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Letras de Sangue

Uma Prisão De
Uma Prisão De Amor E Arame
Amor E Farpado
Arame
Farpado

Edson Tomaz da Silva


Letras de Sangue

Uma Prisão De Amor E Arame


Farpado

Artur já era cobrador de ônibus há uns quinze anos e gostava da profissão.


Nem o trânsito absurdo de São Paulo conseguia tirá-lo do sério. O segredo do
seu sucesso? Artur adorava gente.

Ele adorava conversar, adorava ouvir, adorava ajudar. Considerava como


ponto alto de sua carreira o dia em que ajudara uma passageira a dar a luz
durante um congestionamento interminável na marginal do Tietê. Não deu
tempo de chegar o resgate, ele tomou a frente e ajudou a vir à luz uma linda
menininha.

Aquele estava sendo mais um dia típico. As obras na Marginal, ainda que
fossem para um bem maior, estavam conseguindo deixar pior o que parecia
impossível piorar. E, com o alagamento provocado pela ultima chuva, o
prognostico não era nada bom.

Observando os passageiros, Artur não pode deixar de perceber uma senhora


muito aflita: remexia-se em parar no banco, abria e fechava a bolsa, olhava
para o trânsito parado não com irritação, como os outros passageiros, mas
com visível preocupação.

Artur estava vendo a hora que a mulher ia ter um ataque.

- Tá tudo bem, dona? – perguntou solícito.

- Ai, moço, tô preocupada com meu irmãozinho. Ele é muito doente e só tem
a mim pra cuidar dele. E ele tem que tomar remédio, tá quase na hora...

- A senhora quer ligar pra alguém? Eu empresto o meu celular.

- Não, moço, muito obrigada. Mas não tem como. Ele fica sozinho em casa,
depende completamente de mim...

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- Nossa, mas não e perigoso alguém assim doente ficar sozinho assim?

- Ai, moço, perigoso é, mas somos pobres, preciso trabalhar e não tenho com
quem deixá-lo.

- É, a vida é dura!

- Ai, será que vai demorar muito? Ta quase na hora do remédio dele...

- Ih, dona! Ontem, que estava melhor, a gente levou uns quarenta e cinco
minutos só pra cruzar a ponte...

- Ai, meu Deus!

----xxxx----

Apos horas sem luz, a bateria começou a enfraquecer. As chuvas haviam


sido impiedosas e a rede elétrica não suportou o castigo. O mostrador do
dosador automático deu um bip e passou a mostrar o aviso LOBAT.

Meia hora depois, como que protestando de não haver ninguém para ouvir o
bip ou ler os avisos no painel, o dosador automático deu um longo bip e
desligou-se.

----xxxx----

Por mais limpos e arrumados que sejam, quartos de hospital jamais são
aconchegantes. Não há nada que espante o vulto da doença, que vem
prenunciando a morte que há de chegar, cedo ou tarde.

Para a mãe de Olívia, este momento estava muito próximo. Os bips


constantes do monitor cardíaco pareciam um agourento relógio em contagem
regressiva.

Olívia pacientemente olhava para a mãe. Sozinha no quarto, já que o pai


havia descido com o irmão para tomar um café na lanchonete do hospital, ela
se permitiu relaxar um pouco. Foi por isso que se assustou quando os bips
pararam e foram substituídos por um apito continuo.

Um sorriso desabrochou no sorriso da jovem, destoando totalmente daquele


momento de perda.

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- Finalmente! - foi a única coisa que Olívia se permitiu dizer, antes de fechar
novamente seu semblante e correr para a porta, para chamar a enfermeira.

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No escuro do quarto, o liquido dentro do frasco de soro chegava ao fim. Mas


isso não fazia mais nenhuma diferença: sem o dosador, havia apenas soro no
frasco. Era apenas uma questão de tempo até que o efeito do medicamento
passasse.

----xxxx----

Desde que o pai morrera, depois de anos agonizando numa cama, Osvaldo
achava cada dia mais difícil tolerar as esquisitices da irmã. Filho temporão,
ele costumava creditar tudo isso a grande diferença de idade entre ele e a
irmã mais velha.

Havia sempre um novo bibelô, um novo livro, um novo cd, um novo objeto
para atulhar ainda mais o pequeno apartamento. Havia sempre mais uma
nova regra, mais alguma coisa que não podia, que não devia, que ela não
queria. Sem falar no controle: aonde ia, com quem ia, o que ia fazer. Nem a
falecida mãe, ou mesmo o pai - e olha que o pai era militar reformado, todo
controlador - tinham pegado tanto no seu pé.

Que ficasse bem claro: Osvaldo era muito grato à irmã, que cuidara dele
depois que os pais haviam falecido. Especialmente com todos os problemas
de saúde que ele havia sofrido: a bronquite tinha sido implacável na sua
infância, transformando um menino alegre e inteligente numa coisa magrela
que tossia e escarrava, que não agüentava fazer nada por causa da eterna
falta de ar.

Mas aquele tipo de atitude se tornava cada vez mais inapropriada. Já com
seus vinte e um anos de idade, a hora de começar a tocar a própria vida em
frente já havia passado há um bom tempo.

Como esperado, a irmã recebeu muito mal as novidades:

- Como assim, vai trabalhar e vai embora de casa? Vai me deixar sozinha, me
abandonar?

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- Olívia, isso que é o normal da vida! Eu já deveria estar trabalhando há muito


mais tempo e...

- Você tem que terminar seus estudos! Você prometeu pro papai, lembra?

- Não vou parar de estudar, Olívia! Já conclui o técnico, agora vou fazer
faculdade à noite...

Mas como sempre quando se sentia contrariada, ela não estava escutando:
começou a chorar e correu para o quarto, onde se trancou.

Ele sabia que não adiantava falar mais nada. Só que agora, ao contrário de
tantas outras vezes na vida, ele não ia recuar diante do choro absurdo da
irmã. Parte daquela situação era fruto da sua acomodação, ele tinha de
admitir. Mas a forma como Olívia o tratava, como se ele ainda fosse uma
criancinha desprotegida... bom, de muitas maneiras ele ainda era uma criança
desprotegida. Aquela coisa de ser criado pela irmã como se o fosse o
“menino da bolha” tinha lhe transformado numa pessoa mal preparada para a
vida. Não sabia lidar com gente. Mas tinha vontade de aprender. Ia ter de
aprender. Mas sabia que se estivesse por perto, a irmã seria sempre um
empecilho entre ele e o mundo.

----xxxx----

A chegada da noite deixou o quarto ainda mais escuro. Quando o paciente


abriu os olhos, foi tomado por um lampejo de consciência tão violento que
acabou até caindo da sua cama. Na queda, o acesso que levava o soro e sua
medicação para as veias escapou. Foi dolorido, assim como a queda, mas a
dor o ajudou a organizar as idéias.

----xxxx----

No dia seguinte, com os olhos ainda vermelhos de tanto chorar, Olívia


preparava o café da manhã.

Osvaldo sabia bem que discutir qualquer coisa com a irmã era a mais pura
perda de tempo. Tinha uma entrevista de emprego agendada para aquela
manhã, não ia se desgastar à toa brigando com ela.

Em silêncio, pegou uma xícara no armário e serviu-se de uma generosa dose


de café preto.

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- Já está adoçado! - foi a única manifestação de Olívia, desde que ele


chegara à cozinha. Achou por bem continuar em silencio.

Teve de se segurar para não cuspir fora o café: estava desesperadoramente


doce! A irmã havia errado feio a mão no açúcar! Sem que ela percebesse,
ele virou o resto do café na pia e saiu de fininho da cozinha.

Foi tomado por uma estranha sensação de tontura, pouco antes de chegar ao
seu quarto.

----xxxx----

- E quantos anos tem o seu irmãozinho, dona? - Artur continuava


conversando, tentando acalmar a mulher.

- Vinte e cinco.

- Nossa, vinte e cinco! Do jeito que a senhora fala, achei que era um bebê!

- Ah, moço, mas ele é completamente dependente de mim...

- Como assim?

- Ele sofreu um acidente e teve paralisia cerebral.

- Nossa, que coisa triste! Eu sinto muito...

----xxxx----

Como já imaginava, nada havia mudado de lugar. Tropeçando aqui e ali,


chegou aonde queria e começou sua busca.

Acendeu a luz, mas apagou rapidamente. Primeiro, porque seus olhos,


acostumados à escuridão por estarem sempre fechados, estavam sensíveis.
Segundo, alguém podia ver e ele não queria ser visto. Ainda não .

----xxxx----

Alguém que não more em São Paulo pode achar absurdo ouvir que alguém
saiu do trabalho às cinco da tarde e só chegou em casa a uma da manhã por
causa de trânsito. Mas em São Paulo, isso faz sentido. Acontece de verdade.

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Foi o que aconteceu com ela. Estava cansada, mas a preocupação era tanta
que não teve paciência de esperar o elevador. Subiu até o quinto andar pelas
escadas, correndo.

Abriu a porta do apartamento esbaforida, ofegante. Olhou para a escuridão


que a recebeu com um certo alívio. Mas precisava ter certeza.

Acendeu a luz da sala e quase caiu dura quando o viu o rapaz sentado no
sofá, com um revólver nas mãos. Revólver que ela reconheceu
imediatamente como sendo do falecido pai.

O rapaz disparou. Com os olhos sensíveis pela súbita luminosidade, ele errou
o primeiro tiro. Mas o segundo e o terceiro foram certeiros.

Olívia jazia morta, caída sobre uma pilha de revistas de decoração, que ela
tanto adorava.

Osvaldo deixou-se cair no sofá. Estava cansado, mas estava livre.

Livre de uma prisão feita de amor e arame farpado.

----FIM----

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Sobre o Autor

Edson Tomaz da Silva nasceu em São Paulo, capital, em 26 de abril de 1971.


A paixão pelos gêneros de terror e suspense é antiga, mas o autor só
começou a publicar seus textos em 2009 no site Recanto das Letras”

Em 2010, criou o site Letras de Sangue, onde publica seus textos, na


companhia de outros escritores amadores, também apaixonados por terror e
suspense.

Para ajudar na divulgação do site, passou a publicar seus textos também no


Scribd, criando a Coleção Letras de Sangue.

Licenciamento da Obra

A presente obra encontra-se licenciada sob a licença Creative Commons


Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Para visualizar uma cópia
da licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/ ou mande
uma carta para: Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San
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