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Luís Nunes
Abstract. O trabalho Influência e Expansão tem como primordial objectivo o estudo das conjunturas
socioeconómicas que influenciaram o Cinema Alemão e as evoluções cinematográficas que advieram
dessas mesmas conjunturas. Desta forma serão referidos alguns períodos históricos considerados
influenciadores do movimento, e citados alguns filmes com respectiva apreciação e reflexão, de modo
a percebermos qual o peso e importância que a situação social, económica e cultural, teve e tem no
desenvolvimento das tendências cinematográficas.
Com o clima instável que a Europa vivia em 1917 (a Primeira Guerra Mundial ia
no seu terceiro ano), a Rússia vivia uma revolução e os Estados Unidos declaravam
guerra à Alemanha), os militares alemães viram no cinema o meio perfeito para
influenciar o povo e exigiram a consolidação da indústria cinematográfica do país, a
bem do império. Assim nasce, a 18 de Dezembro de 1917, a Universum-Film Af
(UFA), financiada pelo Estado, pelo Deutsche Bank (banco Nacional Alemão) e por
grupos financeiros conservadores. Desta feita com um forte suporte financeiro, a UFA
começa a adquirir diversas empresas cinematográficas, entre elas as mais prestigiadas
do país, e constitui um grupo que abrange todas as áreas da produção
cinematográfica: Produção, Distribuição e Exibição. Surgem mais cinemas e assiste-
se à concentração maciça de poder e de meios cinematográficos. Contudo neste
mesmo ano termina a Primeira Guerra Mundial, cuja grande derrotada é a própria
Alemanha, que em 1918 tem de fazer grandes pagamentos pelo esforço da Guerra
detendo-se desta forma muito economicamente debilitada.
relacionada com o fantástico e o místico o que faz com que se reafirme a ideia de um
universo obscuro e claustrofóbico representativo da própria Alemanha.
Através da utilização dos reflexos assistimos à duplicação da própria imagem que
transporta o espectador para um mundo fantástico.
Por fim gostaria de referir que a alusão ao demiurgo era no fundo o light motif do
cinema expressionista Alemão, ou seja, a ideia de que as personagens são movidas
por forças exteriores e que aquilo que os move e comove vem do exterior, é uma ideia
que está bem patente em “Warning Shadows” de Arthur Robinson, através da ideia
do saltimbanco que metaforicamente pode muito bem ser visto como uma marioneta.
Por fim gostaria de referir que o filme é construído em travessias entre o mundo
dos mortos e o mundo dos vivos, sendo que este factor é muito representativo do
Psiquismo Mórbido característico do Expressionismo Alemão.
2.4 Comum
O que têm então em comum estes dois filmes Expressionistas Alemães? Após
visionamento e alguma consulta, chego à conclusão que são várias as características e
pequenas percepções comuns em ambos os filmes.
A exasperação do “eu”, isto é, a importância do ego, e do egocentrismo das
personagens é notório, diria que funciona como um fanatismo de auto-expressão, que
acompanhados pela subjectividade desmesurada patente em ambos os filmes
representam categoricamente a idiossincrasia de uma Alemanha que via no
Expressionismo a sua melhor caracterização. A metafísica da vontade, ou seja, a
importância do inanimado/inorgânico, a falta de vontade das personagens, como
observamos em “Nosferatu”, “Warning Shadows” e até mesmo em “Metropolis”,
filmes em que as personagens principais são basicamente marionetas que se
caracterizam pela falta de animação e orgânica. Um outro ponto em comum é as
formas que são torturadas, característica que está na base do expressionismo como
movimento artístico, nomeadamente no famoso quadro expressionista “O Grito” do
pintor Edvard Munch, datado de 1893. Verifica-se ainda que a bidimensionalidade é
também um pormenor relevante em ambos os filmes, concretamente devido à
profundidade iluminada, ao facto de ambos os filmes se servirem de linhas e arestas
cortantes, e dada a claustrofobia e as formas visíveis e invisíveis que a partir de certa
altura dão a noção de labirinto. De referir também que as escadas têm como elemento
gráfico, conotações muito semelhantes em praticamente todos os filmes até agora
referidos, são um dos light motifs dos filmes, a descida das escadas representa uma
descida social, é mais um elemento alegórico à situação em que a sociedade alemã se
via embrenhada. Desta feita contribuíam através da simbologia e da deformação. As
sombras são mais um dos light motif’s em constante equação, assim como a procura
de abstracção a todos os níveis, desde os cenários à mais pura alusão ao psíquico e
psicológico. A personalidade imatura, ou seja, as personagens sem profundidade
psicológica, servem em ambos os filmes apenas para transmitir a angústia e o trauma,
e são também elas um elemento em comum entre estes dois filmes.
3. O corpo Expressionista
Flashbacks, que funcionam como Framing Device, colocando uma historia dentro de
outra, dando uma ideia reforçada de bidimensionalidade. As feiras, cenários e
elementos muito utilizados nos filmes expressionistas alemães representam o exótico
e o oculto. A duplicidade do ser humano, e a divisão do sujeito através de dualidades
e confrontos entre o bem e o mal, o consciente e o inconsciente, a pessoa e o reflexo,
a pessoa e a sombra, reflectem o turbilhão de emoções e sensações de um povo /
sociedade derrotado/a. E os simbolismos e metáforas não se ficam por aqui, a verdade
é que são elementos muito importantes na conjugação dos filmes criados nesta altura
na Alemanha, sendo que alguns dos mais recorrentes e inconfundíveis são por
exemplo, o autómato, a ideia de autonomia, representada através de Robots e
Marionetas que levam a crer que o Homem está num rápido processo de
desumanização, a cidade e as suas representações labirínticas e claustrofóbicas que
dão a noção de perigo eminente e de ameaça escondida prestes a surgir no mais
inesperado momento. O círculo, como forma, que significa o destino e muitas vezes
aparece nas portas, fazendo-nos crer que cada porta que é aberta representa uma
diferente possibilidade de destino. As escadas que, como referi anteriormente,
figuram a subida e descida de poder. A invariável alusão ao Taumaturgo e ao
Demiurgo. O olhar para a tecnologia como a desumanização da vida moderna. E no
que toca a simbologia por fim a incessante exploração da noite e da loucura.
No que confere à montagem, não é utilizada para a continuidade, uma vez que não
estabelece relações causais e espaciais, à excepção de “Nosferatu”, que neste sentido
se destaca da maioria dos filmes expressionistas. Contudo a montagem não é o
principal dos filmes e é vista apenas como um mecanismo para unir os planos, e caso
este mecanismo não assente na montagem, assenta na decoração, na maquilhagem, na
iluminação e/ou na interpretação.
O Senhor e o Escravo são a dicotomia mais utilizada no corpo do Expressionismo
Alemão.
Relativamente à visão dos cineastas, ela é referente à visão do mundo relacionada
com o estado de espírito da época, na maioria dos casos é caracterizada por ser uma
visão desmesuradamente apocalíptica.
A fusão das personagens com o espaço, através do vestuário que muitas vezes
condiz, se funde e confunde com esse mesmo espaço faz com que as personagens e
espaço formem um todo, factor que não me parece ser ingénuo, e transpondo este
fenómeno para a situação social da Alemanha da altura, na minha opinião serve como
argumento reforçador de que as pessoas não se podiam nem conseguiam dissociar da
situação socioeconómica do seu pais, sendo que nesta metáfora as personagens dos
filmes representariam a sociedade, e o espaço representado nos filmes seria ilusório
da Alemanha em si. No seguimento deste raciocínio, é conveniente referir que
também o espaço é caracterizado de uma forma muito única e singular na maioria dos
filmes expressionistas, uma vez que todos os planos são construídos em termos
espaciais e o mencionado espaço não é espelho nem reflexo dos personagens, é sim, a
construção mental das mesmas. Ver o espaço num filme expressionista é ver a
personagem por dentro, as imagens do espaço são o conteúdo e continente de uma
psique. O espaço transforma-se em algo orgânico e animado ao contrário das
personagens, principalmente através das pinturas e da decoração.
4. Conclusão
Influência e Expansão
Referências