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RESUMO
Este artigo pretende mostrar que a imagem dos animais de Zaratustra
nos remetem a dois problemas centrais na filosofia de Nietzsche. Em
primeiro lugar, a superação do pensamento dicotômico, instaurado pela
Metafísica. Em segundo lugar, o abandono de uma concepção linear de
tempo, através da teoria do Retorno. Ambos os problemas representam
grandes desafios à existência humana.
PALAVRAS- CHAVE: superação das dicotomias, eterno retorno, vida humana.
ABSTRACT
In this paper I argue that the image of animals presented in Zarathustra
is connected to two fundamental problems of Nietzsche’s philosophy.
First, the overcoming of the dichotomous thought created by metaphysics.
Second, the refusal of a linear conception of time as a consequence of the
theory of Return. Both problems represent a great challenge for human
existence.
K EY - WORDS : dichotomous thought, eternal recurrence, human life.
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AFZ, “Prólogo”, # 1, p. 27.
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ETHICA RIO DE JANEIRO, V.11, N.1 E 2, P.169-179, 2004
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AFZ, IV, “O canto ébrio”, # 2, p. 319.
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Cf. AFZ, III, “O convalescente”, # 2, p. 223; IV, “O sacrifício do mel”, p. 241.
A águia e a serpente também exortam Zaratustra a aprender a aprender a cantar
(cf. AFZ, III, “O convalescente”, # 2, p. 226).
4
CF. AFZ, III, “O Convalescente”, # 1, p. 222 e # 2, p. 223).
5
“Encontrei mais perigos entre os homens do que entre os animais, perigosos
são os caminhos de Zaratustra. Possam guiar-me meus animais” (AFZ, Prólogo,
# 10, p. 41). Essa passagem é evocada de novo na Terceira Parte, em “O
regresso”, p. 190.
6
“Pois bem sabem os teus animais, ó Zaratustra, quem és e quem deves tornar-
te: és o mestre do eterno retorno — este, agora, é o teu destino!” (AFZ, III, “O
convalescente”, # 2, p. 226). Esse reconhecimento do que se passa consigo
através do “outro” não é uma novidade: “Que me aconteceu, afinal, meus
animais? — disse Zaratustra. — Acaso, não estou transformado? (AFZ, II, “O
menino com o espelho”, p. 97). Aliás, a outra personagem que também corrobora
que Zaratustra já incorporou os ensinamentos da teoria do Círculo é a Vida,
como se pode entrever quando ela diz a respeito do que lhe é segredado no
ouvido: “Tu sabes isto, Zaratustra? Ninguém sabe isto..” (AFZ, III, “O outro
canto de dança”, # 2, p. 233).
7
Deleuze considera que “eles representam (...) o devir da cultura, ou o esforço
para pôr o homem no lugar de Deus” (Deleuze, G. “Dicionário dos principais
personagens de Nietzsche” in Nietzsche, p. 37).
8
Cf. AFZ, IV, “O feiticeiro”, # 2, p. 260; “O mendigo voluntário”, p. 273 e “O
mais feio dos homens”, p. 269.
9
Haar ressalta que entre eles ocorre uma “simbiose maravilhosa” (Haar, M. “Les
animaux de Zarathoustra”, p. 211). Quando a serpente aparece sem a companhia
da águia representa algo negativo para a vida — o niilismo (cf. AFZ, III, “Da
visão e do enigma”, # 2, p. 167-8).
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AFZ, Prólogo, # 10, p. 40. Cabe salientar que mesmo no solo a serpente
continua pendendo do pescoço da águia (cf. AFZ, IV, “A saudação”, p. 280).
11
AFZ, IV, “O sinal”, p. 326, os grifos são meus.
12
Em Além do bem e do mal, Nietzsche considera que “cristianismo é platonismo
para o ‘povo’”, o que os torna expressão de uma mesma vontade (Op. cit.,
Prólogo, p. 8).
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Nietzsche, F. Além do bem e do mal, # 2, p. 10.
14
Ib., p. 10.
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15
Nietzsche, F. Crepúsculo dos ídolos, “Como o ‘verdadeiro mundo’ acabou por
se tornar fábula”, p. 35-6.
16
Nietzsche, F. Além do bem e do mal, # 11, p. 18.
17
Ib., # 34, p. 41.
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III
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Nietzsche, F. Assim falou Zaratustra, III, “Os sete selos”, # 7, p. 237.
19
AFZ, III, “O canto ébrio”, # 10, p. 323-4. No início da Terceira Parte,
Zaratustra anseia pelo dia em que cume e abismo se tornem uma coisa (cf. “O
viandante”, p. 161).
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20
AFZ, IV, “O mendigo voluntário”, p. 273.
21
AFZ, III, “O convalescente”, p. 224.
22
Deleuze, G. “Dicionário dos principais personagens de Nietzsche” in
Nietzsche, p. 35, os grifos são meus.
23
Cf. AFZ, III, “O outro canto de dança”, # 2, p. 233.
24
Haar, M. “Les animaux de Zarathoustra”, p. 203.
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25
Nietzsche, F. “O eterno retorno” (textos de 1881), # 20, in Obras incompletas,
p. 389.
26
Nietzsche, F. A vontade de potência, # 385, p. 289.
27
AFZ, III, “O convalescente”, # 2, p. 227.
28
Eis as fórmulas que caracterizam a versão pessimista do ensinamento de
Zaratustra: “Tudo é vazio, tudo é igual, tudo foi!”, “Inútil foi todo o trabalho”
(AFZ, II, “O adivinho”, p. 145); “Tudo é igual, nada vale a pena, o mundo não
tem sentido, o saber nos sufoca” (AFZ, IV, “O grito de socorro”, p. 244), “inútil
é a procura” (ib., p. 246).
29
Machado, R. Zaratustra, tragédia nietzschiana, p. 135.
30
Nietzsche, F. Ecce homo, “Por que sou tão inteligente”, § 10, p. 78.
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Nietzsche negará, posteriormente, que Zaratustra tenha qualquer afinidade
com Darwin (cf. Nietzsche, F. Ecce homo, “Por que escrevo bons livros”, # 1,
p. 82).
32
Machado, R. Zaratustra, tragédia nietzschiana, p. 50.
33
Fink, E. A filosofia de Nietzsche, p. 99.
34
Nietzsche, F. A gaia ciência, # 1 (“Os mestres da finalidade da existência”).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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