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Letras de Sangue

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Acidente De Trabalho
Trabalho

Edson Tomaz da Silva


Letras de Sangue

Um Acidente De Trabalho

A cidade de Portal do Norte só não podia ser chamada de terra-de-ninguém


por um motivo: ela sempre pertencera a família de Tomaz Carvalhal.

Dono de metade das indústrias que compunham o pequeno pólo químico que
dera origem à cidade – e acionista de todas as outras – Tomaz podia ser
definido por duas palavras: truculento e tacanho.

Os trabalhadores de suas fábricas sabiam que elas eram um pesadelo em


todos os aspectos: em gestão ambiental, segurança e direitos do trabalho. E
assim continuariam, pois todos tinham medo. O último delegado sindical que
ousara questionar os métodos de Tomaz fora encontrado morto, engasgado
ao engolir os próprios genitais.

Como engenheiro de Segurança do Trabalho das Indústrias Químicas


Carvalhal, Sérgio Trigueirinho sabia ter ali uma função meramente figurativa e
gostava muito desta idéia. Assim, era muito a contragosto que estava ali, nos
fundos da fábrica, discutindo com Seu Totonho da Empilhadeira.

Seu Totonho, apelido que Seu Antônio ganhara quando entrou na empresa
ainda jovem, agora estava às vésperas de sua aposentadoria. Contornara
todas as dificuldades até ali, nunca se recusara a nenhum trabalho, mas o
que estavam lhe pedindo era suicídio.

- Escuta o que eu tô falando, Trigueirinho. O hidráulico dessa empilhadeira


precisa de manutenção urgente. Manobrar com ela desse jeito, nesses
corredores estreitos, com essas prateleiras podres e sobrecarregadas, é
suicídio! É loucura! Pode acabar em desgraça!

Sérgio Trigueirinho mediu o velho de alto a baixo. E sacou o seu melhor


argumento:

- Faltando três meses pra aposentadoria, o senhor não devia perder tempo
com bobagem, né Seu Totonho? – deu um sorrisinho cínico – Daqui a pouco
isso nem é mais problema seu...

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Seu Totonho entendeu rapidinho onde o dito “homem da segurança” queria


chegar. Não tinha escolha. Não havia para quem apelar, a não ser a Deus.

Naquela tarde, já próximo do final de seu turno, Seu Totonho colocava o


último tambor do dia sobre uma pilha perigosamente alta quando perdeu o
controle da direção. O tambor caiu sobre a empilhadeira, rompeu-se e banhou
o pobre homem com todo seu conteúdo. Como todas as providências de
segurança eram negligenciadas, Seu Antônio morreu ali mesmo, no fundo do
galpão, sozinho, agonizando lentamente enquanto os resíduos químicos
derretiam seu corpo. Só foi encontrado porque a turma tinha combinado jogar
dominó no boteco em frente à fábrica e estranhou a falta de Seu Antônio. O
corpo ficou completamente desfigurado. O velório teve de ser feito com o
caixão lacrado.

O Ministério Público moveu uma ação contra a empresa de Tomaz Carvalhal,


mas este era poderoso e bem relacionado. O processo arrastou-se na
lentidão da justiça e acabou sendo arquivado.

Na noite em que receberam a notícia do arquivamento do processo, Maria de


Lourdes, filha mais nova e xodó de Seu Antônio, apesar de adulta, acabou
acordando a mãe no meio da noite:

- Mãe?

- Que é, Lurdinha? – a mãe levantou-se assustada – Por que está me


acordando a essa hora?

- Mãe, eu tava sonhando com o Pai.

- Ôxe, minha filha...

- Mas mãe, o Pai num tava no normal dele, não.

- O que ele tinha, Lurdinha?

- O Pai tava de um jeito que eu nunca vi, Mãe. Fiquei até assustada. O Pai
tava se ardendo de ódio...

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Se tinha uma coisa sagrada para Tomaz Carvalhal, era seu sono. Por isso era
muito bom que o filho da mãe que estivesse do outro lado da linha tivesse um
excelente motivo para acordá-lo aquela hora ou ia ser pendurado pelos bagos
na Praça da Matriz.

- Alô!

- Chefe, o senhor me desculpe ligar a esta hora, mas é um problema dos


graúdos...

- Mas diga logo o que foi, excomungado! E é bom que seja um bom motivo,
porque eu não to pra brincadeira a uma hora destas.

- Chefe, é coisa grande! Melhor não falar por telefone. Se o Ministério Público
tiver grampeado a linha, vai ser uma desgraça...

Aquilo parecia sério. Tomaz Carvalhal desligou e foi trocar de roupa. Nem
chamou seu motorista, preferiu ele mesmo guiar até a fábrica. Pra problema
de tanta cautela, quanto menos testemunhas, melhor.

----xxxx----

Sérgio Trigueirinho sabia que, se Tomaz Carvalhal chamava, ele tinha de ser
o primeiro a chegar. Baba ovo de confiança do homem, ele cuidava da roupa
suja do todo-poderoso de Portal do Norte. E o homem adorava confusão.
Portanto, não importava se eram três horas da madrugada da noite mais fria
dos últimos vinte e três anos na região: Sérgio Trigueirinho estava lá,
aguardando o chefe, onde ele o mandara esperar.

Estava se borrando de medo. Desde que o falecido Seu Totonho tinha ido
desta pra melhor ali no galpão de resíduos, Trigueirinho evitava aquele lugar
a todo custo. Agora tinha a infelicidade de estar ali no meio da noite. Foi por
isso ficou tão aliviado quando Tomaz Carvalhal chegou.

- Muito boa noite, Chefe!

- Vamos parar de frescura, Trigueirinho. Por que diabos você me fez vir pra
este lugar maldito às três horas da madrugada?

Trigueirinho não entendeu nada.

- Mas Seu Tomaz, foi o senhor quem me ligou pra que eu viesse aqui...

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Tomaz Carvalhal não era famoso por seu bom humor e aquela brincadeira
imbecil do borra-botas do Trigueirinho estava lhe tirando do sério. Agarrando
o puxa-saco pelo colarinho, esbravejou:

- Escute aqui, filho de uma égua, você perdeu o amor à vida? Se não era
você no telefone, quem era?

- Mas Chefe, eu...

Sérgio Trigueirinho não teve tempo de se explicar. As luzes do galpão


começaram a piscar.

- Mas que diabo...

Num canto do galpão, a empilhadeira, ainda enguiçada e com a pintura toda


queimada pelos produtos químicos, de repente ligou-se sozinha. Manobrando
com extrema habilidade, desviou-se de uma pilha de tambores e partiu na
direção dos dois homens, em alta velocidade.

Aproveitando que já estava com Trigueirinho em suas mãos, Tomaz Carvalhal


não hesitou e atirou o puxa-saco na frente da empilhadeira, para tentar
ganhar tempo para sua própria fuga.

Caído de joelhos, Sérgio cruzou os braços em frente ao corpo e gritou:

- Me valha, Nosso Se... – mas antes que pudesse falar o santo nome de
Nosso Senhor, o garfo da empilhadeira atravessou sua barriga. O sangue
jorrou em grande volume, tingindo o chão e as prateleiras em volta. Com uma
velocidade fora do comum, o garfo subiu até a altura máxima, levantando
consigo o corpo de Sérgio Trigueirinho.

Tomaz Carvalhal ficou estático, assistindo àquela cena. Trigueirinho,


agarrando-se ao garfo, tentava inutilmente arrancá-lo de seu corpo.
Agonizante, tentou pedir ajuda a Tomaz Carvalhal para tirá-lo daquela
situação:

- Seu Tomaz... soco... – nem conseguiu terminar. Um último jorro de sangue


saiu pela sua boca e o infeliz morreu ali mesmo.

Como se fosse um guerreiro bárbaro comemorando a morte de seu oponente,


a empilhadeira começou a girar e girar, cada vez mais rápido, até que o corpo

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do engenheiro de segurança foi atirado longe, caindo sobre uma pilha de
tambores vazios.

O barulho tirou Tomaz Carvalhal de sua inércia. Começou a correr como


louco em direção à porta do galpão. A empilhadeira, sem hesitação, saiu em
seu encalço.

Tomaz Carvalhal sabia que se corresse em linha reta seria facilmente


alcançado e que teria o mesmo destino do puxa-saco. Assim, aproveitando-se
de sua maior agilidade, corria fazendo ziguezague entre as prateleiras.

A empilhadeira seguia Tomaz Carvalhal de perto, lutando para contornar os


obstáculos e alcançá-lo. O pânico o impulsionava para a frente, mas os
muitos anos de vida sedentária e o vício do cigarro cobravam agora, com
juros, todo o prazer que haviam proporcionado. Os pulmões ardiam,
implorando por ar; o coração ameaçava explodir com o esforço.

Na correria para fugir, Tomaz acabara tomando um rumo totalmente oposto


ao que desejava. Ao invés de chegar até a porta principal do galpão, chegara
a um canto onde as prateleiras formavam um beco sem saída. Apoiando-se
numa delas, percebeu pelo silêncio que a empilhadeira havia parado de
perseguí-lo.

Lutando para controlar o pânico, olhou para trás. A empilhadeira estava


parada de frente para um grupo de prateleiras que, paralelas entre si,
ocupavam todo o espaço até o corredor onde Tomaz estava parado. Parada
daquele jeito, parecia estar zombando do desespero de sua vítima.

Olhando à sua volta para tentar encontrar uma saída, Tomaz Carvalhal
percebeu um detalhe que fez seu peito gelar: as prateleiras que o cercavam
estavam cheias de tambores vermelhos; as que o separavam da
empilhadeira, cheia de tambores verdes. As substâncias armazenadas neles
tinham nomes mais compridos que o seu braço e a mistura das duas
resultava em duas coisas ainda mais desagradáveis: primeiro, numa
substância com um nome ainda maior e mais impronunciável; a segunda,
uma explosão de proporções catastróficas.

Paralisado pelo medo, Tomaz viu a empilhadeira empurrar a primeira das


prateleiras, que desabou empurrando todas as outras, numa dança dos
dominós que pareceu extremamente lenta, até que a última atingisse o lugar
onde ele se encontrava.

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Estranhamente, não foi atingido pela queda das prateleiras nem dos tambores
nelas armazenados. Mas ficou preso, assistindo impotente enquanto os dois
líquidos escorriam lentamente em direção um ao outro.

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Pouco antes da explosão que destruiu as Indústrias Químicas Carvalhal, a


viúva de Seu Totonho acordou com o choro da filha mais nova. Levantou-se e
foi até o quarto dela.

- Lurdinha? Você tá bem? – Sentou-se na cama ao lado da filha e tentou


consolá-la. - Que foi, sonhou com seu pai novamente, foi?

- Ai, Mãe, sonhei sim.

- E ele ainda estava bravo como nos outros sonhos?

- Não, mãe. Dessa vez, não. Ele tava de longe, me acenando, sorrindo.

A filha enxugou as lágrimas dos olhos e completou sua história, com um


sorriso triste:

- Desta vez, ele parecia estar completamente em paz!

----FIM----

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Sobre o Autor

Edson Tomaz da Silva nasceu em São Paulo, capital, em 26 de abril de 1971.


A paixão pelos gêneros de terror e suspense é antiga, mas o autor só
começou a publicar seus textos em 2009 no site Recanto das Letras”

Em 2010, criou o site Letras de Sangue, onde publica seus textos, na


companhia de outros escritores amadores, também apaixonados por terror e
suspense.

Para ajudar na divulgação do site, passou a publicar seus textos também no


Scribd, criando a Coleção Letras de Sangue.

Licenciamento da Obra

A presente obra encontra-se licenciada sob a licença Creative Commons


Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Para visualizar uma cópia
da licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/ ou mande
uma carta para: Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San
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