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O UNIVERSO DAS | IMAGENS TECNICAS Elogio da superficialidade | : an Prefiicio AEscalada da Abstragéio fae é um livro chave para o entendimento de Vilém Flusser. £ nele que se desenvolve a espinha dorsal de sua obra madura, j4 distante cs seus ensaios da fase inicial, cheios de surpreses e sobressaltos, “enbalados sobretudo nos formaatos beves, nos génieroa midisticos, de- pla seunidos em livros, mas som perder na identidade e uma wnida- de, como $e fossem cada um deles um ponto, um gro de ateia, ema pedeinhaoa um ‘eélcule’ (ae sentido de pequena formssao calcérea) infependertes — mas sempre com uma grande ¢ instigante dispersdo deobjetos temas, Foi a fase da Histéria do dizbo e Da religiosidade, dicisiva para a definiggo de um método ¢ um estilo de abordagem que sedemonstrariam essenciais para os mergulhos imais extensos ¢ pro fandos em seus objetos predilotos da fase madura, a imagem, a midia, ov aparatoeda comunieaglo €0 proprio processo da comanicagtio, Es- sencial também 0 género ensaistico que subdivide aspectos, se apro- ima e se afaste de cadaum deles, ensais sproximagées, brinca entre superficie e aprofindeza, joga ¢ inserte, subverte-se subvertendo 0 osjeto.e o othar do leitor © presente livre, que em seu original datilografud om yortugués sera com Seulo principal ‘o clogio da superficialidade’, complements, sorofundae redireciona a sua obra mais conhecida internacionalmen- tea notdvel Filosofa de cata prta, que emi todas 9 outras lingwas se chame apenas Filosofia de fotografia, una ver que se baseiam na versa0 Semi, a rigor uma primeira versio, jé que, ac tocrever a versio brasi- Irira,o autor 4 amplia eexpande, “0 logio da superticialidade” (permiam-me ser fie x Flusser que cava titules mais poéticos e provocativos em portugubs) foi a seqiién- o. Adverténcia* (O cue se pretende buscar por meio das idéias aqui colocadas sio ten dértay que se wanifisiamy sos poutue, nae luggese Wenluas atuds (como fotografia « televisio). Junto com estas iléi, sleangames'a re- aie das fururas imagens eletrbnicas que sintetizam a Sociedade. Do potts de vista conternpordineo, ser uma sociedade estrana com vida radicalmentediferenteda nossa. As categorias atuais de sociedade, po lites e arte sero meras defasagens e © proprio instinto vital, adispo- sigh existencial, id adquitis um. tom nove € exitivo para nés. Nese 80, no se trata cle um hugar distance em algun fitaro inimagindvele jé-otamos prontes para mergulhar nele. Numerosos aspectos destas estranhas formas socials e vitas estto palpavels jf hoje nos nossos ar~ redores ¢ em nés mesmos. Estamos vivendo numa uropia emergente sobre a qual podemos dizer que invade a esstnete do nosso ambiente @ detodos os nostos poros. O que exté acontecendo em wolta de ndse denzo de nésmesmosé fantéstco e todas as utopias antecedentes, po- vas on negativas, estio perdendo as cores perante o que esté emer ggindo, E sobre isso qu vai discatir a ensaio que segue, ‘Jtopia significa “sem chao”, ausncia do lugar onde © bomem po- deri parar. Estainos enfrentando, inseguros, o futuro imediato que sstdemergindo —estamos apenas agartados nas exrutaras, que ato pia produziu. E 0 caso deste ensaio: ele se agarra 4s atuais imagens téericas, ee as “critics”. Neste sentido, apresenta uma continuagdo e lum aprimoramento doargumerto do nosso ensaioantecedente, & fle sfc da eaiva preva. Rado porrjue este ersaio nao quer (pelo menosen primeira instincta) ser lido como wma literature fantisciea facarista, + pefaelo escxo por Vilém Flussee para a edigho alemi de Me Chivercon dor ‘eobichen Hilde. Gottingen, 198t. Traduszo de Eva Ealickova 5 Fill Basie ® ‘mas sim como eritica do presente ~ apesar de vibrar nela 6 sentimen to penetrante e predominante da inseguranga frente a emergéncia do novo. 5 Pantindo das imagens técnicas atuais, podemos reconhecer nelas dduas tendéncias basicas diferentes. Uma indica o sumo da socisdade totalitéria, centralmente programada, dos receptores dis imagens € dos furciondrios das imaens: a outea indica o rumo para a socineadea tclemitica dialogante dos criadores das imagens e dos colecionadotes das imagens. As duas formas de sociedade parecem fentisticas para 1nés, embora a primeira utopia tenha caracteristicas negativas, a se- gunda posidivas, Hoje, sem ckivida, ainda temos liberdade de por era questo ests avaliagio. Mas » que no podemos questionas mais é o dominio das imagens técnicas na sociedade furura. Como nie deve Ocorrer nenhuma catistrofe—0 que é ex definitione imprevisivel —en- Ho € quase certo que as imagens técnicas concentrarao os interesses lexistenciais dos homens fururos, Fastancuie iso nos auroriza © obriga a denominar a socieds emergente como utopia, Ela nfo estard em hugar nealnma nem em-ne= hum tempo, somente em dreas imagindrias, naqquelas areas ems que cuja historia e geografia se entrelagam. A intengdo do ensaio que se segue & captar esta disposigao vital iereal, que eomesou a se conden- TST ent Imagens Goicasra dlsposigdo vial da “sociedade puramente informacional’ Este preficio apelativo, como na meioria dos cases, fel esi depois do lisro terminado, Ele coincide, de certo modo, ainda com experiéncias preocupagtes da recente vieem para 0 pais dos nose sos filhos e netos. Por isso & necessirio um aviso: nio se deve esperar deste ensaio respostas, porém perguntas, embora as perguntas sejam ‘mascaradas como respostas. Em outras palavras: este ensaio ro tenta propor qualquer tipo de sclugie an problems eebogado, porém busca, criticamente, pérem quesido as tendéncias que se entontram nos seus fandamentos. 1, Abstrair [Semos FestemunTas, colaboradores © vitimas de Fevolugho cultural exjo ambito apenas adivinhamos. Um dos sintomas dessa revolugao és emergéacia das imagens tienicas em nosso torn. Forografias, fl- ms, imagens de Tv, de video e dos teeminais de computador assurmem o papel de portadores de informacio ourora desempenhado por textos jlireares. Nao mais vivenciamos, conhecemos € valorizamos o mundo grasa linhas escritas, mas agora gragas a superficies imaginadas. Como a estrutura da mediagéo in‘tui sobre # mensagem, ha mutagdo [asnosse vivencls, nosso coATSCIMERTOe nOWOs Valores, O mundo nas lseapresenta mais enquanto linha, processo, acontecimento, mas ene |qanto plano, cena, contexto ~ como era o caso na pré-histéria € como lainda €0 caso para iletrados. No entanto, o presente enscio procurard denonsirar que nao se ata de reioeno a sitnagio pré-alfabétiea mas deavango rumo @ situagio nova, pds-histérica, sucessora da histéria eda eserita, fee rnovas imagens 80 ocupam 0 mesmo afvel ortaldgico das imagens tradicionais, porque so fendmenos sem pa- niielo no pessado, As imagens tradicionais slo superficies abstraidas de volumes, enguanto as imagens téenieas 2 superficies construldas in pontos, De maneira que, ao recorrermos a tais imagens, nl &S- ‘atids réeornando de unidimensionalidete paras bicimensionalitade, ‘mis ney preciplainds da unidimersionalidade para © abismo da eero- dinensionalidade. Nao se trata de volta do processo para a cena, mas sim de queda do provesso rumo a0 vacuo des fianeg) A superficialida- de que se pretende elogiar é a das superficies que se condensam sobre iteabismo. © animal eo “homem natural” (ta contradicei in adiecre) encon- tr1m-¢e mergulhades no &Spago-tempoy no mundo de volumes que s¢ atroximam e se afastam. © homem, 20 contririo do animal, possui 5 mos com as quais podle segurar cs volumes, pode fazer com que pa rem, Poressa “manipulagdo” chomem abstrai o tempo e destarte trans- forma o mundo em “circunsténcia". Os objetos abstrates que surgem em torno do homem podem er modificadas, “resolvidos" (“objeto” e “problema” sGo sinnimos). A circunstincia abstrata, objetiva, proble- mitica, pode ser “informada” e resultaré em Venus de Nillendorf, erm facade slex, em ‘cultura’. A manipulaedo € 0 gesto primordial: gragas Js ele o homem abstrei o tempo do mundo concreto ¢ transforma a si [priprio em ente abstraidor, sto é, em homem propriamente dito Enteetanio, af mos mio manipulam cegamente: elas esta sob 6 controle dos olhos. A coordenagao das mavs com os olhos, da praxis coma teoria, é um dos temas da existéncia humana, Milhdes de anos se passaram até que tivéssemos aprendido a olhar primeivo ¢ manipular em seguida, a fazer imagens que servissem de modelos para uma ago subseqilente, As imagens (por exemplo, as de Lascaux) fixam visbes: a vido da circunsténcia. Os olhos perceber as superficies dos volu- mes. As imagens abstraem, portanto, a profundidade da circunstincia [Fa Fain eh plavos, WansTormani a CHCunGTanCIa ei Cena. A VIO Jo segundo gesto a abstraic (abstrai a profundidade da cireunstdincia); |zracas a ele o homem transforma asi proprio em kama sapiens, ou seja, lem ente que age vonforme projeto. A circanstancia imaginada, a cena, representa a circunstincia pal- pavel. As mios doravante, devidamente orientades pelas imagens, agem sobre a citcunstincia. Mas essa mediagdo entre homem e cir~ cunstdineia palpével, propésico das imagens, comporta ambigitidade, ‘As imagens,podem eulgstuir-ee pela circunsténcia a ser por olay xe- pithtiniads, podem tomhat-se oputas-e welts atesstnne imundei pals wel, rhein: pede apie enn mney das ineagen Cnegn). Wein dbsralldnins ke pessatani-aié qi Hydstemis gpstiicldé-atoensy trae» fotos) Smagens, «caplet arraubabdons osdedasc ele thenitos da superficie das tnageas ee atinha We atiny de Cente, we gis ivdsseinsajradidra saggaroeecidy da conseaty lmapinado ea wendigr os eluimpninsiohien 28 Fishes, wtornad’ay cohiar "bontitveds™ (oon dois sentidos do terme), a desentolar e desenvolver as cenas em pro- cesios, vale dizer, a excrever textos ea “conceber 0 imaginado”. Con- secqientemente, « coneeTT largura da superficie); gragas @ ele o homem transforma a si proprio embomem histérico,em stor que conecbe oimaginado. “Textos ei séries de conceitos, abacns, colares. Os fies que orde~ nan 08 conceitos (por exemplo, a sintaxe, as regras matematicas e 6- gies) slo frutos de convengdo. Os textos representam cenas imagi- nadas assim como as cenas representam a circunstancia palpivel. © ‘universo mediado pelos textos, tal universo contavel, é ordenado con- forne os fics do texto, E mais de tr¢s mil anos se passacam até que sivissernos “descoberte” este fato, até que sivéssemos aprendido que iO Universo pelas cieacias da natureza € proje= 2c da linearidade légico-matematica dos seus textos, e que 0 pensa- ‘esto tientiico concebe conforme a esteutura dos seus textos assim cono o pensamento pré-histérico imaginave conforme a estrurura das sa conscientizacio, recente, faz com que se perca a coifianga nos fics condutores. As pedrinhas dos colares se poem aro~ lag soli dos five tomados podres, ea formar amontoados cacticos de particulas, de quanta UCBits, de pontos zero-dimersionals. Tais pe- drnhas soltas nlo sii manipuliveis (nfo sdo acessfveis &s maos) nem imagindveis (ndo sdo acessive's aos olhos) e nem concebtveis (nfo sao avissfveis aos dedos). Mas so calculéveis (de calewus = pedrinha), Pertanto tareveis pelas pontas de dedos munidas de weclas.E, uma vex ‘eaculadas, pode ser reegrupadas em mosaicos, podem ser “compu ‘alae formando onto linhae aecundcias (ourvag projetpdas), planos Stowidries Guingene taeatied), walunies eons abogeaisls: ‘Dittirisio pracsisase texcotbimatens iegp denen, Soeur a Owiinsciacinagennsteriins. Pili Flavor gancho sobre o qual se possa pendurar o problema das tecno-imagens, Enquanto modelo geral, 0 telato proposto é inaceitivel,e 0 ¢ sobretudo [nito-ctho-dedo-pomta de dedo”| Ou: “objetivae “imaginagio do mundo e por sva Tinearidads io do mundo e subyermagaa da homenr ia do ritualizagao do ato” — “desintegragio do mundo e existencializaciin “historicizagao do mundo ¢ auroconseid siede progressos, mas dariga em toro do conereto, No decorrer deal daaga tornou-se sempre mais dificil, paradoxalmente, 0 retorno para Ou ainda: “tridimensionalidade/bidimensionalidade /unidi- |mensionalidade/zerodimensionalidade”. Nao foi decerto assim, linear [ents que e homer s¢ afastou, alienado, do mundo conereto. ‘Os quatvo passes rumo @ abitraglo, sugeridos acima, nfo foram necessariamente tomades um apés 0 outro. Datei um exemplo, muito revelador da nossa prépria situagio, de como degraus podem ser pus lados, Demdcrio esti localizado na passagem da imagem para o tex: to, da magia para o ato concebido. Os fragmentos das suas escritas que se conservaram encontram-s ‘entre os primeizos textos escritos. No entanto, em tais esertos Demécrito nlo fala do universo histérico ‘que estava surgindo em torn dela, dequsle-univeroo mo qual Sols ful” e no qual “jamsis mergulhamos duas veces no mesmo 1i0”. Fala, pelo contrério daquele universo do ealeulo e da computagdo que esta surgindo agora tm tomo de ab, no qual os omos cam em Iihas patalelas das quais podem divergir minimamente’(liname) paca se encontrarem acidenielinente, e no qual todas as coisessurgem poz aci- dente, Destarie Demécrio sak por cima da histvin toda ena samo ritieira geraco que pode Vivendiara que: Gfioderabsranideh fe De. méctito apencs imaginave egoneeli See Os quatro pissos rumo & sbstragéo, sugeridos acion, nao formam série ininterrapea: foram sempre tneesebmgides por pasos de valta ‘q esnereto, Tal eonscientizagso do absurdo da abstragio caracteriza o lima do Ultimo estagio (endgame) n0 qual estartios. (© modelo linear és hitérie da cultura acima proposto nfo £0 mo del mais adequado ~ no entanto, € um modelo titi] para 0 propésito peseguido aqui. Permite distingio entre 0 geso produtor das ima- ers tradicionaise 0 que produzas ieeno-imagens. Mostraque se trata de dois gestos opostes. A imagem tradicional é produzida por gesto qué abstrai z profundidade da circunstancia, isto é, por gesto que vai amo ao thotrato. A techo-imagem & produzida por gesto edo 2oncre qe reagan pontos para formate Superfcies, isto 6, por weso que [pase © concieia. D propésito de toda abstrapio £0 de tomar distincia xe concrete para prder agnirdcio methas, A mio segura volumes para oder miahipali-bs, oolho conempla sypeifces para poder imagine volumes, o deda voncebe para poder imaiginan, ea pomta do dade a] snlaparapoder conceber. linado é peogredir, mas resgeedt, & ‘ecler pour mnie saucer. De maneita quea hisiBtia dacultura no és6- vai do abstrato mmo ao concreto. E como 0 gesto produtor conie- resignificado a imagem, o.modelo sugere que o significado das irma- gers tradicionais é 0 oposto do significado das tecno-imagens, Este capitulo procura deserever 0 gesto produtor das imagens tradicionais, einpuaines u caphul segulue prucueard Guxer outry rane quento 20 _tes0 produtor das tecno-imagens; ambos os capitulosse apoiam sobre omodels proposto. © futuro produtor de imagem tradicional esta afasiado da eizcurs- tinsia objeriva pela distancia do comprimento do seu brago. Sua mio ‘stendida fixou a circanstincia em torno dele, A circunstincia é seu objeso, ¢ ele proprto-esujelto. A divisao abstraidora entre objeto-e sa- Jett, fea hé miles de anoointiis, 5 do mais © perturbe. Assume-e cone “dado”. O que o faire pendator dle imagem tradicional deci- deiazer € dit um pasio para trés de sua circunseineia objetiva, a fim desupervisionécla, De maneica que © produmor da imagem recua para Aecero da ssa subjetividade.. partir da nova distancia agota tomada, a citewstdncia nfo & mats palpavel a titlo nfo waleanga mals, Delxa dls ver “masiesta". B agora apenas apatence, A clrounstincla passa a 84 mais “ear dianteda mo" Gerk nia), mae om a “purceer setae” (toketinen), Isro porque os olhos pervebem apenas reflexos de superfi« ‘ies, as quals 06 ids “sebem” que podem ser enganosas. Com esse Canines ingens teas 8 lem Fuser 20 movimento para trés, 0 futuro produtor de imagens penetra a divida quanto a realidade do mundo objetivo Mas, emboraos objetivosda ciscunstnsia se tenhatn transformado ‘em meros ""fendmenos”, o recuo permite que se desvendem relagdes centie feadmenos antes insuspeitados. A circunstarcia se transforma ntexto relecional, em cena, Tal mundivisio cénica deve servir m cont Cs de modelo para a funura manipulag2e do mundo. © mundo deve ser ““informado” segundo tal mundividéncia, segundo tal “ideologia” Mas toda mundivisdo é fugaz, sujeita ao esquecimento, ¢ portanto no merécedara de confianca enquanto modelo. E, pior ainda, toda mun- divisdo € privads ¢ inacessivel a outros. O desafio langado a0 futuro produtor de imagens é0 de fixar sua mundivisio, e ode torné-la pabli- camente acessivel,a fim de que possa servir de mapa, Para fixar algo, pera segineé-lo, é preciso recorrer-se as mis, aos 6rgfos que agarrem, Demaneira que o produtorde imagem se vé obri- sgado a fazer gestos manuais jamais exeeutados antes. Suas mos no mais se dirigem contra objetos, no mais “trabalham”, mas agora se di- rigem contra superficies a fim de informé-las. Tal ato invertido contra stenciéncia das mios € de tal complexidade que provora no produtor de imagens nfvel de conseigncia novor o nivel “imaginative”, £ facil des- crever-se 0 aspecto visivel, “externa”, do resto, por exemplo.o movi- mento de mo que manipula pincel, Mas tal descrigdo seria insatisfat6- sa, porque o gesto visivel ido passade exteriorizagio de tens interna que se apodera doprodutor todo. A tensio do processo imaginative, do qual o produtor de imagens é portador, faz com que a visdo dassuperii- ‘ies daquelas imagens as transforiae em sfmbolos e depois as-ixe sobre | ‘outras superficies ~ ors, isso & demasiado complexo pata poder ser elu- cidado. Devem ‘nos contentar com a eluctdagao do inpue © do-cumpur | ti imaginagae, deixando a ar6pria imaginagio como “caixa pret" Do lado inpue podemos ebservar que o gesto pr dutor de imagens. | fo se nutre apenas com as visdes que o predator tem da cirewnstin~ j ia, mas igualmente com a visio que o produtor tem de imagens feitas corfentera das imagens de determinada sociedade, porque toda tma~ gemé resultado de codificaydo simbélica fundada sobre c6digo estabe- lecido, Por certo: determinada imagem pode propor simbolos novos, ‘mas estes sera decifriveis apenas contra o fundo “redundante” do c6d\go estabelecido, Imagem desligada da tradigao seria indecifvavel, serit “ruido”, Mas, ao inseris-se na cortentera da tradigdo, toda ima- gem propele por sua vee a wadiglo mumo.a novas imagens. Isto é: toda imazem contribu para que a mundivisio da sociedade se alter. ~“Zste fato € observavel do lado swepue, As novas imagens nlo sho apenas modelos para faruros produrores de imagens, mas so, mais sjgrficativamente, modelos para a futura experifncia, para a valora~ [gio para o conhecimento e para'a ago da sociedade. Gom voda Tma~ gem nova o universe imagingrio dasociedade é trantformado, « 0 po- derda imaginagdo faz com que a rigider da circunstincia, anterior & profugio de imagens, seja substituida por fluider e maleabilidade. Mas ndo se conchua de tal fuidex que ha “historia da inaginagao € dasimagens”. Por cero, nds, os abservadores histéricos, somos leva dosa ver na constante modificagio das imagens pré-histérieas, desde os ioures em Lascaur até 05 rourbs egipielanos, desenvolvimento li- near ¢ processo, Mas semelhante visio allo corresponde & experiéncia dos propel : énda histérica, nfo se trata de procuzir imagens “novas” que enri- rata-se, pelo contritio, de fazedores de iraagens. Para eles, desprovides de consei- quegam o cédigo simbélico que os mut tearsmitir da forma mais fel possivel 0 c6digo mayico-mitico do qual Patticipam, Por certo, 0s produtores de imagens saber perfeitament® ¥ We toda visio € subjetive © privada, © que suas imagens diferern das Preedentes, mas assamem que eal subjetividade 6 privacidade e, ela } i Pripria, remuhtado do cédigo de mitos, o qual, por sua vet, aisumer | ifhurdvel e eterno, A consciéneia imaginativa nto pode coneeber de-: senvolvimento linear, apenas 0 retorno eterno. O geste produtor de ‘imagens tradicionais é gesto peé-histérieo, magia a servigo demito. Se consideratmes os lads input e czapu da imaginaglo, podemos coupreender ofiigailcado das imagens a0 elas superficies qe Rxor CO wnirea dos imagens réenitas 22 publicam visdes da circunstncia passedss pelo crivo de um mito, Sig- nificam cizcunsténcia simbolizada por mito, E 0 fazem ao abstraicem da cincunstincia a sua profundidade. So elasfnapas miBicos do mundo. 1B} enquantor madelos de agao, fazem com quea souedade St OFTERLETO eundo segundo simbolos miticos isto & que sja magicamente, Pols, como o capitulo seguinte val procutar mostrar, al tmagina. fo produtora de imagens tradicionais é diametralmente opostaa ima~ ginagdo produtora de teeno-imagens. De fato, 2 cposigio é de tal or- ‘dem que parece Tome de confusko chamar as duas pelo mesmo termo, ‘Talvez devamos inventar termo novo pata designar essa nova capa dade que esté dascendo, emergindo da conseiéncie histériea ¢ modifi- cando nosso estar-no-mundo, 2. Concretizar Segundo 0 modelo da histéria da cultura proposto asime, estariamos asdstindo alemergénela do univers zeradimensional He pontos e & energéncia de nivel de ponsciéncia “pos-historico™Jnivel este ainda dy formulivel. Os fios condutores que ordenam 0 universo em pro- ceisos € os conceitos em juizos estariam se desintegrando “esponta- neimente”,€ no por terem sido tortados. Estariam sé desintegrando precisamente por termos nos agarsados « eles © por ermos permitido fades que nos guiem. Ao termos seymido tals fics atéo niicleo do uni- ‘verso, ertamos descoberto que, nesse nticleo, os processos (causais € ‘outros) se desiniegram ¢ os colares se desfazem em particulas soltas. yao termos seguido taisfios até 0 nticleo do nosso penssamento con- cetual, terfamos descoberto que as catetas do discurso logieo se de~ iatogram em bits, em proposigbes calcalavers. Pols ¢ presisarnente ral dsinvegragio “espomtdines” da linearidade que nos obriga a ousarmos Jo sahio rumo a um nivel novo. Dee fato, salto € ousado, Porque a desintegragio das ondas em sitas, dos juizos em bits © das agtes em(artomas Aesvenda © abismo do niaéa. Os pontos nos quais tudo se desintegra nio tém dimensdo, Si imensurdveis. Entre ts pontos, inter valos se abyem. Nao se pode viver em tal universo vasio com consciéneia destarte desintegrada, T preciso que obriguemas os pontos a se juntarem, que os intedFe= 1tos, que tapervos os intervalos, a fim de concretizarmos tal univer- st etal conscigacia radicalmente abstratos. Por certo, © problema da integracio de infiniesimais ¢ da superagdo de diferenciais parece ter sito resolvido jf no século xvit, Mas para os inventores do zélculo o problema era metodalégico, formal, ¢ para nésé probleme exstensial, Gaestéo de vide ou morte. A hipétese aqui avangada é que as imagens Xcnicas sao uma das respostas ao problema, 3 Vin Por {As imagens teenicas fo tentativas de juntaros elementos pontuais lem nosso tomno ¢ em nossa consciénecia de modo a formarem super- ficies ¢ desarte taparem os intervalos, Tentativas para transferir os {Otens, eétroiis e bitsde informagio para vima imagem: lato nao é vid vel para mos, olhos ou dedo, j4 que fais elementos nao saa nem pal péveis, nem visiveis, nem concebiveis. Logo, € preciso se inventaren: aparelhios que possam juntas “auromaticamente” tais elementos pontu- ais, que possam imaginar o para nés inimagindvel. E€ preciso que tais aparelhos sejam por nde dirgivels gragas a tecas, fim de podermos leviclos a imaginarem, A invengio desses aparelhios deve preveder « produgdo das novas imagens. (Os aparelhos, no sendo humanos, ni se véem obrigados a que- rer apalpar, visualizar ou conceber os pontos. Pata eles, 0s pontes so eras virtuelidates para o Seu funcionamento. O problema oatolégice dos portos no se pie. Os aparelhos funcionam esrupidamente, por- «que funcionam dentro do campo de taisvirtalidades. © quepars nés, oshomens, ¢ 140 dite de tataglies, por eactuplo, campo magessioe do qual se removeram as limalhas de ferro, para eles nfo passa de fun- Gionamento programado, Por exemplo: eles cegamente transformam em fotografia o efeita dos fétons sobre as moléculas de niteato de prata, [Foram programados pare fazé-lo. Pols € iso a imagem enicar 71TH] lalidades concretizadas e tornadas visiveis. (© importante para a compreensao da produgao das imagens on cas€ que xe processa nofsampo das virwalidades] Os elementos pants- iso slo, em si, “algo”, mas apenas. chao no qual algo pode surgir acidentalmente. © “material” do qual 6 universo emergente se com- pe é a virtualidade. E no apenas o universo, também nés somos Fe tos de virtualidede, 1 ore made on suck suuff dreams are made on. Mas ‘quem dia “virtual”, diz “possivel"] Os dois horizantes do virtual sto “necessirio” e “impossivel”. Tals dols horizontes se desenham contra aay regides do *provével” « “improvivel”, das quais so precisamente oslimises, A “inathesis" do universo emergente€ da consciéaciasmer- xente € 0 célculo de probabilidades. No mais fazer eontas ¢ contos, caleular probabilidades. Os termos “verdad” e “falsidade* pas- sama designer lites ialeangivels. A diving ontoligica a sea jugscla que se dé entre 9 mais ou © menos provével, Eno apenas vrclégiea, mas ipualmente ética ea estéticar nada adanta perguntar se atimagenstéenicas sfo foticias, mas apenas 0 quanto soprovaveis. 1s provéveis so, tanto mais se mostram informativas ‘0s termos “provavel” e'"improvavel” ligem-se nimamentea it~ fovmnagdo”, a qual pode ser definida enquanto sisagio pouco provi ‘vel. © universo pontual emergente tende, de acordo com o sexundo pireipio da wermodinimicn, para siuagbes mais e mais provéves. Os tuexames de pontos tendem a se distribuir yetupre maisuniformemente, aeG que peream toda “forma”. O universo tende ase desinforma, ese {tino extégio, a “morte térmica”, pode ser calculado com probabili- dade tio grande que se aproximna da necessidade (da exter), Bate &0 novo significado do termo “veidade”: atendéneis do universo samo & desiforimagio pode ser caleulada com probabilidede téo grandeque tal dennfarmagin definitiva pode ser tida por infornagao "verdadeira”. Por enquanto ainda nfo estamos i, ¢, pelo contrétio, podemas cb- setvat que situasBes pouco proviivels estao surgindo n0 universo. Por cexunplo: espirais,céllas vivas, oétebeos humanos. Tals simagbes in- fommativassurgem aoacaso. Ito sugereu seguint hipétesecuriosarse dispuséssemos de computador suficientemente podeross, poderiamos, extese, “funead” (calealae antecipadamente) todas assituagbes poxco provveis que sutgitam, esto surgindo e surgicdo desde 0 Aig Bong aué a “morte térmica”. A dificuldade para construirmos tal computa Ace nic esté na quantidadeliteralmente inacreditavel das virtuslidades que devem acidentalmente coincidir para que tas situagdes poueo Pro vveis, como nebulosas ou ofiebros humanos, emerjem. A difeuidade 88 no fato de que © nose computador deverd comter na sua meméria tio apenas todo 0 programa contido no Big Bang, mas igualmente to- dos oserroscomtidos em tal programa, de maneira que @ nosso compu telor deveria ser maior que ouniverso. B, além disto, necessitariamos de “ietacomputador” ainda maior qué pudesse “fururar” osernus no (O uninerso daiagene demas 8 ile Fes 26 programa do computador futurador do universo. Tal metacomputador poderia firurar ndo apenas as situagbes pouco provaveis no universolé fora, mas inclusive o presente texto em vies de ser composto. De forma que poderia, de alguma forma, “autofuturarise”. Eis um-exemplo-do abismo para o qual a consciéncia nova, calculadora e computadora, se esth precipitando, Tais especulagtes desvairadas (de “eepeculagio jogo de es pélhos) permitem, no entanto, compreendermos melhor 0 propésito com o qual os aparelhos produtores de imagers foram inventados: née apenas a fim de torsarem visiveis vireualidacles, tas igualmente para computarem tais virtualidadles em situagBes pouco provaveis. A saber: rn imagens, Os sparelhos sa0 programados para transformar possibi- Tidades invisiveis em improbabilidade vieiveis. Em outros termos: os ‘aparelhos contém programas que se opoem A tendencia universal namo 2 entropia. Isto acontece porque os aparelhos so produtos hurmanos e fo homem € ente engajado contra a estipida tendéncia do universo a desintermar-se. O homem é ente que, desde que estendeu a sua mio contra o mundo, procura preservar as informages herdadas e adqui- ridas, © ainda eriar informagbes novas, Hata €a sua resposta & “more térmica”, ou, mais exatamente, 8 morte, “Informan!” éa resposta que Jo homem langa contra a morte. Pois é de tel busca da imortalidade que | mexto) ¢ tal computador nem seria “metafisico”, como 0 € 0 caso do computador fururador do universo. © que significa dizer o seguinte: 43s imagens produtidas por aparelhos so pouco provavels do ponto de isa do universo do qual sio computadas (por serem imagens), mas dovonto de vista do programa dos aparelhios sao elas maise mais pro- véneis. “Informam” o universe, mas “informam" sempre menos 0 1¢- ceptor da tve da filmes, 0 qual &capar de faturarprogramas. Destarte a entropia negativa, programada nos aparelhos, vai virando entrépica pam’ os teceptores das imagens. ‘A ratio de semelhante dialética inevente aos aparelhios é esta: 08 seus programas funcionam pelo mesmo métode pelo qual funciona 0 programa do universo e o pensamento calculador que sbstrai al uni- ‘yeso do mundo concreto, Os progeamas si joyos que “compuram” Gustam) elementos pontuais 0 acaso (“acaso” = 0 que caiu junto). Frofa imagem téaniea & produro de acaso, de jungio de elementos, [Toda imagem técnica é “scidente programado”. E precisamente isto {que o termo “automacdo” significa: processo de acidentes progra~ ‘malos do qual a intencao humana fot climinade, para se refugiar no prigrama produtor dos acidentes. Apsrelhios inteiramente automa- tizidos (por exemplo, cAmeras fotograficas em satéltes) ilustcam tal nie-intencionalidade mecinica no processo da producdo de itnagens. ‘BAWCETEM, entre Outias CoTSsaS, Os aparelhos produtores de imagens. O ropésito dos aparelhos € 0 de criar, preservar e transmit informe ‘Asfotogeafias fetas por satélites so, evidentemente, produosde ae dentes programedos. ‘goes. Nesse sentido, as imagens tecnicas sio represas de informagao a servigo da nossa imortalidade HA, no entanto, enrivsa contradigin, curiosa dialética interna, ei tl emprecndimente. Os aparelhes sio prograados pata criaterm sh tuagties ponco provévels, a saber, imagens, Pois isto implica que tals imagens esto inscrisas nos seus progeamas enquanso vitcualidades, © | ges quanto munis se desenrolam tais progeamas, nunto mials se toma provivel a walizaghe das imagens, Em outros temas: podemos cons tnir computador capa de futvirat todas as imagens a seem produai- ddas pelos apatelhis “ao aeaso™ (ito 6 ne decorrer da seu funiona | | ‘Em aparelhos lo aina inteiramente automatizados, em aparelhos qu: exigem para 0 seu funcionamento intervengao humana, tal “sct- destaldade! nit & aparonte. © forégrafo profissional parece levar 0 sex aparelho @ lazer imagens segundo a intengite deliberadapara.a qual © rdgrata se desidic. Anilise mais ateita d> proceso forogréficorre~ ‘ard, no entamo, que 0 gests do fortgrafo se désenwolve. por assim diet no “interior” do programa doseu-aparelho. Pode forigratar ape- vat imagens que constam de programe do veut aparelho. Por ceils. 9 | ‘ipiecho faz a que © fardgeafo quer que fign, mas o Poesgralh Page apenas queree'e quo 0 apiarelbio pods fazer: De smanira que no apenes | Sanbrere da imagens eons Vilim Blawer ‘ogesto mes a propria imencio do forSgralo sie programados. Todas jonalidade até a bidimensionalidade, da “estrutura profunda” até as imagens que o for6grafo produa 8 3, em tese, futuréveis para quem & calculou 0 programa do aparelho, Sao imagens “provaveis’, >> ‘Tmagess técnices sio pois produtos de-aparelhos que foram inven- tados com 0 propésito de informarem, mas que acabam produzindo si- tages provisiveis, provévels. Preeisamente, tal contradigio inerente ais imagens técnicas desafia os produtores das imagens. O seu desafio 0 de faver imagens qui sejam pouco provaveis do ponto de vista da programa dos aparelhos. © seu desalio €o de agix contra o programa, Thos no “interior” do préprio programa. Por certo, sem bs ‘aparelhos programados as imagens téenicas nao podem ser prodatives, porque o “material” com o qual os aparelhos funcionam (os elemen- 108 pontiais) sfo humanamente inagaredveis, inimagindvels « incon cebiveis. Mas, tals como programades, os aparelhos nfo servem para produzir imagens informativas. &, pois, preciso utilizar os aparelhos contra seus programas, & preciso lutar contra a sua automaricidade, ; superficalidade. O gesto nfo pode aleangar sua meta, porque para febriear superficie 1 partic de pontos seria preciso uma infinidade de vjitos: De modo que as imagens téenicas nao sio superficiesefeivas, eect aprchs sapetties Ge de ineralon ingen wéenicas enganem 0 olho para que o olho nfo peresha os intervalos, sto some oeil geste produtce de imagens técnicas se divige rumo & superficie partis de pontos, O gesto produror de imagens tradicionaisse dirige ‘imo a supertisie a partir de volumes. © primeiro concretiza, ¢ se~ gundo absirai pianos, © primeira surge de céleulo, o segundo da ce~ cunstincia palpivel. Logo, as imagens técnica eignifieam (jpontam) ogramas caleulados, eas imagens tradicionais significa (pontam) ‘nas, Decifrar imagens cnicas implica revelar o programa do quale rao qual surgiram. Decifearimagens tradicionais implica revelar visio do produtor, sua “ideologia”. on ‘O esto produtor de imagens técnicasse revela, ent, como gesio composto de duas feses. Na primeira fase sao inventados e programa dos aparelhos. Na cogunda, os aparelhos so invértidos contre o set progtama. A primeira fise & executada por cientiscas e téonicos, a se- sunda pelos produtores das imagens propriamente ditos, Trata-se pois, de gesto invertido contra si proprio, de gesto que flustra 0 supremo pecado, segundo a Igreja CatSlica: cor dversum se jpsum. As imagens ‘técnicas sio resultados de luta dramética ¢ “pecaminosa’. Em toda jmagem téenice € possivel descobeir-se tal colaborugto e Tata entre o progeamador of liherdude informacors Nesta alture do argumento tornou-se possivel descrever o gesto produtor de tecno-imagens. Trata-se de geste programadore des-pro- gramador, gragas ao qual elementos pontuais stio compucados para fformarem imagens informativas, O geste © execurado por aparelhos} lmunicos de teclas que sao acionadas por pontas de dedos. A estrutura ldo gesto é ade janta: elementos pontuais para se formazem superficies |é zesto que parte do abstrato e visa o concreto. Vise avangarela veradi-] ‘No entanto, decifrar imagens t€cnicas € tereta difiel, Porque 85 inagens técnicas pretendem que clas, tambéra, significam cenas. © ‘ue a significam “melhoe” (mais fielmente) que imagens tradicionais. As imagens técnicas prelendem que produzem cenas ponto par pento, ‘Que ndo passam de superficies sobre as quais as cenas significadas por das deixaram seus trages ponto por ponto. As imagers téenieas es- condem @ ocukam 0 célcuilo (e, em consegiiéncia, a codificaszo) que {© processou no interior dos aperelhos que as produairam. A sarefe 4a ceticw de imagens t€enicas € pois precisamente a de des-oeultar os 1rogramas par detec doe imagens. A luta entre ns programas mostra & intencdo produtora humana, Se ndo conseguimos aquele deciframen- 10, a8 imagens técnicas ve tornaréo opacase dardo origem a nove ido- atria, a idolatria mais dense que a das imagens tradicionais antes da fnvengdo da escrita ‘De mado que a recepgao das imagens técricas exige de nds cons: incia que resiota a0 fascinio migies que delas emans € a0 compor- Amento magico-rinial que provocam. © novo nivel de consciéncia, O enivere das imagens eicas f E aioe + lordahistéria da cultiira que serviu até aqui para locélizarmos a posi. produtor de teeno-lmnagehs, exige nivel correspondenteno receptor da: imagem, Neste ponto-do.axgumento & preciso abendonarmos © mode. ‘gio dis imagens técoicas-na cultura, e tenvacmos captar, “fonomeno- logicemente”, a:mancica pela qual estamos atualmenté no mundo. preciso tenturcaptar como nox movimentamos anzalrente no mud, pata padernios compreender como.zemamos consciéacia do mundo donde messes. ] . Tatear 0 mundo, desintegrado em elementos pontuats pela decompasigga dos solar a se vivensidyes steeds amibota extdjation, himaie, hebitnadlds a manear recs, ee ismnos‘ionge ub captar etossamanctiade sstar-axs-siuivie, expen fi saimmeicanjepeenmesncis wees comasporins da aebetxeon. “Aecteolatantiy hn tole, [neertaipiones Mama TGR EO sipider:de reHinpegie, cabas seiabiver imedixtanaente,ao.aperrarmes, isi BSR, 9 motor dé-sanme se pBe a Funcidnar instantoneamense:e vinarmosa chive, « ¢hmern Totogrdfica toma fetagritias lngelqeape ‘amos a:sua tesla, 8 puinieita cola econstatarié que reclus geantven [ sm um tipodetempa inedido por ditsenstes-que afi eorsespendem al medio do wempo cevidianc, on seja:st# tachieserovimentar to uni-} setsactnfime dos ponees, no unirerso-de Iofiniamente pequeno. Sicf Havdispashivos que traduzers o infititamente:peqiveo pate'a negifo ‘ie gusts hamemd a aiedida de rodan‘es coisas. Noventantor as tectis thaduzem toapenas.do tafiins yatxo humane, tambérmde tnfime pare © gigantesco . Ao apertarmos un Dotdo, montantias expleddem, ©, 20 aperiar ohoti vermelho, opresidente americano pode terminar com a vida hamana na ‘Terra. Ao aperiartnos teclas estamos destruindo 0 fa- ‘oso sandwich que estrutura o nosso mundo em trés niveis: das dimen=- SBesrnucleates, das dimensdes humanas e das dimensées cdsmicas. AS omnia das nossos dedos so feiticelras que embaralham 0 universo- Em muitos casos, a8 teclas nao sa0 botees isolados, mas formam teclados. Se escolhio determinada tecla no teclado do meu televisor, Ba File Flues 32 ‘ine de sscrers ol en ‘thagla, ¢ isto: a despeito da relativa: ‘ranspartneis da maquina que me serve para cserever's p(escite texto: ‘Estgut, a6 faxé-lo, desoadacanda 06 mieus-pensartentes em palacras, 48 palivras em letras, e estou escolhendo tecles que fazer comn que a8 letras se.teintegrem ein palavras, © as palavras em pensamentos, Es- * € “computando” os meus pensamentos. Narealidadte, or certo, a2 leas impressas na Colle de papel comtinusm soltas, ¢ hi tou “caleulando! intervalos entre elas. Mas consegni o milagre do ter produsido texto discursivo, ndo obstante. Os procutores de imayens técticus fazer 0 ‘mesmo no nivel no da linha, mas do plano. © geste de eserever com maquina é gesto transsarente. Passo ob- servarcomo a tecta levanta mecanicamente determinadgalavanca que vel denpetinie « letin covailitde auine fille. 10350 observer como 0 roloda maquina avanca para dar hugar A'lotra seguinte. No caso da produgdo deimagens, o gesto no transpareme: Ao apértardetermi ‘ada tecla estou iniiands pracesso complete no interiorda caixapreta doaparelho, & que aparelhos ni so maquinas, explicdveis mecanica- ‘ence. No entanto, o milagre do céleulo e da compurago, inserits ex feclas, 4 fandamontalmerte 0 inesino, (Quem liz “tatear”, es dizenca que algo semove eegamente com a esperanga de encontrar algo, como ue por actlente. “Twear” é 0 méiodo heuristic da pesquisa. E, com eftita, & gragas a tal mifeade ‘que chimpanaés ou word processors “escrevers”. Se chimpazés ou word Processors tawaren 0 tecledo da minha méquina por tempo suficiente- mente longo (provavelmente da ordem de bilhdes de anos), scabaro or escrever necessariamente 0 mestao texts que estou eerevenda, © 9 fardo por acaso, No eitanto, o fo incontestavel & que nde vivencio ‘om tetear como movitnenta cego. Pelo cotittério, estou convencido de que escolho as minhas teclas livremente. Dispoako, ao escrever, 2% soubor dey alecnattvas, eapenvonsdhee tals “universe devee = loinativas por d#th0 déliherads, nto 20 acasa, Ings diftcersa -Sexistensia?” entree, os chimpanaiése os wohdphidésines A tal “digs rade hamana’’ sera pols a xapadeiaaivdletalarin o tempo necesi- ££ pata & produgdo do piesette texte das dimensGes astrendmnicasdo atiso par dinsensdes humanas:'em vex de urn bilhdo de ands, eu poduzo em meses. ‘Tal “dignidade” pode ser formmulada assim: o chimpaneé dncen- tse imerso no jogo cbgo do acaso e da necessidade, enquanto exo *vanscende” ao dirigit minha tntengo por cima da maquina de es- crever rummo ao vexto a ser estrito. Todavia, nfo pretends entrar no platano filosifico que ceres 0 soneceita “intengao", esta capacidade de poisar por cima do dado em dizesa0-de um dever-ser: restringirei mi- nha deserigdo a0 dado. © fato & ques chimparseé acabard prodasinéo oveu texto letra por letra, ponta pee ponto. O problema da “digaida- debumana” tome da perguata: poderei ou nfo, aoler este tex 19, descobrir nele una intencionalidade, e na uma sutometicidade? ssibs ertérios que me permitem, novtexto escrito, constatar que ele Lbifeito ndo 30 acaao, mas detiberadamente? Oioblema do de distinguir eneve a inteligéecta artifeial oa hu- mana, Chimpanzés s20 raros ¢ lentos, € poucos sero seus textos. 0 mesmo ado vale para word processors. F-neles, melhor que'em chimpan- 2s, descubzo o problema do tarear sego. © “universordas 4s tarias” é ‘stsado por ambos, chimpanzés ¢ word processors, cowo se fosse jogo edadox: “alestoriamente””, Treta~se pois de um tateardiigido, "pra Beanado”, pels ecin.O rer € cago, mas ditigido, No caso do wosd Protessor, a divecao de tavear, © programa, foi deliberada por téenicos Pragramadotes, For isto 0s word provessow produzem textos mals fapl- Gariente quechimpanaés, em cujo caso acrigem do programa é menos evilemte, Eno meu caso? Comparemos o tatcar do chimpanzé com 9 de um estenotpisia. Attbos tate aunamaticamente: A dikeonga & qu ba chimipanabe isiGem de programa muito amplo (toda combinagio das 45 lertas € i e 2 “permitida”) » ov estenciipionis dispdem de progeamamuito restit (poder ganas. combinat ay 4 letras segunil deremiinados zaodeliy Ir Herne gy 4 8989 soplando). Estamos renzadoss algae que chimmpanede da ais livres. que. esteslotipisias, Mas que liberdade-é esia? E a minhas prépria lberdade ao-cocrever este texio? Estaria loealizada ¢mn quais ‘ie oi atte o chimpand e o:eetenotiplata? No é portals aqua HEAOS qpesalvaremnos a tal da “dignidade hamane” ‘Ae tatearem as eclas, os chimpanzés, 08 estenotipistas e eu estamos: spertando dispositivos produzidos por homens. Homens que fixaram a8 letras do alfabeto latino, ciftas ardbicas ¢ alguns simbolos légicos nas! pontes de determinadas alavaricas. No seu contexto original tais ele tentoe pontuai signifcaram wm discurso. Os homens produtores das teclas arrancaram tais elementos do seu contexto aleularam o diseur= $0) pra que chimpanzés, estenotipistas ¢ eu 0s possamos recomputar ‘em discuso, Tuda o que estes trés computadores escrevem pode ser “faturado", esté inscrito no programa da mAquina de escrever e, do: onto de vista dos produtores da maquina de escrever, a diference [o> trés computadores & desprezivel, A tal da “dignidade humana” nfo se encontra, poi, no ato de apertarteclas, mas simno de produziraste~ clas. Nao eu, mas o seu programador, o inventor da miquina, é livre. “Tal argumento € radicalmente inaceitavel. Escolhi exemplo (@ da maquina de escrever) para mostrar quéo absurdo é um argumento roma esse. Seria absurdo querer responsabilizar 0 inventor ou o pro- |dutor da maquina de escrever pelo texto que estou escrevendo, Infe~ Timenie, 0 excmplo que esol nao € vpico para a situagao aa qual nos encontramos apertando ceclas, Ny parece ser ta absurdo querer ¢ responsabilizar os invettores e prodorores da rw-au de sompicadaree i pelo ue tai ayarethos prochuner. Ao esguther'a indquins de esorevet > snalisade, conto rien fai 40 regresse tite, Os piigtamnadoees Go, pdr sud tea, programados. Por exemplorigntezngvanto.o chien ie ub ears exinevonts @ mAguizaaemos ecto des joo aleatieid com inosmayse genérica, sano gemedcametive pro gratsedos. Ambos suxgimos 20 scaso, Noxprogtaa gentrige histnan, estaanserita uinvengiiode teclas como una dav suas virtualidede, ame: ma das Virtinlidades 0 e realtentetn ecessartumeme ao scuso: Segun- do acritica cultural em voga devemos procurar por programador par deirés dos dois programas (ew e do chimpanté) para responsabilizé- Jo pelos textos que os dois estamos escrevendo? Por certo: € pessivel faré-lo, Em tal e240, no entanto, cairemos no abismo de um curioso detetminismo das coincidéacias, determinismo este de feigao orien talizate, © teclado da maquina de escrever se revelard como inscrto em algum destino cege Mas quem|ndo admiral programado eegp rransendente deveré recusar este tipo de eritiza de culmra, ‘Ao escrever o presente texto, tenho a sensegio existencial indis- fargivel de liberdade. Nao poss> negar cue minhas telas sto dispo- sitivos para juntar elementos pontusis segundo 0 principio do acaso # da necessidede, , « despeito disto, me sino livte, Embora 0 mew latear sobre teclas me convide 2 determinismo aleat6rio, minha sen~ sage exicrencial recusa cal determiaiomo, Com efeito, recusa.o so Siolentamente, que sou levado @ afirmar que raras vezes me sinto t20 livre do que quando aperto teclas, Prefiro morzer a estar privado das Tnbas teclas. Serbererecesie et, vere on est, AO apertar a feclas da inks méquina, toda a minha existéncia se concentra sobre as pontas Fexmeus dedos, esrqu no mundo porintermédio das pontasdes:meus [dor Devo, ao invesitordastecias rao-peidutordaméquiva, ea fal tha lberdade. Grapasaeles, radia teins “inserlocitinds” Gui cum a Prine exenplo, vise derruber todauima crtied da cultura atvelmene! fatal :nes pereabertoa, ‘Tal seco de orltca cultural paratrds da wotia pummo ao programa, & pare teks de programe mune ap progtasiador, se revelarl, quande ili Plewer fm voKa: sespontabilizar os primgtamadaces pela sitnago cultural nt ‘Sb € apenas simsugc iminhat @ a sensagaa de todos os apennadert ‘501K pare nelas se toncenivat-edepols Muir Taie0 a0 ‘expaggigiplleo, ‘lm de deatte, De ranticaqie-zportar reas é pate URS zen 4 publicagan, de Hberdade polideacno sentida exato do ee s evr dasiagene dei lis, inclusive dos produrores de tecne-Rmangens: = Vile Blase ermitam que recorra mais uma vez 20 modelo da histOria da cul- tura que propus ne inicio deste ensaio. © primidro yesto, jragas a0 qual ohomem se tornov sujeito do nundo, era 0 da mo estendida. O segundo era 0 da visdo reveladora dedoitextos. © terceiro era o'da dk plicagzo conecitual de visdes, estabclacedora de processes. E o quarto: esto, aquele que libera o homem para a criaglo, ¢0 de apertar teclas. de rv antes de ser emitida, j4 que ambas se encontram em aparelhos? Em que sentidasto elas *publicadas” pelo aperto datecta,a menos que ecidamos chamar ce “reptiblica” o campo elettomagnéico dentro do [A atual revolucio cultural seria, de tal ponto de vista, a submiseto da Imac, do atho edo dedo a ponta do dedo: a submissio do trabalho, da ideologia eda toria & criagdo livre, Gracas & revolugfo cultural atual lestarfamosnosemtancipande da histéria, e semelhante emancipagie se lmanifestaria pelo nosso raver sabre teclas qual vio sendo langedas? Emaquesehislo €"piNade” o Spayo no qual you apertanelo as minhas teclas receptors, j& que tal eapago eaté pre- ciarmente aberto a todas essas emisedies invasoras? As teclassincroni- aadas barraram os limites entre o ptblico ¢ 0 privado ¢ nos cbrigam a sipstiuir tes cxtegorias histérieas por outras. ‘Sem divide: a nossa experiencia coridlana com veclas vai tomar t= dliculo este entusiasino pelo poder libertador inevente ae reclas. 8 que a malotia dastectas ein nosso tornondoé dotipo “publicador” ¢ “criador” acima considerado: Se eu tivesse restrito o ren entusiasm a teclas do tipo maquina de esevever, piano, camera fiimiea ou até mesmo comps tador, ainda seria acciravel o mev entusiasmo. Masa maioria das teclas em nosio torno € do tipo apazelho de selevisdo, maquina delavar roupa ou abayjour em cima da minha escrivaninha. £ diffcil enrusiasmar-se por taltipe de tecla, a ndo serem publisidades que vendem maquinas de Javat roupa. Tais teclas, longe de entusiasmarem, levam & sensagao de estarmos agindo de maneica programada, a qual éprecisamentea fonte dacritica da cukuracontra a qual argumentei mais acima. ‘A destraicao da politica e da privacidade perpatrada pdas teclas sugere que a distinglo entre teclas emissoras e teclas receptoras & st- perficisl e nfo pode ser cofinitiva, Sugere também que estamos ns fase eum tear ainds imperitite sobse as teclas. Com efeito, assistimos fs primoises tentativas de suparayto’ da distingto entre dois tipos de teclas, AS seclas ndo ser8o mais sineronizadas, mas Higadas entre si com elos reversiveis. Gragas a tals elos (por exemplo, echos), toca te- cla seri, em futuro no muito distante, ligads a todus as tees. Poderé receber de todas as teclas e emitic rumo a todas as teclas. De maneira que a méquina de escrever nao passa de antepassado primitivo de um sclewrier dialogico, onquanto a méquuina de lavar roupa de antepassa do primitivo nfo passa de um sistema de feed-back entre 0 produtor de miquinas ea dona de casa. Em tal situegdo aperfeigoada do tatear, io muito distante, todos tateardo em concerto cora todos. Por certo, “Estamos em siiuagao caracterizada por dois tipos de tedlas. O pr lmeiro-emite, o segundo tecebe. © primeiro publicac privado, osegun- ldo privatize © paiblico, F ambos 05 tipos estéo sincronizados, Alguém ‘Sperta jecla na sential elétrica © publica corrence céivica, © eu aperto tecla no aberjour e privatize tal reente publicada, Alguém aperts te- clas ememissora de Te publica imagens privadas,e eu aperto tecla no apsrelho tv e privatizo tais imagens publicadas. No entanio: ao-assim distinguir entre dois tipos de teclas, descobtimos que a sincronizagio enite ambos os tipos torna problemétiva adisting&o entre o piblico eo privade. Em que sentido é “privada” a corrente eléteica ou a imagem [MeLuban esté enganado, Isto no pode ser chamado de “aldeia césmi- cz”, na qual todos publicam 0 seu privado e privatizam o piilico pro- pesto por todas as privacidades. isto nao € possivel onde nao mis hi privado a ser publicado ¢ onde no mieis hd praga publica na qual seria Possivel publicar-se © privado. Mas, embora o Futuro nio nos reserve “dea”, reserva-nos forma até agora insuspeiti de fibordade. Estaremos cercados de teclas que ora recebem, ora eaiitem, centre as quais escolheremos as que deliberamos. Ndo "sotaremos” (0 vo1o a eleigao nao sfo liberdade deliberada, mas.apenas liberdade de es- colha), A Hherdade do volo, essa liberdade “historiea”, nto eré mais sentido, Deliberaremos a teclas x serem apertalas em funglo de infor univer das imagenesienicar 3 Vili Passer Tmagae a Ser produzida, “Informaremos", A “sociedade informatica” dlesse Futuro nao maito distante sera sociedade composca por tateado- ze de teclis em busca de informagao nova, E isto, precisamente por ser sociedsde programada para tatear sobre teclas. A forima até agora Timuspaita de Ta rama, Pois dizer iso é a um tempo articular utopia ¢ utopia nevativa, [Porque tal forma insuspeita de liherdade pode perfeitamente virar dia. steamente scravieao to totale totalitéria que ninguém masse res fe serd a du deliberaglo no intetior de um pro- sentird de falta de likerdade, His como estamos ne mundo: tateamos, e| TAT POTTES Gos rosscs dedas ve condersn futuro siimultaacamente ater. tador ¢ inebriante, Os produrores de imagens téonicastateiam, Condensam, nas pon tas.dos seus detios, imagens, As teclas que apertam fazemi com que apacelos jun: n elementos pontuais para os transformer em imagens. 4 ‘Tals Imagens no slo superticcs eetivas, mas-superticies imaginadas. | S2 imagens iinaginadlas. © capitulo seguinte procuicaré compreendet tal imaginagio em segundo gran, tal feema de imaginagin inimaging vel antes da invengio de aparelhos. tecias, 4.Imaginar : ‘so observarmos fotografia sob lupa, veremos gros. Ao nos aproxi- maimos de tlevivur, veremos pontos, Ao obser varios a produgac de imagens sobre tela de computador, veremas come os pomios s# orga~ nizam em planos, Em todas as imagens técnicas observamos que sia pontos compatados..A fim de vetmos isto, é preciso abservarmos tais imagens, Sob olhar superficial, as imagens cécnicas parecem planos, masse dissolvem, deixam de ser imagens, quando observadas. © problema¢ o da distancia entre 0 espectador ea imagem. De distincia determinada as imagens tfenieas sio imagens de cenos, De ‘outra dist@ncia sé elas tragos de determinados elementos pontuais (tons, elétrons), enquanto sob visio “superficial” se mostram como superficies significativas. Sob “leitura préxima” (close reading), reve lam-se sintomas de perticulas. Embora semelhanze diferenga da. “ni vel ontologico” enquamto fungZo da observagao possa'ser sfirmada te todo fendmeso (chave observada cob microssépio eleirénico deca de ser chave e passa a ser conjunto de molécuilas), no esso das imagens ‘écnicas tal diferenga é da esséncia mesma do fendmeno observado. [AS imagens Genicas, 20 contrivio das chaves, exigem que delibere— pos determinada dist Hexeimplor nos cinemas anteriores & arual “perfeigao das imagens”, 0s lespecradores prefériam ax poleronas mais afestadas da tela, icia quanto a elas, exigem “superfcialidade”, ‘Ao nivel onidiégico da observagio préxima, as imagens téenicas Sio vistas enquanto rastros de processos eletromagnéticos ou quimi~ 0s em ambiente sensfvel. Sob essa leitusa um quimico pode “ler” em fotografia dada quais «5 reagdes provocedas por determinados fStons ‘em determintias molécules de nitrato de prata, enquanto um fisico ede “ler” em imagem relevisionada quais as reagBes provocadas por determinados elétrons em determinada valvula catédica. Sob ral lei= FS Flom Pheer tura, forografias © imagens televisionadas ocupam o nivel ontclégieo de cimaras de Wilson ede contadores Geiger:tornamn visiveis proces. bos que seriam invistvels sem esses dispositivos. O nivel ontologico o lage reading coloca problema epistemolégica de primeira graideza Serio os processos destarte tornados visiveis “imagens objetivas” de tals procesios, ou serdo eles infectados pelo dispositive que os torncu vibiveis? Em outros termos: a observaglo préxima infui ow nfo no fenémeno abservado? E 0 proprio olho humano, temado como dispo- sitivo de observagdo proxima, nao seria ele também um compe Cell neste sentido? Esta problemética, prépria do nivel ontologico de leitura préxima, adquire, a0 nivel ontolégico da letura superficial des itnagens weni- ‘cas, coloragio curiosamente perturbadora, porque tal problematica se articula em terms que sao importantes também a0 nivel superficial, ‘mes que 18m, era tal nivel, significado inteieamente diferente. Quando is), | Ao isam ntermanampsme sentide através dasgnel scespiortetuna gem técnicsflaem “irmaseiy’: quando eles falum no problema epiere moligico di objetividade da “imagem”, nfo usim c temo no mestab sentido através co qual.o receptor da'imagem fala no problema da “ob- fetividade da imagem recebids”. O8 quiimioas « os fisicos, ao falacem sobre imagens téznicas, esto engejados em discueso inteiranccnte in «@ fisicoe o quitrico falan em “imagem” (processos tornados vi proprinde on d6 reteptcrdas imagens, embora recceratn age siesinos ‘ernios. Nada ditem que tenha referéncia Sé expetidncia, aes valores | ¢ aos ccuhesimentos que nos proporcionan as imagens réenieas ito relevisor ou ni sala de cineme. Toda a evise é perturbadora, porque | no podemos desprezar o que os fisicos ¢ 0s quimices nos dizetn, Néo ppodemos “par enue parenteses” 0 nivel ontol6gico da leinara préxima, como 0 podemos fazer no case da chave, Porque é aes fisieose qu: 60s que deveros a5 imagens técnicas que estamos recebendo, Dou wit exemmplo do problema, A mesa sobse a qual escrevo este texte rifo passa, sob leiura proximay de enxame'de particulas que gi- ram no vazio, Sei disto porque o aprendi na escola, De maneira que, se minha méquina de escrever de repente atravessasse a minha meva, jsto nfo Seria “milagre”, mas apenas acontecimento muito pouco pro~ -vivel. Mas este meu saber em nada me perturba. Tenho confianga ab- sola na solidez dt minha mesa, porque minh mesa fi fabricada por carpinteico para ser s6lida, € 0s fisicos com suas particalas que gira no vasio vieram depois, a fim de observar a mesa mais de perto. No entaito, infelizmente nio posso ter amesma confianga quando se teata da 6pera Cost fan saete que via TV ontem, porque foram os fisieos com suas particulas que giram no vazio que afabricara, e porque a fabri- ‘earam précisamente com tais particulas que giram no vazio. De modo que estou obrigado a considerar 0 discutso dos fisicos 20 considerat 4 frivéncia coms Cosi fan ceste. Tal impossibilidade de eliminay a vacuida- lie do discurso “cientifico-téenico” da vivénia conereta mozartiana faracteriza as tecno-imagens. Sao imagens imepinadas. Nao sio como [sagens tcadicionai, ou como chaves, oucomo mesas. so permite precisat um pouco 0 significado do termo “inaginar” ‘on.telagao ap quel pretend sigatticado diferente do. geralmentd em 180. No significade coment, “imagino”™ que a.mesa é séiide-quendo ‘realm do “teatnsente” vi wages de elétrons. Pols sugira que tal significado ‘ortente hilo considera que se trata ve duas imiginaoSes inteiramente me” & varia, @ “imaginal” que onterm vi Cobl fer tuce quan- ferentes © incompardveis. No caso da mesa estou come que dendo ss cova 2 todas as explicagdes abstratas, para me-ater ao contieto. Mo esto de Cav fan tus estou como que farendo esfoteo paracons retlztro abstrato, A experiinicis mozattisns & eonsrets, no por vex TORTS SbRLraqIO, Mas Por “Tainar” que a abstragan & concrera, A ‘Speriéncia mozartiana § absteago conererizada, Sugino pois que o ‘ermo/Fimaginaz” significa a eapacidade de concretizar 0 abstrato,]e ‘we ral capacdade € novaque; qué fol apenas com a invengie de apa ‘hos proslatoses de femo-imagens que edquirimos tal capacidide] ‘Sueias geragdes anteriores nas podiam aequer Imaginar oquee leo “maginar” significa; quelestamos vivendo em munda fmaginéria Jno mundo das fotografie, dos flies, do video, de hologramas, Fmundo ia | Vilim Poser radicalmente inimeginivel paraas geragdes precedentes; que esta nos- fsa imaginaglio ao quadsado (“Imaginagao™), essa nossa capacidade de| thar o universe pontual de distincia superficial aim de torné-lo con. lereto, é emergéncia de nivel de consciéneia novo. [pendlogicamente inacewivels, Ora anova superficalidade deslate da tarefade elucidar a pretidio cas csixds; ela relega, com leve desprezo, a arefaos fiscos etéenicos que inventaram efabricoram os aparelios, Elowio da superficialidade_ Tal conscifncia nova, eal imagin nova, implica euriosa des- confiznca do nivel ontolégico “profando"e curiosn despreza por ele As explicagdies cientificas e as técnicas delas decorremtes so por certo indispenséveis paca que possamos imaginar imagens. Aparelhos 0 indispensévels para imaginarmos. Mas, nf obstante, nfo so “inte~ ressantes”. A visio prévima, “profunda”, revela banalidade, Ea visio do” a dpera Cnt superficial que é a aventurosa. Fisico que rivesse “ ‘Fin rttaonter Yea revelalo tragos do jogo eatipide do acara eda necessidace, da estrarura profiinda daquele uaiverso banal a partir do qual ¢ aparelho compuion as imagens. superfcialmente vivensie beleza, © fisica teria proposto » problema aa verdad e x falsicace das smagens de ontem ¢ teria destarte levan- tedlo, mais une ver, a questio banal da relagdo entre apar€nctae rea as eu, que olhel tas imagens dade, Masen, em minha nova superficialidade, tome! a minha vivéne do belo como 0 “reat” — logo, ¢ problema do verdadleiro e faleo nto ‘A nova superficalicade se inieressa pelo iplte pelo ourpue das caixas pretas, s@ interes pela intencto dos imaginadoces ao apertarem as te- clas © por minha prépria experiéncia ao reeeber as imagens Dor certnas imaginadores, ao apertarem as nas reclas, eram mo~ tivados por incenghes compatévels ds que me motivam 20 apertar a8 sminhas teclas para escrever este texto, De maneira que tudo que falei sobre chimpanzés, nord processors « estenotipistes se aplice também 20s imaginadores. No entanto, a situagio dos imaginadores nao @ 2 mi- sha. En, pessuo @ minha méquina e de alguma manciva.a transceado, Quanto a cles, seus gestoe ocartern no interior de aparelhns camplexos queostramcendem, De maneita que as minhas inteagdes ultrapassam améquina, enrquanto as inten25es dos imaginadores visam o-wparelho, Eu, ac eserever, concebe “por cima” da miquina, e eles, a0 imagina~ rem, imaginam "de denteo” do aparelto, cxerizam tal difereny Duas coisas 5 imaginadores dispoem de teclas que provoearto prosestos inconcebiveis para o7 imaginado- i produzidas automaticamente. res, ¢ as imagens que imaginaram s tinha mais sentido, Pols € isto 0 novo nessa conseiénela, nessa ima ginagdo emergence: que o8 discursos da ciéncia e da técnica, embora assumidamence indispensivels, so doravarte tidos como banalidedes, Je que daventura€ buscada alhures, Devo a experiéncia do belo que tive ontem a pessoas que pata mim 7 imaginaram, Chamemo-las “os imaginadares”. © que aconteceu: foi isto: os imaginadores apertaram determinadas teclas em determinados aparelhos, tais aparelhos emiticam determinados elétvons para dentro do campo eletromagnético, eu apertei determinadatecla no meutelevi- sor € oselé:tons entéo apareceram na minka tela. No entanto, essa des- crigio “fenomenolégica” do acontecimento de ontem € inteiremente falha, porque necessariamente despreaa pracessos que se passaram no interior das caicas pretas dosaparelhos, fé que tais processos so feno- [Ao contedeio do escriba, os imaginadores no tem visto profunda da- quito que fazem, e nem precisam ce ral visio profunds, Foramemanci- lpados de toda profundidede pelos aparelhos, e portanto libertados para a superficialidade, © escriba esta obrigado a interessar-se por letras, pelas vegsas que ordenam tais letmas, e sua “criatividede” consiste, em levands parse, no enforgo de mansiay tain regrar ortografican, gramari eais, fonéticas, ritmicas, légicas, a fim de procuicir texto informativo. © imaginadior pode desprezar os pontos e as regras que ordenam tais lpontos em imagens. © aparelho fax tudo isto automaticamente. Tudo Jque o imaginadr precisa fazer é imaginar as imagens e cbrigsr 0 apa retho a produzi-las. (© imaginador [fendenado & superhcialidade pela opacidade do aparelho e, ao mesmo tempo, emancipado da superficialidede pela Ouniveradas imagens nies Vien Fuser z [opacidad> clo mesmo aparelho. Essa superficialidade se revela de po der imaginatio ¢ imagintstico jamis sonhado antes. Ao apertar suas veclas, o-imaginador visa imagens jamais vistas anteriermente, por «exemplo aspectos nunca revelados de Gost fax eure, Q imaginador visa “informan” Cosi fan carte ¢ informar-nos a respeito de Cosi fan tutte, § Para faz8-lo, 0 imaginador deve ter acesso 40 teatro que apresenta a ‘opera, € tal avesso deve the permitir introduzir no teatro toda a sua aparelhagem complexe. Como semelliante encont¢e do aparelho com ‘teatro é proceso complicado ecustose, alguém deve terantecipeda- imente progtamade 0 encontro, ¢ este alguém deve ter tido interesse para programé-lo (ainda falarei, nese ensaio, do interesse qué tora a imaginasio possivel). Facultado o acesso, 0 imiaginador aperia teclas Je" automaticamente as cenas no (que fizem com que o aparelho “e palco em elementos pontuais, para em seguida re-computi-los em su- perficies eparentes. No entanto, no cursa desse céleulo, o imaginador faz com qué aparelho apalpe a cena seguindo caminhos pretendidos pelo imaginador, ora se aproximando, ora seafestando, ora focalizan- 4 do detalhes invisivels para 0 espectacor teatral (gestos e expresses faciais doc stores), ora focalizande acena toda de Angulosinacessivels pata os espectedores. Destarte acena adquive earéter dinimicoe uu ante, ¢, segundo a imaginaglo do imaginador, se transforma de “fato” fm série de imagens-miniacuras. © imaginador reeria Mozart. Oresultadlo de tal poderimeginistico, aparecendo na minbs tela de +77, na minha sala de estar, é surpreendente, abaludor, improvével (ou qualquer dos sindnimes de * fo qne receho 2a minha zala & épera mosartiana traduaida cin mGsice de cimera, ou seja, pera miniaturizada; o que recebo é aspecto da obra operistica mozartiana que estava implicito na obra por intengio de Mozart, mas que 0 proprio Mozare jamais péde tornar explicito por falta de aparelho adequado. A imaginagio do imaginador abriu para rim, tornotl imaginavel para mim, todo um universo novo: o universo de épera minieturicada, Doravante essa nova Flordeligi, nunca sus- peitada por mim, fard parte da minha experiéneia concreta. nformativo” que escolhamos). Porque | 0 ee ‘paver a superhivialidade, Tal considerazdo do inpur © do nurpue ds eaixa preta do aparelio permite localiza o nivel omolégico 4o‘qual as consciéncise do imagi- nador e minka se assentam ao receber suasimagens. Lele o lugar onde ouniverso calculado e computado comesa a emergir seb a forma de ai, perficies imaginérias eimaginadas. # eleo lugar onde se vai formando suse copsstral pare cnwubtis 0 untverso vazio das partieulas como capa envolvente. Essa nova conte cia imaginisica vai vivenciar, conce- bere valorar precisamente tal ara especiral enquanto mind fo. A consetencla imaging Hea db imaginadore do receptor das teeno. imagens vé-se-no extvemo limite da abstragio, e, por isto mesmo, ela pode vivenciéto conretaniente. Gragas a fotos, a filmes, a video, a ger de ap F POAEMOS, Mak ana ver, ter experiéncias con- tretas ¢ agie coneretamente. Redefinamos “imaginas” no significado aqui pretendido: imaginae éfazec com que apareltos inunidos de teelas onmputers 0 slemenion ontuais do universo para formarem imagens ¢ destarte, permitirem sue vivamnos e ajamos concretamente em mundo tornado impalgavel, nconcebivel e inimaginével por abswragio desvairads, A definisdo iow FapTar a stivayao Wa qual estamos; capiaro clima espectral donos- $0 mundo; mostrar coma tendemos awalmente a desprezar toda “exe Plicagio profunda” e a preferir 'superfcialidade empolgance’s }nostrar © quanto critécios histéricos dope "Werdadelna € falso”, "dado « fei to", Tauténtico e artificial”, “real e aparenre”, nfo ve abl *sieularatevohigac epistemol6gica, éico-poltica estética pela qual feamos patsando, Para articulara nova seasagio vital emergente FCVEHTRGAO THT 6 alogia da super clalidade, © fato de vivermos em meio imagindrio e de tomarmos tal meio Somo mundo concreto & dificil de ser digerido: A medida em que as “miagens tEenicas vio formando 0 nosso ambiente vital sempre de ma- reira mais acentuads, o & ro vai se tomando sempre mais indigesto Accignela ea técnice, estes triunfos ocidentais, destruiram para n68 Vite Blaser a solider do mundo, para depois recompata-lo sob a forma de aura imaginistica e imagindria de superficies aparentes, De maneira que a cignciae a técnica resultaram em séries superpostas de véusde mayae ‘em conscienciasinaginistica que em nada parece se distinguir da cons cigncia de que nos falam os textos hindus e budlistas. © indigerivel e indigesto em tudo isto € que a correnteza majestosi de toda a histéria ocidental parece querer se voltar atualmente para o oceano intemmporal ¢ imével do Oriente Extreme. Ha numerosos indicios de que semelhante visio suicide da sinus 0 € correra, No entanto, a imaginagio de que ataalmente dispomos ‘emergiu como catdgio final de evolugis a partir do conceito rumo 20 cfleulo e & computasio, e emergiu como superagao de toda essa evo lugio. Nao se trata pois, para nés, como se trata para os oriemtais, de rasgar os véus das superficles para mergulhar no nada que encobrem, “Tratacse, para nds, de imaginar sempre mais Gensemente, fim de S| carpamos 20 abismo do nada, Os nossos véus nfo encobrem o nada, 5, Apontar ‘As pontas dos dedos nfo apenas tateiam, mas podem também apontar algo. Podem mostrar em diregdo a algo, designar algo, sem necessa- |. designam, sig nificam, Néo pretend, porém, entrar na problemética implicita nos ermos “designagao” e “significado”. Assumizei que os discursos da ramente ter que tovar raquilo que destarte ago semamtica, da semiética ¢ da semiologia sf de conhecimento pal. co, ¢ procurarei me aproveitar, a minha maneira, dos conhecimentos claborados por esses discursos. Mas, de passagem, quero sugerit que o interesse atual por tais disciplinas & prova do quanto estamos co- mesando a dar-nos conta da importéncia das pontas dos dedos para o snap aio a nossa roposia ao nada, Pos maic que co assemelhem 08 nos- s0s véus aos orientais, convidam a engajamento oposto, Nao rasga-los, mas teoé-los, Nao les dae as costas pare encarar a nada, mas dat as costas ao nada para orientar-se no universo dos véus a fim de poder torna-lo mais denso. A tarefa de orientagio mo universo das imagens técnicas se decliea o capitulo seguinte (como, aliés,o easaic todo) ‘nosso estar-no-mundo emergente, © que pretendo aqui € formular = seguinte pergunta: 0 que us innayinadorey das imagens técnicas (escus ‘éparelhos) fazem, para que suas imagens signifiquem, eo que signifi- ‘eam tais imagens? Como os tracus de fotons, de elétrons ¢ de demais particulas adquirem significado, e qual €este significado? Como pro- céssos quimicos em superficie fotogréfica passam a significar “casa”, como tragos de elétrons em tela de computador passenn a significar “vido a ser construida” (se € que tas imagens de faxo significam o que ‘pacentemente significam) ? A primeira vista, @ pergunta foi mal formalada, porque parece que frografias ¢ imagens de computador sio imagens tao diferentes umas das outras que exigem perguntas diferentes. No caso da fotografia, do Fime,do video, da tv e de “reproduc: <” compardveis, a pergunta de- vetia demandar como os imaginadores e aparelhos reproduzem 0 que ‘mostram, No caso de imagens de computedor ¢ em outeus situagées de “produgao" de imagem, « pergunta deveria demandar como os ima- ginadores ¢ aparelhos produzem o que mostram. A primelta vite, casa é “real” e 0 aviao, forografiada casa significa algo “cf dentzo” aT apenas “possivel”; 2 casa foi “descoberta” ¢ 0 avio, “inventado’s a casa éde alguma formaa “causa” da fotografia eo avito aser produzi- o,0 “efeito” darimagem. No entanto, ao tentarms destarte distinguic entre “reprodugiies” e “produgies", entre irtagem “documentéria” “imagem-modelo”, nos deparamos com algumas difieuldedes, Sem diivida: © lugar ontolégico da casa ¢ diferente de lugar do avifoa serproduzida, embara tal diferenga, ela rambéra, possa ser dice cutida. Serd que tem sentido dizer que acass @ “seal” e 0 avido nio.0 6, }8 que podemos ver ambos da mesma forma na tela? Seré que tem sentido dizer que 2 casa é a “causa” da fotografia? Sera que podemos istinguit nitidamente entre invengdo ¢ descoberta? Mas tais pergun- tas “profuundas” (quer zenham resposta, quer nao} no tocam direra- rence a pexgunta “suparioal” aqui leventadar come distngulr enteq imagens que reproduzem e imagens que produzem? Na fabricagio da| ftografia da casa est implicada a imaginagdo do imaginador, tanto quanto 6 esté na fabricagio da imagem computada. 0 forderafo 180 “descobriu” a casa, ele a “inventou” A casa nfo 6a causa da forografia como o é a pata do cachorro para o trago na neve: o forégrafo « comou como pretexto, ¢ a casa mostrada na forografia €0 efeito dese geso. Qiranto ac avido a ser produido, ele nfo passa dereprodusio de algu- ma visio contemplada pelos imaginadores ~ exatamente como na sit= fagao da cana. O que nos ugere que querer dininguir entze reprodugio| e produsio no caso das imagens téenicas nfo € tarefaficl, ‘Mas podemos tentar distingulr enrre os varios ipos de imagem t nica de um pomto de vista diferente deste. Quando contemplo forogra- ioproinssi zo vé-las apenas gragas a aparelhos. Logo, "seprodugSes’ e “produ aes” implicam imagens radicalmente diferentes. Entretanto, um ins- canie de reflexdo problematiza também este rétodo de distinguir entre tipéstde imager. Hé fxoprafi, imagens Alcs, tlevsionadas oude video que me prozorcionam a sensagao do jamais visto, da suxpresa, do arrebatermento, em sua: imagens “informativas", A maioria das ima gene computadas é tho maxtalmente tediosa quanto a maicria das imax gens “reprodutivas”, porque sto imagens “redurdantes”. De marieira [gue poo dstinguny, iso Sim, entre Imagers Informativas © agens redandances, mas tal distingio corta diametralmente os virias técnicas Liss quais as imagens se originam. No entanio, hi a prépria técniva da ‘imaginagao pocle ser sarpreendente, arrebaraddora, se a técnica de com- puter imagens é mais “nove", menos habitual, queas i6enicas de foto ou Sime. Por ist, somoslevados 2 crer que imagens eompataas sio mais “inieressantes”, como 28 fotos ¢ 08 filmes eram nos seus primérdios ~ Guando na realidade devemion se Tagens que eames conremplando sempre a determinadas téenicas, novas ou velhas, ¢ jamais poderfamos vera “mesma” imagem sem auxilio de aparelho. De maneira que nfo ‘em sentido querer distinguir entre imagens do dpo “foto” e imagens do tipo “tela de computador”; logo, a pergunta que formulei no primei- ro pardgrafo deste capitulo foi bem formulada. ‘A pergunta consiste de duas partes distintas, Ela demanda primeiro [‘como” as imagens significam e, depois, “o que” significam. Deman-| lda primeiro como as pontas dos dedos se posicionam para apontar ¢,| Jiepois, o que é aquilo que apontam. Se abordarmos as imagens téeni- 50 horwem histdrico, informatlo por textos'e com sonsciéncia estrit. turada “linearmente” por textos, vive em universo queexige ser “ido”: “narara lbellum". O universo se-apresentay 20, homer fistérico, en~ ‘quanto -séries de sinais codificados que precisam sérdecittades (expli- 4 cados, interpretadas). O resultado de vais explicagbes einterpretaghes, detais “discursos.cientificos", €0 dominio do homem histérico sobre o smundo-reeto, Paras hornets histérica, o munde einite wile uni quadi- tidade enorme de sinais (de vetores de significade) que o homem apa aha para otdenar segundo os fos que codificam os sinais (por exemplo, segurdo 2s tais leis da natureza}, Para poder apanhar ¢ ordenar os si- nais provindos do mundo, « homem precisa assumir determinada pos- tura diante de mundo! adacquato invellecs ad rem. © homem precisa inclinar-se sobre o mundo-texto a fim de poder decitra-lo, Tal postura einclinagdo, tal postura reverencial peranteo mundo é, s¢ vista feno~ menologicamente, a maneira como o homem histérico esté no mundo. ‘Depois da decomposigac do universo em elementos pontuais fe de- pois da decomposigio da consciéncia em bits de fnformacio), essa pos- tara histérica se torou “inoperante”: como os ios ordenadores dos sinais em edcligos as desintegraram, 0 universo perden o seu carter de fexto, rornou-se ilegivel. Nada hé a explicar e @interpretar em mundo quee fnarido emite nada ignificamnl, nfo sto “wetaree de significado”. O are consiste de-particulas soltas. Em outeos termos: os “sistas” niundo se afiuea como conjunto absurdo, ¢ existéncia absurdanente logis em tal mundo absurdo procure em vaoater-se aalgo, Demanei- fra queinclinar.se subree perante 6 mundo é posture “inad-quada”. "Tal decepgao com a atitude interpretadora (com explicagdes “pro- or detrés” dos sinzis) [fez com que o homem pas-hintGrieo ae levante| Ble se poe-se de pf « fundas" depois da constaragio de que nada hé estende o brago rumo ao mundo, a fim de aponté-lo ecm as pontas dos dedos. Um dos resultades desse erigir-se face a0 mundo sdo as ima- gens técnicas, essesdedos indicadotes. Sugizo que tal exguer-se do ho- mem atual contra omundo, que tal exes, € tio redical e revolucioné- ris quanto o era a exegGo dos nossos antepassados animalescos, a qual reson fos Ema poor ny ln. Svea designed sportam doravante a partir do-homem rut we mundo. Todos os si- ns, Signos,flechas de trinsito, apontars;doravante, “de dentro para ora”, a fim de dav significado, de significas, de codificar o ambience absurdio, em suma,a fim de “dar signifcad abserdaem a existinci ‘mundo absurds, Em conseqiiéacla, a reyposta a pergunta "como sigai] ficem as imagens técnlcas!™ escabelece:as imagens réenteas signtfcar| apomtando na diego do nada insignificante lf fora. Todas easas foros, esses filmes, TV, video e imagens computadas sao significativas preci-| samente porque o mundo apontade por elas é insignificante Dedaz-se que, se quisermos decifrar as imagens tenicas, comete- ‘mos um erto ao analisarmos apenas o que as imagens mostram. Nio analisando a casa fotografada ou o aviio mestrado em tela de comou- tador que descobriremos 0 significado das imagens, Casa e avito 080 pasam Te aigaticads "apareme” « prevenido” de ais tnagens: Naw eee losew “sentida” &a ditectio para a qual apontam, Por certo, podemos| Continuar “eeplicando” as imagens —por exemplo, dlzendo que a casa €acausa” da formgrafia eo avido, 0 “eleito” da imagem. Mas taisex- plicagbes “ptofiindas” (cua vacuidade diseutimos em pardgraf ante~ Fiat) sae pouco Imteressanies, O importante © que as imagens (ecnicas Pe So projegtes que projetam significades de dentro paza fora, e que é recisamente isto.o.seu “sentido” Ginn, meaning) ‘Quiet Ibo paragralo precedente Ge mancira apressada podera cone luir que estou advagando curiaso idealismo, 0 “idealismo dos apare~ thos", que estou dizendo que os aparelhios produtores de imagens esto produzindo avides e casas, que a “idéia” por deteds dos aparelhes & “real”, que case ¢ avido so “aparentes”. Pois terd lido errado: estou izendlo o exato contrério diato. Eston dizendo que explieag&es “pro fuundas” do tipo “ideolismo" « “realismo” nao interessam mais. Que, ata nova supevfcialidade (para foros, filmes, imagens compatadas), © eterno problema (“eterno” porque mel formulade) do *ideaiismo” ¢ ido “realismo” nao tem sentido. Estou dizendo, simples e superficial-| Ounivese das tmegens tnisas | j Film Bhs ‘mente, que fotografes s20 projegées de cosas ¢ que imagens compu. tadas sao projesdes de avides sobre superficies, e que tas superficies nada encobrem (elas encobrem o nada). “Nada” hdde “real” ou “ide. al” nisto: ©.que bd é projeto conferindo significado. O que tal discus. 80 [profandk ihstra, no cntaaco, a tremenda dificuldade de quenos 4 ressentimos > emergit da profundidade para a superficialidade. Mas I outra cbjecio, mais perturbadora ainda, contsaa minha ten- tativa de analisar “como” as imagens séenicas significam, A saber: as imagens tradicionais nio fariam da mesma maneira? Nao sio, elas tam- bém, vetores de significado que apontam para fora, mmo ao mundo? Ent ny haveria nada de radicalmente novo mas tecno-imagens? A objeso nto provede, As imagens tradielonaiasdo eepcthos que refciem | 08 vetores de significado que apanharam do mundo, como o fiz a fe» cha de transite que diz “Roma. Alguém esteve em Roma, avangou até esta encruzilhada, inverteu o seu olhar ecodificou esta fecha, E quem seguir na diresio apontada pele fecha chegard, com algguma sorte, a Rume. De fons que o sentido da fecha @ des imagens tredicionais) & Roms, Mafasimagens wenicas nada reflaem, Naosdoespelhos| Quem as produziu jamais esteve em Roma, pels simples razfio de que lé fora ‘fo hi nada. Quem seguir a lecha “Roma” jamais chegard a Roma ou ‘parte alguma, Ainda que as imagens tradicionais eas tenicas tenham ‘OmEsmO Sgaifcado (“Roma”), elas rém sentido diferente. O “sentido” das imagens tradicionais € chegas (orientar-se no mundo) e o “sentido” dis imagens técnicas é o de seguir a fleche (dat sentido), Por certo: os “explicadozes profundes” podem teimar © dizer que as imagens téenieas, sto, elas também, espelhos, e que s8o espelhos “melhores”. Os aparelhos que as produzem apankam sinais provindos de roundo (fotens, eétsens) ¢ 08 refletem em farmade vetores desigri- ficado. Mas tais sinais apanhados pelos aparelios no dignificara nada que posse ser refletida, NO so * inais", mas apeni atéria-primaa partir da qual as imagens serio produsidas. Nao se rata de reflexao, de especulagio sobre vetores tle signifienda: trata-se de produgdo de veto- tes. Nio se trata de apanhar o significado do mundo para tomnielo vie sfvel porrefledo: tratacse de conferir significado ao insignificante. Os spetelhos nfo S20 refletores, mas prcjetores..Nao “explicam” o mundo, como 0 fazem as imagens tradicionais, masinformam’ o mundo, ‘Wess: ponto do argumento jy nos encortramosna segunda parte da pergunts formolada no primeiro pardgrefo:“o que €” que as imagens téericas significa? Para poder vesponder, devemnos inverter nosso thee devodifieante. No. ccso da fecha “Roma”, nfo devemox partir da pontastumo ao que ela aponta, mas devemos sim reonar 20 longo da Aecha rumo 20 departamento de trAasito que a construiu. Ji que afle- chaparte de dentro, & no depertamento de trinsito,nosaparelhos e.nos fimaginadoret que devemcs prosurar pelo significado, Naoe analixan- analisando s.cdmera fovogréfica to acase mostrad na forografia, lca intengio do fotografo que'a decitraremos. E ainot depacamos com nova dificuldade. E obvio queo departamento de transito, acimera eo forSgrafo tém porintenso que a sua imager signifique “Roma” ou “case”, que exe €o seu significado intentado. Mas semelhante significado nio coincide com 0 “sentido” (devemos, na decodificagao aqui implicada, distin- guir enuie “significado intentado” © “sentido”, entre signdfeance and meaning). O departamento de transito “quer” que sigamos determina~ dacestrada: ese € 0 sentido da lecha, O fordgrafo ea cdmers “querem” provocar em nds determinadas vivencias, determinados conhecimen- tos, determinados valores ¢ determinado comportamento. A imagem computala do avito a ser febricado “quer” provocar em determinados engenheicos determinedos gestos que resultem em avio efttivamene fabricado: ente € o sentido das tecno-imagens. O pretenso significado das imagens técnicas rio passa de imperstivo a ser obedeciéo. Talim perativo, tal ponta de tedo que apoata 6 camsinbo a ser seguido, é *o cnteas imageas téeniess significa”, Em termos mais adequados: as imagens técnicas significam pro- [Bramas, Sdo projegoes que partem de programas e visam programmer 09 seus recepiores. As cenas mostradas pelas imagens teenies sho ME todos dle como. programar a seciedade. Nao adianta, para 0 decifta- is Osniverodae image tna Fide soe x mento das imagens téonicas, analisar tas cenas em fungio do mundo 1d fora, Nao adianta perguntar se a casa forografada esté “ realmente” ford. ow se é falsa. Néo adianta'peéguntar se a barslha moseada na TH. $6 passou “realmente” ou se (oi encenaca. Nio adiana perguntar Se oavito a ser constraidoé ou nfo realizével, Tas perguntas n30 x20 “boas” porque a imagem ndo permite que sejam respondidas, As ce- 1as mostradas devem ser analisadas em funglo do programa a partir do qual foram projetadas, Ors, isto exige critérios novos, iio mais do tipo “verdadeiro ou falso” ou do tipo “belo on feio", mas do tipo "informativo ou redundlants”. A razio & que o significado das imagens séenicas é de espécie jamais vista antes da invencdo dos aparelhos. As imagens tGonicas significam programas inseritos nos aparelhos Produtores'e manejades poc imaginadores, eles também “programa: des" para-manejéslos. Por detrés de todos estes progeamas co-in- Plicados # confltivos reside a intenjao de conferir significado a um universo absurdo, de dar sentido a uma vida em universo abourdo. ‘As imagens téeniess sto fechas de trdnsito que apontam caminkve rrimo 40 nada, a fim de darrumo a vidas no proprio tad. B estamos sespuindo cegamenve, tm sitlagio mais e mais dominada por tecnn- Imagens. Vivenciamos, conbecemos, valoramos © agimos vegemente em frmgao dels —a menos que decifremos o gue tais imperatives, tis dedos imperativos estendidos significara: a menos que descubramos os seus programas. 6. Circular ‘As imagens ‘enieas #0 60 expellos, mas projetores projetam sen- tide sobre superfiies, ¢ tals projegdes devem consttuir-se em proje- tos vitais para os seus espectadores. A. gente deve seguir os projet. Destarte surge extrutura social nova, a da["sociedade informatica” je JEsse nova estrutura exi- qual ordena es[pessoas em tomo de Imagen ge novo enfoque sactalogico e novos crtérios. A scciologis “cléssic enfoca © homem, com suas necessidades, desejos, sentimentos e co- hecimentos, Gomo 0 pom de partida das andlises da sociedade. A sociologia furara parti da imagem récnica edo projet dela imanen- te. A sociologia clissics trabalha com critérios que lhe permitem clas- sificar a sociedade em grupos do tipo “familia”, “povo” ou “classe”. Acsceiologia utara eleborerd erisérios que Ihe permitem classifica a sociedade:segandle tipos de imagens, por exemplo, em “telespectado- +89", “jogaclores com compuradores” ou “piiblico de cinema”, Para a Sociologia cléssica os objetos culusai (mssas, casas, carros) sie explic ‘iiveis em funedo dos homens que os produzem que os-consomem. A Sociologia futuca explicars os homens em fungdo dos objetos eulturais (Glmes, programas de rv e de comparadares) que os programam. A furura exitica da culture terd de inverter 0 enfodue e os critévios da critica precedente, “cldssica”, “humanista’, desloeando 0 homem do Centro do seu campo de visdo e empurrando-o para o horizonce—e 0 ‘ard precisamente s¢ estiver engujada na preservagio ¢ na propagagze (a liberdade eda dignidade hurmanas, Se enfocarmos 4 sociedade emergente desta forma, consiataremos iimediatamente queas imagens téenicas nio juntam pessoas em seu tor 0, mias sim que espalliam a sociedade. Dicigemse elas a0 individuo tolitrio «0 akangam nos seus cantos mais intimos ¢ escondlides. A ‘nica excegio dessa nova regra sociolégicaé filme, porque ele reine ili Phaser gua frente arupov agiomeratios em caverns obscures chiamatas “el. nemas”, Seno fiturs 0 videovierasubstitsir oflme, adindinicasocial = clicsita’'Se iiverteté totalmente gente nfo nial ssieé do. privada 6 46 pablo wird de infarman-be; mas ser empncsadadelandiana- gens tlenicas axé 0 aiais’privado dos privadasa fi de-sed tnftxmiats, Em talaperioe ein talléngiiitiace sociedad espalluda ser dosavante Sa arivectiar, accnkeeet, « valotives, eagir spertando te. proweae ilas, O tease social aciroolagto, send o nposta dopevalecerte is Frocteda das aptenianns, A Saceciade eapatiracte nae tor mace ammonia -sdtico de-pardienter iidividnals, ras sevé wana -sociedade antint foorque radia individuo stars ligalora todos 08 demas indivsdivas.do] lund inteiie aprants da'imagem téenica qua. extiiprigiamsitdo, | Love tal Senate einige @ rads 09 inlividuas indieineamente © ca lnesina forma.A SARE doindiviehvo do pares de nna tes faves ca [eda "Wopieead: inikomisioa’s a oura ke @ a sub manleseags cosmopolia, OgueNulailan chamou,demansirsctiniste,de “aldea césmica”, sera uma massa de individuos soltatios untdos entre si pela identidace cdsmicados progratnas {No entanto, tal visio da cociadade informvitioa nfo agarra, a meu ‘ver, 0 nticleo desse sociedade emergente. Por iss0, ptoponho que a ante seja tema do capitulo seguinte, e que seja conside- soliddo massif rado primeiro 0 movimento circular entre a imagem e o homem, sem ‘oqual a dispersdo da sociedade nao & compreensivel, Tal movimento circular, tl feed-back, gragas ao qual is imagens alimentarn os homens para sorem por elesealimentadas ¢ pars engordarem sempre mais du- zante 0 procesto, forma centeo mesmo da furura sociedade, um cea- il andlive. A dificuldade reside no fato de que o tanska 0 de di *{magem-homem’ inverte © “estar-no-mundo” como 0 conhecemos ‘Vejamos exemplo, aparentemente inéeuo, de tal difieuldade, Cientisa brasileiro, amige meu, vé em noite avangads, em Si0 Paulo, programa de rv de um jogo de futebel em Téquio, dispurado entre clube de Hamburgo contra um clube de Porto Alegre, © me «s- reve carta a respeto. Ele escreve porque esté perturbado pele entu- siemo que dele se apossoit qaardo, fa de Porto Alegze:fee-ogél decisive, Ets: vagssombsas-projetadas pelos jogadojes a) rorrogactio dorjnge, o dube agle caleular contotimento ‘de-vonstaar come arty equal meinmigo “sormalmsite™ alo.ache entutiasnan, Mei aerigo \geftca “horrnalnionte” apgude} ck poder diagnasticar que seu entu- sitsmo foiprovocadoppelo eniusizsmodasjogaderes, que ado. Mas:xe dlvi-lo sabe perlbeamente que cureas Eases além dow jogadoresostto implicados. Bisporque, indo o pregatan, anew ansiga saiig-case paraice er 26 Rates votamasdo sou jardim, alga, come Aeidiz, "paindvel”, eis porguie'ine escreve ‘Oexeraplo rem mumerdsestaspeeres, oaseyeolherel apenazs ta ‘so iniediaramente petrinentysbliciaaaqui peneguido: (2) Oxjopedo- resantugionnados eentuslasmanieseram beasilezos, o que mabifzou fem meu amigo ideologia arcaica “normalmente” recalcada (patrio- tera tismo}, € tal mobilizasao estava precisamente “no programa”. () A tentativa de explicar cientficamente a imagem deu certo (met amigo conseguiu ler a imagem “astronomicamente”), mas tal explicago ndo infin sobre o efeito da imagem, era “eritica inoperante”. (3) & viven= sia tinha algo de espectrat (embaralhou espago e tempo) e sbsorveu meu amigo em universo "normalmente” desprezivel, de mode queeste ee refugiou ein universe mais *palpiivel”. (4) Na soli 0 da sua casa oturna men amigo se sentiu isolado, de maneira que teve o impulso ct telefonar-me imediatamente de Sdo Paulo para Franca a fim de re~ fagiar-se em formasocial nfo tocada por imagens. (2) Men amigo pretendew que seu entusiasmo se deve a0 entu- slasmo dos jogadores e que estes Se entusiasmaram por lutarem pela Vit6tis, pela vieiria do seu clube ¢ do seu pais, ¢ (essuinidaments) pelo Frémio que ganhariam. Mas essa crea do enrasiasmo do mew amni~ 86, uma “critica histériea”, ndo pode ser corteta, ou pelo menos nile deve ser adequada, Os jogadores sibiam que o jogo seria irradiado 1d age ener Vili Bieser para Porto Alegre e que suas mulheres e seus amigos irlam assisti-o, Em parte, fl sto que os enthisidsmou. Sabiam também que seria feita uma fita de-video a se: mosteada ent cinemas brasileiros, alemfiese no resto do muirdo. Em parte, isto também os entusiasmou: eles sabiam que essa fta pode ser repetida varias vexes (@m tese, eternamente), Em parte, isto igualmente os entusiasmou, mas talvez nfo tant quanto seu ainigo penes. Talver a8 eparacores de wv tivaxsem escolhide os momentos que correspondessem ao programa “entusiasmo” € oculta- do os momentos inconvenientes; talvez 0 entusiasmo toda tenha sido *criado” por operadores; talvez os jogadores nem tenhem estado em Téquioe 0.que o meu amigo viu era tio-somente uma fita moniada; talyer 08 jogadores brasileiros tenham feito o gol decisive no progra- ina brasileixo, enquanw os jogedores alemaes fasiam um outs gol de- cisive no programa hamburguense; talves 0 gol fosse brasileico nos dois programas, porque a “vitéria” estaria no programa brasileiro, e ‘quanto “derrota” funciona melhor em programs alem#o, cam ideolo- gia recalcada diferente. Bem, todas estas perguntas so fiteis, porque a imagem nao permite que elas sejam respondidas, A Yinica certeza que podemos ter ¢ que meu amigo se entuslasmou conform o programs queria que ele se entuslasmasse. Admitamos que os jogadores estivessem efesivamente em Téquio fe que efetivamente se entusiasmaram (embora haja sizes que nos im- pedem de ter tanta confianga naquilo que as imagens mostram). Em tal caso, devemos admitir também que os jogadores se entusiasmaram em fungi da imagem tanto quanto 0 meu amigo. Se tivessem jogada som cAmeras presents, sen enitisiaemo tetia side outro. Ratasiasma~ xam-se parqueevam yistosse enrusiasmand, Por eerto, sresizamente; Viswvain vitéxia, ea visavam por idedlogias tio arcaieas quanto o-€ 2 jleologia iichitizada em mip amigo. Mas 6 que cevus aqui € gue se en- ‘tusiaeraaram por serenn vistos em forma le imagens. O set jggo,ape- renteinenie o futebol, eva na realidade o jago da 1¥ na quala proprianients jogedores, mas sien pegas. E.os operadores tary erain (ote sua vez cutras pees np iveta-jogo dos programas de rv do mundo: cam, ssemelhante meta-jogo, por sua ver, também &uma pesa no meta-jogo dos interesses comerciais, politicos e culturais japoneses —e assim por [diante, de netacjogp em meta-jogo, em regresiso imbita. Logo, 0 que |-aéusiasmou o meuamigo em sua noite pailista nao era “acontecimen- to hist6rico” que visasse modificar o mundo (ganhier campeonatc) mas lim “espeticulo” visando programas eapectadores. Pois a invorsao do l,ctéria em expeticulo ede evento em programa é precisamente 0 sen- lito di coisa toda, 2 constati-to teria sido a “critica corset’. ‘A inversao de histéria em espeticulo nao € tao evidente neste ‘exemplo quanto em outros, or exemplo, nos casos em quie casennen- 10S, Saques, revoluget out suicidios slo feitos em fungiw da present fecamers, Ino 6a" POSHOHT Ho MGRIRETS erat co TerT, OF Los tifo mais we dirigem contea.o mmunda a fim de modified-Lo, mee lim contea a imagem, a fim de modifi finagem. Isto &0 fim da hiscoria, porque a rigor nada mais acontece, frorque tudo & doravante espeticulo etersamente repetivel. A.reta cal #8 programar 0 eeeeptat da hist6ria se transforma no cfreulo do eterno retorno. As imagens pas los em sam aser es barragens que acumilam eventosa fim de record obsticulos repetitivos, isto , em programas, Nao estamos mais mer lhacios na correnceaa histérica, mas sim nos quedamos Sentados, so lirics, face as imagens que nos mostram programas; tais programas extranhamente nos entusiasmam, em ver de nos causar tédio insupor tivel. Tentarei analisar a razao disto um pouco mais tarde. Os aspectos (2), (3) # (4) do exemplo escolhido itustram a nossa di- Fouldade em emergirmos da histbria para o espetéculo, da linearidade ata ssuperficilidide eopecteal ecirealar. A critica cientifica dasima- fens, fete por:men amigo, eta rao certa quanto inadequadia, porque de compaccts aimigentcom uma cena “ld fOniyem verde compari-ta com oprogianerueapeajermva Na situate stualadexplicagdes ck tices contin: contetss x indispensavels,-mas alo sie adequadias as as que as imagens nis proporcionans, ‘Panyporien seria aikegns- propo: nip oe sivnc tia a Go mt amigo wai so na ‘an didlog. Vile Plaser e do que flores palpdveis ou do que amizades. A imagem ji porta men. sagens relat s-# lores ¢ amigos, e mensagens imperativas (poique apelam a ideclogias infra-conscientes), A flor © amizade nfo podem goncprrer.com essa concreticidade infra-censcitnte (e eretina). Nao podemos nos ater A flor © # amizade para escaparmos & imagem. Nao podemos escepar solido massificante, recorzendo “apenas” a oes ou a amigos. Destarte 0 exemplo excolhido, com toda a sua apacente inocéneia, ilustra como lutarnos atuslmente contva.a nova forma dé se tar no mundo, come no nosso fntimo se treva'umna guerra civil entre forma velha ea forma nova, ¢ como a forma velha esté condenada a ser vencica pela nova, homem forma um citculo de sperfeigoamento automatico, As jer egg vayensse tcrnam sempre mais “fis? (nogiram como nos comporta- nos efetvamente) € ns nos rornarbob semigae mais “fis” as imagens feomporamo-nos efetivamente conicsiné’ frograma}. inant aye 4 cuoulagao entre @ imagem © 0 honiem parece ser arn create fecha. Quesemos efaremon 0 que av imagans querem ¢fazem, es imagens querem ¢ fazer 0 que nos queremos e fazemos. Efetivamen- te, podemd’s vivenciar desde jé ¢ em toda parte tal civeuito feeliado. Imagens mostram méquinas de lavar soupa, as quais querem qute as. queiramos, e nésas queremos e quefenios tembém que-as imagens as Anos igi Fase imegens € esta: as imagens projetem ser] ‘ tidos sobre nés porque elas sto modelos para o newso comportemento. Devernos entusiasmar-nos, para em seguida codificar nosso entusias~ io em determinadas gestos. Os modelos funcionam porque mobili- zam em nés tendéncias recalcadas, e porque paralisarn as nossas facul= ‘dadesoriticas ¢ adermevein a nossa consciéncia, Passamos a vivexciar, ‘Viloseé, coubecer-eaytr como sondmbulos ox como fentoches, Quart- do consegguitnos mobilisar as qotdse faculdades ctiicds a fim de nos enanciparmos ta hipnose, as nossas eriicastisstingent a wiveasta concreia, O[HaS80 comportamento sondmbalopeainadequagdo da eri tea tradicional aimentam en HOF Seasiglodo espectsal que acom~ pottha-ovuniverso das imagens. Nostos gestos passam dotavante 18 spetias a se constitu como reagies ds imagens, mas pessamn a dicigir~ se Fguttindnte rome ds Tnegens. As Talgeis paisam a ver osnosos in= tetlocutores, os patceivos na soli&e'a qual nes condesaram. Quando OSHOSOS Gestor visuia aparehtemente o manda (gankar campeonato, fazer revolucio, comprar miquina de lavar toupa), dirigem-se efeti- vamenie ds imagens, sio respostas &s imagens. Nossas rec gestae apa Fentes so efetivamente espeaculares, Asimagensapanham os noss0s Betos grapas.a determinadosaparelhos (cdimeras, marketing, pesquisas de “opinido pilblica”) © os transcodificam em programas: nuttem-se de gestos que elas préprias provocaram, Enea circalagéo entre a imax nose, nage EROSTERT PHFD PUTTEOR, OF GUAT TET lescothamos entre eles, e nds queremos escolher e queremios também. Jqueas imagens o: mosizem, Imagens mostram determinados compor- earsentos (amorosos, consumidores) os quais quetem que sigamos, & nds quesemos segui-los © qneremos também que as imagens es mos- trem, No enianto, 0 circuito fechado no pode sec efetivamente fecha~ siseesta feghado, B, de fato, podemos obsetvar quals as foates que all: tmeatam aciteulagiio aparentemente fechada. ‘A citsulagi entve av Huagens # nie © alimiantads pelos ORCUTIOS da cites, da réenice, da atte &, sabretdo, da politica, isto 4, pelos iscureos da histbriaem wian de ser eupensida, Esse8 Gscursos avium tava quanidade enorinede tiformagdo ne decorrer dos WlGnios tol anos econfimann produsinde infcrmagio: com velacidede ade saéa, enboreio se infant mais contre fariro, miss ne dinegao das imagens. As imagens sugam semelhantes discursos, © tl suxto.os torna mais ¢ mais precipitados: Os enunciados cientificos se superam tuns 2osoutros rapidament, as técnicas se aperfeigoam anualmente, os estilos artisivos so ultrapassados no momento em que aparecem, 0S ventos politicos alieam cotldianamente toda cena. Tido se FEET) lumo as imagens para ser forogratido, filmado e videoteipade 0 mais hapidanente possivela fir de ser recodificado de discurso em progra- Ima, Jamais no passado houve tanta “hist6ris” como atualmencs, ecisa do. Deve ser “alimentads” de fora pata nie cae On enutple, GME. O waivers agin wera sazdo por que os programas nao so tediosos, mas mosttam toda noite coisas novas. Eis porque nos entusiasmam, No entanto, essa “hist6ria” nossa, essa hist6ria inflada, ndo éhistd- sia-verdaileira, Neo € mais resultado de gesto que visusse modificar'o mundo, no émais expressio de liberdade, mas sim resultado de pesto Gue visa imagem. © "progressa” atual acclerado no é mais progresso| /rume ao futuro mas sinh queds, como no caso de rio que se precipita Jem catarstas 40 encontrar ume barragem As imagens se nutrem de| |pseudo-histéria espetecular & por isto que néio.caem em entropia,| pias entusiasmam. As fontes da hist6ria, correspondentes decisto livre de mucit 0 mundo, esto secando, ¢ as cascatas atuais de eventos so a passagem [es histGria para a pésshistdvia [Por mais gigantesco que seja.o rio da storia, ele se esgorard mais cedo on mais tarde. Catéstrofes termo- sucleares ndo so necessétias para acstbar com a historia, j& que ela acabaré automaticamente, Uma ver absorvida 2 historia toda pelas ficada a histGrla em programa, a circula- imagens, uma vez transco% fo entre imagem ¢ homemygairs efetivamente em enttopia, e 9 manto do tédio mortal se espalhiard sobre a sociedade. Ha, desde jf, sintomas que sugerem que tal esgoramento da histériase dard cedo, endo tarde. Desde jé 2 nossa cobica de sensagdes (quetemos imagens novas toda noite) sugere que o tédio comega a se manifestar, e que © proprio pro- gresso precipitado se vai tornando tedioco. A sirculaglo entre imagem © homem que ameaga cai em entro- pia, tal Inversto do nosso estar-no-mundo em estar-face-a-imagem, conetinii, conforme cio, c niiclee tesimo da seciedide infoemética etieegpnte. Grla que cl ccubgio, ne gual eahe A ager o papel ative exo: komen « payil native, &predisamente a signifvado queso [:eaad soeietudettfopsistion” pretende. © atualisolamentside indie 7TIGD &, WiRDRAL massificagad, esses Sintomes evidennss a sociedade ent tite, no-passam,amen ver, do cennegiifatias dessa siecelagto ‘Gara enere treagem e lim, gragas & qual acimagem programe o ‘Thomom para Yule este sepoograime.s imager, Cols que é samette de pois de termos nos conscientizado dessa situasdo espectral que pode- rns passar a considerar a transformago da sociedade em areia, uma areia composta de graos isclados que formam dunas movedigass que podemos considerar tal dispersao e diversaoida sociedade; que pode- mos considerar o atual divertimento. lata Einhore isa ‘nad Sta sempre eviderne: Sao, tomas elds, Superficies “terminals”, su= pecficies nas quais terminam raios. No caso da tv, o fato é evidence: deverminada “gallo” de determinado “tamo” de determinado centro inradiador termina na tela. Mas focos, Slmes, videos, teks de compu- tador, em suma, todas as imagens técnicas, zevelam a mesma estrutura “terminal”, se analisadas. Por certo, no caso da 1Ve do filme aimagem tomminal é idéntica & imagem irvadiada, ¢ no caso das demais imagens isto no & verde. Fotos so feitss em qualquer lugar intermediirio entre emissor e receptor (se por “smissox” entendemos o programa dor da cdmers, e por “receptor” 0 observador da fotografia), enquanto imagens de computador sfo feitss pelo préprio receptor da imagem. INo entanta, isso em nade afeta a estrotura ireadiadoras ‘> importante programada naimagem sécnica nto €o que ela mostra, mas como fe 5), Os centsos Fradiadorse de imagens ve Gar os caphuilos preseden sizctori , por enquanto de maneira algo frouxa, mas que se mentees toma poucoa pouco maiseficente, gragas a satéites e gadgets equiva lentes, Donde, temos que toda imagem téonica é terminal de um raio que parte de feixes de raios sincronizados. ‘A eirutura da sociedade emeigemte (da sociedade informatica) € 4 de feines sincroniiados (“Tnscistus™). Os centro insadiadores dos {ies ccupam a centro da soniedecle (contsa percialmente invistusl ¢ inacessivel sos homens) e os homens esto sentedas, cada qual por si, face ans terminais dos felxes, a contemplar imagens, Essa esteutura so~ ial, emergente, irrompe através das formas sociais precedertes; que se desimegram ¢, “atidentalmence", caem em todas-as dizegBes, como submarino que irrompe através da calor polar e faz.com que 0 gel se desintegee om blocos, Nés, os obtervadores, erdemos 4 prastar ater- Be Ville Pei so nos estalos do gelo € nos blacos se desintegrando, em vex de nos concentrarmosno submarino emergente, Zis arazii por que tendemos ‘a alar em “decadencia” da soctelade, em ver de flarmos em “emer igéncia da sotiedade, Tendemos w denuneiar'a decadéncia da familia, da classe, do povo (@ decadércia do tecido social) cm vex de tentarmos captar'o novo que surge. F, cuando nos engajamospoliticamente, ten demos chutar eavalos mortos (“machismo”, “luta de classe”, “nacio- nnalismo”), em vez de analisarmos crticamente a nova estrutura. A sociedade decadente nos intetessa mais que a nova porque as formas sociais em desimegragao sto “sagradas” (to &: tradicionais, costuniciras). A familia, com seus legos entie esposcs, © entre pas fe filhos, represonea “valores”, Quando ae desintegea, tais “valores” so ameagedos, Eis por que nos interessem as testativas atuais para “salvara familia” (familia aleerntiva). Mas tas tertativas, por “revo~ lucionérias" que paregam ser (por exemplo, dois homens, quatro mu- heres, sete criangas), so na realidade reacionirias, j& que se opSema soudnete emergente (av cond censte), © quenos deverta tmeressar satis so os grupos emergentes, por exemplo, nos cinemat. Revol clondria o astentativas de modificartais grupos (por exemplo, per- mitindo 20 pablo que modifiqueo filme) enfio as que visam “salvar” @ famifliou © povo. Mastendemos a mengsprezar as tentativas verde cinema nao & “coisa deitainente revoluciondrias, porque pablico ex ‘No captamos os “valores” que movem, na arualidade, os sagead verdadeieos revslucion iio ‘A revolugo eulrutal ata, a que val atabir com aé formas ages das, € vevolugdo “euica’, ndo politica, ¢ Zistwy quenus confunde. Mes] ‘o-mesmo pode ser afrmado a respeito de rodas.as revolugées cultura’ precedentes. A revolugie necitica, por exemaplo, Surge a partir Ge ne ‘vas téenicas da pecuiria ¢ da agricultura, ¢a revolugGo industriel sux- ge x partir de novas séenicas apoiadas em teorlas, Ambas as revolugdes acabaram com 9 que se tink previamente por Sagrado, Os evoke cionérios “politicos” vieram depcis dos “técnicos" para injetar “valo- Fes", para “Sacralizar” as formas sociais emergentes. Por exemplo, os fundadores das teligiées neoliticas, os jacobinos e os bolchevistas. Os verdadeiros revoluciondrios eram os “inventores” da vaca eda mé- , ameaga desperiar aconscifncia inieliz adormecids: daio eonsenso co Permit as imagens que nos dispersam ¢ divertem]| De resto, sem ‘nosso consenso em prol do divertimento ® Imagens no nos pode- iam dispersar, e esse nosso consensimento é, por sua ver, resultado do divertimento que as imagens proporcionam —maisneexemplo do _fied-beck “imagem-homemn”, eer: Noventanto, ha tese segundo a qual a eotsciéncia infeliz é a Gni- ea forma de-consciéncia possivel. Seguride tal tesé, a felicidade-é in- conscieite. © consenso em ptol cia dispersio e do diversimemo seria conserso em prof de inconseiéncla, de desmato, A atual dispersao da aceiedado satin ronultade.da baace goes! de Felicidade: as tmagensinon temnatiam mais € mais filizes, pone nos dispersim e nos-divertem sempre mais perfeliamente, A utopla, 0 pals das Helicias,estaria a0 al- cance da mila, logo, todos seremos felizes. Todos*seremos bova que sige imagens, e Gnas qre devolve o que a boce sugon das imiagens (feed-back) [Bociedade deconsumo] Sal elistdlade geval édo tive quew psicanilise chama de “faxe/oral-anal” , © do tipo “jardim de inflincie” (embora poluido por exoremantos indigestos). Tal flicilade geval © Renevalivada € precitamente 6 queo terme “cultura da massa” sigaifi- ea. O individuo dispersaco e distraido,o individso Inconsciente, passa 2 ser elemento de massa, do “coletivo inconsciente”, e asimagens que }o divertem passam aser os sonhos do coletivo, Sonhos demassa, Vista ‘assim, a atual dispersdo ds soviedade se afigura tendincie rumo cule tura de massa, Ainconseiéneia geral, 8 felicidad. Suponhamos que hé pessoas (os “revoluciondries) que no admi« tem que tal felicidace seja 0 supremo valor, swnmum baum, apenas or nao acrediterem sera minhoca um modelo digno (imisatio lum- trict) para o engajamento humano. Teis pessoas procurarao desper- tar a consciéncia adormecida, mes néo poderio fazé-lo com gritos ou despertadores berranes, porque esses alarmes serlam imediata € automaticamente recuperados pelas imagens ¢ transcodificsdos em Programas adormecemtes, Estas pessoas deverio tecer os fics trens- versalis, 05 fios “antifascistas”, a fimi de abrir 0 campo para digiogos que perturbem os discursos entorpecentes ea fim de transformnar acs- truturé social de feixes sincronizados em rede. Esses revolucionérios ‘onstatardo que é tecnicamente facil tecer tais fios (cabos, cfrculosem ideo, jogos de computador dialdgicos, zelawriters), mas que tais fos O waivers de iapias eines oceans Hepes File Pasir continario a ser meros gadgers enquanto 0 conseaso geral continuat se dando em prol do divertimento. Eles constatario que seria preciso mudar, primeiro, o consenso, ‘Qs queatuslmente berzam (os Guevaras, 08 Khomeinis, 08 Kael. fi) ndo podem despertara conscifncie adormecida, jé que eariquecem, «iqnaginadores", cles peoduzem e manipulam imagens, sles procuram uilizar sua nova imaginagio em fungi da reforrmulagao da sociedade, (Qs nove revoluciondtios sio otGgrafos, filmadores, gente do video, ger de rftware téenicos, prograriadores, critics, terieos eautros fos programas das Tmagens que fos diveriem. Os revoluclonrios au. jéaticos nada podem fazer que seja espetacular, porque o espeidcul é precisamente o se2 inimigo. Mas hi sirtomas de que seus esforgos pouco espetacilates comegam a sacudir os entorpecidos. Por certo, 1s entorpecidos se divertem com os gadgete revolucionéics, com os chreuites fechados e com os didlbgos cletOnicos yropramidos, Mas ‘comega a despertar neles a consciéncia, par enquanto difuia, de que esti se tornando imaginével determinada situago aa qual as imagens podem servir de mediagdo para trea de informagio, e para criacdo de informagdo em conjunta com todos os homens dispersados do afors. Comega a aparecer, no horizontede suas consciéncias entor- [Pécldas tana rhay de ovticusde ua qual cles Uta Ue Contemp, mun= passivos, asimagens divertidas, para pacsarérm 4 usar as imagens como ‘trampolim mimo a relagdes intra-humanas, Tal alvorada ainda nebulo- sa €0 terreno no qual um consenso contraa dispersio eo divertimen- to, e em prol da formagao de noves grupos intrachumanos, pode vit « condensar-se, A possibilidade de isto aconiecer aumenta, jé que a cir cculagio “imagem-homes * comegaa cair em entropia eo divertimento pasa a ser mais ¢ mais tedioso. ‘© novo engajamento politico, entretarto, alo s dirige contra ay imagens, Ele procura inverter a funglo das imagens, mas admite que clas continuatdoa foimaro eentreda sociedade porsedo off repre: visivel. Ele peocura fazer com que as imagens sirvam a didlugos mais que adiscursos, masnao pretende aboli-tas. © nove eapajamento po- Titice navcen ne inedow dx revolugio Geniea aul gle ni seqpte a ela (oor 8 flindadores das a aed igites ilo se apusnram & revohighe ‘ids tial nointesior da qual nsacetem).E que of nowstevchucionétins sto ‘como os balchevistas néo se opuseram &revoly [care injerar valores, “politizar™ as imagens, a im de erlar socisdade digna de homens, que colaboramn com os produtcses de imagens. Toda esta gente pro- pia leo it ag ene eeu de ee RES | "A sociedatle contra a qual esto engajados€ estruturada por feixes jinradiades em cujos terminais assenita-se a humanidade solitariae dis- persa, Os feizes visam Sociedade estruturada em grupos por enguan- to carentes de nomes, grupos compostos por pessoas ligadas entre si jor imagens que servern como mediagSes intra-humanas. Tal refor- fruulagdo revcluctondria da sociedade informatics, na qual as imagens |deixariama de ser imperativas e passariam a ser dialégicas, seria ainda Lociedade “informsétics”, mas com um significado novo para o termo. ‘Abimagens passarlam a merecer o nome media, nome aque hojeinjus- tamente se arribuem, 0 proposty ca yuctedaue sera v Ue eta aust mages m colaboragéa dle todos com todos [*Culeara dempcwrics™ [Paver de “ealtars demmasni™ 0 miicleo de tal sociedad nd seria mais a cireulagio entre imagem © homem, mas sim a troca de informagio entre homens por intermédio de imagens. Por cerio nao se tratada al- deia césmicada McLuhan, jé que nela nao havetia nem espaco piblico, nem espago privado, Tratar-se-ia, sim, de “eérebto césmico”, cérebro de que as pessoas seriam as células irradiantes de informaglo € a rma gens, as bras que refinem as elulasa fim de formaremum todo. Cteio itico que tal visio da sociedade futura inspira todo engajamento p menecedot desse tome, Exe vio vo nega € dipersdo atval da soviedada, a Bovde TR ae A.Seguinte tmagem da exishela humana livre se impde: 0 “e n6-de informagser afuentes, efuentes ¢ armazenedas sobre estrutura etebeal Wetitticamente programads, 8 este inserido em rede cujos ag Hilsportiis informagdes de Tei\para “eu”, A liberdade do “eu” reside nz sua capacidede de simetizar as informagDes pare que estas” resultera em informagtes novas. A hase da liherdade €0 acase que fou Soin que piseinnniante sete Abele: selenide penetrate acon asta inlormagdes, mis sua tendncls é.deliberads: via iniortmagdo nova, visa o impossivel, vist daventira, Tal intagem se impde, no-epenss por considereedes neuro-fbiolégieas, mas, sobrewdo, porque coinci- decom sanilise frnomenclégica da existéncia humans, e com anossa senza atuel do.nosto estar-no-mundo, ‘A rede information da qual tomes ov née @ aprqsentiicam waa ‘pécis de supercérebro somposte de ofreheos, ouxma espécie de soper- mente compesta de mantes. A sociedade informébica, por sua'ver, se presenta como construgio deliberada de tal sipercétebro e tal super- mente. O resultado dessa consirugdo deliberada € um super-eérebro sumamente pobre € uma supermente sumamente tols, Isto acontece porque a sociedade inibemética é supercérebro controlado a partie de ‘um centto, quando 0 cérebra humano 6 na verdadedirigida por engre- nage complexa de fungdes disperses e mutuamente substinaive's. En- quanto asociedade infoeméticaé supermente controlada por emissores centvais, a mente humana é dirigida por engrenagem de pensamencos, desejos ¢ vivencias disperses pela mente toda, A sociedade informatica supercérebro ¢ mpermente infra-humanos. Bm vez de revelacse e possibilinar apeoduye de novas infoemagSeq; de aventueas, de Sempra vivel, ela produz kitsch, comportamenta rob, cultura de massa, tédio, entiopia, Trata-se de sociedade que niio permite « iberdade. No entanta, 2 sociedade informatica, embora produto de conhe- cimenta primitive e patcialmente erzado das processes mentais, pode ser reformulada & base de conhecimentos umm pouco mais sofisticados. A telemitica permite que os nds que perfazem « sociedade se teans- formem efet ivamente em lugares de produgin da imprevisivel, em lux Onniverseiles inagen deicas Pili Borer sires da liherdade. Ela permite que todos ot participantel da socie- dade sejam “artistas livres”, Nesse caso, a Sociedade se transformaria efetivamente em supercérebro e supermente humanos. Ora, como se- melhante sociedade representatia salto da mente pata nivel novo, os processos mentais setiatn outros: seriam processos consciontes de si piOprios, conscientes do método dial6gico da liberdade, conscientes dda eseratégin do jogo da Ttberdde, ultounidy v wowo core “nandete- prima” das decisGes delihercdas em didlogo.com os ouiros. A existén- Ga humans teria mudado: de homo fader passariamnos a home ludlens. Essa visio de sociedade wsépica permitinds existénsia livee flste ‘quanto mudou 0 nosso concelte de “liberdade”, Pata a5 ideologias, re", isto 8, ipersonalidade”, “identida- liberals, como para as judaico-cristas, ¢ homem “nagce dotade de um niclee (Meopirito”, “alma”, % de" ete), mticleo este que délibera. Para essas ideologias a sociedade ideal permite atal nicles quese realize. Enteetanto, taisideclogias no sip mis sustentdvels, Stbemos hoje que nascemos geneticamente de- tenminados, e que nossas deliberagbes so feitas néo apenas com, ms também em acordo com as informagoes recebidas (por exemplo, por parte da mie nes primeiros meses da vida), ¢ que no temos nenhuma escolha entre as informagdes que recebemos quando nascemos. Sabe- ‘mos que nfo “nascemos livres" e que nfo hé nenbum niicleo escondido no interior da nossa mente. Sabemas que somos um nd de informagSes © que, quando 0s fios que formam 0 n6 chamado “eu” so desfeites (“redugdo eidética”), nada resta, Sabemos igualmente que a n6 que so- mos é tinico, diferente de todos os outros, mas que 0 assim por acuse, que tal acaso permite que em cada nése produzam informagdes noves iferentes de todas.as oatras informagéesproduzidas alhures na rede, possibilicade nica ein- subdstituivel que tenho para langar informapes noves contra. estipida e Pais €isto 0 novo significado de “liberdade’ centropia lé ora, possibilidade esta que realizo com 0s outros. Neste ponto da reflexdo somos tomados da sersagao de vertigem ddeque falei ao comegar a reflevir sobre a lberdade: & como se estivés- semos nos precipitando rumoao abistno. A visio da sociedade utépica ALES i aque permite liberdade & visko “sobre” asociedade, O seu ponto de vie ta “translende” a sociedade, © “mistéric € isto. Quando conhego as ungbés do eérebro, &¢ meu cérebro que xs conhece. Quando critico a riinha mente, émmha mente que a critics, Quando conhego a socieda- de enquento supereérebro, & meu cérebro, parte do supercérebro, que, a conhce. Quando vio supermente soci telemiles),dau Inende sec parte, # snnhis monte que w view, PURE al yard nun wo abismo do:nada que se esconde em mim que levoui Hussetl a fazer a tal “edugde manscendental”, © que levou Buber a crer ema Deus, Seme- lhante queda nfo pode ser simplesmente “posta entre parénteses” en- quatio “metafisia negativa”, porque € a parti da absteago rumo ao siad que surgi todo esse unjverso abstrato da calealo eda computa lo. Logp, cabe finalmente& telemética permitirque'a al supermente Inurana se seaize. ‘Aa camegarmos destarte'a nos precipitar rame ao abismo do muin= do lé fora, e cumoao abismo do eu cé-dentro, questo, os dois, 0 mes- mo abismo da abstragio derradeira, estamos comecando a conquis- tara liberdade, Ito é, estamos eomegando a negar 0 abismo. Estamos produzir ‘opondo 2e nada lé fore ¢ ac nada cf dentro © nosio poder ‘algo. Fstamds eomegando a tecer imagens com os pontos do nada i fora, ¢ a tecer redes informativas com os bits de informagéo do nada cé dentro, Tais tecidos sfo a nossa resposta ao abismo, porque nds os encobtimos com eles. A sociedade telemitica, essa sociedale de gen- te livte que produs informagdes imagisticas e imaginarias em dislogo césinico, send superficie imaginsria que Sutuardé sobre o abismo—s perficie cheia de hurasos pelos quais 0 nada penerearé, mas superficie nao obstante. Estaa nossa liberdade: opormos ao concreto esttipido do nada da morte a rede fragile imaginévia da liberdade. ‘A deliberagao de oporse ao nada pela produgao de informagoes €. engejamento do “artista”. No instante mesmo em que a decislo é tomada, @ vertigem da queda rumo ao abisme se substitui por ou- tra yortigem:a da aventura do imprevisto, de improvavel. A sovieds- a lornense @ rede na qual a verfigem da queda se de widpioa teens ‘aiden Seager teat i 5 i : ile Plower transforma em vertigen: da aventura. Os participantes dessa sociedade apertardo as suas teclas como as apertam atualmente 08 escritores, 05 pianisas, os “imaginadbies. Hoje, por cont, a lemnmMica fez COM GUE apertemos as teclascomo chimpanzés, funtiondrios ow word processors. Mas basta que recuemos o suficiente rume ao abismo da distancia erftl- ca para podermos de 1d voltar~nos contra esses yadgees todes € subme- |eé-low A noses liberdade, Basta que tenhamos.a vivéncia do “mistério”” que se esconde em tude para podermos fazer uso da nossa liberdade, Esta éa revolugio que muderé oatual supercérebro infra-humano em campo de berdade. ‘A futura sociedade prodatora das imagens que encobrem 0 abismo sera sociedade deliberadla, artificial: obra de arte, Nada haverd nela de “organico”, de “natural”, de “espontines”, de tudo 0 que deva a sia origem a0 acaso, parque sevd sociedade engajada contra 0 acaso ¢ em prol do deliberado improvavel. Em conseqiténcia, essa sociedsde ne- itd a profundidade e elogiard a superficialidade. © seu instrumento rio serd a pa que escava, mas sim o tear que combina fios. Nao sera sociedade interessada em teorias, mas em estratégias. As regras que a otdenario serdo regras de jogo, ¢ no imperatives (leis, deeretos). O jogo dessa sociedade ser4 0 da troca de informagies, eseu propésito, & produsio de informag6es novas (de imagens jamais vistas). Seré “jogo aberto”, isto é, joge que modifica suas proprias regras em todo lance. (Os seus perticipantes, os jogadores com informagies, sera livres pre~ cisamente por se submeterem a regras que visam modificar com cada lance. Eis precisamente ume das definigGes de “arie”: am fazer limtia- do por regras que sio modificadas pelo fazer mesmo, Por certo, tudo que acabo de escrever & produto da vertigem da produgio artistica enquanto oposta & vertigem do abismo, Mas essa ‘visto vertiginosa da sociedade ¢ da existincia furaras, aberta pela ze flextic vertiginosa em torno dos gadgetr da telemiética, ado & necessa- siamente visio desvaireda. Todes as virtualidades para a realizagao de Juma aupeumente piodutors de imagens imprevietvels encontram-ce de {ato jé reunidas. © que falta “apenas” éatal deliberagio que transfor- me o supercérebro telemético em "hardware" para supome da super- ‘mente, Esta constatago, por 4 s6, ilustra a aventura que estamos vi- vendo, ¢ destacaque semelhane aventura é a nossa resposta a0 abismo que se absriuem nosso torno em tofno dos nossos eus. Di ati 22. Criar (© captulo anterior watou da produgio hicida de informagdes, da wo- pia de sociedade composta de artistas, Ao fazé-10, 0 capitulo procurou dissipar a aura mitice do “ato eriadox” que encobre o fenémeno “axe”, No entanto, tal desmiificagao dessacralinadora corre o perigo de pes der de vista o entusiasmo que acomparha todo auténtico engajamento em prol da produgao de situagdes jamais doravante vistas, ou seja, © engajamento em prol da “aventura”. Eis porque procuracei, neste ca~ piulo, abordar mais uma vez o problema da criatividade, mas desta ‘ves de um Angulo ligeiramente diferente, Perguntarei qual sentido rem falar-se em criatividade no caso da preducio ecletiva de informa erernamente reproduniveis. como 0 sero dentro em breve todas as fo- tografas, filmes, videos ¢, sobretudo, as imagens sintetizadas por gru- pos gragas a computadores, (O capitulo anterior avangou a hipétese segundo & qual as informa- {02s futures serio produto de diélogos por intermédio de instrumen- tes técnieos, come compitudores © cabos. Simulkaneamente torna-se ébvio que as iniormacées destarte elaboradas sio superticies aparen- tes, sem suporte material, que podem ser copiadas automaticemente e {guardadas em memérias praticamente eternas, Essa situego, na qual 0 individuo apenas participa sem poderartogar-se o diteito deantoria, parece sugerir que 0 termo “criatividade” (no sentido de produgo de obra” individual) perdea todo sentido, Sugeticei que € possivel sal- var-se 0 conceito da evistividade na stuagio emergente, embora ele deva ser radicalmente reformulado, ‘A palavia “copia” €Tatinae significa originalmente “abundance”, demaneica que “copiar” significa no fundo: “tornar supésfiuo, redun- dante”. Ja que Superabundante € supésfluo significam, por sua ver, © posto de “informacao”, “copiar” “desinformar” mostrazn-se cer- 101 te Ries ‘No’ eniaints, 30 peetendordeter-me nessa conotagdo atimalégica (embora revelador}, 8 qué ptetendoypergan ‘tar © gue # que 0 coplar'vai tornanide. reduingante? Pir cerfosia ma quina aitomtica copiadors roma redindante coxo-esforgo hunvano © de queter repetie iniormnagdesjé produzidas — Benjarnima analisod este fio ce muneine definittva..Mas svarigy hipdtese mats ousaca: as mie ine “erent gran rerdypelantes todas os auta‘es'e'todasias mee pata Be Mea cal nets ‘Osteios Yatos" @“autcriciade” decivam da-verh6 latino ausere 0 fia significa “fates cheseer” emibansse|a radutil por (yada ncn ditontriogcoriqutrs. Arse dessa ernst gly igi atvidade que coloea sétheintes ne fundords campay Fae locteicerm Tal lima de agriculmneastotmana, envelvendo “ausor” & “aoridage” {embers caida ao esquecimenté), eitiana de, uns dos mites prineipais somany: Romulo €0 autor Ya cidade porque fol cle quem plarton 2 als sobre'a quil a cdade ascenta e da qual sorve aseiva que faz com {que ereega e be tozne 0 império do mundo, Ramiils é 0 fisidador do maundo civilizado, Para que possa vingar, a cidade deve estar pernna- neniemente ligada ao seu autor; tal ligagio € a tarefe dos antoricades. So elas.o nicleo da es publica romana, Hidoistipes deautoridade. O primeiro constréi constantemente pontes que religam 0 cidadéo com o autor: si0 0s “ponifices” (lazedores de pontes) esta Fungo € “eli- giosa”. O segundo tipo propulsiona (¢rdite) a mensagem a0 autor(atal seiva vivificante) rumo 0 futuro para civilizar a humanidade: si0 05 {ministradores”. Porque 0 segundo tipo de mutoridade & 0 tipo "me- not” (pniniser), enquanto 0 primeiro & “maior” (magiste). O primeiro tipo de autoridade sacraliza e sacrifica (sacrum faceré) a reptiblica, en- quanto © segundo tizo a gera (res gestae) £ ‘Tal mito serd assumido pols igre romans, para a quel o astorpassa § ase Jesus eas autoridades passam a constituir 0 “brago espiritual” ¢ 0 S “brago temporal” da Igreja, Mais tarde, o mito seré recaleado, mas con- 12 eri. Ez ae! mae og 3 dhs nerilioreatdts isroeneafiigiods autordade was eovaciaro eee "ae todo sgnicade, _Ammayuina copiadtirasesubstituisutomaticamenteatodaautoride: diistcagao’pibilica sib mal no in vais audmatzando.§ rieqllistcbai soda se oe pontun erie cose estide ee ip rallgosa que manent Mlelidadéao scr se torn zedindarme, A ‘yeligidoY vase as nto, ("temo “auiotidade” perde sentido quando a fungao aitoridris no funciona mais, No firndo, € isto a tal da “eriseda aurortiad Aparentemente as mnéquinas copiaderas multiplisain “crigiaais”, isto &, iniormagdes provindas de autores. Em grande parte &e mene 0 caso: 08 textos, a8 misieas, as xogralias eos videos imukipli- cadcces foram, na maieria dos eas0s, produzidos por individuos que se ionado rae sonsiderum autores, daf'o problema dos direitos autorais men cha. Mas essa suagio € provisbra e est# se: modiffeando, Surgem com matt freqiténsia “mensagens” elaboradas por grupos com a aj da de aperelhos (texto de word procesor, misicas sintetizadas, imagens sintetizadas) para as quais 0 termo “autor” nio se aplica, mensagens que comecama inundat a cena. Por esta e outtas razdes, o termo “ori ginal” perde significado (como distinguir enire fotografia original ¢ copiadat) e o ermo “autor” roma-se duvidoso. A médio peazo todo autor de todo tipo (comesendo pelo escrtor terminando pelos fun- dadores do tipo Founding Fathers, Marx ou até Abraham ou Maomé) torna-se redundarte, esi elite rode maginério, toda autoridadle’ ~ 2 univera dasimagen sdeiias Fit ver ros ‘Tota informagio se proday. somo sintese de informagiies prece- derites, Bor dlalogo que toca hits de infrmagio para.conseguir infor~ | lage mada! O-mito do autor pressupSe que.o “fundador” (o-génins o- ‘ oratide’Hottiem) produs informagto niovs partir dis padar(éa “fons 2"). © suur mitien cris na solidio da geleira, nos mais alios picos (Nieizsdhie). Por certo, muos mitélagos da eriaivdade adimitivao sque-o autor esth interido em determinads conrexto cultural do.qual sorve as informagSes «ue o mutrem, mas tarBbém afiraatiio'que tais informagties sio elaboradas pelo mutor em dizlog interne exolititio, e que hi algo misterioso:ne intino do amor que faz noth que algo de joveiameme novo se atiesrente as infeffiagies ecebides. Destarte tals ithe prolecam visto darhisivia ie passa a ser uma série de + pideiistias dite 46 evar sobre’a brama amorfa da planieie a partie da-qual es picor'se hutiom. Ora,a informatica tora foperante essa Jo da hindria, “Atualmente, « massardas infounagies dspontves ndquini Simen- s6es astrondmicas: ado cabe mais em memories inésviduas, por mass ‘que seja, a meméria individual “gonials” que sejam. Por mais “gen ro pode armazenar sento parcelas das informagtes disponivets. Ftais parceles armazenadas aumencaram, elas também, de modo que o con- sumnidor médio detém atualmente mais informagdes do que o “gnio” renascentista. Tais parcelas de informagio exigem processemento de éados para serem sintetizacas em informasao nova: a memdria hama- ra se revela lenta demais pava poder processar semelhante quantidade Jée dados. © diélogo interno e solitério se tornon inaperante. Exigen- as individuals assistidos por memérias articiais se geupos de mem (laboratétigs, comités, grupos de pesquisae derealizacio) e,estes sim, produzem informagdo nova em quantidads e qualidade jamais sonha- Jdano passado, De forma queo autor, 0 Grande Homem, nioapenas st otnou recundlante como estricamente impossival. Nontanto, o termes desiarte eliminads o ator, teremps tember climinado a criatividade? © entusiasmo que anima os que parciciparn des didlogos produtores de informagio 0 uega. Para podermos captar este novo significado de “cristividade” emergindo du mividade dialé- ce, preponho um modelo: I © ogg e sires st uprsenca ap to-iniciad (eco proposia ‘mente @termovinicidtis) como jogold6 ipo “aero sum game": partides sto ganhas por um dus jogadores (+s) eperdidas pels oxo (1};asoma da partide€, poi, caro: he “niciado, 2 esteatégiaapropriadaiao xaccea:éa que vist ganhas a parida. © iiciae do, no entanto, sabe qué dit nfo'é « veidade roda. No decorrer dessa cestratéigie “polémiza” podera surgi stages de tal forma inesperadas, imprevistas, aventarosis, gfe seria: bavial ‘uersr continuar joganide pens para gentiava jet : blemas cnnadkistisos®) a do “ecado” Ga siiad tne dels tcer um maxing €€h adversisios se qransiortiiin em zarotizos, a “polémica” em disto suige estratégia nda. O xadede se rransfonma de zero sue pome em zero ples game, f que no final da partida nova informagdo tera sido produside, Peecisamente esta reviravolta da esirategia provoca no jo= 2. Demodo-que, para 0 nai gadoro entusiasmo da criatividade. Bis “ate pura” por esta eando, por txemplo, Duckamps deixou de fezer “arte” no significado benal para dedicar-se a0 xadrez.como cempo de criatividade, ‘O dilogo interno niasplendid isolation do génio pode ser facilmente simulado 20 modelo proposto. Posso mover alternadamente as pegas brancas e pretas ¢ destarte dividir mink consciincie em metade bran- ca emetade preta. E poderei efetivamente prodazir, com esse métode, situagiies inesperadas. Mas 52 Him outro jogador de adver se junta a ‘nim verifico o quanto slo relativamente pobres as situagdes informati- ‘as Criadas ent soliddo ensimesmada: a chegada do outro jogador mul- uplice por dois a competineie da estratépia crladcrae permite sinteses Omodele de vaideez 2 splica 8 produgdo de informagSes em gecal, ‘¢em especial & producdo teleratizade, Na situagio pré-telemética, a ‘naiotia das informesdes producida por didlogos imetnos, por auto~ O univers des tapers eicos Vile Poe res que mover “aspedras brancas pretas alterngdamente”. Devemos \ a maibiiadas nossas informagbes cientifieassuristicas, politices €’ou~ | tras fais ogosisolados, A telimatios vii abtito joge to invoduzie sum granide'nfnieve de jogadores e desterteaumertaresponencialmen- fe a competéncia da estratégia. As imormagces precedentes, produmi- das por ginios e Grandes Homens, sc tevelam relativamente pobres ess comparnsio. gom-as informages. agora realizévels. As imagens, este Sligo dovavente dominant, € que Ve revélar isto. A's Imagens prodiunidlas pelos Grandey Atiioras tevelum-se ‘elativamente pobies | anv comparago.com-as imagens sinietiaadss, & furgdse constatar que, bos asap spake ala mente: depois da revoluigtio ora-em curser. Gonfesso que, em minha andlise etimoligica de “estratégia", re- copie proprio deliberada asic. Tradusisireeges por “marechal «f sadid® eenipe’spanaiintroducir o termoPeginpo”, treduai a raiz arg por distribuir” para introduzir a nogao aq compatagio do disperso, Pro- cedi dessa forma para inserir o fururoffoma tadendno contexto do un ‘verso abstrate dos pontos, no universo do “campo”. Procurei sageri= Se Fa SE Jama Gt ATR Cah TOR, COT cS plante ssh delolvess widio a fim de celar estrate de informa bes a-eicobiriters 6 abistno do nade coin-a pele do:significado. Prom nite uit whet iio ladeas ser artista ctiativo, Raper, no-

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