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Agrupamento Vertical Almeida Garrett

Ano Lectivo 2008/2009

LÍNGUA PORTUGUESA 7.º ANO – PLANO NACIONAL DE LEITURA

MOUSCHI TINHA RAZÃO

Quando Anne Frank ouviu, nos céus de Amesterdão, no Verão de 1944, o intenso ruído nocturno dos
motores dos bombardeiros aliados, acreditou que estaria para breve a sua saída e a dos seus familiares e
amigos do anexo onde viviam há dois anos. Tinha Mouschi ao colo e estava apaixonada por Peter Van Pels,
que levara o gato para o interior do abrigo.
Tinham sido anos de grande tensão e austeridade. As palavras e os alimentos eram racionados com
um rigor difícil de imaginar. O importante era conseguirem sobreviver até ao dia em que a liberdade, por
fim, chegasse! Mas que dia seria esse? Em que calendário se encontrava registado?
Anne ouviu de novo o ruído dos aviões nos céus do país ocupado e quis beijar Peter. Mouschi tinha
ciúmes desse amor adolescente que, por vezes, o privava das carícias da amada.
- Quando saíres daqui levas-me contigo, não levas, Anne? – perguntou Mouschi.
- Claro que te levo, vá eu para onde for, podes ficar descansado – respondeu Anne ao gato de que se
tornara dona, fazendo já planos para as horas luminosas em que voltaria a passear pelas ruas junto do
canal e a sonhar com o jornalismo e com a literatura. Mouschi, entretanto, lia avidamente as páginas do
diário, na esperança de que Anne falasse dele. E Anne falou, Anne escreveu sobre ele.
Mas Mouschi, que também ouvia as notícias dadas pela BBC, e que eram escutadas num silêncio
religioso pelos adultos do anexo, tinha muitas dúvidas e muitos medos.
- Não te fies no que os teus ouvidos ouvem, Anne, porque as feras andam à solta por estas ruas. É
preciso ser astucioso e matreiro como eu sou com as ratazanas que nos vêm roubar a comida durante a
noite. Finjo que não as vejo e que não as ouço, depois atiro-me a elas e só descanso quando vejo que estão
mortas. São também assim os nazis. Só serão inofensivos quando estiverem todos mortos – sentenciou
Mouschi.
- Tudo menos o ódio, Mouschi, porque o ódio mata mais do que as balas – respondeu Anne, de
coração limpo e apaixonado, tentando ver o mundo, no meio da tragédia, com as límpidas cores da
esperança.
No dia seguinte, os homens da Gestapo entraram no anexo e prenderam todos quantos nele estavam
acantonados há mais de dois anos. Anne, a mãe e a irmã foram deportadas para o campo de Bergen-
Belsen, onde viriam a morrer. De todos os habitantes do anexo, só o pai sobreviveu no inferno de
Auschwitz.
Mouschi conseguiu fugir para a rua e nunca mais ninguém teve notícias dele. Talvez tenha morrido
de tristeza uns meses mais tarde. Talvez tenha passado ainda alguns anos a caçar ratazanas, convicto de
que estava a matar nazis e a vingar a morte da sua amada. Vá-se lá saber o que faz um gato apaixonado
em horas tão terríveis como aquelas!
José Jorge Letria, Amados Gatos, Oficina do Livro

Prof.ª Marta Sacadura

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