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Pontifícia Universidade Católica do Paraná-Mestrado em Administração –

PPAGEI
RESENHA CRÍTICA

Aluno: Luiz Carlos de Almeida Oliveira Data: outubro de 2000

Professora: Dra. Isabella Freitas G. de Vasconcelos

Identificação da Obra: A Construção Social da Realidade - Editora Vozes Ltda., 1976,


Petrópolis.

Autor: Berger, Peter L. e Luckmann, Thomas. Professores de Sociologia na Rutgers


University e Universidade de Frankfurt, respectivamente. Autores representativos do
Interacionismo Simbólico.

Introdução

A obra analisada coloca-se como um tratado a respeito da Sociologia do Conhecimento,


no sentido de ser uma análise de como o Homem constrói o seu próprio conhecimento da
realidade, tratando das relações entre o pensamento humano e o contexto social dentro
do qual ele vive.

Realidade esta que existe independente de nós, entendida no âmbito sociológico como
sendo o conjunto de fatos que acontecem no mundo independente da vontade do
indivíduo. Mas que ao ser vista e percebida em perspectivas diferentes pelos ditos
Homens comuns forma o conhecimento.

Assim, também neste contexto sociológico, o conhecimento pode ser definido como a
interpretação que o indivíduo faz da sua realidade, são os aspectos que o indivíduo pensa
que compõem a realidade.

Realidade esta que ainda apresenta-se de forma sui gêneres entre a facticidade objetiva e
o significado subjetivo.

Se fosse para reproduzir em poucas palavras a essência do entendimento do livro,


sintetizaria focando que a realidade da qual temos consciência, o conhecimento que
temos dela, é um produto da sociedade. Sociedade essa construída pelo próprio homem.
Assim ao mesmo tempo que o Homem constrói e molda a sociedade é por ela
influenciado, é por ela moldado.

O obra explora a questão apresentada passando por uma abordagem dos aspectos
sociológicos da realidade e conhecimento, pela análise dos fundamentos do
conhecimento na vida cotidiana, pela análise da sociedade como realidade objetiva e pela
análise da sociedade como realidade subjetiva.

Na seqüência deste trabalho estão apresentados os aspectos considerados relevantes na


obra analisada, expostos segundo a estrutura da própria obra.

A realidade e o indivíduo (a geração do conhecimento)


A relação entre o indivíduo e o mundo social é ditada pela percepção do mundo que o
indivíduo tem, que passa a ser o seu conhecimento, e que construiu influenciado pelo
próprio mundo e pelo seu significado subjetivo. Assim a realidade social vai se reforçando
e se moldando na dialética da facticidade objetiva e significado subjetivo, dando,
entretanto, caráter de afastamento da realidade a eventuais desvios radicais da ordem
institucionalizada.

A citada construção se dá em três níveis: indivíduos (como citado), grupo e sociedade. O


indivíduo percebe os fatos, aplica nesses fatos os seus valores e obtém seu
conhecimento, formando assim a sua ideologia individual, ou seja, se conjunto de idéias
individuais, seus valores. Numa segunda instância, observa-se que esse indivíduo
pertence a vários grupos, ou a uma classe, e suas idéias também ajudarão a formar a
ideologia desses grupos e dessa classe juntamente com o contexto social em que estão
inseridos. Os vários valores, as várias ideologias de classes, vão coexistir, interagir-se
subjulgar uma às outras formando o que pode ser chamado de ideologia, O conjunto de
idéias da sociedade.

Essa questão é de dupla mão, pois tanto os indivíduos como os grupos constróem e
influenciam na sociedade quanto a sociedade influencia nos grupos e nos indivíduos.

Outra questão, cujo extremo foi citado anteriormente como afastamento da realidade, é
que nenhum indivíduo ou grupo vai conseguir passar todas as suas idéias para o outro de
modo que estas sejam aceitas integralmente. Assim surge classificações para os
indivíduos como: mais alienados, menos alienados, revolucionários, loucos etc. As
sociedades buscam, também, mecanismos de exclusão dos casos extremos, chegando
inclusive a eliminação pela morte.

Os Fundamentos do Conhecimento da Vida Cotidiana

A vida cotidiana apresenta-se como uma realidade interpretada pelo Homem comum. Os
autores apresentam uma diferenciação entre os Homens comuns e os filósofos, atribuindo
aos primeiros uma interpretação simples da realidade, no contexto da sua vida diária,
enquanto que atribui aos segundos um constante questionamento da realidade.

O estudo proposto parte da análise da consciência desse Homem comum, considerando


principalmente que é na realidade da vida cotidiana que a sua consciência é exigida ao
máximo, daí a necessidade de abordar alguns fundamentos do conhecimento dessa vida
cotidiana.

Temos a consciência também que o mundo apresenta diversas realidades, que existem
choques entre as percepções dessas realidades, mas que permanece como fundamental
a percepção da vida cotidiana. Por exemplo, as artes ou as religiões são produtores de
outros significados, de outras realidades.

A realidade da vida cotidiana apresenta-se ao homem de forma já pronta. Nascendo num


determinado local, numa determinada época, numa determinada família, com
determinadas influências políticas, religiosas ou culturais o homem passa a incorporar
estes aspectos antes de ter condições de influenciar sobre eles. Esta realidade já pronta
apresenta também duas possibilidades: uma mais próxima e outra mais longe. A mais
próxima é a com a qual se tem o convívio diário, a mais longe refere-se a que não existe
um convívio diário mas existe uma relação de proximidade pelo assunto ou pelo interesse.

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A intersubjetividade também está presente na realidade cotidiana, ao participar do mundo
junto com os demais indivíduos. Isso distingue a realidade cotidiana das outras que ele
tem consciência, como o mundo dos sonhos. A realidade cotidiana pode ser interpretada
de diversas formas dependendo que quem o faz. Porém há um senso comum, que é a
realidade que todos partilham e fazem parte.

Assim, mesmo existindo um visão já estabelecida, cada um tem experiências pessoais


diferentes que acabam dando uma nova forma pessoal ao conhecimento existente,
permanecendo entretanto uma visão comum, um senso comum.

A temporalidade também influencia no desvio da realidade cotidiana. A estrutura temporal


de uma sociedade é extremamente complexa dado que as restrições temporais são
interdependentes.

A estrutura temporal também influencia no posicionamento do indivíduo na sociedade,


assim aspectos relacionados ao “quando” o indivíduo pode isto ou aquilo sempre estão
presentes.

As interações sociais, o convívio pessoal são elementos essenciais da realidade da vida


cotidiana. Somente esta realidade permite um efetivo convívio. O estabelecimento de
padrões comuns, pela própria realidade cotidiana, é o agente que permite a interação
entre os indivíduos, justamente a partir dos referenciais comuns estabelecidos.

A forma mais básica de interação social é a interação face a face. Nesta situação um
indivíduo é apreendido pelo outro. Um é plenamente real para o outro, convivendo num
mesmo local e num mesmo momento histórico, podendo um observar as reações do outro
em relação às suas atitudes. Porém nunca irá compreendê-lo por completo, mesmo que o
outro conte todo o seu passado, toda a sua história.

Nessas interações está presente o conceito de tipificação. Ela é que, muitas vezes,
determina o tipo de relação que um indivíduo terá com o outro, através de relações entre
padrões, por exemplo associações de características físicas com preferencias pessoas ou
com atividades profissionais.

A realidade da vida cotidiana é expressa e representada por sinais e pela linguagem. Isto
é fundamental para que ocorra a objetivação, ou seja o fato de transmitir o conhecimento.
Além da interação direta, como a face a face, existem outras influenciadas por fatores
como o tempo, que exigem outra forma de transmissão. É ai que surge a linguagem e os
sinais.

A compreensão destes são fundamentais para o entendimento da realidade. Há que se


fazer uma diferenciação entre os significados subjetivos e as objetivações a partir dos
sinais produzidos pelos Homens. Assim, por exemplo, uma arma pode ser tanto o símbolo
da caça de animais (como instrumento fundamental de um povo primitivo) como símbolo
de violência na vida contemporânea.

A linguagem da interação face a face é a mais efetiva, nenhum outro modelo pode
reproduzi-la. Entretanto se faz necessário o estabelecimento de pontes entre as diferentes
zonas dentro da realidade da vida cotidiana, em função, principalmente do tempo, do
espaço e dos aspectos sociais, assim a linguagem transcende o hiato do tempo, do
espaço e dos fatores sociais, tornando presente coisas separadas por estes fatores.

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E esta análise do papel da linguagem é válido não só com relação aos fatos associados
aos outros mas também ao associado “comigo”. É a linguagem um elemento fundamental
para “falar de si mesmo até conhecer a si mesmo”.

A linguagem acaba dando uma representação simbólica ao conhecimento da vida


cotidiana. Este conhecimento é um elemento importante, pois as estruturas básicas da
vida cotidiana são apresentadas pelo “estoque” social do conhecimento. Neste estoque
está também o conhecimento de como ele, o estoque, é distribuído.

A Sociedade como realidade Objetiva

Institucionalização – Organismo e atividade.

Diferente de outros animais o homem não nasce biologicamente completo, determinando


um desenvolvimento orgânico submetido a uma contínua interferência socialmente
determinada. Quer dizer: à medida que vai tendo o complemento do seu desenvolvimento
orgânico, vai também sendo socialmente formado. Os mesmos processos sociais que
determinam a constituição do organismo, produzem também o EU em sua forma
particular. Assim esse EU não pode ser compreendido fora do contexto social onde foi
formado.

O organismo humano não possui meios biológicos necessários para dar estabilidade à
conduta humana, assim surge a Ordem Social, um produto do homem, uma progressiva
criação humana, existindo unicamente a partir da atividade humana.

As origens da institucionalização.

A institucionalização surge como uma certa comodidade para as pessoas. Atividades


sujeitas aos hábitos, já institucionalizados, libertam o sujeito de uma carda das decisões,
economizando uma carga psicológica. Toda institucionalização tem uma história e não
pode ser compreendida sem a compreensão da história.

A institucionalização ocorre sempre que há uma tipificação recíproca de ações de


determinado grupo de indivíduos por esse grupo. Em segunda instância as tipificações
começam a passar para gerações sucessoras do grupo institucionalizante. A nova
geração vai interiorizar a instituição primária e, quando forem capazes, vai também
modificar aquela instituição de modo a realizar a tarefa de alcançar os seus objetivos e
suprir as suas necessidades. Mas somente a partir do aparecimento de uma nova
geração é possível falar propriamente de um novo mundo social.

Organizações institucionalizam realidades cotidianas que existem objetivamente,


independente das pessoas. As pessoas não as entendem, necessitam “sair de si” para
entendê-las. Entretanto as objetividades do mundo institucional, por mais maciça que
apareça ao indivíduo, é uma objetividade produzida e construída pelo próprio homem.

Assim a sociedade é um produto Humano. A Sociedade é uma realidade objetiva. O


Homem é um produto social, gerando a dialética do Homem criador X Homem criado.

Afirmando o processo de institucionalização, devemos considerar que os indivíduos


analisa o seu mundo social pela ótica construída a partir de próprio mundo. Assim, o
mundo funciona, para o indivíduo, exatamente como ele o vê, exatamente como deveria

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funcionar. É a análise de um fato pelos próprios caminhos que levaram a este fato. Isto
reforça o discurso e dá legitimação à realidade social. É nesse contexto que qualquer
desvio da ordem institucional tem caráter de afastamento da realidade, visto como
depravação moral, doença mental ou ignorância crassa.

Sedimentação e tradição

Partes das experiências humanas são consideradas de relevantes para um grupo ou


indivíduo, sendo mantidas nas memórias e discutidas nos grupos (sedimentação). A
linguagem é novamente a forma de transmissão das sedimentações objetivadas, de forma
que quem não passou pela experiência possa ter possibilidade de entendê-la.

Com o tempo ou a repetição dessas experiências, cria-se a necessidade de que sejam


repassadas na forma de informação para as futuras gerações. Surge, assim, a tradição.

Existem papéis e responsabilidades, normalmente estipulados e aceitos pela sociedade,


de repasse desses conhecimentos, normalmente associados a alguns símbolos ou ritos.
Cabendo destacar que toda a transmissão de significado implica em procedimentos de
controle e legitimação.

Papéis

As instituições requerem e determinam um conjunto de papéis para os indivíduos. Esses


papéis têm a função primordial de controlar a institucionalização, representando a
instituição e sua conduta. Assim os papéis credenciam os executores ao mesmo tempo
que servem de referência para os controles. Por outro lado, quanto aos executores, ao
praticar um papel participa de um mundo social, ao interiorizar este papel, o mesmo
mundo torna-se agora subjetivamente real para ele.

Os papéis ainda representam as instituições ao mesmo tempo que também são


aparelhos legitimadores da sociedade. Exemplo clássico é um Monarca, símbolo vivo da
monarquia.

Também o acervo de conhecimento de uma sociedade é dividido, parte dele é geral , de


acesso a todos, parte dele é de acesso restrito somente a alguns papéis. Esta
diferenciação também faz parte do acervo e assim também só é destinada a alguns
papéis.

Assim uma nova dialética se estabelece, a partir do entendimento que as ordens sociais
só existem a partir dos papéis e estes são estruturados a partir da ordem social vigente.

Extensão e modos de institucionalização

Finalmente a institucionalização pode ser completa ou parcial. Em situações onde todos


os problemas são comuns, todas as realidades são compartilhadas, onde a ordem
institucional abrange toda a vida social, a institucionalização é completa. Exemplos são as
sociedades reais.

O oposto é verificado quando existem um pequeno conjunto de problemas em comum,


havendo a institucionalização apenas deste pequeno conjunto de problema, não existindo,
em decorrência, um acervo de conhecimento.

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Legitimação

O processo de legitimação se dá a partir do entendimento da origem dos universos


simbólicos, dos mecanismos conceituais para a sua manutenção e das ações das
organizações sociais no papel de manutenção deste universo.

As origens dos universos simbólicos: A partir do significado das coisas, do universo


simbólico, é que se objetiva a realidade. O Universo simbólico cria uma hierarquia da mais
real até a mais fugitiva da realidade. Está em contínua transformação, desenvolvimento,
crescimento ou empobrecimento, dependendo da qualidade da metamorfose quando se
interioriza alguma coisa.

Os mecanismos conceituais para manutenção do universo são idéias, instituição,


mecanismos, processos, estratégias e planos que trabalham para manter a realidade
objetiva como ela é, para legitimar esta realidade. É através da legitimação que os
mecanismos conceituais tem base no universo simbólico.

Estes mecanismos conceituais são, cronologicamente, a mitologia, a teologia, a filosofia,


a ciência que se desmembram na terapêutica e na aniquilação. Esses mecanismos são
apropriados por uma classe específica que deseja que se perpetue a realidade vigente,
com a exceção da mitologia. A mitologia pode ser criada por qualquer pessoa que
presencie um fenômeno natural. Quando a mitologia é apropriada por uma classe, acaba
virando religião, prática, dogma, ritual.

Já a terapêutica age no sentido de reintegrar o indivíduo rebelde ao grupo, à sociedade,


normalmente por processos punitivos. A aniquilação busca a total exclusão do indivíduo
do grupo ou da sociedade, se dando por mecanismos que vão da deportação à morte.

Um terceiro fator para a legitimação são as organizações sociais, pois os mecanismos


sociais para a manutenção do universo têm base na organização das atividades
humanas, nas instituições, na necessidade do ser humano trabalhar. Nas organizações
há confronto de teorias que influenciam sobre elas. De um lado há os teóricos, que
fundamentam suas teorias com base no empirismo e não podem ser negados, por outro
lado os especialistas não conseguem provar suas teorias de forma prática e assim são
atacados. Isto acaba formando um universo simbólico que, como todo o universo
simbólico, acaba condicionando uma realidade. Nesta formação os impasses são
resolvidos pela validade dos argumentos, vencendo as teorias mais articuladas, que não
são, necessariamente, as melhores.

Estes são os principais mecanismos de legitimação que somam-se aos institucionalização


na formação da sociedade como realidade objetiva.

A sociedade como realidade subjetiva

A interiorização da realidade.

As objetivações da realidade estão à disposição das pessoas para que sejam


interiorizadas. Interiorizar é assimilar, compreender, tornar subjetivo. A interiorização
consiste na percepção, interpretação, questionamento, conclusão, argumentação de uma
situação que está objetivada. É o sujeito assimilando a realidade segundo suas
interpretações e suas conclusões, decorrentes de suas particularidades.

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Dessa interiorização forma-se o universo simbólico, a identidade subjetiva e o acervo
social do conhecimento. Tudo o que está objetivado é um reflexo do acervo social do
conhecimento. Tudo aquilo que as pessoas pensam reflete o que está objetivado na
sociedade. Aquilo que as pessoas acreditam que são, ou seja, a sua identidade subjetiva
nada mais é do que o resultado do relacionamento delas com o mundo objetivado.

Tudo o que um indivíduo objetiva é algo socialmente condicionado. É condicionado pelo


que ele é, pelo que ele fala, pelo seu estudo, pelo seu vocabulário, enfim pelos seus
valores. A sociedade influencia na objetivação particular pois o indivíduo a interioriza
primeiro antes de formar a sua opinião através do seu conhecimento. Se o indivíduo
participa do processo de interiorização-subjetivação-objetivação, sente-se participante da
sociedade e forma e transforma a sociedade subjetiva.

A socialização primária

A socialização consiste em fazer com que o indivíduo seja capaz de interagir na


sociedade, de interiorizar, subjetivar, objetivar e, dessa forma ser um ser social capaz de
modificar o meio em que vive no intuito de suprimir as suas necessidades.

A socialização primária é desenvolvida na infância. O indivíduo se torna um membro da


sociedade. A primeira coisa que acontece é a formação da identidade. No início a pessoa
forma a sua personalidade em função daquilo que ela não é nos outros ("ainda não sei o
que sou, mas sei o que não sou"). O bebê, por exemplo, não sabe quem ele é, mas sabe
que não é sua mãe, nem seu pai, nem o que come, nem o lugar onde dorme, etc. Nessa
socialização o indivíduo aprende a falar, a se comunicar e se comportar diante das regras
gerais da sociedade como um todo.

A socialização secundária

É um processo que introduz o indivíduo já socializado em novos setores da sociedade. É


dentro das instituições que se dá a socialização secundária. O indivíduo agora começa a
interiorizar conceitos inerentes àquela instituição em que ele tem que viver, ou trabalhar,
ou se divertir.

Ao contrário da socialização primária, onde o indivíduo aceitava tudo passivamente


devido à confiança dispensada à seus pais, por exemplo; na socialização secundária o
indivíduo já se reserva o direito de contestar o que lhe é objetivado condicionado pelo seu
universo simbólico.

A conservação e a transformação da realidade subjetiva

A conservação dos conhecimentos da socialização primária é muito grande. Já na


socialização secundária, é mais difícil: um aprendizado teórico necessário à formação
profissional tende a ser esquecido se não for de interesse do estudante, por exemplo.

A realidade subjetiva interiorizada pelas duas socializações pode ser vulnerável à


realidade dinâmica. Isto é, aquilo que o indivíduo sabe é constantemente desafiado por
aquilo que acontece. Há dois tipos de conservação: a rotineira e a crítica.

A conservação rotineira mantém a realidade interiorizada na vida cotidiana. Ao passo que


a conservação crítica mantém a realidade interiorizada nas situações de crise.

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A conservação rotineira é dada todo o dia no contato com as coisas. Os indivíduos se
afirmam de como e o quê eles são pelo fato de exercerem suas atividades e observar o
mundo. O veículo mais importante para a conservação da realidade é a conversa, é a
intersubjetividade. E, de forma implícita, é responsável pela conservação de boa parte da
realidade subjetiva.

Porém ao mesmo tempo em que a conversa mantém a realidade, também à modifica.


Abandona alguns pontos, acrescenta outros. Enfraquece alguns setores, reforça outros. O
simples fato de não falar, não conversar sobre determinado assunto, torna-o constante,
por falta de crítica a respeito. Assim, o diálogo também é um agente de transformação.

Na conservação crítica da realidade subjetiva os procedimentos de manutenção são


quase idênticos aos rotineiros, exceto que as confirmações de realidade devem se tornar
mais explícitas e intensas: técnicas, rituais, uso da força etc.

A interiorização e a estrutura social

A sociedade é interiorizada pelo indivíduo e influencia-o em seus interesses, na sua


capacidade de vocabulário, nos seus interesses político partidários, nos seus interesses
econômicos, etc. Assim, o indivíduo somente interioriza aquilo que é de seu interesse. O
que ele necessita tornar subjetivo para ele. E o seu interesse é socialmente condicionado.

Não existe socialização perfeitamente bem sucedida onde tudo o que está objetivado pela
sociedade se torna subjetivo para um indivíduo qualquer. E também não há possibilidade
de que toda a identidade e todo o universo simbólico de um indivíduo ser totalmente
objetivado. Então a proposta de interação total a sociedade é impossível.

O maior grau de socialização pode ser observado em sociedades com uma divisão muito
simples do trabalho e mínima distribuição do conhecimento. Nestas condições as
identidades produzidas pela socialização são socialmente pré-estabelecidas. Todos têm
consciência do seu papel na sociedade, não gerando crises de identidade.

Quanto maior o conhecimento disponível em estruturas sociais, maior é a dificuldade de


uma socialização perfeitamente bem sucedida, permanecendo uma dialética entre as
realidades objetiva e subjetiva.

Teorias sobre a identidade

A identidade começa a nascer devido à localização que a pessoa tem em determinado


grupo (sou um pai, sou um filho) e em determinado estado social (sou menino, sou
menina). Os processos de formação da identidade e do acervo social do conhecimento
são processos que acontecem simultaneamente na sociedade. É disso que a sociedade
vive. Estar em sociedade significa participar da dialética desse processo. Ser um ser
social é fazer parte desse processo de interiorizar, subjetivar e exteriorizar, objetivar.

As estruturas sociais definem tipos de identidade. Por razões diversas, certos sujeitos se
afastam deste tipo padrão definido, Normalmente este afastamento é decorrente de um
processo inadequado de socialização primária. Assim passa a existir um conflito entre a
identidade individual e o modelo desenhado pela sociedade. As iniciativas psicológicas e
terapêuticas surgiram no sentido de amenizar o efeito deste afastamento, de busca a
reintegração da identidade do sujeito à sociedade.

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É possível e verificável a existência de mais de uma identidade individual. Uma
predominante e outra, digamos assim, mais escondida. Por vezes, em situações
específicas, a identidade escondida se apresenta no lugar da predominante.

Assim, a identidade individual é o elemento chave da realidade subjetiva, formada por


processos sociais.

Organismo e identidade

O organismo influencia as atividades humanas, influenciando assim a construção da


realidade, ao mesmo tempo que é influenciado por ela. Um exemplo de influência da
realidade sobre o organismos é a questão de diferentes expectativas de vida em
sociedades ou culturas diferentes.

A sociedade também define certos hábitos como por exemplo, padrões de alimentação de
atividades físicas, de cuidados com o corpo etc.

O homem é, na sua essência, um animal que busca a sobrevivência, tendo as atividades


de reprodução e alimentação como fundamentais. As sociedades, as realidades
construídas definem padrões para estes comportamentos, mas mesmo com estes
padrões já estabelecidos (já socialmente construídos), permanece, mesmo no indivíduos
já socializado, a dialética interna contínua entre a identidade construída e o componente
biológico. É uma dialética entendida como uma luta entre um “eu superior” e um “eu
inferior”, associados respectivamente à identidade social e à animalidade pré-social,
possivelmente anti-social.

Conclusões:

A questão relevante abordada diz respeito ao referenciado no título da obra: “A


Construção Social da Realidade”. A realidade, entendida como fenômenos que existem
independentes da nossa vontade, é construída por uma conjunção de fatores sociais,
decorrentes da ação humana. A abordagem complementar apresenta a dialética realçada
em toda a obra: O Homem constrói a realidade social ao mesmo tempo que é por ela
influenciado.

Coexistem diversas realidades, mas a que atua como com maior intensidade na dialética
comentada é a realidade da vida cotidiana, que apresenta comportamentos diferentes
entre o homem simples e o filósofo.

Sustentada pela realidade da vida cotidiana, a sociedade se apresenta em duas


perspectivas complementares, como realidade objetiva e como realidade subjetiva. A
primeira com seus mecanismos básicos de institucionalização e legitimação. A segunda a
partir de um processo de interiorização da primeira, com seus mecanismos de
interiorização, dependente ou não das estruturas sociais, complementados pelas teorias
sobre a identidade e pela relação entre o organismo e a identidade, dando ao indivíduo
uma condição única na sociedade, embora por ela influenciado.

Esta condição única do indivíduo na sociedade é construída tendo como elementos


básicos tanto os aspectos culturais do grupo social no qual o indivíduo está inserido,
quanto as escolhas e os critérios de decisão do referido indivíduo. Assim, ele não assume
apenas papel de fantoche, mas também de ator, embora fortemente influenciado pela

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realidade. Esta possibilidade de assumir o papel de ator e não de fantoche, é que move e
constrói a sociedade, bem como a identidade individual.

A obra analisada situa-se no Interacionismo Simbólico, apresentando um ponto de


equilíbrio entre outras abordagens da conduta humana, em especial entre extremos como
o pressuposto weberiano, que considera que o homem não é um refém do passado e o
modelo sistêmico parsoniano, de natureza mais determinista, que prega que as ações e
condutas humanas são sempre decorrentes de valores incorporados na socialização
primária. [1]

Críticas:

Não cabem aqui críticas, mas alguns comentários e questões que foram se apresentando
de forma relevante ao longo da leitura e análise da obra citada:

• Existe um entendimento comum que as organizações têm como fim maior a


sobrevivência, elas trabalham para se manterem vivas. Será isto uma construção
social feita pelo próprio homem, que levou às organizações uma de suas
características orgânicas mais relevantes ?

• Os processos de mudanças nas organizações são difíceis também pela questão


apresentada na obra analisada. As organizações funcionam segundo uma lógica
construída ao longo do tempo, esta lógica influencia os que trabalham nas
organizações e estes a reforçam. Quando existe a necessidade de mudança fica
muito difícil quebrar esta seqüência.

• Uma questão que chama a atenção é o convívio do indivíduo com várias realidades.
Embora exista uma supostamente predominante (da vida cotidiana) podemos
identificar a existência de muitas outras. Essas devem ter relação direta com as
Identidades dos Indivíduos. Ai se explicam as origens de muitos dos conflitos, pois o
que pode ser predominante para o indivíduo não o é para a sociedade.

• Um dos foco deste conflito deve residir nas organizações onde os indivíduos
trabalham. Este conflito deve/pode ser suportável enquanto estiver gerando algum
resultado que, de alguma forma, alimenta a realidade individualmente predominante.

• Uma questão que despertou curiosidade durante a leitura e análise diz respeito à
alguns processos de mudanças que ocorrem nas sociedades, principalmente os que
são de difícil identificação quanto a origem da sua “construção social”. Quer dizer:
fiquei curioso em saber de onde surge alguns movimentos de mudança na sociedade
que não se explicam segundo a ótica da construção social da realidade, pois parece
que recebem influencias externas.

• O mesmo ocorrendo com alguns indivíduos, que passam por processos quase
radicais de mudança, decorrente muitas vezes de reflexões pessoais que fogem
totalmente do padrão vigente na sociedade (tanto a mudança, quanto o ato e a forma
da reflexão, bem como a própria essência da reflexão).

• Quando são citadas as diversas realidades (referenciando a da vida cotidiana como a


fundamental para o estudo em questão), penso existirem também outras realidades
que apresentam características que transcendem as abordadas na obra. Por

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exemplo: Como justificar o entendimento comum acerca da existência dos
paradigmas e suas decorrentes mudanças. Por exemplo, parece existir um
entendimento comum (construído socialmente ??) que a cada tempo uma nova
abordagem surge, uma nova visão de algum aspecto significativo do mundo aparece.
Parece existir um ciclo maior que ordena esta mudança de paradigmas, ciclo este que
é impossível ser vivenciado e construído socialmente de forma direta, mas que para
alguns parece claro e elementar, enquanto para outros parece absurdos e
aberrações.

• Considerando as perspectivas apresentadas pelos autores, surge uma dúvida de


como seriam consideradas questões como as sugeridas por Carl Jung acerca de um
tal “inconsciente coletivo” [2], que nos afeta nas nossas condutas, no nosso
entendimento de algumas questões e na definição de alguns valores. A consideração
da existência deste tal inconsciente coletivo poderia alterar de alguma forma as
formulações propostas pelos autores. (pareceu-me existir uma resposta na pg. 229:
“.... Se tivermos em mente esta dialética podemos evitar a noção equivocada de –
identidades coletivas -)

• Finalizando, não consigo deixar de registrar um segundo aspecto, de natureza similar


ao anterior, que diz respeito ao tratamento da espiritualidade humana e da sua
interferência na sua conduta e na construção da realidade. Se levada em conta,
podemos concluir que a construção social da realidade tem também uma interferência
da “mão divina”, talvez de forma próxima à proposta por Jung em seu inconsciente
coletivo. Esta consideração traz à tona alguns aspectos que mereceriam uma
abordagem complementar em relação à abordagem proposta pelos autores.
Naturalmente não invalidando, apenas complementando, assim como soe acontecer
com os novos paradigmas.

Bibliografia

[1] Vasconcelos, Isabella F.G. & Vasconcelos, Flávio C. (2000) “A Administração de


Recursos Humanos e os Processos de Formação da Identidade no Trabalho: Uma
Análise Crítica da Mudança Organizacional da Bull/França”, Curitiba

[2] Guimarães, Carlos A. F. (1997) “Carl Gustav Jung e a Psicologia Analítica”, site:
http://www.geocities.com/Viena/2809/jung.html acessado em 25/09/2000.

Berger, P. & Luckmann, T. (1976). “A Construção Social da Realidade”, Editora Vozes,


Petrópolis.

Disponível em:
http://celepar7cta.pr.gov.br/portfolio.nsf/616f1f6bf895199e03256d2100656343/c9e8dc22e4294078
03256a8d00671f8b/$FILE/_ea92l6hae910i0b9084g46rreedq74tc7opni0krfcdkm2r10chgi0kj5c5m6i
p31chig_.doc.
Acesso: 27/08/08

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