primeiros jornais e revistas,
que eram obra de uma só pessoa. Lembre-se, no Brasil, o caso de O Correio
Braziliense, nosso primeiro periódico, cuja unidade opinativa deve-se à circunstância
de haver sido produzido solitariamente por Hipólito da Costa, na inglaterra. Fenômeno
semelhante ocorreu com tantas publicações brasileiras do século passado: as
Sentinelas de Cipriano Barata, O Censor Maranhense, de Garcia de Abranches, O
Carapuceiro, do Padre Lopes Gama, A Aurora Fluminense, de Evaristo da Veiga, o
Observador Constitucional, de Líbero Badaró, ou idade D'Ouro do Brasil, inicialmente
de Gonçalo Vicente Portela e depois de inácio José de Macedo.
Desde o momento em que a imprensa deixou de ser empreendimento
individual e se tomou instituição, assumindo o caráter de organização
complexa, que conta com equipes de assalariados e colaboradores, a
expressão da opinião fragmentou-se seguindo tendências diversas e até
mesmo conflitantes. isso é uma decorrência do processo de produção industrial, pois
a realidade captada e relatada condiciona-se à perspectiva de observação dos
diferentes núcleos emissores.
O fenômeno toma mais significativo nas empresas de radiodifusão, cuja rapidez
no processo de emissão mostra-se incompatível com os controles que pretendam
unificar as mensagens.
Como vimos no capítulo anterior, as instituições jornalísticas buscam encontrar
mecanismos que assegurem, se não o controle, pelo menos a supervisão e o
acompanhamento das etapas que transformam em notícia os acontecimentos que
surgem e refletem o dinamismo da sociedade.
De qualquer maneira, a estrutura do jornalismo industrial comporta, até mesmo
por razões mercadológicas, diferenças de perspectiva na apreensão e valoração da
reahdade. Talvez não se possa falar de pluralismo, porque toda instituição jornalística
possui sua linha editorial que, através da seleção de informações (pauta, cobertura,
copidesque), entrelaça o fluxo noticioso e lhe dá um mesmo sentido. Mas existe uma
abertura para que a valoração das notícias possa ensejar a circulação de diferentes
pontos de vista. A amplitude desse espaço viana de instituição para instituição e
depende sempre da conjuntura política nacional.
Essa valoração dos acontecimentos concretiza-se através dos gêneros
opinativos e emerge de quatro núcleos: a) empresa, b) o jornalista, c) o colaborador,
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d) o leitor. A opinião da empresa, ademais de se manifestar no conjunto da


orientação editorial (seleção, destaque, titulação),DE
FACULDADE aparece oficialmente no editorial. A
JORNALISMO
opinião do Jornalista, entendido como profissional regularmente assalariado e
pertencente aos quadros da empresa, apresenta-se sob a torma de comentário,
resenha, coluna crônica, caricatura e eventualmente artigo. A opinião do colaborador,
geralmente personalidades representativas da sociedade civil que buscam os espaços
jornalísticos para participar da vida política e cultural, expressa-se sob a torma de
artigos. A opinião do leitor encontra expressão permanente através da carta.
Esses gêneros possuem características comuns, do ponto de vista da estrutura
redacional ou da perspectiva de análise, como antecipamos no capítulo ii. No entanto,
cada um deles tem sua própria identidade no contexto do jornalismo brasileiro. É bem
verdade que quase todos são gêneros universais, presentes na totalidade jornalística
de vários países, especialmente dos países latinos. Mas assumem caracterização
própria em nosso país, ainda que possam guardar certos traços do jornalismo europeu
ou norte-americano, de que se nutrem na sua origem. A essa tarefa de esboçar a
caracterização de cada gênero, tal como se apresenta nas manifestações jornalísticas
brasileiras, sem deixar contudo de fazer as necessárias referências que a bibliografia
estrangeira resgatou, vamos nos dedicar a seguir. Trata-se de um esforço que
privilegiará inevitavelmente o jornalismo impresso, uma vez que o jornalismo
eletrônico nacional ainda carece de uma observação sistemática nas universidades e
centros de pesquisa do país.

O editorial
Editorial é o gênero jornalístico que expressa a opinião oficial da
empresa diante dos fatos de maior repercussão no momento. Todavia, a sua
natureza de porta-voz da instituição jornalística precisa ser melhor compreendida e
delimitada.
Popularmente se diz que o editorial contém a opinião do dono ou da emissora
de radiodifusão. isso é verdade nas organizações de porte médio ou nas pequenas
empresas, onde o Controle financeiro fica nas mãos de um proprietário ou de Sua
família.
Precisando o conceito de editorial diz Raúl Rivadeneira Prada que, ao lhe atribuir
o sentido de "opinião da empresa". torne-se indispensável caracterizar as "relações de
propriedade" da instituição jornalística. Pois, nas sociedades capitalistas, o
editorial reflete não exatamente a opinião dos seus proprietários nominais,
mas o consenso das opiniões que emanam dos diferentes núcleos que
participam da propriedade da organização. Além dos acionistas majoritários, há
financiadores que subsidiam a operação das empresas, existem anunciantes que
carreiam recursos regulares para os cofres da organização através da compra de
espaço, além de braços do aparelho burocrático do Estado que exerce grande
influência sobre o processo jornalístico pelos controles que exerce no âmbito fiscal,
previdenciário, financeiro.
Assim sendo, o editorial afigura-se como um espaço de contradições.
Seu discurso constitui uma teia de articulações políticas e por isso representa um
exercício permanente de equilíbrio semântico. Sua vocação é a de apreender e
conciliar os diferentes interesses que perpassam sua operação cotidiana.
Mas se o editorial expressa essa opinião das forças que mantêm a instituição
jornalística, torna-se necessário indagar para quem se dirige em sua argumentação. A
resposta poderia ser tranquila: a opinião contida no editorial constitui um indicador que
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pretende orientar a opinião pública. Assim sendo, o editorial é dirigido à


coletividade. FACULDADE DE JORNALISMO
Na realidade, isso acontece em relação às empresas que atuam nas
sociedades que possuem uma opinião pública autônoma. Em outras palavras:
que dispõem de uma sociedade civil forte e organizada, contrapondo-se ao poder do
Estado.
Este não é o caso da sociedade brasileira, cuja organização política tem no
Estado uma entidade todo-poderosa, presente em todos os níveis da vida social. Por
isso é que os editoriais difundidos pelas empresas jornalísticas, embora se
dirijam formalmente à "opinião pública", na verdade encerram uma relação
de diálogo com o Estado.
Trata-se de uma hipótese que precisa ser demonstrada sistematicamente, mas
que corresponde à apreensão desse gênero jornalístico a partir da observação que
temos feito durante anos a fio. A leitura de editoriais dos jornais diários, por exemplo,
inspira-nos a compreensão de que as instituições jornalísticas procuram dizer aos
dirigentes do aparelho burocrático do Estado como gostariam de orientar os assuntos
públicos.
E não se trata de uma atitude voltada para perceber as reivindicações da
coletividade e expressá-las a quem de direito. Significa muito mais um trabalho de
"coação" ao Estado para a defesa de interesses dos segmentos empresariais e
financeiros que representam. Esta é a nossa percepção do editorial na imprensa
brasileira.
Evidências que corroboram essa tese já haviam sido indicadas por Jonathan
Lane. Ele analisou a participação das instituições jornalísticas brasileiras na queda do
Governo Goulart e verificou que sua intenção explícita nos dias que precederam o
golpe militar de 31 de março era criar pânico entre as forças armadas, conduzindo-as à
insurreição contra o regime constitucionalmente instalado. Depois foram ratificadas por
Alfred Stepan que estudou o comportamento dos editoriais dos grandes diários do Rio
e de São Paulo em relação aos golpes de Estado que foram tentados ou efetivados
durante o pãríodo 1945-1964. Sua conclusão é a seguinte: os golpes armados
abertamente pelos editoriais dos grandes jornais obtiveram êxito; os golpes
que não contaram com o entusiasmo dos editorialistas fracassaram. Em certo
sentido, Eron Brum traz reforço a essa hipótese de que os editoriais são dirigidos ao
Estado e não à opinião pública (embora esta tome conhecimento da argumentação
usada e funcione como massa de. manobra), quando mostra que os editoriais do jornal
A Tribuna, de Santos, no período que antecedeu abril de 1964 privilegiaram três
grandes temas: política, economia ã administração, concentrando suas baterias contra
Goulart e seus ministros.
Sabendo que dispõem dessa força e que encontram correspondência no
aparelho estatal, as instituições jornalísticas atribuem à produção de editoriais uma
atenção toda especial que supõe plena integração entre as políticas da empresa e os
interesses corporativos que defendem.
Um caso típico é o do Jornal do Brasil, O esquema de elaboração dos seus
editoriais está registrado por Natalício Norberto, cujos detalhes vale a pena
transcrever. Trata-se de um relato feito pelo próprio JB, na década de 60.
Tendo em geral a notícia como fator determinante, os editoriais ou são baseados em
fatos atuais ou em assuntos de interesse permanente - o tráfego, por exemplo. Para
sua elaboração, os editorialistas (...) se reúnem com a Diretoria do Jornal, para
debaterem os assuntos em pauta e selecionarem os itens que velo ser abordados no
dia.
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Para isto, todos os setores da redação e sucursais do JB por todo o país mandam as
informações mais recentes sobre os fatos queDE
FACULDADE estão acontecendo, ajudando assim na
JORNALISMO
atualização dos editarialistas - que já devem estar a par das notícias através da leitura
nela só do JB, mas também de outros jornais, para que a visão dos acontecimentos
seja a mais ampla possível. Os assuntos são todos anotados e debatidos, ouvindo-se a
opinião dos presentes para chegar-se a uma conclusão, que é então submetida à
Diretoria, responsável pela linha do jornal, para o tratamento do assunto.
O número de editoriais por edição nela é fixo, mas a maior constante é de três. Os
temas são repartidos entre os editorialistas, nunca ocorrendo de vários deles fazerem o
mesmo editorial. Cada um é escalado para estudar o seu tema e quando ele é somente
um, um único editorialista se encarrega dele.
Assim que os editoriais ficam prontos são nOl'amente submetidos à Diretoria que os
aprova ou então indica a melhor linha a ser tomada de modo a mio prejudicarem
aquela seguida pelo jornal.
Para sua melhor atualização e seu maior conhecimento nos assuntos de ordem geral,
os editorialistas costumam ter; uma vez cada semana, reuniões com personalidades
especializadas em assuntos de interesse não muito imediato, mas que funcionam como
informação num processo de esclarecimento confidencial off the record.
Observa-se então que cada editorial, numa grande empresa jornalística, passa por um
sofisticado processo de depuração dos fatos, de conferência dos dados, de checagem
das fontes. A decisão é tomada pela diretoria, funcionando o editorialista, que
se imagina alguém integrado na linha da instituição, como intérprete dos
pontos de vista que se convenciona devam ser divulgados. Além disso, o
contacto com personalidades externas à organização significa a sintonização com as
forças de que depende o jornal para funcionar ou cujos interesses defende na sua
política editorial.
Está distante aquela prática de redação dos editoriais nos velhos jornais e
revistas, cuja tarefa era desempenhada pelo "dono", ou seja, pelo jornalista-
proprietário. Como hoje as empresas jornalísticas pertencem a grandes corporações ou
são gerenciadas por pessoas que nem sempre emergiram profissionalmente do
jornalismo, é compreensível que precisem apelar para redatores tarimbados que fazem
a mediação entre a opinião institucional e a mensagem estampada nos editoriais.
Mas além desse traço político-social, o editorial como gênero jornalístico
tem sua identidade redacional. Fraser Bond diz que se trata de um ensaio
curto, embebido do senso de oportunidade. "O editorial do jornal hodierno tem
emergido como uma forma jornalística peculiar. Seu primo literário mais próximo é o
ensaio. Mas o editorial difere do ensaio, em sua brevidade e também porque insiste em
sua natureza contemporânea".
Esse perfil do editorial na imprensa norte-americana corresponde em grande
parte à sua feição brasileira. Juarez Bahia o confirma: "Parente literário do ensaio, o
editorial é, no jornal, no rádio ou na televisão, a palavra do editor, a opinião do veículo
ou da empresa. Antigamente essa opinião tinha o nome de artigo-de-fundo ou
comentário".
Mas o que constitui atributo específico do editorial? Beltrão aponta quatro:
impessoalidade (não se trata de matéria assinada, utilizando portanto a terceira
pessoa do singular ou a primeira do plural); topicalidade (trata de um tema bem
delimitado, mesmo que ainda não tenha adquirido configuração pública);
condensalidade (poucas idéias, dando maior ênfase às afirmações que às
demonstrações); plasticidade (flexibilidade, maleabilidade, não dogmatismo ).
Retomemos esses atributos e os analisemos brevemente. A impessoalidade
tem suas raízes na própria transição das instituições jornalísticas, que
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deixaram de ser propriedades individuais ou familiares e se tornaram organizações


complexas. Logo, não há mais lugarFACULDADE
para o "artigo de fundo" que era assinado pelo
DE JORNALISMO
proprietário. A topicalidade emerge da alteração ocorrida na estrutura editorial
das empresas brasileiras, principalmente dos jornais diários, que substituíram o
editorial único (e necessariamente abrangente) por vários editoriais, cada um
deles tratando de questão específica, dentro de limites precisos e analisados com
competência. A condensabilidade é uma contingência dos tempos modernos. O leitor
dos dias atuais, vivendo nos grandes centros urbanos, dispõe de tempo escasso para a
leitura do jornal. E se o editorial pretende formular um ponto de vista significativo
obtendo a adesão do público, necessita ser breve e claro. A plasticidade decorre da
própria natureza dos fenômenos jornalísticos. Nutrindo-se do efêmero, do
circunstancial, o relato jornalístico não pode permanecer estático. E, se lhe cabe
valorar os fatos que estão acontecendo, é indispensável acompanhar o ritmo dos
próprios fatos e apreendê-los nos seus desdobramentos, nas suas variações.
Mesmo possuindo esses atributos, o editorial não consegue galvanizar o
interesse de maior contingente do público leitor dos jornais diários. José
Nabantino Ramos menciona pesquisas feitas em São Paulo que constatam o seguinte:
"os editoriais são lidos por menos de 10% dos leitores". Danton Jobim diz que "lê-se
hoje menos o editorial que no passado".
Por que o leitor brasileiro recusa o editorial? Alan Viggiano aponta algumas
razões: 1) o editorial é massudo - maciço, sem subtítulos, com poucos parágrafos,
muito intelectualizado; 2) destina-se a uma determinada classe de leitores -
empresários e políticos; 3) não é valorizado - figura isoladamente na superfície
impressa, distante das matérias que tratam informativamente dos mesmos temas; 4)
não interessa ao leitor - geralmente o tema abordado não diz respeito ao universo
específico do público.
Na última metade do século XX, algumas mudanças ocorreram na estrutura dos
jornais e algumas dessas críticas foram sanadas. Os editoriais hoje gozam de melhor
posição na superfície impressa, sendo mais legíveis e menos massudos. Mas o
fundamental não se alterou. Os editoriais continuam a tratar daqueles temas que não
correspondem aos interesses cotidianos dos seus leitores. Persiste a atitude de tomar
como referencial para o posicionamento cotidiano aquelas questões já apontadas por
Brum - política, economia, administração -deixando à margem problemas ligados ao
mundo do trabalho, à saúde, à educação. E se eventualmente tais nuanças são
captadas e valoradas é porque assumem o caráter de assuntos que atestam a
disfuncionalidade ou a negligência dos organismos governamentais. Nunca são
tratados na sua essência.
Mas este não é um problema específico dos editoriais. Trata-se de uma
característica dos jornais diários brasileiros, que assumem postura claramente elitista.
As exceções são as dos jornais "populares" que levam o sensacionalismo a
consequências desmedidas e também não se preocupam com as questões
fundamentais do público leitor. Tratam aliás de despistá-las.
Eliminar pura e simplesmente os editoriais não é uma medida que conte com a
aprovação dos leitores (e da qual certamente as instituições jornalísticas sequer
cogitam). Numa pesquisa feita no Rio de Janeiro, 78% dos entrevistados repeliram a
hipótese de suprimir os editoriais dos jornais brasileiros, justificando: "o editorial é
uma janela que permite a expressão do ponto de vista que oferece aos leitores melhor
idéia dos fatos nacionais e internacionais" .Verificou-se, por outro lado, que os leitores
de editoriais pertencem à "idade madura, embora os jovens não o deixem de lado".
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Danton Jobim chegou a cogitar do editorial "ideal": "aquele que, realmente, se


possa resumir em dois parágrafos: o FACULDADE
primeiro enunciando a tese, numa frase curta, e o
DE JORNALISMO
último confirmando-o, numa frase incisiva, que seria a ampliação da primeira”.
A fórmula de Jobim chegou a ser aplicada pela Folha de São Paulo, na década
de 60, publicando "textos opinativos, com títulos na página editorial sobre os principais
assuntos do dia", conforme constatou Beltrão. Ele também observou que jornais
cariocas fizeram inovações: o Correio da Manhã chegou a usar subtítulos e O Globo
deslocou seu editorial para a primeira página.
Onde está o cerne do problema? Por que o editorial não suscita o interesse
dos grandes contingentes de leitores? Além das razões já apontadas (o conteúdo
do próprio editorial), Beltrão identifica o anacronismo ou superação das páginas
onde os editoriais se localizam. Segregar todo o conjunto das principais matérias
opinativas numa única página constitui um erro de concepção no modo de "exprimir a
opinião do editor". Sua sugestão é a de combinar os gêneros opinativos com os demais
gêneros no conjunto da superfície impressa.
A maioria dos jornais diários no Brasil permanece contudo mantendo o editorial
na página chamada de opinião. Ou melhor, os editoriais, pois vem se tornando geral a
orientação de publicar pontos de vista sobre as principais questões do momento. Daí a
existência de diferentes espécies de editoriais. Beltrão classifica-os segundo cinco
variáveis: morfologia, topicalidade, conteúdo, estilo e natureza.
Quanto à morfologia, os editoriais que aparecem na imprensa brasileira se
diferenciam em: artigo de fundo (editorial principal), suelto (pequena análise sobre
um fato da atualidade) e nota (registro ligeiro de uma ocorrência, antecipando suas
consequências ao leitor). A topicalidade produz três espécies de editoriais: preventivo
(focalizando aspectos novos que podem produzir mudanças), de ação (apreendendo o
impacto de uma ocorrência) e de consequência (visualizando repercussões e efeitos).
No que se refere ao conteúdo, temos: informativo (esclarecedor), normativo
(exortador) e ilustrativo (educador). O estilo pode sugerir duas espécies: o
intelectual (racionalizante) e o emocional (sensibilizante). Finalmente, quando à
natureza, o editorial se divide em: promocional (coerente com a linha da empresa),
circunstancial (oportunista, imediatista) e polêmico (contestador, provocador). O
editorial é um gênero quase exclusivo da imprensa, ou, mais precisamente,
dos jornais. Nas revistas, o editorial aparece com mais frequência nos periódicos
culturais ou políticos, pois as revistas de informação geral recorrem às "cartas dos
editores, mais próximas daquilo que poderíamos chamar de merchandising jornalístico
do que de expressões opinativas".
No rádio e na televisão, a presença do editorial é episódica. Quase sempre
ocorre em momentos de crise, de conturbação social, quando as emissoras se sentem
compelidas a dizer o que pensam sobre os acontecimentos.
A explicação para essa ausência do editorial no jornalismo eletrônico nos é dada
por Zita de Andrade Lima: "Na prática, poucas emissoras brasileiras editorializam, e
isto se deve, entre outras razões, pelo receio da responsabilidade, escassez de bons
editorialistas, ignorância do seu poder na formação da opinião pública e pouca dose de
interesse no bem comum". Mais adiante, ela apresenta a razão que nos parece
decisiva: " ... o rádio é uma concessão do Estado e sua utilização pelos que exploram
as ondas magnéticas está sujeita a uma série de imposições regulamentares e técnicas
que impõem ao diretor, como ao editorialista, muito mais cuidado na produção e
difusão de programas opinativos".

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Mesmo quando aparece de forma bissexta. o editorial no rádio e na televisão


não tem fisionomia própria. É o editorial falado, oDE
FACULDADE editorial lido. Sua estrutura segue a
JORNALISMO
mesma técnica de elaboração do editorial que se publica no jornal, adicionando-se à
leitura do texto uma "característica sonora especial" no caso do rádio, e a cena de
locução, no caso da TV.

Comentário
Gênero só recentemente introduzido no Brasil, o comentário atendeu a uma
exigência da mutação jornalística que se processou através da rapidez na di vulgação
das notícias (rádio e televisão). informado rapidamente e resumidamente dos fatos
que estão acontecendo, o cidadão sente-se desejoso de saber um pouco mais e quer
orientar-se sobre o desenrolar das ocorrências.
Há muito tempo o comentário era cultivado no jornalismo norte-americano,
onde se privilegiavam certas figuras de relevo (oriundas da própria profissão), cujo
espaço cultivado permitiu que se convertessem em opinion-makers.
O comentarista é geralmente um jornalista com grande experiência e
tirocínio, que acompanha os fatos não apenas na sua aparência, mas possui dados
sempre disponíveis ao cidadão comum. Trata-se de um observador privilegiado, que
tem condições para descobrir certas tramas que envolvem os acontecimentos e
oferecê-las à compreensão do público.
Quase sempre bem remunerado, o comentarista é um profissional que
possui farta bagagem cultural, e portanto tem elementos para emitir opiniões
e valores capazes de credibilidade. Atua assim como líder de opinião. Seus juízos e
apreciações merecem respeito não só dos receptores, mas também dos personagens
do mundo da notícia.
Contudo, o comentarista não é um julgador partidário, alguém que faz
proselitismo ou doutrinação. É um analista que aprecia os fatos, estabelece conexões,
sugere desdobramentoS, mas procura manter, até onde é possível, um distanciamento
das ocorrências. isso não quer dizer que seja neutro. Ao contrário, trata-se de um
profissional participante, que possui opinão propria, mas atua como agente da notícia e
não procura exercer sua função para extrair vantagens posteriores (cargos
públicos/ascensão política). Em síntese, assume-se como juiz da coisa pública. Orienta
sem impor. Opina sem paixão. Conduz sem se alinhar.
O comentário surgiu como tentativa de quebrar o monopólio opinativo do
editorial. Esse monopólio era consequência da unidade ideológica que possui o
jornalismo pre-industrial. Mas, quando as instituições jornalísticas tomam caráter
mercantil, seus dirigentes deparam-se com a inevitabilidade das concessões sociais.
Concessões ao Estado, que mantém sua espada legal permanentemente afiada;
concessões aos grupos econômicos, que controlam o fluxo financeiro através da
compra de espaço/tempo para os anúncios, concessões à audiência, da qual dependem
para justificar os próprios investimentos publicitários. Por isso, tomou-se incômodo
manter o monopólio opinativo que expressava, através do editorial, o ponto de vista
das forças diretamente responsavels pelo funcionamento da empresa jornalística.
Desta forma, o comentário emerge como gênero definido, realizando uma
apreciação valorativa de determinados fatos. A ótica utilizada não é necessariamente a
da empresa. Abre-se oportunidades para que o jornalista competente possa emitir
suas próprias opiniões, responsabilizando-se naturalmente por elas.

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Enquanto o editorial se adstringe à emissão de opiniões sobre os fatos de maior


importância, o comentário cumpre a FACULDADE
tarbefa de examinar fatos também significativos
DE JORNALISMO
mas de menor abrangência, com independência em relação à linha editorial.
A vigência do comentário é uma função da projeção do comentarista. Criando
vínculos com os receptores, o comentarista torna-se um ponto de referência
permanente. Suas avaliações da conjuntura são buscadas porque o cidadão quer saber
como comportar-se diante dos acontecimentos, reforçando seus pontos de vista ou
procurando conhecer novos prismas para entender a cena cotidiana.
Os grandes mitos do jornalismo norte-americano como Walter Lippmann ou
James Restonm firmaram-se no panorama político através do comentário. O mesmo
pode-se dizer, no Brasil, de Newton Carlos ou Paulo Francis.
O surgimento do comentário no jornalismo brasileiro afigura-se como espaço
propício para a expressão opinativa dos seus profissionais. As oportunidades para a
manifestação de opinião em nossos veículos jornalísticos sempre estiveram
acessíveis aos grandes intelectuais ou aos repórteres destacados. Nunca aos
redatores que demonstravam potencialidades de análise e de previsão dos
acontecimentos. Aos que revelavam tendências dessa natureza restava a chance de
produzir editoriais na medida em que merecessem a confiabilidade da empresa.
Com exceção dos repórteres de "faro" que descobriam fatos sensacionais e
mobilizavam o interesse do público, o jornalismo brasileiro sempre foi avaro em
projetar grandes nomes. Uma das raridades é Assis Chateaubriand, que praticou
intensamente o comentário já na década de 50, mas isso se explica pelo fato de ser
ele o proprietário dos jornais em que escrevia.
É em meados da década de 60 que a imprensa brasileira passa por um período
de "modernização". Além de incorporar as novas conquistas tecnológicas, absorve
também alguns dos padrões do jornalismo norte-americano, entre os quais o tipo de
unidade redacional assinada por um jornalista competente que se torna, pouco a
pouco, personalidade pública pelas opiniões que emite.
Essa revolução começa com Última Hora, jornal criado por Samuel Wainer, no
Rio de Janeiro, que se transformaria em cadeia nacional. Profissionais categorizados
são chamados a atuar como observadores do cenário noticioso e transmitir suas
impressões aos leitores. O padrão seria acompanhado pelas grandes empresas - JB,
Estadão, Folha de S. Paulo, Abril. Comentaristas como Carlos Castelo Branco, Carlos
Chagas. Newton Carlos, Alberto Dines, Josué Guimarães, Mino Carta etc. despontam
como exegetas do transitório, como captadores do sentido que entrelaça cada faceta
do movimento da sociedade.
O que é o comentário? Martínez Albertos diz que é um "editorial assinado".
Eugênio Castelli o identifica como gênero intermediário entre o editorial e a crônica,
porque ãtiliza o método expositivo do editorial, mas introduz a ironia e o humor da
crônica.
Na verdade o comentário tem sua própria especificidade enquanto
estrutura narrativa do cotidiano. Trata-se de um gênero que mantém vinculação
estreita com a atualidade, sendo produzido em cima dos fatos que estão ocorrendo.
Vem junto com a própria notícia. Por isso é difícil de ser realizado, exigindo muita
argúcia no sentido de evitar prognósticos não confirmáveis.
Tem razão Martínez Albertos quando diz que o comentário é o "vaticínio mais ou
menos profético do posterior desenvolvimento dos fatos". Para tanto, o comentarista
precisa ser muito bem informado de modo ajulgar os acontecimentos com rapidez e
prever seus desdobramento.
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O comentário explica as notícias, seu alcance, suas circunstâncias, suas


consequências. Nem sempre o comentarista FACULDADE DEemite uma opinião explícita. Seu
JORNALISMO
julgamento é percebido pelo raciocínio que utiliza, pelos rumos da sua argumentação.
Uma característica inerente ao comentário é a sua continuidade. Uma
matéria que contém apreciação sobre um fato articula-se necessariamente com as que
a antecederam e com as que virão. Pois o ofício do comentarista é justamente
estabelecer o nexo que liga os fatos. E estes só adquirem sentido no tempo. Uma
versão apresentada hoje pode sofrer alteração amanhã, de acordo com as tendências
da realidade. Compete ao comentarista perceber essas mutações e ajudar o seu
público a entendê-las.
Quando um conjunto de comentários é reunido em livro anos depois da sua
publicação, como o fez Carlos Castelo Branco com as visões do movimento militar de
1964, pode-se observar com nitidez essa transitoriedade de cada texto.
Todavia, a leitura continuada assegura a compreensão do todo a partir sempre
do roteiro corretivo que o comentarista teã necessidade de fazer. Cada comentário do
presente pode ser capítulo da história que se faz.
Referindo-se, por exemplo, a Newton Carlos cujos comentários rotula
indevidamente como "crônicas", o jornalista Márcio Cavalheiro, na resenha "Grotesca
América" (Jornal do Brasil, 26-08-1979), apreende essa dimensão histórica (daí talvez
o emprego das palavras "crônica", "cronista", que correspondem a "registro para a
história", "historiador do presente") das matérias que integram o volume América
Latina: dois pontos (Rio de Janeiro, Codecri, 1978). - "Escritas muitas vezes diante do
próprio cenário em que se desenrolam os fatos, essas crônicas, em seu conjunto,
acabam por formar um painel expressivo da sombria realidade deste pedaço de mundo
... ( ... ) ... Newton Carlos pouco argumenta em favor dos seus pontos de vista. Joga
os fatos na mesa e deixa que eles falem por si próprios. E para que falem com maior
eloquência, o autor recorre às justaposições, aos símiles, às metáforas, à iluminação
restrita do palco, mostrando apenas o personagem que conduz à ação".
A angulagem do comentário é o imediato. Ver e perceber o que transcende a
aparência constitui seu maior desafio. Exige uma permanente sintonização do
jornalista que pratica esse gênero com suas fontes de informação.
Sua técnica de realização é mais livre que a do editorial. Estrutura-se em duas
partes: a) síntese do fato e enunciação do seu significado; b) argumentação
que sugere o seu julgamento.
Raramente o comentário é conclusivo. Arriscar uma conclusão é perigoso, já
que se torna exíguo o tempo que tem o comentarista entre a ocorrência e a sua
apreciação. As conclusões vão emergindo naturalmente como consequência dos
julgamentos anteriores.
Por sua própria natureza, o comentário exige especialização. Não há
comentarista de assuntos gerais. Cada jornalista acumula experiência e conhecimento
num setor (política, economia, esportes) e se dedica a discernir a evolução do que
acontece. Comentar é uma tarefa que pressupõe ancoragem informativa e perspectiva
histórica. Sem dispor de dados concretos e de referencial analítico, o comentário corre
o perigo de cair no vazio e fraudar o receptor. Afinal de contas, quem recorre ao
comentário quer dispor de uma bússola para entender a contemporaneidade.
Castelli identifica três espécies de comentários:
1) Análise de um problema (cujo estilo é similar ao editorial, manejando dados
eruditos e imprimindo certa subjetividade, mas agregando traços de humor e ironia);

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2) Documentação de um fato (utiliza o estilo do relatório, valendo-se muitas vezes


dos recursos da reportagem, FACULDADE
sem excluir porém a formulação de juízos pessoais
DE JORNALISMO
provenientes da observação direta);
3) Crítica de uma situação (apreciação pessoal, realçando a natureza da situação
analisada, mas antecipando as possibilidades de solução).
O comentário ainda não teve o seu diagnóstico feito com precisão no jornalismo
brasileiro. Historicamente ele surge na década de 50, principalmente com a expansão
da televisão, e atinge um período de fulgor na primeira metade da década de 60. Mas
como comentar é uma atividade jornalística que não pode prescindir de liberdade, no
duplo sentido de expressar pontos de vista e de apreender o que ocorre no cenário dos
acontecimentos, observa-se um declínio após o golpe de 1964: Além da censura que
se estabelece nos processos de difusão, com maior ou menor intensidade, verifica-se
também o fechamento das fontes de informação. Um dos traços dos governos militares
foi a circunscrição das decisões políticas aos reservados gabinetes das figuras de
projeção e o certo ar de mistério que cercou o palco da notícia. Muitas medidas de
grande repercussão no campo político ou econômico passaram a ser anunciadas de
surpresa, pegando a opinião pública desprevenida.
As pesquisadoras Scavone, Belloni e Garbayo), que estudaram o noticiário
político brasileiro, na década de 60, em jornais cariocas, registraram essa mudança
radical que ocorre no comportamento informativo da grande imprensa, antes e depois
de 1964.
É natural portanto que os comentaristas tenham encontrado inibição para o
exercício do seu trabalho. Alguns importantes jornalistas, que se dedicaram ao
comentário na cadeia Ultima Hora e também em outros jornais, praticamente
desapareceram da vida nacional, cassados, acuados ou amedrontados. Outros tiveram
seu espaço de atuação restringido pelas próprias empresas jornalísticas, temerosas de
desagradar os novos donos do poder.
Figuram solitariamente como cultores desse gênero personalidades como Carlos
Castelo Branco (Jornal do Brasil) ou Carlos Chagas (O Estado de S. Palllo), além de
Newton Cairlos, dedicado ao comentário de assuntos internacionais.
São os tempos da distensão ou da abertura que fazem renascer o comentário.
Durante o período da censura ostensiva, quando alguns jornais chegam a registrar o
corte de informações (através dos espaços em branco ou dos poemas de Camões e das
receitas culinárias), é compreensível que o próprio público não tenha mostrado
interesse em ver comentado o noticiário político. Se a própria notícia não merecia
veracidade, porque os cidadãos tinham consciência do seu controle pelos militares,
então não valia a pena ler os comentários. Os que permaneceram ativos entregaram-
se a um trabalho refinadíssimo de explicar os fatos atraãés de uma linguagem cifrada
que só os iniciados nos bastidores da política podiam perceber com exatidão.
O campo que se afigura livre para o comentário é o dos esportes, não apenas
pela coincidência da valorização do futebol como válvula de escape nacional, mas pela
liberdade de atuação de que gozam os jornalistas esporti vos para emi tir conceitos e
sugerir julgamentos. O comentário esportivo floresce nos jornais, revistas
especializadas e ganha enorme importância no rádio. Sua presença na televisão torna-
se imprescindível nos momentos em que as disputas interclubes atingem seu auge.
sobretudo para atender ao anseio de compreensão da cena esportiva pelo receptor que
não é aficcionado daquela modalidade de esporte.
Com a abertura, especialmente nos anos 1975-1976, o comentário reaparece
com vigor. Na imprensa diária, esse gênero encontra na Folha de S. Paulo
Oportunidade para o seu desenvolvimento e também para a sua melhor configuração
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estrutural. A transformação da página opinativa daquele matutino paulista,


reintroduzindo até mesmo o editorial FACULDADE
que chegou a DEser suprimido durante certo tempo,
JORNALISMO
abre espaço para a. atuação de vários comentaristas (Alberto Dines, Ruy Lopes, Josué
Guimarães, Samuel Wainer etc.). O jornal adota a iniciativa de comentar os
acontecimentos a partir de diferentes ângulos geográficos: as rubricas dos comentários
distribuem-se segundo as principais cidades brasileiras, onde residem e de onde os
comentaristas observam a vida política. Outra inovação é a de valorizar o comentário
econômico pela significação cada vez maior que a economia assumiu no quadro da
modernização nacional. Emerge então o maior cultor desse gênero no país, que é
Joelmir Betting.
A importância dos comentários publicados na Folha de S. Paulo justifica-se pelo
perfil narrativo que o gênero ali assume. Distanciando-se do tom solene, do estilo
rebuscado e da exposição metafórica (comum em Castelo Branco e Carlos Chagas,
mas que atinge sua maior sofisticação em Vilas Boas Correia), o comentário na FSP
adquire leveza. agilidade e simplicidade. Usando frases Curtas, através das quais as
informações precisas fluem com naturalidade, os comentaristas costuram o tecido do
cotidiano e sugerem a tendência visível. Muitas vezes, o mesmo acontecimento
merecia diferentes comentários, ensejando a percepção dos prismas que os fatos
adquirem a partir da sua repercussão em vários pontos do território nacional.
Do jornal o comentário ganha a televisão. Ali tem seu espaço garantido nos
assuntos internacionais. Newton Carlos inicia competentemente o seu exercício, mas
nunca chega a atingir o padrão ideal para o comentário televisivo, pois permanece
preso ao texto, se não o texto lido, a expressão oral atravéssada pela construção
escrita. O comentário na TV brasileira atinge sua plena expressão com Joelmir Betting,
inicialmente na área econômica e depois ampliando-se para o setor político-social.
Posteriormente, Paulo Francis dedicou-se com inteligência, ironia e conhecimento a
comentar os fatos internacionais e as ocorrências ligadas à vida nacional cujo palco foi
deslocado para Nova iorque.
Foi porém no rádio que o comentário encontrou sua maior expressão no
jornalismo brasileiro contemporâneo. Durante muito tempo, ele se fez por personagens
como Vicente Leporace que realizou cotidianamente no programa O Trabuco (Rádio
Bandeirantes) uma análise informal do noticiário publicado nos jornais da manhã. Era o
comentário das ocorrências que ganhavam as manchetes, numa linguagem direta,
coloquial, mas sem dúvida presa à construção verbal mais elaborada. As frases de
Leporace, por exemplo, fluíam no velho estilo discursivo, retórico, impostado, apesar
da força emotiva que muitas vezes imprimia.
Nos últimos anos, depois da anistia, das eleições diretas para governadores, do
aguçamento da crise econômica, quando toda a sociedade civil despertou para os
problemas nacionais, o comentário ganhou enorme espaço nas emissoras de rádio e
adquire pouco a pouco a sua identidade, enquanto gênero que se liberta da expressão
elaborada, apreendendo o sentido dos acontecimentos por intermédio de uma
linguagem descontraída, natural, espontânea. Programas como os que Nevile Jorge e
Maria Lídia mantêm diariamente na Rádio Record introduzem a espécie do comentário
dialogado, que suscita no ouvinte a impressão de estar participando de uma conversa
agradável, onde os fatos de maior interesse são repassados e avaliados.
O segredo do comentário radiofônico tem sido o de ampliar o seu universo
temático, não restringindo-se à política, economia e esportes, como ainda ocorre nos
jornais, revistas e televisão, mas captando aquelas facetas da vida social que
expressam as vicissitudes do cidadão comum: o custo de vida. Os problemas de
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transporte e habitação, as questões ligadas à educação e à saúde, sem perder de


perspecti va a sua inserção no conjunto da vida nacional.
FACULDADE DE JORNALISMO
Observa-se porém que o comentário radiofônico ainda mantém uma
dependência em relação ao jornal diário, que serve como fonte de referência para a
seleção dos fatos a merecerem análise, elucidação e julgamento.

O artigo
A palavra artigo possui duas significações. O senso comum atribui-lhe o sentido
de matéria publicada em jornal ou revista. Qualquer que seja. É comum ouvirmos
popularmente: "Fulano, você leu tal artigo no jornal? Ou então: Mandei pôr um artigo
na revista". Não importa a natureza: todo texto divulgado na imprensa se chama
artigo.
Outra significação é aquela peculiar às instituições jornalísticas, que identificam
o artigo como um gênero específico, uma forma de expressão verbal. Trata-se de uma
matéria jornalística onde alguém (jornalista ou não) desenvolve uma idéia e apresenta
sua opinião.
Se no jornalismo brasileiro o artigo tem essa dimensão explícita, representando
aquele tipo de matéria geralmente escrita pelos colaboradores e que se publica nas
páginas editoriais ou nos suplementos especializados. isso não ocorre no plano
internacional.
É comum um uso mais amplo no jornalismo europeu e norte-americano. O
jornalismo anglo-saxão não utiliza exatamente a palavra artigo. A imprensa norte-
americana, por exemplo, inclui esse gênero dentro da categoria ampla de comment
(diferente da story: notícia). Já na imprensa britânica o nosso artigo corresponde ao
gênero que Afrânio Coutinho identificou como formal essay (e que, rigorosamente, nos
padrões do jornalismo brasileiro, não passaria de uma espécie do artigo, como
veremos adiante).
Tomando como referência o jornalismo espanhol, vamos encontrar o uso do
artigo quase no mesmo sentido empregado pelos norte-americanos: uma categoria
genérica para qualquer matéria editorial, ou seja, opinativa. Martínez Albertos diz que
o artigo se divide em duas categorias: o artigo editorial e o artigo comentário. Na
primeira categoria ele inclui a produção própria do jornal ou revista, sua palavra oficial
sobre os acontecimentos. Na segunda, reúne as matérias assinadas pejos jornalistas
ou colaboradores. O segundo tipo compreende algumas subespécies: artigo de humor,
artigo de costume, artigo doutrinário, artigo de divulgação.
Por sua vez, Martín Vivaldi caracteriza o artigo de modo mais abrangente, em
sentido mais próximo da significação específica que assume no Brasil. Eis o seu
conceito:
"Escrito, de conteúdo amplo e variado, de forma diversa, na qual se interpreta, julga
ou explica um fato ou uma idéia atual, de especial transcendência, segundo a
conveniência do articulista".
Nesse conceito de Vivaldi, dois elementos são específicos ao artigo jornalístico:
1) Atualidade - O articulista tem liberdade de conteúdo e de forma, mas ele deve
tratar de fato ou idéia da atualidade, coadunando-se com o espírito do jornal. É
claro que o sentido da atualidade não se restringe ao cotidiano. mas ao
momento hist(írico vivido. isso justamente diferencia o artigo do comentário.
Enquanto o comentário é produzido porjornalistas que analisam os fatos em
cima da sua ocorrência. o artigo é normalmente feito por colaboradores que
apreendem as dimensões menos efêmeras dos acontecimentos.
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2) Opinião - A significação maior do gênero está contida no ponto de vista que


alguém expõe. E essa avaliação não DE
FACULDADE pode estar oculta, eventualmente
JORNALISMO
dissimulada na argumentação (como por vezes ocorre no comentário). mas
deve apresentar-se claramente, explicitamente. A opinião ali emitida vincula-se
à assinatura do autor; o leitor a procura exatamente para saber como o
articulista (em geral personalidade destacada) pensa e reage diante da cena
atual.
Do ponto de vista formal, identificamos duas espécies de artigos: o artigo
(propriamente dito) e o ensaio. A diferença entre ambos não reside apenas na
extensão (o artigo é um ensaio curto e o ensaio é um artigo longo) como pode ser
percebido visualmente na superfície impressa. Duas variáveis os distinguem
nitidamente. O tratamento dado ao tema indicando que o artigo contém julgamentos
mais ou menos provisórios, porque escrito enquanto os fatos ainda estão se
configurando; já o ensaio apresenta pontos de vista mais definitivos, alicerçados com
solidez, porque tem compreensão mais abrangente do fato e pretende sistematizar o
seu conhecimento. A argumentação utilizada no artigo baseia-se no próprio
conhecimento e sensibilidade do articulista; no ensaio ela se apóia em fontes que se
legitimam pela sua credibilidade documental, permitindo a confirmação das idéias
defendidas pelo autor.
Ainda seria possível outra diferenciação que corresponde a uma tendência, mas
não se pode tomar como regra. O artigo geralmente aparece nas edições
convencionais do jornal ou da revista. O ensaio encontra espaço mais adequado nos
Suplementos especiais, edições dominicais dos jornais ou edições temáticas das
revistas.
Quanto à finalidade. o artigo toma duas feições: doutrinário ou científico.
O artigo doutrinário, para manter a expressão corrente na bibliografia espanhola,
seria aquele mais apropriadamente chamado de artigo jornalístico e que se destina a
analisar uma questão da atualidade, sugerindo ao público uma determinada maneira
de vê-la ou de julgá-la. É uma matéria através da qual o articulista participa da vida da
sua sociedade, denotando a sua condição de intelectual compromissado com o
presente.
O artigo científico destina-se a tornar público o avanço da ciência, repartindo com
os leitores novos conhecimentos, novos conceitos. Não é comum - mas também não
impossível - a publicação de artigos científicos nas edições diárias dos jornais. Quase
sempre eles aparecem nas edições dominicais dos diários ou nas seções especiais dos
semanários e dos periódicos de informação geral.
Muitas vezes torna-se difícil distinguir entre o artigo doutrinário e o científico
quando estamos diante de colaborações que têm como objeto as ciências sociais. Aí a
análise científica nem sempre se distingue (pelo menos para o cidadão comum) da
mera apreciação jornalística ou da participação política. isso vem se tornando comum
nas revistas semanais brasileiras (isto é, na sua primeira fase) ou nos suplementos de
fim de semana ("Mais", na Folha de S. Paulo; "Prosa e Verso", no jornal O Globo), cujo
quadro de colaboradores tem se ampliado com a convocação ou afluência de
pesquisadores sociais que se propõem a dizer o que pensam sobre os temas em
debate.
No tocante especificamente ao artigo científico é preciso dizer que existem duas
subdivisões explícitas:
a) Artigo de divulgação - Destinado simplesmente a fazer chegar ao conhecimento
dos leitores novas descobertas, novas hipóteses, ou sumariar o estado da pesquisa
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sobre um determinado setor científico. Manuel Calvo Hernando chama a atenção para
a importância desse tipo de artigo FACULDADE
nos países de
DEfala espanhola, onde se lê muito
JORNALISMO
pouco livro e "o artigo de imprensa é a única leitura transcendente e séria para
milhares de homens e mulheres".
b) Artigo educativo - Destinado a convencer os leitores para a adoção de novos
conhecimentos e o emprego de novas descobertas. Juan Díaz Bordenave chama essa
unidade redacional de "artigo de convencimento direto", porque sua tarefa consiste em
ir apresentando ao leitor uma série de argumentos que o conduzam o aceitar a nova
descoberta ou ao uso de uma nova tecnologia.
Enquanto o artigo de divulgação se enquadra naquele setor da mformação de
atualidade rotulado como jornalismo científico, o artigo educativo situa-se no
segmento que se chama Jornalismo especializado.
Cada espécie de artigo tem suas próprias características redacionais. Não há um
padrão uniforme para a sua concepção. Depende da natureza do veículo em que se
publica. Beltrão todavia defende a idéia de que a estrutura narrativa do artigo é
semelhante à do editorial, contendo os seguintes elementos: a) títulos; b) ítrodução;
c) discussão/argumentação; d) conclusão. Martín Vivaldi posiciona-se de outra
maneira, dizendo que no artigo a forma flui do fundo"; seu estilo é o "estilo do
articulista".
A verdade é que, sendo colaboração espontânea ou solicitação nem sempre
remunerada, o artigo confere liberdade completa ao seu autor. Trata-se de liberdade
em relação ao tema, ao JUiZO de valor emitido, e também em relação ao modo de
expressão verbal.
Seja qual for a estrutura dada ao artigo, o processo de elaboração não muda.
Martín Vivaldi diz que ele passa por três momentos fundamentais: invenção, disposição
e elocução. Inventar significa tirar do mundo, da vida; do mundo dos fatos e das
ideias. Implica em buscar na atualidade a motivação suficiente para justificar o
encontro com os leitores. Não basta porém identificar uma ideia, um argumento; é
preciso que o articulista avalie sua capacidade de desenvolvê-lo. Dispor significa
colocar as idéias em ordem. Anotá-las, na medida em que surgem, ordená-las, quando
vão crescendo. A disposição é o equilíbrio entre a inspiração e a ordem. Nem arrastar-
se pela imaginação desenfreada, nem barrar o caminho da reflexão com critérios
excessivamente fechados. A elocução corresponde à expressão escrita das idéias já
planejadas. É o momento de dar forma definitiva ao pensamento. O que não significa
apenas escrever, mas pressupõe também rever, corrigir. E corrigindo, abreviar.
suprimir, substituir.
Esse é o processo ideal de criação. E talvez possa ser tomado pelos articulistas que
escrevem sem a pressão do tempo. Aqueles que não pertencem aos quadros das
instituições jornalísticas. Que escrevem descompromissados das rotinas da produção
industrial. Pois aos jornalistas profissionais nem sempre é facultado seguir tal
esquema, proceder de acordo com os momentos da criação preconizados por Vivaldi.
Quem escreve artigos no jornalismo brasileiro? Tanto pode ser um jornalista,
pertencente aos quadros regulares da instituição noticiosa, quanto pode ser um
colaborador - escritor, professor, pesquisador, político, profissional liberal- convidado a
escrever sobre assunto da sua competência.
A segunda hipótese mostra-se mais provável, sobretudo em face da atual
legislação que regulamenta a profissão de jornalista. O colaborador é definido como
não-jornalista, alguém que presta, sob forma remunerada, seja de modo contínuo ou
esporádico, serviços eventuais à empresa jornalística. Tanto assim que as
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organizações noticiosas precisam manter livro apropriado para registro dos seus
colaboradores, indicando inclusive os FACULDADE
seus pseudônimos.
DE JORNALISMO
A presença do articulista na imprensa brasileira tem papel significativo, pois
contribui para dinamizar a vida do jornal ou da revista, superando as limitações
naturais que perfazem a sua fisionomia informativa ou opinativa. Estando menos
dependente dos ângulos de observação da realidade que aqueles circunscritos ao
ambiente jornalístico, o articulista introduz diferentes prismas para analisar a
conjuntura e traz novas informações e idéias para completar a crítica do cenário
sociopolítico.
Nomes como Tristão de Athayde, Barbosa Lima Sobrinho, Raimundo Faoro, Gilberto
Freyre tornaram o processo jornalístico mais ágiL trazendo em seus artigos
concepções, valores e propostas capazes de transformar a realidade. São autênticos
representantes de uma sociedade civil que luta por se afirmar e reduzir a onipresença
do aparelho estatal.
O artigo é o gênero que democratiza a opinião no jornalismo, tornando-a não um
privilégio da instituição jornalística e dos seus profissionais, mas possibilitando o seu
acesso às lideranças emergentes na sociedade. É claro que essa democratização
constitui uma decorrência do espírito de cada veículo: sua disposição para abrir-se à
sociedade e instituir o debate permanente dos problemas nacionais.
Um dos casos mais recentes de estímulo a essa participação de personalidade da
vida pública - parlamentares, dirigentes sindicais, autoridades religiosas, juristas,
cientistas sociais - na crítica das questões suscitadas pelo momento político tem sido o
da Folha de S. Paulo, através da seção "Tendências/Debates", onde desfilam temas e
personagens que mobilizam a sociedade para a busca de alternativas institucionais e
de soluções para os problemas fundamentais do país.
O artigo é um gênero jornalístico peculiar à imprensa. Sua expressão não ocorre no
rádio e na televisão. pela natureza abstrata que possui, mesclando fatos e idéias, mas
trabalhando sobretudo os argumentos. Nos veículos audiovisuais, o papel que cumpre
a intelectualidade através dos artigos de jornal é suprido por intermédio da entrevista.
Não é raro que um artigo publicado, defendendo ponto de vista inovador ou tese
polêmica, motive o pauteiro de um radiojornal ou telejornal a incluir uma entrevista
numa de suas edições.
Já dissemos anteriormente que o artigo, por sua concisão e oportunidade, presta-
se mais à publicação no jornal sob o risco de ter os seus argumentos superados pela
própria evolução dos acontecimentos. Enquanto isso, o ensaio, por ser mais longo e
exigir argumentação documentada, figura geralmente nos cadernos culturais ou
científicos (cujo compromisso com a atualidade não é tão rigoroso), tendo lugar mais
apropriado nas revistas especializadas ou nos periódicos cuja circulação é espaçada.
Discute-se, por exemplo, se o ensaio pode a rigor ser considerado gênero
jornalístico. A questão não é simples. O fato de uma matéria ser publicada em jornal
ou revista não lhe confere caráter jornalístico. isso advém da sintonização que
apresenta em relação ao ritmo de vida (Groth) apreendido pelo veículo.
Assim sendo, um ensaio publicado em jornal ou revista pode ser um gênero do
jornalismo opinativo, mas também pode ser uma forma de expressão da literatura. Por
isso, Afrânio Coutinho faz questão de distinguir o ensaio do estudo. O ensaio
apresenta-se como gênero tipicamente jornalístico de acordo com o seu sentido
britânico original: tentativa. O estudo, tendo caráter menos provisório, assume a
feição de uma produção literária ou científica, sendo mais compatível com o livro ou os
periódicos não-jornalísticos.
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Essa visão de Afrânio Coutinho não é, porém, muito tranquila. Talvez corresponda
à tipicidade da produção literária inglesa. Pois, noDE
FACULDADE caso francês, encontramos o termo
JORNALISMO
étude como sinônimo de ensaio. Diz André Boyer que "um estudo é um artigo longo,
bem documentado e aprofundado, sobre um tema em geral complexo".
Admitindo, no entanto, para fins metodológicos, a diferenciação de Afrânio
Coutinho, é importante registrar que o essay inglês possui duas variantes: o ensaio de
apreciação (descritivo, impressionista, pessoal, que corresponde mais à nossa crônica)
e o ensaio de julgamento (regular, metódico, dentro de uma estrutura formal de
explanação, discussão e conclusão, em linguagem austera, que se aproxima mais do
nosso artigo ou do nosso ensaio, ou talvez, da nossa resenha literária).
De qualquer maneira, o artigo (ou sua espécie, o ensaio) publicado na imprensa
tem mais potencialidades para vir a ser considerado uma produção literária. Beltrão
explica bem: "Articulistas e cronistas são autênticos literatos, e, não tendo. como o
profissional do dia-a-dia, de submeter-se à maior pressão do tempo reduzido da
produção coercitiva diária, podem burilar suas matérias não raro tornando-as
antológicas e conferindo-lhes aquela perenidade que constitui exceção no exercício da
atividade jornalística".
Se, no passado, o espaço aberto para a colaboração dos intelectuais era maior, na
imprensa brasileira, hoje ele se reduz, pela própria tendência que assume o jornalismo
impresso de se pautar por modelos industriais de eficiência e profissionalismo. Os
artigos enviados espontaneamente por colaboradores (remunerados ou não) passam
por um processo mais seletivo, privilegiando a atualidade do tema debatido ou
capitalizando o prestígio do seu autor naquele momento. Não é de estranhar que Luiz
Beltrão tenha observado em jornais de diferentes cidades brasileiras a transferência da
"colaboração espontânea, gratuita" para a "seção opinativa do leitor".

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