Sunteți pe pagina 1din 46
Criminologia cultural, complexidade e as fronteiras de pesquisa nas ciéncias criminais SALO DE CARVALHO Professor de Direito Penal e de Criminologia nos cursos de graduacao e pds-graduacao da PUC-RS. Agea po Dinero: Penal-Processo Penal Resumo: A investigacdo problematiza as fronteiras do conhecimento e os saberes que compdem o campo transdisciplinar da pesquisa criminoldgica, propondo diagnéstico do atual estado da arte das ciéncias criminais. Ao ingressar no deba- te da criminologia pés-moderna, confron- ta esta perspectiva com a criminologia cultural e com as demais criminologias riticas, sobretudo o realismo marginal, com objetivo de testar novas formas de interpretagao dos complexos fendmenos da violencia, do crime e do desvio na contemporaneidade. Pacavens-cHave: Criminologia cultural = Investigacao criminoldgica — Epistemo- logia ~ Transdisciplinaridade. Aastaacr: The present study challenges both, the frontiers of knowledge and the contents which comprise the transdisciplinary field of criminological research, thus proposing a diagnosis of the current state of art of Criminal Sciences. By starting the debate of post-modern criminology, it confronts this perspective against cultural criminology and other critical criminologies, especially the marginal realism, with the objective of testing new ways of interpreting the complex phenomena of violence, crime and deviation in modern times. Kewworns: Cultural _ criminology Criminological research ~ Epistemology —Transdisciplinary studies. CRIME ESOCIEDADE — 295 SumAeto: 1. O problema do conhecimento criminolégico ~ 2. O mo- delo de superagao paradigmatico: a hipstese de Thomas Khun ~ 3. A viragem paradigmatica: criminological turn — 4. A reconfiguracao do conhecimento criminolégico: conceito e objetos de investigacao - 5. O estado da arte apds 0 criminological turn e a negativa da hipotese de Thomas Khun - 6. Interltidio: problemas de pesquisa criminolégi- cana area juridico-penal: a criminologia como critica da dogmatica penal ~ 7. Criminologia, pds-modernidade e criminologia pés-mo- derna ~ 8. Inventério da modernidade e pés-modernidade penal ~ 9. Os horizontes da criminologia pés-moderna ~ 10. Criminologia cul- tural e as imagens das violéncias contempordneas ~ 11. Criminologia cultural: imagens do criminoso, da pena e dos fins da cléncia ~ 12. Consideracdes finais sobre o status da criminologia: a redefinicio da critica (criminologia constitutiva) ou a virtude de nao-ser ciéncia —Referéncias bibliogréficas. 1. O PROBLEMA DO CONHECIMENTO CRIMINOLOGICO Dentre as varias hipéteses que estruturam esta investigacao, a mais contundente parecer ser a de que, na atualidade, qualquer tentativa de conceituacao da ciéncia criminologica sera falha e incompleta. A inca- pacidade de definicao emerge como problema visto ser a conceituacao de si mesma o primeiro impulso de qualquer perspectiva cientifica, nao apenas em decorréncia da necessidade de limitar seu horizonte de atuacdo através da eleigao do objeto de estudo, mas, principalmente, do imperativo de autonomia do saber, requisito para estabelecimento de posicao em relacao as demais ciéncias. A pretensao conceitual carrega consigo desdobramentos logicos de adequacdo metodologica e de enumeragao de principios rigidos reitores para formacdo de sistema te6rico. No campo criminolégico contempo- raneo, esta ambicao ¢ limitada ou errénea, sobretudo apés a viragem criminolégica (criminological turn) operada pelo paradigma do etiqueta- mento (labeling approach). Na gestacdo do paradigma criminologico positivista, o logos de investigacdo foi focalizado no homo criminalis e na etiologia do delito, em reaco ao fendmeno puramente abstrato e normativo (homo poenalis), objeto estudado pelo direito penal liberal-racionalista, O crime e 0 criminoso foram os dois primeiros fendmenos de pesquisa das ciéncias criminais; no entanto estabeleciam evidentes distincdes para abordagem metodoldgica em decorréncia de sua natureza. Se o delito, na qualidade de ente juridico e abstrato, requeria método dedutivo, légico e formal, 296 REVISTA BRASILEIRA DE CIENCIAS CRIMINAIS 2009 ~ RBCCRIM 81 © homo criminalis, como ente natural, necessitava de pesquisa indutiva, empirica e experimental. ‘A separacdo nao conflitiva entre as ciéncias que disputavam a primazia epistemoldgica das ciéncias criminais (direito penal e crimi- nologia) e, em consequéncia, entre seus objetos de investigacao (crime e criminoso), ocorreu com a consolidacéo do paradigma dogmatico de ciéncia penal. Com a adequacao e a sistematizacao da dogmatica a ciéncia do direito - sobretudo no direito privado por Ihering, em Espi- rito do Direito Romano (1852-1865) -, Binding e Liszt (Alemanha) e, posteriormente, Rocco (Italia), realizam a transposi¢ao do paradigma ao direito penal. Assim, conforme ensina Vera Andrade, no modelo de ciéncias criminais consolidado no século XX “(...) ndo haverd uma reducao socio- logica da Dogmatica penal nem um abandono da Criminologia, mas uma ‘relativa’ autonomia metodologica de cada paradigma e uma relacdo de auxiliaridade da Criminologia em relacéo a Dogmatica penal”.? A autonomia metodologica — apesar da auxiliaridade funcional, que capacita a dogmatica penal e legitima a criminologia® — fixa os limites de investigacao (método e objeto) e direciona as fungées da ciéncia crimino- logica. Se as normas (penais) positivas sao 0 objeto da dogmatica (penal) e sua tarefa é, a partir deste material de origem estatal, a construcao cientifica de sistema conceitual capaz de harmonizar e racionalizar a totalidade da experiéncia juridica,? a criminologia restara centralizada na experiencia empirica do delito. Importante dizer, de forma preliminar, que diferente da relativa estabilidade metodologica adquirida pela dogmitica,* a criminologia, ao longo do século passado, alterou constantemente seu objeto, agregando 1. Andrade. A ilusdo de seguranca juridica, p. 98. 2. Sobre a separacdo metodolégica com persisténcia de integracdo funcional entre dogmatica penal criminologia, conferir AnDRave. A ilusdo, p. 97-100; p. 219-233; e Carvatno, Antimanual de criminologia, p. 9-23. 3. Anprabe. Dogmdtica juridica, p. 46-47. Refere-se a relativa estabilidade metodologica da dogmatica porque, embora seu objeto genérico (normas juridicas) permaneca estavel, sua especificidade € constantemente alterada. Nao por outro motivo a critica da sociologia do direito ao carater nao-cientifico da ciéncia juridica em decorréncia da instabilidade (especifica) das normas face ao processo legislativo. Neste sentido, conferir Cavaino. Antimanual, p. 37-39. CRIME ESOCIEDADE 297 inumeros fendmenos, motivo pelo qual se constata a impossibilidade de qualquer tarefa conceitualizadora. 2. O MODELO DE SUPERAGAO PARADIGMATICO: A HIPOTESE DE THOMAS KHUN Segundo Thomas Khun, a realizacdo, a producdo e a reproducao da ciéncia estéo sempre restritas aos consensos ou ao conjunto de compromissos tedricos existentes na comunidade cientifica. Ha ciéncia, nesta perspectiva, quando 0 pesquisador (sujeito comprometido com determinado paradigma) utiliza os instrumentos de pesquisa oferecidos pelo modelo vigente, compartilhando seu objeto, seus métodos e suas finalidades: paradigma seria 0 modus investigativo estabelecido pela comunidade de pesquisa - “um paradigma € aquilo que os membros de uma comunidade cientifica partilham. E, inversamente, uma comunidade cientifica consiste em homens que compartilham de um paradigma (...) Um paradigma governa, em primeiro lugar, nao um objeto de estudo, mas um grupo de praticantes da ciéncia”.> Consolidado no universo da comunidade, 0 paradigma vigente passa a ser irrefletidamente aceito e repassado aos demais pesquisadores por meio de especifico modo de produgao do saber. Essa ciéncia normal determina, assim, 0 que é licito ou ilfcito, o que é ou nao é admissivel em. determinada disciplina, dirigindo e impondo os resultados finais, bem como constituindo as formas e os campos possiveis do conhecimento. Todavia, a partir do momento em que a comunidade cientifica identifica objetos estranhos que nao deveriam ser investigados ou que as respostas produzidas como resultados das pesquisas nao correspondem a: expectativas do grupo, estaria diagnosticada a crise paradigmatica. A crise se processa no interior do universo de andlise pré-constitufdo, no qual € possivel perceber que os objetos de pesquisa ou os métodos empregados nao correspondem satisfatoriamente aquele padrdo oficial de realizacao de ciéncia. Haveria crise de paradigmas, conforme a hipotese de Thomas Khun, neste momento intermedidrio em que 0 paradigma vigente nao consensualiza mais a comunidade cientifica e o novo modelo de raciona- lidade instrumental (ciéncia extraordindria) nao logrou plena aceitacao ou nao atingiu maturidade aceitavel pela comunidade cientifica. A ciéncia extraordindria recapacita o modus de producao de saber ao delinir outros limites, distintos métodos e novos fins a ciéncia, instau- 5. Kuun. A estrutura das revolucoes cientificas, p. 219-224.

S-ar putea să vă placă și