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‘Estamos publicando este peqeno texto de Joh as | feed sobre 0 furcionamnto dos soviets logo a pbs ’4 Revolu;%o de Outubro, como parte das co enoragdes do 702 Aniversério da Revolugao Russa, que se realiza este an “Binbora modesta, a publicagéo deste texto tem Ges profundo contesido. No memento en que a bi Bs rocracia soviética se esforga para fazer crer Tees trabathadores de todo © mundo que o stali, This norreu, en que a palavra “glasnost" pen eOFre 0 planets cono sfnbolo da abertura a " Uniao Sovietica, em que a polftica de Gorbat= Tehiey E elogiovs pela inprense imperialists eo fo a resteuracao denocratica, cowvén Tenbrah Gue era a denocracla dos trabalhadores, cons truida 20 calor ¢a revolugio, @ compar a-l@ aquilo e que fol reduzida pelo stelinisto p85 tantos anos no poder. expressaran 1ivrema envolveran sua criativida= de, elegeram © rvogaran sous dirigentes, co~ mecaran 2 construir com suas mos 0 seu pré = prio destino. 0 Fracesco ds Revolucéo Alena © europela, @ 0 isolanento @ que @ Revolugio Russa foi subme= tida, permitiu o suroimnto da burocracta que tomo c poder polftice e destrutu esta deno ~ cracia tio durarente conqutstada. has néo con seguiu destruir as conquistas de outubro, a expropriacio do cepitalisno, 0 direito ac rer, amorar, a receber educagio ¢ asststén cio nética, Esses direitos, hoje aneagados pela politica de Gorbatchov, «classe operiria soviética sa tera defender. & na defesa deles saber recon quistar a democracia operaria que o stalinis~ fo destruiu, saberé realizar na URSS uma nove revolugao, « revolugao poll Lica que os traba Jhadores recessitan para, af sia, poder avan- gar em direcao ao soctalismo. Que o texto de John Reed, nio publicado na URSS gorbatcheviana, ajude os trabathadores & entender o que foi a democracia soyiética como ela é totalmente oposta ao que hoje se apretenta como "aberturat Os Editores. funcionam OS Sovietes JOHN REED como por SUCMlista John Reed, jornatisia americano de grande talento, entre os methores do sew pais, visitou durante vdrios meses a Riissia Sovietica acompannado pela sua mulher, também ela escritora de renome, De volia aos Estados-Unidos John Reed pudlicou as suas impressées sobre a Ritssia bolchevique, € estas, pela sua objectividade e imparcia- lidade, provocaram uma enorme sensacdo. 0 trabalho que se segue (e que nés tradu- zimos da verséo italiana), apresenta uma imagem viva e realista do modo de funcio- namento do regime dos sovieles seria supérjluo sublinhar 0 sew imenso valor como documento. (prefcio original) * | ote preticio € © original da brochure em Lingua espanhela que continha’ dois textos, tam bam aqui incluides. © texto de John Reed fol escrito entre meados de 1918 © Malo de 1019 (deta de publicagho da brochura) embora ndo possames precisar & data. wT) No meio das injiirias e das mentiras que se levantam de todos os lados contra & Riissla dos Sovietes sobressaem os cla- mores terrificos: «Nao hi nenhum governo na Riissial», «Néo hé nenhuma organiza- cao dos operérios russos!», «La nao se tra- balhalo, «LA j@ nao se trabalhals. Deste modo usa-se sistematicamente contra ela a caltinia Como todos os socialistas sabem, como eu préprio sei—e como estava presente aquando da Revolugfio russa, posso teste- munhé-lo — existe hoje em Moscovo e em qualquer cidade, em qualquer aglomerado do pais, um organismo politico complexo apoiado pela grande maioria da populaco € que funciona de um modo tio satisfate- rio quanto é possivel funcionar um governo popular de formagao recente. Os operdrios russos, sob pressfio da necessidade e das exigéncias da vide, crie~ ram uma organizagdo econémica que osth em vias de se transformar numa verdadelra domocracia operaria. Apresentarel um esquema descrilivo da estrutura do Rstado dos Sovietes x A HISTORIA DOS SOVIETES © Estado dos Sovietes baseou-se 0s Sovietes — ou Conselnos — dos operdrios ¢ camponeses. Tstes conselhos —Instltuigso caracte- ristica da Revolugdo russa—fizeram a sua apari¢go om 1905 quando, durante a pri meira greve geral dos operarios, 2s fabri- cas de Pe rogrado ¢ as organizagées sind! cals enviwram delegados a um comité central, Este comité de greve foi chamado «Con- selho dos Deputados Operarios». Hle orga- nigou no f.m de 1905 a segunda greve getal, enviou emissirios através de toda a Riissia e, durante um brevo espago de tempo, fol reconhecido pelo governo imperial como orgdo oficial e autorizado da classe operaria revolucionaria russ, Quando a Revolucdo de 1909 tracassa, ‘uma parte dos membros do Conselho puse- ramse em fuga enquanto que os outros foram enviades paca a Sibéria, Mas este tipo de organizagdo umilaria mostrou-se téo extraordinériamente eficaz, enquanto organismo politico, que todos os partidos 9 revolucionsrics ineluiram um Conselho dos Deputados Operdirlos no seu programa para a proxima sublevacao. ‘Em Margo de 1917, quando perante toda a Russia agitada como um mar em furla, © crar abdicou, o gréio-duque Miguel renun- clou e a frégil Duma fol forcada a tomar nas mios as rédeas do governo, o Conselho dos Deputados Operarios surgiu de novo, completamente estruturado. Em poucos dias ampliou-se de modo a incluir também dele- gados do exéreito ¢ passou @ chamar-se «Conselho dos Deputados Operarios ¢ Sol- dados». Por outro lado, 0 Comlté da Duma, era composto— com a excepeao de Keren- skl— por burgueses, ¢ ndo tinha qualquer relagdo com as massas revolucionérias. Mas era preciso combater, eta necessi- rio restabelecer a ordem, era preciso defen- der a frente, Os membros da Duma nao sablam como cumprir estas miilliplas tare- fas; foram obrigados a recorrer aos repre- sentantes dos operarios e dos soldados, por outras palavras, aos Conselhos. Os Conse- Thos tomaram parte na acedo revolucion’- ria, no trabalho de coordenacao dos dife- rentes sectores de actividade e manutencio da ordem.., Em resumo, assumiram a tareta de defender a Revolucdo contra a traigdo burguesa. 10 A partir do momento em que a Duma foi obrigada @ apelar para os Conselhos, comegaram a cooxistir na Riissia dois orga- nismos governamentals. Eles entraram em competigaio e isto até Novembro de 1917, data na qual os Sovietes, sob a direcgio dos boleheviques, derrubaram 0 governo de coligagao. ‘Como jé disse, os Sovietes eram na altura compostes por operfrios e soldados; pouce depois formaram-se Sovietes de cam- poneses, Na maior parte das cldades os Sovietes dos operdrics e dos soldados uni- ram-se e realizaram em conjunto o seu Congresso Pan-russo, Ao contrario, os So- vietes de camponeses foram mantidos sepa- rados pelos elementos reaccionérios que 0s dirigiam € 36 se uniram 20s operérios ¢ aos soldados depois da Revolugio de Outu- bro € da constituigéo do governo dos Sovie- tes, A CONSTITUIGAO DOS SOVIETES (© Soviete bascou-se directamente nos operérios das fabricas e nos camponeses do campo. Os Sovietes dos Deputados Soldados existiram até ao prinefpio do ano de 1918. Foram abolidos depois da desmobilizagao i do antigo exército ¢ do tratado de Brest- Litovsk; 0s soldades foram entao integra- dos nag fabricas e nas instituig6es agri- colas, Tnicialmente, 0s delegados dos Sovie- tes dos operérios, dos camponeses ¢ dos soldados eram eleitos segundo regras que variavam com as necessidades ¢ quantida- de da popilagao nos diferentes locais. Em cerias aldeias os camponeses elageram um delegado por cada cinquenta votantes, Os soldados das guarnicées enviaram um certo mimero de delegados por cada regimento em proporeéo forca deste, mas o exer- cito em campanha estabelecou um sistema eleltoral diferente. Do mesmo modo os operérios nas grandes cidades ayetcebe- ram-se rapidamente que os seus Sovietes tornar-se-iam demasiado grandes se nado limitassem 0 numero dos representantes a um por cada quinhentos votantes. Os pri- meiros Congressos Pan-russos dos Sovietes foram convecados segundo um sistema de um delegado por cada 25000 votantes; mas, de facto, os delegados representavam massas eleitorais quantitativamente diver- sas. Até Fevereiro de 1918 no Importava quem podia voter para eleger deputados aos Sovieles. Se a burguesia tivesse exi- a gido e organtzado a sua representacdo 203 Sovietes, isto ter-Ihe-ia sido permitido, Por exemplo, durante o regime do Governo Provissrio, houve uma representagao bur- guesa no Soviete de Petrogrado: um dele- gado da Unido das profissdes Uberals que inclufa médioos, advogados, professores, etc. Em Margo, a constituigao dos Sovie~ tes foi elaborada mais profundamente e universalmente aplicada. direito de sufragio foi limitado: a) 08 cidadéos da Reptiblica Socia- lista Russa que tivessem 18 anos feltos ao dia das cleigdes ) a todos aqueles que ganhavam a sua vida com um trabalho produtivo ¢ Ul para a sociedade ¢ fossem membros das organizagdes sindicais. Nao tinham direito a yotar: @) 08 que utllizavam 0 trabalho de outras pessoas para dele tirarem lucro, d) 08 que viviam de uma renda ndo ganha com 0 seu trabalho, c) os comerciantes © agentes do co méreio privado, @) 0s membros das comunidades relk- glosas, e) os antigos membros da policia & da gendarmaria, f) 08 membros da antiga familla re nante, g) os deficientes mentais, }) 0 surdos-mudos, i) 08 condenados por delitos inja- mantes, 4) @ 0s agentes de empresas Iucrati- vas No que se refere acs carnponeses, mil camponeses enviavam um representante ao Soviete do Volost ou aldeia’ os Sovietes dos Volostes enviavam delegados ao Soviete do distrito que, por sua vez, os enviava ao Soviete do Oblast ou da provincia. Para fazer parte deste séo igualmente eleltos delegados dos Sovietes operdrios da cidade, © Soviete dos Deputados Operarios e Soldados de Petrogrado que estava em plena actividade quando me encontrava na Russia, pode oferecer um exemplo do funcionamento da organizagdo governa. mental urbana do Estado socialists. Era formado por cerea de 1200 delegados e, em cireunsténcias normais, tinha uma ses- so plendria de duas em duas semanas. ‘Ao mesmo tempo, ole nomeava um «Comité Executivo Central» de 110 membros elei- tos numa base de representagao propor- clonal dos partidos; este Comité Executivo Central convidava, para participar nos ood seus trabalhos, membros do Comité Central de todos os partidos, do Comite Central os sindicatos profissionais, comissdes das empresas outras organizagoes democra- tieas. A par do grande Soviete fla cidade existiam ainda Sovletes de bairros, cons- tituidos por delegados de cada bairro no Soviete da cidade ¢ responsivels pela admi- nistraco dos respectivos sectores urbanos. Naturalmente, em certos bairros nao exis- tam fbricas e, consequentemente, nio tinham governo; e néo havia representante destes bairros no Soviete da cidade nem do bairro. Mas o sistena dos sovietes € extre- mamente malodvel, ¢ se 03 cozinheiros ou criados domésticos ou ainda os cocheiros desse hairto se organizavam e pediam para estar representados, 0s delegados acelta- vam-nos. A eleigéo dos delegados ¢ baseada na representagao proporeional, 0 que quer di- zor que os partidos politicos sao representa- dos proporcionalmente ao niimero dos vo- tantes da cidade. De tal maneira que se volta num partido ¢ num programa politi- cos € nfo na pessoa dos candidatos, Os candidatos sio designados pelo Comité Central do partide politico e podem ser substituidos por outros membros do par- tido, E mais, os delegados néo sio eleltos is por um perfodo, determinado, mas suscep- tivels de serem revogados @ qualquer mo- mento Nunea foi crlado qualquer corpo polt- tics tio maleavel e que responda desta forma A vontade popular. E isto era tanto mais nevessario quanto no decurso de uma revolugéio a vontade popular muda muito Tapidamente, Um exemplo entre tantos outros, Durante a primeira semana de Dezembro de 1917 realizaram-se algumas manifestagées a favor da, Assembleia Cons- tituinte, isto é contra o poder dos sovie- tas. Guardas vermelhos irresponsiveis ati- raram entio contra um dos cortejos ° fizeram alguns mortos. A reacedo perante esta violéncia estapida fol imediata: em doze horas, fot modijicada a consiituigdo do Soviete de Petrogrado; mais de uma dtizia de deputados bolcheviques foram de- mitidos @ substitidos por mencheviques... Apesar disso foram precisa trés semanas para acalmar o ressentimento puablico e permitir 0 chamamento ¢ a reintegragio dos boleheviques, © ESTADO DOS SOVIETES Polo menos duas vezes por ano chegam de toda a Riissia delegados ao Congresso 16 Pan-russo dos Sovietes. Em teoria, estes delegados sio escolhidos em eleicées popu- lares directas: nas provincias & razio de uum delegado para 125000 votantes ¢ nas cidades & razio de um para 25000. Mas na pratica, eles séo apenas eleitores entre os membros dos sovietes provinciais e urba- nos, Uma sesso extraordindria do Con- gresso pode ser convocada em qualquer altura a pedido do Comité Executivo Cen- tral pan-russo ou de Sovietes representando uum tergo da populagdo operdria da Ritssia, Este Congresso € composto por cerca de dois mil delegados. Reunese na capital como Grande Soviete e delibera sobre pon- tos essenciais da politica nacional. Fle elege um Comité Executivo Central, seme- Thante ao Comité Central do Soviete de Petrogrado, que convoca por convites os delegados dos comités centrais de todas as organizagSes democraticas, Este Comité Executivo Central dos Sovietes de toda a Riissla desenvolven-se de tal maneira que se tornou 0 Parlamento da Repitbliea Soviétiea. Compée-se de perto de trezentos © cinquenta e cinco membros. Entre cada sesso do Congresso Pan-russo, ele 6 a autoridade suprema, mes @ sua ‘aceéo @ limitada pela dinha fixada no iiltimo Congresso; ele & completamente 1 responsivel por todos os seus actos até ‘a0 Congresso seguinte. Por exemplo, 0 Comité Executive Cen- tral pode —e assim tem feito na realidade —ordenar que fosse assinado o tratado de paz com a Alemanha. Mas nao pode tomé-lo obrigatérlo para a Russia. 86 0 Congresso Pan-1usso tem autoridade para © fazer. © Comité Executive Central elege no seu seio onze comissirios que serio os chefes das ComissOes das quals dependem. Estes comissarios podem sempre ser revo- gados e sao estritamente responséveis perante o Comité Bxecutivo Central. Por sua vez 03 comissdrios elegem tim chefe ou presidente, Quando foi constituido o governo dos Sovistes, este chefe foi Ni las Lenine, Se a sua direccao nio tivess: sido aprovada, Lenine poderia ser reve- gado a qualquer momento pelos delegados de massa do povo Trusso ou, ao fim de algu- mas semanas, directamente pelo proprio povo russo, ‘A fungdo principsl dos Sovietes é 2 defesa e a consolidaio da Revolugio. Bles exprimem a yontade politica des massas no s6 em todo o pais, no Congresso Pan- -russo, mas também em cada uma das 18 suas seegdes onde a sua autoridade 6 pra- Ucamente suprema. Bsta descentralizagéo ¢ efectiva, pois sio 03 Sovictes locais que criam 0 governo central endo o governo central que crla os orgios locais. Mas apesar da autonomia local, os decretos do Comité Executive Ceniral eas ordens dos comissérios tém forg: da lei para todo o pais, Bfectiva- mente, na Republica dos Sovietes, nao siio 05 interesses regionais ou de grupos que devem ser salvaguardados mas a causa da Revolugio que € a masma em todo o lado, ‘Observadores mal informados, na maior parte intelectuais da classe média, repe- tem sem cesar que séo favoriveis aos Sovietes mas contra os boleheviques, & um abstrdo, Cortamente que os Sovietes sfo os organismos representatives mais per feitous da classe operdria, mas eles sio também os instrumentos da ditadura do proletariado contra a qual, com toda a evidéncia, se op6em os partidos anti-bol- cheviques. Por consequéncia a medida de adesdio do povo A politica da ditadura pro- letérla nfo é fornecida apenas pelo nitmero dos membros do Partido Bolchevique ou Partido Comunista, mas também pelo de- senvolvimento.e a actividade dos Sovietes locais em toda a Russia. 19 © exemplo mais revelador deste facto dado pelos camponeses que no se puseram 8 cabega da Revolug&o ¢ cujo interesse pri- mordial e exclusiva fol a confiscagio da grande propriedade. Desde 0 in{cio, 0 So- Viete dos Deputados Camponeses no teve praticamente outra funcao que nfio fosse a de resolver o problema da terra, O fra asso da solucio apresentada pelo governo de coligazdo nascente ndo fez sendo com que 0s camponeses prestassem a sua aten- G9 aos aspectos sociais do problema, leva- dos a isso pela propaganda continua da ale esquerda do Partido Socialista-Revolucio- natlo, pelos boleheviques e pelo regresso 4 aldela dos soldados revolucionérios. 0 partido tradicional dos eamponeses ¢ 0 Partido Socialista-Revolucionério, A grande massa inorte da poptilacko dos campos. cujo Unico interesse era a terra e que ndo tinha nem psicologia combativa nem ini- ciativa politica, ndo quis saber nada dos Sovietes. Mas os camponeses que nao par- ticiparam nos Sovietes allaram-se muito depressa @ idela da ditadura do proleta- riado, convertendo-sa am sustentaculos actives do governo dos Sovietes. No gabinete do Comissariado para a Agricultura, em Petrograd, havia um mapa da Russla com aifinetes de cabega 20 vermelha espetados, cada um indicando um Soviets de Deyutados Camponeses. Quando vi pela primeira vez este mapa dependurado no velho local dos campone- ses, 03 sinais vermelhos estavam espalha- dos aqui e acolé numa enorme extensio @ durante algum tempo 0 seu nimero nao aumentou, Nos primeiros oifo meses da Revolugio havia provincias inteires onde existiam Sovietes de Camponeses apenas numa ou duas grandes cldades ¢ igual- mente em algumas raras aldelas. Mas depois da Revolugéo de Outubro podia ver-se toda a Ruissia tornarse vermelha €, pouco a ponco, de aldela em aldeia, de comité em comité, de provincia em provin- cia propagava-se a idela da formagéo dos Conselhios camponeses. Na altura da insurreieio bolchevique poder-se-la eleger uma Assembleia Cons- tituinte tendo uma maioria contréria aos Sovietes. A coisa teria sido impossivel um més mais tarde, Assisti a trés Congressos Pan-russos de Camponeses em Petrogrado. Os delegados presentes cram socialistas- revelucionérios da direita, Estavam reu- hides (e eles realizaram sempre rounides muito agitadas) sob a presidéncia de con- servadores do tipo de Avksentiey e de Pesh- Kanoy, Poucos dias depois eles viraram & 21 esquerda, ficando sob a direceao de pseudo- -radicais do tipo do Tehernoy. Alguns dias mais tarde a matorla tornou-se extrema- mente radical ¢ Maria Spiridonova {oi elel- ta para a presidéncia, Foi eniéo que a maioria conservadora se separou, formando uum Congresso de dissidentes que, pouco depois, estava reduzido a nada, enquanto que o corpo principal tinha enviado dele- gados ao palacio de Smolny para se unirem com os Sovietes. As coisas caminharam sempre desta maneira. Janais esquecerel © Congreso dos Camponeses que se reali- zou no final de Novembro; Tehernov lutou pela direeedo e fol vencido, Deu-se entac um acontecimento maravilhoso. Uma. pro- cissio cinzenta de trabalhadores da terra dirigiu-se para o palacio de Smolny. Atra- vessou, cantando, as ruas coberias de nove, bandeira vermelha desfraldada, esvoagando ao vento glacial do Inverno. Era uma noite escura. No interior de Smolny centenas de operdrios esperavam para receber 0s sous irmaos camponeses; na penumbra, 03 dois cortejos avangando um para o outro en- contraram-se; eairam todos nes bragos uns dos outros vertendo lagrimas e langando gritos de alegria. 22 4 is ia AS COMISSGES AGRARIAS. ‘AS ORGANIZACOES OPERARIAS Bio os Sovietes yiie voiam as leis, que institucionalizam as transformagdes econs- micas fundamentais, mas estas leis 8 po- dem ser aplicadas pelas organizagées popu- lares locais. Assn @ confiscaglo ¢ a distribuigio da torra foram confiadas a comissoes agrarias compostas por campo- noses e eleitas pelos trabalhadores rurais por instigagfo do principe Lvot, primetro presidente do Governo Provisorio. Certamente que, na altura, o minimo que se podia fazer era resolver 0 problema da terra, dividir as grandes propriedades e distibui-las aos camponeses. ‘Assim o principe Lvof convidou as populagées rurais a elegerem comissGes ad hoe cujo objective era ndo sé estudar ‘as necessidades da agricultura, mas igual- mente examinar e determirar o valor dos bens iméveis. Contudo, quando estas comis- sOes tentaram funcionar, cs proprictérios das tertas impediram-no. ‘Nestas condigdes, logo que os Sovietes tomaram 0 poder, a sua primeira medida 23 foi a promulgagio do decreto relative & terra, Procedati-se assim & realizagio de um projecto nao completamente bolche- vique, mas ao do progtama claborado na base de muitas centenas de petigoes cam- ponesas. O decreto abolia definitivamente qualquer direito privado sobre a terra © sobre os recursos naturals da Russie @ conferia as comiss6es 8 missdo de distribuir a terra aos camponeses enquanto que 0 problema ndo era definitivamente resol- vido pela Assembleia Constituinte. Dissol- vida a Constituinte, 0 decreto tomow-se definitivo. Com a excepeéio de algumas dispost- ges gerais e de uma parte de 0 decreio relativo A emigragéo, proposta como scln- gao nos locais em que & populagao era Je- masiado grande, as particularidades da confiscagdo e distribuicio eram inteica- mente entregues a iniciativa das comissoes locals. Kalagaief, primeiro comissario para a Agricultura, reuniu uma série de regula- mentos para servirem de gula 80s cam 20- noses na sua accéo; contudo, Lenine, num aiscurso pronunciado diante do Comité Executivo Central incitou. o governo a cet- at aqueles livres para regularizarem a coisa por meios revolucionérios, convidan- 4 do apenas os camponeses pobres a uni- rem.se para combater os ricos, «Nao esque- gam», diz Lenine «que a cada camponés rico se oponham dez pobres». Naturalmonte nenhum trabalhador ru- ral podia apropiar-se da terra, mas podia tomar a parte que desejasse e cultiva-la como se fosse sua. Todavia a politica do governo visava, através da accéo das comis- oes locais, combater esta tendéneia: os camponeses que desejassem agit como se fossem proprictirics eram livres de 0 fazer, mas neste caso ndo recbiam qualqur ajuda do governo. As administragées cooperati- yas agricolas, pelo contrarlo, recebiam eréditos, sementes, instrumentos de traba- tho e uma direcgio técnica moderna. A todas as comissées agrdrias eram postos & disposicéo agrénomos, engenheiros hi- drAulicos e florestais e, para coordenar a acco das instituigdes locais, elegia-se um organismo central, chamado Comissio Agraria Central, com sede na capital, e que estava em contacto directo com o Comissariado para a Agricultura Na Riissia, as organizages operdrias do tipo das que existem actualmente tem menos de vinte anos de existéncia. Antes da Revolucéo de 1905, a organizacio sin- dical dos operdrios estava pouco desenvol- 95 vida e era proibida por lel. Durante a Revolugio de 1905, os membros das orga- nizagdes profissionals eram cerea de cin- quenta mil ¢ a reaccéo de 1906 dispersou- -08 com um rigor extremo, As onganizagGes russas tiveram um desenvolvimento artitl- cial. Foram criadas por intelectuais que, depois de um estudo clentifico das organi- zagdes operarias de outros paises, tragaram no papel o plano da federacéo operéria ideal (combinacéo dos sindicatos tranceses com as organizagdes do ‘tipo alemio) e aplicaram-no na Riissia. As organizagdes russas tém um cardcter industrial e uma dimenséo maior. Por exemplo, tanto os ope- rrlos de uma fébrica de canh6es como os carpinteitos que fazem carrogas sho mem- bros da Federac&o dos operrics metalir- gicos, Durante os primeiros tres meses da Revolucio, o mimero de operarios organi- zados elevou-se a mais de duzentos mil; cineo meses mais tarde ultrapassava 0 milhdo ¢, apés dez meses caminhava para os trés milhoes, Como isto se passava em todo o Indo as organizacdes esforcaram-se por obter salarios mais altos, hordrios mais curtos e melhores condicées de trabalho. Pediram um gabinete de arbitragem © 26 > representac&o no Ministério do ‘Trabalho do Governo Provisério, Mas isto nfo bastava aos’ operdrios russos em revolugao. Apesar de uma grande parte ter en- trado para as organizacées, numerosos ope- rarios nAo viam a necessidade de se organi- zavem, @ a Iuta entre as massas e 03 grandes indlustriais era feita pelas Federages de uum modo lento e confuso, Entao, como fol 0 aso dos comités dos soldadcs em campa- nha, a constituigdo das organizegées for- mop-se de uma tal maneira que elas vol- tam-se para uma politica inspirada por elementos reaccionarios desejosos de travar a rapida puleagéo da vida dus grandes massas. Deste modo, na altura da Revolu- cao bolehevique, o Comité Central dos ope- rarios dos Telefones, dos empregados dos Postos @ Telégrafos e dos Caminhos de Ferro puderam porse em greve contra os bolcheviques estactonados no Instituto ‘Smolny e, durante um certo tempo, isolé-los de toda a Russia, Isto, a despelto da maio- tia revolucionaria dos operarios que convo- caram as suas assembleias ¢ condenaram a direcefio polities dos antigos dirigentes, elegendo novos comités. AS COMISSOES INTERNAS DE FABRICAS Quando teve lugar a Revolugio de ‘Margo, os proprietarios ¢ directores de nu- meroscs estabelecimentos industrials ou abandonaram-nos, ou foram afastados pelos operarios. Este fol muito particularmente © caso das empresas do Estado, entrogues aos empregados irtesponsavels do czar. Encontrando-se sem dirigentes, sem fisca- lizagao e, muttas vezes, também sem enge- nheiros e empregados administrativos, os operarios viram-se colocades diante da al- ternativa de tomar nas maog a direceao do trabalho ou de morrer de fome, Uma comis- sao foi designada, elegendo um delegado por cada sessfio da fébriea, Esta comissio procurou continuar a fazer andar a fabrica. Naturalmente que no inicio a coisa parecia desesperada. Certamente que, deste modo, poder-se-iam coordenar as fungdes das diversas sessdes, ndo obstante a falta de uma formaedo técnica dos operarios condu- zir frequentemente a resultados catastrs- ticos. ‘Bstavamos 14 quando, durante uma assembleia de tabrica, se levantou um ope- rario e disse: «Camaradas! Com que é que nos preocupamos? © problema do pessoal 28 técnico ndo apresenta dificuldades. Veja- mos, O patrdo nio era um téonico, 0 patrao nao tinha 03 conhocimentos de um enge- nheiro ou de um quimico ou mesmo de um administrador. Todo o seu papel reduzia-se a ser 0 proprietdrio, Quando necessitava de auxilio téenico, pagava as pessoas que Iho podiam fornecer. Pois bea! Agora somos nés que somos os patroes. Varnos pagar 20s engenheiros ¢ ads administradores que tra- balharao para 163!» ‘Nas empresas do Fstado, o problema era relativamente simples jé que a Revolu- ‘go expulsara automaticamente 0 «patréor e ninguém o tinha substituido, Mas quando fas comissdes de fabrica se estenderam as empresas privadas foram insidiosamente combatidas pelos proprietarlos, a maior parte dos quais tinham cessado os acordos com as organizacdes Nas empresas privadag as comissoes intemas foram igualmente resultado de uma necessidade. Depois dos trés meses de Reyolucdo durante o3 quais a classe média eas organizagoes operarias trabalharam em conjunto numa atmosfera de utépica harmonia, os Industrials comecaram a alar- mar-se com 0 poder e com as ambicdes cres- centes das organizagdes operdrias, do mesmo modo que os: proprietérios das terras se 29 assustaram com as novas condig6es rurals, 08 dirigentes dos Sovietes e os comités de soldados... Pela primeira metade de Junho comecou uma campanha, mais ou menos consclente, de toda a burguesia para parar a Revolugio e destruir as organizacées democraticas, Os industriais projectaram quebrar tudo no ovo, desde as comissbes internas até aos: Sovietes. © exército fol desorganizado, privado de armas, de vive~ res e de munigdes. Certas posigdes foram entregues aos Alemées, Riga por exomplo. Nos campos aconselharam-se os campone- ses a esconder 0 grio, provocando tais desordens que se deu assim oportunidade 03 Cosuacos de restabelecer a ordem. ‘A segult, no sector Industrial, 0 mais importante de todos, procedeu-se sabota- gem das maquinas € da produgao em geral, boizataram-se os transportes; as minas de carvao, de metais ¢ as outras fontes de matérias primas foram prejudicadas de mil e uma maneiras. Fazem-se esforcos para minar a actividade das embresas e recolo- car os operarios sob o jugo do antigo regime econdmico, ‘Assim os ttabalhadores viram-se for- gados a defonder-se. ‘A comissao interna de {ébrica fol reor- ganizada. Pode-se dizer que os operdrios 30 russos cometeram erros, mesmo actos ridi- culos, ¢ em todo o mundo isto fol lamen- tado; eles exigiram salarios imposs{veis, tentaram eplicar processos clentificos de elaboragdo complicada sem terem, experién- cla suficlente ¢ mesmo, em certos casos, pediram ao patrio para voltar ¢ assumir a admigistragio dos seus bens. Mas estes casos foram raros, Na maioria das empre- sas 03 operdrios encontraram recursos suft- clentes para dirigirem a indiéstria com patroes. Os proprietérios tentaram falsificar 08 livros, esconder as encomendas; a comissio Interna fol obrigada a procurar tentar con trolar 0s livros. Os proprietérios procesle- ram de maneira a que os trabalhos cam!- nhem male a comissio teve que montar guarda para que nada entrasse ou saisse da empresa sem autorizagiio. Quando as ftabricas estavam prestes & techar por falta de combustivel ou de ma~ térias primas, ete., as comissGes internas foram obrigadas a enviar emissérios atra- vés da Russia, As minas, aos pogos do potré- eo do CAucaso, As plantacdes de algodso da Crimela, Igualmente para a venda dos seus produtos, 0s operarios tiveram que enviar delegados ospeciais. Havendo carén- cla nos caminhos de ferro, aqueles fizeram st acordos com as federagées dos ferrovidrios afim de obter’molos de transporte. Por fim, para se defenderem dos fura-greves, ‘@ comissfio encarregou-se também da con- tratago € do despedimento do pessoal. Deste modo a comisséo interna de té- rica, saida do caos russo, foi obrjgada, por forca das circunstancias, a aprender fa gerir a empresa; de maneira que, quando surgiu 0 momento, puderam sem inconve- nientes de maior, assumir o controle da empresa. ‘Como exemplo da elaboraco das mas- sas podemos mencionar o facto de que os duzentos mil pouds* de carvao tirados em Dezembro das resorvas da frota do Baltico foram destinadas, pelas comissOes dos rna- rinheires, @ manter em actividade as fé- bricas de Petrogrado durante a falta de carvao. Os estabelecimentos Obucov, empresas metalirgicas que trabalhavam para a ma tinha de guerra, tinham como dirigentes da sua comisséo interna um russo-ameri- cano chemado Petrovsky, bastante conhe- cido na América como anarquista. Um dia, + pods: unidads de masses umada na Rissa e que € rdulvalente a 10,3606 kg. (N. 7.) 38 © chefe da produgao dos torpedos disse a Potrovaky que aquela irla parar dada a impossibilidade, de onde estavam, encon- trar certos tubos pequenos usados no seu fabrico e fornecidos por uma fibrica cujos produtos tinham sido vendidos trés meses airs, © encerramento da seegio dos torpe- dos provocaria o desemprgo de 400 operi- rios, carranjar-vos-el 0s tubos» disse Petro- veky e dirigiu-se directamente A fabrica onde eles eram fabricados e onde em vex de falar com 0 director, procurou o dirl- gente da comissio interna, «Camarada, disse-Ihe, se dentro de dols dias ndo tiver- mos estes tubos a nossa produgio de tor- pedos pararé ¢ 400 operarios ficarao sem trabalho» © chefe da comissio procurou nos seus livros e descobriu que alguns milha- res le tubos tinham sido reservados por trés estabelecimentos privados vizinhos. Dirigiu-se 1A com Petrovsky e entrou em contacto com os dirigentes das comissOes Internas. Constatou-se que ngs duas fébri- cas og tubos nfo eram imediatamente ne- cessérios; no dia seguinte a fabrica Obucov tinha A sua disposigfo o material necessirio ea oficina de torpedos nao fot encerrada. 33. Havia em Novgorod uma fébrica de tocidos. Quandé comecou a Revolucéo o patrdo declarou: «A situagéo ¢ confuse; enquanto durar a Reyolugéo nao podemos tirar nenhum lucro. Vamos pois suspender © trabalho até que as coisas se tornem mais claras», Assim se fez e o pessoal dos eseritorios, assim como os quimicos, enge- nheiros e directores tomaram o comboio para Petrogrado. Mas no dia seguinte a fAbrica foi reaberta pelos trabalhadores. Estes trabalhadores eram talvez um pouco mais ignorantes do que a maior parte dos outros trabalhadores, nfo conheciam 0s processos técnicos da producio, da diree- go e de yenda, Bles nomearam uma comis- sio inverna e, tendo descoberto uma reserva escondida de combustivel e de matérias primas, recomecaram a produzir tecidos de algodao, ‘Nao sabando muito hem o que fazer dos tecidos ja fabricados, comegaram por eles e as suas familias, se servirem abundante- mente deles; depois, como alguns dos seus teares necessitavam de reparacGes, envia~ ram uma delegagdo a uma oficina da vizi- nhanga dizendo que estavam dispostos a dar tecidos em troca de auxilio técnico necessario. Depois disto figoram um con- tracto com a cooperativa local, tornecen- a7 do-the os sous tecidos de algodio em troca de produtos alimentares, ¢ foram a0 ponto de trocar tecidos de algodfio por combusti- vel das minas de carvio de Karkol. Obtive- ram meios de transporte da Federaglo dos Caminhos de Ferro. Acabaram por saturar © mercado local de tecldos de algodao, mas encontraram-se perante uma exigen- cla que no podiam satisfazer com os seus produtos: a renda, Isto acontecla no tempo do Govern Provisério quando ainda exis- tiam proprietarios de terras. A renda devia ser paga em géneros. Entéo carregaram todo um combolo com as suas mercadorias e enviaram-no para Moseovo sob a guarda de um membro da comissio. ste deixou o comboto na estagdo € {01 através da cidade. Entrou na loja de um alfaiate @ quem perguntou se precisaya de tecides de algodio. «Que quantidade tens?» perguniou este, —Um combolo cheio. —A que prego? Ta nao self Quanto 6 que paga habt tualmente? © alfaiate deulhe uma soma infima 0 membro da comissio que nunca tinha visto tanto dinheiro junto, regressou a Nov- gorod todo contente. Mas 0 problema de renda também tinha sido resolvido pela comisséo interna que linha regulado a produgéo de forma a que da venda resultassem excedentes que permitissem que a renda de todos os ope rérios fosse paga. Foi desta maneira que, em toda a Riis- sia, os operarios adquiziram os conhecimen- tos necessirios dos principios fundamentais da produciio Industrial e também de dis- tribuigio; foi assim que aquando da Revo- lugdio de Novembro puderam ooupar o seu lugar na engrenagem do controle operérlo. Em Junho de 1917 realizou-se o pri- meiro Congresso dos delegados das comis- 60s internas mas, nessa altura, estas nio existiam sendo A volta de Petrogrado, Toda- via este foi um Congresso importante. Bram delegados os que, hoje, constituem as grandes massas populares: na sua maior parte bolcheviques, assim como diversos sindicalistas e anarquistas. O acento prin- cipal das discusses foi colocado no pro- testo contra a tactica empregada pelas fede- ragées. No plano politico, 08 boleheviques Jam repetindo que nenhum socialista deve- ria participar com a burguesia num go- yerno de coligagio. O Congresso dos dele- gados das comiss6es intemas adoptou a ‘mesma atitude no que tespeita & industria. 36 Por outras palavras, a classe dos capitalistas ea dos traballiadores nao tinham nenhum interesse em comum; nenhum operdario consciente podia ser membro dum comité de arbitragem ou de concillacio, excepto para informar os industriais das reivindi- cagdes operarias, Nenhum acordo entre capitalistas 2 operarios; a producéo indus- tial devia ser completamente controlada pelos trabalhadores. ‘Anteriormente, as federagdes de pro- fissdes tinham combatido duramente as comissées internas. Mas como estas esta- vam aptas a implantar-se no seio da direc- gio de fabricas consolidaram e estenderam facilmente 0 seu poder. Numerosos operi- rios nao sentiam necessidade de entrar para umf& federagio, mas todos sentiam necessidade de participar na cleigio da comissio interna que tinha 0 controle imediato do trabalho. Por outro lado as ceomissées reconheciam a importancia das federagées; nenhum novo operério ra admitido se nao possuisse 0 cartéo das ‘organizagdées sindicais. A aplicacdo local dos regulamentos das diversas federagses cabia ag comissdes internas. Hoje as orga- nizagdes profissionais ¢ as comiss6es inter- nas trabalham em perfeita harmonia, cada ‘uma com as suas respectivas funcdes, 7 ur © CONTROLE OPERARIO No sector industrial a propriedade pri- vada ainda nao fol abolida na Riissia. Os proprietarios de numerosas fébricas con- servam 03 setis titulos de propriedade e tém mesmo direlto a um pequeno juro do capital investide, mas tudo isto com a condigio de contribuir pata o bom anda- mento e para o desenvolvimento da em- presa. Foram porém afastados da direccao e se tentam despedir operérios ou impedir © trabalho sio imediatamente exproppia- dos. Em todas as empresas pitblicas out pri- vadas as condigées de trabalho séo as mesmas, assim como 0s horfrios @ os salarios, A razio desta sobrevivéncia de um regime semi-capitalista num pais proleté- rio é que a Russia, pais economicamente atrasado e rodeado de Estados capitalistas bem organizados, necessita de imediato de uma producao induscrial desenvolvida para poder resistir & pressiio da indistria estran- geira, © org por meio do qual o Estado exerce 0 seu controle sobre ® industria, 38 como também sobre 0 trabalho da produ. 40, chama-se 0 Conselho do Controle dos ‘Trabalhadores. Este orgéo central com sede na capital compoe-se de delegados eleitas pelos conse- thos locais do controle operario, que, por ‘sua vez so constituldos por membros das comissdes internas, sindicatos profissionais, engenheiros, técnicos e peritos. Uma comis- so executiva central trata dos assuntos de cada Estado da Unilic Soviética. A co- misséo é composta por simples trabalhado- res, na maior parte operdrios de outros Estados, de forma a que nenhum interesse particular possa influenciar a sua conduta Os conselhos locais entregam ao Con- gresso Pan-russo os casos de confiscacéo de empresas, informam-no da quantidade de combustivel, de matérias primas, de meios de transporte ¢ de mio-de-obra de que necesita o seu sector e servem de guia aos operdrios na aprendizagem da gestao das diferentes indistrias, B a0 Conselho Pan-Tusso que compete proceder a confisca~ gio das empresas industriais e A distri- buiedo equilibrada dos recursos econdinicos das diferentes localidades. Do Conselho do Controle operdrio de- pends a chamada Camara dos Seguros. Os operdrios esto segurados contra o 39 desemprego, as doengas, a velhice ¢ a morte, Os prémios do seguro sto pagos pelos pro- prietérios tanto nas empresas privadas como pablicas; a soma a que o operario tem diteito § sempre igual no montante completo do seu satério, No Estado Soclalista mantém-se o sis- tema de salariato, # um ajustamento neces- sarlo ao mundo capitalista mas, ao mesmo tempo, entra em accéo 0 mecanismo que conduz & sua ebolicéo; este, tal como todo © sistema, funciona sob o controle dos Proprios operdrios. Lenine disse claramente que considera a existéncia dos capitalistas como um asso @ rectaguarda, como uma derrota passageira da Revolugdo, acrescentando que seré necessérlo manter este sistema en- - quanto os operdrios nao tiverem atingido um grau de aulo-organtzacdo e de auto- ~disciplina tal que Ihes permita entrar em competi¢éo com @ industria capitalista, CONSELHO SUPREMO DA ECONOMIA PUBLICA A Repiiblica russa dos Sovietes, como préprio Lenine claramente mostrou, nfo tende para nenhuma espécie de governo politico, mas para uma verdadeira demo- cracia industrial, Lenine fol ao ponto de prever uma eventual transformacéo dos Sovietes em orgios econdmicos de carécter puramente administrativo. © protétipo deste futuro parlamento econémico ja existe na Russia, Chama-se Conselho Supremo da Eeonomia Piiblica ¢ € formado por delegados das principals Comissées para a Terra e do Conselho do Controle operdrio, & a esie Conselho que cabe a tarefa de regularizar a vida econd- mica do pals, dirigir e controlar o anda- mento da producéo, administrar os recur- 503 naturais pertencentes ao govern, fis- calizar as importacdes e as exportacdes. Tem poder para criar novas indtistrias, empreender a construcao de novas vias fér- reas e estradas, explorar novas minas, cons- trulr novas fAbricas ¢ explorar recursos hidréulicos, A comisséo executiva do Conselho é composta por cinquenta membros, cada uum deles ocupando-se de um dos einquenta vamos da vida economica do pats, como por exemplo os caminhos de ferro, a agri- cultura, ete, Estes membros sio eleitos da seguinte maneira: as diversas organizacdes profissionais — como o Instituto dos Enge- nheiros de Minas ete, —indicam quais sao 0s sous melhores homens ¢ os delegados das comissdes agrérias ¢ 08 orgtios do con- trol operério eséolhem entre eles os candi- dates. Qs cinquenta membros do Conselho Supremo dirigem cada um um departa- mento e séo ajudados pelas comissdes técnica especializadas em cada um dos diferentes sectores. Encontram-se reunidos reprosentantes dos Sovietes, do Comissa- rlado para o Trabalho, do Comissariado para o Comereio, para a Industria ¢ para as Finangas, representantes das comissées internas, dos Sovietes de camponeses, das cooperativas, ete. Qs projectos sto apresentados neste departemento, Suponhamos que sé trata do projecto de um caminhe de ferro de Mos- covo a Novgorod. Apresenta-se 0 plano a0 comissirio que trata dos caminhos de ferro; se este 0 Tejelta, 0 projecto passa por um departamento de apelacao; se este 0 aceita, dirige-se as suas comissOes técnicas © en- carrega-as de s9 ocuparem dos problemas da sua competéncla, Outres comissées, jun- tamente’ com os representantes das orga- nizagies dos operdrios metalirgicos, esta- belecem o orcamento. Poe-se entdo a ques- to aos delegados das organizacbes locals operérias e camponesas: uf necessirio 0 caminho de ferro?; Qual sera 0 trafico de 48 passagelros, de combustivel, de matérias primas, de produtos manufacturedos e de maquinas agricolas?s Por outras palavras, no sector econd- mico 86 se inicia um novo empreendimento se 0 povo provar a sua necessidade; tenta- se om primelro lugar, satistazer as neces- sidades mats urgentes. Desde Dezembro de 1917, apesar da Riissla estar em mil pedagos e em guerra contra todos os paises do mundo, foram apresentados grandes projectos « procedeu- se A stla execucdo, Um dos problemas, por exomplo, era construir uma rede de cami- nhos de ferro para servir as teventas minas dos Urais ¢ de utilizar os grandes rios da Riissia Setentrional para alimentar de energia, luz ¢ calor uma vasta extensio do pais. AS COOPERATIVAS DA RUSSIA Se ndo tivessem ja existide organiza- Ges democraticas antes da Revolucao nao hA diivida que a RevolucGo Russa teria fracassado. A rede comercial normal de distribuigio teria si. | -mpletamenta des- mantelada. Fol apenas gragas is coopera- tivas de consumo que foi possivel alimentar 43 © povold sistema erlado fol adoptado mais tarde palas municipalidades e também pelo governo, Antes da Revolugdo as sociedades coo- perativas linham mais de doze milhées de membros, A assoviacio é, para os TUssos, ums coisa natural, pois 6 uma remini céneia da vida comunitéria que existiu hos campos durante longos séculos. Nas [abricas Poutliov onde trabalha vam mais de catorze mil operérios a coo- perativa abastecla de viveres, alojamento e também de roupas mais de cem mil los aqueles que pensam que na Rus- sia no poderia existir nenhum governo devido & auséneia de uma yorca central, esquecen esta tondéncia cooperativista dos rusous; vee a Kuissla actual como uma especie de comissao servil estacionada em Moscovo, dirlglda de forma tiranica por Lenine e Trotsky e defendida por guardas vermellics, mercendrios. Qual é a verdade? & precisamente o contrario. A organizacdo que deserevi existe em quase todas as comunidades. Se uma parte consideravel da Riissia estivesse real- mente contra 0 governo dos Sovietes, 03 Sovietes ndo existiriam nem mais uma hora. Wh Os que criticam o regime soviético estio preparados, sobretudo agora, para s¢ insurgirem contra um artigo de Lenine que apareceu na «Pravda» de Abril e que agora 6 reproduzido na brochura «Os Sovie- tes no trabalho». © grande homem de Es- tado proletério diz, neste artigo, aos ope- rarlos que devem detxar de tagarelar, de fager greves, de roubar e convida-os a man- verem uma disciplina e a aumentar a pro- dugao. Ele gaba o sistema Taylor de organi zagio cientitica do trabalho, explica a falta de experiéncia e instrugdo das massas russas, analisa as causas do caos existente na indistria ¢ na agricultura, © proletariado vitorioso na luta contra a burguesia deve concentrar agora toda a sua atencdo no problema da organizacéio da Riissia; se ele no o conseguir resolver @ Revolugao est& destinada a morter. «De que se trata exactamente?» voci- feram os erfticos — > entre eles esto socia- listas, De que se trata sendo do retorno a uma nova tirania exervida sobre as mas- 3a8 por novos patries. B yejam, 0 prdprio Lenine admite que a 145308 se mostram incapazes de organizar o Estado utépico que 56 existia na sua imaginacéo e nos seus sonhos...» Nao € nada disto, O Estado soclalista no deve ser um retorno a simplicidade primitiva mas, pelo contrério, um sistema, social dotado de uma eficacia superior & do Estado capitalista, No caso especial da Unido Sovistica, os trabalhadores tem o dever de adquirir de imediato a capacidade para se oporem ao capital estrangeiro e, ao mesmo tempo, prover As necessidades da Russia, B o que € vélido para a Russia &o também para os operérios de todo o mundo, Mas em nenhum outro pais os diri- gentes tém a percepgio Itieida de um Le- nine; em nenhum outro pais estéo tao uni- dos e tio conscientes. Na Russia existem grupos de empresas industriais, como os tminas nos Urais e como as fabricas de Viadivostoque, nas quais o controle dos trabalhadores se mostrou superior & direc- Go do proprietario capitalista. E niio esque- camos que a empresa industrial pertence aos trabalhadares e é gerida no interesse dos trabathadores. Em Junho de 1918 Lenine dizia a um americano que o povo russo ainda néo era revolucionario: #Se em trés meses as mas- sas nfo se tornarem revoluciondrias, a Re- yolugéo morrera» Compreendemos agora o que ele que- ria dier. A pelavra «revolucionério» ho: 46 indica apenas uma mentalidade desejosa de revolta. Que seja destrufdo o que deve ser destrufdo, mas o mundo novo deve ser reconstruldo com um esforgo incessante de trabalho. Para bem de todo o mundo, nés esper: mos que a grande Rissa progredirA e va para a frente. Nos nossos ouvidos ressoa @ marcha inexoravel dos batalhGes de ferro do proletariado, John Reed 0 A VITORIA DOS SOVIETES Nada existe de estivel na revolugio além do que {4 fol conquistado, Recordemos quais so as nossas con- quistas sélidas © eficazes, A fundagéo da ‘terceita Internacional, a Internacional Comunista criada em Moscovo em 2 de Marco de 1919, foi a expresséo da vontade nfo sé das massas proletirias russas, mas de todos os povos que vivam na Riissla, na Alemanha, na Austria, na Hungria, na Finlandia, na Suiga, numa palavra, das massas proletérias de todo o mundo, & por isso que a fundagdo da Internacional, Comunista ¢ uma obra duravel, HA quatro meses teria sido impossivel atirmar que o poder dos Sovieles, que a forma do Estado Soviético, constituia uma conquista, internacional. Esta forma de Bstado contém em st mesma um elemento essencial e perma- nente, adaptével néo so & Russia mas a todos os pafses capitalistas. Contudo nao poderlamos ainda dizer por que transfor magées ela passaria ao longo do desenvol- vimento ulterior da revolugéo mundial. A Revolucéio Alemé fol @ experiéncla ne- cosséria para nos ar a possibilidade de responder a esta quesiuo. O pais de desen- volvimento capitalista mais avangado se- guiu—depois de uma breve espera do bt algumas cetitenas de dias—o pais mais atrasado do ponto de vista capitalista. lle revelou aos olhos de todo o mundo no $6 a existéncia de forgas revoluclonérias fun- damentalmente iguais, nfo so 2 existén- cia de uma direcgio geral andloga, mas também de uma forma de organizacdo similar: a nova ditadura proletaria, 08 Sovieres. ‘Ao mesmo tempo, na Inglaterra, pais que saiu vitorioso da guerra, pais que tem ‘0 maior ntimero de colonias e que durante 0 mais longo espago de tempo foi —ou pareceu ser—um exemplo da harmonia social, patria do nascimento do eapitalismo, assistimos a uma vasta ¢ irresistivel trans formagao, a um poderoso aparecimento de Sovietes, de novas instituigdes soviéticas nas quais se incarna a lute das massas protetarias: os «Conselhos dos Comisstrios para a Distribuicao». Na América, o mais forte e 0 mais jovem dos paises capitalistas, existe nas ‘massas trabalhadoras uma imensa sim- patia pelos Sovietes. © gelo foi quebrado, Os Sovietes triun- faram em todo o mundo, Triunfaram par- ticularmente e sobretudo na medida em que conguistaram a simpatia das masses ‘operérias, £0 que mals inleressa © é uma oe conquista que nem as atrocidades da bur- guesia imperialista, nem as persegulgoes ¢ aseassinatos de boleheviques poderito dea truir, Mais cresce a ratva da dita democri- cla burguesa, mais vive ¢ viverd esta cone quista, mais solidamente ela se Implantart no coragao das massas, na sua conscléncla na sua herdica determinagéo em Inbar, © gelo foi quebrado. por isso que o trabalho da Conferén= cla comunista internacional realizada em Moscovo ¢ da qual saiu a Terceira Inter nacional, se efectuou tao faciimente, de uma forma tio simples e regular, com toda a serenidade e tao firme determinagio. A lembrenga das conquistas realizadas estava viva em nés e ndo fizemos nada mais do que escrever no papel o que jé estava consolidado na conscléncia das mas: sas, Todos sablam, mais ainda, todos viam, sentiam, percebiam, cada um gragas & experiéncia do seu proprio pais, que estava em marcha um novo movimento proletite rio. ‘Todos compreendiam que este movi: mento sem precedentes no mundo, peli sua forga ¢ a sua profundidade Inauditas néo poderia ser limitado a nenhum dos velhos esquemas nem travado pelos gran: 68 des mestres da politiquice, os Loyd George’ 2 os Wilson, representantes encartados da experiéncla mundial do capitalise anglo- snorte-americano, nem pelos Henderson * os Renaudel’, 03 Branting’ e outros herdis social-chauvinistas, tornados mestres na arte da conelliagio. Este novo movimento conduslu direc tamente a uma ditadura do proletariado, que val para a frente apesar de todas as incertezas, apesat dos transfugas desenco- rajados, apesar do «eaos russo» que tanto » Loyd George, David (1809-1945); politico Ingits, chefe dos Ubsrala. Foi primelro-ministro da Gré-Bretanha de 1016 a 1922, Fol também um dos principala fomentadores da intervenctio antt-sovié- tica © do bloquelo A Riesia dos Sovietes. (N. T) ‘Wilson, Thomas Woodrow (1888-1024): homem dz Estado americano. Fol presidente doo Estados-Unidos de 1913 a 1921 e um dos organt- zedores da intervengio armada contra « Riissia dos Sovietos (N. T.) Hendoraom, Arthur (1888-1086): fol um dos ideres ¢a dreite social-chauvinista do Partido Tra- Tbalhista de" Inglaterra. (N, 7.) * Renaudel, Pierre (1871-1995): fol um dos aeres cportunistas do Partido Socialista de Franca. LT) * Branting, Karl Hojelmar (1860-1025): fot lum dos tideres oportuntstas do Partido Bo:tal-Demo- rata Sueco © da Segunda Internacional. (N. 7.) 54 fere a vista dos que nos olham do outro lado. Ele caminha para a instauragho do poder dos Sovietes com uma forga que arrasta atras dela milhées e dezenas de milhdes de proletarios. Nas nossas ordens do dia, nas TOSS exposigdes verbais, na nossa acgio @ NOM nossos discursos tomamos bem nota do que foi realizado. A teoria marxista aclarada pela grande luz da razio e da experiéncia entra nos operdrios revoluciondrios de todo o mundo. Ela foi 0 nosso ponto de apolo para nos prender solidamente a légica dos aconteol- Mentos. Bla serviré de guia para todos 08 telro lutem para aniquilar a escravatura capitalista, dan- do-lhes uma clara consciéncla do objective da sua luta para que avaneem com segue ranga na via em que estéo comprometidos, que iniciem com vontade e consolidem & obra a realizar. (Da Pravda de Moscovo de 6 de Margo de 1919) 55

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