Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
° 11 • Dezembro 2009
Corpo Editorial Editor Chefe – José Manuel Schiappa, Editores – José Crespo Mendes de Almeida (Editor Científico), José Augusto
Gonçalves (Editor Técnico), Jorge Penedo (Editor de Supervisão), Amadeu Pimenta, Eduardo Xavier da Cunha (Editores Associados)
• Conselho Científico A. Silva Leal, Amadeu Pimenta (Presidente), António Marques da Costa, A. Araújo Teixeira, C. Alves Pereira,
Eduardo Barroso, F. Castro e Sousa, Fernando José Oliveira, Francisco Oliveira Martins, Jaime Celestino da Costa, João Gíria, João
Patrício, Jorge Girão, Jorge Santos Bessa, José Guimarães dos Santos, José Luís Ramos Dias, José M. Mendes de Almeida, Pedro Moniz
Pereira (Secretário Geral), Rodrigo Costa e Silva, Vítor Passos de Almeida • Edição e Propriedade Sociedade Portuguesa de Cirur-
gia – Rua Xavier Cordeiro, 30 – 1000-296 Lisboa, Tels.: 218 479 225/6, Fax: 218 479 227, spc@spcir.com, revistaspcir@gmail.com
Redacção e Publicidade SPOT Depósito Legal 255701/07 • Composição, impressão e acabamento G.C. – Gráfica de Coimbra, Lda.
Índice
EDITORIAL
O exercício da Medicina em geral e da Cirurgia em particular não convive bem com alterações estruturan-
tes múltiplas e inesperadas.
A realidade em que fomos educados e em que vivemos durante as últimas décadas, sem estar isenta de pon-
tos criticáveis susceptíveis de aperfeiçoamento, mantinha, apesar de tudo, um ambiente estruturado, hierarqui-
zado, responsável e fiável, tornando possível de um modo sereno, a actividade assistencial com uma integração
natural do ensino post-graduado.
As mudanças havidas nos últimos anos, alteraram por completo todo o edificio hospitalar , criando uma nova
realidade , que justifica a grande preocupação e a grande dúvida de saber para onde vamos.
Sem querer pôr em dúvida uma possível bondade nas intenções dos responsáveis, foram feitas nos Hospi-
tais alterações estruturais no âmbito da definição institucional, do financiamento, da gestão e das relações inter-
nas, que, por criarem novas preocupações, põem em causa, de um modo grave e preocupante, a acção médica
nas vertentes assistencial e de ensino post-graduado.
Foi descaracterizada toda uma organização, destruindo-se sistemas e práticas para os quais não foram defi-
nidos sistemas de substituição, criando instabilidade, e um evidente mau estar nos vários grupos profissionais.
Vemos com muita preocupação, temos de confessar, a alteração de todo o edifício que sustentava o sistema
durante décadas. A passagem a Hospitais S.A. e posteriormente a E.P.E. com todas as alterações de gestão que
acarretaram, o conceito de Hospitais-Empresa, a gestão empresarial dos Hospitais, a criação de sistemas de ava-
liação completamente desajustados e a implementação do controle de assiduidade por análise de impressões digi-
tais, a obsessão pela produção numérica sem uma forte preocupação pela qualidade, são tudo factores que teme-
mos irão contribuir a curto prazo para a degradação do sistema instalado e para uma inevitável perda de quali-
dade.
Paulo Fidalgo
8
(conservação+supressão = superação)1. A aniquilação tido se pode afinal dizer que o derrube da apoptose
que ameaça constantemente qualquer forma de orga- como o grande e derradeiro regulador contra a diver-
nização face à pressão dissolvente do meio, só poderá gência genética só acontecerá, de forma digamos obri-
ser evitada, e portanto conservada, se acontecer evolu- gatória, através da emergência da instabilidade genó-
ção e adaptação, é o que se pode dizer em termos sim- mica.
ples acerca do conceito de Hegel (Hegel GWF, 1816).
Para compreender melhor o papel da instabilidade
e tutelados pela concepção de Aufheben sabemos que, O PROBLEMA DA “EVOLUÇÃO AO ACASO”
no mundo das bactérias como na Escherichia coli, a
aptidão global de uma população depende do equilí- Para a grande maioria dos tumores do cólon e recto,
brio entre os efeitos positivos da variação mutacional o piparote inicial da transformação celular que está na
que promovem a selecção, em condições de constante origem dos adenomas, mesmo dos mais iniciais na
mudança das pressões do ambiente, e os efeitos dele- cripta displásica, consiste exactamente na perda de
térios das mutações que podem levá-la à extinção função do APC, conduzindo de tal forma ao tráfico
(Arjan JA, 1999). Daí a ideia confirmada em abun- abundante de β- catenina para o núcleo originando
dância de que mutações drásticas nas vias de instabili- capacidade proliferativa aumentada mas também as
dade nunca se podem tornar o tipo celular dominante outras características neoplásicas de transformação e
numa população porque os seus níveis excedem o escape à apoptose que levam à imortalização celular
limiar de viabilidade ao gerarem demasiadas mutações (Hanahan D, 2000)2.
deletérias. Num estudo sobre selecção de alelos vantajosos rea-
Se a instabilidade acrescida não é necessária nem lizado no IPO por Cristina Albuquerque (Albuquer-
objecto directo de selecção como explicar então o seu que C, 2002) apurámos como pode actuar a força de
elevado grau nos tumores? selecção nas linhagens celulares.
Para Walter Bodmer a resposta está seguramente no Para compreender o seu significado é talvez impor-
linkage entre reparação, instabilidade genómica e tante analisar-se o pressuposto da hipótese de Knudson
apoptose na medida em que a força motriz da selecção de onde o estudo partiu. Na interpretação clássica da
dirige-se ao escape à apoptose e a instabilidade é, neste teoria dos dois eventos – dos dois alelos nativos de um
caso e com toda a probabilidade, um ingrediente dado gene supressor tumoral – necessários para que
recrutado para promover esse escape. Tanto mais que ocorra a transformação celular, conhecida como hipó-
é, e isto não deixa de ter uma enorme importância, na tese de Knudson (Knudson AG, 1971) se bem que já
operação dos sistemas de reparação que estão inscritas antes formulada por Carl Nordling (Nordling C,
as poderosas vias de sinalização da apoptose sempre 1953), estabelecia-se que o segundo evento seria total-
que aquela falha. mente independente do primeiro, uma tese derivada
Explica-se assim, logicamente, o ponto de embate da noção de acaso no darwinismo. E à primeira vista
da força de selecção (Bodmer WF, 2008). Neste sen- o axioma parecia ajustar-se aos dados de observação.
____________________ O que se fez no estudo do IPO foi analisar as muta-
1 «Aufheben tem, na linguagem, o duplo sentido de que sig- ções pontuais somáticas e a perda de heterozigotia em
nifica tanto, como conservar, manter e, ao mesmo tempo, como
fazer cessar, pôr fim. O próprio conservar contém já em si o nega- ____________________
tivo, porque algo é tirado da sua imediatez e, portanto, de uma 2 Para Hanahan D (Hanahan D, 2000) serão seis as caracte-
existência aberta às acções exteriores, para ser mantido. Deste rísticas definidoras de um tumor: autosuficiência dos factores esti-
modo, o suprimido (das Aufgehobene) é algo de ao mesmo muladores do crescimento, escape à apoptose, insensibilidade aos
tempo conservado, que apenas perdeu a sua imediatez, mas que factores que contrariam o crescimento, angiogénese sustentada,
por esse facto não foi aniquilado.» invasão tecidular e metástases e potencial replicativo ilimitado.
Paulo Fidalgo
10
de acordo com uma ideia precursora do grande natu- cólica, que se torna difícil concebê-las como um alvo
ralista, figura do iluminismo e da Revolução Francesa, de noxas mutagénicas de origem exterior.
Jean-Batiste Lamarck (Lamarck JB, 1809), segundo a Adicionalmente, conhecem-se agora melhor as com-
qual transformar-se-iam em hereditários os caracteres plexas funções do gene APC (revistas em Fodde R,
adquiridos por pressão do meio, pelo uso ou habitua- 2007) e o efeito que a sua perda acarreta. Cabe-lhe
ção. desde logo a regulação do número de células progeni-
No caso por exemplo do cancro do cólon, o pendor toras na cripta e, logo que esse limiar é superado, per-
lamarckista influenciou fortemente a ciência ao longo tence-lhe o papel de interruptor na fissão da cripta
de décadas. É que o cancro do cólon e recto apresenta para originar uma nova cripta. Se acontecer perda de
tais correlações com variantes ecológicas que as ideias função ocorre sobrepovoamento de células progenito-
de susceptibilidade hereditária ou constitucional como ras e aumenta a fissão com natural tendência para for-
precursoras foram largamente ignoradas durante déca- mar agregados elevados na mucosa. Pertence-lhe igual-
das e só começam a fazer caminho nos anos 80 do mente comandar a divisão assimétrica o que gera ano-
século XX. A excepção resumia-se naturalmente à malias na atribuição de descendentes cometidas à dife-
raríssima entidade da PAFC – menos de 1% de todos renciação, em desfavor destas, sempre que é anulada a
os cancros do cólon. sua função. A perda de função do APC interfere ainda
Ao contrário de uma doença imanente, genética, o com o sentido ascencional da migração e com a adesi-
cancro do cólon foi variadas vezes olhado como uma vidade celular que permitem à célula deslizar para cima
intoxicação progressiva de noxas alimentares, ou de na cripta.
uma ecologia endoluminal perturbada que “irritaria” Como não se identificaram as noxas ambientais que
continuadamente o epitélio, de forma difusa, origi- fazem anular a função do gene APC fica de certo
nando processos reparativos e regenerativos eventual- modo em cheque a tese de um efeito plástico do
mente geradores de variação num “defeito de campo” ambiente, lesivo, endoluminal, e colocam-no pelo
fértil e amplamente estimulado. contrário fora da iniciação tumoral embora detenha
Os dados moleculares contrariam no entanto esta um papel certamente substancial na promoção e ace-
visão simples. leração do processo.
De facto, a crise da teoria da intoxicação como evo- Os dados da genética parecem portanto ajustar-se
cativa das ideias lamarckistas, resulta dos novos dados muito melhor a uma analogia darwinista, com muta-
da carcinogénese, em concreto: ausência de noxas génese intrínseca sujeita a selecção, do que à ideia
conhecidas que tenham por alvo o gene APC ; as célu- lamarckista.
las superficiais do epitélio cólico são terminalmente Um dado de relevo na dedução teórica que pode
diferenciadas e destituídas de capacidade proliferativa, conceder no entanto um novo fôlego ao lamarckismo
antes estão orientadas para a apoptose e a descamação, resulta do papel fulcral do gene APC na definição do
impedidas de transmitir portanto eventuais mutações eixo de desenvolvimento embrionário e da própria
adquiridas à sua descendência; o epitélio cólico mos- cripta (Shih IM, 2001; Ishikawa TO, 2003). Ora, o
tra ser constituído por uma estrita organização social, que se verifica é que a anulação mutacional do gene
hierárquica, onde só um número de duas a quatro APC inverte o eixo da morfogénese, um dado ainda
células progenitoras detém potencial de divisão assi- assim controverso (Preston SL, 2003), passando por-
métrica para dar origem a outra célula progenitora e ventura as células progenitoras para o lado luminal da
uma célula cometida à diferenciação. Ora, neste cripta e promovendo a migração descendente das célu-
último critério, residem as células progenitoras num las. A inversão do eixo é não só um mecanismo que
compartimento tão bem resguardado das influências expõe as células progenitoras à perigosa poluição endo-
perigosas da ecologia endo-luminal, no fundo da cripta luminal, mas que nos faz igualmente supor que se ori-
Paulo Fidalgo
12
A CRISE DO EVOLUCIONISMO Surgiram para além disso argumentos de ordem epi-
CELULAR SOMÁTICO demiológica e matemática que colocam o maior risco
de cancro do cólon e recto na 6ª e 7ª décadas de vida,
Pelo menos para a maior carga de tumores, tem sido com declínio posterior, o que faz pensar numa janela
vista a carcinogénese como evolucionismo somático temporal preferencial porventura destituída de corre-
que opera no organismo adulto, completamente lação linear com a idade (Frank SA, 2004).
desenvolvido, num processo essencialmente desligado Qual será o determinismo que supostamente con-
das condições de formação das células germinativas ou centrará o efeito da carcinogénese num dado período
da embriogénese. De acordo com Ana Soto, a teoria da vida?
somática das mutações prevaleceu nos últimos 50 Se o evolucionismo é uma acumulação de ajusta-
anos. Desta linha de pensamento emergiram aliás mais mentos seleccionados, onde, como foi aduzido ante-
de 100 oncogenes e 30 genes supressores tumorais riormente, não só há precedência de uns para com
conhecidos (Soto A, 2004). outros mas mesmo condicionamento do tipo de even-
Contudo, a teoria somática não tem conseguido tos subsequentes pelo carácter dos precedentes, pode-
descortinar como é possível conceber a mutação do remos então falar de relógio mutagénico para descre-
gene APC, isto no contexto do cancro do cólon e ver um dado processo. É o que nos podem dizer os
recto, nem em que circunstâncias ou momento poderá modelos matemáticos evolucionistas quando falam de
ela ocorrer. um intervalo de mais de vinte anos para um clone se
É este impasse que suscitou, para alguns, a repesca- formar com a perda por exemplo de um gene supres-
gem do estimulante argumento de Imrie Lakatos, um sor como o APC (Nowak M, 2004). Mesmo que os
filósofo e matemático discípulo de Gueorg Lukács e intervalos encurtem para os acontecimentos subse-
da escola de Budapeste (Lakatos I, 1973), quando ele quentes, 5 a 7 no total, não poderá a carcinogénese
expôs a tese de que aparece uma necessidade de colo-rectal deixar de se estender por décadas da vida
mudança de paradigma ou de teoria sempre que o do indivíduo, como um início deveras precoce.
anterior deixou de alimentar novas descobertas. Como o gene APC é fulcral no processo de desen-
Em sentido lato, se um dado paradigma deixou de volvimento e diferenciação embrionária do cólon, é
alimentar novas descobertas é porque deslizou da ciên- intuitivo pensar-se que o período de crescimento expo-
cia para a pseudo-ciência, mais propriamente para um nencial da massa de células progenitoras que caracte-
credo ou perconceito, um mal que estaria agora a man- riza este período, seja de algum modo o momento para
char a teoria da evolução puramente somática das célu- falhas críticas acontecerem na fidelidade de replicação
las. Quando assim sucede, surge então a pressão para do ADN (Frank SA, 2003). O que remeteria afinal o
se mudar de paradigma e se repor a ciência. início da carcinogénese no epitélio cólico para a fase
Ao situar a origem do cancro na célula progenitora embrionária de desenvolvimento, em contraste com a
(Virchow R, 1855, Paget S, 1889, Carney DN, 1982) visão prevalecente da carcinogénese como evolucio-
e ao conhecer-se a fundamental função do gene APC nismo substancialmente somático apenas.
na diferenciação embrionária, surgiram entretanto A hipótese do primeiro evento suceder muito pre-
argumentos que contrariam, ou pelo menos suscitam, cocemente obrigar-nos-ia a admitir que os organismos
hipóteses alternativas à evolução meramente somática. superiores tolerem de alguma maneira uma certa falta
Desde logo se verificou que as células progenitoras de unidade genética estrutural que se pressupunha e
estão geralmente em estado quiescente ou quando que apenas admitia variações no estado de activação
muito com lenta replicação na fase adulta da homoes- ou silenciamento dos genes por regulação epigenética
tasia tecidular (Lin EH, 2008), um contexto muito ou outra. Teríamos portanto de encarar que alguns de
pouco dado a mutações espontâneas. nós nos constituamos, desde o início do nosso desen-
CONCLUSÃO
Paulo Fidalgo
14
que ameaça a vida do organismo. Os dados apontam embrionário. Até pela analogia que os antigos sempre
para um processo intrínseco à célula progenitora, con- sublinharam entre cancro e a embriogénese, esta nova
dicionado fortemente contudo pelas forças de selec- visão coloca o início do processo não na fase de
ção, onde a pressão ambiental opera de forma bas- homeostasia do indivíduo adulto, mas vincula-o ao
tante estrita, apenas possibilitando um leque limitado formidável ciclo vital de compressão e descompressão
de possibilidades de evolução. Se bem que ainda em de informação genética que a vida sofre , desde a for-
fase bastante especulativa, os dados apontam para um mação das células germinativas até ao desenvolvi-
início bem precoce da carcinogénese colorectal, pos- mento embrionário e à formação de um organismo
sivelmente na fase exponencial do desenvolvimento adulto.
REFERÊNCIAS
Albuquerque C, Breukel C, Luijt R, Fidalgo P, Lage P, Slors FJM et al . The ‘just-right’ signaling model: APC somatic mutations are selec-
ted based on a specific level of activation of the b-catenin signaling cascade. Human Molecular Genetics 2002: 11; 1549–1560.
Arjan JA, de Visser GM, Zeyl CW, Gerrish PJ. Diminishing Returns from Mutation Supply Rate in Asexual Populations. Science 1999:
283; 404 – 6.
Barker N, Ridway RA, van Es JH et al. Crypt stem cells as the cells-of-origin of intestinal cancer. Nature 2009; 457: 608 – 11.
Beerenwinkel N, Antal T, Dingli D, Traulsen A, Kenneth W, Kinzler KW, Velculescu VE, Vogelstein B, Martin A. Nowak MA. Genetic
Progression and the Waiting Time to Cancer. PLoS Computational Biology 2007; 3: 2239 – 2246.
Bodmer WF, Bailey CJ, Bodmer J et al. Localization of the gene for familial adenomatous polyposis on chromosome 5. Nature 1987;
328: 614–616
Booth C and Potten CS. Gut instincts: thoughts on intestinal epithelial stem cells. The Journal of Clinical Investigation 2000; 105: 1493
– 9.
Boveri T. Zur Frage der Entstehung maligner Tumoren. 1914
Boveri T. Concerning the Origin of Malignant Tumours by Theodor Boveri. Translated and annotated by Henry Harris. Journal of Cell
Science 2008; 121: Supplement 1, 1-84.
Jeffrey L. Blanchard, Richard E. Lenski
Cairns, J. Mutation selection and the natural history of cancer. Nature 1975; 255: 197–200.
Carney DN, Gazdar AF, Bunn PA, Jr., et al: Demonstration of the stem cell nature of clonogenic tumor cells from lung cancer patients.
Stem Cells 1982; 1:149–164.
Cahill DP, Kinzler KW, Vogelstein B, Lengauer C. Genetic instability and darwinian selection in tumours. Trends in Cell Biology 1999:
9; m57 – m60
Crespi B, Summers K. Evolutionary Biology of Cancer. Trends in Ecology and Evolution 2005: 20; 545 – 52.
Crespo E. Ideias à Esquerda 2002
Darwin C. On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life 1859.
http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Origem_das_Esp%C3%A9cies
Esteller M. Molecular Origins of Cancer: Epigenetics in Cancer. N Engl J Med 2008;358:1148-59.
Fidalgo P, Spares J, Rosa I, Silva JP, Oliveira AG, Nobre-Leitão C. A parábola do destino na carcinogénese esporádica. GE - J Port Gas-
trenterol 2007, 14: 33-36
Filipe B, Albuquerque C, Bik E et al. APC Somatic Mosaicism in a Patient with Gardner Syndrome Carrying the E1573X Mutation:
Report of a Case. Dis Colon Rectum 2009; 52: 1516–1521.
Fisher RA. The Genetical Theory of Natural selection. 2nd ed. New York: Dover (1st Ed. Oxford Univ Press); 1930.
Fodde R, Kuipers J, Rosenberg C, Smits R, Kielman M, Gaspar C, et al. Mutations in the APC tumour suppressor gene cause chromo-
somal instability. Nat Cell Biol 2001: 3;433-8.
Fodde R and Brabletz T. Wnt/β-catenin signaling in cancer stemness and malignant behavior. Current Opinion in Cell Biology 2007;
19: 150-8.
Frank SA. Development predisposition to câncer. Nature 2003; 422: 494.
Paulo Fidalgo
16
ARTIGO DE OPINIÃO
ABSTRACT
For over a century, mechanical bowel preparation prior to elective colorectal surgery is a time – honored dogma. However, this
dogma is based on experience and observation only. Challenges of this dogma began when surgeon started performing primary repair
of colonic injury in trauma case with good results. This review aims to evaluate the evidence for and against the use of mechanical bowel
preparation in elective colorectal surgery. A literature search was done on Pubmed and Medline in recent 10 years, and emphasis was
put on randomized controlled trial and meta-analysis. It is concluded that there is no statistical evidence that patients significantly bene-
fit from mechanical bowel preparation. Thus the routine use of mechanical bowel preparation in elective colorectal surgery should be
reconsidered.
There are 7 meta-analysis studies identified in the lite- shown that when MBP is performed alone, the bacte-
rature assessing the role of MBP in preventing infec- rial load does not decrease significantly in the lumen
tive complications following colorectal surgery23-29 or in the bowel wall31-33. Mucosal-associated bacteria
(Table 2). Of these 7 studies, three confirmed a signi- are still found within the bowel wall with an increasing
ficantly higher anastomotic leakage rate after receiving gradient from the distal rectum to the proximal colon
MBP23-25. The other 4 more recent and larger scale after MBP34.
studies also reached the conclusion that MBP results in 2. The reduction in the risk of faecal spillage into
increased anatomotic leakage rate, but the difference is the operative field by MBP is questionable. Mahajna
not statistically significant26-29. Wound infection rate et al. reported a spillage rate of 17% in patients under-
is increased in patients receiving MBP but again the going colorectal surgery with MBP as compared to
difference did not reach statistical significance. 12% in patients without MBP group (p=0.21)35. Not
only MBP does not completely empty the bowel con-
tent, but the remaining liquid stool is also more diffi-
DISCUSSION cult to handle and might lead to an increased chance
of spillage during operation.
The existing evidence does not support the con- 3. Bowel cleansing alters the microcirculation in the
ventional wisdom that MBP helps decrease the bacte- bowel wall and leads to relative ischemia. The resul-
rial load and reduce faecal spillage into operative field, tant ischaemia might enhance the bacterial transloca-
thereby reducing septic complications. Investigators tion through the bowel wall and increase infective
have tried to explain why MBP could not reduce sep- complications36.
tic complications. There are several postulations: Different types of anastomosis exist in colorectal
1. MBP was introduced in parallel with prophylac- surgery, including ileo-colic, colo-colonic and colo-
tic antibiotics in the history of surgery. The interven- rectal anastomosis, with different risks of anastomotic
tion that affects changes in bacterial flora is the use of leakage. Majority of the studies mentioned above focu-
antibiotics, not the bowel preparation30. It has been sed on colo-colonic and colorectal anastomosis, and
REFERENCE
1. Glenn F, McSherry CK. Carcinoma of the distal large bowel: 32-year review of 1026 cases. Ann Surg 1966; 163:838-49
2. Nichols RL, Choe EU, Weldon CB. Mechanical and antibacterial bowel preparation in colon and rectal surgery. Chemothe-
rapy 2005; 51(Suppl 1):115–21
3. Oliveira L, Wexner SD, Daniel N, et al. Mechanical bowel preparation for elective colorectal surgery : a prospective randomi-
zed, surgeon-blinded trial comparing sodium phosphate and polyethylene glycol-based oral lavage solutions. Dis Colon Rec-
tum 1997; 40:585-91
4. Mathus-Vliegen EM, Kemble UM. A prospective randomized blinded comparison of sodium phosphate and polyethylene
glycol-electrolyte solution for safe bowel cleansing. Aliment Pharmacol Ther 2006; 23:543–52
5. Gonlusen G, Akgun H, Ertan A, Olivero J, Truong LD. Renal failure and nephrocalcinosis associated with oral sodium phos-
phate bowel cleansing: clinical patterns and renal biopsy findings.Arch Patho Lab Med 2006; 130:101–6
6. Ullah N, Yeh R, Ehrinpreis M. Fatal hyperphosphatemia from a phosphosoda bowel preparation. J Clin Gastroenterol 2002;
34:457–8
RESUMO
Introdução: A apendicite aguda continua a ser um dos principais diagnósticos nos Serviços de Cirurgia Pediátrica. A taxa de apen-
dicectomia negativa (apendicectomia sem evidência histológica de patologia), frequentemente utilizada como índice de qualidade hos-
pitalar, permanece alta, apesar dos esforços para a reduzir, especialmente em crianças com menos de 6 anos.
Objectivos: Os objectivos primários foram: o cálculo da taxa de apendicectomia negativa, da concordância entre diagnóstico clínico
(pós-operatório) e diagnóstico histológico e a caracterização da discordância diagnóstica por tipo de apendicite (fleimonosa, gangre-
nada, perfurada). A caracterização dos grupos apendicectomia negativa (A) e apendicites perfuradas (B), bem como a relação entre
estes dois grupos ao longo dos anos, constituíram objectivos secundários.
Material e Método: Estudo retrospectivo dos dados clínicos de 1000 doentes consecutivamente operados com o diagnóstico clínico
de apendicite aguda, no Hospital de Dona Estefânia, no período de 1 de Janeiro 2003 – 30 de Setembro 2007, procedendo-se à con-
sulta da folha de requisição de exame histo-patológico enviada para o Serviço de Anatomia Patológica. Foram revistos os dados epide-
miológicos, a qualidade da informação da referida folha de requisição e calculada a taxa de apendicectomia negativa nesta amostra.
Resultados: O diagnóstico clínico pós-operatório foi concordante com o diagnóstico histológico em cerca de 60% casos, sendo sub-
valorizado ou sobrevalorizado nos restantes casos. A taxa de apendicectomia negativa observada foi de 5,5%, o que está abaixo dos valo-
res apresentados na literatura.
Conclusões: As apendicectomias negativas devem ser um “mal menor” em relação às apendicites perfuradas. A discordância clínico-
histológica pode ter implicações médico-legais e tem seguramente implicações clínicas e económicas pelo que urge reavaliar o modelo
de abordagem desta patologia tão frequente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
MATERIAL E MÉTODO
A idade média do grupo de doentes estudados
Estudo retrospectivo de 1000 registos consecutivos de (n=1000) foi de 9 anos. Houve um predomínio do
apendicectomias não incidentais em idade pediátrica, no sexo masculino (61%) em relação ao feminino (39%)
período entre 1 de Janeiro 2003 e 30 de Setembro de (Quadro 1).
2007, baseado na consulta da folha de Requisição de A taxa de preenchimento da folha de registo (n = 1000)
Exame Anatomo-Patológico, e no resultado do res- foi de 33,2% para os dados clínicos, de 21,1% para os
pectivo exame. E.C.D. e de 85,1% para o diagnóstico macroscópico
O único critério de exclusão foi a apendicectomia pós-operatório. Este último dado limitou toda a análise
incidental. posterior, não permitindo uma comparação entre diag-
Obrigatoriamente, no final de cada cirurgia, os nóstico pós-operatório e histologia em 149 casos.
cirurgiões deviam classificar macroscopicamente as Assim, em 851 apendicectomias não incidentais rea-
apendicites como sendo negativas, fleimonosa, gan- lizadas, 11 foram classificadas como negativas (adenite
grenadas ou perfuradas. mesentérica e/ou outros diagnósticos), 39 como apen-
A classificação anatomo-patológica utilizada como dicites agudas (não classificadas), 434 como fleimo-
critério nestes casos foi a descrita por Rosai4. nosas, 144 como gangrenadas e 223 como perfuradas
(Quadro 3).
Embora o número de doentes com um diagnóstico
OBJECTIVOS pós-operatório tenha diminuído para 851, como a
metodologia de trabalho utilizada consistiu na revisão
Os objectivos primários por nós estipulados na pro- retrospectiva dos dados referentes a 1000 apendicec-
posta deste trabalho consistiam em avaliar: tomias consecutivas, o número de histologias corres-
Henriques J., Reimão C., Pereira S., Figueiredo B., Vital V.P., Casella P.
24
QUADRO 1
QUADRO 2
pondentes a este grupo de doentes continuou a ser (851/1000) com diagnósticos pós-operatórios clara-
1000 (Quadro 2). mente expressos nos impressos (Quadro 3).
Assim, em 1000 registos de exames anatomo-pato- Destes, 11 casos foram inicialmente excluídos pelos
lógicos de apendicectomias não incidentais consecuti- cirurgiões como sendo adenites mesentéricas, tendo a
vas, 55 apêndices estudados não apresentavam pato- histologia confirmado este diagnóstico, com ausência
logia - taxa de apendicectomia negativa - 5,5%. de patologia apendicular, em apenas 6 casos. Contudo,
Em 516 dos apêndices estudados, estes foram clas- os restantes 5 casos, classificados pelo cirurgião como
sificados como catarrais ou fleimonosos - 51,6% e não tendo patologia, apresentavam apendicites catar-
257 apêndices como gangrenados - 25,7%. Os apên- rais.
dices perfurados constituíram 17,2% do grupo estu- Assim, dos 840 casos restantes, com o diagnóstico
dado. pós-operatório de apendicite aguda (840/1000),
Para podermos estabelecer a concordância clínico- fomos analisar quantos diagnósticos histológicos de
histológica, considerámos apenas e só os 851 casos apendicite existiam. Tendo em conta que houve 55
Henriques J., Reimão C., Pereira S., Figueiredo B., Vital V.P., Casella P.
26
QUADRO 4
casos sem evidência histológica de patologia apendi- dância entre a classificação clínica pós-operatória e a
cular (55/1000), e que 5 destes já tinham sido correc- classificação histológica, mais uma vez subtraímos estes
tamente identificados como adenites, houve mais 50 39 casos, chegando ao valor de 751 doentes em que
doentes sem histologia compatível com apendicite. houve um diagnóstico pós-operatório de apendicite, e
Logo, para podermos comparar os dois universos, uma classificação clínica (pós-operatória) associada,
excluímos estes 50 casos aos 840 chegando assim ao com uma histologia compatível com apendicite.
valor de 790 (790/1000) casos em que houve um diag- Deste grupo de 751 apendicites agudas classificadas
nóstico pós-operatório de apendicite com uma histo- no pós-operatório pelos cirurgiões, o diagnóstico his-
logia compatível com apendicite. tológico só foi concordante em 472 casos, o que cor-
No entanto, como houve 39 casos em que o diag- responde a uma percentagem de concordância clínico-
nóstico pós-operatório indicado no impresso foi ape- histológica de 62,8% (472/751).
nas de “apendicite aguda”, sem uma classificação clí- No Quadro 4 é apresentada de forma gráfica a per-
nica associada, para podermos estabelecer a concor- centagem relativa de concordância clínico-histológica
QUADRO 6
Henriques J., Reimão C., Pereira S., Figueiredo B., Vital V.P., Casella P.
28
QUADRO 7
QUADRO 8
por tipo de apendicite, sendo a apendicite fleimonosa A subvalorização é ainda mais perigosa, promo-
aquela em que o diagnóstico é mais vezes concordante vendo o aparecimento potencial de complicações pós-
(70%), e, surpreendentemente, a perfurada, aquela em operatórias típicas do “sub-tratamento” da apendicite,
que o diagnóstico é menos vezes concordante (51%). como os reinternamentos e/ou reintervenções, com
Analisamos ainda a discordância clínico-histológica um aumento consequente da demora média de inter-
por tipo de apendicite (Quadro 5). Em 17,2% casos namento e da morbilidade.
(129 / 751) a apendicite aguda foi sobrevalorizada em Procedemos à análise dos 55 casos de apêndices sem
termos de classificação pelo cirurgião, sendo subvalo- evidência histológica de lesão (Grupo A) e avaliámos
rizada em 20% dos casos (150/751). quais os diagnósticos estabelecidos no pós-operatório
A sobrevalorização do diagnóstico clínico macros- pelo cirurgião. Concluímos que a maior parte das vezes
cópico, poderá implicar um aumento da demora (31/55) o cirurgião classifica o apêndice sem lesão his-
média de internamento e da antibioterapia, com todas tológica como apendicite fleimonosa (ou catarral), e
as suas consequências (iatrogenias) potencialmente apenas em cerca de 10% casos (5/55) o identifica cor-
nefastas, bem como custos acrescidos e desnecessários. rectamente como não apresentando lesão.
Henriques J., Reimão C., Pereira S., Figueiredo B., Vital V.P., Casella P.
30
Neste grupo predominou o sexo feminino (33/55) Database7. A maior revisão numa população adulta
em que a maior parte dos casos se encontra entre os 7 pertence a Flum, que apresenta uma taxa de 15,3%
e os 13 anos de idade. O número de casos de apendi- numa população de 261 134 apendicectomias não
cectomias negativas, após um período de relativa esta- incidentais no ano de 1997, nos E.U.A.8
bilidade entre 2004 e 2006, diminuiu consideravel- No entanto, verificamos que a taxa de apendicites
mente no ano de 2007. perfuradas (17,2%) tem vindo a aumentar na medida
No grupo das apendicites perfuradas (Grupo B), como inversa da taxa de apendicectomias negativas, embora
seria de esperar, a apendicite gangrenada lidera o grupo da mantendo-se abaixo dos valores médios de incidência
subvalorização (28 / 172). Por outro lado, constatamos 19 da perfuração descritos na literatura9.
apendicites classificadas como fleimonosas pelo cirurgião, No presente estudo, o diagnóstico clínico pós-ope-
que na realidade se encontravam perfuradas. ratório foi concordante com o diagnóstico histológico
Outro dado observado foi o predomínio do sexo em 62% dos casos, sendo subvalorizado em 20% ou
masculino (109/172) sobre o feminino, bem como a sobrevalorizado nos restantes 17%. dos casos. Curio-
distribuição dos casos por idades, revelando dois picos samente, à excepção do artigo de Geryk et al10, que
distintos, um abaixo dos 7 anos, e outro no grupo dos descreve uma concordância de 72.2%, não existem
11-14 anos. muitos artigos na literatura relativos à concordância
O número de casos de apendicites perfuradas por clínico-patológica na apendicite, pelo que é difícil afe-
ano, que revelava uma tendência para diminuir de rir da qualidade do nosso resultado.
2004 a 2006, voltou a ter um pico em 2007. Flores-Nava Gerardo et al11 realizaram recente-
Se compararmos a evolução destes dois últimos gru- mente um estudo semelhante, numa população de 311
pos A e B (apendicectomias negativas e apendicites crianças, e descrevem uma taxa de apendicectomias
perfuradas) ao longo dos últimos 5 anos, constatamos negativas de 0.9% com uma “boa” concordância clí-
que, aparentemente, têm mantido uma relação prati- nico-histológica. No entanto, neste grupo de doentes,
camente inversa (Quadro 8). a percentagem de apendicites perfuradas ultrapassava
os 45%, o que facilita o diagnóstico clínico e conse-
quentemente melhora a concordância.
DISCUSSÃO
Henriques J., Reimão C., Pereira S., Figueiredo B., Vital V.P., Casella P.
32
ARTIGO ORIGINAL
Pinto Costa B.1, Castro Sousa F.2, Serôdio M.3, Carvalho C.3
1 Assistente
Hospitalar do Serviço de Cirurgia III dos Hospitais da Universidade de Coimbra – E.P.E.;
Assistente Convidada da Clínica Universitária de Cirurgia III da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
2 Professor
Catedrático de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
e Director da Clínica Universitária de Cirurgia III; Director do Departamento de Cirurgia e do Serviço de Cirurgia III
dos Hospitais da Universidade de Coimbra – E.P.E.
3 Interno de Cirurgia Geral do Serviço de Cirurgia III dos Hospitais da Universidade de Coimbra – E.P.E.
RESUMO
Nos últimos anos, tem-se verificado uma considerável redução da mortalidade associada às ressecções hepáticas. Com o objectivo
de determinar os eventuais factores preditivos de mortalidade após ressecção hepática por hepatocarcinoma, realizou-se um estudo
retrospectivo de 69 casos operados entre 1990 e 2008. A idade média foi de 61,8 anos e 93% pertenciam ao sexo masculino; 73% asso-
ciavam doença hepática crónica. O Índice de Charlson e o M.E.L.D. médios foram de 4,5 e de 9,7, respectivamente. Cinquenta por
cento dos casos encontravam-se no estádio I da classificação T.N.M., 27% no II e 23% no III. Realizaram-se 33 ressecções major (48%)
e nove iterativas (13%). A mortalidade e a morbilidade operatórias foram de 7,2% e 47,8%, respectivamente. Na análise univariada,
a mortalidade relacionou-se com a idade (72,6±6,9 vs 60,9±10,9; p=0,022), o Índice de Béclére e as classificações T.N.M. e Okuda. As
restantes variáveis estudadas não se revelaram estatisticamente significativas, incluindo o Índice de Charlson, o M.E.L.D., a fibrose hepá-
tica e a esteatose, o tipo de intervenção (major ou minor, iterativa ou primária), as transfusões e a clampagem pedicular, entre outros.
A idade superior ou igual a 70 anos (27,5%) associou-se a maior mortalidade (21,1 vs 2%; p=0,006; odds ratio=10,5; acuidade=77%)
e revelou-se o único factor prognóstico independente na análise multivariada. A probabilidade de morte aumentou de acordo com a
idade entre 0,05% (≤ 50 anos), 2,9% (51-69 anos) e 20,2% (≥ 70 anos). Esta série sugere que a idade constitui um factor relevante na
avaliação pré-operatória dos candidatos a ressecção hepática por hepatocarcinoma.
ABSTRACT
Recently, mortality associated with hepatic resection suffered a considerably reduction. To determine the prognostic factors of mor-
tality after hepatic resection for hepatocellular carcinoma, a retrospective study of 69 cases operated between 1990 and 2008 was under-
Abreviaturas: A.S.A.: “American Society of Anaesthesiology”; I.C.D.-9: “International Classification of Diseases - 9th Revision
Code”; T.N.M.: “Tumor Node Metastasis”; AST: Aspartato aminotransferase; ALT: Alanina aminotransferase; R.O.C.: “Receiver ope-
rating characteristic curve”; aaR.O.C.: área abaixo da “receiver operating characteristic curve”; IC 95%: Intervalos de confiança 95%;
Exp(B): Coeficiente β; SD: Desvio padrão; n.s.: estatisticamente não significativo.
INTRODUÇÃO OBJECTIVOS
O hepatocarcinoma constitui a terceira maior causa Com o objectivo de determinar os eventuais facto-
de morte de etiologia neoplásica e o quinto tumor res preditivos de mortalidade operatória após ressec-
maligno mais frequente no mundo1. Apesar dos recen- ção hepática por hepatocarcinoma, realizou-se um
tes progressos no tratamento multidisciplinar, a res- estudo retrospectivo de 69 casos operados, no nosso
secção cirúrgica constitui a melhor opção terapêutica serviço, entre 1990 e 2008.
para numerosos doentes cujos tumores excedem os cri-
térios utilizados consensualmente, na actualidade, para
definir a quais deve ser proposta uma transplantação MATERIAL E MÉTODOS
hepática1,2. Nas últimas décadas, tem-se verificado
uma redução significativa da mortalidade associada à Através do registo informático hospitalar, baseado
ressecção hepática nos centros especializados3,4,5,6. No no I.C.D.-9 (“International Classification of Diseases,
entanto, apesar da criteriosa selecção dos doentes e dos 9th Revision Code”), foram identificados os doentes
aperfeiçoamentos da técnica cirúrgica, a exérese hepá- submetidos a ressecção hepática por hepatocarcinoma,
tica por hepatocarcinoma é, ainda, uma intervenção no Serviço de Cirurgia III dos Hospitais da Universi-
tecnicamente exigente (especialmente no doente cir- dade de Coimbra, entre 1990 e 2008.
rótico), cujas principais complicações incluem a insu- O diagnóstico pré-operatório baseou-se nos crité-
ficiência hepática, a hemorragia e a lesão biliar (fístula rios recomendados pela Associação Europeia para o
e/ou obstrução). Neste contexto, uma adequada ava- Estudo do Fígado7 e no estadiamento foram utiliza-
liação pré-operatória é fundamental na minimização das as classificações T.N.M. (“Tumor Node Metasta-
do risco cirúrgico, devendo incluir o estudo da pato- sis”) modificada8 e B.C.L.C. (“Barcelona Clinic Liver
logia associada e da “performance” do paciente, a deter- Cancer”)9; os exames imagiológicos mais frequente-
minação da reserva funcional hepática e o estadia- mente realizados foram a ecografia, a tomografia com-
mento da neoplasia. putorizada e a ressonância magnética. O estudo pré-
n (%) n (%)
crónica, 90% pertenciam à classe A da classificação de por abordagem laparoscópica (Quadro II). Em 29%
Child-Turcotte-Pugh e o M.E.L.D. médio foi de 9,7 dos casos efectuaram-se outros gestos cirúrgicos. No
(superior ou igual a onze em 27% dos casos e não estudo histológico das peças operatórias, verificou-se
superior a oito em 31%). Oitenta e três por cento dos invasão microvascular em 45% dos casos e invasão das
tumores eram solitários, 78% unilobares e 50% ultra- margens de ressecção em 10%. Relativamente ao grau
passavam os cinco centímetros de diâmetro [valor de diferenciação segundo a classificação de Edmond-
médio de 6,5±4,5 (1,6-22)]. Cinquenta por cento dos son e Steiner, 30% dos hepatocarcinomas enquadra-
casos encontravam-se no estádio I da classificação vam-se no grau III, 42% no Grau II e apenas 28% no
T.N.M. modificada, 27% no II, 22% no IIIA e 1% Grau I. A presença de fibrose e esteatose objectivou-
no IIIB; 52% excediam os critérios de Milão e 40% se em 80% dos casos (16% F1, 6% F2, 7% F3 e 51%
os da Universidade de São Francisco. Onze doentes F4) e 45% (ligeira em 41% e moderada em 4%; pre-
(16%) foram submetidos a quimio-embolização tran- dominantemente macrovesicular na maioria), respec-
sarterial pré-operatória. Realizaram-se trinta e três tivamente. A mortalidade operatória foi de 7,2% (três
(48%) ressecções major, nove (13%) iterativas e duas casos por insuficiência hepática e os restantes por coa-
n (%)
Mortalidade 5 7
Insuficiência hepática 3
Coagulação intra-vascular disseminada 1
Insuficiência cardíaca 1
Morbilidade 33 48
Derrame pleural 12
Fístula biliar 6
Infecção da ferida operatória 6
Infecção de órgão/espaço 3
Hemoperitoneu 2
Evisceração 1
Suboclusão 1
Pancreatite aguda 1
Atelectasia pulmonar 1
Mortalidade p
tiva a Plaquetas G/L (³225=0; 200-224=1; 175-199=2; 150-174=3; 125- rose alcoólica, baseado na idade, bilirrubinémia,
149=4; <125=5) e Idade (<30 anos=0; 30-39=1; 40-49=2; 50-59=3; 60- albuminémia e eventual presença e gravidade da
69=4; ³ 70=5) (Poynard T et al; J Viral Hepat 1997).
8 Índice G.U.C.I. (“Göteborg University Cirrhosis Index”)=AST nor- encefalopatia, relacionou-se significativamente com
malizada x I.N.R. x 100 / Plaquetas G/L (Islam S et al; Scand J Gas- a mortalidade na análise univariável (traduzindo pro-
troenterol 2005). vavelmente a influência da idade, uma vez que os
outros factores não foram significativos; dados não
apresentados), mas não constituiu uma variável com
valor prognóstico independente no estudo multifac-
(23% no Estádio III da classificação T.N.M. e 45% torial. Os estadiamentos T.N.M. e Okuda mais avan-
com invasão microvascular). Quarenta e oito por cento çados associaram-se a uma mortalidade mais elevada,
das ressecções foram major e 13% iterativas. possivelmente por implicarem procedimentos de
A taxa de mortalidade (7%) foi análoga à descrita maior magnitude. A mortalidade foi mais elevada
na literatura (4,7%, variando entre 0 e 21,1%)3,38,39, após ressecções “major” (9,1 versus 5,6%; n.s.),
tendo sido condicionada por insuficiência hepática40 embora não significativamente.
na maioria dos casos (60%). A este propósito é inte- Relativamente aos factores per-operatórios, o carác-
1. Lau WY, Lai ECH: Hepatocellular carcinoma: current management and recent advances. Hepatobiliary Pancreat Dis Int
2008; 7:237-57
2. Bruix J; Sherman M: Management of hepatocellular carcinoma. Hepatology 2005; 42:1208-36
3. Capussotti L, Viganò L, Giuliante F, Ferrero A, Giovannini I, Nuzzo G: Liver dysfunction and sepsis determine operative
mortality after liver resection. Br J Surg 2008; 96:88-94
4. McCormack L, Petrowsky H, Jochum W, Furrer K, Clavien P: Hepatic steatosis is a risk factor for postoperative complica-
tions after major hepatectomy – A matched case-control study. Ann Surg 2007; 245:923-30
5. Dimick JB, Wainess RM, Cowan JA, Upchurch GR Jr, Knol JA, Colletti LM: National trends in the use and outcomes of
hepatic resection. J Am Coll Surg 2004; 199:31-8
6. Imamura H, Seyama Y, Kokudo N, Maema A, Sugawara Y, Sano K, et al: One thousand fifty-six hepatectomies without mor-
tality in 8 years. Arch Surg. 2003;138:1198-206
7. Bruix J, Sherman M, Llovet JM, Beaugrand M, Lencioni R, Burroughs AK et al: Clinical management of hepatocellular car-
cinoma: conclusions of the Barcelona 2000 E.A.S.L. Conference. European Association for the Study of the Liver. J Hepatol
2001; 35:421-30
8. Vauthey JN, Lauwers GY, Esnaola NF, Do KA, Belghiti J, Mirza N et al: Simplified staging for hepatocellular carcinoma. J
Clin Oncol 2002; 20:1527-36
9. Llovet JM, Bru C, Bruix J: Prognosis of hepatocellular carcinoma: the B.C.L.C. staging classification. Semin Liver Dis 1999;
19:329-38
10. Pugh RN, Murray-Lyon IM, Dawson JL, Pietroni MC, Williams R: Transection of the oesophagus for bleeding oesophageal
varices. Br J Surg 1973; 60:646-9
11. Freeman RB: MELD: the holy grail of organ allocation? J Hepato 2005: 42:16-20
12. Malinchoc M, Kamath PS, Gordon FD, Peine CJ, Rank J, ter Borg PC: A model to predict poor survival in patients under-
going transjugular intrahepatic portosystemic shunts. Hepatology 2000; 31:864-71
13. Wai CT, Greenson JK, Fontana RJ, Kalbfleisch JD, Marrero JA, Conjeevaram HS, Lok AS: A simple noninvasive index can
predict both significant fibrosis and cirrhosis in patients with chronic hepatitis C. Hepatology 2003; 38:518-26
14. Ichikawa T, Uenishi T, Takemura S, Oba K, Ogawa M, Kodai S, et al: A simple, noninvasively determined index predicting
hepatic failure following liver resection for hepatocellular carcinoma. J Hepatobiliary Pancreat Surg 2009;16:42-8
15. Mazzaferro V, Regalia E, Doci R, Andreola S, Pulvirenti A, Bozzetti F, et al: Liver transplantation for the treatment of small
hepatocellular carcinomas in patients with cirrhosis. N Engl J Med 1996; 334:693-9
16. Ferenci P, Lockwood A, Mullen K, Tarter R, Weissenborn K, Blei AT and Members of the Working Party: Hepatic encephalopa-
thy - definition, nomenclature, diagnosis, and quantification: final report of the working party at the 11th World Congress of
Gastroenterology, Vienna, 1998: Hepatology 2002; 35:716-21
17. ASA Physical Status Classification System. [American Society of Anaesthesiologists website]: www.asahq.org/clinical/physical
status.htm.2008. Accessed in February 28th, 2008.
18. Lorimer JW, Doumit G: Comorbidity is a major determinant of severity in acute diverticulitis. Am J Surg 2007; 193:681-5
19. Charlson ME, Szatrowski TP, Peterson J, Gold J: Validation of a combined comorbidity index. J Clin Epidemiol 1994;
47:1245-51
20. Luca A, Angermayr B, Bertolini G, Koening F, Vizzini G, Ploner M, et al.: An integrated Meld Model including serum sodium
and age improves the prediction of early mortality in patients with cirrhosis. Liver Transp 2007; 13:1174-80
21. Huo T, Lin H, Huo SC, Lee P, Wu J, Lee F, et al: Comparison of four model for end-stage liver disease-based prognostic sys-
tems for cirrhosis. Liver Transpl 2008; 14:837-44
22. Poynard T, Naveau S, Doffoel M, Boudjema K, Vanlemmens C, Mantion G et al: Evaluation of efficacy of liver transplanta-
tion in alcoholic cirrhosis using matched and simulated controls: 5-year survival. J Hepatol 1999; 30:1130-7
23. Pohl A, Behling C, Oliver D, Kilani M, Monson P, Hassanein T: Serum aminotransferase levels and platelet counts as predictors
of degree of fibrosis in chronic hepatitis C virus infection. Am J Gastroenterol 2001; 96:3142-6
24. Bonacini M, Hadi G, Govindarajan S, Lindsay KL: Utility of a discriminant score for diagnosing advanced fibrosis or cirrhosis
in patients with chronic hepatitis C virus infection. Am J Gastroenterol 1997; 92:1302-04
25. Williams AL, Hoofnagle JH: Ratio of serum aspartato to alanine aminotransferase in chronic hepatitis: relationship to cirrhosis.
Gastroenterology 1988; 95:734-9
26. Poynard T, Bedossa P, METAVIR and CLINIVIR cooperative study groups. Age and platelet count count: a simple index for
predicting the presence of histological lesions in patients with antibodies to hepatitis C virus. J Viral Hepat 1997; 4:199-208
1 – Todos os doentes efectuaram ecografia abdominal (quase sistematicamente sem contraste), exame que na maioria dos casos per-
mitiu a detecção do nódulo (no contexto de vigilância periódica por doença hepática crónica, incidentalmente ou na sequência de sin-
tomatologia abdominal). Para diagnóstico e estadiamento, todos os doentes foram submetidos a TC e/ou RM abdominal. Privilegiou-
se a TC de alta resolução, multicorte e com contraste (com imagens em fase pré-contraste, arterial, portal e tardia) e a RM com gado-
líneo (associando-se esta a ligeira melhoria da acuidade na detecção de hepatocarcinomas entre 1 e 2 cm relativamente à TC). Para o
dinagnóstico foram adoptados os critérios propostos pela Associação Europeia para o Estudo do Fígado, considerando-se muito espe-
cíficos de hepatocarcinoma a hipervascularização/realce arterial e o “washout” em fase venosa nos exames imagiológicos dinâmicos.
Salienta-se, no entanto, que a presente série se refere a um período temporal longo (1990-2008) com reflexo nos recursos imagiológi-
cos disponíveis.
2 – Actualmente são considerados elegíveis para ressecção hepática os hepatocarcinomas anatomicamente ressecáveis, em doentes
com adequada reserva funcional, sem evidências clínicas ou imagiológicas de metástases extra-hepáticas ou invasão macrovascular e sem
indicação para transplante hepático, nomeadamente por excederem os critérios, consensuais, de Milão. No entanto, esta série decor-
reu num longo período de tempo (1990-2008), durante o qual as indicações para transplante evoluíram; em particular, os critérios de
Milão foram propostos apenas em 1996 por V. Mazzaferro. Na realidade, 33 (48%) dos doentes da presente série preenchiam os cri-
térios de Milão; destes alguns foram operados antes de 1996, outros apresentaram idade superior a 70 anos e outros, ainda, recusaram
a perspectiva de transplante hepático.
3 – Ressecções iterativas” referem-se, neste trabalho, a ressecções de recorrências intra-hepáticas de hepatocarcinoma e não a res-
secções programadas “em dois tempos”.
Correspondência
BEATRIZ PINTO DA COSTA
Clínica Universitária de Cirurgia III
Hospitais da Universidade de Coimbra
Praceta Prof. Mota Pinto
3000-075 Coimbra
Telefone: 239400417
Fax: 239402111
beatrizpcosta@huc.min-saude.pt
Nuno Carvalho1, Helena Vidal 2, Rui Lebre3, Victor Fernandes4, Maria José Brito5, João Gíria6
1Assistente Hospitalar de Cirurgia Geral, 2Assistente Graduada de Imagiologia, 3Consultor de Cirurgia Geral,
4Assistente Hospitalar de Gastroenterologia, 5Chefe de Serviço de Anatomia Patológica – Directora de Serviço
de Anatomia Patológica, 6Chefe de Serviço de Cirurgia Geral – Director de Serviço de Cirurgia Geral.
RESUMO
Os autores descrevem o quadro clínico de mulher de 42 anos de idade com dor na região sagrada com anos de evolução. A obser-
vação clínica e exames de imagem, Ecografia Endoanal, Tomografia Computorizada e Ressonância Magnética Nuclear, revelaram lesão
quística de localização retrorectal. Procedeu-se a excisão da lesão por abordagem de Kraske. A histologia revelou quisto do intestino cau-
dal. Procede-se a revisão da literatura.
Palavras chave: quisto intestino caudal; hamartoma quístico retro-rectal; quisto pré-sagrado; quisto retro-rectal; espaço pré-sagrado
SUMMARY
The authors describe the case of a 42-year-old-woman with sacral pain for several years. Clinical evaluation, endoanal ultrasound,
Computer Tomography and Magnetic Resonance Imaging demonstrated a retro rectal cystic lesion. A Kraske approach was used for
excision. Pathology showed a tail gut cyst. A review of the literature is presented.
Keywords: tailgut cyst; retrorectal cystic hamartoma; presacral cyst; rectrorectal cyst; presacral space
Nuno Carvalho, Helena Vidal, Rui Lebre, Victor Fernandes, Maria José Brito, João Gíria
46
Quando infectado, é frequentemente mal diagnos-
ticado como sinus pilonidalis, fistula ano-rectal ou
abcesso recorrente retro-rectal (9).
A dimensão do quisto é variável desde os 2 aos 12
centímetros de diâmetro. São moles, bem delimitados,
com conteúdo variável, desde aquoso ao mucóide
espesso (2).
O exame de imagem por norma revela formação
quística multiloculada no espaço pré-sagrado (6,7).
Na nossa doente a EEA demonstrou formação uni-
loculada, ao contrário da RMN e TC, que demons-
traram a natureza multilocular da lesão confirmada
pela histologia.
O diagnóstico diferencial de lesões quísticas retro-
rectais está mais dependente do exame de imagem do
Fig. 3 – Diagrama do embrião aos 38 dias que da clínica ou da biópsia (8).
A clínica é inespecífica e não permite o diagnóstico.
A presença de deformação pós anal em forma de
funil, característica deste tipo de tumores não foi evi-
(4). Nesta localização, no decurso da embriogénese, dente no caso actual.
desenvolvem-se múltiplos sistemas de órgãos, como o Na presença de lesão quistica não deve ser efectuada
tracto gastrointestinal, urinário, esquelético, vascular, biópsia, pelo risco de 1) disseminação, se neoplásica: 2)
linfático e tubo neural (4). risco de infecção, com formação de abcesso ou fístula;
Tumores, quistos e fístulas podem ter origem em 3) risco de meningite, se meningocelo; 4) com fre-
vestígios caudais (4). quência contém apenas tecido fibrótico sem epitélio,
O embrião entre o 28 e 35º dia apresenta uma ver- ou apenas com um tipo de epitélio, o que dificulta o
dadeira cauda, que irá atrofiar pela 8ª semana. A per- diagnóstico (9, 10). A melhor biópsia é a excisão.
sistência da cauda poderá originar os quistos do intes- No espaço retro-rectal ocorre uma grande variedade
tino distal (2). de lesões neoplásicas e não-neoplásicas. Os teratomas
O canal neurentérico, que estabelece a conexão são as lesões mais frequentes nas crianças, enquanto
entre o âmnios e o saco vitelino é outra estrutura no adulto as lesões mais frequentes são o cordoma e
embrionária que poderá estar na origem dos quistos os quistos de desenvolvimento (9).
do intestino caudal. Em condiçõeos normais persiste O cordoma é um tumor de baixo grau de maligni-
por apenas alguns dias, e vai obliterar-se quando o dade, com origem no notocórdio fetal. Destrói os teci-
notocórdio é formado. A persistência do canal neu- dos adjacentes, causando sintomas. A presença de
rentérico pode originar quistos caudais (Fig.3) (13). massa lobulada com septos e rarefacção, destruição,
Em 50 % dos casos o quisto é assintomático e é um trabeculação e calcificação ósseas, são características
achado incidental em exame físico de rotina ou exame deste tumor (11).
de imagem por outro motivo. Pode tornar-se sinto- A doente apresentava dor mantida que se agravava
mático pelo efeito de massa nos órgãos adjacentes com a posição de sentada, o que é característico dos
(polaquiúria, disúria, dor à defecação, sensação de cordomas, mas os exames de imagem permitiram
preenchimento rectal, obstipação) ou por infecção, excluir este diagnóstico.
com formação de abcesso ou fistula (3). O diagnóstico diferencial com meningocelo é fun-
Nuno Carvalho, Helena Vidal, Rui Lebre, Victor Fernandes, Maria José Brito, João Gíria
48
BIBLIOGRAFIA
1. Jang SH, Jang KS, Song YS, Min KW, Han HX, Lee KG, Paik SS. Unusual prerectal location of a tailgut cyst: A case report
. World J Gastroenterology 2006 August 21; 12 (31): 5081-5083.
2. Sriganeshan V, Alexis JB. A 37-year-old-woman with a presacral mass. Arch Pathol Lab Med- Vol 130, May 2006: e77-78
3. Menassa-Moussa L, Kanso H, Checrallah A, Abboud J, Ghossain M. CT and MR findings of a retrorectal cystic hamartoma
confused with an adnexal mass on ultrasound. Eur Radiol (2005) 15: 263-266
4. Caropreso PR, Wengert PA, Milford HE. Tailgut cyst - a rare retrorectal tumor: Report of a case and review. Dis. Col. Rect.
October 1975, Vol 18, Number 7: 597- 600
5. Piura B, Rabinovich A, Sinelnikov I. Tailgut cyst initially misdiagnosed as ovarian tumor. Arch Gynecol Obstet (2005) 272:
301-303
6. Yang DM, Park CH, Jin W, Chang SK, Kim JE, Choi SJ, Jung DH. Tailgut cyst: MRI evaluation. AJR: 184, May 2005:
1519-1523
7. Dahan H, Arrivé L, Wendum D, Pointe HD, Djouhri H, Tubiana JM. Retrorectal developmental cyst in adults: Clinical and
radiologic-histopathologic review, differential diagnosis, and treatment. Radiographics 2001; 21: 575-584
8. Erden A, Ustuner E, Erden I, Kuzu MA, Heper AO. Retrorectal dermoid cyst in a male adult: a case report. Abdom Imaging
28: 725-727 (2003)
9. Prasad AR, Amin MB, Randolph TL, Lee CS, Ma CK. Retrorectal cystic hamartoma - report of 5 cases with malignancy ari-
sing in 2. Arch Pathol Lab Med-Vol 124, May 2000: 725-729
10. Flint R, Strang J, Bisset I, Clark M, Neill M, Parry B. Rectal duplication cyst presenting as perianal sepsis: Report of two cases
and review of the literature. Dis Colon Rectum 2004; 47: 2208-2210
11. Jao SW, Beart RW, Spencer RJ, Reiman HM, Ilstrup DM. Retrorectal tumors-Mayo Clinic experience, 1960-1979. Dis Col.
Rectum, September 1985, Vol 28, Number 9: 644-652
12. Puccio F, Solazzo M, Marciano P, Fadani R, Regina P, Benzi F. Primary retrorectal adenocarcinoma: report of a case. Tech
Coloproctol (2003) 7: 55-57
13. Hjermstad BM, Helwing EB. Tailgut Cysts. Report of 53 cases. Am J Clin Pathol 1988; 89: 139-47
Correspondência:
nunomdc@sapo.pt
Os editores da Revista Portuguesa de Cirurgia querem agradecer aos colegas que deram tanto do seu trabalho e tempo
para efectuarem as Revisões dos trabalhos para publicação.
Não o fazemos de forma individualizada uma vez que este trabalho – fundamental para a manutenção de um nível
científico elevado – é “anónimo” , no que se refere à ligação entre Revisor e artigo.
A todos aqueles que esforçadamente colaboraram connosco em 2009, o nosso Muito Obrigado.
José Luís Costa Guedes da Silva Prof. Dr.Silvestre Profírio Ramos Carneiro
José Luís Fougo Vitor Farrincha
Agradecimento
50
CASO CLÍNICO
Paulo Simões1, Luísa Martinez2, Paula Campos3, Rui Teles4, Humberto Messias5
1AssistenteHospitalar Graduado de Cirurgia Geral do Hospital de Santa Cruz – Serviço de Cirurgia Geral – Centro Hospitalar
Lisboa Ocidental (CHLO); 2Interno do Internato Complementar de Cirurgia Geral do Hospital de Santa Cruz – Serviço de
Cirurgia Geral – CHLO; 3Assistente Hospitalar Graduada de Radiologia do Hospital de Santa Maria – Serviço de Radiologia
– Centro Hospitalar Lisboa Norte; 4Assistente de Cardiologia do Hospital de Santa Cruz – Serviço de Cardiologia – CHLO;
5Chefe de Serviço de Cirurgia Geral – Serviço de Cirurgia Geral – Director do Departamento de Cirurgia do CHLO
RESUMO
A Isquemia Mesentérica Aguda (IMA) é uma situação clínica rara, de elevada mortalidade. Como regra geral, o diagnóstico precoce
e a imediata revasculização do território isquémico é crucial, pois permite evitar a gangrena intestinal e a elevada mortalidade associada.
Os autores descrevem um caso de isquemia mesentérica aguda tromboembólica, sem gangrena intestinal, de diagnóstico clínico tardio,
que foi tratado com sucesso por via percutânea endovascular. O doente ficou assintomático imediatamente após o procedimento, sem
necessidade de abordagem cirúrgica.
Palavras chave: Isquemia mesentérica aguda, tromboembolia, angina intestinal, cateterismo selectivo da artéria mesentérica, angio-
plastia percutânea endovascular
ABSTRACT
Acute mesenteric ischemia (IMA) is an infrequent clinical situation with high mortality. As general rule, early diagnosis and prompt
revascularization are crucial in order to prevent intestinal infarction and reduce mortality.
We report a case of thromboembolic acute mesenteric ischemia of delayed clinical diagnosis, without intestinal infarction, succes-
sively treated by endovascular percutaneous angioplasty. The abdominal symptoms subsided immediately after this procedure, thus avoi-
ding the need for surgical bowel resection.
Key words: Acute mesenteric ischemia, thromboembolic occlusion, intestinal angina, percutaneous transluminal angioplasty,
superior mesenteric artery
CASO CLÍNICO
Paulo Simões, Luísa Martinez, Paula Campos, Rui Teles, Humberto Messias
52
À entrada a doente apresentava-se assintomática,
referenciando-se na sua história pregressa a FA paro-
xística com uma evolução de 3 a 4 anos, carcinoma da
mama tratado 22 anos antes com tumorectomia e
radioterapia, clinicamente controlado, HTA, dislipi-
démia e sindroma depressivo medicados, esofagite e
gastrite H.pylorii negativas, fazendo ocasionalmente
inibidor da bomba de protões. Negava queixas ante-
riores de dores abdominais pós-prandiais, enfarta-
mento, náuseas, vómitos, hematemeses, melenas, diar-
reia ou emagrecimento.
A observação clínica era negativa, nomeadamente a
nível abdominal.
Admitiu-se como hipótese diagnóstica uma prová-
vel embolia aguda da artéria mesentérica superior
(AMS) associada ao episódio de taquidisritmia condi-
cionando, por permeabilidade do tronco celíaco e da
Fig.2 – Cateterismo selectivo da artéria mesentérica superior - Oclusão
artéria mesentérica inferior, um quadro típico de trombo-embólica do terço proximal da AMS.
angina intestinal.
Após discussão do caso com a Cardiologia de Inter-
venção, foi colocada a indicação para cateterismo selec-
tivo da artéria mesentérica superior, que demonstrou
a oclusão trombo-embólica do terço proximal da AMS
com preenchimento retrógrado de ramos distais (íleo-
cólica) (Fig.2). Foi efectuada angioplastia mesentérica
com trombectomia por dispositivo de aspiração de
trombos (Pronto®) e cateter JR 4F por técnica teles-
cópica, e dilatação com balões de 2 e 3 mm (a 12
ATMs) do terço médio e distal. Com estas manobras
obteve-se franca melhoria da circulação colateral,
incluindo as arcadas para-cólicas, apesar da persistên-
cia da oclusão distal da AMS (Fig.3). A doente foi
medicada com heparina standard endovenosa, poste-
riormente convertida para varfarina, tendo feito ainda
durante o internamento ecocardiograma para exclusão
de vegetações ou trombos cardíacos, que foi negativo.
Fig. 3 – Angioplastia mesentérica com trombectomia e dilatação com
Teve alta ao 5º dia pós-cateterismo, com valores de balões – Melhoria da circulação colateral, incluindo as arcadas para-
INR > 2,5, apresentando-se assintomática desde a cólicas, com persistência da oclusão distal da AMS.
angioplastia de balão, tolerando a dieta e com trânsito
intestinal mantido. ateroma mole adjacente ao ostium de um ramo distal
Efectuou angio-TAC aos 3 meses do procedimento, da referida artéria (Fig.4).
para controle da situação, que demonstrou repermea- Aos 48 meses após a repermeabilização da AMS a
bilização total da AMS, apresentando apenas placa de situação clínica é sobreponível, sem queixas de novo.
Paulo Simões, Luísa Martinez, Paula Campos, Rui Teles, Humberto Messias
54
dia após o cateterismo permitiu introduzir a varfarina demonstrado ser uma alternativa eficaz e segura à
e a evolução favorável condicionou a orientação clí- cirurgia na isquémia mesentérica aguda, embora o
nica e o seguimento da doente. número de casos relatados pelos diversos autores seja
pequeno. Deve ser considerada se o diagnóstico é feito
CONCLUSÕES precocemente, quando não existem sinais de abdómen
agudo e existem condições técnicas e humanas para a
A revascularização por abordagem percutânea tem sua realização.
BIBLIOGRAFIA
1. BJORCK M, ACOSTA S, LINDBERG F, et al: Revascularization of the superior mesenteric artery after acute thromboem-
bolic occlusion. Br J Surg 2002; 89, 923-927
2. GULEN DEMIRPOLAT, ISMAIL ORAN, SADIK TAMSEL, et al. : Acute mesenteric ischemia: endovascular therapy.
Abdom Imaging 2006; xx: 1-5
3. H. WAKABAYASHI, TSUYOKI SHIODE, MICHIHIRO KUROSE, et al. : Emergent Treatment of Acute Embolic Supe-
rior Mesenteric Ischemia with Combination of Thrombolysis and Angioplasty: Report of Two Cases. CardioVascular and
Interventional Radiology 2004; vol.27, 4: 389-393
4. RESCH T, LINDH M, DIAS N, et al. : Endovascular Recanalisation in Occlusive Mesenteric Ischemia – Feasibility and Early
Results. Eur J Vasc Endovasc Surg 2005; 29, 199-203
5. INDERBITZI R, WAGNER HE, SEILER C, et al.: Acute mesenteric ischemia. Eur J Surg 1992; 158:123-126
6. MESSIAS H, SIMOES P : Isquemia intestinal. In: Mário Gentil Quina e Colaboradores. Gastrenterologia Clínica: Capítulo
6 – Patologia Vascular. Lidel. 2000: 537-43.
7. CHOU CK, MAK CW, TZENG WS, et al. : CT of small bowel ischemia. Abdom Imaging 2004; 29(1):18-22
8. MICHEL C, LAFFY PY, LEBLANC G, et al : Traitement d’une ischémie mésentérique aiguë par fibrinolyse intra-artérielle.
J Radiol 2001; 82: 55-58
9. LEDUC FJP, PESTIEAU SR, DETRY O, et al: Acute Mesenteric Ischemia: Minimal Invasive Management by Combined
Laparoscopy and Percutaneous Transluminal Angioplasty. Eur J Surg 2000; 166: 345-347.
10. EDWARDS MS, CHERR GS, CRAVEN TE, et al. : Acute occlusive mesenteric ischemia: surgical management and outco-
mes. Ann Vasc Surg 2003; 17:72-79
11. REGAN F, KARLSTAD RR, MAGNUSON TH. : Minimal invasive management of acute superior mesenteric artery occlu-
sion: combined urokinase and laparoscopic therapy. Am J Gastroenterol 1996; 91: 1019-1021.
12. KATZMERS A : Operative management of acute mesenteric ischemia. Ann Vasc Surg 1998; 12: 187-197.
13. OTTINGER LW : The surgical management of acute occlusion of the superior mesenteric artery. Ann Surg 1978; 188: 721-
731.
14. WILSON C, GUPTA R, GILMOUR DG, IMRIE CW : Acute superior mesenteric ischaemia. Br J Surg 1987; 74: 279-281.
15. SIMO G, ECHENAGUSIA AJ, CAMUNEZ F : Superior mesenteric arterial embolism: local fibrinolytic treatment with
urokinase. Radiology 1997; 204: 775-779.
16. VANDEINSE WH, ZAWACKI JK, PHILLIPS D : Treatment of acute mesenteric ischemia by percutaneous transluminal
angioplasty. Gastroenterology 1986; 91: 475-478.
17. ALLEN RC, MARTIN GH, REES CR, et al. : Mesenteric angioplasty in the treatment of chronic intestinal ischemia. J Vasc
Surg 1996; 24: 415-423.
18. SILVA JA, WHITE CJ, COLLINS TJ, et al: Endovascular Therapy for Chronic Mesenteric Ischemia. J Am Coll Cardiol
2006;47:944 –50.
PAULO SIMÕES
Serviço de Cirurgia Geral – Hospital de Santa Cruz – Centro Hospitalar Lisboa Ocidental
TM – 966936739
paulocnsimoes@gmail.com
“Os Editores lamentam dois erros verificados no número anterior (n.° 10) da Revista Portuguesa de
Cirurgia.
Assim, no Índice, é referido por erro, como autor do Editorial (“Página dos Editores”), o Dr. Jorge
Penedo; o autor do Editorial é o Prof. José Crespo Mendes de Almeida.
Errata
56
CASO CLÍNICO
RESUMO
Estão descritos diversos tipos de bezoares no tubo digestivo: o conceito de metalobezoar é inédito na literatura portuguesa e rara-
mente referido a nível mundial.
Os autores apresentam o caso original de um volumoso metalobezoar gástrico num homem de 40 anos com atraso mental e distúrbio
da personalidade, admitido por desconforto epigástrico após ingestão compulsiva recorrente de múltiplos objectos metálicos cuja remo-
ção endoscópica foi impossível. Por hemorragia digestiva resultante de múltiplas erosões da mucosa gástrica, foi submetido a gastroto-
mia e extracção, sem complicações.
denciando apenas desconforto à palpação dos qua- confirmação radiológica antes da alta, ao 9º dia de pós-
drantes superiores. O rx simples de abdómen eviden- operatório, onde apenas eram visíveis três pequenos
ciou volumoso bezoar gástrico metálico, com alguns corpos estranhos residuais, em ansas de cólon. Foi ava-
objectos já em aparente progressão no tubo digestivo liado pela Psiquiatria durante o internamento, man-
(Fig 1). Sem sinais clínicos ou radiológicos de oclusão tendo o seguimento posterior por esta especialidade,
intestinal ou perfuração de víscera oca. Hemoglobina com instituição de medidas de terapêutica comporta-
à admissão: 12,8g/dL. Realizou endoscopia digestiva mental e vigilância para prevenção na recorrência de
alta para tentativa de remoção de corpos estranhos, comportamentos de ingestão compulsiva.
infrutífera, tendo-se constatado existência de múlti-
plas erosões da mucosa gástrica, com sinais de hemor-
ragia recente e encravamento de alguns dos corpos DISCUSSÃO:
estranhos nas pregas do fundo gástrico, alguns inequi-
vocamente penetrando a mucosa. Face aos riscos de O primeiro relato de um bezoar no ser humano
hemorragia digestiva major e perfuração gástrica, e remonta ao século XVIII, descrito por Baudamant [2],
sendo impossível a extracção endoscópica, foi subme- que descreveu o caso de um tricobezoar. Desde então,
tido a gastrotomia longitudinal para remoção de meta- inúmeros e variados casos têm sido sucessivamente
lobezoar gástrico, constituído por múltiplos e variados apresentados.
objectos (Fig. 2), com encerramento manual primário A classificação do bezoar é feita consoante o tipo de
da parede gástrica. Intra-operatoriamente, constatou- partículas que o compõem, sendo os mais comuns o
se grande quantidade de sangue digerido ao longo do fitobezoar (partículas vegetais) e o tricobezoar (cabelo),
delgado. Pós-operatório complicado de melenas e ane- o último com particular incidência nas crianças ou ado-
mia aguda sintomática (hemoglobina ao 6º dia de pós- lescentes do sexo feminino. Até à data, são raras as des-
operatório de 5,4g/dL), com necessidade de suporte crições na literatura de casos isolados de bezoares cons-
transfusional. Verificou-se progressão e exteriorização tituídos por objectos metálicos, associados a ingestão
dos restantes objectos ao longo do tubo digestivo, com compulsiva em doentes do foro psiquiátrico [3][4][5].
Luís Amaral, Teresa Eloi, Pedro Martins, Joana Mendes, Emanuel Silva, Ana Catarina Rego, António Silva Melo
58
A localização mais comum é o estômago, mas estão Estão descritos vários métodos terapêuticos na abor-
descritos a nível esofágico, no intestino delgado e no dagem a bezoares gástricos, dependentes do tipo de
recto. Alterações da fisiologia gástrica com atraso do constituinte. A extracção endoscópica é goldstandard
esvaziamento e diminuição de produção de ácido estão em bezoares de pequenas dimensões ou fragmentáveis
implicadas na formação de um bezoar Existem vários com o auxílio de métodos adjuvantes (litotrísia elec-
factores de risco conhecidos, nomeadamente estenose trohidráulica, laser ou bezótomos cortantes). A diges-
péptica, neoplasia gastroduodenal ou pancreática, tão química ou enzimática tem sido utilizada com
doença de Crohn, hipotiroidismo, diabetes mellitus, sucesso na dissolução de fito, lacto e tricobezoares.
insuficiência renal terminal, ventilação prolongada ou A terapêutica cirúrgica está reservada para a falên-
fármacos inibidores da motilidade gastrointestinal cia da terapêutica endoscópica ou em casos complica-
(opioides ou anticolinérgicos). Cirurgia gástrica pré- dos de perfuração, hemorragia ou oclusão intestinal.
via está presente em 70-94% dos doentes, sendo a A laparoscopia foi já utilizada com bons resultados em
vagotomia com piloroplastia ou antrectomia um fac- casos seleccionados. Igualmente importante na abor-
tor predisponente largamente debatido. Nalguns dagem terapêutica destes doentes é a prevenção da
doentes, porém, o único factor causal é a ingestão recorrência, através de rigoroso seguimento psiquiá-
compulsiva associada a doença psiquiátrica, tal como trico e de medidas de acompanhamento psico-social.
no caso apresentado. O caso apresentado é curioso pela quantidade e
As manifestações clínicas são ténues e um vago des- variedade de objectos contidos no bezoar, apenas pos-
conforto epigástrico é o sintoma mais frequente. Náu- sível pela recorrência da ingestão compulsiva adoptada
seas, vómitos, dispepsia, anorexia ou enfartamento são pelo doente. A exuberância e volume do bezoar encon-
outros sintomas comuns, decorrentes da impactação trado, com múltiplos objectos metálicos perfurantes,
gástrica de corpos estranhos. Em casos mais graves alguns dos quais encravados na mucosa gástrica,
podem ocorrer ulceração, hemorragia digestiva major, impossibilitaram a remoção endoscópica de forma
perfuração de víscera oca ou oclusão intestinal. O diag- segura. A indicação cirúrgica foi colocada pela exis-
nóstico é feito com base na história clínica apenas tência de ulceração com hemorragias punctiformes
quando conhecida a ingestão compulsiva ou crónica múltiplas da mucosa e pelo risco de perfuração inci-
de materiais susceptíveis ou, em muitos casos, ocasio- piente. A opção laparoscópica foi neste caso excluída
nalmente por radiografia simples do abdómen ou pela complexidade, volume e formato dos múltiplos
endoscopia digestiva. objectos constituintes deste bizarro bezoar.
BIBLIOGRAFIA
[1] Salb RL. Metallic bezoar. Med Radiogr Photogr 1956, 32:32-33.
[2] Erzurumlu et al. Gastrointestinal bezoars: a retrospective analysis of 34 cases. World J Gastroenterol 2005;11(12):1813-1817.
[3] Devanesan J, Pisani A, Sharma P, Kazarian KK, Mersheimer WL. Metallic foreign bodies in the stomach. Arch Surg 1977
May; 112(5):664-5.
[4] Kaplan et al. Metal bezoar. Journ New Zeal Med Assoc, July 2005, Vol118, Nº1219.
[5] Yasin, MA, Malik, GN, Malik, SA, Rathore FA. Metal in stomach: a rare cause of gastric bezoar. BMJ Case Reports 2009
[doi:10.1136/bcr.06.2008.0278], published in February 2009.
50th Annual Meeting at Digestive Disease Week Association of Coloproctology of Great Britain and
1 a 5 de Maio Ireland 2010 Annual Meeting
Nova Orleães, EUA 28 a 30 de Junho
www.ssat.com/ Bournemouth, Inglaterra
www.acpgbi.org.uk
4th Congress of the European Society of Endocrine
Surgeons
13 a 15 de Maio 12th World Congress on Gastrointestinal Cancer
Viena, Aústria (ESMO)
www.eses.cc 30 de Junho a 3 de Julho
Barcelona, Espanha
11th European Congress of Trauma & Emergency www.worldgicancer.com/WCGI/
Surgery
15-18 Maio 2010
Bruxelas, Bélgica JULHO
www.estescongress2010.org
6th Annual Health Care Congress 19th Annual Meeting of the Society of
19 a 20 de Maio Laparoendoscopic Surgeons
Bruxelas, Bélgica 1 a 4 de Setembro
www.worldcongress.com/europe Nova Iorque, EUA
www.sls.org
2010 World Conference on Disaster Management 5th Annual Meeting of the European Society of
(WCDM) Coloproctology
20 a 23 de Junho 20 a 25 de Setembro
Toronto, Canada Sorrento, Itália
www.wcdm.org www.escp.eu.com
Agenda
61
Instruções aos Autores Instructions to Authors
(Os Editores pedem a maior atenção para o cumprimento (Editors ask authors to follow carefully publication rules, in
das regras de publicação, para minimizar rejeições ou atrasos na order to diminish rejections or delays in publication due to errors
publicação devido a falhas no seguimento das instruções.) or failures in following these instructions)
(O texto completo das “Instruções aos Autores” pode ser (Full text of “Instructions for Authors” can be read at our web-
consultado no nosso website ou em alguns números anteriores site or in some previous issues of “Revista Portuguesa de Cirur-
da Revista) gia”)
A Revista Portuguesa de Cirurgia é o orgão oficial da Socie- “Revista Portuguesa de Cirurgia” is the official journal of the Por-
dade Portuguesa de Cirurgia. tuguese Society of Surgery
Publica artigos originais, de revisão, casos clínicos, editoriais, The Journal publishes original and revision articles, clinical cases,
artigos de opinião, cartas ao Editor, notas prévias, controvérsias, editorials, opinion articles, letters to the Editor, introductory notes,
passos técnicos, recomendações, colectâneas de imagens, infor- controverises, technical issues, recommendations, image collections,
mações várias e outros trabalhos desde que relacionados com general information and other papers related with any subject respect-
quaisquer dos temas que respeitam ao exercício da cirurgia geral, ing general surgery practice, under either basic, advanced, theoric or
seja sob a forma básica, avançada, teórica ou aplicada. applied form.
Os trabalhos para publicação poderão ser escritos em Portu- Papers for publication will be accepted in Portuguese, English,
guês, Inglês, Francês ou Espanhol. French or Spanish.