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bi tere Pema HOMICIDIO QUALIFICADO MOTIVO FOTIL, PROVOCACAO, HOMICIDIO MEDIDA CONCRETA DA PENA PREVENGAO ESPECIAL REGIME PENAL ESPECIAL PARA JOVENS RECURSO PENAL PROVIDO PARCIALMENTE 1 - Resultando da matéria factual apurada que: ‘© “piropo” dirigido & namorada do arguido seguiu-se a reacgio deste, perguntando se a ima e acompanhantes precisavam de éculos, ao que estes retorquiram indagando © que é que ele queria; ~ de imediato o arguido empunhou uma tébua no ar, fazéndo mengfo de com ela agredir a vitima, PS, ¢ seu acompanhante mais préximo (GC), 0 que levou estes a levantarem os bragos para se defenderem da eventual e previsivel agresstio; ~ © arguido optou, porém, por desistir da {Abua, como instrumento de agressiio, entrou, em acto seguido, num restaurante “ali zo lado”, pegou na primeira faca que encontrou, voltou 4 rue e, sem mais, dirigiu-se & vitima ¢ ao seu acompanhante GC; tendo este recuado & tentado puxar a vitima para trés, o que nflo conseguiu, ficando assim PS' mais exposto & acgtio do arguido, que logo lhe espetou a faca na regitio clavicular, provocando-Ihe a morte; ~ nfio ha nenhum conftonto fisico entre o arguido e o grupo da vitima, nem sequer wma discuss&o, apenas uma répida troca de palavras; e nem se pode dizer que a vitima e sens acompanhantes tenham procurado o conftonto, fisico on verbal, ou que o tenham tentado agravar ~ eles limitaram-se a responder a uma “boca” do arguido com outra e assumiram. sempre uma atitude defensiva perante 0 comportamento do arguido, nunca de desafio ou de provocagio; nio se pode falar em “conflito” subsequente ao “piropo” dirigido a namorada do arguido, entre este e a vitima, PS, seus acompanhantes, ¢ muito menos afirmar que tenha sido esse conflito que desencadeou a conduta do arguido, O que de facto se verificou & que o arguido agin em retaliagfio a0 “piropo” dirigido & namorada, que ele entendeu como uma ofensa que igualmente o atingia, sendo essa a motivagao da sua conduta, Il - A expresstio “queres vir comigo que te como/papo” ou “linda menina, papava-te toda” é de uma grosseria evidente e & perfeitamente natural que a namorada do arguido se sentisse ofendida, assim como 0 préprio arguido — nfo se trata de um “piropo”, mas sim de uma clara ofensa & pessoa da namorada do arguido ~, sendo normal que este reagisse, em defesa da sua “dama”, procurando uma desculpa ou uma explicagdo por parte de quem a tinha ofendido, ou soja, nfo era exigivel que o arguido ficasse quedo © mudo perante aquela ofensa dirigida 4 namorada, e indirectamente a ele proprio. II - Embora a teacgtio do arguido fosse absolutarhente desproporcional a ofensa, nto se pode dizer que ela assente num “motivo fit”. Nas pdlavras exaustivamente repetidas de Figueiredo Dias, “qualquer motivo torpe ou fétil’ signifiea que 0 motivo da actuagio, avaliado segundo as concepgdes éticas e morais ancoradas na comunidade, deve ser considerado pesadamente repugnante, baixo ow gratuito (...) de tal modo que o facto as surge como produto de um profindo desprezo pelo valor da vida humana” (Comentério Conimbricense do Cédigo Penal, tomo I, pigs. 32-33). IV - De modo nenhum se pode considerar 0 motivo do crime (resposta A afronta feita a namorada do arguido, na presenga deste) como repugnante, baixo ou gratuito, muito menos “pesadamente”. © “piropo” (que afinal nfio 0 era, mas sim uma ofensa verbal) constitai sem divida uma provocago por parte da vitima ou do seu acompanhante, porqnanto integra uma ofensa inequivoca namorada do arguido, e indirectamente a este, uma provocago que desencadearia uma resposta de qualquer cidadio médio, colocado naquelas circunsténcias. A resposta do arguido € sem diivida desproporcionada, excessiva, mas nfo carecida de motivo, gratuita ou repugnante, A sua conduta é censurével, mas nifo especialmente censurdvel ou perversa. V - Assim, entende-se que 0 homicfdio néio deve ser qualificado, nos termos da al. d) ou de qualquer outra do n.° 2 do art, 132.° do CP, confirmando-se, pois, a inctiminago pelo crime de homicidio simples, VI- Dentro da moldura penal abstracta de 8 a 16 anos de priso, correspondente ao crime de homicidio p. ¢ p. pelo art, 131.° do CP, ¢ tendo em consideragao que: = 0 comportamento do arguido reveste-se de uma elevada ilicitade, revelada pela grande desproporgio entre a provocagao ¢ a sua reacgfio, acentuada pelo comportamento passive assumido pola vitima ¢ seu acompanhante, 0 que normalmente levaria a “arrefecer” 0 potencial conflito © a acalmar a natural irritag#o do arguido; contudo, este reagiu de forma violenta ¢ pertinaz, primeiro empunhando a tébua, depois procurando ¢ utilizando ‘um instrumento Ictal, a faca, uma reacgao inesperada e excessiva, tendo em conta o desenvolvimento dos factos; ~ também as exigéneias de prevengo geral concorrem no sentido de a pena se dever situar mais préximo do limite maximo da moldura penal, pois nose pode tolerar a relativizagéio do valor da vida humana; = no mesmo sentido apontam as exigéncias de prevengio especial, tendo em conta a “histéria pessoal” do arguido [o arguido integrou 0 agregado de origem, constituido pelos pais ¢ irmndio, até aos 6 anos de idade, quando os seus ascendentes se separaram, tendo a partir de entiio o seu desenvolvimento psicossocial passado a ser orientado em contexto institucional, alegadamente por insuficiéncia econdmica da mae. Parte da sua infincia e adolescéncia foi passada em estabelecimentos no ambito da promoeio ¢ proteccia de eriangas e jovens e no ambito tutelar educativo, (...) de onde saiu definitivamente em Junho de 2004, apés cumprimento de uma medida tutelar de internamento, em regime semi-aberto, com a duragdo de um ano, por roubo. Aos 15 anos de idade furtava na escola, “indo as mochilas” para ter dinkeiro para o que entendesse. Desde a infaincia que 0 arguido vem manifestando desequilibrios a nivel emocional, tendo sido acompanhado na unidade de pedopsiquiatria do Hospital Maria Pia, com preserigéio de medicagao regular e continuada, situagio que se manteve ao longo dos sucessivos internamentos nos varios estabelecimentos por onde passou. (...) O arguido possui 0 7° ano de escolaridade, coneluido durante o pereurso institucional, ndo prosseguindo a escolaridade apds a desinstitiicionalizagdo. Em termos proftssionais a sua experiéncia resume-se a cerca de um més e meio, tempo em que trabalho numa grafica, tendo sido despedido por elevado mimero de faltas, e idéntico periodo na “Me Donalds”. Nos iiltimos anos, a retaguarda familiar do arguido tem sido essencialmente 0 agregado familiar de uma tia-avé paterna que jd 0 vinha recebendo em perlodos de Serias, aquando da sua institucionalizagiio, Em Maio de 2006, vivia na cidade do Porto, em casa da ta-avé paterna, da qual dependia economicamente. Encontrava-se faboralmente inactive, néo desenvolvendo qualquer ocupagito estruturada O seu quotidiano era direceionado para actividades de lazer, integrado em grupo de amigos ¢ praticando pequenos erimes, bem como para o convivio com a namorada, Apresentava hdbitos de consumo de estupefacientes, predominantemente haxixe. A dindmica familiar era prejudicada pela dificuldade do arguido em cumprir regras elementares de sociabilidade ¢ de adequagdo ds rotinas e hordrios ditados pela familia. Deu entrada no EPP a 16-05-2006 sujeito & medida de pristo preventiva, pelo crime de homicliio qualificado, & ordem do presente proceso. Manifesta preocupagdo com as consequéncias gue possam advir da decisto judicial, tanto a nivel pessoal como familiar. Tem registado um comportamento globalmente adaptado ao ordenamento vigente se bem que se assinale uma punicdo reportada a Novembro de 2006 por “atitude incorrecta ¢ ameacadora para com elementos de vigilancia”, tendo cumprido 3 dias de internamento em cela de habitagdo. Recebe visitas regulares da tia-avd e irmao e, pontualmente, da rogenitora, suporte que se manifesta extensivel quando restituido a lberdade. Quanto a projectos de natureza profissional e embora objectivamente ndo possua perspectivas concretas, refere pretender inverter este percurso. Apesar de veicular motivagdo para reorganizar 0 seu quotidiano em fungtio dos pardmetros estabelecidos e tidos como adequados, processo para o qual beneficia de enquadramento familiar, que the poderd Proporcionar a adopeito de wma conduta socialmente integrada, 0 arguido apresentard dificuldades na adesto a normas de funcionamento familiar e de integragdo normativa em sociedad, reagindo por vezes negativamente a figuras orientadoras e de referéncial, ~ apesar de 0 arguido ter apenas 20 anos de idade’d data dos factos, nilo hé raz6es para aphicar o regime especial para jovens do DI, 401/82, de 23-09, porque claro se mostra, face A leitura desse historial, que a atenuagio especial da pena néio favoreceria a ressocializaglo. Na verdade, 0 arguido é portador de uma personalidade pouco receptiva 40 enquadramento nas normas sociais, tendo seguido desde cedo um perourso desviante que o tem progressivamente marginalizado socialmente; mostra-se adequada, ponderadas todas as circunsténcias em jogo, a pena de 14 anos de prisio, Acordam no Supremo Tribunal de Justiga: 1, RELATORIO Na 2* Vara Criminal do Porto foram os arguidos AA e BB julgados, o primeiro acusado dle um crime de homicidio qualificado do art. 132%, n° 2, d), © 0 segundo de um crime de favorecimento pessoal do art. 367 n° 1, vindo, a final, o primeito a set condenado por tum crime de homicfdio simples do art. 131°, todos do CP, na pena de 11 anos de pristo, e © segundo condenedo, pelo crime que the era imputado, na pena de 1 ano de prisfo, suspensa por 2 anos, F Deste acbrdéo recorreu o MP, concluindo assim a sra, Procuradora da Repiiblica a sua motivagao: 1. Realizado o julgmento decidiu o colectivo julgar improcedente a acusagzio formulada contra o arguido na parte em que the imputava a pritica de um erime de homicidio qualificado p. ¢ p. pelos artigos 131° ¢ 132° n° 1 e 2, al, d) do CP, julgando-a procedente apenas pela prética em autoria material ¢ na forma consumada de um crime de homicidio p. ep. pelo artigo 131° do CP ¢ como tal condené-lo na pena de 11 (onze) anos de pristo. 2. Resulta dos factos dados como provados que o arguido AA apercebeu-se que 0 CC ou © DD langou um piropo A sua namorada, 3. Por isso tal arguido abeirou-se do CC e do DD e perguntow-lhes se precisavam de culos, estes pararam a sua marcha e perguntaram-Lhe o que é que ele queria. 4, Nessa altura o arguido AA pegou numa tébua com a dimensio aproximada de 50 por 30 centfmetros e avangou em direcefo aos mesmos empunhando-a no ar, os quais Jevantaram os bragos para se defenderem da eventual agressio, 5. Entto o arguido AA largou a tébua antes de coneretizar qualquer agressfo ¢ entrou no restaurante Solar do Marqués ali ao lado, onde pegou numa faca com 24 cm de comprimento de lamina, com cabo preto em plastico, fina e afiada, que estava no interior do balcdo do restaurante. 6. Momentos apés, 0 arguido AA saiu do mencionado restanrante com a faca empunhada, dirigindo-se ao CC e ao DD, que tecuow um passo, ao mesmo tempo que puxava 0 CC por um brago para 0 mesmo efeito mas sem lograr faz8-lo recuar. 7. Nese momento 0 arguido AA espetou a faca que empunhava na regio clavicular dircita do CC, causando-the a morte; logo apés, 0 axguido AA entrou de novo no restaurante Solar do Marqués e af depositou a faca cheia de sangue no balesio do mesmo estabelecimento; de seguida saiu dali a correr acompanhado da namorada, 8. O arguido AA agin conscientemente e quis tirar a vida ao CC, por se ter enervado em razio do piropo dirigido pela vitima ou pelo sen mais préximo acompanhante a sua namorada, 9. Prescreve o artigo 131° do CP que quem matar outra pessoa é punido com pena de prisfo de 8 a 16 anos. 10, Por sua vez.o art, 132°, n° 1 do mesmo eédigo agrava a moldura penal prevista para o crime de homicidio, punindo-o com pena de pristio de 12 a 25 anos quando a morte seja produzida em circunstneias que revelem especial censurabilidade ou perversidade do agente. 11, On? 2 deste artigo estatui que “E susceptivel de revelar a especial censurabilidade ou perversidade a que se refere nimero anterior entre outras a circunstncia de o agente d) ser determinado por avidez, pelo prazer de matar, para excitago ‘ou para satisfagzo do instinto sexual ou por qualquer motivo torpe ou fiitil”. 12. O tribunal coneluiu que a motivaeao por parte do arguido pode ¢ deve ser enquadrada como motivagao pouco relevante mas nfo de molde a poder ser considerada “motivo torpe ou fitil” por ntio se verificar o exigivel maior desvalor da atifude susceptivel de 0 qualificar como tal e por isso desqualifica o crime de homicidio, 13. Entendeu 0 colectivo que o motivo da facada néo foi meramente o piropo ~ este sim seria um motivo fitil — mas também o “conflito” subsequente, 14, Mas que conflito? A resposta da vitima ou acompanhante a interpelagao do arguido “o que € que queres”? A vitima ¢ acompanhante nem sequer tiveram tempo ou oportunidade de agir. Foi o arguido que logo pegou numa tébua, de seguida a largou e foi buscar a faca com a qual matou a vitima, 15, Diz ainda o acérdio que se a vitima ¢ também o seu referido acompanhante, com cxcepgio do mencionado recuo, em nada contribuiu para o agravamento da situagdo também nada fez para o evitar. B entio é a vitima culpada do seu proprio homicidio, 16. Segundo orientagdo jurisprudencial uniforme, as circunstdncias enunciadas no n° 2 de art, 1328, meramente exemplificativas, nfo sto elementos do tipo mas da culpa, como indices de uma intensa culpa o que significa, por um lado, que outras cireunstéincias no descritas pocem revelar especial censurabilidade ou perversidade, 17. A definigdo de “motivo fitil” & objecto de consenso jurisprudencial no sentido de que aquele que nfo tem relevo, insignificante, que nto chega a ser motivo, que nfo pode Tezoavelmente explicar, ¢ muito menos justificar, a conduta do agente, motive notoriamente desproporcionado, do ponto de vista do homem médio, traduzindo egoismo, intoleréncia, 18. Bntendemos desde logo verificar-se a qualificativa do n° I do art? 132 do CP, j4 que a actuagto do arguido no circunstancialismo que ficou provado em julgamento é reveladora de uma culpa agravada, 19. O arguido matou.a vitima na sequéncia de uma breve toca de palavras que nem discussdo foi, cuja aetuagao s6 pode ser entendida como uma auséncia de valores sociais, uma personalidad perversa sem respeito pelo supremo valor vida, 20. Acresce que, tendo o arguido actuado nos termos deseritos sem nunca antes ter visto, cruzado ou conversado com © malogrado CC ¢ sem ter havido entre ambos qualquer discussto, j& que cles nao se conheciam, wm piropo & namorada ou um “que & que queres?” nko constituem motivo ponderoso ou atendivel que justificasse a conduta do arguido ao espetar uma faca no corpo de outrem insensivel, ao valor da vida humana 21..Entendemos assim estar preenchida também uma das qualificativas exemplificativas previstas no n® 2 do art. 132° do CP - a alinea d) — motivo fiitil, 22. Neste contexto, encontram-se reunidos os pressupostos da qualificagio do homicidio {anto por forga do n° 1 do art, 132°, como do n° 2, alfntea d) do mesmo preceito ¢ como tal deve o arguido ser condenado na pena de 18 anos de pristio. 23. Sem prescindir do anteriormento alegado, a pena concretamente aplicada esté desajustada, ponderada a culps, 0 grau de ilicitude, a condigto social do arguido ¢ as exigéncias de prevengiio de futuros crimes, 24. A factualidade dada como provada no acérdiio recortido, a reperousséo social do crime cometido pelo arguido ¢ correlativos fins das penas, no & compativel com a pena aplicada, que se fixou abaixo dos comandos fnsitos no art, 71° do CP, 25, Deveria ainda o Tribunal relevar que a sua contissiio foi apenas parcial ¢ como tal desprovida de artependimento sincero, que foi condenado por acérdao de 15/03/2006 por um crime de roubo © que anteriormente havia cumprido um ano de intemamento em regime semi-aberto, por roubo, no Centro Educativo de Santo Anténio, 26. Iniciou 0 consumo de cannabis cerca dos 11 ou 12 anos de idade, tendo posteriormente experimentado todas as substfncias estupefacientes, excepto heroina, que nifo tem habitos de trabalho, tendo apenas trabathado em dois perfodos de um més ¢ meio em duas diferentes empresas, 27. Que continua a consumir haxixe no estabelecimento prisional e que ja af eumpriu 3 dias de intemamento em cela de habitago por ameagas a elementos da vigiltincia 28. Que a conduta do arguido anterior ao facto e posterior a este no permite fazer um Juizo de prognose favorével quanto a sua preparagao para manter una conduta Hcita, pelo que @ pena deve revestir-se de severidade, sendo intensas as exigencias de defesa do ordenamento juridico e da paz. social. 29, Tendo om conta as necessétias retribuigdo, prevengfo geral e especial, e 0 mais constante dg art. 71° do CP, como critérios de determinago conereta da pena, afigura-se- nos que na Dango pelo crime de homicfdio simples seria adequada a sua condenagao na pena de 15 anos de prisito. 30. Nesta conformidade a decisto recorrida violow os arts. 71°, 131° ¢ 132°, n° 1 e 2, d) do CP. O arguido respondeu & motivagiio, sustentando a confirmagiio do acérdéo recorrido, Neste STJ realizou-se a audiéncia de julgamento, nos termos legais. Ba seguinte a matéria-de facto apurada: a) No dia 15 de Maio de 2006, pelas 13835 m/13h40m, CC, acompanhado de DD e de EE, passava na Rua do Lindo Vale, Porto, junto ao nimero 19 desta ma, onde se encontrava 0 arguido AA, acompanhado da sua namorada, ainda que em lados opostos da meas b) O arguido AA apercebeu-se que 0 CC ou o DD langou um piropo a sua namorada, de contetido nfo apurado em conereto, mas do tipo "queres vir comigo que te coma/papo” ou “linda menina, papava-te toda”; ©) Por isso, tal arguido abeirou-se do CC ¢ do DD — ja que o EE se encontrava adiantado alguns metros relativamente Aqueles - e perguntou-lhes se precisavam de culos; 4) O EE, porque estava mais adiantado nao respondeu, nfo ligando ao que dizia o arguido AA, mas 0 CC ¢ 0 DD pararam a sua marcha ¢ perguataram-lhe o que € que ele queria; e) Nessa altura, o arguido AA pegou numa tébua, com a dimensfio aproximada de $0 por 30 centimetyos, que se encontrava em cima de um contentor para 0 lixo existente no local © ayangou ém direcgdo ao CC © ao DD, empunhando-a no ax, os quais levantaram os bragos para se defenderem da eventual agressio; 4) Entiio, 0 arguido AA largou a tabua antes de concretizar qualquer agressio e entrou no restaurante “Solar do Marqués”, ali ao lado, no n? 29 da Rua do Lindo Vale, onde pegou numa faca com 24 om de comprimento de 1émina, com cabo preto em plastico, fina afiada, que estava no interior do balcfo do restaurante; £) Momentos apés, 0 arguido AA saiu do mencionado restaurante, com a faca empunhada, dirigindo-se ao CC e a0 DD; h) Ao pr esepeier {al atitude do arguido AA, o DD recuou um passo, ao mesmo tempo que puxava o CC por um brago para o mesmo efeito, mas sem lograr faz8-lo recuar; i) Nesse. momento, o arguido AA espetou a faca que empunhava na regio clavicular direita do CC; J) Logo apés, 0 arguido AA entrou de novo no restaurante “Solar do Marqués” ¢ af depositou alfaca, cheia de sangue, no balctio do mesmo estabelecimento, contando 20 arguido BB que acabara de esfaquear uma pessoa ¢ pedindo-lhe que 0 ajudasse; k) De seguida, o arguido AA saiu deli a correr, acompanhado da namorada; 1) No restaurante “Solar do Marqués”, 0 arguido BB lavou a faca supra refetida com gua, limpou-a com um pano e guardou-a na gaveta dos talheres; m) Logo apés, quando 0 arguido AA fugia do local a correr ¢ FF se dispés a agarré-lo, o arguido BB disse-Ihe que deixasse 0 AA seguir descansado, que nada tinha acontecido; n) Esta adveriéncia e informagto do arguido BB fizeram com que 0 FF nfo agarrasse 0 AA, conforme era seu intento; 9) Minutos depois, alguns agentes da PSP entraram no restaurante “Solar do Marqués” ¢ ai, 0 arguido BB disse aos agentes que néo tinha visto nada e que nfo conheeia o autor da facade; P) Porém, o arguido BB era e ¢ amigo do arguido AA ¢ apercebeu-se bem do que o AA fez naquele dig; ® Ao actuar como actuou, o arguido BB queria que nfo se descobrisse que tinha sido 0 aiguido AA, o autor da facada no CC ¢ queria que tal crime nfo fosse punido ¢ que 0 AA no fosse detido por tal crime; 1) Pelas 1Gh45m desse dia 15/05/2006, nas instalagses da Policia Judiciétia do Porto, o arguido BB foi ouvido como testemunka ¢ ai disse que conhecia mal o arguido AA e que niio se tinha apercebido da entrada dele no restaurante, porque estava ocupado a servit mesa ¢ que ndio tinha dado por falta de facas; 8) Depois, 20 ser ouvido eomo arguido, o BB acabou por retractar-se das suas declaragées como testemunha; 1) A faca espetada pelo arguido AA na regito infra-clavicular dizeita do CC, provocou-the as seguintes lesGes: solugdo de continuidade de forma linear'e bordos regulates, com extremidade superior afilada ¢ inferior romba, com direogto obliqua de cima para baixo ¢ de medial para lateral, localizada na regito infra-clavicular direita, no maseulo peitoral direito ¢ misculos inter-costais a nivel do segundo espago inter-costal, com infillragao sanguinea dos fecidos adjacentes, localizada a 7 om da clavicula, a 11 cm do mamilo e « 8 cm do acrémio, medindo 1,1 cm de comprimento; sotuséo de continaidade na parede anterior do Isbulo superior dircito do pulmao direito, medindo 2 cm de comprimento ¢ com um halo de contuséo; pequena laceragéo do brénquio lobar superior do pulmio direito e respectiva artéria; hemoragia internas ¥) Tais lesGes, resultantes da facada, por si s6, mas acrescidas do preenchimento das vias espirat6rias da vitima pelo sangue derramado, impedindo-Ihe a respiragio, foram causa adequada’ da morte do CC, verificada pelas 14h0Sm do mesmo dia: ¥) 0 arguido AA agiu conscientemente e quis tirar a vida ao CC, por se ter enervado em razKo do piropo dirigido pela vitima, ou pelo seu mais préximo acompanhante, A sua namorada; W) O arguido AA sabia que a lei nao the permitia tal comportamento; X) O arguido AA integrou o agregado de origem, constitulde pelos pais e immo, até aos 6 anos de idade, quando os ascendentes se separaram, tendo a partir de entio o seu desenvolvimento psicossocial passado a set orientado “em contexto institucional, alegadamente por insuficiéncia econémica da mf, Parte da sua infncia e adoleseéneia foi passada em estabelecimentos no émbito da promogio e protecgéio de criangas ¢ jovens © no ambito tutelar educativo, sendo estes iltimos os Centros Ecueativos de Santa Clea ¢ de Santo Ant6nio, de onde saiu definitivamente em Junho de 2004, apés cumprimento de uma medida tutelar de intermamento, em regime semi-aberto, com a duragio de um ano, por roubo, Aos 15 anos de idade furtava na escola, “indo as mochilag” para ter dinhelro para o que entendesse. Desde a infincia que o arguido vem manifestando desequilforios « nivel emocional, tendo sido acompanhado na unidade de pedopsiquiatria do. Hospital Mana Pia, com prescrigio de medicagto regular e continuada, situaglo que se manteve ao longo dos sucessives infemamentos nos vézios estabelecimentos por onde passou, Apresenta ainda desde idade precoce, bronquite asmética, recebendo acompanhamento meédico © medicementoso continuado para além do recurso a servigos de Urgéncia, O arguido possui o 7° ano de escolaridade, conclufdo durante 0 percurso institucional, néo prosseguindo a escolaridade apés a desinstitucionalizagiio. Em termos profissionais a sua experiéncia resume-se a cerca de um més e meio, tempo em que trabalhou numa gréfica, tendo sido despedido por eva niimero de faltas ¢ idéntico periodo na “Mc Donalds”, Nos iiltimos anos, a retagiarda familiar do arguido tem sido essencialmente o agregado familiar de uma tia-avé patena que jé 0 vinha recebendo em perfodos de férias, aquando da sua institucionalizagéo. Em Maio de 2006, vivia na cidade do Porto, em casa da tia- avé paterna, da qual dependia economicamente. Encontrava-se laboralmente inactivo, no desenvolvendo qualquer ocupagiio estruturada. O seu quotidian era diteccionado para actividades de lazer, integrado em grupo de amigos ¢ praticando pequenos crimes, bem como para o convivio com a namorada, Aprescntava hébitos de consumo de estupefacientes, predominantemente hexixe. A dinimica familiar eta prejudicada pela dificuldade do arguido em cumprir regras elementares de sociabilidade e de adequagto as rotinas e hordtios ditados pela familia. Deu entrada no EPP a 16 de Maio de 2006 sujeito medida de pristio preventiva, pelo orime de homic{dio qualificado, & ordem do presente proceso. Manifesta preocupagéio com as consequéncias que possam advit da deciséo judicial, tanto a nfvel pessoal como familiar. Tem registado um comportamento globalmente adaptado ao ordenamento vigente se bem que se assinale uma punigio reportada a Novembro de 2006 por “atitude incorrecta e ameagadora para com’ elementos de vigilincia”, tendo cumprido 3 dias de internamento em cela de habitago. Recebe visitas rogulares da tia-avé ¢ inno ¢, pontualmente, da progenitora, suporte que se manifesta extensivel quando restituido liberdade, Quanto a projectos de natureza profissional ¢ embora objectivamente nfo possua perspectivas concretas, AA refere pretender inverter este potourso. Apesar de veicular motivagio para reorganizar:o seu quotidiano em fungio dos parémetros estabelecidos ¢ tidos como adequados, proceso para o qual beneficia de enquadramento familiar, que Ihe poder proporcionar a adopgio de uma conduta socialmente integrada, AA apresentard dificuldades na adeso a normas de fumcionamento familiar e de integrago normativa em sociedade, reagindo por vezes negativamente a figuras orientadoras e de referéncia, ¥) 0 proceso de desenvolvimento psicossocial do arguido BB contextualizou-se no seio do seu néicleo familiar de origem, junto dos progenitores e dois itméos e cuja dinfmica foi caracterizada como equilibrada e pautada peia afectuosidade. A infincia ¢ inicio da adolescéncia decomen de ffeorto com os padites normais ¢ nfo apresentou qualquer dificuldade de integragiio ém contexto escolar ou de aprendizagem, tendo este percurso decorrido em estabelecimento particular de ensino. Durante a frequéncia do 10° ano decidiu abandonar o sistema de ensino e iniciar-se na vida activa, comegando a laborar Junto dos pais num dos restaurantes que estes exploravam ¢ do qual passaria, em 2000, a assumir a geréncia, o restalrante “Solar do Marqués”, Em 2005 constifuiu uma sociedade para exploragao de um estabelecimento similar, no Peso da Régua, mas a experiéncia nfo decorreu de acordo com as suas expectativas, fendo durado apenas alguns meses. Constituiu egregado auténomo ainda muito jovem, tendo desta relaggo um descendente com 13 anos, O arguido trabalhava, 4 data dos factos, no restaurante acima referido junto com a mulher e 0 pai. Neste momento continua a trabalhar com ambos, mas num restaurante que funciona no r/chéo da residénoia familiar. As relagBes intra-familiares so positivas ¢ pautadas pelo espitito de coesio ¢ entreajuda. O arguido vivencia este enquadramento, quer junto do micleo de origem, quer a relagto marital, de forma muito gratificante, denotando a existéncia de especial ligagdo afectiva com 0 descendente. 2) O arguido AA foi condenado, por acdrdio de 15/03/2006, na pena de um ano de prisio, pela prética de um crime de roubo cometido em 19/09/2002, cuja execugio foi Ssusfiensa por um ano ¢ meio, sob condigio de 0 arguido se submeter a regime de prova. Anteriormente, havia cumprido um ano de internamento, em regime semi-aberto, por roubo, no Centro Educativo de Santo Anténio; 4a) O arguido BB foi condenado em 3 anos de pris, com execugdo suspensa por 2 anos, pelo crime de roubo agravado cometido em 25/11/98 e por acérdéo de 12/11/2001, pena Jé declarada extinta, Foi também condenado em 18 meses de priso, suspensa por 3 anos, pelo crime de farto qualificado cometido em 02/11/2001 e por acérdao de 07/04/2005, bb) O arguido AA iniciou o consumo de cannabis cerca dos 11 ou 12 anos de idade, tendo _posteriormente experimentado todas as substfincias _ estupefacientes (designadamente LSD, “rodas”, cocaina, anfetaminas, eostasy, etc.), excepto heroina, Continua a consumir haxixe no estabelecimento prisional, ce) A pericia psiquidtrica e psicolgica realizada ao arguido AA coneluiu pela imputabilidade do mesmo por, a data dos factos, se encontrar capaz de avaliar a ilicitude dos mesmos © se determinar por essa avaliagio, Nao revela sinais ou sintomas que permitam inferir actividede alucinatéria/delirante ou que indiciem estado téxico, alcodlico ou outro, Sofre de canabismo, cujo abuso pode induzir alteragées comportamentais ou psicoldgicas desadaptativas, nomeadamente défices na coordenagéo motora, euforia, ansiedade, sensagdo de lentificagfo do tempo, défice de discernimento ‘ou retracedo social. A impulsividade ¢ uma das caracteristicas da sua personalidade, nfo se vislumbrando mareada desorganizago de comportamento. Mostra capacidade para se situar normativamente de modo adequado, mas hé um hiato consideravel entre o scu comportamento ¢ as normas sociais estabelecidas. Tem um desempenho intelectual situado na média inferior, com melhor desempenho verbal (normal) que de realizagi Permitiu a captagtio de um registo de fumcionamento sugestivo de alex (dificuldade/supressio de expresso emocional num registo defensive de néo experienciagdo da dor psicolégica) ¢ psicossomético, Revela ttagos de personalidade impulsivos ¢ auséncia de estratégias de resolugio de problemas, dd) O arguido BB confessou os factos imputados de forma praticamente integral. ee) © arguido AA confessou parcialmente os factos imputados, com excepgdo da inted go de matar, 9) A data da pratica dos'factos, 0 arguido AA tinha 20 anos e cerca de 4 meses de idade, Factos ndo provados Com pertinéncia ao objecto do processo, nfo se provaram quaisquer outros facts para além ou em contratio dos constantes do ponto anterior e, designadamente, que: - Tenhain sido langados piropos & namorada do arguido AA pelos dois acompanhantes da vitima CC; + O arguido AA nao tenha ouvido tais piropos, mas meramente pensado na sua existéncia; - ODD também néo haja respondido a pergunta “se precisavam de éculos"; ~ © arguido AA se tivesse dirigido 20 CC, quando empunhava a faea, a comer; ~ © mesmo arguido tenha entregue a faca om mio ao arguido BB. II, FUNDAMENTACAO Duas quest6es vém colocadas pela recorrente: a da quelificago como crime de homicidio qualificado, nos termos da al. d) do n° 2 flo art. 132° do CP (motivo futil), do crime de homicidio imputado ao arguido AA, ¢ a consequente condenagao do arguido em 18 anos de pristo; ¢ a da agravagiio da pena, para 15 anos de prisiio, caso nfo proceda a primeira questio. © arguido fora acusado pelo crime de homicfdio qualificado, mas o tribunal colectivo entendeu néo se verificar a qualificativa, justificando assim a sua posigéo: Segundo a acusagto imputada, no caso em aprego a conduta do arguido AA 6 especialmente censurdvel por este ter sido determinado por “motivo torpe ou fitil”, j4 que as demais hipéteses previstas na alinea em causa estiio, noforiamente, fora de causa, Os elementos reveladores da especial censurabilidade ou perversidade do agente so elementos constitutivos do tipo de culpa deste, por reveladores de uma mais desvaliosa atitude do mesmo, No caso da imputada agravagdo, 0 “motivo torpe ou fitil” estit estritamente ligado & especial motivagio do agente, Assim, “motivo torpe ou fitil” € aquele “motivo da actuagdo que, avaliado segundo as concepgées éticas ¢ morais ancoradas na comunidade, deve ser considerado pesadamente repugnante, baixo ou gratuito, de tal modo que o facto surge como produto de um profindo desprezo pelo valor da vida humana” ~ in “Comentirio Conimbricense do Cédigo Penal”, tomo I, pags. 32/33, Assim sendo, como também perfilhamos, impéc-se verificar se oconre o maior desvalor da atitude, no caso em aprego, , Tal como se apurou, o “conflito” comegou quando o arguido AA se apercebeu do langamento de um piropo 4 sua namorada, perguntando & vitima e ao seu, entio, acompanhante mais préximo (0 DD), se “queriam uns dculos”, ao que estes ripostaram com “o que & que queres?”, ao mesmo tempo que pararam a respectiva marcha, Logo de seguida, 0 AA pegou numa tébua, com que fez mengio de atingir tais individuos, empunhando-a no ar mas, vendo que eles nfo se atemorizaram, desistiu desse propésito, largando-a. Nesse momento, o arguido enfron no restaurante e pegou na faca que viu pousada na parte interna do bale#o. Com esta empunhada, dirigiu-se aos dois individuos, ‘© que levou o DD a recuar, promovendo ibuat atitude por parte da vitima, ao puxé-la por um brago, mas sem o lograr conseguir, por esta ter oferecido resisténcia a tal pretensio, apés o que ocorreu a facada fatal, Que coneluir? | Em primeito higat, que 0 motivo da facada nfo foi meramente o piropo ~ este, sim, seria um motivo fiitit mas também o “‘conflito” subsequente. Em segundo lugar, que se a vitima —e, também, o seu referido acompanhante, com excepgio do mencionado recuo — em nada contribuiu para o agravamento da situagio, também nada fez para o evitar. Por todo 0 exposto, o tribunal conclui que a motivago por parte do arguido pode e deve ser enquadrada como motivagko pouco relevante, mas nfo de molde a pode ser considerada “motivo torpe ou fitil”, por nfo se verificar 0 exigivel maior desvalor da atitude susceptivel ge 0 qualificar como tal, Assim, tem-se a comissdio pelo arguido, com dolo directo, do crime de homicfdio previsto no artigo 131° do Cédigo Penal, ou seja, na forma no qualificada, © enquadramento tedrico apresenta-se correcto, seguindo a doutrina e a jurisprudéncia correntes, Mas a andlise dos factos merece alguns reparos. Com efeito, como salienta a recorrente, ao contrétio do que se considera no acérdéo recorrido, nfo se pode falar de um “conflito”, subsequent ao “piropo” dirigido & namorada do arguido, entre este ¢ a vitima, CC, ¢ seus acompanhantes, Recordando os factos: ao “piropo” segue-se a reacgio do arguido, perguntando se a vitima ¢ ‘acompanhantes precisavam de dculos, ao que estes reforquem indagarido o que & que ele queria, E de imediato o arguido empunhou uma tébua no ar, fazendo menggio de com ela agredir a vitima, CC, ¢ seu acompanhante mais préximo (DD), 0 que levou estes a levantarem os bragos para se defenderem da eventual e previsfvel agressfio. O arguido optou, porém, por desistir da tébua, como instrumento de agressio, entrou, em acto seguido, num restaurante “ali ao lado”, pegou na primeira faca que encontrou, voltou a Tua €, sem mais, ditigiu-se A vitima ao seu acompanhante DD, tendo este recuado ¢ tentado puxar a vitima para trés, o que no conseguiu, ficando assim CC mais oxposto A acgiio do arguido, que logo the espeton a faca na regio clavicular, provocando-Ihe a morte. 1 Nio hé, como vemos, nenhum confronto fisico entre o arguido e o grupo da vitima, nem sequer uma discussio: apenas uma répida troca de palavras, B nem se pode dizer que a vitima ¢ seus acompanhantes tenham procurado 0 confronto, fisico ou verbal, ou que © tenham tentado agravar: eles limitaram-se a responder a uma “boca” do arguido com outra ¢ assumiram sempre uma atitude defensiva perante 0 comportamento do arguido, munca de desafio on de provocagiio, Portanto, rejelta-sf que tenha havido um conflito entre o aiguido ¢ a vitima e acompanhante posterior ao “piropo” e que tenha sido esse conflito que desencadeou a conduta do arguido. O que de facto se verificou é que o arguido nfo tolerou o “piropo”, que reagiu primeiro verbalmente e, de seguida, fisicamente, primeiro pegando na tibua como instrumento ple agresstio, depois indo buscar a faca'e agredindo mortalmente a vitima, © arguido agiu, portanto, em retaliagfo a0 “piropo” dirigido 4 namorada, que ele entendew como uma ofensa que igualmente o atingia, sendo essa a motivaefo da sua conduta, Assente isso, hd que considerar se 0 referido “piropo”, que desencadeou o crime, tinha carga ofensiva, ¢ em que medida, ¢ se era idéneo a suscitar uma reacc&o do arguido, se pode ser considerado “motivo itil”. Nao pode haver diividas de que 0 “piropo” tinha cardcter ofensivo, néo sendo, pois, na realidade, um “piropo”, no sentido rigotoso do termo, que é 0 de galanteio. De facto, a expresso “queres vir comigo que te como/papo” ou “linda menina, papava-te toda” é de uma grosseria evidente ¢ ¢ perfeitamente natural que a rlamorada do arguido se sentisse ofendida, assim como o préprio arguido, Nao estamos, pois, perante nenhum “piropo”, mas sim perante uma clara ofensa a pessoa da namorada do arguido. H4, porém, que assinalar que 0 arguido e a namorada se encontravam “em lados opostos da mua”, pelo que possivelmente a vitima ¢ o seu grupo niio se aperceberam de que havia qualquer ligagio entre aqueles ¢ assin nfo teriam consciéncia de que, ao proferirem aquela alarvidade, estavam a atingir também o arguido. De qualquer forma, é perfeitamente normal que este reagisse, em defesa da sua “dama”, procurando uma desculpa ou uma explicagio por parte de quem a tinha ofendido, Por outras palavras, nfo era exigivel que o arguido ficasse quedo e mudo perante aquela ofensa dirigida & namorada, ¢ indirectamente a ele préprio. Inicialmente, 0 arguido pareceu querer tomar essa atitude, ou soja, a de exigir uma explicaglio ou um pedido de desculpas, mas logo, sem que da parte da vitima ou dos acompanhantes houvesse qualquer atitude de desafio para confronto, 0 arguido procurou agredir os “ofensores”, primeiro com a tébua, depois com a faca. : Esta reacgfio & absolutamente desproporcional A ofensa, Em todo 0 caso, nflo se pode dizer que ela assente num “motivo fitil”. Nas palavras exaustivamente repetidas de Figueiredo Dias, “qualquer motivo torpe ou fiitil” significa que 0 motivo da actuagéo, avaliado segundo as concepgdes éticas © morais ancoradas na comunidade, deve ser considerado pesadamente repugnante, baixo ou gratuito (...) de tal modo que o facto surge como produto de um profundo desprezo pelo valor da vida humana” (Comentério Conimbricense do Cédigo Penal, Tomo |, pp. 32-33). De modo nenhum se pode considerar 0 motivo do crime (resposta a afronta feita a namorada do arguido, na presenga deste) como repugnante, baixo ou gratuito, muito menos “pesedamente”, O “piropo” (que afinal no o erf, mas sim uma ofensa verbal) constitu sem divida uma provocagdo por parte da vitima ou do seu acompanhante, porquanto integra uma ofensa inequfvoca A namorada do arguido, e indirectamente a este, uma provocagio que desencadearia uma resposta de qualquer cidadio médio, colocado naquelas circunstineias. A resposta do arguido € sem dtivida desproporcionada, excessiva, mas nio carecida de motivo, gratuita ou fepugnante. A sua conduta é censuravel, mas no especialmente censurdvel ou perversa. Assim, embora por razdes diferentes das invocadas no acérdio recorrido, entende-se que © homicidio nfo deve scr qualificado, nos termos da al. d) ou de qualquer outra do n° 2 do art, 132° do CP, confirmando-se, pois, a incriminagdio do art. 131° do CP. Resta analisar a segunda questiio colocada: a da medida da pena, E quanto a esta desde j4 se adianta que assiste, ao menos em parte, razio a recorrente. Na verdade, 0 comportamento do arguido reveste-se de uma elevada ilicitude, revelada pela grande desproporgo entre a provocagio € a sua reacgtio, acentuada pelo comportamento passive assumido pela vitima e seu acompanhante, 0 que normalmente levaria a “arrefecer” 0 potencial conflito ¢ a acalmar a natural irritagfo do arguido. Contuido, este reagiu de forma violenta e pertingz, primeiro empunhando a tébua, depois procurando e utilizando um instrumento letal, a faca, uma reacgiio inesperada ¢ excessiva, tendo em conta o desenvolvimento dos factos, Por isso, dentro da moldura do art, 131° da CP, a pena tera de ser agravada, situando-se_ mais préximo do seu limite méximo, Alias, pata isso concorrem também as exigéncias de prevengio geral, pois no se pode tolerar a relativizagao do valor da vida humana, ¢ inclusivamente de prevengiio especial, fendo em conta a “hisiéria pessoal” do arguido (al, x) da matéria de facto), Actescenta-se que, tendo o arguido apenas 20 anos de idade & data dos factos, nfo hd razbes para aplicar o regime especial para jovens do DL n° 401/82, de 23-9, porque claro se mostra, face a leitura desse historial, que a atenuagio especial da pena ndio favoreceria @ ressovializagio. Na vordade, 0 arguido ¢ portador de uma personalidade pouco receptiva ao enquadramento nas normas sociais, tendo seguido desde cedo um recurso desviante que o tem progressivamente marginalizado socialmente. Considera-se, adequada, ponderadas todas as circunstfincias em jogo, a pena de 14 anos de pristio. MHL, DECISAO ' Com base no exposto, concede-se provimento parcial ao recurso, condenando-se o arguido AA na pena de 14 (catorze) anos de prisio, por um crime de homicidio do art, 131° do CP, no mais se mantendo o acérdao recorrido, Sem custas, isboa, 31 de Outubro de 2007 Mensagem de Impressio do Windows Live Hotmail Page 1 of 1 EY windows Live” List of applicants for VIRCLASS_2008.doc De: Anne Karin Larsen (Anne.Karin.Larsen@hib.n0) Envlada: quinta-felra, 25 de setembro de 2008 9:19:20 Para: Eduardo Marques (eduardo@ismt.pt); Veenkamp, Remmelt (Remmelt.Veenkomp@INHOLLAND. Al); Maria Carvalho (marlacarvalho2i@hotmall.com) Anexos: Liste over studenter i VIRCLASS.doc (27,3 KB) Verincagao de seguranga no download yrneye. <> Dear Eduardo, Remmelt and Maria In the list attached you can see the name of the students that have applied for the course in VIRCLASS, The names marked have only sent their electronic application and before intake which has to be done this week or latest Monday I need their paper application. Please contact the students and meanwhile give me your opinion about their skills and ability to fulfill the courses. As you will see there are several professional social workers that has applied from Portugal and I would like to know if any of you are familiar with these persons and have been in contact with them. 1 There is also one student from Den Haag university ~ Is this Inholland, den Haag and do you know the contact person, Remmelt? Please respond very quickly to me because we have very short time to arrange everything for the start on the 6 october. Best regards Anne Karin | hitp://co1 04w.col 1 04.mail live.com/mail/PrintShell.aspx?type=messaged&ecpids=81917ac... 25-09-2008 grande desproporgio entre a provocagdo ¢ a sua reacgfio, acentuada pelo comportamento passivo assumido pela vitima e seu acompanhante, 0 que normalmente levaria a “arrefecer” 0 potencial conflito ¢ a acalmar a natural irritagfio do arguido. Contudo, este teagiu de forma violenta ¢ pertingz, primeiro empunhando a tébua, depois procurando ¢ utilizando um instrumento letal, a faca, uma reacgdo inesperada ¢ excessiva, tendo em conta o desenvolvimento dos factos, Por isso, dentro da moldura do art. 131° da CP, a pena ter de ser agravada, situando-se mais préximo do seu limite maximo, Alids, para isso concorrem também as exiggneias de prevengéo getal, pois niio se pode tolerar a relativizagdo do valor da vida humana, ¢ inclusivamente de prevengdo especial, tendo em conta a “histéria pessoal” do arguido (al. x) da matéria de facto), Actescenta-se que, tendo o arguido apenas 20 anos de idade & data dos factos, no ha raz(es para aplicar o regime especial para jovens do DL, n° 401/82, de 23-9, porque claro se mostra, face a leitura desse historial, que a atenuago especial da pena ndo favoreceria @ ressocializagio, Na verdade, 0 arguido ¢ portador de uma personalidade pouco teceptiva ao enquadramento nas normas sociais, tendo seguido desde cedo um reeurso desviante que o tem progressivamente marginalizado socialmente. Considera-so, adequada, ponderadas todas as circunstancias em jogo, a pena de 14 anos de pristo, Ml, DECISAO 1 Com base no exposto, concede-se provimento parcial 20 recurso, condenando-se o arguido AA na pena de 14 (catorze) anos de pristio, por um crime de homieidio do art, 131° do CP, no mais se mantendo 0 ac6rdo recorrido. Sem custas. Lisboa, 31 de Outubro de 2007

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