Sunteți pe pagina 1din 12

A Interpretação da Bíblia para a Língua Brasileira de

Sinais (LIBRAS) – Uma Reflexão


Bible’s Interpreting into Brazilian Sign Language (BSL) – A
Reflection
Ester Correia Trancoso Barbosa

Centro de Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana Mackenzie


Rua Piauí, 143 – 01241-001 – São Paulo – SP
ester_ctbarbosa@yahoo.com.br

Resumo. Este trabalho visa incentivar a reflexão sobre a interpretação do


texto bíblico para língua de sinais, considerando a importância de teorias de
tradução, analisando em que medida elas podem ser aplicadas à realidade
do intérprete de língua de sinais em geral e, mais especificamente, a
responsabilidade do intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) na
transmissão da mensagem bíblica para um público diferenciado, que de
outra maneira seria excluído devido as suas especificidades comunicativas.
Para tanto, analisamos a interpretação de Marília Moraes Manhães da carta
de Paulo aos Colossenses para LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), suas
escolhas de interpretação em função de seus receptores, baseando-nos nos
estudos sobre língua de sinais, na formação de palavras em LIBRAS,
juntamente com a teoria de Karl Simms sobre o texto Sensível, a
comparação de Nida e Taber entre Correspondência Formal e Equivalência
Dinâmica e a visão Desconstrutivista de Derrida.

Palavras-Chave: Bíblia. Interpretação. LIBRAS (Língua Brasileira de sinais).

Abstract. This paper aims at the reflection about interpreting the biblical text
into sign languages, considering the importance of theories on translation,
analyzing to what extent they can be applied to the reality of the interpreter of
sign languages in general and more specifically the LIBRAS (Brazilian Sign
Language) interpreter’s responsibility in the transmission of the biblical
message to a differentiated audience, which otherwise would be excluded
due to their communicative specificities. Therefore, we analyze Marília
Moraes Manhães’ interpreting of Paul’s letter to the Colossians into LIBRAS,
her choices of interpreting in terms of her receptors, based ourselves on the
studies of the sign languages, the formation of words in LIBRAS, together
with Karl Simms's theory on the Sensitive text, Nida and Taber’s comparison
between Formal Correspondence and Dynamic Equivalence and Derrida’s
Desconstructive vision.

Key-Words: Bible. Interpreting. BSL (Brasilian Sing Language)


1. A tradução bíblica no fortalecimento das línguas nacionais

A comunidade surda tem alcançado, ao longo dos anos, seu espaço na sociedade.
Um dos marcos dessa conquista, no Brasil, por exemplo, foi a oficialização da LIBRAS1
como meio legal de comunicação e expressão. A partir desse momento histórico na vida
dos surdos2, muitos passos foram dados em prol de sua interação social, efetivamente,
como cidadãos. A língua portuguesa, por exemplo, não tem valor superior à LIBRAS no
Brasil (apesar de não poder substituir a modalidade escrita da língua portuguesa), pois já
se reconheceu que a língua brasileira de sinais, bem como as outras línguas de sinais
existentes, é genuína e tão complexa como qualquer outra língua.
Essa constatação evoca, em parte, os primórdios da prática tradutória. Sabe-se
como a disseminação do Evangelho influenciou no desenvolvimento de comunidades
que, por vezes, não possuíam sequer a própria língua registrada ortograficamente, como
é o caso de algumas tribos indígenas. Enfim, foi a tradução da Bíblia para as línguas
vernáculas, que possibilitou o acesso ao conhecimento por parte das comunidades
menos abastadas e que não dominavam as línguas “consagradas” por uma elite erudita.
Em “Os tradutores na história” de Jean Delisle e Judith Woodsworth (2003), há
um capítulo específico que trata justamente do trabalho do tradutor no desenvolvimento
das línguas nacionais.
Entre outros exemplos que embasam esse fato, destacam-se as contribuições de
Martinho Lutero que, além de seu papel eclesiástico, promoveu a formação de uma
língua literária alemã. Na África, a associação entre língua e religião contribuiu muito
para a promoção das línguas locais, graças ao trabalho dos missionários envolvidos na
difusão do Evangelho, além de outros casos em que a circulação da Bíblia na língua
falada pelo povo, incentivou até a alfabetização, fortalecendo assim, o idioma nacional.
Diante desses acontecimentos, nos lembramos da importância de figuras como a
do abade l’Epée que preocupado com a salvação das almas dos surdos parisienses,
acompanha-os na formalização de uma língua de sinais.
A Bíblia em LIBRAS é um trabalho pioneiro que reforça esse protagonismo do
texto bíblico em projetos que procuram alcançar os mais diversos grupos sociais. No
entanto, a interpretação da Bíblia para uma língua de sinais, envolve processos que nem
sempre se enquadram totalmente dentro das teorias desenvolvidas com base no texto
escrito de uma língua de modalidade oral-auditiva3.
Isso ocorre pelo simples fato de que enquanto a interpretação é uma situação de
concomitância ou simultaneidade da transmissão da mensagem de uma língua de partida
para uma língua de chegada, a tradução é um processo que dispõe de tempo e recursos

1
LIBRAS é uma das siglas para referir a língua de sinais: Língua Brasileira de Sinais. Esta sigla é
difundida pela Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS. LSB é outra sigla para
referir-se à língua brasileira de sinais: Língua de Sinais Brasileira. Esta sigla segue os padrões
internacionais de denominação das línguas de sinais.
2
Surdos são as pessoas que se identificam enquanto surdas.
3
língua de modalidade oral-auditiva - As línguas apresentam diferentes modalidades. Uma língua falada é
oral-auditiva, ou seja, utiliza a audição e a articulação através do aparelho vocal para compreender e
produzir os sons que formam as palavras dessas línguas. (Quadros, 2001, p. 9).
tais como dicionários e revisor. Além disso, a diferença de modalidades entre uma
língua oral-auditiva e uma língua de modalidade visual-espacial4, implica, por exemplo,
que um ouvinte, mesmo sem olhar para o transmissor de uma mensagem, entenda o que
ele diz, enquanto que a pessoa surda não.
Essas são apenas algumas das questões que levantamos em nossa análise da
interpretação realizada por Marília Moraes Manhães da carta de Paulo aos Colossenses
para LIBRAS, gravada em DVD no ano de 2005, questionando, basicamente, até que
ponto sua preocupação em “facilitar” o entendimento das mensagens religiosas pelos
surdos, não fazendo uso dos sinais adotados nas igrejas evangélicas, é positiva, já que
esses sinais expressam termos “típicos” de contextos religiosos, como, “graça”,
“apóstolo”, além dos nomes dos livros da Bíblia e de seus personagens que muitas vezes
carregam significado mais profundo do que aqueles sinais utilizados pela intérprete.

2. LIBRAS - uma língua de verdade


Baseamos nossa análise, primeiramente, nos estudos de Lucinda Brito (1995?)
sobre a gramática da LIBRAS. Os estudos lingüísticos sobre as línguas de sinais
consideram que sua gramática particular é intrinsecamente a mesma das línguas orais
sendo os princípios básicos respeitados em ambas as modalidades. Um desses
princípios, seguindo a linha saussuriana5, é o da dupla articulação, que pressupõe a
existência de unidades mínimas formadoras de unidades complexas (são as unidades
mínimas distintivas e de morfemas ou unidades mínimas de significado). Podemos dizer
que as palavras da LIBRAS e do português se estruturam a partir de unidades mínimas
espaciais e sonoras, respectivamente. Essas unidades são distintivas porque, quando
substituídas por outra, geram uma nova forma lingüística com um significado distinto.
Observemos os exemplos:

APRENDER e SÁBADO

Temos acima duas palavras ou sinais distintos com significados também


distintos somente pelo fato de o primeiro sinal - APRENDER - ser articulado na testa e
de o segundo - SÁBADO – ser articulado na boca, ou seja, é o ponto de articulação que
os distingue. Em português, essas unidades mínimas equivalem aos fonemas /p/ e /b/ das
palavras pata e bata, pois eles também distinguem as formas lingüísticas e seus
significados. Assim, por terem formas idênticas exceto por uma característica espacial
(ponto de articulação) na LIBRAS e fonética (sonoridade) no português, APRENDER e
SÁBADO; pata e bata; podem ser considerados pares mínimos.

4
língua de modalidade visual-espacial – Ao longo do trabalho, essa nomenclatura apresenta variações de
acordo com a ênfase que se deseja dar e o contexto em que está inserida: espaço-visual, mais utilizada
para referir à língua de sinais propriamente dita, que se articula no espaço e é percebida visualmente;
visual-espacial, usada para designar, principalmente, a modalidade da língua de sinais, enfatizando seu
aspecto visual; gestual-visual mais ligada ao canal ou meio de comunicação, enfocando os movimentos
gestuais e expressões faciais que são percebidos pela visão.
5
linha saussuriana – Refere-se à teoria lingüística de Saussure.
Outro ponto importante a ser considerado sobre a língua de sinais é que não existe
uma língua universal com a qual surdos de todo o mundo podem se comunicar entre si.
Pelo contrário, além de existirem línguas diferentes, inclusive dentro de um mesmo país
(como é o caso da língua de sinais da comunidade indígena da floresta amazônica,
Urubu-Kaapor, e a LIBRAS no Brasil), pode-se observar registros diversos (por
categoria profissional, status social, idade, nível escolar etc.), além de dialetos regionais.
É importante ressaltar, portanto, que apesar de a iconicidade ser mais evidente nas
estruturas das línguas de sinais do que nas orais pelo fato de o espaço parecer ser mais
concreto e palpável do que o tempo utilizado pelas línguas orais-auditivas que
constituem suas estruturas através de seqüências sonoras que basicamente se transmitem
temporalmente, as formas icônicas das línguas de sinais não são universais ou retrato da
realidade.
[...] cada língua de sinais representa seus referentes, ainda que de forma
icônica, convencionalmente, porque cada uma vê os objetos, seres e eventos
representados em seus sinais ou palavras sob uma determinada ótica ou
perspectiva. (Brito, [1995?]).

O exemplo que Ferreira Brito usa é o sinal ÁRVORE que em LIBRAS


representa o tronco da árvore por meio do antebraço e os galhos e as folhas por meio da
mão aberta e do movimento interno dos seus dedos enquanto que, o sinal para o mesmo
conceito em LSC (língua de sinais chinesa) representa apenas o tronco com as duas
mãos semi-abertas e os dedos dobrados de forma circular.

ÁRVORE (LIBRAS) ÁRVORE (LCS)

2.1. A criação de novos sinais na LIBRAS


Valendo-nos também da reflexão feita por Vilmar Silva e Fábio Irineu da Silva
(2002?) sobre a criação de novos sinais para a disciplina de informática do curso de
desenho técnico ministrado no Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa
Catarina para jovens e adultos surdos. Basicamente, em todas as línguas humanas, orais
ou visuais-espaciais, as palavras/sinais pertencem a uma categoria lexical. Assim, tanto
as línguas de sinais, quanto as línguas faladas, possuem um léxico e um sistema de
criação de novos sinais em que as unidades mínimas – morfemas – são combinadas.
Alguns desses processos, entretanto, diferem das línguas orais:
[...] nas línguas orais a criação de palavras morfologicamente complexas são
muitas vezes formadas pela junção de um prefixo ou sufixo a uma raiz.
Enquanto, nas línguas de sinais os processos para criação de sinais resultam
de processos não-concatenados em que uma raiz é enriquecida com
movimentos e contornos no espaço de sinalização” (BELLUGI; KLIMA,
1979).
Assim, enquanto em uma língua oral temos uma derivação “linear”, por
exemplo, acrescentado o sufixo – dor – à direita do verbo – distribuir – e formando o
substantivo – distribuidor – . Em LIBRAS, vemos que nos sinais SENTAR e
CADEIRA, a mudança na categoria lexical, de verbo para substantivo, ocorre por um
processo de derivação baseado em uma mudança “não-linear”, o movimento.
Vejamos:

SENTAR e CADEIRA
(Dicionário de LIBRAS ilustrado - SP)
Observando os processos de formação dos sinais utilizados por professor e
alunos na disciplina de informática, primeiramente, os autores consideraram, entre
outros aspectos, a criação de sinais a partir da apropriação do português, em que “a
configuração da mão representa a primeira letra da palavra em português, ou a palavra é
soletrada manualmente6 na seqüência de configurações de mão tendo uma
correspondência com a seqüência de letras escritas no português.” (SILVA, Vilmar;
SILVA, Fábio Irineu da, [2002?]). É o caso do sinal para formatar:

Os autores ressaltam que para Quadros e Karnopp (2003), “esses sinais fazem
parte do léxico periférico da LSB7. São sinais não-nativos8 que foram incorporados pelas
comunidades surdas brasileiras pela influência direta da língua portuguesa. (SILVA,
Vilmar; SILVA, Fábio Irineu da, (2002?, p.8, grifo nosso).”
Na interpretação de Colossenses por Marília Manhães, assim como o sinal criado
para formatar, muitos sinais bíblicos sofrem a influência do português. Os nomes dos
livros, por exemplo, trazem as configurações de mão de acordo com a primeira letra do
nome do livro:

6
soletração manual ou datilologia – às vezes, a Libras não tem um sinal lexical específico para designar
um certo significado. Nesses casos, a Libras emprega a soletração digital da palavra escrita em Português
que corresponde a esse significado, ou a da palavra. (CAPOVILLA, 2001, p.50), ou seja, são utilizadas as
configurações de mão que correspondem a cada letra do alfabeto para “soletrar” uma palavra.
7
LSB – No trabalho citado, Quadros e Karnopp utilizam a sigla LSB que segue os padrões internacionais
de denominação das línguas de sinais.
8
nativo – entende-se aqui por nativo aquilo que é próprio de determinada comunidade. Ou seja, a
LIBRAS é a língua nativa dos surdos brasileiros.
Gênesis Êxodo
Sinal: Uma das mãos em G, simulando o Sinal: E na palma da mão.
sinal começar. Significado: Êxodo o Livro da Lei.
Significado: O começo de tudo.

O interessante desses dois sinais mostrados é que se tratam de sinais da LIBRAS


que apenas sofreram uma alteração da configuração de mão9.

COMEÇAR LEI

3. Alguns aspectos das teorias de Nida e Taber, Simms e Derrida sobre a


tradução
Com base nos pressupostos sobre as especificidades das línguas de sinais,
podemos considerar até que ponto teorias sobre tradução, produzidas pelos autores aqui
selecionados, têm dado conta das questões que podem envolver esse processo
específico, levando em consideração a crítica quanto à artificialidade dos sinais
convencionados pelas igrejas evangélicas que a intérprete Marília Manhães, cujo
trabalho analisamos, opta por não utilizar.
Dentre essas teorias, destacamos a comparação feita no trabalho de Nida e Taber
(The Theory and Practice of Translation, 1982) entre a Dynamic Equivalence
(Equivalência Dinâmica) e a Formal Correspondence (Correspondência Formal) das
respectivas versões da bíblia “Today’s English Version” (TEV) e “Revised Standard
Version” (RSV). A primeira, mais centrada no receptor da língua de chegada, na
maneira como ele reage à mensagem, buscando provocar a “mesma reação” do leitor da
língua de partida. A segunda, isto é, a Formal Correspondence, priorizando a forma e o
estilo do texto da língua de partida. O que é importante apontarmos, aqui, é que a versão
da Bíblia Tradução na Linguagem de Hoje (TLH), utilizada pela intérprete Marília
Manhães, segue o mesmo “estilo” da (TEV), enquanto a versão Revista e Atualizada de
João Ferreira de Almeida se assemelha à (RSV).
Nida e Taber consideram que muitas vezes, o significado das palavras que
aparecem na Bíblia depende do contexto cultural em que os textos foram escritos.

9
é a forma que a mão assume durante a realização de um sinal. Pelas pesquisas lingüísticas, foi
comprovado que na LIBRAS existem 43 configurações das mãos (Quadro I), sendo que o alfabeto manual
utiliza apenas 26 destas para representar as letras. (STROBEL, K.L.; FERNANDES, S.,1998, p.8)
Assim, em muitos casos, seria uma opção inventar novos termos para expressarem, no
contexto da língua de chegada, o sentido que tinham na língua de partida, mas os
teóricos propõem uma outra solução: “In these instances it is better for the translator to
select the meaning which is seems best supported by all the evidence and to put this in
the text, while placing the other in a marginal note (1982, p. 8, grifo nosso)”10.
Mas como inserir essa “nota de rodapé” em um texto interpretado e não escrito?
Na interpretação de pregações para LIBRAS em igreja evangélica, pudemos viver
experiências que se enquadram nessa situação de precisar fazer uma “nota de rodapé”
para que o receptor da mensagem compreenda o significado de determinado termo ou
trecho em seu contexto original, faz-se isso movimentando as mãos espalmadas
paralelas ao lado do corpo, colocando, assim, o assunto de lado. São verdadeiras notas
de rodapé que servem como uma explicação à parte para que os surdos se inteirem de
algum assunto ou termo que faz parte de outra cultura, por exemplo. Isso quando o
próprio pregador não traz essa explicação em sua fala, o que ocorre muitas vezes para
situar os ouvintes do contexto cultural do próprio texto bíblico.
Podemos nos referir aqui, ao termo, Circuncisão, que aparece na interpretação que
analisamos. Não seria esse um caso para uma “nota de rodapé”? Ou será que a
soletração manual da palavra em português que a intérprete Marília Manhães realiza é
suficiente para que o público surdo compreenda seu significado? A não ser que esse
conhecimento já tenha sido adquirido por eles.

3.1 O texto bíblico como texto sensível


Para o autor, o “conteúdo” é parte do que faz um texto sensível, além de outros
elementos. Simms fala de conteúdo e não de tema, pois um texto médico pode ter sexo
como tema sem, contudo ser considerado ofensivo como pornografia poderia ser. (1997,
3-4.). Diante disso, o autor aponta três questões contextuais: onde determinado texto
está inserido, para que público foi escrito e quem o lê (que pode não fazer parte do
público-alvo do texto e se sentir ofendido). Simms aponta ainda quatro formas pelas
quais um texto pode ser considerado sensível pelas objeções que causa por motivos
ligados ao estado, à religião (ou cultura), à decência (ou pudor), ou a determinadas
pessoas em particular. Com relação aos textos sagrados, especificamente, o que faz
deles sensíveis, segundo Simms, é a crença de que expressam as intenções do Autor
Original, assim o “autor do texto” no senso comum é meramente um escriba, alguém
que transcreve uma Palavra mais originária com a qual ele é inspirado.(SIMMS, 1982,
p.19)..
A partir desses pressupostos do que seja um texto sensível, entre outras
considerações o autor se posiciona em relação à tradução “livre” que para ele não é algo
educativo, pois não permite que o destinatário encontre a mensagem por ele mesmo a
partir de uma imersão na cultura-fonte, tendo que tirar das palavras do tradutor o que a
mensagem expressa ser a “verdadeira”.(SIMMS, 1982, p. 9).
[...] nowadays the use of square brackets containing words or phrases from
the source language together with explanatory footnotes is more the norm.

10
Nessas circunstâncias é melhor para o tradutor selecionar o significado que parece ser melhor
sustentado por toda a evidência e colocar esse no texto, enquanto coloca o outro em uma nota de rodapé
(NIDA; TABER, 1982, p. 8, tradução nossa.).
The advantage of this is that it is democratic and that this democracy comes
from the pro-active intertextual reading experience, not as a gift from the
translator. The translator is (highly) visible, but through the use of textual
apparatus the reader knows which is the translator’s material and which the
source test’s. (SIMMS, 1982, p. 10)11
A partir dessa afirmação, Simms considera que isso é uma questão de
prioridades do tradutor, já que Nida e Taber, por exemplo, estão explicitamente
preocupados com a tradução da Bíblia como um instrumento de evangelismo, enquanto
que outros podem considerar mais importante ensinar às pessoas como se ler.
Referimo-nos aqui, especificamente, a algo que poderia ser feito na interpretação
de Marília Manhães de forma a enriquecer o público surdo no conhecimento de outras
culturas como as que a Bíblia apresenta, utilizando para isso explicações de
determinados conceitos que no texto escrito seriam as “notas de rodapé”, apontadas
anteriormente.
Outro problema que o autor soma a esse é a questão da “funcionalidade”, que
Nida retoma. O exemplo citado por Simms é o trecho da oração do Pai Nosso “o pão
nosso de cada dia nos dá hoje;” que pode ser causar engano em partes do mundo onde
pão é um item de luxúria, a intenção funcional do original claramente é “alimento” no
sentido mais geral. Assim podem ser necessárias adaptações do texto original para uma
cultura diferente, mas isso dá margem para objeções muito fortes, uma vez que é a
precisão referencial do texto que garante sua autenticidade.
Talvez seja interessante assinalar com vistas a essa funcionalidade que, apesar de
o surdo viver e conviver com as pessoas ouvintes de seu país, isso não significa que sua
cultura seja necessariamente ou mesmo estritamente a mesma compartilhada por
ouvintes. Já comentamos no capítulo anterior sobre comunidade surda que além de
possuir sua língua própria como marca cultural, também partilha de uma diferente visão
de mundo, inclusive em relação aos ouvintes com os quais convive.

3.2 Tradução entre a modalidade oral-auditiva e espacial-visual


Karl Simms inclui em seus estudos sobre a tradução as línguas de sinais,
considerando, o mundo diferente em que vivem as pessoas com quatro sentidos em vez
de cinco. Sem desmerecer, as pessoas com um sentido a menos, mais especificamente os
surdos, o autor ressalta que a sensibilidade também é uma questão através das
modalidades.
Esse tema é mais aprofundado no texto Seeing the difference: Translation across
modalities (Vendo a diferença: tradução entre modalidades) de Mary Brennan em que,
basicamente, a autora desenvolve sua reflexão com base em uma interpretação jurídica
para língua de sinais em que todo o processo girou em torno de como o réu havia
segurado uma faca. Ao falarmos de uma ação comum como sentar em uma cadeira,
podemos utilizar a palavra “cadeira” em seu sentido neutro sem especificarmos de que

11
[...] atualmente o uso de colchetes contendo palavras ou frases da língua-fonte junto com notas de
rodapé é mais a norma. A vantagem disso é que isso é democrático e que essa democracia vem da
experiência de leitura intertextual pró-ativa, não como um presente do tradutor. O tradutor é (altamente)
visível, mas através de aparatos textuais que o leitor sabe qual é o material do tradutor e qual é o do texto-
fonte. (SIMMS, 1982, p. 10, tradução nossa.).
tipo de cadeira estamos falando, isso já não ocorre na língua de sinais. Precisamos fazer
uso de sinais denominados classificadores, eles acrescentam a determinado “nome”
características que o distinguem dentro de uma série de possibilidades. Mary Brennan
comenta sobre a BSL (Língua Britânica de Sinais):
BSL makes use of a set of morphemes usually termed classifier morphemes.
These incorporate categorical information: they tall us something about the
category of phenomena to which an item belongs. The basis of such
categorization is very often either the size and shape of objects or the way in
which human beings interact with objects, in particular, how they get hold of
objects. Thus, in BSL, rather than having a single morpheme sign meaning
‘give’, there is a range of signs. (SIMMS, 1997, p.98-99)12
O emprego dos classificadores também ocorre na LIBRAS, uma característica
bem particular das línguas de sinais que pode ser considerada como um recurso
enriquecedor que as línguas orais não possuem, o que tem a ver justamente com a
característica essencialmente visual das línguas de sinais.
Outra peculiaridade das línguas de sinais é a relação de localização que
estabelecem entre objetos e/ou pessoas dentro de um espaço determinado. Mary
Brennan cita o exemplo da interpretação de um paciente em relação a seu médico, que
devem ser localizados em posições que representem suas localizações físicas reais. Em
nossa experiência com interpretações em igreja, quando há um diálogo entre homem e
Deus, é como se Deus olhasse do céu pra o homem na terra em posição inferior.
Dois outros sinais que caberiam aqui, mas que na verdade representam uma
localização de certa forma convencionada pela sociedade, seriam: CÉU e INFERNO,
enquanto CÉU é localizado na altura da cabeça, INFERNO está em posição inferior.
Vejamos:

(Dois movimentos do mesmo sinal)


Com base nos aspectos específicos da modalidade visual-espacial apontados aqui
e de outros tantos que demonstram a complexidade da interpretação para as línguas de
sinais, podemos concluir que a tradução entre modalidades requer do intérprete que veja
o mundo com os olhos de seus receptores, neste caso os surdos, de maneira a utilizar os
vários recursos peculiares das línguas de sinais como os classificadores para a maior
naturalidade possível à interpretação, o que aproximará ainda mais seu público da
mensagem que deseja transmitir.

12
A BSL faz uso de uma série de morfemas geralmente denominados morfemas classificadores que
incorporam informações categoriais: dizem-nos algo sobre a categoria dos fenômenos aos quais um item
pertence. A base de tal categorização é muito freqüentemente tanto o tamanho quanto a forma dos objetos
ou a maneira como seres humanos interagem com eles, especialmente como eles os seguram. Assim, em
BSL, em vez de haver um único sinal de morfema significando “give” [dar], há vários sinais. (SIMMS,
1997, p.98-99, tradução nossa.).
3.3 A visão Desconstrutivista aplicada à interpretação bíblica
Derrida considera a língua de chegada e a de partida não como pólos opostos,
mas complementares. A partir dessa visão, o teórico se opõe à teoria na qual,
tradicionalmente, a tradução é vista a partir de uma concepção em que se tenta manter
intactas as línguas envolvidas no processo tradutório. O que Jacques Derrida propõe em
sua visão desconstrutivista é encarar a tradução como acontecimento da linguagem
sendo que, na leitura que Paulo Ottoni faz de Derrida em A tradução da différance:
dupla tradução e double bind, artigo publicado pela Revista de lingüística ALFA:
[o tradutor] é um sujeito que intervém de maneira efetiva na transformação e
produção de significados, por meio de uma espécie de implante, de enxerto,
de contaminação entre as línguas envolvidas na tradução [...]” (SISCAR;
RODRIGUES, 2000, p.46).
Como deixar de lado, então, que essa efetividade se aguce, ainda mais quando
tratamos da tradução de um texto sensível como a Bíblia? Ou seja, por mais que Marília
Manhães não queira “contaminar” a LIBRAS com os sinais criados pelas igrejas para
designar termos bíblicos, a própria posição da intérprete de utilizar outros meios para
transmitir a mensagem é intervir de maneira efetiva na transformação e produção de
significados, pois como já vimos anteriormente, por mais que a intérprete não faça uso
desses sinais que considera artificiais, utiliza os considerados empréstimos, soletrando
manualmente muitas palavras do português, o que também é um tipo de
“contaminação”.
Toda a problemática desconstrutivista de Derrida, portanto, gira em torno do que
ele chama double bind: a necessidade e a impossibilidade da tradução, que, segundo o
teórico, é algo que deve ser suportado, é um desejo de se apropriar do original quando
traduzimos, contra o qual nada se pode fazer, sem o qual não haveria tradução (Siscar;
Rodrigues, 2000, p.46).
A partir dessa visão podemos concluir que, as considerações teóricas tradicionais
da tradução podem se equivocar ao considerar que o ato de traduzir se resuma a um
mero transporte de conteúdos, quando na verdade até a própria posição de não se
“mostrar” em sua tradução enquanto tradutor “invisível”, é um ato de violência para
com o texto original, pois a partir do momento que ele passa a ser traduzido, é inevitável
que sofra um ato de violência, “ou seja, a violência da tradução, de toda e qualquer
atividade de comunicação, passa a ser uma questão a ser investigada e compreendida, e
não vista como fonte de embaraço” (SISCAR; RODRIGUES, 2000, p. 125). Assim, o
tradutor sempre estará em dívida com o texto original, o que não deve desmotivá-lo, no
exercício de sua tarefa mesmo que para isso dependa constantemente de “perdão”.

4 Análise da interpretação do texto bíblico para a LIBRAS


Consideramos no trecho a seguir, algumas questões tradutórias pontuais que
envolveram a interpretação da carta de Paulo aos Colossenses para a LIBRAS feita por
Marília Moraes Manhães.
Português LIBRAS
Bíblia na Nova Tradução na Interpretação de
Texto Bíblico
Linguagem de Hoje Marília Moraes Manhães

Colossenses Carta de Paulo aos Colossenses CARTA P-A-U-L-S C-O-L-O-S-S-E-N-S-E-S

1:1-14
1Saudação 1Eu, Paulo, *apóstolo de EU PAULS SEGUIDOR JESUS MOSTRAR
Cristo Jesus pela vontade de Deus, DESEJO D-E-U-S SENHOR ESCREVER JUNTO
escrevo junto com o irmão Timóteo HOMEM T-I-M-O-T-O ESCREVER CARTA
esta carta
2ao povo de Deus que mora na cidade DAR PESSOAS CONFIAR DEUS VIDA
de Colossos, os nossos fiéis irmãos em CIDADE C-O-L-O-S-S-O-S TAMBÉM CRENTE
Cristo. VERDADE

Que a *graça e a paz de Deus, o nosso AMOR DEUS PAI ABENÇOAR VOCÊS
Pai, estejam com vocês!

A palavra “apóstolo”, por exemplo, é traduzida pelo sinal SEGUIR, o que


sustenta a idéia de que simplesmente seguir a Jesus é o mesmo que ser seu apóstolo,
palavra que carrega um sentido muito mais profundo de discípulo, embaixador,
ministro.
Outra tradução que consideramos é a da palavra “Cristo” pelo sinal JESUS.
Como o próprio sinal JESUS indica pela sua iconicidade (dando ênfase aos pregos nas
mãos de Jesus), ele não está especificando, necessariamente, o Salvador prometido por
Deus ao seu povo, o Messias, mas aquele homem que nasceu de Maria e que após levar
uma mensagem às pessoas de sua época foi crucificado, considerando que a maioria dos
judeus até hoje aguarda a vinda do Cristo, pois não reconhecem em Jesus o Salvador
prometido por Deus e anunciado pelos profetas.
Por fim, tomamos a tradução da palavra graça por AMOR. Essa palavra não tem
um significado apenas no contexto religioso ou bíblico, mas pode ser referida também
em outro contexto em que alguém está em posição de autoridade para conceder um
favor imerecido a outrem, como por exemplo um rei e um servo. Biblicamente, a graça
diz respeito, principalmente, ao favor de Deus para as pessoas que como pecadoras não
mereciam o Céu ou a salvação da morte, mas Deus por sua infinita Graça concede esse
favor a todo aquele que confessar a Jesus como Senhor.
Notamos assim, que mesmo que a intérprete não considere os sinais bíblicos do
manual O clamor do Silêncio adequados à LIBRAS, a simples não-utilização dos
mesmos sem ao menos uma “nota explicativa” não é suficiente, pois culmina, inclusive,
em perda de significado.
A análise da interpretação do texto bíblico feita por Marília Manhães nos leva a
conclusão de que a teoria da tradução pode ser aplicada às línguas de sinais de forma
“satisfatória” se entendermos por isso que a tradução em si, seja ela de que natureza for,
visual ou auditiva, implica, basicamente nas mesmas indagações ou desafios que se
apresentam ao tradutor bem como a qualquer indivíduo que queira compreender a
mensagem do outro, ou mesmo que deseje converter em palavras o seu pensamento ou
sentimento, mas que, inevitavelmente, encontra na expressão verbal uma enorme
barreira, muitas vezes intransponível, com relação à efetiva transmissão de sua idéia. No
entanto, é papel do tradutor não se acomodar diante do desafio da tradução, mas
considerar o papel que tem nas conquistas de todo um grupo, pelas relações sociais que
estabelece, pois sua atuação é, muitas vezes, fundamental, para o crescimento de uma
comunidade que de maneira alguma deve ser excluída devido as suas especificidades
comunicativas, como é o caso das línguas de sinais.

Referências
ARAÚJO, Oliveira de. O clamor do silêncio: manual de sinais bíblicos. Rio de Janeiro: Junta de missões
nacionais, 1991.

Bíblia Sagrada: Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.

BRANDÃO, Flávia (Coord.). Dicionário de LIBRAS ilustrado. São Paulo: Imprensaoficial, 2006.

BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1995.

_______. Língua brasileira de sinais – LIBRAS. Disponível em: www.surdo.org.br. Acesso em: 17 abr.
2006.

CAPOVILLA, Fernando César; RAPHAEL, Walkiria Duarte. Dicionário enciclopédico ilustrado


trilíngüe da língua de sinais brasileira. 2.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Imprensa
Oficial do Estado, 2001.

Delisle, Jean; WOODSWORTH, Judith. Os tradutores na história. São Paulo: editora Ática, 2003.
MADUREIRA, Mariú Moreira. O texto sagrado e sua sensibilidade na tradução. 2004. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Letras-Tradutor) – Faculdade de Filosofia Letras e Educação,
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2004.
MANHÃES, Marília M. A Bíblia em libras: carta de Paulo aos colossenses.Rio de Janeiro: Missões
nacionais, 2005.
NIDA, Eugene A; TABER, Charles R. The theory and practice of translation. Leiden: Brill, 1982.

Ottoni, Paulo Roberto. A tradução é desde sempre resistência: reflexões sobre a teoria e história da
tradução. Alfa - Revista de Lingüística, São Paulo, n. 41, p. 159-68.

QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2004.

______. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Brasília: MEC, 2002.

SACKS, Oliver. Vendo Vozes: uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de Janeiro: Imago, 1990.

SILVA, Vilmar; SILVA, Fábio Irineu da. A criação de novos sinais na disciplina de informática do curso
de educação de jovens e adultos surdos com profissionalização em desenho técnico: iniciando uma
leitura. Disponível em:http://www.sj.cefetsc.edu.br/~nepes/docs/a_criacao_%20de_novos_sinais %20.pdf
Acesso em: 20 abrill.2007.
SIMMS, Karl. Translating sensitive texts: linguistic aspects. Amsterdam, Atlanta: Rodopi, 1997.

S-ar putea să vă placă și