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Do breve périplo por alguns dos temas e problemas que se colocam hoje à escola,
sobressaem duas ideias fortes que importam reter
A primeira remete para a extensão que a forma escolar, inicialmente ligada à infância,
tem vindo a assumir nas sociedades contemporâneas. Presente em domínios que estão
muito para lá da estrita formação escolar inicial, abarcando diferentes gerações
populacionais, traduzindo-se em distintas modalidades e contextos formativos, a
expansão da forma escolar parece provar que as teses recorrentes da “crise da escola” se
saldam, afinal, em “mais” escola. No entanto, essa crescente abrangência coloca novos
problemas quando a ela é cometida a ambição invadir duradouramente a vida adulta, em
nome do requisito cidadania, ou seja, das condições de uma literacia permanentemente
actualizada, por um lado, e do requisito de “empregabilidade”, por outro, que só ela
parece outorgar.
A segunda refere-se ao contributo absolutamente fulcral que a investigação científica,
fundamentada nos princípios da racionalidade herdados da modernidade (Pinto, 1994),
continua a oferecer para o questionamento de aparentes “evidências” ou de supostas
“verdades”. Em contextos marcados pela mediatização crescente da vida social, como
acontece nas sociedades contemporâneas, a disponibilização de produtos-conhecimento
Que permitam desvendar a opacidade que envolve os processos sociais constitui um
importante contributo contra as sedutoras ilusões de transparência com que o real nos
surge apresentado.
A este respeito, como vimos, as grandes questões com que se tem debatido a escola
(portuguesa) actual estão longe de ser evidentes ou sequer inocentes. A defesa das teses
do “mercado escolar” e o elogio das suas vantagens, bem como a atenção selectiva
concedida a certas “minorias étnicas” e o propugnar de urna “educação multicultural” a
elas especificamente destinada, demonstram critérios de pertinência mais próximos da
acção política ou da intervenção social do que os resultantes da lógica científica. Ao
mobilizarem-se procedimentos científicos de interpretação do real, como aqui
ensaiámos, descobrem-se novas dimensões desses mesmos temas. Interrogar “verdades”
naturalizadas constitui, pois, o melhor antídoto contra generalizações apressadas
decorrentes da lógica da exposição “ruidosa” de determinadas informações sobre o real
e da concomitante ocultação «silenciosa» de outras que, frequentemente, moldam a
agenda política, justificam a intervenção pública em favor de determinados projectos e
geram prioridades de acção. Contribuindo, assim, para reforçar a ordem estabelecida e
(ré) construir desigualdades e injustiças sociais...
Bibliografia: