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Resumo
Este artigo analisa as relações do Brasil com os Estados Unidos durante o regime militar brasileiro.
Durante este período, as relações do Brasil com os Estados Unidos passaram por oscilações de
aproximação e distanciamento. Por outro lado, essas oscilações foram marcadas por um crescente
distanciamento estratégico, buscando redefinir continuamente a dependência brasileira. O crescen-
te distanciamento estava associado à multilateralização da política externa brasileira, buscando no-
vos espaços de inserção internacional.
D
esde o final do século XIX, os Estados Unidos foram gradual
mente suplantando a Inglaterra na disputa pela hegemonia no
subsistema americano, configurando o que tradicionalmente se costu-
mou denominar de passagem da esfera da libra para a esfera do dólar. Após a
Segunda Guerra Mundial, os EUA alcançaram a hegemonia na região, fortale-
cendo a aliança com o Brasil, o qual foi favorecido pelos investimentos norte-
americanos. Apesar dessa aliança, o Brasil executava uma política externa con-
ceituada como barganha nacionalista desenvolvida no governo de Getúlio
Vargas afirmando um padrão diplomático de crescente multilateralização in-
ternacional e barganha com os EUA. O Brasil procurava demonstrar, assim,
que mesmo sendo um aliado dos EUA possuía um projeto próprio de desen-
volvimento e de inserção internacional.
Para os EUA, seu principal inimigo na América Latina era a oposição
ao imperialismo norte-americano, articulado tanto pelo nacionalismo populista
como pelos movimentos de esquerda.1 Ainda no período do populismo, a polí-
tica externa dos governos Jânio Quadros e João Goulart marcou um
distanciamento em relação à potência norte-americana. Com a radicalização do
2
VIZENTINI, Paulo. G. F. Relações internacionais e desenvolvimento: o nacionalismo e a Políti-
ca externa independente (1951-1964). Petrópolis: Vozes, 1995.
3
Ibid., p. 135.
252 Ciênc. let., Porto Alegre, n.37, jan./jun. 2005
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4
TRIAS, Vivian. Op. cit., p. 237-239.
5
Sobre a Operação Brother Sam, ver: CORRÊA, Marcos Sá. 1964- visto e comentado pela casa
Branca. Porto Alegre: Ed. L &PM, 1977.
6
DEAN Rusk reafirma disposição dos EUA de manter a ajuda econômica ao Brasil. Jornal do
Brasil, Rio de Janeiro, 04 abr. 1964, 1º caderno, p. 08.
Ciênc.let., Porto Alegre, n.37, p.251-278, jan./jun. 2005 253
Disponível em: <http://www.fapa.com.br/cienciaseletras/publicacao.htm>
trocadas entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil, discursos de ministros (antes e depois
do golpe militar) e pronunciamentos de parlamentares.
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DULLES, John, op. cit., p. 54
11
CUNHA, Vasco Leitão. Diplomacia em alto-mar (Depoimento prestado ao CPDOC). Rio de
Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1994, p. 290.
12
DULLES, John, Op. cit., 110-111.
Ciênc.let., Porto Alegre, n.37, p.251-278, jan./jun. 2005 255
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16
PAPEL dos militares do Brasil e Argentina debatido nos EUA. Correio do Povo, Porto Alegre,
p. 01, 05 dez. 1966.
17
CASTELO responde a críticas do exterior realidade brasileira é a de um país livre e sem
discriminações. Correio do Povo, Porto Alegre, p. 01, 21 maio 1966.
18
OBJEÇÕES no Senado dos Estados Unidos ao embaixador designado para o Brasil. Correio do
Povo, Porto Alegre, p. 01, 24 maio 1966.
BRASIL preconiza um novo impulso para a recuperação de países latino-americanos. Diário de
19
20
MARTINS FILHO, João Roberto. O palácio e a caserna: a dinâmica militar das crises políticas
na ditadura (1964-1969). Florianópolis: Ed. da UFSCAR, 1995, p.100.
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COSTA e Silva anuncia diplomacia da prosperidade - só nos poderá guiar o interesse nacio-
21
nal, fundamento de uma política externa soberana. Correio do Povo, Porto Alegre, 06 abr. 1967.
VIZENTINI, Paulo. A política externa do Regime militar brasileiro. Porto Alegre: EDUFRGS,
22
1998, p. 93.
BANDEIRA, Moniz. Brasil Estados Unidos: A rivalidade emergente (1950-1988). Rio de Ja-
23
Em uma entrevista, o embaixador afirmou que considerava o governo brasileiro muito nacio-
24
28
MARTINS, Rodrigo. Op. cit., p. 117.
29
TYLER, William G. A política norte-americana e o impasse do café solúvel. Revista Civiliza-
ção Brasileira. Ano III, nº 18, mar/abr de 1968, p. 88.
NOVA política exterior do Brasil teve prévio apoio dos militares. Correio do Povo, Porto
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32
CERVO, Amado e BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. São Paulo:
Ática, 1992, p. 368.
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VIZENTINI, Paulo. A política externa do regime militar brasileiro. Op. cit., p. 135.
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SOUTO, Cíntia Vieira. A diplomacia do Interesse Nacional: a política externa do governo Médici
(1969-1974). Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: Pós-Graduação em Ciência Política da
UFRGS, 1998, p.107.
35
Ibid., p. 112.
36
BANDEIRA, Moniz. Brasil-Estados Unidos: A rivalidade emergente (1950-1988). Op. cit., p.
195.
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37
EXPOSIÇÃO perante o Curso Superior de Guerra da ESG. Rio de Janeiro, 22 de maio de
1922. In: AMADO, Rodrigo. Araújo Castro. Brasília, ED. UnB, 1982, p. 242.
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38
SOUTO, Cíntia. Op. cit., p. 123.
39
DUZENTAS milhas fora da agenda do encontro Médici-Nixon. Correio do Povo, Porto Ale-
gre, p. 01, 04 dez. 1971.
MARTINS, Carlos Estevam. Capitalismo de Estado e modelo político no Brasil. Rio de Janeiro:
40
41
BANDEIRA, Moniz. Brasil-Estados Unidos: A rivalidade emergente (1950-1988). Op. cit., 203.
42
Ibid., p. 205.
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leira: 1964-1984. Estudos Históricos. Rio de Janeiro: vol. 06, n.12, 1983, p. 243.
44
CERVO, Amado e BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. Op. cit., p.
369.
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Ibid., p. 112-115.
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LESSA, Antônio Carlos. Da apatia recíproca ao entusiasmo de emergência: as relações Brasil-
Europa Ocidental no Governo Geisel (1974-1979). Anos 90: Revista do PPG-História. UFRGS.
Porto Alegre, n.5, p. 89-106, julho 1996, p.94.
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das Relações Exteriores, Brasília, n. 24, jan/fev/mar, l980, p. 3.
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BRASIL Ministério das Relações Exteriores. Resenha de Política Exterior do Brasil. Ministério
das Relações Exteriores, Brasília, n. 26, jul/ago/set, l980, p. 61-64.
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nas relações Argentina-Brasil (1930-1992). São Paulo: Ensaio, 1993 - 2ª edição - 1995, p. 270.
51
BANDEIRA, Moniz. Brasil-Estados Unidos: A rivalidade emergente (1950-1988). Op. cit., p.
256.
52
GONÇALVES, Williams; MIYAMOTO, Shiguenoli. Op. cit., p. 240.
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Disponível em: <http://www.fapa.com.br/cienciaseletras/publicacao.htm>
Considerações finais
No Brasil, os militares detiveram o poder durante duas décadas, desen-
volvendo uma política externa que oscila do alinhamento automático aos EUA,
em especial nos primeiros anos do regime militar, até a contestação da hegemonia
americana na América Latina. O projeto básico, de transformar o Brasil numa
grande potência, manteve-se durante quase todo o período e, com o passar do
tempo, assumiu uma crescente dose de realismo.
Quando Castelo Branco assumiu o poder, foi interrompida a política
externa independente. A Guerra Fria voltou a orientar a política externa e os
militares brasileiros promoveram uma reaproximação do Brasil com os Esta-
dos Unidos, reconhecendo a liderança deste país no hemisfério ocidental. Seu
projeto de segurança e desenvolvimento partia de expectativas favoráveis neste
relacionamento. Depois do governo Castelo Branco, alguns pressupostos fo-
ram relativizados (como as fronteiras ideológicas) e, crescentemente, sobretu-
do a partir do Governo Geisel, o dogmatismo cedeu lugar ao pragmatismo na
política externa brasileira. Mesmo dentro de um sistema internacional no qual
o Brasil ocupava posição subalterna em relação aos EUA, o governo brasileiro
procurou manter um distanciamento estratégico.
Do ponto de vista econômico, as relações entre o Brasil e os EUA sofre-
ram um processo de erosão a partir do final dos anos sessenta, com uma cres-
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LIPKIN, Sérgio. Impondo o livre comércio? A política comercial do governo Reagan. Contex-
to Internacional. IRI-PUC/RJ, n. 2, jul/dez, l985, p. 57-58.
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VIZENTINI, Paulo. A política externa do regime militar brasileiro. Op. cit., p. 349.
Ciênc.let., Porto Alegre, n.37, p.251-278, jan./jun. 2005 275
Disponível em: <http://www.fapa.com.br/cienciaseletras/publicacao.htm>
Title: The relations between Brazil and the United States of America during the Brazilian military
regime (1964-1985)
Abstract
This article analyses the relations between Brazil and the United States of America, during the
Brazilian military regime. During this period, the relations between Brazil and the United States
of America showed oscilations concerning approach and distance. On the other hand, these
oscilations were marked by an increasing strategic distance, searching to redefine continually the
Brazilian dependence. The increasing distance was associated in the multilateralization of the
Brazilian foreign policy, searching new areas of international insertion.
Key words: Brazil-the United States of America, Brazilian foreign policy, military regime.